ciberfeminismos na comunidade software livre do brasil · ciberfeminismos na comunidade software...
TRANSCRIPT
1
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
CIBERFEMINISMOS NA COMUNIDADE SOFTWARE LIVRE DO BRASIL
Mônica de Sá Dantas Paz1
Resumo: O artigo proposto se baseia nos estudos de Gênero, Ciência e Tecnologia, principalmente,
aos que se atentam para como as relações de gênero estão presentes em todo o processo de
planejamento, produção, consumo e de apropriação da tecnologia (CASTAÑO, 2008; HARAWAY,
2004; 2009; WAJCMAN, 2006). Neste âmbito, são discutidas as diferentes correntes ativistas e
teóricas que buscaram se aproximar das tecnologias digitais, o que convencionamos chamar de
ciberfeminismos (HAWTHORNE & KLEIN, 1999; MIGUEL & BOIX, 2013; PLANT, 1999;
WAJCMAN, 2006). É válido mencionar que este trabalho é derivado da tese de doutorado intitulada
“Mulheres e Tecnologia: hackeando as relações de gênero na comunidade software livre do Brasil”
(2015), que teve como objetivo geral investigar o lugar social e ativista das mulheres na cultura
hacker e no movimento software livre (SL) (HIMANEN, 2001; SILVEIRA, 2004). A partir da
etnografia digital multimodal (AMARAL et al., 2008; BRAGA, 2006; HINE, 2011; KOZINETS,
2009; MURTHY, 2008), analisamos o grupo /MNT – Mulheres na Tecnologia, criado em 2009 em
Goiânia-GO, por três mulheres que perceberam que era necessário incentivar uma maior atuação de
mulheres, não apenas no movimento SL, mas em toda a Tecnologia da Informação no país.
Portanto, este artigo tem como objetivo discutir os ciberfeminismos e analisar um grupo que, na
atualidade, vem se utilizando as TIC para discutir o ser mulher na comunidade SL.
Palavras-chave: Ciberfeminismos. Mulheres. Gênero. Tecnologia. Software livre.
Este artigo tem como objetivo discutir os ciberfeminismos e analisar o grupo /MNT – Mulheres na
Tecnologia, que, na atualidade, vem se utilizando as TIC para discutir o ser mulher na comunidade
de Tecnologia da Informação (TI) e de software livre (SL).
A seguir faremos uma breve revisão de literatura sobre o movimento ciberfeminista para
entendermos suas pautas, motivações, além das críticas sofridas desde a sua emergência na década
de 90 até os dias atuais. Na sequência, apresentamos a comunidade brasileira de software livre e o
grupo de mulheres estudado, o /MNT – Mulheres na Tecnologia, dando enfoque para a sua
participação em eventos seja de software livre (Fórum Internacional de Software Livre), seja o de
realização própria (Encontro Nacional de Mulheres na Tecnologia).
Ciberfeminismos: ativismo e teoria feminista na era digital
A partir da década de 1990, os primeiros estudos de Internet e Cibercultura passaram por
uma fase otimista em relação ao ciberespaço, de forma que um dos focos das pesquisas da época era
1 Doutora em Comunicação e Cultura Contemporâneas pela UFBA; Integrante do GIG@/UFBA - Grupo de
Pesquisa em Gênero, Tecnologias Digitais e Cultura; Professora no Centro Universitário Estácio da Bahia. Salvador-
BA.
2
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
a liberação do corpo material e a criação de identidades fluidas e múltiplas (BAYM, 2010). O
ambiente textual que marcou as interações sociais via computador e internet corroborava para para
essa performance criativa do eu, o que resultou em uma experimentação intensa da formação de
identidades, o que inclui outras manifestações de gênero nos ambientes virtuais, refletindo, mais
adiante, também na sua relação com a vida offline (TURKLE, 1997).
Como forma de entender as diferenças de gênero, alguns estudos compararam a atuação
online de homens e de mulheres, como também a recepção de mensagens enviadas por ambos. A
conclusão foi a existência de sexismo, o que contrariou as expectativas dos estudos pioneiros,
afinal, por exemplo, algumas mulheres sofreram ataques em ambientes de comunicação mediada
por computadores apenas pelo fato de serem mulheres ou continuaram a serem representadas de
forma objetificada. Já os homens eram mais atacados devido a suas posições ideológicas e
argumentativas expostas nesses ambientes (BAYM, 2010).
Diante dessas diferenças em suas vidas online em soma às diferenças de gênero já vividas
pelas mulheres em suas vidas offline, surge a corrente feminista denominada ciberfeminismo, que
possui influência do cyberpunk e do pós-modernismo. O termo que denominou esta corrente, que
foi motivada pelo potencial ativista das Tecnologias da Informação e Comunicação, tem origem no
campo artístico com o grupo de artistas australianas, VNS Matrix, em 1991, em sua publicação
intitulada “Manifesto Ciberfeminista para o Século 21”, que também foi uma forma de homenagear
a cientista Donna Haraway e o seu “O Manifesto Ciborgue” de 1985 (MIGUEL & BOIX, 2013;
WELLS, 2005).
Neste momento inicial, o movimento acreditava na relação entre internet e feminilidade, o
que era explorado em trabalhos artísticos experimentais através das representações dos sujeito
femininos e da virtualidade (MIGUEL & BOIX, 2013; WELLS, 2005). Seria a “vez” das mulheres.
Esta foi a abordagem otimista e utópica do ciberfeminismo (WAJCMAN, 2006; BROPHY, 2010),
consagrado com o trabalho de Sadie Plant (1999):
Os zeros e uns da linguagem de máquina candidatam-se aparentemente como símbolos
perfeitos das ordens da realidade ocidental, dos antigos códigos lógicos que estabeleciam a
diferença entre ligado e desligado, direita e esquerda, luz e trevas, forma e matéria, mente e
corpo, [...] E formam um belo casal quando o assunto é sexo. Homem e mulher, macho e f ẽ
mea, masculino e feminino: 1 e 0 considerados ansolutamente perfeitos, feitos um para o
outro. [...] São precisos dois para formar um binário, mas todos esses pares são da mesma
qualidade, e a qualidade é sempre do mesmo tipo: 1 e 0 formam outro 1. Homem e mulher
somam homem. Não há equivalente feminino. Nenhuma mulher universal ao lado dele
(PLANT, 1999, p. 38-39).
3
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Embora Plant esteja em meio à polêmica de ser considerada a “principal expoente britânica
do ciberfeminismo” (WAJCMAN, 2006, p. 99) e de se autodenominar “escritora” e não
“ciberfeminista” (TRENEMAN, 1997). A autora, que denunciou a falta de espaço dado às mulheres
no campo da C&T, acreditava que o ciberespaço ajudaria as mulheres a superarem a linearidade e o
binarismo da corporeidade, através da sua multiplicidade e da possibilidade de criação de redes, da
navegabilidade, da criação e do compartilhamento de conteúdos hipertextuais e multimídia. Sendo
assim, para a autora, a internet foi considerada em sua essência como feminina e com potencial
transformador das condições de vida das mulheres por esta autora.
Ao questionar e acreditar que, com as tecnologias digitais, o androcentrismo, a relação
identitária dos indivíduos a um corpo sexuado e a tecnofobia das feministas poderiam ser superados
e reconfigurados, esta ciberfeminista ajuda a construir um dos legados do ciberfeminismo: o de
ajudar a delinear uma nova relação entre o feminismo e as tecnologias digitais, entendendo-as como
um promissor espaço para a experimentação social, ativista, identitária e sexual das mulheres.
(MIGUEL & BOIX, 2013; WAJCMAN, 2006).
Para Plant, as inovações tecnológicas foram essenciais na fundamental transferência de
poder dos homens para as mulheres que se produziu nas culturas ocidentais na década de
1990, transferência qualificada de “tremor de gênero”. Ao acessar as mulheres as
oportunidades econômicas, as habilidades técnicas e os poderes culturais sem precedentes,
foram postas em questão as expectativas, os estereótipos, o sentido de identidade e os
postulados de épocas anteriores. A automação reduziu a importância da força física e das
energias humanas e substituiu estas por requisitos de velocidade, inteligência e habilidades
de versatilidade, relações interpessoais e comunicação. Isto foi acompanhado pela
feminilização da mão de obra, que neste momento favorece a independência, a flexibilidade
e a adaptabilidade. Enquanto que os homens estão mal preparados para um futuro pós-
moderno, as mulheres se adaptarim perfeitamente à nova tecnocultura (WAJCMAN, 2006,
p. 100-101, tradução nossa)2.
Nesta fase utópica do ciberfeminismo, a internet é considerada feminina por apresentar
características ditas relacionadas às mulheres como a não linearidade, a fluidez e a subjetividade. A
reconfiguração espacial proporcionada pela internet, levou as ativistas a considerar uma suposta
descorporização que afetaria as experiências das mulheres, uma vez que igualaria as diferenças
sexuais nos espaços online (MIGUEL & BOIX, 2013; WAJCMAN, 2006).
2 Texto original: Para Plant, las innovaciones tecnológicas han sido esenciales en la transferencia fundamental
de poder de los hombres a las mujeres que se produjo en las culturas occidentales en la década de 1990, transferencia
cualificada de “temblor de género”. Al acceder las mujeres a oportunidades económicas, cualificaciones técnicas y
poderes culturales sin precedentes, se han puesto en tela de juicio las expextativas, los esteriotipos, el sentido de
identidad y los postulados de épocas anteriores. La automatización ha reducido la importancia de la fuerza física y de
las energías hormonales y ha sustituido éstas por requisitos de velocidad, inteligencia y habilidades de versatilidad,
relaciones interpersonales y comunicación. Esto ha ido acompañado de la feminización de la mano de obra, que en este
momento favorece la independencia, la flexibilidade y la adaptabilidad. Mientras que los hombres están mal
preparados para un futuro postmoderno, las mujeres se adaptan perfectamente e la nueva tecnocultura.
4
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
A principais críticas ao trabalho de Plant recai sobre: 1 - não lidar com a categoria mulher de
forma considerar seu percurso histórico (WAJCMAN, 2006), encarando a marco da criação da
internet como um novo começo, desconsiderando o passado; 2 - tratar de forma supérflua as
relações de poder entre os gêneros nos meios digitais (Susan HAWTHORNE & Renate KLEIN,
1999).
Há também críticas ao dualismo ciberfeminista mente-corpo em dois principais aspectos: 1-
tratar o ciberespaço como um lugar livre do corpo oculta a existência de convenções sociais que
atuam sobre os corpos em ambos os ambientes, o virtual e o físico; 2 – desconsiderar os contextos
dos usuários é o mesmo que assumir os sujeitos como padronizados e homogêneos, ignorando
questões de sexo, raça, idade, etc. (BROPHY, 2010).
Uma outra abordagem ciberfeminista pode ser classificada como pessimista e determinista,
pois entendia que o impacto das tecnologias na vida das mulheres seria prejudicial para estas, dando
em se tratando de acesso, habilidades e mercado de trabalho (WAJCMAN, 2006)
Podemos considerar que tanto a abordagem utópica quanto a abordagem pessimista
assumiam uma postura conivente ao determinismo tecnológico, pois partiam de um pressuposto,
otimista e pessimista, respectivamente, em suas interpretações sociais e de gênero sobre a TIC. Por
exemplo, em seus trabalhos, Plant busca contornar os argumentos pessimistas, mas também se
revela determinista ao defender a feminilidade da internet, não dando a devida importância à
atuação midiática e de outras instituições e estruturas sociais. Por outro lado, as abordagens se
diferenciavam por: uma estar aberta às possibilidades e às experiências com as TIC (otimista); e a
outra pode ser dita como tecnofóbica (pessimista) por criticar tais tecnologias sem buscar, de forma
mais efetiva, o seu uso construtivo para a situação das mulheres.
Com o avançar dos estudos sobre o tema, o ciberfeminismo passou a ser tensionado para que
se tornasse uma corrente crítica que se importasse em abordar e analisar as consequências pessoais
e políticas das TIC no cotidiano das mulheres, bem como a agência delas frente as potencialidades
dessas tecnologias. Dessa forma, entende-se que o ciberfeminismo deveria ser o trabalho feminista
em relação às mídias digitais e que tanto a vida online quanto a offline se constituem mutuamente e
não segregadas como se pensou nos primórdios da movimento e da Internet (BROPHY, 2010).
Apesar dos argumentos polêmicos e das críticas sofridas pelo ciberfeminismo, esta corrente
apresentou muitos avanços para os estudos feministas e para os estudos de cibercultura. Destacamos
quatro deles, a seguir. Primeiro, a exploração da conexão via rede e artefatos tecnológicos, que
possibilitou a interligação de ativismos de diferentes pautas, localidades e culturas, articulando o
5
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
local e o global, além da convergência de temas e da troca de experiências entre diferentes grupos
de mulheres, ou seja, o ciberativismo feminista. Segundo, o debate sobre questão da virtualização
dos corpos, das interações sociais em ambientes digitais e memória. Terceiro, a tecnoarte como
forma de pensar as mudanças sociotécnicas, aliando, principalmente, a arte e a multimídia
(HAWTHORNE & KLEIN, 1999).
Atualmente, podemos considerar que são inúmeras as expressões ciberfeministas presentes
nos ambientes digitais e nos espaços de debate feminista, contudo muitas dessas manifestações não
se intitulam feministas. São mulheres organizadas que sustentam a bandeira do feminino e da
feminilidade de forma ora mais ora menos ativista (FLORES, 2001; MIGUEL & BOIX, 2013;
WELLS, 2005).
Experiências de mobilização e organização de mulheres são importantes para o resgate da
cultura feminina, como os recentes festivais "Lady Fest Brasil" (25) de meninas que se
consideram riot grrrls, subdivisão do punk e da cultura do faça-você-mesmo, em São Paulo
e "Corpus Crisis" (26) em Brasília, ou os encontros de grupos de grafiteiras como TPM
Crew (27) e Só Calcinha, que também usam Fotologs (sites de fotos), entre outros, como o
e-zine Bendita (...) e que mostram que existem muito mais manifestações femininas, que se
utilizam das mais diversas mídias para se organizar, comunicar mas também brincar, nem
sempre questionando e sim celebrando a tecnocultura. São exemplos de formações multi-
disciplinares de mulheres também fora de qualquer modelo organizacional permanente,
projetos táticos que não possuem um background institucional, e que não são mediados por
nenhum veículo de comunicação comercial, beneficiando-se somente de ferramentas de
comunicação online, e buscando um diálogo com atividades nas mais diversas áreas de
atuação cultural da mulher, agregando muitas meninas que sequer ouviram falar de
ciberfeminismo ou mesmo se encaixam nos diferentes feminismos existentes [...] (WELLS,
2005).
Essa multiplicidade e divergências dos movimento de mulheres frente às TIC, ficou evidente
durante a realização do I Encontro Internacional Ciberfeminista, ocorrido em setembro de 1997, em
Kassel, Alemanha. Em comum, todas as participantes apresentaram a preocupação em repensar e
combater o sexismo e o patriarcado com o auxílio das tecnologias digitais. Mas nem todas possuíam
uma aproximação teórica e ativista com o feminismo, bem como não estavam em concordância com
os avanços alcançados pelo movimento tradicional, inclusive criticavam algumas das abordagem
apresentadas pelo ciberfeminismo até então. Apesar desta consciência, elas optaram por deixar o
ciberfeminismo em aberto, provemos maior liberdade de expressões invés de tentar estipular
princípios para este movimento (MIGUEL & BOIX, 2013).
Essa falta de identificação com o feminismo e com a corrente ciberfeminista também ficou
evidente no contexto latinoamericano, apesar de terem se multiplicado as associações de mulheres
em torno da TIC (Cindy Gabriela FLORES, 2001):
São poucas as mulheres interessadas no ciberfeminismo na América Latina. Por outro lado,
entre os feminismos, o ciberfeminismo ocupa um lugar não muito bem definido, pois mais
6
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
além da utilização da internet ou da apropriação da cibercultura e do ciberespaço, ainda se
deixa por definir se uma feminista ou uma mulher abordando temas das mulheres e
trabalhando com tecnologia, multimídia ou fazendo arte digital, inclusive quando seu
trabalho não se pode ver no ciberespaço ou não seja indispensável a internet para apreciar a
sua obra, é ciberfeminista ou não; ou se vídeos e arte transmitidos através da rede são
realmente interativos, ou se são arte de internet (não necessariamente net.art) ou não os
são... […]. Ainda que não se tenha clara a perspectiva feminista, quando falamos sobre
ciberfeminismo e o feminismo, com seu olhar atento e a mente aberta, estas garotas
irradiam entusiasmo por participar de alguma forma. É emocionante pensar que a
tecnologia e o feminismo podem caber em suas vidas futuras, se façam chamar
ciberfeministas ou não (FLORES, 2001, tradução nossa)3.
Na última décadas, o termo ciberfeminismo voltou a ser utilizado por pesquisadoras a partir
de uma nova concepção para relacionar as causas feministas e as tecnologias digitais, sendo estas
vistas não apenas como suporte sociotécnico para o movimento, como também como objeto de
estudo da crítica feminista, principalmente, ao que se refere ao androcentrismo (BROPHY, 2010;
HACHÉ et al., 2011, 2013; HAWTHORNE & KLEIN, 1999; MIGUEL & BOIX, 2013;
NATANSOHN, 2014; ROCHA et al., 2013; SERRANO & BIGLIA, 2011). Esta atual abordagem se
aproxima dos estudos de Gênero, Ciência e Tecnologia, visto que consideram que as relações de
gênero estão presentes em todo o processo de planejamento, produção, consumo e de apropriação
da tecnologia (CASTAÑO, 2008; HARAWAY, 2004; 2009; WAJCMAN, 2006). Sendo assim, se faz
necessário pensar não só em fomentar o acesso e o consumo de TIC por mulheres, mas também em
seu empoderamento através da presença e participação em posições de projeto, criação, gestão e
governança de tais tecnologias digitais.
Dentre esses novos estudos teóricos do ciberfeminismo, considera-se o surgimento de uma
terceira abordagem desse movimento, que conseguiu reunir diferentes correntes feministas
preocupados em promover a mudança nas relações de gênero, com os direitos humanos e com as
redes sociais na internet e que se opõem aos processos da globalização neoliberal. Caracteriza-se
assim o ciberfeminismo social (MIGUEL & BOIX, 2013). Utilizando-se de uma linguagem mais
próxima à das novas gerações na internet, esta nova abordagem também pode ser denominada de
ciberfeminismo 3.0 (NATANSOHN, 2014).
3 Texto original: Son pocas las mujeres interesadas en el ciberfemenismo en Latinoamérica. Por otro lado, entre
los feminismos, el ciberfemenismo ocupa un lugar no muy bien definido, pues más allá de la utilización de internet o la
apropiación de la cibercultura y el ciberespacio, aún queda por definir si una feminista o una mujer abordando temas
de la mujer y trabajando con tecnología, multimedia o haciendo arte digital, incluso cuando su trabajo no se pueda ver
en el ciberespacio o no sea indispensable internet para apreciar su obra, es ciberfemenista o no; o si videos y arte
transmitidos a través de la red son realmente interactivos, o si son arte de internet (no necesariamente net.art) o no lo
son... […]. Aunque no tienen clara todavía la perspectiva feminista, cuando hablamos sobre ciberfemenismo y el
feminismo, con sus miradas atentas y la mente abierta, estas chicas irradian entusiasmo por participar de alguna
forma. Es emocionante pensar que la tecnología y el feminismo pueden caber en sus vidas futuras, se hagan llamar
ciberfeministas o no.
7
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
O termo “ciberfeminismo” está novamente em uso entre as mulheres jovens que têm na
internet e nas tecnologias digitais o suporte para a sua militância. Acreditamos que o termo
tem potencial, ainda, para representar/nomear os recentes estudos e ativismos feministas
que se focam nas TICs, enquanto meio/suporte e enquanto objeto a ser discutido pela
tecnociência feminista (PAZ, 2015, p. 69-70).
Sendo assim, o que podemos chamar hoje de ciberfeminismo é um conjunto diverso de
manifestações de mulheres e seu uso e apropriação das TIC para fomentar projetos tecnológicos por
e para mulheres, podendo ou não apresentar, de forma explícita, uma crítica ativista ou feminista ao
contestar a situação delas frente ao androcentrismo das tecnologias digitais. Logo, o ciberfeminismo
tem sido constituído por vários temas e linhas de ações. Por isso, consideramos válido utilizar o
termo “ciberfeminismos”, assim em sua forma plural, para indicar, além de todos os seus percursos
ao longo dessas décadas, a multiplicidade de suas atuais expressões.
A comunidade software livre e o grupo /MNT
Segundo a FSF – Free Software Foundation, softwares livres são aqueles que possuem
licenças que garantem as quatro liberdades do software: a de uso, distribuição, modificação e
distribuição das modificações. Além disso, uma das principais diferenças dos software livres para os
softwares proprietários é que a sua cadeia de desenvolvimento está baseada em produção
colaborativa em comunidade. Assim se desenvolvem e se licenciam softwares como o navegador
web Firefox, o servidor web Apache e o sistema operacional GNU/Linux Debian.
As comunidades de desenvolvedores e usuários, bem como coletivos, grupos e outras
organizações formadas ao redor desses projetos e demais entusiastas do movimento formam as
chamadas comunidades locais e internacionais de software livre. Sendo assim, a comunidade
software livre é formada por pesquisadores, profissionais, estudantes, entusiastas, ativistas; pessoas
que defendem a liberdade de informação e do conhecimento de acordo com o que podemos
considerar como os princípios sociotécnicos da cultura hacker (HIMANEN, 2001; SILVEIRA,
2004). Contudo, mesmo que muitos grupos feministas considerem que o SL proporcione meios
sociais, culturais e técnicos, além de ambiente mais amigável para o empoderamento das mulheres
nas TIC, esta comunidade não está isenta de conflitos de gênero (NAFUS et al., 2006; REAGLE,
2013). Assim como acontece em toda a área da TI, tais tensões também podem afastar as mulheres
dos projetos e eventos realizados sob o conhecido lema “Software Livre: socialmente justo,
economicamente viável e tecnologicamente sustentável” (TEZA, 2014).
8
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Em termos práticos, estudamos o grupo /MNT – Mulheres na Tecnologia, que foi criado em
2009 em Goiânia-GO por três mulheres que se conheceram na comunidade SL local e perceberam
que era necessário incentivar uma maior atuação de mulheres, não apenas no movimento SL, como
também junto à TI de uma forma geral. Desde então, o grupo cresceu e possui membros de
diferentes estados que se encontram, anualmente, para debater tecnologia, tendo em vista uma
perspectiva de gênero.
A atuação do grupo /MNT, segundo o exposto em seu site, é “TRANSFORMAÇÃO -
Habilitamos organizações para a jornada de promoção da equidade de gênero; COMUNIDADE -
Conectamos comunidades de mulheres em TI através dos nossos canais; EVENTOS - Organizamos
o Encontro Nacional de Mulheres na Tecnologia e apoiamos iniciativas”. Neste mesmo site, o grupo
agrega links para seus perfis nas redes sociais na internet, grupo de discussão por e-mail, cadastro
de algumas nas mulheres do grupo, bem como agenda, notícias, vagas de emprego, etc..
Além de sua atuação online, o grupo está presente em vários eventos realizados dentro das
temáticas da tecnologia da informação e do software livre. É válido citar que o software livre, sendo
uma cultura sociotécnica baseada em colaboração online, tem como prática recorrente a realização
de eventos (generalistas e/ou técnicos), que, presencialmente, atuam como espaços de sociabilidade,
networking e compartilhamento de conhecimentos.
A atuação do /MNT em eventos de software livre e de gênero e TI
No que tange o /MNT e como já mencionado, uma das suas principais realizações é o evento
denominado Encontro Nacional de Mulheres na Tecnologia (ENMNT)4, que ocorre anualmente em
Goiânia-GO. A primeira edição do evento ocorreu em 02 de março de 2013 em comemoração do
aniversário de quatro anos do grupo. O I ENMNT contou com a participação de 111 pessoas, dentre
elas, 80,2% mulheres provenientes de 10 diferentes estados (BA, CE, DF, GO, MG, PB, RJ, RS, SC
e SP). Tanto a mesa de abertura, quanto a grade de palestras e minicursos foram compostas
unicamente por mulheres como é de praxe em todas as suas edições. O evento não teve uma
temática oficial, mas a maioria das palestras tinham como foco debater a condição da mulher na TI
como o que ocorreu, por exemplo, nas palestras “Participação Feminina em Projetos
Colaborativos”, ministrado por Luciana Fujii e “Empreendedorismo Feminino na TI” por Cecília
Queiroz.
4 Ver sobre todas as cinco edições em: <http://mulheresnatecnologia.org/eventos/encontro-nacional>.
9
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
A edição mais recentemente realizada do evento, sua 5ª edição, ocorreu em 02 e 03 de junho
de 2017, com a temática “Construindo o futuro Digital”5. Podemos dizer que, ao longo dos anos, o
evento passou por um reposicionamento, deixando de ser apenas um evento de mulheres sobre
gênero e tecnologia para ser um evento de tecnologia feito por mulheres com perspectiva de gênero.
Logo, ao mesmo tempo que aposta em debates como os das mesas redondas “O feminino nas
empresas de tecnologia: refletindo sobre os atuais mecanismos de equidade” e “Comunidades e
ativismo de gênero em TI: experiências, resultados e possibilidades futuras”, o evento também
promove palestras técnicas como “Data Science, o poder dos dados e como isso vai mudar o
mundo” por Fabiane Nardon e “Crie o site do seu evento com ConfBoilerplate + Heroku” por
Vanessa Tonini. Contudo, sempre buscando promover o protagonismo feminino.
A relação do /MNT com o SL não é seu único foco mas é uma das bandeiras levantadas por
estas mulheres:
Sim. A gente acredita muito nessa filosofia de colaboração. Então o encontro não é só
focado nisso mas em todas as oportunidades que a gente teve de envolver a ideia da
liberdade do conhecimento, da filosofia de colaboração para a mudança do resultado que a
gente quer da sociedade, a gente inseriu e são princípios que a gente viu no SL. Todas as
fundadoras fazem parte do movimento SL e foi nesse que nasceu o movimento de Mulheres
na Tecnologia. Então o grupo se preocupou com isso sim quando imaginou o encontro
nacional (Conselheira do /MNT em entrevista durante I ENMNT, 2013).
Para demonstrar a atuação do grupo na comunidade software livre, podemos citar o caso da
14ª edição do Fórum Internacional de Software Livre (FISL14), considerado o maior evento
brasileiro do tema e que ocorre anualmente em Porto Alegre-RS. Nesta edição de 2013, a
participação do /MNT ganhou particular destaque. Anteriormente, no I ENMNT, houve a palestra
“A participação Feminina no FISL” por Mariel Zasso, integrante da organização do fórum. Após a
palestra um debate que podemos resumir nas questões “como o /MNT pode ajudar o FISL?” e
“como o FISL pode intensificar suas ações sobre equidade de gênero?”.
Em relação à participação de mulheres como palestrantes no fórum, foi levando que apenas
disponibilidade uma chamada aberta de trabalhos não seria suficiente, visto que parte das palestras
são escolhidas através de votação feita por participantes e palestrantes do evento. Sendo assim,
carece haver uma maior sensibilidade da organização:
Acontece que o que a gente tem que lembrar é que a maior parte dos participantes é
homem, dos palestrantes é homem e dos ex palestrantes também é homem. Então a grande
maioria que vai votar é homem. Então se existe uma pequena intervenção para quando tem
5 O evento ainda não apresentou suas estatísticas em seu site (Coletas de dado realizadas em julho de 2017).
10
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
um trabalho que a equipe está olhando e sabe que é de qualidade mas não foi muito bem
avaliado... (participante do debate durante o I ENMNT, 2013).
Para unir esforços para apresentar mais protagonistas apresentando seus conhecimentos e
experiências em TI, o /MNT entrou em campanha de divulgação da chamada de trabalhos do
FISL14. Algumas membros do grupo, contataram possíveis palestrantes, oferecendo apoio em
forma de presença e coautoria, buscando assim quebrar possíveis barreiras para falar em público.
Como fruto dessa parceira militante entre /MNT e FISL, o FISL14 apresentou: sorteio de
inscrições gratuitas para o FISL14 no I ENMNT; stand do grupo, que serviu como ponto de
encontro e trocas sociais entre as mulheres do evento; minicurso de programação ministrado por e
voltado para mulheres; minicurso sobre o sistema operacional GNU/Linux para mulheres; aumento
de palestrantes mulheres na grade do evento (via convite da organização e chamada de trabalhos,
incluindo a palestra do grupo /MNT “Onde guardamos o nosso machismo?”, ministrada por
Christiane Santos, Danielle Oliveira, Luciana Oliveira e Márcia Almeida; entrevista com algumas
militantes na rádio online do evento; dois “Encontro Comunitários”6, um do /MNT e outro do
GarotasCPBr.
Incentivado pela ativista e palestrante convidada Valerie Aurora (EUA) do ADA Institute for
Diversity in Leadership, o FISL14 inovou na comunidade SL brasileira com a adoção de uma
política anti-assédio, que teve como objetivo inibir discriminações de gênero, raça, etnia,
necessidades especiais, orientação sexual, aparência física, religião e condição sócio-econômica. O
/MNT aprovou a iniciativa e também passou a atrelar a inscrição dos participantes no ENMNT com
a aceitação de seu Código de Conduta: “Não toleramos qualquer forma de assédios ou intimidações
de qualquer participante do evento, seja audiência, palestrantes, colaboradores, ou quaisquer
membros da comunidade”7.
Através dessas frentes de atuação, o /MNT visa atingir seus objetivos de se tornar uma
referência no reconhecimento e no empoderamento de mulheres na TI, bem como colabora para o
crescimento da comunidade software livre, levando através de seu ativismo a consciência de
diversidade e a perspectiva de gênero. Como discutido anteriormente, o /MNT pode ser considerado
um legítimo exemplo de expressão do ciberfeminismos 3.0, que ocorre com a organização de
6 Espaço na grade cedido pela organização do FISL para que as comunidades de usuários possam desenvolver
seus próprios mini-eventos. 7 Ver <http://encontro2017.mulheresnatecnologia.org/>.
11
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
mulheres, que não apenas usam a tecnologia mas buscam modificar as práticas androcêntricas das
comunidades sociotécnicas como é o caso do software livre no Brasil.
Referências
AMARAL, Adriana; NATAL, Geórgia. VIANA, Lucina. Netnografia como aporte metodológico da pesquisa
em comunicação digital. FAMECOS/PUCRS, Porto Alegre, n.20, p.34-40, dez. 2008,
BAYM, Nancy K. Personal connections in the digital age. Cambridge, UK: Polity, 2010. Print.
BRAGA, Adriana. Técnica etnográfica aplicada à comunicação online: uma discussão metodológica.
UNIrevista, v.1, n.3, jul. 2006.
BROPHY, J. E. Developing a corporeal cyberfeminism: beyond cyberutopia. In: New Media & Society, v.12,
n.6, p. 929–945, 2010.
CASTAÑO, C. La segunda brecha digital. Madri: Cátedra, 2008.
FLORES, C. G. Ciberfeminismo y arte en latinoamérica: fusión pendiente. Mujeres en Red, el periódico
feminista. 2001. Disponível em: <http://www.mujeresenred.net/spip.php?article887>.
HACHÉ, A.; CRUELS, E.; VERGÉS, N. Mujeres programadoras y mujeres hackers: una aproximación des
de Lela Coders. [s.l.:s.n.], 2011.
HAWTHORNE, S.; KLEIN, R. Introduction: ciberfeminism. In: HAWTHORNE, S.; KLEIN, R.
Cyberfeminism: connectivity, critique and creativity. [s.l.]: National Library of Australia, 1999. Disponível
em: <http://bit.ly/aWKRnM>. Acesso em: 22 fev. 2012.
HARAWAY, D. J. Manifesto ciborgue: ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX. In:
HARAWAY, D. J. Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. Organização e tradução: Tomaz
Tadeu da Silva. 2.ed. Belo Horizonte : Autêntica, 2009. – (Mimeo).
HARAWAY, D. J. Cyborgs, Coyotes, and dogs: a kinship of feminist figurations and there are always more
things going on than yo u tho ught! Meth odologies as thinking te chnologies. 274An interview with Donna
Haraway. In: HARAWAY, D. The Haraway Reader. New York: Routledge, 2004b. Disponível em:
<http://www.gbv.de/dms/weimar/toc/36920591X_toc.pdf>.
HIMANEM, Pekka. A ética dos hackers e o espírito da era da informação: a diferença entre o bom e o mau
hacker. Tradução: Fernanda Wolff. Rio de Janeiro: Campus, 2001.
HINE, Christine. The virtual objects of ethnography. Virtual Ethnography, Londres, SAGE Publications, p.
41-66, 2000.
KOZINETS, Robert. Netnografhy: doing ethnography research online. [s.l.:s.n.], 2009. (cap. 1 e 2.).
MIGUEL, A. de; BOIX, M. Os gêneros da rede: os ciberfeminismos. In: NATANSOHN, G. (Org.). Internet
em código feminino: teorias e práticas. 2.ed. revista e ampliada. Buenos Aires: La Crujía, 2013, v. 1.
12
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
MURTHY, Dhiraj. Digital ethnography: an examination of the use of new technologies for social research.
Sociology, London: Sage, v. 42, n.5, p. 837–855, 2008.
NAFUS, Dawn; LAECH, James; KRIEGER, Bernhard. Free/libre and open source software: policy support.
Cambridge, March 2006.
NATANSOHN, L. Graciela. Por una agenda feminista para internet y las comunicaciones digitales. In:
CONGRESO GÉNERO Y SOCIEDAD, VOCES, CUERPOS Y DERECHOS EM DISPUTA, 4., 24 al 26 de
setiembre de 2014, Córdoba. Anais... Córdoba, 2014a.
PAZ, Mônica de Sá Dantas. Mulheres e tecnologia: hackeando as relações de gênero na comunidade
software livre do Brasil. Tese (doutorado) – Pós-graduação em Comunicação e Cultura Contemporâneas.
Universidade Federal da Bahia. Salvador, 2015.
PLANT, S. Mulher digital: o feminismo e as novas tecnologias. Rio de Janeiro: Record; Rosas dos Tempos,
1999.
REAGLE, Joseph. Free as in sexist? Free culture and the gender gap. First Monday, Peer Reviewaed Journal
on the Internet, v. 18, n. 1, 7 January 2013.
SERRANO, M. L.; BIGLIA, B. Pedagocía cyberfeminista: entre utopía y realidades. TESI - Teoría de la
Educación: Educación y Cultura en la Sociedad de la Información, v.12, n.2, p. 149-183, 2011.
SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Software livre: a luta pela liberdade do conhecimento. São Paulo: Fundação
Perseu Abramo, 2004.
TEZA, Mario. Pão e liberdade. Disponível em:
<http://bo.unsa.edu.ar/docacad/softwarelibre/articulos/manifiesto/paoeliberdade.html>. Acesso em: 08 maio
2014.
TRENEMAN, A. Interview: Sadie Plant - IT girl for the 21st century. 1997. Disponível em:
<http://www.independent.co.uk/life-style/interview-sadie-plant--it-girl-for-the-21st-century-1235380.html>.
Acesso em: 28 nov. 2014.
TURKLE, Sherry. A vida no ecrã: a identidade na era da Internet. Lisboa: Relógio D’Água, 1997.
WAJCMAN, J. El tecnofeminismo. Madrid: Cátedra, 2006.
WELLS, Tatiana. O ciberfeminismo nunca chegou à América Latina. Labrys, estudos feministas / études
féministes. janeiro / julho 2005. Acessado em Abril 2009. Disponível em
<https://www.labrys.net.br/labrys7/cyber/tatiana.htm>.
Cyberfeminisms in the free software community of Brazil
Astract: The proposed article is based on the studies of Gender, Science and Technology, especially
those that look at how gender relations are present in the whole process of planning, production,
consumption and appropriation of technology (CASTAÑO, 2008; HARAWAY, 2004, 2009;
WAJCMAN, 2006). In this context, we discuss the differents activist and theoretical currents that
have sought to approach digital technologies, what we call cyberfeminisms (HAWTHORNE &
13
Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
KLEIN, 1999; MIGUEL & BOIX, 2013, PLANT, 1999; WAJCMAN, 2006). It work is derived
from the doctoral thesis titled "Women and Technology: Hacking Gender Relations in the Free
Software Community of Brazil" (2015), whose general objective was to investigate the social and
activist place of women in the hacker culture and the free software movement (FS) (HIMANEN,
2001; SILVEIRA, 2004). We use a new methodology, the multimodal digital ethnography
(AMARAL et al., 2008; BRAGA, 2006; HINE, 2000; KOZINETS, 2009; MURTHY, 2008), to
analyze the group /MNT – Mulheres na Tencnologia, created in 2009 in Goiânia-GO/Brazil, by
three women who realized that it was necessary to encourage greater participation of women, not
only in the FS movement, but in all Information Technology in the country. Therefore, this
communication aims to discuss cyberfeminisms and to analyze a group that is currently using ICT
to discuss to being woman in the FS community.
Keywords: Cyberfeminism. Women. Gender. Technology. Free software.