christian cravo

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20/4/2008 53 SALVADOR DOMINGO DOMINGO 20 DE ABRIL DE 2008 #3 TERCEIRO CRAVO Christian herda o talento do avô escultor e do pai fotógrafo Sacatar, a residência artística da Ilha de Itaparica A dualidade na moda de Soudam & Kavesky A onda do Temaki, o fast-food japonês COLABORE COM AS PRÓXIMAS EDIÇÕES DA MUITO E VEJA O MAKING OF DAS REPORTAGENS EM WWW.ATARDE.COM.BR/MUITO REVISTA SEMANAL DO JORNAL A TARDE. NÃO PODE SER VENDIDA SEPARADAMENTE

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Perfil do fotógrafo Christian Cravo

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26 SALVADOR DOMINGO 20/4/2008

O herdeiro d os CravoTexto TATIANA MENDONÇA [email protected] talento, o sobrenome e a arrogância de Christian Cravo, 33, filho do também fotógrafo Mario Cravo

Neto, que faz 61 anos hoje, e neto do escultor Mario Cravo, 85, fazem dele o terceiro nome destageração de artistas baianos. Seguindo sua trajetória, este ano expõe na Argentina, Japão e Haiti

20/4/2008 27SALVADOR DOMINGO

O herdeiro d os CravoTexto TATIANA MENDONÇA [email protected]

Mario Cravo Neto

com o filho Christian

ainda criança:

relação complicada

Oprédiotemnomedemu-

seu, Louvre. No oitavo

andar, moram o neto do

escultor baiano Mario

Cravo e o filho do fotó-

grafo Mario Cravo Neto.

Os três artistas, os três famosos. Mas o

também fotógrafo Christian Cravo, 33, se-

guiu seu próprio caminho até se tornar, co-

mo diz, um "self-made man".

Ao lado da porta de entrada, que carre-

ga a oração de proteção à família do Padre

MarceloRossi, repousamumpardeall star

vermelho, um de sandália preta de salto e

outro de sapatinho envernizado de bone-

ca. As mesinhas da sala estão cheias de li-

vros de fotografia.

O salto é de sua mulher, Adriana, com

quem é casado há cinco anos, e o sapati-

nho de boneca é da filha, Sophia, de 4. As

janelasdoapartamentoestãosendorefor-

madas. "Estavam tão velhas que, quando

ventava muito, tinha medo de que elas

caíssem lá embaixo". Um homem chega

para fazer o orçamento da rede de prote-

ção, que está rasgada. "Tô tirando foto pra

revista, mas não sou famoso não, viu, olha

lá esse orçamento", diz, brincando sério.

Dá para ver que ele estranha não estar

do outro lado da câmera. Fica tímido, força

sorriso feito criança emburrada, mas de-

pois, abusado, sugere ângulos e pergunta

se a fotógrafa não quer uma de suas lentes

emprestadas. “Sou pedante mesmo... Ca-

da dia mais".

O que só deve aumentar com as expo-

sições das quais participa este ano em Tó-

quio, Buenos Aires e Haiti. No Brasil, suas

fotos poderão ser vistas no Conjunto Cul-

tural da Caixa, de Brasília e São Paulo.

Christian está interessado em descobrir

a essência da fé para chegar à essência do

homem. Pegou o caminho das águas

quando foi fotografar a devoção seca do

nordestino. Lá se vão oito anos entre Índia,

BrasileHaiti comoprojetoWatersofHope,

Rivers of Tears (Águas da Esperança, Rios

de Lágrimas). Para tocar o trabalho, com

recursos próprios, viaja, em média, quatro

vezes por ano. Em julho, vai para o Haiti,

VICENTE SAMPAIO | DIVULGAÇÃO

28 SALVADOR DOMINGO 20/4/2008

Auto-retrato do

artista. Aos 33

anos, uma foto

sua chega a

custar R$ 5 mil

20/4/2008 29SALVADOR DOMINGO

onde deve passar dois meses. "É um pro-

jeto pessoal, não tenho pressa. Se ficar

pronto em 2010, ótimo; se não, ótimo

também. Livro de fotografia é caro de pu-

blicar, caro de comprar. Paga o condomí-

nio, no máximo. É um portfólio de luxo".

Ele já tem dois desses portfólios, Irre-

dentos, de 2000, com as já citadas fotos da

fé dos nordestinos, e Roma noire, Ville Mé-

tisse, lançado em 2005, em Paris, com fo-

tosdeSalvador.É Irredentos–obrafavorita

do avô Mario Cravo – que vai viajar para a

Argentina, em agosto, e para o Japão, em

novembro. No Brasil, exibe em junho Es-

pírito Oculto, uma compilação de fotos so-

brefé,religiãoeespírito."Ésobrequalquer

coisa que não seja muito decifrável. Tem

até foto da minha filha nascendo, saindo lá

do útero da mãe, enfim."

Apesar de investigar a fé e eternizar sua

magia em preto e branco, ele não é religio-

so. "Acredito na força do homem de mover

e sobreviver, não na fé doutrinária. Iden-

tifico-me com todas as religiões e com ne-

nhuma ao mesmo tempo".

Descendo o elevador, cumprimenta o

novo morador, dá um alô ao porteiro. Em

um relance, a revelação inesperada: "Sou

o síndico daqui, estava tudo muito bagun-

çado".

Para bancar seus projetos autorais, vira

repórter fotográficopararevistascomoVo-

gue e Trip, além de fazer fotos de publici-

dade e moda. "Sempre vi meu pai e meu

avô como duas figuras indisciplinadas no

contexto civil, em tudo, exceto no trabalho

autoral deles. Quero exercitar o oposto. Vi-

vo da venda das minhas fotografias auto-

rais, mas não nego trabalho. Não quero vi-

rar uma pessoa reclusa como eles foram a

vida inteira".

Christian cresceu sem a companhia diá-

riadopaiedoavô.Aosquatroanos,deixou

Salvador, onde nasceu, para viver em São

Paulo, Estados Unidos e, por fim, Dinamar-

ca, onde morou dos 10 aos 21, com a mãe,

Eva Christensen, dinamarquesa. Todo ano

vinha para Salvador passar férias, onde es-

quecia o frio e brincava no ateliê do avô.

A lembrança mais remota e freqüente

que Mario Cravo, 85, tem do neto é seu en-

tusiasmo com um caixão de brinquedo, do

qual pulava uma caveirinha. “Ele ficava na

ponta dos pés, hipnotizado com essa figu-

ra”, disse. “Nunca imaginei que um dos

meusnetosviesseasetornarartista.Ascoi-

sas acontecem a despeito das nossas ex-

pectativas.Naturalmente,oconvívionaat-

mosfera do ateliê estimula a confecção de

objetos. Talvez por este caminho penetre a

arte na alma do homem”.

Mesmo nas férias, Christian via pouco o

pai. "No último dia, antes de a gente voltar

para a Dinamarca, ele vinha correndo lá da

casa dele, em Castelo Branco. 'Vim pegar

vocês pra dar uma volta...'. Colocava mi-

nha irmã e eu no carro e ia pra loja de fo-

tografia negociar. Era frustrante".

Até hoje Christian e o pai não têm muito

contato. Mario Cravo Neto diz que seus

temperamentos são bastante diferentes,

mas que as brigas entre pais e filhos são

naturais. “Às vezes acontecem coisas in-

tempestuosas,momentosdeternura,con-

flito e diálogo”.

Para se aproximar do pai, Christian co-

meçou a mexer com fotografia. Era 1984,

Mario Cravo Neto foi expor na Dinamarca,

e Christian, com 10 anos, aproveitou para

pedir um laboratório de presente. Em um

papel, Mario Cravo anotou as instruções.

"Toda hora, ligava pra ele 'Ah como é que

faz isso, revelador, tal, e o papel...'. Foi um

resgatedafigurapaterna".Opaicontaque

deixou Christian livre e que não tem “mais

nem menos prazer” pelo fato de ele ter es-

colhido a fotografia. “Mas me sinto feliz

por ele ter dado continuidade a uma famí-

lia de artistas”.

Depois de se aproximar pela fotografia,

o empenho foi para se distanciar do traba-

lho do pai. "Fui educado para achar que os

Cravo estão acima do bem e do mal, que

sãoosmelhores.Escolhimeucaminho,por

acaso, a fotografia. Mas nossos trabalhos

são completamente diferentes", diz.

O crítico de fotografia Eder Chiodetto

concorda. “A influência pode ter sido o

apreço pelo rigor técnico, o foco em deter-

minadas questões e a percepção de que a

fotografia pode representar mais que o

real cotidiano, pode ser a simbologia poé-

tica de um mundo paralelo, conectar o ser

ao divino. Mas, na forma, são absoluta-

mente distintos”.

Christian optou pela fotografia docu-

«Fui educado paraachar que os Cravoestão acima do beme do mal, quesão os melhores»

O único diploma de Christian vem

do tempo do exército, na Dinamarca

ARQUIVO PESSOAL

30 SALVADOR DOMINGO 20/4/2008

mental e diz lidar com o legado paterno

sem problemas. "A maioria dos casos de

família em que um segue a carreira do ou-

tro não dá certo. O pai faz uma coisa e o

filho repete igualzinho, só faz piorar. Meu

pai é um caso totalmente anormal. Ele não

só foi tão bom quanto meu avô, mas talvez

o tenha superado. Mas dentro do mesmo

tema, que é a Bahia".

E o que também o fez virar exceção?

"Sorte e outros fatores. O fato de eu ter si-

do iluminado, de ser pedante, de só parar

quandoconsigooquequero,deterumcer-

to equilíbrio em me auto-analisar".

ARTILHARIA PESADAO único diploma de Christian vem do

tempo que passou no exército, na Dina-

marca:observadordeArtilhariaAvançada.

A experiência durou dois anos e não foi

traumatizante. Ele até agradece pelo exer-

cício da disciplina. "Hoje é fundamental.

Não tem mais isso de vir um patrono da ar-

te e descobrir o cara lá, semineardenthal,

que vive na caverna dele, alheio a tudo".

Comodinheiroqueganhounoexército,

ChristianvoltouparaSalvadorecomprouo

primeiroapartamento,aos22anos."Cres-

cer na Dinamarca foi uma coisa muito cha-

ta. Quando voltei, ah, back to paradise, pa-

ra o sol, para a praia". E, acima de tudo,

para a luz. "Na Dinamarca, não conseguia

me inspirar. E aqui essa luz tropical, as pes-

soas sem camisa... Foi um prato cheio".

Fotografia, ele foi aprendendo na prá-

tica. "Sou autodidata. Meu pai nunca me

ensinou nada diretamente". Pausa. "Não

vou ser patético em dizer que não aprendi

nada com ele, porque só a convivência já é

um grande aprendizado".

Mario Cravo Neto diz não “fiscalizar” o

trabalho do filho, mas avalia que ele está

fazendo“umbomcaminho”.“Eletemmui-

to a ganhar e muito a perder, como qual-

quer um. Precisa seguir a própria intuição,

o próprio caminho, sem ouvir conselho de

ninguém. A opinião dos que estão de fora

não importa. A arte é liberdade contínua

de exercício criativo”.

No começo, Christian pensou em arru-

mar outro emprego. "Foi muito difícil. Mas

você vai plantando, e um dia colhe". Suas

fotografiashojecustamentreR$500eR$5

mil. Das colheitas também fazem parte o

prêmio da 2000 Mother Jones Internatio-

nal Found for Documentary Photography,

que ganhou em 1999, aos 25 anos. Esse é

o segundo prêmio de fotografia mais im-

portante do mundo, e ele levou como re-

presentante da América Latina.

Em 2001, Christian virou bolsista do

prestigiado museu Guggenheim de Nova

York, quando começou Waters of Hope.

Para o crítico de fotografia Rubens Fernan-

des Filho, ele é um dos grandes novos ta-

lentos da fotografia brasileira. “Suas fotos

têm alma, emoção e exigem um mergu-

lho, um certo interesse para perceber as di-

ferentes texturas e ações”, analisa.

ChiodettoquerverChristianexplorando

temas menos comportados. “Fotodocu-

mentaristas devem ter a ambição de reve-

laraquiloqueestáocultopelopreconceito,

pelos jogos de poder. E claro, devem ser

poetas. E poesia a golpes de luz e tons de

cinza, o Christian já faz”.

Espalhando a obsessão que tem pela

fotografia, este ano ele vai dar aulas para

120 adolescentes do projeto Pracatum,

no Candeal. "Ensinar é a coisa mais hon-

rada do mundo, mas tem que querer

aprender".

AH, BAHIAMesmo morando em Salvador há 11

anos, Christian ainda não aprendeu a gos-

tardacidade."Tenhoumarelaçãodeamor

e ódio com a Bahia. Odeio o calor, odeio a

falta de infra-estrutura".

Ele conta que é brigado com muita gen-

te. “Os fornecedores não me suportam.

Meu trabalho vai para o mundo inteiro, e

eunãotenhoumfornecedordaqui.Aívocê

vai reclamar e vem o baiano... Baiano não

gosta de trabalhar, é fato. E eles ainda se

sentem ofendidos por você não aceitar a

qualidade do trabalho que te oferecem".

Por que continuar aqui, então? "No meu

momento, casado, filho, é difícil. E tem o

custo. Não sou tão famoso assim, nem te-

nho tanto dinheiro".

Low-profile, não sai muito de casa para

ver exposições ou ir a festas. "Tempo é

uma coisa muito preciosa pra mim". Chris-

tian tinha 17 anos, estava vendo televisão

quando ouviu a profecia do avô. "Quando

O fotógrafo morou com a mãe nos

EUA, onde jogava futebol americano

«Baiano nãogosta de trabalhar, éfato. E eles ainda sesentem ofendidos»

ARQUIVO PESSOAL

20/4/2008 31SALVADOR DOMINGO

você é jovem, tem tempo, mas não sabe

como gastar. Quando você é velho, sabe

como gastar, mas não tem tempo. Então

você está num bico de sinuca".

Christian nunca se esqueceu disso. E o

tempo só foi diminuindo. Desde que So-

phia nasceu, ele não põe os pés num cine-

ma. "Não tenho mais vergonha de dizer is-

so porque um grande amigo, Sérgio Ma-

chado, disse a mesma coisa".

No cinema, ficou mesmo nos bastido-

res. Fez as fotos de divulgação de Abril Des-

pedaçado, de Walter Salles, e de Cidade

Baixa, de Sérgio Machado. "Sou amigo de

diretores, eles me pedem informações téc-

nicas e sugestões de locações. Entendo tu-

do de máquina de cinema, poderia fazer

um filme a qualquer momento, mas sou

um solitário no meu trabalho”.

Sérgio Machado, primeiro, conheceu as

fotos; depois, Christian. “Tinha uma expo-

sição dele na Alexandre Robatto, e eu e

Waltinho (Walter Salles) ficamos encanta-

dos. Ele foi fazer ostill (making of) de Abril

Despedaçado e fez fotos incríveis. Nunca ti-

nha visto um still tão bem-feito”. A parceria

seguiu com Cidade Baixa e deve continuar

com o novo filme de Sérgio, Quincas Berro

D'Água. Em abril eles vão viajar por Salva-

dor e pelo Recôncavo, atrás de locações.

Durante as quase duas horas de conver-

sa, Christian respondeu tudo, sem hesitar.

Menos quando chega a hora de saber que

tipo de influência ele quer ser para a me-

ninadossapatosdeboneca,a filhaSophia.

"Quero que ela seja quem quiser ser. Mas

vou mostrar que o mundo não é essa mes-

quinhezdapropaganda,doconsumo,com

gente que gasta dinheiro em um Audi e

não dá R$ 1 para o menino do semáforo.

Olha que paradoxo maluco". Enquanto

nãoresolveodilemadoavôsobreotempo

– que ora falta, ora sobra – ele segue fo-

tografando e aprisionando o agora «

Água e fé são temas do projeto Águas da Esperança.... Nas fotos, Índia e Haiti

Abaixo, a Bahia, tema caro aos Cravo, fotografada em Roma Noire...

32 SALVADOR DOMINGO 20/4/2008

O mar em Roma

Noire.... Abaixo, com a

irmã, Lua, e o avô,

Mário, num clique dele

VICENTE SAMPAIO | DIVULGAÇÃO

20/4/2008 33SALVADOR DOMINGO

A escritora Clarice Lispector, que

entrevistou Mario Cravo Jr, em 1969

«Já vivo do meutrabalho autoral.E metade dele évendido no Brasil»

«Quero que meu trabalho fale por mim»Em 1969, a escritora Clarice Lispector entrevistou o escultor baiano Mario Cravo Jr., então com 46 anos. A convite da Muito, Christian

respondeu a algumas das perguntas feitas para o seu avô, recentemente publicadas no livro Clarice Lispector: Entrevistas. Confira:

Que é que faz de um homem um artista?

É a vontade de viver. A curiosidade e

a vontade de deixar alguma coisa,

algum legado.

Que parte do seu eu você transmite em

ligação com o mundo?

Não quero transmitir nenhuma par-

te do meu eu. Quero que meu tra-

balho fale por mim. Isso é possível?

Na fotografia é. A fotografia é um

diálogo. Eu vou pra um lugar, foto-

grafo uma pessoa. É aquela pessoa

que está falando alguma coisa, não

eu.Ofotógrafosócompõe.Nãocon-

troloquemvaipassarnaminhafren-

te e qual vai ser a reação dela. A arte

é uma expressão de duas vias. É a in-

tenção do artista e a forma como o

espectadorrecebeessaarte.Enunca

bate igual.

Você vive em contato com seus amigos,

ou prefere uma vida mais isolada?

Vou lhe confessar a pura verdade,

sou uma pessoa mais reservada,

sou mais familiar. Tenho pouquíssi-

mos amigos. Meu amigo é meu as-

sistente, pessoas próximas.

Você vende bem?

Eu vendo bem. Faço-me convencer

da minha idéia. Se meu avô disse

quesim,estámentindo...Ouestá fa-

zendo tipo.

Para sustento de vida, pode-se, no Brasil,

viver apenas da arte?

Com certeza. Agora que tipo de vida

você quer levar? Você quer ter a vida

de um starving artist, ou quer ter

uma vida que, na verdade, é um jo-

go de interesses? Aí, são vários ca-

sos.Artistasdesegundoescalãoque

se casam com o marchand banquei-

ro, e o marchand banqueiro inflacio-

na a obra da própria mulher, bota

pra vender por US$ 300 mil. Aí não.

Eu não nasci ontem. Então que tipo

de vida você quer? Mas é economi-

camente viável. Eu já vivo do meu

trabalho autoral. E metade dele é

vendido no Brasil.

Se você não fotografasse, que outra arte

serviria para você se manifestar?

Seria jornalista. Qualquer forma de

expressão é arte, e eu não acredito

em jornalismo imparcial, é uma pia-

da. Ou seria um escritor. Teria um

posicionamentoparecidocomoque

tenhocomofotógrafo:verpraescre-

ver, sentir.

Em que parte do mundo você moraria

sem ser Salvador?

São duas formas de responder a es-

sa pergunta. Christian Cravo, o ho-

mem que está in loco fotografando,

estáondetiveralgodeinteresse,po-

de ser onde for. Estou pensando em

passar um ano na Índia; seria um

crescimento muito importante. Co-

mo cidadão de uma metrópole, mo-

raria somente em Nova York. Talvez

Paris, mas a Europa sempre foi mui-

toconservadoraparaaminhaforma

de pensar. Embora o americano seja

aquele aborto de pensamento,

aquela coisa retrógrada, preconcei-

tuosa, naquela massa eles têm jóias

inigualáveis, que são cidades como

Nova York, que é um berço de cul-

tura, de intelectualidade, de vida. É

o centro urbano mais completo. O

americano de Nova York é progres-

sista. Ele não quer saber de onde vo-

cê veio, quer saber quem é você ago-

ra e para onde você quer ir. Não está

preocupado com diploma. Na Euro-

pa, ou você é diplomado ou vai ter

emprego de segundo escalão « »M

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