cesare brandi e franco minissi

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CESARE BRANDI E FRANCO MINISSI: A expressão moderna do restauro arquitetônico e arqueológico na Sicília BRENDLE, BETÂNIA Universidade Federal de Sergipe Programa de Pós-Graduação em Arqueologia/Departamento de Arquitetura e Urbanismo UFS - Campus Laranjeiras, Praça Samuel de Oliveira, Laranjeiras, SE, 49.170-000 [email protected] RESUMO O restauro arquitetônico contemporâneo tem sido cada vez menos tratado como um atto di cultura conduzido pela fundamentação teórico-conceitual sólida precedente da ação crítica projetual. A intervenção na arquitetura do passado, salvo honrosas exceções, encontra-se impregnada por refazimentos, reconstruções em estilo e pela obliteração de marcas e vestígios do tempo na imprudente tentativa de recomposição da imagem original do bem patrimonial. Recorre-se cada vez menos às bases teóricas da restauração como fundamento da intervenção projetual a favor de proposições arbitrárias e, a leitura superficial da Teoria de Restauração de Cesare Brandi, o não entendimento de suas proposições e critérios de intervenção no bem patrimonial, o preconceito e rejeição sem o conhecimento e exame profundo de seus princípios e postulados tem gerado um discurso preconceituoso, vazio e acrítico que pretende desautorizar a sua aplicabilidade na arquitetura. No ICR, Cesare Brandi trabalha em colaboração com equipes interdisciplinares, organiza cursos para arquitetos, dos quais participam Carlo Scarpa, Franco Albini e Franco Minissi, e é indicado consultor desse último, responsável por intervenções arquitetônicas em sítios arqueológicos na Sicília onde são aplicados pela primeira vez os princípios formulados em sua Teoria através de um restauro de expressão moderna, distinguível, reversível e claramente reconhecível. Este trabalho revela aspectos do testamento do restauro arquitetônico de Cesare Brandi expresso em sua conceituação para o projeto de Franco Minissi, a proteção dos mosaicos da Villa del Casale em Piazza Armerina (1957-1963), apresentando ainda suas intervenções na Mura di Capo Soprano em Gela e no Teatro Eraclea Minoa em Agrigento, todas na Sicilia, fundamentadas em estudos in situ realizados pela autora articulando evidências concretas da aplicabilidade de sua Teoria para a arquitetura sem diferenciá-la de outras expressões artísticas. Lamentavelmente a obra de Franco Minissi, sustentada por uma sólida base conceitual brandiana, e, por muitos aspectos, original, inovadora e experimental, de grande interesse metodológico e arquitetônico tem sido sistematicamente destruída apesar de grandes protestos na Itália. Palavras-chave: Cesare Brandi; Franco Minissi; Restauro arquitetônico; Restauro crítico; Sicilia.

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Page 1: Cesare Brandi e Franco Minissi

CESARE BRANDI E FRANCO MINISSI: A expressão moderna do restauro arquitetônico e arqueológico na Sicília

BRENDLE, BETÂNIA

Universidade Federal de Sergipe

Programa de Pós-Graduação em Arqueologia/Departamento de Arquitetura e Urbanismo

UFS - Campus Laranjeiras, Praça Samuel de Oliveira, Laranjeiras, SE, 49.170-000

[email protected]

RESUMO O restauro arquitetônico contemporâneo tem sido cada vez menos tratado como um atto di cultura conduzido pela fundamentação teórico-conceitual sólida precedente da ação crítica projetual. A intervenção na arquitetura do passado, salvo honrosas exceções, encontra-se impregnada por refazimentos, reconstruções em estilo e pela obliteração de marcas e vestígios do tempo na imprudente tentativa de recomposição da imagem original do bem patrimonial. Recorre-se cada vez menos às bases teóricas da restauração como fundamento da intervenção projetual a favor de proposições arbitrárias e, a leitura superficial da Teoria de Restauração de Cesare Brandi, o não entendimento de suas proposições e critérios de intervenção no bem patrimonial, o preconceito e rejeição sem o conhecimento e exame profundo de seus princípios e postulados tem gerado um discurso preconceituoso, vazio e acrítico que pretende desautorizar a sua aplicabilidade na arquitetura. No ICR, Cesare Brandi trabalha em colaboração com equipes interdisciplinares, organiza cursos para arquitetos, dos quais participam Carlo Scarpa, Franco Albini e Franco Minissi, e é indicado consultor desse último, responsável por intervenções arquitetônicas em sítios arqueológicos na Sicília onde são aplicados pela primeira vez os princípios formulados em sua Teoria através de um restauro de expressão moderna, distinguível, reversível e claramente reconhecível. Este trabalho revela aspectos do testamento do restauro arquitetônico de Cesare Brandi expresso em sua conceituação para o projeto de Franco Minissi, a proteção dos mosaicos da Villa del Casale em Piazza Armerina (1957-1963), apresentando ainda suas intervenções na Mura di Capo Soprano em Gela e no Teatro Eraclea Minoa em Agrigento, todas na Sicilia, fundamentadas em estudos in situ realizados pela autora articulando evidências concretas da aplicabilidade de sua Teoria para a arquitetura sem diferenciá-la de outras expressões artísticas. Lamentavelmente a obra de Franco Minissi, sustentada por uma sólida base conceitual brandiana, e, por muitos aspectos, original, inovadora e experimental, de grande interesse metodológico e arquitetônico tem sido sistematicamente destruída apesar de grandes protestos na Itália.

Palavras-chave: Cesare Brandi; Franco Minissi; Restauro arquitetônico; Restauro crítico; Sicilia.

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4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

O RESTAURO NO ÂMBITO ARQUEÓLOGICO

Não existe um restauro arqueológico conceitualmente separado do restauro de monumentos

e a Teoria de Restauro de Cesare Brandi trata sem distinção, guardando as diferenças

técnicas da intervenção, o restauro da obra de arte, seja ela, pintura, escultura, arquitetura,

ruína ou o manufato arqueológico (Carbonara, 2012, p.144).

O restauro, arquitetônico ou arqueológico, como um procedimento crítico e atto di cultura

(usando a expressão de Renato Bonelli) objetiva transmitir ao futuro os testemunhos

materiais e imateriais da história e da arte garantindo a tutela de sua integridade,

autenticidade, legibilidade e fruição bem como a salvaguarda do ambiente e/ou da paisagem

onde o bem cultural está inserido e que muitas vezes é parte dela.

Pode-se afirmar que no âmbito arqueológico se mantém os mesmos princípios elaborados para o tradicional restauro artístico e arquitetônico, critica e cientificamente entendido como: distinguibilidade, a “mínima intervenção”, a sua reversibilidade potencial, o respeito da autenticidade e da matéria “antiga”, e a compatibilidade físico-química dos elementos adicionados (Carbonara, 2012, p.155) (Grifo e tradução da autora).

Quando Giulio Carlo Argan e Cesare Brandi criam em 1939 o Istituto Centrale del Restauro

(ICR), o restauro adquire um caráter científico e de competência técnica se afastando

definitivamente da ação empírica e de gosto pessoal.

O restauro da obra de arte é hoje considerada uma atividade rigorosamente científica [...] Coerentemente a este princípio, o restauro, que anteriormente era executado prevalentemente por artistas que frequentemente sobrepunham uma interpretação pessoal sobre a visão do artista original, é hoje executado por técnicos especializados, continuamente guiados e controlados por estudiosos (Argan, 1939, p.137) (Grifo e tradução da autora).

Fig. 1 - Franco Minissi em 1957 no canteiro de obras de proteção e musealização da Villa del Casale / Brandi e Argan: Verucchio, anos1960. Fonte: Cortesia do Prof. Franco Tomaselli /

http://www.giuliocarloargan.org/argan_multimedia.htm

Além da ênfase nos aspectos físico-técnicos da restauração, que segundo Vlad (2011, p.

25), a revestiu com um tipo de revolução ideológica e filosófica, Brandi a afasta do

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empirismo e do trabalho artesanal transformando-a num instrumento crítico entrelaçado com

a teoria, prática e atividades didáticas e interdisciplinares. Por exemplo, na década de 1950,

Cesare Brandi organiza cursos de especialização sobre a estreita relação entre restauro,

conservação e museografia - Corsi di Specializzazione in discipline archeologiche e storico

artistiche, no Istituto Nazionale di Archeologia e Storia dell’Arte di Roma, no qual são alunos

três futuros ícones da arquitetura moderna na Itália: Carlo Scarpa, Franco Albini e Franco

Minissi. No ICR é estabelecido um método de estudo e de análise que permitirá uma

simbiose entre a teoria e prática do restauro transformando-o de “atividade artística” em

“atividade científica” contra toda forma de empirismo e arbítrio (Alagna, 2008).

Mais que uma atividade historiográfica, o restauro, é uma operação física (conservação,

reintegração, remoção) sobre o bem cultural a ser tutelado. Essa ação modificadora,

cuidadosa e minimamente invasiva, demanda critérios e princípios que conduzam o restauro

tanto em suas especificidades físicas (problemas técnicos) como estéticas e históricas. No

ICR, Cesare Brandi formula uma abordagem conceitual para o tratamento do repertório

arqueológico que rejeita a descontextualização de esculturas, afrescos, mosaicos e

fragmentos de elementos arquitetônicos de seu espaço intrínseco propondo a sua

permanência no sítio original, ou seja, sua conservação e fruição in situ acompanhada de

um adequado projeto de musealização, ao invés de removê-los para outros locais de

exposição como era a prática até então (Tomaselli, 2008).

Em sua teoria Brandi aborda tanto a temática da espacialidade própria e autônoma da figuratividade da obra de arte e de sua explosão emotiva no espaço físico de nosso tempo como as condições que determinarão exigências não só relativas ao restauro da matéria que constitui a obra de arte, mas, prioritariamente, a garantia de continuidade da própria espacialidade (Tomaselli, 2008, p.126) (Grifo e tradução da autora).

A tutela do espaço que contém a obra de arte é uma contribuição essencial da Teoria del

Restauro de Cesare Brandi para a conservação do luogo da arquitetura e da paisagem

natural e/ou construída onde o monumento está inserido. Para o restauro de obras de

arquitetura, Brandi ressalta em sua Teoria que os mesmos princípios formulados para a

restauração da obra de arte serão observados, apenas diferenciados pelo fato de que, na

arquitetura, “a espacialidade própria do monumento é coexistente ao espaço ambiente em

que o monumento foi inserido” (Brandi, 2004, pp. 131-132).

O repertório arqueológico revelado nas pesquisas e escavações (por exemplo, os mosaicos

romanos da Villa del Casale em Piazza Armerina), são elementos indissociáveis de suas

estruturas tectônicas remanescentes e determinam sua espacialidade também em relação à

paisagem em que estão inseridos. Assim Franco Minissi vai interpretar a proposição

brandiana da “inalienabilidade do monumento como exterior do sítio histórico em que foi

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realizado” e os vestígios romanos da Villa del Casale como parte indissociável do espaço

natural onde foram inseridos. Os princípios teóricos que vão constituir a Teoria del Restauro

brandiana conduzirão a prática projetual de Franco Minissi, arquiteto responsável pelo

restauro e musealização de sítios arqueológicos na Sicilia, a partir de 1951, a convite de

Cesare Brandi. Assim é iniciada uma longa e produtiva relação profissional que demonstrará

na prática a formulação teórica brandiana como eixo condutor e gerador do projeto de

restauro, conservação in situ e musealização do bem arqueológico e arquitetônico

demonstrando incontestavelmente sua aplicabilidade na arquitetura.

BRANDI E MINISSI: A MATERIALIZAÇÃO DA TEORIA DEL RESTAURO

A descoberta no segundo pós-guerra das ruínas da Villa del Casale, em Piazza Armerina,

Sicilia (Patrimônio Cultural da Humanidade – UNESCO, 1997), revelou a maior, mais

completa e mais bem preservada série de mosaicos romanos encontrados em um só

monumento. O grande desafio é sem dúvida como preservá-los, pois da Villa, cuja fase mais

importante data do período entre 300-330 d.C., restava apenas algumas colunas do peristilo,

fragmentos das termas e muretas de altura máxima de 2m.

Em seu clássico texto, Archeologia siciliana (1957), Cesare Brandi critica a repristinação de

Pompéia, Ostia e Herculano como “um grave errore” e argumenta que a reconstrução da

Villa del Casale conduziria à falsificação das ruínas e à uma interpretação analógica

arbitrária.

[...] a construção dos quartos da vila com paredes e janelas imaginárias, ou pior ainda, com claraboias imaginárias, seria não um restauro, mas uma vergonha inqualificável (Brandi,1957, p.95) (Grifo e tradução da autora).

As escavações arqueológicas na Villa del Casale (as primeiras escavações foram realizadas

em 1881, mas a maior parte só foi revelada nas décadas de 1940-1950) revelaram um

grandiosos conjunto arquitetônico construído em um só pavimento com paredes de

argamassa de pedra com aproximadamente 3500m² de mosaicos figurativos e geométricos

de reconhecido valor histórico, estético, social, simbólico, econômico e educacional, que

permitiram investigações científicas sobre a evolução de técnicas usadas na preservação de

mosaicos a partir da década de 1940, desde práticas de restauração tradicional à moderna

abordagem de documentação, análises e tratamentos reversíveis (Stanley-Price, 1995,

p.180).

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Fig.2 – Mosaicos tardo romanos da Villa del Casale, Piazza Armerina. Fotos: Betânia Brendle, 2015.

Villa Romana del Casale, Piazza Armerina (1957-1963)

Um posicionamento crítico-metodológico e a atribuição de valores sobre o achado

arqueológico definirá o que constitui prioritariamente o bem a ser preservado: os

remanescentes do invólucro arquitetônico ou os fragmentos (mosaicos, pinturas, etc.)

revelados e resgatados pelas escavações. Este procedimento analítico e interdisciplinar

antecede a definição da postura projetual da intervenção arquitetônica. É assim que Cesare

Brandi, em 1957, ao ser indicado pelo Istituto Centrale del Restauro consultor do arquiteto

Franco Minissi para o projeto de proteção da Villa del Casale, em Piazza Armerina, Sicília,

inicia a conceituação do projeto:

[...] se procedeu ao programa da intervenção restaurativa baseado numa avaliação ponderada sobre o caráter preeminente do monumento (...) descartando a tentação proveniente da museomania dos especialistas de restauro de mosaicos de transladá-los para um museu adequado, como também, a dos restauradores-reconstrutores que propunham a reconstrução integral (...), a intervenção restaurativa se orientou em direção à criação de um museu in situ privilegiando o valor excepcional dos mosaicos (Brandi, citado por Minissi, 1980, pp. 82-83 apud Alagna, 2008, p. 42) (Grifo e tradução da autora).

Ao propor a permanência in situ dos mosaicos da Villa del Casale, Brandi argumenta que a

necessidade de realizar a cobertura de proteção, “não pode ser obstaculizada por um

respeito fetichista da ruína como ruína ou pela incongruente pretensão da repristinação [...]”

e defende a construção de passarelas de visitação e coberturas “em material opaco e

transparente que a técnica moderna pode realizar”. Tão descartável quanto à “arbitrária

repristinação”, é para Brandi, a proposta de uma grande cúpula em concreto armado que

impediria a percepção espacial e visualização da ruína e a “solarità” do lugar criando uma

“arquitetura independente” da preexistência que adulteraria a paisagem de seu entorno.

Em Archeologia Siciliana (1957), Cesare Brandi propõe diretrizes para uma intervenção

projetual crítica na Villa del Casale considerando a leitura e preservação do sítio e da

paisagem, sua estrutura remanescente, materiais e elementos decorativos, total visibilidade

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de sua estrutura e dos elementos restaurados, enfatizando a rejeição de qualquer tentativa

de reconstrução. No projeto de Franco Minissi a inserção de novos elementos construtivos

responderá aos requisitos técnicos de proteção do resíduo arqueológico contra sua

exposição às variações climáticas, à obtenção de condições físicas e técnicas que controle

um microclima apropriado para a sua conservação, às exigências projetuais de

acessibilidade, visitação, iluminação, fruição espacial e à consonância da nova arquitetura

com a paisagem natural ou edificada onde o bem está inserido.

Fig. 3 – Franco Minissi: projeto da cobertura e estrutura de proteção da Villa del Casale.

Fonte: http://www.architetti.san.beniculturali.it

Fig. 4 – Villa del Casale: cobertura de proteção projetada por Franco Minissi em construção.

Fonte: Dossiê ICCROM, Roma.

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Brandi (1957, p.96) estabelece as seguintes premissas para o projeto arquitetônico da

estrutura e cobertura de proteção dos mosaicos que será desenvolvido por Franco Minissi:

(1) que não sejam expostos nem à umidade causada pela infiltração e capilaridade, nem aos

raios diretos do sol e nem ao frio; (2), a preservação da percepção e fruição dos mosaicos e

a estrita proibição da circulação de pessoas sobre eles; e (3), atenção especial na

distribuição e dimensionamento de passarelas de visitação e apreciação dos mosaicos para

não superlotar o espaço museográfico obstruindo sua visão e fruição.

Fig. 5 – Villa del Casale & Franco Minissi: intervenção mínima, distinguibilidade, leveza e

transparência para não interferir na fruição espacial e estética. Foto: http://www.piazzaarmerina.com/piazza-armerina-calo-turisti-a-villa-romana-del-casale-8274/

Para a cobertura do sítio arqueológico Cesare Brandi descreve a fundamentação teórico-

conceitual do projeto de arquitetura que constituirá a espinha dorsal para a proteção dos

mosaicos da Villa del Casale ressaltando detalhes como a importância da realização de um

telhado “o menos monumental possível” deixando à vista tudo que “verdadeiramente resta”,

a utilização de materiais construtivos leves e transparentes similares ao vidro, a

configuração do telhado em duas águas bem como a configuração planimétrica do conjunto

monumental. Brandi argumenta ser esta proposição “tecnicamente possível” e a solução

ideal para a preservação dos mosaicos porque evita cerrá-los em um ambiente fechado.

Nós não duvidamos que esta solução integralmente moderna e integralmente modesta será exemplar. Sobretudo interessará a ausência [...] de complexas treliças metálicas que indubitavelmente estabeleceriam um confronto estridente com a nobreza monumental dos restos antigos, ainda que reduzido a meras ruínas (Brandi, 1957, p. 98) (Grifo e tradução da autora).

Brandi (1957, p.97) formula a conceituação do projeto da cobertura de proteção dos

mosaicos da Villa romana del Casale, em material leve e transparente desaconselhando a

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construção de uma grande estrutura em concreto armado, “sem dúvida atual”, mas que

forjaria uma nova espacialidade demasiada imperativa, escura e intolerável para a

preexistência e alerta que em um só golpe, se destruiria a paisagem do vale, se neutralizaria

as ruínas e se abrigaria os mosaicos em uma espacialidade muito diversa da cubatura

original.

Não por falso romantismo ou por sentimentalismo meloso, mas por respeito a este oásis confortante do espírito, vai ser preservado o vale agreste: e esse respeito é também restauro (Brandi, 1957) (Grifo e tradução da autora).

Fig.6 – Franco Minissi: detalhe do projeto da estrutura e cobertura de proteção da Villa del Casale.

Fonte: http://www.architetti.san.beniculturali.it

Fig.7 – Franco Minissi: estrutura e cobertura de proteção da Villa del Casale (trecho ainda não destruído). Fotos: Betânia Brendle, 2015.

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Mura timoleontina di Capo Soprano, Gela (1950-1954)

...a pouca distância de Piazza Armerina, tem um exemplo eloquente de como se pode conciliar o respeito do antigo com formas de proteção exclusivamente modernas. Trata-se do muro grego descoberto em Gela, a grande fortificação sobre o mar de Capo Soprano (Cesare Brandi, 1957) (Grifo e tradução da autora).

Fundada no século VI a.C., Gela foi uma das mais famosas colônias dóricas da Sicília. Após

sofrer várias perdas militares em 405 a.C., Gela foi fortificada com uma muralha construída

com tijolos de barro devido a falta de pedras na região e sobreviveu até a Idade Média

sendo posteriormente esquecida até sua redescoberta e escavações arqueológicas entre

1948 e 1954. O muro descoberto tinha 360m de comprimento, altura média de 3.40m e

espessura de 2.50-2.80mm. A parte inferior apresentava uma superfície de pedra calcárea e

a superior foi construída com tijolos de barro de 39x39x8cm. (Stanley-Price & Jokiletho,

2001). Franco Minissi foi indicado pelo Ministério da Educação da Itália para desenvolver

uma proposta de consolidação da Mura de Capo Soprano e após vários testes e

experimentos laboratoriais decidiu-se utilizar uma resina acrílica - fondo Coriarca – que

então, parecia oferecer razoável proteção à longo prazo sem efeitos colaterais à vista.

Para proteção das ruínas da Mura, Brandi descarta a hipótese da remoção parcial de uma

amostra parietal e posterior montagem em um museu e defende a proposta de Franco

Minissi, que consistiu na construção de um sistema de estacas de 10m de altura colocadas

em intervalos de 6m presas ao solo por cabos metálicos. Painéis de vidro temperado (1m x

1m, e espessura 10-11mm) de proteção, revestem a muralha dos dois lados e são fixados

por tirantes de liga de alumínio inoxidável, que atravessa toda a espessura da muralha, de

2,70 metros e são fixados por parafusos de roscas cilíndricas de alumínio de 20cm de

diâmetro colocados em intervalos de 50cm. A intervenção de proteção do monumento

arqueológico realizado por Franco Minissi na Mura di Capo Soprano, Gela, representa a

concretização do pensamento de Cesare Brandi na matéria do restauro. A utilização de

sistemas de consolidação e proteção experimentais bem como materiais de moderna

produção foi pioneiramente executada de acordo com os princípios de distinguibilidade e

reversibilidade da intervenção (Alagna, 2008, p.119).

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Fig. 8 – Franco Minissi: projeto e obra de proteção da Mura di Capo Soprano.

Fonte: http://www.architetti.san.beniculturali.it / Foto de Franco Minissi, 1954, Dossiê ICCROM,

Esse método impediu que a superfície original do muro se deteriorasse com a erosão,

entretanto, sem manutenção adequada, no início dos anos 1980 a corrosão marinha já tinha

danificado os cabos metálicos causando o desmoronamento parcial do abrigo projetado por

Minissi (Vivio, 2010). A total ausência de manutenção teve ainda outras graves

consequências, que de acordo com Vivio (2011, p.233):

[...] tirou a transparência cristalina do vidro que permitia ler a trama do muro de argila, mas a perturbação microclimática no interior do invólucro ocorreu depois da eliminação da tensoestrutura de cobertura que Minissi tinha colocado sobre a muralha, para evitar a penetração direta da água da chuva. Na “re-restauração” feita em anos recentes, a cobertura foi refeita e o revestimento de vidro foi inteiramente removido, substituído por emendas e reforços de tijolos de argila novos. Resulta disso um efeito de grande fragmentação, em que não é possível compreender as razões da variedade de composição das massas, nem distinguir com facilidade as sobrelevações dos séculos IV e II séc. a. C. das integrações modernas.

Teatro grego di Eraclea Minoa, Agrigento (1960-1963)

Eraclea Minoa foi uma das mais antigas colônias Myceaean (século VI a.C.) As primeiras

escavações arqueológicas datam de 1907, e em 1951, foi revelado o pequeno teatro do

século IVa.C. construído em pedra calcárea sobre uma encosta natural com 9-10 fileiras de

assentos e realizada sua primeira proteção que consistiu da aplicação de resina epoxy para

evitar a desagregação e fragmentação de suas superfícies. Franco Minissi projeta em 1960

um abrigo para sua proteção reproduzindo a forma das antigas filas de assentos da cavea

em material plástico transparente. Seu projeto tinha dois objetivos: (1) conservar as

estruturas originais que tinham começado a mostrar sinais de deterioração após terem sido

expostas à variações climáticas por um longo período de tempo; e (2), proporcionar acesso

ao sítio arqueológico e condições apropriadas para sua visitação. A proposta de Minissi

consistiu da colocação de 900 elementos (peças) plásticas de Plexiglas sobre os assentos

de pedra que foram perfurados para receber perfis de ferro em forma de “T” fixados com

cimento (Stanley-Price, Jokiletho, 2001).

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Fig. 9 – Franco Minissi: obra de proteção do Teatro grego di Eraclea Minoa, Agrigento. Fonte: http://www.cilibertoribera.it / Carbonara, 2013.

CESARE BRANDI E FRANCO MINISSI: QUANDO O RESTAURO ERA MODERNO

[...] o edifício não é um tesouro encontrado debaixo da terra. Ao contrário, o edifício, mesmo arruinado, continuou a viver. O tempo passou sobre ele, os homens passaram sobre ele. Pode ter-se arruinado, pode ser que o tenham alterado, mas é sempre história passada sobre o edifício. Este é o elemento fundamental do restauro moderno: ter consciência da passagem da obra de arte (e mesmo se não for uma obra de arte, simplesmente um obra histórica) através do tempo (Brandi, 1982, p. 312) (Grifo e tradução da autora).

A Carta de Atenas (Carta de Restauro, 1931) propõe em seu Artigo V, a utilização de

materiais e recursos da técnica moderna, mas ainda de maneira dissimulada para não

“corromper o aspecto e caráter do edifício”. O projeto para a Mura de Capo Soprano, Gela, a

primeira colaboração direta entre Cesare Brandi e Franco Minissi, rompe esse disfarce no

emprego de materiais novos e consagra a legitimidade da aproximação do novo ao antigo,

contribuindo no debate sobre a nova concessão do restauro crítico que mais tarde em 1964

seria aclamado por unanimidade na Carta de Veneza (Tomaselli, 2008, p.128).

Franco Minissi (1919-1996) é considerado o intérprete do restauro crítico, e sua obra, a

aplicação mais autêntica dos princípios do “restauro preventivo” formulados por Cesare

Brandi na década de 1950 e que mais tarde integrará a sua Teoria del Restauro. Sua obra é

a tradução na prática operativa de atitudes teóricas complexas como a felice convivência do

antigo e do novo com “máxima simplicidade e elegância” que vai antecipar as

recomendações da Carta de Veneza, do qual é signatário. Reconhecido mundialmente

como um experimentador dos novos materiais de seu tempo através de suas inúmeras

coberturas e estruturas de proteção de sítios arqueológicos, Minissi vai utilizar a luz e a

transparência como valores e instrumentos do restauro. (Tomaselli, 2007; Vivio, 2010).

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Franco Minissi foi um entusiasta experimentador dos novos materiais e da tecnologia

moderna, e suas intervenções com sólida base teórica brandiana, possuem a capacidade de

sugerir ao observador a reconstituição mental do espaço e da arquitetura com hipóteses de

integração etéreas e transparentes, ao mesmo tempo reversíveis, não invasivas, e com

função meramente protetora (Tomaselli, 2007).

Como Argan, Minissi acreditava que o museu não devia ser um depósito inerte de obras de arte, mas um instrumento vivo de estudo, de pesquisa e de crescimento civil e cultural, expansível e dinâmico na sua adaptação à exigência coletiva da consciência do próprio patrimônio histórico e cultural. [...] o museu deveria ser implantado no entorno da preexistência (museo “naturale”) proporcionando a ”conservação in situ”: evitava-se assim a descontextualização e a consequente impossibilidade de se reconstruir a história do lugar e compreender o significado da obra de arte móvel [...] (Alagna, 2007, p.9) (Grifo e tradução da autora).

A injustificável e irracional destruição da obra de Franco Minissi, sustentada por uma sólida

base conceitual brandiana, e, por muitos aspectos, original, inovadora e experimental, de

grande interesse metodológico e arquitetônico gerou protesto e indignação no mundo inteiro

e na Itália, em 2007, a exposição Contro l’oblio del restauro crítico. Rapporto sull’opera di

Franco Minissi nell’ambito del restauro archeologico in Sicilia ...per salvare la Villa del

Casale, organizada pelo Prof. Franco Tomaselli, uma manifestação pelo 100º Aniversário do

nascimento de Cesare Brandi, uma tentativa inútil de salvar a Villa del Casale, “Manifesto do

Restauro Crítico” (usando a expressão de Alessandra Alana, 2007).

Fig. 10 – Teatro grego di Eraclea Minoa, Agrigento, após a destruição da obra de Minissi com a cobertura metálica (2000) que dispensa comentários adicionais. Foto: Betânia Brendle, 2015.

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Fig. 11 – A destruição da obra “manifesto do restauro crítico” - Villa del Casale - e posterior repristinação que eliminou a leveza e transparência impedindo a reconstituição mental do espaço e

fragmentando sua percepção. Fotos: Betânia Brendle, 2015.

A restauração e preservação da obra de Franco Minissi para a Villa del Casale, Teatro grego

di Eraclea Minoa e a Mura di Capo Soprano teria sido possível com o desenvolvimento da

física ambiental, da tecnologia e dos materiais construtivos. Segundo Carbonara (2012,

p.36),

O que é intolerável no caso siciliano é a tendência à condenação da obra sem uma avaliação do benefício de sua preservação. Uma surda oposição à inquietante modernidade precursora da solução de Franco Minissi, em favor de uma tranquilizante [sic] prática de repristinização (a exemplo de Gela e de Eraclea Minoa), prática redutiva da complexidade do problema em jogo [...] (Grifo e tradução da autora)

Fig.12 – Destruição da obra de Franco Minissi: Mura di Capo Soprano, Gela.

Fotos: Betânia Brendle, 2015.

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4º Seminário Ibero-Americano Arquitetura e Documentação Belo Horizonte, de 25 a 27 de novembro

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“Grazie Minissi, per la lezione ! Peccato che per studiarne l’opera non possiamo più avvalerci dell’osservacione di molte delle sue realizzazioni perché la maggior parte di esse sono ormai

distrutte.

Alcune tra le più significative opere di Minissi sono state rimosse, sono rimaste vitime dell’ignoranza, della stupidità, dell’insipienza”1.

Prof. Franco Tomaselli, Palermo 15/05/2007.

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1 "Obrigado Minissi, pela lição! Pena que para estudar sua obra, não possamos mais nos valermos das

observações de muitas de suas realizações porque a maior parte delas já foi destruída.

Algumas das obras mais significativas de Minissi foram removidas, vítimas da ignorância, da estupidez, da loucura” (Agradeço ao amigo e colega Prof. Nivaldo Andrade (UFBA) pela tradução desse texto).

Page 15: Cesare Brandi e Franco Minissi

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