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CENTRO DE ESTUDOS GERAIS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS MESTRADO EM GEOCIÊNCIAS - GEOQUÍMICA AMBIENTAL
RODRIGO DE LIMA SOBRINHO
CARACTERÍSTICAS GEOQUÍMICAS RELACIONADAS À DISTRIBUIÇÃO DA BACTÉRIA MAGNETOTÁTICA "Candidatus Magnetoglobus multicellularis"
NOS SEDIMENTOS DA LAGOA HIPERSALINA DE ARARUAMA, RJ
NITERÓI 2008
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RODRIGO DE LIMA SOBRINHO
CARACTERÍSTICAS GEOQUÍMICAS RELACIONADAS À DISTRIBUIÇÃO DA BACTÉRIA MAGNETOTÁTICA "Candidatus Magnetoglobus multicellularis"
NOS SEDIMENTOS DA LAGOA HIPERSALINA DE ARARUAMA, RJ
ORIENTADOR: PROF. DR. MARCELO CORRÊA BERNARDES CO-ORIENTADOR: PROF. DR. ULYSSES GARCIA CASADO LINS
NITERÓI 2008
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Geociências da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção de Grau de Mestre – Área de Concentração: Geoquímica Ambiental
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S237 Sobrinho, Rodrigo Lima
Características geoquímicas relacionadas à distribuição da
bactéria magnetotática "Candidatus Magnetoglobus multicellularis"
nos sedimentos da lagoa hipersalina de Araruama, RJ / Rodrigo de
Lima Sobrinho. – Niterói: [s. n.], 2008.
Dissertação (Mestrado em Geociências – Geoquímica
Ambiental) Universidade Federal Fluminense, 2008.
1. Bactérias magnetotáticas 2. Biogeoquímica 3. Diagênese
4. Marcadores isotópicos. I. Título.
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RODRIGO DE LIMA SOBRINHO
CARACTERÍSTICAS GEOQUÍMICAS RELACIONADAS À DISTRIBUIÇÃO DA BACTÉRIA MAGNETOTÁTICA "Candidatus Magnetoglobus multicellularis"
NOS SEDIMENTOS DA LAGOA HIPERSALINA DE ARARUAMA, RJ
BANCA EXAMINADORA
NITERÓI 2008
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Geociências da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção de Grau de Mestre – Área de Concentração: Geoquímica Ambiental.
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AGRADECIMENTOS
Ao Dr. Prof. Marcelo Corrêa Bernardes pela credibilidade, apoio e orientação
durante a realização deste trabalho.
Ao Dr. Prof. Ulysses Garcia Casado Lins, co-orientador, pelo incentivo, apoio
técnico e pelas idéias fundamentais à elaboração e realização deste projeto.
Ao professor Ricardo Santelli pela colaboração nas análises obtidas por
extração sequencial e à equipe do CENA pela colaboração nas anélises de isótopos
estáveis e composição elementar.
À FAPERJ pelo suporte através do projeto proc. n. E-26/170643/04.
Aos professores do curso de pós-graduação em geoquímica pelas aulas e
pelos conselhos, que me permitiram evitar muitos erros.
Aos alunos do Laboratório de microscopia e ultra-estrutura de procariotos na
UFRJ, em especial à Thaís e Juliana, pela importante colaboração na elaboração e
realização das metodologias.
Aos colegas do curso de mestrado em geoquímica, pela companhia no
cumprimento dos trabalhos exigidos pelo curso, pela amizade e pelas boas risadas.
Aos outros alunos orientados pelo Prof. Marcelo Bernardes, pelas dicas e
parcerias nas práticas laboratoriais e pela troca de informações necessárias a área
de pesquisa.
Aos amigos, pela companhia de sempre.
A meus pais, pelo apoio de sempre.
A Isabela Perry, a quem dedico esse agradecimento, por sua dedicação e
força inabalável na realização de nossos sonhos, por todos os dias e por seu sorriso.
Agradeço finalmente a Deus pelo mistério, que me faz caminhar.
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“O céu é constante, a terra é duradoura
O que permite a constância e a
duração do céu e da terra
E´ o não criar para si
Por isso são constantes e duradouros”
Lao Tse
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RESUMO
Candidatus Magnetoglobus Multicelularis são organizações multicelulares,
classificada como pertencentes ao grupo de sulfato redutoras e que possuem em
seu citoplasma cristais de greigita, que dá a eles a característica magnetotática. São
encontrados em ambientes aquáticos na região de transição oxica-anóxica onde há
uma estratificação química vertical. Entretanto, pouco conhecimento se tem sobre as
características ambientais que favorecem seu crescimento e sua sobrevivência, o
que impede seu cultivo em laboratório e a compreensão sobre sua influência nos
ciclos biogeoquímicos dos ambientes onde são encontrados. O presente trabalho
tem, neste sentido, o objetivo de caracterizar as condições geoquímicas que
exercem influência sobre a população de Candidatus Magnetoglobus Multicelularis
através de uma avaliação das variáveis mais relevantes para seu metabolismo.
Foram realizadas, para isso, duas coletas nos meses de março e junho de 2007 em
três pontos da Lagoa de Araruama, quantificando a distribuição vertical da
população de Ca. M. multicellularis em extratos de sedimento e as variáveis
abióticas nos mesmos extratos. Os resultados mostraram que o ferro exerce
influência sobre o crescimento populacional na maioria dos pontos. Entretanto, no
ponto da Praia da baleia, onde foram encontrados 89% de todos os indivíduos
quantificados, o ferro encontra-se em concentrações maiores e outros fatores
exercem maior influência sobre o crescimento populacional, como a disponibilidade
de enxofre e nitrogênio. O trabalho conclui que Ca. M. multicellularis são
encontrados em maior abundância em sedimentos que favorecem a formação de
sulfetos de ferro e a população concentra-se em extratos onde as condições
ambientais favorecem a formação e a manutenção dos cristais encontrados no
citoplasma ou onde há maior disponibilidade de nutrientes, de acordo com a
necessidade metabólica das células.
Palavras-chave: Bactéria magnetotática; Geoquímica; Greigita; Ferro; Nitrogênio
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ABSTRACT
Candidatus Magnetoglobus Multicelularis consist of multicellular aggregate
that are classified as sulfate reductors, with greigite crystals in their cytoplasm, which
give them magnetotactic characteristics. They are found in aquatic environments, on
the oxi-anoxi transition zone, where a vertical chemical stratification. However, little is
known about the environmental characteristics that favor their survival and growth.
This fact prevents their controlled breed and culture in a laboratorial environment and
also impairs the understanding of their influence on biogeochemical cycles of the
environments where they are found. Therefore, the objective of the present work is to
characterize the environmental conditions that favor the Ca. M. multicellularis survival
through an in situ evaluation of the variables that are more important to the cellular
metabolism. In order to obtain this data, two sample collections were conducted in
three spots of the Araruama lagoon, in the months march and in june of 2007
quantifying the vertical distribution of the Ca. M. multicellularis population in sediment
extracts and their abiotic variables. The results showed that the quantified iron acts
as a limiting factor in most of the collection spots. However, in Praia da Baleia, where
89% of the total quantified individuals were found, a higher concentration of iron was
also found and it does not act as a limiting factor. At the latter collection spot, other
factors such as sulfur and nitrogen availability regulate the population growth. As a
conclusion, this work demonstrates that Ca. M. multicellularis are found in more
abundance in sediments that enable iron sulfide formations. Moreover, they use their
magnetotactic characteristics to adapt themselves to environmental variations that
occur frequently in the referred sediment region and they try to find a region where
the environmental conditions may allow the formation and maintenance of the
crystals found in the cytoplasm or where there are more nutrients available.
Key words: Magnetotactic Bacteria; Geochemistry; Greigite; Iron uptake; Nutrient budge
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - a)Microscopia eletrônica de transmissão mostrando a organizaçção radial das células e o meio intracelelular. Os cristais de greigita estão localizados abaixo da membrana plasmática como indicado pelo círculo. b) Microscopia eletrônica de varredura mostrando a morfologia de Ca. M. multicellularis....................................................................................
[
Figura 2 - Análise de raio-X (EDXX) de um magnetossomo de Ca. M. multicellularis mostrando picos de ferro e enxofre (Keim, Abreu et al. 2004)................................................................................................
Figura 3 - Mapa da lagoa de Araruama mostrando a distribuição de Ca. M. multicellularis coletados na superfície do sedimento. Os números indicam o número de indivíduos/ml. Os números em parênteses referem-se ao valor da salinidade (%o)............................................
Figura 4 - Microscopia eletrônica de varredura mostrando os magnetossomos. As setas indicam a membrana que reveste o cristal de greigita..............................................................................................
Figura 5 - Processo de formação de pirita intermediado pela atividade bacteriana havendo a formação de greigita como sulfeto de ferro metaestável......................................................................................
Figura 6 - Fotografia da Lagoa de Araruama indicando os pontos onde foram coletadas as amostras (fonte: google earth)...................................
Figura 7- Fotografias do ponto da Praia Seca...................................................
Figura 8 - Fotografias do ponto Iguaba Grande..................................................
Figura 9 - Fotografias do ponto da Praia da Baleia............................................
Figura 10 - Metodologia utilizada para obtenção de amostras de extratos do sedimento da lagoa de Araruama. As amostras foram utilizadas para quantificação da população de Ca. M. multicellularis e variáveis químicas............................................................................................
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Figura 11 - a) Extratos de sedimento obtidos à partir de uma seringa, estes foram guardados em tubos de 1,5ml e congelados para as análises químicas posteriores. b) Sedimento colocado na lâmina com água filtrada da lagoa de Araruama. O ímã foi colocado com a polaridade sul voltada para o sedimento de modo a atrair os Ca. M. multicellularis para a borda gota, sendo feita a contagem direta ao microscópio óptico............................................................................ 39
Figura 12 - Extração seqüencial utilizada para obtenção das espécies de ferro e enxofre ............................................................................................ 41
Figura 13 - Sedimentos coletados na Praia Seca (a), Iguaba Grande (b) e Praia da Baleia (c)........................................................................................... 47
Figura 14 - Análise de cluster agrupando os pontos de coleta e os meses em que a coleta ocorreu (M-março; J-junho). .................................................. 47
Figura 15 - Médias do número de Ca. M. multicellularis nos pontos de coleta nos meses de março e junho de 2007..................................................... 48
Figura 16 - Gráficos das médias da população em cada extrato de sedimento quantificado nos meses de março e junho de 2007................................................................................................. 49
Figura 17 - Distribuição vertical da população no sedimento da lagoa de Araruama em três pontos de coleta. As coletas foram realizadas nos meses de março e junho de 2007..................................................................... 49
Figura 18 - Concentração média de ferro e enxofre medidos em cinco extratos de sedimento nos meses de março e junho de 2007.................................................................................................. 50
Figura 19 - Concentração média de carbono e nitrogênio totais nos sedimentos coletados nos meses de março e junho de 2007................................................................................................. 51
Figura 20 - Médias dos isótopos estáveis de carbono e nitrogênio nos três pontos de coleta nos meses de março e junho de 2007.............................. 52
Figura 21 - Correlação entre nitrogênio e ferro no sedimento da Praia da Baleia. a) Considera todos os extratos quantificados. b) Somente os extratos
11
quantificados na Praia da Baleia nos meses de março e junho (r2= 0,82; n=10) ...................................................................................... 54
Figura 22 - Correlação entre carbono e nitrogênio entre todos os extratos quantificados......................................................................................... 55
Figura 23 - Correlação entre as média de enxofre e Eh em cada ponto............. 57
Figura 24 - Gráficos: Distribuição vertical da concentração de ferro e enxofre nos sedimentos coletados em três pontos da lagoa de Araruama nos meses de março e junho de 2007.................................................. 58
Figura 25- a) Correlação entre a população de Canditdatus Magnetoglobus multicullularis quantificados e a concentração média de ferro em cada ponto nas duas coletas, com exceção do ponto referente à coleta realizada na Praia da baleia em junho. .... ....................................... 60
Figura 26 - Distribuição da população de Canditdatus Magnetoglobus Multicullularis em função dos parâmetros físico-químicos no sedimento da Lagoa de Araruama, RJ. Foram utilizados valores obtidos nas medidas realizadas em todas as amostras dos extratos de sedimento........................................................................................ 61
Figura 27 - Distribuição percentual da população de Canditdatus Magnetoglobus multicullularis ao longo do perfil vertical do sedimento nos três pontos de coleta nos meses de março e junho de 2007................................................................................................ 62
Figura 28 - Gráfico de pH e Eh mostrando as espécies de ferro formadas em ambiente aquoso à 25oC. Os campos em escala de cinza representam a estabilidade da pirita (FeS2) com concentrações de Fe e S totais variando entre 10-7m e 10-1m (Butler and Rickard 2000). As linhas tracejadas mostram os limites de valores medidos nos sedimentos coletados. A área em branco representa a região onde são encontrados 91,3% da população de Canditdatus Magnetoglobus Multicullularis quantificados. Os pontos em branco e preto indicam os valores medidos nos extratos onde ocorrem as concentrações populacionais em sua distribuição vertical no sedimento................... 63
12
Figura 29 - Análise de cluster realizada com as variáveis medidas na Praia da baleia nos meses de março e junho de 2007.......................................
Figura 30- a) Correlação entre a população de Canditdatus Magnetoglobus Multicullularis e os valores de 15N; b) Correlação entre Nitrogênio total e 15N. As medidas foram realizadas nos extratos de sedimento coletados na Praia da baleia no mês de junho de 2007...................................................................................................
Figura 31 - Distribuição da população de Canditdatus Magnetoglobus Multicullularis em função dos valores de 15N e Nitrogênio total medidos nos extratos de sedimento coletados na Praia da baleia no mês de junho de 2007..............................................................................................
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Dados obtidos a partir de amostras coletadas em três pontos da lagoa de Araruama no mês de março de 2007........................................................
Tabela 2: Dados obtidos a partir de amostras coletadas em três pontos da lagoa de Araruama no mês de junho de 2007..........................................................
Tabela 3: Planilha apresentando o resultado referente à correlação de spearman (p < 0,01 ; n=30).....................................................................................
Tabela 4: Razão entre as médias de ferro e enxofre em cada ponto........................
Tabela 5: Dados de campo medidos na Praia Seca.................................................
Tabela 6: Dados de campo medidos em Iguaba Grande..........................................
Tabela 7: Dados de campo medidos na Praia da Baleia..........................................
Tabela 8: Valores da concentração (mg/kg) de ferro e enxofre nos três pontos de coleta nos meses de março e junho. As facões foram obtidas por extração seqüencial (ver materiais e métodos).......................................................
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..................................................................................16
1.1 OBJETIVO GERAL............................................................................18
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS.............................................................18
1.3 HIPÓTESE.........................................................................................19
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA.........................................................19
2.1 Candidatus Magnetoglobus multicellularis.........................................19
2.1.2 Geobiologia das Bactérias magnetotáticas.. ...............................23
2.1.3 Magnetotaxia...................................................................................24
2.1.4 Magneto-aerotaxia..........................................................................24
2.1.5 Redoxtaxia................................................... ...................................25
2.2 DIAGÊNESE.....................................................................................27
2.2.1 Ferro.................................................................................................28
2.2.2 Enxofre.............................................................................................28
2.2.3 Sulfetos de Ferro.............................................................................29
2.2.4 Composição elementar (C,N) e isotópica (δδδδ13C, δδδδ15N)...................31
3. ÁREA DE ESTUDO...........................................................................33
3.1 PONTOS E COLETA.........................................................................34
4. MATERIAIS E MÉTODOS.................................................................37
4.1 COLETA.............................................................................................37
4.2 AMOSTRA DE SEDIMENTO............................................................38
4.3 ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS.........................................................39
4.4 CONTAGEM POPULACIONAL.........................................................40
4.5 EXTRAÇÃO SEQÜENCIAL...............................................................41
4.6 ANÁLISE DE CARBONO, NITROGÊNIO E ISÓTOPOS...................43
4.7 TABELAS E GRÁFICOS...................................................................43
5. RESULTADOS.................................................................................45
5.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO SEDIMENTO.............................45
5.2 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA POPULAÇÃO.................................49
5.3 DISTRIBUIÇÃO VERTICAL DA POPULAÇÃO.................................50
5.4 FERRO E ENXOFRE........................................................................52
5.5 PORCENTAGEM DE CARBONO E NITROGÊNIO TOTAIS............53
5.6 ISOTOPOS δ13C E δ15N.....................................................................54
15
6. DISCUSSÃO...............................................................................................55
6.1 VARIAÇÕES ESPACIAIS E SAZONAIS NA FONTE DE
NUTRIENTES..........................................................................................................55
6.2 DIAGÊNESE DE FERRO E ENXOFRE......................................................59
6.3 OCORRÊNCIA DE Canditdatus Magnetoglobus Multicellularis..................60
6.3.1 Teores de ferro e enxofre e a densidade populacional........................60
6.3.2 Zoneamento ecológico determinado por parâmetros físico-
químicos.................................................................................................................62
6.3.3 Magnetotaxia versus limitação de nutrientes..........................................65
7. CONCLUSÃO...............................................................................................69
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................70
9. APÊNDICE...................................................................................................75
16
1. INTRODUÇÃO
Bactérias magnetotáticas foram primeiramente descritas por Bellini (1958), o
qual descreveu o movimento de bactérias, coletadas em sedimentos de ambientes
marinhos ou de água doce, que apresentam sensibilidade a um campo magnético. O
referido autor sugeriu que as "bactérias magnetosensíveis" migrariam através do
campo geomagnético e observou que o sentido de seu deslocamento se inverte com
a mudança na polaridade de um campo magnético induzido. O mesmo autor
observa, também, a importância de sais minerais, especialmente o ferro orgânico
solúvel, na sensibilidade das bactérias ao campo magnético e propõem a existência
de uma estrutura "biomagnética" no interior das células, a qual daria a estas a
capacidade de responder ao campo.
O termo magnetotaxia foi proposto inicialmente por Blakemore (1975) e refere-
se à capacidade das bactérias em orientar seu movimento em função de um campo
magnético. O autor observou pequenas estruturas de alta densidade eletrônica ricas
em ferro alinhadas em cadeia ao longo do citoplasma, propondo que estas
estruturas poderiam estar relacionas à característica magnetotática apresentada
pelas bactérias. Essas estruturas foram, posteriormente, denominadas
magnetossomos. Estes são compostos por cristais de magnetita (Fe3O4) e/ou
greigita (Fe3S4) envolvidos por uma membrana biológica composta por fosfolipídeos
e proteínas específicas.
A magnetotaxia, em ambientes naturais, parece orientar a célula ao campo
geomagnético. Isto permite, em teoria, que a célula encontre uma concentração
ótima, de algum elemento ou nutriente, em regiões onde há uma estratificação
química vertical, predominantemente, na zona de transição oxi-anóxica de
ambientes marinhos, de água doce ou lagoas hipersalinas (Frankel, Williams et al.
2007). Esta zona pode estar localizada na coluna d´água ou no sedimento destes
ambientes.
Os microrganismos que possuem cristais de magnetita, vivem
preferencialmente, na região superior da zona de transição óxica-anóxica, enquanto
aqueles que, possuem cristais de greigita, vivem, preferencialmente, na região
inferior desta zona ou na região anóxica adjacente (Simmons, Sievert et al. 2004). A
presença desses cristais sugere a participação destes microrganismos no ciclo do
17
ferro e enxofre, o que pode influenciar as características do sedimento onde são
encontrados, especialmente sobre a formação de sulfetos de ferro.
Bactérias magnetotáticas são encontradas em diferentes partes do mundo, mas
somente algumas espécies produtoras de Magnetita como Magnetospirillum
magnetotacticum foram, até o momento, cultivadas em laboratório. Devido ao pouco
conhecimento que se tem sobre os fatores geoquímicos dos ambientes onde são
encontradas, ainda não há bactérias produtoras de greigita sendo cultivadas
(Bazylinski e Frankel 2003; Frankel, Williams et alii. 2007). Isso dificulta os estudos
referentes ao seu metabolismo e à sua ecologia.
A filogenia proposta para as bactérias magnetotáticas está baseada na análise
comparativa do sequenciamento do gene rRNA 16S. Os resultados obtidos mostram
a magnetotaxia como uma característica polifilética, sendo encontradas nos grupos
Alphaproteobacteria, Deltaproteobacteria, Gammaproteobacteria e no filo Nitrospira.
Os morfotipos são classificados como spirilos, cocos, víbrios, ovoid, bacilos e
bactérias multicelulares (Amann, Peplies et al. 2007). Essa última, objeto do
presente estudo, é classificada como pertencente ao grupo das sulfato redutoras
(deltaproteobactérias) e recebe o nome de Candidatus Magnetoglobus multicellularis
(Abreu, Martins et al. 2007).
A compreensão dos processos biogeoquímicos em sistemas lagunares é
relevante para a comunidade científica pelos avanços que promove nos estudos
sobre esses ecossistemas. É conseqüentemente relevante para a sociedade, já que
uma parte considerável desses ecossistemas sofrem influência de atividades
antrópicas que têm neles, atrativos econômicos variados.
Estudar as atividades biogeoquímicas realizadas pela microbiota nesses
ambientes, assume papel importante para solucionar questões sobre os processos
geoquímicos do ecossistema, ou sobre o nicho ocupado por dada espécie de
microrganismo de vida livre naquele ambiente. Ambas as abordagens estão em igual
dificuldade para serem respondidas, seja pela metodologia ou pela complexidade do
assunto.
Candidatus Magnetoglobus multicellularis (Ca. M. multicellularis) foi escolhido
como espécie de estudo por sua característica magnetotática que favorece seu
isolamento e sua extração, em amostras naturais, através da utilização de um
campo magnético e por sua morfologia, que permite identificação e contagem
populacional ao microscópio óptico. Os cristais de greigita, encontrados no interior
18
das células, sugerem a participação de Fe e S em seu metabolismo, o que
direcionou a pesquisa teórica e a escolha dos elementos alvos nas medidas
ambientais.
Segundo (Flies, Jonkers et alii. 2005), bactérias magnetotáticas podem
constituir uma parcela significativa da comunidade microbiana em certas regiões de
ambientes aquáticos. Entretanto, as interações biogeoquímicas, que controlam sua
ocorrência nos extratos sedimentares, têm permanecido pouco compreendidas.
A caracterização geoquímica do ambiente onde é encontrada a referida
população, resulta em informações relevantes sobre o nicho ocupado por ela e
sobre as necessidades metabólicas das células que a compoe.
1.1 OBJETIVO GERAL
O presente trabalho tem por objetivo caracterizar as condições geoquímicas
onde são encontrados Ca. M. multicellularis e evidenciar, dentre as variáveis
medidas, as que mais exercem influência sobre a população.
1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Quantificar a população de Ca. M. multicellularis em extratos de sedimentos
coletados em três pontos da lagoa de Araruama nos períodos de chuva e estiagem
de modo a obter sua distribuição vertical no sedimento e sua distribuição espacial e
sazonal na lagoa.
- Medir, nos mesmos extratos onde foi quantificada a população, as variáveis
abióticas que possuem maior relevância para o metabolismo da espécie estudada.
Estando entre estas, ferro, enxofre, carbono, nitrogênio e variáveis físico-químicas
como Eh e pH.
- Medir a concentração de isótopos estáveis de carbono (δ13C) e nitrogênio
(δ15N) para caracterização do material orgânico depositado nos sedimentos
coletados e identificação de suas fontes.
- Correlacionar todas as variáveis abióticas medidas, com a população. Aquelas
que mantiverem maior correlação com esta serão comparadas em suas distribuições
verticais de modo a avaliar sua interação.
19
1.3 HIPÓTESE
A população de Ca. M. multicellularis localiza-se nos primeiros centímetros de
profundidade de sedimento por ser, no ambiente estudado, a região de tranzição
óxica-anóxica e, por ser uma região onde os materiais orgânicos e terrígenos são
depositados, encontra-se a maior concentração de nutrientes necessários ao
metabolismo bacteriano.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 ORGANISMOS MULTICELULARES MAGNETOTÁTICOS (Candidatus
Magnetoglobus multicellularis)
São organizações ou agregados celulares compostos por 20 a 30 células,
apresentando formato esférico com 5 a 10µm de diâmetro (Farina, 1983). As células
estão dispostas radialmente em torno de um compartimento interno (figura 1). Esta
distribuição permite que todas as células tenham contato com o meio externo e com
este compartimento interno. Com isso, todas as células que compõem o agregado,
têm acesso aos nutrientes do meio extracelular e podem utilizar o compartimento
interno, como meio para troca de sinalizadores moleculares, mantendo uma eficiente
comunicação entre elas (Keim, Martins et alii. 2007).
A eficiente coordenação na movimentação dos flagelos durante o deslocamento
de Ca. M. multicellularis em resposta ao campo magnético, assim como sua divisão,
que não inclui uma etapa unicelular, podem ser resultado dessa eficiente
comunicação entre as células. Isso mostra que o Ca. M. multicellularis possui um
comportamento diferenciado em relação a outras formas de organizações celulares
de bactérias (Keim, Abreu et al. 2004; Keim, Martins et alii. 2007).
20
A eficiente coordenação na movimentação dos flagelos durante o deslocamento
de Ca. M. multicellularis em resposta ao campo magnético, assim como sua divisão,
que não inclui uma etapa unicelular, podem ser resultado dessa eficiente
comunicação entre as células. Isso mostra que o Ca. M. multicellularis possui um
comportamento diferenciado em relação a outras formas de organizações celulares
de bactérias (Keim, Abreu et al. 2004; Keim, Martins et alii. 2007).
Os cristais encontrados no interior dos Ca. M. multicellularis são classificados
como greigita (Fe3S4) (figura 2) podendo ser encontrados, também, sulfetos de ferro
metaestáveis como makinawita (FeS). Os magnetossomos estão organizados em
cadeias alinhadas no citoplasma, logo abaixo da região de membrana que está em
contato com o meio externo (figura 1a), próximo à região de inserção dos flagelos.
Propondo uma relação entre os cristais e a movimentação do microrganismo.
Algumas evidências sugerem que os Ca. M. multicellularis são sulfato redutores
(Abreu, Martins et alii. 2007). São encontrados, no estado do Rio de Janeiro, na
Lagoa de Itaipú, Lagoa Robalo, Lagoa Rodrigo de Freitas e Lagoa de Araruama.
aa
bb
Figura 1: a) Microscopia eletrônica de transmissão mostrando a organizaçção radial das células e o meio intracelular. Os cristais de greigita estão localizados abaixo da membrana plasmática como indicado pelo círculo. b) Microscopia eletrônica de varredura mostrando a morfologia de Ca. M. multicellularis (Keim, Abreu et al. 2004).
Figura 2: Análise de raio-X (EDXX) de um magnetossomo de Ca. M. multicellularis mostrando picos de ferro e enxofre (Keim, Abreu et al. 2004).
1µµµµm 1µµµµm
21
Foram coletadas, em um mesmo dia, amostras de sedimento em diferentes
pontos no entorno desta última de modo a verificar a distribuição espacial da
população(Keim, Martins et alii. 2007). O mapa (figura 3) mostra que a concentração
de indivíduos pode variar entre os pontos. O ponto do rio das moças, onde a
salinidade da água é 23 %o, foi o único dentre eles, onde a presença de Ca. M.
multicellularis não foi observada. Isto indica que os indivíduos são encontrados
apenas em ambientes hipersalinos. Esta afirmação é corroborada por experimentos
em microcosmos onde os limites de salinidade para a sobrevivência de Ca. M.
multicellularis foi avaliada, concluindo que a população não sobrevive à extremos de
salinidade abaixo de 30ppt e acima de 65ppt (dados não publicados).
2.1.1 Magnetossomos
Os cristais de greigita e/ou magnetita encontrados no citoplasma de bactérias
magnetotáticas são envoltos por uma membrana biológica composta por fosfolipídios
e algumas proteínas específicas (figura 4). Estas estruturas são denominadas
magnetossomos. Estes são alinhados em cadeia durante sua formação através da
interação entre diferentes proteínas e o citoesqueleto no citoplasma, freqüentemente
próximo à membrana plasmática (Frankel e Bazylinski 2006; Komeili 2007). A
formação dos cristais parece ser controlada pela célula de acordo com o
desenvolvimento do magnetossomo, que se inicia com o alinhamento da membrana
fosfolipídica ligando-se ao citoesqueleto, seguido pela formação do cristal no interior
Figura 3: Mapa da lagoa de Araruama mostrando a distribuição de Ca. M. multicellularis coletados em 5cm de sedimento. Os números indicam o número de indivíduos/ml. Os números em parênteses referem-se ao valor da salinidade (%o) (Keim, Martins et alii. 2007).
22
da membrana, através da aquisição gradual dos íons de ferro ligando-se à matriz de
sulfeto e ferro (Pósfai e Dinnin-Borkowski 2006).
Nos Ca. M. multicellularis encontram-se cristais de FeS cúbico, makinawita
(tetragonal) e greigita (tetragonal). O FeS cúbico e a makinawita são encontradas no
final da cadeia de magnetossomos (Keim, Martins et alii. 2007), sugerindo que a
formação de greigita se dá pela transformação de FeS cúbico em makinauita (FeS
tetraédrico) e esta em greigita e que a manutenção dos sulfetos de ferro na forma de
greigita é regulada pela célula, provavelmente por sua característica magnética
(Bazylinski e Frankel 2003).
A organização e a interação magnética entre os magnetossomos de todas as
células que compõem os Ca. M. multicellularis, permite que os momentos
magnéticos dos cristais de greigita promovam um dipolo magnético total ao
microrganismo como um todo. Podendo ser esse o eixo a ser alinhado com o campo
geomagnético e que orienta a movimentação das células, permitindo que o
organismo se desloque, de forma eficiente, como uma unidade.
O tamanho e a forma dos cristais de magnetita (cuboctaédrica) e greigita
influenciam em sua característica magnética, indicando que são regulados pelas
células de modo a otimizar esta propriedade. Como os cristais de magnetita
possuem maior indução magnética, são encontrados no interior das células alinhado
em cadeias simples, enquanto que os cristais de greigita são encontrados em maior
quantidade em cadeias múltiplas, provavelmente como uma estratégia
compensatória às suas características magnéticas. Isto propõe que, a otimização na
utilização das propriedades magnéticas desses cristais, foi favorecida ao longo do
processo evolutivo (Pósfai e Dinnin-Borkowski 2006).
Figura 4: Microscopia eletrônica de varredura mostrando os magnetossomos. As setas indicam a membrana que reveste o cristal de greigita (Keim, Abreu et alii. 2004).
23
2.1.2 Geobiologia das Bactérias magnetotáticas
Bactérias magnetotáticas são encontradas em estratos do sedimento ou da
coluna d´água de ambientes aquáticos na região de transição óxica-anóxica onde
pode ser observado uma estratificação vertical de concentração química (Simmons,
Sievert et al. 2004; Frankel, Williams et alii. 2007). Esta interface permite que a
célula absorva energia das reações de oxidação e/ou redução. Aqueles que
produzem cristais de magnetita são encontrados na região superior da interface
óxica-anóxica, enquanto que, os produtores de gregita estão em maior quantidade
na região inferior da interface ou na região anóxica adjacente.
Os cristais de magnetita ou greigita dos magnetossomos sugerem que, a
oxidação ou redução do ferro, compõe uma etapa significativa no metabolismo
desses microrganismos. A quantidade de indivíduos na população, que pode
corresponder a 30% da biomassa microbiana na faixa do estrato em que são
encontradas e a concentração de ferro no interior das células, que consiste em 3%
do peso seco, isto é, acima de espécies não-magnetotáticas em várias ordens de
magnitude (Bazylinski e Williams 2007). Em função disso, estima-se que estes
microrganismos têm significativa contribuição para o ciclo do ferro nos ambientes
onde são encontrados, entretanto, não há dados quantitativos sobre esse processo
(Simmons e Edwards 2007).
Sendo a região de gradiente químico muito estreita e a zona de transição
oxica-anóxica uma faixa horizontal específica desta região, presume-se que, as
condições ótimas para o desenvolvimento de bactérias magnetotáticas seja
transitória, especialmente em ambientes expostos a perturbações físicas ou
biológicas. Isso poderia explicar o aparecimento de grande quantidade de indivíduos
em alguns períodos, especialmente em períodos de estiagem e sua aparente
ausência durante períodos de chuva forte ou prolongada. Não há dados
quantitativos que expliquem satisfatoriamente as variações na população, em micro
escala, em função das variações ambientais.
As condições geoquímicas que possibilitam o desenvolvimento de bactérias
magnetotáticas produtores de greigita conhecidas são: pH neutro ou levemente
alcalino, condição sub-óxica ou anóxica, presença de ferro dissolvido e sulfetos. São
abundantes em ambientes ricos em matéria orgânica. A presença de
24
microrganismos heterotróficos aeróbicos e anaeróbicos (redutores de ferro ou
sulfato) contribuem para a presença de Bactérias Magnetotáticas, pois
disponibilizam alguns íons ou moléculas, tais como S0, Fe++ e SO4, utilizadas na
formação dos magnetossomos e tornam favorável o estabelecimento de uma região
de transição óxica-anóxica (Simmons e Edwards 2007).
2.1.3 Magnetotaxia
A magnetotaxia refere-se à capacidade de um microrganismo, denominado
magnetotático, se orientar em relação à um campo magnético, sendo este campo,
em ambientes naturais, o campo geomagnético (Blakemore 1975). Este campo
tende a inclinar-se em direção à superfície do planeta, sofrendo aumento gradual no
ângulo de inclinação, ao distanciar-se da linha do equador em direção aos pólos. No
hemisfério sul, o sentido sul do campo está apontado para o solo enquanto que, no
hemisfério norte, o sentido norte do campo é que está apontado para o solo.
No hemisfério norte, encontram-se, predominantemente, bactérias
magnetotáticas que se deslocam em direção ao pólo norte de um campo magnético
enquanto que, no hemisfério sul, encontram-se, predominantemente, células que se
deslocam em direção ao pólo sul do campo. Isto permite concluir que, em ambos os
casos, o deslocamento destes microrganismos está orientado para regiões de maior
profundidade e, conseqüentemente, menor concentração de oxigênio, seja na
coluna d´água ou no sedimento. Em alguns casos as células parecem não ter
preferência pela polaridade do campo, servindo este, apenas como eixo de
orientação, sem influenciar o sentido do deslocamento (Frankel, Bazylinski et alii.
1997).
2.1.4 Magneto-aerotaxia
Os bactérias magnetotáticas, durante sua procura pela região de transição
óxica-anóxica, percebem as variações na concentração de oxigênio, deslocando-se
em direção à uma concentração ótima, o que pode ser classificado como aerotaxia.
Entretanto, o campo magnético pode ser utilizado como eixo para orientar seu
deslocamento. Isto torna a procura pelas condições ótimas da concentração de
oxigênio mais eficiente, pois simplifica seu deslocamento tridimensional para um
25
deslocamento unidimensional. Este princípio é denominado magneto-aerotaxia,
sendo proposta inicialmente por (Frankel, Bazylinski et alii. 1997).
Esta hipótese apresenta a magnetotaxia como uma forma de orientar o
movimento da célula, mas incapaz de promover seu deslocamento. Isto é, as
células, em ambiente naturais, podem orientar seu deslocamento de acordo com o
campo geomagnético, entretanto o sentido do deslocamento pode ser paralelo ou
anti-paralelo ao campo, de acordo com a concentração de oxigênio. A inversão de
sentido no movimento da célula ocorrerá com a inversão no sentido de rotação do
flagelo permitindo que a célula se desloque verticalmente pelo sedimento invertendo
seu sentido de deslocamento de forma eficiente.
Nos casos em que há preferência pela polaridade do campo, isto é, a
orientação da célula se dá no sentido sul ou norte, a magneto-aerotaxia é
denominada polar, enquanto que nos casos em que essa preferência não ocorre a
magneto-aerotaxia é denominada axial (Frankel, Bazylinski et alii. 1997).
2.1.5 Redoxtaxia
A magnetotaxia pode estar associada a outros fatores ambientais como a
presença de elementos redutores ou oxidantes. Os principais elementos nesta
situação são o enxofre e o oxigênio respectivamente. Isto permitiria à célula variar
sua posição no sedimento de acordo com suas concentrações relativas. Deste
modo, quando a célula está num ambiente mais redutor pode adquirir e armazenar
maior quantidade de enxofre reduzido. Quando deslocada para um ambiente mais
oxidado, pode haver a oxidação do enxofre tendo o oxigênio como receptor final de
elétrons. A energia liberada na reação pode ser utilizada pela célula em seu
metabolismo.
Entretanto pode haver contestação a essa hipótese, uma vez que se
observam bandas formadas em meios de cultura e que não se deslocam
verticalmente pelo sedimento a não ser que a concentração de oxigênio sofra
alguma modificação. Além disso, não existe nenhum cálculo de compensação
referente ao esforço realizado pela célula ao se deslocar constantemente pelo
sedimento e a energia adquirida nas reações de oxi-redução referidas (Frankel,
Williams et alii. 2007).
26
2.2 DIAGÊNESE
A diagênese é definida como a soma de processos ocorridos no sedimento
logo após sua deposição sob a coluna d´água (Berner, 1980). Este processo é
importante em ecossistemas aquáticos, pois nele ocorre a decomposição da matéria
orgânica e, como conseqüência, a disponibilização dos elementos reciclados ao
ecossistema.
A maior parte das reações químicas que ocorrem durante a diagênese são
mediadas pela atividade microbiana, especialmente por bactérias que catalisam
reações de oxidação e redução e se utilizam da energia liberada para manutenção
de sua atividade metabólica. Durante este processo, a oxidação da matéria orgânica
ocorre, preferencialmente, a partir de elementos com maior potencial de oxidação e
que atuam como receptores finais na cadeia transportadora de elétrons durante a
respiração celular. Em ambientes com grande diversidade de elementos disponíveis,
a seqüência proposta é: O2 > MnO2 > NO3- > Óxidos de Fe > SO4
2- > CO2.
Esta seqüência, nos sedimentos de ecossistemas aquáticos, ocorre temporal
e espacialmente após a deposição de compostos orgânicos ou de material terrígeno.
Inicia-se na superfície do sedimento em contato com a água, que pode ser
classificado como um ambiente oxidado em locais de águas rasas. Seguindo em
direção a regiões mais profundas, é observado queda abrupta na concentração de
oxigênio. O que ocorre devido a seu consumo na respiração celular pela
comunidade microbiana durante a decomposição da matéria orgânica. Isto leva à
formação de um ambiente redutor nos primeiros centímetros de profundidade.
Entretanto, esta região sofre perturbações constantes em diferentes escalas,
isto pode ocorrer como conseqüência da construção de tocas por organismos
bentônicos ou da revirada do sedimento por peixes e crustáceos, além da
resuspensão causada por ventos fortes e chuvas. Em alguns casos, como em
ambientes estuarinos e lagoas costeiras, a variação no fluxo de maré ou no fluxo dos
rios que neles deságuam, também podem ocasionar perturbações na camada
superficial do sedimento.
Portanto, para que a seqüência padrão de eventos apresentada acima
ocorra, o sedimento deve passar por um período de estabilidade, ou seja, sem
sofrer as perturbações citadas. Sabe-se que em ambientes naturais dificilmente
27
podemos encontrar essa condição, o que dificulta os estudos in situ e a construção
de modelos para o processo de diagênese (Sundby 2006).
2.2.1 Ferro
O ferro encontrado nos sedimentos de ambientes aquáticos advém da
erosão de argilo-minerais, sendo transportados pelas correntes de água e
depositados, principalmente, na forma de óxidos de ferro. Pode ser encontrado na
forma Fe2+ e Fe3+ sendo que, as concentrações de um ou de outro, num dado
ambiente, variam de acordo com potencial de oxidação no meio. A composição
molecular dos minerais que serão formados durante o processo de diagênese
dependerá da concentração de outros elementos como enxofre, carbono e fósforo e
do pH.
Os óxidos de ferro em concentrações acima de sua constante de
solubilidade serão precipitados, depositando-se sobre o sedimento. Após a
deposição, são difundidos para regiões mais redutoras onde passam para a forma
reduzida Fe ++. Nesta forma, o ferro poderá reagir com outros elementos, entre
estes o oxigênio formando magnetita (Fe2O3) e o fósforo, formando, por exemplo,
vivianita (Fe3(PO4)2.8(H2O)). Em ambientes ricos em enxofre, ele tende a reagir
com H2S formando sulfetos de ferro, sendo a Pirita (FeS2), a forma mais estável
destes sulfetos. Tanto a oxidação quanto a redução do ferro e a formação de
sulfetos, podem ser mediados pela ação de bactérias.
Os sulfetos de ferro são muito insolúveis e tendem a permanecer
depositados no sedimento. Entretanto, caso o ambiente torne a se oxidar, o íon
Fe++ pode ser liberado e re-oxidado, tornando-se Fe+++ (Berner 1971).
2.2.2 Enxofre
Em ambientes marinhos ou hipersalinos o enxofre encontra-se na forma de
sulfato dissolvido na coluna d´água. Quando ocorrem em concentrações acima de
sua constante de solubilização constituem importante fonte de enxofre para o
sedimento.
28
A decomposição da matéria orgânica também é uma importante fonte de
enxofre para o sedimento quando encontrada em grandes concentrações ou em
ambientes de água doce.
Após o início da decomposição da matéria orgânica, os íons sulfatos são
liberados na forma de óxidos de enxofre, sendo este processo mediado pela
atividade bacteriana. Os óxidos de enxofre precipitados sobre o sedimento, são
difundidos para regiões mais redutoras. Nessas condições, o enxofre que se
encontrava na forma de sulfato (SO4) pode ser transformado em enxofre elementar
(S0) ou íons sulfetos (S2-), dependendo das condições físico-químicas e químicas
do meio. O íon sulfeto, liberado em sua forma solúvel, tende a reagir com íons H+,
formando H2S ou HS-, estes poderão retornar para regiões mais oxidas do
sedimento reagindo novamente com o oxigênio, assumindo formas mais oxidadas.
Ou podem reagir com metais encontrados no sedimento, entre eles o ferro,
podendo formar minerais mais estáveis e insolúveis. Neste caso, o enxofre tende a
ficar retido no sedimento tornando-se indisponível para os microrganismos. Todas
as etapas de redução ou oxidação dos íons de enxofre podem ser mediadas pela
atividade bacteriana.
2.2.3 Sulfetos de Ferro
A formação de sulfeto de ferro se dá pela reação entre H2S e Fe ++ .
Diferentes cristais metaestáveis são formados a partir desta reação, como
makinawita e greigita que, posteriormente, tendem a reagir com enxofre elementar,
assumindo uma estrutura mais estável, a pirita. Segundo (Sweeney e Kaplan 1973),
a formação de pirita se dá segundo a seguinte seqüência de reações:
3FeS(mk) + S0 → Fe3S4 (gr)
Fe3S4 (gr) + 2S0 → 3FeS2(pi)
Portanto, de acordo com os autores, para que se forme pirita, à temperatura
ambiente próxima de 25oC, sulfetos de ferro metaestáveis como makinawita e
greigita, devem ser formados previamente. Além disso, haveria a necessidade de
enxofre elementar disponível para que greigita e pirita se formem. A atividade
29
bacteriana, como no gênero Beggiatoa, pode interferir na oxidação de H2S,
formando enxofre elementar.
(Wilkin e Barnes 1997), propuseram a seguinte seqüência de reações para a
formação de greigita:
3FeS(mk) + 2H+(aq) + ½ O2(aq) + HS- → Fe3S4 (gr) + H2O(l)
4FeS(mk) + ½ O2(aq) + 2H+(aq) → Fe3S4 (gr) + Fe++ + H2O(l)
Segundo estes autores é necessário a presença de oxigênio em baixas
concentrações para que ocorra a reação entre FeS e H2S para a formação de
greigita. Richard (1999) propôs que nesta reação o oxigênio age como iniciador e
permite maior concentração de enxofre na forma de enxofre elementar (S0).
A formação de pirita pode ocorrer sem a formação de greigita como produto
intermediário (Rickard 1999). Entretanto essa reação ocorre estritamente em
ambientes muito redutores e com altas temperaturas, como em fontes hidrotermais
(Butler e Rickard 2000).
Em ambientes naturais, tem sido documentado a presença de greigita em
lagoas hipersalinas ou ambientes de água doce, onde ocorrem variações nas
concentrações de oxigênio. Nestes ambientes a greigita pode ser produto
intermediário na formação de pirita.
O esquema abaixo (figura 4) representa a formação de pirita, podendo
passar pela forma de greigita, em sedimentos de ambientes marinhos. Neste
esquema, pode-se observar que, os principais componentes que regulam a
formação de greigita e pirita em ambientes naturais são: matéria orgânica, ferro
reativo e sulfatos.
O enxofre elementar não costuma ser um fator limitante na formação de
pirita. É produto da oxidação de FeS ou H2S. Esta reação pode ser abiótica, mas
geralmente é mediada pela atividade de microrganismos.
A concentração de ferro encontrada no sedimento da maioria dos ambientes
aquáticos não é fator limitante para a formação de pirita. Esta limitação pode
ocorrer em sedimentos predominantemente calcários. Entretanto, nos casos em
que há grande concentração de H2S e minerais contendo ferro reativo, pode-se
chegar próximo à 100% na transformação desse ferro em pirita (Berner 1983).
30
Em sedimentos mais estáveis, observa-se uma rápida queda de ferro reativo
nos primeiros centímetros de profundidade associado à uma baixa concentração de
sulfetos. Enquanto que se observa um grande aumento na taxa de reação entre
sulfetos e ferro minerais na mesma região. Disto conclui-se que a principal fonte de
ferro para a formação de sulfetos de ferro são os óxidos de ferro, sendo
insignificativa a participação do ferro associado a silicatos (Canfield 1989).
A qualidade da matéria orgânica depositada no sedimento pode influenciar
na formação de pirita. Sendo assim, a matéria orgânica exposta por um período
mais longo à degradação óxica disponibiliza menos compostos orgânicos para
sofrerem sulfato redução. Com isso, menos pirita será formada (Berner 1983)
2.2.4 Composição elementar (C,N) e isotópica (δδδδ13C, δδδδ15N)
A razão entre carbono e nitrogênio (C/N) pode ser usada como indicador de
fonte de matéria orgânica ou como indicador do processo de degradação sofrido
por esta. Isto porque o material orgânico advindo de algas e fitoplâncton apresenta
tipicamente uma razão C/N menor, uma vez que essas plantas produzem maior
quantidade proporcional de proteínas e não produzem celulose, por outro lado,
plantas vasculares apresentam valores maiores no cálculo desta razão, pois
produzem maior quantidade de celulose(Meyers 1994; Silliman, Meyers et alii.
Fe 3 S4
SO4 --
Matéria Orgânica
H2S Ferro minerais (Reativo)
Fe S
S0
Fe S2 (pirita) (greigita)
Bactérias Bactérias
Bactérias
Figura 5: Processo de formação de pirita intermediado pela atividade bacteriana havendo a formação de greigita como sulfeto de ferro metaestável (Aragon 1997) adaptado de (Berner, 1970).
31
2000). Entretanto, o processo de degradação da matéria orgânica pode mascarar o
resultado obtido na razão C/N, pois, durante esse processo, o nitrogênio fica retido
na comunidade microbiana do solo ou sedimento, enquanto que o carbono é
liberado na forma de CO2 (Silliman, Meyers et alii. 2000).
Isótopos estáveis de carbono, isto é, 12C e 13C, possuem, na atmosfera, uma
abundância relativa de, aproximadamente, 99% e 1% respectivamente. Entretanto,
o carbono encontrado em material biológico tende a ser enriquecido em seu isótopo
mais leve. Esta observação é resultado do fracionamento isotópico ocorrido na
membrana da célula durante o processo de captação de CO2 atmosférico, etapa da
fotossíntese. Isto ocorre porque os isótopos mais leves, e menores em tamanho,
tendem a atravessar a membrana celular mais facilmente, enquanto que os mais
pesados são retidos no meio extracelular. A proporção entre os isótopos de
carbono é calculada pela seguinte equação:
O valor de δ13C obtido pode ser correlacionado com os valores da razão C/N
para identificar a fonte da matéria orgânica (Meyers 1994).
A equação acima pode ser utilizada para medir a concentração relativa dos
isótopos de nitrogênio, 14N e 15N. O δ15N pode ser utilizado, principalmente, para
inferir sobre o tempo de residência do nitrogênio depositado sobre o solo ou
sedimento (Martinelli, Piccolo et alii. 1999). Isto porque o fracionamento isotópico
deste elemento ocorre durante o processo de degradação da matéria orgânica. Os
microrganismos que realizam esse processo utilizam-se com mais freqüência dos
isótopos mais leves. Portando, o sedimento onde a matéria orgânica sofreu maior
degradação, tende a ser enriquecido em 15N apresentando maiores valores de δ15N.
O mesmo padrão de enriquecimento de 15N pode ser observado no perfil vertical do
sedimento, uma vez que o material mais antigo encontra-se no fundo,
conseqüentemente, os valores de δ15N tendem a aumentar com a profundidade.
δ13C (%o) = [(13C/12C)amostra / (13C / 12C)padrão – 1] x 103
32
3 ÁREA DE ESTUDO
A Lagoa de Araruama pertence ao conjunto de lagoas da costa leste
fluminense no Estado do Rio de Janeiro. Possui uma área de 220 km2 com
profundidade média de 3m. Está localizada nas coordenadas S 22o 40` W 42o 15`
entre os municípios de Araruama e Cabo Frio. Esta região possui clima semi-árido,
com precipitação anual de 800mm. A evaporação anual da lagoa é de 1400mm,
permitindo que esta permaneça hipersalina ao longo de todo o ano, com salinidade
média de 52 ppt, sofrendo um pequeno aumento durante os meses de inverno.
Um pequeno canal localizado na cidade de Cabo Frio mantém contato
constante da água da lagoa com o mar. As fontes de água doce, além das chuvas e
da água utilizada pela população local transportada para a lagoa pelo sistema de
esgoto, são os rios Das Moças, Mataruna e Iguaçaba, que transportam, também,
matéria orgânica e nutrientes. O tempo médio de permanência da água (T50%) no
sistema é de 83 dias. A variação diária de temperatura é de 3 – 4 oC. Isto permite
uma dinâmica horizontal e vertical na coluna d`água, refletindo na homogeneização
da salinidade, nutrientes e biomassa planctônica. Essa dinâmica pode ser
influenciada por brisas marinhas e fortemente afetada pela predominância do vento
NE e pelo SE, quando se intensificam na região a chegada de frentes frias.
No entorno da lagoa estão localizados os municípios de Araruama, Iguaba
Grande, São Pedro d`aldeia, Cabo Frio, Arraial do Cabo, além de Iguabinha, Praia
Seca, Monte Alto e Figueira. As principais atividades antropogênicas atuais
relacionadas à lagoa são o desmatamento florestal com fins à atividade agrícola e
pecuária, pesca artesanal, urbanização de áreas baixas, recreação e lançamento
de efluentes domésticos, lançados diretamente na lagoa ou nos rios que nela
deságuam. Esta última merece especial atenção, já que, sendo uma área de
intensa atividade turística, especialmente em períodos de alta temporada como
Carnaval e ano novo, a população dos municípios aumenta consideravelmente.
Tendo como conseqüência o aumento da descarga de efluentes domésticos sobre
a lagoa (Knoppers 1999; Bidegain e Bizerril. 2002).
33
3.1 Pontos e Coleta
O ponto da praia seca (S 22o 55` 31``; W 42o 15` 14``) foi escolhido como
ponto controle. Este representa o sedimento da lagoa que menos sofre influência
antropogênica direta. Há uma área de proteção ambiental no entorno, na qual não
há utilização do solo para agricultura ou construções, sendo coberto por vegetação,
especialmente gramíneas e gimnospermas. Não há rios que deságuam próximos
ao ponto de coleta. Portanto, o sedimento coletado neste ponto deve representar a
drenagem ao solo encontrado das margens da lagoa. Não há registro prévio sobre
a presença de Ca. M. multicellularis na praia seca (Keim, Martins et alii. 2007).
Figura 6: Fotografia da Lagoa de Araruama indicando os pontos onde foram coletadas as amostras (Google Earth®).
9,8 km Altitude do ponto de visão: 33,88km
N Iguaba Grande
Praia Seca
Praia da Baleia
Rio de Janeiro
9,8 km Altitude do ponto de visão: 33,88km
N Iguaba Grande
Praia Seca
Praia da Baleia
Rio de Janeiro
Fonte: Google Earth
34
O ponto de Iguaba Grande (S 22o 50` 23``; W 42o 17`0``) recebe forte
influência de ação antrópica. A coleta foi realizada próxima à uma saída de esgoto
doméstico e próximo à boca do rio Iguaçaba, o qual também recebe grande aporte
de esgoto doméstico, além de material terrígeno originados, principalmente, em
solos utilizados para agricultura. Esta região, foi amplamente coberta pela
urbanização. A presença de Ca. M. multicellularis já foi registrada neste ponto,
entretanto estes organismos aparecem em pequenas quantidades na maior parte
do ano(Keim, Martins et alii. 2007).
Figura 8: Fotografia do ponto Iguaba Grande tirada no momento da coleta no mês de março (Google Earth®)
Fonte: Google Earth
Figura 7: Fotografia do ponto da Praia Seca tirada no momento da coleta no mês de março (Google Earth®).
35
O ponto da Praia da Baleia (S 22o 52` 47``; W 42o 6` 59``) está localizado no
município de São Pedro d`Aldeia. O solo à margem da lagoa neste ponto possui
origem diferente comparado aos outros dois pontos (Knoppers 1999), apresenta
relevo mais inclinado, o que aumenta o transporte direto de material terrígeno para
a lagoa. A maior parte do entorno é coberta por vegetação, especialmente
gramíneas e angiospermas. Não há rios que deságuam próximo ao ponto, mas a
construção de algumas casas próximas à margem da lagoa, sugere que há aporte
de esgoto doméstico próximo ao ponto. Este ponto pode receber maior influência
da renovação das águas devido à sua proximidade ao canal que liga a lagoa ao
mar. O registros prévios sobre a presença de Ca. M. multicellularis neste ponto,
mostram que estes microrganismos são encontrados em grandes quantidades na
maior parte do ano(Keim, Martins et alii. 2007).
Figura 9: Fotografia do ponto da Praia da Baleia tirada no momento da coleta no mês de março (Google Earth®)
Fonte: Google Earth
36
4 MATERIAIS E MÉTODOS
4.1 COLETA
As coletas foram realizadas nos meses de março e junho de 2007 na Lagoa
de Araruama, localizada no Estado do Rio de Janeiro. O mês de março foi
escolhido como representativo do período úmido (Barbiére and Neto 1999),
representando também o final do verão, estação em que a lagoa recebe maior
quantidade de esgoto doméstico, como consequêcia do turismo(Bidegain and
Bizerril. 2002). O mês de junho foi escolhido como representativo do período seco
e também o período onde as atividades turísticas sobre a lagoa são menores
comparados a outros períodos do ano.
Os pontos de coleta foram escolhidos de acordo com a freqüência e a
quantidade com que são encontrados os Ca. M. multicellularis (figura 2). Sendo
assim, foi escolhido um ponto na Praia da Baleia onde os Ca. M. multicellularis são
encontrados com freqüência e em grandes quantidades, outro na praia de Iguaba
Grande onde são encontrados com freqüência, mas em menor quantidade e na
APA da Praia Seca onde não há registros de sua ocorrência(Keim, Martins et al.
2007). Desse modo, pôde-se comparar os resultados analíticos de cada ponto,
evidenciando aqueles que podem estar favorecendo ou não a presença de Ca. M.
multicellularis nos estratos de sedimento no respectivo ponto.
4.2 AMOSTRA DE SEDIMENTO
Em cada ponto foram coletados cinco testemunhos de PVC de 5cm de
diâmetro e 15cm de altura, ficando um terço ocupado por água e dois terços por
sedimento. Os testemunhos foram mantidos próximos entre si e foi evitada a
perturbação do sedimento no momento da coleta. Em função disto, todas as
amostras foram coletadas próximo à margem da lagoa. Um testemunho de acrílico
foi coletado em cada ponto para observar a coloração do sedimento e fotografado.
Após a coleta as amostras foram levadas para o laboratório de microbiologia e
ultra-estrutura de procariotos na Ilha do Fundão (UFRJ).
Em cada testemunho de PVC coletado foram inseridas duas seringas de
10ml com a ponta cotada. O sedimento coletado em cada seringa foi retirado
37
utilizando-se um pistão e fatiado em extratos de 1cm até o quinto centímetro de
profundidade, somando-se 5 amostras com volume de 2cm3 para cada seringa.
Essas amostras foram identificadas e utilizadas para análise biológica e variáveis
químicas, de acordo com a figura 10.
Sendo assim, em cada ponto de coleta, foram obtidas 10 seringas (uma
duplicata para cada testemunho) que foram utilizadas para contagem da população
de Ca. M. multicellularis e 4 destas amostras utilizadas para as análises químicas
(figura 11a). Sendo 2 utilizadas para extração seqüencial e 2 para Isótopos δ15N e
δ13C, carbono (%) e nitrogênio (%).
4.3 ANÁLISES FÍSICO-QUÍMICAS
Temperatura, Eh, pH foram medidos, no momento da coleta, com eletrodos
colocados diretamente no sedimento da lagoa, nos respectivos extratos. A
salinidade foi medida na superfície e no fundo da coluna d´água. Entretanto, devido
à espessura e sensibilidade do eletrodo, as medidas foram feitas a cada dois
centímetros de profundidade. Os valores dos extratos intermediários entre os
centímetros medidos com os eletrodos foram, calculados pelo valor médio dos
extratos adjacentes.
38
Figura 10: Metodologia utilizada para obtenção de amostras de extratos do sedimento da lagoa de Araruama. As amostras foram utilizadas para quantificação da população de Ca. M. multicellularis e variáveis químicas.
Core
Extratos1 cm
2 cm
3 cm
4 cm
5 cm
Fatores abióticos
Contagem Populacional
SeringasCoreCore
Extratos1 cm
2 cm
3 cm
4 cm
5 cm
Fatores abióticos
Contagem Populacional
Extratos1 cm
2 cm
3 cm
4 cm
5 cm
Fatores abióticos
Contagem Populacional
SeringasSeringas
Ferro e Enxofre Carbono, nitrogênio e isótopos
Extração seqüencial
Analisador elementar acoplado a espectrômetro de massa
Temperatura, Eh e pH foram medidos, nos mesmos extratos,no momento da coleta com eletrodos,
Core
Extratos1 cm
2 cm
3 cm
4 cm
5 cm
Fatores abióticos
Contagem Populacional
SeringasCoreCore
Extratos1 cm
2 cm
3 cm
4 cm
5 cm
Fatores abióticos
Contagem Populacional
Extratos1 cm
2 cm
3 cm
4 cm
5 cm
Fatores abióticos
Contagem Populacional
SeringasSeringas
Ferro e Enxofre Carbono, nitrogênio e isótopos
Extração seqüencial
Analisador elementar acoplado a espectrômetro de massa
Temperatura, Eh e pH foram medidos, nos mesmos extratos,no momento da coleta com eletrodos,
Volume = 2cm3
1/3
Testemunho
39
4.4 CONTAGEM POPULACIONAL
O sedimento destinado para a contagem da população em cada ponto de
coleta foi distribuído em lâminas. Foi adicionado então, água da lagoa filtrada, com
filtro milipore 0,2 mm, em cada em cada uma das lâminas. Isto permitiu a
sobrevivência e locomoção dos Ca. M. multicellularis. Em seguida foi colocado um
ímã próximo à extremidade da gota, com a extremidade sul votada para o
sedimento, seguido de um tempo de espera (entre 3 e 5 minutos) necessário para
que os indivíduos se concentrassem na extremidade da gota (figura 11b). As
lâminas foram, então, levadas ao Microscópio Óptico Zeiss Axioplan II e os Ca. M.
multicellularis localizados na margem foram quantificados.
De acordo com a metodologia descrita acima, em cada ponto foram obtidas
dez amostras por extrato de sedimento utilizadas para contagem populacional.
Sendo assim, foi feito a média entre as dez amostras de cada extrato, sendo
excluídas aquelas que, no momento da contagem, apresentaram algum erro, como
o ressecamento da amostra na lâmina, por exemplo.
Como apenas 1/3 das amostras dos extratos de sedimento foram utilizadas
para contagem na lâmina e o volume total de cada amostra de extrato da seringa
era 2cm3 (Figura 10), o valor obtido na quantificação dos indivíduos foi multiplicado
por 1,5 para obter o número de indivíduos por cm3 de sedimento.
O volume de sedimento retirado para contagem populacional foi medido
visualmente. Não foi possível realizar a pesagem do material pois havia risco de
Figura 11: a) Extratos de sedimento obtidos à partir de uma seringa, estes foram guardados em tubos de 1,5ml e congelados para as análises químicas posteriores. b) Sedimento colocado na lâmina com água filtrada da lagoa de Araruama. O ímã foi colocado com a polaridade sul voltada para o sedimento de modo a atrair os Ca. M. multicellularis para a borda gota, sendo feita a contagem direta ao microscópio óptico.
b
a
40
ressecamento da amostra. Além disso, o tempo necessessário para realizar esta
etapa inviabilizaria a contagem de todas as amostras em um mesmo dia, dado o
grande número de amostras, o que poderia ampliar a margem de erro sobre o
resultado final da contagem.
4.5 DETERMINAÇÃO DE FERRO E ENXOFRE
Os sedimentos destinados à análise de ferro e enxofre foram submetidos à
extração seqüencial (Figura 12). As amostras foram secas em estufa à 50 oC por
24hs. Para obter a fração 1 (carbonatos) foi adicionado 20ml de ácido acético 0,11
mol.L-1 em 0,5g de amostra. A solução foi mantida em agitação constante por 16hs,
sendo posteriormente centrifugado a 3000rpm por 20 minutos. O sobrenadante foi
armazenado em geladeira até o momento da análise. Na fração 2 (óxidos) foi
adicionado 20ml de cloridato de hidroxilamina 0,5 mol.L-1 em ácido nítrico no
resíduo obtido na fração 1. A solução foi mantida em agitação constante por 16hs,
sendo posteriormente centrifugado a 3000rpm por 20 minutos. O sobrenadante foi
armazenado em geladeira até o momento da análise. As amostras extraídas foram
lidas em Espectrômetro de emissão ótica com fonte de plasma indutivamente
coplado (ICP OES), seqüencial, com vista radial, Jobin Yvon (Longjumeau, França),
modelo Ultima 2, equipado com um amostrador automático, modelo AS 421. Para a
aquisição dos dados, foi em empregado o software Analyst JY 5.2.
A metodologia utilizada não permitiu diferenciar espécies, dos elementos
medidos, que se encontravam reduzidas ou oxidadas no ambiente natural. Portanto,
para interpretação dos dados, as médias obtidas entre as duplicatas nas duas
frações foram somadas. Deste modo, foram obtidas espécies de ferro e enxofre que
se encontravam adsorvidas, com ligações fracas ou moderadas, estando, portanto,
biodisponíveis.
41
Amostra
Estufa 50oC por 24hs
Ácido Acético
Agitação 16hs
O,5g
F1
Cloridato de hidroxilamina em Ácido nìtrico
Centrífuga 3000rpm / 20min
F2
Centrífuga 3000rpm / 20min
Agitação 16hs
Amostra
Estufa 50oC por 24hs
Ácido Acético
Agitação 16hs
O,5g
F1
Cloridato de hidroxilamina em Ácido nìtrico
Centrífuga 3000rpm / 20min
F2
Centrífuga 3000rpm / 20min
Agitação 16hs
Figura 12: Extração seqüencial utilizada para obtenção das espécies de ferro e enxofre.
42
4.6 ANÁLISE DE CARBONO, NITROGÊNIO E ISÓTOPOS
As amostras de sedimento não foram descarbonatadas devido à pouca
quantidade de volume de cada amostra e a baixa concentração de material
orgânico. O processo de descabonação poderia retirar material orgânico, que
encontrava-se em baixas concentrações, isto poderia afetar a capacidade de
detecção do equipamento, especialmente sobre o nitrogênio, que encontra-se,
predominantemente, em concentrações menores.
As análises da composição elementar da matéria orgânica (concentrações
de C e N) foram realizadas em analisador elementar Carlo Eba modelo EA 1110,
acoplado a um espectrômetro de massa Finigan Delta Plus, permitindo a
determinação simultânea da composição elementar (% C e N) e das razões
isotópicas 13C/12C (δ13C) e 15N/14N (δ15N). O método consiste na combustão do
material a temperatura de 1020 oC sob atmosfera de oxigênio puro, sendo os gases
gerados por condutividade térmica (CO2 e N2O) carreados através de uma coluna
cromatográfica até o espectrômetro de massas, para detecção. A quantificação é
feita por comparação com padrões externos. Todas as medidas de composição
isotópica e elementar foram realizadas no Centro de Energia Nuclear na Agricultura
(CENA).
4.7 TABELAS E GRÁFICOS
Os gráficos de barras apresentados nos resultados (figuras 12, 14, 15 e 16),
foram processados no programa MS Excel. Os gráficos de correlação apresentados
na discussão (figuras 17, 18, 19, 21 e 23) e as tabelas foram construídos no mesmo
programa.
A análise de cluster foi realizada no programa statística, utilizando-se para tal
o método de Ward e distância euclidiana. Foram consideradas as medidas obtidas
em todos os estratos de cada ponto, sendo assim, cada ponto possuía 5 amostras
de cada variável, representativas daquele ponto. Entretanto, deve ser considerado,
que as medidas foram feitas em estratos verticais do sedimento, apresentando
variações entre elas que não podem ser classificas como extremo ou outlier. Sendo
assim, ao considerar a média de cada ponto, estamos considerando o valor médio
43
obtido entre os cinco extratos de sedimento. Também foi construída neste programa
a tabela de spearman, considerando valor p<0,01 e n=30.
Os gráficos da distribuição vertical da população no sedimento, assim como, a
de ferro e enxofre, foram construídos no programa Sigma Plot.
4.8 TESTES ESTATÍSTICOS
Para verificar as possíveis variações entre as médias dos meses de março e
junho de cada variável exposta nos gráficos das figuras 15, 18, 19 e 20, foi realizado
o teste de hipótese. Durante o teste foi considerado H0 como sendo casual a
diferença entre as duas médias. Para realizar o teste foi utilizado a seguinte
equação:
O resultado (tc) obtido como produto final da equação foi comparado com t0
obtido na tabela t de Student. Nos casos em que tc > t0 , H0 foi rejeitada, isto é, a
diferença entre as médias foi significativa. Nos casos em que tc < t0 , H0 foi aceita,
isto é, a diferença entre as médias não foi significativa.
√t = X - Y
∑∑∑∑ xi2 + ∑∑∑∑ yi
2
n1 + n2( ) n1 + n2
n1n2( )√
t = X - YX - Y
∑∑∑∑ xi2 + ∑∑∑∑ yi
2
n1 + n2( )∑∑∑∑ xi
2 + ∑∑∑∑ yi2
n1 + n2
∑∑∑∑ xi2 + ∑∑∑∑ yi
2
n1 + n2n1 + n2( ) n1 + n2
n1n2( )n1 + n2
n1n2( )
44
5. RESULTADOS
Os resultados obtidos nas análises laboratoriais e medidas de campo foram
utilizados para a construção das tabelas 1 e 2. As médias calculadas entre os cinco
extratos de sedimento permitiram obter o valor médio das variáveis em cada ponto
nos dois meses de coletas. Os valores obtidos foram utilizados para a construção
dos gráficos.
Os dados de campo obtidos nas duas coletas, mostram que a água da lagoa
sofreu queda de uma ordem de grandeza nos valores de pH e aumento de
aproximadamente 32% nos valores de Eh na mês de junho em relação a março,
isto mostra que, neste período, a concentração de oxigênio na água aumentou
como conseqüência da maior taxa de fotossíntese em comparação à taxa de
respiração celular.
Em todas as medidas observa-se uma queda abrupta dos valores de Eh na
transição da água para o primeiro extrato de sedimento. O mesmo acontece com os
valares de pH, reduzido em uma ordem de grandeza na mesma região na maioria
dos pontos. A temperatura em junho apresentou queda média de 21,5%, tanto na
água quanto no sedimento, enquanto a salinidade medida na água não sofreu
variação significativa entre as duas coletas. Apresentando valores que variam entre
53 ppt e 54 ppt em todos os pontos de coleta.
5.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS DO SEDIMENTO
O sedimento coletado em todos os pontos de coleta apresentou cheiro de
gás sulfídrico, indicando atividade de sulfato redução. No ponto da praia seca, os
sedimentos coletados nos dois meses, apresentaram uma camada de areia cinza
na região de transição sedimento-água e uma camada de areia escura alguns
centímetros abaixo. O sedimento coletado em Iguaba Grande nos dois meses
apresentou coloração escura e composição arenosa, além de grande quantidade de
fragmentos de concha. Na Praia da baleia o sedimento possuía composição de
areia mais fina comparada aos outros dois pontos, com coloração escura e com
grande número de conchas e fragmento de rocha.
Pra
ia S
eca
Eh (mV) pH T (oC) Fe (F1 ) Fe (F2) Fe (Total) S (Total) δδδδ13C δδδδ15N C (%) N (%) Indivíduos / cm3 Água Superfície -109,4 9,0 29,1
Fundo -134,0 9,0 28,9
Sedimento 1cm -345,7 7,5 84,1 72,3 156,4 369,6 -3,7 6,7 0,4 0,01 2
2cm -378,1 7,6 28,9 42,9 77,9 120,8 431,0 -3,3 6,6 0,4 0,02 11
3cm -410,5 7,8 29,0 70,2 99,2 703,2 -2,0 11,0 0,4 0,01 17
4cm -417,8 7,7 28,9 40,9 70,1 111,1 449,5 -2,4 10,1 0,3 0,01 34
5cm -425,0 7,7 34,3 64,4 98,7 529,0 -3,2 12,0 0,3 0,00 61
Máxmo -345,7 7,8 28,9 84,1 77,9 156,4 703,2 -2,0 12,0 0,4 0,02 61,1
Mínimo -425,0 7,5 28,9 29,0 64,4 98,7 369,6 -3,7 6,6 0,3 0,00 2,0
Média -395,4 7,6 28,9 46,2 71,0 117,2 496,5 -2,9 9,3 0,4 0,01 24,9
Igu
aba
Gra
nd
e
Eh (mV) pH T (oC) Fe (F1) Fe (F2) Fe (Total) S (Total) δδδδ13C δδδδ15N C (%) N (%) Indivíduos / cm3 Água Superfície 31,3 9,1 32,3
Fundo -36,8 9,1 31,4
Sedimento 1cm -420,9 7,8 4,4 240,8 245,3 1825,4 -1,8 5,0 3,1 0,06 11
2cm -457,0 7,6 30,9 13,5 369,2 382,7 1288,4 -1,9 5,4 2,9 0,06 36
3cm -493,0 7,4 1,5 283,1 284,6 1460,6 -2,1 5,8 2,8 0,05 23
4cm -497,0 7,8 30,7 4,8 398,9 403,7 1533,1 -2,7 5,9 3,4 0,07 16
5cm -501,0 8,1 2,6 225,9 228,5 1504,9 -1,9 5,8 3,7 0,07 9
Máxmo -420,9 8,1 30,9 13,5 398,9 403,7 1825,4 -1,8 5,9 3,7 0,07 35,9
Mínimo -501,0 7,4 30,7 1,5 225,9 228,5 1288,4 -2,7 5,0 2,8 0,05 9,3
Média -473,8 7,8 30,8 5,4 303,6 308,9 1522,5 -2,1 5,6 3,2 0,06 19,0
Pra
ia d
a B
alei
a
Eh (mV) pH T (oC) Fe (F1) Fe (F2) Fe (Total) S (Total) δδδδ13C δδδδ15N C (%) N (%) Indivíduos / cm3 Água Superfície 15,0 9,1 31,5
Fundo -92,0 9,1 31,2
Sedimento 1cm -205,0 8,6 91,2 430,2 521,4 778,1 -4,4 6,2 1,5 0,05 53
2cm -298,5 8,1 30,9 83,8 390,4 474,2 742,2 -4,6 6,4 0,9 0,04 115
3cm -392,0 7,7 68,7 615,1 683,8 816,9 -5,3 7,5 0,7 0,03 279
4cm -418,5 7,6 30,9 40,5 607,5 647,9 779,9 -7,9 8,2 0,9 0,06 96
5cm -445,0 7,6 83,5 816,8 900,3 874,5 -6,2 8,6 1,6 0,08 62
Máxmo -205,0 8,6 30,9 91,2 816,8 900,3 874,5 -4,4 8,6 1,6 0,08 279,2
Mínimo -445,0 7,6 30,9 40,5 390,4 474,2 742,2 -7,9 6,2 0,7 0,03 53,0
Média -351,8 7,9 30,9 73,5 572,0 645,5 798,3 -5,7 7,4 1,1 0,05 121,0
Tabela 1: Dados obtidos a partir de amostras coletadas em três pontos da lagoa de Araruama no mês de março de 2007. Valores de ferro e enxofre em mg/kg
46
Tabela 2: Dados obtidos a partir de amostras coletadas em três pontos da lagoa de Araruama no mês de junho de 2007. Valores de ferro e enxofre em mg/kg
Pra
ia S
eca
Eh (mV) pH T (oC) Fe (F1) Fe (F2) Fe (Total) S (Total) δδδδ13C δδδδ15N C (%) N (%) Indivíduos / cm3 Água Superfície 102,1 8,4 24,3
Fundo 122 8,4 22,9
Sedimento 1cm 69,8 8,3 15 61,4 75,9 432,3 -2,4 8,2 0,3 0,01 2
2cm -169,1 8,2 22,8 13 58,3 71,2 570,0 -1,7 7,1 0,4 0,01 6
3cm -408 8,1 17 61,5 78,3 441,5 -2,6 7,3 0,3 0,01 6
4cm -425 7,8 22,6 21 58,2 79,5 524,4 -4,0 7,5 0,2 0,01 5
5cm -442 7,6 15 42,7 57,8 509,9 -3,1 6,7 0,4 0,01 13
Máxmo 69,8 8,3 22,8 21,3 61,5 79,5 570,0 -1,7 8,2 0,4 0,01 12,8
Mínimo -442,0 7,6 22,6 12,9 42,7 57,8 432,3 -4,0 6,7 0,2 0,01 2,3
Média -274,9 8,0 22,7 16,1 56,4 72,6 495,6 -2,8 7,4 0,3 0,01 6,4
Igu
aba
Gra
nd
e
Eh (mV) pH T (oC) Fe (F1) Fe (F2) Fe (Total) S (Total) δδδδ13C δδδδ15N C (%) N (%) Indivíduos / cm3 Água Superfície 123,9 8,4 25,2
Fundo 118,2 8,4 24,4
Sedimento 1cm -396,4 7,2 4,4 80,2 84,6 1715 -0,3 7,0 3,4 0,03 1
2cm -426,55 7,1 23,8 0,8 90,2 91,0 1550 -0,4 7,7 3,1 0,02 7
3cm -456,7 7,0 0,4 74,3 74,7 1354 -0,4 6,9 3,8 0,02 13
4cm -487,45 7,0 24 1,3 76,4 77,8 1374 -0,3 6,6 4,1 0,02 20
5cm -518,2 7,1 0,7 91,7 92,4 1428 -0,1 3,4 1,9 0,01 17
Máxmo -396,4 7,2 24,0 4,4 91,7 92,4 1714,9 -0,1 7,7 4,1 0,03 20,3
Mínimo -518,2 7,0 23,8 0,4 74,3 74,7 1354,4 -0,4 3,4 1,9 0,01 1,0
Média -457,1 7,1 23,9 1,5 82,6 84,1 1484,2 -0,3 6,3 3,3 0,02 11,6
Pra
ia d
a B
alei
a
Eh (mV) pH T (oC) Fe (F1) Fe (F2) Fe (Total) S (Total) δδδδ13C δδδδ15N C (%) N (%) Indivíduos / cm3 Água Superfície 87,3 8,3 25
Fundo 59,4 8,3 23
Sedimento 1cm -264,1 7,4 50 468,8 518,8 1043 -5,3 9,0 0,4 0,02 874
2cm -331,1 7,3 23,1 54 472,2 526,2 702 -4,5 9,2 0,5 0,02 278
3cm -398,1 7,1 40 392,9 432,7 792 -3,7 10,4 0,7 0,02 211
4cm -455,35 7,2 22,8 28 407,0 435,2 973 -3,0 11,9 0,8 0,02 74
5cm -512,6 7,2 34 309,0 343,1 756 -2,5 12,9 0,7 0,02 73
Máxmo -264,1 7,4 23,1 54,0 472,2 526,2 1043,5 -2,5 12,9 0,8 0,02 874,5
Mínimo -512,6 7,1 22,8 28,2 309,0 343,1 701,6 -5,3 9,0 0,4 0,02 73,1
Média -392,3 7,2 23,0 41,2 410,0 451,2 853,2 -3,8 10,7 0,6 0,02 302,1
Figura 14: Análise de cluster agrupando os pontos de coleta e os meses em que a coleta ocorreu (M-março; J-junho). Praia Seca e Praia da Baleia apresentam proximidade entre si.
A análise de cluster (figura 14), utilizando todas as variáveis medidas,
agrupou os pontos de coleta em dois grandes grupos como mostra o dendograma.
Deste modo foi possível identificar o sedimento de Iguaba Grande como o mais
distinto entre os três pontos. Praia Seca e Praia da Baleia aparecem como sub-
grupos distintos, mas próximos entre si. O mesmo gráfico demonstra que não
houve variação sazonal nas características do sedimento, uma vez que os dados
de cada ponto aproximam-se entre cada período de coleta.
Iguaba Grande (J)Iguaba Grande (M)
Praia da baleia (J)Praia da baleia (M)
Praia Seca (J)Praia Seca (M)
1
2
3
4
5
6
7
8
Link
age
Dis
tanc
e
Figura 13: Sedimentos coletados na Praia Seca (a), Iguaba Grande (b) e Praia da Baleia (c)
A B C
48
5.2 DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL DA POPULAÇÃO
Comparando as populações entre cada um dos pontos (figura 15), a partir
das médias calculadas, observa-se que a maior parcela (88,7%) de todos os
indivíduos quantificados estão concentrados na Praia da Baleia, enquanto que nos
outros dois pontos a densidade populacional apresenta valores menores e
aproximados entre si. Observa-se diminuição (T0= 3,63 e 1,026; Tc= 1,684)
proporcional na população na Praia Seca e em Iguaba Grande no mês de junho,
enquanto que, na Praia da Baleia, é observado aumento (T0= -9,47; Tc= -1,689) de
aproximadamente 60% da população no mesmo mês comparado ao mês de março.
5.3 DISTRIBUIÇÃO VERTICAL DA POPULAÇÃO
Os gráficos da figura 17 mostram que, apesar do número de indivíduos variar
entre os cores coletados e entre seus extratos, um padrão de comportamento da
população pode ser observado em cada ponto. Isto é demonstrado no gráfico onde
são apresentados os valores médios do número de indivíduos totais em cada
extrato de sedimento (figura 16).
A partir dos gráficos das médias de indivíduos por extrato (figura 16),
observa-se que a população distribui-se verticalmente no sedimento. Entretanto
essa distribuição não é uniforme, havendo concentração no número de indivíduos
em alguns extratos, que variam de acordo com cada ponto e com o mês em que foi
realizada a coleta.
Figura 15: Médias do número de Ca. M. multicellularis nos pontos de coleta nos meses de março e junho de 2007
Março
Junho
Março
Junho
0
50
100
150
200
250
300
350
400
Praia Seca Iguaba Grande Praia da baleia
Ind
ivid
ual
s.cm
-3
49
Figura 17: Distribuição vertical da população de Ca. M. multicellularis no sedimento da lagoa de Araruama em três pontos de coleta. As coletas foram realizadas nos meses de março e junho de 2007.
Figura 16: Gráficos das médias da população em cada extrato de sedimento quantificado nos meses de março e junho de 2007
Praia Seca (march)
Individuals.cm -3
0 50 100 150 200 250
Dep
th
1cm
2cm
3cm
4cm
5cm
Praia Seca (june)
Individuals.cm -3
0 20 40 60 80
Dep
th
1cm
2cm
3cm
4cm
5cm
Iguaba grande (march)
Individuals.cm -3
0 20 40 60 80 100 120
1cm
2cm
3cm
4cm
5cm
Praia da Baleia (March)
Individuals.cm -3
0 200 400 600 800
1cm
2cm
3cm
4cm
5cm
Iguaba Grande (june)
Individuals.cm -3
0 20 40 60 80 100
1cm
2cm
3cm
4cm
5cm
Praia da baleia (june)
Individuals.cm-3
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500
1cm
2cm
3cm
4cm
5cm
Average of individuals (march)
Individuals.cm-3
0 50 100 150 200 250 300
Dep
th
1cm
2cm
3cm
4cm
5cm
Praia SecaIguaba grandePraia da Baleia
Average of individuals (june)
Individuals.cm-3
0 200 400 600 8001000
1cm
2cm
3cm
4cm
5cm
50
5.4 FERRO E ENXOFRE
As concentrações de ferro e enxofre obtidas a partir da soma entre as duas
frações estão demonstradas na figura 18. A maior concentração de ferro foi medida
no sedimento da Praia da Baleia, nos outros dois pontos a concentração foi menor,
com valores próximos entre si. A concentração média de ferro diminuiu (tabela 9)
no mês de junho em todos os pontos, provavelmente devido à diminuição de
chuvas neste período que diminui o aporte de material terrestre para a lagoa. O
enxofre manteve seus valores nas duas coletas, nos respectivos pontos,
apresentando maior concentração em Iguaba Grande, possivelmente como
conseqüência do maior aporte de material orgânico advindo do município como
esgoto doméstico.
Figura 18: Concentração média de ferro e enxofre medidos em cinco extratos de sedimento nos
meses de março e junho de 2007.
0100
200
300
400500
600
700
800900
Praia Seca Iguaba Grande Praia da baleia
Fe (m
g/kg
)
0
200
400
600
800
1 000
1 200
1 400
1 600
1 800
2 000
Praia Se ca Iguab a Gran de Praia da baleia
S (
mg
/kg
)
Março
Junho
Março
Junho
51
5.5 CARBONO E NITROGÊNIO TOTAIS
Os valores médios da porcentagem total de carbono (figura 19) medidos nos
sedimentos apresentaram maior valor em Iguaba grande, sofrendo pouca variação
entre as duas coletas neste ponto. O sedimento da Praia Seca apresentou a menor
porcentagem total deste elemento, não sofrendo variação significativa (tabela 9)
entre os dois meses de coleta. Na Praia da Baleia a concentração total de carbono
sofreu queda de aproximadamente 50% no mês de junho.
Os valores médios de nitrogênio total (figura 19) sofreram queda de 65% e
60% no mês de junho nos pontos de Iguaba Grande e Praia da Baleia
respectivamente. Na praia Seca os valores não sofreram variação, apresentando os
menores valores médios comparados aos outros dois pontos.
Figura 19: Concentração média de carbono e nitrogênio totais nos sedimentos coletados nos meses de março e junho de 2007
0.00
0.01
0.02
0.03
0.04
0.05
0.06
0.07
0.08
Praia Seca Iguaba Grande Praia da baleia
N (
%)
0.00.51.01.52.02.53.03.54.04.5
Praia Seca Iguaba Grande Praia da baleia
C (%
)
Março
Junho
Março
Junho
52
5.6 ISÓTOPOS δ13C E δ15N
Os valores médios de δ15N foram menores em Iguaba Grande (figura 20),
sem sofrer variação significativa entres os meses de coleta, mantendo-se próximos
a 6,0. Na Praia Seca em março o valor médio de δ15N foi 9,3 sofrendo queda para
7,4 em junho, indicando que no primeiro mês o material orgânico encontrado no
sedimento sofreu maior processo de degradação antes ou após sua deposição. Na
Praia da baleia, os valores de δ15N apresentaram valores próximos aos da praia
seca, entretanto observa-se aumento nesses valores no mês de junho, sendo esta
amostra a que apresentou maior valor médio total comparado á todas as outras.
Os valores médios de δ13C medidos em todos os pontos variaram entre –0,3
e –5,7 (figura 16) indicando que os valores obtidos desse isótopo correspondem ao
carbono encontrado em carbonatos. Não podendo ser, portanto, utilizado como
traçador de matéria orgânica.
6. DISCUSSÃO
-6,00
-5,00
-4,00
-3,00
-2,00
-1,00
0,00
Praia Seca Iguaba Grande Praia da baleia
13C
/12
C
Figura 20: Médias dos isótopos estáveis de carbono e nitrogênio nos três pontos de coleta nos meses de março e junho de 2007.
Março
Junho
Março
Junho
0
2
4
6
8
10
12
14
Praia Seca Iguaba Grande Praia da baleia
15N
/14N
53
6. DISCUSSÃO
6.1 VARIAÇÕES ESPACIAIS E SAZONAIS NA FOTE DE NUTRIENTES
A tabela 3, referente aos resultados obtidos na correlação de spearman,
mostra correlação significativa entre enxofre e carbono e deste último com Eh e
δ15N. Isto mostra que, do carbono total, parcela majoritária é composta de carbono
orgânico. Como a concentração de 15N tende a aumentar no sedimento em função
da decomposição da matéria orgânica (Martinelli, Piccolo et alii. 1999), sua
presença ocorrerá em maior quantidade em ambientes onde o carbono orgânico foi
liberado na forma de CO2, produto da respiração celular. O que conseqüentemente
torna o ambiente mais redutor, tornando os valores de Eh mais negativos.
A população mostrou maior correlação com a fração 2 do ferro em
comparação a fração 1, mostrando que o ferro utilizado no metabolismo celular
encontra-se no meio extracelular na forma de óxidos de ferro ou monosulfetos.
Como conseqüência da eliminação do nitrogênio, espera-se um
enriquecimento em 15N e uma correlação significativa entre eles, o que não ocorre
(-0,44). Isto indica que nem toda a matéria orgânica que entra no sistema tem a
mesma fonte.
O enxofre apresenta correlação negativa com os valores de Eh, indicando
que a maior parte do enxofre medido encontrava-se na forma de sulfetos em
ambientes com baixa concentração de oxigênio. Ferro possui correlação
significativa, porém inversa, com δ13C, indicando que este último representa o sinal
de carbonatos e possui fonte diferente do ferro, uma vez que o sedimento da lagoa
Tabela 3: Planilha apresentando o resultado referente à correlação de spearman (p < 0,01; n=30)
Eh pH Ferro Total Fe (F1) Fe (F2) Enxofre δδδδ13C δδδδ15N C (%) N (%) População
Eh 1,00 pH 0,42 1,00 Ferro Total 0,08 0,04 1,00 Fe (F1) 0,58 0,28 0,62 1,00 Fe (F2) -0,05 -0,16 0,93 0,38 1,00 Enxofre -0,52 -0,33 0,18 -0,57 0,44 1,00 δδδδ13C -0,41 -0,24 -0,67 -0,86 -0,48 0,43 1,00 δδδδ15N 0,22 -0,17 0,14 0,40 0,04 -0,38 -0,35 1,00 C (%) -0,53 -0,37 0,17 -0,49 0,44 0,87 0,39 -0,53 1,00 N (%) -0,24 0,00 0,61 -0,02 0,74 0,67 -0,17 -0,44 0,75 1,00 População 0,00 -0,21 0,76 0,50 0,73 0,07 -0,56 0,37 0,02 0,29 1,00
54
é rico em carbonato e a única fonte de ferro é produto de intemperismo de material
terrestre. Isto explica o aumento deste durante o período de chuvas e sua escassez
na praia seca e em Iguaba Grande, uma vez que, a única fonte de ferro para essas
praias é o rio das moças e o rio Iguaçaba respectivamente. Estes transportam para
a lagoa o ferro, produto do processo de erosão, na forma de óxidos, hidróxidos e
colóides. Na Praia da Baleia o ferro tem origem no sedimento da encosta à margem
da praia. Seu transporte se dá pelo escoamento de água sobre o solo em períodos
de chuva. O ferro será depositado nas mesmas formas em que ocorrem nos outros
pontos.
O nitrogênio apresenta correlação significativa com ferro, enxofre e carbono,
mas estes dois últimos não apresentam correlação significativa com o ferro,
indicando que parte do nitrogênio possui a mesma fonte que o ferro, isto é, produto
da erosão. Outra parte do nitrogênio total, pode ser depositada como nitrogênio
orgânico autóctone ou esgoto. Esta correlação é mais evidente no sedimento
coletado na Praia da Baleia nas duas coletas (R2= 0,82; n=10), mostrando que a
matéria orgânica advinda de material terrestre, para este ponto, tem maior
contribuição para sua concentração total (figura 21).
Figura 21: Correlação entre nitrogênio e ferro. a) Considera todos os extratos quantificados. b) Considera somente os extratos quantificados na Praia da Baleia nos meses de março e junho (r2= 0,82; n=10)
0
0,01
0,020,030,04
0,05
0,06
0,070,08
0,0 200,0 400,0 600,0 800,0 1000,0
Fe (mg/kg)
N (
%)
a)
b)
00,010,020,030,040,050,060,070,08
20,0 220,0 420,0 620,0 820,0 1020,0
Ferro (mg/kg)
N (
%)
Praia Seca
Iguaba Grande
Praia da baleia
março
junho
Praia Seca
Iguaba Grande
Praia da baleia
março
junho
Praia Seca
Iguaba Grande
Praia da baleia
março
junho
Praia Seca
Iguaba Grande
Praia da baleia
março
junho
55
A distribuição de valores correlacionados entre C(%) e N(%) (Figura 22),
mostra que cada ponto apresentou características distintas sobre a proporção
relativa entre esses dois elementos. No gráfico (figura 22), observam-se
agrupamentos de pontos, que correspondem a cada coleta realizada. O mesmo
ocorre com a correlação entre nitrogênio e ferro (Figura 21a).
Na Praia Seca a relação entre eles mantém valores baixos e proporcionais
nas duas coletas, este ponto, portanto, sofreu menos variação em função da
freqüência de chuvas e da descarga de esgoto sobre a lagoa. Neste ambiente
prevalece a fonte de matéria orgânica advinda da produção primária realizada pelo
fitoplâncton (autóctone).
O ponto de Iguaba Grande apresentou grandes concentrações de ambos os
elementos no mês de março. Entretanto, os valores de nitrogênio sofreram queda
desproporcional em relação à concentração de carbono no mês de junho, sugerindo
que, neste momento, houve diminuição na concentração de nitrogênio devido à sua
liberação na forma de gases, produtos da decomposição orgânica. Esta
decomposição pode ocorrer no sedimento, após a deposição do material orgânico,
ou durante seu transporte para a lagoa. A afirmativa é corroborada pelo aumento na
concentração de δ15N nesta mesma coleta.
Na Praia da Baleia, houve diminuição na concentração de ambos os
elementos no mês de junho, acompanhada de aumento na concentração de δ15N
indicando que neste mês, o ambiente recebeu menos material orgânico fresco,
diminuindo sua concentração total e aumentando seu tempo de residência na
00,010,020,030,040,050,060,070,08
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5C (%)
N (
%)
Figura 22: Correlação entre carbono e nitrogênio considerando todos os extratos quantificados.
Praia Seca
Iguaba Grande
Praia da baleia
março
junho
Praia Seca
Iguaba Grande
Praia da baleia
março
junho
Praia Seca
Iguaba Grande
Praia da baleia
março
junho
Praia Seca
Iguaba Grande
Praia da baleia
março
junho
56
região superficial do sedimento. Isto permitiu sua decomposição prolongada pela
comunidade microbiana residente nesta mesma região.
Observa-se também que, nesta mesma coleta, houve diminuição na
concentração de nitrogênio em comparação às concentrações de carbono e ferro
(Figuras 18 e 19), indicando maior perda proporcional de nitrogênio, em relação aos
outros dois.
A fonte de matéria orgânica para os três pontos de coleta não sofreu
mudança entre os dois períodos, sofrendo apenas, diminuição na concentração do
material orgânico total depositado sobre o sedimento.
Os valores de Eh e pH medidos na água da lagoa nos meses de março e
junho, assim como os valores de carbono, nitrogênio e δ15N (Tabelas 1 e 2),
mostram que menos material orgânico fresco foi depositado no sedimento durante o
período seco, que também corresponde ao período de menor atividade turística nos
municípios em torno da lagoa.
Neste período a lagoa aumentou sua produção primária, aumentando a
concentração de oxigênio na água. A matéria orgânica aumentou seu tempo de
residência na região superficial do sedimento, o que explica o aumento (tabela 9)
da concentração de δ15N na Praia da Baleia e em Iguaba Grande no referido
período (Figura 20). A tendência inversa para esta variável, observada na Praia
Seca indica que, no período seco, maior quantidade de material orgânico autóctone
(fitoplâncton) está sendo depositado sobre o sedimento.
Os valores de δ13C tornaram-se menos negativos (tabela 9) nos pontos de
Iguaba Grande e Praia da baleia no período seco (figura 20) indicando que há
maior concentração de carbono na forma de carbonato, o que pode ocorrer como
conseqüência do consumo de CO2 pelo fitoplâncton (Meyers, 2003).
6.2 DIAGÊNESE DE FERRO E ENXOFRE
O gráfico da figura 19 mostra que há regressão linear inversa entre os
valores médios de enxofre e Eh em cada ponto apresentou valor significativo (R2=-
0,7; n=6), o que havia sido observado previamente pela correlação de spearman
(Tabela 3), indicando que as espécies de enxofre medidas estão na forma de
sulfetos em ambientes redutores podendo, portanto, interagir com o ferro reativo de
57
acordo com as variações físico-químicas e da concentração relativa de ambos. A
distribuição vertical desses dois elementos no sedimento permite observar mais
detalhadamente a forma como estes interagem entre si (Figura 24).
Na Praia Seca observa-se que o enxofre sofre aumento com a profundidade,
enquanto a concentração de ferro não sofre mudança significativa (tabela 9) em sua
distribuição vertical. Isto indica que a interação entre esses dois elementos não se
dá de forma expressiva e que pouco sulfeto de ferro estável está sendo formado
com a profundidade. O que explica o aumento na concentração de enxofre nos
extratos mais redutores.
Em Iguaba Grande, o ferro, assim como na Praia Seca, não sofre variação
significativa com a profundidade. O enxofre, que é encontrado em concentrações
bem maiores, sofre queda nos primeiros centímetros de profundidade e depois, um
pequeno aumento. Podendo indicar que formas de sulfetos mais estáveis estão se
formando nos primeiros centímetros mas, possivelmente, devido à escassez de
ferro, deixam de ser formados poucos centímetros abaixo. Os valores da
concentração de ferro, em sua distribuição vertical, não acompanham as variações
esses dois elementos neste ambiente.
No mês de março, as concentrações de ferro e enxofre aumentam com a
profundidade na Praia da Baleia, enquanto que no mês e junho a concentração de
ambos diminui no mesmo sentido. É possível observar, a forte interação entre
esses dois elementos neste ambiente, uma vez que a concentração de ferro é
maior e as distribuições verticais das concentrações de ambos sofrem variações
mais aproximadas entre si. Entretanto, no mês de março, alguma variável, parece
desfavorecer a formação de pirita, pois a concentração de ferro disponível para sua
0,0
300,0
600,0
900,0
1200,0
1500,0
1800,0
-500,0-400,0-300,0-200,0
Eh (mV)
S (
mg
/kg
)
Figura 23: Correlação entre as média de enxofre e Eh em cada ponto.
58
Figura 24: Distribuição vertical da concentração de ferro e enxofre nos sedimentos coletados em três pontos da lagoa de Araruama nos meses de março e junho de 2007.
Praia Seca (março)
mg/kg
0 100 200 300 400 500 600 700 800
Pro
fund
idad
e
1cm
2cm
3cm
4cm
5cm
Iguaba Grande (março)
mg/kg0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000
Pro
fund
idad
e
1cm
2cm
3cm
4cm
5cm
Praia da Baleia (março)
mg/kg
400 500 600 700 800 900 1000
Pro
fund
idad
e
1cm
2cm
3cm
4cm
5cm
Praia Seca (junho)
mg/kg0 100 200 300 400 500 600
Pro
fund
idad
e
1cm
2cm
3cm
4cm
5cm
Iguaba Grande (junho)
mg/kg
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800
Pro
fund
idad
e1cm
2cm
3cm
4cm
5cm
Praia da baleia (junho)
mg/kg300 400 500 600 700 800 900 1000 1100
Pro
fund
idad
e
1cm
2cm
3cm
4cm
5cm
Ferro
Enxofre
Ferro
Enxofre
59
formação aumenta em direção a um ambiente mais redutor. Esta variável pode ser
a concentração de enxofre. Isto porque o aumento, com a profundidade, da razão
ocorridas nas concentrações de enxofre, o que representa fraca interação entre
entre as concentrações de ferro e enxofre (Fe/S), indica que a alta concentração de
ferro em relação à concentração de enxofre, permite que parte do ferro não seja
depositado na forma de sulfetos, permanecendo no meio em formas mais reativas.
No mês de junho, a queda nos valores da concentração de ambos, mostra o
perfil esperado para sedimentos onde há formação de pirita (Canfield, 1989). Isto
porque, nestes ambientes, o ferro e o enxofre tendem a ser depositados na forma
de pirita, o que leva à queda na concentração destes, em suas formas mais
reativas, nas regiões mais profundas do sedimento. Evidenciando que, entre os
sedimentos coletados, o da Praia da Baleia do mês de junho, é o mais favorável,
para a formação de sulfetos de ferro.
6.3 OCORRÊNCIA DE Canditdatus Magnetoglobus Multicellularis
6.3.1 Teores de ferro e enxofre e a densidade populacional
A concentração de ferro apresentou correlação significativa com o número
de indivíduos da população (r2=0,97; n=5), com exceção do ponto coletado na Praia
da baleia em junho (figura 25b). Isto indica que o ferro, nos pontos da Praia Seca,
Iguaba Grande e na Praia da Baleia no mês de março, está atuando como fator
limitante para o crescimento populacional. Entretanto, no mês de junho, na Praia da
Baleia, apesar de haver redução na concentração de ferro, houve aumento
populacional, o mesmo ocorrendo com a concentração de enxofre. Propondo que,
neste ponto, a fonte de enxofre pode estar sendo limitante pra o
crescimento populacional. Isto é melhor observado quando comparamos as razões
entre as concentrações destes dois elementos. Em março a razão entre as médias
de ferro e enxofre é igual à 0,8 enquanto que, no mês de junho, este valor cai para
0,5. Nos outros pontos essa razão é menor ou igual a 0,3 (tabela 4). O gráfico da
figura 25a apresenta a correlação entre a razão Fe / S e a população em cada
extrato dos sedimentos analisados.
60
6.3.2 Zoneamento ecológico determinado por parâmetros físico-
químicos
A distribuição vertical da população de Ca. M. multicellularis em todos os
cores analisados, comparada com os valores de Eh e pH medidos nos respectivos
extratos de sedimento mostra que, mais de 90% da população total, se encontra
Figura 25: a) Correlação entre a população e a razão Fe / S em todos os extratos de sedimento analizados. b) Correlação entre a população de Canditdatus Magnetoglobus multicullularis quantificados e a concentração média de ferro em cada ponto nas duas coletas, com exceção do ponto referente à coleta realizada na Praia da baleia em junho.
R2 = 0,875
0,020,040,060,080,0
100,0120,0140,0
0,0 200,0 400,0 600,0 800,0Fe (mg/kg)
Ind
ivíd
uo
s/cm
3
Março Junho Praia Seca 0,24 0,15
Iguaba Grande 0,20 0,06 Praia da Baleia 0,81 0,53
Tabela 4: Razão entre as médias de ferro e enxofre em cada ponto
R2 = 0,495
0
50
100
150
200
250
300
0,00 0,50 1,00 1,50
Fe / S
Ind
ivíd
uo
s / c
m3
a)
b)
61
dentro de um limite de valores de Eh, que variam entre –260mV e –460mV e de
valores de pH, que variam entre 7,0 e 8,0 (figura 26).
Os gráficos da figura 27 mostram que, a população de Canditdatus
Magnetoglobus multicullularis não se distribui uniformemente ao longo de seu perfil
vertical no sedimento. Em alguns extratos pode haver concentração de até 60% do
número de indivíduos quantificados no respectivo ponto. A população concentra-se
em diferentes profundidades, de acordo com o local e com o mês em que foram
coletadas. Isto mostra sua capacidade de deslocar-se verticalmente em resposta às
variações ocorridas nas condições ambientais, comuns nesta região do sedimento.
Na praia da Baleia ocorrem dois picos bem definidos com valores de 47% e
60% em março e junho respectivamente. Nos outros pontos, a maior concentração,
com 48% da população, acorreu na Praia Seca em março. Sendo assim, a coleta
Figura 26: Distribuição da população de Canditdatus Magnetoglobus Multicullularis em função dos parâmetros físico-químicos no sedimento da Lagoa de Araruama, RJ. Foram utilizados valores obtidos nas medidas realizadas em todas as amostras dos extratos de sedimento.
62
realizada na Praia da Baleia em junho apresentou o maior número total de
indivíduos e a maior concentração destes em um único extrato.
Com o objetivo de identificar as condições ambientais que caracterizam os
extratos onde ocorre a concentração populacional de Canditdatus Magnetoglobus
multicullularis, os valores de pH e Eh medidos nestes extratos foram marcados em
um gráfico onde são caracterizadas as espécies de ferro formadas em função
destas variáveis (figura 28).
Com exceção do ponto referente à coleta realizada na Praia da baleia em
junho (preto), todos os outros pontos mostrados no gráfico (brancos) localizam-se
bem próximos entre si. Isto mostra que as células apresentam alto grau de
sensibilidade às condições físico-químicas do meio.
A área retangular demarcada com a linha branca, referente aos limites onde
são encontrados mais de 90% de todos os indivíduos quantificados, mostra que a
população de Ca. M. multicellularis, limita-se a um ambiente em que a formação de
cristais de pirita é favorecida pelas condições físico-químicas. Estando a maior
parte dos indivíduos localizados na região de transição entre monosulfetos de ferro
e pirita, isto é, onde há a formação de greigita.
Figura 27: Distribuição percentual da população de Canditdatus Magnetoglobus multicullularis ao longo do perfil vertical do sedimento nos três pontos de coleta nos meses de março e junho de 2007.
0.0 20.0 40.0 60.0
1cm
2cm
3cm
4cm
5cm
Dep
th
0.0 20.0 40.0 60.0
1cm
2cm
3cm
4cm
5cm
0.0 20.0 40.0 60.0
1cm
2cm
3cm
4cm
5cm
Praia seca Iguaba Grande Praia da baleia
% %%0.0 20.0 40.0 60.0
1cm
2cm
3cm
4cm
5cm
Dep
th
0.0 20.0 40.0 60.0
1cm
2cm
3cm
4cm
5cm
0.0 20.0 40.0 60.0
1cm
2cm
3cm
4cm
5cm
Praia seca Iguaba Grande Praia da baleia
% %%
63
O ponto referente à coleta realizada na Praia da Baleia em junho mostra
que a população está localizada numa região menos reduzida, que no gráfico, está
localizada próxima à zona de sulfato redução
.
6.3.3 Magnetotaxia versus limitação de nutrientes
A análise de cluster (figura 29) realizada no ponto da praia da baleia mostra
que, diferente do que ocorre nos outros dois pontos, a população aparece
diretamente associada ao enxofre. Estas observações indicam que as células, em
condições onde não há escassez de ferro, buscam a região do sedimento onde há
maior disponibilidade de enxofre e onde este enxofre pode ser usado como fonte de
energia metabólica através de sua redução ou oxidação (Abreu, Martins et alii.
2007)
Figura 28: Gráfico de pH e Eh mostrando as espécies de ferro formadas em ambiente aquoso à 25oC. Os campos em escala de cinza representam a estabilidade da pirita (FeS2) com concentrações de Fe e S totais variando entre 10-7
m e 10-1m (Butler e Rickard 2000). As linhas
tracejadas mostram os limites de valores medidos nos sedimentos coletados. A área em branco representa a região onde são encontrados 91,3% da população de Canditdatus Magnetoglobus Multicullularis quantificados. Os pontos em branco e preto indicam os valores medidos nos extratos onde ocorrem as concentrações populacionais em sua distribuição vertical no sedimento.
64
A concentração de nitrogênio total e do isótopo δ15N também exerce
influência sobre o comportamento populacional. O gráfico que correlaciona essas
três variáveis, no mês de junho (figura 31), mostra que a população de Ca. M.
multicellularis, concentrou-se em grande número na região onde há maior
concentração de nitrogênio e menor concentração de δ15N.
A gráfico da figura 30a mostra que há regressão exponencial inversa (R2=
0,82; n=5) entre o número de indivíduos e os valores de δ15N medidos em cada
extrato de sedimento no mês de junho. A regressão inversa (figura 30b) entre os
valores de nitrogênio total e os valores de δ15N (R2= 0,86; n=5) é esperada, uma
vez que a comunidade microbiana tende a consumir o nitrogênio mais leve (14N), e
concentrar o 15N na região do sedimento onde a matéria orgânica sofreu maior
degradação. Portanto, no sedimento coletado no mês de junho, a matéria orgânica
mais degradada encontra-se no fundo, estando o material orgânico recém
depositado na superfície.
Figura 29: Análise de cluster realizada com as variáveis medidas na Praia da baleia nos meses de março e junho de 2007
15N13C
PopulaçãoEnxofre
Fe (F2)Fe (F1)
CarbonoNitrogênio
FerropH
Eh0
2
4
6
8
10
12
Link
age
Dis
tanc
e
65
Sendo assim, no mês de junho, a população de Canditdatus Magnetoglobus
Multicullularis quantificada no sedimento coletado na Praia da Baleia, apresentou
crescimento desproporcional comparado às outras amostras e concentrou-se, em
sua maioria, no primeiro centímetro de profundidade, onde está localizada a zona
de transição oxica-anóxica.
R2 = 0,8639
0
0,005
0,01
0,015
0,02
0,025
5,00 10,00 15,0015N/14N
Nit
rog
ênio
To
tal
Figura 31: Distribuição da população de Canditdatus Magnetoglobus Multicullularis em função dos valores de δ15N e Nitrogênio total medidos nos extratos de sedimento coletados na Praia da baleia no mês de junho de 2007.
Figura 30: a) Correlação entre a população de Canditdatus Magnetoglobus Multicullularis e os valores de δ15N; b) Correlação entre Nitrogênio total e δ15N. As medidas foram realizadas nos extratos de sedimento coletados na Praia da baleia no mês de junho de 2007.
R2 = 0,8228 exp
0
200400600
8001000
1200
5,0 10,0 15,015N/ 14N
Ind
ivíd
uo
s / c
m3
66
Esta região é caracterizada pelo grande número de reações de oxidação e
redução que são, em sua maioria, intermediadas pela atividade metabólica de
microrganismos e pelo intenso processo de decomposição da matéria orgânica
depositada sobre o sedimento. Esta região seria, portanto, um ambiente favorável
para a obtenção de nutrientes e para a redução do sulfato, utilizado na respiração
de Ca. M. Multicellularis.
67
7. CONCLUSÃO
A população de Canditdatus Magnetoglobus multicellularis mostrou variação
sazonal, aparecendo em maior quantidade no mês de março, correspondente ao
período de verão. Neste período também há maior transporte de ferro para a lagoa
sugerindo que a disponibilidade de ferro limita o crescimento populacional em
sedimentos carbonatados. Dos pontos coletados, a praia da baleia é o único que
não apresenta este tipo de sedimento e neste ponto, o ferro não atua como
limitante para o crescimento da população, neste caso, o fator limitante é a
disponibilidade de nutrientes como nitrogênio e enxofre.
O deslocamento vertical mostrou sensibilidade aos valores de pH e Eh,
permitindo à população concentrar-se em limites e de valores referentes às
condições físico-químicas favoráveis à formação de sulfeto de ferro. Deste modo as
condições ambientais parecem favorecer a manutenção dos cristais no citoplasma.
O campo magnético pode ser, então, utilizado como eixo de deslocamento para a
célula, que se move em direção a estas condições.
Em situações onde a concentração de nutrientes limita o crescimento da
população ou afetam a estabilidade desta, os indivíduos podem deslocar-se para
regiões onde estes estão disponíveis em maiores concentrações. O ferro utilizado
no metabolismo de Canditdatus Magnetoglobus multicellularis encontra-se, no meio
extracelular, na forma de óxidos ou monosulfetos. O ferro orgânico, carbonatos ou
silicatos influenciam de forma menos significativa sobre a população.
A presença de Canditdatus Magnetoglobus multicullularis pode indicar
ambientes onde a formação de sulfetos de ferro está ocorrendo e pode interferir na
retenção de ferro e enxofre no sedimento, entretanto estudos mais aprofundados
precisam ser realizados nesse sentido.
68
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72
APÊNDICE
Março Junho Hora 09:15 Hora 10:00 Vento SE Brisa Vento Fraco NE GPS S 22o 55`31,1`` GPS S 22o 55`31,1``
W 42o 15`14,2`` W 42o 15`14,2``
Água Superfície Temperatura (oC) 29,1 Água Superfície Temperatura (oC) 24,3 Salinidade (ppt) 54,7 Salinidade (ppt) 52,4 O2 (%) 101,20% O2 (%) 122,90%
Condutividade
(ms) 78,1 Condutividade
(ms) 76,3 Fundo Temperatura (oC) 28,9 Fundo Temperatura (oC) 22,9 Salinidade (ppt) 54,7 Salinidade (ppt) 53 O2 (%) 95,40% O2 (%) 135,20%
Condutividade
(ms) 78,2 Condutividade
(ms) 76,3 pH Eh (mV) pH Eh(mV)
Água Superfície 8,963 -109,4 Água Superfície 8,379 102,1 Fundo 8,972 -134 Fundo 8,395 122
Sedimento 0 a 2cm 7,462 -345,7 Sedimento 0 a 2cm 8,314 69,8 2 a 4cm 7,772 -410,5 2 a 4cm 8,054 -408
4 a 6cm 7,65 -425 4 a 6cm 7,606 -442
Tabela 5: Dados de campo medidos na Praia Seca
74
Março Junho Hora 12:00 Hora 12:00 Vento SE moderado Vento Fraco NE GPS S 22o 50`23,1`` GPS S 22o 50`23,1``
W 42o 13`0,01`` W 42o 13`0,01``
Água Superfície Temperatura (oC) 32,3 Água Superfície Temperatura (oC) 25,2 Salinidade (ppt) 54,1 Salinidade (ppt) 53,4 O2 (%) 205,5 O2 (%) 157,8
Condutividade
(ms) 78,1 Condutividade
(ms) 76,7 Fundo Temperatura (oC) 31,4 Fundo Temperatura (oC) 24,4 Salinidade (ppt) 54,5 Salinidade (ppt) 53,7 O2 (%) 205,4 O2 (%) 167,9
Condutividade
(ms) 78,3 Condutividade
(ms) 73,3
pH Eh (mV) pH Eh(mV) Água Superfície 9,095 31,3 Água Superfície 8,397 123,9
Fundo 9,107 -36,8 Fundo 8,432 118,2 Sedimento 0 a 2cm 7,839 -420,9 Sedimento 0 a 2cm 7,23 -396,4
2 a 4cm 7,424 -493 2 a 4cm 7,018 -456,7
4 a 6cm 8,131 -501 4 a 6cm 7,064 -518,2
Tabela 6: Dados de campo medidos em Iguaba Grande.
75
Março Junho Hora 14:40 Hora 14:00
Vento SE moderado
forte Vento Moderado NE GPS S 22o 52`47,9`` GPS S 22o 52`47,9``
W 42o 6`59,4`` W 42o 6`59,4``
Água Superfície Temperatura (oC) 31,5 Água Superfície Temperatura (oC) 25 Salinidade (ppt) 53,2 Salinidade (ppt) 53,3 O2 (%) 170,3 O2 (%) 166,4
Condutividade
(ms) 77 Condutividade
(ms) 76,8 Fundo Temperatura (oC) 31,2 Fundo Temperatura (oC) 23 Salinidade (ppt) 53,4 Salinidade (ppt) 53,7 O2 (%) 208,9 O2 (%) 147,7
Condutividade
(ms) 77,2 Condutividade
(ms) 76,9
pH Eh (mV) pH Eh(mV) Água Superfície 9,084 15 Água Superfície 8,345 87,3
Fundo 9,082 -92 Fundo 8,32 59,4 Sedimento 0 a 2cm 8,61 -205 Sedimento 0 a 2cm 7,403 -264,1
2 a 4cm 7,66 -392 2 a 4cm 7,101 -398,1
4 a 6cm 7,62 -445 4 a 6cm 7,215 -512,6
Tabela 7: Dados de campo medidos na Praia da Baleia
76
Março Enxofre Ferro Junho Enxofre Ferro
Pra
ia S
eca
F1 F2 F1 + F2 F1 F2 F1 + F2
Pra
ia S
eca
F1 F2 F1 + F2 F1 F2 F1 + F2 1cm 367 2 370 84,1 72,3 156,4 1cm 431 1 432 15 61,4 75,9 2cm 429 2 431 42,9 77,9 120,8 2cm 568 2 570 13 58,3 71,2 3cm 700 3 703 29,0 70,2 99,2 3cm 441 1 441 17 61,5 78,3 4cm 448 2 450 40,9 70,1 111,1 4cm 522 2 524 21 58,2 79,5 5cm 525 4 529 34,3 64,4 98,7 5cm 510 0 510 15 42,7 57,8
Igu
aba
Gra
nd
e
Igu
aba
Gra
nd
e 1cm 1286 539 1825 4,4 240,8 245,3 1cm 1286 429 1715 4,4 80,2 84,6 2cm 1133 155 1288 13,5 369,2 382,7 2cm 1141 409 1550 0,8 90,2 91,0 3cm 1152 308 1461 1,5 283,1 284,6 3cm 949 405 1354 0,4 74,3 74,7 4cm 1236 297 1533 4,8 398,9 403,7 4cm 1033 341 1374 1,3 76,4 77,8 5cm 1175 330 1505 2,6 225,9 228,5 5cm 1009 419 1428 0,7 91,7 92,4
Pra
ia d
a B
alei
a
Pra
ia d
a B
alei
a 1cm 762 16 778 91,2 430,2 521,4 1cm 1031 13 1043 50 468,8 518,8 2cm 727 15 742 83,8 390,4 474,2 2cm 683 18 702 54 472,2 526,2 3cm 789 28 817 68,7 615,1 683,8 3cm 765 27 792 40 392,9 432,7 4cm 749 31 780 40,5 607,5 647,9 4cm 955 18 973 28 407,0 435,2 5cm 840 34 875 83,5 816,8 900,3 5cm 744 13 756 34 309,0 343,1
Tabela 8: Valores da concentração (mg/kg) de ferro e enxofre nos três pontos de coleta nos meses de março e junho. As fracões foram obtidas por extração seqüencial (ver materiais e métodos)
77
Março Junho
Variável Média n Variância Média n Variância T calculado T tabelado
Praia Seca População 24,90 25 1055,67 6,71 20 126,15 3,63 1,684
Ferro 117,24 5 562,29 72,56 5 78,32 7,87 2,02
Enxofre 496,48 5 16591,52 495,60 5 3376,61 0,03 2,02
13C / 12C -2,93 10 2,53 -2,78 10 1,18 0,74 1,73
15N / 14N 9,28 10 7,83 7,35 10 0,84 6,23 1,73
% C 0,37 10 0,02 0,32 10 0,01 2,50 1,73
% N 0,01 10 0,00 0,01 10 0,00 0,00 1,73
Iguaba Grande População 19,02 25 661,78 11,55 15 272,90 1,026 1,584
Ferro 308,95 5 6385,80 84,09 5 61,26 12,52 2,02
Enxofre 1522,45 5 37698,58 1484,24 5 22405,13 0,70 2,02
13C / 12C -2,08 5 0,13 -0,34 9 0,04 26,24 1,78
15N / 14N 5,59 5 0,13 7,03 9 0,51 -11,25 -1,78
% C 3,19 5 0,13 3,63 9 0,43 -3,67 -1,78
% N 0,06 5 0,00 0,02 9 0,00 0,00 1,78
Praia da Baleia População 121,02 25 18071,29 313,65 25 230384,36 -9,47 -1,689
Ferro 645,54 5 27785,40 84,09 5 61,26 15,05 2,02
Enxofre 798,30 5 2512,14 853,20 5 21646,92 -1,58 -2,02
13C / 12C -5,66 10 4,90 -3,80 10 2,02 10,39 1,73
15N / 14N 7,38 10 1,37 10,67 10 3,07 -14,82 -1,73
% C 1,11 10 0,41 0,62 10 0,04 7,00 1,73
% N 0,05 10 0,00 0,02 10 0,00 0,00 1,73
Tabela 9: Dados referentes ao teste de hipótese relizado com todas as variáveis entre os meses de março e junho de 2007.