centro de ciÊncias biolÓgicas e da saÚde pÓs … · 2017-11-25 · cognitive and neurochemical...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FISIOLÓGICAS
MARINA FREIRE DE SOUZA
ALTERAÇÕES MOTORAS, COGNITIVAS E
NEUROQUÍMICAS CAUSADAS PELA ADMINISTRAÇÃO
REPETIDA DA DELTAMETRINA EM RATOS
SÃO CRISTÓVÃO
2015
i
MARINA FREIRE DE SOUZA
ALTERAÇÕES MOTORAS, COGNITIVAS E
NEUROQUÍMICAS CAUSADAS PELA ADMINISTRAÇÃO
REPETIDA DA DELTAMETRINA EM RATOS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas da Universidade Federal de Sergipe como requisito à obtenção do grau de Mestre em Ciências Fisiológicas.
Orientador: Prof. Dr. José Ronaldo dos
Santos.
Coorientador: Prof. Dr. Murilo Marchioro.
SÃO CRISTÓVÃO
2015
ii
MARINA FREIRE DE SOUZA
ALTERAÇÕES MOTORAS, COGNITIVAS E
NEUROQUÍMICAS CAUSADAS PELA ADMINISTRAÇÃO
REPETIDA DA DELTAMETRINA EM RATOS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas da Universidade Federal de Sergipe como requisito à obtenção do grau de Mestre em Ciências Fisiológicas.
Orientador: Prof. Dr. José Ronaldo dos
Santos.
Coorientador: Prof. Dr. Murilo Marchioro.
_________________________________________________________
Prof. Dr. José Ronaldo dos Santos (UFS)
Orientador (Presidente da Banca)
_________________________________________________________
Prof.ª Drª Regina Helena da Silva (UNIFESP)
1° Examinador (Avaliador externo)
_________________________________________________________
Prof. Dr. Luís Felipe Souza da Silva (UFS) 2° Examinador (Avaliador interno)
iii
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus e a todos que me ajudaram a chegar até aqui e em todas as etapas
da minha vida. Obrigada meu Deus por ter me dado forças para largar tudo e encarar
o mestrado que tanto batalhei e por me encorajar a enfrentar os obstáculos durante o
curso.
Agradeço a meus pais que sempre me apoiaram nas minhas decisões, mostrando que
o estudo é a maior ferramenta que o homem pode adquirir e é através dele que as
oportunidades surgem. Eles me ensinaram a enfrentar a vida com ética, respeito e
amor.
Ás minhas irmãs Julianna e Luiza por serem um exemplo diário de dedicação e
esforço, que é incentivador.
Ao meu orientador e amigo, Dr. José Ronaldo dos Santos, que realmente foi um
orientador, ensinando cada passo deve ser seguido com paciência, apoio e
transmitindo conhecimento em todos os momentos. Um exemplo de determinação a
ser seguido.
Ao meu coorientador, Dr. Murilo Marchioro, que passou por sérios problemas de
saúde, mas que continua firme e forte nos ajudando sempre.
Agradeço a banca PROASA, que acompanhou cada etapa da pesquisa, criticando de
forma construtiva para o crescimento do trabalho.
À família do laboratório de Neurofisiologia da UFS, principalmente a Katty Anne, Lívia
Lins, Rachel Cintra, Polyana Leal, Auderlan Gois, Marcos Bispo e Luciano Gois que
sempre me apoiaram e ajudaram quando foi necessário e por tornar o laboratório um
ambiente estimulador nesses 2 anos e nos próximos anos (com fé em Deus).
Ao meu grande amor Venâncio Luiz por ter me suportado, pela paciência nos finais
de semana de experimentos e durante toda caminhada.
Por fim, agradeço a todos os professores do PROCFIS-UFS, pelo ensinamento
transmitido e a CAPES, pela bolsa de mestrado concedida.
iv
RESUMO
ALTERAÇÕES MOTORAS, COGNITIVAS E NEUROQUÍMICAS CAUSADAS PELA
ADMINISTRAÇÃO REPETIDA DA DELTAMETRINA EM RATOS, Marina Freire de
Souza, São Cristóvão, 2015.
Estudos tem demonstrado que a exposição a pesticidas é um fator de risco para o
desenvolvimento da doença de Parkinson (DP) em áreas urbanas e principalmente
em áreas rurais. Um desses pesticidas, a deltametrina (DM), é utilizada
indiscriminadamente no controle de vetores na lavoura, na medicina veterinária e no
controle de pestes domésticas. Diante disso, o objetivo da pesquisa é avaliar as
alterações motoras, cognitivas e neuroquímicas causadas pela administração repetida
da DM em ratos. Foram utilizados 38 ratos Wistar machos, com idade entre 9-10
meses, provenientes do Biotério do Laboratório de Neurofisiologia da UFS. O trabalho
foi dividido em dois experimentos: (1) administração intranasal (i.n.) e (2)
intracerebroventricular (i.c.v.) de DM. No experimento 1 (intranasal), os animais foram
divididos em 2 grupos: controle (CTR, solução salina 0,9%, n=9) e DM 0,5 (tratados
com DM 0,5 mg, n=10), que receberam 3 infusões intranasais administradas 1 a cada
7 dias. Durante o tratamento, os animais foram submetidos a testes comportamentais:
catalepsia, reconhecimento de objeto novo, alternação espontânea e medo
condicionado ao contexto. No experimento 2 (i.c.v.), os animais foram divididos em 3
grupos: controle (CTR, n=7), DM 0,5 (tratados com DM 0,5 µg em 2 µL, n=7) e DM 5
(tratados com DM 5 µg em 2 µL, n=5). Nessa etapa, os animais receberam 3 injeções
i.c.v. (2 µL por injeção), uma a cada 48h. Ao longo do tratamento, os ratos foram
avaliados nos testes da catalepsia, campo aberto e alternação espontânea. Após os
testes de comportamento em ambos experimentos, os ratos foram anestesiados,
perfundidos, seus cérebros removidos e submetidos a imunohistoquímica para
Tirosina Hidroxilase (TH) na substância negra parte compacta, área tegmental ventral
e estriado dorsal. Foi observado no experimento i.n. que houve alterações motoras no
campo aberto e cognitivas no reconhecimento de objeto novo e no medo condicionado
ao contexto. A imunohistoquímica mostrou redução de células TH+ na SNpc e VTA e
aumento de TH+ no estriado dorsal. No experimento i.c.v., foram observadas
alterações motoras no campo aberto e cognitivas na alternação espontânea. Na
imunohistoquímica houve diminuição de células TH+ nos animais DM 5 µg na SNpc e
em VTA e redução de seus níveis nos grupos DM 0,5 µg e DM 5 µg no estriado dorsal.
Em ambos os experimentos, alterações cognitivas precederam as alterações motoras.
Os dados apresentados contribuem no entendimento sobre alterações fisiológicas e
comportamentais após exposição a DM e mais estudos deverão ser realizados para
elucidar a DM como um possível causador de sintomas de parkinsonismo.
Palavras-chave: Parkinsonismo, pesticidas, piretróides e dopamina.
v
ABSTRACT
MOTOR, COGNITIVE AND NEUROCHEMICAL CHANGES CAUSED BY
REPEATED ADMINISTRATION OF DELTAMETHRIN IN RATS, Marina Freire de
Souza, São Cristóvão, 2015.
Studies have shown that pesticide exposure is a risk factor to Parkinson Disease (PD)
development in urban areas and mainly in rural areas. One of these pesticides,
Deltamethrin (DM), is used indiscriminately for vector control in crops, veterinary
medicine and control of domestic pests. The aim of the study is investigate the motor,
cognitive and neurochemical changes caused by repeated administration of DM in rats.
38 Male Wistar rats were used, 9-10 months-old, from the Neurophysiology Laboratory
animal house of UFS. The study was divided into two experiments: (1) intranasal (i.n.)
and (2) intracerebroventricular (i.c.v.). In the (1), the animals were divided into 2 groups
(CTR, 0.9% saline solution, n=9) and DM 0.5 (treated with DM 0.5 mg, n=10), that
received 3 infusions administrated one every 7 days. During the treatment, the animal
were subjected to behavior test: catalepsy, novel object recognition task, spontaneous
alternation and contextual conditioned fear. In i.c.v. experiment, the animals were
divided into 3 groups: control (CTR, n=7); DM 0.5 (treated with DM 0.5 µg diluted in 2
µL, n=7) and DM 5 (treated with DM 5 µg diluted in 2 µL, n=5). In the experiment (2),
the animals received 3 i.c.v. injections (2 µL/injection), one each 48 hours. During the
treatment, the rats were submitted to behavior test: catalepsy, open field test and
spontaneous alternation. After the behavior tests of both experiments, the rats were
anesthized, perfused transcardially, their brains removed and submitted to Tyrosine
Hydroxylase (TH) immunochemistry in Substancia Nigra pars compacta (SNpc),
Ventral Tegmental Area (VTA) and dorsal striatum areas. In i.n. experiment, there were
motor changes in open field and cognitive changes in novel object recognition task and
contextual conditioned fear. The immunohistochemistry shows a reduction of TH+ cells
in SNpc and VTA and an increase of Optical Density in dorsal striatum. In i.c.v.
experiment, it was observed motor changes in open field and cognitive changes in
spontaneous alternation. In immunohistochemical there was a decrease of TH + cells
in DM 5ug animals in SNpc and VTA and decreased their levels in DM 0.5 g and DM
5 ug groups in the dorsal striatum. In both experiments, cognitive changes preceded
the motor changes. The data presented contribute to understanding of physiological
and behavioral changes after exposure to DM and more studies are needed to
elucidate the DM as a possible cause of parkinsonism symptoms.
Keywords: Parkinsonism, pesticide, pyrethroid and dopamine.
vi
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Estrutura química de Deltametrina ............................................................ 17
Figura 2: Representação esquemática do circuito dos núcleos da base .................. 20
Figura 3: Ilustração esquemática do delineamento experimental da etapa intranasal
.................................................................................................................................. 29
Figura 4: Ilustração esquemática do delineamento experimental da etapa
intracerebroventricular ............................................................................................... 30
Figura 5: Animal no teste da catalepsia .................................................................... 32
Figura 6: Animal no teste do campo aberto .............................................................. 33
Figura 7: Animal no teste de Reconhecimento de objeto novo................................. 34
Figura 8: Esquema do aparato da alternação espontânea ....................................... 35
Figura 9: Teste do medo condicionado ao contexto ................................................. 36
Figura 10: Efeito do tratamento repetido com DM 0,5 mg ou veículo no comportamento
de catalepsia ............................................................................................................. 41
Figura 11: Efeito do tratamento repetido com DM 0,5 mg ou veículo no campo aberto
.................................................................................................................................. 43
Figura 12: Efeito do tratamento repetido com DM 0,5 mg ou veículo na tarefa de
reconhecimento de objeto novo ................................................................................ 44
Figura 13: Efeito do tratamento intranasal repetido com DM 0,5 mg ou veículo no
treino de medo condicionado ao contexto ................................................................. 45
Figura 14: Efeito do tratamento intranasal repetido com DM 0,5 mg ou veículo no teste
de medo condicionado ao contexto ........................................................................... 46
Figura 15: Efeito do tratamento intranasal repetido com DM 0,5 mg ou veículo no
teste de alternação espontânea ................................................................................ 47
Figura 16: Efeito do tratamento intranasal repetido com DM 0,5 mg ou veículo no
número de TH+ na SNpc e VTA ................................................................................ 48
Figura 17: Imagens representativas da SNpc e VTA dos animais tratados com DM
0,5 mg ou veículo ...................................................................................................... 49
Figura 18: Efeito do tratamento intranasal repetido com DM 0,5 mg ou veículo na
densitometria óptica relativa (DOR) do estriado dorsal ............................................. 49
Figura 19: Imagens do estriado dorsal de animais tratados repetidamente com DM
0,5 mg ou veículo ...................................................................................................... 50
Figura 20: Efeito do tratamento i.c.v. repetido com veículo, DM 0,5 e DM 5 no
comportamento de catalepsia ................................................................................... 51
Figura 21: Efeito do tratamento i.c.v. repetido com veículo, DM 0,5 e DM 5 no campo
aberto ........................................................................................................................ 53
Figura 22: Efeito do tratamento i.c.v. repetido com veículo, DM 0,5 e DM 5 no teste
de alternação espontânea ......................................................................................... 54
Figura 23: Efeito do tratamento i.c.v. repetido com veículo, DM 0,5 e DM 5 no número
de células TH+ na SNpc e VTA ................................................................................. 55
vii
Figura 24: Imagens representativas da SNpc e VTA dos animais tratados com veículo,
DM 0,5 e DM 5 ........................................................................................................ 56
Figura 25: Efeito do tratamento icv repetido com veículo, DM 0,5 e DM 5 na
densitometria óptica (DOR) no estriado dorsal .......................................................... 56
Figura 26: Imagens representativas do estriado dorsal dos animais tratados com
veículo, DM 0,5 e DM 5 ........................................................................................... 57
viii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANOVA – Análise de Variância
AP - Anteroposterior
ATP – Adenosina Trifosfato
CEPA – Comitê de Ética e Pesquisa Animal
CTR - Grupo Controle
DA – Dopamina
DAB – Diaminobenzidina
DAT – Transportador de dopamina
DDT - 1,1,1-tricloro-2,2-di (ρ-clorofenil) etano
DOR - Densitometria óptica relativa
DP – Doença de Parkinson
DM – Deltametrina
DV – Dorsoventral
EPM - Erro padrão da média
FAO - Food and Agriculture Organization
GABA – Ácido gama-aminobutírico
i.n. – Intranasal
i.m. - Intramuscular
i.p. – Intraperitoneal
i.c.v. – Intracerebroventricular
L-DOPA L-3,4-dihydroxyphenylalanine
mA – Miliampère
ML – Médio-lateral
MPTP – 1-metil-4-fenil-1,2,3,6-tetraidropiridina
MPP+ - 1-metilfenilpiridina
PD - Parkinson´s disease
PE - Polietileno
PFA – Paraformaldeído
PNDA - Programa Nacional de Defensivos agrícolas
TF - Tampão fosfato
ix
TFS - Tampão fosfato salina
TH – Tirosina Hidroxilase
UFS – Universidade Federal de Sergipe
UI – Unidade Internacional
VMAT – Vesicular Monoamine Transporter
VTA – Ventral Tegmental Area
SNCA – Alfa sinucleína
SNpc – Substância Negra parte compacta
6 – OHDA – 6-hidroxidopamina
x
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 12
2. REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................ 13
2.1 Agrotóxicos ...................................................................................................... 13
2.2 Piretróides e Deltametrina ................................................................................ 16
2.3 Doença de Parkinson e exposição a agrotóxicos............................................. 19
2.4 Modelos animais da Doença de Parkinson ...................................................... 22
3. OBJETIVOS .......................................................................................................... 25
3.1 Objetivo geral ................................................................................................... 25
3.2 Objetivos específicos ....................................................................................... 25
4. JUSTIFICATIVA .................................................................................................... 26
5. MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................... 27
5.1 Animais ............................................................................................................ 27
5.2 Drogas ............................................................................................................. 27
5.3 Procedimentos gerais ...................................................................................... 28
5.4 Desenho experimental ..................................................................................... 28
5.4.1 Experimento 1: administração intranasal de DM ....................................... 28
5.4.2 Experimento 2: administração intracerebroventricular de DM ................... 30
5.5. Cirurgia ........................................................................................................... 30
5.6 Testes comportamentais .................................................................................. 31
5.6.1 Catalepsia .................................................................................................. 31
5.6.2 Campo aberto ............................................................................................ 32
5.6.3 Reconhecimento de objetos novos ............................................................ 33
5.6.4 Alternação Espontânea (Tarefa de Memória Operacional) ........................ 35
5.6.5 Medo Condicionado ao Contexto ............................................................... 36
5.7 Perfusão e processamento do cérebro ............................................................ 37
5.8 Imunohistoquímica para TH ............................................................................. 37
5.9 Contagem de células TH+ ................................................................................ 38
5.10 Avaliação da Densitometria Óptica Relativa – DOR ...................................... 39
5.11 Análise dos dados .......................................................................................... 39
xi
6. RESULTADOS ...................................................................................................... 41
6.1 Experimento 1: administração intranasal de DM ............................................ 41
6.1.1 Comportamento de Catalepsia .................................................................. 41
6.1.2 Campo aberto ............................................................................................ 42
6.1.3 Teste de Reconhecimento de Objeto Novo ............................................... 44
6.1.4 Medo Condicionado ao Contexto ............................................................... 45
6.1.5 Alternação espontânea .............................................................................. 47
6.1.6 Contagem de células ................................................................................. 48
6.1.7 Densitometria óptica relativa - DOR ........................................................... 49
6.2 Experimento 2: administração intracerebroventricular de DM .................. 51
6.2.1 Comportamento de Catalepsia .................................................................. 51
6.2.2 Campo aberto ............................................................................................ 52
6.2.3 Alternação espontânea .............................................................................. 54
6.2.4 Contagem de células ................................................................................. 55
6.2.5 Densitometria óptica relativa - DOR ........................................................... 56
7. DISCUSSÃO ....................................................................................................... 588
8. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 655
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................... 666
12
1. INTRODUÇÃO
Tem sido crescente o número de estudos que apontam para uma possível
correlação entre exposição a toxinas ambientais e casos de parkinsonismo,
principalmente em populações de idosos que vivem em áreas rurais e que trabalharam
com a administração de agrotóxicos em lavouras. Muitas vezes, a administração
dessas drogas ocorre sem o uso dos equipamentos de proteção individual ou coletivo,
podendo atingir o organismo humano e, a longo prazo, causar danos fisiopatológicos.
Esse é o caso, principalmente, das toxinas paraquate, rotenona e manebe, drogas
utilizadas em cultivos e que, nos humanos expostos a elas, atuam destruindo o
sistema dopaminérgico, resultando em parkinsonismo.
Hoje essas drogas são utilizadas em modelos animais para o estudo da Doença
de Parkinson (DP) e tem contribuído largamente para o avanço no conhecimento da
sua fisiopatologia, já que facilitam as pesquisas invasivas sobre o tema. Entretanto,
pouco se sabe sobre dezenas de outras toxinas que são utilizadas como pesticidas,
não só nas lavouras, mas também em residências urbanas.
Uma droga que merece atenção é a deltmetrina (DM), um piretróide do tipo II
utilizado na agricultura, nas residências e na saúde pública com o objetivo de controlar
algumas pragas. Apesar de ser utilizada indiscriminadamente, estudos mostram
efeitos neurotóxicos dessa droga, inclusive sobre o sistema dopaminérgico, principal
alvo de ação das toxinas que causam parkinsonismo em humanos e em modelos
animais.
No presente estudo escolhemos a DM como toxina para estudar sua ação
sobre o sistema nervoso central, com ênfase nas alterações motoras, cognitivas e nas
vias dopaminérgicas. O trabalho apresenta também uma comparação entre os efeitos
da DM por duas vias de administração diferentes: intranasal (i.n.) e
intracerebroventricular (i.c.v.). A via i.n., simulando o que ocorre nas lavouras e em
ambientes onde ocorre exposição à droga; a via i.c.v., para investigar mecanismos
específicos que ocorrem no sistema nervoso central de animais tratados
repetidamente com esse pesticida.
13
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 Agrotóxicos
Agrotóxicos, pesticidas, praguicidas, defensivos agrícolas, remédio de plantas
ou veneno são alguns dos vários nomes que se dão a um grupo de produtos químicos
utilizados para o controle de pragas e doenças de plantas (BRAIBANTE; ZAPPE,
2012). Moragas e Schneider (2003) denominam os agrotóxicos de biocidas, que
surgem para tentar facilitar o manejo agrícola e tem finalidade de eliminar organismos
que representam obstáculos à produção. De acordo com a Organização da Agricultura
e Alimentos (FAO - do inglês Food and Agriculture Organization), são considerados
agrotóxicos toda substância ou mistura utilizada para prevenir, destruir ou controlar
qualquer praga. Essas drogas possuem função de controle de pragas, doenças e
ervas daninhas, garantindo elevação na produtividade; no entanto, podem ser
altamente tóxicos aos organismos não-alvo, incluindo os seres humanos (SCORZA
JUNIOR et al., 2010). Alguns estudiosos sobre o tema ainda ampliam o conceito e
englobam também produtos químicos utilizados em ambiente doméstico e nas
atividades de acabamento de construção, pintura, limpeza e desinfecção, como
solvente, tinta e lubrificantes (SOUZA; FAVARO, 2007 apud CAVALCANTI, 2010).
O termo agrotóxico inclui inseticidas (combate a insetos), fungicidas (controle
de fungos), herbicidas (controle de plantas invasoras), fumigantes (combate a
bactérias no solo), algicidas (controle de algas), avicidas (combate a aves),
nematicidas (combate a nematoides), moluscicidas (controle de moluscos) e
acaricidas (controle de ácaros). Além destes, existe ainda os reguladores de
crescimento, desfoliantes (combate a folhas indesejáveis) e dissecantes (PERES,
2009).
O desenvolvimento destes produtos foi incentivado pelo homem com o objetivo
de melhorar sua condição de vida, aumentando a produção de alimentos. Há cerca
de 10.000 anos, com o desenvolvimento da agricultura e o aumento da densidade
populacional, o homem começou a estocar alimentos para sustentar suas famílias e
animais domésticos. Os campos então tornaram-se fonte de alimento para insetos e
roedores, atacados também por fungos e bactérias. Por serem rapidamente
14
disseminadas, foram denominadas de pragas e para combatê-las, o homem utilizava
desde rituais religiosos até o desenvolvimento de agrotóxico (MAZOYER; ROUDART,
2010).
Alguns registros relatam que há milhares de anos, as pragas devastavam
plantações e eram consideradas um castigo divino em resposta ao comportamento do
homem. Durante o período clássico, encontram-se registros sobre métodos de
controle de pragas e poucos avanços, nesse sentido, ocorrem durante a idade Média.
Com o passar do tempo, por meio de observações e experimentos baseados na
tentativa e erro, identificou-se compostos químicos eficazes no combate de insetos e
fungos, como o enxofre e o piretro. Esse último, encontrado em flores secas de plantas
de crisântemo (gênero Chrysanthemum), era utilizado no combate a piolhos. No
século XIV, os chineses utilizavam arsênio para controle de insetos; desenvolveram
também outros métodos de controle de pragas como uso de ervas, óleos e cinzas,
bem como compostos à base de mercúrio para combater piolhos e outros seres
(BRAIBANTE; ZAPPE, 2012).
No século XVIII, após a revolução industrial e com o desenvolvimento da
agricultura, houve o uso de fertilizantes em larga escala e máquinas que ajudavam no
plantio e na colheita. No século XIX, os problemas nas lavouras se agravavam
surgindo assim, os primeiros estudos científicos sobre o uso de compostos químicos.
No final do século XIX, vários compostos foram sintetizados com finalidade de controle
de pragas, além de misturas como enxofre e cal, sulfato de cobre e cal e arsenito de
cobre (VEIGA et al., 2007).
Compostos orgânicos vegetais também foram muito utilizados no combate às
pestes. Um exemplo é o piretro, ou pó da Pérsia, originária de flores secas de
Chrysanthemum cinerariaefolim e Chrysanthemum coccineu, em que possui
constituintes químicos chamados piretrinas, responsáveis pelo efeito inseticida.
Outros exemplos são a nicotina e rotenona. A primeira é utilizada até hoje em jardins
para controle de artrópodes, e a segunda causa efeito tóxico nos músculos e nervos
cessando a alimentação dos insetos e causando morte rápida após exposição
(MOREIRA et al., 2006).
15
No final do século XIX e início do século XX, desenvolveram-se os inseticidas
orgânicos sintéticos. Estes foram utilizados em grande escala na Segunda Guerra
Mundial para proteger o exército contra os transmissores de doenças, como a doença
do sono e malária. Em 1939, houve a descoberta do 1,1,1-tricloro-2,2-di (ρ-clorofenil)
etano (DDT), inseticida organoclorado utilizado no combate a piolhos na Segunda
Guerra Mundial pelas tropas americanas na Europa (VEIGA et al., 2006). Outros
exemplos de compostos desenvolvidos para o combate de pragas na época, são o
aldrin, dieldrin, heptacloro e toxafeno. Com o passar do tempo, houve a necessidade
de desenvolvimento de novos compostos, sendo produzidos os organofosforados e
carbamatos (BRAIBANTE; ZAPPE, 2012).
Em 1950, iniciou nos Estados Unidos uma mudança severa no processo de
produção agrícola chamada “Revolução Verde”, com objetivo de aumentar a produção
agrícola através do uso de maquinaria no campo, desenvolvimento de pesquisas em
fertilização do solo, de sementes modificadas e desenvolvidas em laboratórios (SILVA
et al., 2005). Junto com a modernização estavam também o uso de agroquímicos e
outros insumos de origem industrial. No Brasil, a “Revolução Verde” ocorreu na
década de 1960 e tomou impulso na década de 1970 com a criação do Programa
Nacional de Defensivos Agrícolas (PNDA). Esse, tinha como meta, principalmente,
estimular a produção e o consumo nacional de agrotóxicos na medida em que
condicionava a concessão do crédito rural à utilização obrigatória de uma parte deste
recurso com a compra de agrotóxicos. Entretanto, as políticas de incentivo ao uso de
agrotóxicos foram implantadas num momento de carência estrutural e vulnerabilidade
social, marcada pela baixa escolaridade dos trabalhadores rurais, que não foram
acompanhadas por uma qualificação dos agricultores envolvidos no processo
(MOREIRA et al., 2002; SOARES et al., 2005).
O aumento da produção agrícola dependia da alta resistência das plantas a
diferentes tipos de pragas e doenças, do uso de máquinas e insumos agrícolas, como
fertilizantes, herbicidas e inseticidas, dentre eles o 1,1,1-tricloro-2,2-di (ρ-clorofenil)
etano (DDT). Em 1985, as campanhas de saúde pública alertavam sobre os males
causados pelo seu uso e em 2009, foi proibida a fabricação, importação, exportação,
manutenção, comercialização e uso de DDT no Brasil (MASCARENHA; PESSOA,
16
2013). A indústria agroquímica vem trabalhando na síntese e formulação de moléculas
que sofram degradação e desapareçam do ambiente em pouco tempo.
O uso indiscriminado dos pesticidas é um grave problema para saúde, para o
ambiente e para as pessoas nele inseridas. Sua toxicidade tem sido claramente
demonstrada por alterar algumas funções fisiológicas. Além disso, há evidências que
a exposição a agrotóxicos aumenta o risco de câncer e doenças degenerativas. Atuam
também como desreguladores endócrinos, contribuindo para vários efeitos adversos
ligados à reprodução e desenvolvimento de toxicidade (JONES; MILLER, 2008).
Estudos em laboratório têm mostrado o mecanismo pelo qual os pesticidas conduzem
à doenças, dentre elas a Doença de Parkinson (DP) como disfunção mitocondrial,
estresse oxidativo, agregação de proteínas e níveis alterados de dopamina (DICK,
2006).
2.2 Piretróides e Deltametrina
Piretróides são derivados sintéticos ativos de piretrinas naturais, que são
toxinas encontradas em extrato de flores de Chrysanthemum cinerariaefolium. A
maioria dos piretróides possuem radicais de ácido ciclopropano carboxílico ou outro
grupo equivalente ligado a um álcool aromático por meio de um éter ou éster central
(WOLANSKY; HARRILL, 2008). Para Soderlund et al. (2002), o governo e laboratórios
particulares investiram décadas de pesquisas no desenvolvimento de uma gama de
estruturas de piretróides com múltiplos usos na agricultura, veterinária, controle
médico e pragas domésticas. O desenvolvimento de piretróides sintéticos envolve
processos de modificação estrutural e biológica, de modo que a matriz da versão
comercial e os inseticidas identificados como “piretróides” incluem compostos que são
várias fases de remoção de piretrinas (SODERLUND et al., 2002).
Os inseticidas piretróides são classificados em dois diferentes grupos de acordo
com a estrutura química e nos sinais de toxicidade aguda: tipo I, como a permetrina,
que não contém um grupo ciano na posição alfa; e tipo II, como a deltametrina, que
contém um grupo ciano na posição alfa (MIYAMOTO et al., 1995). Os dois tipos
apresentam síndromes tóxicas diferentes: os piretróides sintéticos do tipo I
17
apresentam síndrome do tremor que é caracterizada por hiperexcitação,
incoordenação e tremor em todo corpo (HOSSAIN et al., 2006); enquanto o tipo II,
causa principalmente a síndrome da salivação caracterizada por salivação, seguido
de tremor progressivo e paralisia. Esse último grupo causa alta toxicidade seletiva
sem deixar resíduos, por isso tem sido utilizado como pesticidas (MORIKAWA;
FURUHAMA, 2009).
A deltametrina, (S)-alfaciano-3-fenoxibenzil-(1R,3R)-3-(2,2-dibromovinil)-2,2-
dimetilciclopropanocarboxilato (Figura 1), comercialmente conhecida como Decis, K-
Othrine, Ambush, Fuminset, Decametrina, Kobiol e Scabin, pertence ao grupo dos
piretróides, é empregada nas lavouras, medicina veterinária, no controle de pestes
domésticas e na saúde pública, principalmente no controle de vetores (PIMPÃO et al.,
2005). É um dos mais potentes piretróides e produz a síndrome neurológica do tipo II,
caracterizada por salivação sem lacrimação, movimentos involuntários e convulsão. A
exposição aguda em humanos a essa substância pode causar problemas no sistema
nervoso central, gastrointestinal, cardiovascular e respiratório, podendo levar a morte
(TAYEBATI et al., 2009).
Segundo Soderlund et al. (2002), nos mamíferos a deltametrina produz
neurotoxicidade que depende da dose e da via de administração, implicando em
múltiplos efeitos neuronais. Um mecanismo fisiológico do funcionamento da
deltametrina é o fechamento dos canais de sódio, causando influxo lento de sódio
durante a despolarização neuronal (RICCI et al., 2013). Recentemente, tem sido
Figura 1: estrutura química de Deltametrina. Fonte: Takasaki et al. (2013).
18
mostrado que a deltametrina estimula o receptor de glutamato ou bloqueia o receptor
do ácido aminobutírico (GABA A), levando à convulsão (MORIKAWA; FURUHAMA,
2009) e age ainda sobre os receptores nicotínicos da acetilcolina (SODERLUND et
al., 2002). O tratamento com DM resultou na redução nos níveis de acetilcolina no
cerebelo (HOSSAIN et al., 2006). Além disso, a sustância tem efeito sobre a fertilidade
masculina e durante seu metabolismo, espécies reativas de oxigênio são geradas e
resultam em estresse oxidativo nos animais intoxicados (KALE et al., 1999).
Li et al. (2007) citam que a deltametrina inibe a biossíntese da dopamina pela
redução do RNAm da tirosina hidroxilase, que é uma enzima que está envolvida na
biossíntese da dopamina e é o principal marcador das vias dopaminérgicas. Pode
ocorrer também estresse oxidativo e redução os níveis de proteínas nas células PC12.
Entretanto, os resultados apresentados na literatura sobre o tema são controversos,
pois alguns estudos apresentam um aumento ou não observaram redução dos níveis
de dopamina associado ao tratamento com DM. Tayebati et al., (2009), demonstraram
que a exposição a DM não alterou os níveis de dopamina no córtex frontal, mas
reduziu as concentrações de catecolaminas no hipocampo e no estriado. Já Hossain
et al., (2006) demonstraram que os níveis de dopamina aumentaram no estriado de
ratos que moviam-se livremente, após o tratamento com a DM. Esses resultados
divergentes podem estar relacionados ao tempo de análise após a exposição à DM, o
regime de tratamento e/ou dose administrada. Estudos controlados precisam ser
realizados para melhor esclarecer esses achados.
Estudos já citam a relação do uso da deltametrina com autismo, déficit no
desenvolvimento, aprendizagem e doenças degenerativas como Doença de
Parkinson (MANI et al., 2013). Com isso, é importante investigar se a DM pode ser
relacionada com possíveis mecanismos fisiopatológicos na DP, já que a droga tem
envolvimento com o sistema dopaminérgico e pode gerar alterações motoras
semelhantes à doença.
19
2.3 Doença de Parkinson e exposição a agrotóxicos
A DP é a segunda doença neurodegenerativa mais comum depois da doença
de Alzheimer e é uma desordem crônica e progressiva caracterizada por frequentes
distúrbios de movimentos e cognitivos (WIRDEFELDT et al., 2011), que acomete 0,3%
da população e 1% das pessoas com idade acima de 60 anos (MAYEUX, 2003). O
diagnóstico da doença é realizado através da observação dos sinais motores:
fraqueza muscular, rigidez, instabilidade postural, tremor em repouso e bradicinesia
(SHULMAN, 2007). Além destes, observam-se prejuízos cognitivos, que incluem a
perda progressiva da memória e demência, déficit de memória espacial e de atenção,
aprendizagem e memória de reconhecimento (VOON; FOX, 2007).
Em relação a fisiopatologia, a DP está diretamente relacionada a progressiva
morte de neurônios dopaminérgicos da substância negra parte compacta (SNpc), o
que resulta na depleção de níveis de dopamina na via dopaminérgica nigroestriatal. A
perda de 50 a 60% dos neurônios dopaminérgicos na SNpc, com as possíveis
disfunções nos neurônios dopaminérgicos remanescentes, acarretam na redução de
70 a 80% nos níveis de DA no estriado (CAMPÊLO, 2013; ZIGMOND, 1997). Essa
diminuição expressiva de níveis de dopamina na via nigroestriatal é a responsável
pelo surgimento dos sinais motores.
A dopamina (DA) tem afinidade por cinco subtipos de receptores
metabotrópicos distribuídos em duas famílias: D1 (subtipos D1 e D5) e D2 (subtipos
D2, D3 e D4). As duas famílias de receptores dopaminérgicos possuem grande
distribuição no estriado e possuem efeitos contrários sobre a excitabilidade neuronal
e atuam sobre o controle motor. Os receptores da família D1 estão ligados à proteína
G excitatória e possuem ação estimulante sobre a enzima adenil-ciclase, levando a
um aumento da produção de AMP-cíclico e abertura dos canais de cálcio. Os
receptores da família D2 estão ligados a proteína G inibitória e quando estimulados,
causam inibição da enzima adenil-ciclase, diminuindo a produção de AMP-cíclico e
diminuição da entrada de cálcio, limitando a excitabilidade celular (BEDIN; FERRAZ,
2003).
20
Em condições normais, a aferência dopaminérgica nigral modula os efeitos
glutamatérgicos dos impulsos corticestriais por meio da ativação da via direta, por
estímulo dos receptores D1 e a simultânea inibição da via indireta, por estímulo dos
receptores do tipo D2 (BEDIN; FERRAZ, 2003; PONZONI; GARCIA-CAIRASCO,
1995). A via direta, há ativação dos receptores D1 no estriado, levando a excitação de
neurônios gabaérgicos, resultando na inibição dos núcleos de saída (globo pálido
interno – Gpi) e consequentemente, desinibição do tálamo e estimulação do córtex
motor. Na via indireta, há estimulação dos receptores D2, permite a ação inibitória dos
neurônios do globo pálido externo – Gpe sobre o núcleo subtalâmico – NST, reduz a
estimulação sobre os núcleos de saída GPi, reduzindo a atividade inibitória sobre o
tálamo. Na DP, a depleção de dopamina leva a redução da via direta e um aumento
da ativação da via indireta, resultando na ativação excessiva dos núcleos de saída e
excessiva ativação do tálamo, diminuindo a atividade das aferências para o córtex
motor e gerando os sintomas motores (CAMPÊLO, 2013). Ver esquema ilustrativo na
Figura 2.
Figura 2: Representação esquemática do circuito dos núcleos da base. O esquema a esquerda mostra a transmissão normal e o da direita, representa o desequilíbrio na transmissão em pacientes com a Doença de Parkinson. Setas em vermelho representam projeções inibitórias e as azuis, projeções excitatórias. Figura adaptada de Santos (2012). Abreviaturas: GPi-Globo Pálido interno; GPe-Globo Pálido externo; SNpc-Substância Negra.parte compacta; NST-Núcleo Subtalâmico; D1-receptor dopaminérgico excitatório; D2-receptor dopaminérgico inibitório; GABA-via gabaérgica inibitória.
21
Apesar do diagnóstico da DP ser baseado em sinais motores, é cada vez mais
evidente que a patologia é acompanhada de sinais e sintomas não-motores. Essas,
não estão completamente esclarecidas, porém sabe-se que alterações nas vias
dopaminérgicas mesolímbica, mesocortical e tuberoinfundibular contribuem para os
distúrbios emocionais e cognitivos. Nas duas primeiras vias citadas, os corpos
celulares dos neurônios dopaminérgicos estão localizados na área tegmental ventral
(VTA) e projetam respectivamente para áreas límbicas e corticais, enquanto na via
tuberoinfundibular, os corpos neuronais estão situados no núcleo arqueado do
hipotálamo e projetam para o infundíbulo (BLONDER; SLEVIN, 2011). Entretanto,
estudos tem sugerido o envolvimento de outros sistemas no desenvolvimento da DP,
como o sistema serotoninérgico (degeneração dos núcleos da rafe), noradrenérgico
(degeneração do locus coeruleus) e colinérgico (degeneração do núcleo basal de
Meynert) (SUZUKI et al., 2010).
Apesar de ser considerada como uma patologia idiopática, acredita-se que a
fatores genéticos e ambientais estejam associados ao aumento do risco de
desenvolver a doença (PEREIRA; GARRETT, 2010). Entre os fatores genéticos,
destaca-se os relacionados a mutações nos genes PINK1, parkin (PARK2), DJ1, alfa-
sinucleína (SNCA) e LRRK2 (SCHAPIRA, 2011). Essas mutações são capazes de
causar danos sobre a função mitocondrial, um dos principais eventos que ocorrem na
DP. Outra característica da doença é o surgimento dos corpos de Lewy. Esses corpos
são inclusões citoplasmáticas formadas por deposição proteica e ricos em proteínas
alfa sinucleína e ubiquitina. Estas inclusões parecem se acumular em neurônios
dopaminérgicos do SNpc, e por esta razão são utilizadas como marcador da DP
(HAGAN et al., 1997). A alfa sinucleína é expressa em todo sistema nervoso central e
é abundante nos terminais pré-sinápticos, com ação inibitória sobre a enzima tirosina
hidroxilase (TH), reduzindo a síntese de catecolaminas (PEREZ et al., 2002).
Fatores ambientais não são bem compreendidos, mas sabe-se que devem
estar relacionados com aumento do estresse oxidativo, principalmente dos neurônios
dopaminérgicos, acarretando em sua morte. Esse estresse oxidativo pode estar
relacionado à exposição aos pesticidas, herbicidas e metais pesados, principalmente
por trabalhadores em áreas rurais (HANCOCK et al., 2008). Segundo Costa et al.
22
(2003), anos de exposição a variados fatores de risco, como toxinas ambientais e a
diminuição de reservas funcionais tornam os indivíduos susceptíveis a desenvolverem
a DP.
A etiologia da Doença de Parkinson ainda não é bem compreendida, mas há
evidências científicas de que seja uma doença multifatorial que provavelmente
envolve fatores de risco genético e exposição ao ambiente, inclusive a pesticidas.
Dentre os pesticidas, destacam-se os piretróides que são muito utilizados no cotidiano
da população e são mais seguros que os organofosforados. Alguns piretróides, como
a DM, possuem ação sobre o sistema dopaminérgico e resultam em alterações
comportamentais semelhantes às observadas em modelos animais de parkinsonismo.
(ROSS; SMITH, 2007).
Um grande número de estudos epidemiológicos tem citado a associação entre
a DP e a exposição aos pesticidas (FRANCO et al., 2010). Segundo Kanavouras et
al. (2011), estudos epidemiológicos em humanos tem apontado os pesticidas como
fatores de risco para desenvolvimento da doença e neurodegeneração, embora a
associação seja controversa. Vários estudos caso-controle assim como estudos
prospectivos tem mostrado uma relação positiva entre exposição e aumento do risco
de DP (ASCHERIO et al., 2006), enquanto outros estudos não conseguiram
demonstrar esta ligação (BEHARI et al., 2005). Para Dardiotis et al. (2013), uma
possível razão para discrepância observada pode estar relacionada às diferentes
suscetibilidades das populações à exposição ambiental baseado na sua variabilidade
genética.
2.4 Modelos animais da Doença de Parkinson
Modelos animais para o estudo da DP têm sido largamente utilizados para um
melhor esclarecimento da fisiopatologia dessa doença. Estes modelos, associados à
aplicação de diversas drogas que levem a morte de neurônios dopaminérgicos, podem
ser um importante mecanismo para melhor entender os processos biológicos
23
envolvidos na DP, e podem ser uma ferramenta importante para desenvolver
tratamentos em humanos (SONSALLA et al., 2008; SANTOS, 2012).
Os modelos animais atuais para DP são baseados, principalmente, no uso de
agentes farmacológicos, como reserpina e haloperidol, e em neurotoxinas, como
MPTP (1-metil-4-fenil-1,2,3,6-tetraidropiridina), 6-OHDA (6-hidroxidopamina) e
rotenona, que são capazes de causar disfunção na via dopaminérgica nigroestriatal,
mimetizando alguns sintomas da doença.
O MPTP é o modelo animal mais específico para indução da DP. A intoxicação
com essa substância, faz com que ela atravesse facilmente a barreira
hematoencefálica, pois é altamente lipofílica. Uma vez no sistema nervoso ela é então
metabolizada nos astrócitos e gera o metabólito MPP+ (1-metilfenilpiridina), que é
transportado para neurônios dopaminérgicos pelo DAT (transportados de dopamina)
(PREDIGER et al., 2012). O acúmulo de MPP+ nos neurônios interfere no
metabolismo mitocondrial, pela inibição do complexo I da cadeia transportadora de
elétrons (BEZARD et al., 2012), além de morte celular e produção de superóxidos
(BOVÉ; PERIER, 2012). Entretanto, um fator limitante para o uso deste modelo é o
alto grau de toxicidade da droga aos pesquisadores.
A reserpina, utilizada como modelo, causa depleção de monoaminas, que
desencadeia déficit motores semelhantes aos apresentados na DP (SKALISY et al.,
2002). Bloqueia a proteína VMAT (transportadora vesicular) nos terminais pré-
sinápticos monoaminérgicos (VERHEIJ; COOLS, 2007). Isso reduz a disponibilidade
de monoaminas nos terminais nervosos causando redução de neurotransmissores no
sistema nervoso, gerando sintomas como diminuição da mobilidade, da temperatura,
catalepsia, tremor e rigidez muscular (COLPAERT, 1987). Entretanto, a reserpina
possui efeito reversível, o que não corresponde a etiologia da DP em humanos.
A 6-OHDA, também utilizada para induzir sintomas parkinsoniano, não
atravessa a barreira hematoencefálica e necessita ser injetada diretamente no cérebro
(SANTOS, 2012). A administração local de 6-OHDA, resulta na inibição do complexo
I da cadeia respiratória, porém atua sobre neurônios dopaminérgicos quanto
noradrenérgicos. A inibição do complexo I da cadeia respiratória reduz a função
24
mitocondrial, a geração de ATP, contribuindo para produção de espécies reativas de
oxigênio e levando a um estresse oxidativo (SCHAPIRA, 2011). O modelo animal
baseado na administração da 6-OHDA parece ser uma ferramenta adequada para
compreensão das alterações (cognitivas, motoras e emocionalidade) que ocorrem na
DP e apresenta menor risco de contaminação dos pesquisadores quando comparados
ao MPTP (SANTOS, 2012).
A rotenona é um inseticida de ocorrência natural, bem caracterizada, inibidor
específico de alta afinidade do complexo I (NADH-deidrogenase). É extremamente
hidrofóbico e atravessa as membranas biológicas com facilidade. Ao contrário da
MPTP, a rotenona não requer um transportador de dopamina para ter acesso ao
citoplasma (BETARBET et al., 2000). Ainda esses autores, em estudos com ratos,
observaram que os animais tratados com rotenona desenvolveram deficiências
motoras e posturais característico de DP. Em cultura de células neurogliais de ratos e
camundongos, uma concentração não-tóxica ou minimamente tóxica de rotenona e o
agente inflamatório lipopolissacarídico induzem a degeneração dopaminérgica (GAO
et al., 2003). Entretanto, nesse modelo ocorre grande variabilidade dos resultados, o
que dificulta sua aplicabilidade.
Ainda não é possível mimetizar todos os sintomas da DP em animais, pois tanto
os modelos animais baseados em substâncias tóxicas quanto transgênicas possuem
suas especificidades e limitações; portanto, nenhum modelo único é adequado a todos
estudos sobre a DP. A escolha do melhor modelo a ser utilizado deve ser guiado pelos
objetivos do trabalho proposto (BLANDINI; ARMENTERO, 2012).
25
3. OBJETIVOS
3.1 Objetivo geral
Avaliar as alterações motoras, cognitivas e neuroquímicas causadas pela
administração repetida da deltametrina (DM) por diferentes vias em ratos.
3.2 Objetivos específicos
Investigar possíveis alterações motoras nos animais após a administração
repetida da DM;
Avaliar as possíveis alterações cognitivas causadas pela administração
repetida da DM;
Analisar as alterações neuroquímicas para tirosina hidroxilase - TH em
diferentes áreas cerebrais de animais tratados com DM.
26
4. JUSTIFICATIVA
Estudos tem mostrado que a exposição a pesticidas é um fator de risco para o
desenvolvimento da Doença de Parkinson, principalmente em áreas rurais. Entre os
pesticidas mais utilizados, destaca-se a deltametrina (DM) que é utilizada no controle
de vetores na lavoura, na medicina veterinária e controle de pestes domésticas.
Pesquisas tem demonstrado efeitos desse composto sobre a via dopaminérgica em
modelos animais; no entanto, os dados encontrados na literatura ainda são incipientes
e controversos, sendo necessária uma padronização de doses, vias de administração
e regime de tratamento, afim de elucidar melhor os possíveis efeitos dessa droga
sobre o Sistema Nervoso Central. Sendo assim, nesse estudo propomos avaliar o
efeito dessa droga através de duas vias diferentes (intranasal – i.n e
intracerebroventricular – i.c.v.) sobre o desenvolvimento de sintomas de
parkinsonismo em ratos de meia idade. A primeira via, baseia-se na principal porta de
entrada da DM em indivíduos que trabalham em ambientes domésticos e nas lavouras
com a droga, onde os mesmos, quando sem proteção, inalam grandes quantidades
do inseticida. Já a via i.c.v., possibilita uma melhor dispersão da droga no sistema
nervoso central, sem a influência de barreiras como o trato respiratório e barreira
hematoencefálica.
27
5. MATERIAL E MÉTODOS
5.1 Animais
Foram utilizados 38 ratos Wistar machos (400-550 g), com idade de 9-10
meses, provenientes do Biotério setorial do Departamento de Fisiologia da UFS e
mantidos no biotério do Laboratório de Neurofisiologia da UFS em número de 4-5 por
caixa plástica (33 x 40 x 17 cm) com grade em aço inoxidável, sob ventilação e
temperatura controlada (22 ± 2º C), ciclo claro-escuro de 12/12 horas e livre acesso a
água e comida. Todos os procedimentos realizados no presente estudo foram
conduzidos cuidadosamente de acordo com a lei brasileira para o uso de animais em
pesquisas (Lei nº 11.794) e aprovada pelo comitê de ética e pesquisa animal (CEPA)
da Universidade Federal de Sergipe (Protocolo nº 35/2014).
5.2 Drogas
Deltametrina (S) – alfaciano – 3 – fenoxibenzil - (1R,3R) – 3 - (2,2 - dibromovinil)
- 2,2 - dimetilciclopropanocarboxilato, com nome comercial K-Othrine® SC 25
(25g/l), possui fórmula bruta C22H19Br2NO3 e produzida pela Bayer;
Cloridrato de cetamina 100mg/ml (Ketamina®, Agener União);
Cloridrato de xilazina 20mg/ml (Calmiun®, Agener União);
Benzilpenicilina benzatina (Penicilina G Benzatina®, Ariston/120000 UI em 0,2
ml);
Solução salina (NaCl 0,9%).
Diclofenaco (Voltaren®, Novartis), 10mg/kg;
28
5.3 Procedimentos gerais
Antes do início dos experimentos, os animais passaram por 5 dias de
manipulação durante 5 minutos cada, com a finalidade de habituar os animais às
manipulações e ao experimentador. Todos os testes realizados, exceto catalepsia,
foram gravados com o auxílio de uma câmera de vídeo posicionada acima dos
aparatos. As imagens foram posteriormente analisadas e quantificadas por programa
de rastreamento de animais (ANY-maze, Stoelting, USA). Todos os testes e
gravações foram analisados pelo mesmo experimentador, sem ter informações do
tratamento dado a cada um dos animais. As tarefas foram realizadas sempre no
mesmo horário, entre 8 e 14 horas e os aparatos foram limpos com solução de etanol
10% entre um animal e outro para evitar possíveis pistas de odores deixados por outro
animal.
5.4 Desenho experimental
O trabalho foi dividido em 2 experimentos: experimento 1, com administração
intranasal (i.n.) de DM e experimento 2, com administração intracerebroventricular
(i.c.v.) de DM. Em ambas as etapas os animais foram distribuídos aleatoriamente entre
os grupos.
5.4.1 Experimento 1: administração intranasal de DM
Nesse experimento os animais foram divididos em 2 grupos: controle (CTR,
solução salina 0,9%, n=9) e DM 0,5 (tratados com DM 0,5 mg, n = 10). A dose foi
selecionada em experimentos pilotos prévios. Os animais receberam injeções
bilaterais de veículo ou DM a cada 7 dias, em um total de 3 injeções. A administração
i.n. da DM em ratos foi realizada seguindo o procedimento descrito por Dluzen e
Kefalas (1996) e adaptado por Prediger et al. (2006). Após a anestesia com solução
cloridrato de cetamina (Ketamina®, Agener União, concentração 100mg/ml e dose de
29
100mg/kg) e cloridrato de xilazina (Calmiun®, Agener União, concentração 20mg/ml
e dose se 10mg/kg) intramuscular, um tubo de polietileno (PE-10) foi inserido nas
narinas dos ratos. O tubo foi conectado a uma micro-seringa de Hamilton (Hamilton,
USA), e a substância administrada na razão de 50 µL por narina na velocidade de 10
µL/min, com intervalo de 30 segundos entre cada narina, com o auxílio de uma bomba
de microinfusão.
Ao longo do tratamento, os ratos foram avaliados em diversos testes: (1)
catalepsia (diariamente), (2) campo aberto (semanalmente), (3) reconhecimento de
objetos novos (treino e teste no 3º dia), (4) alternação espontânea (9º dia) e (5) medo
condicionado ao contexto (treino – 12º dia e teste – 13º dia). Ao final do experimento,
os animais foram anestesiados, perfundidos, decapitados e os cérebros removidos e
processados para análise imunohistoquímica para tirosina hidroxilase – TH (enzima
envolvida na síntese de dopamina). A Ilustração do delineamento experimental está
representada na Figura 3.
Figura 3: Ilustração esquemática do delineamento experimental da etapa intranasal.
30
5.4.2 Experimento 2: administração intracerebroventricular de DM
Nesse experimento, os animais foram divididos em três grupos: controle (CTR,
solução salina 0,9%, n=7), DM 0,5 (tratados com DM 0,5 µg, diluídos em 2 µL de
solução salina, n=7) e DM 5 (tratados com DM 5 µg, diluídos em 2 µL de solução
salina, n=5). Nessa etapa, os animais receberam 3 injeções i.c.v. (2 µL por injeção),
uma a cada 48h. Ao longo do tratamento, os ratos foram avaliados em diversos testes
comportamentais: (1) catalepsia (diariamente), (2) campo aberto (24 h após a 3ª
injeção) e (3) alternação espontânea (48h após a 2ª injeção). Após 24 h da 3ª injeção,
os animais foram anestesiados, perfundidos, decapitados e os cérebros removidos e
processados para análise imunohistoquímica para tirosina hidroxilase – TH (enzima
envolvida na síntese de dopamina). A Ilustração do delineamento experimental está
representada na Figura 4.
Figura 4: Ilustração esquemática do delineamento experimental da etapa intracerebroventricular.
5.5. Cirurgia
Para a cirurgia, foram utilizadas as coordenadas do Atlas Paxinos e Watson
(2007) permitindo maior precisão na localização das injeções de DM. O grupo CTR foi
submetido ao mesmo procedimento cirúrgico, porém foi injetada solução salina 0,9%.
Antes da etapa cirúrgica, os animais foram anestesiados com cloridrato de cetamina
e cloridrato de xilazina, i.p, nas doses 100 mg/kg e 10 mg/kg, respectivamente. Após
31
a tricotomia, o crânio foi fixado no estereotáxico (Insight, Brasil). A desinfecção do
local foi feita com solução iodada. Após injeção subcutânea de lidocaína 2%,
músculos e outros tecidos foram afastados e retirados para exposição dos ossos da
caixa craniana, com auxílio de bisturi. As coordenadas foram determinadas utilizando
o bregma como referência: anteroposterior (AP) – 0,96 mm; médio-lateral (ML), ± 1,8
mm e dorsoventral (DV), + 3,0 mm. Em seguida, o crânio foi perfurado com uma broca
odontológica, a cânula de 10 mm inserida no ventrículo lateral (direito ou esquerdo),
fixada ao crânio com acrílico odontológico e 2 parafusos de aço inoxidável. Ao término
da cirurgia, os animais receberam pentabiótico veterinário Penicilina G Benzatina®,
Ariston / 120000 UI em 0,2 ml) via i.m., seguido de injeção de anti-inflamatório e
analgésico diclofenaco (Voltaren®, Novartis). Depois os animais foram colocados nas
gaiolas e permaneceram sob observação pós-cirúrgica pelas primeiras 24 horas.
As microinjeções das drogas foram realizadas no ventrículo lateral esquerdo ou
direito, com auxílio de uma micro-seringa de Hamilton (Hamilton, EUA) acoplada com
um tubo de polietilieno PE-10 conectado a uma agulha gengival. A substância foi
administrada i.c.v. com velocidade de 1 µL/min. Após o término das microinjeções, a
agulha foi mantida por 60 segundos para evitar refluxo de DM.
5.6 Testes comportamentais
5.6.1 Catalepsia
O comportamento de catalepsia é utilizado para avaliar o comportamento
motor dos animais. Foi realizado colocando-se o animal com ambas as patas
dianteiras sobre uma barra horizontal de vidro elevada 9 cm da superfície de apoio
das patas traseiras. Foi medida a latência para o animal realizar um movimento, ou
seja, sair da posição inicial. Os animais foram submetidos três vezes consecutivas ao
aparato até um limite de 180 segundos. Para cada dia foi realizada uma média do
tempo das três tentativas (Figura 5) (SANTOS, 2012).
32
Figura 5: Animal no teste da catalepsia.
5.6.2 Campo aberto
O campo aberto é um teste que avalia o comportamento locomotor e
exploratório dos animais e foi realizado em um aparato circular (raio = 84 cm, altura =
35 cm) sem o teto (Figura 6). Uma câmera foi posicionada sobre o campo aberto a
uma altura de 230 cm. A câmera era conectada a um computador e foi utilizado um
programa de rastreamento de animais (Anymaze, Stoelting, USA) para registro dos
parâmetros comportamentais. A parte interna do campo aberto foi pintada de preto
para aumentar o contraste e favorecer o reconhecimento do animal pelo programa
(SANTOS et al., 2013).
Uma hora antes do teste de reconhecimento de objetos novos, os animais
foram submetidos a uma seção de habituação no campo aberto com duração de 5
minutos. Os animais foram posicionados no meio do aparato e os parâmetros
observados foram: distância percorrida em toda a arena, tempo de permanência no
centro e número de comportamentos de levantar (rearing).
33
Figura 6: Animal no teste do campo aberto.
5.6.3 Reconhecimento de objetos novos
Essa tarefa foi utilizada para avaliar a memória de reconhecimento a curto
prazo dos animais. Quando os ratos são colocados diante de objetos novos, eles
passam a maior parte do tempo explorando esse novo objeto (CRUZ et al., 2010).
Este comportamento comum tem sido utilizado para desenhar um paradigma
comportamental designado como tarefa de reconhecimento de objeto novo
(ENNACEUR e DELACOUR, 1988). A tarefa foi realizada na mesma arena em que foi
realizado o campo aberto, uma hora após a seção de habituação. Foram utilizados
objetos como garrafas e cantis, sendo cada um com duas cópias, confeccionadas do
mesmo material, cor, forma e tamanho. Os objetos eram pesados e seus pesos
deviam ser o suficiente para não serem deslocados pelos animais ou, caso contrário
foram fixados no campo aberto. Após cada série os objetos, assim como o campo
aberto, foram limpos com álcool a 10 % para evitar a presença de dicas olfativas.
Todos os objetos utilizados não apresentavam significado etológico.
34
Experimentos piloto foram realizados para avaliar se os animais já
apresentavam alguma preferência pelos objetos selecionados, e se eles eram
capazes de discriminá-los. No dia do experimento as caixas dos animais foram
colocadas na sala de comportamento 1 hora antes de começar o teste para que se
habituassem ao ambiente. No treino, os animais foram colocados no aparato na
presença de dois objetos idênticos uma hora após, na seção de teste, um dos objetos
foi substituído por um objeto novo (Figura 7). Treino e teste tiveram duração de 5
minutos cada.
O tempo de exploração dos objetos foi contabilizado nas duas sessões (treino
e teste), sendo este considerado quando o animal tocasse o objeto com as vibrissas,
patas ou focinho. Os animais que exploraram os objetos por menos de 1,5 segundos
nas duas sessões foram excluídos do estudo. Os resultados das sessões de treino e
de teste foram expressos em índice de reconhecimento calculado da seguinte forma:
Tempo de exploração do objeto novo x 100
Tempo total de exploração dos dois objetos
Figura 7: Esquema ilustrativo do teste de Reconhecimento de objeto novo.
Treino Teste
1h1h após
35
5.6.4 Alternação Espontânea (Tarefa de Memória Operacional)
Essa tarefa teve como objetivo avaliar a memória operacional de dos animais
e foi realizada no mesmo aparato em que se se realiza o Teste do Labirinto em Cruz
Elevado, com todos os braços fechados lateralmente, nomeados com as letras A, B,
C e D. O aparato teve elevação de 50 cm do solo. Antes da realização do teste, os
ratos foram ambientados durante uma hora na sala em que ocorreram os
experimentos. Os ratos foram colocados no centro do labirinto apontados para o lado
A para livre exploração durante 10 minutos. Durante esse tempo, eles alternaram
espontaneamente entre os quatro braços utilizando pistas espaciais distribuídas pelas
paredes da sala.
A sequência de entrada nos braços foi registrada manualmente (Exemplo:
ABCBADC). Posteriormente os registros foram analisados determinando a
porcentagem de alternação e entrada nos braços. Dessa forma, o número máximo de
alternações possíveis foi o total de entradas nos braços menos três, e o percentual de
alternações, calculado através do (total de alternações/máximo de alternações) x 100,
ver Figura 8. Foram excluídos animais que não alternaram no aparato (CAMPÊLO,
2013).
Figura 8: Esquema do aparato da alternação espontânea.
36
5.6.5 Medo Condicionado ao Contexto
O teste do Medo Condicionado ao Contexto foi utilizado para avaliar a memória
aversiva (a longo prazo) (Figura 9). O teste foi dividido em 2 fases: treino e teste. No
treino, os animais foram colocados em uma caixa e após 2,5 min receberam um
choque elétrico nas patas, com intensidade de 0,3 mA e duração de 2 segundos.
Foram aplicados 5 choques intercalados por 30 segundos. O tempo total de
permanência do animal no aparato foi de 5 minutos. Após 24 horas (teste), os animais
foram reintroduzidos na caixa de medo sem o choque elétrico onde permaneceram
por mais 5 minutos. Os comportamentos de congelamento (freezing) e tentativa de
fuga foram quantificados nas seções de treino (150 segundos antes e 150 segundo
após o choque) e teste (tempo total e minuto a minuto) (MACHADO et al., 2012).
Figura 9: Animal no teste do medo condicionado ao contexto. Imagem da câmera de gravação
do aparato.
37
5.7 Perfusão e processamento do cérebro
Ao final dos testes comportamentais, os animais foram anestesiados com
cetamina e cloridrato de xilazina, i.p, nas doses 100 mg/kg e 10 mg/kg,
respectivamente. Os sinais dos animais foram avaliados após a injeção e quando
completamente anestesiados, realizou-se um acesso a cavidade torácica
seccionando-se a pele e partes moles, expondo a cavidade abdominal e feito uma
incisão no diafragma para exposição do coração. Os animais foram perfundidos
intracardicamente com Tampão Fosfato Salina (TFS, pH 7,4) para lavar os vasos
durante 5 minutos e posteriormente, com Paraformaldeído (PFA) 4% em Tampão
Fosfato (TF, pH 7,4), por 10 minutos para fixação do tecido. Após esse procedimento,
os cérebros foram removidos e conservados em PFA por 24 horas. A solução foi
trocada por uma solução de sacarose 30% a cada 10 dias. Os cérebros foram
congelados e as secções foram obtidas por congelamento em criostato de
deslizamento (Leica, USA), através de cortes frontais de 50 µm, que foram distribuídas
em 5 compartimentos contendo solução anticongelante. Cada um desses
compartimentos correspondeu a 1 de 5 secções, de maneira que a distância entre
elas foi de 250 µm. Estes cortes foram armazenados em solução anticongelante à
base de etilenoglicol e tampão fosfato e posteriormente conservados a 4ºC até as
reações de imunohistoquímica, seguindo o protocolo realizado por Santos et al.
(2013).
5.8 Imunohistoquímica para TH
O procedimento foi realizado em temperatura ambiente (25ºC) e as secções
foram lavadas 4 vezes por 5 minutos sob agitação automática em uma solução de
Tampão Fosfato (TF). As secções foram tratadas com peróxido de hidrogênio a 0,03%
em TF por 20 minutos para inativação da peroxidase endógena e posteriormente
lavados mais 4 vezes em TF. Posteriormente, os cortes foram colocados em contato
com anticorpo primário policlonal anti-TH produzidos em coelhos (1:10000; cat #
AB152 Chemicon, USA), diluído em TF contendo Triton-X 100 (ICN Biomedicals) 0,4%
38
e soro normal de cabra (Sigma Chemical Company) a 2% durante o período de 18 a
24 horas. Após esse procedimento, as secções foram lavadas novamente (4 vezes de
5 minutos em TF) e posteriormente incubadas com anticorpo secundário biotinilado
(1:1000; cat # S-1000 Vector Labs, USA) diluído em TF Triton-X a 0,4%. Transcorridas
2 horas, os tecidos foram lavados (4 vezes de 5 minutos) e incubados com solução
de avidina-biotina-peroxidase (ABC Elite kit, Vector Labs, Burlingame, USA) 1% por
120 minutos. Novamente os tecidos foram lavados (4 vezes de 5 minutos) e para
visualizar a reação, os cortes foram colocados em contato com cromógeno
(diamminobenzina-DAB- Sigma, St Louis, MO, USA) a 2,5% diluída em TF (0,1M/pH
7,4) e 0,03% de H2O2.
Após as reações, os cortes foram lavados (4 vezes de 5 minutos) e
posteriormente montados em lâminas gelatinizadas. Cinco dias após a montagem elas
foram desidratadas através da exposição a concentrações crescentes de etanol,
clareadas com xilol e as lamínulas fixadas com Entellan (Merck). Uma série adjacente
foi corada com tionina e feita referência para localização das áreas. As secções foram
examinadas por iluminação de campo claro (Olympus Microscope, BX-41) e as
imagens foram capturadas com uma câmera digital (Nikon, DXM-1200) acoplada ao
microscópio. A localização das áreas foi determinada usando o atlas Paxinos e
Watson (2007).
5.9 Contagem de células TH+
Para cada animal analisado foram feitas imagens em aumento de 10x para ver
com mais detalhes a presença ou ausência de células marcadas nos tecidos. A
contagem de células foi realizada em 6 secções de cada animal e o número de células
para cada uma delas correspondeu à média entre as 6 secções analisadas. Para a
Tirosina Hidroxilase (TH), as áreas analisadas foram a Substância Negra parte
compacta (SNpc) e Área Tegmental Ventral (VTA). Nas 6 secções foram contadas
todas as células TH+ das áreas de interesse através do programa ImageJ e a
delimitação da área foi realizada com base no atlas Paxinos e Watson (2007). Os
valores para cada animal foram normalizados pela média dos valores obtidos dos
39
animais pertencentes ao grupo controle de cada etapa. Todas as contagens foram
feitas às cegas.
5.10 Avaliação da Densitometria Óptica Relativa – DOR
Para análise da Densidade Óptica Relativa (DOR), as imagens foram obtidas
em um mesmo momento, submetidas a mesma intensidade de luz, sem passar por
modificação de brilho e contraste, uma vez que os valores em pixels de cada imagem
correspondem a uma intensidade maior ou menor de marcação da substância no
tecido. Cada animal foi representado por 6 imagens para cada área. Utilizando o
programa ImageJ, foram selecionadas as áreas do estriado dorsal. Na mesma
imagem, também foi selecionado um campo de igual tamanho em uma área controle,
com pouca ou quase nenhuma marcação de TH no tecido. O número médio de pixels
calculados no campo de interesse foi subtraído do número de pixels da área controle
no mesmo tecido. Assim como na contagem de células, os valores para cada animal
foram normalizados pela média dos valores obtidos dos animais pertencentes ao
grupo controle de cada etapa.
5.11 Análise dos dados
Inicialmente os dados foram submetidos ao teste de Kolmogorov – Smirnov
para verificar a normalidade dos dados e podermos aplicar o teste recomendado,
baseado na distribuição dos dados. No experimento i.n, a catalepsia foi analisada ao
longo do tempo utilizando uma ANOVA fatorial de medidas repetidas. Para análise do
reconhecimento de objeto novo, foi utilizado o teste-t para amostras pareadas. Para
as tarefas de campo aberto, medo condicionado ao contexto, alternação espontânea,
contagem de células e densitometria óptica relativa foi feito o teste-t simples. No
experimento i.c.v., a catalepsia foi analisada utilizando a ANOVA de medidas
repetidas e pós-teste de Tukey. O campo aberto, alternação espontânea, contagem
40
de células e densidade óptica relativa foram avaliadas através da ANOVA de uma via
seguida do pós-teste de Tukey. Os dados foram expressos em média ± erro padrão
E.P.M. e nível de significância de p < 0,05 para diferenças estatisticamente
significativas. Para realização das análises foram utilizados o software Statistica 8.0 e
o Graphpad Prism 6.0.
41
6. RESULTADOS
6.1 Experimento 1: administração intranasal de DM
6.1.1 Comportamento de Catalepsia
A ANOVA de medidas repetidas não revelou efeito do tempo (dias do tratamento)
[F(20,340) = 2,28, p = 0,302], efeito do tratamento (CTR e DM 0,5 mg) [F(1,17) = 1,10,
p = 0,308] e interação tempo x tratamento [F(20,340) = 1,162, p = 0,285] no
comportamento de catalepsia (Figura 10).
Figura 10: Efeito da administração intranasal repetida de DM (0,5 mg, n=10) ou veículo (CTR, n=9) no comportamento de catalepsia. A ANOVA de medidas repetidas não revelou efeito do tempo (dias do tratamento), não mostrou diferença significativa em relação ao tratamento (CTR e DM) e interação tempo x tratamento. Os dados são expressos como média ± EPM.
42
6.1.2 Campo aberto
O teste do campo aberto foi realizado nos dias 2 e 18 (48 horas após a 1ª e 72
horas após a 3ª administração intranasal repetida de DM 0,5 mg, respectivamente).
Para distância total percorrida no campo, nenhuma diferença foi encontrada entre os
grupos CTR e DM 0,5 mg na 1ª semana [t (17) = 1,71, p = 0,105] e na 3ª semana [t
(17) = 0,46, p = 0,649] (Figura 11 A). Para o tempo de permanência na zona interna,
não houve diferença significativa entre os grupos na 1ª semana [t(17) = 0,50, p =
0,623] e na 3ª semana [t(17) = 1,19, p = 0,252] (Figura 11 B). Em relação ao número
de rearing, não houve diferença significativa entre os grupos CTR e DM 0,5 mg na 1ª
semana de experimento [t (17) = 1,15, p = 0,2658] porém houve um aumento do
número de vezes que o comportamento foi realizado pelo grupo DM quando
comparado ao grupo CTR na 3ª semana de realização do teste, [t (17) = 2,65, p =
0,017 (Figura 11 C).
43
Figura 11: Efeito da administração intranasal repetida com DM (0,5 mg, n=10) ou veículo (CTR, n=9) na (A) distância total percorrida; (B) tempo de permanência na zona interna e (C) número de rearing. Foi observado alteração apenas um aumento no número de rearing do grupo tratado com DM na 3ª semana de experimento, quando comparado ao CTR. Os dados são expressos como média ± EPM. *p < 0,05 comparado ao CTR (Teste-t para amostras não pareadas).
44
6.1.3 Teste de Reconhecimento de Objeto Novo
O teste do reconhecimento de objeto novo foi realizado somente uma vez, no
dia 3 (72 horas após a 1ª administração intranasal de DM 0,5 mg). O grupo CTR
mostrou um aumento na porcentagem de exploração do objeto novo quando
comparado ao objeto antigo através do teste t pareado [t (5) = 2,83, p = 0,037],
indicando um bom desempenho da tarefa. O grupo DM 0,5 mg não mostrou diferença
significativa na porcentagem de exploração do objeto novo quando comparado ao
objeto antigo [t (6) = 1,12, p = 0,305] (Figura 12).
Figura 12: Efeito da administração intranasal repetida com DM (0,5 mg, n=7) ou veículo (CTR, n=6) na tarefa de reconhecimento de objeto novo. O grupo DM não apresentou preferência pelo objeto novo na sessão de teste, indicando uma possível perda cognitiva causada pelo tratamento com a DM. Os dados são expressos como média ± EPM. *p < 0,05 comparado ao objeto antigo (Teste-t para amostras pareadas).
45
6.1.4 Medo Condicionado ao Contexto
Na tarefa de medo condicionado ao contexto, realizada no dia 12 (5º dia após
a 2ª administração intranasal), as variáveis consideradas foram o tempo de freezing e
número de tentativa de fuga do treino (150 segundos antes e 150 segundos após o
início do primeiro choque) e teste (minuto a minuto).
No treino, quando os dados foram analisados 150 segundos antes e depois do
choque, observou-se que ambos os grupos apresentaram aumento significativo em
relação ao tempo de freezing CTR [t (8) = 4,16, p=0,032] e DM [t (9) = 6,16, p<0,001]
após os choques (Figura 13 A). No número de tentativa de fuga, os grupos CTR e
DM apresentaram aumento significativo após os choques [t(8)=3,31, p=0,005] e
[t(9)=2,39, p=0,020], respectivamente (Figura 13 B).
Figura 13: Efeito da administração intranasal repetida com DM (0,5 mg, n=10) ou veículo (CTR, n=9) no treino da tarefa de medo condicionado ao contexto realizado 150 segundos antes e após o choque. A figura (A) mostra o tempo de freezing e (B) o número de tentativas de fuga dos animais dos dois grupos. Os grupos CTR e DM apresentam comportamento semelhantes, aumentando o comportamento de freezing e tentativa de fuga depois dos choques. Os dados são expressos como média ± EPM. *p < 0,05; **p < 0,01 e ***p<0,001 comparado ao grupo CTR antes dos choques (Teste-t para amostras pareadas).
46
No teste, quando os dados foram avaliados minuto a minuto, foi observado que
houve diferença significativa no tempo de congelamento [t (17) =1,85, p=0,040] e no
número de tentativa de fuga [t (17) = 1,94, p=0,035] no segundo minuto do teste,
mostrando que os animais do grupo CTR apesentaram um comportamento de
antecipação do choque quando comparados aos animais do grupo DM nesse mesmo
minuto (Figura 14 A e 14 B).
Figura 14: Efeito da administração intranasal repetida de DM (0,5 mg n=10) ou veículo (CTR,
n=9) no teste da tarefa de medo condicionado ao contexto. A figura (A) mostra o tempo de
freezing dos animais e (B) o número de tentativas de fuga a cada minuto do teste. Houve uma
redução da duração de freezing dos animais tratados com DM e essa redução ocorreu no 2º
minuto do teste. Foi observado também que os animais tratados com DM aumentaram o
número de tentativas de fuga no 2º minuto do teste. Os dados são expressos como média ±
EPM. *p < 0,05 comparado ao CTR (Teste-t para amostras não pareadas).
47
6.1.5 Alternação espontânea
No teste de alternação espontânea (memória operacional), realizado 48 horas
após a 2ª administração intranasal de DM 0,5 mg, não houve diferença significativa
quanto a porcentagem de exploração [t (12) = 0,59, p = 0,566] e no número de braços
visitados [t (12) = 0,02, p = 0,981] entre os grupos CTR e DM 0,5 mg (Figura 15 A e
15 B).
Figura 15: Efeito da administração intranasal repetida de DM (0,5 mg, n=6) ou veículo (CTR, n=8) no teste de alternação espontânea. A figura (A) representa a porcentagem de alternação e (B) o número de braços visitados. Os dados são expressos como média ± EPM. (Teste-t para amostras não pareadas).
48
6.1.6 Contagem de células
Para o número de neurônios TH+ na SNpc, o teste-t simples revelou diminuição
do número de células no grupo DM 0,5 mg quando comparado ao grupo CTR [t (14)
= 5,16, p < 0,001] (Figura 16 e 17). Quando os números de neurônios TH+ no VTA
foram analisados, o teste-t simples mostrou que houve uma diminuição do número de
neurônios TH+ no grupo DM 0,5 mg quando comparado ao CTR [t (13) = 5,80 p <
0,001] (Figura 16 e 17).
Figura 16: Efeito da administração intranasal repetida de DM (0,5 mg, n=8-9) ou veículo (CTR, n=6-8) no número de TH+ na SNpc e VTA. Diminuição no número de células foi observada para o grupo DM nas duas áreas analisadas. Os valores foram normalizados pelo grupo CTR e expressos como média e EPM. ***p<0,001 comparando o grupo DM 0,5 mg ao grupo CTR (Teste-t para amostras não pareadas).
49
Figura 17: Imagens representativas da SNpc e de VTA dos animais tratados com DM 0,5 mg ou veículo intranasal (CTR). Barra de escala: 500 μm.
6.1.7 Densitometria óptica relativa - DOR
Para análise da Densidade Óptica Relativa (DOR) no estriado dorsal, o teste-t
simples revelou um aumento da DOR no grupo DM 0,5 mg quando comparado ao
grupo CTR [t (13) = 2,52, p = 0,025], mostrando um possível aumento do TH no
estriado após o tratamento repetido com a DM (Figura 18 e 19).
Figura 18: Efeito da administração intranasal repetida de DM (0,5 mg, n=7) ou veículo (CTR,
n=8) na densitometria óptica relativa (DOR) do estriado dorsal. O grupo tratado com DM mostrou um aumento na DOR quando comparado ao grupo CTR. Os valores foram normalizados pelo grupo CTR e expressos como média ± EPM. *p < 0,05 comparando o grupo DM 0,5 mg ao grupo CTR (Teste-t para amostras não pareadas).
50
Figura 19: Imagens representativas do estriado dorsal dos animais tratados com DM 0,5 mg veículo intranasal (CTR). Barra de escala: 1000 µm.
51
6.2 Experimento 2: administração intracerebroventricular de DM
6.2.1 Comportamento de Catalepsia
A ANOVA de medidas repetidas não revelou efeito do tempo (dias do
tratamento) [F (5,80) = 10,56, p = 0,605], efeito do tratamento (CTR, DM 0,5 e DM 5
µg) [F (2,16) = 0,36, p = 0,705], e interação tempo x tratamento [F (10,80) = 1,14, p =
0,34] (Figura 20).
Figura 20: Efeito da administração i.c.v. repetida com veículo (CTR, n=7), DM 0,5 (DM 0,5 µg, n=7) ou DM 5 (DM 5 µg, n=5) no comportamento de catalepsia. A ANOVA de medidas repetidas não revelou efeito do tempo (dias do tratamento), não mostrou diferença significativa em relação ao tratamento (CTR e DM) e interação tempo x tratamento. Os dados são expressos como média ± EPM.
52
6.2.2 Campo aberto
O teste do campo aberto foi feito no dia 15 (24h após a 3ª injeção
intracerebroventricular de DM). A ANOVA de uma via mostrou que houve efeito do
tratamento (CTR, DM 0,5 µg e DM 5 µg) na distância percorrida no campo [F (2,16) =
6,78, p < 0,01]. O pós-teste de Tukey mostrou que os animais tratados com DM 5 µg
percorreram maior distância quando comparados aos animais do grupo CTR (p =
0,014) e aos animais tratados com DM 0,5 µg (p = 0,011) (Figura 21 A). Para o tempo
de permanência no centro, a ANOVA de uma via não revelou diferenças significativas
entre os grupos [F (2,16) = 0,35, p = 0,710] (Figura 21 B).
Em relação ao número de rearing, a ANOVA de uma via mostrou que houve
efeito do tratamento (CTR, DM 0,5 µg e DM 5 µg) [F(2,16) = 9,34, p = 0,002] e o pós-
teste de Tukey revelou que o grupo tratado com DM 5 µg fez maior quantidade de
movimento de rearing quando comparado ao grupo CTR ( p=0,015) e aos animais
tratados com DM 0,5 µg (p = 0,022) (Figura 21 C).
53
Figura 21: Efeito da administração i.c.v. repetida com veículo (CTR, n=7), DM 0,5 (DM 0,5 µg, n=7) ou DM 5 (DM 5 µg, n=5) na (A) distância total percorrida; (B) tempo de permanência na zona interna e (C) número de rearing. Os animais do grupo DM 5 mostraram aumento na distância percorrida e no número de rearing quando comparados aos grupos CTR e DM 0,5. Os dados são expressos como média ± EPM. * p < 0,05 comparando o grupo DM 5 µg ao CTR e # p < 0,05 quando o grupo DM 5 µg foi comparado ao grupo DM 0,5 µg (ANOVA de medidas repetidas e pós-teste de Tukey).
54
6.2.3 Alternação espontânea
O teste da alternação espontânea (memória operacional) foi realizado no 14º
dia, 48 horas após a 2ª administração i.c.v. de DM. A ANOVA de uma via revelou
efeito do tratamento (CTR, DM 0,5 µg e DM 5 µg) [F (2,13) = 4,69, p = 0,029]. O pós-
teste de Tukey mostrou que os animais do grupo DM 5 µg reduziram a porcentagem
de exploração quando comparados aos animais do grupo CTR (p = 0,031), mostrando
um possível prejuízo cognitivo na tarefa (Figura 22 A).
Em relação ao número de braços visitados, a ANOVA de uma via mostrou efeito
significativo do tratamento [F (2,16) = 5,42, p = 0,016]. Através do pós-teste de Tukey,
foi observado que houve um aumento significativo do número de braços visitados
quando comparado o grupo DM 5 µg com o CTR (p = 0,019) e com o grupo DM 0,5
µg (p = 0,035) (Figura 22 B).
Figura 22: Efeito da administração i.c.v. repetida com veículo (CTR, n = 6 - 7), DM 0,5 (DM 0,5 µg, n = 6 - 7) ou DM 5 (DM 5 µg, n = 4 - 5) no teste de alternação espontânea. A figura (A) representa a porcentagem de alternação e (B) o número de braços visitados. O grupo DM 5 mostrou diminuição na % de alternações quando comparado ao grupo CTR e aumento no número de entradas nos braços, quando comparado aos grupos CTR e DM 0,5. Os dados são expressos como média ± EPM. * p < 0,05 comparando o DM 5 µg ao grupo CTR e # p < 0,05 quando o grupo DM 5 µg foi comparado ao grupo DM 0,5 µg (ANOVA de uma via e pós-teste de Tukey).
55
6.2.4 Contagem de células
Para o número de neurônios TH+ na SNpc, a ANOVA de uma via revelou que
o tratamento repetido com DM i.c.v. causou alteração no número de células [F (2,16)
= 12,74, p < 0,001]. O pós-teste de Tukey mostra que houve uma redução do número
de células TH+ quando o grupo tratado com DM 5 µg foi comparado aos grupos CTR
(p < 0,01) e DM 0,5 µg (p < 0,001). Resultado semelhante foi encontrado para o
número de células no VTA, em que a ANOVA de uma via mostrou efeito do tratamento
[F (2,16) = 22,06, p < 0,001] e que houve redução do número de células TH+ quando
o grupo tratado com DM 5 µg foi comparado aos grupos CTR (p < 0,001) e DM 0,5 µg
(p < 0,001) (Figura 23).
Figura 23: Efeito da administração i.c.v. repetida com veículo (CTR, n = 7), DM 0,5 (DM 0,5 µg, n=7) ou DM 5 (DM 5 µg, n=5) no número de células TH+ na SNpc (A) e VTA (B). O grupo DM 5 apresentou diminuição do número de células quando comprados aos grupos CTR e ao DM 0,5 na SNpc e no VTA. Os valores foram normalizados pelo grupo CTR e expressos como média ± EPM. ** p < 0,01, *** p < 0,001 comparando o DM 5 µg ao grupo CTR e # p < 0,001 quando o grupo DM 5 µg foi comparado ao grupo DM 0,5 µg (ANOVA de uma via e pós-teste de Tukey).
56
Figura 24: Imagens representativas da SNpc e de VTA dos animais tratados com veículo (CTR), DM 0,5 µg ou DM 5 µg intracerebroventricular. Barra de escala: 500 µm.
6.2.5 Densitometria óptica relativa - DOR
A ANOVA de uma via mostrou que houve efeito do tratamento sobre a DOR no
estriado dorsal [F (2,16) = 18,28, p < 0,001]. O pós-teste de Tukey revelou que houve
redução da DOR para os grupos DM 0,5 µg (p < 0,01) e DM 5 µg (p < 0,001) quando
comparados ao grupo CTR, mostrando uma possível redução dos níveis de TH no
estriado dorsal dos animais tratados com DM (Figura 25).
Figura 25: Efeito da administração i.c.v. repetida com veículo (CTR, n = 7), DM 0,5 (DM 0,5 µg, n=7) ou DM 5 (DM 5 µg, n=5) na densitometria óptica (DOR) no estriado dorsal. O tratamento com DM causou uma redução na DOR do estriado dorsal dos animais, quando comparados aos do grupo controle. Os valores foram normalizados pelo grupo CTR e expressos como média ± EPM. **p < 0,01 comparando o DM 0,5 µg e *** p < 0,001 quando comparados ao grupo CTR. (ANOVA de uma via e pós-teste de Tukey).
57
Figura 26: Imagens representativas do estriado dorsal dos animais tratados com DM 0,5 µg, DM 5 µg e veículo (CTR) intracerebroventricular. Barra de escala: 1000 µm.
58
7. DISCUSSÃO
No presente estudo nós investigamos as alterações motoras, cognitivas e
neuroquímicas causadas pela administração repetida da deltametrina (DM) em ratos
por duas vias de administração: intranasal (i.n.) e intracerebroventricular (i.c.v.). No
experimento i.n., observamos que houve alterações motoras, com aumento no
número de rearing no campo aberto na última semana de realização do teste;
alterações cognitivas no teste de reconhecimento de objeto novo na primeira semana
de experimento e no medo condicionado ao contexto na terceira semana de
experimento. As alterações motoras e cognitivas foram acompanhadas por mudanças
neuroquímicas, com diminuição de células TH+ na SNpc, VTA e aumento de seus
níveis no estriado dorsal. Já no experimento i.c.v., observamos que houve alterações
motoras no campo aberto, com aumento da distância percorrida e número de rearing
dos animais tratados com a maior concentração de DM e alterações cognitivas na
alternação espontânea, com redução da porcentagem de alternação e aumento do
número de entrada nos braços dos animais que receberam a DM 5. Essas alterações
também foram acompanhadas por prejuízos neuroquímicos, com redução de células
TH+ na SNpc, VTA e de seus níveis no estriado dorsal.
A deltametrina (DM) é um dos piretróides sintéticos mais potentes do tipo II,
amplamente utilizado para controlar insetos na agricultura, ambiente doméstico e
usado também no controle de vetores na saúde pública. Age atrasando o fechamento
de canais de sódio, causando a despolarização persistente da membrana, podendo
levar a convulsão, paralisia e morte (RICCI et al., 2013). Recentemente, a literatura
mostra que o pesticida estimula o receptor glutamatérgico ou bloqueia o receptor
GABA (MORIKAWA; FURUHAMA, 2009) e tem ação dopaminérgica. A exposição aos
piretróides podem induzir prejuízos neurocomportamentais em roedores e humanos,
que incluem aspectos motores, ansiedade, comportamento condicionado e
comportamento agressivo (WOLANSKY; HARRIL, 2008).
No presente trabalho analisamos o comportamento motor de ratos tratados com
DM por duas diferentes vias de administração (i.n. e i.c.v.), através do teste de
59
catalepsia. Esse teste é baseado na latência para o animal sair da posição inicial,
através da retirada da pata e é usado para avaliar alterações motoras em modelos
animais da DP (SANTOS et al., 2013). Esse retardo em iniciar movimentos é comum
por pacientes que possuem a DP (SMULDERS et al., 2015) e já foi demonstrado por
outros pesquisadores em modelos animais (FERNANDES et al., 2012). No
experimento I e II do presente estudo não foram observadas alterações significativas
no tempo na barra dos animais que receberam DM, quando comparados com o
controle (figura 10 e 20). No experimento I, os animais do grupo DM apresentaram
uma grande variabilidade quanto ao comportamento na barra, o que pode ter
dificultado uma possível diferença entre os dois grupos analisados.
Um outro teste realizado para avaliar as alterações motoras foi o campo aberto,
em que foi analisada a atividade locomotora espontânea e foram observados
parâmetros como distância total percorrida pelo animal no aparato, tempo de
permanência no centro e comportamento de rearing. Observamos que a
administração i.n. de DM não causou alterações na distância total percorrida;
enquanto que a administração i.c.v. de DM 5 µg causou um aumento da atividade
motora (Figura 21), mostrando uma hiperexcitação dos animais. É citado na literatura
que os piretróides podem causar excitação excessiva em animais tratados com doses
moderadas de DM (NIERADKO-IWANICKA; BORZECKI, 2015). Já o comportamento
de rearing foi aumentado após a terceira injeção i..n. (Figura 11) e também no
experimento i.c.v. Habr et al. (2014) observou que a administração de DM 10 mg/kg
via oral reduziu a frequência de rearing, mas não afetou a locomoção na distância
percorrida e tempo de imobilidade no campo aberto. Lazarani et al. (2001) mostram
que ratos machos e fêmeas com 21 dias de vida, tratados com DM, não apresentaram
diferença significativa quanto ao número de rearing e ao comportamento locomotor no
campo aberto. Segundo os mesmos autores, o tempo de imobilidade, que reflete
alterações motoras no campo aberto, não foi modificado pela exposição à DM pré-
natal. Já Ricci et al. (2013), mostra que a DM 3 mg/kg administrada por gavagem,
aumenta o tempo de duração da imobilidade comparando ao controle.
Segundo Habr et al. (2014) a redução da frequência de rearing ocorreu devido
a diminuição da atividade dopaminérgica estriatal. No presente trabalho, através da
60
contagem de células, observamos uma redução do número de neurônios TH+ em VTA
e SNpc nos dois experimentos (Figuras 16 e 23). Entretanto, através da análise da
Densidade Óptica Relativa (DOR), observamos um aumento da atividade
dopaminérgica estriatal na administração de DM i.n. (Figura 18) e uma diminuição
dessa atividade quando a DM foi administrada por via i.c.v. (Figura 25). Uma hipótese
para explicar o efeito apresentado no experimento I seria um mecanismo
compensatório da via dopaminérgica. No experimento i.n. houve repetida depleção de
dopamina e a administração da DM ocorreu a cada 7 dias, ou seja, as células
remanescentes na SNpc enviaram mais projeções para o estriado, afim de manter as
funções fisiológicas normais da via nigroestriatal, por isso houve um aumento dos
níveis de TH no estriado dorsal. Já no experimento i.c.v., as administrações da DM
foram realizadas a cada 48 horas, ou seja, em menor intervalo de tempo. Com isso, o
mecanismo compensatório das projeções dopaminérgicas estriatais possivelmente
foram dificultados, apresentando então uma redução da DOR no estriado dorsal.
Na literatura é bem conhecido que a dopamina é o um dos principais
neurotransmissores envolvidos no controle do sistema motor (PREDIGER et al., 2010;
NIERADKO-IWANICKA; BORZECKI, 2015; TRISTÃO et al., 2014). Na Doença de
Parkinson, a perda de 50-60% de neurônios dopaminérgicos na SNpc, acarreta na
diminuição dos níveis de dopamina no estriado. Essa diminuição de dopamina na via
nigroestriatal é responsável pelos sintomas motores que são os sinais cardinais
utilizados no diagnóstico da doença. Embora as causas da DP sejam desconhecidas,
alguns estudos epidemiológicos e experimentais sugerem que a exposição a agentes,
incluindo agrotóxicos, podem contribuir para essa patogenia (GORELL et al., 1998).
Esses agentes podem entrar no cérebro via neuroepitélio olfatório, uma concepção
chamada hipótese do vetor olfatório (DOTY, 2008; PREDIGER et al., 2010). De acordo
com essa hipótese, estudos mostram que a infusão intranasal de neurotoxinas das
vias dopaminérgicas, como 6-OHDA e MPTP podem resultar na invasão desses
agentes em estruturas cerebrais de roedores, podendo até causar danos severos nas
estruturas cerebrais. A via intranasal de inoculação de substâncias, tem contribuído
para melhor entendimento das características da DP, incluindo a avaliação de risco
causada por neurotoxinas ambientais.
61
Alguns modelos já são bem estabelecidos na literatura, porém substâncias
rotineiras, como a deltametrina, ainda são pouco estudadas. O foco desses modelos
animais já existentes, é a habilidade de induzir dano na via nigroestriatal e alterações
motoras associadas às fases da doença. Já foi citado que a DP possui estágios pré-
clínicos que são acompanhados de alterações em várias funções, como emocional,
olfatório e cognitivo. A doença de Parkinson parece produzir também déficit na
memória de reconhecimento, disfunções que envolvem memória de trabalho e déficit
de atenção (BRONNICK et al., 2006; HIGGISON et al., 2003; LEWIS et al., 2003;
PREDIGER et al., 2010).
Nesse contexto, avaliamos nesse trabalho, memória de reconhecimento a curto
prazo, no teste de reconhecimento de objeto novo, memória aversiva a longo prazo,
na tarefa de medo condicionado ao contexto e memória operacional no teste de
alternação espontânea, esse último em ambos experimentos. Nós avaliamos a
memória a curto prazo no teste de reconhecimento de objeto novo no dia 3 do
experimento I e observamos que o grupo tratado com DM apresentou um déficit em
reconhecer objetos novos (Figura 12). A tarefa de reconhecimento de objeto novo
consiste em avaliar a memória de reconhecimento através do paradigma
reconhecimento (VANN; ALBASSER, 2011), em que é o animal é apresentado a dois
objetos idênticos, distribuídos em pontos fixos de um campo aberto, durante a sessão
de treino. Uma hora depois, são apresentados ao mesmo animal um dos objetos já
conhecidos e um objeto novo. No presente estudo, o déficit cognitivo ocorreu antes
dos prejuízos motores causados pela administração i.n. de DM, como ocorre na DP
(PREDIGER et al., 2010; PREDIGER et al., 2006; DALAKER et al., 2011). Já foi
mostrado na literatura que variações nos níveis de monoaminas induzido por algumas
substâncias, como a reserpina, pode promover déficit cognitivo na ausência de
prejuízo motor (CARVALHO et al., 2006; FERNANDES et al., 2008; SANTOS et al.,
2013). Alguns estudos sugerem que a degeneração parcial dopaminérgica no
estriado, e em pararelo, alterações noradrenérgica e serotonérgica no estriado e no
córtex pré-frontal, podem causar déficit emocional e cognitivo, observados em
modelos com ratos na fase precoce da DP (TADAIESKY et al., 2008). Outros
experimentos que avaliam memória de curto prazo, como reconhecimento social, em
62
animais tratados com MPTP, também mostram danos nesse tipo de memória
(PREDIGER et al., 2010).
A memória a longo prazo foi avaliada através do teste de medo condicionado
ao contexto realizado nos dias 12 (treino) e dia 13 (teste). Essa tarefa é baseada em
um procedimento clássico utilizado para avaliar a memória de longo prazo. Nós
observamos déficit nesse tipo de memória induzido pela administração intranasal de
DM. No treino, os grupos CTR e DM apresentam comportamento semelhantes,
aumentando os comportamentos de freezing e tentativa de fuga antes e após o
choque (Figura 13). No teste, houve redução do tempo de freezing nos animais
tratados, e essa diferença ocorreu no segundo minuto do teste (Figura 14). Em relação
a tentativa de fuga, os animais DM aumentam o parâmetro no segundo minuto de
teste. É importante destacar que os animais controle entram em freezing mais rápido
que os animais tratados com a DM, demostrando melhor desempenho na tarefa.
Podemos observar também que os animais utilizam estratégias diferentes em relação
ao medo: os animais controle tentam entram em freezing, enquanto que os tratados
com DM tentam fugir. Esses resultados corroboram com trabalhos prévios feitos com
reserpina, em que os animais tratados com essa substância apresentaram prejuízo
nesse tipo de memória. Esse tipo de memória parece estar relacionado ao
processamento emocional e esse tipo de alteração também é observada na DP
(BOWERS et al., 2006). Caetano (2012) mostrou que os receptores da família D2, e
não D1, estão envolvidos na expressão do medo condicionado ao contexto. Além
disso, observou que uma diminuição na expressão do congelamento condicionado
(freezing) e os efeitos obtidos com a administração sistêmica deve-se a sua ação no
VTA. Com isso, o VTA parece atuar na modulação das respostas de medo
condicionado e a ativação desta estrutura deve ser importante para recuperação da
aprendizagem aversiva ocorrida no dia do condicionamento. Como já mostrado
anteriormente, na nossa pesquisa, houve redução das células TH+ em VTA em ambos
experimentos, podendo ser esse um dos fatores causadores desse prejuízo cognitivo.
A memória operacional foi avaliada através da tarefa de alternação espontânea.
Essa tarefa é baseada na tendência que o animal apresenta de explorar de forma
abrangente o lugar, quando é exposto a um novo ambiente, dessa forma passa a
63
alternar entre os braços do labirinto. No experimento i.n. foi observado que a
porcentagem de alternações e o número de entrada nos braços não se diferenciaram
entre os grupos, mostrando ausência do efeito da DM no teste (Figura 15). Em um
trabalho em que foi realizada a infusão intranasal de MPTP, os animais não
apresentaram alteração no teste do labirinto aquático, teste que também avalia
memória operacional (CASTRO et al., 2013). Em um estudo baseado na
administração de reserpina, foi observado que a porcentagem de alternações não se
diferenciou entre os grupos, mostrando ausência do efeito da reserpina nessa tarefa
(SOUZA, 2008). Entretanto, no experimento i.c.v. realizado nesse estudo, (Figura 22),
houve uma redução da porcentagem de alternação no grupo com dose mais alta de
DM e um aumento do número de entrada nos braços quando comparado aos outros
grupos. Esse resultado mostrou mais uma vez, uma possível hiperexcitação dos
animais tratados com DM 5 µg no experimento i.c.v. e também menor atenção, já que
o número de entrada nos braços foi maior, porém a porcentagem de alternação foi
menor. Provavelmente, o tamanho da lesão na via dopaminérgica pode ser um dos
fatores que influenciaram nesse último experimento. Tem sido sugerido prejuízos
cognitivos em estágios precoces da DP, assemelhando-se aqueles que ocorrem no
lobo frontal, que incluem prejuízos em funções executivas, como planejamento e
memória operacional (LEWIS et al., 2003). Muitas dessas funções cognitivas são
prejudicadas em doenças mentais (transtorno do déficit de atenção, hiperatividade e
esquizofrenia) e a DP. Estudos realizados com primatas humanos e não-humanos
mostra o envolvimento do desequilíbrio de catecolaminas pré-frontais no controle
dessas funções (CLARK e NOUDOOST, 2014).
Tendo em vista a importância econômica dos piretróides, dentre eles a DM, que
é o foco do estudo, é interessante citar que são poucos os trabalhos que relacionam
os efeitos dos piretróides com os mecanismos dopaminérgicos. A DM pode causar
aumento da dopamina extracelular e há indícios que a TH é o alvo molecular da DM
no metabolismo dopaminérgico na via nigroestriatal (HOSSAIN et al., 2006; LIU et al.,
2006). A atividade da neurotransmissão estriatal é modulada diferentemente em
piretróides variados. Parece que os piretróides alteram a dopamina estriatal
extracelular em cérebro de ratos afetando canais de sódio e cálcio nos terminais
nigroestriatais dopaminérgicos ou interneurônios GABAérgicos (HOSSAIN et al.,
64
2006). Pesquisadores observaram que a DM produz maiores prejuízos
dopaminérgicos no estriado, quando comparados à SNpc, sugerindo que as
inervações dopaminérgicas do estriado são mais suscetíveis ao pesticida quando
comparados aos corpos celulares nigrais (LIU et al., 2006).
Nós mostramos no presente estudo que o tratamento com DM por via intranasal
não foi capaz de causar alterações motoras significativas para o comportamento de
catalepsia analisada diariamente. Esse tratamento foi capaz de causar aumento no
número de rearing na atividade de campo aberto; alterações cognitivas, como
memória de curto prazo no teste de reconhecimento de objeto novo e memória de
longo prazo no teste do medo condicionado ao contexto. No experimento i.n. as
alterações cognitivas precederam as alterações motoras. É interessante notar que
essas mudanças foram acompanhadas da redução do número de células TH+ em
VTA e na SNpc, porém, houve um aumento no nível de TH estriatal. Já com tratamento
com DM por via intracerebroventricular, ocorrerem alterações motores no campo
aberto e cognitivos na alternação espontânea. Esses danos foram acompanhados
pela redução no número de células TH+ na SNpc e VTA e da redução da DOR no
estriado dorsal.
Novos estudos deverão ser realizados para esclarecer aspectos ainda pouco
compreendidos acerca das alterações motoras, cognitivas e neuroquímicas causadas
pela DM. Entretanto, o tratamento com DM por duas vias de administração obteve
resultados semelhantes a modelos que propõem estudar estágios iniciais da DP,
mimetizando, em vários aspectos, a natureza progressiva da DP em outros modelos
e em humanos.
65
8. CONCLUSÃO
Nesse estudo nós mostramos que os tratamentos com injeções repetidas de
DM i.n. ou i.c.v. foram capazes de causar alterações cognitivas e emocionais, na
ausência de alterações motoras. Essas alterações foram acompanhadas da redução
de neurônios TH+ na SNpc e VTA, mostrando o envolvimento da via dopaminérgica.
O curso temporal das alterações motoras e cognitivas, associados à redução de
neurônios dopaminérgicos, podem ser relacionados com diferentes estágios da DP,
em humanos e em modelos animais progressivos da doença, sugerindo que esse seja
um possível modelo animal para se compreender melhor possíveis alterações
envolvidas na natureza progressiva da DP. Porém, outros estudos deverão ser
realizados para se conhecer melhor os efeitos causados por esse pesticida sobre os
mecanismos comportamentais e neuroquímicos.
66
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