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2. CARACTERíSTICAS DA ECONOMIAJAPONESA NA DÉCADA DE 70

2.1 Tendências Gerais

Depois da 11Guerra Mundial, a economia japo-nesa registrou um crescimento acelerado: a taxaanual média do crescimento no período de pós-guerra foi de 10%, que corresponde a uma taxaduas vezes maior do que a dos países desenvol-vidos. Em conseqüência, o Produto NacionalBruto (PNB) real passou de 58 900 milhões dedólares americanos, em 1963, a 300 bilhões, em1972, chegando a ser o terceiro maior do mundo,superado somente pelo dos EUA e Rússia. A ren-da nacional per capita em 1973 foi de 3090dólares americanos que correspondem a 61% darenda nacional dos EUA e ao 12. o lugar entre ados países da OCDE, exceto a da Inglaterra.

Também aumentou, substancialmente, a par-ticipação do Japão na produção mundial dosprodutos principais. A produção de aço em lin-gote do Japão subiu de 28270 milhões de to-neladas (8% da produção mundial), em 1961, apouco mais de 88,5 milhões de toneladas(15,4%), em 1971, chegando a ser a maior pro-dução do mundo, seguida pela dos EUAe Rússia. Cabe destacar que a participa-ção japonesa de 15,4% é muito grande, se acompararmos ao fato de que o Japão somenteocupa 0,27% (377 mil km2)da superfície da terra eque sua população corresponde a 2,82% (108 700mil em 1973) da população mundial.

Além disso, sua construção naval elevou-se a11 900 milhões de toneladas em 1971, o queequivale a 48,2% da produção mundial, ou seja,quase a metade dela. A produção de receptoresde televisão alcançou a cifra de 13230 mil uni-dades em 1971, significando 29,6% da produçãomundial. Nos anos recentes, a produção deveículos tem aumentado muito rapidamente; a deautos de passageiros passou de 250 mil uni-dades, em 1961, a 3 718 mil unidades, em 1971,ocupando 14,7% da produção mundial, ou seja, osegundo maior produtor depois dos EUA, e a decaminhões e ônibus chegou a 2105 mil unida-des, em 1971, ultrapassando a dos EUA, que erao primeiro produtor até então.

Na realidade, a economia japonesa passou poruma expansão substancial desde a segundametade da década de 50, sustentada pelas inver-sões ativas em fábricas e equipamentos. Comose vê no quadro 1, a taxa anual de crescimento doPNB real subiu de 8,7%, no período de 1955-59, a11,3% entre 1960-69. Com respeito às mudançasde preços, enquanto os preços por atacado semantiveram relativamente estáveis, os do con-sumidor aumentaram gradativamente: na décadade 60, a taxa anual de aumento dos preços poratacado foi de 1,0%, mas os preços do consu-midor tiveram um incremento de 5,4%.

Ao iniciar-se a década de 70, entretanto, asituação mudou; enquanto o ritmo de crescimen-

to econômico diminuía, os preços continuaramsubindo. A taxa anual do crescimento do PNBreal entre 1970-73 foi de 8,3%, e as taxas de in-cremento dos preços por atacado e dos preços doconsumidor de 4,9% e 7,6%, respectivamente.

Quadro 1Crescimento do Produto Nacional Bruto ealterações nos índices de preços (taxas anuais,em percentagens)

PNB1

Produção Elevação PreçosAno para o

Nominal Real industrial de preços consumidor 2

1955-59 11,7 8,7 14,2 0,0 0,61960-64 16,8 11,4 15,8 0,5 5,41965-69 16,3 11,3 13,4 1,6 5,41960-69 16,6 11,3 14,6 1,0 5,41970-73 16,6 8,3 10,3 4,9 7,61970 16,3 9,3 13,8 3,6 7,91971 11,2 6,6 2,6 -0,8 6,21972 17,3 11,0 7,3 0,8 4,51973 21,7 6,1 17,5 15,9 11,71974 18,73 -1,73 -2,5 31,3 24,2

Fonte: Economic Plannlng Agency (EPA), Kelzal YOIIIn (Manual EconOmico) eBank 01 Japan, Kelzal Tokel Geppo (Boletim Mensal de EstatlstlcaEconOmica).

1 Anoliscal.2 Cidades com populaçAo superior a 50 mil.3 Estimativas do Governo japonês.

Desta maneira, a economia japonesa na décadade 70 se caracteriza pelas pressões inflacio-nárias que se devem, em parte, à "Iiquidez ex-cessiva" criada pelo aumento das reservas inter-nacionais. De fato, a estrutura do balanço depagamentos vem mudando desde 1965. A expan-são das exportações permitiu que o balançocomercial apresentasse saldo e, em conseqüên-cia, o Japão se converteu num país exportador decapitais. Como se vê no quadro 2, o balanço depagamentos acusou um superavit substancial de7700 milhões de dólares americanos, em 1971,resultando um rápido aumento das reservas in-ternacionais que se elevaram de 4 400 milhões,no fim de 1970, a mais de 15 bilhões de dólares 41americanos, no fim de 1971. Assim, o Japão pas-sou a figurar como o segundo maior possuidor dereservas do mundo depois da Alemanha Ociden-tal.

Enquanto isso, nos meados de agosto de 1971,anunciou-se a nova polltica econômica dos EUApara defender o dólar, ou seja, o chamado"choque Nixon", que conduziu a um grandereajustamento do sistema monetário interna-cional, com o resultado de que as moedas dosprincipais países europeus entraram em livreflutuação. O Japão, por seu lado, empenhou-sequase até o fim de agosto, em defender a pari-dade iene-dólar que mantinha desde 1949 (360ienes por dólar). Como resultado desta política,

Economia japonesa

A economia japonesa após a crise do petróleo e as implicações nas suas relações com a américa latina

as compras de dólares por parte do Banco doJapão chegaram a nlveis de até 1200 milhOes emum só dia (diz-se que essas compras chegaram a4 600 milhOes em 10 dias) e a reserva em dólaresse elevou até mais de 12 bilhOes no fim de agos-to. Finalmente, esta polltica teve que ser aban-donada nos últimos dias de agosto, quando sepermitiu a livre tlutuaçãc do iene.

Quadro 2Balanço de pagamentos e reservas internacionais(em milhOes de dólares)

Comércio exterior Balanço de(AutorlzaçOes pagamentosaduaneiras) (Adeficit) Reserva

Ano (aoflmExportaçOes ImportaçOes Saldo na Saldo no do ano)

(FOB) (CIF) conta- balançocorrente de paga-

mentes

1955 2011 2471 7681960 4055 4431 143 105 1 8241965 8452 8169 932 405 21071970 19318 18881 1970 1374 43991971 24019 19712 5797 7677 152351972 28591 23471 6624 4741 183651973 36930 38314 A136 A10074 122461974 55579 62076 A4549 A 6839 13518

Fonte: Idem quadro 1.

42

Depois de longas discussOes entre os paísesindustriais, em dezembro de 1971, chegou-se aoacordo de reajustamento monetário conhecidocomo Acordo Smithsoniano, com a desvalori-zação do dólar, com relação ao ouro, em 7,69% ea revalorlzação das várias moedas de países in-dustriais (marco em 13,5%, iene em 16,88%,etc.). Assim, a taxa de câmbio do iene fixou-seem 308 ienes por dólar.

Apesar da revalortzação do iene, entretanto, obalanço comercial do Japão continuou registran-do saldo notável em 1972. Para reduzir as reser-vas, o Governo japonês adotou várias medidasdirigidas a incrementar a ajuda oficial aos paísesem desenvolvimento e estimular" o investimentoprivado estrangeiro. NAo obstante, o balanço depagamentos acusou um superavit de 4700 ml-IhOes de dólares americanos em 1972, com oresultado de que as reservas alcançaram 18bllhOes de dólares, no fim do mesmo ano.

Nestas circunstâncias, ressurgiu a crise mo-netária internacional, gerada pela situação ins-tável do dólar em janeiro de 1973. Para superar acrise, o dólar se desvalorizou de novo em 10% e,posteriormente, as moedas dos principais palsesindustriais entraram em tlutuação, Deste modo, osistema smithsoniano deixou de existir em poucomais de um ano. Em março deste ano, o Japãotambém decidiu pela tlutuação do-Iene, cuja taxade câmbio se iniciou por 270 ienes por dólar, oque significou uma revalorlzação em mais de10%.

Como resultado da revalortzação substancialdo iene que se efetuou duas vezes, e também da

Rf!I1Í&ta de Administração de Empresas

s

expansão continua da economia japonesa geradapela "liquidez excessiva", o balanço de paga-mentos passou a acusar deficit em 1973. Estatendência foi estimulada pela crise do petróleoem outubro do mesmo ano. Por fim, o balanço depagamentos revelou um deficit considerável de10 milhOes de dólares americanos em 1973. E, emconseqOência, as reservas se reduziram a 12 200milhOes de dólares no ano de 1973.

Por outro lado, a alta fenomenal dos preços dopetróleo agravou as tendências inflacionárias,gerando, assim, um aumento frenético dospreços. E o fortalecimento da política de res-trlção ao crédito para conter a lntlação fez comque a depressac se agravasse mais, com o resul-tado de que, em 1974, o PNB real experimentouuma taxa de crescimento negativa, pela primeiravez no pós-guerra.

2.2 Características principais

Como acabamos de ver, pode-se dizer que aeconomia 'japcnesa, está, agora, numa fase detransição, cujas caracterlsticas principais são asseguintes: 1. Mais ênfase no bem-estar que nocrescimento. 2. ReduçAo da taxa de crescimentoeconômico potencial que se origina dos limitesao crescimento como falta de mão-de obra, es-cassez de recursos naturais e condição do meioambiente. 3. Pressões inflacionárias originadaspela demanda, assim como pelo aumento doscustos. 4. Importância da cooperação interna-cional em virtude da elevação da poslção doJapão neste meio.

Vamos ver estas quatro características daeconomia japonesa na década de 70.

1. Ênfase no bem-estar.Em 1970, surgiu a expressão "abaixo com o

PNB" nos jornais do Japão, Embora o Japãotenha realizado um rápido crescimento econô-rnlcono pós-guerra e, assim, se tenha tornado noterceiro maior país do mundo em termos de PNB,sua poluição ambiental aumentou consideravel-mente. Por isso, a expansão do PNB não im-plicaria, necessariamente, a elevação do bem-estar do povo. Este é o sentido da expressãocitada que é, na realidade, uma frase de protestodo povo.

Além disso, no caso do Japão, enquanto oPNB(ou seja flow) aumentava, o capital social (ouseja stock) não crescia tão rapidamente como oPNB, ficando atrasado, quando comparado como dos outros palses industriais. É verdade que,como resultado do crescimento acelerado, o con-sumo privado aumentou substancialmente: adttusao dos receptores de televlsão, telefones ecarros de passeio no JapAo alcançou o nlvel dospalses desenvolvidos, como se indica no quadro3. Entretanto, as condiçOes de habltação sãomuito más, e o preço dos terrenos é extraordi-nariamente alto. Também, o serviço de sanea-

mento está muito atrasado e, considerando aquilometragem do total de estradas, as rodoviaspavimentadas ainda são relativamente poucas.

Igualmente, a previdência social do Japão ébem inferior a de outros paises industriais. Porexemplo, em 1966, os subsidios da previdênciasocial per capita no Japão foram de somente 52,3dólares, comparados aos 258,9 dólares nos EUA,229,1 dólares no Reino Unido, e 332,7 dólares naAlemanha Ocidental.

Quadro 3Comparação internacional dos indicadoressociais e culturais (1971)

JapãOEUA Reino Alem. FrançaUnido Oco

Receptores de televisão 222 449 298 299 227(por mil habitantes)Telefones (p/mil hab.) 282 604 289 249 185Automóveis particulares 101 446 220 248 261(p/mil hab.)Educação (n.o de alunos 1,6 3,9 0,6 0,8 1,2matriculados no ensino (1969) (1969) (1967) (1969) (1969)superior em relação àpopulação total, %)

Casas (habitações por milhabitantes)Serviço de rede de esgoto(pOpulação servida emrelação à população total,%)Médicos (por mil habitan-tes)Leitos (p/ mil hab.)

1 000 1 667 1 667 1 111 1 111(1970) (1970) (1966) (1968) (1968)22 71 90 63 40

(1970) (1968) (1963) (1960) (1963)

1,1 1,6 1,3 1,8 1,3(1969) (1969) (1970) (1970)12,7 7,9 9,1 11,5 7,2(1970) (1969) (1970)14,1 35,2 27,2 17,0 15,3Participação de gastos de

previdência social pro-venientes do governo (%)Subsídios de previdênciasocial (dólares por cadahabitante, 1966)Estradas pavimentadas 21,7 44,5 99,7 77,1 82,6(% do total)

52,3 258,9 229,1 332,7 321,2

Fonte: Bank 01 Japan, Koku •• 1Hlkaku Tok.1 (Estatlstlca de ComparaçAoInternacional).

Embora se tenha elevado consideravelmente ossubsidios de previdência social no Japão dosanos recentes, em 1971a participação dos gastosda previdência social na receita nacional noJapão foi de 4,8% em relação a 7,4% nos EUA,6,6% no Reino Unido, 15,5% na AlemanhaOcidental, 19,6% na França, 14,4% na Itália e10,6% na Suécia. Isto se deve, em parte, ao fatode que o sistema de aposentadorias do Japão éainda inferior ao de outros países desenvolvidos.

nõmico e Social (1973-77) que se anunciou emfevereiro de 1973, teve como seu subtltulo "Cons-trução da sociedade de bem-estar com vigor"e estabeleceu metas tão importantes como a"Criação de um ambiente rico" e a "Manutençãoda vida confortável e estável" . Defato, o Governojaponês declarou que 1973 seria o primeiro anodo bem-estar e tomou medidas como a elevaçãode 50% a 70% nos subsidios da assistênciamédica, gratuidade da assistência médica paraos velhos e aposentadoria de 50 mil ienes men-sais.

Por outro lado, vem estudando um indicador,para mostrar o nlvel de bem-estar, dando porresultado um novo indicador chamado" NNW"(Net National Welfare). O NNW ou seja, Bem-Es-tar Nacional t.lquldo calcula-se modificando PNBcomo segue:a) deduzir o importe dos danos produzidos pelapoluição;b) deduzir das despesas do governo o custo degastos tais como de natureza militar, policial,etc;c) deduzir do consumo privado os gastos de pas-sageiro com passe permanente (porque o aumen-to desses gastos não implica incremento dobem-estar) ;d) adicionar o valor dos serviços de lar que nãoestão incluidos no PNB; .e) adicionar o valor das horas livres;f) adicionar o aumento do bem-estar produzidopelo incremento de bens de consumo duráveis,etc.

O NNW calculado desta maneira foi de 44bilhOes ienes (aproximadamente de 122 bilhOesde dólares americanos) em 1970,'que é um poucoinferior ao PNB de 48 bilhões ienes (quase 133bilhOes de dólares americanos).

Também estão sendo estudados" indicadoressociais" , ou seja. o indice do nlvel de bem-estarque inclui não só os indicadores de valor como osque utilizam o PNB e o NNW e também os in-dicadores concretos da vida como saúde, edu-cação, ociosidade, consumo, ambiente, etc.Conforme as estimativas preliminares destes"indicadores sociais", o nivel de.bem-estar doJapão aumentou em 34,4% durante o perlodo de1960-70, o que significa a taxa anual de cresci-mento de somente 3%, que é bastante inferior aoPNB de 11% durante o mesmo periodo.

2. Redução da taxa de crescimento econOmicopotencialO crescimento acelerado da economia japonesano pós-guerra se deve a várias condições favo-ráveis internas e externas, das quais as mais im-portantes são as cinco seguintes:a) existência de abundante mão-de-obra qua-lificada e comparativamente barata;

Diante dessa situação, o Governo japonês vem b) ativos investimentos para modernizar asrealizando maiores esforços para elevar o bem-' fábricas executados pelas empresas e conse-estar nos últimos anos. O Plano Básico Eco- qOente acumulação acelerada de capital;

Economia japonua

43

••• J

c) ritmo notável de inovações;d) importação de grande quantidade, a preçoscomparativamente baixos, de vários recursosnaturais do exterior que são escassos no Japão;e) desenvolvimento estável da economia mun-dial.

Porém, estas condições mudaram rapidamentenos anos recentes. Desde meados da década de60, tem-se destacado a falta de mão-de-obra..Quanto às ativas inversões das empresas, estasse processaram muito rapidamente e dentro deuma área limitada, o que provocou problemastais como potulção, dificuldades de localização,conflitos com os habitantes locais, etc. Com res-peito à inovações, vem se reduzindo substancial-mente o technology gap (hiato tecnológico) entreo Japão e outros países industriais. Ademais, oritmo próprio das inovações tende a moderar-se.

Por outro lado, diversos recursos naturais quesofreram excesso de exploração em todo o mun-do tendem a escassear e, em conseqOência, seuspreços tendem a aumentar. Também, a econo~iamundial que cresceu constantemente sob o SIS-tema de Breton Woods, atualmente está diantede uma grande crise, sofrendo o "trilema"depressão, inflação e desequilíbrio de balanço depagamentos.

Quadro 4.Aumento das relaçOescapital-produto marginal

Ano fiscal Taxa decrescimentodo PNB(%)

Relaçãocapital-produtomarginal

Taxa dedesenvolvi-mento(%)

1956-601961-651966-701971-751

8,598,7610,657,11

13,317,120,422,6

1,5491,9521,9163,181

Fonte: EPA. EconomlcSu!Wy 01 J.plln. 1974.

1 Estimativas baseadas nas cifras de 1971, 73.

44 Tal mudança de condições de crescimento, es-pecialmente com relação à mã~-de-obra, recur-sos naturais e ambiente, é responsável pelaredução da taxa de crescimento econômicopotencial. Em primeiro lugar, isto se reflete numrápido aumento da relação capital-produto mar-ginal. Como se indica no quadro 4, esta relação,ou seja, o capital necessário para incrementar oPNB numa unidade, vem aumentando consi-deravelmente desde 1970, o que conduziu àredução da taxa de crescimento superior a 10%em 1966-70à ordem de 7%, em 1971-75. Isto sedeve a um rápido aumento dos investimentospara controlar a poluição e para economizar amão-de-obra na primeira metade da década de 70.Por exemplo, os investimentos para controlar apoluição praticamente não existiram na segunda

Revista de Administração de Empresas

metade da década de 60, passando, no entanto, aocupar 16,2% do total do investimento em 1974.Quanto às aplicações para poupar trabalho, estasse têm processado sob a forma de aumentos dosinvestimentos para renovar os obsoletos equi-pamentos labor-intensivos e também da me-canização do sistema de distribuição e comer-cialização.

Além disso, há problemas de bottleneck nasindústrias básicas como siderurgia, metalurgianão-terrosa, petroquímica e energia elétrica.Nestas indústrias torna-se cada vez mais difícilaumentar as inversões e assim elevar a produção,devido a várias limitações como escassez dematérias-primas, dificuldades de localização,etc.

Para solucionar esses dois problemas: querdizer, redução de crescimento potencial e bot-tleneck, o Japão terá que mudar sua estrutura in-dustrial na qual a participação das indústriaspesadas e químicas, que consomem grandequantidade de matérias-primas, ê mais alta queem outros países industriais.

3. Pressões inflacionárias

Como mencionei, a economia japonesa na dé-cada de 70 caracteriza-se pelas tendências in-flacionárias. Anteriormente, a situação era a deque, enquanto os preços para consumidor su-biam constantemente, os no atacado perma-neciam estáveis. A isto se chama "inflaçãooriginada pelas desigualdades de produtivida-de" . Os índices de preços do consumidor que secompOem de produtos dos setores de baixaprodutividade tais como de produtos agrícolas,produtos de pequenas e médias empresas e ser-viços subiram, refletindo o aumento de saláriosdesses setores causado pela falta de mão-de-obra. Por outro lado, quedaram estáveis ospreços por atacado cujos índices se compOemprincipalmente de produtos de grandes empresasonde a produtividade é alta.

A partir de 1973, porém, a situação mudou. Ospreços por atacado aumentaram rapidamente,continuando a subir os do consumidor. A causafundamental desse aumento dos preços foi o ex-cesso de demanda que somada à elevação docusto, acelerou a espiral dos preços.

. No que se refere ao fator procura, podemos in-dicar, de modo particular, o aumento substancialde papel-moeda oriundo do saldo muito favoráveldo balanço de pagamentos em 1971 e uma po-lítica fiscal excessivamente ativa, estimuladapela" Reconstrução do Arquipélago do Japão" ,do ex-Primeiro Ministro Kakuei Tanaka. Parasatisfazer tal aumento da demanda, a oferta debens não foi suficiente, devido às limitaçOes jámencionadas tais como falta de mão-de-obra ematérias-primas, controle de poluição, dificul-dade de localização, etc. Daí resultou o dese-quilíbrio da oferta e procura que conduziu aoaumento "frenético dos preços".

Além disso, acelerou-se a inflação dos custos.Uma das causas dessa aceleração foi o aumentodos preços das matérias-primas importadas doexterior. Esta" inflação importada" acelerou-se,particularmente, depois do aumento quádruplodos preços de petróleo pelos países da OPEP.Outra causa foi a elevação do custo da produçãogerada pelo aumento de salários. No caso dasmanufaturas, a partir de 1969, o aumento salarialexcedeu o de produtividade do trabalho.

Tal incremento nos preços criou vários pro-blemas. O mais sério é o de que a inflação produzuma redistribuição da renda em detrimento dossetores mais fracos economicamente, amplian-do, assim, as desigualdades de renda. Por isso, oGoverno japonês vem estudando o método deneutralizar a inflação, como o Brasil está fazen-do, e tomou medidas para aplicar a indexaçãodas aposentadorias.

4. Importância da cooperação internacional.A economia japonesa cresceu rapidamente no

pós-guerra, importando e processando as ma-térias-primas do exterior, exportando os pro-dutos industriais aos paises estrangeiros. EmconseqOência, a estrutura industrial do Japãotem-se orientado no sentido de importar eprocessar cada vez mais os recursos naturais.Também, o comércio exterior do Japão tem-sebaseado principalmente na divisão de trabalhovertical: importar matérias-primas e exportarprodutos processados.

Isto se reflete no aumento da dependência dasimportaçOes de produtos primários. Como se vêno quadro 5, nessa dependência, a importação depetróleo (99,6% em 1972), minério de ferro(98,3%), lã (99,9%) e outros produtos primários émuito elevada em relação à de outros países ,in-dustriais. Também aumentou, consideravelmen-te, a participação japonesa nas lrnportaçõesmundiais desses produtos primários, ocupandoele o primeiro lugar em quase todos os produtos(40,4% em minério de ferro, 15,2% em petróleo e32,4% em madeira).

Quadro 5Países desenvolvidos: Dependência da importação de produtos primários e participação nasimportações mundiais (percentagens)

Japão Alemanha Reino Unido EUAOcidental

1963 I 1972 1963 I 1972 1963 I 1972 1963 I 1972

Dependência de ImportaçãoPetróleo bruto 98,5 99,6 84,4 93,1 99,8 99,9 12,8 14,6Minério de ferro 84,2 98,3 73,8 89,4 48,9 67,5 26,9 32,7Madeira 15,1 35,3 20,2 18,2 73,3 72,3 3,7 0,0Lã 99,1 99,9 94,8 95,7 72,3 69,1 40,6 25,5Trigo 86,7 95,1 16,4 23,4 58,6 47,3 0,0 0,0Milho 96,2 99,5 96,4 84,7 0,0 0,0

Participação nas importaçOes mundiaisPetróleo bruto 9,8 15,2 7,6 7,9 10,4 8,7 10,9 6,7Minério de ferro 18,5 40,4 20,3 15,2 10,2 6,4 23,8 13,2Madeira 15,4 32,4 8,7 6,2 11,4 6,7 21,9 12,1Lã 16,4 23,5 7,3 7,8 19,6 14,0 8,6 3,0Trigo 6,8 8,5 3,7 5,0 9,2 7,1 0,3 0,0Milho 13,2 16,3 6,9 9,2 17,4 8,9 0,1 0,1 45Fonte: Mlnlstry 01 Internatlonal Trade and Industry (MITI), Whlte Paper onInternatlonal Trade. 1974.

O quadro 6 indica que aumentou, também, aparticipação japonesa no comércio mundial.Nossa participação nas exportações mundiais seelevou de 3,6% em 1960 a 7,6% em 1972, e, nasimportações mundiais, passou de 3,8% a 6,1%durante o mesmo período.

Em 1972, as exportações do Japão chegaram a28600 milhões de dólares americanos, ocupandoo terceiro lugar na classificação mundial, sendosuperadas somente pelos EUA e AlemanhaOcidental, enquanto as importações alcançavam23500 milhões de dólares, colocando o país noquinto posto mundial depois dos EUA, AlemanhaOcidental, Reino Unido e França.

Por outro lado, como se indica no quadro 7, asinversões diretas privadas do Japão vêm aumen-tando tão rapidamente nos últimos anos que osaldo de nossos investimentos no exterior seelevou de 1 500 milhões em 1967a 6800 milhõesde dólares americanos em 1972 (e excederão 10bilhões em 1974).Assim, a participação japonesanos países da DAC (Comissão de Assistência aoDesenvolvimento da OCDE) aumentou de 1,4%para 3,1% durante o mesmo período. O saldo dosinvestimentos privados do Japão em 1972 foiquase equivalente ao da Alemanha Ocidental eCanadá, embora muito inferior ao dos EUA eReino Unido.

Economia japonesa

Quadro 6Participação no comércio exterior do mundo livre (percentagens)

Japão EUA Alemanha AméricaOcidental Latina

Ano I I I Exp. IExp. Imp. Exp. Imp. Exp. Imp. Imp.

19601965197019711972

3,6 3,8 17,3 12,6 10,1 8,5 7,0 6,55,1 4,7 16,1 12,2 10,8 10,0 6,1 5,16,9 6,4 15,2 13,6 12,2 10,2 4,9 4,77,9 6,0 13,8 13,8 12,4 10,5 4,5 4,87,6 6,1 13,1 14,4 12,4 10,4 4,5 4,6

Fonte: Idem ao quadro 3.

·Exp. ExportaçOea.Imp. Importaçoea.

Como resultado da elevação da posição inter-nacional do Japão, a economia japonesa tende aser mais afetada pela economia mundial que nosanos anteriores. O exemplo tipico dessa situaçãoé a crise do petróleo.em 1973, que causou grandeimpacto na economia do pais, e trouxe, comoresultado parao Japão, a chamada stagflatlon(estancamento com inflação). Mas o estanca-mento da economia japonesa e a conseqOenteredução de suas Importações de matérias-primastêm afetado bastante os paises exportadoresdesses produtos primários. Particularmente, ospaises do sudeste da Asla têm sido seriamenteafetados pela redução das trnportações japo-nesas, já que dependem muito do Japão nas ex-portações de suas matérias-primas (no caso dealguns produtos, mais da metade das exporta-ções se destinam ao Japão).

Neste quadro, a política de restrição ao créditodo Japão tem sido criticada como "polltica deempobrecer os vizinhos". No pós-guerra, adependência japonesa dos EUA era tão grandeque até se dizia: "Se os EUA espirram, o Japãose resfria." Agora se diz: "Se o Japão espirra, aAsia se resfria."

46Por outro lado, a redução das exportações

japonesas de produtos industriais, particular-mente produtos siderúrgicos e quimicos, cujaparticipação nas exportações mundiais é rela-tivamente alta, poderia afetar os países impor-tadores desses produtos. Por exemplo, se oJapão não puder exportar fertilizantes para ospaises do sudeste asiático, o fato causará umsério impacto na produção agricola dessespaíses.

Assim, pode-se dizer que os paises do mundoestão se tornando cada vez mais tnterdependen-teso Particularmente, à medida que vem aumen-tando a participação japonesa no comércio ex-terior, o desenvolvimento da economia japonesadepende mais do crescimento estável da eco-nomia mundial, e por isso, da cooperação inter-nacional.

Revista de Administração de Empresas

Quadro 7InversOesdiretas privadas dos países da DAC

1967Saldo (emmilhOes dedólares)Participaçãona DAC(%)Participaçãono PNB (%)Saldo porhabitantes(dólares)1972Saldo (emmilhOes dedólares)Participaçãoem DAC (%)Participaçãono PNB (%)Saldo por

, habitantes(dólares)Taxa anualde cresci-mento desaldo das in-versOes1967-72 (%)

Japão EUA Reino Alemanha DACUnido Ocidental Total

1458 59486 17 521 3015 104232

1,4 57,1 16,8 2,9 100,0

1,2 7,4 16,0 5,9 6,7

14 299 320 183 171

6773 94031 25511 8253 174883

3,9 53,8 14,6 4,7 100,0

2,3 8,1 16,5 3,2 6,9

63 450 457 134 275

36,0 7,8 10,9

Fonte: Idem ao quadro 5.

9,6 :l2,3

3. ECONOMIA JAPONESA DEPOIS DOPETRÓLEO E SUAS PERSPECTIVAS

3.1 Efeitos da crise do petróleo

Nos últimos anos, a economia japonesa tem en-frentado vários problemas, dos quais o maissério foi o da crise do petróleo no outono de1973. De fato, esta crise foi o maior desafio nopós-guerra para o Japão.

Ao anunciar-se a redução da produção pe-trolífera pelos países do OPEP, no dia 17 deoutubro de 1973, a vida econOmica japonesa en-

trou no caos, os preços subirarr de repente e afalta de artigos se agravou pelo monopólio. Ailuminação se apagou no centro de Tóquio, e acalefação foi cortada em algumas companhias.Várias fábricas reduziram a produção em 10 a20% por causa da falta de matérias-primas.

Em face desta situação, o Governo japonêsefetuou a redução de consumo de petróleo eenergia elétrica em 10% em meados de novembrode 1973. Em seguida, declarou o "estado deemergência", estabelecendo as chamadas duasleis do petróleo, "Lei sobre a adequação dademanda e oferta do petróleo" e "Lei sobre asmedidas urgentes para estabilizar a vida dopovo". Em março de 1974, ao aumentar ospreços por atacado do petróleo, determinou ocongelamento dos preços dos artigos de primeiranecessidade.

Como os paises da OPEPdeixaram de reduzir ofornecimento do petróleo, a situação melhorou apartir de abril de 1974. E o Governo japonêscomeçou a extinguir, gradativamente, o con-gelamento dos preços que finalmente cessou nofim de agosto.

Porém, a crise de petróleo trouxe um grandeimpacto para a economia japonesa. Devido àquadruplicação dos preços do petróleo, a in-flação se agravou e o balanço de pagamentosregistrou saldo desfavorável. Além disso, o for-talecimento da politica de restrição ao créditoconduziu à redução das atividades produtivas eao aumento das falências e ao desemprego.

Como indica o quadro 8, enquanto a produçãoindustrial continua diminuindo desde junho de1974, a inflação tende a moderar-se e também obalanço de pagamentos tende a melhorar desdesetembro do ano passado. Por isso, se poderiadizer que se a crise do petróleo foi superada no

Quadro 8Efeitos da crise do petróleo na economiajaponesa

Produção Elevação Balanço deindustrial de preços pagamentos(alteração (alteração (mllhOesdepercentual percentual dólares,em relação em relação Adeflclt)ao perlodo doanodoano anterior)anterior)

1973 OutubroNovembroDezembro

1974 JaneiroFevereiroMarçoAbrilMaioJunhoJulhoAgostoSetembroOutubroNovembroDezembro

1975 Janeiro

+18,8+17,6+12,4+9,2+8,9+4,4+3,3+2,6-1,9-1,4-6,1-6,7-9,9-12,4-14,9-18,2

+20,3+22,3+29,0+34,0+37,0+35,4+35,7+35,3+35,3+34,2+32,8+30,6+28,7+25,1+17,0+10,4

,:;959[;1.711[;1.183[;1.943[;1.199[;995A 777

[;1.014[;1.274[;216[;513128354230380

[; 1.242

Fonte: Bank 01 Japan. Kelzal Tokel Geppo.

Japão, pelo menos no que se refere aos preços eao balanço de pagamentos.

3.2 Perspectivas da economia japonesa

A economia japonesa experimentou uma trans-formação sem precedentes em 1974. Registrouuma taxa de crescimento negativa, pela primeiravez no pós-guerra, e um aumento precipitado dospreços que quase equivale ao do periodo daGuerra Coreana em 1951. Além disso, a recu-peração econômica tem sido muito mais débilque nos anos anteriores.

Quanto às perspectivas da economia japonesano ano fiscal de 1975, as previsOes do governoindicam que o PNB nominal crescerá em 15,9%,comparado com 18,7% em 1974 e o PNB realaumentará em 4,3%, comparando com -1,7% em1974. Também se estima que os preços noatacado subirão em 7,9% no ano fiscal de 1975,com relação a 24,6% em 1974, e os do consu-midor se elevarão em 11,8% em 1975, com re-lação a 22,0% em 1974.

Mas conforme as projeções de 18 meses (18month forecast) do Centro de Pesquisa Eco-nômica do Japão, divulgados em meados de mar-ço último, a' economia japonesa começará arecuperar-se a partir de outubro deste ano, es-timando-se que o PNB nominal, no ano fiscal de1975, crescerá em 14,2% com relação a 17,5%,em 1974, e o PNB real se incrementará somente2,6% em relação a -0,8%, em 1974. Estas pro-jeções constituem previsões mais modestas queas do Governo japonês.

Demodo parecido, como se vê no quadro 9, asprojeções a médio e longo prazo de várias ins-tituições indicam que o PNB real crescerá em 5 a7%, anualmente, daqui a cinco ou 10 anos. Ecom referência aos preços, estima-se que con-tinuará o aumento anual de aproximadamente10% até a década de 80.

Cabe destacar que, enquanto várias institui-ções do Japão estimam uma modesta taxa decrescimento até 1980,os especialistas em assun-tos nipônicos no exterior são muito otimistasacerca das perspectivas da economia japonesa.

Por exemplo, a revista inglesa, The Economist,de 4 de janeiro de 1975, publicou o artigo especialintitulado" Pacific Century 1975-2075", que é umnovo trabalho sobre o Japão de Norman Macrae,subdiretor da revista. Segundo ele, depois doséculo inglês (1775-1875)da Primeira Revoluçãodo Transporte (ou seja a estrada de ferro) e doséculo estadunidense (1875-1975) da SegundaRevolução do Transporte (ou seja automóveis),virá o século japonês, ou pacifico (1975-2075)quese caracterizará pela ReVOlução das Teleco-municações. Macrae estima que o Japão manteráseu rápido crescimento econômico daqui emdiante, por duas razOes:o alto nivel da tecnologiae a organização das empresas orientada para aconsciência de tribo.

Em dezembro de 1974, Herman Kahn publicououtro trabalho intitulado Japan's role In the

Economia japones«

47

Quadro 9ProjeçOes a médio e longo prazo, da economia japonesa (taxas anuais em percentagens)

InstltuiçOes ExportaçOes tmportações Ao consum ido r

Council for Industrial Structure,MITI (14.9.1974) 1973-80 15,0 6,0 16,9 13,9 7,6 8,5

Nomura Institute of Research(12.12.1974) 1974-80 15,6 4,8 18,0 18,1 8,9 10,2

Japan Economic Research Cen-ter, Grupo de Proyección aMedio Plazo (5.2.1975) 1974-79 17,7 6,5 19,1 17,6 8,7 10,8

Japan Economic Research Cen- 7,4ter, Grupo de Proyección a LargoPlazo (12.2.1975) 1975-85 14,9 7,0 13,6 12.9 (deflação)

Em todo caso, para se conhecer as perspec-tivas da economia japonesa, consideram-se im-portantes os seguintes fatores:

1. Como converter, com os menores atritos pos-síveis, a estrutura industrial orientada para orápido crescimento em outra, orientada para ocrescimento estável e a melhora do bem-estar?

2. Que quantidade de energia e recursos naturaispode importar do exterior?

3. Continuará a economia mundial crescendo aum ritmo estável e constante? E, particularmente,que quantidade de moeda do petróleo (óleo-dinheiro) recirculará nos países consumidores dopetróleo?

Fonte: Nlhon KelDl Shlnbun (Japan Economic Journal).

48

world, no qual se estima que a economia ja-ponesa manterá sua taxa de crescimento real decerca de 10% nos próximos 10 anos e que, nadécada de 80, poderá tornar o Japão a segundapotência mundial, superando a Rússia.

Além disso, em setembro de 1974, a com-panhia estadunidense de consultores, BostonConsulting Group, dirigida por J. C. Abbeglen,publlcou o projeto intitulado "Japan in 1980",que prevê idêntica taxa de crescimento na pró-xima década, visto que não se alterarão as con-dições de crescimento, tais como mão-de-obra,progresso tecnológico, recursos naturais, etc.

Estas são as projeçOes de famosos especialis-tas em assuntos japoneses. Por isso, não sepode descuidar de sua influência. Todavia,parece-me que não são projeções realistas, por-que estimam demasiadamente pouco os limitesde crescimento como recursos naturais, po-luição, etc. a que está sujeita a economia ja-ponesa.

De fato, depois da crise do petróleo, surgiu noJapão o consenso nacional de que a economia dopais precisa mudar de rota: do crescimento rá-pido para o crescimento estável. Isto é mostradoclaramente no primeiro informe do governo doPrimeiro-Ministro Takeo Miki, no dia 24 de ja-neiro de 1975:

II A economia japonesa precisa mudar de rota:da expansão quantitativa à abundância quali-tativa. Há que transformar suavemente a rota decrescimento acelerado em crescimento estável eem melhoria do bem-estar.

As condições internas e externas que susten-tam o rápido crescimento econOmico deixaramde existir. Terminou o período em que se podiacomprar a preço baixo qualquer quantidade dematérias-primas, combustíveis e alimentos.

No país, mudou a situação do trabalho: au-mentou o salário e diminuiu a hora de trabalho. Alocalização das indústrias tem sido limitadaseveramente pelo meio-ambiente. Acho que é im-possível e também injusto voltar a situação an-terior."

Nestas perspectivas, o Governo japonês estápreparando um novo plano qüinqüenal (1976-80),em que se mostrará uma nova imagem da eco-nomia e da sociedade do Japão.

, Revista de Administração de Empresas

4. SITUAÇÃO ATUAL E O FUTURO DASREL;AÇÔES ENTRE O JAPÃO E A'AMERICA LATINA

4.1 Estreitamento das relações econômicas

Que efeitos trará às relaçOes entre o Japão e aAmérica Latina a transformação da economiajaponesa do crescimento rápido para o cresci-mento estável? Antes de considerar este pro-blema, vamos examinar resumidamente a si-tuação atual de nossas relações.

Como assinalou a visita oficial ao México eBrasil do ex-Primeiro-Ministro Kakuei Tanaka emsetembro de 1974, aumentou, apreciadamente, ointeresse pela América Latina no Japão. De suaparte, nos países latino-americanos, observou-seum grande interesse pelo crescimento aceleradodo Japão que é o único país industrial fora daárea dos países ocidentais. Refletindo o incre-mento do interesse em ambos os lados, estão-setornando cada vez mais estreitas as relaçõeseconômicas entre o Japão e a América Latina.

Recentemente, tem-se incrementado constan-temente o intercâmbio comercial entre o Japão ea América Latina. Como se vê no quadro 10, ocomércio do Japão com aAmérica Latina aumen-

tou oito vezes, de cerca de 600 milhOes de dóla-res americanos para 4800 mllhOes, durante o pe-ríodo de 1960-73. Este é um aumento conside-rável, levando-se em conta que o comércio ex-terior da América Latina apenas triplicou duranteo mesmo período. Além disso, nosso intercâm-bio comercial alcançou cerca de 7 bilhões dedólares americanos, de janeiro a novembro de1974.

Em conseqOência, a participação do Japão nocomércio exterior da América Latina mais queduplicou durante o último decênio. Segundo oinforme anual do Banco Interamericano de De-senvolvimento (BID) em 1973, a participação doJapão nas exportações latino-americanas passoude 2,8% em 1960-62 a 5,9% em 1970-72. En-quanto isso, a participação desse pals nas im-portações latino-americanas aumentou de 3,3% a7,3% durante o mesmo período. Estas cifrascontrastam com a redução constante da parti-cipação dos EUA e CEE no comércio exterior daAmérica Latina.

Quadro 10Comércio do Japão com a América Latina(Autorizações' aduaneiras, milhões de dólares, ovalor entre parênteses demonstra a participaçãono total, em percentagens)

Ano ExportaçOesl ImportaçOes Balanço(FOB) (CIF)

1960 304 (7,5) 311 (6,9) -71965 488 (5,8) 707 (8,7) -2191966 556 (5,7) 781 (8,2) -2251967 612 (5,9) 855 (7,3) -2431968 742 (5,7) 961' (7,4) -2191969 944 (5,9) 1162 (7,7) -2181970 1187 (6,1) 1 373 (7,3) -1861971 1 591 (6,6) 1338 (6,8) 2531972 1980 (6,9) 1 418 (6,0) 5621973 271)1 (7,5) 1955 (5,1) 80619741 4453 (9,0) 2453 (4,3) 2000

Fonte: Mlnlstry of Flnance (MOF). Farelgn T•• de RftI_.1 Janelro-novembro.

Além disso, se considerarmos o comércio ex-terior da América Latina por produtos, pode-senotar que a partlclpação do Japão é maior em al-guns produtos (ver quadro 2.) Em 1971, o Japãorecebeu 28% do total das exportações de ma-térias-primas da América Latina, ocupando tam-bém 22% do total de importações de têxteis e15% do total de importações de material detransporte desse continente. Particularmente,cabe destacar o aumento apreciável da partici-pação do Japão nas importações de ferro e açodesta região, que cresceu de 18% em 1965 a 44%em 1971. Isto quer dizer que, em 1971, quase ametade das importações de produtos siderúr-gicos da América era proveniente do Japão.

Quadro 11Participação do Japão no comércio exterior daAmérica Latina por produtos (percentagens)

1965 1971

ExportaçOes latino-americanasAlimentos 2,4 7,0Matérias-primas 20,2 28,3Petróleo e gás 0,5 0,8Outros combustíveis ' 2,0 0,4Manufaturados 2,1 5,7

ImportaçOes latino-americanasProdutos primários 0,3 2,0Têxteis 20,4 22,3Produtos qulmlcos 1,5 4,1Ferro e aço 18,2 43,9Máquinas em geral 2,0 4,7Máquinas elétricas 8,7 13,3Material de transporte 6,7 15,2

Fonte: Idem o quadro 4.

De outra parte, os investimentos privados doJapão na América Latina tendem a aumentar.Como se nota no quadro 12, o total acumuladodestas aplicações chegou a 1 811 milhões dedólares americanos em fins de 1973, comparadosaos poucos 380 milhões em fins de 1967. Em1973, a participação da América Latina no totalacumulado das inversões privadas do Japão foide 18%, comparada aos 24% da América do Nor-te e 23% da Asia. Embora os investimentosprivados do Japão no exterior sejam bastantemenores que os dos EUA, Reino Unido e Ale-manha Ocidental, no Brasil, que recebeu cerca de60% dos investimentos japoneses no ultramar,nossa participação nas inversões privadas es-trangeiras aumentou tão rapidamente que ocupaagora o terceiro lugar vindo após os EUA e aAlemanha Ocidental.

Quadro 12Inversões diretas privadas na América Latina(com base nas autorizações)

Ano fiscalParticipaçãoda América

Latina(A)/(B)

Total(mllhOesde

dólares)(B)

América Latina(milhões de

dólares)(A)

1951-671 380 1451 26,21968 40 557 7,21969 100 665 15,01970 46 904 5,11971 140 858 16,31972 282 2338 12,11973 822 3497 23,51951-731 1 811 10270 17,6

Fonte: Mlnlstry of International Trade and Industry (MITI). Wagakunl Klgyo noKalgal Jlgyo Kateuclo. (InversOes Estrangeiras das Empresas Japonesas)1974.1 Total acumulativo.

Economia japonesa

49

50

Há várias razoes pelas quais as relaçOeseconômicas entre o Japão e a América Latina setornaram tão estreitas recentemente. Entre elasquero .enfatizar as três seguintes:

Em primeiro lugar, as relaçOeseconômicas en-'tre o Japão e a América Latina são bem com-plementares. Japão está importando da AméricaLatina recursos naturais e alimentos abundantesna região e, em troca, exporta produtos Indus-triais, particularmente equipamentos e máqui-nas. Também o Japão fornece à América Latinacapitais e tecnologia que são relativamente es-cassos nessa área, contribuindo, assim, para odesenvolvimento dos países latino-americanos.

Em segundo lugar, à medida que a economiajaponesa se internacionaliza, o Japão precisadiversificar suas relaçOescomerciais. Para man-ter estável o abastecimento dos produtos pri-mários do exterior, é indispensável que o Japãodiversifique os mercados de importação. De outraparte, o Japão precisa diversificar os mercadosde exportação para evitar a excessiva concen-tração das exportações nos Estados Unidos esudeste asiático. Nestas circunstâncias, temaumentado a importância da América Latina queé a região mais avançada entre os chamadospaíses em desenvolvimento e que também estádotada de recursos naturais por explorar.

Em terceiro lugar, do lado da América Latina seobserva a tendência de reduzir a dependênciacom relação aos Estados Unidos e diversificar asrelações exteriores. Particularmente, depois dochamado "choque Nixon" em agosto de 1971,nos países latino-americanos tem sido sentida anecessidade de diversificar os mercados paraseus produtos. Cresceu então o interesse peloJapão que atualmente é o maior importador dematértias-primas e alimentos do mundo. Temtambém aumentado o interesse dos latino-americanos pela experiência do rápido cresci-mento econômico do Japão, de modo especialpor sua política de promoção oe exportaçOes, as-sim como por sua maneira de importar a tec-nologia.

Em resumo, o estreitamento das relaçOesentreo Japão e a América Latina se deve ao fato deque, além da complementação, criou-se um novoambiente que estreita suas relaçOesem ambos oslados.

4.2 Problemas e perspectivas

A meu ver, os problemas das relaçOes entre oJapão e a América Latina são as seguintes:1. Quanto ao intercâmbio comercial, à medidaque aumenta a participação do Japão no comér-cio exterior da América Latina, está crescendo ainfluência da economia japonesa nos paíseslatino-americanos, ainda que em escala menorque nos países asiáticos. Por exemplo, no anopassado, os fabricantes de metais não-ferrososdo Japão deixaram de importar minério de cobrepor causa da depressão nç país, o que causou umgrande impacto nos países latino-americanos ex-

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portadores de cobre como o Chile e o Peru. Porisso, o Japão, terá que estabelecer um diálogomais estreito com os países latino-americanospara evitar atritos.2. Também há o problema de desequilíbrio docomércio entre o' Japão e a América Latina. Comose indicou no quadro 10, até 1970, o comércio en-tre o Japão e a América Latina foi favorável aospaíses dessa região, mas, a partir deste ano, emtroca, aumentou o saldo favorável ao Japão, que,no período de janeiro a novembro de 1974,alcan-çou 2 bilhOes de dólares. Esta tendência parecerefletir o aumento da demanda pelos produtos in-dustriais japoneses por parte dos países latino-americanos, particularmente do Brasil, em vir-tude do desenvolvimento econômico recenteneste País. Isto deve-se, em parte, sem dúvida,ao aumento moderado das exportaçOes latino-americanas ao Japão, resultando na redução daparticipação da América Latina nas importaçOesdo Japão que passou de 7,7%, em 1969, a 4,3%em 1974.

Por conseguinte, os países latino-americanosterão que envidar mais esforços para aumentarsuas exportaçOes ao Japão. Para isso, preci-sam elevar gradativamente a divisão de trabalhohorizontal entre o Japão e a América Latina. OJapão deveria importar não somente matérias-primas, mas também produtos processados daAmérica Latina. Por sua vez, os países latino-americanos precisariam tornar seus produtosmais competitivos comparados com os de outrospaíses.3. Com referência às inversOes privadas, naAmérica Latina há preocupaçOes de que o Japãoestá exportando a contaminação para os paísesestrangeiros. Estas preocupações parecembasear-se no fato de que a participação dos in-vestimentos na exploração de recursos naturais,no total das aplicações privadas japonesas, émaior do que em outros países industriais. Porisso, as empresas japonesas terão que tomarmedidas adequadas para evitar a contaminação,tal como o fizeram no Japão.

Outra preocupação seria a de que o Japão estáseguindo o mesmo caminho que os EUA emmatéria de inversões privadas na América Latina.A este respeito, pode-se dizer que os investimen-tos privados do Japão são mais flexíveis acercada participação do capital que os de outrospaíses industriais. De fato, têm aumentado oscasos em que as empresas japonesas têm cons-tituído joint-ventures com as congêneres latino-americanas com participação minoritária doJapão. Além disso, o Japão poderá cooperar comos países latiná-americanos no ramo da trans-ferência de tecnologia às pequenas e médias em-opresas na América Latina.4. Por último, para a promoção das relaçOeseconômicas, deveríamos incrementar mais o in-tercâmbio cultural, entre o Japão e a AméricaLatina, para melhor compreensão da cultura deambos os lados. A este respeito, como foi

efetuado entre o Japão e o México desde quatroanos atrás, seria necessário promover o inter-câmbio de professores e estudantes entre oJapão e os países latino-americanos. Assim,deveríamos envidar mais esforços para fomentaros estudos latino-americanos no Japão, assimcomo os estudos japoneses nós países daAmérica Latina.

Portanto, quais são as perspectivas das re-laçOes entre o Japão e a América Latina? Em con-clusão, pode-se dizer que nossas relaçOeseconômicas continuarão expandindo-se nãosomente em matéria de comércio, como tambémde colaboração econômica, pelas seguintesrazoes:1. O Japão irá transformar sua estrutura indus-trial orientada para o consumo de recursos na-turais, mas levará bastante tempo para realizaressa transformação. Por isso, o Japão terá quecontinuar importanto grande quantidade dematérias-primas. Além disso, no momento, oJapão não poderá libertar-se da carga de fornecerprodutos siderúrgicos e qulmicos aos países es-trangeiros, particularmente aos países em desen-volvimento.2. Para evitar os atritos que têm ocorrido porconcentrar seu comércio e investimentos nosEUA e nos países asiáticos, o Japão precisadiversificar cada vez mais suas relaçOes eco-nômicas. Nestas perspectivas, aumentará a im-portância da América Latina que é a região maisavançada dos países em desenvolvimento.3. Desde 1970, a economia latino-americana temcrescido a uma taxa anual de 7%, em termosreais. Seu ritmo de crescimento continuará emvista do descobrimento de novas jazidas pe-trolíferas e da expansão das exportaçOes deprodutos manufaturados.

Não obstante, já que a taxa de crescimentoeconômico do Japão irá reduzir-se a 6-7%, as im-portações japonesas não aumentarão tão rapi-damente como nos últimos anos, crescendoprovavelmente a uma taxa um pouco menor que ataxa de crescimento econômico nominal. Emtroca, as exportações continuarão crescendo,

refletindo as pressões da exportação no Japão,do que resultará o aumento da balança comercialfavorável ao Japão com a América Latina.

De outra parte, as inversOes privadas japo-nesas na América Latina continuarão aumentan-do, pelas seguintes razoes:1. À medida que se desenvolve a sua economia,os países latino-americanos necessitarão demais capital e tecnologia estrangeiros.2. Seria cada vez mais difícil localizar as fá-bricas, particularmente no setor de indústriasbásicas, no Japão.3. Para continuar fornecendo os produtos ou in-sumos industriais para os palses estrangeiros, énecessário queo Japão localize as fábricas des-ses produtos no exterior.

Segundo as projeções do Ministério do Comér-cio Internacional e Indústria (MITI), estima-se queo saldo das inversões privadas japonesas no ex-terior chegará a 45 bilhões de dólares americanosem 1980. Se a participação da América Latina forde 20% do total, o saldo de nossos investimen-tos nessa região se elevará a 9 bilhões de dólares,cinco vezes a cifra de 1 800 milhOes de dólaresamericanos em 1973.

Para finalizar, podemos concluir o seguinte:Há alguns anos, Herman Kahn mencionou que

o século XXI seria o do Japão. Porém, eu querodizer que o século XXI será o da América Latina.Porque, além da redução do ritmo de crescimentoeconômico causada pelas várias limitaçOes jámencionadas, dentro de duas décadas, a so-ciedade japonesa será muito parecida, em.termosda estrutura populaclonal, à européia com oaumento da participação dos velhos na popu-lação total.

De outro lado, é possível que os países latino-americanos continuem crescendo a ritmo ele-vado, já que no momento não há limites emmatéria de recursos naturais e mão-de-obra.Contudo, o problema, para os palses latino-americanos é como conseguir o capital e tec-nologia. Se se puder solucionar estes problemas,.é propável que o século XXI seja o da AméricaLatina. •

Economia japonesa

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