capítulo x eficiência energética em sistemas de iluminação ... · 40 oio sistemas de...
TRANSCRIPT
38 Apo
io
Sist
emas
de
ilum
inaç
ão
A iluminação publica (IP) é de grande
importância para os centros urbanos por contribuir
com a segurança, a fluidez do trânsito de veículos
e a melhoria dos aspectos estéticos da cidade e de
seus pontos turísticos. Entre as principais funções
do sistema de iluminação pública estão segurança,
iluminação para o tráfego de veículos e pedestres,
valorização dos ambientes urbanos, bem como o
encorajamento ao esporte e lazer noturnos.
As principais medidas de eficientização
energética estão ligadas às lâmpadas, luminárias
e reatores. Erros na instalação dos circuitos de
comando causam problemas de desperdício de
energia elétrica com o acendimento das lâmpadas
durante o período do dia ou retardo no acionamento
da iluminação ao anoitecer, podendo causar
transtornos nas vias públicas.
Além de abordar aspectos para a melhoria da
eficiência de sistemas de IP, levando em conta as
lâmpadas, as luminárias e a tecnologia Led, neste
artigo são apresentadas, também, sugestões de
emprego de novos materiais magneticamente moles
em núcleos de reatores com vistas à eficientização
energética.
Melhoria da eficiência do sistema O sistema de iluminação pública brasileiro
é padronizado pelas normas da ABNT, mas as
concessionárias de energia elétrica também
Por Felipe Nóbrega de Castro e Benedito Antonio Luciano*
Capítulo X
Eficiência energética em sistemas de iluminação pública
possuem seus padrões normativos, sem ferir as
recomendações das normas técnicas brasileiras. Dois
critérios foram padronizados como principais para a
qualidade da iluminação de vias públicas: nível de
iluminância e fator de uniformidade de iluminância.
De acordo com a importância, tipo e volume de
tráfego noturno da via, são recomendados valores
médios mínimos que variam de 2 lux a 20 lux para o
nível de iluminância, e de 0,2 a 0,5 para o fator de
uniformidade.
Uma característica importante do sistema de IP é
que seu funcionamento ocorre durante o horário de
ponta, o que incentivou ainda mais o surgimento de
programas para melhoria da eficiência e diminuição
do consumo, a fim de retardar investimentos na
geração de energia elétrica.
As oportunidades para eficiência energética na
IP são: redução das despesas com energia elétrica,
redução dos custos de manutenção, facilidade
operacional de implantação, melhoria da imagem
das cidades, postergação de investimentos no sistema
elétrico e redução dos impactos socioambientais. No
entanto, as barreiras encontradas são o elevado custo
inicial das tecnologias eficientes, falta de informação
e de cultura para o combate ao desperdício,
conflitos institucionais, dificuldade de acesso aos
financiamentos, inadimplência dos municípios e
redução do faturamento da concessionária.
A redução da potência nos sistemas de IP é
39Apo
io
proporcionada, principalmente, pela maior eficiência energética
das lâmpadas a vapor de sódio de alta pressão (VSAP) e dos
reatores. Existem, porém, possibilidades técnicas para deslocar
a ponta ou reduzir a carga da iluminação pública, por meio de
mudanças no horário de funcionamento (controle indireto) e da
redução de potência fornecida às lâmpadas durante o período
de funcionamento mediante controle direto.
Lâmpadas
Segundo o levantamento cadastral realizado pelo Procel/
Eletrobras junto às distribuidoras de energia elétrica, em 2008
havia cerca de 15 milhões de pontos de iluminação pública
instalados no país, como mostrado na Tabela 1.
Dados relativos ao ano de 1999 são apresentados na Tabela 2.
Conforme os valores apresentados nas Tabelas 1 e 2 verifica-se
uma mudança significativa da tecnologia predominante utilizada
no sistema de IP em aproximadamente dez anos. Essas mudanças
se devem pela melhor eficiência luminosa das lâmpadas a vapor
de sódio.
Um comparativo entre as características dos tipos de
lâmpadas utilizados na IP é apresentado na Tabela 3.
Com base nos dados apresentados na Tabela 3, nota-se
que a lâmpada a vapor de sódio de alta pressão tem a melhor
eficiência luminosa, porém, seu índice de reprodução de cores
Tabela 1 – DisTribuição Das lâmpaDas De ip no brasil
Tipo de lâmpada
Vapor de sódio
Vapor de mercúrio
Mista
Incandescente
Fluorescente
Multivapor metálico
Outras
Total
9.294.611
4.703.012
328.427
210.417
119.535
108.173
5.134
14.769.309
62,93%
31,84%
2,22%
1,42%
0,81%
0,73%
0,03%
100%
Quantidade
Tabela 2 – DisTribuição Das lâmpaDas De ip no brasil em 1999
Tipo de lâmpada
Vapor de mercúrio
Vapor de sódio
Mista
Incandescente
Outras(1)
Total
9.262.800
2.051.091
983.968
504.043
152.219
12.954.121
71,5%
15,8%
7,6%
3,9%
1,2%
100%
Quantidade
(IRC) é o pior entre todos os tipos. Assim, a escolha do tipo
de lâmpada é uma solução de compromisso entre a eficiência
luminosa, o IRC e a vida mediana, conforme a finalidade da
iluminação requerida.
(1) Fluorescente, halógena e vapor metálico.
40 Apo
io
Sist
emas
de
ilum
inaç
ão
Tabela 3 – Comparação Das CaraCTerísTiCas Das lâmpaDas na ip
Tipo de lâmpadaCaracterísticas
Potência (W)
Eficiência luminosa (lm/W)
Vida mediana (hx1000)
Equipamento auxiliar
IRC
VSAP
70, 150, 250 e 400
83 a 125
16 a 24
Reator e ignitor
20
Regular
VM
80, 125, 250 e 400
44 a 55
9 a 15
Reator
40
Bom
MVM
70, 150, 250 e 400
86 a 100
9 a 15
Reator e ignitor
60 - 93
Ótimo
Mista
160, 250 e 500
20 a 27
6
-
60
Muito bom
Incandescente
100, 150 e 200
14 a 17
1
-
100
Excelente
Outras tecnologias ainda não utilizadas em larga escala estão
passando por testes antes de serem padronizadas e colocadas
em uso. Um exemplo é a utilização de diodos emissores de luz
(Leds), que, apesar de não haver normas específicas, já estão
sendo utilizadas em várias aplicações, principalmente em
iluminação de interiores e decoração.
Nos sistemas de iluminação pública, os Leds já são
bastante comuns em semáforos. A sua utilização melhora
significativamente a visibilidade da sinalização, além de ser
uma alternativa com eficiência luminosa muito melhor que as
lâmpadas incandescentes anteriormente utilizadas. De acordo
com dados comparativos divulgados pela Prefeitura de João
Pessoa (PB), após a substituição das lâmpadas incandescentes
por Led, entre 2009 e 2010, houve uma redução de 59% do
consumo anual de energia elétrica utilizada nos semáforos.
Em São Paulo, uma parceria entre a Secretaria Municipal
de Serviços e a AES Eletropaulo possibilitou a substituição da
iluminação de 17 túneis por luminárias com Led. A substituição
do sistema com lâmpadas a vapor de sódio por sistemas a Led
nesses túneis resultou em economia de mais de 80% de energia
elétrica, proporcionando iluminação estável com elevado nível
de reprodução de cores, em consonância com os requisitos
normativos da ABNT.
Verifica-se, entretanto, que a maioria dos projetos de
eficiência energética em sistema de IP se baseia na troca das
lâmpadas utilizadas por outras de maior eficiência luminosa.
41Apo
io
Tabela 4 – alTernaTivas De subsTiTuição De lâmpaDas
Lâmpada existente
Fluorescentes 2x40 W
Fluorescente 110 W
Halógena 400 W
Halógena 500 W
Halógena 1000 W
Halógena 1500 W
Incandescente 100 W a 300 W
Incandescente 500 W
Incandescente 1000 W
Mista 160 W
Mista 250 W
Mista 500 W
VM 80 W
VM 125 W
VM 250 W
VM 400 W
VM 700 W
VSAP 350 W (intercambiável)
Lâmpada eficiente
VSAP 70 W
VSAP 70 W
VSAP 150 W
VSAP 150 W
VSAP 250 W
VSAP 400 W
VSAP 70 W
VSAP 100 W
VSAP 150 W
VSAP 70 W
VSAP 70 W
VSAP 150 W
VSAP 70 W
VSAP 100 W
VSAP 150 W
VSAP 250 W
VSAP 400 W
VSAP 400 W
Esta troca pode acarretar apenas melhoria da iluminância,
quando troca-se a tecnologia da lâmpada sem mudar o valor da
potência, ou pode implicar a diminuição da potência instalada,
consequentemente, demanda e consumo, deixando inalterado o
valor da iluminância.
Na Tabela 4 são mostradas algumas alternativas de
substituição de lâmpadas, tendo como referência o fluxo
luminoso.
É importante observar para que o fluxo luminoso seja
distribuído da maneira mais uniforme possível e que o alcance
seja máximo, melhorando a luminosidade da via e aumentando
o espaçamento entre os pontos de iluminação, possibilitando a
diminuição do número de lâmpadas instaladas, da demanda e do
consumo. Para isso é necessário os corretos dimensionamento e
instalação das luminárias.
Luminárias
As luminárias são equipamentos que têm as funções principais
de controlar e distribuir a luz produzida pelas lâmpadas nelas
instaladas, proporcionando ventilação adequada e mantendo a
temperatura de operação nos limites estabelecidos.
As luminárias mais utilizadas na IP são dos tipos aberta,
aberta com tela de proteção, fechada, fechada com alojamento
para equipamento auxiliar, fechada tipo pétala e ornamental. O
tipo de luminária é escolhido em função das necessidades do
local de instalação.
Um importante parâmetro da luminária é o rendimento
Figura 1 – Tipos de luminárias: (a) aberta (SB-100), (b) fechada (SB-101), (c) fechada com alojamento para equipamentos auxiliares (SB-105), (d) tipo pétala (SB-121).
42 Apo
io
Sist
emas
de
ilum
inaç
ão
ótico, que é a razão entre o fluxo total da luminária e o fluxo
luminoso da lâmpada instalada dentro da luminária.
Cada tipo de luminária tem um local apropriado para
instalação. Luminárias abertas não devem ser colocadas em
locais em que haja ocorrência de vandalismo. Nestas áreas,
utilizam-se luminárias abertas com tela de proteção. Entretanto,
esse acessório diminui ainda mais o rendimento desta luminária.
A luminária fechada com vidro é indicada para vias com
trânsito normal de pedestre e veículos. Já as luminárias fechadas
com refrator em policarbonato são apropriadas para áreas com
alto índice de vandalismo. Por fim, as luminárias ornamentais
são utilizadas em iluminações especiais, quando se tem o
interesse de valorizar os locais, devendo ser escolhidas de forma
harmoniosa com a arquitetura do local.
Os formatos de cada tipo de luminária variam de acordo
com o fabricante, conforme ilustrado na Figura 1.
Por razões de facilidade de manutenção, quando
possível, devem ser utilizadas luminárias com equipamentos
incorporados. De acordo com o local a ser instalada, uma
luminária deve possuir uma proteção adequada à penetração
de pó e água. Esse grau de proteção é indicado pela sigla IP (do
inglês: ingress protection). O grau de proteção se apresenta da
seguinte forma, IP XX, na qual o primeiro X é um número entre
0 que 6 e indica a proteção contra a penetração de partes do
corpo humano, corpos sólidos e pó; o segundo X, entre 0 e 8,
indica a proteção contra a penetração de água.
Para luminárias de material plástico, um terceiro dígito (0,
1, 3, 5, 7 ou 9) indica a resistência mecânica. Esses índices são
padronizados pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT).
Durante a instalação das luminárias, deve-se ter cuidado
para não ocorrer direcionamento inadequado, o que pode
ocasionar dispersão do fluxo luminoso, diminuição da eficiência
do sistema e, também, poluição lumínica. Assim, devem ser
escolhidas luminárias com intensidade luminosa reduzida, entre
80º e 90º, para limitar possíveis ofuscamentos.
Deve ser observada, também, a limpeza periódica das
luminárias fechadas para retirar as partículas que impedem
a emissão do fluxo luminoso e diminuem o rendimento das
luminárias. Pode-se verificar que as luminárias não têm impactos
diretos no consumo de energia do sistema de IP. Entretanto,
escolhas incorretas irão diminuir de forma significativa a
qualidade da iluminação e a emissão e distribuição do fluxo
luminoso, exigindo lâmpadas de maior potência e reatores
também maiores, aumentando o consumo de energia e a
demanda.
Reatores
Os reatores são equipamentos auxiliares utilizados em
conjunto com as lâmpadas de descarga com o objetivo de
controlar e estabilizar a corrente de partida, assim como a tensão
de funcionamento da lâmpada. Comercialmente, existem dois
tipos de reatores para IP: os eletrônicos e os eletromagnéticos.
Eles podem ter alto ou baixo fator de potência. O tipo de reator
influencia no consumo de energia elétrica.
O funcionamento adequado do reator eletromagnético
depende do ponto de saturação do material ferromagnético
envolvido pela bobina, geralmente confeccionada com fio de
cobre, ligada em série com o eletrodo da lâmpada. Isso limita
e estabiliza o fluxo de corrente entre os eletrodos, mas provoca
distorção na forma de onda da corrente devido ao efeito da não
linearidade da característica B-H do material do núcleo.
O reator eletrônico (ballast) consiste de um circuito
retificador e um oscilador, operando na faixa de 16 kHz a 50
kHz, utilizando tecnologia eletrônica de estado sólido para
controle e estabilização da corrente elétrica entre os eletrodos.
O circuito oscilador tem as funções de filtrar o sinal retificado
para alimentar a lâmpada com uma tensão praticamente
senoidal, limitar a corrente e a tensão em valores nominais e
prover a tensão necessária para a ignição da lâmpada.
Dependendo do ponto de operação, as não linearidades
presentes nos núcleos dos reatores causam perdas e distorções
na forma de onda fornecida à lâmpada, afetando a Qualidade
da Energia Elétrica (QEE). Assim, caso o reator não seja bem
dimensionado, estas distorções podem acarretar diminuição da
vida útil da lâmpada e do reator, resultando na diminuição da
eficiência luminosa da lâmpada, no aumento das perdas e na
consequente diminuição da eficiência energética do sistema.
De acordo com a norma brasileira ABNT NBR 13593,
43Apo
io
reatores eletromagnéticos para lâmpadas VSAP de 70 W devem
operar com um rendimento mínimo de 82%. Já os reatores
eletromagnéticos para lâmpadas VMAP de 125 W devem ter
rendimento mínimo de 89%, conforme estabelecido na ABNT
NBR 5125.
O fator de potência dos reatores é um parâmetro importante,
tanto no que diz respeito às perdas quanto para a operação da
lâmpada. Reatores com baixo fator de potência podem causar o
chamado efeito estroboscópico, fenômeno que ocorre quando
a frequência da radiação luminosa num determinado espaço
iguala à frequência ou valores múltiplos desta. Quando esta
condição é satisfeita, a visão humana não consegue detectar, por
exemplo, o movimento de uma máquina elétrica rotativa, dando
a falsa sensação de que ela se encontra parada, o que pode
resultar em risco de acidentes graves com os operadores desse
tipo de máquina. Também podem ser consideradas as perdas no
circuito de comando e alimentação do sistema de IP. Tais perdas,
entretanto, não são objeto de discussão neste artigo.
Na Tabela 5 são apresentadas algumas características das
perdas nos reatores de acordo com a potência e com o tipo da
lâmpada acionada.
Observando-se os dados da Tabela 5, nota-se uma grande
diminuição das perdas nos reatores eletrônicos em relação aos
eletromagnéticos para lâmpadas fluorescentes de 40 W. Vê-se,
também, a não disponibilidade de reatores eletrônicos para
Tabela 5 – perDas nos reaTores
Perdas (W)Lâmpada
F 40 W
F 110 W
VM 80 W
VM 125 W
VM 250 W
VM 400 W
VM 700 W
VM 1.000 W
MVM 70 W
MVM 150 W
MVM 250 W
MVM 400 W
VSAP 70 W
VSAP 100 W
VSAP 150 W
VSAP 250 W
VSAP 350 W
VSAP 400 W
VSAP 600 W
Eletromagnético
11
25
9
12
16
25
35
45
13
12
25
35
15
15
20
25
40
40
50
Eletrônico
4
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
17
24
-
-
-
todos os tipos e níveis de potência de lâmpadas.
Outra observação pode ser feita quanto às lâmpadas VSAP:
44 Apo
io
Sist
emas
de
ilum
inaç
ão
as perdas nos dois tipos de reatores são muito próximas e só há
reatores eletrônicos para as lâmpadas de 150 W e 250 W.
As perdas nos reatores eletromagnéticos acontecem no
enrolamento (circuito elétrico) e no núcleo (circuito magnético).
Assim, as alternativas para diminuição destas perdas são da
mesma natureza das alternativas para transformadores, a saber,
troca do material do enrolamento por material com melhor
condutividade elétrica ou troca do material do núcleo por outro
de maior permeabilidade magnética e resistividade elétrica mais
elevada.
Atualmente, os reatores eletromagnéticos utilizam ligas de
FeSi como material ferromagnético no núcleo. Esse material,
apesar de apresentar bom desempenho, possui altas perdas.
Para uma lâmpada a vapor de sódio alta pressão de 400 W, as
perdas no reator somam 40 W, ou 10% da potência da lâmpada,
sendo necessária uma potência de 440 W para alimentação do
conjunto lâmpada-reator.
A troca do material convencional do núcleo por ligas
amorfas ou ligas nanocristalinas é uma solução técnica viável,
pois diminuiria as perdas dos reatores, restando a discussão
sobre a viabilidade econômica dessa adoção. Usualmente, as
ligas amorfas são produzidas mediante o emprego de processos
de solidificação rápida, tais como melt spinning e fundição em
fluxo planar. As propriedades variam conforme a composição da
liga. Porém, em comparação com os materiais ferromagnéticos
convencionais, as ligas amorfas apresentam propriedades
superiores, tais como: permeabilidade magnética mais elevada,
maior resistividade elétrica, além de reduzidas perdas por
histerese e correntes parasitas.
Testes comparativos realizados evidenciaram que as perdas
para um núcleo de liga amorfa são menores em comparação
com o aço convencional. De acordo com esses pesquisadores,
as perdas no núcleo representam de 25% a 30% das perdas
totais nos reatores para lâmpadas de IP de 80 W.
Alguns projetos de reatores foram testados para comparação
com os reatores comerciais. Na Tabela 6 são apresentados os
dados comparativos das perdas nos reatores.
Os projetos de cada um dos reatores amorfos foram
Tabela 6 – Comparação Das perDas nos reaTores
Perdas (W)
Perdas (W)
Reator 80 W
Convencional
Amorfo 1
Amorfo 2
Reator 36/40 W
Convencional
Amorfo 1
Amorfo 2
Amorfo 3
Cobre
7,9
7,3
7,2
Cobre
-
6,3
4,0
5,3
Ferro
3,0
0,3
0,3
Ferro
-
0,3
0,3
0,3
Total
10,9
7,6
7,5
Total
7,0
6,6
4,3
5,6
Tabela 7 – perDas nos reaTores para núCleo Com nanoperm®
Perdas (W)
Perdas (W)
Reator 80 W
Convencional
Nanocristalino 1
Nanocristalino 2
Reator 36/40 W
Convencional
Nanocristalino 1
Nanocristalino 2
Nanocristalino 3
Cobre
7,9
7,3
7,2
Cobre
-
6,3
4,0
5,3
Ferro
3,0
0,05
0,05
Ferro
-
0,05
0,05
0,05
Total
10,9
7,35
7,25
Total
7,0
6,35
4,05
5,35
elaborados pela variação das dimensões do núcleo e da
quantidade de material utilizado. Nota-se que o uso de ligas
amorfas reduz as perdas nos reatores eletromagnéticos, desde
que feito o correto dimensionamento dos seus componentes.
Pode-se observar uma diminuição em torno de 30% das perdas
para o reator de 80 W. Para o reator 36/40 W, a redução variou
de 5% a 38,6% aproximadamente.
Como decorrência das pesquisas e do desenvolvimento
das ligas amorfas, um novo material magneticamente mole foi
obtido e reportado por Yoshizawa e seus colaboradores: uma
liga nanocristalina, que recebeu essa denominação devido à
sua estrutura de grãos da fase Fe(-Si) em escala nanométrica, na
ordem de 1 nm a 100 nm.
Pesquisas adicionais sobre o desenvolvimento e aplicações
de ligas nanocristalinas resultaram na obtenção de uma liga
nanocristalina, denominada comercialmente por Nanoperm®. A
liga Nanoperm® possui as seguintes características magnéticas:
elevado valor de remanência (Br) e permeabilidade magnética
(µ), bem como baixas perdas ativas no núcleo e coeficiente de
magnetostricção (λ) baixo.
As perdas no núcleo com liga Nanoperm® são de 1/2 a 1/5 das
perdas nos núcleo com liga amorfa do sistema ternário Fe-B-Si.
Considerando valores de perda no núcleo com Nanoperm®
igual a 1/5 das perdas com núcleo amorfo e mantendo as perdas
no cobre fixas, chegamos aos valores apresentados na Tabela 7,
em que são computadas as perdas totais esperadas.
Pelas suposições feitas, pode-se esperar uma diminuição das
perdas para o reator de 80 W em torno de 33%, valor um pouco
maior que os obtidos pelos testes antes realizados. Já para o
reator de 36/40 W, a redução deverá variar entre 9% e 42%.
Assim, por exemplo, levando em consideração que a
perda no reator da lâmpada VM 80 W é de 9 W, conforme
apresentado na Tabela 5, com o emprego de liga nanocristalina
em substituição à liga de FeSi seria possível evitar uma demanda
na ponta de 1,75 W por unidade.
Assumindo que a lâmpada fique 4320 h/ano em
funcionamento, a energia elétrica economizada por ano será
7,56 kWh por unidade. Dessa forma, a economia financeira por
46 Apo
io
Sist
emas
de
ilum
inaç
ão
ano e por unidade pode ser calculada multiplicando-se o valor
de energia economizada pela tarifa de IP em vigor.
Um dos componentes importantes empregado na montagem
de reatores eletrônicos é o indutor. Neste particular, sugere-se
uma análise econômica sobre emprego de ligas nanocristalinas
em substituição aos materiais ferromagnéticos convencionais
usualmente empregados nos núcleos desse componente, já que
a viabilidade técnica é plenamente realizável.
Atualmente, outras tecnologias para lâmpadas e para as
luminárias também podem melhorar a qualidade e a eficiência
energética do sistema de IP, como o emprego da tecnologia Led.
Conclusão Atualmente, a preocupação com os impactos ambientais
causados pelo emprego da energia elétrica tem levado o governo
federal e empresas à criação de programas de incentivo ao uso
consciente e eficiente deste insumo. Tais programas apresentam
muitos resultados satisfatórios, comprovando a eficácia das
medidas a eles associados.
No tocante às novas tecnologias, neste artigo foram
apresentados alguns casos de emprego de Leds como opção
para a eficientização energética em sistemas de iluminação.
Adicionalmente aos avanços obtidos pela tecnologia Led
em sistemas de IP, espera-se que outras tecnologias sejam
incorporadas aos sistemas de iluminação pública convencional,
como a substituição do material do núcleo dos reatores,
atualmente ferromagnético, por ligas amorfas ou ligas
nanocristalinas.
Contabilizada a redução das perdas em todos os núcleos
dos indutores empregados em sistemas de IP, dois ganhos
significativos podem ser esperados: econômico e ambiental.
Os ganhos econômicos podem ser contabilizados mediante o
método de capitalização das perdas, com possíveis impactos
favoráveis na tarifa. Os ganhos ambientais podem ser obtidos
mediante a venda de créditos de carbono, obtidos com a
redução da quantidade de energia elétrica necessária na geração
para prover as perdas.
Referências• BARBOSA, R. A gestão e o uso eficiente da energia elétrica nos
sistemas de iluminação pública. São Paulo, 182 p. Dissertação
(Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Energia, Universidade
de São Paulo, 2000.
• ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Iluminação
pública: procedimento. ABNT NBR 5101. Rio de Janeiro, 1992.
• PROCEL/RELUZ. Disponível em: <http://www.eletrobras.
com/elb/main.asp?ViewID={8ECB0E0C-C71D-42EB-992D-
67B0BA0ECD4A}>. Acesso em: 14 maio 11.
• BARBOSA, R. Manual de iluminação pública eficiente. Rio de
Janeiro: Ibam-Duma/Eletrobras – Procel, 1998.
47Apo
io
*FeliPe NóbregA de CAStro é engenheiro eletricista e mestre em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Atualmente, é engenheiro de equipamentos da Petrobras.
BEnEdITo AnTonIo LUCIAno é engenheiro eletricista, mestre e doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Federal da Paraíba (atual UFCG), Campina Grande, Brasil. É membro sênior do IEEE e, desde 1979, é professor do departamento de Engenharia Elétrica da UFCG, atuando nos cursos de graduação e de pós-graduação em engenharia elétrica.
Continua na próxima ediçãoConfira todos os artigos deste fascículo em
www.osetoreletrico.com.brDúvidas, sugestões e comentários podem ser encaminhados
para o e-mail [email protected]
• PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA. Disponível
em: <http://www.joaopessoa.pb.gov.br/projeto-de-eficiencia-
energetica-da-pmjp-sera-tema-de-programa-da-tv-futura>. Acesso
em: 29 jan.12.
• AES ELETROPAULO. Disponível em: <http://www.
aeseletropaulo.com.br/imprensa/releases/Paginas/AESEletropaulo
instalailumina%C3%A7%C3%A3o.aspx>. Acesso em: 29 jan. 12.
• CARLOS, M. V.; BACELLAR, F. L. B.; BARROS, L. A. C. Reforma
de iluminação de túnel com o uso de tecnologia LED. Revista
Eletricidade Moderna, Aranda Editora, São Paulo, n. 453, p. 100-
110, 2011.
• PROCEL RELUZ. Manual de instruções. Rio de Janeiro: Procel
Reluz/Eletrobras – Procel, 2005.
• SHOMEI. Disponível em: <http://www.shomei.com.br/
produtospublica.html>. Acesso em: 15 maio 11.
• ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Invólucros
de equipamentos elétricos – proteção: especificação. NBR 6164.
Rio de Janeiro, 1980.
• ABNT NBR 13593 – Reator e ignitor para lâmpada a vapor de
sódio a alta pressão – especificação e ensaios. Rio de Janeiro, 2003.
• ABNT NBR 5125 – Reator para lâmpada a vapor de mercúrio a
alta pressão. Rio de Janeiro, 1996.
• ERTUGRUL, N.; SOONG, W. L.; GAYLER, J.; RYBAK, T. High-
efficiency magnetic ballast design utilizing amorphous metal core.
Australasian Universities Power Engineering Conference. Brisbane,
September 2004.
• YOSHIZAWA, Y.; OGUMA, S.; YAMAMUCHI, K. New Fe-based
soft magnetic alloys composed of ultrafine grain structure. J. Appl.
Phys., v. 64, p. 6.044-6.046, 1988.
• MAKINO, A.; HATANAI, T.; NAITOH,Y.; BITOH, T.; INOUE,
A.; MASUMOTO, T. Applications of nanocrystalline soft magnetic
Fe-M-B (M = Zr, Nb) alloy “NANOPERM®”. IEEE Transactions on
Magnetics, v. 33, n. 5, p. 3.793-3.798, 1997.
• ASTORGA, O. A. M.; DAMATO, J. C.; CARNEIRO JR., J. L.;
CÁSSIA, M. S. Modernização do sistema de iluminação com o uso
de tecnologia LED. Revista Eletricidade Moderna, ano 39, n. 445,
p. 92-99, 2001.