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ENCARANDO O ENVELHECER: ASPECTOS PSICOLÓGICOS EM IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS
FACING AGE: PSYCHOLOGICAL ASPECTS OF ELDERLY INSTITUTIONALIZED
Allan dos Santos Gonçalves – [email protected] Daniele Sirqueira Barbosa – [email protected] Ivair Inácio Junior – [email protected]
Graduandos em Psicologia – UniSALESIANO Lins Profª Ma. Gislaine Lima da Silva - UniSALESIANO Lins - [email protected]
RESUMO
O presente trabalho tem a pretensão de compreender a concepção de idosos institucionalizados em relação ao processo de envelhecimento, bem como a importância que os mesmos atribuem às relações interpessoais. A hipótese deste trabalho circunda questões de caráter psicológico, dando ênfase às implicações da ausência de relações interpessoais no âmbito institucional. Tal pesquisa favoreceu a descoberta de questões psicológicas relevantes para o público idoso. Além das concepções a respeito do envelhecimento, foi possível notar as implicações da ausência ou escassez de visitas dos familiares, bem como as reações dos idosos diante disto. Observou-se também, questões relativas à autonomia e encadeamentos acerca da institucionalização.
Palavras-chave: Envelhecimento. Relações interpessoais. Institucionalização.
ABSTRACT
The present article intends to understand the conception of institutionalized elderly in relation to the aging process, as well as the importance they attribute to interpersonal relationships. The hypothesis of this work surrounds questions of a psychological nature, emphasizing the implications of the absence of interpersonal relations in the institutional scope. Such research favored the discovery of psychological issues relevant to the elderly public. In addition to conceptions about aging, it was possible to note the implications of the absence or shortage of family visits, as well as the reactions of the elderly to this. It was also observed issues related to autonomy and links about institutionalization.
Keywords: Aging. Interpersonal relationships. Institutionalization.
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INTRODUÇÃO
O artigo em questão tem como temática principal o processo de
envelhecimento de idosos institucionalizados em ILPIs (Instituições de Longa
Permanência para Idosos). Buscando compreender como essas pessoas encaram e
vivenciam o fato de estarem em uma instituição dessa categoria. Outro aspecto que
foi investigado diz respeito às relações interpessoais, e como tais relações podem
ser facilitadoras no processo de envelhecimento dos indivíduos, a partir através da
perspectiva cognitiva comportamental.
Tal assunto chamou a atenção devido ao fato dos avanços tecnológicos e
suas influências na população mundial, favorecendo a longevidade dos indivíduos, e
com isso, emerge a necessidade de compreender e viabilizar um envelhecimento
mais saudável, principalmente dentro das ILPIs.
As relações interpessoais são de extrema importância para as pessoas em
todas as fases da vida, entretanto na velhice essas relações acabam tendo uma
conotação ainda mais crucial, pois as auxilia num sentido de significar suas
experiências vividas, gerando sentimentos de autoconhecimento, manutenção e
promoção da autoestima, além de promover metas de evolução (TEIXEIRA; NERI,
2008).
Percebe-se que a falta das relações interpessoais dentro das instituições de
caráter público ou privado pode afetar esses idosos, podendo desencadear a
depressão e sentimentos de menos valia. Diante disto, a metodologia adotada é de
cunho qualitativo, haja vista o objetivo de investigar questões que permeiam a
subjetividade dos idosos.
1 O CICLO VITALO ciclo da vida é constituído por períodos baseados em uma construção
social, que está diretamente ligado no ponto de vista geral da sociedade. Porém, ao
longo do tempo tornou-se vulnerável a modificações devido às influências culturais
do pensamento contemporâneo.
Durante o ciclo da vida não é possível afirmar o momento exato em que
crianças, jovens e adultos atravessam a ponte que liga respectivamente tais fases
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do desenvolvimento humano. Pessoas de diferentes idades pensam, agem e sentem
de acordo com sua subjetividade, porém, compartilham do mesmo ciclo de forma
distinta (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).
Em determinado intervalo do ciclo vital, pode-se dizer que existe uma
distinção entre os idosos, sendo idoso jovem e idoso velho. O idoso jovem encontra-
se na faixa etária entre 55 e 75 anos e o idoso velho encontra-se na idade superior a
75 anos. (NEUGARTEN, 1974 apud BEE, 1997).
O envelhecimento é um processo de extrema individualidade, visto que pode
haver idosos aos 65 anos totalmente dependentes e outros com idade superior com
total autonomia. A diferenciação entre idoso jovem e idoso velho nos leva a pensar
que o envelhecer não é algo que acontece bruscamente aos 65 anos e que as
capacidades funcionais e sociais desses idosos podem ser de grande variedade.
(BEE, 1997).
Segundo Myers (2006), quando a pessoa atinge a vida adulta intermediária,
40 a 65 anos, ela encontra certo sentido em contribuir para o mundo, geralmente por
meio da família e do trabalho, ou pode ocorrer também uma falta de sentido e
objetivos na vida.
Segundo Papalia e Feldman (2013), na vida adulta tardia, 65 anos, é possível
afirmar que em sua maioria, as pessoas mantêm-se operantes, entretanto acentua-
se o declínio da saúde física e mental. Nessa idade as pessoas refletem a respeito
de suas vidas, podendo vivenciar sentimentos de satisfação ou fracasso, de acordo
com seu processo vivencial (MYERS, 2006).
Segundo Papalia e Feldman (2013), a inteligência e memória iniciam um
processo de deterioração, momento em que a busca por meios de compensação se
faz presente em tal situação. Com a aposentadoria, essas pessoas podem encontrar
novas ressignificações para suas vivências, e as relações com a família e a
sociedade podem auxiliar positivamente nesses processos do envelhecimento.
De acordo com Birren e Schroots (apud FECHINE; TROMPIERI, 2013), o
envelhecimento pode ser dividido em três partes: envelhecimento primário,
envelhecimento secundário; e envelhecimento terciário.
O envelhecimento primário é conhecido como o envelhecimento normal, onde
se encontra dentro da normalidade da espécie, ou seja, acontece naturalmente,
obtendo influências dos aspectos relacionados à vida (BIRREN; SCHROOTS apud
FECHINE; TROMPIERI, 2012).
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Já no envelhecimento secundário ou patológico, evidencia-se algum tipo de
enfermidade, seja cerebral, cardiovasculares, entre outras, o indivíduo deixa de ter
um envelhecimento natural, onde é conduzido pelos sintomas e implicações da
doença (BIRREN; SCHROOTS apud FECHINE; TROMPIERI, 2012).
Por fim, o envelhecimento terciário ou terminal, é quando o individuo perde
suas funções cognitivas e físicas, através do envelhecimento considerado normal ou
anormal. (BIRREN; SCHROOTS apud FECHINE; TROMPIERI, 2012).
2 COMPREENDENDO O ENVELHECIMENTOO significado e a valia da velhice são observados em diversas épocas e
modificam-se ao longo da História humana, variando concepções oriundas das mais
diversas sociedades, cujos sentimentos estão ligeiramente associados. Em termos
orgânicos, a velhice representa declínios os quais, desencadeia certo temor nos
homens (BEAUVOIR, 1970)
De acordo com Neri (1995), o ser humano transcorre a maior parte do tempo
de sua vida na fase adulta. Durante sua história, o homem sempre buscou respostas
e significados para os mais variados fenômenos, incluindo a velhice que, ao longo
do tempo, teve sua concepção alterada, passando por definições ingênuas e sem
embasamento até alcançar as de cunho científico, a qual tem evoluído considerando
os fatores sociais e culturais envolvidos neste processo.
Segundo Beauvoir (1970), a concepção da velhice é modificada de acordo
com a época e as circunstâncias, podendo haver oscilações nos aspectos positivos
e negativos de tal fenômeno. Retrata também, cada indivíduo encara esta etapa da
vida de modo particular. Para os gregos, a concepção de honra conectou-se com a
dos longevos, atribuindo algumas prerrogativas como ancianidade e deputação.
Dentre as personalidades gregas, Homero, a propósito da velhice, relaciona o
fenômeno com a sabedoria, representada por Nestor, cujo tempo proporcionou-lhe a
experiência, a arte das palavras e autoridade. Enquanto a Grécia viveu num regime
feudal, pode-se compreender que os longevos eram considerados como merecedor
de honras e digno de respeito (BEAUVOIR, 1970).
A autora expõe a singularidade da velhice para o povo chinês, destacando
que nenhuma outra cultura tratou tal fenômeno de modo tão particular em relação a
questões hierárquicas e autoritárias. Salienta a força que a idade representava para
este povo, tal como sua autoridade em todos os sentidos. O homem tinha elevado
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destaque social quando comparado a mulher, no entanto, com a idade avançada
esta última tinha papel importante na educação dos netos.
Embora muitos jovens não fossem coniventes com as condutas da pessoa
idosa, suas prerrogativas não eram contestadas, uma vez que o valor era medido
por experiências em detrimento da força física. Além disso, quando o homem
atingia os 70 anos de idade, se submetia a um afastamento de suas funções oficiais
com o intuito de se preparar para a morte. Com isso, apesar da autoridade continuar
sob o domínio do idoso, os jovens (filhos) passavam a dar continuidade nos
negócios e no comendo da casa (BEAUVOIR, 1970).
De acordo com Beauvoir (1970), o povo judeu interpreta a velhice com base
em preceitos bíblicos, cuja longevidade é um elemento preponderante. A autora
salienta a dificuldade em distinguir os relatos de caráter mitológico daqueles que
retrata a realidade do povo. De modo geral, com base nos relatos bíblicos, os idosos
são vistos como detentores da sabedoria que devem ser obedecidos e respeitados
pelos mais jovens.
De acordo com Gonçalves (2007), a Gerontologia sendo “gero” oriundo do
grego, significando (velho) estuda o processo de envelhecimento humano e suas
implicações, atingindo questões genéticas, psicológicas e, finalmente, sociais. Tal
campo científico está em ascensão, visto ao crescente número de idosos em todo o
mundo. Destaca também, o expressivo crescimento desta população quando
comparado a outros grupos etários. Segundo Beauvoir (1970), dentre as várias
vicissitudes que a velhice acarreta há mudanças no semblante, na cor do cabelo,
queda dos dentes, declínio da força muscular, o aumento da pressão e os órgãos
dos sentidos são afetados.
Conforme defendido por Coni, Davison e Webster (1996), o envelhecimento
pode ser analisado sob um ponto de vista favorável. Os autores ressaltam, com
base em dados históricos, a taxa de longevidade, que em países desenvolvidos e os
que estão em desenvolvimento, é muito superior aos tempos passados, onde
catástrofes como Peste Negra e a segunda Guerra Mundial, elevaram,
precocemente, a taxa de mortalidade, isto é, devido tais circunstâncias, as pessoas
morriam cedo demais, antes mesmo de atingir a velhice.
Nas palavras de Beauvoir (1970) existem características biológicas e
psicológicas na velhice, evidenciando que há singularidades neste período,
ocasionando, portanto, comportamentos típicos da velhice. Entretanto, Barbosa
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(2007) expõe que a demarcação cronológica entre criança, adolescente, adulto e
idoso não vem sendo utilizada por profissionais da saúde. A autora relata haver
consonância em considerar as limitações de modo singular, pois questões como
hereditariedade, alimentação, ambiente, clima, atividades, culturas, classe social e
nível econômico têm grande importância no processo da vida.
Segundo Paiva, Carvalho e Luna (2007), o envelhecimento é uma condição
do ser humano, todavia, o contexto em que este processo ocorre pode ser
determinante no que se refere à vida na velhice. Os autores ressaltam que a idade é
apenas um fator quantitativo referente aos anos de vida de cara ser humano,
contudo, fatores biopsicossociais e culturais atravessam todas as fases da vida, até
a velhice, sendo, portanto, de grande importância ao considerar o processo da vida
e seus desdobramentos.
A idade biológica está relacionada ao processo de degradação dos órgãos,
atenuando a funcionalidade e a capacidade de auto-regulação, tornando-se menos
eficaz. A sociológica considera o contexto em que o indivíduo está inserido, seu
papel e costumes, bem como a relação com outros membros da sociedade. A
psicológica, por sua vez, relaciona as habilidades comportamentais do sujeito à
mudanças ambientais; abrange inteligência, memória e motivação (apud CANCELA,
2007).
De encontro com o fator psicológico, Beauvoir (1970) pontua que a questão
da adaptação se torna um obstáculo para o idoso. Embora haja facilidade em
manejar conteúdos já adquiridos, evidencia-se certa dificuldade em termos
adaptativos; segundo a autora, as mudanças exigem grande esforço por parte do
idoso, facilitando uma tendência na manutenção de hábitos já adquiridos, haja vista
a falta de flexibilidade dos mesmos.
Em estudo realizado, Schneider e Irigaray (2008), revelam as variáveis do
processo de envelhecimento, considerando aspectos cronológicos, biológicos,
psicológicos e sociais. Para os autores, “O envelhecimento é um processo complexo
e multifatorial”, devido a questões de caráter genético e ambientais, fatores que
impossibilita o estabelecimento de um modelo padrão de tal processo. Ressaltam
que em termos cronológicos, biológicos, psicológicos e sociais, cada indivíduo
percorre o processo de envelhecimento de forma única, podendo não haver
consonância entre tais aspectos, haja vista a atuação singular de cada um desses
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elementos. Entretanto, salientam a preponderância dos mesmos na constituição do
envelhecimento.
Pontuar as características da idade avançada trouxe um desafio para os
pensadores deste tema, tendo em conta que cada pessoa vivencia esta etapa de
modo particular e sob diversas influências, tornando-se, portanto, um fenômeno
multifatorial. Para olharmos a velhice como bem-sucedida em termos de qualidade
de vida, é necessário nos atermos a alguns aspectos, sendo eles de caráter
biológico, psicológico e socioestrutural; vários fatores são considerados indicativos
de bem-estar na velhice como a longevidade, saúde mental; satisfação; controle
cognitivo; status social, entre outros. Sabe-se que tais fatores fazem parte do
processo de envelhecimento, porém não é possível precisar a atuação de cada
elemento; entretanto, tais variáveis estão relacionadas e podem influir no
desenvolvimento de uma velhice saudável (NERI, 2000).
3 INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILP)De acordo com Araújo et al. (2010) a humanidade está passando por um
processo de transformação na estrutura e perfil de sua população, onde até 2050
haverá um contingente de 2 bilhões de pessoas acima dos 60 anos, população esta
que se concentrará principalmente nos países mais desenvolvidos. Tal modificação
se dá devido aos avanços científicos que proporcionam melhor qualidade de vida à
humanidade.
Entretanto, as cobranças da vida moderna, principalmente relacionadas ao
mercado de trabalho acabam exigindo muito dos familiares das pessoas idosas,
dificultando que seja dada a devida atenção e cuidados específicos à esse
contingente. Sendo assim, surge cada vez mais a necessidade das internações nas
ILPs (Instituições de Longa Permanência). (MEDEIROS e OLIVEIRA apud ARAÚJO
et al., 2010).
Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (2003), as
instituições para idosos não são recentes, tendo surgido por incentivo do
cristianismo. O asilo é reconhecido como casa de assistência social que oferece
proteção e cuidados para com pessoas pobres e sem condições de se manterem
com o mínimo de dignidade. Relacionando-se assim a ideia de abrigo e guarita. Com
o passar do tempo outros termos surgiram para denominar locais de assistência a
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idosos como, por exemplo, abrigo, lar, casa de repouso, clínica geriátrica e
ancionato.
No Brasil, em 1890, foi criada a primeira instituição asilar do Rio de Janeiro, o
Asilo São Luiz para a Velhice Desemparada, onde seus moradores eram colocados
à margem do contexto familiar e social (GROISMAN apud ARAÚJO, 2010).
Como afirmam Goffman e Moreno apud Araújo et al (2010), o modelo asilar
brasileiro está obsoleto quanto à assistência prestada aos idosos, no que é
denominado de instituição total, ou seja, um local de residência e trabalho, onde um
grande número de indivíduos com situação semelhante, levam uma vida fechada e
formalmente administrada.
Camarano (apud ARAÚJO et al., 2010) diz que existem grandes
desigualdades quanto aos serviços prestados pelos asilos em diferentes regiões do
Brasil, sendo as do Sul e Sudeste do país àquelas que oferecem os melhores
serviços aos seus idosos com maior poder aquisitivo.
Diante disso, foi criada a Portaria nº 810/1989 que define as normas e
padrões de funcionamento de casas de repouso, clínicas geriátricas e outras
instituições para idosos. Ela define como deve ser a organização da instituição, a
área física, as instalações e os recursos humanos.
Araújo et al (2010) conclui dizendo que o número de asilos no Brasil vem
crescendo de maneira assombrosa, e por isso é importante a sociedade buscar
conhecimento a respeito desse segmento de institucionalização. Sendo adotada
apenas em última instância, quando todas as demais possibilidades do idoso
continuar no seio familiar sejam descartadas. Passando o asilamento a ser uma
opção que proporcione dignidade e qualidade de vida, a instituição tem que romper
com sua imagem histórica de segregação e se tornar uma saída na vida dos idosos.
De acordo com o Estatuto do Idoso artigo 2° “O idoso goza de todos os
direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral
de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as
oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu
aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e
dignidade.’’
A respeito das ILPIs, Camarano e Kanso (2010) destacam que, no Brasil
propriamente dito, as acepções são variadas e longe de um consenso. Sua gênese
está, originalmente, ligada aos asilos que favorecia abrigo a população carente. Tal
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instituição era fruto da caridade cristã devido à falta de políticas públicas para essa
população específica. De acordo com as autoras, conforme o envelhecimento e taxa
de longevidade ocorre, nota-se que os idosos estão vivendo mais, no entanto as
afecções provocam decréscimos de aptidões físicas e cognitivas, implicando em
mudanças de paradigmas dentro das instituições, tendo em vista o acréscimo de
necessidades, especialmente de assistência à saúde.
Em suma, entende-se por IPLIs instituições que oferece abrigo aos idosos
independentes que possuem dificuldades financeiras ou familiares, bem como
àqueles que passam por adversidades físicas comprometedoras que demande
cuidados frequentes (CAMARANO; KANSO, 2010).
4 IMPLICAÇÕES DO PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DO IDOSOEm primeiro lugar, deve-se lembrar que a institucionalização em ambiente
asilar deve ocorrer como última possibilidade para abrigar uma pessoa idosa,
devendo sempre priorizar sua permanência no meio familiar. Pode-se afirmar que a
família tem o dever de cuidar e amparar seus parentes idosos. Infelizmente, isso não
ocorre com frequência (DALVI; RAMOS, 2012).
Dalvi e Ramos (2012) dizem que mesmo idosos que moram com familiares
acabam sentindo-se sozinhos e abandonados, pois passam longos períodos
desacompanhados em casa, enquanto os demais membros da família estão
trabalhando, ocasionando assim sentimentos de desvalia.
É importante lembrar que uma realocação súbita desta pessoa idosa, pode
levar, não somente à desorientação, angústia e medo, mas também pode ocasionar
a morte. Isso tudo está estritamente relacionado ao grau de doença desse idoso
realocado e do domínio que o mesmo tem sobre o ambiente e sua capacidade
adaptativa. Essa transição deve ocorrer de forma adequada, para que esta situação
não venha a se tornar traumática (NAHEMOW; POUSADA, 1987).
Segundo Dalvi e Ramos (2012) após o asilamento, os idosos acabam
desenvolvendo certa apatia, além de um grau de passividade e falta de motivação
para realizar qualquer tipo de atividade.
Duarte (2014) afirma que os idosos sentem uma perda em sua autonomia, ou
seja, do controle de suas atividades diárias, e de seu poder de decisão. A realidade
institucional é muitas vezes, vista como ambiente imutável, gerando assim
sentimentos de solidão e abandono. Além disso, este espaço tende a ser
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compreendido como desconfortável quanto à convivência com outros idosos e as
atividades não favoreça o convívio social.
5 METODOLOGIAO estudo teve como pergunta problema o seguinte questionamento: “A
ausência de relações interpessoais no contexto institucional pode resultar em idosos
solitários?”. Tal questionamento surgiu através da observação in loco em estágio
voluntário realizado no Asilo da cidade de Lins-SP. Notou-se a escassez de visitas
na instituição asilar e o quanto os idosos eram carentes; sendo assim, surgiu o
interesse em compreender os sentimentos acerca desta temática, realizando-se a
pesquisa em uma clínica geriátrica particular.
Diante do contexto citado, nosso objetivo foi compreender o processo de
envelhecimento em idosos institucionalizados, bem como aspectos psicológicos
implicados nessa vivência, a fim de verificar a hipótese de que a falta das relações
sociais pode afetar esses idosos, podendo desencadear a depressão e sentimentos
de solidão.
Empregou-se como instrumento de coleta de dados uma entrevista
estruturada com os residentes da Clínica Geriátrica Villa Vida no município de Lins-
SP. Tal questionário foi elaborado com a finalidade de coletar dados elementares e
específicos da pesquisa em questão e, além da entrevista, foi realizada observação
e escuta qualificada.
O roteiro de questões utilizado, contendo dez perguntas, teve inicialmente a
coleta de informações referentes aos dados de identificação do participante como
data de nascimento, estado civil, cidade de origem, abrindo em seguida para o
número de filhos, tempo de instituição e uso medicamentoso e, posteriormente,
questões relacionadas ao processo de institucionalização, a importância das visitas
e das relações interpessoais, e por fim, questões acerca do enfrentamento do
envelhecimento.
As perguntas foram feitas por intermédio dos pesquisadores, visando
apresentar de forma clara o conteúdo das questões. Todos os participantes
responderam de modo coerente as indagações.
Os critérios utilizados para selecionar os idosos foram: lucidez e funções
cognitivas preservadas, sendo que o viés qualitativo foi pertinente, haja vista a
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estrutura proposta pelos pesquisadores, onde questões subjetivas permeavam as
indagações.
A seleção dos participantes ocorreu de maneira a priorizar os idosos com
suas funções cognitivas preservadas, de ambos os sexos, com idade entre sessenta
e noventa e seis anos, residentes da Clínica Geriátrica Villa Vida localizada na
cidade de Lins-SP. Para isso, obteve-se a ajuda de uma Enfermeira responsável
pelos cuidados dos idosos, para que fossem selecionados idosos com tais
características.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Diante dessa pesquisa foi possível perceber a necessidade das relações
interpessoais para os idosos institucionalizados, visto que tais relações possibilitam
melhor qualidade de vida e desenvolvimento pessoal para este público.
A ausência das relações interpessoais gera sentimentos de tristeza e solidão,
principalmente tratando-se do âmbito familiar, visto que embora os idosos estejam
recebendo todo o cuidado na instituição, ainda assim se faz necessário o afeto
familiar. Eles esperam por visitas, querem saber sobre os netos, sobre as conquistas
dos filhos, e tudo isso gera gratidão e consequentemente qualidade de vida,
facilitando o processo de envelhecimento, que carrega consigo muitas frustrações e
declínios de caráter físico e mental.
Percebeu-se que os cuidadores acabam suprindo algumas necessidades
afetivas. Muitos idosos relataram seu apreço pelos profissionais, alguns até
consideram como pais; tal relação é favorável no quesito da institucionalização, pois,
atenua de modo significativo o sentimento de abandono.
Percebeu-se também, que as implicações do envelhecimento desencadeiam
uma série de alterações na vida desses idosos. Nos relatos observados, poucos são
os que têm uma concepção favorável em relação ao envelhecimento, a ênfase maior
é dada aos declínios e faltas que se fazem presentes neste período da vida. Vale
ressaltar a importância que tais idosos atribuíram à família, visitas, bem como as
relações interpessoais de modo geral.
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