canais de marketing · web viewdiante dessa pesquisa foi possível perceber a necessidade das...

20
ENCARANDO O ENVELHECER: ASPECTOS PSICOLÓGICOS EM IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS FACING AGE: PSYCHOLOGICAL ASPECTS OF ELDERLY INSTITUTIONALIZED Allan dos Santos Gonçalves – [email protected] Daniele Sirqueira Barbosa – [email protected] Ivair Inácio Junior – [email protected] Graduandos em Psicologia – UniSALESIANO Lins Profª Ma. Gislaine Lima da Silva - UniSALESIANO Lins - [email protected] RESUMO O presente trabalho tem a pretensão de compreender a concepção de idosos institucionalizados em relação ao processo de envelhecimento, bem como a importância que os mesmos atribuem às relações interpessoais. A hipótese deste trabalho circunda questões de caráter psicológico, dando ênfase às implicações da ausência de relações interpessoais no âmbito institucional. Tal pesquisa favoreceu a descoberta de questões psicológicas relevantes para o público idoso. Além das concepções a respeito do envelhecimento, foi possível notar as implicações da ausência ou escassez de visitas dos familiares, bem como as reações dos idosos diante disto. Observou-se também, questões relativas à autonomia e encadeamentos acerca da institucionalização. Palavras-chave: Envelhecimento. Relações interpessoais. Institucionalização. 1

Upload: lephuc

Post on 11-Feb-2019

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: CANAIS DE MARKETING · Web viewDiante dessa pesquisa foi possível perceber a necessidade das relações interpessoais para os idosos institucionalizados, visto que tais relações

ENCARANDO O ENVELHECER: ASPECTOS PSICOLÓGICOS EM IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS

FACING AGE: PSYCHOLOGICAL ASPECTS OF ELDERLY INSTITUTIONALIZED

Allan dos Santos Gonçalves – [email protected] Daniele Sirqueira Barbosa – [email protected] Ivair Inácio Junior – [email protected]

Graduandos em Psicologia – UniSALESIANO Lins Profª Ma. Gislaine Lima da Silva - UniSALESIANO Lins - [email protected]

RESUMO

O presente trabalho tem a pretensão de compreender a concepção de idosos institucionalizados em relação ao processo de envelhecimento, bem como a importância que os mesmos atribuem às relações interpessoais. A hipótese deste trabalho circunda questões de caráter psicológico, dando ênfase às implicações da ausência de relações interpessoais no âmbito institucional. Tal pesquisa favoreceu a descoberta de questões psicológicas relevantes para o público idoso. Além das concepções a respeito do envelhecimento, foi possível notar as implicações da ausência ou escassez de visitas dos familiares, bem como as reações dos idosos diante disto. Observou-se também, questões relativas à autonomia e encadeamentos acerca da institucionalização.

Palavras-chave: Envelhecimento. Relações interpessoais. Institucionalização.

ABSTRACT

The present article intends to understand the conception of institutionalized elderly in relation to the aging process, as well as the importance they attribute to interpersonal relationships. The hypothesis of this work surrounds questions of a psychological nature, emphasizing the implications of the absence of interpersonal relations in the institutional scope. Such research favored the discovery of psychological issues relevant to the elderly public. In addition to conceptions about aging, it was possible to note the implications of the absence or shortage of family visits, as well as the reactions of the elderly to this. It was also observed issues related to autonomy and links about institutionalization.

Keywords: Aging. Interpersonal relationships. Institutionalization.

1

Page 2: CANAIS DE MARKETING · Web viewDiante dessa pesquisa foi possível perceber a necessidade das relações interpessoais para os idosos institucionalizados, visto que tais relações

INTRODUÇÃO

O artigo em questão tem como temática principal o processo de

envelhecimento de idosos institucionalizados em ILPIs (Instituições de Longa

Permanência para Idosos). Buscando compreender como essas pessoas encaram e

vivenciam o fato de estarem em uma instituição dessa categoria. Outro aspecto que

foi investigado diz respeito às relações interpessoais, e como tais relações podem

ser facilitadoras no processo de envelhecimento dos indivíduos, a partir através da

perspectiva cognitiva comportamental.

Tal assunto chamou a atenção devido ao fato dos avanços tecnológicos e

suas influências na população mundial, favorecendo a longevidade dos indivíduos, e

com isso, emerge a necessidade de compreender e viabilizar um envelhecimento

mais saudável, principalmente dentro das ILPIs.

As relações interpessoais são de extrema importância para as pessoas em

todas as fases da vida, entretanto na velhice essas relações acabam tendo uma

conotação ainda mais crucial, pois as auxilia num sentido de significar suas

experiências vividas, gerando sentimentos de autoconhecimento, manutenção e

promoção da autoestima, além de promover metas de evolução (TEIXEIRA; NERI,

2008).

Percebe-se que a falta das relações interpessoais dentro das instituições de

caráter público ou privado pode afetar esses idosos, podendo desencadear a

depressão e sentimentos de menos valia. Diante disto, a metodologia adotada é de

cunho qualitativo, haja vista o objetivo de investigar questões que permeiam a

subjetividade dos idosos.

1 O CICLO VITALO ciclo da vida é constituído por períodos baseados em uma construção

social, que está diretamente ligado no ponto de vista geral da sociedade. Porém, ao

longo do tempo tornou-se vulnerável a modificações devido às influências culturais

do pensamento contemporâneo.

Durante o ciclo da vida não é possível afirmar o momento exato em que

crianças, jovens e adultos atravessam a ponte que liga respectivamente tais fases

2

Page 3: CANAIS DE MARKETING · Web viewDiante dessa pesquisa foi possível perceber a necessidade das relações interpessoais para os idosos institucionalizados, visto que tais relações

do desenvolvimento humano. Pessoas de diferentes idades pensam, agem e sentem

de acordo com sua subjetividade, porém, compartilham do mesmo ciclo de forma

distinta (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).

Em determinado intervalo do ciclo vital, pode-se dizer que existe uma

distinção entre os idosos, sendo idoso jovem e idoso velho. O idoso jovem encontra-

se na faixa etária entre 55 e 75 anos e o idoso velho encontra-se na idade superior a

75 anos. (NEUGARTEN, 1974 apud BEE, 1997).

O envelhecimento é um processo de extrema individualidade, visto que pode

haver idosos aos 65 anos totalmente dependentes e outros com idade superior com

total autonomia. A diferenciação entre idoso jovem e idoso velho nos leva a pensar

que o envelhecer não é algo que acontece bruscamente aos 65 anos e que as

capacidades funcionais e sociais desses idosos podem ser de grande variedade.

(BEE, 1997).

Segundo Myers (2006), quando a pessoa atinge a vida adulta intermediária,

40 a 65 anos, ela encontra certo sentido em contribuir para o mundo, geralmente por

meio da família e do trabalho, ou pode ocorrer também uma falta de sentido e

objetivos na vida.

Segundo Papalia e Feldman (2013), na vida adulta tardia, 65 anos, é possível

afirmar que em sua maioria, as pessoas mantêm-se operantes, entretanto acentua-

se o declínio da saúde física e mental. Nessa idade as pessoas refletem a respeito

de suas vidas, podendo vivenciar sentimentos de satisfação ou fracasso, de acordo

com seu processo vivencial (MYERS, 2006).

Segundo Papalia e Feldman (2013), a inteligência e memória iniciam um

processo de deterioração, momento em que a busca por meios de compensação se

faz presente em tal situação. Com a aposentadoria, essas pessoas podem encontrar

novas ressignificações para suas vivências, e as relações com a família e a

sociedade podem auxiliar positivamente nesses processos do envelhecimento.

De acordo com Birren e Schroots (apud FECHINE; TROMPIERI, 2013), o

envelhecimento pode ser dividido em três partes: envelhecimento primário,

envelhecimento secundário; e envelhecimento terciário.

O envelhecimento primário é conhecido como o envelhecimento normal, onde

se encontra dentro da normalidade da espécie, ou seja, acontece naturalmente,

obtendo influências dos aspectos relacionados à vida (BIRREN; SCHROOTS apud

FECHINE; TROMPIERI, 2012).

3

Page 4: CANAIS DE MARKETING · Web viewDiante dessa pesquisa foi possível perceber a necessidade das relações interpessoais para os idosos institucionalizados, visto que tais relações

Já no envelhecimento secundário ou patológico, evidencia-se algum tipo de

enfermidade, seja cerebral, cardiovasculares, entre outras, o indivíduo deixa de ter

um envelhecimento natural, onde é conduzido pelos sintomas e implicações da

doença (BIRREN; SCHROOTS apud FECHINE; TROMPIERI, 2012).

Por fim, o envelhecimento terciário ou terminal, é quando o individuo perde

suas funções cognitivas e físicas, através do envelhecimento considerado normal ou

anormal. (BIRREN; SCHROOTS apud FECHINE; TROMPIERI, 2012).

2 COMPREENDENDO O ENVELHECIMENTOO significado e a valia da velhice são observados em diversas épocas e

modificam-se ao longo da História humana, variando concepções oriundas das mais

diversas sociedades, cujos sentimentos estão ligeiramente associados. Em termos

orgânicos, a velhice representa declínios os quais, desencadeia certo temor nos

homens (BEAUVOIR, 1970)

De acordo com Neri (1995), o ser humano transcorre a maior parte do tempo

de sua vida na fase adulta. Durante sua história, o homem sempre buscou respostas

e significados para os mais variados fenômenos, incluindo a velhice que, ao longo

do tempo, teve sua concepção alterada, passando por definições ingênuas e sem

embasamento até alcançar as de cunho científico, a qual tem evoluído considerando

os fatores sociais e culturais envolvidos neste processo.

Segundo Beauvoir (1970), a concepção da velhice é modificada de acordo

com a época e as circunstâncias, podendo haver oscilações nos aspectos positivos

e negativos de tal fenômeno. Retrata também, cada indivíduo encara esta etapa da

vida de modo particular. Para os gregos, a concepção de honra conectou-se com a

dos longevos, atribuindo algumas prerrogativas como ancianidade e deputação.

Dentre as personalidades gregas, Homero, a propósito da velhice, relaciona o

fenômeno com a sabedoria, representada por Nestor, cujo tempo proporcionou-lhe a

experiência, a arte das palavras e autoridade. Enquanto a Grécia viveu num regime

feudal, pode-se compreender que os longevos eram considerados como merecedor

de honras e digno de respeito (BEAUVOIR, 1970).

A autora expõe a singularidade da velhice para o povo chinês, destacando

que nenhuma outra cultura tratou tal fenômeno de modo tão particular em relação a

questões hierárquicas e autoritárias. Salienta a força que a idade representava para

este povo, tal como sua autoridade em todos os sentidos. O homem tinha elevado

4

Page 5: CANAIS DE MARKETING · Web viewDiante dessa pesquisa foi possível perceber a necessidade das relações interpessoais para os idosos institucionalizados, visto que tais relações

destaque social quando comparado a mulher, no entanto, com a idade avançada

esta última tinha papel importante na educação dos netos.

Embora muitos jovens não fossem coniventes com as condutas da pessoa

idosa, suas prerrogativas não eram contestadas, uma vez que o valor era medido

por experiências em detrimento da força física. Além disso, quando o homem

atingia os 70 anos de idade, se submetia a um afastamento de suas funções oficiais

com o intuito de se preparar para a morte. Com isso, apesar da autoridade continuar

sob o domínio do idoso, os jovens (filhos) passavam a dar continuidade nos

negócios e no comendo da casa (BEAUVOIR, 1970).

De acordo com Beauvoir (1970), o povo judeu interpreta a velhice com base

em preceitos bíblicos, cuja longevidade é um elemento preponderante. A autora

salienta a dificuldade em distinguir os relatos de caráter mitológico daqueles que

retrata a realidade do povo. De modo geral, com base nos relatos bíblicos, os idosos

são vistos como detentores da sabedoria que devem ser obedecidos e respeitados

pelos mais jovens.

De acordo com Gonçalves (2007), a Gerontologia sendo “gero” oriundo do

grego, significando (velho) estuda o processo de envelhecimento humano e suas

implicações, atingindo questões genéticas, psicológicas e, finalmente, sociais. Tal

campo científico está em ascensão, visto ao crescente número de idosos em todo o

mundo. Destaca também, o expressivo crescimento desta população quando

comparado a outros grupos etários. Segundo Beauvoir (1970), dentre as várias

vicissitudes que a velhice acarreta há mudanças no semblante, na cor do cabelo,

queda dos dentes, declínio da força muscular, o aumento da pressão e os órgãos

dos sentidos são afetados.

Conforme defendido por Coni, Davison e Webster (1996), o envelhecimento

pode ser analisado sob um ponto de vista favorável. Os autores ressaltam, com

base em dados históricos, a taxa de longevidade, que em países desenvolvidos e os

que estão em desenvolvimento, é muito superior aos tempos passados, onde

catástrofes como Peste Negra e a segunda Guerra Mundial, elevaram,

precocemente, a taxa de mortalidade, isto é, devido tais circunstâncias, as pessoas

morriam cedo demais, antes mesmo de atingir a velhice.

Nas palavras de Beauvoir (1970) existem características biológicas e

psicológicas na velhice, evidenciando que há singularidades neste período,

ocasionando, portanto, comportamentos típicos da velhice. Entretanto, Barbosa

5

Page 6: CANAIS DE MARKETING · Web viewDiante dessa pesquisa foi possível perceber a necessidade das relações interpessoais para os idosos institucionalizados, visto que tais relações

(2007) expõe que a demarcação cronológica entre criança, adolescente, adulto e

idoso não vem sendo utilizada por profissionais da saúde. A autora relata haver

consonância em considerar as limitações de modo singular, pois questões como

hereditariedade, alimentação, ambiente, clima, atividades, culturas, classe social e

nível econômico têm grande importância no processo da vida.

Segundo Paiva, Carvalho e Luna (2007), o envelhecimento é uma condição

do ser humano, todavia, o contexto em que este processo ocorre pode ser

determinante no que se refere à vida na velhice. Os autores ressaltam que a idade é

apenas um fator quantitativo referente aos anos de vida de cara ser humano,

contudo, fatores biopsicossociais e culturais atravessam todas as fases da vida, até

a velhice, sendo, portanto, de grande importância ao considerar o processo da vida

e seus desdobramentos.

A idade biológica está relacionada ao processo de degradação dos órgãos,

atenuando a funcionalidade e a capacidade de auto-regulação, tornando-se menos

eficaz. A sociológica considera o contexto em que o indivíduo está inserido, seu

papel e costumes, bem como a relação com outros membros da sociedade. A

psicológica, por sua vez, relaciona as habilidades comportamentais do sujeito à

mudanças ambientais; abrange inteligência, memória e motivação (apud CANCELA,

2007).

De encontro com o fator psicológico, Beauvoir (1970) pontua que a questão

da adaptação se torna um obstáculo para o idoso. Embora haja facilidade em

manejar conteúdos já adquiridos, evidencia-se certa dificuldade em termos

adaptativos; segundo a autora, as mudanças exigem grande esforço por parte do

idoso, facilitando uma tendência na manutenção de hábitos já adquiridos, haja vista

a falta de flexibilidade dos mesmos.

Em estudo realizado, Schneider e Irigaray (2008), revelam as variáveis do

processo de envelhecimento, considerando aspectos cronológicos, biológicos,

psicológicos e sociais. Para os autores, “O envelhecimento é um processo complexo

e multifatorial”, devido a questões de caráter genético e ambientais, fatores que

impossibilita o estabelecimento de um modelo padrão de tal processo. Ressaltam

que em termos cronológicos, biológicos, psicológicos e sociais, cada indivíduo

percorre o processo de envelhecimento de forma única, podendo não haver

consonância entre tais aspectos, haja vista a atuação singular de cada um desses

6

Page 7: CANAIS DE MARKETING · Web viewDiante dessa pesquisa foi possível perceber a necessidade das relações interpessoais para os idosos institucionalizados, visto que tais relações

elementos. Entretanto, salientam a preponderância dos mesmos na constituição do

envelhecimento.

Pontuar as características da idade avançada trouxe um desafio para os

pensadores deste tema, tendo em conta que cada pessoa vivencia esta etapa de

modo particular e sob diversas influências, tornando-se, portanto, um fenômeno

multifatorial. Para olharmos a velhice como bem-sucedida em termos de qualidade

de vida, é necessário nos atermos a alguns aspectos, sendo eles de caráter

biológico, psicológico e socioestrutural; vários fatores são considerados indicativos

de bem-estar na velhice como a longevidade, saúde mental; satisfação; controle

cognitivo; status social, entre outros. Sabe-se que tais fatores fazem parte do

processo de envelhecimento, porém não é possível precisar a atuação de cada

elemento; entretanto, tais variáveis estão relacionadas e podem influir no

desenvolvimento de uma velhice saudável (NERI, 2000).

3 INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA (ILP)De acordo com Araújo et al. (2010) a humanidade está passando por um

processo de transformação na estrutura e perfil de sua população, onde até 2050

haverá um contingente de 2 bilhões de pessoas acima dos 60 anos, população esta

que se concentrará principalmente nos países mais desenvolvidos. Tal modificação

se dá devido aos avanços científicos que proporcionam melhor qualidade de vida à

humanidade.

Entretanto, as cobranças da vida moderna, principalmente relacionadas ao

mercado de trabalho acabam exigindo muito dos familiares das pessoas idosas,

dificultando que seja dada a devida atenção e cuidados específicos à esse

contingente. Sendo assim, surge cada vez mais a necessidade das internações nas

ILPs (Instituições de Longa Permanência). (MEDEIROS e OLIVEIRA apud ARAÚJO

et al., 2010).

Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (2003), as

instituições para idosos não são recentes, tendo surgido por incentivo do

cristianismo. O asilo é reconhecido como casa de assistência social que oferece

proteção e cuidados para com pessoas pobres e sem condições de se manterem

com o mínimo de dignidade. Relacionando-se assim a ideia de abrigo e guarita. Com

o passar do tempo outros termos surgiram para denominar locais de assistência a

7

Page 8: CANAIS DE MARKETING · Web viewDiante dessa pesquisa foi possível perceber a necessidade das relações interpessoais para os idosos institucionalizados, visto que tais relações

idosos como, por exemplo, abrigo, lar, casa de repouso, clínica geriátrica e

ancionato.

No Brasil, em 1890, foi criada a primeira instituição asilar do Rio de Janeiro, o

Asilo São Luiz para a Velhice Desemparada, onde seus moradores eram colocados

à margem do contexto familiar e social (GROISMAN apud ARAÚJO, 2010).

Como afirmam Goffman e Moreno apud Araújo et al (2010), o modelo asilar

brasileiro está obsoleto quanto à assistência prestada aos idosos, no que é

denominado de instituição total, ou seja, um local de residência e trabalho, onde um

grande número de indivíduos com situação semelhante, levam uma vida fechada e

formalmente administrada.

Camarano (apud ARAÚJO et al., 2010) diz que existem grandes

desigualdades quanto aos serviços prestados pelos asilos em diferentes regiões do

Brasil, sendo as do Sul e Sudeste do país àquelas que oferecem os melhores

serviços aos seus idosos com maior poder aquisitivo.

Diante disso, foi criada a Portaria nº 810/1989 que define as normas e

padrões de funcionamento de casas de repouso, clínicas geriátricas e outras

instituições para idosos. Ela define como deve ser a organização da instituição, a

área física, as instalações e os recursos humanos.

Araújo et al (2010) conclui dizendo que o número de asilos no Brasil vem

crescendo de maneira assombrosa, e por isso é importante a sociedade buscar

conhecimento a respeito desse segmento de institucionalização. Sendo adotada

apenas em última instância, quando todas as demais possibilidades do idoso

continuar no seio familiar sejam descartadas. Passando o asilamento a ser uma

opção que proporcione dignidade e qualidade de vida, a instituição tem que romper

com sua imagem histórica de segregação e se tornar uma saída na vida dos idosos.

De acordo com o Estatuto do Idoso artigo 2° “O idoso goza de todos os

direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral

de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as

oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu

aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e

dignidade.’’

A respeito das ILPIs, Camarano e Kanso (2010) destacam que, no Brasil

propriamente dito, as acepções são variadas e longe de um consenso. Sua gênese

está, originalmente, ligada aos asilos que favorecia abrigo a população carente. Tal

8

Page 9: CANAIS DE MARKETING · Web viewDiante dessa pesquisa foi possível perceber a necessidade das relações interpessoais para os idosos institucionalizados, visto que tais relações

instituição era fruto da caridade cristã devido à falta de políticas públicas para essa

população específica. De acordo com as autoras, conforme o envelhecimento e taxa

de longevidade ocorre, nota-se que os idosos estão vivendo mais, no entanto as

afecções provocam decréscimos de aptidões físicas e cognitivas, implicando em

mudanças de paradigmas dentro das instituições, tendo em vista o acréscimo de

necessidades, especialmente de assistência à saúde.

Em suma, entende-se por IPLIs instituições que oferece abrigo aos idosos

independentes que possuem dificuldades financeiras ou familiares, bem como

àqueles que passam por adversidades físicas comprometedoras que demande

cuidados frequentes (CAMARANO; KANSO, 2010).

4 IMPLICAÇÕES DO PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DO IDOSOEm primeiro lugar, deve-se lembrar que a institucionalização em ambiente

asilar deve ocorrer como última possibilidade para abrigar uma pessoa idosa,

devendo sempre priorizar sua permanência no meio familiar. Pode-se afirmar que a

família tem o dever de cuidar e amparar seus parentes idosos. Infelizmente, isso não

ocorre com frequência (DALVI; RAMOS, 2012).

Dalvi e Ramos (2012) dizem que mesmo idosos que moram com familiares

acabam sentindo-se sozinhos e abandonados, pois passam longos períodos

desacompanhados em casa, enquanto os demais membros da família estão

trabalhando, ocasionando assim sentimentos de desvalia.

É importante lembrar que uma realocação súbita desta pessoa idosa, pode

levar, não somente à desorientação, angústia e medo, mas também pode ocasionar

a morte. Isso tudo está estritamente relacionado ao grau de doença desse idoso

realocado e do domínio que o mesmo tem sobre o ambiente e sua capacidade

adaptativa. Essa transição deve ocorrer de forma adequada, para que esta situação

não venha a se tornar traumática (NAHEMOW; POUSADA, 1987).

Segundo Dalvi e Ramos (2012) após o asilamento, os idosos acabam

desenvolvendo certa apatia, além de um grau de passividade e falta de motivação

para realizar qualquer tipo de atividade.

Duarte (2014) afirma que os idosos sentem uma perda em sua autonomia, ou

seja, do controle de suas atividades diárias, e de seu poder de decisão. A realidade

institucional é muitas vezes, vista como ambiente imutável, gerando assim

sentimentos de solidão e abandono. Além disso, este espaço tende a ser

9

Page 10: CANAIS DE MARKETING · Web viewDiante dessa pesquisa foi possível perceber a necessidade das relações interpessoais para os idosos institucionalizados, visto que tais relações

compreendido como desconfortável quanto à convivência com outros idosos e as

atividades não favoreça o convívio social.

5 METODOLOGIAO estudo teve como pergunta problema o seguinte questionamento: “A

ausência de relações interpessoais no contexto institucional pode resultar em idosos

solitários?”. Tal questionamento surgiu através da observação in loco em estágio

voluntário realizado no Asilo da cidade de Lins-SP. Notou-se a escassez de visitas

na instituição asilar e o quanto os idosos eram carentes; sendo assim, surgiu o

interesse em compreender os sentimentos acerca desta temática, realizando-se a

pesquisa em uma clínica geriátrica particular.

Diante do contexto citado, nosso objetivo foi compreender o processo de

envelhecimento em idosos institucionalizados, bem como aspectos psicológicos

implicados nessa vivência, a fim de verificar a hipótese de que a falta das relações

sociais pode afetar esses idosos, podendo desencadear a depressão e sentimentos

de solidão.

Empregou-se como instrumento de coleta de dados uma entrevista

estruturada com os residentes da Clínica Geriátrica Villa Vida no município de Lins-

SP. Tal questionário foi elaborado com a finalidade de coletar dados elementares e

específicos da pesquisa em questão e, além da entrevista, foi realizada observação

e escuta qualificada.

O roteiro de questões utilizado, contendo dez perguntas, teve inicialmente a

coleta de informações referentes aos dados de identificação do participante como

data de nascimento, estado civil, cidade de origem, abrindo em seguida para o

número de filhos, tempo de instituição e uso medicamentoso e, posteriormente,

questões relacionadas ao processo de institucionalização, a importância das visitas

e das relações interpessoais, e por fim, questões acerca do enfrentamento do

envelhecimento.

As perguntas foram feitas por intermédio dos pesquisadores, visando

apresentar de forma clara o conteúdo das questões. Todos os participantes

responderam de modo coerente as indagações.

Os critérios utilizados para selecionar os idosos foram: lucidez e funções

cognitivas preservadas, sendo que o viés qualitativo foi pertinente, haja vista a

10

Page 11: CANAIS DE MARKETING · Web viewDiante dessa pesquisa foi possível perceber a necessidade das relações interpessoais para os idosos institucionalizados, visto que tais relações

estrutura proposta pelos pesquisadores, onde questões subjetivas permeavam as

indagações.

A seleção dos participantes ocorreu de maneira a priorizar os idosos com

suas funções cognitivas preservadas, de ambos os sexos, com idade entre sessenta

e noventa e seis anos, residentes da Clínica Geriátrica Villa Vida localizada na

cidade de Lins-SP. Para isso, obteve-se a ajuda de uma Enfermeira responsável

pelos cuidados dos idosos, para que fossem selecionados idosos com tais

características.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diante dessa pesquisa foi possível perceber a necessidade das relações

interpessoais para os idosos institucionalizados, visto que tais relações possibilitam

melhor qualidade de vida e desenvolvimento pessoal para este público.

A ausência das relações interpessoais gera sentimentos de tristeza e solidão,

principalmente tratando-se do âmbito familiar, visto que embora os idosos estejam

recebendo todo o cuidado na instituição, ainda assim se faz necessário o afeto

familiar. Eles esperam por visitas, querem saber sobre os netos, sobre as conquistas

dos filhos, e tudo isso gera gratidão e consequentemente qualidade de vida,

facilitando o processo de envelhecimento, que carrega consigo muitas frustrações e

declínios de caráter físico e mental.

Percebeu-se que os cuidadores acabam suprindo algumas necessidades

afetivas. Muitos idosos relataram seu apreço pelos profissionais, alguns até

consideram como pais; tal relação é favorável no quesito da institucionalização, pois,

atenua de modo significativo o sentimento de abandono.

Percebeu-se também, que as implicações do envelhecimento desencadeiam

uma série de alterações na vida desses idosos. Nos relatos observados, poucos são

os que têm uma concepção favorável em relação ao envelhecimento, a ênfase maior

é dada aos declínios e faltas que se fazem presentes neste período da vida. Vale

ressaltar a importância que tais idosos atribuíram à família, visitas, bem como as

relações interpessoais de modo geral.

11

Page 12: CANAIS DE MARKETING · Web viewDiante dessa pesquisa foi possível perceber a necessidade das relações interpessoais para os idosos institucionalizados, visto que tais relações

REFERÊNCIAS

ARAÚJO, C. L. O.; SOUZA, L. A. e FARO, A. C. M. Trajetória das instituições de longa permanência para idosos no Brasil. História da enfermagem. São Paulo, v. 01, n. 02, p. 250-262, 2010. Disponível em: <http://pesquisa.bvsalud.org/enfermagem/resource/pt/bde-25611>. Acesso em: 01 de outubro de 2017.

BEAUVOIR, S. A velhice. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1970.

BEE, H. A criança em desenvolvimento. São Paulo: Editora Harper & How do Brasil, 1977.

BEE, H. O ciclo vital. Porto Alegre: Artmed, 1997.

BIRREN, J. E.; SCHROOTS, J. J. F. History, concepts and theory in the psychology of aging. In J. E. Birren; K. W. Schaie (Eds.), Handook of the psychology of aging. 4ª Edition. San Diego: Academic Press, p. 3-23, 1996.

CAMARANO, A. A; KANSO, S. As instituições de longa permanência para idosos no Brasil. São Paulo, SP: Revista brasileira de estudos de população, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 04 jul 2017.

CANCELA, D. M. G. O processo de envelhecimento. Porto: O portal dos psicólogos, 2007. Disponível em: http://www.psicologia.pt Acesso em: 4 mai. 2017.CONI, N.; DAVISON, W.; WEBSTER, S. O envelhecimento, São Paulo, SP: Experimento, 1996.

DALVI, M. G.; RAMOS, M. H. R. Idoso em instituição de longa permanência no município de Vitória/ES: Relações familiares e institucionalização. A terceira idade: Estudos sobre envelhecimento. São Paulo, v. 23, n. 54, p. 47-61, 2012. Disponível em: <https://www.sescsp.org.br/online/artigo/6554_IDOSO+EM+INSTITUICOES+DE+LONGA+PERMANENCIA+NO+MUNICIPIO+DE+VITORIAES+RELACOES+FAMILIARES+E+INSTITUCIONALIZACAO>. Acesso em 07 de novembro de 2017.

DUARTE, L. M. N. O processo de institucionalização do idoso e as territorialidades: Espaço como lugar? Estudos interdisciplinares sobre o envelhecimento. Porto Alegre, v. 19, n. 01, p. 201-217, 2014. Disponível em: < http://www.seer.ufrgs.br/index.php/RevEnvelhecer/article/view/33754/31010> Acesso em: 08 de julho de 2017.

GOFFMAN, E. Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Perspectiva; 2003. p. 11-157.

GONÇALVES, L. H. T. O campo da gerontologia e seus desafios. Florianópolis, SC: Revista saúde.com, 2007. Disponível em: <http://www.uesb.br>. Acesso em: 8 mai.

12

Page 13: CANAIS DE MARKETING · Web viewDiante dessa pesquisa foi possível perceber a necessidade das relações interpessoais para os idosos institucionalizados, visto que tais relações

2017.

GROISMAN, D. Asilos de velhos: passado e presente. Estudos interdisciplinares sobre o envelhecimento 1999; 2: 67-87.

MEDEIROS, S. A. R. O lugar do velho no contexto familiar. In: Py L, et al, organizadores. Tempo de envelhecer: percursos e dimensões psicossociais. Rio de Janeiro: Nau; 2004. p. 185-200.

MYERS, D. G. Psicologia, Rio de Janeiro: LTC Editora, Ed. 07, 2006.

NAHEMOW, L; POUSADA, L. Diagnóstico geriátrico: Um enfoque baseado no estudo de casos. São Paulo: Andrei Editora, 1987.

NEUGARTEN, 1974. In: BEE, H. O ciclo vital. Porto Alegre: Artmed, 1997.

NERI, A. L. (Org.). Qualidade de vida e idade madura. 3. ed. Campinas: Papirus Editora, 2000.

NERI, A. L. Psicologia do envelhecimento. São Paulo, SP: Papirus, 1995.

PAIVA, S. O. C.; CARVALHO, E. M. F.; LUNA, C. F. A velhice não contemplada: invisibilidade das demandas sociais da pessoa idosa em Fernando de Noronha – Nordeste do Brasil. In: Revista Kairós Gerontologia. (p. 91-107). São Paulo, SP. 2007

PAPALIA, D. E. ; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.

PAPALIA, D. E.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Humano, Porto Alegre:

Artmed, 2013.

SCHNEIDER, R. H; IRIGARY, T. Q. O envelhecimento na atualidade: aspectos cronológicos, biológicos, psicológicos e sociais. Campinas, SP: Estudos de Psicologia, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br>. Acesso em: 12 ago. 2017.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERIATRIA E GERONTOLOGIA - Seção São Paulo – Instituição de Longa Permanência para Idosos: manual de funcionamento. São Paulo, Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia - Seção São Paulo, 2003:39 p.

TEIXEIRA, I, N. O; NERI, A. L. Envelhecimento bem sucedido: uma meta no curso da vida (Psicol. USP vol.19 no.1 São Paulo Jan/Mar. 2008) Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-65642008000100010> Acesso em: 14 Set. 2017.

13