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CAMPANHAS ELEITORAIS NA INTERNET: O SURGIMENTO DO MAV-PT/SP
Alvaro Lorencetti Brolo1
RESUMO: O presente artigo tem por objetivo descrever o surgimento do Núcleo de Militantes em Ambientes Virtuais do Partido dos Trabalhadores de São Paulo (MAV-PT/SP). Para tanto, buscou-se fazer um revisão bibliográfica sobre a literatura especifica da Ciência Política que tange as campanhas eleitorais. Posteriormente, é feito um resgate sobre a criação da internet e o avanço das campanhas eleitorais para este espaço. Através do conceito de “americanização”, considera-se que a campanha online de Barack Obama em 2008 serviu como inspiração para a campanha presidencial brasileira. Por fim, procurou-se remontar a criação e institucionalização do MAV-PT/SP, núcleo de base que busca organizar e qualificar a militância virtual do Partido dos Trabalhadores. PALAVRAS-CHAVE : Campanhas eleitorais; internet; MAV-PT/SP INTRODUÇÃO
As campanhas e estratégias eleitorais sempre constituíram um objeto de
estudo relevante na área da Ciência Política². Estes trabalhos se intensificaram com o
advento da Internet e das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC’s),
sobretudo, no que tangea utilização destas ferramentas na arena eleitoral. Entretanto,
a grande maioria dos trabalhos dedicados ao estudo das campanhas eleitorais na
internetlimita-se a análise apenas das estratégias de partidos e candidatos na rede,
relegando para segundo plano a atuação de ativistas e militantes em defesa de um
projeto político.
A proposta deste artigo é, além de fazer revisão bibliográfica sobre as
campanhas eleitorais e o advento da internet,descrever o surgimento Núcleo de
Militantes em Ambientes Virtuais do Partido dos Trabalhadores de São Paulo (MAV-
PT/SP), grupo criado a partir da organização voluntária de militantes e simpatizantes
do PT após a campanha presidencial de Dilma Rousseff.Posteriormente o núcleo foi
1Universidade Federal de São Carlos, [email protected], mestrando em Ciência Política PPGPol/UFSCar. ² Ver Mancini &Swanson (1996); Gomes (2009); Lavareda (2009); Aggio (2011); Iasulaitis (2012).
institucionalizado pelo partido, com o intuito de qualificar a militância para atuar na
internet e defender as propostas e programas do partido na internet.
O nosso intuito foi inverter o foco tradicional de análise, colocando em
evidência a atuação da militância partidária nainternet, principalmente nas redes
sociais, em defesa de um projeto político ou candidatura específica. O enfoque do
artigobusca dar protagonismo às atividades da militância online nas redes sociais e na
sua forma de atuação em relação às diversas agendas, que muitas em muitos casos,
passam ao largo das manifestações oficiais dos partidos e das mídias tradicionais.
O presente artigo foi divido em duas partes. Em um primeiro momento
enveredamos em uma discussão bibliográfica acerca da literatura sobre campanhas
eleitorais (IASULAITIS, 2012) e o surgimento da internet (CASTELLS, 1999)
retratando posteriormente, de maneira breve, o processo de “americanização”
presente em (MANCINI & SWANSON, 1996). A partir deste processo, salientamos a
campanha eleitoral na internet de Barack Obama como provável influência na
utilização das plataformas de redes sociais na campanha presidencial brasileira de
2010.
Em um segundo momento, elaborarmos uma descrição do objeto deste estudo,
a saber, o Núcleo de Militantes em Ambientes Virtuais do Partido dos Trabalhadores
do Estado de São Paulo. Uma organização espontânea de militantes que surgiu a
partir da campanha última campanha presidencial e foi institucionalizada pelo partido
para compor um de seus núcleos de base. Antenados com a crescente utilização das
plataformas de redes sociais nas campanhas politicas, o Partido dos Trabalhadores
buscou organizar sua militância atuante na internet para defender e divulgar o projeto
político do partido.
1. AS CAMPANHAS ELEITORAIS E SUAS ETAPAS
Para facilitar a compreensão e iniciar o debate sobre as campanhas eleitorais e
a utilização das redes sociais em sua composição, faz-se necessário, uma breve
incursão na literatura da ciência política sobre o tema.
Reconhecendo a dificuldade de se estudar as campanhas eleitorais, dadas as
particularidades de cada contexto e a velocidade de mudanças implícitas nessas
práticas, (MANCINI & SWANSON, 1996) atestam que as campanhas eleitorais
configuram os períodos críticos na vida das democracias, uma vez que elas se
constituem enquanto um meio através do qual são selecionados governos, dirigentes,
ideologias e se configuram como um lócus privilegiado para o debate de propostas no
campo político:
“Simbolicamente, as campanhas legitimam governos democráticos e líderes políticos, unindo eleitores e candidatos em um display de obrigações cívicas e um ritual de renovação nacional. Os valores, a história em comum e as aspirações celebradas nas campanhas eleitorais são talvez a mais clara expressão de uma democracia, continuamente envolvendo os mitos coletivos e a percepção do seu caráter essencial. Os resultados e o significado simbólico das campanhas são importantes para a saúde da democracia, se os resultados práticos parecem contradizer os compromissos, ou se os compromissos soam vazios, o resultado mais comum é o cinismo geral e a insatisfação com o governo.” (MANCINI & SWANSON, 1996).
Observadas algumas características das campanhas eleitorais e suas
implicações para a democracia, para efeito de análise, podemos classificar em três
etapas os modos como eram realizadas as campanhas eleitorais.
1.1 A PRIMEIRA ETAPA DAS CAMPANHAS ELEITORAIS
Em um primeiro momento, as campanhas eram caracterizadas por um
engajamento relevante de militantes partidários e, sobretudo, por um contato direto
entre candidato e eleitor, ou seja, “face a face”(IASULAITIS,2012). Nesse estágio, os
partidos eram mais estruturados, com eleitorado bem definido e com plataformas
políticas direcionadas ao seu público-alvo.
De acordo com (HABERMAS, 2003), a partir do século XVIII começaram a
surgir espaços públicos que favoreciam o debate político entre os cidadãos longe dos
canais institucionais tradicionais, o que fortalecia o engajamento cívico nas questões
políticas. Ademais, as praças públicas não apenas se constituíam de mais um lócus
privilegiado de debate e discussão entre os cidadãos, mas também da apresentação
dos candidatos e seus discursos políticos(AZEVEDO, 1998).
Dessa forma, podemos perceber que durante o primeiro estágio de campanhas
eleitorais havia um contato muito próximo entre os eleitores e candidatos, os
quaisutilizavam principalmente da oralidade, com discursos em locais públicos e de
pequenos panfletos, para apresentarem suas propostas e angariarem votos. Nessa
forma de campanha política, percebemos uma relação dialógica, na qual o político ao
passar sua mensagem instantaneamente podia ser interpelado pelo eleitor, que além
de reforçar o laço de proximidade, sujeitava o político a situações desconhecidas.
Essa primeira fase de campanha eleitoral declina a partir do início do século
XX, a forma de se fazer campanha altera-se pelo advento das mídias de massa,
principalmente a televisão (IASULAITIS, 2012). Nesse sentido, podemos afirmar que
há um distanciamento significativo na relação entre eleitor e candidato, uma vez que
foram substituídos “os canais diretos e pessoais de outrora por outros impessoais e
não dialógicos” (IASULAITIS, 2012), dito de outra forma, as campanhas passaram a
atingir um número muito maior de cidadãos através do rádio e da TV, entretanto a
mensagem seguia por uma mão única, apenas do candidato para eleitor, em que esse
último já recebia uma mensagem acabada, perdendo os mecanismos de interação e
interpelação.
1.2 A SEGUNDA ETAPA DAS CAMPANHAS ELEITORAIS
Se não bastassem as características já apontadas, as mídias de massa e seu
intenso processo de modificação que afetam as campanhas eleitorais passaram a se
constituir enquanto um centro de poder autônomo nas poliarquias
modernas(SWANSON &MANCINI, 1996).
“o papel da mídia tem... mudado rapidamente de ser um mero canal de comunicação para ter um papel principal no processo de campanha, sendo que ela seleciona pessoas e temas a serem cobertos e ela modela a imagem dos líderes”(SWANSON & MANCINI, 1996).
Este segundo momento de campanhas eleitorais se desenvolveu sobre um
contexto das “sociedades espetacularizadas”, ou seja, sobre a égide da televisão,
onde os indivíduos pouco ou nada abstraem da informação recebida, o visível se
sobrepõe ao inteligível e o convencimento que antes era racional-argumentativo
transforma-se em emotivo-sedutor (RIBEIRO,2004).
“Com o processo de modernização avançando, a principal forma de o cidadão participar nas campanhas eleitorais muda do envolvimento pessoal direto para a posição de espectador,
com as campanhas sendo conduzidas basicamente por meio da mídia de massa e os cidadãos participando nelas como membros da audiência da mídia”. (SWANSON & MANCINI, 1996)
Os métodos de campanha ao redor do mundo têm se espelhado cada vez mais
aos utilizados nos Estados Unidos, surgindo o termo “americanização” das campanhas
eleitorais. Sendo a maior potência mundial e com seu poder de influência hegemônica,
as eleições americanas são acompanhadas de perto por grande número de
observadores que se espelham nas práticas de campanha adotadas no país, e
consequentemente acabam exportando seus métodos de fazer campanha, que tem
como principais características: “profissionalização das campanhas; a utilização
sistemática das pesquisas de opinião pública; o uso da mídia de massa como principal
meio de comunicação entre candidato/eleitor e, finalmente, a personalização da
campanha com a hipervalorização da imagem do candidato em detrimento do partido,
programa partidário ou posicionamento ideológico” (SWANSON & MANCINI, 1996;
AZEVEDO, 1998)
Nas campanhas “americanizadas”, a televisão é o veículo de comunicação por
meio do qual os eleitores encontram os candidatos, ou seja, é o aparelho televisivo
que passa a estabelecer uma conexão entre o representante e o representado
(SWANSON & MANCINI, 1996), o que como vimos acima, mudou substancialmente o
caráter das campanhas eleitorais, principalmente com os programas eleitorais
televisivos se tornando o centro referencial das campanhas (RIBEIRO, 2004).
Ademais, segundo (AZEVEDO, 1998), “a hegemonia da TV com sua poderosa
linguagem ao lado de recursos como velocidade, instantaneidade, visibilidade,
simultaneidade e espetacularização modifica e reconfigura a esfera pública”. Como
pudemos perceber essa segunda etapa é marcada principalmente pela influência
televisiva, o que acabou por fazer com que toda campanha se estruturasse ao redor
dessa arena midiática central (RIBEIRO, 2004)
1.3 A TERCEIRA ETAPA DAS CAMPANHAS ELEITORAIS
Por fim, chegamos ao terceiro modelo de campanhas eleitorais nas
democracias contemporâneas, ressaltando que, essa forma de caracterização não
segue uma lógica cronológica, com início e fim definidos, apenas é um mecanismo
analítico que nos auxilia na compreensão das mudanças referentes às técnicas e
formatos de conduzir as campanhas eleitorais.
A terceira etapa de campanhas eleitorais tem seu início com o advento das
NTIC’s (Novas Tecnologias de Informação e Comunicação), que se acentuou no início
da década de 1990. O papel central das mídias de massa em conectar os cidadãos
não foi substituído, apenas complementado pelas novas tecnologias(IASULAITIS,
2012). No roll dessas novas tecnologias destaca-se a Internet, que ao decorrer dos
pleitos eleitorais, tem ganhando cada vez mais espaço e eficácia na condução das
campanhas eleitorais, juntamente com as redes sociais.
1.4 O SURGIMENTO E O DESELVOLVIMENTO DA INTERNET
A criação e o desenvolvimento da internet foi a resultante de uma combinação
de quatro fatores, a saber: “estratégia militar, grande cooperação científica, iniciativa
tecnológica e inovação contra-cultural”. (CASTELLS, 1999)
Os primeiros passos da internet foram dados na década de 1960, pela Agência
de Projeto de Pesquisa Avançada do Departamento de Defesa dos Estados Unidos
(ARPA) no contexto da Guerra Fria, com o intuito de manter intacto o sistema de
comunicação norte-americano no caso de uma guerra nuclear contra os soviéticos. A
resultante desse esforço foi a construção de uma rede interconectada de diversas
maneiras por milhões de computadores sem um órgão de comando central,
ultrapassando as barreiras eletrônicas (CASTELLS,1999).
Sendo assim:
“Com base na tecnologia de comunicação de troca de pacotes, o sistema tornava a rede independente de centros de comando e controle, para que a mensagem procurassesuas próprias rotas ao longo da rede, sendo remontada para voltar a ter sentido coerente em qualquer ponto da rede” (CASTELLS, 1999)
Com o avanço da tecnologia digital, outros tipos de mensagens, como sons,
imagens e dados, também começaram a serem compartilhados, dando origem a uma
rede sem centros de controles, que ainda assim permitiam a comunicação entre seus
nós. Desta forma, “a universalidade da linguagem digital e a pura lógica das redes do
sistema de comunicação geraram as condições tecnológicas para a comunicação
global horizontal” (CASTELLS, 1999)
Até chegar a forma como conhecemos atualmente, a internet passou por
algumas etapas, principalmente influenciada por cientistas e universitários. Entretanto,
uma das características mais importantes da rede foi a de que a partir da década de
1990 ela passa a ser autônoma, isto é, sem nenhuma autoridade reguladora,
revelando o caráter anarquista deste novo meio de comunicação. (CASTELLS, 1999).
Mesmo com todas essas características inovadoras e revolucionárias, ainda
em meados dos anos 1990, a internet era um instrumento de difícil manuseio. Foi
então que, em mais um salto tecnológico, com a criação do aplicativo world wide web,
- o popular WWW -, o teor dos sítios passou a ser organizado por informação,
facilitando a navegação e a popularização do acesso à rede.
“A world wide web – WWW (Rede de Alcance Mundial) é uma rede flexível formada por redes dentro da Internet onde instituições, empresas, associações e pessoas físicas criam os próprios sites, que servem de base para todos os indivíduos com acesso poderem produzir sua homepage, feita de colagens variáveis de textos e imagens” (CASTELLS, 1999)
Desta forma, a criação dessa rede horizontal foi apropriada por milhares de
indivíduos ao redor do mundo com objetivos e utilidades bem diferentes das
concebidas no início da década de 1960. (CASTELLS,1999)
Constituída dessa maneira, “a internet é a espinha dorsal da comunicação
global mediada por computadores (CMC): é a rede que liga a maior parte das redes” e
já se constitui enquanto “meio de comunicação interativo universal via computador da
Era da Informação” (CASTELLS, 1999)
“A internet tem tido um índice de penetração mais veloz do qualquer outro meio de comunicação na história: nos Estados Unidos, o rádio levou trinta anos para chegar a sessenta milhões de pessoas; a TV alcançou esse nível de difusão em 15 anos; a Internet fez isso em apenas três anos após a criação da teia mundial” (CASTELLS, 1999).
O crescimento do número de usuários vem acompanhado da utilização da
internet como principal ferramenta para comunicação, porém, não apenas informações
são trocadas, “a comunicação mediada por computador corresponde a uma forma
prática e muito utilizada para estabelecer laços sociais” (RECUERO, 2008) estando
também a disposição dos mais variados atores, em suas tentativas de divulgar ideias e
opiniões (BLANCHARD, 2003). Dito de outra forma, a comunicação mediada por
computador se configura enquanto um meio alternativo de estabelecer relações
sociais. Sendo assim, a CMC promove uma substancial alteração na sociabilidade,
incidindo “nas formas de organização, de identidade, conversação e mobilização”
(RECUERO, 2008).
Como vimos, a rápida popularização da internet vem promovendo mudanças
no estabelecimento de relações sociais, e não diferentemente atrai grandes
expectativas no que se refere também ao campo político. Nos últimos tempos muitas
considerações têm sido elaboradas a respeito dos avanços das novas tecnologias,
principalmente através da internet e das redes sociais, e de suas capacidades de
influenciar na alteração do campo político e na própria democracia.
Em (IASULAITIS, 2012), especialmente na década de 1990, duas linhas
teóricas extremas e antagônicas se constituíram na análise das NTIC’s e seus
impactos sobre a democracia. Em primeiro lugar, os ciberotimistas, que exaltavam as
características inovadoras da internet como sendo fulcrais para a revitalização da
democracia. Por outro lado, e em resposta ao primeiro tipo de abordagem,
encontramos os ciberpessimistas, que celebravam que as novas características
apresentadas pelo novo meio de comunicação que surgia, a saber, a internet, não
seriam capazes de resolver as fragilidades da democracia, e de certo modo, poderia
até agravar os déficits democráticos. Portanto, observamos uma tese e uma antítese
muito bem definidas, que foram complementadas por uma síntese, que corresponde a
uma terceira onda de análise sobre o impacto das “novas” mídias sobre a democracia.
Desta forma, este último tipo de abordagem relativiza os extremismos de
ambas as partes, não se caracterizando tão entusiasta quanto a primeira, nem tão
cética quanto a segunda. Ademais, a internet não apresenta características tão
marcantes que possam prejudicar a democracia, tampouco representaria uma
revolução na forma de compreendê-la. O que diferencia essa terceira abordagem, é
que ela não apenas analisa as características das NTIC’s isoladamente, mas também
as deslocam para o contexto social e cultural dos atores políticos (IASULAITIS, 2012).
Nos aprofundarmos nesta análise não faz parte de nossa empreitada, pois
incorreríamos no risco de nos distanciarmos significativamente do objetivo proposto
para este artigo. Porém, a título de esclarecimento, essa contextualização das linhas
de abordagem abre margem para acentuarmos a principal potencialidade da internet:
a interatividade.
1.5INTERNET, INTERATIVIDADE E O “FENÔMENO OBAMA”
A característica mais destacada da internet é o seu potencial interativo, que é
“compreendido como a essência da comunicação baseada na web” (IASULAITIS,
2008). Ao contrário das mídias de massa, na internet percebemos um potencial de
horizontalização (BRAMBILLA, 2011), ou seja, o poder de mediação dos grandes
meios de comunicação perde significativamente sua relevância e os usuários têm a
possibilidade de selecionar seu próprio enquadramento, além de deixar de ser mero
receptor e passar a ser também um emissor.
“A interatividade é uma particularidade da rede que possibilita ao indivíduo afetar e ser afetado por outros numa comunicação que se desenvolve em um sistema de mão-dupla” (IASULAITIS, 2008)
Tendo em vista que a interatividade é apontada como característica diferencial
da internet sobre as mídias de massa é, sobretudo, nas redes sociais que essa
característica se torna mais marcante. Para (RECUERO, 2008), as relações
estabelecidas em uma rede social são formadas por laços sociais, que por sua vez
são constituídos através da interação social entre os atores. Além de tudo, as redes
sociais permitem a manutenção dos laços sociais estabelecidos no espaço off-line.
As redes sociais que tem maior popularidade no Brasil são: Orkut, Twitter,
Facebook, Youtube, Flicker. Através dessas redes os “internautas” constroem relações
sociais a partir do ciberespaço, muitas vezes com pessoas que fazem parte do seu
circulo social no ambiente “real”, mas também podem construir relações com
indivíduos que compartilhem dos seus mesmos gostos, preferências e interesses.
Diante disso, estudar redes sociais é “estudar os padrões de conexões expressos no
ciberespaço, explorar uma metáfora estrutural para compreender elementos dinâmicos
e de composição dos grupos sociais”. (RECUERO, 2008)
Uma rede social se constitui a partir de dois elementos: os atores e suas
conexões (RECUERO,2008). Isso reforça nossa hipótese de que o cerne para a
compreensão de qualquer rede social tem como base a interação que esta
proporciona aos indivíduos que estão conectados. Nas principais redes sociais acima
citadas, observamos a oportunidade de construção de laços sociais, troca e
compartilhamento de informações e horizontalização da comunicação, na qual os
indivíduos têm a oportunidade de filtrar e divulgar as informações que mais interessa.
Essas peculiaridades das redes sociais têm sido cada vez mais exploradas durante as
campanhas eleitorais por candidatos e partidos na busca pelo voto. Em (IASULAITIS,
2008), “as principais características das campanhas na Internet apontadas pelos
pesquisadores foram a diminuição do custo de aquisição de informação, a
possibilidade de aumento do acesso do público aos políticos e, portanto, de sua
influência sobre eles, a livre expressão das visões dos cidadãos e, principalmente a
capacidade interativa da rede”.
Em novembro de 2008, observamos uma eleição muito emblemática no que se
refere ao uso da internet e as redes sociais: a campanha vitoriosa do candidato
democrata à presidência dos Estados Unidos, Barack Obama. A campanha bem
sucedida do Democrata no que tange a utilização das potencialidades da rede e à
utilização de novos formatos de campanha denominado web 2.0 ecoou por todos os
países.
A campanha eleitoral que culminou com a vitória de Barack Obama, foi
marcada, como vimos, pelo papel diferencial exercido pela internet. Ela assumiu
diversas funções, principalmente como fonte de informação e comunicação entre os
eleitores, candidatos e partidos. (IASULAITIS, 2012).
As principais características que demarcaram o que ficou conhecido como
“fenômeno Obama” foram o alto valor de doações financeiras arrecadados pela
internet e principalmente o índice de recrutamento e mobilização de militantes, por
listas de e-mail e bancos de dados através da internet. (BRAGA, 2010; IASULAITIS,
2012)
O atual presidente dos Estados Unidos conseguiu utilizar das ferramentas e
potencialidades da internet para estruturar vitoriosamente sua campanha a partir de
três eixos fundamentais: financiamento, organização e mobilização. Obama conseguiu
recrutar uma gama de apoiadores, em especial, jovens, por meio de uma estratégia
muito bem articulada e amparada pela web (BRAGA, 2010). A estratégia utilizada foi a
fragmentação da campanha, em que através de recursos de análise do perfil de
eleitores, o candidato personalizou o tipo de discurso para cada tipo de grupo de
eleitores (IASULAITIS, 2012)
A campanha de Barack Obama serviu como modelo para diversos países, e na
campanha eleitoral de 2010 no Brasil não foi diferente. Logicamente, vale lembrar que
as práticas observadas na campanha americana não se reproduziram identicamente
em nosso país, porém serviu como inspiração para que se começasse a pensar mais
intensamente no uso da internet e das redes sociais em nossas campanhas eleitorais:
“O Brasil adentrou na terceira fase das campanhas eleitorais, que passaram por mudanças de formatos com a adoção de novas tecnologias de comunicação, o que indica um incremento nas técnicas profissionalizadas. (...) A internet foi incorporada ao rol das estruturas de comunicação político-eleitorais no Brasil”. (IASULAITIS, 2008)
É importante verificar, porém, que a maioria das análises feitas sobre as
campanhas eleitorais no Brasil, tem levado em consideração principalmente a figura
personalizada dos candidatos, os websites da campanha ou dos partidos, e até
propriamente os perfis dos candidatos em suas páginas nas redes sociais.
Alguns acontecimentos que marcaram a campanha eleitoral de 2010, como o
famigerado episódio da “bolinha de papel”, em que supostamente o candidato do
PSDB, José Serra, teria sido atingido na cabeça por um objeto, que outrora descobriu
ser uma bola de papel, ganharam repercussão muito mais pelos comentários dos
militantes partidários em suas redes sociais, que explorados pelas campanhas oficiais.
Percebemos então, que a estratégia oficial de campanha dos candidatos, em
especial a digital, não responde pela campanha como um todo. Dessa forma, a nossa
proposta vem no sentido de alterar o foco de análise e passar a dar visibilidade a
atuação dos militantes políticos e simpatizantes dos candidatos na rede.
Acreditamos ser mais que essencial, para compreender as campanhas
eleitorais na internet, não só analisar as estratégias e as formas de atuação das
campanhas oficiais na busca pelo voto, mas também analisar as ações de militantes
engajados espontaneamente nessa nova arena de disputa eleitoral.
2. AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAS DE 2010 E O SURGIMENTO DO NÚCLEO DE
MILITANTES EM AMBIENTES VIRTUAIS DO PARTIDO DOS TRA BALHADORES
DE SÃO PAULO (MAV-PT/SP)
A campanha presidencial de Barack Obama, feita através das plataformas de
redes sociais em 2008, demonstrou-se extremamente eficiente, principalmente no que
tange a capitação de recursos financeiros para a campanha eleitoral, por meio de
doações, e também como uma forma inovadora de traçar o perfil do eleitorado norte-
americano, alicerçando determinadas ações de campanha, de acordo com as
informações obtidas na rede mundial de computadores (BRAGA, 2010; IASULAITIS,
2012). A experiência vitoriosa na utilização das redes sociais na campanha democrata,
durante as eleições americanas, trouxe novas perspectivas de aprimoramento no uso
das NTIC’s em campanhas eleitorais ao redor do mundo. A internet passara a
despertar, a partir de então, interesse como mais uma ferramenta a ser utilizada na
empreitada para uma vitória eleitoral.
O processo de “americanização” das campanhas eleitorais descrito por
(SWANSON & MANCINI, 1996), se fez latente na campanha presidencial brasileira de
2010, sobretudo, na tentativa de utilização das plataformas de redes sociais para
potencializar a campanha e atingir o eleitorado presente na internet. Em todo o mundo,
o crescimento da utilização da internet é de uma velocidade surpreendente, desta
forma, naquele ano eleitoral, o Brasil já contava com cerca de 81,3 milhões de
usuários, sendo que Orkut, Youtube, Twitter e Facebook representavam,
respectivamente, as mídias sociais mais acessadas no país. Todas essas
características tornaram a rede mundial de computadores ainda mais atrativa na busca
pelos votos nas eleições presidenciais.
2.1O CONTEXTO ELEITORAL DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2010
Nas eleições de 2010, podemos destacar três principais candidaturas à
Presidência da República que utilizaram intensamente a internet, a saber, Dilma
Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV). Uma evidência bastante clara
de que os partidos iriam se concentrar também na campanha virtual, foi a de que cada
um deles contratou um coordenador de campanha exclusivamente dedicado à atuação
online.
Até pouco antes do início da campanha, as pesquisas de intenção de voto
apontavam vantagem na preferência popular para o candidato José Serra, sempre
seguido por Dilma Rousseff. Entretanto, com o passar do tempo e à medida que a
candidata petista vinha se tornando mais conhecida entre os eleitores, essa tendência
se inverteu, ou seja, Dilma entrou na campanha em vantagem sobre o seu principal
oponente.
Nesse ritmo, a vantagem da candidatura do PT sobre a do PSDB seampliava
consideravelmente a cada nova pesquisa publicada. Desta forma, a algumas semanas
da votação do primeiro turno, que aconteceu no dia 03 de outubro de 2010, se
cogitava fortemente a possibilidade de vitória eleitoral de Dilma Rousseff sem a
necessidade do segundo turno. Entretanto, a internet e as redes sociais foram cruciais
para postergar a decisão de quem seria o próximo Presidente da República.
Em se tratando da campanha online, os três principais postulantes a
presidência contaram com campanha nas principais plataformas de redes sociais e
também deram bastante ênfase em seus sites pessoais. De qualquer maneira, uma
boa análise sobre a campanha digital não deve levar em conta apenas as atividades
que os candidatos desenvolveram em suas redes sociais ou sites, mas também deve
dar-se atenção em como é a repercussão dos fatos da campanha, através da ótica
dos ativistas, apoiadores e militantes engajados na campanha. Neste artigo, nossa
prioridade será inverter o foco tradicional de análise e enfatizar sobremaneira a
atuação da militância, uma vez que alguns episódios extremamente relevantes na
campanha acabam passando ao largo da atuação profissionalizada contratada
especificamente para atuar no staff online.
2.2 CARACTERÍSTICAS DA CAMPANHA ELEITORAL ONLINE
De maneira geral, a campanha eleitoral na internet foi negativa, uma vez que a
rede foi extremamente utilizada para atacar a imagem dos candidatos. Com relação a
imagem da candidata petista Dilma Rousseff, foram difundidas inúmeras correntes de
e-mails para tentar denegrir sua imagem, espalhando boatos, entre eles: acusações
de terrorismo; não poderia entrar nos Estados Unidos;sua posição com relação ao
aborto; etc. Além dessa enorme circulação via e-mail, a boataria promovida pelos
setores conservadores ecoou fortemente nas plataformas de redes sociais e por
muitas vezes acabavam pautando os meios de comunicação de massa, ganhando
enorme repercussão.
A coordenação online de campanha do PT demorou a dar respostas aos
ataques Sendo assim, de forma espontânea, a militância petista começou a se
articular na rede em defesa da figura da então candidata e do projeto político. Para
contribuir com essa tarefa, foi criado pela própria militância o site
“www.sejaditaverdade.net”, que tinha a função de auxiliar a militância no combate às
mentiras espalhadas pela rede, isto é, para cada e-mail mentiroso recebido sobre
determinado assunto, existia uma resposta com objetivode esclarecer os interessados
sobre o assunto.
De qualquer forma, frente a iminente vitória do PT no primeiro turno, os e-mails
e a repercussão contra sua candidata foram desastrosos e, de certa forma,
contribuíram para que a eleição fosse decidida no segundo turno. As mesmas
estratégias de circulação de e-mail contra a imagem da candidatura petista foram
exaustivamente utilizadas também no segundo turno. Entretanto, a militância petista
continuava fortemente atuante na campanha online.
O que se pode perceber foi um distanciamento entre a coordenação online de
campanha da candidata Dilma Rousseffe a militância petista que estava presente na
internet. A atuação da campanha virtual de Dilma foi muito tímida, se resguardando
apenas ao uso tradicional do site e a criação de contas em plataformas de redes
sociais, porém com pouco apelo a participação da militância. Por outro lado, os
internautas petistas fizeram um enfrentamento mais combativo com relação aos
ataques que sua candidata vinha sofrendo e, inclusive, tiveram participação importante
na desmistificação de alguns casosplantados na internet.
Apesar do relativo distanciamento entre a coordenação de campanha virtual e
a militância petista, de uma forma geral, a campanha desfavorável que vinha em uma
crescente contra Dilma Rousseff conseguiu ser equilibrada e o partido obteve êxito em
dar respostas com relação à boataria difundida Além de favorecer uma pauta mais
positiva para a imagem de sua candidata. O resultado positivo ao final do segundo
turno das eleições, que elegeu Dilma presidente da República com 56% dos votos
válidos, ressaltou um papel importante de protagonismo assumido pela militância
espontânea e voluntária, em relação à coordenação oficial de campanha, que acabou
tendo uma atuação fundamental em defesa da candidata petista na internet.
A militância virtual petista mesmo atuando de forma desorganizada e muitas
vezes até mesmo isolada durante a campanha teve um papel importante. Mesmo após
a vitória nas urnas, ao contrário da coordenação online da campanha, os militantes
petistas que atuaram na internet, construíram uma relação bastante forte e
permaneceram com sua atuação através das redes sociais, agora, porém, com o
objetivo de dar sustentação novo governo.
2.3 A CRIAÇÃO DO MAV-PT/SP
Passados os calorosos embates da campanha eleitoral, os militantes mais
engajados na atuação online e nas plataformas de redes sociais, concluíram que o
partido não poderia mais atuar de forma desorganizada na rede. Partindo do princípio
de que o PT é um partido extremamente centralizado, hierárquico e organizado no
campo físico é que se pensou na ideia de também organizar a militância que atuava
na internet.
Durante esse processo, alguns militantes do partido se reuniam por meio da
internet em dois coletivos denominados “Rede Liberdade” e “Coletivo da Rede”. As
discussões dos grupos giravam em torno das próximas atuações dos militantes virtuais
depois da campanha eleitoral.Um ponto de convergência dos grupos era de que o PT
tinha necessidade de organizar sua militância virtual, tendo em vista que, segundo os
militantes, o partido teve uma atuação insatisfatória na internet. Durante um dos
encontros virtuais dos militantes, desta vez com a participação do Secretário Nacional
de Movimentos Populares do PT, Renato Simões, surgiu a ideia de criação do Núcleo
de Militantes em Ambientes Virtuais (MAV-PT). Nesse sentido, Simões deu as
orientações burocráticas iniciais para a formação de núcleo de base Logo após, os
militantes engajados passaram a se reunir semanalmente através do Skype, para a
elaboração dos objetivos e do estatuto do núcleo.
Este processo de organização até a consolidação do MAV-PT/SP durou
aproximadamente dois meses. Ao término da elaboração dos objetivos e do estatuto,
foi formada uma comissão para levar ao conhecimento da executiva do PT do Estado
de São Paulo a proposta de criação do MAV-PT/SP. Em04 de maio de 2011 foi
marcada uma reunião no Diretório Estadual do PT de São Paulo com a presença do
Secretário de Comunicação do PT-SP, Aparecido Luiz da Silva, o Secretário de
Nucleação, Thiago Nogueira, e o Coordenador Nacional do Setorial LGBT, Julian
Rodrigues, em que foi fundado oficialmente o Núcleo de Militantes em Ambientes
Virtuais do PT de São Paulo, sendo Adolfo Pinheiro Fernandez escolhido coordenador,
e secretária, Marcia Brasil.
A criação de um núcleo de base é bastante simbólica para o Partido dos
Trabalhadores, pois retoma as origens do partido que durante seu processo de
formação contou com inúmeros núcleos de base. A consolidação de um novo núcleo
representa um resgate à história do PT, entretanto, neste caso, focalizando um
ambiente relativamente novo no cenário político: a internet. Desta forma, na iminência
desse movimento de militantes virtuais para a criação de novos núcleos, durante o IV
Congresso Nacional do PT, realizado em novembro em Brasília, o presidente Rui
Falcão estimulou a proposta de criação de novos núcleos e frente a esta proposta de
formação, o partido especificou o MAV enquanto um núcleo de base e regulamentou
sua atuação.
A princípio, o objetivo dos militantes virtuais engajados na campanha eleitoral
era defender a imagem do partido e de Dilma Rousseff mediante aos ataques sofridos
através da internet.Posteriormente, o grupo ligado pelos laços de afinidade ideológica,
construídos durante a campanhaestabeleceu como meta a organização objetivando: 1-
) manter a defesa do partido;2-) levar informações para municiar a militância virtual
e;3-) demonstrar a força da militância petista que atuava nas redes sociais. Com essa
aproximação da militância, novos objetivos passaram a fazer parte do MAV, tal
qualformalizar e buscar reconhecimento dentro e fora do partido sobre suas atuações
na internet. Passado esse processo de formação e consolidação, o núcleo tem agora
por principais objetivos a expansão de suas atividades por todos os estados brasileiros
e organizar e preparar a militância virtual para atuar nas redes sociais.
Por enquanto, os núcleos de militantes em ambientes virtuais estão
organizados em quatro estados, a saber, São Paulo, Rio Grande do Norte, Acre e
Paraná. Além disto, está em processo de consolidação nos estados do Rio de Janeiro
e Minas Gerais. Ademais, no que se refere ao estado de São Paulo, o MAV-PT/SP
está começando a se organizar também dentro dos diretórios municipais de algumas
cidades, como por exemplo, Campinas e Carapicuíba. Também surgiu a proposta de
criação do MAV-ABC, com o objetivo de atuação mais regionalizada em um local que
foi o berço da fundação do Partido dos Trabalhadores.
O MAV-PT/SP possui um site principal de referência (www.mavptsp.org).
Dentro do sítio, o internauta pode fazer um cadastro e criar um perfil para interagir com
outros militantes que já estão cadastrados. Além disso, no Portal do MAV-PT/SP,
podemos encontrar atalhos para interagir com o núcleo nas plataformas de redes
sociais. O site têm duas funções essenciais: reunir e informar a militância. Mediante a
este fato, a forma democrática e horizontal em que a internet é encarada pelos
membros do MAV-PT/SP, a participação é aberta não somente aos filiados, mas
também militantes de esquerda que queiram fazer sua contribuição. O espaço do site
também pode ser utilizado por parlamentares para prestação de contas, dirigentes,
assessores, enfim, para todos que querem contribuir com a divulgação de informações
e o crescimento do núcleo.
Fora do site, a atuação da militância se amplia para as plataformas de redes
sociais. De um ponto de vista mais prático, a militância se apodera das plataformas de
como Facebook e Twitter para comentar um determinado assunto, chamar a atenção
para alguma reivindicação, protestar, fazer um contraponto ao que é passado pelos
meios de comunicação de massa, etc. Um dispositivo recorrente que os militantes
utilizam é “twittaço”, ou seja, os usuários se concentrarem no Twitter e começam a
fazer postagem sobre determinado assunto ou utilizando umahashtag, para que esta
pauta ganhe visibilidade nos “trendingtopics” da rede social.
Do ponto de vista da coordenação do MAV-PT/SP, mais importante que
organizar manifestações através das redes sociais, é utilizar essas ferramentas como
auxílio para que as movimentações ganhem corpo e saiam do ambiente virtual
passando então a tornar-se manifestações de massa que tomem as ruas. O que vale
ressaltar é a utilização das plataformas de redes sociais como propulsoras de grandes
atos e manifestações, que começam na esfera online, mas que, sobretudo, extrapolem
os limites virtuais e ganhem também as ruas.
Como pudemos observar anteriormente, a criação do Núcleo de Militantes em
Ambientes virtuais contou com o apoio institucional do Diretório do Partido dos
Trabalhadores do Estado de São Paulo. Assim sendo, outra frente de atuação do
MAV-PT/SP é feita em parceria com a Secretaria de Comunicação do PT/SP. As
notícias, vídeos, links e publicações da Secretaria são reproduzidas, divulgadas e
compartilhadas pelos membros do núcleo com intuito de garantir maior abrangência às
informações oriundas do partido.
Como observamos, a ideia de criação do MAV-PT/SP partiu de uma estratégia
da própria militância petista de defender a imagem pública do PT. Além disso, outro
fator importante foi fazer um contraponto às informações espalhadas na internet.
Assim sendo, o núcleo surgiu como uma defesa da militância petista.
O custo de funcionamento do núcleo é pequeno. Nenhum integrando é
remunerado, nem mesmo o coordenador ou o secretário. Desta forma, o gasto que o
partido tem para manter o núcleo ativo é apenasde manutenção do site do MAV-
PT/SP e também algumas despesas com relação aos cursos de formação ministrados.
No mais, a militância petista organizada pelo MAV é feita de forma absolutamente
voluntária, isto é, não existe nenhum membro, alocado no núcleo, contratado
especificamente pelo partido para atuar na internet.
Diante da constituição da militância virtual, podemos afirmar que o Partido dos
Trabalhadores começa a olhar com mais atenção para a atuação na rede. Ainda é
cedo para afirmarmos que a campanha na internet é suficiente para se vencer uma
eleição, entretanto, hoje ela é uma ferramenta indispensável, ou seja, se um partido
não souber usá-la adequadamente ou simplesmente não usá-la, corre o risco de
perder uma eleição.
A melhor maneira de potencializar uma campanha eleitoral na internet
utilizando as plataformas de redes sociais é orquestrar a militância para atuar de forma
conjunta na rede. Pela própria capilaridade da rede, que não impõem barreiras, a
questão central é dar visibilidade a um candidato ou projeto político, integrando a
atuação em todas as redes,ou seja, tentar ampliar o alcance da imagem para atingir os
mais variados públicos.
É extremamente fundamental frisar que a ideia de organizar a militância virtual
do PT surgiu além dos limites institucionais do partido e se iniciou própria militância
petista. A transformação em um núcleo dentro do partido veio da necessidade de
legitimar a atuação de seus membros.
Até o presente momento, como pudemos observar, o núcleo já se consolidou
em quatro estados, em alguns municípios e está prestes a se organizar em outros
estados. De acordo com o estatuto do Partido dos Trabalhadores, um núcleo necessita
se organizar, no mínimo, em cinco Estados para se transformar em setorial. Desta
forma, a perspectiva de crescimento do MAV é ainda maior, uma vez que pode vir a
ter possibilidade de transformar-se em uma instancia superior na hierarquia do partido.
Como salientamos anteriormente, as principais campanhas eleitorais atuaram
na internet sobre a batuta de profissionais especializados e remunerados. Entretanto,
é importante ressaltar a organização destes militantes do PT que, a margem da
coordenação de campanha virtual de Dilma, conseguiram se constituir enquanto grupo
autônomo com atuação destacada. Se atualmente temos observado a
profissionalização de cabos eleitorais nas campanhas tradicionais, em certo aspecto, a
internet abriu a possibilidade de participação de uma forma de militância que estava
distante do partido.
Considerações Finais
Como pudemos constatar, a partir do processo de “americanização”
(SWANSON & MANCINI, 1996) as potencialidades da internet e das novas
tecnologiasde informação e comunicação, bem como as plataformas de redes sociais,
tendem a se expandir de maneira global em sua utilização nas campanhas eleitorais
(IASULAITIS, 2012). Desta forma, o sucesso da campanha online de Barack Obama
durante as eleições presidenciais em 2008 nos Estados Unidos, mesmo que de forma
um tanto diferente, produziu alguns efeitos na forma como se foi pensada a campanha
eleitoral brasileira no ano de 2010..
Sendo assim, os principais candidatos à disputa presidencial nas últimas
eleições brasileiras dedicaram atenção especial também a sua campanha virtual,
inclusive, com a contratação de profissionais especializados para atuação no ambiente
online.
Em meio a esse cenário, em que a corrida pela obtenção de votos ganha a
arena virtual, destacamos o surgimento espontâneo de um grupo de militantes
engajados na campanha do Partido dos Trabalhadores, que a principio, atuavam
descolados da coordenação virtual de campanha de Dilma Rousseff. Esse grupo
posteriormente veio a ser institucionalizado pelo partido, se tornando o Núcleo de
Militantes em Ambientes Virtuais do Partido dos Trabalhadores do Estado de São
Paulo (MAV-PT/SP).
Analisando a origem do PT, de acordo com a definição proposta por
(DUVERGER, 1951), podemos classifica-lo como um partido de massas. Desta forma,
nas primeiras campanhas eleitorais que o partido participou, dispunha de parcos
recursos financeiros e contava principalmente com o engajamento de sua militância
nas mobilizações de rua. Com o passar do tempo, o partido iniciou um processo de
centralização e burocratização da máquina partidária, tendo em vista uma vitória
eleitoral nas futuras disputas presidenciais. Com esse cenário a militância foi se
afastando do partido e deu espaço a profissionais contratados na atuação das
campanhas petistas.
Entretanto, na campanha eleitoral que conduziu Dilma Rousseff a presidência
da República, embora existisse uma coordenação de campanha virtual com
profissionais remunerados, surgiu um grupo de militantes petistas, que posteriormente
viriam a consolidar o MAV-PT/SP, que trocaram as ruas pela arena virtual, com
objetivo defenderem a plataforma de governo do Partido dos Trabalhadores. A
constituição do MAV-PT/SP rememora a importância e atuação dos núcleos de base
fundamentais na formação do PT.
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