caderno especial prêmio rbs de educação — para entender o mundo 2013

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SEGUNDA-FEIRA, 2 DE DEZEMBRO DE 2013 reconhecida Inspiração JESSÉ GIOTTI Em solenidade no Teatro Pedro Ivo, em Florianópolis, serão premiados hoje 18 educadores finalistas e revelados os vencedores do RS e de SC CADERNO ESPECIAL

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Conheça os 18 projetos finalistas do Prêmio RBS de Educação — Para Entender o Mundo, no caderno encartado na edição de 2 de dezembro no Diário Catarinense. Neste ano a temática escolhida foram as práticas de mediação de leitura

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Page 1: Caderno Especial Prêmio RBS de Educação — Para Entender o Mundo  2013

SEGUNDA-FEIRA, 2 DE DEZEMBRO DE 2013

reconhecidaInspiração

JESSÉ GIO

TTI

Em solenidade no Teatro

Pedro Ivo, em Florianópolis,

serão premiados hoje 18

educadores fi nalistas e

revelados os vencedores

do RS e de SC

CADERNO ESPECIAL

Page 2: Caderno Especial Prêmio RBS de Educação — Para Entender o Mundo  2013

TEMA DO PRÊMIO

MEDIAÇÃO DE LEITURA

2 DIÁRIO CATARINENSE, SEGUNDA-FEIRA, 2 DE DEZEMBRO DE 2013

Premiação

• Abertura encenada• Apresentação do Prêmio• Os jurados especialistas• Os 18 finalistas em três

categorias:Projeto ComunitárioEscola ParticularEscola Pública

• Encerramento da votação popular pelo www.premiorbsdeeducacao.com.br

• Pronunciamento de Nelson Sirotsky

• Apresentação da banda gaúcha Bluegrass

• Anúncio dos vencedores• Divulgação dos dois projetos

escolhidos pelo júri popular• Encerramento com a

participação dos monstrinhos e apresentação da Camerata Florianópolis

A cerimônia15H30MIN

● Início da transmissão ao

vivo pela TV COM

(canal 36 a cabo)

A PARTIR DAS 16H

diario.com.bre pelo site

e espetáculoHoje, a partir das 16h, serão reconhecidos pelo

Prêmio RBS de Educação – Para Entender o Mundo os melhores projetos de mediação de

leitura de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul em três categorias – Escola Pública, Escola Particular e Pro-jeto Comunitário. Um júri popular ainda irá eleger um vencedor do RS e outro de SC. A cerimônia de premia-ção poderá ser acompanha ao vivo pela TV COM, no canal 36 a cabo, direto do Teatro Pedro Ivo, em Floria-nópolis, a partir das 15h30min.

Em sua primeira edição, o prêmio obteve 936 proje-tos inscritos e, juntos, os 18 fi nalistas receberam mais de 350 mil votos por meio do site www.premiorbsdee-ducacao.com.br.

O espetáculo de premiação, em formato de programa de TV, será dirigido pela cineasta Flavia Moraes, com direção de fotografia de Lúcio Kodato, terá a partici-pação dos atores Reynaldo Gianecchini e Suzana Pires. Os comunicadores do Grupo RBS Laine Valgas, Camille Reis, Manoel Soares, Mário Motta, Rosane Marchetti, Ed Soul e Carolina Bahia irão apresentar as categorias e entregar o prêmio aos seis vencedores eleitos por espe-cialistas em educação.

A Mula Sem Cabeça e o Bicho-Papão, dois dos Mons-trinhos da campanha A Educação Precisa de Respostas, terão uma participação especial durante o evento.

Duas atrações musicais enriquecem a tarde: a orques-tra Camerata Florianópolis e a banda gaúcha Bluegrass, que traz a música norte-americana de raiz, infl uencia-da pela cultura de imigrantes escoceses, irlandeses e afro-americanos.

A transmissão começa às 15h30min com um pré-programa, que trará informações de bastidores. Além de poder ser acompanhada pela TV, também será pos-sível assistir à cerimônia pelo site da TV COM e pelo www.diario.com.br.

Os finalistas de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul começaram a chegar ontem

em Florianópolis. A véspera do anúncio dos vencedores do Prêmio RBS de Educação foi

um dia de descontração, mas também de trabalho e preparação para o evento de hoje

RICARDO WOLFFENBÜTTEL

Page 3: Caderno Especial Prêmio RBS de Educação — Para Entender o Mundo  2013

3DIÁRIO CATARINENSE, SEGUNDA-FEIRA, 2 DE DEZEMBRO DE 2013

Novas descobertas pelo livro

Depois de se aposentar, a professora Clarisa Wolff Garcez decidiu unir suas duas paixões: a educação e o

trabalho voluntário. Iniciou um projeto de mediação de leitura com crianças e jovens em situação de pré e pós-transplante de órgãos no instituto Via Vida Pró Doações e Transplantes, em Porto Alegre.

Cada paciente que chega ao instituto rece-be atendimento personalizado. Clarisa ela-bora um plano pedagógico para cada um e escolhe cuidadosamente os livros para que eles se transportem para um mundo de fan-tasias e entretenimento.

A iniciativa desenvolvida por Clarisa é fi -nalista do Prêmio RBS de Educação na ca-tegoria Projeto Comunitário. Além do aten-dimento individualizado, o projeto permite aprofundar a relação com as obras e estimu-lar a criatividade dos pequenos: a partir dos livros, vão surgindo novos textos, pinturas, colagens, desenhos e brincadeiras.

– Não é só uma leitura. Primeiro a gente lê junto, esclarece dúvidas. Depois, leem entre

eles, e depois a gente conversa de novo. Quero que eles criem o hábito de ler e só ir adiante, só dar aquilo como lido, quando entenderem bem o que estão lendo – diz Clarisa.

Ela mantém contato com as escolas de origem para obter informações dos alunos e acompanhar o rendimento após o retorno para casa.Todo o material utilizado, de livros a papéis, é proveniente de doações.

Mais de cem crianças e adolescentes, a maioria proveniente do Norte e do Nordes-te do país, já contaram com o apoio peda-gógico de Clarisa no instituto. Uma delas é Mireia Darlene França Mamede, 10 anos, que se mudou com a mãe do município de Patos, no sertão paraibano, para morar temporariamente em Porto Alegre e con-seguir um transplante de rim. Ela precisou abandonar a escola há dois anos, por conta das sessões de hemodiálise.

Clarisa acompanha as crianças depois do tratamento e, em nove anos de projeto, observou que elas passam a ter um melhor rendimento ao retornarem à escola.

Voluntária desenvolve projeto de leitura no instituto Via Vida, em Porto Alegre, que atende crianças à espera de transplante

Projeto LEITURA: A JANELA PARA UM NOVO MUNDO | Autoria: CLARISA WOLFF GARCEZ

Cristiane coordena programa com oficina de reinvenção de contos e produção de livro

Fábrica de jovens escritores

P oderia ser uma fábrica qualquer, não fosse pela quantidade de jo-vens escritores que saem de lá.

Uma verdadeira oficina é o Ateliê de Textos, projeto desenvolvido pela pro-fessora Cristiane Fuzer em escolas da rede pública de Santa Maria, finalista do Prêmio RBS de Educação na catego-ria Projeto Comunitário.

Se um ateliê é lugar de trabalho de pessoas com vontade de experimentar e produzir arte, o projeto não poderia ter recebido nome melhor. Na sala de aula, os estudantes das séries fi nais do ensino fundamental aguardam ansio-sos pelas visitas semanais da equipe do projeto. Acadêmicos de graduação e pós-graduação do curso de Letras da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) levam ao encontro dos alu-nos inscritos todo o suporte necessário para “ligarem as máquinas”.

– Dedicamos conhecimento e cari-nho a cada um dos participantes. Nas

escolas, contamos com a confi ança e o apoio da direção e de um professor de Língua Portuguesa. Às vezes, o profes-sor de arte participa, e temos ótimos resultados – relata a educadora.

Conforme explica Cristiane, os en-contros são divididos em etapas. A primeira delas é a pré-escrita, em que são desenvolvidas práticas de leitura e refl exão teórica. A segunda etapa é a re-escrita, quando se inicia o processo de produção individual, com a reinvenção de um conto à escolha dos alunos.

Para a acadêmica de Letras Carla Ca-rine Gerhardt, que integra a equipe do Ateliê, o processo é gratifi cante:

– Quando retornamos para as sessões dos feedbacks, eles fi cam ansiosos para ler os bilhetes e reescrever o texto.

O desfecho das atividades do Ateliê é o lançamento de um livro.

– É visível o entusiasmo dos jovens ao auto-grafarem os livretos de contos adaptados para o mundo contemporâneo – conta Cristiane.

Professora coordena projeto da UFSM que estimula a produção literária em escolas da rede pública de Santa Maria

Projeto: ATELIÊ DE TEXTOS: LEITURA E PRODUÇÃO COMO (P)ARTES DA EDUCAÇÃO | Autoria: CRISTIANE FUZER

Com mais de cem crianças atendidas, Clarisa faz o acompanhamento após a alta

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PROJETO COMUNITÁRIO

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4 DIÁRIO CATARINENSE, SEGUNDA-FEIRA, 2 DE DEZEMBRO DE 2013

Contar histórias incentiva a ler

F ormada em Letras e Direito e dona de paixão contagiante por ensino e litera-tura, Maria Elizabeth Souto de Olivei-

ra, 62 anos, sabia que não daria a missão por encerrada quando, aposentada, mudou-se para a casa de veraneio em Passo de Torres, no Litoral Sul de Santa Catarina.

Em 2010, ela decidiu voltar a trabalhar com leitura e com a ajuda de doações de li-vros, abriu uma biblioteca para crianças. As-sim nasceu O mundo das letrinhas, na Praia Rosa do Mar.

O espaço recebia crianças da Escola Vila Nova que, com poucos recursos, carecia de acervo maior. Com o tempo tia Beth, como ficou conhecida, foi convidada a levar o acervo à escola. Aos poucos, o projeto foi se transformando na iniciativa O mundo en-cantado da leitura, que é desenvolvido de forma voluntária.

– Eu comecei a trazer meus livros, o baú da leitura, a mala da leitura e a contar his-tórias, a fazer projetos lúdicos na escola. O principal objetivo é desenvolver o gosto pela

leitura, formar novos leitores – explica Beth.Mais do que despertar o gosto pelos livros,

Beth desperta alegria nos pequenos, que co-memoram quando a veem chegar e ouvem atentos as histórias, ansiosos para depois es-colher um livrinho para levar para casa.

– Toda vez que a professora Beth chega aqui na escola, os alunos fazem uma festa. A procura por livros na biblioteca aumentou, eles estão encantados com as histórias que ela conta. Levam até dois, três livros por vez – comemora Carina Peres, diretora da escola.

Ana Clara Porto da Silva, de 8 anos, está no 3o ano do ensino fundamental. Ela é uma das alunas mais empolgadas com o projeto.

– A tia Beth é muito divertida. Ela trouxe mais alegria ainda para o colégio. Por mim eu viria todos os dias pegar mais livros, mas infelizmente é só uma vez por semana – conta a pequena.

Beth acredita que, em uma cidade peque-na, com poucos recursos, é indispensável lu-tar pelo acesso das crianças aos livros, revis-tas e jornais, a fi m de formar adultos leitores.

A voluntária Maria Elizabeth abriu uma biblioteca infantil em Passo de Torres, Sul do Estado, e logo passou a atuar em escola

Projeto O MUNDO ENCANTADO DA LEITURA | Autoria: MARIA ELIZABETH SOUTO DE OLIVEIRA

Na biblioteca, Solange estimula o contato com os livros, promove reforço e escrita de cartas

Porta aberta rumo ao recomeço

N o prédio cercado por grades de ferro e cadeados, uma pequena sala, entre tantas dispostas ao

redor do pátio, adquire um signifi cado especial: durante todo o dia, é o lugar onde as portas estão sempre abertas. Ali funciona, há 13 anos, a Biblioteca Dona Margarida, onde adolescentes infratores aproveitam as horas para ler e escrever.

Acostumada a trabalhar com adoles-centes em situação de vulnerabilidade social, a pedagoga Solange Carvalho de Souza, fi nalista do Prêmio RBS de Edu-cação na categoria Projeto Comunitá-rio, criou o espaço para os internos que cumprem medida socioeducativa no Centro de Internação Provisória Carlos Santos, em Porto Alegre. No local, eles recebem reforço escolar, escrevem car-tas para familiares, leem e são estimu-lados a elaborar textos.

A criação poética é uma forma de re-avaliarem suas próprias atitudes.Todos os meses, recebem a visita de profi ssio-nais dispostos a um bate-papo.

– Pode ser professor, médico, advo-gado, para falar de qualquer coisa. Que fale de vida, de incentivo, de sair desse lugar e nunca mais voltar, de ter famí-lia, de deitar a cabeça no travesseiro e não se preocupar se o carro da polícia está passando, porque a sirene não é para ti – diz Solange.

Ela recorre ao poeta caribenho Derek Walcott, Nobel de Literatura em 1992, para falar sobre a importância de ler poesia em momentos difíceis. Para ela, ler também liberta.

Os trabalhos são anualmente expos-tos na Feira do Livro de Porto Alegre. Internos já foram premiados e tiveram poemas publicados em coletâneas. Um deles saiu do Centro mas deixou ali sua marca: “Aqui dentro até os sonhos são lentos”, diz um de seus versos estam-pando os murais que decoram a sala.

– Gosto de escrever poesia, leio e es-crevo, invento e misturo uma poesia com a outra – diz um adolescente de 17 anos que participa do programa.

Espaço de leitura em Centro de Internação Provisória de Porto Alegre permite que adolescentes busquem novo caminho

Projeto: A MEDIAÇÃO DE LEITURA NO CENTRO ADOLESCER | Autoria: SOLANGE CARVALHO DE SOUZA

Iniciativa para aproximar as crianças do hábito de ler tornou-se atividade escolar

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PROJETO COMUNITÁRIO

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5DIÁRIO CATARINENSE, SEGUNDA-FEIRA, 2 DE DEZEMBRO DE 2013

Espaço cultural move incentivo

Com a ajuda de uma biblioteca, um cinema e um cantinho para a conta-ção de histórias, a professora Renata

Hercolino Chiminski deixou as salas de aula da instituição social Bairro da Juventude dos Padres Rogacionistas, em Criciúma, no Sul de Santa Catarina, para se dedicar ao projeto que fomenta a leitura.

O incentivo surgiu em 2007 com realiza-ções do empresário Cláudio Balsini, que já ajudava a instituição fi lantrópica e constatou a necessidade de construir uma biblioteca.

A reforma trouxe também o cinema e o espaço para a contação de histórias, am-bientes atraentes para crianças de todas as idades atendidas pela entidade.

– A gente não tinha biblioteca. Tinha uma sala, onde começamos a fazer contação de histórias e colocamos alguns livros vindos de doação. Um dia o Cláudio resolveu fazer a biblioteca. Hoje temos um espaço cultural. Os três ambientes fazem com que o incenti-vo à leitura ocorra em todas as idades. Cada turma tem um horário semanal – conta a

professora Renata.Além do investimento nos ambientes, o

empresário e o conselho pedagógico da es-cola criaram a Maratona Cultural, que é um concurso literário que premia anualmente textos, desenhos, histórias em quadrinhos, poemas e paródias produzidos pelos alunos. Ao final do ano, os textos selecionados são publicados em um livrinho organizado, ilus-trado e diagramado pela professora Renata. Cada aluno premiado ganha um exemplar e também uma viagem ao parque temático Beto Carrero World.

Para Silvia Zanette, diretora da escola, além dos ambientes preparados e de um bom acervo à disposição das crianças, o mais importante no incentivo à leitura é o carinho com os alunos.

– Quem cuida de tudo aqui é a Renata, desde o controle de horário até o que se com-pra. Mas o mais importante é o trato com a criança, é o que faz com que se interesse pela leitura. E é esse o trabalho da Renata, é isso que ela tem feito muito bem – destaca Silvia.

Cinema e ambiente de contação de histórias são o segredo do projeto em instituição social que fomenta leitura em Criciúma

Projeto: AS PORTAS QUE SE ABREM POR MEIO DA LEITURA | Autoria: RENATA HERCOLINO CHIMINSKI

A educadora está há 20 anos no projeto que leva livros a crianças longe do centro

Um tesouro sobre quatro rodas

Por fora, a Kombi branca adesivada com imagens de crianças parece só mais um carro no trânsito de Blu-

menau. Mas quando para e a porta lateral é aberta, vê-se que guarda um verdadeiro tesouro. No lugar dos bancos, há estantes cheias de livros prontinhos para serem de-vorados por leitores.

Mensalmente o carro com a voluntária Verena Pellis Kirsten, 46 anos, vai até as escolas no campo, que ficam afastadas do Centro da cidade, e oferece atividades para despertar e estimular o gosto pela leitura nos estudantes. É O Mundo Mágico Sobre Rodas com a Biblioteca Ambulante, serviço de extensão da Biblioteca Pública Doutor Fritz Müller e um dos trabalhos finalistas do Prêmio RBS de Educação, na categoria Projeto Comunitário.

Verena está envolvida com o projeto há 20 anos. Ela conta que são atendidas crianças do pré ao 5o ano, com idades entre cinco e 10 anos. Os alunos podem entrar e escolher qual livro querem ler.

Depois, numa atividade em sala de aula,

os estudantes contam aos colegas sobre os livros que selecionaram e ouvem a leitura de outra obra. Tudo sob o olhar da volun-tária Verena, que garante que a conversa é bem descontraída e fl ui normalmente, com os estudantes participando ativamente.

– A Biblioteca Ambulante é sempre rece-bida com festa pelas crianças. Muitas esco-las de campo em Blumenau têm bibliotecas pequenas ou nem têm. E como é uma ativi-dade diferente, eles adoram. Existem escolas em que as crianças até gritam quando che-gamos – diz Verena.

Entre 380 e 400 livros são emprestados aos estudantes mensalmente. O acervo da Biblioteca Ambulante tem cerca de 6 mil obras. Verena conta que no começo as crian-ças pegavam livros fi nos.

– Agora passaram a ter mais interesse. Escolhem livros mais grossos. Temos um aluno que leu as Crônicas de Nárnia. Levou três meses, mas ele leu – destaca.

Verena conta que, de tão experientes que os pequenos estão fi cando na leitura, já in-dicam obras para os adultos.

Kombi adesivada que percorre escolas de campo em Blumenau defi ne projeto de extensão da Biblioteca Doutor Fritz Müller

Projeto: O MUNDO MÁGICO SOBRE RODAS | Autoria: VERENA PELLIS KIRSTEN

Renata trabalha enriquecimento de vocabulário, resgate de valores e gosto pelos livros

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PROJETO COMUNITÁRIO

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6 DIÁRIO CATARINENSE, SEGUNDA-FEIRA, 2 DE DEZEMBRO DE 2013

Nicole criou dois fantoches que eram levados para casa pelas crianças

A professora se transforma em personagens de contos de fadas para ensinar os alunos

Gato e rato: amigos das letrasProfessora da Escola Projeto, em Porto Alegre, motiva descoberta do prazer de uma boa história para crianças de três anos

Projeto: LITERATURA INFANTIL: GOSTOS, CHEIROS E MEMÓRIAS | Autoria: NICOLE SAUTHIER NICHE

Alice e Cinderela na biblioteca

Pode vir Chapeuzinho Vermelho, Alice no País das Maravilhas, Cinderela... Não importa, todas elas cabem no

entusiasmo da professora Taise Soares de Oliveira, da cidade de Santiago, fi nalista do Prêmio RBS de Educação na categoria Es-cola Particular. Nas roupas das personagens de fábulas e contos de fadas, ela conduz uma viagem pela imaginação e leva junto peque-nos sonhadores do Colégio Medianeira.

O projeto aproxima os alunos das histó-rias infantis de um jeito diferente, lúdico e em busca de novas percepções. Tudo isso é possível graças à biblioteca infantil, que foi reinventada pela educadora e serve, muitas vezes, de cenário para as historinhas.

– A biblioteca não encantava. Junto com a Taise, conseguimos reorganizar o acervo in-fantil e montamos um lugar diferente, pró-prio para aguçar a imaginação durante a lei-tura – conta Jackeline Vione, coordenadora pedagógica do Colégio Medianeira.

Aos 25 anos, a professora leva todos os encantos da leitura mediada para crianças

da Educação Infantil até o 4o ano do ensino fundamental. Conforme ela explica, imagi-nação e leitura têm de andar lado a lado. A atividade deve ser prazerosa.

– Não basta, apenas, a leitura estar ao al-cance das crianças, é preciso tornar o mo-mento atrativo para que o leitor tenha o de-sejo de conhecer a obra – afi rma.

A professora convida os alunos a redes-cobrir seus universos. Após uma encenação, eles recriam o conto, uma nova versão a par-tir das histórias vivenciadas. Entre as ativi-dades, ela incentivou as crianças a inventa-rem diferentes fi nais para a obra Visconde, o Feiticeiro, de Monteiro Lobato. Alguns ence-nam para toda a turma.

Para os alunos do 1o ano, o projeto incluiu a realização de um curta-metragem sobre os bichinhos da fl oresta com roteiro e persona-gens escolhidos pelos próprios estudantes.

– É importante criar espaços onde eles possam expressar suas ideias e aguçar a curiosidade. Por meio da fantasia podem vir descobertas – diz a professora.

No Colégio Medianeira, em Santiago, a educadora Taise reinventou a forma de interpretar contos e de ler com as crianças

Projeto: CONSTRUINDO NOVOS SABERES NO MUNDO GLOBALIZADO | Autoria: TAISE SOARES DE OLIVEIRA

Bastaram apenas um gato, um rato e um livro. Foi assim que a professora Nicole Bruna Sauthier Niche envolveu

alunos, pais e escritor em um projeto desen-volvido no primeiro semestre e que ainda permanece vivo no dia a dia das crianças.

A partir do texto Amigos, mas não para Sempre, de Rogério Andrade Barbosa, ela de-senvolveu uma série de atividades para seus alunos da Escola Projeto, em Porto Alegre.

Nicole, finalista do Prêmio RBS de Edu-cação na categoria Escola Particular, queria aproximar as crianças da história. Transfor-mou os dois personagens em bichos de pe-lúcia. Colocou-os escondidos em uma caixa surpresa e cativou as crianças, que, com apenas três anos de idade, achavam que os amigos tinham saído do livro.

A cada fi m de semana, uma delas era sor-teada e levava a obra e os dois bonecos para casa, além de um livro de registros para contar a experiência.

As crianças levaram a dupla para a praia, para a Serra e para o restaurante. E teve gen-

te que quis levar até para a hora do banho, mas lembrou que gato não gosta de água.

Os dois passaram a fazer parte do dia a dia da turma e ajudaram nas tarefas de co-res, números e nas brincadeiras.

A iniciativa alcançou o professor de música, que compôs uma canção sobre a dupla com os alunos. Algumas crianças se apropriaram de tal forma do livro que conseguem utilizar as mesmas palavras do escritor ao recontar.

– Elas fi caram tão encantadas que um dia o professor de música chegou e as crianças começaram um reconto espontâneo – conta a educadora.

Foi um momento tão bacana que o pro-fessor sugeriu que eles fizessem uma mú-sica. Uma das crianças sugeriu gravar um CD para presentear o escritor. A cada ano, a escola escolhe um autor para trabalhar suas obras em todas as séries.

– Ele escreveu um e-mail dizendo que esse reconhecimento valeu mais do que to-dos os prêmios que ganhou – diz Nicole.

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ARAMI FUMACO

DIEGO VARA

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ESCOLA PARTICULAR

Page 7: Caderno Especial Prêmio RBS de Educação — Para Entender o Mundo  2013

7DIÁRIO CATARINENSE, SEGUNDA-FEIRA, 2 DE DEZEMBRO DE 2013

No início do ensino médio, a educadora incentiva a leitura com enfoques temáticos

Cristiano Viana Abrantes se reúne com os alunos para debater referências literárias

Fatias de uma receita literáriaNo Centro de Ensino Pastor Dohms, em Porto Alegre, Suzana trabalha com textos que contribuam para formar leitores críticos

Projeto: NOVA PERSPECTIVA PARA O ENSINO DA LITERATURA NO ENSINO MÉDIO | Autoria: SUZANA BINS

Leitura ajuda a fazer escolhas

É pela leitura e a análise de textos de autores renomados, como Nelson Ro-drigues e Edgar Allan Poe, que o pro-

fessor de História Cristiano Viana Abrantes forma leitores mais críticos no Colégio Ma-chado de Assis, em Joinville, Norte de SC. As atividades integram o projeto Confraria Lite-rária, fi nalista do Prêmio RBS de Educação.

Em uma sala de aula comum, Cristiano se reúne com os alunos uma vez por sema-na. Com as carteiras em círculo, e em meio a um cheirinho delicioso de café, eles debatem impressões sobre poesias, crônicas e contos que leram e se aventuram a escrever e expor as obras para o grupo.

O professor conta que o projeto surgiu de uma provocação dos alunos do 9o ano do en-sino fundamental, que queriam dar continui-dade ao trabalho Meu caderno, minha obra de arte, da professora de redação Kelly Rocha Soares. Era um incentivo à redação por meio de um caderno personalizado, enfeitado pe-los próprios alunos.

Cristiano, Kelly e o professor de Literatura

Juliano Munhóz tiveram a ideia da confraria.– No meio do caminho o projeto ganhou

uma roupagem mais anárquica. Não me faço presente como professor, mas como igual. So-mos amigos que têm algo em comum, o gosto por ler e escrever – declara o fi nalista.

Segundo Cristiano, desde o início do pro-jeto, em 2011, cerca de 50 alunos passaram pelos grupos da Confraria Literária e se tor-naram leitores periódicos.

– Você percebe que existe uma mudança no padrão de escolhas, em áreas como a musical, o que é gratifi cante – afi rma.

Para Cristiano, a educação é muito focada em apresentar conteúdo aos alunos. O exer-cício de criticar, tão importante, é deixado de lado. Além disso, ele acredita que o aproveita-mento dos alunos se torna maior porque eles participam por vontade própria, sem notas.

O estudante Valdecir de Almeida, 15 anos, tem dez páginas de um livro escritas.

– Descobri que escrever é uma forma de expressar as nossas emoções, o que me deixa menos ansioso – diz.

O projeto implantado no Colégio Machado de Assis, em Joinville, promove discussões extraclasse sobre grandes autores

Projeto CONFRARIA LITERÁRIA | Autoria: CRISTIANO VIANA ABRANTES

O grande desafi o era transformar lei-tores semânticos em leitores críticos. Não bastava apenas fazer com que

os alunos decifrassem o que estavam lendo: era necessário que eles fossem capazes de identificar a construção, a ideologia e a in-tertextualidade de cada obra.

Para isso, a professora Suzana Borges da Fonseca Bins, finalista do Prêmio RBS de Educação na categoria Escola Particular, fez uma reforma completa no programa de Li-teratura do ensino médio do Centro de Ensi-no Pastor Dohms, em Porto Alegre.

Em vez de limitar- se à apresentação cro-nológica das escolas literárias, resolveu apro-ximá-las do estudante por meio de uma abordagem temática, escolhendo assuntos como amor, sociedade, pátria e identidade.

– Recorri a uma série de livros que abor-dam o que se espera do ensino da literatura. Peguei tudo isso e mais algumas convicções, além de coisas que já vínhamos fazendo, e fi z o projeto – conta Suzana.

Apesar da alteração no currículo e do novo

programa estar em fase de experimentação, a mudança foi muito bem recebida pela di-retoria da escola e pelos demais docentes. As escolas literárias e os livros obrigatórios para o vestibular continuam no programa, ofere-cidos a partir da metade do ensino médio.

Mas, como no início do curso os alunos já se depararam com textos de diferentes épocas, analisando-os sob o viés temático, é mais fácil retornar a alguns desses escritos e discuti-los com enfoque nos movimentos literários.

Com roteiros de leitura, aulas incentivando a participação e a discussão dos temas, dicas sobre clichês e formas de se descobrir qua-lidades literárias em um texto, Suzana aju-dou a desenvolver o senso crítico em alunos como Sofi a Fatur Kauffmann, de 15 anos.

– Sempre gostei bastante de ler, mas eu não lia muitos livros literários. Depois que tive aula com a Suzana, mudei meu gosto e aprendi a ler os livros clássicos – diz Sofi a.

Suzana criou um blog da disciplina, orga-nizou saraus e incentivou os alunos a se tor-narem poetas e escritores.

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8 DIÁRIO CATARINENSE, SEGUNDA-FEIRA, 2 DE DEZEMBRO DE 2013

Viagem ao mundo dos clássicos

S aber que fi m levou a Branca de Neve, como Bela Adormecida foi acordada e quem achou o sapatinho de Cinde-

rela parece natural para as crianças. Mas a professora de Português Gabrielle Borba da Silva, do Colégio Catarinense, em Florianó-polis, percebeu que não era bem assim en-tre seus alunos.

Para resgatar o encanto dos estudantes do 4o ano do ensino fundamental pelos contos de fadas, ela montou uma estratégia envol-vente que terminou com um teatro de fanto-ches, onde a criançada de 9 e 10 anos apre-sentava um novo conto.

O ponto de partida do projeto Contos que Encantam foi o livro Que história é essa? do escritor Flavio de Souza. Nele, o autor re-conta clássicos sob ponto de vista de outro personagem, dando pistas importantes so-bre a história narrada. O livro foi lido para os alunos, que eram desafi ados a descobrir a história.

– Fiquei surpresa quando alguns não sa-biam de qual conto se tratava, porque nunca

tinham lido – diz Gabrielle.Com a leitura do livro, a professora quis

mostrar que é possível ler de diferentes maneiras: em grupo, individualmente, em voz alta, baixa, na sala, na biblioteca e ao ar livre. Ao fi nal, os alunos precisavam ir atrás de mais elementos no conto para reescrever a história sob o ponto de vista de outro per-sonagem.

O próximo passo era a hora de se formar grupos e montar uma história com um mix de contos infantis. O teatro foi apresentado à turma com fantoches.

– Quis criar um hábito nas crianças de ler algo a que não estão acostumadas. Quis que elas conhecessem outros gêneros. Mas se eu só contasse a história da Bela Adormecida elas poderiam achar muito chato – refl etiu a educadora.

Em vez durar um trimestre, o projeto avançou por um semestre. Os alunos fica-ram motivados e procuraram outros livros. Além disso, Gabrielle percebeu a melhora signifi cativa na produção textual.

A professora Gabrielle, do Colégio Catarinense, em Florianópolis, despertou o prazer de ler retomando velhas e boas histórias infantis

Projeto: CONTOS QUE ENCANTAM | Autoria: GABRIELLE B. DA SILVA

A partir da proposta da diretora Luciana, professores, pais e alunos foram mobilizados

A estratégia da rede de leitores

A caixa cheia de livros que a mãe cos-tumava levar do colégio para casa mais parecia um baú de tesouros

para Luciana Balbinott Paludo, quando ela era criança. Foi com esse incentivo de casa que ela, hoje diretora do Colégio Logosófi co González Pecotche, em Chapecó, virou uma leitora assídua. Seu desejo é ver os alunos com o mesmo entusiasmo pelos livros.

A realidade era bem diferente na escola. A biblioteca não era movimentada e os livros, esquecidos nas estantes, não despertavam o interesse dos estudantes.

– Meus pais nunca tiveram muitas condi-ções financeiras e ler era uma forma de eu viajar e conhecer outras coisas – relembra a diretora, com saudades.

Para reverter o quadro no Colégio Logo-sófico, Luciana propôs um projeto para o envolvimento dos professores, dos pais e dos estudantes. Os educadores deram a partida. Começaram a trocar ideias sobre livros que estavam lendo. Um indicava para o outro, conversavam sobre as histórias e liam tre-chos em conjunto.

Depois que a troca virou rotina, foi a hora de acionar as famílias. Então os pais recebe-ram tarefas como ler com o fi lho ao ar livre. Depois foi a vez dos 200 estudantes do colé-gio de ensino infantil ao fundamental come-çarem a se envolver. Para algumas turmas foi criada a carteirinha de leitura. Em outras, havia um tapete sobre o qual as professoras colocavam elementos que estariam em uma história a ser contada.

As crianças aprenderam a pesquisar sobre autores e ilustradores. Na entrada do colégio, um mural com indicações de leitura foi co-locado. E ainda havia professores que liam histórias, mas não terminavam. Assim os alunos, curiosos, iam sozinhos atrás do des-fecho nos livros.

O resultado foi apontado por um levan-tamento feito com o ensino fundamental. Cada aluno leu em média 15 livros no pri-meiro semestre.

– Alguns leram mais, outros menos. Claro que ainda há aqueles que não leem como a gente espera, mas o projeto continua – res-salta a diretora.

A iniciativa da diretora do Colégio Logosófi co González Pecotche, em Chapecó, contagiou a comunidade escolar para as letras

Projeto DE CRIANÇA A PROFESSORA, HOJE GESTORA, SEMPRE LEITORA | Autoria: LUCIANA BALBINOTT PALUDO

A educadora levou a fantasia infantil esquecida para alunos do 4o ano

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9DIÁRIO CATARINENSE, SEGUNDA-FEIRA, 2 DE DEZEMBRO DE 2013

Mala lotada de letras e poesias

Com uma mala recheada de persona-gens, lugares e histórias, a professora Maria Alice Gouvêa Campesato viaja

com os alunos para um mundo de aventuras. Na Escola Municipal Nossa Senhora do

Carmo, na Restinga, zona sul de Porto Ale-gre, os estudantes do 6o ano descobriram o prazer de ler e aprenderam que entender po-esia não é tão difícil quanto parece.

A ideia de embarcar com as crianças para outros cenários surgiu quando Maria Alice, finalista do Prêmio RBS de Educação na categoria Escola Pública, decidiu fazer uma pesquisa entre os alunos para saber como se comportavam em relação à leitura.

Constatou que mais da metade possuía acesso em casa a internet, jornais e livros, mas, mesmo com informação e leitura, 41% deles paravam na metade do texto e outros 24% só costumavam observar a capa e as fi guras.

– Os alunos dessa geração têm uma série de ofertas. É muito mais fácil acessar inter-net, Facebook, mas, a partir do momento em que eles começam a ver que com a leitura se

pode embarcar em qualquer aventura, daí se cria esse gosto – afi rma a professora.

Para explorar a sensibilidade, criou o “varal literário”. Na parede da sala, ficam expostos versos de Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Mario Quintana e Manuel Bandeira.

Para montar o varal, os estudantes leram e analisaram os textos, criaram ilustrações e organizaram os cartazes. Assim aprenderam sobre rima, ritmo, metáfora.

Ao perceber o interesse dos alunos, Maria Alice decidiu levar livros de seu acervo pesso-al. Colocou na maleta Monteiro Lobato, Ana Maria Machado, Ruth Rocha. Quando chega com a pequena mala no horário da aula, sem-pre deixa os alunos explorarem a bagagem.

A ideia gerou frutos e novas atividades fo-ram criadas, como clube de leitura e saraus literários, com a participação da comunida-de. Luana de Oliveira Centa, 12 anos, tornou-se visitante da biblioteca no contraturno.

– Consigo ler melhor e me apresento no sa-rau – diz a jovem fã dos versos de Bandeira.

Maria Alice motivou os alunos da Escola Nossa Senhora do Carmo, em Porto Alegre, a conhecer poetas e gostar de livros

Projeto: VIAGENS LITERÁRIAS | Autoria: MARIA ALICE GOUVÊA CAMPESATO

Para Rita, é preciso tirar a sabedoria do sono profundo através da leitura

Livros nascem da reciclagem

Como driblar a difi culdade fi nanceira, munir a escola de livros novos e ainda ajudar o ambiente? A professora Rita

Tessaro, coordenadora pedagógica do Colégio Estadual Sananduva, no norte do Rio Grande do Sul, encontrou uma solução: cativar alu-nos e famílias em um projeto de reciclagem.

Há 10 anos, a fi nalista do Prêmio RBS de Educação na categoria Escola Pública propôs que os estudantes e os pais levassem para a escola as garrafas pet que seriam jogadas no lixo pela família. Ao final do ano, o colégio conseguiu arrecadar mais de 2 mil garrafas, que foram vendidas para uma empresa de reciclagem. O dinheiro foi usado para com-prar livros novos e montar uma biblioteca infantil, chamada de Casinha do Saber, onde até os pais são convidados a contar histórias.

Além do espaço lúdico, Rita idealizou uma biblioteca móvel. Usou carrinhos de mão feitos de madeira para abrigar os livros e os chamou de “carretos da leitura”. Os carri-nhos têm a vantagem de serem transporta-dos com facilidade para qualquer lugar.

Há quatro anos, a educadora também ar-

quitetou outra forma de abrigar os livros: uma sacola feita com retalhos das próprias garrafas plásticas. As sacolas fi cam nas salas de aula, e os estudantes podem retirar os li-vros a qualquer momento:

– Os alunos pegam livros da sacola quan-do acabam uma atividade – conta Rita.

Entre 2010 e 2011, as sacolas de pet eram levadas para casa pelos estudantes. No ano passado, foram substituídas por outro mo-delo sustentável bolado por Rita. As novas sacolas são mais leves e confeccionadas com retalhos de um plástico usado na fabricação de colchões hospitalares, que a escola conse-gue de forma gratuita.

Cada turma do ensino fundamental tem uma sacola com obras de acordo com a ida-de dos alunos. Além dos livros, Rita colocou nas sacolas um caderno, no qual as mães de-vem escrever – ou ajudar os fi lhos a escrever – receitas que gostam de fazer.

As ideias de Rita têm uma inspiração que ela gosta de repetir:

– Sem leitura, a gente não desperta do sono a sabedoria – resume a educadora.

Professora do Colégio Estadual Sananduva, no norte do RS, envolveu a comunidade escolar e criou uma biblioteca

Projeto: LER É BOM DEMAIS | Autoria: RITA TESSARO

Varal literário e mala de leitura são estímulos que cativam os estudantes

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10 DIÁRIO CATARINENSE, SEGUNDA-FEIRA, 2 DE DEZEMBRO DE 2013

Neusa ensina os alunos a filtrar e avaliar informações para melhorar a compreensão

Bruno desenvolveu técnicas para fazer a ponte entre o aluno surdo e o conhecimento

Inclusão ao alcance das mãos

Na Escola Municipal Prefeito João Flo-riani, em Rio dos Cedros, no Médio Vale do Itajaí, a comunicação entre

os colegas de sala era incompreensível para Luiz Valdemar Cardozo Júnior. Surdo desde que nasceu, passava de uma série para a ou-tra sem saber o que significavam as frases rabiscadas no caderno.

Foi na 5a série do ensino fundamental, aos 11 anos, que a história dele mudou. Ao ver que o aluno não entendia o que escrevia, o professor Bruno Araujo Soares decidiu bus-car a melhoria na qualidade de vida de Luiz.

Durante um trabalho voluntário, o edu-cador aprendeu a Língua Brasileira de Si-nais (Libras). Como dominava a técnica, decidiu ensinar o estudante, que não co-nhecia a linguagem.

– Fiquei observando algum tempo o com-portamento dele e percebi que o Luiz não conseguia interpretar o que aprendia. Ficava isolado na sala, pois os colegas não sabiam como se comunicar – lembra Bruno.

Durante dois anos o professor ensinou os

sinais a Luiz e o acompanhou em todas as disciplinas. Para a família, que também não conhecia a língua, o educador enviava tare-fas. E os colegas de turma também foram incluídos no contato com a nova forma de expressão.

A partir da 7a série, Luiz passou a ter aces-so aos livros com escrita em Libras, compra-dos pelo professor e pela escola. O resultado foi a melhora no desempenho do aluno – hoje com 14 anos e na 8a série – e a intera-ção com os colegas.

– Chapeuzinho Vermelho era só uma bo-neca, já que o Luiz nunca teve contato com a história. Agora, ele até consegue escrever nas redes sociais – conta Bruno.

Para o professor, a inclusão do aluno surdo demanda tarefas e provas voltadas à com-preensão do assunto:

– Uma vez ouvi uma professora dizer que se o aluno não entendia era problema dele. Não concordo. Acredito que podemos me-lhorar o ensinamento deles, indo além de fazer gestos com as mãos – conclui.

Professor de Libras quis ser mais que intérprete e envolveu uma classe na Escola Municipal João Floriani, em Rio dos Cedros

Projeto: DESCOBRINDO NOVOS CAMINHOS | Autoria: BRUNO ARAUJO SOARES

Um olhar atento diante da web

D iferentes linguagens e ferramentas de comunicação são os recursos usados pela professora Neusa Regi-

na Klein Palma para incentivar a leitura nas aulas de informática com os alunos da Esco-la Municipal Professora Maria Gusmão Brit-to, em São Leopoldo, no Vale do Sinos.

O principal objetivo da professora, fi nalis-ta do Prêmio RBS de Educação na categoria Escola Pública, é proporcionar aos alunos o chamado “letramento digital”. Mais do que ensinar a acessar a internet e trabalhar com programas de computador, o que Neusa quer é que os estudantes sejam capazes de localizar, fi ltrar e avaliar de forma crítica esse mundo de informações:

– É muito mais difícil fazer o fi ltro numa leitura digital do que numa biblioteca ou numa escola. Na internet, estão abertas mi-lhares de possibilidades, e discernir o que é bom é muito mais difícil para eles.

Neusa desenvolveu um projeto interdis-ciplinar que contou com o apoio de outros professores da escola para ser aplicado entre as 24 turmas do 4o ano à 8a série. Alunos com

idades entre nove e 11 anos fi zeram autobio-grafi as a partir da análise da obra O Menino Maluquinho, de Ziraldo, com direito a debate e sessão com pipoca para ver o fi lme.

Os alunos do 5o ano aprenderam sobre as lendas gauchescas em sites especializados e debateram, em fóruns virtuais criados por Neusa, temas relacionados à história do Rio Grande do Sul.

O projeto alcançou o município de Rosário do Sul: Neusa entrou em contato com uma professora da cidade e propôs uma ativida-de interativa. Assim, os estudantes passaram a trocar informações sobre suas respectivas cidades – não só pela internet mas também pelo correio, em cartas.

Os estudantes mais velhos soltaram a imaginação e criaram livros-jogos em RPG, e tiveram a oportunidade de conversar com o escritor Athos Beuren, especialista em nar-rativas desse tipo. A ideia da atividade foi da professora de Português Marinês Berwanger, colega de Neusa em São Leopoldo. As ativida-des do projeto são relatadas no blog gusmao-literatura.blogspot.com.br e no site da escola.

Em São Leopoldo, educadora da escola Professora Maria Gusmão Britto estimula a crítica nas aulas de informática

Projeto: DESCOBRINDO CULTURAS E EXPRESSANDO IDEIAS A PARTIR DA LEITURA | Autoria: NEUSA KLEIN PALMA

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11DIÁRIO CATARINENSE, SEGUNDA-FEIRA, 2 DE DEZEMBRO DE 2013

Carolina compreendeu que precisava reagir à baixa motivação dos alunos e criou um agradável ritual

Pedagoga viu numa brincadeira a oportunidade para incentivar a leitura

Segredos que são compartilhados

Quando mostrou o Diário do Livro para os alunos da 4a série da Escola de Educação Básica Feliciano Pires,

em Brusque, a pedagoga Kamille Khristiny Meneses de Oliveira pensava em plantar ne-les a sementinha do gosto pela leitura.

No início viu os pequenos em busca de exemplares com mais figuras do que texto. Mas, com o passar dos meses, a transforma-ção apareceu: ao invés de poucas folhas, as crianças passaram a pedir livros com histó-rias maiores. Foi então que Kamille teve cer-teza de estar no caminho certo.

A ideia do diário surgiu a partir da cons-tatação de que os estudantes das séries ini-ciais tinham difi culdades em leitura, inter-pretação e escrita. Pelos alunos terem entre nove e 10 anos, a professora pensou que um diário, no qual eles pudessem relatar segre-dos, seria atrativo.

– Para chamar a atenção deles, nada me-lhor do que fazer algo com o qual estão acostumados no dia a dia. Ler um diário e ver o que os amiguinhos escreveram é bem

comum nessa idade. Foi aí que tive a ideia – relata a professora.

O projeto consiste basicamente num ca-derno onde o aluno descreve a história do livro que leu, conta como foi ter o diário com ele, dá conselhos aos colegas e aponta erros existentes em anotações anteriores.

Antes de o caderno voltar para a escola, o pai ou a mãe precisa ler o que o fi lho regis-trou. Eles próprios podem escrever alguma coisa como incentivo. Os apontamentos do diário são lidos pela professora e debatidos entre a turma uma vez por semana.

– Este é o grande lance: esquecer que lei-tura serve para ler livro da escola – diz.

Complementando o projeto com uma bi-blioteca de gibis, a Gibilândia, e passeios a espaços culturais, como teatros e bibliote-cas, Kamille percebeu inclusive a mudança no vocabulário e na escrita das crianças.

– Penso na formação além do aluno, da-quele ser humano que vai sair da escola e ser prefeito, advogado. Que seja um indiví-duo formado com qualidade – completa.

Ter um caderno para relatar a história que leu é a mecânica do trabalho de Kamille na escola Feliciano Pires, em Brusque

Projeto: MEDIANDO LEITURA, DIALOGANDO COM O MUNDO | Autoria: KAMILLE DE OLIVEIRA

Ler com prazer e hora marcada

Não gosto de ler. Não quero ler. Ler é chato! Depois de ouvir as sucessivas reclamações de alunos, as professo-

ras Carolina Kuhnen e Elizete Maria Mar-ques começaram uma revolução na Escola Desdobrada e Núcleo de Educação Infantil da Costa da Lagoa, em Florianópolis.

A escolinha que tem como quintal a La-goa da Conceição tem a rotina alterada duas vezes por semana, quando turmas do 1o ao 4o anos são reunidas numa roda literária. Para ficar mais dinâmico, o momento co-meça com uma música cantada por todos.

Os alunos ficam sentados sobre uma al-mofada – uma minhoca gigante – feita pe-las professoras. Um sorteio defi ne os alunos que farão a leitura. São até cinco numa tarde e eles mesmos escolhem os livros.

Ao iniciar a atividade, a disputa por quem vai ler é grande e por isso o sorteio é ne-cessário. Todos querem mostrar o quanto sabem. Os livros também são disputados e os alunos já avisam para a professora que querem levá-los para casa.

Aos ouvintes, cabe preencher um crono-

grama de leitura. É uma tabela de papel em que eles colocam data, listam os leitores do dia, o gênero do livro e fazem observações sobre o texto.

– Percebemos uma evolução muito gran-de nas anotações. Antes eram apenas: achei legal. Gostei. Hoje eles elaboram mais e ex-plicam por que gostaram – conta Carolina.

No fi m do ano, junto com os registros da atividade, os estudantes vão receber um DVD com imagens da roda de leitura. A professora acrescenta que a evolução foi ainda maior entre os alunos em fase de al-fabetização. A leitura pausada e silábica está mais ritmada e fl uente.

O projeto proporcionou aos alunos um in-tercâmbio com o colégio do Castanheiro Ilha de São Miguel, em Portugal. Pela internet, eles fi zeram uma roda de leitura.

Aluna do 4o ano, Érica Martins, 11 anos, passou a ver os livros com outra disposição. Hoje, ela lê para a avó:

– Por causa do projeto, comecei a ler mais e tem um monte de livros que eu gosto – res-salta a menina.

Ter dia certo e criar um bom clima são a essência do projeto Hora de Ler, na escola da Costa da Lagoa, em Florianópolis

Projeto: HORA DE LER | Autoria: CAROLINA KUHNEN

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Júlia AntunesLORENÇO

REPÓRTER DE EDUCAÇÃO

ÂngelaRAVAZZOLOEDITORA DE EDUCAÇÃO DO GRUPO RBS

o mundoE studos, estatísticas, avaliações

e teorias são ferramentas fundamentais ao apontar problemas e estratégias para qualificar a educação brasileira. E não são poucas as pesquisas que abrem caminhos inovadores. Mas esse arsenal poderoso deixa de ter sentido se a transformação não alcançar a sala de aula. É no cotidiano da escola, na troca de ideias entre professores e alunos, a cada dia do ano letivo, que o aprendizado acontece.

Os projetos selecionados para a etapa final do Prêmio RBS de Educação – Para Entender o Mundo têm, entre outros tantos méritos, essa característica significativa: nos mostram possibilidades de incentivar e despertar o prazer da leitura e da escrita entre crianças e adolescentes. Enfim, transformam a teoria em práticas eficientes e apaixonantes.

Assista aos vídeos no site premiorbsdeeducacao.com.br – cada uma das 18 histórias mostradas ali reúne uma receita mágica, daquelas que fazem chorar.

Parabéns aos 18 finalistas. É assim que a gente muda o mundo.

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palavraPara mudar

Ser reconhecido. Foi o que mais ouvi dos professores finalistas do

Prêmio RBS de Educação em Santa Catarina quando falavam sobre o que representa a indicação para a final. Não que eles já não sejam reconhecidos nas escolas, mas como me explicavam, esta era uma maneira diferente de receber retorno pelo trabalho que faziam.

Talvez o prêmio seja a maneira mais explícita e de maior alcance para afirmar como esses projetos foram de extrema relevância no processo de aprendizagem. Ou como modificaram a realidade de uma localidade.

Buscar reconhecimento é natural em qualquer profissão, mas, para o educador, ele deveria vir todos os dias. Em salários melhores, com professores respeitados, valorizados pela sociedade.

Acompanhar as iniciativas finalistas foi perceber que não importa o contexto ou os recursos à disposição. Os trabalhos partiram muito mais do empenho de cada educador. Transformar o desinteressante em um universo atraente. Independente dos vencedores, todos são inspiradores.

DIÁRIO CATARINENSE, SEGUNDA-FEIRA, 2 DE DEZEMBRO DE 201312

Os monstrinhos coloriram ao longo

do ano a campanha A Educação Precisa

de Respostas

Inspiradores da