caderno c, jornal do commercio pe

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» ARTES VISUAIS A bandeira da fortuna Diana Moura [email protected] O artista plástico pernambucano Lou- rival Cuquinha está prestes a se tor- nar o primeiro brasileiro a criar uma obra de arte financeira. Mais que is- so, a peça será leiloada em Londres, hoje, tendo como leiloeiro convidado Hugh Ed- meades, que atua na famosa Christie’s. Quer mais? O trabalho, chamado Jack Pound Financial Art Project, reproduz uma bandeira da Inglaterra, e foi feito com dinheiro vivo, mais precisamente 122 notas de cinco libras e 39 de 10. Metade da grana foi patrocinada pelo próprio Cuquinha, outra metade por investidores que decidiram apostar no trabalho do ar- tista. O resultado dessa empreitada será co- nhecido hoje, às 11h (15h, na terra da Rainha Elizabeth II), quando acontece o evento. Se tudo correr bem, a bandeira po- de ser vendida por cinco vezes mais que o seu preço líquido (mil libras esterlinas, equivalente a R$ 2.636). O que à primeira vista parece apenas uma boa ideia para ganhar dinheiro fácil é, na verdade, resultado de um processo muito mais complicado de aceitação e ne- gação da coroa britânica. Cuquinha foi morar pela primeira vez em Londres como acompanhante de sua esposa, que havia ganho uma bolsa de mestrado. Lá, ele ti- nha a tarefa de organizar a vida dos filhos do casal (ele tem uma menina; ela, um menino, de relacionamentos anteriores) e ganhar algum dinheiro complementar. Não demorou a perceber que ser artista po- de até ser financeiramente ruim, mas tra- balhar é bem pior. Sem conseguir empla- car nenhuma ideia legal nas galerias in- glesas, começou a trabalhar num café. De- pois de seis meses de uma atividade cansa- tiva e entediante, pediu demissão e come- çou a acumular dívidas. Pouco tempo depois, Cuquinha leu no pouco qualificado tabloide The Sun que 80% dos ingleses não perceberiam se mil libras desaparecessem de suas contas. Ele, que não é inglês nem nada, ficou impres- sionado com o número e começou a pen- sar numa maneira de transformar a infor- mação em arte. Foi aí que veio a ideia de fazer a bandeira. Com 161 notas de li- bras, em cédulas de cinco e 10, ele cons- truiria uma bandeira de dinheiro, repli- cando a bandeira inglesa (branca com uma cruz de São Jorge vermelha no meio). O problema dessa história toda era apenas um: como juntar mil libras para fazer o trabalho. RIQUIXÁ Cheio de dívidas, Cuquinha gastava to- do o pouco dinheiro que ganhava. A situa- ção começou a melhorar um pouco quan- do ele começou a trabalhar num riquixá acoplado a uma bicicleta (do inglês, ri- ckshaw; do japonês djinrikxa: pequeno veí- culo movido com força humana para transporte de carga ou passageiro). Em ou- tras palavras, Cuquinha tinha uma “bici- cletáxi”. Pedalou meia Londres, mas ain- da assim estava difícil de juntar as mil li- bras, e ainda pagar quase mil por mês de aluguel e quitar as dívidas. Nesse ponto da história, a mulher do artista teve uma ideia ótima: comercializar cotas da bandei- ra. Cada notinha de libra como se fosse uma ação da obra de arte. Depois que o trabalho fosse vendido, cada investidor re- ceberia seu montante multiplicado pela va- lorização da peça. E assim foi. Construída com 505 libras de trabalho imigrante, mais 495 libras de investidores privados, chega a leilão, hoje, a primeira obra de arte financeira. “Essa peça toca em dois pontos muito importan- tes da cultura inglesa. O primeiro é a mão de obra imigrante. A Inglaterra não sobre- vive sem trabalhadores de outros países pa- ra fazer todas as atividades que os ingleses não querem fazer. O outro ponto é a espe- culação financeira. Os ingleses não produ- zem quase nada. É muito mais barato manter indústrias na China, na Índia ou no Brasil. Na Inglaterra, eles ficam ricos vendendo dinheiro. E são muito bons nis- so”, explica o artista. Hoje, quem vai fazer dinheiro com a venda de dinheiro é o pró- prio Cuquinha. Se ele for tão bom nisso quanto os ingleses, quem sabe também não fica rico? Fotos: Divulgação Artista plástico Lourival Cuquinha leva a leilão um pavilhão da Inglaterra feito com 161 cédulas de libras esterlinas O QUE VOCÊ FARIA COM MIL LIBRAS? Lourival Cuquinha tremulando a bandeira feita com mil libras, em dinheiro vivo, com cédulas de cinco e 10, diante do Big Ben em Londres. Ao lado, no alto, detalhe da costura da cédula. A ideia da obra surgiu justamente quando o artista pernambucano estava endividado e precisando de dinheiro, ao ler uma notícia no tabloide sensacionalista The Sun. Ele espera ganhar 50 vezes mais do que investiu

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Matéria sobre o projeto Jack Pound Financial Art

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[BR_JC_10: JC-CADERNOC-1_MATERIAL <1013_05_CDC_01> [JC1] ... 13/10/10] Author:AAGUIAR Date:13/10/10 Time:14:15

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» página 6

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» LA HISPANIDAD

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» Linkin Park fez pose elevou fãs às lágrimas noúltimo dia do SWU. » página 6

» ARTES VISUAIS

A bandeira da fortunaDiana [email protected]

O artista plástico pernambucano Lou-rival Cuquinha está prestes a se tor-nar o primeiro brasileiro a criar

uma obra de arte financeira. Mais que is-so, a peça será leiloada em Londres, hoje,tendo como leiloeiro convidado Hugh Ed-meades, que atua na famosa Christie’s.Quer mais? O trabalho, chamado JackPound Financial Art Project, reproduzuma bandeira da Inglaterra, e foi feitocom dinheiro vivo, mais precisamente 122notas de cinco libras e 39 de 10. Metadeda grana foi patrocinada pelo próprioCuquinha, outra metade por investidoresque decidiram apostar no trabalho do ar-tista. O resultado dessa empreitada será co-nhecido hoje, às 11h (15h, na terra daRainha Elizabeth II), quando acontece oevento. Se tudo correr bem, a bandeira po-de ser vendida por cinco vezes mais que oseu preço líquido (mil libras esterlinas,equivalente a R$ 2.636).

O que à primeira vista parece apenasuma boa ideia para ganhar dinheiro fácilé, na verdade, resultado de um processomuito mais complicado de aceitação e ne-gação da coroa britânica. Cuquinha foimorar pela primeira vez em Londres comoacompanhante de sua esposa, que haviaganho uma bolsa de mestrado. Lá, ele ti-nha a tarefa de organizar a vida dos filhosdo casal (ele tem uma menina; ela, ummenino, de relacionamentos anteriores) eganhar algum dinheiro complementar.Não demorou a perceber que ser artista po-de até ser financeiramente ruim, mas tra-balhar é bem pior. Sem conseguir empla-car nenhuma ideia legal nas galerias in-glesas, começou a trabalhar num café. De-pois de seis meses de uma atividade cansa-tiva e entediante, pediu demissão e come-çou a acumular dívidas.

Pouco tempo depois, Cuquinha leu nopouco qualificado tabloide The Sun que80% dos ingleses não perceberiam se millibras desaparecessem de suas contas. Ele,que não é inglês nem nada, ficou impres-sionado com o número e começou a pen-sar numa maneira de transformar a infor-

mação em arte. Foi aí que veio a ideia defazer a bandeira. Com 161 notas de li-bras, em cédulas de cinco e 10, ele cons-truiria uma bandeira de dinheiro, repli-cando a bandeira inglesa (branca comuma cruz de São Jorge vermelha nomeio). O problema dessa história toda eraapenas um: como juntar mil libras parafazer o trabalho.

RIQUIXÁCheio de dívidas, Cuquinha gastava to-

do o pouco dinheiro que ganhava. A situa-ção começou a melhorar um pouco quan-do ele começou a trabalhar num riquixáacoplado a uma bicicleta (do inglês, ri-ckshaw; do japonês djinrikxa: pequeno veí-culo movido com força humana paratransporte de carga ou passageiro). Em ou-tras palavras, Cuquinha tinha uma “bici-cletáxi”. Pedalou meia Londres, mas ain-da assim estava difícil de juntar as mil li-bras, e ainda pagar quase mil por mês dealuguel e quitar as dívidas. Nesse ponto dahistória, a mulher do artista teve umaideia ótima: comercializar cotas da bandei-ra. Cada notinha de libra como se fosseuma ação da obra de arte. Depois que otrabalho fosse vendido, cada investidor re-ceberia seu montante multiplicado pela va-lorização da peça.

E assim foi. Construída com 505 librasde trabalho imigrante, mais 495 libras deinvestidores privados, chega a leilão, hoje,a primeira obra de arte financeira. “Essapeça toca em dois pontos muito importan-tes da cultura inglesa. O primeiro é a mãode obra imigrante. A Inglaterra não sobre-vive sem trabalhadores de outros países pa-ra fazer todas as atividades que os inglesesnão querem fazer. O outro ponto é a espe-culação financeira. Os ingleses não produ-zem quase nada. É muito mais baratomanter indústrias na China, na Índia ouno Brasil. Na Inglaterra, eles ficam ricosvendendo dinheiro. E são muito bons nis-so”, explica o artista. Hoje, quem vai fazerdinheiro com a venda de dinheiro é o pró-prio Cuquinha. Se ele for tão bom nissoquanto os ingleses, quem sabe tambémnão fica rico?

caderno C

Festival de cultura espanhola invade o RecifeO recital da pianista espanhola Cristi-

na Lucio-Villegas, que será realiza-do nesta quarta-feira, às 20h, no

Teatro de Santa Isabel (Praça da Repúbli-ca, s/n, Centro. Fone: 3355-3323), marca oinício da Semana de La Hispanid, promovi-do pelo Instituto Cervantes do Recife. Cincopalestras, exibição de filmes, espetáculos dedança e mostra gastronômica também fa-rão parte da programação cultural.

Cristina é mestre em piano pela Acade-mia Sibelius, de Helsinki (Finlâdia), consi-derada um dos maiores conservatórios eu-ropeus. Ela atuou como solista na Real Or-questra Sinfônica de Sevilha, na Sinfônicada Província de Bari (Itália) e na Jovem Or-questra Nacional da Espanha.

A especialista em cultura mexicana Kar-la Simone Marchant fará a primeira deuma série de cinco palestras, a serem profe-ridas no Instituto Cervantes (Avenida Aga-menon Magalhães, 4535, Pista Lateral. Fo-ne: 3334-0450), na quinta-feira, a partirdas 15h. Intitulada no A morte México –Sacrifícios dos Astecas e dos Maias até acelebração, a sua palestra vai se dedicar

ao Dia dos Mortos, data recebida com ale-gria pelos povos pré-hispânicos pois, segun-do suas tradições, nesta data os mortos visi-tam os seus parentes.

Os temas das outras palestras serão: Vo-zes afroargentinas; Multiculturalismo e aConstituição na Colômbia: o bicentená-rio em sua maior expressão; A magia daBolívia no Carnaval de Oruro; e Cosmovi-são Andina.

Outro destaque da programação culturalserá o filme Luna Caliente, de 2009. Ele se-rá exibido na sexta-feira, às 19h, no Cine-ma da Fundação (Rua Henrique Dias, 609,Derby. Fone: 3073-6688), e contará com apresença do diretor Vicente Aranda. O filmeé, segundo o seu diretor, uma metáforaacerca da violação sofrida pela Espanha du-rante a ditadura.

No sábado, às 16h, no Instituto Cervan-tes, haverá degustação da gastronomia es-panhola, apresentação do coro e violão doConservatório Pernambucano de Música emostra de dança flamenca, com música aovivo. As atividades serão gratuitas e abertasao público.

Cícero Belmarparticipa deJornada Literária

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Artista plástico Lourival Cuquinha leva a leilão um pavilhão da Inglaterra feito com 161 cédulas de libras esterlinas

editor Marcelo Pereira [email protected] Flávia de Gusmão [email protected]

Diana Moura [email protected] conosco (81) 3413-6180

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O QUE VOCÊ FARIA COM MIL LIBRAS? Lourival Cuquinha tremulandoa bandeira feita com mil libras, em dinheiro vivo, com cédulas de cinco e 10,diante do Big Ben em Londres. Ao lado, no alto, detalhe da costura da cédula. Aideia da obra surgiu justamente quando o artista pernambucano estavaendividado e precisando de dinheiro, ao ler uma notícia no tabloidesensacionalista The Sun. Ele espera ganhar 50 vezes mais do que investiu

RECITAL INAUGURALA pianista Cristina Lucio-Villegas, que

já atuou em várias orquestraseuropeias, fará apresentação no

Teatro de Santa Isabel promovidapelo Instituto Cervantes do Recife