cadeia global de valor - abri

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS 3° SEMINÁRIO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS ÁREA TEMÁTICA: ECONOMIA POLÍTICA INTERNACIONAL PAINEL: A INSERÇÃO DO BRASIL EM CADEIAS GLOBAIS DE VALOR (CGVS): PERSPECTIVAS E DESAFIOS A INSERÇÃO DO BRASIL NAS CADEIAS GLOBAIS DE VALOR: O CASO DA INDÚSTRIA DE CACAU E CHOCOLATE JOSÉ LUIZ PIMENTA JUNIOR ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING - ESPM FLORIANOPOLIS 2016

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Page 1: Cadeia Global de Valor - ABRI

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

3° SEMINÁRIO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

ÁREA TEMÁTICA: ECONOMIA POLÍTICA INTERNACIONAL

PAINEL: A INSERÇÃO DO BRASIL EM CADEIAS GLOBAIS DE VALOR

(CGVS): PERSPECTIVAS E DESAFIOS

A INSERÇÃO DO BRASIL NAS CADEIAS GLOBAIS DE VALOR: O CASO DA

INDÚSTRIA DE CACAU E CHOCOLATE

JOSÉ LUIZ PIMENTA JUNIOR ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING - ESPM

FLORIANOPOLIS 2016

Page 2: Cadeia Global de Valor - ABRI

A INSERÇÃO DO BRASIL NAS CADEIAS GLOBAIS DE VALOR: O CASO DA

INDÚSTRIA DE CACAU E CHOCOLATE

Resumo

A segunda metade do século XX foi uma época caracterizada pelo aumento da complexidade nas relações interestatais derivada, principalmente, do crescente fluxo do comércio e investimento internacional. Tal complexidade, resultado do aumento da fragmentação produtiva em escala global, elevou o nível de interdependência econômica entre as nações e possibilitou a diversas empresas transnacionais um papel preponderante na produção e comercialização de bens e serviços. Essa dinâmica fez com que empresas passassem a alocar seus recursos de forma estratégica, buscando incrementar sua produtividade e diminuir seus custos de transação, atuando, recorrentemente ao lado de Estados, como indutores do processo de formação e consolidação das redes internacionais de produção, também chamadas de Cadeias Globais de Valor (CGVs). Diante desse cenário, e partindo da perspectiva de um país com baixo nível de industrialização como o Brasil, a participação nas CGVs depende de uma análise criteriosa de setores que podem ter algum tipo de benefício com esse processo. O presente trabalho, nesse sentido, visa mapear a difusão das redes internacionais de produção do cacau e chocolate, tendo como base a o mapeamento de sua Cadeia Global de Valor (GEREFFI; FERNANDEZ-STARK, 2012). Dessa forma, procurar-se-á analisar os fluxos recentes de comércio e investimento relativos ao setor, sistematizando-os de acordo com os seguintes eixos de análise: (i) estrutura input/output; (ii) escopo geográfico; (iii) governança e, por fim, (iv) contexto institucional.

Palavras-chave: Cadeias Globais de Valor; Cacau e Chocolate;

Page 3: Cadeia Global de Valor - ABRI

Introdução

A segunda metade do século XX foi uma época caracterizada pelo aumento da

complexidade nas relações interestatais derivada, principalmente, do crescente fluxo

do comércio e investimento internacional. Tal complexidade, resultado do aumento

da fragmentação produtiva em escala global, elevou o nível de interdependência

econômica entre as nações e possibilitou a diversas empresas transnacionais um

papel preponderante na produção e comercialização de bens e serviços

(ESTERVADEORDAL; BLYDE; SUOMINEN, 2013).

Dessa forma, empresas passaram a alocar seus recursos de forma estratégica,

buscando incrementar sua produtividade e diminuir seus custos de transação,

atuando, recorrentemente ao lado de Estados, como indutores do processo de

formação e consolidação das redes internacionais de produção, também chamadas de

Cadeias Globais de Valor (CGV) (OECD, 2013; WEF, 2012; FGI, NTU, WTO, 2013).

A literatura especializada identifica diferentes perspectivas relacionadas ao

processo de internacionalização das redes de produção e criação fragmentada de

valor, que podem ser divididas em duas grandes correntes: (i) econômica, que

identifica esse processo como fruto de uma decisão racional-utilitária, em que a

escolha para a alocação de recursos produtivos obedeceria a critérios estritamente

econômicos (como, por exemplo, a Teoria do poder de mercado, Teoria da

internalização e Paradigma eclético da produção); e (ii) comportamental, em que a

dinâmica de internacionalização derivaria de uma série de eventos, atitudes e

percepções que, gradualmente, reduziriam o risco percebido de atuação

transfronteiriça e aumentaria o comprometimento de recursos na arena

internacional (como, por exemplo, o Modelo de Uppsala, a Teoria de Networks e

Empreendedorismo Internacional) (CARNEIRO; DIB, 2007). Alguns autores ainda

chamam a atenção para a ocorrência de uma terceira corrente, (iii) estratégica, em

que o principal componente do processo de internacionalização estaria na estratégia

adotada pela empresa, sobretudo em relação a uma concorrência já estabelecida

(como, por exemplo, a abordagem Resource-Based View) (ROCHA; ALMEIDA; 2006).

Page 4: Cadeia Global de Valor - ABRI

Apesar de as três correntes possuírem pontos de complementaridades e

interseções importantes, este trabalho procura abordar elementos presentes na

perspectiva econômica de internacionalização produtiva, sobretudo aqueles que

visam correlacionar estratégia empresarial de inserção internacional a políticas

públicas voltadas à atração de investimento e incremento produtivo.

Nesse sentido, o Paradigma Eclético da Produção afirma que há

essencialmente três grupos de vantagens com influência direta no processo de

deslocamento e fragmentação do processo produtivo da empresa: (i) vantagens de

propriedade, tais como patentes ou marcas, monopólios comerciais, produção em

escala, desenvolvidos pela própria empresa ou adquiridos de outras; (ii) vantagens

de internalização, em que se torna mais conveniente para a empresa transferir

ativos por intermédio das fronteiras nacionais, utilizando sua própria estrutura, do

que contratar agentes econômicos em mercados externos; e (iii) vantagens de

localização, relativas ao mercado que recebe o investimento. Nesse tipo de

vantagem, o papel do governo na atração do investimento tem extrema relevância,

lançando mão de subsídios de diversas naturezas a fim de gozar de benefícios diretos

e indiretos do incremento do parque produtivo nacional. De maneira geral, o

Paradigma eclético de Produção considera que as empresas multinacionais (MNCs)

possuem vantagens competitivas ou de propriedade vis-à-vis seus principais rivais,

que elas utilizam para estabelecer produção em locais que são atrativos devido às

suas vantagens de localização (DUNNING, 1980; ROCHA; ALMEIDA, 2006).

Enterprises will engage in foreign production whenever they perceive it is in their best interests to combine spatially transferable intermediate products produced in the home country, with at least some immobile factor endowments or other intermediate products in another country. […] the decision on where to site a mine, factory or office, is not independent of the ownership of these assets nor of the route by which they or their rights are transacted. […] At the same time a reduction in transport costs and the formation of customs unions or regional trading blocs (e.g., EEC and LAFTA) have prompted greater regional specialization of production by MNEs. (DUNNING, 1988: 4).

O incremento do fluxo de comércio e investimento, nas últimas décadas,

tornou necessário o aperfeiçoamento da análise da relação entre fragmentação

Page 5: Cadeia Global de Valor - ABRI

produtiva, trocas comerciais e estratégias de investimento em escala global. Dessa

forma, diversos esforços passaram a ser realizados no intuito de mapear os padrões,

variáveis e dinâmicas inerentes a esses três processos. A necessidade de analisar o

fenômeno das CGV de maneira integrada tornou ainda mais tênue a fronteira entre

processo produtivo, regulação comercial e fluxo de investimentos em nível

internacional.

Nesse sentido, Gereffi chama a atenção para o fato de que a criação de um

modelo de estudo específico desse fenômeno fez com que tanto empresas quanto

países passassem a analisar os padrões globais de produção de maneira integrada.

Isso possibilitou que cada um incorporasse o mapeamento da disposição global de

recursos naturais, a dinâmica de mercado e os interesses econômicos em suas

estratégias de internacionalização, no caso das empresas, e de atração de

investimento e desenvolvimento de uma política comercial, no caso dos países

(GEREFFI; FERNANDEZ-STARK, 2011).

The evolution of global-scale industrial organization affects not only the fortunes of firms and the structure of industries, but also how and why countries advance – or fail to advance – in the global economy. Global value chain research and policy work examine the different ways in which global production and distribution systems are integrated, and the possibilities for firms in developing countries

to enhance their position in global markets (GEREFFI; HUMPHFREY; STURGEON, 2005: 79).

Os ganhos da abordagem proposta por Gereffi e outros pesquisadores

estariam justamente na possibilidade de entender a relação mútua entre a

organização industrial transnacional e o fluxo comercial e de investimentos em escala

global, sobretudo pela ótica da agregação de valor ao produto a ser exportado. Os

networks inter-firmas e intrafirmas bem como as estratégias nacionais de

desenvolvimento econômico teriam uma relação direta com cinco dimensões

analíticas: (i) estrutura input-output de produção; (ii) escopo geográfico; (iii)

estrutura de governança; (iv) contexto institucional e (v) upgrading na cadeia de

valor.

Page 6: Cadeia Global de Valor - ABRI

Tabela 1 – Dimensões básicas da metodologia de Análise da CGV Fonte: (GEREFFI; FERNANDEZ-STARK, 2011). Elaboração do autor.

A análise sistemática dos dados de comércio passou a ter importância

fundamental na definição da estratégia de atuação dos países e das empresas nas

CGVs. De acordo com a Organização Mundial de Comércio (OMC), cerca de 60% das

exportações, em 2011, foram de bens intermediários1. Segundo a Organização das

Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) “Trends in intermediate

goods trade are indicative of GVC formation because fragmented production processes

require that parts, components, and partially manufactured subassemblies cross

borders—sometimes more than once—before final goods are produced and shipped to

final markets” (UNIDO, 2011).

1 Informação disponível para consulta em WTO Highliths - Trade in global value chains statistics. A

importância de uma melhor compreensão dos dados por meio do mapeamento do fluxo de bens finais e

intermediários pode evitar distorções nas análises e, consequentemente, erros nas estratégias comerciais.

Segundo o relatório “Today, companies divide their operations across the world, from the design of the

product and manufacturing of components to assembly and marketing, creating international production

network or global value chains. Attributing the full commercial value to the last country of origin can lead

to distorted statistics. Measuring trade in value-added terms seeks to address this distortion.”

Disponível em: <http://www.wto.org/english/res_e/statis_e/its2013_e/its13_highlights4_e.pdf> Acesso em

12/10/2015.

Estrutura

Input-OutputEscopo Geográfico Estrutura de Governança Contexto Institucional

Upgrading na

cadeia de valor

Identificação das

principais

atividades e segmentos

em uma cadeia de valor.

Geralmente, as etapas de

mapeamento dividem-se

em:

I)Insumos;

II)Produção;

III) Armazenamento;

IV)Processamento;

V) Distribuição e

Marketing

As dispersão global das cadeias

de suprimento fez com que

empresas de um mesmo setor

operassem em diferentes

escalas geográficas (local,

nacional, regional e global).

A análise geográfica busca

identificar, principalmente, as

empresas líderes de cada

segmento da cadeia de valor. A

presença de um número de

empresas líderes em difrentes

países indicaria o nível da

posição do país na cadeia.

A análise da estrutura de

governança permite entender

como uma cadeia é controlada e

coordenada num ambiente de

assimetria econômica.

O conhecimento da governança

e do controle de uma cadeia de

fornecimento facilitaria a

entrada e o desenvolvimento da

firma em uma indústria global.

Os tipos de governança são:

Mercado; Modular; Relacional;

Cativa e Hierárquica

O contexto institucional

identifica como as condições

política locais, nacionais e

internacionais moldam a

globalização em cada estágio da

cadeia de valor.

As ondições locais a serem

estudadas envolvem o contexto

institucional, as condições

econômicas e o contexto social.

Em termos gerais, essa dimensão

de análise requer o exame de

vários stakeholdes públicos e

privados envolvidos na cadeia de

valor.

Essa análise implica na

correlação de duas dinâmicas

bottom-up (estratégia país) e

top-down (estratégia empresa)

em face a uma cadeia

produtiva.

A identificação do upgrading

econômico mostraria como

empresas, países e regiões

buscam incorporar atividades

de maior valor agregado, no

âmbito das CGVs, no intuito de

aumentar os benefícios

(segurança, lucro, valor

adicionado, capacidades) de

participar na produção global.

Page 7: Cadeia Global de Valor - ABRI

Figura 1 – Representação simplificada de uma Cadeia Global de Valor (CGV) Fonte: OECD, 2013

Em um esforço para mensurar o fenômeno das CGVs, a Organização para a

Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em conjunto com a OMC, lançou

uma importante iniciativa no sentido de identificar a posição de cada país em termos

de agregação de valor em diferentes cadeias globais de produção (Trade in Value

Added – TiVA). Em linhas gerais, a base de dados estima as quantias de valor

adicionado na produção de bens e serviços voltados para exportação e, com isso,

busca mapear o fluxo intermediário de bens e serviços na composição final de uma

mercadoria, indicando o nível de participação de um país nesse processo2.

A figura 2, abaixo, mostra o nível de insumos utilizados nas exportações de

países selecionados, bem como o nível de exportações intermediárias desses países

que foram incorporadas às exportações de terceiros países, durante o ano de 2009.

Como se pode perceber, o Brasil possui um baixo percentual de insumos importados

em suas exportações e, da mesma forma, contribui significativamente com a

exportação de bens intermediários que receberão algum tipo de agregação de valor

em terceiros países, de onde serão, finalmente, exportados. Esse panorama reflete a

composição da cesta de exportações brasileira, que será explorada mais a frente.

2 Para mais informações, consultar o sítio: Measuring Trade in Value Added: An OECD-WTO joint initiative.

Disponível em: < http://www.oecd.org/industry/ind/measuringtradeinvalue-addedanoecd-

wtojointinitiative.htm> Acesso em: 12/10/2014.

Page 8: Cadeia Global de Valor - ABRI

Figura 2 – Participação nas CGVs – 1995 e 2009 Fonte: OECD, WTO, UNCTAD, 2013.

A fragmentação produtiva também impactou sobremaneira o mundo da

regulação comercial. Diversas esferas nacionais foram influenciadas pelas estratégias

empresariais de alocação de recursos em nível internacional, dentre as quais se

destacam: negociações de acordos comerciais, políticas de promoção de

investimentos, medidas de defesa comercial (antidumping, salvaguardas e medidas

compensatórias), regulação de propriedade intelectual, acesso ao mercado de

serviços, medidas regulatórias técnicas, sanitárias e fitossanitárias, entre outras. Esse

processo gerou a necessidade de redefinição do objeto de análise (Comércio

Internacional), de modo a identificar as especificidades setoriais e regulatórias nas

esferas multilateral, regional e nacional.

É cada vez mais difícil separar atividades econômicas ligadas à produção de bens das relativas à prestação de serviços. Mais ainda, a expansão das atividades econômicas depende não só da interação dos diferentes atores internacionais, como está sujeita a uma série de políticas que refletem determinantes de ordem econômica, que são mais amplos que os ligados ao puro comércio, mas essenciais a sua execução, como regras internacionais e nacionais sobre investimentos, concorrência, direitos sobre a propriedade

Page 9: Cadeia Global de Valor - ABRI

intelectual, preocupações sobre o meio ambiente e mudança climática, bem como direitos trabalhistas e direitos humanos. Esta é a visão global da governança do comércio internacional, que está redefinido como comércio global. (THORSTENSEN, 2011).

Como se pode perceber, a fragmentação produtiva em escala global, aliada à

reconfiguração mundial do fluxo de comércio e investimentos passaram a impactar

diretamente estratégia de desenvolvimento e participação dos países nas redes

globais de produção. Diante desse cenário, e partindo da perspectiva de um país com

baixo nível de industrialização como o Brasil, a participação nas CGVs depende de

uma análise criteriosa de setores que podem ter algum tipo de benefício com esse

processo.

O presente trabalho, nesse sentido, visa mapear a difusão das redes

internacionais de produção do cacau e chocolate, tendo como base a o mapeamento

de sua Cadeia Global de Valor (GEREFFI; FERNANDEZ-STARK, 2011). Dessa forma,

procurar-se-á analisar os fluxos recentes de comércio e investimento relativos ao

setor, sistematizando-os de acordo com os seguintes eixos de análise: (i) estrutura

input/output; (ii) escopo geográfico; (iii) governança e, por fim, (iv) contexto

institucional.

Page 10: Cadeia Global de Valor - ABRI

Mapeamento da Cadeia Global de Valor de Cacau e Chocolate3

Conforme exposto anteriormente, a análise da CGV de um setor da economia

engloba todas as atividades efetuadas pelas empresas que têm como objetivo o

estabelecimento de um um serviço e/ou produto final (GEREFFI e FERNANDEZ-

STARK, 2011).

A escolha do chocolate como principal tema do trabalho está relacionada ao

fato de o produto ser consumido por grande parte da população mundial, já que cerca

de 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo consomem algum tipo de chocolate

diariamente (KPMG, 2014). Além disso, desde 2008 o crescimento médio anual da

demanda do chocolate é de aproximadamente 3% (WORLD COCOA FOUNDATION -

WCF, 2014). Estima-se que, em 2021, as vendas atinjam a marca de 7,7 milhões de

toneladas, ou seja, US$ 112 bilhões (EUROMONITOR, 2016).

O principal fator impulsionador desse processo é o crescimento do consumo

em mercados emergentes e superpopulosos, como os BRICS, uma vez que os

mercados dos Estados Unidos e Europa são caracterizados como extremamente

maduros (KPMG, 2014; WORLD COCOA FOUNDATION, 2014).

O Brasil é o 6o maior cultivador de cacau, 8o maior processador de sementes

do fruto e ocupa o 47o lugar no ranking mundial de consumo per capita, o que equivale

a menos de 1kg de chocolate consumido por habitante em 2015 (EUROMONITOR,

2016).

Com o objetivo de aprofundar as etapas da Cadeia Global de Valor do cacau e

chocolate e destacar os elos que lhes adicionam maior valor, este trabalho tem como

base a abordagem de análise proposta por GEREFFI; FERNANDEZ-STARK, 2011,

segmentada em quatro grandes eixos: (i) Estrutura input-output; (ii) Escopo

Geográfico; (iii) Governança; (iv) Contexto Institucional.

3 A análise da Cadeia Global de Valor do Cacau e Chocolate aqui exposta é fruto de um trabalho conjunto

de discentes do curso de Relações Internacionais da ESPM, no âmbito do Projeto de Graduação Internacional

(PGI) da faculdade. Dessa forma, agradeço em especial às alunas Beatriz Zangari Carlini Benegas; Carolina

Fernandes Camargo; Flávia Carolina Alves da Silva e Julia Triandafelides Alves Rodrigues, as quais tive a

honra de orientar, por todo empenho e dedicação ao longo da execução deste projeto.

Page 11: Cadeia Global de Valor - ABRI

1.Estrutura input-output

Figura 3 – Mapeamento da Cadeia Global de Valor do Cacau e Chocolate Fonte: Autoria Própria com base em GEREFFI; FERNADEZ-STARK,2012; ABICAB, OMC, FAO, ECA, CAA, ANECACAO, CEPLAC, CHOCOSSUISSE.

Page 12: Cadeia Global de Valor - ABRI

A estrutura input-output envolve o fluxo de bens e serviços de uma cadeia,

desde sua concepção inicial até as mãos do consumidor. Ela é representada por um

conjunto de elementos interligados e tem como objetivo mapear o valor agregado em

diferentes elos da cadeia (FERNANDEZ-STARK; GEREFFI, 2011). Partindo desse

conceito, a Figura 3, acima, ilustra de forma objetiva cada etapa da Cadeia Global de

Valor do cacau e do chocolate.

A estrutura input-output do cacau e do chocolate pode ser agrupada em cinco

grandes elos, sendo eles o (i e ii) cultivo e processamento do cacau; (iii)

industrialização e produção do chocolate; (iv) comercialização do produto final e, por

fim, (v) a logística reversa do chocolate. É importante notar que o chocolate e suas

principais características, como qualidade, sabor, aroma e procedência começam a

ser desenvolvidas e elaboradas desde o início de sua cadeia produtiva, nas fazendas

de cacau (FONTES, 2013).

1.1 Cultivo do Cacaueiro e Sementes de Cacau

O primeiro grande elo da CGV do cacau e chocolate engloba todos os inputs e

fatores externos que, direta ou indiretamente, influenciam o cultivo do fruto, além de

agrupar sua colheita e seleção, seguida pela fermentação, secagem e distribuição do

cacau.

O cultivo do fruto é realizado majoritariamente em pequenas fazendas de

família e, por esse motivo, consiste numa atividade com baixo emprego de tecnologia

avançada e máquinas especiais. Porém, em termos de qualidade do produto final, o

know-how empregado nas fazendas de cacau é essencial para a agregação de valor ao

produto, pois, quanto mais apurada e minuciosa for a técnica de manuseio,

englobando cultivo dos cacaueiros (influenciado por fatores externos e internos) e

manejo pós colheita (seleção do fruto), maior o potencial de produção de chocolate

de qualidade (FONTES, 2013).

Como citado anteriormente, o cultivo do cacau é impactado por fatores

internos e externos. Em relação aos fatores internos, destacam-se a nutrição realizada

com fertilizantes, adubação com uso de elementos como cal e esterco, arborização por

Page 13: Cadeia Global de Valor - ABRI

meio do plantio de árvores ao redor das mudas, controle de pragas e doenças com o

uso de agroquímicos, e tratos culturais como poda e eliminação de ramos ladrões.

Dentre os fatores externos, encontram-se o solo, clima, região, época de plantio e

colheita, espaçamentos das mudas e erosão do solo (MERCADO DO CACAU, 2016).

Ademais, outros elementos relacionados ao processo produtivo influenciam e

adicionam valor ao elo e ao produto final, uma vez que impactam tanto a qualidade

do chocolate, como também o possível reconhecimento da marca. Nesse sentido,

destacam-se os fatores ambientais (consumo de água e preservação do meio

ambiente) e sociais (respeito aos direitos humanos e selos de qualidade) (FONTES,

2013).

O cacau é o input chave dessa cadeia e seu modo de cultivo e seleção são

fundamentais para determinar a qualidade do futuro chocolate. São encontradas três

tipos de sementes de cacau: o Forastero, que corresponde aproximadamente a 80%

da produção mundial de grãos; o Criollo, também conhecido por Fine Cocoa devido ao

seu aroma e gosto. Este, por sua vez, é o tipo mais raro devido à dificuldade de cultivo,

plantio e por ser muito sensível a doenças, sendo responsável por apenas 5% do

cultivo mundial. Por último, encontra-se o Trinitário, um cruzamento entre os

espécimes Criollo e Forastero, e correspondente a 15% da produção mundial

(MERCADO DO CACAU, 2016).

De acordo com a International Cocoa Organiation (ICCO), o mercado cacaueiro

é subdividido entre “amêndoas de cacau fino” e “amêndoas a granel ou de cacau

comum”. As amêndoas de cacau fino são aquelas que advêm dos Criollos e Trinitários,

enquanto as amêndoas de cacau comum relacionam-se ao Forastero (FONTES, 2013).

Após o cultivo dos cacaueiros, os fazendeiros realizam a colheita e seleção dos

frutos e sementes. De modo geral, sem considerar alterações climáticas advindas das

diferentes regiões de cultivo, a colheita do fruto pode ser realizada durante o ano

todo, entre o 2o e 4o ano de cultivo. Após o 5o ano, todavia, existem períodos especiais

de colheita, como a safra de novembro a fevereiro e o temporão de abril a agosto

(MERCADO DO CACAU, 2016). Após ambos os processos, as sementes estão prontas

para a próxima etapa dentro do elo do cultivo, a fermentação.

Page 14: Cadeia Global de Valor - ABRI

A fermentação correta das sementes é essencial para criar um aroma

adequado e prevenir o desenvolvimento de microrganismos indesejados (MARS,

2011). O aroma do cacau é o fator determinante para a qualidade do fruto, sendo

considerado cacau fino ou “de qualidade” aquele que tem o aroma mais apurado

(FONTES, 2013). Além disso, a principal diferença entre o cacau comum e o cacau fino

está na seleção dos frutos e manuseio de suas amêndoas (FONTES, 2013).

As sementes de cacau fermentam, em média, de quatro a sete dias, conforme a

variedade e a região. Dentro desse período, as sementes do fruto passam por três

tipos de fermentação, sendo elas a anaeróbica (sem oxigênio), láctica curta e acética.

A fermentação anaeróbica transforma a polpa do fruto em ácido acético ou láctico e

permite que ocorram os demais tipos de fermentação. Na fermentação láctica curta e

na fermentação acética, os componentes sofrem uma série de reações bioquímicas,

que resultam na formação dos precursores dos aromas (MARS, 2011).

Logo após a fermentação, as sementes devem ser secas. No processo de

secagem, as sementes ficam em barcaças e expostas ao sol ou em fornos especiais por

aproximadamente oito dias, até que a umidade se reduza até 7 a 8%. O objetivo desse

processo é evitar o desenvolvimento de fungos e bactérias que prejudicam o sabor do

produto final (MARS, 2011).

Uma vez secas, as sementes estão prontas para serem ensacadas e

encaminhadas aos centros de distribuição, onde recebem auxílio de Tradings que,

neste caso, têm como principal função a armazenagem e distribuição do produto aos

devidos locais de processamento de cacau (AMIN; PENA, 2013).

1.2 Processamento do Cacau

O elo relativo ao processamento de cacau segmenta-se em quebra e

descascagem, torrefação, moagem e prensagem da semente de cacau. Este elo

adiciona alto valor à CGV e requer alto nível de investimento, uma vez que exige

elevado grau de pesquisa e desenvolvimento, know-how e máquinas específicas com

tecnologia avançada, que auxiliam também no valor adicionado a semente do cacau

e, consequentemente, no produto final (FONTES, 2013).

Page 15: Cadeia Global de Valor - ABRI

O investimento em P&D está relacionado principalmente a atividades ligadas

à biotecnologia, em que se realiza o mapeamento genético do cacau, a fim de

identificar possíveis pragas e doenças, e estudar maneiras de combatê-las (UNITED

STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE – USDA, 2013).

A primeira etapa do processamento consiste na quebra das amêndoas secas

para remoção da casca. Em seguida, acontece a torrefação, fundamental para a

obtenção das características de qualidade do cacau, tanto em relação ao sabor quanto

à microbiologia. Nessa etapa, as amêndoas passam pelo processo de torra e, sob

aquecimento, ocorre a eliminação da umidade contribuindo para o desenvolvimento

da cor e sabor (MARS, 2011).

Quando já descascadas e torradas, as amêndoas são moídas. Como a amêndoa

apresenta teor de gordura superior a 50%, o produto resultante da moagem é uma

massa pastosa de partícula fina conhecida como massa ou líquor de cacau

(BRAGANTE, 2010). Essa massa pode ser utilizada diretamente na fabricação de

chocolate (pasta de cacau), ou na fabricação de pó e manteiga de cacau, por meio do

sistema de prensagem hidráulica (MARS, 2011).

Este sistema de prensagem encerra o processamento do cacau, apresentando

como resultado a manteiga e a torta de cacau, que após ser pulverizada é

transformada em cacau em pó. Este é, na maioria das vezes, direcionado para a

fabricação de achocolatados e biscoitos (MARS, 2011). Por outro lado, a manteiga de

cacau é utilizada no processo de fabricação de chocolate. O chocolate hidrogenado,

por exemplo, devido seu alto teor de manteiga de cacau, torna-se apropriado para

coberturas, bombons e decorações (MARTINS, 2007).

Ao final deste delo, os produtos resultantes, sejam eles a massa, o pó e a

manteiga de cacau, são armazenados e distribuídos em veículos climatizados para o

elo seguinte, industrialização e produção do chocolate, que dará origem ao produto

final da CGV. Este processo ocorre de maneira just-in-time, ou seja, somente no

momento de início da produção do chocolate e é realizado pelas Tradings, assim como

no elo de cultivo do cacau (WORLD COCOA FOUNDATION - WCF, 2014).

Page 16: Cadeia Global de Valor - ABRI

1.3 Industrialização e Produção do chocolate

O elo da industrialização e produção do chocolate caracteriza-se pela

transformação efetiva da matéria prima em chocolate e, por este motivo, tem grande

impacto na CGV do setor como todo. Além disso, visando adquirir vantagem

competitiva e ingressar em novos mercados, as empresas devem ter elevada

capacidade de inovação, atrelada à diferenciação e criação de novos produtos, o que

demanda altos investimentos (FONTES, 2013).

A industrialização e produção do chocolate é dividida em seis etapas: mistura,

refino, conchagem, temperagem, moldagem e resfriamento, e embalagem. Ademais, é

nessa etapa que o fabricante determina o tipo de chocolate a ser produzido, em função

da adição e proporção dos ingredientes (MARS, 2011).

O chocolate ao leite é composto por manteiga de cacau, massa de cacau, açúcar

e leite em pó. Eliminando a massa de cacau da mistura, cria-se o chocolate branco. Já

o chocolate amargo é feito apenas com massa e manteiga de cacau, destacando assim

o sabor amargo e a cor escura (BRAGANTE, 2010).

Existem também chocolates que são destinados a pessoas com algum tipo de

intolerância e perfis alergênicos, como por exemplo, o chocolate sem glúten e o sem

lactose. Estes tipos de chocolate exigem uma fabricação especial, que requer mais

cuidado e atenção na separação dos recipientes e processos. O cacau em si não possui

nem glúten nem lactose, mas se for alocado em um recipiente onde essas substâncias

já estiveram presentes, ele consequentemente as absorve.

O chocolate diet, por exemplo, é recomendado apenas para pessoas diabéticas,

pois apesar de não apresentar açúcar em sua composição, possui grandes

quantidades de gordura e é muito calórico (LANNES; RICHTER; 2007). Além destes

tipos de chocolate, também existem os que são fabricados a partir do leite de soja, que

além de não possuírem lactose em sua composição, são extremamente benéficos à

saúde devido à abundância de proteína presente na semente (ASSOCIAÇÃO

BRASILEIRA DE NUTROLOGIA - ABRAN, 2012).

Retornando ao processo, a pasta é direcionada para os cilindros de refinação

onde, sob pressão, os cristais de açúcar da mistura são triturados e quebrados em

Page 17: Cadeia Global de Valor - ABRI

pequenas partículas. O refino determina a qualidade final do chocolate, com

consistência macia e cremosa (BRAGANTE, 2010).

Após ser refinada, a massa de chocolate passa para a etapa de conchagem. A

concha é um grande misturador com aquecimento que mantém a massa em

movimento, reduzindo a acidez e umidade, além de contribuir para desenvolvimento

do sabor do chocolate. O produto resultante desse processo é uma massa líquida e

cremosa, com brilho, aroma e sabor característicos do chocolate. Por meio da troca

térmica, a temperagem, é possível favorecer a cristalização da massa de cacau. Essa

etapa é essencial para promover a estabilidade do chocolate, garantindo brilho e

resistência ao produto final (MARS, 2011).

Ainda em estado líquido, o chocolate está pronto para ser direcionado à

moldagem e resfriamento. Para a produção de tabletes, o chocolate é distribuído em

moldes, resfriado/cristalizado, desmoldado e embalado (MARS, 2011).

Para finalizar o elo de processamento do chocolate, além das diversas

máquinas utilizadas durante o processo produtivo, como máquinas de mistura,

refino, conchagem e temperagem, também existem as máquinas responsáveis pela

embalagem do produto final. Além de dinamizar e melhorar o processo de fabricação

do chocolate, a adoção dessas máquinas deixa o produto final mais atrativo para os

consumidores, pois permitem que o corte, a aparência e o aspecto tornem-se mais

agradáveis e atrativos (HADLICH; MAAHS; SOUZA, 2013).

Independentemente do tipo de chocolate que se pretende embalar, as

embalagens devem impedir que vapor d’água, luz ou odores provenientes do meio

externo possam interferir no sabor e aroma natural do chocolate, como por exemplo,

algum odor do local onde o produto foi estocado. A embalagem também deve ser

resistente à distribuição, realizada pelas Tradings, e a possíveis ataques de insetos e

roedores (RIBEIRO, 2014).

Os tipos mais comuns atualmente utilizados para embalar chocolate de 30 a

100 gramas são embalagens com estrutura de polipropileno biorientado, com sistema

de selagem a frio. Esse mesmo material também é utilizado nas embalagens de

bombons de chocolate, com fechamento tipo torção. Já para chocolate acima 100

Page 18: Cadeia Global de Valor - ABRI

gramas, são utilizados envoltórios internos de alumínio termosselado e papel para

cobertura externa, a fim de garantir proteção ao chocolate (RIBEIRO, 2014).

O procedimento realizado para a logística do produto embalado varia de

acordo com cada país. Porém, de modo geral, os produtos permanecem estocados em

armazéns próximos aos portos e são encaminhados às indústrias produtoras de

chocolates via caminhões ou trens climatizados também de maneira just-in-time

(WORLD COCOA FOUNDATION - WCF, 2014). Da mesma forma que nos elos

anteriores, esta atividade de armazenagem e distribuição é realizada pelas Tradings.

A exportação do chocolate embalado para os países consumidores ainda

possui especificidades em relação à temperatura da armazenagem. Este produto deve

ser conversado em locais secos, escuros e com temperatura entre 12ºC e 16ºC

(CALLEBAUT, 2015). Grande parte dos chocolates são distribuídos, a priori, em

centros de distribuição e, somente depois, são encaminhados para as lojas varejistas

e atacadistas (MEIRIM, 2009).

1.4 Comercialização do Produto Final

O valor agregado deste elo concentra-se principalmente na estratégia de

comercialização do produto, o que abrange local de vendas e marketing. Ambos

fatores, além de atribuir requinte ao chocolate, auxiliam no reconhecimento da marca

e no nível de precificação do produto (FONTES, 2013).

Em linhas gerais, as estratégias de comercialização englobam o canal de

distribuição, os preços dos produtos e o marketing relacionado a propagandas para

atrair o consumidor.

O canal de distribuição é o local de intermediação entre o mercado e o

consumidor. O produtor deve alocar seus produtos em lugares estratégicos para que

eles possam atingir os consumidores alvos no momento desejado. Atualmente, o

chocolate é facilmente encontrado em supermercados, pequenos comércios, postos

de combustíveis, lojas especializadas, bombonières, grandes lojas de departamento,

bancas de jornal, entre outros locais.

Page 19: Cadeia Global de Valor - ABRI

O preço do produto pode variar entre pontos de venda e tipos de chocolate. Os

maiores preços referem-se aos chocolates artesanais e gourmets. Ambos são vendidos

por preços mais elevados pois, além de exigirem uma habilidade artística por parte

do chocolateiro - chefe confeiteiro especializado em chocolates - também devem

conter ingredientes de alta qualidade (ABICAB, 2012).

Em relação à propaganda, grandes marcas produtoras e comercializadoras de

chocolate têm conhecimento de que em épocas sazonais, principalmente Dia dos

Namorados, Páscoa, Halloween e Natal, as vendas aumentam em diferentes

proporções e, por essa razão, devem ser momentos de maior atenção e investimento

em marketing. Considerando dois grandes mercados consumidores, Reino Unido e

Estados Unidos, percebe-se um significativo aumento de vendas durante esses

períodos.

No Reino Unido, 13% das vendas anuais de chocolate estão relacionadas aos

períodos sazonais, sendo o mais importante o Natal (KPMG, 2014). Nos Estados

Unidos, a Páscoa é o período sazonal de maior geração de renda no país, originando

aproximadamente US$ 1 bilhão em 2014. Além disso, o Halloween também possui

influência no aumento das vendas. Em 2013, o crescimento foi de 5,2% (KPMG, 2014).

China, Índia e Brasil são mercados emergentes com grande potencial de

aumento de vendas, principalmente em períodos como Dia dos Namorados e Natal;

Festival Hindu; e Páscoa, respectivamente (KPMG, 2014).

Por fim, como já visto anteriormente, uma das grandes estratégias de

marketing utilizadas para a comercialização do chocolate é a atenção que se deve ter

com a embalagem, que deixou de ser um elemento irrelevante na comunicação do

mercado com o consumidor. A embalagem é uma das responsáveis pela

potencialização de vendas, assim como a atratividade e reconhecimento da marca

(BORGES, 2015).

1.5 Logística Reversa

Como fruto da preocupação ambiental, canais de distribuição reversos estão

se reestruturando a fim de solucionarem o problema quanto ao aumento de produtos

Page 20: Cadeia Global de Valor - ABRI

que são descartados no meio ambiente. Dessa forma, entende-se logística reversa

como o conceito que abrange um instrumento de desenvolvimento tanto econômico

quanto socioambiental, caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e

pesquisas que buscam viabilizar a coleta e reutilização dos resíduos ao setor

empresarial.

Ademais, é importante destacar que o valor agregado deste elo está

diretamente relacionado a um conjunto de técnicas e pesquisas resultantes da

preocupação com o meio ambiente (BONFIM; MOREIRA, 2013).

Em todas as etapas do processo produtivo, há geração de resíduos que, a

princípio, eram considerados sobras e encaminhados para aterros sanitários. Porém,

o aumento da preocupação ambiental contribuiu para formação de uma estratégia de

aproveitamento que consiste na utilização dos resíduos industriais, em determinadas

proporções, para compor recheios de bombom (REBELATO; RODRIGUES;

RODRIGUES; SANTOS, 2009).

Esse tipo de resíduo pode ser classificado em cinco tipos, que variam de acordo

com a fase do processo produtivo em que são gerados: wafer, aparas, núcleo, conjunto

recheado, conjunto coberto (bombom acabado). Além disso, existem resíduos que o

reaproveitamento é inviável, sobretudo devido a contaminações microbiológicas.

Nesse caso, os resíduos são chamados de refúgios e enviados aos aterros (REBELATO;

RODRIGUES; RODRIGUES; SANTOS, 2009).

Outro importante componente do fruto que também pode ser reutilizado é a

casca do cacau. Esta, antes dispensada, pode ser utilizada tanto para produção de

ração animal ou fertilizante, quanto como fonte de energia sustentável.

A casca de cacau possui uma substância denominada pectina, que ao ser

extraída e passar por processos mecânicos ou transformações biológicas, transforma-

se em ração animal ou fertilizante orgânico, respectivamente (MERCADO DO CACAU,

2016).

Empresas como a Cargill, grande processadora de cacau, reaproveitam a casca

do fruto como recurso de geração de energia sustentável. Para que a transformação

ocorra, é utilizado briquete e carvão sólido, que durante a secagem das cascas dos

Page 21: Cadeia Global de Valor - ABRI

frutos em estufas, potencializam o poder calorífico da casca, permitindo que esta seja

utilizada como combustível (CARGILL, 2015).

Outro tipo de logística reversa praticado na indústria de chocolate é a coleta

de embalagens descartadas. Esse tipo de logística foi desenvolvido pela Nestlé em

conjunto com a TerraCycle e tem como objetivo transformar essas embalagens em

novos produtos como bolsas, estojos, mochilas e sacolas. As embalagens que não

podem ser reaproveitadas devido às suas condições, são derretidas e transformadas

em baldes e pallets (NESTLÉ, 2011).

Um ponto a ser destacado na indústria de chocolate é a logística reversa no

período da Páscoa. Devido a sazonalidade do produto, somente neste período os ovos

de páscoa não vendidos nas lojas atacadistas e varejistas, podem ser devolvidos aos

fornecedores e reaproveitados na produção de outros chocolates (MEIRIM, 2009).

Após analisar as diversas etapa do processo produtivo do cacau e do chocolate,

é possível identificar em cada elo diferentes práticas e técnicas que agregam valor à

CGV e ao produto final em três categorias distintas: (i) qualidade, (ii) Pesquisa &

Desenvolvimento (P&D) e (iii) responsabilidade socioambiental. A tabela 2, a seguir,

apresenta, objetivamente, o eixo principal das práticas e técnicas realizadas nos cinco

grandes elos da CGV do cacau e do chocolate, considerando o foco de investimento e

o impacto no produto final.

Tabela 2 – Eixo Principal das Práticas e Técnicas Realizadas em Cada Elo da CGV Fonte: Autoria própria com base em ABICAB, OMC, FAO, ECA, CAA, ANECACAO, CEPLAC,

CHOCOSSUISSE.

A expressão “valor agregado”, aqui utilizada, refere-se, de forma ampla, ao

valor adicional atribuído aos bens e serviços durante seu processo produtivo. Ações

relacionadas à qualidade dizem respeito a práticas e técnicas presentes na Cadeia

Global de Valor do setor que impactam diretamente a qualidade do produto final e

Page 22: Cadeia Global de Valor - ABRI

variam desde o cultivo do fruto, local de armazenagem do chocolate, até a escolha da

embalagem.

O valor agregado por meio de processos ligado à P&D engloba, principalmente,

o investimento direcionado a estudos para mapeamento genético, combate a praças

e doenças, desenvolvimento de novos produtos, e processos mecânicos e biológicos.

Por outro lado, o valor agregado obtido com base em ações de

responsabilidade socioambiental está diretamente relacionado à preocupação

ambiental e a métodos desenvolvidos a fim de estimular a reciclagem de resíduos

gerados durante a CGV.

Por fim, o valor agregado por cada elo e atividade da CGV também pode ser

mensurado em valores absolutos, baseados no valor adicionado durante o processo

de compra da matéria-prima, que varia de acordo com cada atividade desempenhada,

e a venda de um produto semi-manufaturado ou manufaturado. Ao considerar a

cadeia estudada, pode-se perceber que as atividades que mais lhe agregam valor

estão diretamente ligadas à manufatura do produto final. Nesse sentido, destacam-se

as etapas de industrialização e produção de chocolate (35,2% de valor agregado) e a

comercialização do produto final (44,2%). O valor percentural restante está

distribúido entre o cultivo do cacaueiro e sementes de cacau (6,6%), atividade de

armazenagem e distribuição realizada ao final de cada elo da CGV (6,3%) e, por fim,

no processamento das sementes de cacau, com 7,6% (COCOA BAROMETER, 2015).

Page 23: Cadeia Global de Valor - ABRI

2.Escopo geográfico

Figura 4 - Escopo Geográfico da Cadeia Global de Valor do Cacau e Chocolate Fonte: Autoria Própria com base em ABICAB, OMC, FAO, ECA, CAA, ANECACAO, CEPLAC, CHOCOSSUISSE.

Page 24: Cadeia Global de Valor - ABRI

A análise do escopo geográfico baseia-se na identificação das principais

empresas que fazem parte dos diversos segmentos da CGV e suas respectivas

localidades (FERNANDEZ-STARK; GEREFFI, 2011). A figura 4, acima, mapeia a

dispersão geográfica das atividades que compõem a cadeia produtiva do Cacau e

Chocolate.

Ao considerar os três macro elos da CGV em questão, sendo eles o cultivo e

processamento do cacau (i e ii) e a industrialização e produção do chocolate (iii),

percebe-se que os principais players diferenciam-se de acordo com cada elo, assim

como em relação às principais atividades desenvolvidas e suas respectivas

localidades.

Além disso, outras variáveis são importantes para análise do escopo

geográfico, como os principais países importadores e exportadores (iv), mercados

consumidores de destaque (v) e as tendências futuras tanto o mercado de cacau assim

como para o de chocolate (vi)

2.1 Cultivo do Cacaueiro e Sementes de Cacau

O cultivo do cacau, elo responsável pelo cultivo, colheita e seleção do fruto e

preparação de suas sementes para futuro processamento, está concentrado

principalmente no continente africano, que detém aproximadamente 73% da

produção mundial do fruto, seguido do continente americano (16%) e asiático (10%).

Como pode-se ser observado no gráfico 1, grande parte da produção mundial

do cacau, cerca de 60%, está concentrada na Costa do Marfim (40%) e Gana (20,5%).

Além destes países, também ganham destaque a Indonésia (8,6%), Nigéria (5,7%),

Equador (5,4%), Brasil (5,2%), Camarões (4,8%), e Papua – Nova Guiné (1%)

(INTERNATIONAL COCOA ORGANIZATION - ICCO, 2016).

Page 25: Cadeia Global de Valor - ABRI

Gráfico 1 - Principais Países Cultivadores de Cacau (em mil toneladas) Fonte: Autoria própria baseada em dados da INTERNATIONAL COCOA ORGANIZATION - ICCO, 2016.

2.2 Processamento do cacau

O processamento das sementes de cacau, responsável pela transformação das

sementes do fruto em líquor, pó e manteiga de cacau, concentra-se majoritariamente

na Europa (WORLD COCOA FOUNDATION - WCF, 2014). A Holanda e Alemanha são

países de maior destaque com 13% e 10% processamento mundial, respectivamente.

O remanescente está distribuído principalmente entre África, Costa do Marfim (12%)

e Gana (5%); Ásia, Indonésia (7%) e Malásia (7%); e América, Estados Unidos (10%)

e Brasil (6%) (BARRETO; ZUGAIB, 2014).

A norte-americana Cargill é a principal processadora de cacau do mundo. Em

2011, a empresa foi responsável pelo processamento de 600 mil toneladas de

sementes de cacau, o que corresponde a 15,4% do processamento mundial. Em

seguida, está a suíça Barry-Callebaut, fusão das empresas Cocoa Barry e Callebaut, que

processou cerca de 540 mil toneladas de sementes entre os anos de 2010 e 2011,

representando 13,8% do total de sementes de cacau processadas no mundo

(STATISTA, 2016).

Por fim, a asiática Olam International tornou-se a terceira maior processadora

mundial do fruto ao adquirir, em 2015, a atividade de processamento de cacau da

Page 26: Cadeia Global de Valor - ABRI

empresa norte-americana Archer Daniels Midland (ADM) (OLAM, 2015), responsável

por 12,8% do processamento mundial de sementes de cacau em 2011, ou seja, 500

mil toneladas (STATISTA, 2016).

A concorrência entre as indústrias processadoras de cacau aumentou com a

participação das empresas africanas e asiáticas. Entre 2014 e 2015, as indústrias

europeias registraram uma queda de 1,6% no total de sementes processadas,

passando de 337 mil toneladas para 331,6 mil toneladas. O cenário permaneceu o

mesmo para as indústrias norte-americanas, que registraram um declínio de 5,8%,

passando de 128, 5 mil toneladas para 121,5 mil toneladas (MERCADO DO CACAU,

2015).

A mudança geográfica do processamento mundial de cacau está atrelada a dois

principais fatores: a proximidade com os grandes centros consumidores, localizados

principalmente na Europa; e a introdução dessa atividade aos principais produtores

do fruto, a fim de reduzir custos e desperdícios, e estimular a capacidade tecnológica

nos países. Além disso, ambos fatores resultam em uma menor dispersão geográfica

e maior concentração das atividades dentro da CGV.

Entre 2013 e 2014, o processamento de cacau nos países africanos aumentou

cerca de 6%. Além disso, atualmente cerca de 44% da moagem mundial é realizada

em países produtores de cacau e 56% em países consumidores de chocolate

(BARRETO; ZUGAIB 2014).

2.3 Industrialização e Produção do Chocolate

O elo da industrialização e produção do chocolate é responsável pela

transformação efetiva da matéria-prima no produto final. A partir de uma visão

global, os principais países que se destacam por essa atividade são: Estados Unidos,

Alemanha, Suíça e Bélgica.

Ao destacar os Estados Unidos, este detém 28% da produção mundial de

chocolate e movimenta cerca de US$ 20 bilhões por ano em vendas de varejo do

produto. Além disso, o país abriga grandes marcas de chocolate como a Mars Inc.,

Mondeléz International Inc e Hershey Co. (MAVERICK, 2015).

Page 27: Cadeia Global de Valor - ABRI

Em escala global, a Mars Inc. e Mondeléz International Inc. se sobressaem como

líderes de processamento do chocolate, representando respectivamente 13,8% e

13,7% do mercado. Já a Hershey Co., apesar de representar apenas 5,1% do

processamento mundial (EUROMONITOR, 2015), é uma das mais reconhecidas

marcas de chocolate do mundo (MAVERICK, 2015).

Ao considerar três países do oeste europeu, juntos, somam o equivalente a

35% da produção mundial. Na Alemanha, a produção de chocolates gira em torno de

US$ 10 bilhões de dólares por ano. Já na Suíça, a produção de chocolate existe a mais

de três séculos e, atualmente, é considerada a principal fonte de riqueza do país

(MAVERICK, 2015).

Marcas reconhecidas como Nestlé, Lindt e Toblerone são frutos da produção

suíça. (MAVERICK, 2015). A Nestlé S.A. ainda, destaca-se como uma das maiores

empresas processadoras de chocolate do mundo, com 8% da produção mundial

(EUROMONITOR, 2015).

Por fim, a Bélgica, maior centro de produção de chocolate do mundo. O país

gera cerca US$ 12 bilhões por ano em vendas e é reconhecido por renomadas marcas

de chocolate, como a Godiva. Além disso, parar garantir a qualidade e pureza do

chocolate belga, a composição do produto é regulada por lei desde 1884 (MAVERICK,

2015).

A Itália, apesar de não fazer parte dos principais países produtores de

chocolate, abriga o Ferrero Group, que possui uma participação significante dentro da

indústria processadora de chocolate, cerca de 6% da produção mundial

(EUROMONITOR, 2015).

2.4 Importação e Exportação

O comércio internacional de produtos derivados do cacau e do chocolate é

regulado em larga escala, pelos principais países importadores, que

coincidentemente também destacam-se como grandes países exportadores de ambos

os produtos, tornando o comércio internacional extremamente concentrado

(INTERNATIONAL TRADE CENTRE, 2001).

Page 28: Cadeia Global de Valor - ABRI

Em relação ao mercado cacaueiro, destacam-se Estados Unidos (19%),

Alemanha (18%), Reino Unido (10%), Canadá (6%) e Itália (5%) como principais

países importadores (UN COMTRADE, 2015).

Com exceção da Itália, os demais países importadores de cacau também se

sobressaem como grandes importadores de chocolate, apenas com diferentes

proporções de market share. Os Estados Unidos dominam 16% do mercado, seguidos

da Alemanha (15%), Reino Unido (13%), Canadá (6%) e Espanha (4%) (UN

COMTRADE, 2015). Os principais exportadores de chocolate, por sua vez, são:

Alemanha (28%), Estados Unidos (10%), Itália (10%), Canadá (9%) e Reino Unido

(5%) (UN COMTRADE, 2015).

2.5 Principais Mercados Consumidores

Ao analisar os maiores consumidores de chocolate ao redor do mundo,

percebe-se forte relação entre as variáveis clima e consumo. De uma maneira geral,

países onde as temperaturas são mais baixas e os invernos rigorosos tendem a

consumir muito mais chocolate do que países que possuem temperaturas mais

elevadas e invernos sutis (ABICAB 2012).

Esta afirmação pode ser confirmada uma vez os maiores mercados

consumidores concentram-se principalmente na Europa. Como pode ser visto no

gráfico 2, a seguir, a Suíça é o país de maior destaque, com 9kg de chocolate

consumidos por habitante anualmente; em seguida encontram-se Alemanha, 7,9kg;

Irlanda e Reino Unido, 7,5kg; Noruega, 6,6kg; Suécia, 5,3kg; Austrália, 4,9kg; Holanda,

4,7kg; Estados Unidos, 4,3kg; e França, 4,2kg (STATISTA, 2015).

Page 29: Cadeia Global de Valor - ABRI

Gráfico 2 - Principais Mercados Consumidores de Chocolate Fonte: Autoria própria baseada em dados do STATISTA, 2015.

Ao considerar os tipos de chocolate mais consumidos nos principais mercados

citados acima, destaca-se em primeiro lugar o chocolate amargo, seguido do chocolate

ao leite e branco. A principal razão do elevado consumo de chocolate amargo está

relacionada ao alto teor de cacau, combinado com baixa quantidade de açúcar,

preocupação com à saúde e altas taxas de obesidade e sobrepeso nos principais países

consumidores (KPGM, 2014; WOLRD OBESITY FEDERATION, 2015).

A fim de exemplificar o aumento do consumo do chocolate amargo, destacam-se

dois grandes mercados consumidores: Suíça e Estados Unidos. Na Suíça, país com

maior consumo de chocolate per capita, ocorreu um aumento da participação de

mercado desse tipo de chocolate dentre os anos de 2008 a 2013, passando da marca

dos 22% para 30% (KPMG, 2014).

Nos Estados Unidos o cenário é similar. Em 2013, as vendas de chocolate amargo

no país cresceram cerca de 93%, conquistando 20% do mercado de chocolates norte-

americano. Desde então, estima-se um crescimento anual de 7,7% nas vendas desse

tipo de chocolate (KPMG, 2014).

Em linhas gerais, os consumidores de chocolate podem ser classificados em três

diferentes categorias que variam de acordo com o comportamento e demanda, sendo

elas o consumidor de valor, de luxo, e híbrido.

Page 30: Cadeia Global de Valor - ABRI

O consumidor de valor, anteriormente considerado como aquele que consume

chocolate de qualidade ou de marcas reconhecidas, alterou seus hábitos de consumo

devido à recente crise econômica global e passou a optar por chocolates de marcas

mais acessíveis, a fim de economizar dinheiro. Nos Estados Unidos, por exemplo, a

associação americana National Confectioners realizou uma pesquisa em 2013 e

constatou que 28% dos consumidores de chocolate norte-americanos trocaram seus

hábitos de consumo de chocolate por conta da crise econômica (KPMG, 2014).

Em mercados de chocolate emergentes, como Brasil, China e Índia, o

consumidor de valor também é considerado um potencial mercado, uma vez que

classe média ainda está em processo de expansão. Além disso, nestes países, uma

barra de chocolate de 45g representa aproximadamente 18% do orçamento semanal

(KPMG, 2012).

O consumidor híbrido é econômico em relação a compra de produtos

alimentícios em geral e, especificamente no que se refere a chocolate, busca sempre

qualidade e marcas reconhecidas no mercado, porém com descontos. Em linhas

gerais, este tipo de consumidor opta por compras fáceis e rápidas e, por esse motivo,

apresenta maior consumo de barras de chocolate (KPMG, 2014).

Este tipo de consumidor, assim como o de valor, também costuma dividir seu

chocolate com outra pessoa, ou come em partes. Grandes marcas de chocolate

enxergam o híbrido como potencial mercado e se adaptam a ele. A Mars por exemplo,

desenvolveu Memory Wrappers, embalagens possíveis de serem fechadas novamente,

permitindo que o chocolate fique armazenado. A Godiva, desenvolveu estratégias

voltadas para esse nicho de consumidor, iniciando com barras de chocolate menores.

Além disso, devido a este consumidor, as vendas de barra de chocolate no Reino

Unido aumentaram 37% em 2011 (KPMG, 2012).

Por fim, ao contrastar os tipos de consumidores descritos acima, encontra-se

o consumidor de luxo. Este prioriza a qualidade acima do preço e, por essa razão,

escolhe chocolates de marcas caras e luxuosas, conhecidos como chocolates premium.

Apesar da expansão dos mercados de valor e híbrido, impulsionada principalmente

pela crise econômica, o mercado de luxo continua sendo o maior. Em países como

Índia e Brasil, este tipo de consumidor cresceu cerca de 20% em 2014. Além disso, a

Page 31: Cadeia Global de Valor - ABRI

Lindt, umas das principais marcas deste segmento, faturou US$ 2,5 bilhões em 2012

e procura expandir de 8 a 10% seu market share nos próximos anos (KPMG, 2014).

2.6 Tendências futuras para o Mercado de Cacau e Chocolate

Em 2015, 3,5 milhões de toneladas de cacau foram produzidas ao redor do

mundo (MERCADO DO CACAU, 2015). Com o crescimento da demanda mundial de

chocolate, projetada para 2,4% ao ano até 2020, e o aumento do consumo deste

produto em mercados emergentes e superpopulosos como Índia e China, a estimativa

é de que a demanda mundial de cacau cresça 30% até 2020, alcançando a marca de

4,5 milhões de toneladas (WORLD COCOA FOUNDATION - WCF, 2014, GOODYEAR,

2016).

A expansão destes mercados é um fator crítico para ambas as indústrias pois,

uma vez que a remuneração dos pequenos produtores de cacau é baixa,

aproximadamente 3,5% a 6,4% do preço final de uma barra de chocolate (de acordo

com a quantidade de cacau presente na composição), a pobreza nas comunidades

produtoras aumenta, os fazendeiros abandonam a indústria e, consequentemente, a

produção do setor cai (GOODYEAR, 2016).

A fim de alcançar a expectativa de crescimento e equilibrar a relação oferta e

demanda, os preços tanto do cacau como, consequentemente, do chocolate, estão

sujeitos a elevações (WORLD COCOA FOUNDATION - WCF, 2014).

Em relação ao crescimento do mercado mundial de chocolate, este é

majoritariamente impulsionado pelo aumento do consumo do produto nos principais

mercados emergentes, sendo eles os BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul)

e Turquia (KPMG, 2014).

Ao considerar o mercado russo de chocolate, estima-se um crescimento de

45% nos próximos cinco anos, podendo chegar a movimentar cerca de US$ 11,6

bilhões no país em 2017 (KPMG, 2012).

O Brasil enfrenta uma crítica situação econômica, aguçada em 2015, com

aumento da inflação, elevação taxas de juros, alta da moeda estrangeira dólar, e

aumento da carga tributária. Apesar de estes fatores impactarem diretamente a

Page 32: Cadeia Global de Valor - ABRI

queda do poder de compra de grande parte da população e, consequentemente no

consumo de chocole (ABICAB, 2015), a demanda pelo produto no país está projetada

para crescer 2% até o ano de 2017. Grande parte desta expansão é impulsionada pelo

crescimento da classe média no país registrada a longo prazo, que visa atingir 37%

da população em 2020 (KPMG, 2014).

Assim como no Brasil, o aumento da demanda de chocolate na China está

relacionada ao crescimento da classe média, projetada para alcançar a marca de 500

milhões de chineses em 2020 e cerca de 70% da população em 2030 (ERNST &

YOUNG, 2016). Além disso, empresas como a Hershey Co., estimam que até 2018 a

China será o segundo maior mercado de chocolate do mundo (KPMG, 2014).

O clima quente, característico de determinados países como a Índia, é visto

como uma barreira para o crescimento da demanda de chocolate, uma vez que este

possui maior índice de consumo em países mais frios, como os europeus. Além disso,

existe ponto crítico: a pobreza. Mais de 30% da população indiana vive com menos de

US$ 1 por dia. Porém, a expectativa é que até 2020, mais de 200 milhões de indianos

passem a pertencer a classe média (ERNST & YOUNG, 2016). Este fator pode ser um

grande impulsionador das vendas do chocolate no país, que pode alcançar a marca de

US$ 2,3 bilhões em 2017 (KPMG, 2014).

Na África do Sul, o cenário é similar. O aumento da classe média também é um

dos principais drivers do crescimento da demanda de chocolate no país, uma vez que

a população desfruta de maior renda. Espera-se que o crescimento das vendas do

produto chegue a US$ 2 bilhões em 2017, contra US$ 545 milhões em 2013 (KPMG,

2014).

Em relação ao mercado de chocolate na Turquia, estima-se um crescimento de

6% ao ano, considerando o período de 2013 a 2018. Além disso, este nível de

crescimento estimulou a instalação no país de empresas como Barry Callebaut e

Ferrero Group (KPMG, 2014).

Por fim, apesar de os Estados Unidos serem considerados um mercado

maduro em relação ao consumo de chocolate, em 2013 o consumo deste produto no

país deteve um crescimento de 7%. Além disso, estima-se que essa taxa de

crescimento deverá permanecer estável até 2018 (KPMG, 2014).

Page 33: Cadeia Global de Valor - ABRI

3.Governança

A análise da governança permite identificar de que maneira ocorrem as

relações de poder e autoridade entre os atores da Cadeia, a fim de entender o controle

e coordenação do fluxo, e determinar a forma como os recursos financeiros, materiais

e humanos são alocados dentro da CGV (FERNANDEZ-STARK; GEREFFI, 2011).

As diferentes formas de governança, classificadas como Mercado, Modular,

Relacional, Cativa e Hierárquica, são medidas e determinadas de acordo com quatro

variáveis principais: complexidade da informação entre os atores da cadeia;

habilidade de codificar a informação, nível de competência por parte do fornecedor;

e grau de coordenação e assimetria de poder (FERNANDEZ-STARK; GEREFFI, 2011).

O modo como as principais determinantes atuam em cada tipo de governança pode

ser observado na tabela 3, abaixo.

Tabela 3 – Determinantes-Chaves da Governança Fonte: GEREFFI; HUMPHREY; STURGEON, 2005.

Ao considerar a Cadeia Global de Valor do cacau e chocolate, a complexidade

das informações trocadas entre fornecedores e empresas líderes é alta. Porém, tanto

a habilidade do fornecedor de codificar a informação, assim como seu nível de

competência são baixos e não permitem que ele responda com prontidão as

exigências das transnacionais (TNC´s). Assim, o controle e monitoramento por parte

dessas empresas é necessário para assegurar a qualidade do produto, prestar apoio

financeiro e auxiliar na expansão do grau de investimento em máquinas,

Page 34: Cadeia Global de Valor - ABRI

equipamentos e sistemas. Além disso, este controle provoca uma integração vertical,

ou seja, internalização das atividades da Cadeia, e uma grande dependência do

fornecedor em relação à empresa transnacional, tornando alto o custo de troca de

parceiro (FERNANDEZ-STARK; GEREFFI, 2011).

Além disso, o cacau é cultivado em pequenas fazendas familiares que são

dependentes das empresas líderes principalmente no que diz respeito à demanda

pelo produto. Para assegurar que a relação entre fornecedores e compradores ocorra

de forma justa, principalmente em termos de disponibilidade de recursos financeiros

e igualdade de participação de mercado, algumas organizações como a norte-

americana Fairtrade International (FLO) acompanham e avaliam a relação entre os

atores da CGV. Um dos principais mecanismos desenvolvidos por esta organização é

o Fairtrade Standards and Princing Unit, que determina o preço mínimo que deve ser

pago aos produtores, de acordo com cada produto. O objetivo é assegurar que os

produtores de cacau, por exemplo, tenham capacidade de arcar com os gastos da

produção (FAIRTRADE INTERNATIONAL - FLO, 2011).

Ao analisar a maneira como as determinantes atuam dentro da Cadeia do

cacau e chocolate, concluí-se que os tipos de governança predominantes são Cativa e

Hierárquica. Ademais, a característica de maior destaque é a importância e impacto

das TNC’s nessa indústria, em que um pequeno grupo de empresas transnacionais,

altamente integradas num sistema de networks, controla a organização operacional e

institucional dentro dos segmentos da cadeia (AMIN; PENA, 2013).

As empresas transnacionais também desempenham um importante papel ao

adotar uma dinâmica organizacional que favorece a descentralização das operações

administrativas e redefinição da localização dos processos de produção,

industrialização e logística de comercialização. Além disso, a forma de governança

impulsionada pelas transnacionais, enfatiza a participação de empresas líderes do

setor e a definição de estratégias voltadas à conquista de novos mercados (AMIN;

PENA, 2013).

Alianças, fusões e aquisições entre as empresas líderes do ramo também

cooperam para a configuração da indústria de chocolate e, consequentemente, para

estruturação da governança que contribuiu para que atividades econômicas, como,

Page 35: Cadeia Global de Valor - ABRI

por exemplo, a moagem do cacau, antes realizadas apenas em países desenvolvidos

passassem a ser executadas também por subsidiárias das transnacionais ou joint-

ventures em países como Costa do Marfim, Gana, Indonésia e Brasil (AMIN; PENA,

2013).

Por fim, considerando que o mercado encontra-se geograficamente disperso e

em constante mudanças por parte das empresas líderes, as vantagens competitivas

tornam-se verdadeiras barreiras à entrada para as novas indústrias. Dentre elas,

destacam-se know-how do cultivo do cacaueiro, acesso aos insumos e informação,

implantação de novas tecnologias e equipamentos, inovação e criação de novos

produtos e, criação de relações inter e intra-setoriais (AMIN; PENA, 2013).

4.Contexto Institucional

Uma vez que a Cadeia Global de Valor se relaciona direta e indiretamente a

dinâmicas econômicas, sociais e institucionais de diferentes países, a análise do

contexto institucional da cadeia é fundamental para que se identifique as condições e

políticas nacionais, regionais e internacionais que sua moldam cada etapa de sua

dispersão produtiva (FERNANDEZ-STARK; GEREFFI, 2011).

A tarifa de importação é um instrumento de política comercial imposto pelo

governo, que visa proteger as indústrias nacionais da concorrência estrangeira. Além

disso, elas podem ser vistas como uma barreira para o aumento do consumo uma vez

que são responsáveis pelo aumento dos preços (INTERNATIONAL COCOA

ORGANIZATION - ICCO, 2008). A Turquia é o país que dispõe da maior alíquota

relativa à tarifa de importação de chocolates, cerca de 87%. México, Tailândia, Índia

e Burundi também apresentam taxas significativas em relação ao produto, 43%, 42%

e 35% respectivamente (WORLD TRADE ORGANIZATION - WTO, 2016).

Além das tarifas citadas acima, existem outros encargos, como o Imposto sobre

o Valor Adicionado (IVA) ou Taxa de Produtos e Serviços (GST), que incidem sobre

um produto em todos os estágios de sua produção. Desta forma, o IVA tem grande

impacto para o fabricante, aparecendo de forma indireta para o consumidor

(INTERNATIONAL COCOA ORGANIZATION - ICCO, 2008).

Page 36: Cadeia Global de Valor - ABRI

Dentre os países com maior incidência de IVA, destacam-se os europeus

Hungria (27%), Suécia (25%), Noruega (25%) e Dinamarca (25%). Por outro lado,

Malásia (6%), Estados Unidos (7,5%) e Suíça (8%) apresentam a menor incidência do

imposto (ERNST & YOUNG, 2016).

A tabela 4, abaixo, explica de forma simples e objetiva, as principais diferenças

entre as tarifas de importação e o Imposto sobre o Valor Acrescentado.

Tabela 4 - Tarifas de Importação versus Imposto sobre Valor Agregado. Fonte: Autoria própria baseada em dados da INTERNATIONAL COCOA ORGANIZATION - ICCO, 2008.

Em âmbito internacional, destacam-se, abaixo, os principais órgãos,

associações e certificados responsáveis pelo controle, regulamentação e certificação

do mercado mundial de cacau e chocolate.

A International Cocoa Organization (ICCO) é uma organização global composta

por países produtores e consumidores de cacau. A ICCO é considerada a maior

organização que tem como objetivo reduzir a flutuação do preço do fruto, melhorar a

renda e as condições de trabalho dos produtores de cacau, e participar de decisões

relacionadas a este mercado (INTERNATIONAL COCOA ORGANIZATION - ICCO,

2016).

A Organização Mundial do Comércio (OMC) foi criada com o objetivo de

supervisionar e liberalizar o comércio internacional. Em relação ao cacau, a

organização destaca-se por controlar o regulamento da produção, exportação e

importação do fruto, principalmente por meio do Comitê de Medidas Sanitárias e

Page 37: Cadeia Global de Valor - ABRI

Fitossanitárias (WORD TRADE ORGANIZATION - WTO, 2012).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) compõe o sistema da Organização das

Nações Unidas (ONU) e é responsável por controlar, desenvolver, pesquisar e

promover o suporte e recursos necessários a saúde de modo internacional (WORLD

HEALTH ORGANIZATION - WHO, 2016). Além disso, a OMS apresenta diretrizes sobre

um ponto crítico do processo produtivo do cacau em termos de medidas sanitárias: a

secagem de amêndoas. Nessa etapa do processo, existe uma grande chance de

proliferação de bactérias, fungos e micotoxinas, pois estes microrganismos

sobrevivem às altas temperaturas do processamento térmico e podem causar

intoxicação ou doenças mais sérias aos consumidores (UNIVERSIDADE DE

CAMPINAS - UNICAMP, 2009).

A Food and Agriculture Organization (FAO) é uma organização das Nações

Unidas que tem como objetivo promover a segurança alimentar, garantindo que as

pessoas tenham acesso a alimentos de qualidade. Além disso, a FAO também é

responsável por desenvolver e aumentar a produtividade e a sustentabilidade no

setor agrícola (FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION - FAO, 2016).

A Fairtrade International (FLO) é uma organização internacional em que

participam produtores, principalmente fazendeiros, e seus respectivos

consumidores. Em relação aos produtores de cacau, a FLO tem como principal

objetivo estabelecer padrões, criar estratégias e realizar monitoramento a fim de

garantir um comércio justo, ou seja, livre de irregularidades como trabalho escravo

ou indisponibilidade de recursos utilizados na produção. Ela ainda representa uma

fração da produção de cacau e tem o compromisso de obter o fruto de forma 100%

sustentável (FAIRTRADE INTERNATIONAL - FLO, 2016).

A World Cocoa Foundation (WFC) é uma organização internacional que

promove a sustentabilidade no setor do cacau, fornecendo aos produtores de cacau

com o apoio que necessitam para produzir cacau de qualidade. A Fundação visa

construir parcerias com produtores de cacau e organizações ambientais (WORLD

COCOA FOUNDATION - WFC, 2016). O Rainforest Alliance, por sua vez, é um

certificado voltado para agricultores, a fim de estimular e auxiliar a produção

sustentável de cacau, protegendo as florestas (RAINFOREST ALLIANCE, 2016).

Page 38: Cadeia Global de Valor - ABRI

Por fim, a Fine Chocolate Industry Association (FCIA) é uma associação que

conta com indústrias de chocolate situadas ao redor do mundo como membros. Seu

objetivo é garantir a qualidade do chocolate, além de trazer inovações e melhores

práticas de produção (FINE CHOCOLATE INDUSTRY ASSOCIATION - FCIA, 2016).

Além do controle e regulamentação internacional, existem diferentes órgãos,

associações, instituições, federações e conselhos presentes nos principais países

cultivadores e processadores de cacau, e produtores de chocolate que realizam

atividades de controle, regulamentação e incentivo, que impactam no mercado

agrícola, de cacau, e chocolateiro.

No que se refere ao continente africano, existem duas principais associações

responsáveis pelo desenvolvimento do cacau na África Ocidental e pela expansão da

produtividade e renda das famílias cultivadoras de cacau. São elas, respectivamente:

The Ghana Cocoa Growing Research Association e African Cocoa Initiative

respectivamente (THE COCOA RESEARCH ASSOCIATION LTD - CRA, 2014; WORLD

COCOA FOUNDATION - WTC, 2016).

A Costa do Marfim, principal país responsável pelo cultivo e processamento do

cacau, abriga o Conseil du Café-Cacao que é um conselho responsável pela gestão das

atividades de café e cacau realizadas no país, por meio do controle e desenvolvimento

de pesquisas voltadas para a qualidade do café e do cacau cultivado, auxilio ao Estado

nas negociações de acordos de comercialização internacional e participação

financeira em organizações internacionais (LE CONSEIL DU CAFÉ-CACAO, 2016).

Gana, vice-líder em termos de cultivo e processamento do cacau, incentiva e

facilita a produção de cacau no país, além de regulamentar a comercialização interna

e externa do produto para torná-la mais rentável e agregar valor à exportação, por

meio do Ghana Cocoa Board (GHANA COCOA BOARD - COCOBOD, 2016).

Na Nigéria, grande cultivadora de cacau, o Cocoa Research Institute of Nigeria

(CRIN) é um órgão voltado para melhorias na produtividade, comercialização e

competitividade de produtos agrícolas, por meio de atividades de pesquisa e

desenvolvimento voltadas para criação de novas tecnologias e políticas que

estabelecem capacidade de gestão do conhecimento e fortalecimento do sistema de

pesquisa agrícola (AGRICULTIRAL RESEARCH COUNCIL OF NIGERIA – ARCN, 2016).

Page 39: Cadeia Global de Valor - ABRI

Em Camarões, o National Cocoa and Coffee Board (NCCB) é um órgão público

que atua sob a supervisão do Ministério do Comércio. Ele é responsável pela

regulamentação, controle e certificação de produtos, assim como a coordenação dos

subsetores de cacau e café. O NCCB também é responsável por representar o país em

organizações internacionais de cacau e café (NATIONAL COCOA AND COFFE BOARD

- NCCB, 2016).

Em relação ao continente europeu, tem-se a European Cacao Association

(ECA), associação comercial responsável pelo monitoramento e criação de relatórios

das grandes empresas processadoras e comercializadoras de cacau, presentes no

continente europeu (EUROPEAN COCOA ASSOCIATION - ECA, 2016).

Ademais, a Europa também conta com a Chocolate, Biscuits & Confectionary of

Europe (CAOBISCO), que é responsável principalmente pela fiscalização do uso de

matéria-prima de maneira responsável, levando em consideração impactos

ambientais e sociais; confisco dos produtos regulamentados em nível nacional; e

suporte ao desenvolvimento de chocolates inovadores, sustentáveis e competitivos

(CHOCOLATE, BISCUITS & CONFECTIONARY OF EUROPE - CAOBISCO, 2016).

Os dois principais países processadores de sementes de cacau do mundo

também lidam com diferentes órgãos que regulam o setor. Na Holanda, destaca-se o

Dutch Agro-Food, órgão sustentado pelo governo, setor privado, organizações e

universidades, que tem como objetivo assegurar a segurança dos alimentos e a saúde

da população holandesa, e desenvolver pesquisas no setor de agricultura, focadas

também em inovação (HOLLAND, 2016).

Na Alemanha, a German Initiative on Sustainable Cocoa (GISCO) é uma aliança

entre o governo alemão, a indústria de cacau e determinadas organizações não-

governamentais. Ela tem como objetivo tornar o cultivo do cacau sustentável e

melhorar a situação financeira e os recursos disponíveis para as famílias produtoras

(FORUM NACHHALTIGER KAKAO, 2016).

Como principais países responsáveis pela industrialização e produção do

chocolate, destacam-se a Suíça e a Itália. Na Suíça, o Coffee & Cocoa International

(C&CI) é responsável pela orientação do mercado cacaueiro, por meio da produção

de relatórios e pesquisas que mapeiam desde a produção do fruto até a chegada do

Page 40: Cadeia Global de Valor - ABRI

produto nas mãos do consumidor final (COFFEE & COCOA INTERNATIONAL - C&CI,

2016). Na Itália, destaca-se a Associazione delle Industrie del Dolce e della Pasta

Italiane (AIDEPI) que, além de garantir a qualidade da produção nas empresas por

meio do incentivo a competitividade, também desenvolve e representa o setor

cacaueiro (ASSOCIAZIONE DELLE INDUSTRIE DEL DOLCE E DELLA PASTA ITALIANE

- AIDEPI, 2012).

Uma vez que ambos os países citados acima exportam o chocolate produzido,

eles também são impactados pela regulamentação deste mercado. Na Suíça, a

Chocosuisse é uma federação que representa a indústria do chocolate suíço. Como

membros, ela conta com os fabricantes de chocolates, e está comprometida com as

condições de enquadramento competitivo do produto. Além disso, essa federação é

responsável por incentivar a inovação e a gestão sustentável (CHOCOSUISSE, 2016).

Na Itália, a Cioccolati d’ Italia, além de promover o chocolate italiano, também

tem como objetivo integrar produtores de chocolate e agricultores de cacau, a fim de

estimular a discussão das necessidades e especificações do produto (RETE DELLE

CAMERE DI COMMERCIO PER LA PROMOZIONE DEL CIOCCOLATO TRADIZIONALE,

2009).

No continente asiático, como grande cultivador de cacau, destaca-se a Malásia

com o Malaysian Cocoa Board, agência de pesquisa e desenvolvimento federal que

tem como objetivo desenvolver a indústria do cacau do país, a fim de torná-la mais

integrada e competitiva frente ao mercado global. A agência também procura

fomentar a produtividade e eficiência na produção de grãos de cacau (MALAYSIAN

COCOA BOARD, 2016).

Na Indonésia, a Cocoa Association of Asia (CAA) desempenha um importante

papel ao promover a interação entre os agentes que realizam o comércio de cacau e

chocolate do país, através da troca de informações e conhecimento. Além disso, a

associação também é responsável por promover o crescimento da indústria de cacau

na Ásia através da formulação de estratégias e políticas de expansão (COCOA

ASSOCIATION OF ASIA - CAA, 2016).

No continente americano, destacam-se três principais países, sendo eles

Brasil, Equador e Estados Unidos. Na América do Sul, o Brasil conta com a Associação

Page 41: Cadeia Global de Valor - ABRI

Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (ABICAB),

que impulsiona o desenvolvimento e o aperfeiçoamento da indústria do cacau e

chocolate por meio de ações no mercado, estudos científicos e tecnológicos, e análises

econômicas. A ABICAB representa 100% do mercado brasileiro de cacau, 92% do de

chocolates, 80% do de amendoim e 70% do de balas e confeitos (ABICAB, 2012).

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) é uma agência regulatória

brasileira responsável por controlar e evitar possíveis danos ou riscos à saúde da

população. Ela atua por meio da regulamentação, controle e fiscalização da produção

e consumo de bens e serviços relacionados à saúde, como alimentos, medicamentos,

cosméticos, entre outros. A regulação sanitária ainda contribui para o bom

funcionamento do mercado, assegurando transparência e estabilidade ao processo e

à atuação regulatória, a fim de proporcionar um ambiente seguro para a população e

favorável ao desenvolvimento social e econômico do país (ANVISA, 2015).

Ainda no país, a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC),

órgão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, atua em cinco estados

do Brasil, sendo eles: Bahia, Espírito Santo, Pará, Amazonas, Rondônia e Mato Grosso.

Seu objetivo é promover a competitividade e sustentabilidade dos segmentos

agropecuário, agroflorestal e agroindustrial com o objetivo de desenvolver as regiões

produtoras de cacau. A CEPLAC ainda desenvolve atividades de pesquisa, extensão

rural e ensino agrícola (CEPLAC, 2016).

No Equador, a Asociación Nacional de Exportadores de Cacao (ANECACAO) tem

a finalidade de auxiliar a cadeia comercial e agroindustrial do cacau e seus derivados

no Equador, visando à qualidade dos produtos e a posição de liderança do país como

mercado exportador. Ademais, ela auxilia no desenvolvimento do setor no âmbito de

uma esfera de responsabilidade social e proteção ambiental (ANECACAO, 2015).

Os Estados Unidos, por sua vez, abrigam o United States Department of

Agriculture (USDA), que visa desenvolver e expandir o acesso dos produtos

americanos nos mercados ao redor do mundo. O órgão é responsável pela gestão dos

setores de processamento e distribuição de alimentos, por meio da inspeção dos

produtos, importações e exportações, avaliações de risco à saúde e segurança

alimentar (USDA, 2015).

Page 42: Cadeia Global de Valor - ABRI

Similar ao USDA, outro órgão norte-americano é a Food and Drug Administration

(FDA), responsável pela segurança da saúde pública, garantindo a eficácia de

abastecimento, produção e distribuição alimentar, medicinal e veterinária (FOOD

AND DRUG ADMINISTRATION - FDA, 2015).

A American Association of Candy Technologists (AACT) consiste em um grupo

de profissionais de tecnologia que se dedicam ao avanço da indústria de chocolates.

Além de trazer ideias inovadoras para o mercado confeiteiro, a associação

disponibiliza informações de mercado relevantes para a indústria local (AMERICAN

ASSOCIATION OF CANDY TECHNOLOGISTS - AACT, 2010).

Por fim, destaca-se a associação norte-americana National Confectioners

Association (NCA). Esta é responsável por promover, proteger e desenvolver o

mercado de chocolate no país. Ela representa cerca de US$ 35 bilhões na indústria

confeiteira e emprega mais de 55 mil pessoas no país (NATIONAL CONFECTIONER

ASSOCIATION - NCA, 2016).

O mercado do cacau lida com um sério problema em relação ao trabalho

escravo ou exploração de menores. Na Costa do Marfim, por exemplo, dezenas de

crianças de 10 a 12 anos são forçadas a trabalhar por longos períodos nas fazendas

de cacau, com pouco ou nenhum tipo recompensa (SERAFINI, 2016). Em 2001, a fim

de evitar esta irregularidade, as principais empresas consumidoras de cacau, dentre

elas Nestlé, Mars, Barry Callebaut, Hershey Co., Godiva e Kraft assinaram o Harkin-

Engel Protocol, também conhecido como Protocolo do Cacau, implantado por Tom

Harkin, ex-político democrata norte-americano. Este é um acordo público-privado

que tem como objetivo erradicar o trabalho escravo e melhorar as condições

trabalhistas dos fazendeiros no Oeste da África (SERAFINI, 2016). No mesmo

período, a Food and Drug Administration solicitou as empresas que o rótulo de seus

produtos estampassem a frase “slave free”, o que significa que a produção foi realizada

livre de trabalho escravo ou exploração infantil. O objetivo inicial consistia na

regularização total do mercado cacaueiro até 2008, todavia até o momento a meta

não foi cumprida e o prazo foi estendido até o ano de 2020 (SERAFINI, 2016).

Page 43: Cadeia Global de Valor - ABRI

Considerações Finais

A análise da Cadeia Global de Valor do cacau e do chocolate mostra que o valor

gradualmente agregado ao longo do processo produtivo está diretamente

relacionado a três fatores: (i) o impacto desejado na qualidade do produto final; (ii) o

grau de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) presente em cada atividade realizada

dentro do elo; e, por fim, (iii) o nível de responsabilidade socioambiental praticado

pelos diversos atores que compõe a CGV.

Em termos de P&D, destacam-se dois grandes elos: (i) processamento do cacau

e (ii) industrialização e produção do chocolate. Ambos contam com máquinas e

equipamentos específicos, tecnologia avançada e estudos relacionados a

biotecnologia, inovação e criação de novos produtos.

Além disso, é possível perceber que ambos os elos concentram suas atividades

em países desenvolvidos da Europa e nos Estados Unidos, os quais dispõem de alto

grau de desenvolvimento tecnológico e grandes centros de Pesquisa e

Desenvolvimento. Porém, com o impacto das empresas transnacionais na estrutura

de governança, determinando as assimetrias de poder no âmbito da CGV, as

atividades que requerem alto nível tecnológico e análises de P&D, como o

processamento do cacau, passaram a ser realizadas também nas subsidiárias e join-

ventures das empresas transnacionais localizadas em países africanos, sobretudo

visando estimular a capacidade tecnológica e ao grau de desenvolvimento de P&D na

região.

Dessa forma, a Costa do Marfim, em especial, além de ser líder mundial no

cultivo do cacau (40%), passou a ter grande representatividade também no elo de

processamento do fruto, concentrando 12% do processamento mundial das

sementes, o equivalente a 519 mil toneladas entre 2013 e 2014. Este valor

ultrapassou os Estados Unidos (10%) e a Alemanha (10%), e encontra-se abaixo

apenas do principal país processador do mundo, a Holanda (13%), que atingiu 530

mil toneladas no mesmo período (STATISTA, 2016). Para o país africano, o cacau é

considerado o “ouro marrom”. De acordo com o Banco Mundial, este produto é

responsável por 22% do PIB do país, cerca de 50% das exportações marfinenses e

Page 44: Cadeia Global de Valor - ABRI

dois terços da renda da população e empregabilidade (MERCADO DO CACAU, 2015).

Especificamente em relação ao Brasil, pode-se observar que o país ainda ocupa

um lugar marginal em relação à produção e consumo mundial de chocolate,

concentrando seus esforços de inserção na CGV do setor em setores de baixo e médio

valor agregado, como cultivo e processamento do cacau. Ademais, por ser um setor

extremamente suscetível a variações econômicas, a demanda interna tem caído

consistentemente ao longo dos dos últimos anos. Dados mostram também que o país

tem observado recentemente a diminuição de suas exportações de chocolate e o saldo

comercial passou a ser deficitário a partir de 2013 (ABICAB, 2016).

Recentemente, todavia, o setor parece dar sinais de recuperação, sendo que a

produção de chocolate até junho de 2016 cresceu 4,3% ante o mesmo período de

2015. Ademais, a ABICAB destaca que as desvalorizações sucessivas da moeda

nacional incentivaram as vendas ao exterior, com um aumento de 15% das

exportações na comparação entre jan-jun 2015 e jan-jun 2016 (ABICAB).

Por fim, é necessário notar que, embora a cadeia tenha um nível relativamente

baixo de complexidade produtiva, ela passa por algumas transformações

importantes, como, por exemplo, (i) o fato de as empresas transnacionais terem

buscado estratégias de fusões e aquisições como forma de incrementar sua

participação e capilaridade de atuação na arena global; (ii) a atuação direcionada para

diferentes públicos e constantes inovações em processos e produtos, que parecem

ser diretrizes mandatórias da atuação futura das empresas do setor; e, por fim, (iii)

mudanças importantes em relação à governança do setor, sobretudo por conta da

migração de atividades de médio valor agregado para países com menor

desenvolvimento econômico relativo.

Page 45: Cadeia Global de Valor - ABRI

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