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54 ValorEspecial CAMINHOS DO NORDESTE Previsão é de que o volume de contêineres movimentado nos portos nacionais deve dobrar nos próximos dez anos Litoral é opção sustentável e mais eficiente O transporte de insumos pela costa brasileira deve iniciar uma nova fase nos próximos anos. “A cabotagem pode melhorar o envio de cargas entre os Estados nordestinos, bem como da região Nordeste para o Sul e o Sudeste do Brasil.” Quem garante é João Gui- lherme Araújo, diretor do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos). Segundo o especialista, o volume de adequação em curso nos prin- cipais pontos de movimentação do Nordeste, como Itaqui (MA), Suape (PE), Pecém (CE), Salvador e Aratu (BA). O mercado de nave- gação local também passa por um crescimento da frota das transpor- tadoras como a Aliança Navegação e a Log-In Logística, que prometem investimentos de R$ 680 milhões em novas embarcações neste ano. De acordo com Araújo, entre as vantagens da maior adesão à cabo- tagem no Nordeste estão a dimi- nuição da dependência do modal rodoviário e a queda nos índices de acidentes nas estradas, além da prática de um transporte mais ba- rato e limpo. Em média, o custo do frete sobre as ondas é cerca de 25% CABOTAGEM POR JACILIO SARAIVA de contêineres movimentado en- tre os portos nacionais pode mais que dobrar em dez anos. Nos últi- mos oito anos, a atividade cresceu cerca de 8%, ao ano. Para melhorar a competitivi- dade do transporte porto a porto será preciso fazer mais investi- mentos nos terminais e aumentar a frequência das viagens ofere- cidas pelos armadores. Há obras Book_CAMINHOS_NE.indb 54 05.04.13 19:34:35

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CABOTAGEM

54 ValorEspecial CAMINHOS DO NORDESTE

Previsão é de que o volume de contêineres movimentado nos portos nacionais deve dobrar nos próximos dez anos

Litoral é opção sustentável e mais eficiente

O transporte de insumos pela costa brasileira deve iniciar uma nova fase nos próximos

anos. “A cabotagem pode melhorar o envio de cargas entre os Estados nordestinos, bem como da região Nordeste para o Sul e o Sudeste do Brasil.” Quem garante é João Gui-lherme Araújo, diretor do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos). Segundo o especialista, o volume

de adequação em curso nos prin-cipais pontos de movimentação do Nordeste, como Itaqui (MA), Suape (PE), Pecém (CE), Salvador e Aratu (BA). O mercado de nave-gação local também passa por um crescimento da frota das transpor-tadoras como a Aliança Navegação e a Log-In Logística, que prometem investimentos de R$ 680 milhões em novas embarcações neste ano.

De acordo com Araújo, entre as vantagens da maior adesão à cabo-tagem no Nordeste estão a dimi-nuição da dependência do modal rodoviário e a queda nos índices de acidentes nas estradas, além da prática de um transporte mais ba-rato e limpo. Em média, o custo do frete sobre as ondas é cerca de 25%

CABOTAGEM POR JACILIO SARAIVA

de contêineres movimentado en-tre os portos nacionais pode mais que dobrar em dez anos. Nos últi-mos oito anos, a atividade cresceu cerca de 8%, ao ano.

Para melhorar a competitivi-dade do transporte porto a porto será preciso fazer mais investi-mentos nos terminais e aumentar a frequência das viagens ofere-cidas pelos armadores. Há obras

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ADI LEITE / VALOR

Fossati, daEmap: até 2014negócios vãocrescer 15%em Itaqui (MA)

Maceió

Recife

João Pessoa

Natal

Fortaleza

São Luís

Pecém

MA

PI CE

RN

PB

PE

AL

SE

BATO

PA

MG

Ilhéus

Aracaju

Aratú

Itabuna

Vila doConde

Barreiras

Salvador

MAIS BARATO E LIMPOPara aumentar a cabotagem no Nordeste, são necessárias 38 obras nos portos da região. Entre as vantagens estão a redução da dependência do modal rodoviário, a queda nos índices de acidentes nas estradas, além de ser um transporte mais barato e limpo. Em média, o custo do frete é cerca de 25% mais baixo

CHEAPER AND CLEANERConstruction work at 38 ports in the region is needed to increase coastal shipping in the North-east. Among the advantages is the lower dependen-cy on road transport, lower accident rates on roads, as well as cheaper and cleaner transportation. On average, freight costs are 25% cheaper.

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CABOTAGEM

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COASTAL SHIPPING BY JACILIO SARAIVA

Transportation of inputs along the Brazilian coast should enter a new phase in the coming months. “Coastal shipping could improve transportation of cargo among northeastern states and with the South and Southeast of Brazil,” according to Guilherme Araújo, di-rector of the Logistics and Supply Chain Institute (ILOS). According to the specialists, the volume of containers handled at domestic ports could more than double in ten years. In the last eight years, the activity grew roughly 8% per year.

Two things must happen to improve the competitiveness of port-to-port transportation: more investment in terminals and increased

ENTERING A NEW PHASE OF SHIPPINGThe number of containers at domestic ports should double in the next 10 years

frequency of trips offered by ships. There are adaptation works un-derway at the busiest spots in the Northeast such as Itaqui (MA), Suape (PE), Pecém (CE), Salvador and Aratu (BA).

According to Araújo, among the advantages of the greater usage of coastal shipping is the reduction of roadway dependence, lower acci-dent rates on roads, in addition to cheaper and cleaner transportation. On average, the freight cost for transportation across the waves is 25% lower than on roadways. Ships also emit 90% less C02 than trucks.

In Brazil, coastal shipping represents just 9.6% of the transporta-tion grid, compared with 37% in the European Union and 48% in

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mais baixo do que o praticado nas estradas e os navios emitem 90% menos CO2 do que os caminhões.

No Brasil, a cabotagem repre-senta apenas 9,6% da matriz do transporte, ante uma taxa de 37% da União Europeia e de 48% da China. A frota do serviço brasileiro tem 156 embarcações, com idade média de 17,4 anos, que perten-cem a 31 empresas, segundo levan-tamento do Ilos.

Na Bahia, as atividades de cabo-tagem representam 30% da movi-mentação total dos portos de Sal-vador e de Aratu, a 18 quilômetros da capital. Até 2014, a estimativa é que essa participação ganhe mais fôlego. “Em Salvador, é esperado um incremento de 5% a 10% para os próximos cinco anos, por conta da captação de novos usuários e de uma demanda reprimida de cargas que ainda utilizam as rodovias”, diz José Muniz Rebouças, presidente da Companhia das Docas do Esta-do da Bahia (Codeba). “Em Aratu, o crescimento do modal vai depen-der da evolução do setor petroquí-mico, sua maior fonte de renda.”

O terminal da capital baiana movimentou 3,6 milhões de to-neladas em 2012, enquanto Aratu fechou o ano com 5,8 milhões de toneladas. Para 2013, a previsão é que o complexo soteropolitano alcance 3,7 milhões de toneladas, enquanto o terminal em Candeias trabalhe com 6,1 milhões de tone-ladas transportadas ao ano.

Segundo Rebouças, o porto de Salvador mantém até duas escalas semanais de serviços de cabotagem ante seis paradas, em média, de Aratu. As principais rotas no Nor-deste seguem para os complexos portuários de Suape, Pecém e Ma-ceió (AL), com produtos químicos, alimentos e eletroeletrônicos.

Para acelerar as atividades, Sal-vador vai ampliar o terminal de contêineres que, a partir de 2013, passa a contar com um berço de 240 metros lineares, exclusivo para navios de cabotagem. “Em Aratu, as obras incluem a instalação de mais dois píeres para granéis líquidos”, afi rma o presidente.

No porto do Pecém, a movi-mentação total de mercadorias em 2012 cresceu 22%, comparado ao ano anterior. Foram transportadas 4,1 milhões de toneladas, ante 3,4 milhões de toneladas em 2011. “A previsão para 2013 é crescer de 10% a 15%”, diz o diretor de comerciali-zação, Francisco Oliveira.

Durante o ano passado, 421 navios operaram no porto cearen-se, com uma média mensal de 35 embarcações, incluindo cabota-gem e longo curso. Somente nos dois primeiros meses de 2013, o trânsito entre terminais nacionais contribuiu com 109 mil toneladas de cargas, ante as vias interna-cionais, responsáveis por 608 mil toneladas. Neste ano, serão inicia-das as obras da segunda etapa de ampliação do porto, com a cons-

trução de dois novos berços, uma ponte de acesso e uma via sobre o quebra-mar, com investimentos de R$ 568 milhões. Está prevista ainda a aquisição de uma nova correia transportadora de produtos, com recursos de R$ 215 milhões.

Em Itaqui, a construção do ber-ço 108, avaliado em R$ 49 milhões, deve trazer um incremento de 30% no despacho de granéis líquidos. A obra deve fi car pronta em novem-bro. No ano passado, o porto ma-ranhense concluiu melhorias nos acessos e pátios, em um projeto que custou R$ 1,7 milhão.

A cabotagem representa 18,3% da movimentação de cargas do ter-minal, que negociou 15,7 milhões de toneladas em 2012. A previsão é chegar a 17 milhões de toneladas,

Terminalprivativo da Ford no porto de Aratu (BA)

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China. The Brazilian fleet is made up of 156 ships (average age of 17.4 years) that are owned by 31 companies, according to ILOS.

In Bahia, coastal shipping activity represents 30% of the total port movement from Salvador to Aratu, some 18 kilometers from the capital. The sector is expected to gain momentum through 2014, gaining a broader share. “In Salvador, a 5% to 10% increase is ex-pected for the next five years because of the new users and repressed demand for loads that still use roadways,” commented José Muniz Rebouças, president of the Bahia State port authority, CODEBA. “In Aratu, the growth of this modality will depend on the evolution of the petrochemicals sector, its largest source of income.”

The terminal in the Bahian capital handled 3.6 million tons in 2012, while Aratu closed out the year with 5.8 million tons. In 2013,

the Bahian complex is expected to reach 3.7 million tons, while the Candeias terminal handles 6.1 million tons per year.

In Itaqui, the construction of Berço 108, the new R$ 49 million pier, should increase bulk shipments by 30%. The new pier should be ready in November. Last year, the Maranhão port concluded R$ 1.7 million in improvements to accesses and patios.

Coastal shipping represents 18.3% of cargo handling at the ter-minal, which turned over 15.7 million tons in 2012. Itaqui is forecast to reach 17 million tons by the end of 2014. “We should register a 15% increase in business by the end of 2014 because of the new pier for oil derivatives and the growth in regular container lines,” said Luiz Carlos Fossati, president of the Maranhão port administra-tion company, EMAP.

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até o fi nal de 2013. “Devemos regis-trar um aumento de cerca de 15% nos negócios, até 2014, por conta de um novo berço para derivados de petróleo e com o crescimento das linhas regulares de contêine-res”, diz Luiz Carlos Fossati, presi-dente da Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap).

O porto de Itaqui recebe, em mé-dia, 26 navios de cabotagem por se-mana, sendo quatro para o comér-cio de gás liquefeito de petróleo (GLP), 21 embarcações de granéis líquidos e uma unidade de contêi-neres. Entre os principais destinos estão Coari e Manaus (AM), Belém e Vila do Conde (PA).

“As nossas principais rotas se-guem para Fortaleza (CE), Cabe-delo (PB), Aracaju (SE), Suape e

Salvador”, afi rma Rosiana Siqueira, administradora do porto de Ma-ceió, que recebe oito navios de ca-botagem por semana. A participa-ção do transporte nacional no vai e vem das cargas do terminal passou de 25,1% em 2010 para 27% no ano passado. Dono de uma movimen-tação de três milhões de tonela-das, o complexo alagoano planeja um salto de 5% nas atividades, em 2013. Entre os principais produtos que fazem parte dos serviços de en-trega doméstica estão a gasolina, o óleo diesel e o petróleo bruto.

Em Suape, a principal obra para alavancar a cabotagem é o segundo terminal de contêineres, com um investimento de cerca de R$ 800 milhões. O início da operação está previsto para 2015, segundo Leo-

nardo Cerquinho, coordenador de desenvolvimento de negócios do porto pernambucano. Entre 2004 e 2011, Suape apresentou o maior salto no crescimento da cabotagem em volume, no Brasil, atingindo 3,4 milhões de toneladas. As novas obras de infraestrutura incluem a duplicação da rodovia PE-60 e a dragagem do canal de acesso, de 16 para 20 metros, considerada fundamental para receber diferen-tes tipos de navio.

De olho nos investimentos por-tuários, as empresas de logística que trabalham com cabotagem também botam a mão no bolso para ganhar competitividade. A Log-In vai inves-tir R$ 230 milhões em 2013, em na-vios e novos ativos, segundo o dire-tor comercial, Fábio Siccherino. Até o fi m de 2014, recebe quatro novas embarcações – três porta-contêine-res e um graneleiro. A empresa ope-ra com sete navios e seis deles fazem escalas no Norte e Nordeste. São 22 escalas mensais em Salvador, Suape, Fortaleza e Itaqui. “Colocar mais re-forços nessa rota é uma questão de tempo”, diz Siccherino.

Segundo Gustavo Costa, geren-te de cabotagem da Aliança Nave-gação e Logística, a empresa deve investir R$ 450 milhões, neste ano, em serviços no setor. O montante vai para a compra de quatro porta-contêineres com capacidade para 3,8 mil TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés), que en-tram na frota durante 2013.

ANNA CAROLINA NEGRI / VALOR

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