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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃONÚCLEO DE REVISÃO DE COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINALCOMISSÃO ESPECIAL - PEC 175-A/95 - REFORMA TRIBUT ÁRIA
EVENTO : Audiência Pública N°: 0343/99 DATA: 18/05/99
DURAÇÃO:3h11 P ÁGINAS : 62 QUARTOS: 10
REVISORES: ANTONIO, DÉBORA, LUCIENE
SUPERVISORES: ANA MARIA
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
JEOVALTER CORREIA SANTOS - Presidente da Federação Nacional do Fisco Estadual —FENAFISCOCARLOS JOS É TEIXEIRA - Representante do Sindicato dos Técnicos do Tesouro Nacional— SINDTTENROBERTO BOCACCIO PISCITELLI - Diretor de Defesa Profissional e Estudos Técnicos doSindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Tesouro Nacional — UNAFISCO/SINDICALJANE PASQUINELLE CASTELO - Presidente da Federação Nacional das Entidades deAuditores Fiscais de Tributos Municipais — FENAFIMMARCOS EDUARDO FREITAS RODRIGUES - Presidente da Federação Nacional dos Fiscaisde Contribuições Previdenciárias — FENAFISPÁLVARO SÓLON DE FRANÇA - Vice-Presidente da Associação Nacional dos Fiscais deContribuições Previdenciárias — ANFIP
SUMÁRIO: Discussão sobre o tema objeto da Comissão Especial.
OBSERVAÇÕES
Dúvida quanto à grafia correta de:Clining house (ou cleaning house)(?) — pág. 12Não tivemos acesso ao material utilizado pelo Sr. Jeovalter.Há falha na gravação.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Germano Rigotto) - Havendo número
regimental, declaro abertos os trabalhos da presente reunião.
Expediente
Correspondência recebida: Ofício do Líder do PDT, Deputado Miro Teixeira,
indicando o Deputado Coriolano Sales para integrar a Comissão na condição de
titular, em substituição ao Deputado Airton Dipp; ofício do Presidente do
SINDTTEN, indicando o Dr. Carlos José Teixeira para representar a entidade na
reunião do dia 18 de maio do corrente ano; carta da UNAFISCO SINDICAL,
designando o Dr. Roberto Bocaccio Piscitelli como expositor na reunião do dia 18
de maio de 1999.
Informo aos Srs. Deputados que esta reunião foi convocada para ouvirmos a
Associação Nacional dos Fiscais de Contribuições Previdenciárias— ANFIP;
Federação Nacional das Entidades de Auditores Fiscais de Tributos Municipais —
FENAFIM; a Federação Nacional do Fisco Estadual — FENAFISCO; a Federação
Nacional dos Fiscais de Contribuições Previdenciárias — FENAFISP; o Sindicato
Nacional dos Agentes de Inspeção do Trabalho; o Sindicato dos Técnicos do
Tesouro Nacional — SINDTTEN; e o Diretor da Defesa Profissional e Estudos
Técnicos do Sindicato.
Em primeiro lugar, agradecemos a presença nesta tarde aos seguintes
convidados: Dr. Álvaro Sólon de França, Vice-Presidente da Associação Nacional
dos Fiscais de Contribuições Previdenciárias — ANFIP; Dra. Jane Pasquinelle
Castelo, Presidente da Federação Nacional das Entidades de Auditores Fiscais de
Tributos Municipais — FENAFIM; Dr. Jeovalter Correia Santos, Presidente da
Federação Nacional do Fisco Estadual — FENAFISCO; Dr. Marcos Eduardo Freitas
Rodrigues, Presidente da Federação Nacional dos Fiscais de Contribuições
Previdenciárias — FENAFISP; Dr. Carlos José Teixeira, representante do Sindicato
dos Técnicos do Tesouro Nacional — SINDTTEN; e Dr. Roberto Bocaccio Piscitelli,
Diretor de Defesa Profissional e Estudos Técnicos do Sindicato Nacional dos
Auditores Fiscais do Tesouro Nacional — UNAFISCO SINDICAL.
Agradeço aos nossos convidados, aos representantes das várias entidades
ligadas ao Fisco do Brasil e aos representantes de federações e de entidades
regionais e estaduais o pronto atendimento ao convite da Comissão. Quero, ainda,
desculpar-me pela falta de espaço, pois não achávamos que a presença seria tão
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grande, e, na verdade, nossas salas não comportam tantas pessoas. Então,
desculpo-me, em nome da Comissão, não termos condições de recebê-los tão bem
como gostaríamos. Dentro do possível, peço a cada uma das entidades, não
apenas as entidades representadas pelos nossos convidados, que forneça à
Secretaria o nome de quem está representando, para que suas presenças fiquem
registradas nos Anais da Comissão, principalmente as entidades estaduais, porque
sei que há aqui vários representantes estaduais. Quero também agradecer aos Srs.
Deputados membros da Comissão e ao nosso Relator, Deputado Mussa Demes, a
presença.
Antes de iniciarmos a reunião, gostaria de fazer uma declaração. O
Deputado Antonio Kandir, Primeiro-Vice-Presidente da Comissão, marcou reunião
para hoje de manhã, às 11h30min, com o Relator, o Presidente Fernando Henrique
Cardoso e eu, na qual estavam presentes o Sr. Secretário Everardo Maciel, o
Presidente Fernando Henrique, o Deputado Arnaldo Madeira, Líder do Governo na
Câmara dos Deputados, e o Deputado Arthur Virgílio Neto, novo Líder do Governo
no Congresso Nacional. Aproveitando aquele momento, procuramos mostrar ao
Presidente o trabalho sério que esta Comissão tem realizado e todas as etapas que
estamos procurando vencer, ouvindo toda a sociedade e fazendo reuniões internas,
externas e de audiência pública. Ouvimos do Presidente, mais uma vez, o
compromisso de que irá empenhar-se ao máximo para que, nesse processo de
negociação necessário ao andamento da reforma tributária — que tem de ter a
presença dos três níveis de Governo e da sociedade —, o Governo Federal não
deixe de participar de todas as etapas que teremos pela frente. Este foi o
compromisso do Presidente. S.Exa. disse que a reforma tributária é prioridade para
o Governo. Na reunião, mostramos o cronograma que pretendemos seguir e, até o
final de agosto, termos proposta pronta para ser votada na Comissão e
encaminhada ao Plenário na primeira quinzena de setembro, além do trabalho que
estamos realizando para cumprir a meta estabelecida internamente com todos os
membros da Comissão. E o Presidente da República acredita ser possível cumprir o
cronograma, tendo dito que o Governo Federal irá ajudar no que puder, por
entender que a reforma tributária é prioridade.
Era esta a comunicação que gostaria de fazer com relação à reunião das
11h30min de hoje. Acho importante o Governo dizer realmente, com todas as letras,
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que deseja essa reforma, conforme fez hoje, e que irá ajudar na construção desse
novo modelo tributário. É bom que se diga que o Relator e o Presidente não se
reuniram para ouvir a opinião do Governo com relação a pontos da reforma.
S.Exas. foram falar sobre o trabalho que estava sendo feito e ouvir do próprio
Presidente da República o compromisso de que o Governo Federal participará de
todas as etapas que teremos de vencer para construir o novo sistema tributário.
Agradeço, mais uma vez, aos convidados a presença. Teremos uma Mesa
representativa das entidades ligadas ao Fisco Federal, aos Fiscos Estaduais, aos
Fiscais da Previdência e à entidade representativa maior do Fisco Municipal. Não
tenho dúvida de que a presença de V.Sas. é muito importante para a Comissão, por
se tratar de quem está na ponta, cobrando o tributo e fiscalizando o seu
pagamento, e de quem tem experiência com relação ao sistema tributário brasileiro,
com suas deficiências e virtudes, que pode aproveitar momentos como este para
dizer à Comissão o que deve acontecer nessa reforma tributária na busca de um
sistema tributário mais eficiente e que ofereça melhores condições para o trabalho
de V.Sas. Este momento é importante para a Comissão.
Daremos a palavra por quinze minutos para cada um, a fim de que possamos
ouvir todos. Claro que, passado esse tempo, não poderão concluir. Esses quinze
minutos são para permitir que todos façam suas exposições, com a posterior
participação dos Srs. Deputados com relação às dúvidas que levantarem ou às
argüições que queiram fazer.
Peço a colaboração dos nossos convidados para que troquem de posição
quando utilizarem o microfone, a fim de que a pessoa fique mais próxima.
Com a palavra o Dr. Jeovalter Correia Santos, representante da
FENAFISCO.
O SR. JEOVALTER CORREIA SANTOS - Boa-tarde a todos. Sr. Presidente,
membros da Mesa, Sr. Relator, Sras. e Srs. Deputados, colegas da Previdência, do
Fisco Estadual, Federal e Municipal, membros da imprensa e demais presentes,
agradeço ao Sr. Presidente desta Comissão a oportunidade e a honra de estar aqui
falando para os Srs. Deputados, mostrando a visão — como S.Exa. bem salientou
— de quem fiscaliza e arrecada, de quem tem a responsabilidade de aplicar a
legislação tributária votada por V.Exas. É uma honra para nós, profissionais da
Federação Nacional do Fisco Estadual — FENAFISCO, que congrega os Fiscos
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Estaduais do Brasil inteiro. A consciência do nosso compromisso social vai nortear
nossas posições nesta Comissão. Temos certeza de que a reforma tributária
acontecerá segundo o interesse público, de forma que venha atender aos objetivos
para ela traçados, sendo que o mais importante deles é que a Nação tenha
condições de resgatar a nossa dívida social.
A primeira indagação relativa ao objetivo da reforma tributária: para que
modificar ou aprimorar o sistema tributário? Vislumbramos aqui três objetivos, mas
poderíamos tecer vários deles. O primeiro objetivo é que o Poder Público tenha
recursos necessários para cumprir suas funções e suas responsabilidades. O
segundo objetivo é a eficiência econômica para que as atividades econômicas
possam ter liberdade de atuação. E o terceiro objetivo é a simplificação do sistema
com a clara definição dos tributos, de quem paga e de quem arrecada, gerando
condições para a harmonização e a integração do País na economia internacional.
Poderíamos tecer aqui outros objetivos, como, por exemplo, acabar com a guerra
fiscal etc, mas isso já está tão batido que não entraremos mais nesses detalhes.
Características positivas do sistema tributário em vigor.
Em primeiro lugar, ele foi elaborado segundo o critério da racionalidade.
Duas formas configuram o sistema tributário: um deles é o nosso sistema,
elaborado em 1966 pelo tributarista Rubens Gomes de Souza(?), de acordo com a
racionalidade; o outro é o sistema histórico, que se vai conformando de acordo com
as necessidades de caixa. O nosso sistema, elaborado de forma organizada, está
descambando para o sistema histórico, que vai criando figuras tributárias de acordo
com a necessidade de caixa, com as necessidades do momento e as necessidades
conjunturais.
Outra característica positiva do nosso sistema é a sua produtividade. Vamos
demostrar em algumas tabelas que nosso sistema está gerando arrecadação da
ordem de 30% do PIB, que foi o quanto se arrecadou em 1998.
Características negativas do sistema atual.
Conforme falei, a tendência crescente para que prepondere o sistema
histórico, ou seja, a conformação do sistema de acordo com as necessidades
conjunturais, o elevado grau de cumulatividade, já muito batido na Comissão. Nós
todos, convidados e Deputados, que assistimos a quase todas as sessões, somos
unânimes em dizer que a questão da cumulatividade atrapalha o sistema e o torna
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anacrônico. Por último, a complexidade decorrente da excessiva tributação. Nós,
operadores do ICMS, sabemos o quanto é complexo operar o ICMS e administrá-lo
em função das reduções de alíquotas, da redução da base de cálculo, e poderia
citar aí outras 27 legislações nos Estados, mas vou ficar nessas três
características.
Quais são os reflexos negativos do atual sistema? Prejuízo à competitividade
internacional — tema também muito batido aqui, e acho que todos concordam com
isso —; custo administrativo excessivamente elevado para o contribuinte e também
para o Poder Público em função da complexidade — com o aumento da demanda
por fiscalização, aumenta-se proporcionalmente o custo —; indução à sonegação
pela manutenção da carga tributária nominal insuportável, na medida em que se
administra aumentando tributo neste País — o que é fácil fazer, ou seja, administrar
o tributo já existente tornou-se mais difícil do que aumentar tributo. É o que se faz
quando se quer aumentar o fluxo de caixa do Governo. Por último, a guerra fiscal,
que acho não ser preciso entrar em detalhes, porque os Deputados têm-se
manifestado de forma quase unânime em relação a esse tema.
Alguns pontos merecem reflexão em relação à reforma tributária, e vou
mostrar três deles.
A excessiva tributação do consumo. Mais à frente vamos ver que o consumo
hoje representa 43% da arrecadação tributária neste País, enquanto que em outros
países o consumo está na ordem de 20% a 24%, como no Japão e nos Estados
Unidos.
A baixa tributação do patrimônio da renda. Só para que V.Exas. tenham
idéia, o patrimônio gera apenas 1% do PIB em arrecadação, enquanto que em
alguns países esse percentual está em torno de 10%. E quantos países do
Ocidente tributam o capital na ordem de 35% e nós tributamos o capital na ordem
de 8% e a renda em torno de 25%, conforme veremos nas tabelas a seguir.
Concentração de competência. Aparentemente, a Constituição de 1988 —
isso é uma verdade —, em termos de receita disponível, descentralizou a receita
disponível da União e do Estado para os Municípios, mas ainda há uma grande
concentração de competência tributária em poder da União. Vamos ver isso nas
tabelas a seguir.
(APRESENTAÇÃO DE TRANSPARÊNCIA)
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O SR. JEOVALTER CORREIA SANTOS -Primeiramente, o ranking da carga
tributária de 1998. Temos ali o ICMS com 6,99% do PIB, que arrecadou 60,9
bilhões de reais; a seguir vem o INSS com 50 bilhões, sendo 5,75% do PIB e
19,16% de participação relativa. Temos o maior tributo, que é o ICMS, e o IPR
como o menor tributo, e há outras receitas, nas quais entram uma série de
arrecadações. Então, esse é o ranking de todos os impostos juntos, para que
tenhamos idéia de qual imposto é mais produtivo. Temos o Imposto de Renda, que
são 17,5% em termos relativos, que representam 5,25% do PIB.
Em relação à carga tributária, 69,85% são de competência da União, dos
quais 28,33% representam impostos de participação relativa, e contribuições e
outros, 41,52%.
Então, a União arrecada 20,96% do PIB, os Estados, 7,73% do PIB; e os
Municípios, apenas 1,28% do PIB. Em termos de competência tributária — não
estou falando em termos de receita disponível —, há uma concentração de
competência com o Governo Federal.
Por categoria de tributação, o perfil da carga tributária em 1998 foi o
seguinte: Renda e capital, 24,9% em termos relativos e 7,47% em termos de
percentuais de PIB; Consumo, 41,29% em termos relativos e 12,38% do PIB.
V.Exas. podem observar que a maior tributação por categoria de tributação ocorre
no consumo. Contribuição previdenciária, 50 bilhões; 5,75% do PIB. E outras
receitas ficaram em 3,28% do PIB.
No documento que foi distribuído está descrita a metodologia, quais os
impostos que foram classificados como consumo, que, inclusive, difere um pouco
de outros cálculos relativos a consumo que existem por aí, como, por exemplo, o
que classifica o IOF como consumo. Preferimos não colocar o IOF como consumo.
Na carga tributária sobre consumo — que aí está separada — temos: o IPI,
imposto federal do tipo IVA, que arrecadou, em 1998, 16,3 bilhões — 15,09% em
termos relativos e 1,87% do PIB; a COFINS, 18,7 bilhões e 2,15% do PIB; o
PIS/PASEP, que arrecadou muito pouco, apenas 7,5 bilhões — 0,87% do PIB; e o
ICMS, que é o maior imposto, 60,9 bilhões de reais. O ISS, imposto municipal, está
arrecadando muito pouco ainda: 4,5 bilhões — 0,52% do PIB.
Aqui temos a evolução do crescimento da arrecadação em relação ao PIB.
Em 1994 era 25,09%, manteve-se estabilizado em 1995, 1996 e 1997, e em 1998,
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em função dos ajustes feitos e de novas figuras tributárias criadas, aumentaram
também as alíquotas e tivemos uma arrecadação de 30,01% do PIB.
Outro ponto para reflexão, Srs. Deputados, é a questão do fortalecimento do
pacto federativo. A autonomia dos entes federados decorre da autonomia
financeira, que, por sua vez, decorre de autonomia tributária. Não venham me dizer
que receita disponível é autonomia financeira. Sabemos que não é, porque quem
tem a competência para legislar é o senhor da arrecadação.
Vimos o que aconteceu com o FEF. Tirou-se a arrecadação dos Estados e
Municípios, porque quem tem a iniciativa de fiscalizar, de legislar e de instituir
impostos é a União. A União faz do imposto o que quer e retira quando quer a
arrecadação dos Estados e dos Municípios, como fizeram com o FEF.
Portanto, a autonomia dos entes federados decorre da autonomia tributária.
Não podemos fugir disso. Precisamos refletir um pouco sobre o assunto, até porque
as despesas acontecem nos Municípios e nos Estados, onde os cidadãos, por
estarem mais perto, podem fiscalizar.
Um outro ponto sobre o pacto federativo é a questão do respeito às tradições
e às diversidades regionais. Não é possível que a União possa conhecer todos os
problemas existentes no Rio Grande do Sul ou no Nordeste, que têm suas
peculiaridades culturais e regionais. Por isso, defendo a autonomia dos entes
federados.
Eficiência nos gastos públicos.
Já tratei anteriormente desse assunto. O cidadão está nos Municípios, onde
é possível fiscalizar com mais facilidade. Logo, é importante que os entes
federados tenham autonomia tributária, para que possam gastar com competência,
sendo fiscalizados e controlados pela sociedade.
A reforma tributária que se desenha por aí não é a reforma tributária e fiscal
que seria interessante. É apenas uma reforma tributária. Estamos fazendo uma
sopa de letrinhas, tirando uma sigla de lá e colocando para cá. O importante é
definir, Sr. Presidente, as atribuições de cada ente federado, para não acontecer
como hoje, que se descentralizam os gastos e encargos e centraliza-se a
arrecadação tributária. Sendo assim, é importante que esta Comissão faça um
estudo acurado sobre a atribuição de cada ente federado.
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Outro ponto importante para os meus colegas fiscais que trabalham com
tributação é a administração tributária. Os países que já fizeram sua engenharia
legislativa em relação à reforma tributária e não cuidaram da administração
tributária se deram mal. É importante garantir a efetividade da administração
tributária e do crédito tributário. Não é possível conviver com o sistema tributário
que temos hoje sem olhar a questão da administração tributária.
Só para que V.Exas. tenham idéia, vou citar um exemplo. São Paulo tem hoje
20 bilhões de reais na dívida ativa. É quase o orçamento do Estado de São Paulo.
Existem mais de 150 mil processos. Por quê? Porque não há garantia para o crédito
tributário.
Cada pessoa tem um desenho de reforma tributária na cabeça, mas estamos
aqui para defender a administração tributária, o combate à sonegação e a
efetividade do trabalho do Fisco. Não tem como o Fisco trabalhar sem os elementos
necessários. Não adianta fazermos autuação. Existe todo um processo para
postergar a cobrança, que conta com a ajuda de advogados, entranhado na
administração pública, que não consegue dar efetividade ao trabalho que todos
esses senhores do Fisco que estão aqui fazem. É preciso dar garantias para que o
crédito tributário possa ser processado.
Outra questão que se apresenta é a autonomia de gestão financeira. Não
estamos aqui pedindo para ser um quinto poder, mas para que a administração
tributária possa ter a independência necessária para executar a política tributária
traçada pelos Governos eleitos. Nesse caso, a autonomia de gestão e financeira é
fundamental.
Estamos num processo nacional em que os Estados estão mais preocupados
em cortar despesas do que em aumentar a arrecadação. Existe um Secretário da
Fazenda que está full time preocupado em cortar gastos, porque há um ajuste
fiscal que precisa ser cumprido. O Governo Federal tem toda uma forma de
pressionar os Estados para que eles se atenham a isso. Não há ninguém
preocupado em executar uma política tributária, em aumentar a arrecadação, que
tem um grande potencial.
Nesse sentido, a flexibilização do sigilo bancário é importante. Flexibilização
do sigilo bancário não significa irresponsabilidade no uso das informações fiscais.
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Queremos que o sigilo seja flexibilizado, mas que se responsabilizem os
funcionários, as pessoas que se utilizam dessas informações para outros fins.
A punibilidade do sonegador. O ladrão que rouba uma bicicleta, mesmo que
a devolva, vai preso. A pessoa que sonega bilhões, se pagar, não é processado. É
imprescindível que existam instrumentos para que a administração tributária possa
cumprir seu papel. Esse é um ponto fundamental.
A garantia do crédito tributário. Deve haver uma forma de garantir o crédito
tributário quando se vai executar. Quantos de nós autuamos e, quando vamos
procurar o contribuinte cinco anos depois, ele não existe mais. É preciso que o
Fisco tenha controle sobre os bens do sonegador, seja através de autorização
judicial, seja de qualquer outra forma, a fim de que os bens de quem foi autuado
garantam o crédito tributário lançado.
O controle da legalidade do lançamento do crédito tributário também é
importante. Defendemos que Estados e Municípios tenham suas próprias
procuradorias para agilizar o processo. É importante que haja o controle da
legalidade do lançamento do crédito tributário e que se reformem os contenciosos
administrativo-tributários, que se tornaram verdadeiros tribunais, sem ter
competência para isso. Os contenciosos administrativo-tributários precisam ser
reformulados para garantir a efetividade do crédito tributário.
Sr. Presidente, Srs. Deputados, é fundamental que haja uma conexão entre
esta Comissão e a Comissão de Reforma do Judiciário, para que se agilize a
execução da dívida ativa. Como falei, São Paulo tem 20 bilhões na dívida ativa.
Goiás tem 2,5 bilhões. Se os Deputados quiserem, posso distribuir depois a relação
de quantos Estados estão inscritos na dívida ativa e não são executados.
Temos um breve histórico sobre a tributação do consumo. Quando o ICMS
foi criado, ele teve uma alíquota única de 15%. Depois, a alíquota era de 12% para
as operações interestaduais. Posteriormente, ela foi baixada para 7%, o que
induziu à sonegação.
Nesse documento distribuído a V.Exas. há um breve histórico da tributação
do consumo. Quando ele foi instituído, foi adotado o princípio da origem pura.
Depois, com a redução da alíquota, adotou-se o princípio do destino parcial — não
é assim, Prof. Emerson Ferreira? Emerson é professor da Universidade Católica de
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Goiás e ajudou a articular juridicamente a proposta da FENAFISCO, da qual
estamos tratando aqui.
Quais são os efeitos colaterais decorrentes dessa redução? Tem-se aí a
indução e a simulação de operações interestaduais — utilizando o princípio do
destino parcial — com fraude e tudo mais, a quebra da neutralidade do imposto em
relação ao mercado, que ocasionou a guerra fiscal. Em 1998, o ICMS teve suas
bases ampliadas em função do petróleo, da energia elétrica, da comunicação, dos
minerais e do transporte. Para petróleo, energia e comunicação foi adotado o
princípio do destino puro, que também acentuou a questão da sonegação.
Não obstante os efeitos indesejáveis que tivemos em relação à perda de
receita dos Estados, a Lei Complementar nº 87 e a questão da economia em
relação, por exemplo, à soja, onde há um estímulo para que se exporte a soja in
natura e não a soja com valor agregado, resolveram muitas pendências do ICMS.
Todos nós que trabalhamos para o estadual somos unânimes em relação ao
assunto.
Em relação ao consumo, quero ater-me somente ao ICMS, já que as demais
questões sobre o consumo serão tratadas por outras pessoas.
Requisitos para elaboração de um sistema tributário.
Produtividade — o nosso sistema atual é produtivo. Com todo esse caos,
arrecadamos 30% do PIB.
Simplicidade e flexibilidade — simplicidade no sentido de que o contribuinte
possa trabalhar com tranqüilidade. E nós, do Fisco, Sr. Presidente, quando
pedimos simplicidade, pedimos também para nós, trabalhadores do Fisco, porque
só nós sabemos o quanto é difícil trabalhar com uma legislação complexa. Hoje
temos legislações complexas, como a do ICMS e a do Imposto de Renda, que
mudam sempre em função das diversas legislações que se aprovam todos os anos.
Temos dificuldade para aplicar a legislação. Portanto, queremos também
simplicidade.
Compatibilidade com a renda nacional. É claro que ninguém vai querer
colocar uma carga tributária acima da renda nacional.
Compatibilidade com os ideais de justiça. Se não mudarmos o sistema
tributário e não mexermos na questão da renda, não adiantará fazer reforma
tributária, porque é preciso que quem ganhe mais pague mais tributo neste País.
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Ontem a manchete da Folha de S.Paulo era a seguinte: "O Imposto de Renda dos
assalariados é maior do que o Imposto de Renda de todos os bancos". Não
podemos mais conviver com isso. Temos de ter um sistema tributário que enfatize a
tributação dos impostos diretos.
Eqüidade. Precisamos dar tratamento igual aos iguais e desigual aos
desiguais.
Sistema tributário não cumulativo, que tenha eficiência econômica, ou seja, o
sistema tributário não pode atrapalhar, ser um entrave às atividades econômicas.
Temos aqui um sistema desenhado pela Fundação Getúlio Vargas, que
entendemos ser o ideal: Imposto de Renda, consumo, imposto seletivo, ICMS,
imposto sobre serviços finais dos Municípios, propriedade, que é o IPVA e o ITCD,
e imposto sobre propriedade territorial, imposto sobre transmissão de bens, imposto
de comércio exterior e um imposto que substituiria o IOF.
Por último, as sugestões da FENAFISCO para o sistema tributário ideal. É
claro que cada um tem as suas siglas na cabeça. A Fundação Getúlio Vargas
desenhou essa aí. Entretanto, é importante mantermos a tributação nas três bases
clássicas e universais: renda, patrimônio e consumo. Devemos manter a atual
competência tributária e distribuição da receita nas três esferas de Governo. Não
dá para sairmos dessa reforma tributária sem manter a mesma competência. Aliás,
esta é uma decisão do Fórum do Fisco Nacional nas três esferas do Governo:
simplificação do sistema, eliminação da cumulatividade e a questão do ICMS, à
qual nos referimos anteriormente.
Outro aspecto importante é o reforço do pacto federativo. Deve-se dispor
sobre a participação de Estados e Municípios em quaisquer tributos que venham a
ser criados em decorrência da competência residual da União. Vejam que ali não
está imposto, está tributos, para evitar que se perca a vontade de se arrecadar um
imposto "a" ou "b", em função do imposto ser partilhado, ou se criem outras figuras
tributárias que não sejam partilhadas. Então, estamos propondo um dispositivo para
que qualquer figura tributária que venha a ser imposta seja partilhada com Estados
e Municípios.
A adoção integral do princípio do destino do ICMS. Este caso consiste
naquilo que entendemos ser uma proposta que venha para resolver o problema da
autonomia dos Estados. Existem várias formas de tributação do destino. Uma forma
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é a tão bem concebida pelo Relator, que também se encontra na proposta do
Deputado Antonio Kandir, que é a do chamado barquinho, em que nas operações
interestaduais tem alíquota zero e nas operações internas tem a alíquota do
imposto. Nas operações interestaduais tem a alíquota do ICMS federal.
Outra forma é aquela que vigora na Comissão Européia, em Bruxelas: é a
chamada clining (?) house , onde existe um órgão que administra o ICMS. A
legislação é federal. Nós concordamos com isso, pois achamos não ser possível
que o ICMS tenha 27 legislações. Tem que haver uma única legislação. Porém, que
a competência não seja individual do Presidente da República, porque quem tem a
competência individual tem competência para, por exemplo, dar incentivo em
determinado Estado, por questões políticas; tem competência para tirar a
arrecadação dos Estados através de outros mecanismos. Estamos propondo,
então, que esse órgão tenha a competência privativa de instituir o imposto, que
poderia ser o Colégio de Governadores, como funciona em outros países. Não
venham dizer que isso não é possível. Os países da Europa abriram mão da sua
soberania e as diretivas para a administração do IVA saem da Comissão Européia,
em Bruxelas. Portanto, não estamos propondo algo novo. Queremos a manutenção
da autonomia dos Estados; não a autonomia individual, mas a autonomia coletiva
para administrar esse imposto.
Por último, a padronização, a uniformização da legislação e a adoção de
mecanismo que garanta a efetividade da administração e do crédito tributário. Não
podemos fazer reforma tributária sem resolvermos esse problema. Estamos
solicitando também que haja maior produtividade para o Imposto de Renda e os
impostos patrimoniais.
Nas considerações finais, gostaria de dizer que não estamos aqui para
defender uma proposta específica, até porque é difícil, porque somos uma
Federação. Não analisamos ainda todas as propostas de reforma tributária.
Estamos abertos à discussão, de forma transparente, franca e honesta. Somos
cônscios da nossa responsabilidade como aplicadores da legislação, como
responsáveis, lá na ponta, por trabalharmos a questão tributária. No entanto,
analisando algumas propostas, algumas emendas recentemente apresentadas,
chegamos a apoiar as emendas da Deputada Lúcia Vânia, as dos Deputados
Eduardo Campos e Deusdeth Pantoja — não é só a Federação que apóia essas
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emendas, mas todo o fórum, todas as entidades representativas do Fisco — e duas
emendas do Deputado Luiz Salomão, as de número 42 e 45.
Sr. Presidente, agradeço a V.Exa. a paciência pelo tempo a mais que
utilizamos. (Palmas).
O SR. PRESIDENTE (Deputado Germano Rigotto) - Agradeço ao Dr.
Jeovalter Correia Santos, Presidente da Federação Nacional do Fisco Estadual —
FENAFISCO, a exposição e o documento que entrega a todos os Deputados
membros da Comissão, que é a síntese do seu pronunciamento.
De imediato passo a palavra ao Dr. Carlos José Teixeira, representante do
Sindicato dos Técnicos do Tesouro Nacional — SINDTTEN, para a exposição que
julgar deva fazer à Comissão.
Lembro a todos que haverá seis exposições. Claro que esta Presidência não
quer cortar o tempo de exposição de qualquer um dos nossos convidados. O Dr.
Jeovalter avançou um pouco no tempo. Na verdade, foram quase quarenta minutos,
mas, de qualquer forma, pediria a contribuição de todos para que possamos ouvir
todas as entidades.
Com a palavra o Sr. Carlos José Teixeira.
O SR. CARLOS JOSÉ TEIXEIRA - Muito obrigado, Sr. Presidente. Gostaria,
inicialmente, de agradecer ao Sr. Presidente, Deputado Germano Rigotto, o
convite. Sr. Presidente, Srs. Vice-Presidentes, Deputados Antonio Kandir,
Antonio Palocci, Romel Anizio; Sr. Relator Mussa Demes, colegas do Fisco aqui
presentes, acho que temos muito a contribuir com esse debate, um debate que não
interessa somente a nós, agentes do Fisco, aquele que está lá na ponta, nos
lugares mais longínquos deste País, mas também aos representantes da
sociedade civil, que muito anseiam e esperam por um sistema tributário justo e
eficiente.
Talvez haja redundância naquilo que vou falar com o que o Jeovalter disse,
mas isso vai espelhar muito bem a coesão e a firmeza com que as entidades do
Fisco estão trabalhando na questão da reforma tributária. Ao contrário do que
muitos pensam, temos muitos pontos comuns, temos consenso e uma única voz:
queremos um sistema tributário no qual tenhamos condições de atuar. Estou
representando somente os técnicos da Receita Federal. Acreditamos que há pontos
que devem ser considerados para a otimização do nosso sistema tributário.
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Uma nova política orçamentária para os órgãos estratégicos do Fisco. Os
órgãos do Fisco e a Receita Federal — e isso tem sido evidente — têm tido cortes
orçamentários, o que tem impossibilitado a nossa atuação, e isso é grave. Isso é
muito perigoso para quem quer promover a justiça fiscal e combater a sonegação.
Dentro dessa mesma linha de uma nova política orçamentária, devemos ter
uma administração tributária forte, eficiente e eficaz. Não há como ter uma
administração tributária forte se os servidores que a compõem não estiverem sendo
fortalecidos. A garantia do crédito tributário é fundamental, porque de nada adianta
fiscalizar e cobrar sem ter a garantia de que esse crédito vai, efetivamente,
ingressar nos cofres da Fazenda.
Integração é fundamental. O que assistimos no fórum do Fisco Nacional?
Assim como há perfeita integração entre as três esferas de Governo, é fundamental
que também haja integração entre os Municípios, Estados e União.
Educação tributária. Talvez seja um assunto novo trazido a este debate. É
também fundamental no sentido de desmistificar a figura do cobrador de impostos,
malvisto desde os tempos da Bíblia. Estes são, na nossa opinião, objetivos que
devem ser discutidos no debate que permeia a reforma tributária.
Maior controle sobre o FUNDAF. O que é o FUNDAF? É a vida da Receita
Federal. É dali que saem os recursos para que ela funcione, e esses recursos vêm,
sistematicamente, sendo enxugados, o que tem inviabilizado nossa atuação. Vale
lembrar que o FUNDAF, antigamente, provinha de multas e juros. Vejam bem a
importância disso. Parte daquilo que o sonegador paga de multas e juros era
revertido para que a máquina pudesse ser custeada, para que 90% dos salários do
servidores da Receita Federal pudessem ser pagos. É necessário maior controle
sobre isso, porque os recursos vêm sendo escasseados a cada dia.
Deve haver maior investimento na Secretaria da Receita Federal. Por que
digo isso? As despesas da Receita Federal não podem mais ser consideradas
como custos. É investimento. Há estudos que demonstram isso comprovadamente:
para cada real que se investe na Secretaria da Receita Federal ela dá 177 reais de
retorno. E a autonomia financeira? Não dá mais para a Receita Federal e os Fiscos
continuarem sujeitos às intempéries de uma política fiscal.
Na questão do fortalecimento da administração tributária, para que se possa
dar efetividade à reforma tributária que vem por aí, é necessário que os nossos
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sistemas de informação sejam melhorados. Houve melhorias nos últimos anos, mas
acreditamos que há muito o que fazer. Em plena era da informação em que vivemos
hoje é necessário esse aprimoramento. E aí gostaria de chamar a atenção de
todos. Há um gráfico a seguir que vai demonstrar uma situação realmente
catastrófica na Receita: o aumento do quadro funcional dos servidores da Receita.
Desde o ano passado, pelo pacote de novembro, foram cortados os concursos para
Técnicos da Receita Federal e reduzido o número de concursos para Auditor Fiscal
da Receita Federal.
Otimização dos procedimentos administrativos, tornando-os mais rápidos e
mais ágeis. Não dá mais para continuar havendo um intervalo de cerca de dez
anos, ou até mais, entre a lavratura do auto de infração e a efetividade no
recebimento daquilo que foi autuado. Então, dentro da mesma linha de pensamento
que o Jeovalter apresentou, as instâncias administrativas e os processos
administrativos devem ser revistos e também a perfeita harmonia com a
reestruturação do Poder Judiciário, que está em curso. Isso deve ser considerado.
Acreditamos que, nessa otimização, torna-se necessária a ampliação das varas de
execução fiscal e de defesa que tratem especialmente de questões tributárias.
A flexibilização do sigilo bancário. Não há hoje como fiscalizar, lavrar um
auto de infração se não houver esse instrumento. E que isso não signifique
irresponsabilidade. É muito importante deixar isso bem claro: teremos a informação
devidamente protegida pelo sigilo fiscal. Não queremos ter um quarto poder em
nossas mãos. Não, ao contrário. Queremos utilizar isso para ter acesso a
informações que hoje são escamoteadas por conta do sigilo bancário, para que
possamos atuar e combater a sonegação.
Defensoria jurídica própria que defenda o órgão e seus integrantes nos
exercícios das suas atribuições. Isso é fundamental. Hoje a Receita Federal não
tem um corpo jurídico próprio. Dependemos da Procuradoria da Fazenda Nacional.
Nessa linha da defesa jurídica houve um avanço com a recente edição de um
decreto que regulamentou a defesa dos servidores da Receita Federal para que
possam atuar. Mais do que isso, é necessário defender a própria organização. Hoje
em dia, só para que os senhores tenham idéia, quando o contribuinte entra com um
mandado de segurança contra o delegado, quem dá as informações para essa
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autoridade não é uma pessoa que esteja inserida no corpo jurídico. Falta essa
estrutura dentro da organização da Receita Federal.
Gostaria de pedir a atenção dos senhores para este dado: quantidade de
servidores do Fisco para cada 10 mil habitantes. É calamitosa essa situação.
Enquanto no Reino Unido há 16,8 servidores do Fisco para cada 10 mil habitantes,
no Brasil há 1,2. Estamos no mesmo nível da Guatemala e um pouquinho superior
ao Peru. A própria Receita Federal está reconhecendo essa distorção. No ano
passado foi feito um projeto na Receita para quantificar o número ideal de
servidores, a fim de que pudéssemos executar nossas funções. Chegou-se à
conclusão de que seriam necessários, entre auditores fiscais e técnicos, 41 mil e 46
servidores. Hoje, 13 mil, 730 FTN's e TTN's trabalham na Receita Federal. Não
temos um terço do que precisamos para trabalhar.
Voltando a frisar a questão da garantia: não há como constituir-se auto de
infração, ter a declaração espontânea do contribuinte e não ter como efetivar o
ingresso daquilo que foi constituído nos cofres da Fazenda Nacional. Daí a
necessidade de haver garantias para que esse crédito ingresse efetivamente. A
indisponibilidade na fase administrativa poderia ser um grande avanço — e sobre
isso, talvez, o Roberto Bocaccio Piscitelli possa falar depois com mais clareza em
sua exposição. O que seria isso? No momento em que o agente do Fisco começa a
fiscalizar o contribuinte são tomadas medidas no sentido de evitar que esse
contribuinte comece a dilapidar seu patrimônio, que é o que ocorre na prática hoje.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Antonio Palocci) - V.Sa. dispõe de mais
cinco minutos.
O SR. CARLOS JOSÉ TEIXEIRA - Obrigado, Sr. Presidente. Há situações
em que o fiscal tem que entrar todo dia no sistema de informações para ver se o
contribuinte não vendeu algum bem naquele dia ou transferiu para laranjas, como
temos visto por aí.
A imprescritibilidade do crédito tributário enquanto não se encerra o
processo administrativo. Devido à questão da morosidade da tramitação do
processo administrativo esse é um fato. E, muitas vezes, na hora de ser executado,
o crédito está prescrito. Aí perdeu-se todo um trabalho. Isso significa um custo
enorme para os cofres públicos.
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Revisão dos casos de isenção, anistia e imunidade. Não é mais possível
conviver com certos institutos dentro do sistema tributário que beneficiam certos
grupos ou segmentos.
Uma legislação penal consistente e harmônica com a legislação tributária.
Não basta ter uma legislação tributária eficiente. Temos que ter uma legislação
penal que também ajude a garantir a efetividade dessa legislação tributária. Nessa
linha é profundamente necessário manter a punibilidade dos crimes contra a ordem
tributária, mesmo que haja pagamento.
Gostaria de fazer uma comparação entre o ladrão e o sonegador.
Desculpem-me, mas para mim não há diferença. O ladrão rouba de terceiros,
sonegador rouba do Estado. Seria a mesma coisa, na minha opinião. O ladrão
devolver o dinheiro e não ser mais punido é a situação existente hoje. O crime deve
ser punido. Obviamente, não vamos dar prisão perpétua para o sonegador. Há que
se diferenciar também o pequeno do grande sonegador. O cara que sonega dez
reais, vinte reais, é o pequeno empresário, que, muitas vezes, até em função do
sistema tributário injusto, sonega por questão de sobrevivência. O grande
empresário é aquele que sonega simplesmente por sonegar, que tem seus
planejamentos tributários, que pratica aquilo que chamamos de elisão tributária.
Integração é fundamental para a efetividade do sistema. Não dá mais para
continuar com essa desarmonia que existe entre os entes tributários. Nesse
sentido, para um sistema integrado de informações — volto a frisar —, dentro da
linha da era da informação, temos que usar esses instrumentos para dar
efetividade. Os bancos estão extremamente automatizados. Poder-se-ia aumentar
essa automatização para os cartórios e haver uma linha de comunicação direta com
o Fisco, de modo que, quando estivermos operando, atuando, tenhamos as
informações disponíveis.
Cooperação técnico-adminstrativa dos Fiscos Municipal, Estadual e Federal.
Acho que há muito que trocar informações. Essa integração que temos no grupo
Fisco hoje deve ser estendida a todas as esferas de Governo.
A implementação de órgãos de inteligência fiscal dentro da administração
tributária é fundamental. Não que isso signifique criar-se um SNI, mas,
simplesmente, trabalharmos de forma mais inteligente, termos mais dados e
informações antes de começarmos a realizar o trabalho de autuação.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Antonio Palocci) - V.Sa. pode concluir, por
favor?
O SR. CARLOS JOSÉ TEIXEIRA - Certo. Gostaria de chamar a atenção
para este item: educação tributária. Nossa proposta é no sentido de que haja
mudança na filosofia que hoje impera. Todo o mundo nos vê com maus olhos.
Onde você trabalha? Trabalho na Receita Federal. As pessoas já ficam com medo.
Não é assim, vamos desmistificar isso. Daí a importância de se ter até nos
currículos de ensino fundamental, de ensino médio — por que não? —, questões
relativas à educação tributária. Assim, entra a questão da transparência na
aplicação de recursos arrecadados. Nesse sentido, a Lei de Responsabilidade
Fiscal pode se tornar um grande avanço. A população vai pagar seus impostos,
sim. Em troca, deve ter os serviços públicos e também estar ciente de como são
gastos seus impostos.
Enfim, acreditamos que são esses os objetivos que devemos alcançar.
Temos algumas propostas.
Aplicabilidade efetiva. Como achamos que se vai dar? Através da
conscientização tributária, dentro do quesito aplicação tributária; da atuação efetiva
do Fisco, com as condições de atuar, e, fundamentalmente, utilizar a tributação, os
impostos, a fim de que sirva para distribuir renda neste País, que é tão desigual, e
uma melhor distribuição da carga tributária. Não dá mais para conviver com esse
sistema em que o assalariado paga mais do que o banco.
Maior progressividade do Imposto de Renda. Queremos resgatar a
característica de um imposto direto com o Imposto de Renda da Pessoa Jurídica,
que hoje se tornou um imposto indireto; um Imposto de Renda negativo, que pode
ser um avanço e está naquela linha de desmistificar a tributação; a criação de
novas deduções, já que o Estado não provê com habitação, educação e saúde,
ampliar essas deduções do Imposto de Renda.
Maior tributação do capital. Não dá mais para conviver com essa realidade,
essa ciranda de capital especulativo que não paga impostos. O aumento na
tributação das instituições financeiras tem lucrado muito com o Plano Real. E
propomos a aplicação da tabela progressiva, que hoje é aplicada somente pelo
assalariado, também para os ganhos do grande capital. Por que não?
(APRESENTAÇÃO DE TRANSPARÊNCIA)
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Estas são as alíquotas máximas do Imposto de Renda de Pessoa Física,
uma comparação com outros países. Isso decorre da falta de uma maior
progressividade do Imposto de Renda para a pessoa física.
Por fim, como, na nossa visão, é o sistema tributário atual. Vê-se o grande
sonegador, com muito dinheiro, por trás de todo o seu patrimônio, os famosos
consultores tributários analisando cuidadosamente aquele leão pequeno, que
pouco pode fazer e pouco pode atuar. Não queremos isso. Queremos outra
situação, um Fisco que seja reconhecido pela população e que tenha condições de
prover a sociedade com desenvolvimento, saúde, educação, investimento em
tecnologia e distribuição de renda, que dê condições ao trabalhador de ir ao
supermercado e encher o carrinho, como está ali. (Palmas.)
Sr. Presidente, gostaria de agradecer, em nome do Sindicato dos Técnicos
da Receita Federal, por este espaço. Estamos dispostos a participar efetivamente
desse debate que interessa não só a nós como a toda a sociedade. Gostaria,
ainda, de enfatizar que é necessário, para efetividade, que uma questão seja
abordada — e está em debate nesta Casa —: a da carreira exclusiva de Estado.
Sem essa garantia, o Fisco não vai ter como atuar. Sem essa garantia, não temos
condições de dar efetividade ao sistema tributário proposto. E, sem essa garantia,
seja ela para os fiscais, seja para os técnicos, aquele cidadão que está nos confins,
sendo agente da Receita Federal, que sofre pressões da maior sorte, se não for
carreira exclusiva do Estado, não vai ter condições de cumprir sua função.
Faço também um alerta. Cuidado com a frase: Impostos fáceis de serem
arrecadados. Isso é uma armadilha, isso cria injustiça. Não caiam nessa armadilha.
Por fim, Sr. Presidente, Srs. Deputados, colocamo-nos à disposição de
V.Exas. não só em Brasília, mas em todo o território nacional, porque em cada
parte deste território há um técnico da Receita Federal disposto a colaborar,
contribuindo com este debate.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. DEPUTADO LUIZ SALOMÃO - Sr. Presidente, peço a palavra para
uma questão de ordem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Germano Rigotto) - Pois não, Deputado Luiz
Salomão.
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O SR. DEPUTADO LUIZ SALOMÃO - Sr. Presidente, quero ponderar que
temos um acúmulo de oradores e é preciso que nos concentremos na discussão
dos temas que são objeto da reforma constitucional. Estão sendo discutidos temas
que nada têm a ver. Não estou fazendo nenhuma censura. Foi muito boa a
apresentação do orador, mas é difícil conseguir ouvir os seis expositores
atentamente quando se vai tratar de assuntos variados, tais como educação de 1º
grau, para educar o cidadão a ser um bom contribuinte, e coisas desse gênero, que
nada têm a ver com a esfera constitucional a que estamos restritos. Temos,
também, em nossa Comissão uma tendência a discutir assuntos que estão na
legislação infraconstitucional. V.Exa., sabiamente, tem procurado moderar esse
discurso para que não percamos tempo e não fujamos do nosso tema.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Germano Rigotto) - Primeiramente,
agradeço ao Deputado Antonio Palocci, nosso Vice-Presidente, que conduziu parte
dos nossos trabalhos. Deputado Milton Temer, sua gripe está forte, mas agradeço a
V.Exa. pela presença, apesar de toda essa dificuldade pelo problema de saúde.
Deputado Luiz Salomão, temos que aproveitar este momento rico, com
pessoas que têm uma colaboração enorme a dar à Comissão, porque estão na
ponta, estão na linha de frente na fiscalização, na cobrança dos tributos e são os
que mais conhecem essa realidade do nosso sistema tributário.
O Deputado Luiz Salomão pondera que poderíamos ter um aproveitamento
sem balizar as considerações de cada um dos nossos convidados em cima
daquelas questões que a Comissão vai ter que decidir, ou seja, a construção de um
modelo tributário, principalmente com mudanças na Constituição. Mesmo sabendo
que vamos ter que trabalhar também na legislação infraconstitucional, não temos
tempo para discutir tudo o que teríamos de discutir na tarde de hoje.
Vamos ter esta semana trabalhos da Comissão. Quero lembrar aos Srs.
Deputados que amanhã teremos aqui a presença de representantes das Centrais
Sindicais: CUT , CGT, Força Sindical e a SDS. Quinta-feira teremos a continuidade
daquele trabalho que está sendo coordenado pelo Deputado Marcos Cintra, com
uma reunião interna na Fundação Getúlio Vargas, às 8h, em que estaremos
analisando as diferentes propostas. Quinta-feira teremos possibilidade de analisar
e de ouvir a exposição do Deputado Antonio Kandir sobre a proposta de S.Exa. de
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mudança do sistema tributário. Chamo a atenção para a importância da reunião de
amanhã e da reunião da próxima quinta-feira, na Fundação Getúlio Vargas, às 8h.
De imediato, passo a palavra ao próximo convidado, Dr. Roberto Bocaccio
Piscitelli, Diretor de Defesa Profissional e Estudos Técnicos do Sindicato Nacional
dos Auditores Fiscais do Tesouro Nacional - UNAFISCO SINDICAL
Peço, por favor, dentro do possível, que nossos convidados utilizem os
quinze minutos. Sei que é difícil, mas tínhamos definido como um tempo...
O SR. DEPUTADO LUIZ SALOMÃO - Sr. Presidente, é preciso acrescentar
que o Dr. Piscitelli é um dos brilhantes consultores legislativos desta Casa.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Germano Rigotto) - Agradeço ao Deputado
Luiz Salomão a colaboração.
O SR. DEPUTADO MUSSA DEMES - Sr. Presidente, gostaria de
acrescentar também que o Dr. Roberto Bocaccio Piscitelli foi fiscal da Receita
Federal e membro do Conselho de Contribuinte, antes de emprestar sua valiosa
contribuição à Câmara dos Deputados.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Germano Rigotto) - Agradeço aos
Deputados Mussa Demes e Luiz Salomão a colaboração.
Com essas observações, passo a palavra ao Dr. Roberto Bocaccio Piscitelli
para suas considerações.
O SR. ROBERTO BOCACIO PISCITELLI - Sr. Presidente, muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Germano Rigotto) - Desculpe-me, Dr.
Roberto, quero apenas registrar as presenças do Sr. Sinomil Soares da Rocha,
Presidente do SINDIFISCO de Goiás; do Sr. Adalberto Aluízio Eyng, Presidente do
SINDIFISCO do Estado de Santa Catarina; do Sindicato dos Fiscais de Tributos
Estaduais do Rio Grande do Sul, representado pelo Sr. Ilo Vile Coutinho,
Vice-Presidente do SINTAF do Rio Grande do Sul; do Instituto Brasileiro de
Mineração, na pessoa do Secretário Executivo, Sr. José Mendo Mizael de Souza;
afinal, várias entidades estão presentes. Gostaria que cada um trouxesse à
Secretaria os nomes das entidades e os seus representantes, para registrá-los nos
Anais.
Com a palavra o Sr. Diretor.
O SR. ROBERTO BOCACCIO PISCITELLI - Sr. Presidente, Sr. Relator,
membros da Comissão, senhoras e senhores, a UNAFISCO SINDICAL, em primeiro
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lugar, parabeniza os membros desta Comissão por estarem ouvindo as
representações da sociedade civil, costume que, como eleitores e cidadãos,
gostaríamos de ver difundido entre nossos representantes em todas as
circunstâncias.
As idéias que aqui exporei devem ser entendidas como majoritárias no seio
da nossa categoria dos Auditores Fiscais da Receita Federal, e não refletem,
exclusivamente, os pontos de vista dos seus dirigentes ou do seu Presidente, Dr.
Nelson, nem necessariamente os deste expositor, circunstancialmente servidor
desta Casa.
De início, gostaríamos de manifestar a enorme preocupação com o fato de a
quase totalidade das emendas apresentadas estar restrita aos aspectos do arranjo
dos tributos propriamente ditos, com algumas exceções, como no caso da emenda
apresentada pelo Deputado Luiz Salomão. É praticamente consensual entre os
especialistas que os melhores projetos de um sistema tributário se desvirtuam ou
simplesmente não se implementam se não se tem como suporte uma administração
capaz de tornar efetivo o cumprimento da legislação; como ocorreu com a reforma
de 1966, inicialmente, da qual resultou inclusive a criação da Secretaria da Receita
Federal.
A corrosão que vem ocorrendo nessas últimas décadas é a grande
responsável pelo acúmulo de distorções que têm sido exaustivamente
diagnosticadas, tanto do ponto de vista da eficiência, como da justiça fiscal, e que
se materializam — como todos sabemos — na recorrência de ajustes, pacotes e
projetos de leis votados em regime de urgência nos últimos dias do ano. Isso para
não falar nas medidas provisórias, gerando questionamentos intermináveis.
Disso resultou o que todos conhecemos e reconhecemos: proliferação de
tributos, superposições, conflitos, elevação sistemática de alíquotas, aumento da
sonegação, agravamento da carga de quem atua no mercado formal, penalização
para quem produz e para os assalariados urbanos — em particular —, mais
particularmente ainda para os servidores públicos, seja através de impostos, seja
através de contribuições. É exatamente nessa direção que pugnamos por uma
autonomia — e que fique bem claro, quando se usa a palavra autonomia não se
trata de independência — das administrações tributárias, de preferência apenas
uma por esfera de Governo. Que se assegure a profissionalização de seus
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servidores, um plano de carreira em que os critérios e as perspectivas para os
exercícios das funções de chefia estejam clara e objetivamente definidos, além de
garantias no exercício das atividades.
Afinal, tributação, arrecadação e fiscalização não são atividades de Governo
ou de Governos e, sim, de Estado, um Estado em que os amigos e os inimigos do
rei paguem igualmente os mesmos impostos.
Em particular, o Secretário da Receita Federal deveria, em nossa opinião,
exercer um mandato, ter seu nome submetido ao Parlamento. Há inclusive um
projeto nesse sentido tramitando atualmente nesta Casa, mais precisamente na
Comissão de Finanças e Tributação. Mesmo que se admita que esse dirigente
máximo não seja necessariamente um integrante dos quadros de carreira, afinal
porque é um dirigente máximo do órgão, um dirigente político também. Autonomia
administrativa sem autonomia financeira de nada vale.
O FUNDAF, que já foi mencionado pelo meu antecessor, Fundo de Apoio às
Atividades de Arrecadação e Fiscalização, criado pelo Decreto nº 1.437, de 1976,
foi ratificado por decreto legislativo, de acordo com o disposto no art. 36 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias, mas tem sido sistematicamente utilizado
pelo Executivo em outras finalidades. Como fonte de receita própria proveniente
principalmente da arrecadação de multas propiciaria em torno de 3 bilhões de reais.
Isso asseguraria indiscutivelmente a necessária autonomia de gestão à Receita,
hoje cerceada, sem poder investir em sua modernização tecnológica. E — pasmem,
senhores — aqui o relato é do dia-a-dia de nossas repartições, muitas delas
inadimplentes em relação às suas contas de luz, água, telefone etc. Quer dizer,
absolutamente constrangidas perante seus fornecedores e prestadores de serviços.
Desses 3 bilhões a que me referi, apenas em torno de 1 bilhão daqueles
recursos constituem hoje nossa dotação, praticamente utilizada para o pagamento
das despesas normais de custeio de pessoal. Uma Lei mais recente, inclusive, a de
nº 9.716, assegurou também a transferência dos juros de mora para o FUNDAF, o
que permitiria a incorporação de mais 120 milhões de reais por mês. Mas isso não
vem sendo cumprido. O mais surpreendente é que tudo isso é votado pelo Poder
Legislativo e ignorado solenemente pela burocracia do Executivo, que comanda
inteiramente — isso não é novidade — o processo orçamentário e a programação e
execução financeira.
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É bom atentar para o fato de que nossos escassos recursos hoje se
destinam, basicamente, ao combate ao crime. Isto é, deixamos de ter políticas
ativas e temos nos limitado a atender a requisições, que são importantes também.
Passamos quase que exclusivamente ao atendimento de requisições do Ministério
Público, da Polícia Federal, das CPIs etc.
Outro assunto fundamental diz respeito ao sigilo bancário, que é um
verdadeiro tabu neste País. Sabemos das enormes dificuldades que a discussão
desse tema envolve. A grande questão relacionada ao sigilo bancário é que,
infelizmente, a pretexto de se proteger a privacidade dos indivíduos, manietou-se o
Estado, tornando vulnerável a sociedade como um todo. A quebra do sigilo
bancário, que tem como contrapartida a responsabilidade do sigilo fiscal, é um
requisito essencial para os procedimentos investigatórios preliminares, até mesmo
independentemente da instauração do processo fiscal.
Chamamos atenção para o fato de que o preço a ser pago pela sociedade,
se não quiser fiscalizar o mundo das transações financeiras, hoje dominado pela
eletrônica, pela informática, desde suas origens, é muito alto, não só porque
dependeremos do controle físico das transações, que é muito mais oneroso, mas
também pelo que vamos deixar de captar através desses circuitos financeiros e que
resultam nos altos índices de sonegação de que também temos conhecimento.
O fornecimento da informação que temos chamado de globalizada, por
exemplo, para movimentos superiores a determinado montante, tem a vantagem de
selecionar por atributo e não pela pessoa, e é usual nas democracias que têm
servido como referência em todos os discursos oficiais. Logo, não é nenhum
disparate o que se preconiza. O pouco que se vem tentando, ou que se tem
conseguido, é notoriamente insuficiente. Por exemplo, a chamada lei de lavagem
do dinheiro não disponibiliza para a Receita, para o Fisco, informações que
poderiam ser extremamente úteis. O caso da CPMF é ainda mais insólito, porque,
embora se disponha do acesso à informação individualizada, paradoxalmente, não
se pode utilizá-la para qualquer outra finalidade que não a de cálculo e a de
recolhimento da própria CPMF. Esse tributo foi criado na suposição de identificar
rendimentos não declarados. Portanto, é uma situação absolutamente paradoxal. É
paradoxal, então, que não se possa fiscalizar os contribuintes a partir dos próprios
tributos administrados pela Receita, como é também o caso do IOF. De certa forma,
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assegura-se uma certa inexpugnabilidade do sigilo assegurado pelo sistema
financeiro.
Outro ponto que gostaríamos de destacar diz respeito à indisponibilidade de
bens, que também tem sido mal compreendido. O que preconizamos é, após a
lavratura do auto, o oferecimento de bens até aquele valor, que não ficariam
individualmente gravados, poderiam ser substituídos e não sofreriam restrições
específicas quanto a sua negociabilidade.
Entendemos que esse mecanismo é essencial à garantia do crédito tributário
que, hoje, quando de sua cobrança e execução, geralmente não pode ser
recuperado. Ao longo do processo, já foi dito anteriormente, os contribuintes vão se
desfazendo de seus bens e transferindo-os sob as mais diferentes modalidades,
tornando-se praticamente imunes à ação do Estado quando efetivamente ela recair
sobre eles. Esse é um aspecto que não afeta apenas o Fisco, porque estamos
acostumados a ver a mesma coisa ocorrer nos mais diferentes setores;
recentemente no sistema financeiro, no mercado imobiliário e em todas as outras
situações que são do conhecimento público.
Então, preocupa-nos não só a garantia, mas também a mais rápida
recuperação do crédito tributário. O contribuinte, obviamente, tem todo o interesse
em postergar o cumprimento de sua obrigação. É natural. Afinal, não nos livramos
do vício de, mais uma anistia, de outra remição, de uma ou outra modificação na
legislação ou na interpretação da legislação, ou de mais um generoso
parcelamento, sempre em detrimento do bom pagador ou daquele que não tem
escolha, como, por exemplo, aquele de quem o imposto é descontado na fonte.
Nesse sentido, assegurando-se sempre o duplo grau de jurisdição,
defendemos a redução das instâncias administrativas e, na esfera judicial, a
aceleração e a ampliação de instalação das chamadas varas judiciais especiais —
até agora foram instaladas apenas quarenta, número insignificante —, tanto de
conhecimento quanto de execução. Isso já existe em outras áreas do Direito, e é
inconcebível que não se tenha ainda avançado na área do Direito Tributário.
Para deixar bem claro nosso posicionamento, inclusive, aproveitamos a
ocasião para nos manifestar publicamente contra o depósito obrigatório dos 30% do
valor da autuação para efeito de recurso à segunda instância. Para que não
sejamos interpretados como fiscalistas, queremos deixar bem claro que
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entendemos que tal dispositivo fere o princípio constitucional da isonomia,
privilegiando os contribuintes de maior porte. Em compensação, opomo-nos à
vedação da representação criminal, ou Ministério Público, antes da conclusão do
processo na esfera administrativa.
O crime não pode ter a condescendência do Estado e, do mesmo modo, não
há como extinguir a punibilidade pelo simples fato de o contribuinte, em última
instância, quitar seu débito. É muito cômodo apostar na sorte, sobretudo com um
Fisco tão desaparelhado, para quitar seu débito sabe-se lá quando. Se não der
certo, a gente paga o débito, e fica tudo resolvido, mesmo que tenha havido
situações tais como apropriação indébita ou quaisquer outros tipos de fraude.
Esclareça-se ainda que a garantia de execução do crédito não depende só
da Receita na esfera administrativa. Esgotados os recursos para a cobrança
amigável, o processo é remetido à Procuradoria, para inscrição e execução do
débito, perdendo a Receita o controle da tramitação do processo.
O que se pode afirmar com segurança é que a solução dos processos
fiscais, especialmente em relação a contribuintes bem assessorados e com maiores
recursos, demanda muitos, mas — leia-se — muitos anos mesmo, seguramente
mais de cinco, dez até, um prazo indeterminado, sobretudo quando esse processo
é encaminhado à esfera judicial. Isso para não dizer que, em muitos casos, o débito
nunca vai ser pago.
No tocante às questões da legislação tributária stricto sensu , colocamo-nos
inteiramente à disposição desta Comissão, fazendo menção à emenda patrocinada
pelo Deputado Deusdeth Pantoja, que resume algumas de nossas preocupações.
Elaboramos também um documento preliminar, que faremos chegar aos
membros da Comissão e aos demais interessados. Reconhecemos que nessas
questões técnicas as sugestões são numerosas, variadas e ricas. Mas gostaríamos
de deixar registradas algumas preocupações ao final da nossa exposição.
A questão que nos parece mais crítica é a do fortalecimento da Federação,
com a reafirmação dos rumos adotados pelos Constituintes de 1988. Mais do que
nunca, entendemos que descentralização de recursos que acompanhe as
transferências crescentes de encargos para os Estados e Municípios, que vêm
ocorrendo nos últimos anos, deve ser uma palavra de ordem. A desconcentração
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de poderes, com assunção de responsabilidade para os entes subnacionais, é a
única coisa, neste momento, que nos parece sensata.
É preciso sepultar as tentativas e os vieses do poder político central e da
burocracia federal, na qual nós mesmos estamos inseridos, que, em sua uniciência,
continuam a impor padrões uniformes e regras estritas para um País tão diverso
quanto desigual, o que, aliás, manifesta-se em todos os projetos com origem no
Executivo que tramitam nesta Casa. V.Exas. são testemunhas — como, no
momento atual, para citar um exemplo, o da responsabilidade fiscal — de que são
recorrentes na sua tendência de cercear as iniciativas e as prerrogativas das
demais esferas da administração, entre os demais Poderes.
É bom enfatizar, finalmente, que a discussão sobre a reforma tributária é a
melhor oportunidade para revisarmos a aplicação dos princípios consagrados na
Constituição, simplesmente ignorados ou deformados pela legislação
infraconstitucional, e que agravaram as distorções a que nos referimos no início
desta exposição, aumentando a regressividade, já crônica e inerente ao nosso
sistema tributário.
A legislação do Imposto de Renda talvez seja hoje o maior símbolo dessas
características. As três propriedades atribuídas a esse imposto estão muito
distantes do seu ideal. O imposto, parafraseando a Constituição, não atende à
generalidade nem à universalidade e muito menos à progressividade. O ilustre
Relator tem um projeto bastante interessante nesse sentido.
A pretensa e falaciosa tentativa de simplificação está tornando o imposto das
pessoas físicas — das que pagam, bem entendido — cada vez mais proporcional e
o das pessoas jurídicas, pelo que elas pagam ou pelo que declaram, cada vez mais
indireto.
A tabela do Imposto de Renda das Pessoas Físicas, com apenas duas
alíquotas, incide fortemente sobre rendas médias do trabalho, predominantemente
assalariado, sendo muito generosa com os altos rendimentos, quando declarados,
ou simplesmente não é adotada, é desconsiderada quando se trata de rendimentos
de capital que nem passem por essa tabela.
A restrição e limitação das deduções, por outro lado, acabou gradualmente
com aquilo que os tributaristas chamam de eqüidade horizontal, deixando de
distinguir flagrantemente as diferenças pessoais e familiares.
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A tributação da pessoa jurídica, por outro lado, é cada vez menos sobre o
lucro — que já não é tributado na distribuição, nem mesmo para os domiciliados no
exterior — e cada vez mais sobre o faturamento, sobre a receita, dispensando
maiores controles e informações.
Dessa maneira, aplicam-se limites e eliminam-se vedações para tributação,
ou seja, em limites cada vez menores e com restrições cada vez menores, para
opção pelo SIMPLES e particularmente pelo lucro presumido, que já está chegando
a 2 milhões e 400 mil reais anuais, além de se permitir também o pagamento
mensal por estimativa.
Decididamente, distanciamo-nos muito, muito mesmo, não só dos princípios
da eficiência e da justiça fiscal, a que demos ênfase nessa ocasião.
Entendemos que esta Casa tem a singular oportunidade de restaurar não só
a credibilidade, mas principalmente a esperança de milhões de contribuintes
brasileiros. Se a cobrança for equânime, será mais fácil fazer com que todos
paguem.
O mais importante é o cidadão ter a sensação de que a carga tributária, não
importando seu nível, é justa e, acima de tudo, há retorno do seu sacrifício.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Germano Rigotto) - Agradeço ao Dr.
Roberto Bocaccio Piscitelli, Diretor de Defesa Profissional e Estudos Técnicos do
Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Tesouro Nacional — UNAFISCO
SINDICAL —, a contribuição.
Como foi destacado pelos Deputados Luiz Salomão e Mussa Demes, é muito
forte sua relação com a Casa. Com certeza, contribui com os nossos trabalhos, já
que está tão perto de nós.
Registro também, para ressaltar a importância desta audiência pública, a
presença de Eduardo Fukushima, Presidente do SINDIFISCAL — Sindicato dos
Fiscais do Estado de Tocantins; Roberto Melo Alves Filho, Presidente do Sindicato
dos Fiscais de Rendas do Estado do Rio de Janeiro; Juarez Marques Filho, Diretor
de Comunicação do SINDIFISCO — Sindicato do Fisco do Estado de Sergipe;
Waldair A. Oliveira, Presidente do SINDIFISCO — Sindicato dos Fiscais de Rendas
de Mato Grosso do Sul; Manoel Ferreira Neto, do Sindicato da Carreira de Auditoria
Fiscal do Distrito Federal; Jaime Sarainha, da Associação da Carreira Auditoria
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Tributária, da ACATE-DF; Rodrigo C. Pôssas, Presidente do SINDIFISCAL —
Sindicato dos Fiscais de Contribuições Previdenciárias do Distrito Federal; Selma
M. Villela Nunes, Presidente do Sindicato dos Fiscais de Contribuições
Previdenciárias de Alagoas; Yukiharu Hamada, Vice-Presidente do Sindicato dos
Agentes Fiscais da Receita Estadual do Paraná; Maria Helena de S. Rodrigues,
Vice-Presidente Financeiro da Associação dos Fiscais de Tributos Estaduais do Rio
Grande do Sul; Guilherme de Castro Campos, Presidente do Sindicato dos
Técnicos do Tesouro-RS; José Ribamar Pinto Damasceno, Presidente da
Associação dos Fazendários do Rio Grande do Norte, e José Juvenal de Macedo;
Lirando de Azevedo Jacundá, Presidente da Federação Brasileira das Associações
de Fiscais de Tributos Estaduais, e, pelo SINDIFISCAL Espírito Santo, Sindicato
dos Fiscais do Espírito Santo, Paulo Rangel e Marco Aurélio .
Agradeço a todos os representantes de entidades e presidentes ligados à
fiscalização e à arrecadação a presença a esta audiência pública. Agradeço, mais
uma vez, à imprensa que cobre este encontro, destacando a presença do Dr. José
B. Negro, que nos tem ajudado muito na divulgação dos trabalhos desta Comissão,
do André e de todo o pessoal que tem participado efetivamente da discussão desta
Comissão.
Passo a palavra à Dra. Jane Pasquinelle Castelo, Presidente da Federação
Nacional das Entidades de Auditores Fiscais de Tributos Municipais — FENAFIM,
para as considerações que julgar oportunas neste momento.
A SRA. JANE PASQUINELLE CASTELO - Inicialmente, gostaria de
cumprimentar a Comissão pelo convite formulado às entidades de fiscais tributários
das três esferas, da Previdência e do Trabalho, na pessoa do Presidente, Deputado
Germano Rigotto. Cumprimento também o Relator, os demais Deputados presentes
e os colegas fiscais tributários de todas as esferas.
Inicio minha exposição dizendo que nossa Federação, a Federação do Fisco
Municipal, durante as discussões da reforma tributária, trabalhou em duas esferas.
Inicialmente, nós nos unimos à Frente Nacional de Prefeitos, ou melhor, demos
assessoria técnica ao Conselho Brasileiro de Integração Municipal, que reúne as
seguintes entidades: Frente Nacional de Prefeitos, cujo Presidente é o Sr. Célio de
Castro, Prefeito de Belo Horizonte, que agrega as Prefeituras das Capitais; ABRAP
— Associação Brasileira de Prefeitos, que agrega as outras Prefeituras;
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Confederação Nacional de Municípios e Associação Brasileira de Municípios,
Confederação de Municípios Rurais e também União de Vereadores do Brasil.
Junto com o IBAM — Instituto Brasileiro de Administração Municipal — e
com a ABRASF — Associação Brasileira de Secretarias e Dirigentes das Finanças
dos Municípios das Capitais — compusemos uma comissão técnica para dar corpo
às reivindicações dos Prefeitos, que, na verdade, administram os recursos
municipais. Trabalhamos também junto ao Fórum do Fisco Nacional elaborando
emendas que assegurem o fortalecimento da administração tributária.
Acreditamos que qualquer modelo tributário que se adote neste País precisa
garantir que os recursos cheguem efetivamente aos cofres públicos. Então, uma
reforma tributária que não parta da preocupação de fortalecer a administração,
fortalecer a categoria, não com viés corporativo, mas na medida de que qualquer
modelo... Não adianta mudar de um modelo para outro se não assegurarmos que
os recursos cheguem aos cofres públicos.
Para colaborar com os trabalhos da Comissão, vou ater-me apenas à parte
que trabalhamos junto às emendas municipalistas, já que os palestrantes que me
antecederam falaram bastante sobre a questão do fortalecimento da administração
tributária. Ainda terei que falar sobre alguns aspectos que não foram abordados
aqui. Mas, para tentar colaborar, vou falar apenas sobre a questão municipalista.
Quando nos reunimos na comissão, esse grupo de municipalista já citado
firmou alguns pontos dos quais não nos afastaremos jamais. Primeiro, manter a
autonomia financeira, política e administrativa dos Municípios. Isso significa não
abrir mão da competência de instituir tributos. Ou seja, não somos favoráveis a que
a esfera municipal perca a competência de instituir tributo. Em conseqüência, não
aceitamos viver de repasses.
A Constituição de 1988 considerou, pela primeira vez e de forma muito
inteligente, o Município como ente federado. Por quê? Estávamos saindo de um
momento de exceção e, no momento da volta à normalidade democrática, o
Constituinte quis, seguindo a tendência mundial, para privilegiar a democracia e o
exercício da cidadania, descentralizar recursos e poderes para as esferas
subnacionais.
Consideramos, não só por corporativismo — não estamos aqui só
defendendo interesses de Prefeitos —, que o Município é a esfera de poder mais
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próxima do cidadão. Por esse motivo, fica mais fácil para ele controlar a qualidade
dos gastos públicos, dizer onde ele quer que se gastem os recursos. Acho que
temos que construir uma Nação partindo do princípio do cidadão. E é por isso que
defendo, não só porque sou fiscal tributária municipal, reforço o pacto federativo, de
preferência mantendo e até ampliando a capacidade dos Municípios de gerir
recursos. Numa dificuldade, o cidadão não vai bater à porta do Governador, e
mesmo nos Municípios maiores ele não tem acesso ao Prefeito. Nesses Municípios
maiores, na verdade, quem administra são os Prefeitos.
Na minha opinião, a discussão a respeito de quem são os recursos — da
União, dos Estados ou dos Municípios — está bastante fora do eixo, porque o
cidadão é um só. É o cidadão que paga o ISS, que paga o IPTU, que paga o ICMS
quando compra alguma mercadoria, que paga o Imposto de Renda, e por aí vai.
Então, esses recursos são do cidadão, que elege seus representantes nos três
níveis de Poder — no Legislativo e no Executivo —, para gerir os mesmos, que são
dele, cidadão, esperando que sejam revertidos a ele, na qualidade ou na forma de
serviços.
Então, exatamente por isso, quando elaboramos essas emendas, partimos
da seguinte premissa: achamos que a reforma tributária é efetivamente necessária,
mas acreditamos que essa discussão deveria ser iniciada com a definição clara do
papel a ser desempenhado pelo Estado e das responsabilidades e atribuições de
cada ente federado. Primeiro, distribuir essas atribuições. Listamos o que os
Prefeitos se dispõem a fazer. Eu poderia citar aqui, mas me alongaria demais, quais
seriam os serviços de interesse predominantemente local. Posso deixar a cópia
com os senhores, para não me alongar, e ler os serviços.
Primeiro, definir quais são as atribuições do Municípios, dos Estados, da
União, para poder orçar quanto custa isso, e a discussão partir daí.
Em segundo lugar, que essa reforma garanta a descentralização dos
recursos, fortalecendo o pacto federativo, assegurando autonomia política e
financeira para os Estados e Municípios — já disse isso —, preservando sua
competência para instituir tributos; que condicione a transferência de novos
encargos aos Estados e Municípios correspondentes à transferência de recursos,
pela União e pelos Estados.
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Temos alguns problemas. É verdade que o Constituinte de 1988 foi, de fato,
generoso com o Município em termos de maior dotação de recursos. Por outro lado,
temos que dizer que o Município enfrenta uma série de problemas. Foram
repassados, ou melhor, a União e os Estados se retiraram da prestação de alguns
serviços, que foram assumidos pelos Municípios. Quero lembrar que a LBA acabou,
que o Ministério do Interior acabou, e nem por isso nenhum asilo, nenhuma creche
foi fechada. Quem assumiu esses encargos foi o Município. Quer dizer, esses
encargos foram transferidos para o Município de forma absolutamente
desordenada.
Também sofremos, por iniciativas do Governo Federal, redução de recursos.
Posso citar, como exemplo, a extinção do IVVC, o Imposto sobre Vendas a Varejo
de Combustíveis, que, na época, foi retirado porque era cumulativo. Os Municípios
não se mexeram, o que foi lamentável. Hoje, fala-se em restituir esse tributo, que
era de 3% e agora fala-se em 9%, o Imposto Verde para a União. Quer dizer, isso
realmente nos atrapalhou.
Outro ponto que nos dificultou bastante foi a retenção de recursos em função
do Fundo Social de Emergência ou FEF, que retirou recursos destinados
constitucionalmente aos Estados e Municípios. Tivemos perdas com a desoneração
do ICMS e também com renúncias fiscais generalizadas praticadas pela União e
pelos Estados. Tudo isso nos foi retirado, e os encargos foram repassados.
Foram criados tributos não partilhados. Temos os impactos diferenciados
com a adoção do FUNDEF, que funcionou. Aliás, depois vou fazer uma análise da
diversidade do perfil dos Municípios para chegar à conclusão de que não há fundo
de compensação que dê conta de evitar perdas para os Municípios. Assumimos,
também, a rede de ensino fundamental, o SUS, nunca com a contrapartida
desejada. Novos coeficientes dos Fundos de Participação dos Municípios foram
adotados com impactos diferenciados.
Temos, ainda, uma questão que funciona para todos. Acho que se nós
somos uma Federação, e os Prefeitos lidam com a dificuldade de dívidas
acumuladas do passado — e aqui não estou defendendo irresponsabilidade
administrativa de ninguém —, nós temos que levar em consideração que o Governo
Federal também se debateu com as dívidas acumuladas com relação ao sistema
previdenciário. Eu já sugeri, em várias palestras das quais participei, que, já que
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está faltando recurso, então se cobre do Tesouro esses maus gastos com a
construção de Brasília e tal.
O que não podemos é instaurar dois pesos e duas medidas, porque nós
estamos numa Federação e os entes federados são autônomos. Ou cobra-se
responsabilidade fiscal de todas as esferas ou não se cobra de ninguém. Isso é
ponto pacífico.
Por outro lado, corre a história de que há uma inapetência dos Prefeitos para
arrecadar tributos próprios, e isso não é verdade. O que ocorre é que o perfil dos
tributos destinados ao Município é de tributos eminentemente urbanos. O Imposto
Sobre Serviços só funciona e tem grande performance em grandes centros
urbanos. O IPTU tem uma grande performance também nas grandes cidades. Nas
zonas rurais, temos uma casa ali, outra acolá, mas não justifica que não se cobre.
Na verdade, não há uma receita muito grande. E o Imposto sobre Transmissão de
Bens Imóveis, pelo mesmo motivo, não funciona para os Municípios rurais. Então, o
que acontece é essa dificuldade.
Temos aqui um estudo do ex-Secretário de Fazenda do Município de São
Paulo, Dr. Amir Kair, no qual mostra que o crescimento das receitas tributárias se
deu muito mais com relação às receitas municipais do que com relação à União e
aos Estados. Vou localizar. (Pausa)
O crescimento das receitas tributárias nas Capitais e no interior, de 1993 a
1996, foi de 111% nas Capitais, 106% no interior e 109% como média no País. O
IPTU cresceu 245%; o ISS, 84% nas Capitais, 89% no interior e 86% como média
no País. As taxas cresceram 157% nas Capitais, 122% no interior e 139% como
média no País. O crescimento das receitas tributárias no período de 1988 a 1997
foi de 190% para os Municípios, 66% para os Estados e 44% para a União. Repito:
190% para os Municípios, 66% para os Estados e 44% para a União. Como nós
temos uma participação muito pequena no PIB, isso não é devidamente valorizado.
Por esse motivo, os municipalistas consideram-se absolutamente injustiçados pelo
que vem sendo apregoado pela mídia. Os Municípios rurais não têm o que cobrar.
Aliás, sempre há essa conversa de que vivem de FPM.
Eu gostaria que os Deputados fizessem uma pesquisa para ver quanto se
recolhe de ICMS nesses Municípios, quanto se recolhe de Imposto de Renda
nesses Municípios. E nós percebemos claramente que o grande problema.... (Falha
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na gravação) Não é que os Prefeitos sejam inapetentes, que não gostem de
trabalhar. A dificuldade está na grande diferença regional e no problema da
péssima distribuição de renda neste País. Então, não é justo que o cidadão se sinta
prejudicado, tendo ainda mais recursos retirados. Como dizia o antigo Presidente
da Comissão, Deputado Paulo Lustosa, Brasília é um lugar muito longe do Brasil.
Isso não é nenhuma crítica. Na verdade, o Prefeito de um Município como
Sumidouro sabe muito mais quais são as necessidades daquele município, se
precisa de um posto de saúde, do que aqui se quer imaginar.
Então, a frente municipalista — e já estou concluindo — firmou alguns
pontos. Primeiro, vamos defender a manutenção da competência municipal do
Imposto sobre Propriedade Predial e Territorial Urbana, resguardado o princípio da
progressividade. Nós defendemos progressividade; maior performance dos
impostos diretos sobre renda e propriedade em detrimento dos impostos indiretos,
restaurando no Texto o instituto da progressividade; a transmissão intervivos a
qualquer título, de bens imóveis e a manutenção do Imposto Sobre Serviços de
qualquer natureza, não nos serviços finais, mantendo exatamente como está.
Para coibir, no âmbito municipal, a guerra fiscal é muito simples. Nós fizemos
duas propostas: a fixação do domicílio tributário no local da prestação do serviço,
que acabaria, em parte, com a guerra fiscal, e a fixação de alíquotas mínimas e
máximas.
Eu esperava que o representante do Estado dissesse qual é a forma que o
Estado defende para se coibir essa guerra fiscal sem entrar na competência
tributária dos Estados. Não me preparei para isso, infelizmente. Na verdade, nós
ainda defendemos que o Imposto sobre Vendas a Varejo de Combustíveis seja de
novo reimplantado. A propriedade predial territorial e urbana é de competência dos
Municípios. Não entendemos por que, tendo uma gama enorme de Municípios
rurais que não têm o que cobrar, nós não podemos interferir na cobrança, na
instituição do Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural. Argumenta-se que isso
dificultaria a reforma agrária, argumenta-se que o coronel local não cobraria. O que
acontece, na verdade, e não é questão de inépcia, pois o quadro de fiscais
tributários da União é excelente, é que não há possibilidade de que, com esse
quadro exíguo, se dê conta nem mesmo da fiscalização do Imposto de Renda. Aí
esse Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural acaba não sendo cobrado, é
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uma miçanga. Poderíamos até estabelecer convênios para que esse imposto seja
efetivamente cobrado.
O Conselho Brasileiro de Integração Municipal tomou duas decisões políticas
que não foram indicadas pela comissão técnica, quais sejam, a de defender que a
propriedade de veículos automotores passasse para os Municípios — essa não foi
uma proposta que saiu da comissão técnica — e também a da ampliação da
participação do FPM de 22,5% para 33%. Essa foi uma decisão política não
indicada pela comissão técnica. E, baseado nisso, a Federação defende que nesse
novo desenho de sistema tributário permita-se maior tributação dos impostos
diretos, de renda e propriedade, em detrimento dos indiretos, de forma a assegurar
um sistema progressivo que facilite justiça tributária e maior distribuição de renda,
que fortaleça a administração tributária, dando garantias à cobrança do crédito
tributário através de punibilidade do crime de sonegação fiscal, independentemente
do pagamento de débito. E aqui quero discordar do meu colega técnico do Tesouro
Nacional quando ele diz que ladrão é a mesma coisa que sonegador. A nossa
entidade acha que não, acha que sonegador é muito pior e deve ser
exemplarmente punido pelo seguinte motivo: o ladrão, provavelmente, atenta contra
a propriedade individual, talvez até para dar conta de uma necessidade básica.
Nós achamos que o sonegador atenta contra o patrimônio público. E aí há uma
certa complacência, o que é muito sério, em se considerar, no Brasil, os recursos
públicos como recursos de ninguém, e não como recursos de todos. Assim, numa
sociedade como a nossa, em que há uma quantidade enorme de excluídos, que
dependem do Estado absolutamente para tudo — saúde, educação —, esse crime
deveria ser severamente punido.
Outro ponto: a imprescritibilidade do crédito até que se encerre o
contencioso administrativo judicial. Quanto maior a capacidade econômica do
contribuinte, mais ele tem possibilidade de protelar esse contencioso, fazendo com
que, através de bons advogados, o crédito prescreva. Outra coisa interessante
seria garantir a indisponibilidade dos bens do devedor para que ele possa
efetivamente pagar esses tributos.
Nós também precisamos garantir o acesso às informações financeiras do
sujeito passivo, através de processo administrativo fiscal, assegurando a
responsabilidade funcional dos agentes fiscalizadores. O agente fiscalizador que
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divulgasse isso seria responsabilizado penalmente. Aliás, sobre esse aspecto nós
fizemos um workshop, em Pirenópolis, para todo o Fisco e surgiram propostas
muito interessantes com relação a isso. Nós queremos disponibilidade dessas
informações para fiscalizar. Achamos que devemos oferecer — as entidades do
Fisco, as lideranças também acham — nossas contas bancárias como exemplo.
Nós não podemos ficar falando da boca para fora. Nós temos que cumprir nosso
papel de aliados da população, e para isso não temos nenhuma restrição a que as
nossas contas sejam abertas.
Temos que garantir os recursos da seguridade social que pertençam ao
conjunto dos seus beneficiários, e não aos Governos. Que se facilite o acesso de
todos os entes federados às informações econômicas de sujeitos passivos, através
da criação de um cadastro nacional único. Assusta-nos profundamente essa
instituição da CPMF como forma de pegar a economia informal. Nós achamos isso
a assinatura do atestado de incompetência. Se nós fizéssemos um cadastro
nacional único, a exemplo do que é o CPF para a pessoa física, nós poderíamos,
efetivamente, com o acesso de todos os entes de fiscalização, cruzar essas
informações e cobrar esses impostos. Eu acho que essa é a solução, enfim.
Nós também defendemos que o Constituinte de 1988, repetindo, pretendeu
fortalecer o exercício da cidadania, quando assegurou aos Municípios, esfera de
poder mais próxima ao cidadão, autonomia financeira, política e administrativa,
permitindo maior controle social da qualidade dos gastos públicos.
Em relação aos Municípios grandes e pequenos — estava até me
esquecendo —, eu pedi para que fosse distribuído o perfil dos Municípios. Aqui nós
temos Municípios de 2 mil habitantes até 5 milhões de habitantes por faixas de
população. Isso demonstra que as receitas próprias dos Municípios maiores são
consideravelmente mais elevadas. As receitas de transferência, por todos os
motivos que eu já apresentei aqui, são mais elevadas nos Municípios maiores. Os
Municípios menores estão preocupados com essa questão da redistribuição dos
recursos, seja lá que modelo se aplique. Eles estão preocupados com a questão do
FPM, como vai se compor esse Fundo de Participação dos Municípios. Já os
Municípios grandes estão preocupados com o critério de repartição do ICMS, ou o
que venha a substitui-lo, e também com a manutenção do ISS.
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Nós podemos ver que essa questão dos repasses, de que não vai haver
perda para o contribuinte, não vai haver perda para a União, para os Estados, nem
para os Municípios, é uma equação meio difícil de se solucionar. Além do mais, os
Fundos de Participação dos Municípios — se não tiverem, vou pedir à Secretaria da
Comissão — são compostos de tributos federais repassados. Na medida em que
se deduz a CPMF do Imposto de Renda, isso é perda. Na verdade, na distribuição
dos recursos os Municipais são compostos por três fontes: a fonte do Fundo de
Participação dos Municípios, que é inversamente proporcional à capacidade
econômica dos Municípios; o repasse de ICMS ou do tributo estadual, que é
diretamente proporcional às vendas efetuadas no Município; e há o ISS, que tem
uma performance diferente, dependendo de o Município ser rural ou agrícola.
Então, não há fundo de compensação direto, tratando de forma uniforme os
Municípios, que dê conta dessas perdas. Nós temos muito receio de que esse
modelo de reforma tributária não atente para esse detalhe e que desestruture
completamente a base da Federação.
Muito obrigada. (Palmas).
O SR. PRESIDENTE (Deputado Antonio Palocci) - Agradecemos à Sra. Jane
Pasquinelle Castelo. Peço desculpas por insistir no cumprimento do horário, Dra.
Jane, mas às 16h30min inicia-se a Ordem do Dia no plenário e às 17h pode ter
votação. Seria muito desrespeitoso se os Deputados tivessem que deixar a
Comissão. Por isso, insisto no cumprimento do horário para que possamos ter o
privilégio de ouvir todos nesta audiência.
Concedo a palavra ao Dr. Marcos Eduardo Freitas Rodrigues, Presidente da
Federação Nacional dos Fiscais de Contribuições Previdenciárias — FENAFISP.
O SR. MARCOS EDUARDO FREITAS RODRIGUES - Inicialmente,
gostaríamos de agradecer à Comissão pelo convite. Nós entendemos que a
participação da administração tributária nesse processo de discussão da reforma é
de fundamental importância, até porque, como o próprio Presidente da Comissão,
Deputado Germano Rigotto, lembrou, nós é que estamos na ponta, no dia-a-dia, e
muito daquele quadro que se pretende compor, daquela estrutura que se pretende
compor aqui vai depender certamente da efetividade e da operacionalização que
conseguirmos dar durante o desenvolvimento posterior desse trabalho.
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Certamente vou restringir-me ao tempo, até porque falar no final tem
vantagens e desvantagens. A vantagem é de que muita coisa já foi dita aqui, com
as quais concordamos tranqüilamente. Gostaria de dizer, en passant , que em
relação a todas essas garantias para a execução do crédito tributário a FENAFISP
assina embaixo, mostrando claramente sua posição favorável, até porque esse é
um dilema comum a todas as entidades presentes, como constatamos na chegada
dos nossos colegas e nesse contato da dificuldade do dia-a-dia que temos.
Esqueci de frisar, no início, mas é a FENAFISP que representa os fiscais de
contribuições previdenciárias.
Para que os senhores tenham uma idéia, na Previdência, temos uma dívida
ativa que alcança mais do que um orçamento anual de sua receita. Segundo a
própria matéria que o jornal Folha de S.Paulo publicou ontem, e o Dr. Jeovalter
Correia Santos chegou a comentar, a nossa dívida ativa alcança R$59,8 bilhões —
é bilhões mesmo, aquele "b" grande. É surpreendente, mas é a realidade. Daí a
freqüência com que esse assunto veio à tona no nosso bate-papo de hoje e que se
repete em outras esferas.
Como representante de fiscais da Previdência, e talvez o Dr. Álvaro Sólon de
França, da ANFIP, fale algo depois, temos algumas preocupações no que se refere
à realização da reforma tributária, sobre algumas propostas de reforma tributária.
Primeiro, entendemos claramente que o modelo consagrado pela
Constituição Federal em 1988 foi extremamente progressista para o que tínhamos
até então de regulamentação de proteção social no Brasil. E, a despeito de se
considerar que a seguridade social como um todo, envolvendo Previdência,
assistência social e os serviços de saúde, tenha sido uma grande novidade, na
realidade, a própria Organização Internacional do Trabalho, em 1952, se não estou
equivocado, pela Convenção nº 102, já definia o que seria essa área de atuação da
seguridade social.
Trazemos à baila essa discussão sobre seguridade social porque é
extremamente importante que percebamos que os Constituintes de 1988, muito
elogiados nesse aspecto — vou fazer coro com meus colegas que me antecederam
—, também foram muito previdentes e criaram uma base de sustentação financeira
de financiamento de custeio da seguridade social, com multiplicidade de impostos e
de contribuições. Isso é fundamental que se mantenha, até em função dos recursos
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originados de uma base poderem fazer frente às despesas que temos, na
eventualidade de uma outra ter um decréscimo de arrecadação. Exemplificando
mais claramente, se estamos em um momento de recessão e dificuldade de
emprego, como se vê hoje, no Brasil, que se reflete diretamente nas contas da
Previdência Social, podemos obter recursos de outras fontes, compensando aquilo
que se deixa de arrecadar, no âmbito da própria Previdência, na contribuição sobre
a folha, que é aquilo que a nossa categoria efetivamente fiscaliza.
Isso, às vezes, pode soar discurso, mas há alguns dados oficiais que
mostram essa realidade de uma forma muito crua. Gostaríamos de tomar a
liberdade de trazê-los para conhecimento desta Comissão. O próprio IBGE, na
última Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio, já verificou que, da
população economicamente ativa, 56,2% são pessoas que têm uma ocupação e
que não fazem qualquer contribuição para institutos de Previdência. Isso é uma
massa de quase 40 milhões de brasileiros que está totalmente à margem não só
dos benefícios, mas também da própria contribuição. Isso gera uma evasão
bilionária de recursos da Previdência Social e que, muitas vezes, por esses e por
outros motivos, por outras evasões, fica sendo considerada como o patinho feio na
questão da reforma e do ajuste fiscal.
É importante que façamos outro paralelo no que se refere à Previdência e à
seguridade para trazer também números oficiais que demonstram claramente,
desde 1988, com essa sistemática de financiamento com multiplicidade de base de
tributação, que a seguridade social é superavitária. Essa frase talvez seja um pouco
surpreendente para alguns, mas os números são oficiais. Até o Dr. Jeovalter
Correia Santos apresentou um quadro com todos os tributos arrecadados pela
Receita. Se buscarmos aqueles que são destinados efetivamente a financiar a
seguridade social e, por outro lado, buscarmos as aplicações desses recursos no
campo da saúde, da Previdência e da assistência social, vamos verificar que o
resultado é positivo, para surpresa de alguns. Isso também é importante que se
frise, porque uma das preocupações fundamentais que trazemos para esse debate
da reforma tributária é o fato de que esse superávit tem gerado desvio de recursos
da seguridade para outras despesas, fora do orçamento da própria seguridade
social.
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Parece-me, então, que uma das atribuições fundamentais desta Comissão
seria — já existem algumas emendas que contêm esse texto — verificar formas de
restringir os recursos arrecadados em nome da seguridade em atividades-fins
especificamente da seguridade social. Isso é de fundamental importância até para
que possamos resgatar um pouco aquela dívida social desse sistema, que diminuiu
um pouco, certamente, ainda não cumpriu o que se propunha e que era exatamente
minimizar essas diferenças regionais, como a Dra. Jane Pasquinelle Castelo disse
ainda há pouco, essa dificuldade e enorme dívida social que o Brasil tem para
resgatar com sua população excluída.
Podemos passar esses números com tranqüilidade. No ano passado,
especificamente, esse superávit atingiu R$7,34 bilhões. A vinculação dos recursos
da seguridade social no âmbito da sua esfera de atuação é fundamental, na forma
de entender da FENAFISP, e também, como proposição a esta Comissão, a
possibilidade de instituição de um conselho de gestão desses recursos. Esse
conselho seria composto por representantes da própria sociedade, os
trabalhadores ativos, os aposentados, os da classe empresarial e os do próprio
Governo, através do agente público. Isso, parece-me, traria uma transparência
muito grande.
Também já foi citado por alguém a necessidade da transparência na
aplicação desses recursos, até porque isso também é educação tributária, como
disse o Sr. Carlos José Teixeira, do SINDTTEN.
Gostaria, para me ater ao tempo, de citar alguns exemplos que podem
parecer pequenos, mas são fundamentais para demonstrar o descaso da
administração pública com a administração tributária em si.
Peço permissão aos colegas da Mesa e também ao Plenário para falar de
algumas coisas bastante específicas, porque me parece que elas são muito
simbólicas e podem explicar também um pouco da dificuldade que o Estado tem de
fazer a arrecadação dentro do potencial arrecadatório que o sistema atual já lhe
permite.
Hoje, no Brasil, temos cerca de 3.900 fiscais de contribuições previdenciárias
em atividade, que fiscalizam todo o tipo de contribuinte, com todo o tipo de
sistemática de folha de pagamento e de controles internos, mas, na maior parte das
vezes, especialmente dos contribuintes maiores, onde centramos a nossa
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fiscalização, são dotados de todo um sistema informatizado de folha de pagamento,
de controle de pessoal, de horas e de remuneração. E nós não temos qualquer
auxílio da administração pública, nenhum tipo de remuneração ou até mesmo um
equipamento de informática colocado a nossa disposição, para fazer esse nosso
trabalho de campo. Contribuímos com recursos da nossa própria remuneração
mensal para poder fazer frente a esse nosso trabalho do dia-a-dia e até para poder
ampliar a arrecadação previdenciária. Pasmem, mas é verdade.
Um outro tema que já foi discutido, en passant , que também gostaria de
frisar é a própria discussão que já está havendo, nesta Casa, em relação ao Fisco
como um todo, não só sobre a fiscalização previdenciária, que é a garantia de que
essas carreiras que desempenham atividade de arrecadação e fiscalização tenham
prerrogativas especiais. Não são privilégios, são prerrogativas especiais
decorrentes do próprio exercício dessa nossa função. Já estão em discussão na
própria Comissão de Trabalho dois projetos — um Projeto de Lei Complementar, de
nº 248/98, e um Projeto de Lei ordinária, de nº 4.811 —, que definem quais são
essas carreiras exclusivas do Estado — foi este o apelido dado. E, para nossa
surpresa, a redação originária do Executivo não elencava, ao lado de diversas
outras carreiras, especificamente, aquelas carreiras do Fisco Municipal, Estadual e
Federal. Quer nos parecer que isso é uma desproteção ao Estado e à própria
sociedade. Não é uma questão corporativa apenas — é óbvio que é uma questão
corporativa também —, mas é uma questão corporativa salubre, para usar a
expressão do meu companheiro Álvaro Sólon de França, é um corporativismo
salubre, não é insalubre, mas em defesa da própria sociedade. Há um reflexo claro
em cima disso.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Antonio Palocci) - O senhor tem mais três
minutos.
O SR. MARCOS EDUARDO FREITAS RODRIGUES - Já estourei o tempo.
Eu disse que não estouraria.
Quero lembrar, inclusive, uma audiência que tivemos com a então Ministra
da Administração Federal e Reforma do Estado, Dra. Cláudia Costin, em que ela
mostrava o seu próprio entendimento de que essas carreiras deveriam ter essa
proteção e, para usar a expressão dela na ocasião — alguns colegas estavam
presentes e podem até atestar —, "precisaríamos de alguém que pudesse fiscalizar
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as terras do rei". Até o Dr. Roberto Piscitelli citou alguns exemplos sobre isso
também. Por isso, frisamos a relevância desse aspecto.
Já se falou do sigilo bancário, o PLP nº 20 já foi aprovado, inclusive, na
Comissão de Finanças. Quero crer que esta Casa já está sensível a essa nova
realidade de dar transparência também a essas operações financeiras que, muitas
vezes, encobrem o desvio de recursos que deveriam vir para o âmbito do Estado.
A situação das anistias e benefícios fiscais também é muito delicada, em
função de que se cria uma espécie de cultura da anistia. Nós, fiscais da
Previdência, com muita freqüência, no nosso contato diário com empresários,
temos uma resposta muito clara em relação a quando será a próxima anistia,
quando sairá a próxima medida provisória da anistia. Isso enfraquece sobremaneira
a administração tributária e estimula, exatamente, a evasão fiscal. Parece que
esses benefícios fiscais, esse tipo de anistia ou esses parcelamentos especiais —
também já foi dito — com isenções e anistia de multas, inclusive, beneficiam o mau
contribuinte, em detrimento daquele que, na competição que essa nova sistemática
econômica nos impõe fortemente, no dia-a-dia, cumpre com suas obrigações.
Então, o contribuinte, que é pontual, que procura ser ordeiro e levar o seu aporte de
recursos para os cofres públicos é claramente prejudicado, em função dessa cultura
da anistia e dessas anistias seqüentes, que têm sido dadas pelo Poder Público.
Havia alguns outros aspectos, mas já foram tratados.
Finalizando, queremos deixar a Federação à disposição da Comissão.
Entendemos essa iniciativa como claramente democrática, uma lição de democracia
que o Legislativo dá ao País, ao ouvir não só aqueles agentes que estão na ponta,
no dia-a-dia da administração tributária, mas também, como o Deputado Germano
Rigotto disse inicialmente, as próprias centrais sindicais, para conhecer a opinião
dos trabalhadores e da sociedade em si. Parece que este é o caminho. Debatendo
e dialogando, conseguiremos chegar a um modelo de sistema tributário que atenda
à necessidade do País de retornar o seu desenvolvimento econômico e minimizar
essa mazela social que hoje nos acossa: o desemprego.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Germano Rigotto) - Agradeço, mais uma
vez, ao Deputado Antonio Palocci, que presidiu parte da nossa reunião.
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Depois da exposição do nosso último convidado, abriremos um espaço para
as perguntas dos Srs. Deputados. Já estão inscritos os Deputados Antonio Palocci,
Paulo Mourão e Henrique Fontana. Estão abertas, portanto, as inscrições.
Com a palavra o último expositor, Dr. Álvaro Sólon de França,
Vice-Presidente da Associação Nacional dos Fiscais de Contribuições
Previdenciárias — ANFIP.
O SR. ÁLVARO SÓLON DE FRANÇA - Sr. Presidente, Sr. Relator, trago os
agradecimentos da Associação Nacional dos Fiscais de Previdência pela
oportunidade de transmitirmos as nossas preocupações em relação à Previdência
Social.
Primeiramente, gostaríamos de distribuir à Comissão um trabalho nosso,
intitulado "A Previdência Social e a Economia dos Municípios". Como foi dito pela
nossa colega Jane Pasquinelle, Brasília é muito longe do Brasil. Tenho
acompanhado os trabalhos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal
durante seis anos, já quase Deputado ad hoc , na defesa dos interesses da
Previdência Social.
Fiz esse trabalho porque verifiquei que havia profundo desconhecimento do
que representa a Previdência Social em várias localidades brasileiras. Desse nosso
trabalho, dos 5.500 Municípios pesquisados, em 3.154 deles, o pagamento de
benefícios previdenciários é superior ao FPM. E o mais importante é que esse não
é um fenômeno meramente nordestino. Isso acontece em quase todos os Estados
brasileiros. Somente São Paulo, Amazonas, Roraima e o Distrito Federal são
superavitários, ou seja, o que a Previdência arrecada nesses Estados paga os
benefícios previdenciários. Dos 18,3 milhões de benefícios previdenciários pagos,
7,9 milhões são para trabalhadores rurais, renda mensal vitalícia e agora a LOAS.
Isso significa que o sistema paga a 7,9 milhões de brasileiros cerca de um salário
mínimo. Neste último caso, para pessoas que quase ou nunca contribuíram para o
sistema, o que é um grande avanço proporcionado pela seguridade social para o
regime de solidariedade no Brasil. Imaginem V.Exas., com essa crise de
desemprego, com esse problema brutal de sobrevivência que temos hoje no Brasil,
essas 7,9 milhões de pessoas sem ter condições de subsistência. Tudo é
apresentado à Comissão para que, quando se discutir Previdência Social, possa se
ter o leque dessas informações e isso possa ser verificado.
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No caso específico do Estado do Sr. Relator, dos 467 Municípios
pesquisados, em 271 deles o benefício previdenciário supera o FPM. E o que é
mais importante, na cidade de Feliz, no Rio Grande do Sul, considerada pela ONU
a melhor cidade do Brasil em índice de qualidade de vida, o pagamento de
benefício previdenciário supera o FPM em mais de quatro vezes. Este é o Brasil em
que vivemos: no interior do Nordeste, um salário mínimo é a única fonte de renda
de um aposentado. E a pesquisa demonstrou que esse cidadão é disputado pelo
núcleo familiar para que passe um mês em uma casa e outro mês em outra, porque
ele é que dará condições de vida para aquela população. Isso para discussão da
reforma tributária é muito importante, até porque não vejo, nem consigo imaginar
uma reforma tributária que não possa produzir dignidade e cidadania.
Gostaria que essa publicação merecesse a atenção de V.Exas., até porque,
como disse Rui Barbosa certa vez, ensina-se inglês ao ingleses, e é preciso muitas
vezes ensinar Brasil aos brasileiros. Desconhecemos a realidade em que vivem os
nossos irmãos brasileiros.
Na questão própria da discussão da reforma tributária, muitos aspectos
foram abordados, mas gostaria de reprisar alguns que, sob o meu ponto de vista,
são fundamentais. O primeiro é que, sem a garantia da carreira exclusiva de
Estado, não teremos um Fisco aparelhado para representar a sociedade na
cobrança daquilo que lhe pertence e que devemos, como representantes do
Estado, retornar aos cofres públicos. É incompatível. Pode-se contar às dezenas os
exemplos de colegas que foram submetidos a constrangimentos, por poder de
pressão de grandes grupos econômicos, como o de sair de empresas. Conta-se às
dezenas. Sem essa garantia, não se pode falar em atuação da reforma tributária e
o que se produzir nesta Comissão tem larga chance de virar letra morta.
Também não se pode discutir reforma tributária sem que o Congresso
Nacional tenha a altivez de discutir o financiamento público de campanha. É claro
que quem financia as campanhas vai cobrar o seu retorno. Todos sabemos disso.
Muitas vezes, colocamos um véu sobre os nossos olhos e não queremos enfrentar
essa realidade. Sem enfrentar essa realidade, a reforma tributária não chegará a
lugar algum, porque as pressões continuarão. Isso tudo redundará no que todos os
colegas já disseram, no volume monstruoso da dívida ativa que existe em todos os
órgãos hoje.
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Já foi dito que a Previdência tem hoje uma dívida ativa de R$59,8 bilhões.
Imaginem como foi construída essa dívida ativa, como se chegou a esse valor
estratosférico, que é superior ao Orçamento deste ano para o pagamento de
benefícios previdenciários a quase 19 milhões de brasileiros.
Portanto, continuar com a extinção da punibilidade pelo pagamento do
tributo é um escárnio, é uma agressão ao cidadão honesto, que paga em dia suas
contribuições. Temos de enfrentar essa realidade.
Falar em reforma tributária sem falar em flexibilização do sigilo bancário é a
mesma situação. Imaginem V.Exas. que, por ocasião da reforma da Previdência
nesta Casa, nossa categoria consultou todos os seus associados e mais de 92%
deles abriram mão de seu sigilo bancário e fiscal. A nossa categoria, consultada,
abre mão do seu sigilo bancário e fiscal entendendo que quem é servidor público
não precisa de sigilo bancário e fiscal! Quem serve à Nação e é servidor público
não precisa de sigilo bancário e fiscal! Por quê? Porque o que ele ganha está
estampado no Diário Oficial . Todos os vencimentos e gratificações dependem de
uma lei; está no Diário Oficial . Para que sigilo bancário e fiscal? Não necessitamos
dele. Se esse é o escudo para que não se discuta a flexibilização do sigilo bancário
e fiscal, ele não existe mais, até porque, como foi dito por representantes nesta
Mesa, todos abrem mão de seu sigilo bancário e fiscal. Também abrimos mão do
nosso.
O colega Marcos Rodrigues abordou a questão dos recursos da seguridade
social. Por ocasião da discussão da reforma previdenciária nesta Casa, o Deputado
Euler Ribeiro incluiu no seu relatório que as receitas da seguridade social só seriam
utilizadas para suas atividades-fins. Sabem V.Exas. quantos dias durou esse
dispositivo no relatório do Deputado Euler Ribeiro? Um dia! No dia seguinte, por
pressões da área econômica, S.Exa. teve de fazer uma ressalva, retirando o
dispositivo do seu texto.
Portanto, não adianta ser criada contribuição dizendo para o cidadão comum
que ela se destina ao financiamento da saúde e da assistência social e que vai
minorar o sofrimento da população, como foi feito com a CPMF, a COFINS e a
Contribuição sobre o Lucro Líquido. Se não houver vedação, essa contribuição não
chegará ao seu destino e será utilizada para pagar outras despesas, até porque o
Governo, premido pelo Orçamento fiscal e pelo pagamento de dívida mobiliária
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astronômica, utilizará esses recursos para pagar outras despesas. Somente no ano
passado foram utilizados mais de 10 bilhões de reais para pagar encargos
previdenciários da União, que são os inativos, tanto do Executivo, militares e
outros.
Há de se discutir esse assunto. Vamos pedir à população que contribua para
a seguridade social, mas sem essa vedação ela será enganada. O Parlamentar que
votar favoravelmente será enganado, como o foi no caso específico dessas outras
contribuições. Emendas apresentadas nesse sentido foram torpedeadas. Todas
elas.
Voltando ao caso do sigilo bancário e fiscal, o mais importante é que, na
PEC da Previdência, esse assunto constava do texto encaminhado pelo Governo e
foi literalmente abandonado por esta Casa. Até brinco muito no sentido de que, às
vezes, falar de sigilo bancário e fiscal no Congresso Nacional é falar de corda em
casa de enforcado. As coisas são incompatíveis; causam um frisson muito grande.
Isso é comum nos países evoluídos. A modernidade também tem de chegar quando
da cobrança daquilo que pertence à sociedade.
Especificamente em relação à Previdência Social, já constava da Emenda
Constitucional nº 20 a gestão quadripartite. Na regulamentação, ela será
meramente consultiva. Ora, gestão quadripartite sem poder deliberativo é o mesmo
que enganar a sociedade no sentido de que ela esteja participando e decidindo. É
meramente consultivo. Ou se atende ou não.
Portanto, gestão quadripartite — até porque a Previdência Social não é do
Governo, não é dos partidos que o apóiam nem da Oposição, mas da sociedade —
tem de ser de caráter deliberativo. Se acreditarmos nessa proposta, haverá um
avanço monstruoso. Temos de acreditar mais na sociedade brasileira. Por que tem
de ser designado um Ministro ou qualquer outro chefe para que S.Exa. determine
como vai funcionar a Previdência Social? Os legítimos interessados é que deverão
dizer sobre esse funcionamento.
Também foi dito que temos 75 milhões de pessoas economicamente ativas e
32 milhões vinculadas à Previdência Social. Fico mais preocupado não pelo caráter
contributivo desses 43% que estão fora, mas porque, com a nova emenda que diz
que o regime é de contribuição, eles estarão num apartheid social. Como essas
pessoas serão contempladas? Temos de pensar nessas pessoas. Elas não estão
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contribuindo por não quererem, mas porque foram excluídas do sistema formal de
trabalho por vários motivos. Por isso, o crescimento econômico é fundamental.
Discutir reforma tributária sem discutir formas de crescimento econômico...
De quem vamos cobrar tributos se não há crescimento econômico?
Gostaria também de dizer que as anistias, a elisão e outros fenômenos
dessa natureza é que têm provocado esses 59 bilhões de dívida ativa da
Previdência Social. Muitos desses valores são inexeqüíveis, incobráveis; já
sumiram, foram postergados.
Portanto, é preciso pensar uma reforma tributária que seja ágil na cobrança,
na execução e na transformação desse crédito em recursos para satisfazer as
necessidades da sociedade. Não adianta criar também condições incobráveis para
pagamento de contribuições e outras questões de natureza tributária.
Sr. Presidente, para encerrar e não tomar muito tempo, até porque as outras
questões já foram aqui abordadas, digo que o Fórum do Fisco Nacional certamente
vai entregar um documento de consenso de toda a categoria. Trata-se de fato
inédito que merece o louvor de todos desta Casa. O Fisco Federal, do Trabalho, da
Previdência Social, do Estado e do Município falam hoje a mesma linguagem, têm a
mesma preocupação.
No meu entendimento, com esse clima, a Comissão terá condições de
produzir uma reforma tributária que dará sentido àquilo que ela representa. Não
adianta criarmos emendas constitucionais ou legislação infraconstitucional se isso
não tiver repercussão para o cidadão comum. Elaboraríamos miríades de leis,
centenas de leis complementares, dezenas de emendas constitucionais e tudo isso
não teria repercussão para o cidadão comum.
O cidadão comum, como o Fisco aqui representado, espera dessa emenda
de reforma tributária sentido à sua existência, para que ele tenha a satisfação de
contribuir sabendo que quem não contribui não será contemplado e que todas as
questões aqui abordadas vão ser retiradas, principalmente a extinção da
punibilidade pelo pagamento do tributo.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Germano Rigotto) - Quero agradecer ao Dr.
Álvaro Sólon de França, Vice-Presidente da Associação Nacional dos Fiscais de
Contribuições Previdenciárias — ANFIP — , sua apresentação.
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Como Presidente da Comissão e como Deputado, não posso deixar de
declarar que não concordo com duas afirmações de V.Sa.
A primeira diz respeito ao financiamento de campanha. Hoje a legislação é
muito clara com relação a esse assunto. Todos os Deputados desta Casa — uns
mais, outros menos — podem ter recebido contribuições, de acordo com o que
determina a legislação eleitoral. Isso não significa, no meu modo de ver, que o
Deputado tenha de votar obrigatoriamente de acordo com quem determinou essa
contribuição. Não concordo com essa observação. Se a legislação tem de mudar
com relação ao financiamento de campanha e temos de caminhar para um
financiamento público, que é uma das propostas, não podemos concordar com a
afirmação de que uma contribuição legal e declarada signifique o comprometimento
de um Parlamentar exatamente com o que deseja aquele que contribuiu.
E a segunda observação feita por V.Sa., com a qual também não concordo,
foi com relação à corda em casa de enforcado. Repudio essa abordagem com
relação ao sigilo bancário, porque foi aprovada a flexibilização do sigilo bancário no
Senado Federal e na Comissão de Finanças e Tributação desta Casa, há poucos
dias. Essa flexibilização permite efetivo combate à sonegação no sentido de não
permitir que a legislação do sigilo bancário proteja sonegador, narcotraficante ou
quem enriquece ilicitamente. Foi muito positiva essa aprovação na Comissão de
Finanças e Tributação. Lembro, inclusive, que no seu relatório o Relator demonstra
posição clara no sentido de permitir a quebra do sigilo bancário.
Acredito que V.Sa. não teve interesse em atingir todos os Deputados, mas
há nesta Casa uma consciência que não existe em outros órgãos da sociedade.
Vamos ouvir a Ordem dos Advogados do Brasil, entidade de peso relevante, com
relação à flexibilização dos monopólios, inclusive da forma que está sendo
discutida e aprovada na Casa.
Na verdade, não pode haver generalização nesse sentido nem a afirmação
de que a Casa não concorda com a flexibilização do sigilo ou de que o fato de
auxílio legal de entidades privadas e de pessoas físicas, amparado legalmente,
signifique um comprometimento absurdo do trabalho do Parlamentar com relação
ao que vota, ao que diz ou às atitudes que toma.
Deixo essa minha opinião bem clara, para inclusive ressalvar a posição de
Deputados que têm trabalhado incansavelmente, trazendo entidades para o debate,
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porque sabem que as mesmas têm papel fundamental no que vamos produzir. Os
senhores são os que mais sentem os efeitos das injustiças do atual sistema
tributário, que penaliza quem paga, favorece quem não paga e facilita a evasão
fiscal.
Nosso objetivo, portanto, é o de ouvir as contribuições fundamentais dessas
entidades. Foram trazidos estudos, trabalhos e posição oficial dessas entidades.
Tudo fica registrado nos Anais da Comissão e servirá de subsídio para os
Deputados e para o Relator. Não foram apenas pronunciamentos evidenciando
posições. Foram reunidas várias entidades e, desses encontros, retirada uma
posição conjunta, com o subsídio de documentos importantes para a Comissão.
Concedo a palavra aos Deputados inscritos... (Falha na gravação.)
O SR. ÁLVARO SÓLON DE FRANÇA - Retiro o que disse quanto à
generalização. Não foi meu intuito generalizar a posição dos membros da Casa.
Disse essas palavras pela experiência que tenho. Posso resgatar todas as
propostas apresentadas nesse sentido que foram derrotadas. Tenho certeza de que
esta Casa tem agora a oportunidade ímpar de fazer com que essas questões sejam
transformadas em ...
O SR. DEPUTADO EDUARDO PAES - Sr. Presidente, permite-me V.Exa.
aparte somente para fazer um registro? Essas observações, pelas quais o Sr.
Álvaro pede desculpas, são de certa forma deselegantes. Temos nesta sala duas
categorias que, aliás, não têm melhor fama junto à população. Acabamos
generalizando. Generalizar a classe dos fiscais, assim como a dos políticos, não faz
parte deste debate.
Cumprimento o Presidente Germano Rigotto por ter feito esse registro
importante e afirmo que estamos trabalhando seriamente. O Relator, Deputado
Mussa Demes, em muitas das emendas propõe a quebra do sigilo bancário. Não há
o menor temor quanto a isso na Câmara dos Deputados. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Germano Rigotto) - Agradeço ao Deputado
Eduardo Paes, mas ficou claro que o Sr. Álvaro, na verdade, quis apenas
demonstrar a necessidade de termos essa flexibilização do sigilo bancário.
Apoiamos totalmente essa idéia, assim como apoiamos outras aqui apresentadas e
que, durante o debate, vão ficar claras. Já avançando o sinal, cito um exemplo: eu,
o Relator e os Deputados aqui presentes entendemos que fiscal de tributos — o
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auditor fiscal — deve ter carreira típica de Estado. (Palmas.) Não há discordância
com relação a isso. É clara essa posição. Assinamos inclusive emendas.
Portanto, há muitas concordâncias e somos os primeiros a trazer os
senhores ao debate, porque acreditamos que essa contribuição, que pode mudar o
trabalho da Comissão, é fundamental.
Concedo a palavra ao primeiro Deputado inscrito, Antonio Palocci,
Vice-Presidente desta Comissão, que vem prestando relevante trabalho, inclusive
em questões como essa das carreiras típicas do Estado.
O SR. DEPUTADO ANTONIO PALOCCI - Obrigado, Sr. Presidente. Em
primeiro lugar, cumprimento V.Exa., pois já estamos provavelmente na décima
audiência pública e, tanto por decisão do conjunto da Comissão como por
posicionamento muito claro de sua parte, o debate sobre a reforma tributária foi
aberto a todos os setores da sociedade brasileira. Esse posicionamento também
tem sido parte das preocupações de nosso Relator, Deputado Mussa Demes,
porque S.Exa. sabe o peso da responsabilidade que recai sobre esta Comissão.
As contribuições do dia de hoje são de grande importância, como foi
destacado no início, por se tratarem de contribuições de pessoas com larga
experiência no assunto, que vivem do trabalho cotidiano em relação à questão
tributária. Não poderíamos deixar de ouvi-las para realizar o trabalho da reforma
tributária.
Ouvimos opiniões sobre a simplificação da legislação tributária, a
necessidade de critérios de punição à sonegação fiscal, a manutenção de
competência de instâncias da Federação, a partilha de tributos, enfim, uma série de
questões de grande importância.
Ressalto duas fundamentais. Não as apresento como perguntas, porque os
diversos argumentos ficaram muito claros. Esta Comissão, com certeza, saberá
acolher essas opiniões e indicações no que for fundamental.
Mas quero destacar o fato abordado no debate de hoje no sentido de que o
aparelho fiscal brasileiro está muito aquém das nossas necessidades. Se
compararmos esse aparelho fiscal ao de qualquer país do mundo que tenha uma
política fiscal mais moderna e mais eficiente observaremos que o nosso está em
desvantagem. Mas, pior do que isso, seria se a Câmara dos Deputados aprovasse
a reforma tributária e não considerasse técnicos e fiscais como carreira típica do
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Estado. Seria como se fizéssemos um projeto de segurança tirando a Polícia das
ruas. Ou seja, jamais poderemos criar uma política tributária eficiente se não
dermos condições àqueles que realizam a ação do Estado. Essas condições não se
referem apenas à estabilidade do servidor, mas à estabilidade do serviço público,
que é fundamental.
Não é possível realizar um serviço correto, eficiente e moderno de tributação
e fiscalização sem que haja estabilidade da instituição ou das diversas instituições
fiscais e tributárias como também do servidor.
O Deputado Mussa Demes tem experiência prática e pessoal no assunto e
sabe que o servidor se vê muitas vezes diante de situações de grande polêmica e
enfrenta setores econômicos de grande peso. Se ele for enviado a uma missão
como essa sem qualquer condição de ser o agente da lei, como o é, naquilo que é
previsto na legislação brasileira, estaremos cortando as pernas da política
tributária.
Em função disso, acredito que falo em nome de todos os Deputados desta
Comissão, porque já conversei com praticamente todos. Há dois meses tratamos
desse assunto da inclusão dos fiscais e técnicos de tributos na lei da carreira típica.
Tenho conversado com pessoas de todos os partidos e de várias Comissões e não
tenho encontrado Deputados — digo isso aos representantes da categoria — que
recusem essa idéia. Na verdade, houve uma falha na legislação enviada a esta
Casa, mas tenho muita confiança de que ela será aqui mesmo corrigida.
Então, queria fazer este registro e dizer ao Dr. Álvaro Sólon que, quanto a
esse aspecto — infelizmente houve o debate que se estabeleceu e entendo correta
a posição do Sr. Presidente —, quando da votação no Congresso Nacional, não
estaremos votando a carreira típica nos casos de exceção de fiscais que, na
verdade, assumem um comportamento incorreto, ilegal na Federação; esses
pertencem a carreiras atípicas de Estado. Vamos votar pensando naqueles, como
os senhores que estão aqui, profissionais de alta qualidade, fundamentais para o
aparelho fiscal do Estado, sem os quais não haverá uma política tributária eficiente
e moderna. É com esse pensamento que os Deputados vão resolver a reforma
tributária e as carreiras típicas.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Germano Rigotto) - Pela ordem de inscrição:
Deputados Henrique Fontana, Eduardo Paes e Lúcia Vânia. Pediria apenas aos
colegas que fossem — já teve início a Ordem do Dia — bem rápidos em suas
explanações.
Com a palavra o Deputado Henrique Fontana.
O SR. DEPUTADO HENRIQUE FONTANA - Sr. Presidente, vou ser bem
rápido. Quero cumprimentar o Presidente e o nosso Relator, que estão conduzindo
de maneira absolutamente adequada e democrática esse debate fundamental para
o nosso País, e também todos os convidados de hoje que trouxeram subsídios à
Comissão.
Ao ouvir a exposição da Dra. Jane, intensifiquei mais ainda a minha
convicção — e, evidentemente, quero compartilhar isso com os colegas e com o
nosso Relator, que vão construir enfim uma nova proposta tributária para este País
— de que efetivamente se espalhou demais pelo País a idéia de que a Constituição
de 1988 levou muitos recursos aos Municípios. Na verdade, isso não condiz com a
realidade atual.
Em relação à transferência de responsabilidades para os Municípios, vou dar
apenas um exemplo — e talvez alguns colegas Deputados por não serem
exatamente da área não acompanhem o seu dia-a-dia — sobre a municipalização
da saúde. Um Município que recebe, por exemplo, a transferência de 2 mil
servidores públicos na área de saúde tem que passar, a partir desse momento, a
repor todas as aposentadorias desses servidores. Além do que normalmente
recebem essas estruturas públicas com defasagem de recursos humanos, todo
servidor que se aposentar a partir do momento da municipalização da saúde deve
ser substituído por um servidor municipal, ou seja, progressivamente o
compromisso dos Municípios com o financiamento da área de saúde cresce. Isso
indica — e poderia trazer outros exemplos — que a transferência de
responsabilidades é muito grande. Entendo que isso tem que ser fruto de uma
avaliação muito criteriosa nossa, mas não tenho nenhuma dúvida de que a parte
dos Municípios no bolo tributário geral precisa crescer por uma questão de justiça e
equilíbrio do pacto federativo.
Apresento uma outra questão que, às vezes, aparece muito: como vamos
chegar até aí? Discordo do que disse a Dra. Jane e deixo isso para nossa reflexão.
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Vamos definir bem qual é o papel dos Municípios e dos Estados no Governo
Federal. Em algumas áreas de política pública fundamental defendo a solução em
um caminho inverso. Por exemplo, nas áreas de saúde e educação, acredito que
não temos como definir qual é o papel do Município, do Estado ou do Governo
Federal nessas duas políticas fundamentais. Temos que definir qual será o
percentual do Orçamento público daqueles entes federados para que eles apliquem
esse percentual constitucionalmente nessas políticas sociais.
E, para usar um dito popular, termina-se com o jogo de empurra, com a
disputa que termina existindo para confundir o cidadão, para confundir a população.
Às vezes, ouvimos o Ministro da área dizer que os Municípios são os grandes
devedores, mas tem que enviar mais recursos e tal. Mas nós sabemos que o
Município está contribuindo com a sua parcela. Então, vamos acabar com essa
disputa — que chamo de jogo de empurra — definindo constitucionalmente a
vinculação sim, que, sei, vem sofrendo diversas críticas de muitos de nós inclusive,
mas, na minha opinião, é a única alternativa para que o cidadão fique tranqüilo de
que essas políticas sociais fundamentais vão ter uma parcela dos seus tributos
pagos aos Governos Federal, Estadual e Municipal, destinada constitucionalmente
para a área de saúde.
Se o Município vai fazer um hospital terciário, porque é necessário naquele
Município e ele pode contribuir com esse investimento, ou se ele vai cuidar da
unidade básica de saúde exclusivamente, essa discussão termina, porque nós
podemos fazer ações em diferentes níveis do sistema. O importante é o
investimento.
Gostaria de falar também do nosso Presidente. Entendo que S.Exa. tem sido
muito firme na consolidação da idéia de que entramos num caminho sem volta e
que precisamos votar a reforma tributária, se não aquela dos sonhos de todos nós,
no mínimo aproveitando muitas coisas que já são consensuais e precisam ser
votadas. As outras, e muitas também, que não são consensuais têm que enfrentar o
debate democrático e ser votadas. Por que digo isso? Acredito que entendi a
posição do nosso Presidente ao fazer uma crítica correta à generalização trazida
pelo Dr. Álvaro, embora não tenha sido essa a sua intenção. Não conhecia o Dr.
Álvaro, estou conhecendo hoje, mas entendo um pouco a sua crítica, porque, afinal
de contas, há quantos anos fala-se neste País que é preciso quebrar o sigilo fiscal
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e bancário para evitar que se mantenham níveis de sonegação absolutamente
inaceitáveis do ponto de vista da justiça social? Por diversos motivos isso ainda
não ocorreu. Evidentemente não por vontade do Relator, ou por vontade do
Presidente desta Comissão, ou por vontade deste Deputado, mas está claro que
existem forças políticas poderosas contra a quebra do sigilo bancário e fiscal para
fins de fiscalização tributária.
Então, quando a população faz essa crítica ela se baseia nessa realidade.
Considero que a reforma tributária deveria ter sido a primeira de todas as reformas.
Esta é uma opinião política de alguém que representa um partido e uma visão de
sociedade. Temos hoje um Governo instalado que está há 1.500 dias no poder, e a
reforma tributária ainda não aconteceu. É evidente que precisamos intensificar
nossa vontade para que, de fato e desta vez, essa reforma seja concluída.
Obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Germano Rigotto) - Agradeço ao Deputado
Henrique Fontana.
A Dra. Jane Pasquinelle Castelo gostaria de fazer alguma consideração
sobre a posição do Deputado Henrique Fontana?
A SRA. JANE PASQUINELLE CASTELO - Só queria fazer um
esclarecimento. Deputado Henrique Fontana, estou de pleno acordo com V.Exa.
Quando falei em fixar claramente as atribuições das competências municipais, quis
referir-me, se não me engano, ao art. 30 daquelas competências concorrentes.
Quais são os serviços públicos de interesse predominantemente local? Deixar isso
claramente definido para ver quanto isso custa. E não há discordância alguma,
tanto é que o trabalho realizado pelo Conselho Brasileiro de Integração Municipal,
por decisão política, foi encaminhado totalmente através de uma emenda do
Deputado Celso Giglio, do PTB de São Paulo. Falamos muito por alto, pois
tínhamos o problema da limitação do tempo. Mas essa emenda contempla isso.
Essa proposta apresenta dispositivo no sentido de que 30% dos recursos do
orçamento da seguridade social e 10% das receitas dos impostos e de
transferências constitucionais dos Estados e dos Municípios sejam vinculados ao
financiamento do Sistema Único de Saúde. Quer dizer, há um comprometimento de
recursos da União e do Estado. Alguns assuntos têm que ser realmente
compartilhados, algumas atribuições têm que ser de fato compartilhadas.
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Então, não há discordância, muito pelo contrário.
Obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Germano Rigotto) - O Deputado Eduardo
Paes deseja fazer algum comentário? (Pausa.)
Com a palavra a Deputada Lúcia Vânia.
A SRA. DEPUTADA LÚCIA VÂNIA - Sr. Presidente, Sr. Relator, Srs.
expositores, vou procurar ser bem rápida, porque sei que grande parte das pessoas
que estão aqui querem ouvir a palavra do Relator a respeito do trabalho que foi
apresentado.
Gostaria de testemunhar a seriedade com que o Dr. Jeovalter Correia tem
encaminhado esse trabalho apresentado hoje a esta Comissão, trabalho esse já
submetido aos setores público e privado do meu Estado, Goiás. Houve consenso
em algumas das propostas ali apresentadas. Portanto, neste momento, gostaria de
pedir aos colegas, à Mesa que examinassem com muita profundidade essa
proposta, fruto de um trabalho muito sério e de um grupo de pessoas interessadas
e que vivem o dia-a-dia do sistema tributário.
Muito obrigada. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Germano Rigotto) - Agradeço à Deputada
Lúcia Vânia e, de imediato, passo a palavra ao Deputado Mussa Demes para as
considerações que julgar oportunas, analisando tudo o que foi dito aqui.
O SR. DEPUTADO MUSSA DEMES - Sr. Presidente, desejo fazer coro com
o grupo e saudar todos os expositores que aqui deram a sua contribuição, que vai
ser, sem dúvida, muito importante na elaboração do nosso substitutivo. Quero dizer,
em primeiro lugar, que me sinto muito à vontade nesta tarde, porque muito me
honra também haver pertencido durante cerca de vinte anos da minha vida a esse
grupo na qualidade de Auditor Fiscal do Tesouro Nacional.
Em razão da exigüidade do nosso horário, uma vez que a Ordem do Dia já
teve início e a qualquer momento poderemos ter uma votação, não vou poder fazer
uma apreciação completa de cada uma das propostas, das sugestões apresentadas
pelos nossos expositores, mas pude sentir que há um pensamento muito
sintonizado do grupo em relação a determinadas questões. Em razão disso, falarei
não especificamente sobre o que aqui disse cada um dos expositores, mas em
determinados momentos sobre o que o grupo pede e propõe a esta Comissão.
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Inicialmente, em relação às garantias do crédito tributário, não sei se seria
necessário ainda aumentar essas garantias. Aqui o que se propõe, pelo que pude
entender, seria a indisponibilidade dos bens no momento da lavratura do ato de
infração. Não sei se esse tipo de providência resistiria também a um
questionamento judicial, na medida em que o auto de infração, apesar de constituir
o crédito tributário, é apenas o início de um procedimento. Ele ainda vai ter de
passar por diversos questionamentos, inclusive na área administrativa, em pelo
menos duas instâncias em cada uma das diferentes esferas de Governo onde isso
vier a acontecer.
Além do mais, a legislação já autoriza essa garantia, que é a segunda na
ordem de preferência, sobrepondo-se inclusive aos créditos com garantia real, só
perdendo em termos de prioridade para os créditos da legislação trabalhista. Mas
não fecho questão. Podemos examinar e verificar a exeqüibilidade disso no
decorrer dos trabalhos desta Comissão.
Em relação à quebra do sigilo bancário é bom lembrar ao Dr. Álvaro que nós
estamos trabalhando há dois meses, há 48 dias — não sei se é porque eu sou
muito rodado nesta Comissão, já que sou o seu Relator desde 1995, acabo
perdendo a noção do tempo —, mas quero deixar meu testemunho. Claro que nem
todos os senhores estão aqui no dia-a-dia, que nunca se ouviu aqui, nesta
Comissão, a voz de um Parlamentar que fosse a quebra do sigilo bancário.
Nenhum, nenhum deles.
Quanto aos problemas de financiamento de campanha, também devo
lembrar ao Dr. Álvaro que nenhum de nós se sente comprometido pelo fato de
utilizar valores que não são significativos, são até pouco expressivos nas nossas
campanhas. E se isso implicasse algo ilegal, comprometimento do Parlamentar, os
Parlamentares de Esquerda também não receberiam esses financiamentos. E o que
vimos foi não apenas Parlamentares, mas inclusive candidatos a cargos
majoritários, inclusive a Governador de Estado, receberem esse tipo de
financiamento, e nem por isso alienaram seu pensamento ou sua consciência, Dr.
Álvaro.
Portanto, solidarizo-me com o Deputado Germano Rigotto, Presidente da
Comissão, com o Deputado Eduardo Paes, membro desta Comissão, por seus
pronunciamentos, pois sei que S.Exas. traduziram o sentimento, não diria de
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revolta, mas até de desgosto da Comissão com o que nós consideramos de fato
uma agressão ao grupo, porque não é esse o sentimento que perpassa, tenho
certeza, esta Casa.
Ouvi alguns questionamentos em relação ao contencioso. Também tenho a
mesma opinião. Acredito que poderíamos, para agilizar até a cobrança da dívida
ativa, tomar providências em relação ao contencioso administrativo. Acho,
entretanto, que é uma providência de cunho eminentemente gerencial. Não cabe a
nós, em um projeto de reforma tributária, cuidar desse assunto, embora o
levantamento da questão, como em muitas outras aqui para as quais não cabe um
comando constitucional, seja da maior relevância para alertar o Poder Público, o
Poder Executivo especialmente, enfim, todas as esferas de Governo para que
diligenciem no sentido de que a Receita Federal, por exemplo, não venha a
continuar sofrendo os problemas que ela enfrenta hoje. Problema de falta de
pessoal, problema de recursos para administrar até suas despesas menores. O
FUNDAF, por exemplo, foi criado com o fim exclusivo de permitir que a própria
Secretaria administrasse seus problemas fundamentais para o exercício correto do
trabalho dos fiscais. E posso dizer isso porque durante o tempo em que prestei
serviços à Receita Federal pude sentir as dificuldades até para a obtenção de
diárias quando nos deslocávamos da sede para realizar um trabalho de
fiscalização.
Estou em perfeita sintonia com o pensamento do meu duplamente colega
Roberto Piscitelli, fiscal que fui e companheiro nesta Casa durante longo tempo, em
relação ao depósito hoje exigido de 30% nos casos de contribuintes que desejam
interpor recursos junto aos conselhos de contribuintes. Fui, inclusive, voto vencido
nesta Casa. Apresentei emenda — se não me engano, em novembro de 1997,
quando essa medida provisória aqui aportou —, que, infelizmente, não teve
acolhida, com o objetivo de retirar essa exigência que me parece inclusive
inconstitucional. Isso tem-se refletido nos julgamentos que os tribunais têm dado às
pessoas que a ele recorrem quando pretendem continuar discutindo o crédito
tributário na área administrativa, sem precisar dar essa garantia.
A Dra. Jane se comportou aqui muito mais como um Prefeito do que como
um fiscal. Reclama dos encargos que hoje são impostos aos Municípios sem
contrapartida de receita, e isso é verdade. Lembra com saudade do IVVC, tributo
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que instituímos em 1988 e que durou pouco tempo, mas que, na verdade, teve uma
significação muito grande para os Municípios que têm base econômica para
cobrá-lo. É bom que se diga isso, porque na grande maioria dos Municípios
brasileiros ele não tem nenhuma ou muito pequena importância, mas isso não
significa dizer que deveria ter sido extinto. Acho, até, que deverá ser uma
perspectiva com a qual precisaremos trabalhar para reforçar as receitas municipais.
Não concordo, todavia, com algumas considerações expendidas aqui e digo
isso com toda liberdade, porque o bom na democracia, em um regime democrático
como o nosso, é exatamente o contraditório, é muitas pessoas pensarem de uma
maneira e outras pensarem de outra e isso vai ser decidido no voto, é claro.
Não vejo razão, por exemplo, para que se determine a prisão do sonegador
— vejam bem, a prisão do sonegador. Não estou falando em relação à Jane, mas a
algumas das pessoas que também se manifestaram sobre isso. Mas V.Sa. falou
sobre isso também.
Esse particular é um dos pontos de convergência entre mim e o Secretário
Everardo Maciel. Acho que o que mais dói é o bolso de alguém — não é nem a
prisão, é o bolso! No momento em que você prende o sonegador, prende alguém
pelo fato de a ele ser atribuída uma infração definida como sonegação que ainda
não está devidamente configurada, porque o que a legislação autoriza é que a
punibilidade seja extinta com o pagamento. Então, não está definido se é
sonegador ou não, porque o crime de sonegação é definido pela Justiça e não pela
área administrativa quando o processo não está sendo julgado.
Meu pensamento é o de que se seguirmos por esse caminho ninguém vai
pagar qualquer processo fiscal que atribua ao contribuinte a condição de
sonegador, porque equivaleria a uma confissão de culpa. Essa é a razão pela qual
não adotaria. Sou franco ao dizer isso. Naturalmente, há colegas que divergem do
meu pensamento e que têm emendas nesse sentido, que poderão apresentar
destaques no momento oportuno. Não concordo com a opinião dos que acham que
a pessoa, pelo simples fato de sofrer um auto de infração e não poder pagá-lo,
continue a responder pelas penalidades estabelecidas no Código Penal, porque
seria desestímulo ao próprio pagamento do tributo.
Também não posso concordar com o problema da prejudicialidade a que se
referiu nosso querido amigo Roberto Bocaccio Piscitelli. Isso foi colocado por mim
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no substitutivo desde 1996. Entendo — veja bem, não estou defendendo a situação
de quem é sonegador — e defendo o direito de o contribuinte não ser processado
criminalmente antes que seja exaurido na esfera administrativa o processo próprio
que deu margem à denúncia.
A partir do momento em que se configurar isso administrativamente, ele deve
ser denunciado, sim, mas até lá entendo que não e já tive oportunidade de dizer
isso em várias ocasiões. Houve casos de condenados criminalmente cujos
processos administrativos foram considerados insubsistentes depois. Então, como
fica a situação dessa pessoa, quem poderia reparar esse dano? Ninguém. Logo,
acho mais prudente, talvez pela formação liberal que tenho, advogado que fui
durante curto período da minha vida, que se deve continuar assegurando o direito
de alguém ser considerado inocente até que se prove o contrário.
É por esse motivo que insisto em manter no substitutivo a prejudicialidade,
ou seja, o direito ao cidadão de não poder ser processado antes de ficar
devidamente comprovado na esfera administrativa que houve crime contra a
administração tributária.
Impressionou-me, devo confessar a V.Exas...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Germano Rigotto) - Não querendo
polemizar, Deputado Mussa Demes, não posso ficar sem fazer uma provocação.
Noutro dia um grupo — se não me engano foi o pessoal do Ministério Público —,
levantou essa questão do substitutivo dizendo que poderia haver protelação na
esfera administrativa. Para proteger alguém, engavetam o processo num
determinado setor que tem de tomar decisão e enquanto comprovadamente existir
sonegação, o Ministério Público não pode tomar atitude alguma que poderia,
inclusive, evitar que bens fossem transferidos. Parece que o Ministério Público está
fortemente defendendo que se possa iniciar esse processo judicial.
O SR. DEPUTADO MUSSA DEMES - É, eu sei. Sei inclusive que há alguns
membros do Ministério Público que censuram meu comportamento nesse episódio,
mas continuo tranqüilo, porque na verdade devo satisfações antes de tudo à minha
consciência.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Germano Rigotto) - Ministério Público.
O SR. DEPUTADO MUSSA DEMES - É, Ministério Público. E o Ministério
Público acha que deveríamos pelo menos suspender a prescrição do crime nesses
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casos. Poderemos enveredar por esse caminho, mas persigo um objetivo muito
maior que muitos de V.Exas. não perceberam: é o desejo de ver a agilização dos
processos na esfera administrativa, porque senão vão passar dez, quinze anos,
como continua até hoje.
Se admitirmos a suspensão da prescrição, não contribuiremos para que se
esvaziem os processos nos conselhos de contribuintes na área administrativa.
Afinal de contas, qualquer pena por crime de sonegação fiscal, se não me engano,
é de até dez anos, a partir da data do fato gerador. Dez anos é tempo mais do que
suficiente para apurar a responsabilidade. O que não é razoável é que se coloque
uma espada de Dâmocles na cabeça do contribuinte pela vida inteira. Não devemos
tratar apenas dos problemas do Fisco e da área administrativa do Governo, mas
também da segurança, dos interesses e garantias do contribuinte. Isso não pode
ser postergado nem esquecido num projeto de reforma tributária.
Por isso, estou agindo assim. Se eu perder, não tem nada. É do jogo
democrático. Se eu não conseguir aprovar esse dispositivo, não tem importância.
Acho que cumpri com minha obrigação, com o meu papel.
Antes da breve interrupção de meu caríssimo amigo e Presidente, que tão
bem vem conduzindo os trabalhos desta Comissão, com tanta competência — e
todo o grupo reconhece isso —, dizia que me preocupo com o problema de que os
recursos arrecadados com aquele objetivo não são repassados adequadamente
para a seguridade social.
Atribuo isso à pouca transparência por parte do Governo em relação à
utilização dos recursos arrecadados. É preciso ser mais transparente para que
tenhamos essa informação, porque o que sabemos aqui, e vez por outra se
comenta, é que até recursos do Fundo de Estabilização Fiscal foram repassados
para o sistema de Previdência Social, a fim de cobrir eventuais dificuldades de
caixa daquele setor. Porém, não me parece desarrazoado estabelecer um comando
constitucional que proíba que esses repasses tenham outra destinação que não
aquela determinada especificamente na lei, na Constituição, porque poderia
inclusive ser definido como crime de responsabilidade e possibilitar até o
impeachment de um Presidente da República que não se utilizar adequadamente
dos recursos da forma estabelecida. É algo em que podemos trabalhar, sem dúvida.
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Concordo com o Dr. Álvaro Sólon de França em gênero, número e grau
quanto à importância que os benefícios da Previdência Social têm no interior. E
concordo que a experiência de doze anos de mandato como Deputado Federal — e
tenho certeza de que todos os meus companheiros também fazem a mesma coisa
— fizeram-me perceber isso. Exemplificarei com apenas um caso: em determinado
momento, visitando uma cidadezinha do interior do Piauí, a única reivindicação que
recebi do segmento produtivo foi a de conseguir instalar uma agência do Banco do
Estado, porque os aposentados da área rural, como não havia agência do Banco do
Brasil lá, mas havia em uma cidadezinha próxima a vinte minutos dali, tinham de
receber seus benefícios lá. Então, o que acontecia? Seiscentos, 800 beneficiários
da Previdência Social que moravam naquela cidadezinha onde não havia banco
não recebiam praticamente nada. E não investiam em irrigação na economia local
— se é que se pode chamar de economia, mas quase tudo que eles tinham era o
produto daquelas aposentadorias —, porque os beneficiários, os aposentados
gastavam o dinheiro lá mesmo na cidade onde existe o banco. Isso é importante
para quem vive no interior, e quem realmente representa o povo brasileiro é o
Deputado, é o Senador, que vive em contato permanente com as bases.
Sr. Presidente, poderia me estender mais, porém sei que o tempo já não
permite.
O SR. DEPUTADO ANTONIO PALOCCI - V.Exa. não esclareceu se abriu a
agência ou não, Deputado.
O SR. DEPUTADO MUSSA DEMES - Não foi possível abrir, porque o Banco
do Estado acabou sob intervenção pouco tempo depois. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Germano Rigotto) - Agradeço aos
Deputados Mussa Demes, Antonio Kandir, nosso Vice-Presidente; Antonio Palocci,
Manoel Salviano, Henrique Fontana, Lúcia Vânia, Rodrigo Maia, Gerson Gabrielli e
Eduardo Paes. Agradeço também aos Srs. Deputados que estiveram conosco
durante esta importante reunião. Não tenho dúvida de que hoje iniciamos um
trabalho mais forte. Teremos o acompanhamento das entidades durante todo esse
processo, que têm condições de nos ajudar muito até a conclusão do nosso
trabalho. A vinda de V.Sas. a esta Comissão não foi apenas para deixar nos Anais
a posição das entidades que presidem, mas exatamente assumir um compromisso
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com o Relator, com todos nós, membros da Comissão, de que nos subsidiarão, nos
ajudarão durante todo esse processo.
Agradeço às entidade que aqui estiveram, as que foram e as que não foram
nominadas. Agradeço ao Dr. Álvaro Sólon de França, Vice-Presidente da
Associação Nacional dos Fiscais de Contribuição Previdenciária — ANFIP, a
colaboração que trouxe à Comissão; à Dra. Jane Pasquinelli Castelo, Presidente da
Federação Nacional das Entidades de Auditores Fiscais de Tributos Municipais —
FENAFIM, a contribuição que também nos deu; ao Dr. Jeovalter Correia Santos,
Presidente da Federação Nacional do Fisco Estadual — FENAFISCO; e ao
Vice-Presidente, pela presença e contribuição, e ao Dr. Marcos Eduardo Freitas
Rodrigues, Presidente da Federação Nacional dos Fiscais de Contribuições
Previdenciárias — FENAFISP, a ajuda e o apoio que nos deram; ao Dr. Carlos José
Teixeira, representante do Sindicato dos Técnicos do Tesouro Nacional —
SINDTTEN, a contribuição dada à Comissão, e ao Dr. Roberto Bocaccio Piscitelli,
Diretor de Defesa Profissional e Estudos Técnicos do Sindicato Nacional dos
Auditores Fiscais do Tesouro Nacional — UNAFISCO SINDICAL , aquele que mais
perto está da Comissão e que ficará, quem sabe, com a responsabilidade maior de
subsidiá-la.
Agradeço a todos.
Vou encerrar os trabalhos, antes convocando reunião para amanhã, às
14h30min, quando teremos a presença do Presidente da CUT, Vicentinho; do
Presidente da Força Sindical, Paulinho; do Presidente da CGT, Pegado, e do
Presidente da Social Democracia Sindical, Alemão.
Todos estão convocados para essa reunião de amanhã.
Muito obrigado.
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