bullying nas aulas de educaÇÃo fÍsica -...
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BULLYING NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
Ana Beatriz Cardoso Domingues¹
Elaine Gonçalves Castro²
Larissa Casagrande²
Larissa Silva²
Yale Caroline Ceslestino²
¹ Doscente da Faculdade Origines Lessa – FACOL – Lençois Paulista – SP - Brasil
² Dicente da Faculdade Origines Lessa – FACOL – Lençois Paulista – SP - Brasil
RESUMO: O objetivo deste artigo é discutir a problemática do bullying no âmbito escolar nas aulas de Educação Física. Compreendendo diferentes formas de agressão proposital e repetida, o bullying no ambiente escolar é um fenômeno que demonstra uma relação dispar de poder. Nas aulas de Educação Física não é diferente. As situações de competitividade e agressividade podem ser ambiente favorável para o surgimento do bullying e, muitas vezes, podem não ser percebidas pelos professores em quadra. Para entender melhor o fenômeno, foi realizada revisão bibliográfica como parte do trabalho de conclusão de curso dos alunos do curso de Licenciatura em Educação Física do Instituto Superior de Ensino Origenes Lessa que tem como objetivo fundamentar a pesquisa de campo sobre bullying com professores de Educação Física dos anos finais do Ensino Fundamental de escolas do município de Lençóis Paulista. Como conclusão dessa revisão pudemos constatar que há poucos programas educacionais brasileiros para a prevenção e controle do bullying nas escolas. Por esse motivo enfatizamos a importância do desenvolvimento de estratégias para identificação e prevenção desse fenômenos pelos professores de Educação Física em suas aulas.
1. INTRODUÇÃO
Se por um lado a Educação Física pode despertar nos alunos sentimentos de
cooperativismo, companheirismo e inclusão, por outro, tende a criar situações de
competitividade, agressividade e discriminação em meio às quais práticas de
bullying podem surgir - sobretudo em relação aos alunos acima do peso ou com
pouca habilidade nos esportes. Ao final de 2016, o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) divulgou um levantamento preocupante, com o crescimento de
casos de bullying escolar no Brasil. A pesquisa mostrou que, em 2015, 46,6% dos
13 milhões de jovens entrevistados, entre 13 e 17 anos de escolas públicas e
particulares de todas as regiões do país, disseram já ter sofrido algum tipo de
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bullying. Em 2012, a porcentagem era de 35,3%. E a aparência física estava entre
os principais motivos.
Fante (2005) desenvolveu em 2000 um trabalho de conscientização de pais e
professores sobre o bullying. Ao realizar uma pesquisa com dois mil alunos, na
região de São José do Rio Preto , encontrou 49% envolvidos no fenômeno. Desses
22% atuavam como vítimas, 15% como agressores e 12% como vítimas-agressoras.
Existem diversas definições para a palavra bullying, mas na grande maioria o
termo refere-se à exposição repetidas a ações propositais que prejudicam ou ferem
indivíduos.
Buscamos no presente artigo conceituar o termo, apresentar legislação
específica e estratégias voltadas para a prevenção do bullying. A informação e
conscientização dos professores sobre o tema é essencial para que possam
identificar, prevenir e interferir de maneira correta em situações que correspondem
ao fenômeno em suas aulas.
Acreditamos que, quando o assunto é amplamente debatido, os alunos serão
capazes de identificar suas atitudes positivas e negativas perante os demais colegas
e a importância de o respeito prevalecer acima de tudo, podendo, também, gerar
uma situação de amparo para os alunos que sofrem as agressões do bullying.
Apesar do bullying poder estar presente em qualquer disciplina escolar, o
presente trabalho trata das práticas que podem ocorrer nas aulas de Educação
Física, visto que muitas vezes pode ser confundido como “brincadeiras” entre os
alunos por professores. As aulas, nesse sentido, podem favorecer para que os
alunos se sintam seguros em procurar ajuda caso sejam vítimas de bullying ou
sejam testemunha de algum caso. A dinâmica das aulas podem ser uma
oportunidade, visto que a postura do professor diante dos conteúdos, pode contribuir
para que ele se sinta à vontade para expor a situação.
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Mas afinal, o que é bullying?
No decorrer da história da humanidade, a violência é um problema crônico e
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recorrente. Atualmente, a mídia noticia uma complexa rede de conflitos que
aumentam o medo e a insegurança da população dos mais diversos segmentos
sociais.
Para Sposito (1998) “violência é tudo que implica na ruptura de um nexo
social, pelo uso da força” e sua banalização gera consequências, principalmente no
âmbito escolar.
A violência, para Botelho e Souza (2007), deve ser vista e estudada em sua
complexidade, sob diferentes facetas por profissionais da filosofia, sociologia,
antropologia, da saúde, educação e, também, no âmbito das políticas públicas.
Na escola, a violência também encontra diversas formas de manisfestação
direcionando-se à alunos, professores e funcionários. Lopes Neto (2005) refere-se
ao termo violência escolar como todo comportamento agressivo e antissocial dentro
da escola que inclui conflitos interpessoais, danos ao patrimônio e atos criminosos.
A violência escolar é questão que requer um olhar atento dos profissionais da
educação, entretanto, quando a tratamos, visualizamos apenas uma série de
situações nas quais os educandos trocam chutes, se ferem, se batem, quebram
pertences. Na realidade, a violência é bem mais ampla e se manifesta nos
relacionamentos educativos, no processo de ensino-aprendizagem ou até mesmo no
currículo escolar (CÉZAR & NETA, 2008).
Dessa forma, nas escolas existem diversas manifestações de violência
direcionadas aos diversos atores desse ambiente. Porém, há uma forma de
violência, geralmente velada, que acontece entre os próprios alunos, o bullying.
Fante (2005), observando as características da violência escolar, aponta que o
bullying constitui-se em categoria específica de violência ou comportamento
agressivo.
Para Fante e Pedra (2008) o bullying é uma palavra de origem inglesa cujo
significado se remete a ação de violentar, xingar, oprimir, amedrontar, ou seja, são
atos de violência praticados por uma ou mais pessoas, sobre uma vítima que se
encontra em posição inferior a ela para que possa se defender sozinha. As atitudes
podem ser consideradas como bullying quando são aplicadas na mesma pessoa,
sem motivo aparente e por repetidas vezes.
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Lopes Neto (2005) caracteriza bullying por atitudes agressivas intencionais e
repetidas, sem motivação aparente, contra um ou mais estudantes a fim de causar
danos.
Os estudos sobre o tema, de acordo com Fante e Pedra (2008), tiveram
início na década de 1970 na Suécia e Dinamarca chegando ao Brasil no fim dos
anos 1990 e início de 2000. A realização de pesquisas sobre o assunto ocorreu após
o aumento do número de suicídios entre crianças e adolescentes, em grande parte
ocorridos na Europa. Pode-se constatar que os principais motivos que levaram
essas crianças e adolescentes ao suicídio eram a maneira como foram tratados
pelos companheiros da escola, dessa forma, vários profissionais iniciaram suas
pesquisas com objetivo de resolver a questão que já vinha de uma existência antiga
e que carecia de solução e tratamento, visto que as consequências dessa prática
provocavam sérios problemas psicológicos à vida dessas vítimas.
Segundo Gomes (2016) ainda existe grande escassez de pesquisas e
estudos nacionais sobre bullying, resultando num atraso de mais de 15 anos em
relação à Europa.
Pereira (2002) distingue a operacionalização do bullying em dois tipos de
ação, ambas com o objetivo de ferir e magoar a vítima. A forma direta - agressões
físicas - engloba ataques abertos à vítima mediante ações individuais ou em grupo à
uma única vítima. A forma indireta - agressões verbais e comentários maldosos -
envolve ações de isolamento e exclusão social dentro do grupo de convivência.
As divisões do bullying na visão de Silva (2010) divide o bullying em
agressões verbais, físico e material, psicológico e moral. São exemplo de agressões
verbais: insultar, ofender, xingar, fazer piadas ofensivas; agressões físicas e
material: bater, chutar, espancar, roubar, furtar ou destruir os pertences da vítima; e
agressões psicológicas e moral: irritar, excluir, isolar, ignorar, desprezar ou fazer
pouco caso.
Lopes Neto (2005) classifica os personagens desses atos como alvos,
autores e testemunhas. Alvo é o aluno exposto às ações negativas, contrangedoras
e humilhantes durante um tempo, repetidamente de forma intencional. Os
agressores geralmente são mais fortes, populares, agressivos, apresentam opiniões
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positivas sobre si mesmos, sentem satisfação em dominar, causar danos e controlar.
As testemunhas, na maioria das vezes, sentem simpatia pelas vítimas, não as
culpam, mas não se envolvem diretamente e se calam por medo de serem as
próximas vítimas, por não saberem como agir e desacreditarem na intervenção da
escola.
De acordo com o autor, as pessoas que sofrem bullying tem maior tendência
a desenvolver depressão e baixa autoestima quando adultos. Fante (2005) afirma
que esse tipo de violência afeta a estrutura psiquica da criança e gera efeitos
negativos fora do período escolar, gerando desinteresse pela escola, déficit de
concentração e aprendizagem e até evasão escolar.
Andrade (2007) destaca que uma das origens do comportamento agressivo
pode estar no modelo educativo familiar, sendo o comportamento social dos filhos
influenciados pela agressividade dos pais para a punição e violência.
Ballone (2005) aponta que há fortes indícios de que os praticantes de bullying
tenham tendência a tornarem-se adultos com problemas de relacionamento,
atissociais e até desenvolver comportamentos psicóticos e criminosos.
2.2. O que a legislação diz sobre o bullying?
Antes de qualquer legislação específica, o Estatuto da Criança e do
Adolescente (1990) positivou garantias e medidas protetivas com o objetivo de
afiançar um desenvolvimento sadio aos infantojuvenis.
O comportamento agressivo e discriminatório do bullying fere o respeito e a
dignidade da vítima e ao artigo 5º do Estatuto.
“Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou
omissão, aos seus direitos fundamentais.” (BRASIL, 1990)
No ano de 2015 no mês de novembro foi aprovada a Lei n° 13.185 que
estabelece o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying), o
principal objetivo é prevenir e combater o bullying no ambito escolar procurando
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evitar a punição aos agressores e sim utilizando outros métodos para que o
agressor possa se conscientizar e modificar tal comportamento.
O Programa também irá promover a capacitação necessária aos professores
e equipes da escola com o objetivo de prevenir, orientar, além de implantar
campanhas para a conscientização do bullying, oferecendo assistência psicológica,
social e jurídica as vítimas e agressores.
A lei traz grande benefício para a sociedade e reconhece o bullying como um
problema de repercussão nacional que precisa de normatização própria. Além de
servir de alerta sobre o problema, promove respaldo e credibilidade às vítimas, qua
agora possuem nase em suas reivindicações.
Porém, apesar de ter como objetivo prevenir e combater o bullying na
sociedade, a lei não é clara sobre formas para que isso aconteça.
No inciso II, por exemplo, afirma-se sobre a capacitação de docentes e
equipes pedagógicas na solução dos problemas decorrentes de bullying, mas em
nenhum momento do documento fica claro como o governo pretende realizar tal ato
e quando.
Outro ponto relevante está no artigo 5º “É dever do estabelecimento de
ensino, dos clubes e das agremiações recreativas assegurar medidas de
conscientização, prevenção, diagnose e combate à violência e à intimidação
sistemática (bullying)”, porém não é previsto qualquer tipo de sanção àqueles que o
descumprirem.
Vimos que é importante prever medidas que impeçam o descumprimento das
premissas dessa lei para que seja assegurada a ordem imposta, ou servirá apenas a
título sugestivo ou opcional.
O dispositivo é vago e precisa ser revisitado. Ou seja, a presente lei é
informativa e insuficientemente preventiva, devido às suas lacunas.
Segundo Gomes (2012) diante da iminência do dano moral ao infantojuvenil,
todos têm o dever de comunicar o fato ao Conselho Tutelar, que é o órgão
encarregado de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente.
“Aqueles que não o fizerem incorrerão na pena prevista no art. 245 do Estatuto da
Criança e do Adolescente.”
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2.3. O bullying nas aulas de Educação Física - reconhecimento e prevenção
Essa forma de violência tem alcançado grandes proporções na sociedade,
porém apesar de ser um assunto de grande importância no meio escolar ainda é
visto como um tabu.
O bullying pode acontecer em qualquer escola, independente do turno, área
de localização, tamanho da escola ou cidade, série e natureza da escola. Onde há
interação entre as pessoas, pode haver bullying (FANTE, 2005).
Para Silva (2010) infelizmente ainda existe a omissão das escolas sobre a
presença de casos de bullying, as Varas da Infância e da Adolescência recebem
inúmeras denúncias sobre práticas de bullying, porém, a maioria delas são
ocorridas nas escolas públicas, uma justificativa para tal omissão vinda das escolas
particulares é o medo de perder clientes, é preciso entender que a boa escola não
é a que omite os casos de bullying pois futuramente pode ser que as
conseqüências sejam piores do que se fossem resolvidos de imediato, a boa
escola é aquela que se preocupa com seus alunos e toma providências quando
surge um problema.
É fundamental que a escola participe e reconheça a existência do bullying,
além de desenvolver projetos, envolver a comunidade também é muito importante
aplicar questionários aos alunos para que se tenha uma devolutiva real a respeito
das experiências deles em relação ao bullying, também se devem envolver
profissionais externos como psicólogos e assistentes sociais, parcerias com o
Conselho Tutelar, promotoria da Educação e varas da Infância e Juventude.
De acordo com Fante e Pedra,(2008) além da participação dos profissionais
da escola, também é de suma importância a participação dos pais na luta contra o
bullying visto que a violência é um problema social. É preciso incentivar o respeito
às diferenças, ter empatia pelo próximo, ter uma educação voltada para os valores
humanos.
Fante (2005), em seu estudo, encontrou uma prevalência de 67% de
envolvimento com bullying por parte de adolescentes entre 12 e 14 anos.
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Em sua pesquisa, Levandoski e Cardoso (2010), questionaram alunos entre 7
e 10 anos sobre o conhecimento do termo bullying. 98,3% dos alunos, de ambos os
sexos, desconhecem o termo e suas formas de ação. Apesar disso 30,5% já
agrediram alguém, impondo sequelas graves a outra pessoa.
Nas aulas de Educação Física, em pesquisa realizada por Wiemer e Moreira
(2014) com alunos entre 10 e 14 anos, 45% dos alunos disseram que presenciaram
agressões e mais de 50% admitem já sofrerem de alguma forma com apelidos,
zombarias e xingamentos.
Weiber e Souza (2014) afirmam que a manutenção da forma velada e
silenciosa do fenômeno ocorre por conta do desconhecimento de um conceito claro
sobre bullying e falta de orientação por parte dos estabelecimentos de ensino.
Para Goto (2006) é mais comum ver os meninos se enfrentarem, tirarem
satisfação ou zombarem de alguém, rigarem na frente de qualquer pessoa ou grupo.
Já as meninas atraem menos atenção em suas ações, fazendo fofocas, difamando,
excluindo e usando de chantagem. Assim, a participação em episódios de bullying
da forma direta ainda é maior entre os meninos, enquanto as meninas se envolvem
muito mais em sua forma indireta.
Os profissionais do ambiente escolar devem estar atentos às manifestações
típicas desse comportamento. O abuso excessivo de poder, lideranças negativas e
manipulação dos colegas são aspectos a serem observados.
Porém, um aspecto relevante é a escassez, para a população brasileira, de
instrumentos adequados para a detecção do bullying.
Fante (2005) destaca que ainda é comum que a vítima de bullying não conte
aos professores ou pais o que lhe acontece na escola por medo de repressão ou
incompreensão das partes. Por isso é de suma importância discutir o assunto em
sala de aula, oferecendo meios para que as vítimas possam revelar os fatos em
segurança e ações sejam tomadas.
Nas aulas de Educação Física a interação é indispensável e as habilidades
psicomotoras e cognitivas são utilizadas para a realização das atividades propostas.
Dessa forma, os alunos menos habilidosos são facilmente identificados e se tornam
vulneráveis à perseguições, agressões, intimidações, discriminações, exclusões e
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comentários maldosos.
O professor não deve ressaltar essa cultura de que em toda atividade física
deve ter o melhor aluno, o campeão entre todos e sim apresentar aos alunos o que
realmente a disciplina tem como objetivo, eles precisam entender a importância da
cultura corporal de movimento e não ficarem focados em decorar regra de jogo e
querer ser o melhor da turma. Dessa forma, a concepção de aparência física é
substituída pelas novas experiências corporais buscando vivências saudáveis entre
a relação com os companheiros de sala.
Em entrevista à Revista Educação Física 64/2017 CONFEF, o especialista em
Educação Física, Rodrigo Silva Perfeito, explica que as aulas podem gerar
naturalmente situações de competitividade, agressividade e discriminação.
“Essas características estão naturalmente presentes em diversos
jogos e esportes, ferramentas muito utilizadas em aula. Mas apenas
se tornam aspectos negativos na ausência de planejamento ou
quando são inseridas em momento inoportuno” (CONFEF, 2017, p.
21)
Levandoski e Cardoso (2010) ressalta que, “por mais cruel que possa
parecer, o bulyying também pode ser considerado um jogo, do ponto de vista de
quem pratica a ação”.
Portanto para o professor é fundamental que a escola esteja engajada no
combate contra o bullying, diretores, professores, funcionários precisam se
empenhar para adotar medidas preventivas, no caso da Educação Física, o
professor pode evidenciar que nas atividades coletivas só é possível alcançar os
objetivos porque cada um teve um papel fundamental na execução dela, o “bom de
gol” recebeu a bola a partir do aluno que é “bom de passe”, assim como vai existir o
aluno que possui habilidade para ser “o bom goleiro”, cabe ao professor demonstrar
a importância de todos nas atividades.
O problema do bullying pode ser prevenido desde a Educação Infantil. Lopes
e Saavedra (2003) ressaltam que a literatura estrangeira aponta que quanto mais
precoces as intervenções, melhores são os resultados quanto a redução e controle
do bullying nas escolas.
No Brasil, segundo Botelho e Souza (2007) os primeiros livros e trabalhos
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acadêmicos surgiram a partir do ano 2000 como resultados de programas que
tinham por objetivo o combate ao bullying.
Um dos programas mais divulgados é o da ABRAPIA, “Programa de Redução
do Comportamento Agressivo entre Estudantes, realizado em 2002 e 2003 que
diagnosticou e implementou ações efetivas para a redução do comportamento
agressivo entre estudantes do município do Rio de Janeiro (LOPES NETO e
SAAVEDRA, 2003).
Outra iniciativa citada por Botelho e Souza (2007) é o “Programa Educar para
a Paz” que faz o diagnóstico do fenômeno bullyng e aplica estratégias
psicopedagógicas para seu combate. Infelizmente, os autores relatam que não há
indícios de programas educacionais brasileiros na área de Educação Física para a
identificação, prevenção e controle do bullying.
Beaudoin (2006) afirma que os profissionais da escola devem dar mais
atenção às experiências dos alunos, uma vez que a mudança e a investigação só
podem ocorrer a partir desse ponto de partida. Porém, para isso, segundo Fante
(2005), os professores devem ser capacitados para lidar com o fenômeno bullying.
Lopes Neto (2005) pressupõe que os esforços para a prevenção devem ser
direcionados para a diminuição da violência no ambiente escolar, mas, também, à
uma menos exposição à violência no ambiente familiar, comunitário e nas mídias.
É necessário, também, fazer com que os alunos entendam o fenômeno por
completo, punir o aluno não vai fazer com que ele compreenda a gravidade da
questão, portanto, devemos envolver os alunos nessa causa e fazê-los
compreender o que é uma brincadeira inofensiva e em qual ponto ela se torna
bullying. A falta de informação dos alunos sobre as consequências devastadoras
causadas por essa prática, faz com que não se dê a devida atenção ao fenômeno.
O diálogo é fator fundamental e o professor deve compreender essa nova
realidade escolar, onde a hierarquia é menos visível e tudo é discutível
(CAMACHO, 2001).
Um cuidado que, enquanto professores, devemos ter, segundo Chaves (2006)
é de não nos convertermos em agressores, entrando em sintonia com os
praticantes do bullying. As correções pedagógicas não podem ridicularizar ou
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rotular os alunos e deprecia-los quanto ao seu rendimento. Mostrar preferência e
indiferença, fazer comparações, colocar apelidos pejorativos, além de ser
inadequado, pode se tornar modelo e fortalecer o agressor em suas atitudes.
Nas aulas de Educação Física os problema da violência deve ser motivo de
constante atenção dos professores. Ao planejar suas aulas devem considerar as
situações de competitividade exagerada e conflitos nocivos, deixando claro limites
e regras. Apesar dos conflitos normais das aulas, inerentes ao relacionamento
humano, é necessário que haja um momento para a reflexão sobre a prática,
trazendo a tona temas como respeito e cooperação.
Botelho e Souza (2007) sugere que a primeira estratégia do professor de
Educação Fisica diante de casos de bullying é analisar que papéis esses alunos
representam. Uma vez identificados, um recurso sugerido para combate é a
aplicação de conceitos da ética e estudos dos valores às atividades das aulas de
Educação Física. Por exemplo, o professor pode eleger um caso de bullying
ocorrido em sua aula e utiliza-lo para uma atividade de clarificação de valores que
estimula os alunos a esclarecer seus pensamentos e suas condutas.
Os autores lembram que devemos buscar uma reflexão individual e coletiva,
que permita ao aluno elaborar, de forma autônoma, princípios gerais de valor que
defronte criticamente as realidades de violência.
Outra proposta dos autores para a prevenção do fenômeno é a elaboração e
utilização, nas aulas de Educação Física, de materiais impressos que discutam
criticamente o bullying. Materiais como gibis, livros infantis e infanto-juvenis ou
literatura de cordel são excelentes recursos pedagógicos e maior circulação entre
as crianças e jovens.
Chaves (2006) ressalta que a realização de jogos cooperativos, elaboração
de peças teatrais que envolvam valores morais e éticos visando a reflexão do
grupo e vivência dos alunos em inversão de papel, podem ser ferramentas para o
combate às agressões na escola.
3. CONCLUSÕES
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Os conceito de violência escolar e bullying, apesar de não serem novos, são
pouco trabalhados pelas instituções escolares. A maioria das informações da
comunidade escolar sobre o tema são as retratadas pelas mídias, principalmente
após acontecimentos que geram grande comoção.
Vimos que o fenômeno bullying é uma realidade, inclusive nas aulas de
Educação Física, e é de suma importância que os professores estejam preparados
para a identificação e prevenção.
O problema da violência nas aulas de Educação Física deve ser motivo de
constante atenção dos professores e deve ser considerado em seu planejamento.
Conhecer o fenômeno, suas características, legislação específica, ampara o
educador em suas funções, e suas atividades se tornam um processo reflexivo que
proporciona o desenvolvimento pleno dos alunos.
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