brown, radcliffe. método comparativo em antropologia social

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    minar se ha leis que resultam em fenomenos identicos, ou ao menossimilares, independentemente de causas hist6ricas.   Assim   se revela asegunda importante tarefa da Etnologia: a i~vestiga9iiodas leis quegovernam a vida social. ( ... ) A freqiiente ocorrencia de fenomenossimilares em areas culturais que niio tern contato hist6rico sugere queimportantes resultados podem ser obtidos de seu estudo, porque mostraque a mente.humana se desenvolveem toda a parte de acordo comas mesmas leis."

    A unica maneira realmente satisfatoria de explanar um metoda   eatraves da ilustrac;ao. Consideremos, pois, como 0 metodo pode ser 

    aplicado num exemplo particular. Podemos iniciar por um determinado

    aspecto de algumas tribos do interior de Nova Gales do SuI. Nessas

    tribos ha uma divisao da populac;ao em duas partes que recebeu 0 nome

    do gaviao-real e do corvo   (kilpara   e   makwara).   Ha uma regra segundo

    a qual urn h6mem deve somente tomar esposa da divisao que nao a

    sua e que os filhos(as) devem pertencer a mesma divisao da mae deles.

    o   sistema e descrito em termos tecnicos como sendo constituido demetades matrilineares exogamicas representadas totemicamente.

    Urn modo de explicarpor que uma sociedade particular possui as

    caracteristicas que ostenta e pela sua hist6ria. Como nao dispomos de

    nenhuma hist6ria autentica desta ou de outras tribos australianas, os

    antrop610gos historicistas estao reduzidos a nos oferecer hist6rias imagi-

    narias. Assim,o Rev. John Mathew explicaria estas divisoes e seus no-

    mes pela suposic;ao de que dois povos diferentes, urn chamado gavioes--reais e   0 outro, corvos, encontraram-se nesta parte da Austra.Iia e luta-

    ram entre si. Posteriormente decidiram fazer a paz e concordaram que

    daf por diante os homens gavioes-reais se casariam somente com mu-

    lheres corvos e vice-versa. .Comecemos a procurar pelos paralelos. Ha urn paralelo muito

    intimo presente entre os haida do noroeste da America, que tambem possuem· uma divisao em duas metades matrilineares exogamicas chama-

    das pelos nom es de aguia   (eagle)   e corvo   (raven),   duas especies que

    correspondem intimamente, na verdade, ao gaviao-real   (eagle hawk)   e

    ao corvo   (crow)   da Australia. Os haida tem uma Ienda segundo a qualno comec;o somente a Aguia possuia agua doce, que guardavam num

    cesto.   0corvo descobriu isso e conseguiu roubar a agua da Aguia. Mas

    quando ele sobrevoou com   0 cesto a iIha da Rainha Carlota, a aguado pesado cesto se derramou e formou os lagos e rios nos quais podem beber atualmente todas as aves; e os salmoes fizeram seu caminho nas

    correntes e agora fomecem alimento para os homens.Em algumas partes da Australia ha Iendas similares sobre 0 gavia0-

    -real e 0 corvo. Segundo uma delas, no comec;o somente   °  Gaviao-real possuia urn suprimento de agua doce, que guardava sob uma grande

     pedra.   0Corvo, espionando-o, viu-o levantar a pedra e tomar um gole,

    repondo depois a pedra.   0Corvo conseguiu levantar a pedra e, de-

     pois de ter tornado urn gole de agua doce, coc;ando-se, fez cair os pio-

    lhos de sua cabec;a dentro da agua, naorecolocando a pedra,   0resul-

    tado foi que a agua escapou e formou   m :   rios da Australia Oriental, em

    Boas inc1uiu essas duas tarefas numa unica disciplina, que elechamou ora, de "Antropologia", ora de "Etnologia". Para alguns de

    nos neste pais [Inglaterra] parece mais conveniente aludir aquelas

    investigac;oes que concemem a reconstruc;ao historica como pertencentes

    a   Etnologia e reservar    0  termo Antropologia Social para   0   estudo das

    regularidades encontnlveis no desenvolvimento da' sociedade humana na

    medida em que estas possam ser ilustradas ou demonstradas pelo estudodos povos primitivos.

    Assim,   0metodo comparativo na Antropologia Social e   0 metodo

    daqueles que tern sido chamados de "antropologos de gabinete", desde

    que trabalham em bibliotecas. Sua primeira tarefa e procurar pelo que

    usualmente'se chama de "paralelos", aspectos sociais similares que

    aparecem em sociedades diferentes, no presente ou no passado. EmCambridge, ha sessenta anos, Frazer representava   a   Antropologia de

    gabinete, usando   0 metoda comparativo, enquanto Iiaddon insistia nanecessidade de estudos "intensivos" de sociedades particulares atraves

    de sistematicos estudos. de campo por observadores competentes.   0

    desenvolvimento dos estudos de campo levou a uma relativa negligencia

    daquelesque faziam uso do metoda comparativo. Isso   e   compreensivele excusavel, mas produz alguns efeitos lamentaveis.   0 estudante ouvetIue deve considerar qualquer aspecto da vida social em seu contexto,

    em sua relac;ao com os outros aspectos do sistema social particular em

    que se encontra. Mas ele muitas vezes nao aprende a encara-lo no

    contexto m~js ample das sociedades humanas em geraI.   0que a escola

    de Cambridge de Antropologia ensinava ha quarenta ecinco anos atrasnao era que a Antropologia de gabinete devia ser abandonada, mas sim

    que devia ser combinada com estudos intensivos de sociedades primi-

    tivas particulares em que qualquer instituic;ao, costume ou crenc;a parti-

    cular da sociedade fosse examinada em relac;ao com   0   sistema social

    . total de que constituisse uma parte   Oil   item. Sem estudos comparativos

    sistematicos' a Antropologia se tomara apenas historiografia e etnografia.

    A teoria sociol6gica deve ser baseada na comparac;ao sistematica e

    continuamente testada por ela.

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    que os piolhos se transformaram em bacalhau do rio Murray, que cons-

    titufram um importante elemento da alimenta

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    Coletei muitas narrativas sobre   0  gaviao-real e   0 corvo em dife-

    rentes partes da Australia, e em todas elas os dois sac representados

    como oponentes em alguma sorte de conflito. Urn unico ~~emplo p.t-

    rece suficiente e provem da AustraliaOcidental.   0 GavIao-real .era

    irmao da mae do Corvo. Nestas tribos umhomem se casa com a f1lha

    de urn irmao da mae, de modo que 0 Gaviao-realera 0 possfvel sogro

    do Corvo, para quem, portanto, este devia obriga?oes tal,s como prove-

    -10 de alimentos.   0Gaviao-real mandou seu sobnnho salr e cac;ar can-guru (de rac;a pequena).   0Corvo, tendo ~atado Urn canguru,co~eu-o

    sozinho uma aC;aoextremamente repreenslVel em termos de morahdade

    nativa. ' Ao voltar ao acampamento, seu tio the perguntou .pelo .que

    tinha trazido, e   0Corvo, sendo um mentiroso, 'disse-Ihe que nada tmha

    conseguido.   0Gaviao-real, entao, indagou: "Mas 0 que esta no seu

    ventre, ja que seu cinto nao esta mais apertad.o?"   0Corvo respondeu

    que, para conter a aflic;ao.da fome, tinha ench1do seu ven,tre com ~oma ,de acacia.   0tio the disse que nao acreditava e fez-Ihe cocegas ate q~c

    ele vomitou (este incidente e contado na lenda sobforma de uma canc;aodo gaviao-real -   Balmanangabalu ngabarina, kidji-k~dji malidYa.l~).   a

    Corvo vomitou 0 canguru que tinha comido. Por 1SS00 Gav1ao-real pegou-o e fe-Io rolar no fogo; seus olhos se. tornaram vermelhos pelo

    fogo, ele ficou enegrecido peli> carvao: e gritou de do~,: "tza! Ua! Ua!"

    o gaviao-real pronunciou   0 que devena ser_a ~~gra:, V?ce nunca ser.aum· cac;ador, mas sera para sempre um ladrao. E e aSSlm que aSC01-

    sas sao agora.

    Para interpretar este conto devemos considerar como essas a-:es

    sao vistas pelos aborigines. Emprimeiro lugar, elas ~ao as d~as pnn-

    cipais aves carnfvoras e 0 aborigine australiano co~..:ndera ~ S1mesmo

    como urn carnivoro. Urn metoda de cac;a nesta regIao. cons1ste na reu-

    nHio de hornens e mulheres, na estac;ao adequada, para. uma cac;a~a

    coletiva. Poem fogo numa faixa de terreno de tal modo que ele seJaespalhado pelo vento. Os hornens avanc;am contra   0   fogo, matando

    com lanc;a ou com bastoes-projeteis os animais que dele fogem, en-

    quanto as mulheres seguem 0 fogo para des~ntocar animais tais como

    certos masurpiais   (bandicoots)   que se refug1am no subsolo. Quand.o

    tal cac;ada comec;a, nao demora n:uito para que aparec;:~u~ e depols

    outro gaviao-real, que se juntam   a   tarefa de cac;ar os ammalS em fugadas chamas.   0gavHio-real e   0 cac;ador.

    o   c~rvo nao se reune a esta ou outra qualquer especie de cac;ada,mas quando uma fogueira de acampamento e acendida raramente de-

    mora para que um corvo apareC;a e pause numa arvore fora. do alcance

    dos bastoes que the podem ser atirados e espere pel a oportunidade de

    roubar um pedac;:o de carne para seu jantar.

    Entre os contosnarrados pelos australi,anos sobre animais pode-

    mos encontrar urn numero imenso de paralelos deste conto do gaviao-

    -real e do corvo. Aqui, como exemplo, esta um sobre 0 vombate e 0canguru, da regiao fronteiric;a da Australia Meridional com Vit6ria.

     Nesta regiao 0 vombate e   0 canguru sao os dois maiores anima.is caC;a~

    veis. No comec;o   0 vombate e   0 canguru viviam juntos como amigos.Urn dia 0 Vombate comec;ou a fazer uma "casa" para si   (0  vonibate vive

    numa toca no solo).   0Canguru zombou dele e isto 0 aborreceu. Entao

    urn dia choveu (deve-se lembrar que nestes contos   0   que quer queacontec;a e considerado como acontecendo pela primeira vez na hist6ria

    do mundo).   0Vombate entrou em sua "casa", livrando-se da chuva.

    o  Canguru pediu ao Vombate para fazer urn quarto para ele, mas esteIhe explicou que havia Ingar apenas para um. Assim,   0 Vombate e   0Canguru discutiram e brigaram.   a   Canguru goIpeou   0   Vombate na

    cabec;a com uma grande pedra, achatando seu cranio;   0 Vombate ati-rou uma Ianc;:ano Canguru que se fixou na base da coluna vertebral.

    a   vombate tern 0 cranio achatado desde esse dia e 0 canguru tern umacauda; oprimeiro vive numa ~oca, enquanto 0 canguru vive em areaaberta; eles nao sao mais amigos.

    Isto, na verdade, e Uma hist6ria que se pode "certamente" conside-rar infantil. Ela diverte os ouvintes quando   e   narrada com as expres-soes dramaticas adequadas. Mas se examinarmos urn certo numerodesses contos, perceberemos que eles tem um unieo tema. As seme-Ihanc;as e diferenc;:asentre as especies animais sac traduzidas em term os

    de amizade e conflito, de solidariedade e oposiC;ao. Em outras palavras,

    o mundo da vida animal   e   representado em termos de relac;oes sociaissimilares aquelas da sociedade humana.

    Pode-se encontrar lendas que se relacionam, nao com especies particulares ou pares de especies, mas com os animais em geral. Ha

    uma lenda em Nova Gales do SuI segundo a qual no comec;o todos os

    animais formavam uma (mica sociedade. Entao   0   Morcego se tornou

    responsavel pela introduc;ao da morte no mundo, matando suas duas

    esposas. Seus cunhados chamaram tados os animais para uma consta-

    tac;ao e, apanhando   0  Morcego de surpresa, atiraram-no ao fogo. Isto

    deu infcio a uma luta geral em que os animais se atacaram uns aos

    outros com fogo, e desta briga todos os animais mostram atualmente

    as marcas. As varhis especies nao mais formam uma sociedade de·

    amigos.

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    Ha um conto muito similar nas ilhas Andaman. As varias esp6cies

    de animais originalmente formavam uma unica sociedade. Numa reu-

    nHio, um deles trouxe fogo. Houve uma discussao geral em que eles

    atiraram fogo uns nos outros. Uns fugiram para   0 mar e se transfor-

    maram em peixes, outros· escaparam para as arvores e se tornaram

    aves; eaves e peixes mostram ate hoje as marcas das queimaduras que

    sofreram.

    Um estudo comparativo, portanto, nos revela   0   fato de que asideias australianas sobre   0 gaviao-real e   0  corvo constituem apenas urn

    exemplo particular de urn fenomeno amplamente distribuido. Em pri-

    meiro lugar,   Iestes contos interpretam as semelhan~as e diferen~as das

    especies anirnais em termos de rela~oes de amizade e antagonismo, tal

    como elassao conhecidas na vida social dos seres humanos. Em se-

    gundo lugar, as especies naturais sac colocadas em pares de opostos. Elas

     podem ser vistas dessa maneira apenas se houver algUlila caracteristica

    em que se parec;am uma com a ·outra. Assim,   0 gaviao-real e   0 corvo

    se parecem um com   0outro porque sac as duas aves not6rias comedorasde carne. Quando investiguei pela primeira vez os totens sexuais de

     Nova Gales do SuI, supus, de modo completamente errado, que a se-

    melhanc;a basica entre   0   morcego e a coruja noturna ou   0   curiango

    (nightjar)   era a de que ambos voam   a   noite. Mas a aye trepadora(tree-creeper)   nao voa   a   noite e e   0 totem das mulheres da parte seten-

    trional de Nova Gales do SuI. Quando eu estava sentado com urn

    nativo na regUio do rio Macleay, uma aye trepadora apareceu, e eu

     pedi a ele para falar-me a respeito dela. "Esta   e   a aye que ensinouas mulheres a subirem em arvores",. disse-me ele. Ap6s alguma con-

    versa, perguntei-lhe: "Que semelhan~a existe entre   0 morcego e a aYe

    trepadora?" E com uma expressao de surpresa na face por eu ter feito

    tal pergunta, respondeu: "Mas   e   claro que ambos vivem nos buracosdas arvores." Percebi que a coruja noturna e   0  curiango   (night jar)

    tambem vivem em arvores. 0 fato de certos animais comerem carneconstitui· uma sorte de similaridade social, tal como a do gaviao-real e

    corvo ou do dingo e gato-selvagem. Do mesmc modo   0   habito de

    viver em buracos das arvores.

    Podemos agora responder a questao "Por que   0   gaviao-real e   0

    corvo?", dizendo que estes sac selecionados como representando uma

    rela~ao que podemos chamar de "oposi~ao".

    A ideia australian a do que se chama aqui de "oposic;ao" constitui

    uma aplicac;ao particular daquela associac;ao por contrariedade, que   euma caracteristica universal do pensamento humano, ?e· modo que pen-

    samos por pares de contrarios: para cima e para baixo, forte e fraco,

     preto e branco. Mas a concepC;ao australiana de "oposic;ao" combina

    a ideia de urn par de contrarios com a de urn par de oponentes. Nos

    contos sobre   0 gaviao-real e   0 corvo, as duas aves sac oponentes no

    s~ntido· de serem antagonistas. Elas sac tambem contrarias por razao

    da sua diferenc;a de carater: gaviao-real,   0   cac;ador; corvo,   0   ladrao.

    A cacatua preta e a cacatua branca, que represent am as metades em

    Vit6ria Ocidental, constituem urn outro exemplo de contrariedade, sen-do essas aves essencialmente similares, exceto pelo contraste da cor. Na America as metades sac associadas a outros pares de contrarios:

    Ceu e Terra, guerra e paz, montante e jusante, vermelho e branco.

    Apcs urn longo estudo comparativo, penso que estou plenamente justi-

    ficado ao estabelecer uma lei geral, segundo a qual em qualquer lugar,seja na Australia, Melanesia ou America, em que exista uma estrutura

    social de metades exogamicas, as metades sao pensadas como estando

    em uma relaC;ao de, como e aqui chamada, "oposic;ao".

    Obviamente,   0 passe seguinte num estudo comparativo sera tentar 

    descobrir quais as varias formas que toma a oposic;ao entre metadesde uma divisao dual na vida social real. Na literatura M referencias

    ocasionais a uma certa hostilidade entre as duas divisoes, descrita como

    existente ou registrada como tendo existido no passado. Toda a evi-

    dcncia disponivel e a de que nao hii hostilidade geral no sentido proprio

    do termo, mas somente uma atitude convencional que acha expressao

    em algum modo usual de comportamento.   :f :   certo que na Australia,embora em alguns exemplos em que haja uma disputa seja possivel

    observar os membros de duas metades patrilineais formarem "lados"

    separados, a hostilidade real, da especie daquela que pode conduzir   aac;ao violenta, nao ocorre entre metades, mas entre grupos locais; e doisgrupos locais da mesma metade patrilineal parecem estar tao freqiiente-

    mente em conflito como dois grupos que pertenc;am a diferentes metades.

     Na verdade, desde que uma fonte comum de conflito real e   0 fato deurn hornem tomar a mulher casada ou comprometida com outro, os

    dois antagonist as ou grupos de antagonist as em tais casos pertenceraoambos   a   mesma metade patrilineal.

    A expressiio da oposiC;iioentre as metades pode tomar varias for-

    mas. Uma   e   a instituic;iio a que os antrop6logos deram   0 nome, naomuito satisfat6rio, de "relac;oes jocosas"   (the joking relationship).   Aos

    membros de divis6es opostas se permite, ou deles se espera, que tolerem

    os aborrecimentos que uns causam aos outros, em abuso verbal ·ou

    em troca de insultos. Kraeber    (Handbook of Indians of California)   es-

    creve que entre os cupeno

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    "uma sorte de oposi~iiode boa indole e   reconhecida entre as metades,cujos membros freqtientemente zombam uns dos outros como sendc

    voluveis e broncos, respectivamente."

    Strong   (Aboriginal Society in Southern California)   registra a mesma

    coisa.

    "Urn antagonismo de boa fndole entre as metades se exib: nasbrin-cadeiras entre pessoas de uma e de outra.   0 povo do cOlote zomba

    do povo do gato-selvagem, acusando-os de broncos e preg~i~o.soscomoseu animal representativo, e   0  povo do gato-selvagem retnbul, acusa~-do seus oponentes de voluveis. Ra indicayoes de q~e. este ~bo~r:ol-mento de uma metade pela outra faz parte de suas senas cenmomas.Rouve canyoes de tipo satirico que podiam ser cantadas por umametade contra a outra. Entretanto, a oposiyao entre as metadespa-rece ter sido muito menos forte do que entre certos pares declas"as vezes pertencentes a mesma metade, que ~ram, trad}cio~a~m~nt~'inimigos'. Estes elas em certas ocasioes cantanam canyoes Inlmlgas

    urn contra   °   out~o."Esta institui93.0, para a qual se espera que alguem encontre ,:m

    nome melhor do que "rela90es jocosas", e encontrada numa certa vane-dade de formas num determinado numero de sociedades diferentes e

    clama por urn estudo comparativo. T~m por fun93.0 m~~ter uma rela-93.0contfnua entre duas pessoas, ou dOISgropos, de hoShhdade ou anta-gonismo aparente, mas artificial. Ofereci uma. sugestiio pa~a ume.studo

    comparativo desta institui93.0 num artigo pubhcado na revIsta   AfrIca.

    Urn outro costume significativo em que se expressa a relac,;ao de

    oposi

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    de casamento era por troca.   0 sistema de metades exogamicas preve

    urn sistema de gencralizac;ao de casamento por troca, desde que cada

    casamento   e   urn incidente no processo contInuo pelo qual os homensde uma metade tomam da outra suas esposas.

    Urn estudo comparativo mostra que em muita.s sociedades primi-

    tivas a relac;ao estabelecida entre dois grupos de parentes pelo casa~

    mento entre urn homem de um destes gropos e um~ mulher de outr? e

    expressa por costumes de evitac;ao e por relac;5es Jocosas. ~m ~~ltas

    sociedades exige-se que 0 homem evite qualquer ~ontato socIal. mtImocom a mae de sua esposa, e, freqUentemente, tambem com 0 pal dela e

    outras pessoas desta gerac;ao entre os parentes da esposa. ~,om e:te

    costume esta muitas vezes associado um outro, chamado de .rela

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    foi visto pela breve avaliac;ao aqui realizada, uma unidade de grupos,

    opostos, no duplo sentido de que os dois grupos sao amistosamente:

    oponentes e de que eles sac represent ados como sendo em algum sen·,

    tido opostos,do mesmo modo pelo qual   0   gaviao-real e   0   corvo   Oll

    o branco e   0 preto sac opostos.

    Isso pode ser esclarecido pela consideragao de outro exempl~ de

    oposigao nas sociedades australianas. Um acampamento austrahano

    abrange homens de um determinado cHi local e suas esposas, que, pebregra de exogamia, sac provenientes de outros clas. Em Nov,a. Gal~s

    do   Su I   ha um sistema de totemismo sexual, pelo qual uma especle am-

    mal   e   "irmao" dos homens e uma outra especie e "irma" das mulheres.Ocasionalmente surge dentro de um acampamento nativo uma condi

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    sociedade primitiva, inclui ambos os metodos e eu mesma usei consis-

    tentemente a ambos no ensino da Etnologia e da Antropologia Social

    em algumas universidades. Mas deve haver discrimina