bosque dos elfos

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O Bosque dos Elfos Irmãos Grimm

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Page 1: Bosque Dos Elfos

O Bosque dos ElfosIrmãos Grimm

Page 2: Bosque Dos Elfos

ATO PRIMEIRO

CENA I(Uma sala, Mael está sentado na mesa, enquanto Eire serve o jantar)

Mael: (ansioso) Galinha, Eire?

Eire: Qual o problema, querido? Você sempre comeu galinha…

Mael: Sim, é verdade… (suspirando) é que da última vez que estive no bosque ao lado de nossa vila, enquanto procurava árvores que dessem boa lenha, avistei uma ave belíssima, toda colorida de amarelo e azul, e cantando tão suavemente, que parecia estar cercada de uma… coisa. Uma dessas energias que a gente não consegue ver, só sentir.

Eire: Claro querido, imagino que tenha sido lindo, mas o quê isso tem a ver com a galinha que preparei com manteiga e sal, que está servida em nossa mesa?

Mael: É que me lembro da ave que vi cantar. Galinhas são aves, não são?

Eire: Querido, acho que você andou respirando muito pó de madeira no trabalho. Essa ave aqui é de comer, não de cantar. E além disso, o quê o meu senhor estava fazendo naquele bosque? Você sempre o julgou como um lugar estranho, não me admira ter sentido a energia que sentiu.

Mael: É verdade. Espero que as crianças não entrem naquele bosque. Quem vive ali, além da bela ave, eu não sei. Mais estou certo de que é incomum, diria até sombrio. E os outros lenhadores disseram que umas criaturas de aparência estranha andam rondando por ali todas as noites. Mas, (comendo a galinha) não voltarei lá. Pelo bem do meu jantar.

Eire: (Abraçando Mael) Isso, deixemos nossos vizinhos misteriosos em paz.

CENA II

(Vila em que vivem, ao ar livre. Maria entra, correndo, seguida de Martim)Maria: (ainda correndo) Vem, Martim! É sua vez!

Page 3: Bosque Dos Elfos

Martim: Agora você não tem mesmo para onde ir. Peguei! (toca no ombro de Maria que ri e o abraça)

Maria: Você é muito lento. Da próxima vez chamo uma tartaruga para brincar comigo.

Martim: Não é minha culpa! Você fica trapaceando, passando por baixo das minhas pernas e me derrubando quando tento pegar você. (emburrado)

Maria: Tá bem, tá bem… talvez eu esteja sendo um pouquinho injusta. Mas, como eu sou uma ótima amiga, vou deixar você escolher a próxima brincadeira!

Martim: (desemburra e fica animado) Eba! Vamos brincar de esconde-esconde, então. E você conta, Maria. Para compensar o tanto de passos que eu tive que correr atrás de você. Sem nem contar as trapaças!

Maria: Tudo bem, é justo… eu conto até quanto?

Martim: Hum… até vinte. Não, não! Até quarenta. Quero me esconder bem escondidinho!

Maria: Ah Martim! Até quarenta é muito! Quero me esconder também depois. Vou contar até trinta. (tapa os olhos parcialmente e começa a contar)

Martim: (bem animado) Vai ser o suficiente!

(Anda um pouco pelo palco, procurando um lugar. Logo nota Maria tentando espiar)

Martim: Maria!

Maria: (destapando os olhos, insatisfeita) Martim!

Martim: Você não tem jeito mesmo né? (Encara Maria. Após uma breve pausa, ri e a abraça. Ela continua bem triste, mas sorri. Recoloca as mãos de Maria no rosto dela.) Agora conta direito!

(Maria recomeça a contagem, dessa vez corretamente.)

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CENA III

Maria: Pronto ou não, lá vou eu! (tira as mãos dos olhos)

Maria: Martim?

(Procura em volta por um momento)

Maria: Martim!

Maria: Ele não pode ter ido tão longe… (olha ao redor)

Maria: Martim!

(Maria desiste de procurar e se senta, suspirando)

Maria: Eu não devia ter trapaceado no pega-pega… agora ele deve ter ido em outro lugar brincar sozinho!

(Pausa. Maria se distrai com os pés, aborrecida. De repente, um barulho é ouvido ao longe. Maria levanta de súbito)

Maria: Martim!

Maria: (rindo) Eu vou te achar, nem que eu tenha que atravessar esse pinheiral inteiro!

CENA IV

Maria: Martim! Eu já te ouvi! Além do mais, já estou te procurando faz tempo… eu também quero me esconder!

(Maria procura mais um pouco entre os galhos e folhas, quando ouve uma risada um pouco afastada)

Maria: Ahá! Volta aqui Martim!

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(Maria entra em uma fresta de pinheiros, e se surpreende com uma clareira semárvores e com pequenos chalezinhos)

Gaze: (pulando de trás de algo) Olá! Você finalmente veio nos visitar!

Maria: O que? Quem é você? Que lugar é esse?

Gaze: Eu sou a gaze! Sempre a víamos brincar por ai e desejávamos que você se juntasse a nós!

(Gaze pega Maria pela mão, enquanto essa fica extasiada demais pra fazer qualquer protesto)

Gaze: (parando) Ah… eu me esqueci do presente de boas-vindas… Há!

(Tira uma rosa do seu cabelo e entrega a Maria, que está um pouco relutante. Maria pega a flor e a cheira)

Maria: Nossa… é a rosa mais linda que eu já vi… e mais cheirosa também! (ri) Eugostei de você. Onde estão os outros em que você mencionou?

Gaze: Venha, vou te mostrar.

N.A: Nessa parte entra uma descrição dos dias da Maria na história inicial, proponho resolver isso com uma dança ou algo do gênero.

Maria: (rindo) Mas afinal, quem são vocês?

Gaze: Somos o que chamam de elfos em seu mundo.

Gaze: Nos disseram que vocês falam muito de nós. Alguns da nossa tribo gostam de praticar travessuras com vocês, mas, nós que vivemos aqui, só buscamos ser felizes: nos intrometemos pouco com os homens. Mas quando vamos para o meio deles, é para lhes fazer bem.

Maria: (pensativa) E vocês têm uma rainha?

Gaze: Psiu! Psiu! Você não a deve ver nem conhecer: terá que nos deixar antes que ela volte, o que acontecerá muito em breve, pois passos mortais não

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podem chegar até ela. Mas você saberá que ela está aqui quando ver o prado mais alegre, os rios mais cintilantes e o sol mais brilhante.(Gaze sai acompanhada de Maria que se mantêm o tempo todo calada, pensando)

CENA VI

(Entram Gaze e demais elfos, seguidos por Maria, rindo e cantando)

Gaze: (com as mãos no rosto de Maria) É hora de dizer adeus, minha querida.

Maria: Gaze… eu vou sentir tanta saudade…

Gaze: Pense em mim. Mais cuidado para não contar o que viu e não tentar visitar algum de nós novamente, pois se o fizer, partiremos deste bosque e não voltaremos jamais. (colocando um anel no dedo de Maria) Fique com esse anel, de recordação e símbolo da nossa amizade. (abraça Maria)

(Maria, ainda um pouco aborrecida, segue o caminho. Pausa. Olha pra trás e não vê Gaze e os outros elfos, nem os chalés e o bonito bosque que antes ali se encontrava. Ela seguiu seu caminho.)

Maria: Caramba! Como pude me esquecer! Como meu pai e minha mãe devem estar assustados!

Maria: Eles devem estar pensando onde estive a noite toda… e não poderei nem lhes contar o que vi.

(Entrando nos limites de sua casa e vizinhança)

Maria: Que estranho, me lembrava dessas flores muito mais verdes. A minha casinha também está mudada. (abrindo a porta) O que será que houve?

CENA VII

(Estão Mael e Eire na sala, com Martim bem moço. Maria entra e se surpreendecom a cena)

Maria: …pai? (apontando para Martim) e quem é esse?

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Mael: Quem é você que me chama de pai? (se aproxima de Maria) é… não, não pode ser… nossa Maria há tanto tempo perdida?(Pausa. Mael e Eire se entreolham e sorriem, e abraçam Maria)

Martim: Não me admira que você tem se esquecido de mim; não se lembra de como nos separamos há sete anos quando brincávamos no campo? Nós pensávamos que estivesse completamente perdida; mas estamos contentes de ver que, de alguma forma, cuidaram de você e a trouxeram, finalmente, para casa.

Maria: Eu… eu também estou contente por voltar.

(Todos abraçam Maria, que o tempo todo segura a vontade de falar o que haviase passado com ela na floresta, e acaricia o anel que Gaze lhe deu todo o tempo.)

FIM DO PRIMEIRO ATO

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ATO SEGUNDO

CENA VIII(Maria e Martim entram, crescidos )

Martim: Onde será que nossa pequena Élfia se meteu?

Maria: Não se preocupe Martim, muito provavelmente ela está brincando nos arredores da vila, como nós mesmos costumávamos fazer quando éramos crianças. (abraça Martim)

Martim: Sim, provavelmente. Que saudade daqueles dias, minha querida Maria!Tivemos sorte de passar tanto tempo sendo bons amigos antes de casarmos.

Maria: Certamente, meu querido. Olhe quem vem lá!

(Entra Élfia)

Élfia: Mãe, acho que meu vestido rasgou, você poderia concertar para mim?

Maria: Desajeitada como sempre, não? Parece sua mãe quando pequena. Venha aqui minha fadinha. (agachando e avaliando o estrago na roupa da menina, nota que ela está com um colar que ela nunca vira antes.)

Maria: Élfia, onde você conseguiu esse pingente que está com você?

Élfia: (desconversando) O que? Isso? Ah, bem… uma amiga muito querida me deu. Não é nada demais (escondendo dentro do vestido)

Maria: (olha desconfiada para Élfia) Bem, você então deve ter muita sorte de ter uma amiga tão generosa assim. (abraça Élfia e olha para Martim)

Maria: Agora, mocinha, vá tomar um banho. E deixe esse vestido sobre a minha cama para consertá-lo para você.

(Élfia abraça seu pai e sai de cena.)

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Martim: Minha querida, notei que você estava parecia… hum, desconfiada. O que houve?

Maria: Apenas acho suspeito que Élfia tenha ganhado esse colar de uma amiga de sua idade. Mas resolverei isso. Quando Élfia estiver saindo em uma de suas aventuras, vou segui-la. Por segurança.

Martim: Se você acha prudente, então tudo bem por mim. Agora vou me retirar.Boa noite minha adorada esposa, e melhor amiga, para sempre.

(Ao som dessas palavras, Maria sorri e o abraça)

(Martim sai)

Maria: (tirando do bolso seu antigo anel que ganhou de Gaze, e recolocando-o) Será possível que Élfia também tenha tido sorte em encontrar Gaze? Saberei amanhã.

CENA IX

(O bosque dos elfos. Élfia adentra um pouco seus limites, e senta numa pedra. Uma roseira floresce ali perto. Logo chega Gaze e a abraça. Entra Maria, que lentamente, segue os passos de Élfia, parando um pouco antes de onde ela se sentou. Quando Gaze chega, Maria contém um grito de surpresa. Assiste toda a cena maravilhada)

Gaze: Querida Élfia! Sua mãe e eu costumávamos nos sentar assim quando ela era novinha e vivia entre nós. Oh! Que bom seria se você pudesse vir e fazer o mesmo! Mas desde que nossa rainha voltou para nós, é impossível. Entretanto, eu virei encontrá-la e conversar com você enquanto for uma criança. Quando crescer, teremos que nos separar para sempre. (apanhando uma rosa e soprando suas pétalas) Fique com isto por mim. Eu a conservarei fresca duranteum ano inteiro.

Élfia: É linda, Gaze! Obrigada. (abraçando-a) Acho que nunca terei uma amiga tão querida quanto você. Vamos brincar?

Gaze: Mas é claro! Quero te ensinar uma dança engraçada que eu e meus

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companheiros costumamos dançar as vezes. Se você aprender os passos, faremos ao som da melodia que tocarei em minha flauta.

Élfia: Parece divertido. Como começamos?

Gaze: Primeiro, batemos os pés no ar, assim. Duas vezes. Depois, damos duas palminhas, assim. Depois, nosso companheiro curva suas costas, e eu pulo em cima de você!

(Gaze realiza as ações e, após o giro, as duas caem na gargalhada.)

Élfia: Posso tentar dar o giro agora?

Gaze: Claro!

Élfia: Bater as pernas no ar, assim. Duas vezes. Bater palminhas, assim. Mais duas vezes. Eu curvo suas costas e… pulo! Ah!

(Élfia realiza precariamente todos os movimentos, durante a finalização do giro, Élfia se desequilibra levemente e quase cai. É o suficiente pra Maria gritar de preocupação)

Maria: (grita) Cuidado! (tapa a própria boca)

(Élfia e Gaze se entreolham. Reina grande silêncio.)

Gaze: (olhando diretamente para onde Maria está escondida) Acho melhor terminarmos a nossa brincadeira outro dia, Élfia. Adeus.

Élfia: Gaze! Não! Não!

(Élfia é arrastada por Maria. Saem de cena, algum tempo depois, Élfia volta, procurando por Gaze)

Élfia: Gaze! Gaze, por favor!

(Entra Gaze)

Élfia: Gaze!

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Gaze: Oi, Élfia…

Élfia: Gaze, me desculpe, aquela era minha mãe, não queríamos te assustar, eu…

Gaze: Eu sei que era. Costumava brincar com ela assim como brinco com você, minha querida. Mas infelizmente terei que parar nossos encontros mais cedo doque eu esperava. Sua mãe não foi sábia. Se deixou levar pela saudade, e não acatou meu pedido de anos atrás. É uma pena que você tenha que pagar pelos erros dela, minha fadinha. Nossa Rainha temia que isso acontecesse. E agora estamos todos indo embora… Não podemos conviver com adultos conscientes da nossa existência.

Élfia: Por quê?

Gaze: Porque, eles não tem a inocência que uma criança tem. Poderiam querer fazer algum mal para nós, ou para nossa Rainha! Me dá arrepios só de pensar nisso…

Élfia: Mas Gaze, você conhece minha mãe!

Gaze: (aborrecida) Mas minha Rainha não. E ela está certa em querer nos proteger. Me desculpe, minha querida…

(Gaze abraça Élfia, quase chorando.)

Gaze: Você ficará bem, tenho certeza. Guarde nossas memórias no seu coração, minha amiga. Em seus pensamentos mais felizes. (sorri)

Élfia: Eu nunca vou esquecer de você, Gaze. Nunca! (sorri)

Gaze: Adeus, minha pequena companheira de aventuras.

(Se separam lentamente. Outros Elfos entram e cantam “Salve Rainha”. Élfia ficamaravilhada com uma última visão daquele povo. Após uma breve marcha, todos saem, Élfia em seguida. Um momento se passa. Gaze volta para o palco, confere se ninguém a viu, e interage com a plateia. Sai.)

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