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Maio de 2019 Volume XXXVI, Edição II Boletim Informativo Casa do Artista Nesta Edição: Apontamento 2 Lamento do Artista 3 Morreu a Lola 4 A Marisa do Escritório 5 Detalhes da Vida de um Músico 6 Segredar ao Coração 7 Cantinho dos Provérbios 8 Cantinho das Anedotas 9 Viva o Teatro 10 Recordações 11 Factos Y Ficcionismo 12 GRANDE MARCHA DE LISBOA 2019 Foi em 1935 que, pela primeira vez, todas as marchas cantaram uma compo- sição comum e, oito décadas passadas, a tradição ainda é o que era. Podemos dizer que os versos a que Amália emprestou a voz, na Grande Marcha de Lisboa de 1950, foram proféticos: “Enquanto os bairros cantarem, enquanto houver arraiais, enquan- to houver Santo António, Lisboa não morre mais”. E não há dúvida que Lisboa e a sua Grande Marcha continuam bem vivas e afinadas nas vozes de todos os que desfi- lam na noite 12 de Junho. LISBOA ALEGRE E TRISTE Letra e Música: Augusto Madureira Retirado da revista da EGEAC “festaslisboa´19” (Junho 2019) Editorial Vivam, os Santos Populares Lisboa tem um nó na garganta Por isso quando canta É a alma que chora Lisboa é como uma criança Que sai de madrugada Pelas vielas, vai à praça Vender sonhos, foge à escola Perdida no meio da multidão Anda de mão em mão Tem um olhar profundo Que pede, suplica ao passar (É marcha popular): Oh meu querido Santo António De Lisboa e do mundo Ai canta-me um fado Começa baixinho, ninguém vai ouvir Depois à janela Grita a vida é bela e toca a sorrir Recolhe a tristeza Estende-a sobre a mesa que a casa é assim: Ainda é portuguesa Paredes caiadas, cheiro a alecrim Lisboa também é procissão É bombo, acordeão O som de uma fanfarra Severa, Amália e saudade Amores proibidos Nos sentidos consentidos

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Maio de 2019 Volume XXXVI, Edição II

Boletim Informativo

Casa do Artista

Nesta Edição:

Apontamento 2

Lamento do Artista 3

Morreu a Lola 4

A Marisa do Escritório 5

Detalhes da Vida de um Músico

6

Segredar ao Coração 7

Cantinho dos Provérbios

8

Cantinho das Anedotas 9

Viva o Teatro 10

Recordações 11

Factos Y Ficcionismo 12

GRANDE MARCHA DE LISBOA 2019

Foi em 1935 que, pela primeira vez, todas as marchas cantaram uma compo-

sição comum e, oito décadas passadas, a tradição ainda é o que era. Podemos dizer

que os versos a que Amália emprestou a voz, na Grande Marcha de Lisboa de 1950,

foram proféticos: “Enquanto os bairros cantarem, enquanto houver arraiais, enquan-

to houver Santo António, Lisboa não morre mais”. E não há dúvida que Lisboa e a

sua Grande Marcha continuam bem vivas e afinadas nas vozes de todos os que desfi-

lam na noite 12 de Junho.

LISBOA ALEGRE E TRISTE

Letra e Música: Augusto Madureira

Retirado da revista da EGEAC “festaslisboa´19” (Junho 2019)

Editorial

Vivam, os

Santos

Populares

Lisboa tem um nó na garganta

Por isso quando canta

É a alma que chora

Lisboa é como uma criança

Que sai de madrugada

Pelas vielas, vai à praça

Vender sonhos, foge à escola

Perdida no meio da multidão

Anda de mão em mão

Tem um olhar profundo

Que pede, suplica ao passar

(É marcha popular):

Oh meu querido Santo António

De Lisboa e do mundo

Ai canta-me um fado

Começa baixinho, ninguém vai ouvir

Depois à janela

Grita a vida é bela e toca a sorrir

Recolhe a tristeza

Estende-a sobre a mesa

que a casa é assim:

Ainda é portuguesa

Paredes caiadas, cheiro a alecrim

Lisboa também é procissão

É bombo, acordeão

O som de uma fanfarra

Severa, Amália e saudade

Amores proibidos

Nos sentidos consentidos

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Boletim Informativo Casa do Artista

Página 2

Colabore com a próxima edição do “Boletim

Informativo da Casa do Artista” 2019, através das

suas histórias, do seu talento, da sua arte.

Contamos consigo!

Era criança. Vivia em liberdade, pois morava perto de um bosque com lindas árvores,

plantas e flores. Por lá davam-se lindos passeios. Tinha uma amiga chamada Ana. Estava um

lindo dia e combinámos dar um passeio. Lá fomos pelo bosque, cantando, demos passos de dan-

ça e apanhámos flores. No regresso, quase de noite, já perto de casa, vi o meu pai caminhando

em minha direcção. Corri para ele e beijei-o com muito amor, pois percebi que estava preocupa-

do, porque a tarde já ia longe. Entrei em casa e vi um gato que o meu pai tinha recolhido. Fiquei

muito feliz e dei-lhe o nome de Lilo. E assim passei um dia divertido e tive uma noite muito

feliz.

Autora: Lila

(Secretária/Residente da Casa do Artista)

“Mal d´amor é sofrimento

de que ninguém deve rir,

pois quem ri, desse tormento,

pode sem querer, lá cair.”

Christovão

APONTAMENTO

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Volume XXXVI, Edição II

Página 3

Já sei que para mim

Palco…nunca mais!

Nem sei com vai ser

As tábuas para mim

São uma atracção valente

O cheiro do pó e o calor

Não só dos aplausos

Como dos projectores

Que envolviam o meu corpo

São elementos

Que não poderei jamais

Vir a esquecer

A voz que ao princípio

Parecia ter-me abandonado

Começa a dizer-me

Eu não te abandonei

Fui só para férias

Podes contar comigo.

Autora: Nilza Moreno

(Artista da Rádio/Cantora Ligeira e Residente da

Casa do Artista)

LAMENTO DO ARTISTA

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Boletim Informativo Casa do Artista

Página 4

MORREU A LOLA

Recebi uma triste notícia do Algarve, uns amigos meus de Portimão disseram-me que tinha

morrido a Lola. De seu nome verdadeiro Manuel Palma Alfarrobeiras. Tinha quase 70 anos, mais

novo que eu.

Fui eu e a Luísa Afonso, que nos anos 80 lhe demos o cartão de Sócio do Siarte, quando ele

veio de França, onde esteve alguns anos a trabalhar, onde entre várias coisas fez a imitação da Amá-

lia. Eu fiz cá em 1974 em Cascais e ele em Paris. A grande vedeta também lhe deu vestidos e uma

vez viu uma actuação dele, e por graça disse: “agora já posso morrer descansada, você é igual a

mim”. Parabéns, Amália gostou imenso dele. Eu também o vi trabalhar no “Finalmente Clube” e

adorei, era igual. Ele quase não precisava pintar a cara, era muito parecida com ela e tinha uma irmã

com quem vivia, que como mulher ainda mais parecida ficava com a nossa Rodrigues. A mãe mor-

reu vítima de cancro nos anos 80 ou 90, na casa deles em Portimão.

A Lola trabalhou muito com o Zé Portugal, nos seus espectáculos em Lisboa, em Cacilhas,

no “Duche” da Caparica e numa conhecida boîte na Piedade. Também actuou no Porto e no Coli-

seu de Lisboa. Deixei de o ver na noite e perguntei por ele e foi-me dito que só trabalhava no Algar-

ve. Nesta altura, eram os anos 90. Nunca mais voltei a ouvir falar dele até que me chegou a triste

notícia da sua morte.

Morreu um grande actor-transformista, um grande Amaliano, uma autêntica Dupla de Amá-

lia. Descansa em Paz maravilhosa Lola.

Autor: Júlio Coutinho

(Actor/Residente da Casa do Artista)

“ A vida na grande terra

Corrompe a humanidade

Entre a cidade e a serra

Prefiro a serra à cidade”

António Aleixo,

poeta popular algarvio (1899-1949)

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Volume XXXVI, Edição II

Página 5

Bem bonita e bem falante

Já lá está à secretária

É alta e muito elegante

A Marisa escriturária

Minha amiga quem diria

Para mim é um regalo

Está lá na secretaria

Vem de rabo de cavalo

Usa óculos para ver

Gostei de a ouvir falar

É uma bela Mulher

Fomos os dois almoçar

A Marisa que é fadista

Pessoa muito educada

Estão na “Casa do Artista”

Mais a Marisa empregada

Foi embora uma Senhora

E veio um novo Senhor

Foi mais uma Directora

E vem mais um Director

Foi para casa a Leninha

Não achava graça a nada

Agora falta a Marcinha

Essa já está reformada

A MARISA DO ESCRITÓRIO

Se aquilo que a gente sente

Tudo o que se diz e não diz

A Marisa é boa gente

Que seja muito feliz

Menina de santa virtude

Que bem anda, que bem pisa

Que tenha muita saúde

Beijinhos dona Marisa

Vai ter novas amizades

Tanta actriz e tanto actor

Com milhões de felicidades

E quem sabe algum amor

Posso oferecer um café

Esta oferta é uma gracinha

De casa lá vem a pé

Vem de perto é na Pontinha

Lá está tudo no trabalho

A Marisa é a primeira

Dona Conceição Carvalho

O Tiago e o Madeira

Chego eu sou residente

Bom dia senhor Coutinho

A Marisa está presente

Receba meu, um beijinho

Autor: Júlio Coutinho

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Boletim Informativo Casa do Artista

Página 6

DETALHES DA VIDA DE UM MÚSICO

Nasci em 1951 na aldeia das Perolivas, freguesia e concelho de Requengos de Monsaraz.

Com 10 anos iniciei os estudos musicais na Filarmónica local, onde toquei requinta (família do clari-

nete). Dos 12 aos 18 anos toquei acordeão nos bailes daquela zona do Alentejo. Esta experiência

teve uma influência fulcral na forma como encarei mais tarde as minhas funções de solista da

Orquestra Gulbenkian.

Em 1970, com 18 anos e mediante concurso público, ingressei na Banda da G.N.R., onde,

por imperativo militar (necessidades da banda) iniciei os estudos de fagote.

Com a chegada a Lisboa, passei a ter acesso a tudo o que de mais importante acontecia no campo da

música. Uma semana após chegar à capital, assisti à ópera D. João de Mozart no coliseu, fiquei des-

lumbrado. Pela primeira vez vi uma orquestra sinfónica.

Ainda em 1970 matriculei-me no Conservatório Nacional.

Em 1971, toquei 2º fagote na 7ª sinfonia de Beethoven com a orquestra do I.M.A.V.E. (formada por

músicos da orquestra da Emissora Nacional) e dirigida pelo maestro José Atalaya, num concerto

realizado no Teatro de S. Carlos.

Em 1972, frequentava o 2º ano de fagote, participei como 4º fagote na 6ª sinfonia de Mah-

ler num concerto com a ex-orquestra da Emissora Nacional dirigida pelo maestro Efren Kurtz no

cinema Tivoli. No ano seguinte, frequentando o 3º ano de fagote, como artista convidado, participei

e desempenhei o lugar de 2º fagote numa tournèe de 15 dias a Espanha com a Orquestra Gulben-

kian.

Em 1975, fui selecionado para a Orquestra Mundial da Juventude. No final desse ano,

ganhei o lugar de 2º fagotista da Orquestra Gulbenkian, através de concurso público, lugar que pas-

sei a ocupar a partir de janeiro de 1976.

Em 1977, venci o concurso para 1º fagote (solista principal) da Orquestra Gulbenkian atra-

vés de concurso nacional e internacional.

Em 1978, assumi as funções de professor de fagote do Conservatório Nacional após Concur-

so Nacional.

Em 1983, concluí o curso de fagote do Conservatório Nacional.

Em 1988, fui convidado e passei a desempenhar as funções de professor de fagote da Escola

Superior de Música de Lisboa até 2014.

Em 2000, concluí licenciatura em fagote.

Em 2010, concluí Mestrado em Pedagogia do fagote.

Em 2016 foi-me atribuído o Título de Especialista em fagote, mediante provas públicas, pelo

Instituto Politécnico de Lisboa

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Volume XXXVI, Edição II

Página 7

Nunca fui estudar para o estrangeiro.

Penso que fiz um percurso completamente ao contrário do que é habitual, ou seja: concluí

os cursos muito depois de conseguir os lugares.

Como não tenho espaço para explicar as várias mudanças e experiências que tive na minha

carreira, elegi os 33 anos (mais 3 de artista convidado) que estive na orquestra Gulbenkian, para

dizer que foi muito tempo de vida e muito tempo de arte. Foram os solos e alegrias dos sucessos, as

obras dos grandes génios compositores, a interação com os inúmeros maestros e com os maiores

concertistas do mundo, as viagens (viajei pelo mundo inteiro com a Orquestra Gulbenkian) e tam-

bém os problemas e as alegrias. Tudo isto, foi um grande aprendizado pessoal e artístico, que me

permitiu, sempre, estar preparado para responder a qualquer tipo de questão que quaisquer alunos

me pudessem ou possam colocar.

Cessei as minhas funções de músico da Orquestra Gulbenkian em julho de 2009, e as de pro-

fessor da Escola Superior de Música de Lisboa 2014. Continuo ainda a minha atividade de docente

no Conservatório Nacional.

22 de maio de 2019

Autor: Arlindo Santos

(Músico/Associado da Casa do Artista)

SEGREDAR AO CORAÇÃO

Se ao coração falar alto, mas ao lado

Posso nada dizer e até gritar

Se o mesmo me atraiçoar

Eu sou um ser infeliz e contristado

Sou filha de Deus que é alegria

E com esse dom fui dotada

Como posso ser triste e desgraçada

Se posso desenvolver a fantasia

E com fantasia desenvolvida

Convém não seja demais

Para que não surjam os “ais”

De vida mal resolvida

Com a mente bem treinada

E o coração bem desperto

Vou fazer o que está certo

Sem dar acordo de nada!

Autora: Isabel Magro

(Mestra do Guarda-Roupa/Residente da Casa

do Artista)

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Boletim Informativo Casa do Artista

Página 8

1- O que é achado não é __________________;

2- _________________ não quebra;

3- Todo o pé aleijado procura uma bota

______________;

4- Vale mais um ________________________, que uma demanda;

5- Fica para a semana dos nove _________________;

6- Se muito come o burro, mais burro é quem ____________________;

7- _________________ e ___________________ precisam de ser untadas;

8- _____________________, apartamento;

9- Não é com ____________________ que se apanham ______________________.

(Provérbios cedidos pela residente e pianista Isabel Mexia)

(Ver soluções na página 13)

CANTINHO DOS PROVÉRBIOS

Para recordar...

como era

antigamente!

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Volume XXXVI, Edição II

Página 9

“as justificações

estéreis

e tardias

por absurdas no tempo

matam o amor”

do livro “A Nau Catrineta Naufragada no Amor”.

Edição Roma Editora

Miguel Barbosa

(Dramaturgo/Residente da Casa do Artista)

CANTINHO DAS ANEDOTAS

Há de facto lojas com facilidades especiais! …

Numa loja:

- Boa tarde. Venho pagar a última prestação do berço do meu filho.

- E como vai o menino?

- Muito bem. Olhe, casa-se amanhã!

Enquanto há vida há esperança! …

Era uma vez um casal que nunca saía de casa. Um dia o marido, que ia ao café, disse à

mulher:

- Veste o casaco!

- Vais-me levar? – diz a mulher toda contente.

- Não. Vou desligar o aquecedor.

(Anedotas cedidas pela residente e Ponto de Teatro Natália Guimarães)

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Boletim Informativo Casa do Artista

Página 10

VIVA O TEATRO

Estou a viver nesta Casa, vai a caminho de vinte anos. Já por cá passaram muito Senhor

Actor e muita Senhora Actriz como residentes, alguns felizmente ainda cá estão, outros já parti-

ram deste Mundo. É a vida!

Vou recordar a nossa Manuela Maria, Laura Soveral, Anna Paula, Célia de Sousa, Cou-

to Viana, António Évora, Clara Maria, Alda Pinto, João Rodrigo, Clara Rocha, Maria Candal,

Maria da Nazaré, Dora Leal, Io Appolloni, Octávio de Matos, Joaquim Rosa, António Mar-

ques, Cecília Guimarães, Mariema, Deolinda Rodrigues, Anita Guerreiro, Graça Lobo,

Armando Cortez, Raul Solnado, Luis Zagalo, José Melchior, Maria Sidónio, Graziela Mendes,

Nina Flores, Madalena Braga, Simone de Oliveira, Júlio Coutinho, Spina, Francisco Froes,

Luís Mendes, Elisa Lisboa, Helena Vieira, Maria Muñoz, Isabel Balbi, Mimi Burnay, Linda

Silva, Morais e Castro, Fernando Gusmão, Armando Venâncio, Maria Adelina, Tomé de Bar-

ros Queiroz, Domingos Marques, Carlos Rosa, Carlos Coelho, Luís Pinhão, Fernanda Borsatti,

Isabel de Castro, Isabel de Carvalho e Adelaide João.

Desculpem se me esqueci de alguém. É natural. A cabeça não dá para mais. Beijos para

todos.

Autor: Júlio Coutinho

(Actor/Residente da Casa do Artista)

“Faz o que gostas e nunca terás de trabalhar

um dia na vida.”

(Confúcio)

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Volume XXXVI, Edição II

Página 11

RECORDAÇÕES

Ando numa de recordações. Neste momento recordo a minha infância. Sendo uma miú-

da muito alegre e gostando de tudo o que fazíamos. Lembro-me de saltar à corda e jogar à maca-

ca e outras coisas para aquela idade. Com os aninhos lentamente a tomarem conta de mim, já

me sentindo mais crescidinha, já brincava de outra forma, gostando de brincar com os rapazes,

porquê? Porque eles tinham brincadeiras mais difíceis e como eu era audaz atrevia-me a fazê-las.

Eram um pouco perigosas para a minha idade, mas queria imitar os rapazes, dando-me grande

prazer. Fazíamos de tudo um pouco, como jogar ao eixo, à sameira. E como a nossa escola era

em frente à minha casa, ficando mais elevada, tendo um portão muito alto e bonito, e lá resolvia

eu subir ao dito portão. Tinha um terreno grande e um muro alto e largo, os postes de madeira,

da electricidade, eram afastados do muro e resolvíamos atirar-nos para o poste e escorregar até

ao chão! Eu adorava fazer aquilo, até que um dia feri a barriga com uma farpa ou um prego a

escorregar pelo poste e lá fui à farmácia da D. Elisa, que me fez o curativo e ralhando comigo

por fazer essas brincadeiras. Até que um dia a minha mãe olhou-me nos olhos e disse-me: já che-

ga de essas brincadeiras malucas e perigosas. Quando é que brincas com bonecas e às casinhas,

próprias para meninas? Concordei com a minha mãe e passei a gostar de brincar com elas, fazen-

do comidinha, para as minhas bonecas.

Mas a minha cabeça não parava e consegui convencer as minhas amigas a fazermos pro-

cissões. Arranjávamos os adereços e muita hera e lá fomos depois de mascaradas muito concen-

tradas, levando muito a sério essa brincadeira. Como estava sempre a magicar em aventuras,

com as minhas amigas fizemos uma aposta: elas iam de camioneta até uma determinada meta e

eu iria a pé por pinhais a correr como uma gazela, para conseguir chegar primeiro e ganhar a

aposta e lá consegui ganhar! Também fizemos espectáculos. A modista nossa amiga fazia os

fatos em papel frisado e com lençóis e cobertas para o palco inventado. Também levámos bancos

e cadeiras para a plateia. Lá fizemos as nossas palhaçadas e o dinheiro do público foi para com-

prar rebuçados e bolachas. Enfim foi uma festa com muita alegria!

Tenho que confessar que era muito vaidosa, não sei se é bom ou não, o que eu sabia é

que gostava de vestidos bonitos. Numa bela tarde combinámos ir dar um passeio de bicicleta até

à praia. Nesse dia levava o meu vestido preferido, até que quando chegámos ao meio do cami-

nho tive um pequeno desastre, numa pequena descida e uma curva muito acentuada, de repente

apareceu um carro em sentido contrário, fora de mão. Fiquei em pânico, acabando de me atirar

com a bicicleta para a valeta. Resultado, o meu querido vestido ficou em muito mau estado, a

rede da bicicleta destruída e eu toda esmurrada e alguns ferimentos sem gravidade. Claro que

voltámos para casa, e lá pedalando só sabia lamentar o meu adorado vestido.

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Boletim Informativo Casa do Artista

Página 12

--- Mayumi, gerada na interceção de todos os caminhos do sonho existencial, logo a ver-

dade, a sabedoria, o carácter (frontalidades ressumadas na expiração dos poros e baixo-relevo no

sinete a autenticar-lhe a acta do nascimento) se refinaram nos caminhos do Porvir, aferindo, ajui-

zando todos os compêndios das programações rituais. Por isso, ao falar-se de aparições, relâmpa-

gos, trovões, vendavais, cataclismos, arruda, mezinhas, malvas, e lampadários e ladainhas no tre-

luzir de estearinas pelas penumbras dos dogmas, afirmo que foi Mayumi quem calçou as sandá-

lias a Marco Polo para que trilhasse o caminho das sedas; salvou a China e os chineses dos ata-

ques mongóis com a muralha-fábula; com o turíbulo dos desagravos, aspergiu lágrimas de sangue

nos escombros de Hiroshima; que cultiva sementes no laboratório da sabedoria, e ensina a cultivá

-las aos que pululam na interceção dos caminhos inquinados, para que, nos convénios circunstan-

ciais do Poder, não mais se olvide que “o zangão acaba sempre por morrer no labirinto da col-

meia”, pois a vida é metamorfose constante no casulo do quotidiano.

--- Eu, Mayumi, que habito dentro de uma canção e saboreio as musicalidades oriundas das esferas do Cos-

mos, ao vencer um obstáculo --- minotauro por labirintos nos percalços da vida --- busco sempre, na matriz do

amor, os a-propósitos perseverantes da cultura, da arte e, com a energia residual e telúrica do “eu”, inflamo o

restolho das veredas ressequidas pela incúria dos acomodados ao narcisismo do umbigos. E, ao afirmar,

“nunca olho para trás”, é, tão-só, defesa prosaica, pois aceno sempre um adeus ao templo onde se regateiam

as facturas da vida, se discutem e catalogam saibos existenciais, e os esquemas do germinar da seiva no plan-

tio de linhas de força a balizarem atavismos e dogmas, qual praga de gafanhotos no cotão das costuras bíbli-

cas. Aos sorvos, bebo claridades dos trilhos da minha vontade e desnudo achaques de uma sociedade sem rol

de humanismo global. Sou guerreira nata, qual amazona a tentar diluir as reminiscências dos pólenes tem-

plários que polvilham as brumas da História.

FACTOS Y FICCIONISMO

Um pouco mais tarde veio a guerra, não gostei e cheguei a chorar, foi muito doloroso e

trágico, ia estragando a minha infância, mas não esqueci as carências que tivemos, mas os meus

pais tudo faziam para atenuar esse problema. Eles não eram ricos, mas eu não os trocava por

outros endinheirados. Adorei a minha infância e tudo o que os meus pais me ensinaram. Cheguei

à conclusão que fui muito feliz.

Com esta idade recordo-me como se fosse hoje. Muita coisa ficou na minha cabeça, não

transcrevendo para o papel. Era muito traquinas, mas também dócil e gostava de ajudar os outros.

Estou muito sentimentalona a rever essa criança, que está dentro de mim. Estou a sentir uma ter-

nura por mim mesma, será possível? Que bom é podermos recordar!

Autora: Maria Candal

(Actriz/Cantora Ligeira e Residente da Casa do Artista)

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Volume XXXVI, Edição II

Página 13

--- O baú de acervos que Mayumi guarda na química da palavra, e no fito dos cromos-

somas-memória, inspiram-na ao derrube de obstáculos na caminhada perene para alcance do

sopé do horizonte. Qual andorinha-alfa, porfia o rumo, mesmo que desnorteada pelos pilritares

das andorinhas do bando, pela inflexão dos raios ultravioletas nos buracos do ozone, ou por

mega-crimes ambientais estudados, programados e definidos nos convénios economicistas.

--- Se não pude escolher quem me trouxe ao mundo, quero ser eu na busca do caminho até aos contrafortes

do horizonte. E, perdido que foi o ouro da inocência, não mais acalentei sensações de festa. No entanto, ambi-

ciono quem me ameigue no caminho e que, no fundo dos meus olhos, me reencontre as inocências perdidas

quando, calada, me isolo e falo de mim: meus quereres e não-quereres, mágoas, feridas, dor, tristezas, insi-

piências, desejos, vontades, anseios, frustrações; e as neuroses que germinam nos ócios, nas tempestades do

quotidiano e que afundam ao patamar do subconsciente. Um amigo que, atento a desaprumos de uma debili-

dade ocasional, me ampare, brigue por mim, ampare os vacilares do meu ser, entenda os pulsares da minha

alma e me respeite as idiossincrasias fraternas, religiosas e políticas, e os estímulos da sensualidade provinda

dos deuses; acate a minha rebeldia, arqueira que sou de frechas vanguardistas e, nos conflitos mesquinhas,

tenha a sensibilidades de aceitar o estender sincero da justiça da minha mão; e que, no turbilhão de uma

intempérie tribal, encarne um Moisés a ludibriar o exército de Ramsés no a-propósito de uma maré-baixa,

salvando os gentios do intento bélico de Osíris no fluxo e refluxo de uma onda obediente a um Jeová já em

processo de aposentadoria.

--- Se, naqueles tempos, dor foi pústula em versículos, nos hoje é anátema: envenena a linfa das

essências do ser, turva as claridades ao espírito e distorce as linhas de força da felicidade desde o

espólio fratricida de Caim. E, assim, vencida que seja a escuridão pelo treluzir da lamparina no

supé do horizonte, Mayumi, seareira de ideias, lançará novas sementes na plantação que cultiva

nos seus recônditos, pois, viver, é metamorfose constante no casulo do quotidiano: como que

habitar dentro de uma canção na busca de um intérprete.

Autor: Afonso Henriques

(Técnico da Central Técnica de Programas da EN-RDP/Residente da Casa do Artista)

1 - ... é roubado; 2 - Bom aço … ; 3 - … torta; 4 - … mau acordo … ;

5 - … dias; 6 - … lhe dá; 7 - Rodas … advogados … ; 8 - Casamento, … ; 9 - … vinagre … moscas.

SOLUÇÕES

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Estrada da Pontinha, 7 1600-582 Lisboa

Tel: 217110890

Correio Eletrónico: [email protected]

www.casadoartista.net

https://www.facebook.com/ApoiarteCasadoArtista/?ref=settings

“apoiarte_casadoartista”

A APOIARTE/CASA DO ARTISTA - Associação de Apoio aos Artistas

é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), destinada a apoiar e

dignificar aqueles que exerçam ou tenham exercido funções relacionadas com a

actividade do espectáculo nas áreas das artes cénicas, da televisão, do cinema e da

rádio.

A Residência, o Teatro Armando Cortez, a Galeria Raul Solnado e o Cen-

tro de Formação constituem as várias valências de apoio e desenvolvimento dos

objectivos definidos na sua génese. Abrangida pela Lei do Mecenato Cultural, tem

contado com vários apoios que, de algum modo, nos têm ajudado a contribuir para

a melhoria da qualidade de vida de todos os residentes nesta Casa do Artista.

PROPRIEDADE: APOIARTE CASA DO ARTISTA

“NÃO É PERMITIDO ENVELHECER”

Ficha Técnica

Edição:

Ricardo Madeira

(Animador Sociocultural)

Coordenação:

Carla Andrino (Psicóloga Clínica/Actriz/Vogal da Direcção da Casa do Artista)

Revisão:

Fernando Tavares Marques

(Actor/Tesoureiro da Direc-ção da Casa do Artista)

Periodicidade:

Mensal

Tiragem:

50 exemplares

Nota: Este Boletim não foi

redigido ao abrigo do Acor-

do Ortográfico.

AGENDA CULTURAL

SALA BEATRIZ COSTA:

7 de Junho (sexta-feira), 15 horas - Actuação do “Grupo Vozes do Estoril—

Música Popular;

12 de Junho (quarta-feira), 15 horas - Comemoração do Santo António, com o

acordeonista Tino Costa;

14 de Junho (sexta-feira), 15 horas - “Passear pela Música”, com a presença de

Esmeralda Reis e Natércia Oliveira (vozes), a acordeonista Marta Garrido e na vio-

la Zeca Rodrigues;

18 de Junho (terça-feira), 15 horas - Actuação do Coro “I Cantori”;

19 de Junho (quarta-feira), 15 horas - Apresentação do “Boletim Informativo da

Casa do Artista”;

21 de Junho (sexta-feira), 15 horas - Partilha de “Quadras Populares”, pelo Ani-

mador Sociocultural e Residentes;

TEATRO ARMANDO CORTEZ:

Teatro Infantil de Lisboa (TIL) apresenta “O Feiticeiro de Oz”, encenação

e coreografia de Victor Linhares;

Yellow Star Company apresenta “Monólogos da Vagina”, com Júlia Pinhei-

ro, Paula Neves e Joana Pais de Brito. Texto de Eve Ensler e encenação de

Paulo Sousa, até ao dia 15 de Junho.