biblioterapia marília

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Biblioterápia é um livro de Marília Mesquita Guedes Pereira.

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Page 1: Biblioterapia   marília

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MARÍLIA MESQUITA GUEDES PEREIRA

PROPOSTA DE UM PROGRAMA DE LEITURA PARA PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL EM

BIBLIOTECAS PÚBLICAS

Editora UniversitáriaJoão Pessoa

1996

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DEDICATÓRIA

Ao bom Deus, pois sem Ele, não teria sido possível a realização deste trabalho.A Normando Guedes Pereira, meu pai, “in memoriam”, pelo exemplo e dedicação à frente do Instituto de Proteção à Infância da Paraíba e pelo que dele aprendi e estou usando na vida.A Catherine H. Roberts, que não tive o prazer de conhecer, grande batalhadora pela causa da deficiência visual nos Estados Unidos, a nossa homenagem e saudade.A minha mãe, irmão, irmãs, cunhados, cunhadas e sobrinhos, pelo apoio em todos os momentos.

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AGRADECIMENTOS

Para o desenvolvimento das idéias apresentadas neste livro gostaria de agradecer especialmente a influência e a contribuição das seguintes instituições e pessoas:

A nossa gratidão é extensiva ao FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento do Ministério da Educação e Desporto pelo suporte financeiro que permitiu viabilizar esta publicação através do convênio nº 00005737/96, FNDE/UFPB.

Aos portadores de deficiência visual e, especialmente ao Bibliotecário PAULO DA SILVA CHAGAS colega e amigo e à Profª. JOANA BERLARMINO DE SAUZA e a MARIA FELISMINA DOS SANTOS, sem os quais não teria a motivação necessária para elaborar este livro.

Ao Prof. ALVIN H. ROBERTS, CARREN BOWMAN e JANE BOWMAN, americanos, pela amizade, contribuição bibliográfica dada à pesquisa e, principalmente, pela experiência altamente enriquecedora, permitindo-me consolidar aos pouquinhos os meus conhecimentos, pois acredito que ainda tenho muito que aprender junto à comunidade cega da Paraíba.

À amiga MAY BROOKING NEGRÃO – Assessora do Escritório Regional e do Comitê Permanente da Seção da América Latina e Caribe da IFLA por ter acreditado e incentivado na nossa pesquisa.

À FEBAB – Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários na pessoa de sua presidente – Bibliotecária SELMA MENDES FONTES SODRÉ, pelo estímulo, incentivo, amizade e solidariedade nos momentos difíceis.

Ao Diretor da Editora Universitária da UFPB, Prof. JOSÉ DAVID CAMPOS FERNANDES, pelo apoio e empenho na confecção desta obra.

Agradeço de modo especial, às amigas MARIA DO SOCORRO AZEVEDO F. FERNANDEZ VÁSQUEZ e ANA MARIA GONÇALVES DOS SANTOS PEREIRA, pelas críticas, apoio, incentivo e sugestões.

E, finalmente a todos que buscam compreensão, respeito, justiça social e liberdade para o portador de deficiência visual.

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MENSAGEM DO EXCEPCIONAL

ACEITA-ME Como sou. Por questão de justiça e não por piedade.

TORNA-ME Um ser útil, porque de esmolas não quero viver.

IGNORA Meu defeito e ama,.me como uma criança normal.

ILUMINA. Meu caminho para que eu não mergulhe na sombra tristonha do medo.

FAZ-.ME Refletir que meu início foi igual ao teu início.

ACEITA Meu sorriso triste, única maneira compreensível de de mostrar gratidão.

OLHA-ME, Sou humano como você.

LIVRA-ME Da ignorância e da dependência, teu dever de cidadão.

PÕE Em meus lábios a luz de um sorriso e não a sombra tristonha do medo.

AJUDA-ME A não ser tão pesado a meus queridos pais, fazendo minha reintegração à sociedade.

SAIBA Que as ilusões que cercaram o meu nascer foram as mesmas com que teus pais sonhavam.

DESPERTA, Com teu afeto a minha mansidão contra a agressividade que avasalha, nós não nascemos como desejaríamos e não é justo que sejamos abandonados quando temos muito menos condições de defesa.

(Autor desconhecido)

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PREFÁCIO

É com muita honra que aceitamos o convite de Marília Mesquita

Guedes Pereira para prefaciar seu livro Biblioterapia: Propostas de um

Programa para Portadores de Deficiência Visual em Bibliotecas Públicas.

Trata-se de um trabalho pioneiro no Brasil, na área de Biblioterapia

para cegos, com enfoque no papel da leitura e que teve sua origem na

pesquisa desenvolvida pela autora, quando da preparação de sua

dissertação de Mestrado em Biblioteconomia, defendida na pós-

graduação da área, no Centro de Ciências Sociais Aplicadas da

Universidade Federal da Paraíba, em abril de 1990.

A problemática da reabilitação e ajustamento do deficiente visual

tem caráter universal; todavia, em nosso meio social ela se apresenta de

modo mais grave e, portanto, merecedora de maiores estudos. Na

verdade, o cego é visto, entre nós, muito mais como objeto de

comiseração e alvo de assistência humanitária do que como um ser com

imenso potencial e amplas possibilidades de participar do processo social

e do contexto produtivo. .Mas, como direcionar ações, que possam não

somente contribuir para o ajustamento psicossocial do cego e ao mesmo

tempo fornecer-lhe instrumentos que lhe possibilite a integração ao seu

meio social, tornando-o um elemento participante e útil à comunidade?

A proposta nos vem, tanto do ponto de vista teórico como prático,

através da Biblioterapia, particularmente como concebida pela

especialista Marília Pereira, Bibliotecária do Setor Braille da Biblioteca

Central da Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa. Em seu

livro Marília faz, inicialmente, um diagnóstico da situação do cego no

Brasil e no mundo, passando a analisar tentativas de estudiosos e de

instituições, no sentido de promover a melhoria de situação desses

deficientes, depois faz um histórico da Biblioterapia, desde suas origens

aos dias atuais. Finalmente, com base no levantamento realizado, onde

se configura o papel determinante da leitura, tanto como instrumento de

Jazer e de formação do homem integral, além de mecanismo capaz de

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Page 7: Biblioterapia   marília

amenizar psicologicamente a vida do cego, a autora indica como entrosá-

lo no complexo quadro do sistema social.

O trabalho, elaborado com muita dedicação e entusiasmo,

características da autora, afigura-se da maior valia para os profissionais

que amam na área de apoio ao deficiente visual, aí incluídos

bibliotecários, assistentes sociais, psicólogos, professores e pessoas da

área médica. O mais importante é que a metodologia sugerida tem por

base a longa experiência da autora em trabalhos os mais produtivos,

junto a instituições para cegos e, particularmente, no Setor Braille da

Biblioteca Central da UFPB..

A obra que hoje vem à luz deve ser recebida de bom grado pelos

paraibanos e pela comunidade, pois constitui uma contribuição das mais

expressivas à escassa bibliografia existente.

De parabéns, portanto, a autora e a todos os que contribuíram

para a consecução desta obra, cujos ensinamentos são da maior

importância como alternativa para minimização dos problemas

decorrentes de deficiência visual.

João Pessoa, 20 de setembro de 1996

JOSÉ ELAS BARBOSA BORGES

Professor do Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da UFPb.

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Page 8: Biblioterapia   marília

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.................................................................................................I. INTRODUÇÃO...................................................................................................

1.1. Estado Atual do Problema...................................................................1.2. Situação Mundial do Cego...................................................................

II. HISTÓRICO DA BIBLIOTERAPIA.....................................................................2.1. Origens da Biblioterapia na Biblioteconomia.......................................2.2. Origens da Biblioterapia na Psicologia................................................

III. ORIGENS E TERMINOLOGIA DA BIBLIOTERAPIA.......................................IV. CONCEITUAÇÃO E DEFINIÇÕES DA BIBLIOTERAPIA................................V. TIPOLOGIA E SUBDIVISÕES DA BIBLIOTERAPIA........................................VI. OBJETIVOS DA BIBLIOTERAPIA...................................................................VII. O BIBOIOTECÁRIO COMO BIBLIOTERAPAUTA..........................................

7.1. Biblioterapeuta: Revisão de Literatura.................................................7.2. O Biblioterapeuta: Educação e Treinamento.......................................

VIII. PROPOSTA PARA IMPLANTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE BIBOIOTERAPIA PARA PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL EM BIBLIOTECAS PÚBLICAS.......................................................................

8.1. Introdução à Problemática dos Bibliotecários......................................8.2. Conceituação de Biblioteca.................................................................8.3. Objetivos..............................................................................................

8.3.1. Objetivo Geral........................................................................8.3.2. Objetivos Específicos.............................................................

8.4. Organização Básica de um Programa de Biblioterapia para Portadores de Deficiência Visual em Bibliotecas Públicas..................

8.5. Metodologia.........................................................................................8.5.1. Clientela.................................................................................8.5.2. Instalação...............................................................................8.5.3. Recursos Humanos................................................................8.5.4. Recursos Materiais.................................................................8.5.5. Horário....................................................................................8.5.6. Recursos Financeiros.............................................................8.5.7. Avaliação................................................................................8.5.8. Divulgação..............................................................................

IX. BIBLIOGRAFIA PROPOSTA PARA UM PROGRAMA DE BIBLIOTERAPIA ENVOLVENDO DEFICIENTES VISUAIS.........................

X. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................

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Page 9: Biblioterapia   marília

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ALA – American Library Association

CENESP – Centro Nacional de Educação Especial

MEC – Ministério da Educação e Cultura

MILS – Máster in Library Sciences

OMS – Organização Mundial de Saúde

ONU – Organização das Nações Unidas

SEPS – Secretaria de 1º e 2º Graus

UIC – The University of Illinois / Chicago

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação Ciência e Cultura

VA – Administração de Veterano

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Page 10: Biblioterapia   marília

APRESENTAÇÃO

Este livro originou-se do meu trabalho de dissertação do Mestrado

em Biblioteconomia da UFPB, A BIBLIOTERAPIA EM INSTITUIÇÕES

DE DEFICIENTES VISUAIS: UM ESTUDO DE CASO, em 1989. De lá

para cá venho desvendando com curiosidade, persistência e admiração

as causas e os efeitos da Biblioterapia entre os portadores de deficiência

visual.

É um trabalho de conteúdo simples, que espero seja de utilidade

para os graduandos dos cursos de Biblioteconomia, Psicologia e

Educação Especial, e para os bibliotecários que estão à frente das

Bibliotecas Públicas e que vem se interessando pelo assunto, na

esperança de suprir as informações que lhe são negadas.

No mundo de hoje, espera-se que o bibliotecário brasileiro seja

capaz de voltar-se para a sociedade e criar meios alternativos para

solucionar os problemas voltados para este setor especial da Ciência da

informação.

Ressalte-se que houve necessidade de se proceder a uma análise

crítica e retrospectiva global de Biblioterapia, desde os seus primórdios

até o seu estado atual. Partiu-se de dados relatados na bibliografia de

que a Biblioterapia é uma técnica importante, tanto para o aumento de

informações do portador de deficiência visual, como por se constituir

num elemento motivador de sua vivência e de seu ajustamento social

através desse processo de leitura orientada.

Citou-se a problemática da cegueira, tanto nos países desen-

volvidos como naqueles em desenvolvimento, sendo analisadas as

implicações dessa situação nas aspirações do cego, mormente numa

sociedade competitiva como a nossa. Particularizam-se as vantagens das

técnicas de leitura como um possível método biblioterapêutico de

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Page 11: Biblioterapia   marília

utilidade para o deficiente visual. Considerou-se, com especial atenção a

posição do Bibliotecário como Biblioterapeuta. Abordou-se ainda a pos-

sibilidade das Bibliotecas Públicas atuarem junto a contingentes cegos

vinculados a instituições de educação para esses deficientes.

Finalmente, foi incluída uma Bibliografia para um programa de

Biblioterapia e uma Bibliografia detalhada sobre essa técnica, para

utilização por bibliotecários, educadores, outros técnicos, pessoas

interessadas e envolvidas com a problemática.

João Pessoa, 20 de setembro de 1996

Marília Mesquita Guedes Pereira

Coordenadora da Sub-Comissão

Brasileira de Bibliotecas Braille.

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I - INTRODUÇÃO

1.1 - Estado Atual do Problema

Educação pode ser definida como um processo de contínua

reconstrução da experiência, com o propósito de ampliar e aprofundar o

seu conteúdo social.

A história da Educação fornece subsídios através dos quais,

verifica-se que, desde os primórdios da existência do homem, a ação

educativa esteve presente, ditada pela necessidade de sobrevivência e

de conservação da espécie. Essa necessidade, obviamente, varrou de

época para época, fazendo também com que se desenvolvessem

sistemas educacionais que atendessem às aspirações de cada povo e de

cada época, proporcionando à sociedade mudanças e contínuo

desenvolvimento.

Já entre os povos primitivos nota-se a procura, por todos os

meios, de melhoria dos processos de transmissão da experiência,

precursora dos métodos educacionais; graças a tal esforço, a educação

vem sofrendo um processo de transformação marcante.

Em se tratando da educação do excepcional, pode-se verificar

uma certa lentidão em seu desenvolvimento, ocasionada por fatores

diversos, entre os quais se destaca a concepção de muitos povos

antigos, que eram propensos a desprezar e mesmo a eliminar portadores

de deficiência física ou mental.

O aparecimento das primeiras instituições para educar o

deficiente visual fez com que muitos educadores se interessassem pela

causa e partissem para a tentativa de engajá-lo na sociedade, buscando

melhores técnicas e processos didáticos que lhes possibilitassem um

melhor ajustamento. Chegou-se a um consenso de que o deficiente

visual, como membro de uma sociedade, não poderia ficar alheio ao

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Page 13: Biblioterapia   marília

progresso do mundo e sem uma assistência necessária ao seu desenvol-

vimento.

E importante ressaltar que uma parte considerável da população

mundial (entre 10 e 15%) é portadora de deficiências sensoriais, motoras

ou mentais, que limitam sua capacidade de se beneficiar da educação

normal. Essas pessoas precisam de uma educação adequada às suas

possibilidades, aptidões e necessidades - uma educação especial, como

se costuma chamar, que lhes permita desenvolver suas potencialidades a

fim de que possam se tomar membros de pleno direito da sociedade a

que pertencem e alcancem um desenvolvimento pessoal que lhes

proporcione meios de se tomarem independentes.Daí ser fundamental

considerar a educação como um meio de proporcionar aos deficientes

visuais um atendimento especializado, tendo em vista o seu ajustamento

nos planos físicos, intelectual, emocional, social e econômico.

De fato, pode-se perceber que a educação especial é uma peça

fundamental no processo de reabilitação, sendo assim necessária a

todos os que experimentam ou podem experimentar grandes e

sucessivas dificuldades para aprender e aproveitar as oportunidades

oferecidas às demais pessoas, pela educação normal.

Nesse contexto, há de se considerar a concepção de GORN (31)

a informação pertence, juntamente com a matéria e a energia, a trilogia dos fenômenos básicos que constituem os fundamentos de todas as atividades humanas.

Toma-se oportuno enfatizar que a biblioteca, como um dos

instrumentos de disseminação da informação, assume importância vital

dentro deste contexto, principalmente, quando engajada no processo

educacional. Nesse sentido, FERREIRA. (28) lembra que:

Em nossos dias não se pode mesmo

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Page 14: Biblioterapia   marília

conceber ensino sem utilização de bibliotecas as quais, além de possibilitarem acesso à informação, têm um papel da maior relevância, enquanto favorecem o desenvolvimento de potenciais, capacitando pessoa a tomarem suas próprias decisões.

Os comentários aqui apresentados indicam que a biblioteca

constitui uma dessas ferramentas que deve estar em perfeita harmonia

com o desenvolvimento global da educação, particularmente num

engajamento com a educação dos excepcionais, notadamente, dos

deficientes visuais.

A fim de se evitar a marginalização dessas pessoas, vários

países estão se esforçando para propiciar a sua integração à

comunidade, considerando as deficiências visuais dentro de bases

legais. Cumpre registrar ainda que a preocupação com os problemas

psicossociais dos cegos ainda não assumiu a importância devida nos

países em desenvolvimento.

Atualmente, estamos presenciando um. ressurgimento de

interesse pela situação e pelo futuro das pessoas excepcionais. Após o

alerta da Assembléia das Nações Unidas, na sua trigésima primeira

sessão, realizada em 16/12/1976, foi aprovada a Resolução 31/123

elegendo 1981 como o Ano Internacional das Pessoas Deficientes e

propondo incentivos a um trabalho nesse campo, prevendo-se uma

revisão e uma avaliação de resultados até 1991.

De acordo com os trabalhos e estudos publicados, a Assembléia

Geral das Nações Unidas aprovou um plano de ação mundial para a Ano

Internacional, atrayés da Resolução 34/154, que previa atividades a

serem levadas a cabo a nível nacional, regional, e internacional, tanto no

plano de prevenção como no da readaptação dos indivíduos já

incapacitados. Esse plano de ação seria implantado a longo prazo, em

favor da integração dos incapacitados à sociedade e de sua participação

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Page 15: Biblioterapia   marília

integral na vida econômica e social.

O esquema conceitual propõe quatro itens:

a) o campo humanitário, cobrindo ao mesmo tempo a idéia de respeito

à pessoa humana e de dignidade humana, do ponto de vista da justiça

social. Em outras palavras, os sentimentos de caridade e de piedade

devem ser substituídos por ações e medidas legislativas e afirmativas,

no que se refere aos incapacitados;

b) o campo psicológico, no qual se trata principalmente de informar e

de formar a opinião pública sobre a natureza das incapacitações, as

necessidades específicas dos incapacitados e as necessidades de que

a sociedade favoreça o desenvolvimento de suas potencialidades. O

que querem os incapacitados é que os aceitemos como pessoas, que

têm, sem dúvida, necessidades especiais, para cuja satisfação é

necessária a ajuda da sociedade, de tal maneira que não sintam mais

a humilhação ou a negação de sua própria pessoa e de seu meio

social. Nesse campo, cabe uma grande responsabilidade aos veículos

de divulgação de massa;

c) o campo a prevenção, que é a área por excelência da Organização

Mundial da Saúde (OMS). O adágio "mais vale prevenir que remediar"

aplica-se tanto ao plano científico como ao do planejamento. Afirmam

certos estudos que 30 a 40% das vítimas incapacitadas poderiam ter

sido salvas. Nos campos da saúde e da educação, o papel dos centros

de atendimento de cuidados primários e das instituições escolares é

capital. A institucionalização dos exames médicos periódicos nos

países industrializados deve ajudar os pais na identificação, sob todos

os aspectos, de doenças incapacitantes tais como a desnutrição, as

moléstias venéreas e as afecções pulmonares. Assim, deye-se dar às

mães a possibilidade de se submeterem a visitas pré-natais e pós-

natais, podendo os professores exercer certa pressão no sentido de

que tais exames se tomem obrigatórios.

d) Deveriam ser elaboradas estratégias apropriadas de prevenção e de

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Page 16: Biblioterapia   marília

tratamento dos incapacitados, levando em conta o nível de

desenvolyimento dos países. Uma dessas estratégias, por exemplo,

pode ser encontrada na publicação "Saúde para Todos no ano 2.000"

da OMS.

e) o campo da participação, exigindo que o plano de ação se apoie em

bases realistas, razão pela qual seria conveniente estabelecer

distinção entre os deficitários capazes de participar integralmente de

processos de desenvolvimento e os que são a tal ponto incapacitados

que não poderiam contribuir para a vida econômica de seus países. A

efetiva participação dos incapacitados, ligada á igualdade de

oportunidades, não deve ser encarada exclusivamente de um ponto de

vista humanitário, mas, ao contrário, no âmbito total da sociedade, que

não tem interesse algum em perder ou malbaratar seus recursos

humanos. Essa participação deve ser encarada em todos os níveis e

em todos os setores, desde o cultural e o social, até ao econômico e o

político. De fato, a questão assume toda sua importância quando se

sabe que o desenvolvimento de recursos humanos é considerado uma

condição imprescindível para acelerar o processo de desenvolvimento

e o advento de uma nova ordem econômica e social.

Partindo desses pontos relevantes, deve-se considerar que,

entre os objetivos da Assembléia Geral das Nações Unidas para o Ano

Internacional de Deficientes - 1981, estavam:

a) auxiliar as pessoas deficientes no seu ajustamento à socie-

dade;

b) educar e informar o público dos direitos das pessoas defi-

cientes;

c) promover medidas efetivas para a realização das pessoas

deficientes.

Estes objetivos visam a uma participação completa dos

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Page 17: Biblioterapia   marília

deficientes, igual à dos outros cidadãos, na vida de suas sociedades. E

os objetivos fornecem metas pertinentes àqueles bibliotecários, que

serviriam, entre outras pessoas, como elementos de apoio educacional

ao deficiente.

Constata-se ainda que os objetivos da Organização das Nações

Unidas (ONU) também implicam uma abordagem tríplice: a) serviço,

destinados a indivíduos com visão reduzida, para as agências que os

servem; b) serviços para o público em geral, que precisa entender as

necessidades especiais; c) e as intenções de tais serviços.

Na realidade, pode-se afirmar que os incapacitados têm o direito

de participar plenamente da vida e do desenvolvimento da sociedade à

qual pertencem. É nosso dever permitir-lhes exercer esse direito.

Toma-se oportuno ainda enfatizar que desde então, e

especialmente na última década, têm sido alcançados importantes

progressos em técnicas educacionais e introduzidas consideráveis

inovações no campo da educação especial. Assim, descobriu-se que

ainda pode ser feito pelas pessoas deficientes, muito mais do que se

imaginava a princípio. Muitos desses progressos técnicos podem ser

adaptados às necessidades dos países em desenvolvimento, cujos

recursos em matéria de instalações e pessoal são limitados. Com

referência ao cego, a deficiência visual já não é sintoma dramático da

vida moderna. Hoje, os mais aperfeiçoados métodos permitem a rápida

reabilitação do deficiente.

No Brasil do ponto de vista legal, a ação educativa não faz

discriminação entre a criança normal e o excepcional. Este direito é

assegurado em leis, tais como:

a) Artigo 88, da lei 4.024, de dezembro, de 1961, que fixa as Diretrizes e

Bases da Educação Nacional, e estabelece:

a educação de excepcionais deve, no que for possível, enquadrar-se no sistema geral da educação, a fim de integrá-los na

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Page 18: Biblioterapia   marília

comunidade.

b) A lei 5.962, de 1971, corroborando a anterior, preconiza que o

educando deve ser tratado com suas diferenças individuais, quando

diz, no seu Artigo 9:

[...] os alunos que apresentem deficiências físicas deverão receber tratamento especial de acordo com as normas fixadas pelos componentes dos Conselhos de Educação.

c) O 1º Plano Setorial de Educação e Cultura do MEC (19721974) com o

Projeto Prioritário nº 35, definiu como sua finalidade máxima:

[...] promover em ação coordenada, em todo território nacional, a expansão e melhoria de atendimento aos excepcionais fixando e implementando estratégias decorrentes de princípios doutrinários e de política que orientam a educação especial.

d) Normas do Centro Nacional de Educação Especial (CENESP),

quando estabelece que:

... a educação, do ponto de vista filosófico, fundamenta-se em valores éticos, sociais e em axiomas científicos que defendem o princípio doutrinário de que a função da Educação é valorizar cada novo homem, como indivíduo e como ser social. (IPSECD-72/74).

Em todas essas palavras está implícito o sentido universal da

Educação, englobando, portanto, os excepcionais.

e) A Declaração Universal dos Direitos do Homem, endossada pelo

Brasil, que garante indistintamente a todos, a educação, quaisquer

que sejam as origens ou condição social.

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Page 19: Biblioterapia   marília

f) A Declaração dos Direitos da Criança, também encampada pelo Brasil,

explicita, em seu quinto princípio, os direitos dos excepcionais, levando os

educadores em geral a assumir, conscientemente, a responsabilidade de

valorizar cada deficiente como indivíduo e como ser social.

Tentando sintetizar esta seqüência geral, cabe ressaltar a

necessidade de uma integração do deficiente visual junto à sociedade,

através de uma filosofia participante. Em trabalhos publicados, observa-

se que os primeiros movimentos independentes realizados por cegos

visam, à criação de fontes de trabalho e rendimento para os mesmos.

Isto ocorre por um motivo fundamental: o cego não preparado

profissionalmente pelas escolas existentes, sempre encontra dificuldades

para ser aceito nas empresas e sempre está à margem do sistema

produtivo do país.

Ora, os indivíduos sem profissão não têm condições psicológicas

e profissionais de pleitearem e conquistarem um trabalho, o que os

levaria a fundarem sociedades, que lhes possam propiciar certa

segurança. Investigando a história, tais sociedades produziram a

segregação de pessoas deficientes visuais, tomando-as muitas vezes

dependentes de grupos mais fortes, sem aquela real autonomia pela qual

lutavam. Ademais, a segregação dos cegos é um dos piores males a

impedir a sua integração social. Recentemente, surgiram novos

movimentos de associações que buscam, baseadas num novo espírito e

calcadas numa filosofia progressista, contribuir para um programa de

ação que realmente venha a culminar com a total integração dos cegos

às comunidades em que vivem, delas participando efetivamente. Através

destes movimentos reivindicatórios, cegos se reabilitam e se profissio-

nalizam, exercendo concretamente atividades, tarefas ou funções

compatíveis com as suas limitações, podendo, em conseqüência,

sustentarem-se, terem famílias, serem cidadãos capazes e responsáveis,

iguais aos demais.

Tecidas essas considerações, toma-se fundamental a afirmativa

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Page 20: Biblioterapia   marília

de que a sociedade deve receber o cego como ele vem. Várias entidades

comprovaram que, uma vez reabilitado, educado e profissionalizado, o

indivíduo sem visão é recebido para participar; se ele é apresentado ao

público apenas educado, mas sem profissão, é recebido para ser

admirado; se ainda for apresentado como indivíduo sem qualquer

preparo é recebido como ainda inválido para ser sustentado ou mantido

em obras de benemerência.

É evidente que muitos destes empecilhos são reconhecidos

universalmente, no que diz respeito ao deficiente visual; todavia, como se

sabe, o cego com aptidão e qualificação poderá no início, ser recebido

com restrição, mas, se após a oportunidade que obteve, corresponder à

expectativa, passará a ser acreditado, constituindodo-se este fato a sua

aceitação através do trabalho e, em conseqüência, a sua integração soci-

al.

Chega-se assim à convicção de que os entraves relativos à

integração social do cego residem, tanto na falta de preparo dos

mesmos, como no trabalho pouco objetivo das entidades e órgãos

responsáveis por sua preparação educacional e especialização. Na

verdade, a sua especialização profissional é a maior, responsável pela

sua aceitação na grande sociedade.

E conveniente ressaltar as dificuldades enfrentadas por muitas

das organizações existentes; todavia, sente-se também, e isto pode ser

comprovado, que elas têm uma instintiva reação a qualquer movimento

renovador que possa contrariar sua filosofia de ação. Entidades há que

rejeitam a cooperação e o trabalho paralelo, mantendo-se enclausuradas

dentro de princípios cujo valor integrador para o cego é muito discutível.

De uma realidade lamentável estamos seguros: de um modo geral, um

dos lugares onde o cego está menos integrado é na sua instituição ou

órgão precipuamente destinado a sua educação, reabilitação,

profissionalização e integração social. Aí, muito raramente, o cego

participa realmente daquele processo de socialização e de integração.

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Page 21: Biblioterapia   marília

Dentro de nossa análise, chegamos à percepção de que, apesar

da criação, pelo govemo, de órgãos destinados à aplicação de novas

técnicas e métodos na preparação de cegos para uma vida integrada,

não tem havido a evolução esperada de mentalidade dos educadores e

responsáveis pela política tiflológica que possa acompanhar o progresso

atual. Para a grande parte dos educadores brasileiros, o cego, enquanto

"educando", é um indivíduo apregoado como detentor de grandes

valores e possibilidades. Todavia, no momento em que o cego tiver de

participar de atividades sociais nas mesmas condições que as de seus

educadores, este sistema deve recebê-lo numa equipe de trabalho. Seria

mesmo aconselhável que se fizesse um levantamento para se constatar,

concretamente, o grau de aceitação a indivíduos deficientes de visão,

nos quadros de trabalho das próprias instituições especializadas, onde o

indivíduo foi reabilitado e educado. A experiência obtida dessa maneira

ofereceria grandes possibilidades de se ajustar o deficiente à função.

Outro aspecto a se considerar é uma legislação adequada à

integração social. Existem muitas leis criadas com esse propósito, sob o

impacto emocional, mas cujo cumprimento, nunca foi exigido, ou por

culpa dos próprios cegos ou de seus educadores. Cumpre ressaltar que

tal integração existe na legislação em alguns estados e municípios do

país. Essas leis permitindo o ingresso do indivíduo com deficiência visual

nos serviços públicos, não são, todavia, cumpridas. Sua execução

depende ainda da descoberta, na hora certa, de alguém que julgue que

elas devam ser cumpridas. Caso contrário, são LEIS FRIAS E MORTAS.

Nesse sentido, torna-se oportuno criar uma estrutura adequada que

venha a dar a necessária sustentação legal para que a sociedade seja

levada a reconhecer os direitos do cego. Na verdade, somente

dispondo-se de instrumentos jurídicos é que os seus direitos estarão

realmente garantidos.

É oportuno lembrar, considerando o acima exposto que, no caso

brasileiro, se a biblioteca não buscar superar as características que lhe

são atualmente marcantes, sobretudo em termos de elitismo e

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Page 22: Biblioterapia   marília

passividade, continuar-se-á a verificar a ausência dos cegos nos planos

governamentais e o nãodesempenho das suas verdadeiras funções na

Educação, Cultura, Informação e na Recreação.

Por outro lado, fatores como a linguagem, a locomoção

independente, as habilidades físicas e a coordenação motora geral,

alguns processos perceptíveis, maneirismos e, especialmente, reações

sociais à deficiência sensorial, situam os focos de dificuldades que uma

pessoa cega encontra para viver feliz, integrada, para participar

competitivamente da sociedade, e para usufruir dos seus recursos

potenciais. Estes são vários e abundantes, daí ser fundamental atender

devidamente a estas pessoas cegas, dando-lhes uma perspectiva futura

da realização pessoal.

Outro aspecto que deve ser considerado é ressaltado por Drog

citado por MELO. (47)

... a informação é uma necessidade do homem e ‘a necessidade de informação é contínua e permanente mesmo para o mais treinado dos especialistas’.

Acredita-se que se houver informação utilitária, lazer e técnica

biblioterapêutica de acordo com a necessidade desse estrato social, isto

irá oportunizar o ajustamento bio-psíquico, social e pedagógico da

clientela cega, atrayés de sua participação no programa de integração e

reintegração social, atendendo às necessidades de uma população

carente de tais serviços.

MELO (47) salienta a importância fundamental da informação:

Quando concebida como um recurso que afeta todas as áreas do conhecimento humano, quando bem utilizada por quem detém o poder decisório, pode contribuir para provocar transformações no campo social, político e econômico e conduzir ao processo de conquista de melhores condições de vida a nível individual e social.

22

Page 23: Biblioterapia   marília

Deve-se considerar fator primordial para a educação e cultura

das pessoas o acesso ao acervo cultural, sobretudo, através de livros.

Verificamos, no entanto, que a pessoa cega encontrar-se-à impedida

deste acesso se não lhe forem providenciadas as publicações especiais

impressas no sistema Braille. Assim sendo, esta providência é altamente

necessária, principalmente se levarmos em conta que o livro se constitui

num dos recursos de aprendizagem, aperfeiçoamento e distração, de

acesso tão fácil para as pessoas videntes e tão difícil para as pessoas

cegas que, na maioria das vezes, dependem de iniciativas isoladas,

quando contam com a boa vontade, interesse ou compreensão de

algumas pessoas.

1.2. Situação Mundial do Cego

Tão antiga quanto a própria Organização Mundial da Saúde é a

sua preocupação pelo imenso problema representado pela cegueira. E

foi a compilação de dados para fins de publicação em 1966, das

“Estatísticas epidemiológicas e vitais”, da OMS, que proporcionou uma

visão ampla do cenário mundial da deficiência visual. Quatro anos mais

tarde, a Organização enviou aos seus Estados-Membros um questionário

que possibilitou a atualização e o encaminhamento desses dados à

consideração da Assembléia Mundial da Saúde reunida em Genebra,

em 1972.

As cifras apresentadas a seguir podem fornecer uma idéia das

dimensões desse problema de saúde, embora se deva observar que os

índices citados se aplicam com freqüência a segmentos demográficos

relativamente limitados ou talvez se baseiem em distintos critérios, não

sendo, portanto, estritamente comparáveis entre si. É possível que, em

certos países e regiões, a situação tenha mudado bastante desde a

elaboração das cifras.

23

Page 24: Biblioterapia   marília

De significação especial é o fato de muitos países africanos

revelarem prevalência particularmente alta de cegueira, dado o número

relativamente alto de pessoas examinadas. Embora oscile, via de regra,

entre 150 a 300 por 100.000 habitantes, a prevalência de cegos naquela

Região é maior nos seguintes países: Etiópia (380-450); Quênia (1.050-

1.150); Malawi (724); Nigéria Setentrional (1.000); Camarões Setentrional

(684); Serra Leoa (952); Tunísia (450); Tanzânia, sem Sanzibar (569);

Uganda (1.842) e Zâmbia (500-750).

Em sua maioria, as causas de cegueira são oficialmente

“desconhecidas” ou “indeterminadas”, mas, para citar os exemplos do

Egito e da África do Sul, a causa principal é atribuída a doenças

infecciosas, vindo a seguir os acidentes.

Quanto às Américas, os índices de prevalência fornecidos variam

de 80 a 90 por 100.000 habitantes na Argentina e no Uruguai, a 969 em

Cuba. Nos Estados Unidos a prevalência é de 214, com uma população

cega total estimada em 385.000 habitantes. O Brasil e o México registram

prevalências comparativamente baixas de l47 e 101 e uma população

cega de 60.700 e 16.880, respectivamente.

Destaque para a edição do CORREIO SAÚDE (53), afirmando

que segundo a Organização Mundial de Saúde, quando a população

brasileira era de 130 milhões de habitantes, 13 milhões (10%) eram

indivíduos portadores de algum tipo de deficiência. Desses 5% (6,5

milhões) eram deficientes mentais; 2 % deficientes físicos; 1,3%

defIcientes auditivos; 0,7% deficientes Visuais e 1% portadores de

deficiência múltiplas. De um certo modo, ¼ de nossa população (25%)

está de certa forma comprometida intimamente com o problema da

defIciência, uma vez que o coeficiente populacional indica algo em tomo

de 4,2 pessoas por família.

Dos 13 milhões de deficientes, 4,3 milhões tem um atendimento

considerável e os 8,7 milhões restantes, são deficientes desassistidos

que não recebem, lastimavelmente, qualquer tipo de assistência.

24

Page 25: Biblioterapia   marília

A cada minuto, nascem 100 crianças das quais 20% morrem no

primeiro ano; 70% dos que sobrevivem, em virtude da fome e da

ausência de assistência médica, tomar-se-ão crianças subnutridas, as

quais estarão sujeitas a danos físicos e mentais. A fome associada à falta

de educação gera a miséria social que culminará em seu vértice, com a

deficiência.

Das causas determinantes das deficiências 22% são gênicas (5%

recessivas; 1% dominantes); 1% ligadas ao cromossomo X e 15%

poligênicas); 15% relacionados às alterações cromossômicas e 3% com

anomalias dos cromossomas sexuais. As causas ambientais (fome,

substâncias químicas tóxicas, radiações ionizantes e outras) perfazem

20%.; as doenças específicas (infecções, lesões cerebrais) 5%, causas

várias 15% e causas desconhecidas 23%..

Referindo-se também, a reportagem de SARMENTO (69)

dizendo que:

... a população de portadores de deficiência visual é de cerca de 0,5% da população de cada país ou localidade, o que representa, em termos de Paraíba, algo em torno de 20 mil pessoa e, destas 4 mil só em João Pessoa.

De acordo com REZEENDE, FIORAVANTE (56):

... 1% da população brasileira é deficiente visual (em milhões de pessoas). É do nosso conhecimento que possuímos uma população de 146.825.475 milhões de habitantes, conforme o IBGE de agosto de 1995.

Citam-se as doenças infecciosas como a causa mais importante

da cegueira na América Central, na Venezuela e na Argentina, seguindo-

se as oftalmias hereditárias e prénatais. As doenças infecciosas também

ocupam o primeiro lugar no Canadá e nos Estados Unidos, ao passo que

25

Page 26: Biblioterapia   marília

os acidentes são a segunda causa em importância no México e nos

Estados Unidos e a terceira na Argentina e no Canadá.

Confirmando-se os estudos, deve-se atentar para a similitude de

padrões na Ásia, onde as doenças infecciosas são a principal causa de

cegueira em praticamente todos os países, exceto no Japão, em que são

superadas pelos acidentes. O mesmo país informou existirem 248 cegos

por 100.000 habitantes. Em diferentes pontos do continente asiático, al-

guns dos índices mais altos de prevalência registram-se na Arábia

Saudita (3.000); Iêmen (4.000); Iraque (500-1.000); Paquistão (1.000); Sri

Lanka (470); República Democrática do Vietnã (428); Indonésia (239);

China (450) e Hong-Kong (1.392).

Na Europa, a prevalência varia de 51, na Bélgica, a 272 na

Islândia (embora atinja 647 em Gibraltar). Com relação a alguns dos

países maiores, as cifras são as seguintes: República Federal da

Alemanha, 60; França, 107; Grécia, 170; Hungria , l00; Itália, 200;

Holanda, 50-60; Polônia, 66; Portugal 93; Espanha, 56; Romênia, 77;

Suécia, 196; Suíça, 195; Inglaterra e País de Gales, 209 e Iugoslávia,

100. Na União Soviética, com população superior a 200 milhões de

habitantes, registrou-se um total de 179.317 cegos.

Em decorrência dos resultados, observa-se que entre as causas

de cegueira, as doenças infecciosas ocupam o primeiro lugar somente

em Malta. Na Europa, as condições hereditárias e pré-natais são as mais

importantes, seguidas de perto pelos acidentes, que são a causa

principal na Austria, Tcheco-Eslováquia, Dinamarca, República Federal

da Alemanha, Finlândia e Itália.

Na Oceania, a Austrália registra 222 cegos por 100,000

habitantes, e a Nova Zelândia, 135. Com exceção de Fidji, onde é de

1.190, a incidência na~ ilhas da Polinésia é inferior a 145. Na Austrália e

na Nova Zelândia, a causa principal vincula-se às condições hereditárias,

pré-natais e metabólicas degenerativas, seguidas, a considerável

distância, por infecções e acidentes.

26

Page 27: Biblioterapia   marília

Fazer uma estimativa do total de cegos no mundo é tarefa quase

impossíye1, porque as percentagens contidas nas estatísticas baseiam-

se principalmente em grupos limitados de cada comunidade nacional.

Mas as cifras extraídas do Questionário preparado pela OMS, em 1970,

revelam a existência de 8,5 milhões de pessoas reconhecidamente

cegas. Claro está que esse total é inferior ao verdadeiro e que, para

refletir a situação real com mais precisão, seria razoável estimar em l0 a

16 milhões o número de cegos no mundo. A visão de outros milhões é

tão precária que, para fins de educação, trabalho e assistência social, é

preciso considerá-las cegas. A menos que se comece a agir, esses

totais, que vêm aumentando, poderão duplicar nos próximos 25 anos.

Pode-se fazer nítida distinção entre as causas de cegueira no

mundo em desenvolvimento e nos países mais industrializados. Entre os

países em desenvolvimento, o tracoma, a oncoceríase e a xeroftalmia

são os três grande problemas de saúde relacionados à visão.

Somente de tracoma, calcula-se que há no mundo entre 400 e

500 milhões de casos, 120 milhões dos quais na Índia. Desses

pacientes, cerca de dois milhões são cegos. A oncoceríase afeta um total

de cerca de 20 milhões de pessoas, mas na bacia do Volta Superior, na

África Ocidental, que é a área mais afetada de uma população total de 10

milhões, há um milhão de vítimas e destas 70.000 são cegas. A xeroftal-

mia é causa importante de cegueira na Indonésia, em certas áreas da

Índia, em outros países da Ásia Ocidental, e em algumas partes da

América Central e da África. Acredita-se que há hoje pelo menos 100.000

pessoas cegas em consequência do mal.

Há hoje consenso geral de que, em países com baixo nível de

desenvolvimento econômico a produtividade é baixa, também tendo esse

atributo pessoas afetadas pela cegueira. O padrão de vida é baixíssimo,

o que não permite que os cegos consumam em maior escala. Percebe-se

deste modo que se pode fazer nítida distinção entre as causas de

cegueira no mundo em desenvolvimento e nos países industrializados.

27

Page 28: Biblioterapia   marília

Nos países industrializados, sobrevive o desenvolvimento

econômico, assegurando-se dessa forma padrões de vida mínimos, que

são continuamente ajustados para melhor. Isso implica no aumento das

atividades de atenção médica, educação e reabilitação, de equipamentos

especiais e de movimentos de caixa. Com o desenvolvimento

econômico, a maioria das ocupações toma-se mais especializada e

produtiva.

Em se tratando de países do Terceiro Mundo, em termos de

produção, os cegos contribuem menos para a economia e, em termos de

consumo, principalmente de serviços de saúde, exigem mais. Verifica-se

que as suas necessidades básicas referem-se a emprego, habitação e

assistência médica, num sentido amplo, e que, uma das dificuldades

neste sentido é a falta de informação.

Daí se constata a necessidade de informação dos cegos como

fator representativo para sua integração em um novo sistema social, e a

importância da participação da biblioteca é crucial nesse processo de

ressocialização, visto ser o seu objeto de atuação a própria informação.

MIRANDA (48), afirma que a:

... informação e o instrumento que seleciona e classifica os indivíduos em nossa sociedade, isto é, somos o que sabemos. Esta informação não se restringe em termos exclusivos de instrução escolar ou acadêmica mas, sobretudo, e acima de tudo, através do uso de informação para enfrentar os desafios da vida modera e para decidir entre as opções que essa luta pela vida nos coloca frente a frente.

É necessário, então, repensar nosso sistema de baixo para cima,

através de consulta à própria comunidade cega. Afinal de contas o que

está em jogo é a mudança da própria sociedade.

Convém sempre lembrar o pensamento de Carlos Castelo Branco

28

Page 29: Biblioterapia   marília

questionado por MIRANDA(48):

O que é fechado, no Brasil, não é governo. A sociedade é que é fechada e exclui de seu contexto e estrutura a esmagadora maioria da população. O governo apenas externaliza uma tendência histórico-cultural que só agora – e Oxalá seja de forma irreversível – dá mostras de cansaço e cede a novas formas de convivência e de gerência de Poder.

Pode-se aceitar, de acordo com MIRANDA(48)

... que as nossas bibliotecas são o espelho fiel de nossa desigualdades regionais, econômicas e sociais, explicando-se, dessa forma, que a maioria das bibliotecas brasileiras de todos os tipos (especializadas, universitárias, públicas, para cegos, escolares) encontram-se no triângulo Rio-São Paulo-Belo Horizonte e ao longo da costa atlântica.

Com a população brasileira ocorre o mesmo. As cidades mais

ricas recebem, consequentemente, os melhores serviços bibliotecários;

os acervos são cada vez mais pobres ou inexistentes à medida que nos

afastamos dos grandes centros econômicos. É mister afirmar que se

pretende uma melhor distribuição da riqueza e da renda nacional, será

necessário redistribuir as oportunidades de leitura de nossa população.

Do contrário, o sistema bibliotecário, ao invés de influir no avanço cultural,

limitar-se-á a perpetuar as atuais desigualdades.

Pode-se dizer finalmente que, onde não existe sistema educacional

desenvolvido, não há lugar para o livro. A biblioteca para os cegos deve,

pois, deslizar sobre dois trilhos: o do sistema educacional (socialização

da leitura) e o da busca livre da informação e do lazer, a democratização

da leitura enfim, visto que é necessário se ter um sistema educacional

voltado para a leitura como instrumento aberto de socialização.

29

Page 30: Biblioterapia   marília

II – HISTÓRICO DA BIBLIOTERAPIA

Neste capítulo temos a intenção de mostrar a origem, no tempo,

da Biblioterapia, narrando detalhes de sua história, seu desenvolvimento

e situação atual.

Uma revisão da história da Biblioterapia demonstra sua vitalidade

contínua. Mas, para entender a evolução da Biblioterapia na sua forma

comum atual e a de "leiturra direta" e "discussão de grupo", deve-se

tratar origens da Biblioterapia tanto dentro da Biblioteconomia como da

Psicologia.

A preocupação com a origem da Biblioterapia como idéia surgiu

em épocas remotas pois alguns povos já consideravam a leitura como

uma das melhores medidas terapêuticas no tratamento de doentes

mentais. Assim, foram descobertas em bibliotecas antigas e medievais,

inscrições sobre o valor terapêutico da leitura. Os gregos afirmavam que

suas bibliotecas eram repositário de remédio para o espírito, enquanto

que os romanos achavam que as orações poderiam ser lidas para

pacientes melhorarem sua saúde mental.

ROBERTS(57), afirma que, desde a antiguidade, os livros

especialmente as biografias, têm sido usadas transmitindo informações

sobre a vida, de geração a geração. Salienta que a Bíblia foi usada para

preparar jovens para a vida, fornecendo conforto e cura espiritual, em

circunstâncias trágicas. Assim a pessoa que, sofrendo por perda de um

ente querido, se volta para a Bíblia a fim de obter palavras de conforto,

está fazendo Biblioterapia pessoal.

Implicitamente formulada há milênios, sabe-se que Ramsés II,

faraó egípcio, mandou colocar no frontispício de sua biblioteca a

inscrição: “Remédios para a Alma". Entre os romanos do primeiro

século, vamos encontrar em Aulus Cornelius Celsus, palavras de

30

Page 31: Biblioterapia   marília

estímulo ao uso da leitura e à discussão dos preceitos dos grandes

oradores como forma terapêutica. TEWS(70) observa que na Roma do

primeiro século, a leitura e a medicina estavam associadas.

Inúmeras discussões são mantidas sobre as origens do termo

Biblioterapia, sabendo-se entretanto, que surgiu na América do Norte,

pelo menos na primeira parte do século SI~, em trabalho relacionando

biblioteca e ação terapêutica.

Como se vê, as primeiras experiências em Biblioterapia foram

feitas por médicos americanos de 1802 a 1853, os quais indicavam que,

uma das melhores receitas para seus pacientes hospitalizados, era a

leitura de livros cuidadosamente selecionados e adaptados às

necessidades individuais. O interesse aqui recai sobre a Biblioteca

Pública de Boston em 1853, que se revelou a maior Biblioteca Pública

daquela época, possuíndo uma postura assistencial o tempo todo.

Um estudo foi realizado por Benjamim Rush, numa conferência sobre a

Construção e Administração de Hospitais, proferida em 10 de novembro

de 1802, no qual lembra que para o divertimento e instrução dos

pacientes de um hospital, uma pequena biblioteca deve, por todas as

razões, ser parte do seu mobiliário. Recomendou também, dois tipos de

leitura, aquelas que fornecem entretenimento, consistindo os livros de

viagens, que ele considerava extremamente divertidos para os

convalescentes e para pessoa confinadas por doenças crônicas, e, a que

transmite saber, devendo versar sobre assuntos filosóficos, morais e

religiosos.

Outro aspecto de destaque é que, a partir de 1904, a

Biblioterapia passa a ser considerada como um ramo da Biblioteconomia.

Isso ocorreu quando uma certa bibliotecária, assumindo a direção de

uma biblioteca, em Massachusetts, resolveu fazer suas próprias

experiências, obtendo bons resultados.

No final do século XVIII, um número de instituições humanitárias,

notadamente, o Pinel na França, o Chiarugi na Itália e Tuke na Inglaterra,

31

Page 32: Biblioterapia   marília

procuraram melhorar o tratamento dos insanos. O método era oferecer

leitura como recreação.

Pelo começo do século XIX, essas reformas se espalharam pela

América. Até meados do século XIX, nos hospitais mentais e prisões

existia toda uma motivação religiosa na demanda de livros.

Por outro lado, há informações de que a Biblioterapia floresceu

recebendo um grande impulso, durante a primeira guerra mundial,

quando bibliotecários leigos, notadamente da Cruz Vermelha, ajudaram a

construir rapidamente bibliotecas nos hospitais do Exército. Desde aquela

época que o Bureau dos Veteranos dos Estados Unidos teve um grande

papel na Biblioterapia.

No século XIX, mudaram as atitudes dos acadêmicos em relação

à biblioteca, pois com o desenvolvimento do conhecimento, a

Biblioterapia adquiriu maior amplitude tomando-se profissionalizada e

especializada. Cumpre ressaltar que, para se entender a evolução da

Biblioterapia, em sua forma comum atual de leitura dirigida e discussão

do grupo, devemos nos aprofundar na Biblioteconomia e na Psicologia.

As décadas de 40, 50 e 60 produziram muito mais publicações e

algumas pesquisas significativas.

Contudo, é necessário ressaltar que debates sobre a ausência de

uma estrutura científica para a Biblioterapia tinham sido ouvidos por

vários anos, até que um esforço maior para colocar o assunto na

perspectiva própria, foi completado em 1949 na forma de uma

dissertação de doutorado: Biliotherapy: a Theoretical and Clinical –

Experimental Study, da autoria Caroline Shrodes, nos Estados Unidos.

Completando tal entendimento, é mister salientar que a

Biblioterapia freqüentemente evoca um ambiente hospitalar como ficou

constatado; entretanto, a tendência da Biblioterapia é atingir muitas

outras áreas do conhecimento.

32

Page 33: Biblioterapia   marília

Por volta de 1956, ROBERTS(70) assumiu um papel mais

agressivo no uso da literatura como técnica de aconselhamento. Durante

1960, começou a usar livros com os cegos para facilitar a vida

profissional das pessoas afetadas pela cegueira.

Uma revisão da história da Biblioterapia demonstra que a leitura

é fundamental, não importa se identificada como arte ou ciência Se os

Biblioterapêutas, no futuro, praticarem profissionalmente a Biblioterapia e

fizerem estudos detalhados e conscientes sobre seus livros, usando sua

imaginação e senso crítico, a Biblioterapia certamente irá prosperar para

o bem de todos os envolvidos.

2.1 Origens da Biblioterapia na Biblioteconomia

Essa habilidade Biblioterapia é uma aplicação refinada de uma

função normal de aconselhamento de leitura. Por sua vez, o serviço de

leituras promove o desenvolvimento de outras funções bibliotecárias.

No século XIX houve mudanças nas atitudes acadêmicas para

com a Biblioteca, que se tomou profissionalizante e especializada. Justin

Wilson, empregado pela Havard University em 1877, estabeleceu um

precedente quando abriu as prateleiras para os estudantes e permitiu a

circulação dos livros. Isso foi o começo do serviço de referência. Essa

primeira proposta para um programa real de assistência ao leitor havia

sido feita em 1876 por Samuel Sweet Green da Worcester Public Library.

Em 1883 a Boston Public Library, que era a maior Biblioteca

Pública da época, tinha um cargo de assistente em tempo integral. Ao

mesmo tempo, Melville Dewey, no Columbia College, estava tentando

adotar a idéia da Biblioteca Moderna de ajuda aos leitores.

A verdadeira frase Serviço de Referência foi primeiro usada para

substituir qjuda aos leitores e assistência aos leitores em 1891, no

Library Joumal. Por volta de 1900, o serviço de referência estava

disponível não apenas na Biblioteca Pública de Detroit, mas também nas

33

Page 34: Biblioterapia   marília

filiais. Em 1905, a Biblioteca Pública de Washington DC, estabeleceu o

cargo de anfitriã Bibliotecária, para guiar seus visitadores. Na época era

um cargo ligado à referência, mas em 1945, foi considerado um cargo de

circulação de leitores. Nos anos 20 e 30, o aconselhamento a leitores

vinha à frente da Biblioteconomia. Em fins dos anos 40, Flexner estava

desenvolvendo programas de leitura para grupos variados tanto a nível

local como nacional. Essa iniciativa de leitura, começada em 1931, é

precursora óbvia da Biblioterapia, pois ela desenvolveu listas de leitura

para adultos, em liberdade condicional, depois de entrevistar os

indivíduos envolvidos. Muitos dos serviços do aconse1hamento ao leitor

nos anos 40, foram integrados ao Departamento de Educação de Adultos

das Bibliotecas Públicas. Um dos exemplos mais conhecidos da

educação de adultos nos anos 40 é o programa de grandes livros,

desenvolvido na Universidade de Chicago em 194.5. Esse programa de

discussão baseava-se em livros oriundos do desenvolvimento da leitura

orientada terapeuticamente, que era o serviço chamado de Biblioterapia.

2.2 Origens da Biblioterapia na Psicologia

Para melhor compreensão do assunto, seria bom considerar aqui

que a história da terapia de grupo foi registrada em 1905, quando Dr.

Joseph Platt, de Boston, começou um grupo de aulas para pacientes

tuberculosos. .\Ias alguns grupos de terapia encontram suas origens nos

dramas gregos, nas peças medievais e em encontros religiosos, assim

como na Biblioterapia.

No começo dos anos 20, Alfred Adler advogou um Grupo

terapêutico nos terrenos político e econômico. Como um socialista, ele

sentia que a classe instrutora deveria ter acesso à terapia e que uma

abordagem de grupo seria a única forma financeiramente viável. Ele abriu

algumas clínicas em Viena, mas seu trabalho foi menos popular lá do que

34

Page 35: Biblioterapia   marília

nos Estados Unidos. Em 1926 tomou-se um professor na Universidade de

Columbia.

Outro pioneiro no campo foi Jacob Moreno que em 1931 criou o

termo Terapia de grupo. Moreno declarou que tinha usado a técnica em

Viena desde 1910. Eventualmente, seu trabalho tomou-se a base para o

treinamento dos Bethel Laboratories, em 1946, que por sua vez levou aos

modernos Grupos T.

O psiquiatra Maxwel Jones citado por RUBI(67) explica que foi

no limiar da Segunda Guerra Mundial que a Terapia de grupo realmente

floresceu.

A terapia de grupo na Grã Bretanha fez grandes progressos na Segunda Guerra Mundial por que um psiquiatra tinha mais sucesso com 20 casos em grupos do que com 4 em psicoanálise ... Acreditamos (mas não provamos) que os resultados descritos não podiam ser alcançados somente pela psicoterapia e hospitalização.

Outro aspecto a ser mencionado diz respeito a todos; os tipos de

psicoterapia, tanto individuais, como de grupo, que floresceram depois da

Segunda Guerra Mundial. . A guerra e suas consequências trouxeram

muitas mudanças, incluindo novas; terapias, porque a terapia individual

não foi capaz de suportar novos pacientes criados pela guerra.

Não é coincidência que a Segunda Guerra Mundial, na era de

1939-1943, também produziu trabalhos significativos no campo da

Biblioterapia. Os bibliotecários estavam ocupados servindo a pacientes

em hospitais e a veteranos nas ruas. Por volta de 1930, mais de 400

artigos de jornais sobre Biblioterapia foram publicados. De 1930 a 1960,

mais de l00 artigos haviam sido publicados, apenas tratando da

Biblioterapia para adultos, em pacientes hospitalizados. 2/3 das

publicações no campo, durante a década, foram publicados em jornais

35

Page 36: Biblioterapia   marília

nãomédicos. De 1960 a 1973, 193 artigos, mais 32 dissertações e

estudos de pesquisas foram publicados. Dos 131 artigos de 1970 - 1973,

330 o apareceram em jornais bibliotecários e 65% em periódicos de

outros campos tais como Enfermagem, Terapia Ocupacional: Psiquiatria

e Educação. Biblioterapia é claramente e deve ser desenvolvida como

uma atividade interdisciplinar.

Para uma visão geral sobre a opinião e a prática da Biblioterapia,

durante as quatro décadas passadas, é útil rever os levantamentos. Até

agora, pelo menos dois levantamentos particulares e três levantamentos

da American Library Association Bibliotherapy Committee foram

preparados, usados e analisados conforme quadros a seguir:

36

Page 37: Biblioterapia   marília

Figura 1

Raízes da Biblioterapia em Grupo

Fonte: Extraído do RUBIN, Rhea Joyce(67)

Na BiblioteconomiaEducação Bibliotecária Serviço de Grupo

de Adulto

Serviços de Biblioterapia deReferência grupo

Guia de Leitura Biblioterapia Individual

Na Psicologia

Dinâmica de Grupo

Piscoanálise Psicoterapia de Biblioterapia de Grupo Grupo

Terapia de Grupo

37

Page 38: Biblioterapia   marília

Figura 2

Raízes da Biblioterapia, com suas datas importantes na

Biblioteconomia, nas Ciências Humanas, na Psiquiatria e nas Ciências

Comportamentais.

38

Page 39: Biblioterapia   marília

Mostraremos agora que, em abril de 1956, a Bibliotherapy

Committee do então Hospital Libraries Division of ALA, sob a orientação

de Margaret Hannigan, conduziu uma pesquisa para mostrar a natureza e

extensão dos serviços de Biblioterapia desenvolvido pelos membros do

Hospital Libraries Division.

Em junho de 1961, a ALA Bibliotherapy Committe, dirigida por

Ruth Tews, conduziu um estudo para determinar o pensamento corrente

de um grupo selecionado de indivíduos engajados e interessado em

Biblioterapia e que possuíam conhecimento do potencial para o uso da

leitura de maneira terapêutica. O objetivo era obter do grupo um

consenso do que fosse Biblioterapia e do que ela poderia fazer; também

se deseja oferecer uma base para a formulação de uma definição.

A terceira pesquisa feita pela ALA Bibliotherapy Committe,

conduzida em 1975, também usou o programa com duas finalidades.

Todas essas pesquisas refletem as filosofias e práticas da

Biblioterapia durante os últimos trinta anos. Essas tendências tem

influenciado práticas mecânicas e dinâmicas de Bibloterapia.

Reportando-se ao pensamento de HANNIGAN (32) diz que a

Biblioterapia é um acesso, a longo prazo, aos serviços bibliotecários,

usados para fins terapêuticos. No seu artigo da revista Libraly Trends

afirma que "a Biblioterapia é uma refinada aplicação das funções normais

do biblioterário como conselheiro do leitor". Os serviços dos leitores se

desenvolvem fora de outras funções das bibliotecas.

Constata-se que, nos anos 70, muito tempo foi consumido para

oferecer uma ampla base do desenvolvimento da Biblioterapia como

campo, incluíndo os programas de compreensão do assunto.

Ressalte-se a importância do maior investimento durante os anos

80, com relação aos padrões e certificados para biblioterapeutas

treinados. Questões teóricas estão sendo consideradas, assim como

necessidades de pesquisas e métodos sendo identificados e tentados.

39

Page 40: Biblioterapia   marília

E de se prever que a ALA, na década de 80, particularmente

através de seu ALA Bibliotherapy Committe, continue desenvolvendo

estudos e pesquisas que venham a ter, cada vez mais aplicação, na

solução de problemas de comunidade.

Concluíndo essa parte, reconhecemos que a Biblioterapia

proporcionará ao educando a formação necessária ao desenvolvimento

de suas potencialidades.

40

Page 41: Biblioterapia   marília

III – ORIGENS E TERMINOLOGIA DA BIBLIOTERAPIA

A crescente literatura estrangeira sobre Biblioterapia, e

principalmente a sua conceituação vem influenciando os bibliotecários

brasileiros que também começam a se ocupar do tema.

Considera-se a palavra Biblioterapia, como oriunda do grego,

significando “Biblion” - livro e “Therapia” - tratamento. Em estudos

recentes reconhece-se SamuelMecbord Grothers como o criador da

palavra em 1916, em artigo publicado no Atlantic Monthy existindo ainda

confusão sobre essa terminologia.

O termo Biblioterapia não foi inteiramente aceito. Muitos disseram

que era uma designação muito ampla e sugeriram termos mais restritos

como biblio – diagnostico para avaliação, ou bibliofilaxia como o uso

preventivo pela leitura.

Outros achavam que a nomenclatura era muito restrita e sugeriam

Bibliogomia, Biblioconselho ou Terapia Bibliotecária. Os termos tem

aplicações mais amplas porque não são limitados pela palavra Terapia.

Terapia de grupo tutelada e Literapia tem também sido usadas para

evitar o prefixo Biblio. Como diz o Dr. Michael Shiyo, o nome Literapia,

formado por literatura e terapia, foi escolhido, principalmente para

ressaltar suas diferenças do nome mais popular Biblioterapia que foi

considerado extremamente vago e sem significado. O abuso do termo

Biblioterapia atinge toda e qualquer combinação de temas relacionados

com livros e com grupos de pacientes. Literapia tenta enfatizar a

tendência literária – imaginativa, mais do que simplesmente estudo

didático, informativo e também, apresentar a literapia como BONA FIDE,

método da primeira qualidade da psicoterapia, ao invés de uma função

padronizada, relegado a bibliotecários.

Outro termo relacionado de perto à Biblioterapia é Bibliotecário -

Conselheiro. Em 1951 a Uniyersity of Illinois Chicago UIC substitui o

41

Page 42: Biblioterapia   marília

Library's Reference Department pelo Department of Library Instruction and

Adrisement e planejou implantar Educação geral, Instrução de Biblioteca

e um Conselho Estudantil. Quatro bibliotecários foram escolhidos para se

tornarem Bibliotercários-Conselheiros, participando dos cursos de

treinamento do Departamento UIC. Eles deveriam ser bibliotecários

rigorosamente selecionados, treinados e experientes, com personalidade

especial e qualificações, incluindo Referência, Ensino, Habilidade de

liderança de grupos e Execução de programas de desenvolvimento

cuidadosamente planejados.

Bibliotecáriosos - Conselheiros treinados deveriam ser capazes

de fazer muito para encorajar os leitores a aplicar livros para si próprio

através da extensão dos tipos existentes de serviços bibliotecários. O

melhor serviço de referência encontra-se comumente no

aconselhamento, mas sua principal preocupação é com a transmissão da

informação e solução de problemas mais ou menos imediatos. O trabalho

de aconselhamento dos leitores e da Biblioterapia, com as atenções

voltadas para as necessidades dos indivíduos, geralmente aproxima-se

do aconselhamento psicológico.

Rubakin., um grande escritor russo, criou uma teoria de leitura

que chamou de Bibliopsicologia, formulada em 1916; publicou em dois

volumes: Introdução â Bibliopsicolologia, em 1922; naquele ano. seu

Instituto de Bibliopsicologia mudou-se de Genova para Lausanne. (Esses

fatos estão incluídos numa fascinante biografia de Rubakin escrita pelo

seu filho, inserida num livro recente sobre Bibliopsicologia). O próprio

Rubakin escreveu 70 artigos sobre Bibliopsicologia (1921-19-1-6).

Rubakin citado por RCBI:\:(6S) indica que:

Um livro, como material-objeto será precedido diferentemente por pessoas diferentes. Na nossa visão quando o livro está sendo lido, ocorre um fenômeno subjetivo psicológico baseado nas nossas impressões que o organismo psicofísico do

42

Page 43: Biblioterapia   marília

leitor recebe dele como objeto externo. Se o organismo do leitor tiver que se submeter a alguma mudança, o mesmo livro parecerá diferente para ele. Portanto o próprio livro como fenômeno independente do perceptor é uma entidade desconhecida... O leitor não considera o fenômeno psicológico como evocado pelo texto. Ele atribui ao livro que é um material objeto.

Rubakin sentiu que esta teoria deveria causar mudanças nas

atitudes e métodos do bibliotecário. Assim deveriam voltar suas

atenções, do livro, visto como inerte, para a vida interior da personalidade

humana. E o seu leitor que cria, constrói e combina; o livro não passa de

um instrumento. O bibliotecário que não entender isso poderá converter a

melhor biblioteca num cemitério de livros.

Dos muitos termos utilizados para "Biblioterapia", alguns foram

aplicados a novos. campos, mas a maioria surgiu por causa de

reclamações de que o termo era restrito e vago demais.

O prefixo Biblio também é muito limitado nos dias atuais. Todos

os tipos de material audiovisual poderiam e deveriam ser usados.

O sufixo terapia também parece uma escolha errada num tempo

em que técnicas de terapia estão proliferando. Biblioterapia não é

psicoterapia. A. palavra terapia origina-se da palavra grega para cura. No

entanto, Biblioterapia não se restringe ao contexto cura, mas vale

também como descoberta do sentido verdadeiro do mundo.

A meta da Biblioterapia deveria ser vista internamente e ser

compreensível. É importante que os biblioterapeutas estejam conscientes

do poder que podem engendrar no cliente. Uma demonstração do poder,

por uma pessoa incapaz, manifesta-se através de uma crise nervosa ou

na realização de um crime. Agindo, ele ou ela pode chamar atenção e

simpatia e isto indica poder sobre outros. Quando a pessoa, na terapia,

aprende sobre o motivo de seu comportamento, aquele poder é

43

Page 44: Biblioterapia   marília

geralmente removido. Qualquer terapia de efeito deve substituir o poder

destrutivo por um outro poder novo e construtivo da visão interna e

compreensiva.

A Biblioterapia e outras atividades terapêuticas ativas ajudam os

clientes a apreciar suas atividades na dança, na arte ou na compreensão.

A palavra terapia pode também ter conotação política,

relacionada a objeção. A política de terapia tradicional interpessoal toca

numa situação que envolve um paciente e um terapeuta - um recebendo

e outro prescrevendo.

Michael Glenn, um terapeuta radical, declara que terapia hoje é

uma relação poderosa entre pessoas – uma para cima outra para baixo;

ajudante e ajudado.

A grande vantagem da Biblioterapia é que até uma certa

extensão, o livro ou outro material faz o trabalho pelo terapeuta.

Biblioterapeutas ou outros líderes de grupo, escolhem o material, mas os

clientes individuais interpretam isso, primeiro como elemento fora do

terapeuta e deles mesmos, depois integram os ensinamentos em si

mesmos.

A Biblioterapia de grupo utiliza não apenas o material, mas o

próprio grupo para facilitar o çrescimento individual a fim de que a tensão

terapeuta - cliente seja confortável. .

A política da terapia é evidente tanto nos níveis pessoal como

interpessoal. Terapia deveria significar mudança, não simplesmente

ajustamento, mas, como explica Seymom Hallek, o processo terapêutico

encoraja o paciente a tentar mais mudar a si mesmo do que ao ambiente.

Na maioria das formas de psicoterapia individual o paciente é geralmente

solicitado a examinar seu próprio sentimento e atitudes. Ele também

aprende como o ambiente afeta estes sentimentos e atitudes, mas a

principal ênfase é colocada na forma com que ele possa alterar sua

percepção e reação ao seu ambiente. Quando o paciente se concentra

no que é considerado como sua própria inadequação, ele é chamado

44

Page 45: Biblioterapia   marília

para ajustar-se e pode tomar-se resignado ao ajuste e ao ambiente

opressivo. Aceitação pode ser um meio de se fugir à responsabilidade,

mas pode também ser uma meta. Um paciente que aprenda a aceitar a

incapacidade física é um bom exemplo do caso.

A definição de terapia como cura, o poder interpessoal e a

estrutura da terapia, posições exaltadas por médicos na nossa

sociedade, causam nos bibliotecários o temor a qualquer atividade

denominada Terapia. Outros se preocupam com as ramificações políticas

da terapia. Em qualquer dos casos, parece que a terminologia aliena as

pessoas, não a atividade de usar literatura para atingir uma visão interna.

Os bibliotecários deveriam abordar a Biblioterapia mais como atividade

recreacional e ocupacional do que como uma atividade terapêutica que

possa fazer parte de um programa médico ou que sirva como caminho

possível para uma atualização individual.

45

Page 46: Biblioterapia   marília

IV – CONCEITUAÇÃO E DEFNIÇÕES DA

BIBLIOTERAPIA

A Biblioterapia assume um importante papel na sociedade

moderna. Esta assertiva é baseada em vários estudos que têm

demonstrado como a Biblioterapia, ao longo do curso da história, vem

ocupando uma parte da organização social que cresceu e se diversificou

para atender às mudanças e necessidades psicossociais.

No dicionário "DORLAND’S ILLLUSTRATED MIEDICAL

DICTIONARY" (1941), sob a yerbete Biblioterapia, está a seguinte

defInição: "emprego de livros e de sua leitura no tratamento de doenças

mentais". Informações apresentadas anteriormente todavia, demonstram

que a palavra já havia sido usada desde 1815.

Por outro lado, o primeiro dicionário não especializado a registrá-

la foi o WEBSTER'S THIRD NEW INTERNATIONAL DICTIONARY,

(1961), que a definiu "uso de material de leitura selecionada como

adjuvanre terapêutico em Medicina e Psicologia, e também como "guia

na solução de problemas penais através da leitura dirigida", informando

que a palavra foi adotada especialmente pela ASSOCIA TION OF

HOSPITAL AND INSTITUTION LIBRARlES dos Estados Unidos.

No mesmo ano acima referenciado, o dicionário Random House

definiu-a como:

“O uso da leitura com adjuvante na

terapia”

É necessário relatar o ponto de vista de BUONOCORE(17) no

seu Dicionário de Biblioterologia quando afirma que a Biblioterapia é a

"arte de curar as enfermidades por meio da leitura". No entanto, é válido

46

Page 47: Biblioterapia   marília

esclarecer, que outras definições são encontradas em autores diversos,

bibliotecários, educadores, médicos e psicólogos, apresentando suas

próprias impressões e interpretações.

A esse respeito Moore & Breland citado por TEWS(70), define a

Biblioterapia como uma atividade interessante e desafiante para o

Bibliotecário, uma vez que põe vida na palavra impressa, podendo o seu

impacto sobre uma personalidade individual ter efeito curativo.

TEWS(70) defimiu-a, com maior profundidade referindo-se a:

Um programa de atividade selecionadas envolvendo materiais de leituras, planejadas, conduzidas e controladas como um tratamento, sob orientação do médico, para solução de problemas emocionais ou outros.

Um Psiquiatra conceituou-a como:

"O uso consciente e deliberado de materiais de leitura com o propósito de alargar ou dar suporte ao programa terapêutico como um todo, conforme ele se relacione a um paciente particular ou, em alguns casos a um grupo mais ou menos heterogêneo de pacientes.

Outra bibliotecária considerou-a "Um programa planejado de

leitura ou de atividades de leitura, para um paciente individual ou para um

grupo de pacientes".

Outra bibliotecária subdividiu a Biblioterapia em explícita e

implícita. Esses termos foram originalmente usados para distinguir outras

terapias, porém Evelane P. Jackson, adaptou-os à Biblioterapia. À terapia

implícita é um recurso utilizado pelos conselheiros de leitores, enquanto

que a explícita é feita apenas por um terapeuta treinado.

Recomenda-se atenção especial para essas definições:

47

Page 48: Biblioterapia   marília

"A Biblioterapia individual é um refinamento de orientação do leitor enquanto que a Biblioterapia em grupo é um híbrido campo de Psicologia e Bibioteconomia usando sessões e discussões como modalidade terapêutica

Considerando-se todas essas observações, parece relevante

ressaltar o posicionamento de PERElRA(52) ao afirmar que cada uma

dessas definições representa um ponto de conflito entre as pessoas

envolvidas na Biblioterapia. Por exemplo, a Biblioterapia dos anos 30 era

centrada em hospitais, com doentes mentais que precisavam de

informações sobre suas doenças e sobre suas implicações; o instrumento

de terapia era a leitura didática usada por um grupo de médico e bi-

bliotecários. Hoje em dia, há um interesse renovado na educação de

pacientes que preencham um modelo geral. O uso de Biblioterapia se

espalhou nos contextos da educação: grupo de crianças normais

participando de sessões, usando literatura criativa, dirigidos por um

professor ou bibliotecário. Atualmente a Biblioterapia é usada por

bibliotecários públicos com dois grupos de adultos: os normais e os

perturbados.

BRYAN(15), em 1939, escreveu um artigo Pode haver lima

ciência da Biblioterapia? Ela respondeu sua própria pergunta

afirmativamente: Sim, pode haver. No entanto, ela acrescenta que o

campo precisava de um corpo de dados de pesquisadores

cientificamente treinados antes que pudesse ser considerada uma

ciência. Desde aquele tempo tem havido um debate contínuo se a

Biblioterapia é Arte ou Ciência. Uma maneira de lidar com essa pergunta

é separar o conceito de Biblioterapia em duas partes e chamar a primeira

um aspecto de Ciência e a outra de Arte.

Brown citado por HORNEO(34) usa essa abordagem quando

sugere que:

48

Page 49: Biblioterapia   marília

"... essa prescrição de leitura no tratamento de doença mental ou física pode ser vista como a ciência da Biblioterapia e onde se tenta remediar defeitos pessoais de ajudar indivíduos a resolver problemas de pessoas através de sugestões de leitura própria através da bibliotecária ou outro indivíduo, de fora do campo médico, pode ser visto como arte da Biblioterapia.

Essa afirmação também é confirmada no Dicionário Webster.

Para muitos, o problema vital não é a procura de uma definição,

nem mesmo os problemas de ser a Biblioterapia uma Arte ou uma

Ciência.

Em seus estudos BEATIY(12) afirma que:

"A leitura é importante, não importando se é identificada como uma ‘arte’ ou como uma ‘ciência’.

Neste contexto é importante esclarecer a opinião de um

psiquiatra que respondeu a um questionário dizendo que o problema não

é simplesmente definir o que a Biblioterapia é, mas fornecer uma

abordagem mais criativa para reconhecer as necessidades existentes e

conduzir tipos de Biblioterapia que sirvam a essas necessidades.

Os comentários aqui focalizados demonstram que a Biblioterapia,

na prática e na discussão, permanece um assunto complexo. É evidente

salientar que, no presente, as observações relacionadas com a

Biblioterapia indicam um interesse vasto, apesar de algumas limitações

claramente definidas e de contínuas confusões. Cumpre ressaltar que a

Biblioterapia não está restrita a médicos e bibliotecários em hospitais e

instituições.

49

Page 50: Biblioterapia   marília

V – TIPOLOGIA E SUBDIVISÕES DA BIBLIOTERAPIA

No decorrer da história da civilização, pode-se verificar que

Lourell Martin citado por TFWS (70) deixou uma mensagem central para

o futuro da Biblioterapia.

A pesquisa produz conhecimento. O conhecimento é necessário para o entendimento. Entendimento combinado com habilidade levam a uma ação efetiva.

Dentro desta proposição não é possíve1 planejar Biblioterapia.

em nenhum de seus aspectos sem um adequado referencial quanto às

suas características.

De um modo geral os especialistas concordam com a existência

de três tipos de Biblioterapia

a) Biblioterapia Institucional

b) Biblioterapia Clínica

c) Biblioterapia Desenvolvimental

a) Biblioterapia Institucional se refere a que de literatura - primeiramente

didática - com clientes, individualmente. e que já se encontra

instituciunalizada. I nc1ui o uso médico tradicional de Biblioterapia

cujos textos de higiene mental são recomendados a pacientes

mentais. Isso caracteriza uma situação especial de prescrição de

litros para doenças específicas. Este tipo de terapia é exercido por

uma bibliotecária juntamente com um médico ou uma equipe médica.

A meta é principalmente informativa e recreativa, embora algum

material interno possa ser oferecido. Este, tipo de Biblioterapia não

prevalece hoje, mas alguns programas semelhantes ainda existem. A

Biblioterapia institucional também inclui o uso da comunicação dos

médicos com pacientes individuais, em prática privada.

50

Page 51: Biblioterapia   marília

b) Biblioterapia Clínica - É a que se refere ao uso, numa primeira fase,

da literatura imaginativa, com grupo de clientes com problemas

emocionais ou comportamentais. Esses clientes podem ou não

participar do programa voluntariamente. Os grupos podem ser

liberados por um médico ou por um bibliotecário, mas geralmente são

implementados por ambos, um consultando o outro. O ambiente pode

ser um instituto ou uma comunidade, objetivando uma possível

mudança no comportamento.

c) Biblioterapia Desenvolvimental - Refere-se ao uso de literatura de

modo imaginativo e didático com grupos de indivíduos normais. O

grupo de Biblioterapia é designado e liderado pelo bibliotecário,

professor ou outro profissional ajudante, para promover o

desenvolvimento normal e autoatuação ou para manter a saúde

mental. A Biblioterapia desenvolvimental pode ajudar pessoas em

tarefas comuns, além de ajudá-las a suportar problemas individuais

como divórcio, gravidez, morte e preconceitos, com refinamento das

tarefas desenvolvimentais.

As distinções entre esses três aspectos da Biblioterapia têm

implicações para uma Biblioterapia dinâmica e são importantes para a

discussão da educação e conscientização do seu valor. Observe-se a

característica comum aos três tipos e discussão do material após a

leitura.

51

Page 52: Biblioterapia   marília

Figura 3

Características dos três tipos de Biblioterapia

INSTITUCIONAL

CLÍNICA DESENVOLVIMENTISTA

FORMATIVO Individual ou Grupo geralmente passivo

Grupo ativo, Voluntário e Involuntário

Grupo ativo

Grupo voluntário

CLIENTE Paciente médico ou psiquiátrico, prisioneiro ou cliente em prática privada

Pessoas com problemas emocional ou comportamental

Pessoa normal geralmente em situação de crise

CONTRATANTE

Sociedade Sociedade ou individual

Individual

TERAPÊUTICA Equipe médica ou bibliotecária

Médico, instrutor de saúde mental ou bibliotecário, geralmente em consulta

Bibliotecário, professor ou outros

MATERIAL USADO

Tradicionalmente didático

Literatura imaginativa

Literatura imaginativa e/ou didática

TÉCNCIA Discussão de material

Discussão de material, com ênfase nas visões e reações do cliente.

Discussão de material com ênfase nas visões e reações do cliente.

LOCAL Prática de instituição pública ou privada

Prática de instituição privada ou de comunidade

Comunidade

META Geralmente informativo, com alguma visão interna.

Visão interna e/ou mudança de comportamento

Comportamento normal e auto-realização

52

Page 53: Biblioterapia   marília

VI – OBJETIVOS DA BIBLIOTERAPIA

A Biblioterapia constitui assim um apoio à ação das pessoas

que estão interessadas na orientação de leitura e que não procuraram ou

podem não precisar de cuidados clínicos. Essa orientação consiste em

promover encontros efetivos entre pessoas e livros, e é tida como parte

da tarefa do programa educacional da biblioteca.

Há de se acrescentar que nem sempre os usuários reais ou

potenciais da Biblioteca têm hábitos bem estabelecidos de leitura, pois

vêm de cursos secundários com limitações comportamentais a este

respeito, como se pode comprovar a partir dos dados de LOPES(42).

Face a essas circunstâncias e às ponderações arroladas na parte

introdutória, aparecem formulados alguns objetivos da Biblioterapia

indicados a seguir.

BRYAN(15), apresenta uma lista de cinco objetivos: a) evidenciar

para o leitor que ele não é o primeiro a sentir o problema; b) fazer ver ao

leitor que existe mais de uma solução para o seu problema; c) ajudar o

leitor a ver os valores el1Yolvidos na sua experiência em termos

humanos; d) oferecer fatos necessários para a solução do seu problema;

e e) encorajar o leitor a encarar realisticamente o seu problema.

KENNETH(37), ao abordar o assunto, mostra qual tem sido a sua

preocupação, mencionando que a Biblioterapia pode SeI usada "como

meio de aquisição de informação e conhecimento sobre psicologia geral

e psicologia do comportamento humano; a leitura pode ser necessária

para capacitar o indivíduo a viver o tema "conhece-te a ti mesmo". A

leitura pode ser aconselhada para extroverter o paciente e aumentar seu

interesse por outra coisa fora de si próprio. Outros propósitos podem ser:

elevar o interesse e conhecimento de realidades externas ou efetuar um

fluxo controlado do processo inconsciente ou ainda oferecer

53

Page 54: Biblioterapia   marília

oportunidades para identificação e compensação. Seu objetivo final é

ajudar aos pacientes a viverem mais efetivamente.

Gottschalk ressalta, num trabalho de BEATTY(12) algumas

informações sobre a Biblioterapia, mencionando que a leitura prescrita

pode ajudar os pacientes a entenderem melhor suas próprias reações,

conflitos e frustrações psicológicas e fisiológicas. Por outro lado, pode

ajudar a estimular o paciente a pensar construtivamente entre as

entrevistas, possibilitando a auto-análise, amenizando futuras atitudes e

padrões de comportamento. E continua mostrando que a leitura reforça,

por percepções e exemplos, nossos padrões sociais e culturais, inibindo

padrões infantis de comportamento. Finalmente, enfoca a importância

que se deve dispensar à leitura porque ela, dessa maneira estimula a

imaginação, dando enorme satisfação ou alargando as áreas de

conhecimento. do paciente.

ALSTON(6), esclareceu alguns objetivos, destacandose os

seguintes: “O paciente encontrará coragem para entrar em terapia ou

discutir um problema particular depois de ler sobre determinado assunto”,

mostrando que os livros podem ser usados para ajudar os pacientes a

obterem maior compreensão. sobre seus problemas, adquirindo

linguagem e idéias que lhes permitem comunicarem esses problemas. A

leitura de livros pode ajudar o paciente no processo de socialização,

oferecendo algo que ele possa compartilhar, possibilitando a troca de

idéias com outras pessoas; geralmente, as pessoas podem encontrar no-

vos caminhos e atitudes através dos livros. Finalmente, existe um valor

terapêutico de bom relacionamento e diversão que pode ser encontrado

nos livros, embora não se tenha dado muito valor a isto.

Menninger citado por BEATTY(12), um dos pioneiros que

detalhou os benefícios da Biblioterapia, procurou dividí-los em

identificação, estímulo e gratificação narcisista. Mostra .como a

experiência de um livro pode ocasionar uma aberração de emoção,

alívio pelo reconhecimento de que outros têm problemas similiares, ou

54

Page 55: Biblioterapia   marília

projeção de suas características no caráter. Se o usuário é estimulado a

comparar suas idéias e valores com as do autor, isso pode resultar em

mudança de atitude. O autor também procura evidenciar que o leitor

pode alcançar gratificação narcisista, escapando de seus conflitos

através de fantasias, fazendo contato com a realidade, ou inquirindo

conhecimentos através de leitura didática.

55

Page 56: Biblioterapia   marília

VII – O BIBOIOTECÁRIO COMO BIBLIOTERAPEUTA

7.1 Biblioterapeuta: Revisão de Literatura

No ambiente de uma Biblioteca, uma figura-chave é a do

bibliotecário. Por esta razão, e considerando os objetivos desta pesquisa,

faz-se mister apresentar algumas reflexões sobre o papel do Biblio-

terapeuta.

A propósito, vale, mencionar a observação de HORNE(34), para

quem o livro é, ele mesmo, um terapeuta. Os livros podem ser

ferramentas valiosas e poderosas para a comunicação, quando prescritos

cuidadosamente para indivíduos que estão perturbados.

A leitura reflete as experiências humanas de todas as épocas e

lugares, e portanto, dá acesso aos registros de vidas, atitudes e

sentimentos. Por outro lado, vários mecanismos são postos em

funcionamento quando existe uma interação entre um leitor e um livro.

Um leitor pode identificar-se com um personagem ou com

experiências específicas num livro e ser capaz de purificar-se de

sentimentos ou pensamentos reprimidos. O leitor também pode ganhar

com a leitura, tomando-se capaz de recuar e aceitar a realidade mais

prontamente. Ao ler e aprender que um problema não é único, o

problema parece menos amendrontador. O leitor pode conseguir um

sentimento de universalidade, com a percepção de que não está sozinho

com seus problemas no mundo e de que pode também ajudar a reduzir

os sentimentos de inferioridade porventura existentes.

Constata-se que a leitura tem uma vantagem sobre a

comunicação humana direta porque não é tão intensiva como a palavra

falada. Um livro é Muito menos ameaçador, muito menos exigente, e

ainda assim pode oferecer muito no sentido de comunicar situações

humanas e permitir ao leitor aplicá-las à sua própria realidade.

Entretanto, faz-se mister afirmar que o bibliotecário não é um

56

Page 57: Biblioterapia   marília

anjo, servindo aos desafortunados doentes e nem uma figura autoritária e

ameaçadora. Ele é, ou deveria ser, um instrutor profissional

amadurecido, responsável, realizando competentemente uma tarefa

importante.

Estudos sobre a importância do bibliotecário foram apresentados

por Menninger, no artigo de HORNE(34), delineando as possibilidades

tanto do médico como do bibliotecário no programa de tratamento. Ao

médico caberia a responsabilidade de indicar o conteúdo da

biblioteca, elaborar uma lista semanal de leituras determinadas para os

pacientes, registrar seus hábitos de leitura, e manter discussões com o

paciente sobre leituras terapêuticas. Ao bibliotecário seriam delegados: a

mecânica de aquisição, manutenção e distribuição de livros; o conheci-

mento pessoal dos livros emprestados aos pacientes; as entrevistas com

os pacientes a respeito de reações às leituras prescritas; os relatórios

sobre êxitos de comentários dos pacientes com relação às leituras.

ALSTON(6), dividiu as responsabilidades do médico e do

bibliotecário na Biblioterapia da seguinte maneira: o médico deveria

saber o que esperava alcançar com a leitura prescrita, sumarizar os

mecanismos psicológicos básicos do paciente e indicar que tipo de

leitura seria de beneficio e qual outro seria indicado para o paciente. Aos

bibliotecários caberia a elaboração de uma lista do material comumente

usado em Biblioterapia, conhecimentos de enredos e problemas tratados

na literatura e .disposição de observar inteligentemente e avaliar as

reações do paciente e/ou as mudanças de comportamento.

O papel do bibliotecário, como foi descrito por Menninger em

Alston, é o que HANNINGAN(32), consideraria o de um farmacêutico,

conforme explícita. Nele, o bibliotecário preenche as ordens do médico

sobre livros prescritos, com certa responsabilidade em sugerir leituras e

discussões com os pacientes. Os médicos não estão mais se

preocupando com a Biblioterapia, ficando na dependência de que o

bibliotecário se tome mais que um farmacêutico, que seja um

57

Page 58: Biblioterapia   marília

biblioterapeuta.

Outra estratégia a destacar está condicionada à pergunta: os

bibliotecários estão equipados para fazer Biblioterapia, tanto implícita

como explícita? Alguns deles podem ser bons terapeutas, mas esta é

uma área um tanto negligenciada pelas Escolas de Biblioteconomia. No

futuro, a educação continuada dos bibliotecários deverá dar oportunidade

aos estudantes de considerarem e discutirem livros em situações

interpessoais nas quais relacionamentos de ajuda sejam possíveis. Onde

estão os cursos substanciais disponíveis devotados à orientação de

leitura de adultos, sem falar em um curso substancial de Biblioterapia? A

educação de alguns bibliotecários deveria incluir também cursos

avançados em Psicologia e Literatura.

Toma-se oportuno ainda enfatizar que em 1955, na Conferência

de verão, dos Estados Unidos Me. Daniel citado por TEWS(70), disse

algumas palavras de conselhos e encorajamento aos bibliotecários, as

quais até hoje perduram:

Se o fator e o espírito de trabalho de equipe estão presentes, o bibliotecátio pode tornar-se um membro realmente influente na equipe. Basicamente um educador, o bibliotecário não pode esquecer que a própria educação e a dos outros é um processo contínuo e lento. É fácil, quando imbuídos do nosso trabalho, construirmos um mundo ao redor dele.Entusiasmo é uma das mais caras e produtivas características humanas. Mas a perspectiva tambem é um dos grandes valores humanos. A história nos ensina. O coração também é freqüentemente um instrutor generoso e sábio. O uso de tudo isso favorece o alcance da perspectiva, que, é claro, está vendo o relacionamento das partes entre si e com o todo.

58

Page 59: Biblioterapia   marília

7.2 O Biblioterapeuta: Educação e Treinamento

A crescente importância da Biblioterapia na vida diária pode ser

comprovada como um comportamento complexo, de grande importância

social, já reconhecido e utilizado por muitas profissões. Conforme

referências feitas anteriormente, reconhece-se a necessidade de novas

disciplinas no currículo do futuro biblioterapeuta. Nesta parte, será feita

uma breve apresentação da necessidade de um programa de treinamento

especial incluindo aspectos de Biblioteconomia, Psicologia, Literatura e

Aconselhamento.

KINNEY(38) especialista em Biblioteconomia institucional já em

1962, solicitava educação especial para o biblioterapeuta. No seu artigo

THE BIBLIOTHERAPY PROGRAM: REQUlRElMIENTS FOR TRAINING,

identifica as seguintes qualidades ideais para um biblioterapeuta: esta-

bilidade emocional, bem-estar físico, qualidades especiais, caráter e a

personalidade necessária para um trabalho com pessoas. Bem sucedido,

o biblioterapeuta deverá entender a meta desejada em cada ocasião,

aceitar a responsabilidade pela ação tomada e ser capaz de assumir

autoridade, quando for necessário. A autora vai mais além, enfatizando

que é imperativo reconhecer e controlar preconceitos pessoais, ser

receptivo à nova aprendizagem, dirigir e canalizar sentimentos pessoais,

de maneira a não impedir sua ajuda a outros. Como biblioterapeuta,

precisa assumir responsabilidade pela seleção de material de leitura; suas

seleções deveriam ser baseadas na compreensão de causa e efeito, pois

se vinculam a fatores físicos, emocionais e culturais relacionados com o

leitor. Ser compreensivo quando uma pessoa fala e o outro escuta é de

importância primordial para alguém submetido a essa modalidade da

Biblioteconomia. A autora também inclui na sua lista de critérios para um

bom biblioterapeuta, pelo menos, uma dúzia de outras habilidades e

características importantes.

Buscando as qualificações dos biblioterapeutas, RONGIONE(60),

uma década mais tarde, apresentou uma outra lista de critérios, bastante

59

Page 60: Biblioterapia   marília

significativa no CATHOLICLIBRARY W.ORLD, no artigo ''Biblioterapy: its

nature and uses”. Rongione destaca: estabilidade emocional, disposição

para reconhecer infortúnios de outros e habilidade em oferecer ajuda, um

bom ajustamento psicológico, habilidade em cooperar com outros. Numa

equipe de terapia deve haver o respeito aos desejos e direitos do leitor,

disposição para aceitar responsabilidades, tolerância, habilidade em ser

objetivo e não ser influenciado pelos preconceitos pessoais; habilidade de

dirigir outros, desejo de aprender, liberdade relativa com relação aos seus

próprios problemas, alegria, alto grau de perspicácia e sensibilidade,

paciência, julgamento maduro, habilidade em comunicar-se claramente e

em ser um bom ouvinte, poder de observação inteligente e flexibilidade;

possuir o tipo de mente que organiza bem os fatos; ter competência de

instruir e habilidade em canalizar sentimentos pessoais; possuir discerni-

mento e profundo interesse por outras pessoas como indivíduos.

Certamente, como descreveram KINNEY(38) e RONGIONE(60), o

biblioterapeuta deve ser uma pessoa 'muito boa para ser verdade”, um

bibliotecário perfeito e instrutor da saúde mental.

Pode-se fazer também referência ao Workshop sobre Biblioterapia

e Saúde mental, realizado em 1964, patrocinado pela Association of

Hospital and Institution Libraries of the American Association, fundada

pelo National institute of Mental Health e que favorecia um estudo

interdisciplinar. Psicólogos, psiquiatras, bibliotecários, terapeutas

educacionais, um terapeuta de atividade, um instrutor social e um

educador de enfermagem estiveram representados no programa. Os

dados mostraram que a Biblioterapia não pertence apenas a uma

profissão e que se motivado, profissionais treinados em vários campos

podem ser bons biblioterapeutas. Discutiu-se também o termo

Bibliotecário Clínico'" que foi considerado inaceitável porque a designação

implicaria em que o bibliotecário por atitude, treinamento e experiência

estaria qualificado para participar dos cuidados de reabilitação

terapêuticas e paliativas de indivíduos em hospitais e instituições, embora

não existisse, para tanto, nenhum programa de treinamento profissional.

60

Page 61: Biblioterapia   marília

Nesse tempo, o termo Bibliotecário Clínico" estava sendo usado para

designar bibliotecários de hospitais que faziam rondas médicas para

oferecer informações apropriadas aos membros da equipe médica.

Após estas considerações, pode-se agora voltar à atenção para o

fato de que, nos últimos anos, o termo Biblioterapeuta vem sendo

contestado por bibliotecários, por motivo de 'suas bases profissionais e

porque as exigências de treinamento ainda não estão claras. Na verdade,

as pesquisas citadas e as considerações feitas evidenciam que ainda tem

havido poucas oportunidades para treinamento e educação em

Biblioterapia.

Dentro desse posicionamento KINNEY(38), no seu artigo clássico

sobre Educação do biblioterapeuta lembra que "o biblioterapeuta é

primeiramente um bibliotecário que vai mais adiante no campo da

orientação da leitura toma-se um profissional especializado: A autora

descreve um modelo de treinamento para o biblioterapeuta começando a

nível de graduação. O estudante precisaria de um curso básico de

Biblioteconomia, de experiência de trabalho numa biblioteca e de um

grande conhecimento de literatura. Ela também ressalta a necessidade de

se estudar os princípios e técnicas de Psicologia porque o terapeuta deve

avaliar o significado emocional das reações do cliente, relacionando a

leitura com as suas necessidades e tornando válidas as interpretações de

suas reações. Além de Kiney, outros fizeram afirmações no mesmo

sentido. Enfatizaram a necessidade de um campo de serviço de

treinamento sobre Biblioterapia. E o treinamento interno que tem sido um

sucesso na Medicina, na Psicologia, em Serviço Social, poderá sê-lo

igualmente na Biblioterapia. nenhuma atividade da leitura, mesmo em

quantidade, pode substituir a experiência de se ver outro profissional

trabalhar, quando se tem a oportunidade de observar os padrões de

comportamento e experimentar as qualidades aprendidas.

A propósito do assunto, TEWS(70), afirma: “A arte de

Biblioterapia não pode ser ensinada; as qualidades dentro da arte

depende da prática e não de preceitos. Nós adquirimos conhecimento

61

Page 62: Biblioterapia   marília

profissional através do estudo, mas a Biblioterapia, é uma arte, deve ser

aprendida por experiência': Na sua descrição sobre um curso de

treinamento ideal de Biblioterapia, ela aponta que o trabalho de campo,

juntamente com cursos de Psicologia, de Dinâmica de grupo, de

Linguagem e outros, servirão ao bibliotecário de várias maneiras. Isso

possibilita a oferta de profissionais qualificados e auto- confiantes.

Parece relevante destacar que, enquanto esses programas ideais

e as possibilidades futuras estavam sendo discutidas nos Estados

Unidos, um Repúlica da Rússia estabeleceu um centro para pesquisa e

treinamento em Biblioterapia. Realmente, a Revista lnternacional de

Bibliotecas relata que, em 1962, o Instituto Ucraniano para Educação

Médica estabeleceu uma coordenação de Biblioterapia com a

Psicoterapia, a Psicohigiene e a Psicoprofilaxia. Embora os Estados

Unidos não tenha tal coordenação de serviços e treinamento para

biblioterapeutas, cursos sobre Biblioterapia têm sido oferecidos

ocasionalmente em várias partes do País.

E evidente que não há certificados especiais para o

Biblioterapeuta e, neste sentido, é particularmente importante afirmar que

muitas questões básicas permanecem sem respostas. Levando-se em

conta as referências anteriormente feitas, indagar-se-á: o que deveria ser

ensinado? A quem e por quem ainda precisam ser decididos? Os

esforços feitos nessa direção tem sido individuais. Certamente, as

Universidades e as Bibliotecas Escolares deveriam ter papéis mais ativos

na oferta de cursos de Biblioterapia. Por enquanto, não se tem conheci-

mento de agências para BiblioterapÍt1. que possam fornecer certificados,

nem nos Estados Unidos, nem no Brasil.

Outro elemento a considerar nos Estados Unidos, diz respeito a

existência do Biblioterapeuta I e do Biblioterapeuta II, no município de

Santa Clara, Califórnia. No cargo original, Biblioterapeuta I precisava de

Bacharelado em Artes (BA), com curso superior em Psicologia ou

Humanidades e seis meses de experiência em trabalho de saúde mental.

O Biblioterapeuta II precisava, além disso, do mestrado e de dois anos de

62

Page 63: Biblioterapia   marília

experiência em Biblioterapia. Cabe ainda lembrar que os requisitos para

emprego do Biblioterapeuta incluíam o Bacharelado em Artes (BA) ou seu

equivalente em Psicologia ou Orientação e experiência no trabalho com

pessoas emocionalmente perturbadas. Também se requeria

conhecimento de material de referência bibliográfica, literatura e técnicas

de liderança de grupo.

Em tal contexto, seria recomendável lembrar que as qualificações

do Biblioterapeuta II eram parecidas, mas também incluíam qualidades de

supervisão e habilidade para treinar o Biblioterapeuta L Ao longo da

discussão, percebe-se que, no presente, o Biblioterapeuta I é graduado

em Psicologia e o Biblioterapeuta II tem o BA em Inglês e Psicologia e o

Mestrado em Biblioteconomia.

Entretanto, os estudos sobre os tipos da Biblioterapia apresenta,

na Biblioterapia Institucional, uma Biblioterapia com clientes individuais

que tenham sido institucionalizados pela sociedade ou que sejam

pacientes, da prática privada da Psiquiatria ou da Psicologia. O

Biblioterapeuta institucional necessitaria de um passado educativo

extenso e de mais experiência, por causa da natureza do cliente e do

ambiente em que ele trabalhará. Freqüentemente, a Biblioterapia

lnstitucional é conduzida por uma equipe; nesse caso, nenhum dos

membros precisaria ter, individualmente, as qualidades que a equipe

requer.

Recomenda-se nos Estados Unidos atenção especial para um

biblioterapeuta que venha a trabalhar sozinho. Ele deveria preencher os

requisitos abaixo mencionados.

a) ter o PHD em Ciências do Comportamento, ou Bibliote conomia,

Orientação Psicológica ou Enfermagem. Além disso, cursos de

Psicologia Clínica, Literatura e de Biblioteconomia se fosse o caso;

b) ter um ano de experiência trabalhando meio expediente em

Biblioterapia Clínica e um ano de Biblioterapia Institucional;

c) ter experiência de um ano trabalhando tempo integral em uma área de

Saúde Mental, Biblioteconomia ou Enfermagem;

63

Page 64: Biblioterapia   marília

Com referência ao Terapeuta Institucional, trabalhando como

membro de uma equipe ele deveria ter:

a) Mestrado de Biblioteconomia ou de Artes (M.L.S ou M.A.), em Ciência

do Comportamento ou Enfermagem. Além disso um número

estabelecido de requisitos interdisciplinares;

b) um ano de experiência trabalhando meio expediente como

Biblioterapeuta, numa situação clínica ou desenvolvimental;

c) um ano de experiência trabalhando tempo integral em outra área da

Biblioteconomia, da Saúde Mental ou da Enfermagem;

Pode-se agora voltar para o segundo tipo de Biblioterapia, a

Clínica. Conforme Hynes citado por RUBIN(63), no seu programa, há o

melhor treinamento para este tipo de trabalho, mas existe poucas

oportunidades para tal treinamento, como modelo alternativo é oferecido,

nos Estados Unidos:

a) Mestrado em Biblioteconomia ou em Artes (M.L.S ou M.A.) em Ciência

do Comportamento, Enfermagem, Orientação e Educação. Além disso,

um número estabelecido de cursos exigidos em outros campos, ou o

Bacharelado de Artes (BA) em outras áreas, com experiência equivalente.

Finalmente chegamos ao terceiro tipo de Biblioterapia, a

Desenvolvimental,, referida como Biblioterapia de Grupo, com adultos e

crianças normais que pretendem entender melhor a si e a seus

problemas. Como requisitos eram propostos:

a) M.L.S. ou BA em Educação, Orientação Psicológica ou Educação, além

de cursos em Biblioteconomia, Psicologia e Literatura;

b) um ano, tempo integral, como Professor orientador ou Bibliotecário;

c) um ano de experiência, meio expediente, como Biblioterapeuta, sob

supervisão;

d) um ano de experiência, trabalhando tempo integral, em outro aspecto

da Ciência da Saúde Mental, Educação ou Enfermagem.

Isto seria a síntese, em te11llOS de requisitos curriculares para o

fornecimento de certificados vinculados à Biblioterapia, a partir de cursos

ministrados na Universidade. Considerando estes fatos, parece relevante

64

Page 65: Biblioterapia   marília

destacar que os modelos de certificados recomendados neste capítulo

são apenas sugestões que poderão evocar reações e discussões sobre

uma preocupação que vem surgindo nos últimos anos nos Estados

Unidos.

Muitas investigações vêm indicando que a Biblioterapia tem uma

longa história de desenvolvimento e crescimento. Os anos 30 tipificam o

surgimento de interesse pela área. Entretanto, um grande número de

pesquisas precisa ser feito, no tocante a teoria e aos métodos da

Biblioterapia.

Certificados para os que a praticam, uma Associação

independente de Biblioterapia e uma Associação interdisciplinar são

também necessidades urgentes neste momento, para que as muitas

pessoas que manifestam interesse pela Biblioterapia possam trabalhar de

modo cooperativo para unificar essa abordagem especial, ligada tanto à

literatura quanto à Saúde Mental.

65

Page 66: Biblioterapia   marília

VIII - PROPOSTA PARA IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE BIBLIOTERAPIA PARA PORTADORES DE

DEFICIÊNCIA VISUAL EM BIBLIOTECAS PÚBLICAS.

8.1 – lntrodução à Problemática dos Bibliotecários

Uma parte significativa da população mundial (entre 10 e 15%)

é portadora de deficiências sensoriais, ou mentais que limitam sua

capacidade de beneficiar da educação normal. Essas pessoas precisam

de uma educação adequada a suas possibilidades, aptidões e

necessidades uma "educação especial", como se costuma chamar que

lhes permita desenvolver suas potencialidades a fim de se tornarem

membros de pleno direito da sociedade a que pertencem e alcançarem o

desenvolvimento pessoal que lhes proporcione meios de serem

independentes.

Verifica-se que a educação especial é então o elemento

educacional do processo de reabilitação necessária a todos os que

experimentam ou podem experimentar grandes e sucessivas dificuldades

para aprender e para aproveitarem as oportunidades oferecidas às

demais pessoas pela educação normal.

Cumpre dizer que a UNESCO sempre demonstrou interesse

especial quanto à educação dos deficientes, o que ficou evidenciado na

14ª reunião da Conferência Geral (1966), quando o diretor-geral foi

autorizado a "preparar um programa de educação especial para crianças

e jovens deficientes, com base em contribuições voluntárias dos Estados-

Membros”. Desde então, e especialmente na última década, têm sido

alcançados importantes progressos em técnicas educacionais, sendo

introduzidas consideráveis inovações no campo da educação especial;

mesmo assim, descobriu-se que ainda pode ser feito pelas escolas

deficientes muito mais do que se imaginava a princípio. Muitos desses

progressos técnicos podem ser adaptados às necessidades dos países

em desenvolvimento, cujos recursos em matéria de instalações e pessoal

66

Page 67: Biblioterapia   marília

são limitados.

Em sua 203 reunião, realizada em outubro-novembro de 1978, a

Conferência Geral da UNESCO pediu ao diretor geral que preparasse,

com a assessoria de especialista de diversos países, um programa global

destinado a consolidar o direito de todos os deficientes a uma educação

adequada às suas necessidades e aspirações.

O primeiro passo nesse sentido foi a convocação de uma reunião

internacional sobre educação especial, à qual compareceram

especialistas de 14 países, e que se realizou na sede da UNESCO em

Paris, em outubro de 1979. Os especialista redigiram. uma declaração de

princípios que deveriam guiar o programa da UNESCO.

Reiterando o direito de todas as crianças à educação, os

especialistas declararam que os fins e metas dela são essencialmente os

mesmos para todas as crianças, adolescentes e adultos, mesmo quando

as técnicas necessárias ao progresso individual de algumas possam

diferir. Algumas crianças, adolescentes e adultos requerem modificações

substanciais no programa educacional, enquanto as necessidades de

outras podem ser atendidas com modificações menos profundas. Os

recursos educacionais para os deficientes deveriam ser comparáveis aos

que existem para os demais estudantes e adequados a suas

necessidades especiais, que costumam ser preteridas.

Os especialista da UNESCO assinalaram que, embora os programas de

educação especial acarretam necessariamente gastos adicionais e os

países já se vejam a braços com o problema da insuficiência de recursos

para a realização de seus objetivos, maiores ainda seriam os gastos

ocasionados pela falta de diagnósticos precoces e de educação das

crianças, adolescentes e adultos deficientes, assim como pela sua ulterior

formação e integração na "ida atino Os estudos sobre os programas de

reabilitação e de educação no mundo inteiro demonstram que as

vantagens econômicas que deles se podem tirar em termos de

produtividade, pagamento de impostos pelos deficientes e redução dos

serviços de assistência social e de pensões por invalidez que são maiores

67

Page 68: Biblioterapia   marília

do que os gastos. O fato de não se oferecerem aos deficientes oportuni-

dades de educação e de formação comparáveis aos serviços prestados

ao resto da população, por se considerar o problema secundário,

acarretou mais tarde a elaboração de onerosos programas de ajuda a

essas pessoas. Portanto, seria conveniente que os países em

desenvolvimento levassem em conta essa experiência ao formular novas

políticas em matéria de educação.

Não obstante, os especialistas concordaram em que os serviços de

educação especial deveriam ser organizados de maneira a satisfazerem

às necessidades ele cada indivíduo e conduzirem a metas claramente

estabelecidas nos programas de estudos e a objetivos de curto prazo.

Estes, devem ser revistos regulamente, a fim de serem feitas as

correções necessárias. Finalmente, a educação especial deveria oferecer

uma série de opções proporcionais às necessidades particulares de

qualquer comunidade.

Os especialistas também têm se preocupado com a problemática

de integração dos deficientes do sistema de educação comum, e estudos

a curto e a longo prazo demonstraram que os progressos conseguidos

pelos deficientes educados em estabelecimento especial não são maiores

do que os obtidos pelo que freqüentaram classes normais. As classes ou

escolas especiais inclinam-se, desde o início, para uma substimação da

capacidade dos alunos o que reduz as oportunidades deles, levando-os a

se adaptarem a essa apreciação pessimista

A propósito a Primeira Conferência lnternacional sobre Legislação

referente a Incapacitados, organizada pela Reabilitação lnternacional em

Roma, em 1971, concluiu que:

“os governos devem aceitar a responsabilidade maior e desempenhar papel principal na criação e desenvolvimento de serviços de reabilitação para todos os portadores de incapacidades físicas e mentais”

68

Page 69: Biblioterapia   marília

Complementando, diz ainda:

“deve ser dada educação gratuita à pessoa

ou a sua família”.

Convém enfatizar outro aspecto importante da nossa análise, qual

seja,.o de que serviços de educação especial só podem alcançar seus

objetivos quando são utilizados. E lamentável verificar que, mesmo hoje,

muitos pais relutam em admitir que têm um filho incapacitado ou

retardado. Outros ignoram a existência de serviços de educação

especializada, ou duvidam da conveniência de dei..'{ar que seu filho

abandone a proteção que encontra no lar, ou em uma instituição. E esta é

precisamente um'a função importante da comunidade e de suas

organizações: localizar essas crianças e suas famílias, convencê-Ias a

tirarem proveito das oportunidades educacionais e ajudá-Ias nisso. Essas

funções serão grandemente facilitadas se forem desempenhadas em uma

atmosfera em que os componentes da comunidade estejam fazendo e

recebendo benefícios e em que haja participação da comunidade.

Hoje em dia o país vive um dos momentos mais importantes de

sua história e vem buscando estimular um processo de modernização

sobre novas bases políticas que fortaleçam e consolidem a vida

democrática. Neste sentido, é relevante a idéia de promover a maior auto-

realização dos indivíduos, na qual a elevação do nível educativo-cultural

apareça como fundamento essencial na renovação proposta para toda a

sociedade. As mudanças esperadas deverão se apoiar em excelentes

bases de informação e canais de comunicação, como formas definidas

para concretizar tais objetivos num futuro imediato. Esforços

governamentais vêm sendo dispensados no sentido de otimizar a

máquina administrativa do Estado, atualizando-a, sem no entanto,

menosprezar a diretriz básica de racionalidade nas decisões.

Tanto na educação, como no desenvolvimento da cultura,

69

Page 70: Biblioterapia   marília

identificam-se grandes limitações que desafiam as expectativas

governamentais da sociedade. Particularmente no caso da educação, as

deficiências observadas exigem providências urgentes através de ações

que criem realmente uma nova situação educativa. ?\ a \'erdade, uma

concepção democrática de Estado propõe a garantia de oportunidades a

todos os cidadãos, no que se refere ao acesso à informação, como

elemento indispensável ao seu aprimoramento pessoal, e conseqüente

desenvolvimento na sociedade.

Os grandes desníveis econômicos entre as nações têm sido um

dos maiores obstáculos para se atingir a complementação mais rápida de

programas específicos, que venham atender a uma população de

deficientes e que alcança atualmente a espantosa e brutal cifra de 500

milhões de pessoas no mundo atual. Segundo a Organização Mundial da

Saúde 350 milhões destes seres humanos estão sem qualquer tipo de

atendimento.

Com base nessa fundamentação, se analisarmos a questão da

Biblioteca Pública, não podemos deixar de verificar seus reflexos em todo

o contexto social, econômico, político e cultural de nossa sociedade. No

Brasil, percebe-se que todos os aspectos sociais e culturais estão

vinculados à política econômica do governo. Porém, é inegável que o tipo

de prestação de serviços na área das Bibliotecas Públicas é missão

indeclinável do Estado. E nas áreas em que se registrar uma maior

conscientização das autoridades, ocorrerá certamente um esforço

paralelo das Bibliotecas Públicas no sentido de melhor desempenharem

sua missão. E sua maior missão é cumprir o verdadeiro papel social de

uma Biblioteca dinâmica e útil, voltada para os anseios e interesses de

grande parte de nossa população, contribuindo para a solução dos

problemas sociais coordenando suas atividades com as de outras

instituições educativas, sociais e culturais. Daí a necessidade da

Biblioteca Pública do Estado em popularizar-se, e distribuir-se pela

comunidade, pois próxima do povo ela terá melhores condições de

acompanhar o seu desenvolvimento e suas mudanças, atuando junto às

70

Page 71: Biblioterapia   marília

associações de bairro, centros comunitários, entidades culturais,

buscando assim conhecer não só p seu usuário real, mas também todo o

seu usuário em potencial que, por desconhecimento, dei.xam de

reivindicar seus próprios direitos.

No Brasil, Sales citado por MIRANDA(48), nos ensina que:

"A Biblioteca Pública, como núcleo de irradiação cultural na comunidade, como agência de informação e pesquisa, como centro de aperfeiçoamento intelectual enfim, como meio por excelência de democratização da leitura e do conhecimento, assume papel de maior importância na vida de um país e na vida de um povo porque, à medida que o homem se realiza no saber e na cultura, melhor se entenderá com outros homens, e os outros povos, num mundo de trabalho construtivo, de prosperidade social, de liberdade e paz”.

É necessário enfatizar também que a UNESCO em seu "Manifesto

sobre a Biblioteca Pública", afirma que a Biblioteca, como instituição

democrática de educação, cultura e informação, deve atingir todas as

categorias da população, a partir de suas necessidades. Deverá oferecer

informação sob quaisquer formas, respondendo às demandas da

população.

Deverá proporcionar a todos o livre acesso aos registros do

conhecimento e das idéias do homem e às expressões de sua

imaginação criadora.(72)

Para finalizar essas considerações é importante termos sempre em

mente, as palavras de FOSKET(29), que tão bem traduzem a expressão

da verdade:

"Quando todas as lições do passado tiverem sido apreendidas e compreendidas, e tiverem sido levado em conta os objetivos e

71

Page 72: Biblioterapia   marília

as aspirações dos que produzem e dos que utilizam o conhecimento; quando as realizações tecnológicas tiverem sido dominadas e postas a serviço do – Homem -, e não o contrário; quando bibliotecários e técnicos de informação encararem o seu papel como o que proporciona ativamente a transferência do conhecimento, e também a custodia dos registros, teremos então planejado e construído uma organização que coordenará o esforço social em prol da consecução de um propósito socialmente válido”.

8.2 - Conceituacão de Biblioteca

O conceito tradicional de biblioteca, advindo de séculos passados

prendia-se à imagem de um organismo destinado à conservação de

documentos, exigência esta, nascida do próprio desenvolvimento

intelectual do Homem, que, num dado momento histórico, traduziu-se na

necessidade de transmitir a seus descendentes pensamentos e

experiências, não mais através das tradições orais, mas através dos

caracteres simbólicos da linguagem escrita. E se fizermos um esboço

histórico do papel do bibliotecário e de sua atuação junto ao meio sócio-

cultural, vamos encontrá-Io inicialmente nos antigos mosteiros e palácios,

onde se armazenava um acervo composto quase só de obras raras.

Entretanto, conforme nos revela CUNHA(24):

"a profissão de bibliotecário, que até o século XIX era representada por homens erruditos, de ciências, escritores e sobretudo, por grandes leitores, mudou muito ma imagem nos Últimos 70 anos. Assim, era comum representar o bibliotecário como homem silencioso, oculto entre as Pilhas de livros - muitas vezes com poeira secular - ranzinza quando perturbado por algum leitor. Essa imagem, quase caricatura!, representou lima época em que

72

Page 73: Biblioterapia   marília

a principal missão do bibliotecário era ser guardião do acervo existente na biblioteca. "

Constatando os novos horizontes que se descortinam a este profissional,

devemos levar em considerações que o bibliotecário atual, em sua função

social, necessita de educação, formação e conhecimentos relativos aos

mais variados campos do conhecimento humano, que lhe possibilitem o

conhecimento de problemas educativos, culturais e sociais pertinentes à

sua área de atuação o que implicará possibilidades de solução. Além

disso, e importante questionar o próprio conceito tradicional de biblioteca.

Essa imagem evoluiu através dos tempos, passando de mero depósito a

centro eminentemente social de difusão dos conhecimentos e da in-

formação.

Considerando os processos de mudanças, a Biblioteca Pública

deverá ser entendida como espaço de realização e socialização do

conhecimento, como lugar que mantém viva a memória de um povo; que

como espaço neutro serve assim de encontro de harmonização na

comunidade, aberto ao saber, sendo como ponto de um espaço, que

viabiliza o surgimento de uma nova sociedade.

8.3. Objetivos

8.3.1 – Objetivo Geral

Proporcionar à comunidade cega através da Biblioteca Pública, um

maior conhecimento de Biblioterapia, no sentido de lhes oferecer

subsídios para uma melhor solução de seus problemas e necessidades.

8.3.2 - Objetivos Específicos

a) Promover cursos, planos, programas e projetos dentro das

solicitações indicadas pelas Associações e Instituições de

73

Page 74: Biblioterapia   marília

deficientes visuais;

b) discutir, com base em documento preliminar, com os professores

da rede universitária, estadual e municipal, a possibilidade de

colaboração que cada um, dentro de sua área específica do

conhecimento, possa oferecer em tem trabalho de Biblioterapia

junto às escolas e universidades;

c) conscientizar o usuário cego das vantagens de utilização da

Biblioterapia como meio para o seu ajustamento psicossocial;

d) implantar um sistema de acompanhamento, controle avaliação do

programa nas instituições cegas e comunidades.

8.4 - Organização Básica de um Programa de Biblioterapia para

Portadores de deficiência Visual em Bibliotecas Públicas.

Esta proposta consiste na implantação de um programa de

Biblioterapia para deficientes visuais, veiculado pela Biblioteca Pública. E

quando o apresentamos, lembramos que, já por volta de 1960

ROBERTS(57) começou a usar livros sobre cegos para facilitar a

habituação à cegueira. c cesso básico de Biblioterapia que ele usou com

um estudante de Illinois em 1960 está sumarizado na citação de se

"Psychosocial Rehabilitation of the Blind."(59)

Levando-se em conta esse aspecto, poder-se-ia questionar que a

Biblioterapia deve ser usada para descrever um processo onde o cliente

lê materiais biográficos sobre cegos com o propósito de examinar a

situação de sua própria em vista do que ele irá ler. E nossa experiência

vem corroborar os efeitos benéficos de tal procedimento.

O material básico poderia incluir trabalhos em geral sobre a

cegueira. Se possível, é importante também e: livros que sejam de

interesse para o cego, em outras ire do tema cegueira. Por exemplo, a um

jovem que pretenda entrar para a escola superior, poderá ser dada a

tarefa uma autobiografia de outra pessoa sem visão que acabou de

terminar a escola superior. Um diretor de uma escola formal poderá estar

74

Page 75: Biblioterapia   marília

interessado na história de escolas residenciais para o cego. Por outro

lado, um funcionário da justiça poderia achar fascinante uma história

sobre um detetive cego. a instrutor de Biblioterapia poderá usar ainda

perguntas como as seguintes para ajudar os clientes a fazer

comparações e a delinear situação de vivência literária dos cegos.

a) o que você leu que foi encorajador e útil?

b) o que você leu que lhe foi mórbido' ou deprimente ou causou

desgosto?

c) que personagem do livro você achou mais parecido com você?

d) quais os problemas mais difíceis encarados pelos personagens

cegos nesse livro?

e) como os personagens cegos resolveram suas dificuldades?

f) quais eram os problemas mais difíceis vistos pelos seus

parentes e amigos e como eles resolveram seus problemas?

g) como é que a informação oriunda da leitura e da reflexão sobre

este livro sé aplica à sua própria situação?

Deste modo, pode-se, realmente, questionar

ROBERTS(57) de que: "ó livro certo na hora certa pode muitas

vezes acentuar o ajustamento à cegueira.

O leitor cego poderá se acalmar ao saber que outra pessoa cega

também se sentiu isolada, inútil e desinteressada pelos entes queridos,

durante o princípio do ajustamento. E um autor poderá formular os

sentimentos não-verbalizados dos clientes com relação à cegueira em

frases agudas e concisas - como quando um recém-cego expressou seus

sentimentos ao conselheiro, dizendo:

"Esta cegueira me faz sentir como se eu estivesse de volta à l’ infância. "

Geralmente o protagonista relatará experiências próprias com

cegueira que tendem a apresentar soluções potenciais para os problemas

do leitor. Nunca devemos, pois substimar a esperança de uma vida

75

Page 76: Biblioterapia   marília

construtiva e compensatória propiciada através de escritos realizados por

cegos que tiveram sucesso na vida.

Por outro lado para a seleção de materiais destinados à

Biblioterapia, dever-se considerar os seguintes critérios:

Referências de leitura do cliente cego;

a. nível educacional do leitor cego e a história de seu trabalho;

b. prognóstico sobre a condição visual do leitor cego;

c. natureza do problema de ajustamento encarado pelo leitor

cego;

d. o conselheiro biblioterapeuta deverá ter competência para

escolher o livro ou livros certos; deverá ter lido pessoalmente o

livro antes de prescrevê-Io, para fazer com que a biblioterapia

seja um sucesso. É bom lembrar que, se possível, é desejável

que o conselheiro escolha livros que sejam de interesse para o

cego, também em outras áreas fora do tema da cegueira.

Com referência ao material, observa-se que existe um número

crescente de livros descritivos, alguns já mencionados, os quais foram

oferecidos por professores de reabilitação e conselheiros biblioterapeutas.

Tais livros estão disponíveis para intercâmbio nos Estados Unidos, na

Division of Blind of Library of Congress, que oferece lista compreensiva

de biografias, autobiografias e trabalhos de ficção para cegos.

8.5 - Metodologia

Nesta parte, será inicialmente, apresentada a Metodologia para a

implantação de um programa de Biblioterapia em Bibliotecas Públicas,

organizada com a participação de cegos e onde serão observadas suas

necessidades informacionais e de leituras recreativas.

No planejamento e estruturação do projeto será organizada uma

equipe interdisciplinar que atuará nas instituições para que o cego possa

76

Page 77: Biblioterapia   marília

manifestar suas necessidades informacionais nos mais variados

aspectos, frente à sua problemática.

Numa outra etapa será necessário fazer a implantação de um

programa de leituras, cujas prioridades sejam as seguintes atividades:

a. Sessão .de leitura em grupo, de jornais e/ou revistas, tais como:

Visão, Veja.. Isto E, etc;

b. sessão de leitura de lazer, em grupo, com alunos que não

foram alfabetizados;

c. sessão de leitura de lazer, individual, com alunos que não foram

alfabetizados.

8.5.1 - Clientela

O programa de Biblioterapia das Biblioteqs Públicas atenderá a

clientela cega e a portadores de visão subnormal, técnicos e professores

de deficientes visuais.

8.5.2. Instalação

O espaço físico destinado a atender a clientela cega será as

dependências de Instituições para deficientes visuais e a Setores Braille

das Bibliotecas Públicas envolvidas no Programa. Deverão ter boa

ventilação e iluminação adequada, bem como uma cabine para gravações

de livros e revistas.

8.5.3 – Recursos Materiais

Os recursos materiais necessárias seriam basicamente:

a) Ambiente dispondo de uma sala com mesas confortáveis para

reunir a clientela cega, e demais profissionais nos programas

de Biblioterapia;

77

Page 78: Biblioterapia   marília

b) material documental selecionado pelo conselheiro, de acordo

com os problemas de cada deficiente visual;

c) equipamentos para atividades de lazer: jogos de raciocínio,

música, cantinho de leitura, comemorações de aniversários,

exposições culturais, gravações de histórias.

8.5.4 – Recursos Humanos

Para se conseguir êxito na instalação e desenvolvimento do

programa de Biblioterapia, necessário se faz contar com a participação de

assistentes sociais, psicólogos, educadores, etc.

Não se deve esquecer que os elementos imprescindíveis para a

operacionalização de um programa de Biblioterapia serão o Bibliotecário -

Biblioterapeuta e o Psicólogo.

8.5.5. Horário

O horário deverá ser flexível, atendendo sempre às condições da

clientela cega.

8.5.6 – Recursos Financeiros

Serão necessários recursos financeiros e apoio do Estado para

planejamento e execução dos programas de Biblioterapia junto às

Bibliotecas Pública.

8.5.7 - Avaliação

Para um bom desenvolvimento de um programa de leitura e

Biblioterapia é necessário que se estabeleçam canais de comunicação

entre coordenadores, executores e os diretamente beneficiados pelo

serviço. Esses canais de comunicação servirão tamb&m para a coleta de

78

Page 79: Biblioterapia   marília

informações que subsidiarão decisões futuras acerca de modificações

que mereçam ser efetuadas na operacionalização da Biblioterapia.

79

Page 80: Biblioterapia   marília

8.5.8 - Divulgação

Poderá ser feita através de canais de comunicação, tais como:

jornais, TV, boletim informativo, revista, reuniões e pelos portadores de

deficiências visuais.

80

Page 81: Biblioterapia   marília

IX- BIBLIOGRAFIA PROPOSTA PARA Utv1 PROGRAMA DE

BIBLIOTERAPIA ENVOLVENDO DEFICIENTES VISUAIS

ARAGÃO, Eduardo. Remoção de barreiras. Suplemento Pedagógico.. Belo Horizonte, Y. 8, n. 6-+, p. 2-+, fev. 1982. Número especial.

BORGES, José Paulo. Falando com o mundo. Folhetim, São Paulo, 25 jan. 1981. p. 1-+.

______ . Somos todos deficientes; entrevista do professor Azis Simão. Folhetim, São Paulo, 25 jan. 1981. p. 6.

CEGOS podem ser eficientes na indústria. Revista SENAI, Rio de Janeiro, v. 30, p. 10-1-+, jul/set. 1975.

CEGOS revelam; e fazem outros trabalhos. Visão, São Paulo, v. 30, n. 21, p. 36, maio 1981.

CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISA PSICOLÓGICAS APLICADAS À EDUCAÇÃO. A reabilitação profissional como processo multidisciplinar. Arq/livos Brasileiros de Psicologia Aplicada, Rio de Janeiro, v. 25, n. 3, p. 3-91, jul/ set. 1974.

COMO sonham os cegos. O Globo, Rio de Janeiro, 20 jun. 1976.

CRUICKSANK, William, M JOHNSON, G. Orville. A educação da criança e do jovem excepcional Porto Alegre, Globo, 1975,2 v.

CUSTSFORTH, Thomas D. O cego lia escola e lia sociedade; um estudo psicológico. São Paulo, J\IEC, 1969. 207 p.

DEFICIENTE não pede favor, só iguais oportunidades. Dirigente Industrial, São Paulo, v. 12, n. 4, p. 38-44, abro 1981.

O DEFICIENTE precisa ser atendido. Livro da vida, São Paulo, n. 30, p. 832-835, 1974.

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