benefícios da implantação e implementação de um programa...
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Benefícios da implantação e implementação de um Programa de Ginástica
Laboral adequado numa empresa do Polo Industrial de Manaus (PIM) -
Estudo de caso
Maevilin dos Santos Freire1
Dayana Priscila Maia Mejia2
Pós-graduação em Ergonomia: Produto e Processo – Faculdade FASERRA
Resumo A implantação de Programa de Ginastica Laboral - PGL constitui, dentre muitos benefícios,
importante método preventivo para evitar o aparecimento de doenças ocupacionais e até mesmo
interferir na produtividade. A pausa com exercícios (Ginástica Laboral – GL) tem sido amplamente
estudada em função dos benefícios com relação à saúde do trabalhador, porém um programa
inadequado ao público alvo pode comprometer seus resultados. O presente estudo teve como
objetivo principal mostrar os benefícios da implantação e implementação de um Programa de
Ginástica Laboral – PGL adequado numa empresa do Polo Industrial de Manaus (PIM). Os dados
foram obtidos através de pesquisa quanti-qualitativa com base num estudo de caso descritivo. A
análise da implantação e implementação do PGL deu-se através de entrevistas com os facilitadores
setoriais e utilizaram-se os dados derivados de questionário semiaberto, onde foram identificadas
as possíveis causas da problemática levantada: baixa adesão ao PGL em virtude do
desconhecimento dos benefícios da GL. Após o estudo observou-se que as intervenções para a
adequação do PGL foram salutares e de suma importância para sua melhoria, estimulando a
participação voluntária de um número maior de funcionário, 60% a mais, e contribuindo de
maneira significativa com a prática da ergonomia.
Palavras-chave: Ergonomia; Programa de Ginastica Laboral; Benefício.
1. Introdução
A constante busca por ambientes de trabalho mais sadios e com melhoria na qualidade de vida para
os funcionários é preocupação crescente entre as empresas que prezam o destaque em seus negócios
dentro da acirrada concorrência do mundo atual. 1
Considerando-se que, em todos os setores das empresas, investir em ergonomia é viável para
intervir preventivamente em fatores como o aparecimento de dores em diversos segmentos
corporais, repetitividade, stress, dentre outros, expõem o trabalhador ao risco de desenvolver
doenças ocupacionais. 2
Diariamente, durante o período laboral, os trabalhadores podem assumir diferentes posturas e
demandar inúmeros esforços musculares que a curto, médio ou longo prazo, podem causar doenças
ocupacionais relacionadas ao trabalho como inúmeras patologias. 3
Segundo Martins4 com processos de trabalhos em crescente informatização o uso de computadores
acompanhados dos avanços tecnológicos acarretam inúmeros problemas devido às múltiplas
exigências posturais na execução das tarefas, que em maior parte do tempo sentado (estática)
desencadeia o sedentarismo. Acrescentando-se à falta de preocupação ergonômica, per se, justifica
a adoção de intervenções ergonômicas.
1 Pós Graduando em Ergonomia: Produto e Processo 2 Fisioterapeuta, especialista em Metodologia do Ensino Superior, mestre em Bioética e Direito em Saúde.
2
Estudos mostram que as empresas que aplicam a ergonomia de forma efetiva melhoram a saúde do
colaborador e aumentam a qualidade de seus produtos e serviços. 5
O presente trabalho tem como objetivo mostrar os benefícios da implantação e implementação de
um Programa de Ginástica Laboral adequado numa empresa do Polo Industrial de Manaus - PIM.
2. Fundamentação Teórica
2.1 - Evolução do trabalho
Conforme Felizardo et al.6 a Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra a partir de 1760 (no século
XVIII) ocorreu em principio à razão do rápido crescimento da população e a constante migração do
homem do campo para a cidade provocando o excesso de mão-de-obra barata concentrando
trabalhadores em fábricas e tornando-os operários assalariados.
Segundo Cavalcante & Silva7 esta revolução foi grande precursora da consolidação do capitalismo
industrial indo além da ideia de grande desenvolvimento dos mecanismos tecnológicos aplicados à
produção. Também originou mudanças nos comportamentos sociais, formas de acumulação de
capital, modelos políticos, nova visão do mundo e avanços em descobertas cientificas acompanhada
da redução do salário devido à mecanização de processos que desqualificava a força humana de
trabalho.
Para Rodrigues e Rodrigues8 o capitalismo industrial inaugura um novo tipo de comercio, as
empresas começam a investir pesado em produção em grande escala através do surgimento dos
bancos que viabilizam créditos direcionados ao aumento de lucro/consumo, também se ignoram
condições de segurança e higiene/alimentação e limites do trabalho humano.
Assim nasce a sociedade da tecnologia, sendo fundamental para a consolidação da unidade
produtiva típica que sustenta todo o sistema atual de qualquer empresa de capital privado. 6
Segundo Iida9 à medida do desenvolvimento da tecnologia em que sistemas produtivos evoluem e
as máquinas a diariamente assumem o trabalho pesado, aumenta-se a produtividade e a qualidade
dos produtos, ao homem é designado e aumentado o esforço mental e dos sentidos. Assim,
gradativamente, o homem foi migrando seu trabalho para tarefas que as máquinas ainda não são
capazes de executar, como por exemplo, tarefas informatizadas com uso de computadores
comumente utilizadas na área administrativas.
Para Dejours10 o modelo administrativo-produtivo iniciado registra que as reivindicações operárias
já apareciam durante as duas grandes guerras mundiais. A luta pela sobrevivência deu lugar à luta
pela saúde do corpo, melhoria das condições de trabalho, segurança higiene e prevenção das
doenças.
A relação entre trabalho e saúde é afetada pela organização do trabalho e por fatores psicológicos
relacionados ao trabalho, podendo contribuir para o aparecimento de disfunções, doenças e
acidentes de trabalho. 2
No contexto atual e futuro o estudo do posto de trabalho administrativo tem importância
significativa, pois uso da informática na realização das tarefas deve-se considerar a interação do
homem com o equipamento, o mobiliário e o meio ambiente, bem como impactos a saúde e
segurança, o que acabou por gerar a necessidade de desenvolver estudo para adequação do trabalho
ao homem conhecido como Ergonomia. 11
3
2.2 - Historia e conceitos de Ergonomia
Derivada do grego ergo (trabalho) e nomos (leis), para denotar a ciência do trabalho, ergonomia é
uma disciplina orientada aos sistemas que agora se estende por todos os aspectos da atividade
humana.12
Segundo Barbosa Filho13 relata que o termo ergonomia foi utilizado pela primeira vez em 1857 pelo
polonês Woitej Yastembowky na publicação de um artigo intitulado “Ensaios de ergonomia ou
ciência do trabalho, baseado nas leis objetivas da ciência sobre a natureza”.
Conforme Militão14, a ergonomia pode ser definida como uma ciência multidisciplinar que estuda a
relação do homem com o seu trabalho que tem o objetivo básico de humanizar e melhorar a
produtividade do sistema de trabalho. Ela fornece meios para a melhoria da qualidade de vida dos
trabalhadores, adaptando o trabalho às características anatômicas, fisiológicas e psicológicas destes.
Dessa maneira Dul e Weerdmeest2, acrescentam que: a ergonomia difere de outras áreas do
conhecimento pelo seu caráter interdisciplinar e pela sua natureza aplicada. Quando interdisciplinar,
se apoia em diversas áreas do conhecimento humano e ao aplicada se configura na adaptação do
posto de trabalho e do ambiente às características e necessidades do trabalhador a fim de oferecer
melhores condições para o desempenho saudável de suas atividades.
A Associação Brasileira de Ergonomia - ABERGO define a ergonomia como sendo o estudo das
interações das pessoas com a tecnologia, a organização e o ambiente para intervenções corretivas e
projetos que visem melhorar de forma integrada e não dissociada a segurança, o conforto, o bem-
estar e a eficácia das atividades humanas. 21
Segundo retrata NASCIMENTO & MORAES16 a ergonomia no Brasil inicia nos meados dos anos
70:
“No ano de 1970, a ergonomia começou a ganhar espaço no Brasil. Em 1975,
apareceram os primeiros postos informatizados. Já em 1980, com a intensidade do trabalho
informatizado, houve necessidade de atuação de profissionais com conhecimento de
ergonomia para solucionar situações existentes nos ambientes de trabalho, consideradas
desencadeadoras de alterações osteomusculares em digitadores. Em 1990, a ergonomia
estabeleceu-se plenamente no Brasil, com atuação nas mais diversas áreas de trabalho”.
No Brasil a aplicação da ergonomia tem notoriedade e às exigências do Ministério do Trabalho e
Emprego através do cumprimento da Norma Regulamentadora NR 17 (Portaria nº 3.751,
23/11/1990) resultada de reivindicação sindical, mas seu texto contém parâmetros que devem ser
seguidos, de uma forma muito mais ampla e abrangente em todos os ramos como o item que delega
ao empregador a realização da Análise Ergonômica do Trabalho – AET ressaltando os trabalhos
com equipamentos de processamento eletrônico de dados com terminais de vídeo. 27
Somente após as análises sistemáticas nos focos, natureza das tarefas executadas será possível
aferir, com mais precisão, os problemas e seus custos, revendo as expectativas de retorno dos
projetos de transformação.17-18
A Ergonomia continuou a crescer a partir dos anos 80, particularmente, devido às novas tecnologias
informatizadas que propiciaram novos desafios à Ergonomia. O papel do profissional de Ergonomia
nas indústrias nucleares e de controle de processos, cresceu após os acidentes de Three Mile Island,
nos Estados Unidos, e de Bhopal, na Índia. 15
Atualmente os ergonomistas contribuem no planejamento e desenvolvimento de projetos através da
avaliação de tarefas, postos de trabalho, produtos, ambientes e sistemas de modo a torná-los
compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações humanas. 17
4
A origem e a evolução da ergonomia estão relacionadas às transformações socioeconômicas e,
sobretudo, tecnológicas que vêm ocorrendo no mundo do trabalho. 18
Silveira e Salustiano21 declaram que conforme a Previdência Social (2010), as estatísticas de
acidentes e doenças nos ambientes laborais retratam a necessidade da intensificação no
conhecimento da ergonomia como fator de extrema importância para as organizações com a
finalidade de prevenir e/ ou mitigar problemas ergonômicos.
2.3 - Principais problemas relacionados a Ergonomia
Historicamente, o primeiro relato a associar queixas dolorosas nos membros superiores a tipos de
atividade de trabalho foi feito, provavelmente, por Ramazzini, em 1713. Apesar de esta primeira
associação datar do século XVIII, só recentemente o assunto despertou interesse mundial. 5
Segundo Tavares22 os riscos ergonômicos que têm maior relação com o uso de computadores são:
exigência de postura inadequada, utilização de mobiliário impróprio, imposição de ritmos
excessivos, trabalho em turno e noturno, jornadas de trabalho prolongadas, monotonia e
repetitividade. Além desses riscos, as condições gerais do ambiente (iluminação, temperatura e
ruído) têm grande influência no comportamento dos trabalhadores.
A partir desta abordagem, a demanda inicial da área administrativa dá-se pela obrigatoriedade em
atender os parâmetros estabelecidos que permitam a adaptação das condições de trabalho às
características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto,
segurança e desempenho eficiente. 15
De acordo com Souza & Júnior23 as atividades desempenhadas pelo grupo administrativo se
caracteriza pelo trabalhador permanecer a maior parte do dia sentado, realizando trabalhos de
natureza manual com fina coordenação motora, e com utilização dos músculos da cervical m.
esternocleidomastóide; Ombro - m. trapézio e m. deltóide; Mãos e punhos - m. palmar longo, m.
flexores e extensores da mão.
Segundo Oliveira24 com o crescimento das empresas de indústria, comércio e serviços, cresceu
também o número de profissionais em serviços burocráticos que comumente relatam não possuir
tempo para as atividades físicas.
Nahas25 explica que este fator é muito agravante para a saúde física neste ritmo de trabalho estático,
em sua maioria em postura sentada incorreta, pois além do longo tempo que os trabalhadores
passam no interior das empresas, a maioria ainda dedicam horas do seu dia/noite aos estudos ou de
maneira passiva aumentando o tempo sem atividade física, visto que até a locomoção se dá pela a
utilização de algum meio para o transporte reduzindo ainda mais o uso das funções do sistema
locomotor fortalecendo um ciclo de hábitos sedentários.
As ramificações econômicas em diversos momentos se deram sem um adequado planejamento
físico e/ ou organizacional, com a cobrança direta de resultados que gerassem ganhos e lucros, deste
modo abriu-se margem para a difusão do estresse no ambiente de trabalho, que como consequência
proporcionou o aumento de diversas patologias relacionadas ao trabalho. 24
O exercício de trabalhos informatizados onde não há preocupação com a ergonomia desses postos/
processos laborais aumentam a exposição aos riscos ergonômicos agravados pelo sedentarismo e
como consequência fatídica o aparecimento das doenças laborais que ao longo do tempo levam
esses trabalhadores a incapacidade temporária ou definitiva da musculatura. 26
Segundo Nahas25 diz que o comportamento sedentário provoca uma série de manifestações no
sistema cardiovascular, sistema vegetativo e nas glândulas endócrinas, provocando doenças
hipocinéticas.
O indivíduo que permanece sem flexão anterior do tronco e com a falta de apoio lombar e do
antebraço, potencializa a pressão intradiscal para mais de 70%, o que pode predispor a maiores
5
índices de desconfortos tais como dor, sensação de peso e formigamento em diferentes partes do
corpo e, principalmente, a processos degenerativos, como a hérnia de disco, tendinites, LER e
DORTs que são irreversíveis. 28
Mediante ao exposto, faz-se necessário o estudo do tema em voga, uma vez que sua importância e
abrangência devem ser conhecidas por parte das empresas no que se as possíveis medidas para
eliminar ou mitigar os problemas ergonômicos.
2.4 - Principais medidas para eliminar ou mitigar os problemas ergonômicos
As propostas de intervenções nestes processos podem ir além da adequação do imobiliário,
equipamentos, condições ambientais, revezamentos, organização do trabalho até os programas de
pausas com exercícios estabelecendo o incentivo a promoção da saúde do trabalhador sendo que
esta combinação será eficaz e não apenas paliativa para a finalidade almejada pelas empresas. 15,13
Fonte: O próprio autor
Tabela 1 – Patogênese e sintomatologia dos agentes ergonômicos
Guerra et al.26 afirma que desenvolver nos trabalhadores um sistemático modelo de mudanças de
hábitos que inclua atividade física no ambiente de trabalho é o primeiro passo para ajudar a resolver
os problemas relacionados ao sedentarismo, má postura, postura sentada e falta de preocupação com
a ergonomia confirmando a importância da pausa ativa como experiência positiva no alcance de
6
resultados esperados podendo ainda evitar incidentes e acidentes e até mesmo encargos trabalhistas
futuros.
2.5 – Ginastica laboral e seus benefícios
Segundo Grandjean29 a pausa durante a jornada de trabalho é fundamental para que haja a
manutenção do ritmo produtivo do trabalhador, tendo em vista que sua principal função fisiológica
é permitir aos tendões lubrificação adequada pelo líquido sinovial. 30
O “carro-chefe” de um Programa de Ginástica Laboral - PGL é a Ginástica Laboral – GL, mas
também apresenta outras ações voltadas para melhorar qualidade de vida do trabalhador podendo
ser vista como uma ferramenta ergonômica se a considerarmos como “pausa ativa”. Convém frisar
que a ergonomia viabiliza a consolidação do PGL através da GL. 5
Conforme LIMA19 a palavra Ginástica é derivada de Gymnos em grego e significa desn'udo. A
atividade nasceu na antiga Grécia há aproximadamente 3.000 anos como um meio de integrar o
corpo e a mente. Existem registros desse tipo de atividade, desde 1925, na Polônia, Bulgária,
Alemanha Oriental, Holanda e Rússia, quando então era chamada de Ginástica de Pausa.
Os benefícios da implantação da GL trazem melhoria do funcionamento geral do aparelho
musculoesquelético, sendo útil em situações de esforço postural estático excessivo onde o PGL será
contribuinte para efeitos benéficos a saúde humana no ambiente de trabalho. 3
Benefícios com a implantação da Ginástica Laboral
Melhora os movimentos bloqueados por tensões emocionais
Aumenta a amplitude muscular
Melhora a coordenação motora
Eliminação de toxinas pela melhora da circulação sanguínea
Reduz o sedentarismo
Reduz a fadiga mental e física
Melhora a concentração e agilidade
Prevenção de lesões musculares
Motiva para a mudança de estilo de vida com realização de atividade física
regular
Desenvolve a consciência corporal
Melhora o bem-estar físico e mental
Melhora a socialização
Fonte: ZILLI, 2002, p.66)
Tabela 2 – Benefícios com a implantação da Ginástica Laboral
A GL quando bem orientada, conforme estudos disponíveis, pode contribuir com a ergonomia
reduzindo as dores, fadiga, monotonia, estresse, o absenteísmo (faltas ao trabalho), acidentes e
doenças ocupacionais dos trabalhadores devendo ser associada às demais melhorias ergonômicas e
a conscientização para a correção postural promovendo um alívio destas sintomatologias e atenuar a
carga laboral. 13
Para MARTINS20 e ZILLI31 a GL apresenta-se com caráter preparatório (antes da jornada de
trabalho) ou compensatório (durante ou após o trabalho) podendo citar-se ainda os benefícios como
7
a promoção do bem-estar e da motivação, aumentar a integração no ambiente de trabalho e até a
produtividade.
Contudo, para que a GL solidifique seus benefícios é imperativo que haja um embasamento
ergonômico, pois de nada adiantaria um trabalhador realizar a GL durante quinze minutos se tivesse
que retornar a um posto de trabalho inadequado durante horas. 5
Assim, através da AET a implementação de ajustes ergonômicos que objetivem, no mínimo, a
adaptação do posto de trabalho às características do funcionário, tornam-se indispensáveis.
3. Metodologia
O estudo baseou-se em pesquisa bibliográfica para levantar informações e fornecer a base de
sustentação a respeito do tema abordado, através de pesquisas em diversas fontes (artigos, teses,
dissertações e monografias). Após esta fase deu-se a entrevista com a equipe desenvolvedora do
trabalho para conhecer o caso de implantação e implementação de um Programa de Ginástica
Laboral - PGL num setor administrativo. O programa foi implantado no ano de 2012 numa empresa
do Polo Industrial de Manaus - PIM e realizado o estudo de seus aspectos conforme as informações
disponíveis que se teve acesso.
O referido estudo deu-se no período de março a outubro/2016, com encontros semanais com a
equipe no âmbito da própria empresa, também se realizou visitas in loco no setor onde o programa
foi implantado.
4. Resultados e Discussão
De acordo com o relato da equipe de implantação, o estudo começou a partir na necessidade de se
desenvolver um tema para melhoria no ambiente de trabalho. Após minucioso estudo sob diversos
temas e a análise de alguns parâmetros de controle o número de pessoas do departamento em
tratamento fisioterápico chamou atenção da equipe conforme mostrado na figura abaixo:
Figura 1 - FUNCIONÁRIOS POR SETOR EM TRATAMENTO MÉDICO
Em etapas posteriores do estudo, realizou-se uma pesquisa de campo com aplicação de questionário
semiaberto no total de 122 trabalhadores do turno administrativo no departamento estudado o que
proporcionou a estratificação nos seguintes aspectos: sexo, tempo de serviço, queixas e tipos de
queixas ergonômicas.
Quanto ao sexo o departamento está composto por 92 homens e 30 mulheres distribuídos em
diversos setores realizando atividades:
8
Figura 2 – Composição do departamento por sexo
Em reação ao tempo de casa o departamento apresenta uma grande diversidade de experiência
qualificações sendo agrupados da forma abaixo:
Figura 3 – Divisão do departamento por tempo de casa
O formulário de avaliação do posto de trabalho administrativo, próprio da empresa, foi entregue aos
colaboradores com seis questões formuladas e distribuídas entre três categorias conceituais:
Participação em atividades físicas;
Avaliação das condições de segurança e saúde no trabalho;
E a investigação de problemas de saúde com ênfase ergonômica onde detectou-se que 79,5%
dos colaboradores relataram queixas ocasionais de dores musculares com frequência
semanal mínima até duas vezes por semana.
Figura 4 – REGISTRO DE QUEIXAS MUSCULARES
Os segmentos corporais mais citados como queixas álgicas com frequência esporádica pelo
questionário aplicado foram:
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Figura 5 – Segmento corporal x Queixas dolorosas
Segundo pesquisas as queixas de dores e lesões na coluna vertebral são frequentes em pessoas com
idade entre 25 e 45 anos, nos homens atingem mais a região lombar e as mulheres são mais
frequentes na região cervical, sendo a causa que mais afastam as pessoas do trabalho,
impossibilitam as diversas atividades diárias, prejudicam o descanso atrapalhando o sono e
diminuem a Qualidade de Vida. 18
A seguir obteve-se os resultados do primeiros questionário:
Item Quantidade Percentual
Participação no PGL 35 28,6%
Satisfação com PGL 20 16,3%
Percepção de dor 97 79,5%
Fonte: Adaptado de dados fornecidos
Tabela 3 – Pesquisa quanti-qualitativa antes das melhorias no PGL
Nota-se, através da tabela 3, que havia participação efetiva de apenas 28% do público alvo em no
máximo 3 vezes por semana do programa oferecido, essas pausas eram usadas para outros fins.
Posteriormente a implantação das melhorias verificou-se que as adequações foram realizadas um
período de 6 meses (maio a novembro de 2012) conforme o cronograma estabelecido, todas as fases
e informações foram organizadas, tabuladas e registradas pela equipe conforme a descrição. O
objetivo era intervir nas possíveis causas da problemática da baixa participação dos funcionários no
PGL. Quanto a análise da situação atual dos postos de trabalho foi realizado o mapeamento
ergonômico onde o ambiente/ imobiliário apresentava-se adequado a natureza da atividade
conforme as recomendações legais aplicáveis.
Utilizou-se, pelos profissionais do setor de ergonomia com o apoio da comissão a ferramenta de
avaliação postural RULA (Rapid Upper Limb Assessment) que avaliou a postura, força e
movimentos associados com a tarefa sedentária pelo trabalho com uso do computador onde o escore
foi 3 (Risco baixo) para as atividades desenvolvidas sendo necessária a intervenção para a melhoria
do programa.
Com base no resultado do questionário e da AET foram determinadas medidas de correção postural,
pequenas adequações do posto de trabalho e a adequação ao programa de Ginastica Laboral, estas
ações conjuntas visaram contribuir para o conforto, evitar o desenvolvimento de doenças
ocupacionais, minimizar as inadequações posturais e consequentemente aumentar em 50% a
participação dos trabalhadores no PGL.
10
Na fase de experimento das adequações propostas para o programa foi criado, no setor estudado,
grupo piloto da Comissão Ergonômica Administrativa, aplicado um treinamento específico para
facilitadores pelos profissionais do setor de Ergonomia da própria empresa para as 6 componentes
da equipe com o objetivo de identificar as causa do problema e intervir preventivamente nas
condições de trabalho que podem desencadear doenças ocupacionais. Verificou-se que a causa não
adesão ao PGL era desconhecimento dos benefícios ergonômicos que a GL pode trazer a saúde.
As melhorias no PGL envolveu a divisão de 1 sessão (anteriormente existente) de em 2 sessões de
GL com duração de 10 minutos diários, realizada nos horários de 7h às 7h05min e de 9h as
9h05min, com frequência de 5 vezes por semana contando com a participação voluntária dos
colaboradores. As sessões de GL consistiram em exercícios de alongamento (estáticos e dinâmicos),
de mobilizações articulares, de exercícios de flexibilidade, resistência e relaxamento, com ênfase
nos membros superiores e coluna vertebral, visando preparar e compensar os trabalhadores pelas
atividades laborais.
E como medida principal foi definido também que o PGL seria acompanhado de Diálogo Quinzenal
de Segurança – DQS para a difusão de informações sobre a importância da prática da ergonomia no
ambiente de trabalho bem como a incorporação do conhecimento sobre consequências das posturas
incorretas/ inadequadas e correto ajuste para uso do mobiliário e equipamentos disponíveis para
manutenção e melhorias no programa.
É importante salientar que dos 122 colaboradores após a adequação das melhorias e realizada a
pesquisa, mais de 60% dos entrevistados aderiram ao PGL, em média 3 vezes por semana,
superando a meta proposta no inicio dos estudos pois demostravam desinteresse e descrédito ao
programa.
Item Quantidade Percentual
Participação no PGL 109 89,3%
Satisfação com PGL 105 86,6%
Percepção de dor 97 79,5%
Fonte: Adaptado de dados fornecidos
Tabela 4 – Pesquisa quanti-qualitativa após das melhorias no PGL
Houve participação com sugestões para as temáticas abordadas nos DQS e interação de 85% em
todas as palestras principalmente em esclarecer dúvidas sobre os riscos relacionados às atividades
exercidas e uso correto dos recursos disponíveis.
Apenas 3,6% dos entrevistados assinalaram ruim, tal fato poderia ser explicado pela ausência de
novas estratégias para aumentar (ou manter) a motivação ao programa.
Figura 5 – SATISFAÇÃO COM AS MELHORIAS DO PGL ESTUDADO
11
Os resultados da análise do questionário após a implantação do PGL não demonstraram
comprovação das melhoras nos relatos de percepção de dor após as intervenções ergonômicas,
porém foi ampliada a participação total no PGL em 60,6% dos entrevistados junto a relatos de
efeitos dos benefícios da GL em funcionários considerados fisicamente inativos.
Com o presente estudo pôde-se se observar na prática que as intervenções para adequação do PGL
foram salutares e de suma importância para a compreensão dos seus benefícios.
Dos 3 itens reavaliados: participação no PGL, satisfação com PGL e percepção de dor, apenas o
último não apresentou diferença significativa entre os respondentes dos formulários (pré e pós-
implantação) servindo como sugestão de tema para estudos mais aprofundados na área.
3. CONCLUSÃO
Após a análise dos resultados do estudo dos “Benefícios da implantação e implementação de um
Programa de Ginástica Laboral adequado numa empresa do Polo Industrial de Manaus (PIM)”,
especificamente numa área administrativa concluiu-se que:
- os riscos laborais mais comuns na área administrativa estão relacionados à Ergonomia devido ao
excesso de tempo em posturas e/ou mobiliários inadequados gerando consequências primárias como
as queixas álgicas em diversos segmentos corporais;
- as intervenções para a adequação do PGL estudado foram importantes para comprovar na prática
seus benefícios e efeitos, bem como mostrar a importância da prática da ergonomia no ambiente de
trabalho;
- a adequação do PGL, aumentou a satisfação dos funcionários, estimulando-os após as melhorias,
difundir o conhecimento dos benefícios da GL.
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