bed and breakfast no brasil
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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC
Danielly Hanashiro
Tatiane Alves
Thais Moane
Bed and Breakfast no Brasil
São Paulo 2009
Danielly Hanashiro
Tatiane Alves
Thais Moane
Bed and Breakfast no Brasil
Trabalho de conclusão de curso
apresentado ao Centro Universitário
SENAC – Campus Santo Amaro, como
exigência parcial para obtenção do grau de
Bacharelado em Hotelaria.
Orientador Temático: Júlio César Butuhy
São Paulo 2009
HANASHIRO, Danielly. ALVES, Tatiane. MOANE, Thais
Bed and Breakfast no Brasil / Danielly Hanashiro, Tatiane Alves,Thais Moane
– São Paulo 2009. 102 p.
Trabalho de Conclusão de Curso – Centro Universitário SENAC Campus
Santo Amaro – Bacharel em Hotelaria
Orientador: Júlio César Butuhy 1. Bed and Breakfast 2. Hospitalidade 3. Sustentabilidade
Danielly Hanashiro
Tatiane Alves
Thais Moane
Bed and Breakfast no Brasil
Trabalho de conclusão de curso
apresentado ao Centro Universitário
SENAC – Campus Santo Amaro, como
exigência parcial para obtenção do grau de
Bacharelado em Hotelaria.
Orientador Temático: Júlio César Butuhy
A banca examinadora de Conclusão de Curso em sessão pública realizada
em 05/10/ 2009, considerou o (a) candidato (a).
1. Examinador (a)
2. Examinador (a)
3. Examinador (a)
Aos nossos pais, que sempre nos auxiliaram nas
dificuldades ao longo do curso. Aos nossos amigos e
companheiros que de alguma forma nos
compreenderam e auxiliaram na execução deste
importante projeto para nossas vidas.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a todos aqueles que sempre estiveram ao nosso lado
durante os quatro anos que se seguiram e a elaboração deste projeto.
Primeiramente às nossas famílias, pais, irmãos e amigos que nos incentivaram a
essa nova etapa de nossas vidas adulta, dando-nos todo suporte necessário para
a realização, tanto acadêmica quanto pessoal.
Gostaríamos de agradecer também a todos os profissionais que de alguma
forma contribuíram para esse projeto. A todos envolvidos da agência Cama e
Café, Carlos Magno Cerqueira, gerente comercial, Ana Laura Lopes de Andrade,
psicóloga e responsável por acolher a sede da agência, Daniella Grego, gerente
de operações e a anfitriã Flávia Garcia, que acrescentaram conhecimentos ao
nosso projeto proporcionando novas perspectivas do mercado hoteleiro.
Aos gerentes dos hotéis que trabalhamos, por terem permitido nosso
afastamento para pesquisa de campo na cidade do Rio de Janeiro e por nos
ofereceram hospedagem gratuita no período da visita.
É de fundamental importância expressar nossa gratidão para com o nosso
professor e orientador Júlio César Butuhy e nossa professora metodológica
Mônica Bueno, que ao longo do curso nos ofereceu conhecimento e habilidades.
“Hospitalidade não significa mudar as pessoas, e, sim, oferecer-lhes o espaço
necessário para que as transformações possam ocorrer. (…) A hospitalidade não
é um convite sutil ao hóspede para que adote o estilo de vida de seu anfitrião,
mas é a concessão ao hóspede, de encontrar seu próprio estilo de vida”.
Henri Nouwen
“A hospitalidade é antes de mais nada uma disposição da alma, aberta e irrestrita.
Ela, como o amor incondicional, em princípio, não rejeita nem discrimina a
ninguém. É simultaneamente uma utopia e uma prática”.
Leonardo Boff
RESUMO
Este trabalho aborda o encontro entre turistas e anfitriões no modo de
hospedagem domiciliar, especificamente o de tipo bed and breakfast (ou cama e
café) no bairro de Santa Teresa, na cidade do Rio de Janeiro. O objetivo é de
examinar a relação de hospitalidade entre essas partes, estabelecida através
desse sistema, o qual permite uma experiência interpessoal, além de ser de
grande importância na constituição de vivência integral de turismo, na perspectiva
de sustentabilidade. A pesquisa, ainda, tem como objetivo ser uma referência
bibliográfica para pesquisas e conhecimento geral, visto que hoje, no Brasil, é
escasso material sobre esse assunto. Além disso, as autoras analisaram alguns
locais que possuem características semelhantes com Santa Teresa, e que por
sua vez também tenham foco no turismo histórico-cultural, mas acesso à outras
formas de turismo em sua proximidade, o que acarreta em um ganho tanto para a
cidade, quanto para a comunidade, já que haverá mais procura no local e a
economia, portanto, será beneficiada.
Palavras – chaves: Bed and Breakfast, hospitalidade, sustentabilidade.
ABSTRACT
This essay approaches the meeting between tourists and hosts in home
lodging, specifically bed and breakfast in Santa Teresa, a neighborhood in the city
of Rio de Janeiro. The goal is to examine the relationship of hospitality among the
parts that is established by this system, allowing a different contact, know as
interpersonal relationship, besides being of extreme importance in the constitution
of a tourism experience, when it comes to viability. The research, also, has the
intention to become a bibliographical reference, for researches and common
knowledge, once, this kind of material is scarce in Brazil. In addition, the writers
analyzed some spots that possess similar characteristics to Santa Teresa, which
also focus on a cultural-historic tourism and are located near other forms of
tourism, driving the city and the community to profit from that, for the interest in the
place will be higher and the economy might develop.
Key – words: bed and breakfast, hospitality, viability.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Casarão do Século XIX.........................................................................18
Figura 2 - Placa de Sinalização do Meio de Hospedagem B&B............................20
Figura 3 - Busca Temática Através do Site............................................................25
Figura 4 - Logo do Rio Home Stay e do Cama e Café..........................................27
Figura 5 – Pacote Romântico.................................................................................27
Figura 6 – Mapa de Santa Teresa.........................................................................42
Figura 7 – Bondinho...............................................................................................43
Figura 8 – Igreja de Santa Teresa.........................................................................43
Figura 9 - Casa do Cama e Café Estilo Castelo....................................................44
Figura 10 – Parque das Ruínas.............................................................................45
Figura 11 - Vista do Mirante - Parque das Ruínas.................................................45
Figura 12 - Museu Chácara do Céu.......................................................................46
Figura 13 – Quarto e Sala......................................................................................47
Figura 14 – Quarto e Sala......................................................................................47
Figura 15 – Hotel de Santa Teresa........................................................................48
Figura 16 - Café da manhã na casa da Ana Laura................................................57
Figura 17 - Página do Site Riotur...........................................................................60
Figura 18 – Rio do Engenho..................................................................................72
Figura 19 – Ouro Preto..........................................................................................75
Gráfico 1- Hospedagem Domiciliar no Rio de Janeiro – 2008...............................31
Gráfico 2- Perfil do público – 2005.........................................................................32
Gráfico 3- Taxa de Ocupação nas Principais Áreas do Rio de Janeiro – 2008.....37
Gráfico 4- Distribuição Percentual dos Room Nights – 2008.................................40
Gráfico 5- Anfitriões Cadastrados na Sede Cama e Café.....................................51
Gráfico 6- Quartos Existentes nas Casas Cadastradas.........................................52
Gráfico 7- Categoria dos Apartamentos que são Oferecidos pelos Anfitriões.......52
Gráfico 8- Banheiros Privativos ou Coletivos.........................................................52
Gráfico 9- Ocupação Máxima de Hóspedes..........................................................53
Gráfico 10- Média das Diárias Cobrada – por categoria........................................53
LISTA DE TABELAS
1- Destinos de Continentes e Cidades Turísticas do B&b.....................................19
2- Perfil do Anfitrião................................................................................................30
3- Perfil do Turista Nacional e Estrangeiro – 2003 a 2006....................................32
4- Taxa de Ocupação Trimestral – 2001 a 2008....................................................36
5- Taxa Média de Ocupação – 2000 a 2008..........................................................36
6- Taxa de Ocupação Segundo a Categoria de Uh’s – 2008................................36
7- Diária Média do Quarto Vendido........................................................................38
8- Tempo de Permanência dos Hóspedes – 2008.................................................39
9- Percentual Médio de Room Nights – 2003 a 2008............................................40
10- Número de Turistas e sua Participação – 2007 a 2008...................................41
11- PIB Real – 1970 a 2003................................................................................. 69
12- Per Capita do Estado do Espírito Santo – 1995 a 2003..................................69
13- Projeção do Emprego Formal do Turismo no Espírito Santo – 2004 a 2005..70
14- Segmento x Mercado.......................................................................................71
SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO.............................................................................................14 2. CONCEITO DE BED AND BREAKFAST (b&b)....…………………….16 2.1 Histórico..........................................................................................................18
2.2 Hospedagem Domiciliar Aliado à Sustentabilidade...................................27
2.3 Perfil do Anfitrião Brasileiro.........................................................................30
3. TURISMO CULTURAL...............................................................................34
3.1 A Cidade do Rio de Janeiro.........................................................................35
3.2 Procedência dos Turistas.............................................................................40
4. O BAIRRO DE SANTA TERESA.............................................................42
4.1 Pontos Turísticos...........................................................................................43
4.2 Oferta Hoteleira no Bairro de Santa Teresa.................................................46
5. A HOSPEDAGEM DOMICILIAR EM SANTA TERESA.....................49
5.1 Agência Cama e Café.....................................................................................49
5.2 Experiência Vivida pelas Autoras.................................................................54
5.3 Comitê Organizador dos Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro.........57
5.4 Divulgação do Produto por Entidades Públicas.........................................60
6. PLANO DE DESENVOLVIMENTO DO B&B NO BRASIL................63
6.1 Benefícios da Hospedagem Domiciliar........................................................63
6.2 Principais Dificuldades para Implantação da Hospedagem Domiciliar....64
6.3 Alternativas para Minimizar as Dificuldades de Implantação do B&b......65
6.4 Destinos..........................................................................................................67
6.5 Copa do Mundo de 2014................................................................................80
6.6 Jogos Olímpicos de 2016..............................................................................82
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................... 85
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................86
APÊNDICE A.....................................................................................................89
APÊNDICE B.....................................................................................................94
APÊNDICE C.....................................................................................................98
14
1. INTRODUÇÃO
Muitas são as formas de hospedar e bem receber, mas somente a
hospedagem domiciliar remete a sensação de estar em casa. O estudo
desenvolvido apresentará um olhar sobre a implantação do bed and breakfast
(b&b) no Brasil, como base o bairro de Santa Teresa – R.J., tendo na
hospitalidade do bairro o ponto central da análise. Buscou-se compreender mais
sobre o trabalho desenvolvido pelos fundadores da rede e pelo trabalho dos
anfitriões.
A existência da hospedagem domiciliar de modo estruturado e formal é
recente no Brasil. Sua prática vem, aos poucos, despertando a curiosidade e o
interesse do publico em geral e dos profissionais da área de turismo.
No entanto, esse é um tema pouco explorado pela literatura técnica e
acadêmica, principalmente em âmbito nacional. Por sua novidade, esse não é um
campo com definições claras e demarcadas. Assim, para esse projeto, foi
necessário uma pesquisa de campo e um serviço oculto para que, antes de
qualquer análise, fosse possível avaliar o serviço oferecido pelos anfitriões e o
trabalho executado pelos fundadores e colaboradores da rede.
Acredita-se que o interesse da Prefeitura do Rio de Janeiro pelo projeto irá
crescer por conta da exigência de novos leitos para atender a demanda que será
gerada pela Copa do Mundo em 2014 e pelos Jogos Olímpicos em 2016, que terá
o Rio de Janeiro como sede. Isso será significativo para o projeto, pois os futuros
eventos farão com que o sistema de hospedagem domiciliar venha a ser
constantemente construídos e divulgados.
Em síntese, o trabalho procurou contribuir para a construção de um
referencial teórico para servir de base a outros interessados que de alguma forma
procuram obter esclarecimento sobre os projetos em andamento e suas
expectativas, além de analisar outros locais do Brasil onde seria viável a
implantação desse meio de hospedagem.
15
Deste modo, para a realização desta pesquisa, foram levantadas algumas
questões para que se possa compreender como funciona o meio de hospedagem
domiciliar, Cama e Café: Porque se desenvolveu no Brasil de forma distinta do
restante do mundo?, o surgimento em Santa Teresa aconteceu por necessidade
ou oportunidade?, além de saber como é a descrição da experiência, com foco no
anfitrião e hóspede?.
Este trabalho teve por objetivo concluir um estudo sobre o meio de
hospedagem b&b e produzir uma referência bibliográfica sobre o assunto e
entender como se dá a operação do sistema (reserva, pagamento, regras,
facilidades) através da vivência da hospedagem. O trabalho tem por objetivo
também indicar lugares que possuam características semelhantes ao do bairro de
Santa Teresa, que possui o turismo histórico-cultural, no qual a comunidade pode
contribuir com o turismo recebendo o visitante em suas casas.
Para se obter o objetivo geral, foi necessário Identificar os reais motivos do
surgimento dos b&b em Santa Teresa, Identificar os motivos de seu
desenvolvimento diferenciado no país e qual o perfil dos anfitriões e turistas e
como se dá a relação entre eles.
Justifica-se a escolha deste tema, sobretudo, pela importância desse
segmento na hotelaria e no turismo. O b&b é um meio de hospedagem
alternativo, rentável e sustentável, que promove maior integração do turista com o
local visitado e proporciona intensa troca de experiências. Desenvolveu-se no
Brasil diferentemente do resto do mundo, com maior qualidade e em menor
quantidade. A maioria dos brasileiros não tem conhecimento sobre o assunto e
não há grandes investimentos e divulgação no setor.
Para realizar a análise dos fatos descritos acima ao longo do trabalho,
foram utilizados instrumentos de coleta de dados de bibliografias como livros na
área de hospitalidade domiciliar, turismo sustentável, gestão de destinos
turísticos, artigos jornalísticos e sites de jornais e órgãos do governo foram
altamente úteis para a conclusão de idéias e definições teóricas. Igualmente,
foram realizadas pesquisa de campo, um cenário de cliente oculto e entrevistas
(ver apêndices A, B e C) com profissionais diretamente ligados ao tema
desenvolvido.
16
2. CONCEITO DE BED AND BREAKFAST (b&b)
De acordo com o Art 23, Subseção II do Ministério do Turismo (MTur):
Consideram-se meios de hospedagem os empreendimentos ou estabelecimentos, independentemente de sua forma de constituição, destinados a prestar serviços de alojamento temporário, ofertados em unidades de freqüência individual e de uso exclusivo do hóspede, bem como outros serviços necessários aos usuários, denominados de serviços de hospedagem, mediante adoção de instrumento contratual, tácito ou expresso, e cobrança de diária. (2009).
Bed and breakfast é considerado um meio de hospedagem domiciliar, onde
os moradores da cidade oferecem um ou mais cômodos de sua própria residência
para receber visitantes.
A hospitalidade comercial em uma casa particular se refere a uma variedade de acomodações, desde alojamento particulares com café da manhã até casas para hóspedes, desde pequenos hotéis até casas urbanas, desde casas campestres em que o hóspede providencia sua própria alimentação (self catering cottages) até famílias hospedeiras. Esses tipos de operação têm em comum o fato de que a instalação física é a residência principal para os hospedeiros. (LYNCH, 2004, p. 146)
No Brasil, o b&b se enquadra na categoria de meios de hospedagem sem
exigência de registro do hóspede, onde o órgão oficial de turismo, o MTur não
exige cadastramento para os estabelecimentos assim caracterizados.
Este tipo de hospedagem pode assumir quatro diferentes modalidades:
1. Casas construídas e mantidas prioritariamente para aluguel de
temporada. Neste caso elas só são ocupadas ocasionalmente pelos
proprietários, que tanto podem habitar na mesma cidade, quanto serem de
fora e usarem a casa eventualmente, principalmente durante feriados ou
férias.
2. Casas habitadas que são alugadas para temporada - os moradores
deixam temporariamente suas casas para deixar espaço para receber os
turistas.
17
3. Casas onde os moradores disponibilizam um cômodo para os turistas,
mas não se preocupam em oferecer serviços, como limpeza e arrumação e
café da manha.
4. Casas onde os moradores disponibilizam um cômodo da casa e se
encarregam dos serviços.
A modalidade a ser explorada neste estudo é a que o turista recebe os
serviços oferecidos pelo seu anfitrião, estando incluso em sua compra uma
acomodação já devidamente especificada e o café-da-manhã. A prefeitura do
município do Rio de Janeiro define hospedagem domiciliar como:
Uma modalidade especial de serviço de hospedagem, em que o hóspede utiliza um quarto na residência do hospedeiro ou anfitrião, compartilhando alguns espaços da residência. Para o hóspede, é uma maneira de se aproximar mais dos hábitos e da cultura local, usufruindo um serviço de qualidade a preços acessíveis. (2009).
O proprietário e sua família, que vivem no local, o administram algumas
vezes com a ajuda de associações, cooperativas ou agências que organizam as
reservas e a política de marketing. O café da manhã é normalmente a única
refeição servida, mas em alguns casos o anfitrião pode oferecer também outras
opções, a serem feitas junto com a família ou isoladamente. A estrutura física das
casas varia muito de acordo com as tradições de cada local, mas apresentam,
normalmente, de um a três quartos destinados (não sempre exclusivamente) à
atividade.
A dupla função da residência - moradia e hospedagem de turistas -
aproxima o proprietário e sua família dos hóspedes, inclusive expondo
naturalmente aspectos do dia-a-dia, como tarefas domésticas, preferências
pessoais, cultura, lazer e relacionamentos. Para Stankus (1987), o tempo que o
proprietário gasta com os hóspedes é reconhecidamente um dos principais
motivos que atraem o turista para o b&b, sendo a maior diferença para as outras
formas de acomodação.
18
2.1 Histórico
O meio de hospedagem domiciliar não surgiu apenas com um bom café
da manhã e um confortável quarto como se imagina. Segundo Smith & Smith
(2002), tudo começou nas Ilhas Britânicas - Reino Unido, após a Segunda
Guerra Mundial. Nessa altura, numerosos estrangeiros precisavam de um lugar
para ficar e as populações locais começaram a abrir suas casas para receber os
viajantes, servindo almoço aos convidados “overnight”. Assim, uma cama e o
almoço eram oferecidos.
O almoço se resumia em um simples prato de comida caseira,
normalmente servida na sala de jantar, no quarto ou em um pátio, no jardim da
casa. Apesar das residências serem grandes, a situação das acomodações era
precário, possuindo apenas um banheiro coletivo que se encontrava muitas
vezes ao lado de fora da casa. Devido à grande quantidade de visitantes, as
acomodações da casa não eram suficientes para abrigar a todos, fazendo com
que os anfitriões disponibilizassem redes que eram colocadas na varanda da
casa. Todos que chegavam a essas casas tinham uma permanência obrigatória,
porém curta, pois o motivo delas estarem ali era apenas pela suas necessidades
físicas.
Já segundo Pimentel (2003), o termo "Bed and Breakfast" nasceu na
Inglaterra, durante o Século XIX, onde proprietários de ricas mansões,
empobrecidos, começaram a cobrar uma taxa de seus hóspedes, como um modo
de ampliar sua renda. Aos poucos, a prática foi se ampliando e tomando a forma
Figura 1 - Casarão do Século XIX Fonte: Google Imagens
19
de um verdadeiro serviço turístico. Ou seja, além de cama e café da manhã, o
turista encontrava um sistema de recepção, apoio e informações turísticas sobre a
área. Entretanto, nesse tipo de estabelecimento, o negócio de hóspedes pagantes
é secundário ao uso como residência privada.
Nesse período, surge uma grande necessidade econômica por parte dos
anfitriões que já tinham o costume de receber estrangeiros sem cobrar nada em
troca, transformando o proprietário e sua família, que vivem no local,
administradores. As refeições oferecidas são substituídas pelo café da manhã,
onde é a única refeição servida. As acomodações e a estrutura física das casas
variam muito de acordo com as leis e tradições de cada local, mas apresentam,
normalmente, de um a três quartos destinados (não sempre exclusivamente) à
atividade, onde os banheiros são coletivos, porém estão instalados dentro da
residência.
Histórico do B&B no Mundo
O b&b tem se desenvolvido cada vez mais no mundo todo. A fórmula de
hospedagem vem se espalhando por todos os continentes e cidades turísticas. A
tabela abaixo é uma fonte de pesquisa de b&bs do site bedandbreakfast.com.
Tabela 1: Destinos de continentes e cidades turísticas Fonte: www.bedandbreakfast.com
Londres - Inglaterra
Segundo a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (2008), Londres é
considerada a cidade onde o serviço de hospedagem domiciliar é o mais
desenvolvido em todo o planeta. Existe em Londres, aproximadamente 16.600
leitos em regime de b&b, o que equivale a aproximadamente 16% da oferta de
20
hospedagem na cidade. Cerca de 90% desses leitos são oferecidos ao mercado
turístico através de 21 agências especializadas. Considerando – se uma taxa
média de ocupação de 52% ao ano, o faturamento do mercado pode ser estimado
em £ 221.850 por noite, ou £ 81 milhões ao ano, revelando a grande importância
do segmento para o mercado turístico inglês.
Os principais usuários do b&b londrinos são viajantes norte-americanos,
franceses, alemães e holandeses, entre 25 e 55 anos de idade. A principal
motivação da viagem é o lazer, seguido de negócios e visitas a parentes e
amigos.
Outro segmento importante é o estudante em curtas viagens para
aprendizagem do idioma. A grande maioria dos estudantes considera este tipo de
hospedagem a forma ideal de integração com a população e o principal modo de
desenvolver o idioma local. Nesses casos, muitas escolas de idiomas indicam
redes de hospedagem com as quais mantêm parceria.
O aumento dos fluxos turísticos e a relativa inelasticidade da capacitação
hoteleira estimulou o surgimento de novos b&b na capital britânica, a partir dos
anos 1990. Isso foi particularmente importante em bairros como Lambeth, Sutton
e Islington, que entraram para o roteiro de hospedagem com a saturação das
áreas mais tradicionais do centro e oeste de Londres. Atualmente existem 560
TICs (Centros de Informação Turística) em toda a Inglaterra e outros ainda
operando na Escócia e no País de Gales. Em 1998, foi fundada a Bed and
Breakfast & Homestay Association - BBHA, com o objetivo de manter e melhorar
os serviços de b&b oferecidos em Londres. Mas foi em abril de 2003, que o
Figura 2 – Placa de sinalização do meio de hospedagem B&B Fonte: Google Imagens
21
VisitBritain foi criado, tendo como missão divulgar a imagem da Grã Bretanha
como um destino turístico mundial.
Estados Unidos
Segundo a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (2008), o sistema de
b&b se desenvolveu nos Estados Unidos durante a grande depressão econômica
dos anos 1930. Muitos americanos abriram suas casas para viajantes como forma
de obter uma fonte extra de renda. Usava-se a expressão boarding house para
classificar esse tipo de hospedagem. Passada a depressão econômica, a
hospedagem domiciliar manteve-se como uma alternativa para muitas famílias
continuarem a complementar sua renda.
Com o aumento do número de norte-americanos viajando para a Europa,
principalmente na década de 1980, aos poucos o sistema bed and breakfast foi
redescoberto pelo mercado dos EUA. Em 1988, foi criada a Profissional
Association of Innkeepers International - PAII, com o objetivo de dinamizar e
aperfeiçoar a atividade nos Estados Unidos e países vizinhos. A missão da PAII é
fornecer cursos, informação, contatos, assistência jurídica, oportunidades de
negócios e pesquisas relacionadas ao seguimento de b&b. O estudo da indústria
realizado anualmente pela PAII é a fonte de informações do setor mais respeitado
dos EUA sobre a gestão de b&b.
A PAII foi criada por dois anfitriões, Pat Hardy and Joann Bell, como
desdobramento de sua publicação mensal de sucesso: a Innkeeping. De um
modesto escritório em Santa Barbara, Califórnia, a PAII cresceu para uma
organização nacional de 3 mil membros que, além de manter a produção de vasto
conteúdo sobre a indústria de b&b, promove educação continuada, troca de
informações e ofertas de aquisições de produtos.
Dados da PAII mostram que, em 2004, o número de propriedades com
serviços de b&b nos EUA girava entorno de 20 mil, atendendo a
aproximadamente 55 milhões de turistas e com uma taxa de ocupação média de
41,4%. O volume movimentado por esse setor de acomodação turística alcançou
US$ 3,04 bilhões em 2004, sendo que a diária média do setor está em torno de
UR$ 143,90. Números da PAII revelam que o perfil dos adeptos da modalidade
nos EUA é: 29% dos imóveis que oferecem esse tipo de acomodação domiciliar
estão situados em áreas rurais, 16% em zonas urbanas, 3% em subúrbios e 52%
22
em cidades pequenas, no total, 83% dos da oferta de casas localizam-se em
destinos turísticos conhecidos. Sobre os anfitriões, a sondagem da PAII revela
que 88% vivem no imóvel e 55% dos proprietários dependem de outra fonte de
renda, além da gerada pelo b&b.
Itália
Segundo Linch (2004), a Itália também conta com uma organização
nacional especifica para o setor de hospedagem residencial no país. Em 1999, foi
criada a Associazione Nazionale dei bed and breakfast e degli Affittacamere
(ANBBA), entidade sem fins lucrativos cuja missão é difundir, promover e
organizar o segmento, além de representá-lo diante das demais instituições e do
público em geral.
A intermediação do ANBBA permite aos proprietários realizarem
negociações mais vantajosas com seus fornecedores, o que seria difícil acontecer
individualmente. A organização busca preservar ainda a tradição e a cultura
italianas ao favorecer a difusão da hospitalidade turística do tipo familiar.
Cinco anos após sua criação, em 2004, a ANBBA foi reconhecida pelo
Ministéro Attività Produttive da Itália, equivalente ao Ministério da Indústria e
Comércio, como uma Entidade Turística Qualificada e a organização mais
representativa do setor extra-hoteleiro. Para o governo italiano, o setor de bed
and breakfast assumiu uma notável importância no quadro da revitalização
turística do país. A maior agência de hospedagem domiciliar do país é a bed and
breakfast Italia, fundada em 1995 por profissionais de marketing e turismo e que
conta com aproximadamente 1.642 associados em mais de 546 localidades. No
ano de 2005 a rede recebeu cerca de 7.500 hóspedes, o que representou um
crescimento de 20% em relação ao ano anterior. As atividades da rede dividem-se
em duas áreas principais: seleção e controle de casas e anfitriões; e call center
(central de atendimento), em cinco línguas, para a realização de reservas e
fornecimento de informações aos clientes. O website www.bbitalia.it foi o primeiro
na Europa a possibilitar a reserva online com apenas quatro cliques. Graças a
esse pioneirismo, em 2005 a b&b Itália foi convidada pela municipalidade de Paris
para desenvolver uma nova rede de b&b na cidade, uma vez que a Capital da
França não é considerada uma cidade que dispõe da mais intensa ou tradicional
rede de hospedagem domiciliar.
23
Winnipeg – Canadá
A cidade de Winnipeg que abrigou os Jogos Pan-americanos de 1999, já o
havia feito em 1967. Estima-se que 110.000 visitantes tenham participado do
evento, mobilizando todos os recursos de hospedagem da cidade, incluindo os
b&b e locação temporária de domicílios. A cidade conta com 620 mil habitantes e
é a capital da província de Manitoba, na região de pradarias que se estende a
noroeste dos Grandes Lagos por todo o Canadá central. É uma antiga cidade de
fronteira, fundada por comerciantes de peles franceses em 1738.
De acordo com a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro (2008), para as
famílias de Winnipeg, receber hóspedes tem um valor semelhante ao que
predomina no Reino Unido, reforçado pelo fato de se tratar de uma cidade de
fronteira. Seu cadastro de meios de hospedagem inclui 31 estabelecimentos de
b&b, oferecendo cerca de 80 quartos para hospedagem (na província de
Manitoba são 100 estabelecimentos). Na cidade, 2/3 das residências participam
de uma rede e o terço restante mantém-se de maneira independente. Existem
duas associações organizadas pelos anfitriões com o objetivo de promover a
divulgação e comercialização, bem como de zelar pelos padrões de qualidade dos
serviços: a bed and breakfast Association of Manitoba e a Heritage bed and
breakfast Homes of Winnipeg. Além disso, foi organizada uma empresa auxiliar
para prestar serviços a esses estabelecimentos: a bed and breakfast of Manitoba
Marketing Co-op.
Sidney
De acordo com Pimentel (2003), ao contrário das experiências de outros
países, a rede de hospedagem domiciliar para as Olimpíadas de Sidney em 2000
não foi organizada por agências ou associações do setor turístico, mas pelo
segmento de intermediação imobiliária (real state agents).
Fundada em 1902, o grupo Ray White detém uma das mais importantes
empresas imobiliárias da Austrália, operando mais de 87 escritórios espalhados
na Austrália, Nova Zelândia, no sudeste da Ásia. A empresa emprega mais de 7
mil pessoas em sua atividade e foi escolhida pelo comitê organizador dos jogos
para administrar o programa oficial de acomodação residencial.
Do lado da oferta, criou um programa de recrutamento de anfitriões pela
internet. Os hóspedes potenciais podiam procurar entre diversos perfis e
24
orçamentos, usando uma ferramenta de busca do portal. Além de hospedagem
em residências de família, podia-se optar também pelo aluguel do imóvel por
temporada, sendo que se estima uma relação de 70% para 30% entre duas
modalidades, respectivamente.
Para participar da rede, as residências candidatas tiveram que submeter-se
a uma inspeção da central de reservas, adequando-se as exigências arcando com
uma taxa de vistoria de 105 dólares americanos. Sobre as reservas para
hospedagem e encaminhadas pela central de reserva, os anfitriões foram
descontados em 8% sobre o valor das diárias (comissão) e mais 6,25% sobre o
valor da primeira diária (taxa de reserva).
B&B no Brasil
No Brasil, a prática do b&b, assim como de outras formas de hospedagem
domiciliar, ocorre já há alguns anos, embora de modo informal e desarticulado.
Existem ofertas deste tipo de hospedagem no Rio de Janeiro e em diversos
estados brasileiros, além de episodicamente por ocasião de grandes eventos
regionais, como o Boi Bumbá em Paritins, Oktober Fest em Blumenau e o Fórum
Social Mundial em Porto Alegre. Estas experiências adaptaram a fórmula b&b à
realidade brasileira. A situação legal e organizativa pode variar. As hospedagens
domiciliares podem ser formais - com CNPJ e registro no Ministério do Turismo;
semi-formais - quando há uma instituição dando apoio, como o Sebrae,
Associação de Moradores, Secretaria de Turismo Municipal ou Estadual, etc; ou
completamente informal.
Não há ainda regulamentação jurídica ou definição oficial desenvolvida
pelo governo federal que possa balizar uma conceituação. Esta vem sendo
formada principalmente através das empresas existentes e iniciativas municipais
isoladas, através de contatos dos empresários com técnicos e profissionais da
área e poder público e da divulgação a mais longo alcance pela mídia.
O poder público começa aos poucos a prestar atenção a esse modo de
hospedagem, mas ainda não há um posicionamento claro nesse sentido, se
revestindo na formulação de políticas, principalmente a nível nacional. Em 2006, o
Ministério do Turismo encomendou um estudo técnico analítico sobre o tema, mas
este é bastante incompleto. E não se tem notícias de projetos ou políticas
implementadas.
25
Agências promotoras e/ou divulgadoras no Brasil
Existem poucas agências especializadas na prestação de serviços de
reservas para a modalidade de hospedagem domiciliar no Brasil, uma delas é a
BBBrasil, que foi implantada no inicio de 2003 e atualmente conta com
aproximadamente 115 casas (ou resorts, como são chamados no site) em
atividade e 100 sendo avaliados. A rede tem abrangência nacional, atuando no
Amazonas, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Pará, Rio
de Janeiro e São Paulo. Está prevista a expansão para o Maranhão, Santa
Catarina e Goiás.
As reservas podem ser feitas de duas maneiras: por meio do site
www.bbbrasil.info ou de um Call Center que reúne 16 linhas ativas e atendentes
capazes de dar informações em cinco idiomas. Uma vez realizada a pré-reserva,
o atendente verifica com os anfitriões ou proprietários a real disponibilidade do
imóvel e confirma a reserva, em um procedimento que leva no máximo 48h após
o inicio da compra. Apesar de o check-in ocorrer direto nas casas, à rede conta
com resorts managers, espécie de gerentes locais que dão suporte aos
hóspedes, realizam as campanhas de afiliação e o controle de qualidade.
O site do BBBrasil oferece uma série de funcionalidades para facilitar a
escolha do hóspede, com recursos como busca temática e geográficas, além da
busca livre. Fornece ainda informações úteis para o viajante em cada localidade. O
site tem quase todo o seu conteúdo disponível em quatro idiomas: inglês,
português, Italiano e Francês.
Figura 3 – Busca temática através do site Fonte: www.bbbrasil.info.br
26
As residências são classificadas em três níveis distintos, de acordo com
sua situação, característica e serviços oferecidos. Além da hospedagem nos
moldes de b&b, a rede oferece também residências (casas ou apartamentos) para
aluguel de curtos ou longos períodos. No site do BBBrasil o hóspede pode
encontrar serviços extras, tais como transfers, tours e excursões organizadas por
guias de cada uma das 20 localidades atendidas pela rede. O BBBrasil não exige
exclusividade de seus anfitriões por entender que muito deles praticavam antes a
atividade de maneira independente. Sua remuneração pelo serviço de
agenciamento é na forma de comissão, com percentagens variando entre 35% e
40% do valor das diárias.
O BBBrasil possui uma forte relação de parceria com a rede italiana
BBItalia, maior rede daquele país. Através dessa cooperação, a rede BBItalia
forneceu a rede brasileira seu know-how operacional, bem como disponibilizou a
ferramenta de internet que estrutura o site www.bbbrasil.info.br e, ainda, a “Carta
de Qualidade” utilizada como parâmetro de atendimento. Além disso, a forte
presença da rede BBItalia na Europa potencializa a venda das acomodações
brasileiras, aumentando a atratividade do produto no mercado externo e
transformando a Europa em um grande mercado para o BBBrasil.
Com relação ao modelo de rede para o Rio de Janeiro, pode-se dizer que a
hospedagem domiciliar vem crescendo em ritmo acelerado como primeira opção
de milhares de viajantes em várias partes do mundo, sem a necessidade de
investimentos na construção de novos hotéis, a exemplo de experiências bem
sucedidas em diversas cidades como Londres e Paris. Trata-se de um novo
mercado, que pode gerar renda, conhecimento e crescimento profissional para a
população.
O bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, foi o primeiro a ganhar uma
unidade de uma rede nacional. A procura cada vez maior fez o negócio começar
se expandir para a zona sul carioca e para Olinda, em Pernambuco. Na zona sul
do Rio, porém, recebeu o nome de Rio Homestay. A diferença entre o Cama e
Café e o Rio Homestay é apenas uma: o lugar em que está localizado. Ou seja,
se o bairro for histórico, o serviço terá o nome de Cama e Café.
27
As redes Cama & Café e Rio Homestay recebem cerca de 1000 hóspedes
por ano, entre brasileiros e estrangeiros. A expectativa para este ano é que haja
um crescimento de 20% no número de visitantes de acordo com funcionários da
agência. Devido à grande procura do meio de hospedagem b&b, os anfitriões
deixaram de oferecer apenas uma aconchegante cama e um bom café, e
resolveram inovar o serviço prestado. A partir desse pensamento, foram surgindo
os b&bs temáticos, novos meios de hospedagem em barcos e aviões, pacotes
românticos, pacote de núpcias, suítes com ar-condicionado, casas com piscina e
garagem com duas ou três vagas, parceria com agências de viagens, transfers,
tours,excursões, aulas de mergulho e serviço de guias turísticos.
2.2 Hospedagem Domiciliar Aliado à Sustentabilidade
Segundo o Ministério do Turismo (2006), o b&b apresenta-se integrado ao
conceito de turismo sustentável de acordo com os aspectos abaixo:
• Impacto ambiental reduzido: em sua maioria, a fórmula não prevê a
construção de novas estruturas. A hospedagem se realiza nas casas dos
Figura 5 - Pacote Romântico Fonte: bedandbreakfast.com
Figura 4 - Logo Rio Home Stay e Cama e Café Fonte: GoogleImages
28
habitantes locais, limitando a proposta somente à capacidade de
recepção do lugar;
• Integração da renda: o dinheiro que deriva do movimento turístico vai
diretamente às famílias e às comunidades locais, favorecendo a
circulação de moeda em localidades de difícil acesso;
• Integração: a estrutura em rede também estimula a troca de
experiências e conhecimentos entre os habitantes de uma comunidade,
favorecendo a integração de serviços das praticas profissionais:
transporte, tours turísticos, artesanato, produção de produtos típicos, etc;
• Intercâmbio cultural: o b&b cria espaços de encontro entre os turistas e
os habitantes locais, dando vida a um puro e espontâneo intercâmbio
cultural, estimulado pela convivência direta e cotidiana entre hospede e
empreendedor.
Características como a criação de oportunidades interpretativas e/ou
educacionais, e a oferta de experiência de qualidade para o turista dependem
mais de estrutura para estrutura, mas de modo geral, parecem estar mais
presentes em b&b do que em outros meios de hospedagem tradicionais, como
hotéis.
29
Entre elas o fato de que este não excede a capacidade de carga local, pois
não exige novas construções; a renda é distribuída entre a comunidade; o modo
associativo é estimulado; há um resgate dos modos tradicionais de moradia,
alimentação, costumes, etc, o que se torna uma atração a mais para o turista; há
um aumento da auto-estima da população local, a conservação urbana é
estimulada (através de reformas nas fachadas, jardins, etc); cria-se uma nova
opção de renda para quem está fora do mercado de trabalho. Para os adeptos da
modalidade não há uma exigência que esta seja a única ocupação, ou ocupação
principal, dos moradores, ou seja, quem administra esse meio de hospedagem
pode manter sua ocupação tradicional e não fica dependente exclusivamente do
turismo; não cria concentração de muitos turistas em um só local, pois se atende
apenas pequenos grupos; não exige grandes investimentos iniciais; é uma
fórmula menos formal e vinculadora para turistas mais independentes; oferece
uma recepção personalizada em uma atmosfera informal e descontraída e
geralmente têm preços mais baixos e acessíveis.
Uma característica, no entanto, chama particularmente a atenção: a criação
de um espaço privilegiado de promoção do encontro de qualidade entre hóspedes
e anfitriões. O b&b parece favorecer o intercâmbio cultural entre os turistas e os
habitantes locais, estimulado pela convivência direta e cotidiana entre quem
hospeda e quem é hospedado. A recepção do turista em uma estrutura domiciliar
pode facilitar a troca de informações através de conversas, mas também, de um
modo mais sutil, a observação do modo de vida de cada um.
A maior parte das famílias hospedeiras se prodigia com simpática disponibilidade a fazer conhecer ao turista os atrativos do território, sejam aqueles mais estritamente culturais-ambientais, seja aqueles menos conhecidos, mais “étnicos”, menos turísticos, mais “íntimos”. (MASINI, 2001, p. 42).
Ainda segundo o autor, o turista interessado no b&b quer viver de maneira
ativa o local no qual se encontra, respirar a cultura como uma interface autêntica,
como apenas uma família que vive ali pode garantir. Nessa lógica, o b&b constitui
uma modalidade de organização do sistema receptivo que, melhor do que
qualquer outra permite capturar esta demanda.
O b&b permite uma forte identificação com a natureza local; permite, ou
melhor, obriga a sentir-se em um lugar especifico não em um lugar sem
30
personalidade, como com freqüência acontece nos hotéis (especialmente
naqueles de grandes dimensões, subjugados à forte homologação da cadeia a
qual pertencem). 15 Lynch (2004, p. 162), reforça essa idéia quando demonstra
que estudos, como os realizados por Stringer (1981) e Pearce (1990),
identificaram insights acerca das realidades da vida familiar como uma atração
chave para os hóspedes, particularmente para aqueles originários do estrangeiro.
Assim, a acomodação domiciliar pode servir como um ícone cultural.
O turismo realizado do ponto de vista cultural é realizado na escala
humana e significa aprendizagem, encontro de pessoas. Age como estimulante
da vitalidade, como fator educativo, como realização do direito ao lazer e como
crescimento pessoal.
2.3 Perfil do Anfitrião Brasileiro
De acordo com a Prefeitura do Rio de Janeiro o perfil dos anfitriões segue
a seguinte classificação:
Perfil dos Anfitriões Faixa Etária 70% entre 28 e 45 anos 30% entre 46 e 65 anos
Grau de instrução 90% ensino superior 10% ensino médio
Idiomas Estrangeiros 15% não falam outra língua
65% falam um idioma estrangeiro
20% falam dois ou mais idiomas
Estado Civil 35% são casados 65% são solteiros
Tabela 2 – Perfil dos Anfitriões
Fonte: Hospedagem Domiciliar - Rio de Janeiro, 2008.
De acordo com informações disponibilizadas em slides no site da
prefeitura do rio de janeiro sobre palestras do tema, os anfitriões têm perfis
culturais diferenciados sendo muitos deles músicos, artistas plásticos,
profissionais liberais e mais de 60% já viajaram ao exterior e obtiveram
conhecimento sobre o segmento de hospedagem.
31
Gráfico 1- Hospedagem domiciliar no Rio de Janeiro
Fonte: Hospedagem Domiciliar - Rio de Janeiro, 2008
Sobre os reais motivos no qual os anfitriões brasileiros decidiram integrar-
se a redes de agenciamento e oferecer suas casas pata turistas, 46%
responderam que a escolha foi devido à melhoria do balanço familiar (renda
familiar), 25% por identificarem uma forma viável de começar uma atividade
comercial, 16% optaram por terem a chance de conhecer novas pessoas e
culturas diferentes e 11% somam outros motivos.
O perfil do anfitrião varia de acordo com o tipo de turismo desenvolvido e
atendido pelo sistema de Bed and Breakfast e de sua localidade. No caso de
outros países onde o principal público identificado são estudantes, passantes
(viajantes que necessitam de um leito no meio da viajem) ou um grande fluxo
turístico devido a algum evento especial (no caso olimpíadas, jogos pan
americanos, copa do mundo, fórmula 1) os anfitriões podem apresentar diferentes
razões para aderir ao método de hospedagem, em proporções diferentes das
estudadas no Brasil, por possuírem uma situação diferente da brasileira, que é o
turismo cultural.
Perfil do Turista de Bed and Breakfast
O turista que escolhe ter uma hospedagem domiciliar no destino turístico
que pretende visitar geralmente tem o interesse em conhecer afundo a cultura do
local, os costumes de seus habitantes, a rotina da comunidade, os pontos
turísticos históricos e conhecer restaurantes, galerias, museus, arquitetura e tudo
que envolva a cultura local. O turista pode obter essas experiências de forma
mais próxima quando está inserido naquela comunidade, fazendo parte da rotina
32
das pessoas que ali moram e tendo a chance de ter os melhores guias turísticos
para o propósito de sua viagem: "os habitantes locais" e principalmente os
anfitriões que o receberam em casa.
Abaixo há uma representação gráfica fornecida em formato de slides em
uma apresentação da rede Cama e Café no Seminário Internacional realizado no
Rio de Janeiro no ano de 2006.
Gráfico 2- Perfil do Público
Fonte: Seminário b&b - Rio de Janeiro (2006).
O perfil do turista nacional que adere a hospedagem domiciliar no Brasil
vem crescendo a cada ano. Este crescimento por ser analisado de acordo com a
tabela a seguir:
Tabela 3- Perfil do Turista Nacional e Estrangeiro Fonte: Prefeitura do rio de Janeiro (2006)
Origem 2003 2004 2005 2006
Nacional 13% 27% 32% 36%
Estrangeiro 87% 73% 68% 64%
33
O quadro abaixo apresenta a lista de alguns efeitos positivos e negativos
analisados de acordo com o contato cultural entre anfitriões e hóspedes percebido
no segmento de Bed and Breakfast.
Contatos culturais entre turistas e anfitriões (Adaptado de Reinsiger, 1994)
Efeitos Positivos Efeitos Negativos Desenvolvimento de atitudes positivas a respeito dos outros
Desenvolvimento de atitudes negativas com os outros
Aprendizado de culturas e costumes diferentes
Tensão, hostilidade, desconfiança, preconceito e desentendimento
Redução de estereótipos e percepções negativas
Isolamento, segregação e separação
Desenvolvimento de amizades Dificuldade na formação de laços e amizades
Desenvolvimento de orgulho, apreciação, entendimento, respeito e tolerância a outras culturas
Sentimento de inferioridade ou superiodade e choque cultural
Aumento da auto-estima Problemas de comunicação
Satisfação psicológica Insatisfação com interação mútua
34
3. TURISMO CULTURAL
Devido aos muitos termos existentes de turismo e cultura, o Ministério do
Turismo (MTur), em parceria com o Ministério da Cultura e o Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e com base na
representatividade da Câmara Temática de Segmentação do Conselho Nacional
de Turismo, estabeleceu um recorte nesse universo e dimensionou o segmento
na seguinte definição:
Turismo Cultural compreende as atividades turísticas relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo dos bens materiais e imateriais da cultura. (MTUR, 2009).
A definição de Turismo Cultural está relacionada à motivação do turista,
especificamente a de vivenciar o patrimônio histórico e cultural e determinados
eventos culturais, de modo à experienciá-los e a preservar a sua integridade.
Vivenciar implica em duas formas de relação do turista com a cultura ou algum
aspecto cultural: a primeira refere-se ao conhecimento (com busca em aprender e
entender o objeto da visitação); a segunda corresponde a experiências
participativas, contemplativas e de entretenimento, que ocorrem em função do
objeto de visitação. Se as diferenças físicas são importantes, é o aspecto mais
intangível das diferenças culturais que dá as motivações centrais do turismo.
Alguns turistas procuram contato com diferentes modos de vida, identificados
como uma grande variedade de signos culturais, incluindo comportamento social,
língua, vestuário, música, artes e culinária. No turismo, as diferenças culturais são
promovidas de forma a dar ênfase a essas diferenças.
Pode se então concluir que a modalidade de hospedagem estudada, a
hospedagem domiciliar, contribui para o entendimento deste segmento de
turismo, onde os principais participantes, hóspedes e anfitriões, estão sempre em
busca de uma vivência turística diferente do tradicional e que proporciona a troca
de experiências e envolvimento com culturas distantes. O turismo cultural pode
ser praticado em diversas cidades e bairros no Brasil, principalmente os que têm
representatividade em acontecimentos históricos e os que desenvolveram
35
particularidades culturais importantes que acabaram por influenciar os costumes
locais, arquitetura, música, economia e outros fatores que caracterizam o destino.
Na cidade do Rio de Janeiro são identificados alguns lugares que possuem essa
representatividade e que se diferenciam de outros pontos turísticos devido a sua
grande bagagem histórica e cultural.
3.1 A Cidade do Rio de Janeiro
A cidade do Rio de Janeiro é conhecida mundialmente como um dos
lugares mais bonitos para se conhecer, sendo 35ª cidade mais visitada do mundo
segundo a reportagem publicada em 14 de Dezembro de 2007 divulgada pela
Folha Online. Isso se deve às suas praias, lagoas, ao carnaval e aos principais
pontos turísticos, como o Cristo Redentor - uma das sete maravilhas do mundo
moderno – Pão de Açúcar, Maracanã, entre outros. Durante todo ano, de acordo
com a Fecomércio (2008), muitos turistas (nacionais e internacionais) chegam ao
Rio de Janeiro e buscam conhecer – de diferentes maneiras – o que a cidade
oferece. A cidade recebe por ano mais de 2 milhões de turistas, de acordo com
pesquisas da ABIH, e pode ser considerada uma das cidades brasileiras com
maior número de visitações para fins turísticos.
Mas alguns turistas buscam algo mais. Vão a cidade motivados pela cultura
carioca que encontram principalmente região central da capital. A viagem pode
ser vista como uma atividade não apenas de lazer ou de ruptura do cotidiano,
mas também como uma experiência de conhecimento do outro e da natureza e,
ao mesmo tempo, como forma de autoconhecimento.
Dados Estatísticos Hoteleiros do Rio de Janeiro
A pesquisa realizada pela Fecomércio em parceria com a Associação
Brasileira de Indústria de Hotéis do Rio de Janeiro (ABIH-RJ), mostram os dados
estatísticos de hospedagem da cidade do Rio de Janeiro no ano de 2008.
Taxa de Ocupação
A ocupação média no ano de 2008 de 65,86%, só foi inferior às taxas dos
anos de 2000 e 2001. O bom desempenho observado tanto no 1° quando no 4°
trimestre do ano, conforme dados da Tabela 4, acabou influenciando
positivamente o resultado anual. Também observa-se, na Tabela 5, a
36
sazonalidade mensal, confirmando os meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro
como os períodos de maior taxa de ocupação.
Tabela 4- Taxa de ocupação trimestral Tabela 5- Taxa média de ocupação Fonte: Fecomércio - RJ Fonte: Fecomércio - RJ
Através dos gráficos apresentados pode-se constatar que o volume de
turistas na cidade é intenso, principalmente nos meses de alta ocupação,
comprovando que a oferta de hospedagem na cidade do Rio de Janeiro consegue
atender a sua demana turística.
Tabela 6- Taxa de ocupação ao ano por categoria de uh’s Fonte: Fecomércio – RJ (2008)
Pode-se constatar na tabela acima que a taxa de ocupação dos meios de
hospedagens com classificação 3 e 4 estrelas são semelhantes ao longo do ano,
e que nos períodos de alta ocupação – Dezembro, Janeiro e Fevereiro - a
demanda por hotéis 5 estrelas aumenta, sendo o tipo de hotel mais procurado
37
pelos turistas. No mês de Fevereiro pode-se notar um grande aumento na taxa de
ocupação dos hotéis caracterizados como 2 estrelas. Esse aumento pode ser
relativo ao período do carnaval carioca, aonde muitos turistas vão a cidade
motivados por esse evento cultural.
No mês de Junho, é registrada a maior taxa de ocupação dos hotéis de
categoria 2 estrelas enquanto ao mesmo tempo é notada a menor taxa nos hotéis
de categoria 5 estrelas. Pode-se afirmar que o segmento da demanda turística é
diferente neste período devido à grande procura por hospedagens de menor
valor. A sazonalidade pode ser mais percebida nos hotéis de categoria inferior,
pois a variação da taxa de ocupação dos 2 estrelas chega a 40 pontos
percentuais enquanto a dos 5 estrelas não passa de 17 pontos. A taxa de
ocupação do setor também foi calculada por área de localização das unidades de
hospedagem, de forma que, quatro áreas da cidade do Rio de Janeiro foram
definidas:
• Área 1: Barra da Tijuca e São Conrado
• Área 2: Ipanema e Leblon
• Área 3: Copacabana e Leme
• Área 4: Outros Bairros (não mencionados acima, como: Centro,
Glória, Flamengo, Santa Teresa etc).
Gráfico 3- Taxa de ocupação nas principais áreas do Rio de Janeiro
Fonte: Fecomércio- RJ (2008)
38
As maiores taxas de ocupação, em 2008, foram verificadas nas unidades
de hospedagem na Área 3, seguidas pelas que estão na Área 1, Área 4 e por
último Área 2. Podemos observar também que nos meses de Junho e Setembro,
a Área 4 é a mais procurada pelos turistas, e que a taxa de ocupação não ficou
abaixo de 50% em todo ano. A área 4 engloba o bairro de Santa Teresa,
estudado para pesquisa sobre o desenvolvimento da hospedagem domiciliar no
Brasil.
Diária Média por Quarto Vendido
Segundo a ABIH, para cálculo da diária média do quarto vendido (em R$)
são desconsideradas as taxas em geral, como os 10% de cobrança, ISS, PIS,
COFINS e gastos com alimentação (como café da manhã / almoço)
estacionamento e outros serviços.
Tabela 7- Diária média do quarto vendido
Fonte: Fecomércio – RJ (2008)
De acordo a tabela 5, observa-se que no caso das unidades habitacionais
da maioria das categorias e localizações, as diárias médias com valores maiores
foram cobradas, principalmente, em Dezembro e Fevereiro. Esses meses são
considerados períodos de alta estação, portanto, os meses mais valorizados para
os hotéis da cidade, tanto na avaliação por categoria, quanto na análise por
localidade. As diárias nestes meses estão entre as mais elevadas, provavelmente
39
pelo aumento de demanda no período de férias associados ao Réveillon e ao
carnaval, considerados os maiores eventos da cidade.
Podemos considerar, analisando a tabela 6 quanto a 7, que os bed and
breakfast equivalem a hotéis de categoria 2*. Isso se analisa de forma mais clara
na última, pois as diárias médias se equivalem aos valores de diárias que as
casas oferecem para a hospedagem, que variam de R$80,00 a R$ 210,00.
Tempo de Permanência (em número de dias)
Tabela 8- Tempo de permanência dos hóspedes Fonte: Fecomércio – RJ (2008)
A média de permanência do turista da cidade do Rio de Janeiro que se
hospeda em hotéis de categoria 2 estrelas ou b&b é de 2,75 dias. Esta média não
se diferencia muito das médias de permanência dos hóspedes em hotéis de
outras categorias com exceção dos flats – onde a permanência é maior devido à
categoria do meio de hospedagem.
40
3.2 Procedência dos Turistas
Nas tabelas abaixo, podemos observar que em dez meses do ano, o turista
nacional foi o principal cliente do setor, não sendo maior apenas nos meses de
Março a Agosto, quando o turismo internacional representou, respectivamente,
54,62% e 51,34% do total de room nights1 vendidos nestes meses. O gráfico
representa o percentual de room nights segundo a procedência geral dos turistas.
Tabela 9- Percentual médio de room nights
Fonte: Fecomércio – RJ (2008)
Pode-se perceber que o número de turistas internacionais vem
aumentando gradativamente, representando o crescimento da cidade do Rio de
Janeiro como destino internacional. Em 2001, no mês de Janeiro por exemplo, o
percentual de turistas estrangeiros era de apenas 38% enquanto no mesmo mês
em 2008 foram registrados mais de 48%.
Gráfico 4- Distribuição percentual dos room nights Fonte: Fecomércio – RJ (2008)
1 Room Night: expressão hoteleira que significa quarto vendido.
41
Estima-se que, em 2008, 2,1 milhões de turistas, aproximadamente,
instalados em unidades de hospedagem da cidade, tenham visitado o Rio de
Janeiro. Destes, 53,37% são provenientes de outras localidades do Brasil, vindo
primeiramente de São Paulo, depois de Minas Gerais e em terceiro do interior do
Estado de São Paulo. O restante, correspondente a 46,63%, vieram de diversos
países, sendo que aproximadamente 358 mil tenham vindo da Europa,
principalmente da França, Inglaterra, Espanha, Itália e Alemanha.
Tabela 10- Número de turistas e sua participação
Fonte: Fecomércio - RJ
Com o crescimento do turismo na cidade apresentados nos gráficos e
tabelas anteriores, é possível acrescentar que os destinos turísticos do Rio de
Janeiro vêm a cada ano recebendo um maior número de visitantes. Entre os
destinos, pode-se citar Santa Teresa, um bairro antigo de que atrai turistas
interessados na particularidade de sua cultura e história.
O turismo cultural é intenso neste bairro que possui diversos atrativos como
museus, restaurantes tradicionais, arquitetura clássica, mirantes além de ser o
local onde o b&b representa a maior oferta de hospedagem do local.
42
4. O BAIRRO DE SANTA TERESA
O bairro de Santa Teresa nasceu nos arredores de um convento no Morro do
Desterro, no Rio de Janeiro, no século 18. O bairro ocupa uma colina no centro da
cidade e parece ter parado no tempo, pois mantém há dezenas de anos aspectos
preservados do Rio de antigamente, como casarões, igrejas e todo o ambiente
em si. A maioria das mansões centenárias do bairro, inspirada em arquitetura
francesa da época, onde residiam a alta sociedade, não mudou quase nada. É um
bairro dividido entre classe média-alta, média e baixa.
Figura 6- - Mapa de Santa Teresa Fonte: FAPERJ - Ana Maria Moura (2005)
Faz limite com os bairros Glória, Catete, Botafogo, Laranjeiras, Cosme
Velho, Silvestre, Humaitá, Centro, Catumbi e Rio Comprido. Escritores e artistas
sempre foram atraídos por Santa Teresa. A arte exibida nos muitos ateliês que
tomaram conta do bairro, além de possuir também bares, restaurantes e lojinhas
de artesanato.
Pelas ruas estreitas e de paralelepípedos não circulam ônibus ou
caminhões, e a atração principal do bairro são os velhos bondes, que – segundo a
Prefeitura do Rio de Janeiro – são os únicos do modelo que ainda circulam em
todo o Brasil. Começaram a circular no século passado, movidos por tração
43
animal, depois substituído por eletricidade e foram tombados como patrimônio
histórico, passeando ainda por trilhas bem preservadas, levando o visitante a um
city tour personalizado.
Figura 7- Bondinho Fonte: Revista Fator Brasil (2007)
O bonde sai do centro da cidade, passa sobre os Arcos da Lapa e segue a
rota no sobe-e-desce das ladeiras de Santa Teresa, passando por toda área
verde e pelos pontos turísticos do local. E segundo o guia e maquinista
Wanderson da Costa, que trabalha há 10 anos no bonde, nos horários de pico o
grande fluxo de passageiros é formado por trabalhadores voltando ou saindo do
bairro. Os turistas costumam freqüentar o bonde das 11h às 16h.
4.1 Pontos Turísticos
A Igreja e o Convento de Santa Teresa, responsáveis pelo nome do bairro,
pertencentes à Ordem das Carmelitas Descalças, abriga religiosas que vivem
isoladas e têm pouquíssimo contato com o mundo exterior. A ordem prega a
simplicidade, a humildade e a discrição.
Figura 8- Igreja de Santa Teresa Fonte: As autoras (2009)
44
Na Rua Almirante Alexandrino, a mais antiga do bairro, se encontra a Casa
Navio, inspirada no convés de uma embarcação. E é nessa mesma rua que se
tem a visão do Castelo de Valentim, uma fortaleza erguida em estilo neo-
romântico. Construído no final do século 19, foi residência do comendador
Antônio Valentim, projetada por seu filho. O imóvel está também inscrito na
agência Cama e Café e disponível para abrigar hóspedes. Do topo da casa há um
mirante com uma bela paisagem da Baía de Guanabara.
Figura 9- Casa do Cama e Café estilo Castelo Fonte: Site Cama e Café (2008)
No Largo do Guimarães (área nobre do bairro) se concentram os mais
importantes restaurantes e bares do bairro, entre eles, Bar do Mineiro, Bar do
Arnaudo (comida nordestina), Sobrenatural (frutos do mar) e Adega do Pimenta
(alemão). Quando anoitece, o agito toma conta do lugar. Artistas e intelectuais
passeiam por todos os lados apreciando a música popular brasileira. Mais adiante
o caminho do bonde chega ao Largo das Neves, onde se encontra um belo
casario de 1850 e a Igreja de Nossa Senhora das Neves, de 1860, além de mais
uma série de bares muito concorridos.
O local é o ponto final da condução do bonde e por ali também há bares
bem conhecidos, como o Bar do Goyabeira, o Café das Neves e o Santa Saideira.
O Parque das Ruínas também é um mirante, pois de lá, tem-se uma visão bem
nítida do centro da cidade e de toda a orla do Rio – desde o Aeroporto Santos
Dumont até a Urca, além de se ter a vista dos famosos Arcos da Lapa.
45
O parque possui uma sala de exposições, auditório e cafeteria. Com três
andares, a casa chama atenção também por sua arquitetura e estilo - tijolos
aparentes combinados com estruturas metálicas e de vidro.
Em uma das casas do bairro, foi inaugurado em 1979 o Centro Cultural
Laurinda Santos Lobo, para homenagear a mulher que no início do século
praticamente comandou a vida intelectual do bairro, promovendo saraus e dando
vida e graça a Santa Teresa. O acervo fotográfico da casa mostra Laurinda em
atividade e transporta o visitante à Santa Teresa dos tempos passados. O centro
possui também salas de vídeo e espaços para exposições.
A residência de Benjamin Constant - líder do movimento republicano - foi
transformada em museu e totalmente restaurada com móveis, livros, objetos,
Figura 10 - Parque das Ruínas Fonte: FAPERJ Ana Maria Moura (2005)
Figura 11 – Vista do Mirante - Parque das Ruínas Fonte: As autoras (2009)
46
fotografias e acervos de artes plásticas. A área que circunda o museu é
totalmente arborizada. O Museu Chácara do Céu possui um acervo com
importantes obras de arte moderna, com destaques para as assinadas por
Portinari, Di Cavalcanti, Guinard, Picasso, Matisse e Dalí. Em pinturas, aquarelas
e gravuras, o Brasil do século 19 é mostrado por viajantes como Debret e Taunay.
4.2 Oferta Hoteleira no Bairro de Santa Teresa
De acordo com a revista França/Brasil (Edição Maio/Junho 2009 n°292),
nos últimos anos, vários empreendedores franceses estão reformando antigos
casarões em Santa Teresa para instalar hotéis boutique, com charme e
personalização, contribuindo para a revitalização do bairro e aproveitando o clima
bucólico que o local proporciona para se sustentar.
O proprietário francês do Casa Amarelo, Laurent Gelis, adquiriu uma
residência logo na primeira visita a Santa Teresa, pois como ele afirma, “Me
encantei com a tranqüilidade, paz e beleza de lá. Não foi preciso fazer muitas
obras, somente alguns acabamentos. O edifício, que teve apenas cinco donos em
todo esse tempo, está muito preservado” (2009, p.66).
Gelis é dono de uma agência de design na França muito famosa,
principalmente por trabalhar com estampas florais. O artista utilizou o espaço para
mostrar seu trabalho e isso fez com que seu trabalho aparecesse em muitas
revistas de decoração e a dar destaque ao empreendimento. Hoje, 98% dos
hóspedes são estrangeiros, sendo 95% europeus e 30% franceses.
Figura 12 - Museu Chácara do Céu Fonte: FAPERJ Ana Maria Moura (2005)
47
A)
B)
Figura 13- Quarto e sala Fonte: Site Casa Amarelo
O proprietário do Relair Solar - Solar de Santa, Gwanael Allan, é outro
estrangeiro (franco-canadense) que adquiriu um dos casarões de Santa Teresa.
O hotel abriu em Dezembro de 2006, após ficar seis meses de reforma. O espaço
tem uma proposta diferente: é alugado para grupos de até treze pessoas, que
pagam entre R$ 2.000,00 a R$ 2.500,00, dependendo da temporada. Segundo
Allan, esse conceito “’Villa Rental’ é única no Rio. A idéia é dar vida a casa e
promover um turismo criativo”.
A)
B)
Figura 14- Quarto e sala Fonte: Site Solar de Santa
O único hotel visitado pelas autoras, também no mesmo bairro, porém de
proporções bem maiores, é o Hotel Santa Teresa, inaugurado em 2008, após
quatro anos de reforma. De acordo responsável pelo projeto, François Delort,
foram investidos R$ 14 milhões na transformação de do espaço em um hotel
boutique luxo. Em uma área total de 5 mil m², são 44 suítes, um restaurante
(Térèse), um Spa e um bar com nome Bar dos Solteiros. A estrutura emprega
cerca de 85 funcionários.
48
Figura 15- Hotel Santa Teresa
Fonte: As autoras (2009)
De acordo com a França/Brasil (2009), o Santa Teresa é o primeiro cinco
estrelas no centro da cidade. Segundo Delort (2009), abrir um estabelecimento no
único bairro do Rio de Janeiro com arquitetura preservada é um diferencial muito
grande. A decoração interna do hotel tem influências indígenas e africanas, todas
adquiridas pelo próprio Delort, tudo para recriar um ambiente definido por três
aspectos: o místico, o étnico e o sagrado. Ainda de acordo com Delort:
Os turistas ficam felizes de vir para cá, conhecer algo diferente, mais autêntico. Ipanema é supervalorizada. A arquitetura é feia. Copacabana já acabou há muito tempo. [...] Santa Teresa é, sem dúvida, o melhor lugar para se morar. Tem muito verde, vida artística e cultural intensa (2009, p. 67).
Diferente dos outros dois hotéis possui muitos clientes brasileiros, que
freqüentam mais as áreas do bar, restaurante e SPA. Os franceses procuram o
estabelecimento para hospedagem
49
5. A HOSPEDAGEM DOMICILIAR EM SANTA TERESA
Para fins de pesquisa, as autoras deste trabalho de conclusão de curso
efetivaram uma pesquisa de campo no bairro de Santa Teresa, com o objetivo de
coletar o maior número de informações possíveis sobre o bairro, o
desenvolvimento da hospedagem domiciliar no local e suas características,
entender a relação entre os turistas deste tipo de hospedagem e os anfitriões e
mapear os pontos positivos e negativos da atividade na cidade.
Para tanto foram realizadas entrevistas com diversas pessoas envolvidas
na área, duas hospedagens em casas diferentes no bairro de Santa Teresa e
visita aos pontos turísticos do local.
5.1 Agência Cama e Café
Através da entrevista realizada com Carlos Magno Cerqueira, sócio do
Cama e Café, a idéia de trazer o meio de hospedagem domiciliar ao Brasil surgiu
através de experiências vividas por ele e por mais dois sócios, Leonardo Rangel e
João Vergara no ano de 1995, quando viajam rumo à América do Norte e logo
depois para a Europa para fazerem um intercambio. A idéia era partir para
acomodações em Albergues como a maioria dos jovens de sua idade o faziam.
Porém, ao chegarem, descobriram uma outra alternativa de hospedagem, o
“B&B”. Uma forma de hospedagem desconhecida para os viajantes, onde famílias
locais abriam suas casas fornecendo um quarto com total privacidade para
acomodação, sem precisar dividir o espaço com pessoas estranhas, como era o
caso dos albergues.
Ao chegarem ao “B&B” resolveram se instalar em um quarto triplo aderindo
à idéia de ficarem somente por uma noite em caráter de experiência, se a
experiência fosse positiva para todos, renovariam por mais dias na nova
descoberta de hospedagem pela Europa. Para a surpresa dos três, descobriram
que o anfitrião, ou seja, o dono da casa era o que havia de mais fascinante neste
tipo de hospedagem. Quando podia servia como guia turístico e até mesmo como
professor de idiomas. Como costumam dizer, “ganharam” um amigo embutido na
diária. Isso fez com que os sócios percebessem que esse novo meio de
hospedagem deixava os hóspedes mais próximos da cultura local.
50
Após 40 dias de viagem por 12 países, retornam ao Brasil com fotos e
muitas histórias para contar. Nasceu nos sócios à vontade de abrir uma Rede de
B&B no Brasil, mas para isso precisavam de um lugar que reunisse atrativos
culturais e, ao mesmo tempo históricos como é o caso da maioria das cidades na
Europa. Lembraram das ruas sinuosas de Santa Teresa, da arquitetura eclética e
suas diversidades nos casarões e do velho bonde cruzando o bairro carioca. Os
sócios chegaram à conclusão que Santa Teresa era o lugar certo para inserir uma
Rede de Hospedagem Domiciliar.
Cerqueira, como turismólogo e guia turístico, Rangel como engenheiro
atuante na área de desenvolvimento sustentável e Vergara como designer de
produto atuante na área de projetos especiais para preservação de patrimônio
tanto histórico como cultural estavam preparados para desenvolver
sustentavelmente a preservação cultural, histórica e social de Santa Teresa
através do turismo como ferramenta principal. Santa Teresa a partir daquele
momento se tornaria o bairro carioca conhecido como “Destino Turístico
Sustentável”.
Em 2003, após dois anos de pesquisa e catalogação do Projeto Piloto,
fundaram a agência Cama e Café com 20 casas no bairro carioca. Sabiam que o
projeto realmente poderia dar certo, mesmo sabendo que seria difícil por se tratar
de um bairro de resistência e vanguarda. Logo interagiram com a comunidade
para conhecer melhor os moradores, e sugeriram parcerias com
estabelecimentos, pontos de taxi, restaurantes, bares, ateliês para que o projeto
fosse bem aceito e trouxesse benefícios a todos, tanto aos moradores quanto aos
turistas que visitariam o bairro. O Sebrae foi o primeiro parceiro a investir na idéia.
Com o passar dos anos o projeto foi ganhando a simpatia de mais parceiros e
hoje conta apenas com o fruto do seu trabalho desses anos e o prestígio das
principais entidades de classe do trade turístico. No Arte de Portas Abertas de
2002, evento cultural que faz parte do calendário anual de eventos da cidade,
começam as inscrições para os moradores que queriam fazer parte da Rede de
Hospedagem local.
Hoje, após anos de caminhada, o projeto é pioneiro no
Brasil e presta consultoria para vários projetos. O Laboratório de treinamento para
os anfitriões fica na Sede no Cosme Velho onde há uma parte da casa com
quarto, banheiro, sala de jantar, estar e cozinha para o treinamento de anfitriões
51
do Brasil. A Rede encontra-se atualmente em Santa Teresa e Olinda. Como
projeção para os próximos destinos conta com Paraty para final de 2010,
Petrópolis para 2011 e Ouro Preto para 2012 a principio. A central de reservas e
operações fica em Santa Teresa na casa de uma das anfitriãs da rede. A empresa
trabalha a filosofia do baixo custo operacional e utiliza-se principalmente da
internet como ferramenta principal para divulgação e venda.
Casas Cadastradas na Sede do Cama e Café em Santa Teresa
O Cama e Café conta com uma seleção de casas que podem ser
escolhidas pelo design da residência, pela sua localização, pelo perfil do anfitrião
e pelas vantagens e facilidades que oferece. As diárias variam de R$ 85,00 a R$
210,00, o hóspede pode escolher a casa que quer ficar hospedados através do
site da agência na internet, onde estão disponíveis todas as informações das
casas cadastradas além de fotos e preço da hospedagem.
Hoje, são 50 casas cadastradas no serviço, que soma cerca de 150 leitos.
De acordo com a entrevista realizada com Daniella Grego, gerente de operações
do Cama e Café, o grande diferencial da Rede Cama e Café são as
possibilidades de convívio diário com os habitantes locais, seus hábitos e sua
cultura. Através de dados coletados durante a entrevista foram obtidas
informações sobre a situação real das quantidades e valores do Cama e Café.
Gráfico 5 – Anfitriões cadastrados na Sede Cama e Café Fonte: As autoras (2009)
52
Gráfico 6- Quartos existentes nas casas cadastradas Fonte: As autoras (2009)
Gráfico 7 – Categoria dos apartamentos Fonte: As autoras (2009)
Gráfico 8 - Banheiros Privativos ou Coletivos Fonte: As autoras (2009)
53
Gráfico 9 – Ocupação máxima de hóspedes Fonte: As autoras (2009)
Gráfico 10 – Média das diárias cobradas
Fonte: As autoras (2009)
Vantagens e Facilidades
O Cama e Café ultrapassa a hospitalidade convencional. Satisfazer as
necessidades de um hóspede, fazendo com que ele se sinta em casa nunca foi
tão fácil. Além de uma cama, um café da manhã e a simpatia dos anfitriões, os
hóspedes também encontram diversas vantagens e facilidades ao se hospedarem
em uma casa agenciada pela rede.
Os serviços oferecidos pelos anfitriões não se limitam apenas em uma
cama e café da manhã. A experiência vivida por pessoas em suas viagens de
turismo acaba sendo única, pois o Cama e Café oferece em questão de
facilidades proporciona uma localização próxima ao centro da cidade, acesso à
internet (wi-fi), garagem, televisão a cabo, ventilador, ar-condicionado,
hidromassagem, biblioteca, jardim e vista panorâmica. Com relação às vantagens,
54
podemos citar a estrutura física, segurança, comodidade, diária com café incluso
e um anfitrião que acaba se tornando um guia turístico e um grande amigo, na
maioria das vezes, de acordo com a anfitriã Ana Laura Lopes de Andrade.
5.2 Experiência Vivida pelas Autoras
A experiência vivida no Cama e Café aconteceu em duas fases. Duas das
autoras se hospedaram na casa da anfitriã Ana Laura Lopes, como estudantes de
hotelaria para conhecer o meio de hospedagem e a Rede Cama e Café, onde
foram obtidos informações através de entrevistas. No mesmo período, a terceira
autora se hospedou na casa da anfitriã Flávia Garcia sem revelar o principal
motivo da sua estada. A decisão de conhecer o Cama e Café de formas
diferentes possibilitou as pesquisadoras comparar o serviço prestado.
O resultado dessa pesquisa se resume na qualidade da hospitalidade de
ambas as casas que ofereceram serviços compatíveis ao esperado. Os relatórios
a seguir, realizados como hóspede oculto e como estudantes mostrarão dados e
características do anfitrião e da casa.
Relatório de Hospitalidade - Modelo de Hóspede Oculto
• Anfitriã: Ana Laura
• Endereço: Rua Andres Bello, 15 - Santa Teresa
• Anfitrião Extra: Alexandre (esposo)
• Profissão: Advogada
• Idiomas: Inglês/ Espanhol
• Momentos de lazer: Ir à praia, jantar fora, jogar baralho, fazer compras,
navegar na web, assistir televisão, sair com amigos, praticar esportes, ir
ao cinema, ler, ouvir música
• Quartos reservados para hospedagem: Três quartos, porém apenas
dois possuem ar-condicionado e a internet pode ser disponibilizada para
o hóspede caso seja necessário.
• Quantidade de leitos: Duas camas de casal e quatro camas de solteiro.
- SINGLE: R$ 120,00
- DOUBLE: R$ 160,00
- TRIPLE: R$ 200,00
55
• Todos os quartos possuem banheiro privativo com itens básicos de
higiene como, sabonete e papel higiênico e as camas são confortáveis
(colchões novos)
• O enxoval é composto por tolha de banho, lençóis, manta e
travesseiros.
• Decoração e Estrutura: No momento, a atenção da anfitriã está voltada
para a parte estrutural. Ela quer resolver todos os problemas de
encanamento, construção e espaço para depois pensar na decoração
dos quartos.
• A área para fumantes fica em um espaço reservado no quintal que por
sua vez é grande e aberto.
• Itens do Café da manhã:
- Leite
- Café
- Iorgurte
- Suco de laranja natural
- Bisnaguinha
- Dois sabores de bolo
- Manteiga
- Geléia
- Queijo fatiado
-Presunto fatiado
- Frutas
- Biscoito
Relatório de Hospitalidade - Sistema de “Viagem de Estudantes”
• Anfitriã: Ana Laura
• Endereço: R. Laurinda dos Santos Lobo, 124 - Santa Teresa
• Anfitrião Extra: Augusto (caseiro)
• Profissão: Psicóloga e analista de sistemas
• Idiomas: Inglês/ Espanhol
• Momentos de lazer: Jantar fora, assistir televisão, dançar, ir ao cinema,
teatro, viajar, ler, ouvir musica
56
• Quartos reservados para hospedagem: Três quartos, porém apenas
dois com banheiro privativo dentro do quarto.
• Quantidade de leitos: Duas camas de casal e cinco camas de solteiro.
- SINGLE: R$ 120,00
- DOUBLE: R$ 160,00
- TRIPLE: R$ 200,00
• O banheiro oferecido como privativo possuía itens básicos de higiene
como, sabonete e papel higiênico e creme dental. Todos os produtos
porém, de marcas de segunda linha.
• O enxoval é composto por tolha de banho, lençóis, manta e
travesseiros.
• A área para fumantes fica em um espaço reservado no quintal que por
sua vez é grande e aberto. Há também na casa uma piscina com área
para churrasco e uma grande varanda com vista para a rua.
• Itens do Café da manhã:
- Leite
- Café
- Iorgurte
- Suco de laranja natural
- Frios (presunto, queijo)
- Bolo caseiro
- Manteiga
- Geléia
- Frutas: manga e abacaxi.
- Achocolatado
- Pão francês
- Biscoitos doces e bolachas salgadas variadas
57
5.3 Comitê Organizador dos Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro
Por se tratar de um novo modelo de hospedagem no Brasil, a primeira
intervenção do poder público para divulgação e estímulo a hospedagem domiciliar
foi na organização dos Jogos Panamericanos de 2007 na cidade do Rio de
Janeiro. A prefeitura do Rio de Janeiro sob a coordenação da Secretaria
Municipal do Turismo, implementou um projeto com o objetivo de informar e
estimular a população carioca a aplicar a hospedagem domiciliar, tendo em vista
o aumento do número de turistas esperados com o evento dos XV Jogos
Panamericanos em Julho de 2007.
Quando foi firmado o convênio entre o Município do Rio de Janeiro e o
Ministério do Turismo, em dezembro de 2004, já existiam no Rio experiências de
hospedagem domiciliar, que para serem fortalecidas, o plano de trabalho do
convênio previa iniciativas com o objetivo de:
• Conhecer melhor essa modalidade, através de experiências de outras
cidades;
• Estabelecer parâmetros de qualidade para a prestação dos serviços;
• Incrementar a divulgação e distribuição do serviço;
• Estimular a cooperação entre as iniciativas existentes no interesse
comum.
Figura 16 - Café da manhã na casa da Ana Laura Fonte: As autoras (2009)
58
A Prefeitura elaborou com o apoio da consultoria da ONG Lunuz2, um
extenso levantamento sobre as experiências de hospedagem domiciliar em
diversos locais onde o serviço é desenvolvido como Fernando de Noronha, Santa
Catarina, França, Estados Unidos, Inglaterra, Itália entre outros. Foram
pesquisadas também cidades que utilizaram a hospedagem domiciliar como
recurso para aumentar a oferta de leitos durantes grandes eventos esportivos
como é o caso dos jogos de Sidney (Austrália) e Winnipeg (Canadá).
Um seminário internacional foi realizado no Rio de Janeiro em outubro de
2006, com o objetivo de reunir as experiências de outras localidades que
adotaram esse tipo de hospedagem e propiciando um debate que orientaria ações
futuras no caso dos jogos no Rio. Foi também estudado neste seminário aspectos
normativos, tributários e econômicos, procurando orientar a ação do poder público
e das pessoas interessadas em desenvolver essa atividade. A pesquisa foi
concluída com a elaboração de manuais com orientações para os anfitriões e
agências (ou profissionais autônomos). Foi elaborado também um manual sobre
os direitos e obrigações do consumidor dos serviços. A maior parte dos estudos
foi publicada em um livro lançado pela Prefeitura do Rio de Janeiro –
“Hospedagem Domiciliar: Turismo Integrado e Sustentável” do qual serviu de
referência para afirmação de tais fatos.
Em maio de 2007 o programa municipal de estímulo à hospedagem
domiciliar foi lançado oficialmente com a presença de representantes do setor
turístico e do Comitê Organizador dos Jogos Panamericanos através de um site
na internet que publicou os dados das pesquisas desenvolvidas, informações
diversas sobre a hospedagem domiciliar e uma pesquisa de mercado em formato
de questionário para os anfitriões da rede Cama e Café, usuários de hospedagem
domiciliar, não usuários de hospedagem domiciliar, mas que pensam em utilizá-la
e não usuários que não pensam em utilizá-la.
A pesquisa foi resultado de uma parceria entre a Secretaria Especial de
Turismo do Rio de Janeiro (SETUR) e o Ministério do Turismo, sendo reallizada
pelo Instituto GPP. Nota-se que a pesquisa com os anfitriões se restringiu apenas
aos afiliados da rede Cama e Café, não incluindo os anfitriões das outras duas
redes do município. Foi elaborado um documento com nome de Carta Carioca de
2 ONG Lunuz – criada para desenvolver o projeto “Santa Teresa: Território Turístico Sustentável”
em parceria com a empresa privada Cama e Café.
59
Hospitalidade3, com o objetivo de criar um compromisso entre os envolvidos na
hospedagem domiciliar no Rio de Janeiro além de estipular uma padronização do
serviço oferecido. Ainda em maio de 2007, as três redes estabelecidas no Rio de
Janeiro – Cama e Café, BBBrasil e Favela Receptiva – assinaram a Carta Carioca
de Hospitalidade, assumindo os compromissos mínimos de qualidade para o
sistema. Além da carta carioca de hospitalidade, foram criados e distribuídos
também manuais e métodos para os anfitriões, agentes e hóspedes. Existem
atualmente três manuais e são eles:
Manual do Anfitrião
No manual do anfitrião estão disponíveis dicas que vão desde como
receber o hóspede até questões como asseio da casa, manutenção,
procedimentos, apresentação pessoal, apresentação do ambiente, horários,
regras de convívio, uso de equipamentos da casa, confecção do café da manhã,
armazenamento e manuseio de alimentos, procedimentos de governança,
habilidades essenciais para receber bem o hospede, exposição de possíveis
situações adversas em uma hospedagem e resolução de possíveis problemas.
Manual do Agente
No manual do agente estão dispostos alguns procedimentos que o
profissional envolvido na hospedagem domiciliar deve executar além de
informações básicas que são indispensáveis para quem trabalha neste área,
como tarefas, organização do negócio, canais de distribuição, conhecimento do
mercado, como formar uma rede de agenciamento, requisitos mínimos de
qualidade que deve-se oferecer ao turista.
Manual do Hóspede
O manual do hóspede foi feito para ajudar os hóspedes a desfrutar com
conforto e segurança da rede de hospedagem domiciliar no Rio de Janeiro, e que
também torna-se muito útil para anfitriões e agentes, que devem estar abertos
para entenderem o ponto de vista do turista. Neste manual estão dispostos os
direitos e deveres do hóspede e dicas sobre como manter a relação com o
3 Disponível no Anexo A.
60
anfitrião agradável sempre, respeitando as regras da casa e levando em
consideração fatores como: privacidade, tranqüilidade no ambiente, café da
manhã, horários, chaves da casa, uso de equipamentos, economia de energia,
etc.
5.4 Divulgação do produto por entidades públicas
Atualmente, no site4 oficial da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro há um
link de acesso chamado Turismo, onde se acessado, o internauta é direcionado
automaticamente para a página onde estão todas as notícias sobre o turismo na
cidade e inclusive sobre hospedagem domiciliar5.
Há uma página inicial onde estão dispostas as principais redes de
hospedagem domiciliar da cidade com um link de acesso para seus respectivos
sites. Um outro site é aberto caso o internauta deseje ter informações sobre o que
é hospedagem domiciliar, como preparar sua casa para receber turistas e um
campo de perguntas e respostas, no qual se obtém resposta de funcionários da
secretaria do turismo do Rio de Janeiro via email.
4 www.rio.rj.gov.br 5 www.rio.rj.gov.br/hospedagemdomiciliar/
Figura 17- Página do Site Riotur – Principais redes de hospedagem domiciliar Fonte: Riotur (2006)
61
Este serviço foi testado pelas autoras do trabalho, além de ter servido
como referência para elaboração da pesquisa. Um dos dizeres do site da
prefeitura sobre hospedagem domiciliar cita:
Antes de mais nada é preciso deixar bem claro: hospedagem domiciliar é um negócio estritamente privado entre pessoas . A Prefeitura não se dispõe a intermediar essas relações comerciais, nem oferecer serviços ou financiamentos. Nosso objetivo é o de informar, estimular e ajudar os interessados. Leia e comente, se quiser, os textos explicativos "O que é Hospedagem Domiciliar" e "Preparando sua casa". Pesquise nos "links" sobre experiências em outros lugares. Tire suas dúvidas na área de "Perguntas & Respostas" (2005)
O interesse do poder público no segmento de hospedagem domiciliar ainda
não tem tanta representatividade, visto que o setor não se desenvolveu no Brasil
de forma ampla como em outros países já citados. Não há uma regulamentação
específica e nem incentivos para empresas e anfitriões interessados em ingressar
na modalidade. O site criado pela prefeitura da cidade do Rio de Janeiro que fala
sobre b&b teve início no ano de 2006 somente por conta dos Jogos
Panamericanos, onde os governantes e responsáveis pelo turismo da cidade
previam que a oferta de hospedagem não ia ser suficiente para abrigar toda a
demanda de turistas que viriam por conta do evento.
De acordo com Alfredo Lobo – presidente da ABIH – em nota ao Etur, era
esperada a taxa de ocupação acima dos 90% na cidade, e por isso foram
investidos recursos na capacitação de atendentes em bares, hotéis e
restaurantes, promoção dos destinos turísticos e culturais e criação de mais 3000
leitos na cidade. Além dessas ações, foi nesta época que foi realizado o primeiro
seminário para discussão da implantação e apoio a hospedagem domiciliar na
cidade. A taxa de ocupação no mês de Julho em 2007 teve aumento de somente
10% em comparação com o ano anterior de acordo com um estudo feito pela
Fundação Getulio Vargas (FGV) com o título “Movimentação Econômica dos
Jogos Panamericanos” e que já representa um resultado positivo em termos de
movimentação financeira na cidade.
Em entrevista com Cerqueira, o sócio da rede Cama e Café explicou que a
expectativa pela alta ocupação no período dos jogos era muito grande, porém,
houve um desapontamento por parte dos membros da agência, que esperavam
62
100% de ocupação no período e não obtiveram. Após esse período, não houve
uma continuação no trabalho e hoje se pode notar que todo o esforço de
marketing e investimento no segmento vem de iniciativas isoladas e de empresas
privadas. Acredita-se que o poder público deve estar atento às experiências de
implementação desse tipo de meio de hospedagem no Brasil, dando suporte e
apoio às iniciativas existentes, assim como estimulando o desenvolvimento de
novos projetos. Para tanto, foram propostas idéias e metas para ampliação e
mapeamento das ações que devem ser implantadas para o crescimento e
desenvolvimento da hospedagem domiciliar a âmbito nacional.
63
6. PLANO DE DESENVOLVIMENTO DO B&B NO BRASIL
A hospedagem domiciliar é um segmento de hospedagem que traz consigo
diversos benefícios aos envolvidos na atividade, porém, foi identificado que no
Brasil o seu desenvolvimento é restrito se comparado com outros países no
mundo, no qual já promovem o tipo de hospedagem há anos e recebem um
grande número de turistas.
No Brasil, foi possível identificar o seu crescimento no bairro de Santa
Teresa no Rio de Janeiro, através da agência Cama e Café, que teve maior
divulgação somente no período dos Jogos Panamericanos na cidade em 2007,
com a ajuda do poder público, interessado em aumentar o número de leitos da
cidade para receber a grande demanda turística esperada devido aos jogos.
Existem no Brasil dois eventos futuros que gerarão grandes investimentos
no setor turístico. São eles: a Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016.
Eventos grandiosos como esses poderão trazer grandes chances de
desenvolvimento e crescimento do b&b no Brasil, visto que os jogos são
realizados em diversas cidades do país e que muitas delas não possuem a oferta
de hospedagem condizente com a demanda turística esperada.
Além dos eventos, o caso de sucesso em aceitação da modalidade em
Santa Teresa remete a idéia de que em localidades turísticas com atrativos
históricos e culturais tem grandes chances em se adequar a hospedagem
domiciliar, e que por conseqüência desenvolverá de forma sustentável uma maior
movimentação turística no local trazendo consigo benefícios a todos os
envolvidos.
6.1 Benefícios da Hospedagem Domiciliar
São listados os benefícios identificados com o desenvolvimento da
hospedagem domiciliar:
Aumento da oferta de leitos do local
A hospedagem domiciliar é capaz de promover o aumento do número da
oferta de hospedagem de um destino turístico de forma sustentável, ou seja,
contribuindo para que não haja danos ao meio ambiente onde se é instalado.
64
Neste caso, o benefício pode ser visto como uma alternativa em situações onde
existe o aumento momentâneo do número de turistas no local devido a algum
evento grande como por exemplo jogos olímpicos. Contribui de forma mais
saudável nesses casos, onde a construção de vários meios de hospedagem é
evitada, impactando de forma menos agressiva a taxa de ocupação dos hotéis
após a desocupação da cidade depois destes grandes eventos.
Turismo sustentável
Dentre os principais benefícios, pode-se salientar que não é necessária a
construção de estruturas para abrigar novos meios de hospedagem, pois o quarto
para hospedagem do turista já está construído e localizado dentro das casas dos
moradores da região, impactando o mínimo em quesitos ambientais.
Geração de renda
A movimentação financeira com o aumento do número de turistas pode
trazer benefícios a todos os envolvidos da região, desde profissionais autônomos
como taxistas, escritores, pintores, até os envolvidos no comércio da região com
bares, restaurantes, lojas, e principalmente os donos das casas que oferecem um
quarto para o visitante e recebem um valor referente à diária cobrada do turista
em sua casa.
Cumprimento dos objetivos do turista cultural
A vivência da cultura local é o que o turista da modalidade procura, e em
todos os casos, é possível cumprir seu objetivo, pois este está inserido no dia-a-
dia do local durante toda sua estada ou a maior parte dela. Todos os benefícios
citados remetem a idéia de que o b&b traz muitos benefícios às partes envolvidas.
Um trabalho para seu desenvolvimento poderia ser feito para trazer o sucesso de
seu mercado em outros países para o Brasil.
6.2 Principais Dificuldades para Implantação da Hospedagem Domiciliar
A hospedagem domiciliar não é amplamente conhecida pelos brasileiros,
por se apresentar em pequena escala no país e não haver divulgação do produto.
O Brasil é considerado um país hospitaleiro, porém pode haver certa resistência
em alguns moradores em receber desconhecidos em suas próprias casas. A
65
desconfiança e o medo pode ser uma barreira para a implantação da modalidade
em alguns locais. Os noticiários anunciam todos os dias casos de violência,
roubos e situações indesejáveis por qualquer cidadão. A idéia de trazer um
estranho para dentro de casa pode representar um grande empecilho para
aumentar o número de anfitriões dispostos a se associar a alguma rede de
hospedagem domiciliar.
Os hotéis e pousadas em cidades turísticas pequenas podem encarar a
implantação do b&b como um forte concorrente, podendo também representar
uma ameaça no desenvolvimento da atividade. Se os turistas decidirem por
motivos de maior integração com a comunidade ou pelo valor praticado ficar em
casas agenciadas ao invés de hotéis e pousadas, pode haver uma recusa por
parte desses empreendimentos a aceitar a implantação do meio de hospedagem
no local. A criação de uma agência de b&b de âmbito nacional prevê uma
estrutura que consiga suportar as exigências para sua administração e qualidade.
São necessários funcionários que estejam presentes em todos os locais onde há
residências credenciadas para constante avaliação do serviço prestado e para
adesão de novas residências. Para tanto é necessária uma estrutura
organizacional capaz de administrar de forma eficaz as casas em todas as
regiões do país onde seja implantada a hospedagem domiciliar.
6.3 Alternativas para Minimizar as Dificuldades de Implantação do B&b
Depois de identificadas as dificuldades para implantação de
desenvolvimento da atividade de hospedagem domiciliar no Brasil, foram listadas
algumas possíveis alternativas que podem minimizar os problemas encontrados:
Responsável por localidade
Nomeação de um anfitrião para cada região que irá cuidar da avaliação do
serviço prestado no local, monitorando as casas e avaliando a receptividade
oferecida pelos anfitriões. Ter uma pessoa responsável no local para cuidar de
situações adversas e problemas que pode vir a ocorrer envolvendo o turista pode
ajudar no tempo em que irá se resolver a situação, ocasionando também em um
maior suporte ao visitante. A casa deste anfitrião terá prioridade em receber
turistas e será descontada da diária uma porcentagem menor de comissão para a
agência de b&b em forma de contribuição ao seu trabalho.
66
Apoio do poder público
O apoio das secretarias de turismo das cidades e do MTur para divulgação
da idéia pode acrescentar maior credibilidade e aceitação por parte dos
moradores e envolvidos com o turismo, além de haver uma maior divulgação para
os turistas interessados. Esse apoio pode ser feito de modo semelhante ao que
foi realizado pela Secretaria do Turismo do Rio de Janeiro no caso dos Jogos
Panamericanos em 2007, onde houve a criação de um link na internet no site da
prefeitura da cidade. Este link dará acesso ao visitante para site da agência
responsável pelas reservas dos quartos disponíveis para hospedagem domiciliar
do local.
Preços compatíveis
Praticar preços compatíveis com a oferta de hospedagem dos locais onde
pode haver resistência por parte do hotéis e pousadas pode diminuir a
concorrência por preço de diária na cidade ou bairro e contribuir para a aceitação
da atividade no local. Os responsáveis pela administração dos hotéis e pousadas
da região poderiam se sentir ameaçados caso as diárias praticadas fosse mais
barata do que nesses meios de hospedagem, podendo prever a perca de
hóspedes para o b&b.
Promover treinamentos e orientação
Desenvolver palestras e treinamentos de capacitação para os envolvidos
com o turismo no local pode auxiliar na relação destes com os turistas,
contribuindo para que recebam bem o turista. Treinamentos e palestras para os
anfitriões poderão auxiliar na padronização de algumas variáveis como limpeza,
segurança, receptividade e apresentação dos deveres e obrigações do anfitrião.
Os treinamentos e orientações oferecidos aos anfitriões contribuem para a
garantia de qualidade do serviço e maior credibilidade com os turistas adeptos ao
b&b. A imagem da rede é fortalecida caso o padrão de qualidade seja elevado e
constante.
Incentivo ao consumo local
Incentivar o consumo dos turistas na localidade contribui diretamente para
a geração de renda e movimentação da economia local. Uma alternativa seria a
67
distribuição de cartões de descontos e cortesias para os turistas adeptos do b&b,
contribuindo para o consumo em restaurantes, bares, lanchonetes e demais
estabelecimentos da região.
Regulamentação oficial
Ainda não existe uma regulamentação oficial para a hospedagem domiciliar
no Brasil que defina os direitos e deveres dos envolvidos na atividade. A
existência de algo mais consistente nas políticas públicas traria primeiramente
uma maior credibilidade ao b&b e poderia contribuir em termos legais em sua
definição, regras e diretrizes.
6.4 Destinos
Considerado atualmente um setor econômico dos mais dinâmicos,
apresentando para o futuro as perspectivas mais promissoras, segundo o MTur, o
turismo caracteriza-se por ser altamente competitivo, decorrência da melhoria dos
equipamentos e produtos turísticos e da modernização nos transportes e das
comunicações. É também crescente o desejo das pessoas em conhecer lugares
novos, outras culturas.
Vivemos em uma sociedade de avanços tecnológicos, de facilidades de
comunicação e de deslocamento de pessoas, de integração econômica, política e
cultural, em que a globalização tornou-se algo comum em nossas vidas. Nosso
ambiente do dia a dia está cada vez mais padronizado. E esse é um dos motivos
pelos quais as diversidades culturais têm importância na sociedade em que
vivemos.
Hoje em dia há um redescobrimento do local em contraposição do global,
estamos aprendendo a olhar para o patrimônio como um bem que representa
identidade e que exalta o valor de uma cultura, de algo que é o retrato de um
tempo histórico, e de manifestações culturais. Com o crescimento do turismo no
Brasil nos centros urbanos, as cidades são obrigadas a melhorar a infraestrutura
local com obras de melhorias urbanas para manter a atratividade local. Na
realidade, tais melhorias estão voltadas, especificamente, para o mercado
turístico, de construção de um lugar que chame atenção e ative o imaginário dos
turistas. Lugares que se diferenciem do cotidiano, da realidade, para serem
apenas lugares de lazer.
68
As pessoas que buscam locais para se hospedar próximo aos autóctones e
que almejam conhecer de perto a cultura local, procuram principalmente esses
lugares para se aprofundar em seus estudos ou desejos de saber como era ou é
o cotidiano daquelas pessoas. Por essa razão, cidades que possuam
características histórico-culturais, com infraestrutura básica e turística e que nela
haja pessoas capazes (e dispostas) a receber o hóspede em suas casas – já
enxergando quantos benefícios isso poderá trazer a sua comunidade – podem
começar um novo método de desenvolvimento sustentável em sua cidade.
Dentre as muitas cidades que possuem locais históricos, algumas, por
possuírem infraestrutura melhor, serem de mais fácil acesso e com autóctones
capazes de hospedar estrangeiros, alguns locais que poderiam ter a oferta
hoteleira de b&b por estarem recebendo projetos e estudos do governo para
melhoria do local. A comunidade, em muitos dos casos, estão presentes na
realização dos projetos e estudos para conhecer como é o turista que vai até sua
cidade e entender sua necessidade.
Espírito Santo
O turismo capixaba iniciou novas fases históricas, baseadas no
profissionalismo e no planejamento estratégico. Em 2004, o Governo do Espírito
Santo lançou o Plano de Desenvolvimento do Turismo 2004-2013. Dele,
constavam políticas e projetos elaborados a partir do planejamento estratégico de
governo e alinhados com o Plano Nacional do Turismo. Num segundo passo de
avanço nessa área, lançou o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Turismo
2025.
O Plano foi elaborado sob a coordenação da Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Econômico e Turismo, por meio do Conselho Estadual de
Turismo (Contures). Dele constam projetos para estruturação do setor, como a
melhoria da competitividade do arranjo produtivo, através da revitalização dos
centros turísticos; melhoria da infra-estrutura; criação de centros de eventos;
consolidação das rotas turísticas; qualificação de empreendedores e
trabalhadores; desenvolvimento do turismo regional; diversidade da oferta
turística; e qualificação dos produtos turísticos. A economia do Espírito Santo vem
melhorando, conforme mostram as tabelas 11 e 12, PIB real e per capita do
Estado.
69
Tabela 11 – PIB real Fonte: IPES
Tabela 12 – Per Capita do Estado do Espírito Santo Fonte: IPES
O cenário de crescimento abrirá oportunidades para o desenvolvimento do
turismo internacional e nacional. De acordo com o governo (2007), através do site
oficial de Espírito Santo, entre diversas atividades econômicas possíveis para o
Espírito Santo, o turismo desponta como uma alternativa viável e importante,
principalmente quando se pensa em geração de emprego e renda (como mostra a
tabela 13), já que o Estado reúne diversos atributos necessários ao
desenvolvimento da atividade turística.
O turismo, portanto, deve ser visto como um instrumento valioso na busca
do desenvolvimento econômico local, principalmente quando comparado com
outros setores.
70
Tabela 13- Projeção do emprego formal do turismo no Espírito Santo 2004-2025
Fonte: IPES
Demanda
De acordo com o Governo (2007), o estado do Espírito Santo identifica
uma demanda turística com fluxos sazonais originários, na sua maioria, de
núcleos emissores nacionais dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, São
Paulo, Distrito Federal, sul da Bahia e de visitantes capixabas que viajam
internamente. Devido à concorrência turística de outros Estados do Brasil como
São Paulo, Rio de Janeiro e o Nordeste, para poder competir com outros produtos
ofertados por outros estados, o governo, empresários e a sociedade, em conjunto,
analisaram o mercado atual e definiram o foco de atuação para o direcionamento
das ações de desenvolvimento do turismo.
Os mercados prioritários
O Plano de Desenvolvimento Sustentável do Turismo do Espírito Santo
2025 estará focado prioritariamente nos seguintes segmentos de mercado a
serem considerados como focos principais das ações:
• Turismo de negócios e eventos
• Turismo de sol e praia
• Turismo rural/agroturismo
• Turismo náutico
• Turismo de pesca
• Turismo de aventura
71
• Ecoturismo
• Turismo cultural
Tabela 14 – Segmento x Mercado Fonte: IPES
Com todas as ações que o governo do Espírito Santo está tomando para
que o turismo seja um fator gratificante na economia, a implantação de b&b só
trará mais benefícios, já que é um meio de hospedagem que não impacta
bruscamente o meio ambiente e a comunidade (interessada desde o início do
Projeto) poderá atender os turistas em suas casas, diminuindo a distância que
normalmente existe entre autóctones e visitantes, podendo mostrar de perto como
é a cultura capixaba.
Rio do Engenho
O distrito do Rio do Engenho, um dos patrimônios da história de Ilhéus e do
Brasil, está sendo preparado para ser um dos principais destinos turísticos da
Bahia. O trabalho faz parte de um projeto realizado pelo Sebrae na Bahia,
Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), prefeitura municipal, Instituto de
Estudos Sócio-Ambientais do Sul da Bahia (IESB), Capitania dos Portos do
Estado e uma empresa multinacional. De acordo com o gerente da agência do
Sebrae em Ilhéus, Eduardo Benjamim Andrade (ANO), “A proposta desse
trabalho de capacitação é preparar a comunidade local para o promissor mercado
do turismo, observando a vocação que o espaço já possui”.
A idéia é implantar no povoado do Rio do Engenho equipamentos de lazer
de qualidade para que se transforme no primeiro destino turístico-histórico-cultural
72
de Ilhéus verdadeiramente formatado, para que o local possa atrair muitos
turistas. O secretário de Turismo considera a capacitação como uma etapa de
fundamental importância nesse projeto e acrescenta que estas atividades visam
qualificar a comunidade para ações de geração de renda e a recepção dos
turistas que visitam o local. A comunidade está integrada e será qualificada para
receber o turista, o que indica que muitas pessoas começarão a enxergar a
possibilidade de recebê-los em suas casas, pensando também na possibilidade
de renda que ganhariam com isso.
Figura 18- Rio do Engenho Fonte: Ecoviagem
Olinda
O Centro Histórico de Olinda abrange a área histórica do município
brasileiro de Olinda, no estado de Pernambuco. Quase um terço da área total do
município é tombado pelo patrimônio histórico. A preservação desse sítio histórico
começou na década de 1930, quando os principais monumentos foram tombados
(WIKIPEDIA). A partir daí foram promovidas várias ações no sentido de preservar
todo o patrimônio histórico, cultural e arquitetônico do município. O sítio foi
declarado, em 1980, Monumento Nacional, pelo Congresso Nacional e, em 1982,
reconhecido como patrimônio mundial pela UNESCO.
Segundo site viagem Uol, a cidade possui um traçado irregular, sendo
influenciada pela arquitetura religiosa. Entre as construções existentes
atualmente, se destacam a Catedral de Olinda, o Mosteiro de São Bento, o
Convento de São Francisco, com a Igreja de Nossa Senhora das Neves, e a
Igreja de Nossa Senhora do Carmo, entre outras. A arquitetura civil, ao contrário
73
da religiosa, recebeu influência da arquitetura portuguesa, como construções com
sacada em pedra ou madeira, fachadas contíguas e grandes quintais, adaptada
ao clima tropical do local. O carnaval de Olinda é um atrativo turístico para muitos
e ganhando importância no mercado. Ele representa uma oportunidade única
para o desenvolvimento de setores como hotelaria, alimentos e bebidas,
transportes e serviços em geral. Segundo as pesquisas realizadas pela Prefeitura
de Recife, o índice de satisfação dos turistas que estiveram no Carnaval
Multicultural do Recife 2009 foi elevado: 97% dos visitantes desejam voltar em
2010 e 99% irão indicar o evento para parentes e amigos. Segundo o presidente
do Recife Convention & Visitors Bureau e da Associação Brasileira da Indústria
Hoteleira (ABIH-PE), José Otávio Meira Lins, os hotéis trabalharam com uma
ocupação próxima dos 97,5%, vários com lotação completa.
Para garantir que os municípios tenham uma estrutura eficiente para
receber os visitantes e estimular a divulgação cultural da região, as prefeituras
dos dois municípios farão investimentos integrados no setor, através do Complexo
Turístico e Cultural Recife-Olinda. A proposta é promover uma requalificação
urbana da área central da Região Metropolitana do Recife e desenvolver os
produtos culturais das “cidades-irmãs”. Para promover o local, durante o ano de
2009, Olinda vem recebendo diversos fantours promovidos pela empresa aérea
TAM. O projeto é uma parceria da Prefeitura de Olinda com a EMPETUR e Recife
Convention & Visitors Bureau. O fantour é um passeio de familiarização do
turismo. O objetivo é convidar grupos de agentes de viagens para visitação dos
principais pontos turísticos da cidade e assim, promover a divulgação do turismo
local.
São essas ações que mostram o quão viável pode ser a implantação de
b&b em Olinda. Mesmo com uma certa restrição que há dos hotéis e pousadas já
instaladas (de acordo com Daniela, da agência Cama e Café), a comunidade e o
governo podem analisar que será uma renda adicional dos participantes que
oferecerem suas residências e se cadastrarem em agências de b&b Esse meio de
hospedagem seria a melhor solução para atrair mais pessoas somente em
eventos especiais, que no caso de Olinda, é o carnaval.
74
Ouro Preto
A urbanização precedente ocorre na maior parte das localidades
turísticas consolidadas do mundo. Nesses casos, o aparecimento do turismo no
território ocorreu quando a localidade já existia como cidade (WIKIPEDIA). Em
Ouro Preto, por exemplo, o turismo desenvolveu-se principalmente, na década de
oitenta, quando a cidade foi tombada pela Unesco como Patrimônio Cultural da
Humanidade e obteve grande destaque internacional com a veiculação de uma
imagem vinculada ao patrimônio (MTur).
Segundo pesquisa realizada pelos autores Valdir Silva, Cristiano Borges e
Virginia Rosa, ex-alunos da Faculdade de Turismo de Formiga (FATUR, 2006), a
população ouropretana sente-se completamente a parte do processo de
desenvolvimento turístico. A exceção fica por conta de alguns comerciantes que
são diretamente atingidos pelos efeitos econômicos da atividade. Através do
trabalho realizado pelos ex-alunos, pode se constatar que o turista, que
geralmente vem motivado pelo aspecto histórico cultural, está em busca de
compreender suas raízes, compreender o seu passado que entende estar ali
registrado. Porém, a estadia deles normalmente é rápida e o contato com essa
história é superficial. Essa relação superficial é ainda mais acentuada porque ele
normalmente passa apenas um dia na cidade. Isso ocorre devido a grande
proximidade de Belo Horizonte e as opções de hospedagem, entretenimento,
gastronomia, espetáculos que a capital oferece.
O Estudo de Competitividade dos Destinos Indutores do Turismo
Nacional6, apresentado pelos consultores do Ministério do Turismo e da FGV
(Fundação Getúlio Vargas), destacou que os aspectos culturais, cooperação
regional, marketing e atrativos turísticos foram os principais destaques de Ouro
Preto. O diagnóstico apontou que, em uma escala de 1 a 5, Ouro Preto alcançou
nível 4, devido a esses aspectos. Nas demais dimensões avaliadas (infra-
estrutura geral, acesso, serviços e equipamentos turísticos, políticas públicas,
monitoramento, economia local, capacidade empresarial, aspectos sociais e
ambientes) há ações que precisam ser implementadas para aumento à
competitividade turística do destino e da região. Com esse estudo para melhoria
6 A intenção é que os destinos contemplados pelo estudo (que são 65) ajudem a promover o desenvolvimento da região em que estão localizados, gerando uma rede para o crescimento sustentável das cidades através do turismo.
75
dos pontos fracos que a cidade possui, a implantação de hospedagem domiciliar
em Ouro Preto pode trazer benefícios para todos, tanto pela comunidade
autóctone quanto aos comerciantes, e a participação do turismo na economia
local será mais significativa. Esse meio de hospedagem não precisará esperar
todas as ações que devem ser tomadas referentes às dimensões para ser
implantada no local.
Figura 19- Ouro Preto
Fonte: destino-brasil.net
São João Del Rei
Segundo dados do Plano Diretor de Turismo do município (UFSJ, 2004),
a natureza da região favorece a realização de programas tanto para os que
gostam de atividades leves e curtas (trekking, ciclismo passeios a cachoeiras e
trilhas), como para adeptos de aventuras mais radicais, como montanhismo.
Bem estruturada para o turismo, segundo dados do levantamento da
oferta turística (IPTAN, 2003), a cidade possui vários meios de hospedagem,
totalizando 878 leitos. O turismo receptivo do local é atendido por agências de
turismo cujos roteiros incluem visitas ao patrimônio histórico e arquitetônico,
museus de arte barroca e passeios. O tipo de turismo que mais se destaca no
município é o histórico, embora se encontra alguns sítios arqueológicos. Nas
serras, predominam as atividades de montanhismo e caminhadas. A Serra do
Lenheiro é o local de treinamento da única escola de montanhismo do Exército
brasileiro que se localiza em São João Del Rei.
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Uma pesquisa realizada por Silvana Toledo de Oliveira7 e Marcus
Vinicius da Costa Januário8 teve como objetivo analisar o perfil do turista que vai
a São João Del Rei. Do total dos entrevistados, 52% é do sexo feminino e 48% do
sexo masculino; em relação à idade, 63% têm acima de 36 anos. Sobre os
hábitos de hospedagem, 51% dos entrevistados afirmaram utilizar algum meio de
hospedagem na cidade e 29% não utilizaram nenhum meio, por permanecerem
na cidade menos de 24 horas. A principal motivação turística dos entrevistados foi
a história e cultura da cidade: 84%. Já a motivação “natureza” aparece em
segundo lugar com 5% das respostas. Em relação às expectativas, 92% dos
entrevistados disseram estar “satisfeitos” e “muito satisfeitos”.
Inverno Cultural
O Inverno Cultural é um programa de extensão que a Universidade
Federal de São João Del-Rei (UFSJ) realiza, desde 1988, através de oficinas,
exposições, shows e seminários nas mais variadas linguagens da cultura e da
arte. O evento visa promover a valorização da cultura e da educação, com a
atualização de conhecimentos e o intercâmbio entre os profissionais da área.
Considerado sinônimo de revitalização, promoção e incentivo às variadas formas
de manifestações artístico-culturais, desde suas primeiras edições, segundo site
da UFSJ, tornou-se referência para o campo da cultura em geral.
A implantação da hospedagem domiciliar na cidade de São João Del Rei
pode ser um novo meio dos turistas conhecerem de perto a comunidade
autóctone, além de possuir valores de diárias reduzidos para o pouco tempo que
eles permanecem no local, além de atender a demanda em grandes eventos,
como o Inverno Cultural.
Diamantina
De acordo com o Ministério do Turismo (2008), os turistas que vão à
Diamantina (que também é Patrimônio Cultural da Humanidade tombado pela
Unesco) são pessoas de várias idades e estilos diversos que procuram a cidade
pelos vários atrativos que ela oferece. A oferta são as mercadorias e serviços
oferecidos, que são estimulantes para os turistas visitarem a cidade. Existem
7 Mestre em Cultura e Turismo pela UESC/UFBA. 8 Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional pela UESC/UFBA.
77
atrativos naturais, históricos, culturais e eventos que fazem com que o município
receba esse variado público demandante.
De acordo com o site oficial da cidade (www.diamantina.mg.gov.br), as
principais atrações turísticas são: igrejas, cachoeiras, Caminho dos Escravos,
Cruzeiro do Centenário, Pico do Itambé, Museu do Diamante, Casa de Chica da
Silva, Passadiço da Glória, Mercado Municipal, Casa do Padre José da Silva
Rolim, Casa de Juscelino Kubitschek, Prédio do Fórum, Chafariz do Rosário,
entre outros, além dos eventos como o carnaval, Festival de Inverno, Semana
Santa, Festa do Divino Espírito Santo, Festa de Santo Antônio, Dia da Seresta,
Festa do Rosário e a Vesperata9, que movimentam grande fluxo de turistas.
O Estudo de Competitividade do Ministério do Turismo também mostra
Diamantina como um dos principais destinos indutores do turismo nacional no
aspecto cultura. Localizada no Circuito Turístico dos Diamantes, tem 77,6% de
aproveitamento nos aspectos culturais nas variáveis: produção cultural associada
ao turismo, patrimônio histórico e cultural. A média nacional no aspecto cultural foi
de 54,7%. A secretária de Estado de Turismo de Minas Gerais afirma:
Este estudo confirma o que Diamantina tem de bom. Vamos direcionar nossas ações para atrair mais turistas para o município e todo o seu entorno. Vamos buscar recursos junto aos governos estadual e federal, ampliar nossas parcerias com a iniciativa privada buscando a solução para nossos problemas e a promoção para o que está dando certo.(DRUMOND, 2007).
O município também se destacou no Estudo nas dimensões infra-
estrutura geral e cooperação regional. Diamantina obteve índice de 70,2%, acima
da média nacional (63,3%) e em serviços considerados essencial para atividade
turística como saneamento básico, eletricidade, comunicação, saúde e
segurança. Já na avaliação sobre o envolvimento dos atores de turismo,
sociedade, governos, empresários, trabalhadores, instituições de ensino, turista e
comunidade, Diamantina alcançou 60,8%, também acima da média nacional que
é de 48,9%.
Ainda de acordo com o site, o município de Diamantina, em uma parceria
do Governo Federal, Governo de Minas e Banco Interamericano de
Desenvolvimento, recebeu do Programa de Desenvolvimento do Turismo
9 Concerto ao ar livre tendo a orquestra da Polícia Militar nas sacadas das casas.
78
Nordeste (PRODETUR-NE/II) R$15,7 milhões para investimento em
infraestrutura. De acordo com o prefeito de Diamantina, Gustavo Botelho Jr
(2008), “Até o final de 2009, teremos 100% de nossa rede urbana de esgoto
tratada”. Com todos os estudos e investimentos do governo para melhor receber o
turista, a implantação da hospedagem domiciliar no município seria um recurso de
fazer com que o turismo passe a ser um fator importante na economia local, não
tendo que se preocupar com mais investimentos para implantações de novos
hotéis para atender a demanda e não terem preocupações com a degradação
ambiental, valorizando ainda mais o ambiente cultural que Diamantina possui.
Gramado
Segundo o site oficial da cidade (www.gramado.rs.gov.br), Gramado tem
a melhor estrutura turística do Rio Grande do Sul e é hoje o principal destino
turístico do Estado e o quarto do Brasil. Com uma economia voltada ao turismo, o
município de pouco mais de 28 mil habitantes recebe anualmente cerca de 2,5
milhões de turistas. Gramado tem a maior infraestrutura receptiva do Rio Grande
do Sul, como aproximadamente 11 mil leitos, distribuídos em 145 hotéis e
pousadas; cerca de 1.140 estabelecimentos comerciais e mais de 120 bares e
restaurantes, capazes de atender em torno de 11 mil pessoas simultaneamente
(dados do site oficial de Gramado de 2008).
O turismo é à base da economia gramadense. A hotelaria, a gastronomia
e o comércio em geral é o potencial turístico da cidade. Móveis, chocolate, couro,
malhas, ferramentas e a construção civil também contribuem de forma expressiva
no incremento da economia e na geração de emprego e renda em Gramado.
Pesquisa realizada pela Universidade de Caxias do Sul – UCS, aponta que o
Produto Interno Bruto - PIB da cidade é de US$ 133 milhões, e a arrecadação
total do município chega a R$ 24 milhões/ano. Gramado seria um dos locais onde
a implantação de b&b seria mais difícil, por já ser bem-estruturada e a oferta de
hotéis e pousadas é grande, que podem não aceitar a idéia devido a
concorrência. Caberia, então, verificar se seria viável para a cidade, com o
incentivo de promover mais o turismo cultural, pelos turistas estarem mais
próximos da comunidade.
79
Paraty
De acordo com o site da prefeitura de Paraty (www.pmparaty.rj.gov.br,
2007), a cidade passou Búzios e agora é a segunda cidade mais visitada no
Estado do Rio de Janeiro. Dalva Lacerda, secretária de Turismo e Cultura, conta
que as políticas adotadas pela cidade não buscam aumentar o número de
turistas, mas sim aumentar o nível desse turista. De acordo com as conclusões de
Dalva Lacerda (2007), "A gente não quer uma superpopulação em Paraty. Não
cabe, estraga a cidade e ela tem que ser preservada".
Segundo o consultor internacional Joseph Chias (2007) da Chias
Marketing, contratada para traçar o Plano de Desenvolvimento do Turismo
Cultural de Paraty, a cidade recebeu 352 mil turistas nacionais e 48 mil
internacionais em 2006. Em 2010, o objetivo é receber 336 mil nacionais e 64 mil
internacionais. Com isso, o número anual continuaria em 400 mil, sem nenhum
aumento. A intenção, porém, é que esse turista passe a gastar mais e a ficar mais
tempo na cidade. Paraty também é um dos 65 destinos do Estudo de
Competitividade dos Destinos Indutores do Desenvolvimento Turístico Regional, e
tem como objetivo transformar a cidade em um foco de turismo cultural, além do
turismo natural e ecológico. Para dar corpo ao Projeto, o ministério contratou a
Associação Casa Azul, Organização da Sociedade Civil de Interesse Público que
também é uma das responsáveis pela produção da Flip (Festa Literária
Internacional de Paraty). De acordo com as conclusões feitas pelo diretor-
presidente da Casa Azul, Mauro Munhoz (2007), "Em Paraty, cultura é fator
agregador e dá sustentabilidade ao processo de desenvolvimento do turismo da
região, que passa por dificuldades com problemas urbanos".
Problemas urbanos, inclusive, que estão na pauta das melhorias da
cidade. Um dos principais problemas é a falta de água e de luz que ocorre quando
há superlotação na cidade. O saneamento básico é outro fator que precisa de
investimento, assim como a preocupação com a limpeza urbana. Um fator que
estimula os moradores a dar importância às melhorias é a possibilidade de a
cidade ser declarada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco. Segundo
site oficial, Paraty está sendo analisada e tem tentado se enquadrar nas
exigências feitas pelo órgão internacional. Uma das principais exigências já foi
cumprida, o cabeamento subterrâneo.
80
Entre os atrativos culturais de Paraty, seu patrimônio histórico, museus,
manifestações artísticas, festas populares, gastronomia, eventos culturais e
entretenimento, a paisagem visual faz parte da paisagem cultural. De acordo com
Joseph Chias (ano), "Uma cidade que não é boa para o morador não pode ser
boa para o turismo". Ele procura deixar isso claro para cutucando a sociedade
sobre a importância de o cuidado com a cidade partir dela própria.
A implantação b&b em Paraty será mais um meio de hospedagem que o
turista encontrará na cidade para pernoitar. A diferença, porém, será no contato
que terá com a comunidade (e assim conhecimento da cultura local), e no menor
impacto ambiental.
6.5 Copa do Mundo de 2014
A Copa do Mundo voltará a ser realizada na América do Sul após 36 anos,
já que a Argentina sediou o evento em 1978. Dezoito cidades candidataram-se
para sediar as partidas da Copa, porém a FIFA limita o número de cidades-sedes
entre oito e dez, entretanto, dada a dimensão continental do país sede, a
organização cedeu aos pedidos da CBF (Seleção Brasileira de Futebol) e
concedeu permissão para que se utilizem 12 sedes no mundial, nas quais foram
escolhidos São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Belo Horizonte, Brasília,
Cuiabá,Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre e Recife.
Além dos estádios, aspectos como a rede hoteleira, sistema de transporte
urbano, aeroportos, segurança pública e opções de lazer foram levados em conta
na hora da escolha. Segundo o jornalista Rodrigo Mattos do Jornal Folha de S.
Paulo (2009), a hotelaria só conseguirá a expansão necessária para o evento
caso tenha apoio do governo. É o que pede a entidade representante do setor
sobre a expansão exigida pela FiFA. Pelo relatório da entidade que dirige o
futebol, o Mundial requer 55 mil quartos do país-sede. A marca não é problema
para o Brasil. A dificuldade está na distribuição, pois determinadas cidades têm
deficiências nos patamares para o evento.
De acordo com o pronunciamento do diretor da Associação Brasileira da
Indústria de Hotéis (ABIH), Alexandre Sampaio (2009), “A participação do governo
para alavancar o número de hotéis é necessária. Temos que saber se os
problemas orçamentários vão afetar. O governo vai ter que tomar uma decisão”.
81
Duas cidades, que sediarão os jogos de abertura e final, terão exigências
maiores de número mínimo de quartos, que possivelmente será realizado em São
Paulo (abertura) e no Rio de Janeiro (encerramento).
São Paulo dispõe hoje de 42 mil quartos e no Rio de Janeiro, 28 mil. A
capital fluminense precisaria ter um mínimo de 25 mil para receber a final, mas
como isso poderá ser um empecilho, a cidade contará com outros meios de
hospedagem, como o Cama e Café com sede próximo ao centro.
Expectativas para a Copa de 2014
Segundo um estudo preliminar realizado pelo Ministério do Turismo (2009),
é esperado 600 mil turistas estrangeiros no Brasil durante o Mundial de 2014.
Além do legado em infra-estrutura com as melhorias em diversos setores como
transporte, segurança e saúde, o turismo durante a Copa do Mundo irá gerar
muitos recursos para a economia. Durante um debate do Fórum Internacional de
Futebol, o presidente da Embratur concluiu:
Em um cálculo conservador, considerando que eles fiquem em média dez dias no país e gastem 160 dólares por dia vai gerar um receita de 2,2 bilhões de dólares (cerca de R$ 5,1 bilhões) limpos para a economia, fora os gastos que esses turistas deverão ter com a hospedagem.(2009).
Para receber os turistas, as cidades-sedes precisam melhorar não apenas
a infra-estrutura de aeroportos e hotéis, por exemplo. Mas também investir para a
criação de uma mão-de-obra qualificada nos serviços. Para tanto, foi criado uma
parceria entre o Ministério do Turismo e a Fundação Roberto Marinho para
qualificar profissionais ligados ao setor de turismo nos idiomas espanhol e inglês.
O investimento será de R$ 13,9 milhões e o governo espera que até 2010, 80 mil
pessoas tenham sido atendidas pela iniciativa. De acordo com Carvalho:
A Copa do Mundo é um mundo de oportunidades para os negócios. A previsão do Ministério do Turismo é que 80 mil pessoas sejam capacitadas e qualificadas para trabalhar diretamente com o turismo durante a Copa do Mundo. Por isso, o Ministério de Turismo já começou, por exemplo, um programa com a Fundação Roberto Marinho para qualificar essas pessoas. Em São Paulo, taxistas já fazem cursos de inglês e espanhol. (2009).
82
Segundo o projeto da Confederação Brasileira de Futebol (CBF, 2007),
seria possível vender em 2014 um total de 3 milhões de ingressos. A entidade
comandada pelo presidente Ricardo Teixeira fez ainda a consideração especial
de que parte dos bilhetes deveria ser comercializada a preços significativamente
inferiores aos praticados no mercado para garantir o acesso de torcedores locais.
No entanto, a Comissão de Inspeção da Fifa acredita que, para atingir seu
objetivo, o Brasil precisaria esgotar os ingressos de todos os jogos a um preço
significativamente superior ao praticado no mercado. Segundo Teixeira:
Os torcedores brasileiros precisariam compreender a expectativa que se cria sobre uma Copa do Mundo. É uma oportunidade única na vida de se ver um jogo de Copa do Mundo em sua cidade e, por isso, comparecer em grande número aos jogos das 32 seleções e não somente nas partidas do Brasil. (2007).
6.6 Jogos Olímpicos de 2016
O Rio de Janeiro foi escolhido pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) no
dia 02 de Outubro de 2009, em Copenhague, Dinamarca, como sede dos Jogos
Olímpicos de 2016. Às justas comemorações pela conquista da primeira
Olimpíada a ser realizada na América do Sul foi comemorada com satisfação,
porém, somam-se as necessárias ações que precisam ser realizadas a fim de que
o evento marque uma virada na capital carioca e deixe um legado positivo, para
seus habitantes, para o incremento do turismo e ao país.
Um dos desafios da cidade do Rio de Janeiro para consolidar a confiança
do Comitê Olímpico Internacional (COI) até a votação, em outubro de 2009, da
cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016 é o item Acomodações. O Rio tem hoje
em torno de 22.500 quartos no nível de hotelaria aceito pelo COI, que varia de
duas a cinco estrelas. Com o objetivo de sediar as Olimpíadas, o plano do Comitê
de Candidatura Rio 2016 é, além da construção de novos empreendimentos
previstos, alcançar a adesão das redes hoteleiras já existentes na cidade.
Nos hotéis de 5 estrelas da cidade, entre os quais Copacabana Palace,
Fasano e Windsor, a taxa de adesão já atinge 90% do total de quartos. Além
destes, 6 mil quartos de hotéis de 2 a 4 estrelas, como Sol Ipanema, Rio Copa,
Copa Sul e Mar Ipanema, já estão comprometidos com o projeto olímpico. Entre
as ações a serem tomadas, o planejamento é o fator essencial para a realização
83
bem-sucedida dos Jogos Olímpicos 2016, a exemplo do que aconteceu em
Barcelona 1992 e vem acontecendo em Londres, em sua preparação para sediar
as Olimpíadas 2012.
No caso brasileiro, há a feliz coincidência de o Rio de Janeiro ser uma das
sedes da Copa 2014 e muitas das obras que serão realizadas para o
Campeonato Mundial de Futebol devem necessariamente ser pensadas para
aproveitamento nos Jogos Olímpicos, especialmente aquelas ligadas à infra-
estrutura urbana, como metrô, corredores de ônibus, estacionamentos, aeroviária,
de porto e ampliação do meio de hospedagem no estado.
Expectativas para as Olimpíadas de 2016
Em 2010, é previsto um aumento de 10% no número de turistas em todo o
país. E até 2016, a tendência é que o crescimento continue, incentivando os
investimentos externos nos mais variados setores. O aumento da oferta de vôos
diretos para o Rio é a primeira referência para o aumento e a ampliação da rede
hoteleira. A realidade no momento é que mão-de-obra será necessária, o que
significa mais emprego, maior renda e estabilidade social, e também planos para
capacitar os profissionais que irão receber uma enorme demanda turística,
espalhados por todos os países do globo.
O portal do Ministério do Turismo na internet informou que o projeto de
qualificação voltado para Copa do Mundo de 2014 também beneficiará o Rio nas
Olimpíadas de 2016. Serão cursos à distância de inglês e espanhol para qualificar
cerca de 80 mil trabalhadores. O Ministério dos Esportes fez uma estimativa de
quanto será o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro até as Olimpíadas, e informou
que chegará a US$ 11 bilhões (R$ 22 bilhões) entre 2009 e 2016, e o Rio de
Janeiro será o estado que mais terá contribuído com esse crescimento. O estudo
prevê a criação de 120.833 empregos por ano.
Entretanto, o Comitê Olímpico Internacional apontou dois problemas que a
cidade precisa solucionar até o início dos jogos olímpícos: transporte e hotelaria.
O prazo dado para alcançar a cota mínima (40 mil quartos) vai até 2014. O
secretário de Desenvolvimento do município, Felipe Goes, revelou em entevista
para o jornal O Globo que os hotéis Méridien (da rede Windsor) e o Glória serão
reinaugurados em 2010. O Rio de Janeiro pode alugar iates para suprir parte de
sua demanda, mas a possibilidade ainda é colocada em questão. O plano
84
apresentado pelo COB também prevê a construção de uma vila para abrigar os
visitantes em b&bs.
85
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após serem realizados os estudos sobre a hospedagem domiciliar e seu
desenvolvimento no mundo, pode-se perceber que no Brasil o seu crescimento é
limitado. Foram identificadas oportunidades de implantação da modalidade em
diversas cidades do país, tendo como base o desenvolvimento do turismo cultural
atrelado ao b&b, sendo proposto depois de analisado o perfil dos turistas e dos
envolvidos na hospedagem (anfitriões, moradores, comerciantes).
Pode-se concluir que o segmento de b&b tem grandes chances de se
desenvolver em território brasileiro, baseado em seu crescimento e popularidade
no restante do mundo. Grandes eventos esportivos, desenvolvimento do turismo
cultural, comunidades hospitaleiras e quebra de paradigmas fazem parte dos
componentes ideais para o aperfeiçoamento e crescimento do mercado de
hospedagem domiciliar no Brasil.
Para desenvolver e implantar um projeto de b&b de âmbito nacional, pode-
se obter maior facilidade e controle com a fundação de uma agência que controle
todo o seu desenvolvimento, e que sejam cumpridas as sugestões citadas para
resolução de possíveis problemas.
O apoio do poder público poderia ser um grande passo para o crescimento
deste mercado em solo brasileiro, onde ajudaria na divulgação do modelo aos
usuários e contribuiria com seu crescimento e desenvolvimento.
O b&b se implantado, traz benefícios a todos os envolvidos. Sua
implantação no Brasil é possível e pode ser vista como uma alternativa
sustentável em períodos que sejam necessárias a criação de mais leitos para
turistas e que em um futuro (pós eventos esportivos) contribuirá ativamente com a
economia local, geração de renda e crescimento do turismo, dando continuidade
ao ato de receber turistas e a troca de experiências tão procurada entre os
anfitriões e seus hóspedes.
86
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
Livros: COOPER, Chris; et all. Turismo: Principios e Prática. Tradução: Roberto Cataldo Costa. Porto Alegre: Brookman, 2001. Prefeitura do Município do Rio de Janeiro: HOSPEDAGEM DOMICILIAR: Turismo Integrado e Sustentável. Rio de Janeiro, 2008. LYNCH, Paul. Setting and its significance in the homestay sector: explorations In: CHME Hospitality Research Conference, Division of Hospitality Management, The University of Huddersfield, Abril, 2000. MAGALHÃES, Claudia Freitas. Diretrizes para o Turismo Sustentável em Municípios. São Paulo: Rocca, 2002. MAGALHÃES, Sérgio. Sobre a cidade: Habitação e democracia no Rio de Janeiro. São Paulo: Pro editores, 2002. MASINI, Fabio. "Bed and Breakfast in Italia: dall´emergenza alla politica turistica" In: Turistica, Ano X, n° 1-2, Jan/fev 2001, Firenze: Mercury S.r.l. NETZ, Sandra. Guia de desenvolvimento do turismo sustentável. Porto Alegre: Bookman, 2003. PIMENTEL, Ana. Bed and Breakfast – Um Projeto de Desenvolvimento Turístico sustentável no Sul da Itália. Caderno Virtual de Turismo do Rio de Janeiro, 2003. SMITH, Edward L. & SMITH, ann K. Business managenent and marketing: bed and breakfast. Tourism educational materials, Michigan: Michigan State University Extension, 2002. STANKUS, J. How to open and operate a bed and breakfast home. Chester, Connecticut: The Globe Pequot Press, 1987 VIGNATI, Frederico. Gestão de Destinos Turísticos: como atrair pessoas para pólos, cidades e países. Rio de Janeiro: Senac Rio, 2008. Mídia Impressa: Reportagem: Primeiro Hotel 5 Estrelas de Santa Tereza. Jornal Folha do Turismo. Mercado e Eventos - Outubro 2008 -2º quinzena - Ano V - n.114. WALTER, Yann. Reportagem: Montmartre Carioca. Revista França/Brasil. Hospedagem. Maio/Junho 2009. Nº 292
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89
APÊNDICE A
ENTREVISTA
CAMA & CAFÉ
SANTA TERESA
Indicado pelo respeitado guia Lonely Planet como um dos cinco melhores
lugares para se hospedar no Rio, o Cama e Café oferece uma experiência única,
altamente personalizada, promovendo o intercâmbio cultural e o verdadeiro
contato com o cotidiano brasileiro. Em três anos de funcionamento, recebeu mais
de 4.000 hóspedes, com 100% de ocupação no carnaval e Réveillon de 2007.
Carlos Magno, gerente de relacionamento do Cama e Café é um dos
responsáveis pela criação da rede em Santa Teresa.
90
De onde surgiu à idéia de criar o Cama e Café junto com seus dois sócios?
Carlos Magno: O Cama e Café foi criado através de experiências vividas pelos
sócios, que tiveram a oportunidade de se hospedar em alguns Bed and Breakfast
pelo mundo a fora. O fato de você estar em contato direto com os donos da casa
torna tudo mais fácil porque querendo ou não ele acaba se tornando seu amigo,
seu guia turístico e até mesmo seu professor de idiomas. Acaba-se percebendo
que esse meio de hospedagem te deixa muito mais próximo da cultura deles, sem
falar da sensação boa que se tem, ao contrário de um hotel que possui um
serviço personalizado e frio. Dificilmente um hóspede sairá com seu concierge
para tomar uma caipirinha ou para ser apresentado aos melhores bares e
restaurantes, já no conceito cama e café isso existe. Em 1995, eu e meus sócios
fizemos um intercâmbio em uma cidade com -20c° e isso me fez ver o quanto o
brasileiro é feliz e não sabe, o quanto é hospitaleiro e cativante, o que não deixa
de ser um grande diferencial para a hospedagem no Brasil. Passamos também
um tempo na Europa e acabamos ficando em Bed and Breakfast, não só pela
questão financeira, mas também pelo conhecimento e experiência.
Por que você e seus sócios escolheram Santa Teresa?
Carlos Magno: Nós vimos que Santa Teresa recebia muitos turistas aventureiros
que chegavam com suas mochilas nas costas e com necessidade de encontrar
um meio de hospedagem. O que se encontrava muito na época eram pessoas
querendo dividir um quarto, ou alugando um quartinho nos fundos da casa.
Observando tudo isso, aproveitamos o evento artes portas abertas que aconteceu
em 2002, para abrir inscrições para que pessoas se tornassem anfitriões e
conhecessem melhor o conceito cama e café. O mais surpreendente é que
tivemos 20 inscrições só nesse dia e a partir disso vimos outras oportunidades,
sentimos que o projeto poderia realmente dar certo, mesmo sabendo que no
fundo não seria fácil, por ser um bairro de resistência, de vanguarda com
moradores que se orgulhavam muito de morar ali. Logo, nós tivemos que interagir
com a comunidade, conhecer melhor os moradores, os estabelecimentos, pontos
de taxi e traçar parcerias com comerciantes e artistas.
91
A idéia foi bem aceita ou houve alguma resistência?
Carlos Magno: Foi muito bem aceita até mesmo porque isso iria trazer beneficio
a todos, gerando uma renda extra para a comunidade e iria movimentar a
economia do bairro. O único problema é que nós tínhamos a idéia, mas não
sabíamos quanto nós iríamos cobrar. O carnaval de 2003 chegou e acabamos
colocando nossa idéia em prática e logo na primeira temporada conseguimos
fechar nossa ocupação com 100%. Vendo que estava dando tudo certo,
resolvemos levar a coisa mais a sério e começamos a preparar um treinamento
de qualidade no atendimento para os anfitriões, para que todos entendessem a
fundo o conceito Cama e Café e que soubessem como receber os futuros
hóspedes, como preparar e servir o café da manhã, o que estará incluso na parte
de governança, como preparar o quarto e o que fazer em situações inesperadas.
O SEBRAE foi um grande parceiro, nos ajudou com toda à parte de treinamento
desde o início.
Como foi feita a divulgação do Cama e Café?
Carlos Magno: No início nos usamos muito a internet e panfletos que eram
distribuídos nos restaurantes, lojas, pontos de taxi, rodoviárias, aeroportos entre
outros, e isso de fato funcionava porque havia muitos turistas chegando de Parati
e Ilha Grande sem ter onde ficar. Depois de algum tempo estávamos nas páginas
das melhores revistas de hospedagem e turismo.
Qual é o público alvo do Cama e Café?
Carlos Magno: Sem sombra de dúvida são os casais e estrangeiros. Em primeiro
lugar os alemães, em segundo os franceses, em terceiro os irlandeses, e uma
infinidade de outros turistas estrangeiros, como espanhóis, canadenses,
holandeses, dinamarqueses, australianos, italianos e por último os americanos.
Mas isso é uma seleção de turistas estrangeiros, se eu for falar do turista como
um todo, posso dizer que dentro do quadro geral eles ocupam 75% enquanto os
brasileiros somente 25%. Entre os brasileiros, posso destacar São Paulo com
92
10%, Minas Gerais com 5%, e os 10% que restam se divide entre outros estados
como Espírito Santo, Santa Catarina, Brasília e Bahia.
Você como um dos fundadores do Cama e Café acha que esse conceito
pode se expandir para todo o país ou você acha que os outros estados não
estão preparados como esteve Santa Teresa?
Carlos Magno: Pode ser que sim. Eu só acho que se deve tomar muito cuidado
porque no Cama e Café se administra dois tipos de clientes, o cliente hóspede e o
cliente anfitrião. Tem que tomar cuidado para não prejudicar a relação por causa
da demanda. Existem lugares que não possuem uma demanda muito alta e se o
anfitrião não tiver consciência disso, tudo pode ir por água abaixo. Não adianta
criar muita expectativa se não há clientes. Mas o Cama e Café a caba sendo uma
alternativa para lugares que não possuem uma indústria hoteleira apropriada e
você pode usar isso ao seu favor. Ao invés de construir, o que se pode fazer é
instruir as pessoas que moram naquele bairro ou cidade, dando capacitação,
mostrando a eles a riqueza do lugar e o valor histórico arquitetônico. Fazendo
isso, você estará juntando o útil ao agradável, o que não deixa de ser uma
solução inteligente e ambientalista.
Como é feita a seleção das casas?
Carlos Magno: O fato de fazer parte do Cama e Café não é só bom quando o
assunto é renda extra, mas também é um trabalho especial e prazeroso e para
tudo correr bem precisamos ter casas confortáveis e principalmente anfitriões que
amem o que estão prestes a fazer. Os moradores já existentes no Cama e Café
foram escolhidos a dedo por mim. Depois da inscrição eu vou até a casa da
pessoa para entrevistá-la e conhecer melhor a estrutura física da casa. Durante
todo esse tempo de Cama e Café eu recusei mais do que aceitei moradores a
fazerem parte da rede. Para mim, um morador tem que ter atributos simples,
como saber receber bem uma pessoa, ser simpático, ter tempo e disponibilidade
para preparar um café da manhã especial, tem que ser paciente deve que gostar
de pessoas, o famoso calor humano, tem que gostar de trocar experiências, saber
aceitar as diferenças, tem que ser caprichosa e principalmente ser responsável e
93
ter noção de como agir em situações difíceis. Eu sempre procuro fazer visitas
semestrais, marcar um café da manhã na casa do anfitrião para saber como
andam as coisas, quais são as dificuldades e necessidades deles.
É através deste cruzamento de perfil que nós temos certeza que o nosso hóspede
vai estar muito bem acompanhado, porque o anfitrião já tem um perfil similar. Isso facilita
muito essa integração
Você se preocupa com a quantidade de casas, para que fique uma
proporção que não prejudique ninguém caso haja uma grande demanda de
casas a oferecer para poucos turistas?
Carlos Magno: Sim. Nós temos uma grande preocupação com relação a isso,
justamente para não haver um crescimento desenfreado. Hoje, nós temos 40
casas na rede e procuramos não ultrapassar muito para não prejudicar ninguém.
Vocês têm apoio de outros órgãos, como Ministério do Turismo?
Carlos Magno: Sim. Nós temos o apoio do Ministério do Turismo, do Riotur, da
prefeitura até mesmo porque não tem nem como eles irem contra um projeto que
beneficia toda a cidade. No entanto, a prefeitura nos procurou para dar suporte
nas olimpíadas do pan. Infelizmente não foi o que esperávamos porque achamos
que o rio iria ficar saturado de hóspedes, mas na verdade só recebemos 750 mil
pessoas. Houve certa expectativa por parte dos anfitriões que acabou em
desilusão.
Existe uma legislação voltada só para o Cama e Café como existe para
pousadas e hotéis?
Carlos Magno: Sim. Em Santa Teresa, por exemplo, nós podemos trabalhar
apenas com três quartos por casa, já em parati o limite é de seis quartos. A
determinação da quantidade de quartos por casa dependerá da legislação do
município.
By Thais Moane
94
APÊNDICE B
ENTREVISTA
CAMA & CAFÉ
SANTA TERESA
A anfitriã Flávia Garcia de 35 anos é
advogada e pós-graduada em direito da
economia. Reside em Santa Teresa há sete
anos e há seis é conveniada a rede cama e
café, fundada em 2003.
Há quanto tempo você recebe hóspedes em sua casa?
Flávia: Comecei a receber hóspedes desde 2003, quando o Cama e Café foi
inaugurado.
Qual foi o principal motivo de aderir à hospedagem domiciliar?
Flávia: Convivência com novas pessoas, novas culturas e também por causa da
renda, ainda mais porque a grande maioria dos hóspedes são estrangeiros,
poucos brasileiros conhecem e/ou buscam o cama e café, mas quando isso
acontece, geralmente são paulistas.
Como foi feita a abordagem pela agência para adesão do programa? Já
conhecia esse tipo de hospedagem?
95
Flávia: Eu mesma tive a iniciativa de procurar o Cama e Café, ainda mais
sabendo que não teria que abrir mão do que faço para começar a fazer parte de
algo tão prazeroso e rentável. Como trabalho próximo ao centro da cidade, tudo
fica mais fácil porque tenho mais facilidade de voltar para casa.
Quem são os turistas que se hospedam em sua casa?
Flávia: Posso dizer que 95% são estrangeiros e a grande maioria são casais.
Geralmente são pessoas entre 20 a 40 anos que ficam de 4 a 5 dias , porém tem
alguns hóspedes que acabam ficando entre 15 a 20 dias. Pela experiência que já
adquiri recebendo pessoas de vários lugares do mundo, pude perceber que a
escolha desse meio de hospedagem acontece pelo acolhimento e não por
questão financeira.
Eu tenho um caso muito curioso de um casal de alemães que vieram passar
alguns dias aqui no rio. A principio, eles ficaram hospedados dois dias em um
hotel de luxo, mas devido a alguns problemas que aconteceram, resolveram
passar os últimos dias no Cama e Café e desde então, quando eles vêm ao Brasil
acabam ficando aqui. Eu chamo isso de fidelidade e para mim, isso é muito
gratificante.
Ouve alguma adaptação na casa ou reforma para o recebimento dos
hóspedes?
Flávia: A renda obtida com o Cama e Café possibilitou o início das obras e o
pagamento em menos de um ano, como por exemplo, a construção de mais dois
quartos, varanda, ampliação do quarto que já existia, lembrando que os novos
quartos possuem ar-condicionado, e a construção de um teto solar. Em alta
temporada acabo alugando meu quarto e contrato uma pessoa para me ajudar
com a casa.
Qual foi sua experiência mais positiva e a mais negativa?
Flávia: Como positivo eu posso citar o Sebastian, um alemão com alma de
brasileiro, que chegou à minha casa como hóspede e que hoje é praticamente um
96
membro da família. A amizade que foi construída foi tão forte que cheguei até a
construir um quarto só para ele e quando ele está aqui, faz questão de receber os
hóspedes e acordar mais cedo só para preparar o café que é servido. Como
negativo eu tenho somente um caso, foi com um casal de brasileiros. Eles tinham
que sair super cedo, porém não avisaram sobre o horário e eu também não avisei
sobre o horário do café. Logo, por causa da falta de comunicação entre ambos, o
casal saiu sem tomar café e chateado.
Qual é o maior impedimento de crescimento da atividade no Brasil em sua
opinião?
Flávia: Crise e preconceito por parte dos próprios hóspedes brasileiros. Santa
Teresa é um bairro muito hospitaleiro. A disponibilidade de dar informação, de
ajudar, de explicar e apresentar o bairro é muito grande.
Como se dá a questão da privacidade nos períodos em que há hóspedes em
casa?
Flávia: Pelo contrário, o problema é estar sozinha. O anfitrião que faz parte do
Cama e Café geralmente é uma pessoa que sempre teve a casa cheia,
convivendo com amigos e parentes. Pelo menos, foi assim comigo e isso de fato
me ajudou muito a ser uma pessoa mais feliz e disposta acolher qualquer pessoa
de qualquer lugar na minha casa. O mais legal não é saber que você se sente
bem fazendo isso, mas sim, saber que você faz outras pessoas se sentirem bem.
A interação entre anfitrião e hóspede é tão grande que já cheguei a sair com eles
para barzinhos, jantares, passeios turísticos dentre outros lugares.
Recomendaria para seus familiares e amigos que recebessem turistas em
suas próprias casas?
Flávia: Sim, porém não se sabe se aceitariam ou fariam devido o preconceito.
Você notou algum crescimento do número de hóspedes recebidos?
97
Flávia: O crescimento foi muito grande, chegamos a triplicar a quantidade de
hóspedes, do início do projeto até agora.
By Tatiane Alves
98
APÊNDICE C
ENTREVISTA
CAMA & CAFÉ
SANTA TERESA
A anfitriã Ana Laura Lopes de Andrade de 38
anos é formada em psicologia e analise de sistemas.
Reside em Santa Teresa e é conveniada a rede que
está instalada na sua residência.
A sede do Cama e Café sempre existiu ou a construção foi pensada depois
que a rede foi formada?
Ana Laura: No início, o espaço físico do Cama e Café não existia, foi quando eu
resolvi ceder um pedaço do meu terreno para que a sede fosse construída.
Compartilhar espaço nunca foi problema para mim, mesmo sabendo que o
movimento iria aumentar, a disposição seria maior, sem falar do custo que a obra
iria gerar. Mas tudo isso foram coisas que eu fui ponderando e que deram certo
até mesmo porque nós precisávamos de um porto seguro e a construção da sede
veio nos trazer isso. Eu sentia que os hóspedes se sentiam órfãos, mas com a
construção da sede, eu percebi que começamos a passar mais segurança para
eles, dando mais credibilidade a rede. No entanto, um dos meus desejos é
conhecer o Cama e Café de Olinda, saber como é o trabalho deles, como eles
estão se desenvolvendo e até mesmo para compartilhar experiências.
Você já teve problemas com hóspedes na sua casa?
99
Ana Laura: Problemas graves não. O que acontece muito é o hóspede querer
usar a cozinha para cozinhar, fazer festinha entre outras coisas, mas nada grave.
Alguns anfitriões não gostam de liberar a cozinha, para evitar bagunça. Eu,
particularmente acabo liberando o forno microondas para ser preparado um
lanche.
Como funciona a relação hóspede e anfitrião?
Ana Laura: A relação entre ambos é tão grande que na maioria das vezes que eu
saio para tomar um chope em um barzinho eles acabam indo junto e a partir disso
nasce uma amizade. Uma vez, chegou um grupo de angolanos para ficar uma
semana, no final da estada deles eu resolvi viajar para Sorocaba, nisso eles
ficaram sabendo e quiseram ir junto, e de fato foram. A viagem foi muito
agradável. Já chequei a fazer festa de aniversário, já liberei a minha
churrasqueira, já houve casamento com lua de mel e tudo mais.
Quais são as maiores dificuldades que você enfrenta?
Ana Laura: Minha maior dificuldade é receber grupos. Eu não consigo recebê-los
porque eu acabo me sentindo uma estranha dentro da minha própria casa. Um
grupo já chega com uma cultura diferente, uma postura diferente, com uma
opinião já formada e isso cria um campo de força muito grande. Eles acham que
podem fazer o que quiserem, ficam comparando um quarto com o outro, querem
mudar de quarto toda hora e acham que os quartos devem ser iguais para todos.
Algum hóspede já quis trocar de casa por não se adaptar a sua?
Ana Laura: Sim. Já tivemos muitos casos de troca, mas na maioria das vezes
eles se arrependem até mesmo porque uma casa nunca será igual à outra.
Quando o pedido da troca é feito, nós procuramos atender o desejo do hóspede
imediatamente até mesmo porque a nossa intenção é que ele se sinta bem como
se estivesse na sua própria casa e que saia falando bem da rede. É por isso que
a rede existe, caso não haja adaptação, a sede disponibiliza outra casa para esse
hóspede.
100
Se você morasse sozinha, sua casa seria diferente do que ela é hoje?
Ana Laura: Acredito que sim. Eu sou uma pessoa que gosta de ambientes
pequenos, não tenho a menor necessidade de conviver em lugares grandes. Meu
quarto é suficiente para mim, lá dentro eu tenho minha cama, minha tv, meu
aparelho de som, meus livros, meu frigobar, meu escritório e meu material de
trabalho.
Algum hóspede já chegou a quebrar ou danificar alguma coisa na sua casa?
Ana Laura: Sim. Eles sempre acabam quebrando alguma coisa. Na minha casa,
já chegaram a quebrar copos, pratos, ou seja, coisas pequenas. Eu me lembro de
um casal que quebrou a cabeceira da cama de outra anfitriã. Ela havia comprado
a cabeceira recentemente. Casos como esses não tem muito que se fazer. Nós
tentamos cobrar do hóspede, mas nem sempre temos o retorno do prejuízo.
Você já passou por alguma situação constrangedora?
Ana Laura: Desagradável sim, mas constrangedora ainda não. Foi desagradável
para eu receber um grupo de angolanos, onde todos eram homens. Eles vieram
para ficar três meses, mas em um mês pedi para trocá-los, mas para isso, tive
que inventar uma história para não chateá-los. A postura cultural dos angolanos é
muito agressiva, possuem preconceito com relação à mulher brasileira e o limite
para mim, como já havia dito antes, é me sentir uma estranha dentro da minha
própria casa. Teve outro caso engraçado em que eu estava com a perna
engessada e com três ingleses, uma mulher e dois homens. Os dois ingleses
foram para o Maracanã e a mulher ficou em casa porque não estava se sentindo
bem, e para completar colocou na cabeça que estava com malária e que iria
morrer porque havia acabado de chegar da Amazônia. Como não podia dirigir,
liguei para a emergência e uma médica pelo telefone conseguiu tranqüilizá-la.
Os hóspedes quando voltam a Santa Teresa, preferem ficar na mesma casa
ou gostam de conhecer outras famílias?
101
Ana Laura: Depende, tem hóspedes que voltam e querem ficar na mesma casa,
outros preferem ir para outras casas para terem experiências diferentes, como por
exemplo, o Rafael, um paulista super simpático que vem curtir o carnaval aqui em
Santa Teresa há 4 anos, e toda vez que ele vem fica em uma casa diferente. Mas
temos outros casos, como o músico pombas. Já é o 3° carnaval que ele passa em
Santa Teresa e tem preferência de ficar na minha casa.
Quem é o turista do Cama e Café?
Ana Laura: Nós recebemos muitos estrangeiros e dentre eles os que mais se
destacam são os alemães, franceses, angolanos e irlandeses. O brasileiro não é
nosso público alvo. Não que o Cama e Café não queira que ele seja, mas
simplesmente pelo fato de recebermos poucos turistas brasileiros, o que é uma
pena porque os poucos que chegam a conhecer Santa Teresa se encantam,
como aconteceu com o Rafael. Ele nos procurou para saber quanto custa um
imóvel em Santa Teresa porque a intenção dele é vir morar aqui e fazer parte da
rede. Tem um caso muito interessante, a história do Sebastian. Ele foi o primeiro
hóspede do Cama e Café e toda vez que ele vem ao Brasil fica na casa da Flávia
e a relação entre eles ficou tão forte que a Flávia acabou construindo um quarto
só para ele. O mais interessante é que ele passou a fazer parte da vida dela
porque aonde ela ia, ele ia também. Ele chegou até a conhecer toda a família e
na ausência dela e do Alexandre (esposo) era ele quem preparava o café da
manhã, era ele quem recebia os hóspedes. Acredito que ele tenha morado com
eles durante 1 ano. O que nós aprendemos com tudo isso é que pessoas que se
hospedam no Cama e Café buscam algo mais, buscam o famoso calor humano.
O Sebastian por ser alemão acabou nos surpreendendo. Ele poderia ter escolhido
um hotel, mas de fato buscava algo mais. Nós sempre brincamos ao dizer que ele
poderia ser alemão, mas tinha alma e coração de brasileiro.
Existem pessoas que usam esse meio de hospedagem como única fonte de
renda, mas não faz parte da rede?
Ana Laura: Sim. Ficamos sabendo de várias casas que usam esse meio de
hospedagem para sobreviver, mas não são agenciadas.
102
Você acha que isso pode afetar a rede?
Ana Laura: Não acredito que isso afete a rede porque o hóspede sabe diferenciar
bem o verdadeiro Cama e Café de uma casa qualquer. Essas casas não possuem
a filosofia cama e café, elas não têm um porto seguro ou alguém a quem recorrer
em um caso de emergência. Sem falar da questão de adaptação, se o hóspede
não se adaptar ele não terá opção para ir para outra casa. Isso o deixará
insatisfeito, levando-o a nunca mais voltar. Outra coisa fantástica é a questão de
não mexer com a parte burocrática, isso torna a relação entre anfitrião e hóspede
mais humana, sem falar da dor de cabeça que evitamos que o dono da casa
tenha.
By Danielly