banco de madeira talhado

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aprenda a fazer um banco de madeira talhado.

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  • KUMURBANCO TUKANO

    SO GABRIEL DA CACHOEIRA - SO PAULO2003

    Livro Tukanonovo1-ok 11/25/03 3:26 PM Page 1

  • Kumur Banco Tukano FOIRN

    AUTORES TUKANO DO RIO TIQUI Domingos Borges Barreto, Mariano Azevedo eCelestino Azevedo (Pirarara), Jos Azevedo, Rogelino Alves Azevedo, HiginoAzevedo e ngelo Azevedo (So Jos II), Miguel Azevedo e Antenor NascimentoAzevedo (So Jos I), Francisco Sampaio (Santa Luzia), Francisco Barreto,Tarcsio Barreto, Ovdio Barreto, Belisrio Barreto, Otvio Borges Barreto, IsaacBarreto e Luiz Tirado (So Domingos), Amrico Bastos (So Paulo), Jovino Pena(Santa Rosa), Avelino Neri (Jabuti), Henrique Marques (Boca do Sal).

    TEXTO Aloisio Cabalzar EDIO Beto RicardoFOTOS Rosa Gauditano FOTOS COMPLEMENTARES Aloisio Cabalzar/ISA, Beto Ricardo/ISA (pg 4-5, 10),

    Roberta Dabdab (pg 8)DESIGN GRFICO E EDITORAO Sylvia MonteiroCAPA Aloisio Cabalzar/ISACOLABORADORES Flora Cabalzar e Pieter van der Veld (ISA). PRODUO GRFICA Signorini FOTOLITOS Bureau Bandeirante IMPRESSO GamaREVISO Flora Cabalzar TIRAGEM 2000

    APOIO PARA PUBLICAO

    DISTRIBUIO FOIRN/ISAOs direitos relativos aos conhecimentos sobre as matrias-primas e o processo de produodo banco tukano, tal como registrados nesta publicao, pertencem exclusivamente ao povoTukano.

    A renda proveniente da venda desta publicao reverter integralmente para a consolidao eampliao das atividades de produo, divulgao e comercializao do banco tukano.

    Fica proibida a reproduo total ou parcial desta publicao, de qualquer forma, sem prvia eexpressa autorizao da FOIRN Federao das Organizaes Indgenas do Rio Negro.Contatos podem ser feitos pelo endereo eletrnico [email protected] ou pelo telefone (97)471-1349, em So Gabriel da Cachoeira.

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  • SUMRIOOBJETO CERIMONIAL TUKANO 4

    MODELOS DE BANCO 6UMA ESPECIALIDADE CULTURAL 8NO PRINCPIO ERAM DE QUARTZO 9OS TUKANO 10A MALOCA 11

    FAZER O BANCO 12NO MATO 15TORAS SOB MEDIDA 16

    O ENTALHE 19ETAPAS DO ENTALHE 20FERRAMENTAS 22MEDIES 24CAVANDO FUNDO 27CUIDADOS PARA NO RACHAR 28

    O ACABAMENTO 30APLAINAR E LIXAR 32PINTAR 35CORANTES E FIXADORES 36TINGINDO O ASSENTO 38

    GRAFISMOS 41CARIMBOS E PINCIS 42ARGILA 44TRAOS 46KUMU HORI 49LAOS 50PRESENTES 5 1 LAVAR PARA REVELAR 52SIGNIFICADOS DOS GRAFISMOS 54

    OFICINA DE BANCOS NA FOZ DO CABARI 58INFORMAES SOBRE O PROJETO

    E AS PARCERIAS 62FONTES 63GLOSSRIO 64NOTA SOBRE A GRAFIA DAS PALAVRAS

    EM TUKANO 64

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  • 9panhar todas as passagens do ciclo de vida da pessoa, os grandes rituais e acura das doenas. Ele tambm recita o mito de origem nas grandes cerimnias.

    NO PRINCPIO ERAM DE QUARTZO

    Os bancos que existiam na Maloca do Universo (Umuko Wiika) eram feitosde quartzo, de pedra. Eles foram oferecidos pelo Av do Universo (Umukoeku) aos lderes da primeira humanidade (Bahuari Mas), os ancestrais dosTukano. O mito de origem dos povos Tukano situa no Lago de Leite (OpekDitara), geralmente associado ao Oceano Atlntico, o ponto de partida de umacobra-canoa ancestral (Pamuri Pir) que transportava em seu bojo os descentesde toda a humanidade atual. Essa cobra emergia em certas paragens do Rio deLeite (Opek Dia), formando as Casas de Transformao (Pamuri Wii), onde ospovos em formao viviam e iam adquirindo conhecimentos, habilidades, culti-vares, objetos e instrumentos rituais... Na cachoeira de Ipanor (Petap), umadessas Casas, a humanidade, em seu aspecto atual, saiu dos buracos da trans-formao, que ainda podem ser vistos nas pedras da cachoeira. A todos ospovos comearam a se separar e se espalhar, ocupando cada qual uma rea efalando uma lngua distinta. Os Tukano foram para o rio Papuri. Com o cresci-mento da populao, formarammuitas malocas. Alguns migrarampara o rio Tiqui. Os ornamentos einstrumentos cerimoniais foram divi-didos e, depois, outros foram feitos.Os bancos de pedra foram reproduzi-dos em madeira, como so hoje.

    Atualmente, os artesos fazembancos de vrios tamanhos, depen-dendo da finalidade. Quando parauma maloca (casa cerimonial tradi-cional), fazem um banco para o baya(mestre da dana), que deve ter qua-tro palmos, e para os acompanhan-tes do baya (os outros que danamcom ele), de trs palmos e quatrodedos. Os bancos para moradia, deuso cotidiano, so menores e podemter dimenses variadas.

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    NO MATO

    Vrios tipos de madeira podem ser trabalhados para a fabricao do banco. A preferida chamada em tukano utaimi e, regionalmente, sorva. umarvore encontrada em floresta de terra firme. Essa planta no muito comum e seu crescimento lento. Suas sementes no brotam facilmente. Embaixo dacopa das rvores adultas, raramente so encontradas sementes germinando. possvel que precisem passar pela digesto de algum animal herbvoro paraserem ativadas, da seu padro disperso na floresta.

    Algumas madeiras encontradas em reas de floresta inundada s margensdos rios, os igaps, tambm so utilizadas para a fabricao dos bancos. Somais freqentes no baixo e mdio curso do rio Tiqui, onde esto situados osigaps mais extensos. Existem ainda outras madeiras apropriadas que crescemem capoeira ou terra firme. Algumas dessas espcies possuem nomes regio-nais, como sorvinha, pacarro e molong.

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    Encontrada a madeira,preparada e levada paracasa, o local do traba-

    lho, j se pode iniciar o enta-lhe. Busca-se, desde o incio, o equilbrio e simetria das for-mas, sob todos os ngulos. Asmedidas e a textura so obser-vadas e sentidas, com os olhose mos, revirando-se o tronco.

    Cada arteso entalha a seumodo, mas alguns passos soseguidos por todos, emseqncia. Comeam preparan-do duas faces do tronco,opostas. Na inferior que sera base de apoio no cho otronco deixado plano, pro-cedimento que facilita o traba-lho na face oposta, dando maisestabilidade pea. Na supe-rior a superfcie tornada cn-cava com o trabalho das ferra-mentas. Depois disso, medeme marcam com carvo aposio dos ps na madeira.Passam a desbast-la, tirandopor baixo e pelos lados, comcuidado para no rachar osps. uma escultura emmadeira macia. Pouco apouco a pea vai tomando seuaspecto final, cada vez maisdelicadamente.

    O ENTALHE

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    FERRAMENTAS

    Alm de habilidade e tcnica, trabalhar a madeira exige algumas ferramentas.Trs so as principais: dois tipos de enx e uma machadinha. A enx maisutilizada chamada em tukano de sioga (nome que tambm vamos usar aqui).Comeando por ela, essa ferramenta conhecida h vrias geraes, utilizadaantigamente para cortar sorva (para tirar seu ltex). uma lmina de ferro provi-da de uma luva onde encaixado um cabo. Atualmente no existem mais nocomrcio e preciso faz-las por encomenda. um instrumento verstil, tiltanto para alcanar e cortar a madeira mais profundamente, entre os ps dobanco, como para tirar lascas pequenas da superfcie.

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    O ACABAMENTO

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  • Concludo o entalhe damadeira, os artesostukano se dedicam a

    polir e lixar o banco, fazendocom que a madeira fique comuma textura mais lisa e suaveno assento, sua base, plana eestvel. Os velhos usavamfolhas de algumas rvores epedras arredondadas comolixa; hoje tambm so empre-gadas lixas industrializadas.Esse trabalho prepara a peapara a pintura.

    Mariano tukano dePirarara, no mdio Tiqui, eaprendeu a fazer bancoscom seu pai: eu vi o quemeu pai fazia, eu possofazer. Antigamente, eainda hoje, os Tukanofaziam bancos para oferecerpara seus cunhados, comoos Desana e Tuyuka. Tinhaum cunhado meu, eu fizpara ele pela primeira vez,foram doze bancos eentreguei tudo aprontado.Ficou bom. Tinha outrocunhado, eu fiz treze bancospara ele. Entreguei, comofaziam os antigos.

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    legiada na cosmologia tukano. Essa tra-jetria relembrada nas cerimnias edanas realizadas na maloca. Tanto o baya(ou Mestre de Cerimnia) e seus acompa-nhantes de dana, quanto o kumu, sentam-se nesses bancos. Em tukano, esse desenhose chama pamu-ri hori.

    MOMORI (DESENHO DA BORBOLETA) IMPRESSO NO CENTRO DO ASSENTO

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    FONTESBksta, Kazys Jurgis, A Maloca Tukano-Dessana e seu Simbolismo. Manaus: SEDUC/AM, 1988.Cabalzar, Aloisio, Banco Tukano. Relatrio de Oficina realizada em So Domingos (alto Tiqui).So Paulo: ISA, 2002. Indito.Cabalzar, Aloisio e Ricardo, Carlos Alberto, Mapa Livro. Povos Indgenas do Alto e Mdio RioNegro. So Gabriel da Cachoeira/So Paulo: FOIRN/ISA, 1998.Umusi Prkumu e Tormu Kehri, Antes o Mundo No Existia. Mitologia dos Antigos Desana-Kihripr. So Gabriel da Cachoeira: UNIRT/FOIRN: 1995. Primeira edio de 1980.Diakuru e Kisibi (Amrico e Durvalino Fernandes), Mitologia Sagrada dos Desana-WariDihputiro Pr. So Gabriel da Cachoeira: UNIRT/FOIRN, 1996.Reichel-Dolmatoff, Gerardo, Amazonian Cosmos - The Sexual and Religious Symbolism of theTukano Indians: The University of Chicago Press, 1971.ahuri e Ku-mar (Miguel Azevedo e Antenor N. Azevedo), Mitologia Sagrada dos TukanoHausir Pra. So Gabriel da Cachoeira: UNIRT/FOIRN, no prelo.Ribeiro, Berta G., Os ndios das guas Pretas. So Paulo: Cia das Letras/EDUSP, 1995.

    A parceria FOIRN/ISA inclui vrias atividades: a demarcao das terras indge-nas e o desenvolvimento de alternativas econmicas apropriadas, incluindo a capaci-tao das organizaes indgenas, a instalao de uma rede de radiofonia e trans-porte, o desenvolvimento de pesquisas dirigidas, a publicao da primeira srie delivros de autores indgenas no Brasil, a implantao de escolas indgenas diferen-ciadas, de projetos de piscicultura e de manejo agroflorestal, a formao de umbanco de dados socioambientais georreferenciados.

    Viabilizar a comercializao dos bancos tukano uma iniciativa concomitante revitalizao dessa prtica tradicional de entalhar a madeira. Alguns mestres artesosesto retomando sua especialidade, aprimorando sua tcnica na constncia do traba-lho, ensinando aos mais jovens e construindo uma alternativa de renda para comu-nidades indgenas situadas a muita distncia do mercado consumidor.

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    GLOSSRIObaya: mestre de cerimnia. o conhecedor dos cantos e danas tradicionais,responsvel pela entoao do canto e liderana dos outros danarinos nos grandesrituais realizados nas malocas

    caxiri: bebida fermentada com base na mandioca e temperada com outros turbrcu-los, com certo grau alcolico, preparada para a animao das festas.

    caapi: bebida ritual feita a partir de certas espcies de cip, comum entre os povosindgenas da Amaznia Ocidental, com possvel efeito alucingeno.

    ipadu: p de folhas de coca misturado com cinzas de folhas secas de embaba oucucura. As folhas de coca so apenas torradas e socadas, no passando por qualquertipo de refinamento qumico. consumido ritualmente, apenas pelos homens adultosmais velhos.

    dabucuri: festa tradicional de oferta de alimentos. Um grupo de pessoas fornecepara seus cunhados ou irmos uma quantidade grande de certo tipo de alimento,fresco ou preparado e, para entreg-lo, so esperados com uma festa e caxiri.

    kapiwaya: cerimnia na qual se realizam as danas tradicionais, entoadas por umgrupo de cantores liderados pelo mestre de cerimnia, o baya. Para essas festas, preparada grande quantidade de caxiri, ipadu, caapi e fumo. Essas cerimnias podemser realizadas em vrias circunstncias: proteo contra doenas da estao,atribuio de nome ao filho de um chefe, iniciao dos jovens, etc.

    wayuri: o mutiro feito dentro de uma comunidade ou que envolve vrias delas,para o plantio de uma roa, construo de uma casa ou realizao de trabalhoscomunitrios. comum o preparo e consumo de caxiri nessas ocasies.

    NOTA SOBRE A GRAFIA DAS PALAVRAS EM TUKANO(adaptado de Henri Ramirez, A Fala Tukano dos Yep-Masa. 1997)a, i e u pronunciam-se como em portuguse e o so abertas, como em f e avu- - uma vogal pronunciada como i, mas com a ponta da lngua voltada para ocu da bocar pronuncia-se como em caro pronuncia-se como o nh do portugus ou do espanholSe a primeira vogal da palavra for seguida por uma consoante surda (p, t, k, s),tornar-se- parcialmente surda. Por exemplo: pikse l-se pihkse.

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