balanço historiográfico sobre as insurgências de …...o balanço historiográfico que...
TRANSCRIPT
657
Balanço historiográfico sobre as insurgências de africanos(as) e afrodescendentes contra
a escravidão em América
Paola Vargas Arana1
Resumo: Nesse texto apresentamos um balanço historiográfico sobre os estudos das
insurgências africanas e da diáspora para enfrentar a escravidão em América. Iniciamos por
um percorrido histórico, aproximando as distintas tendências e países, para concluir que o
debate entre o processo de criolização versus o de africanização das culturas da diáspora em
América atualmente foi superado por novas alternativas e enfoques interpretativos. Entre os
enfoques mais recentes analisamos 1) o conceito do mundo atlântico como eixo para entender
a formação dos fenómenos socioculturais da diáspora; 2) a cooperação cada vez mais
profunda entre os estudos da história da África e a história da diáspora em América; e 3) a
relevância das histórias individuais de vida para interpretar os contextos históricos específicos
tanto na África quanto na América, que contribuíram para forjar as identidades e culturas da
diáspora.
Palavras-Chave: Resistências da Diáspora africana em América. Mundo Atlântico. Histórias
de vida de africanos no mundo atlântico. Resistências contra a escravidão em América.
Abstract: This article presents a historiographical synthesis on the studies of the insurgencies
led by Africans and the diaspora to face slavery in America. We begin with a historical
journey, approaching different trends and countries, to conclude that the debate between
creolization versus Africanization in the construction of the diaspora cultures in America has
now been surpassed by new alternatives and interpretive approaches. Among the most recent
approaches we analyze 1) the concept of Atlantic world as an axis to understand the shaping
of the diaspora as a sociocultural phenomenon. 2) Then we explain the advancement of a
deeper cooperation between the studies of African history with the researches of the diaspora
histories in America. 3) We analyze the relevance of individual life-histories studies, of
individual who contributed to forge identities and cultures on the diaspora; and how these life
histories serve to interpret broader socio-historical contexts in both Africa and America.
Keywords: Resistances of the African Diaspora in America. Atlantic World. Life histories of
Africans in the Atlantic world. Resistance against slavery in America.
1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História Social – PPGHIS da Universidade Federal do Rio de
Janeiro – UFRJ, bolsista CNPq, endereço eletrônico [email protected]
658
O balanço historiográfico que apresentamos nesse artigo faz parte da tese de doutorado
que, desde 2015, desenvolvo no PPGHIS da UFRJ, cujo objetivo é analisar as insurgências
conduzidas pelos africanos nos séculos XVI e XVII, na colônia hispânica de Nova Granada.
A ênfase da tese é mostrar que os povos africanos não perderam suas culturas quando
chegaram na América, pois aqui as reconstruíram com novos elementos, e essa força cultural
lhes permitiu lutar contra os interesses dos escravistas e forjar suas próprias culturas. A
pesquisa faz parte dos estudos sobre as resistências que os africanos e seus descendentes
criaram na diáspora2 americana para combater a escravidão, os quais começaram desde o
início do século XX tanto na academia do Caribe, como nos Estados Unidos e Brasil.
Iniciamos este percorrido com dos pesquisadores brasileiros, Flavio Gomes e João José Reis,
cujo livro Liberdade por um fio de 1996, incluiu os estudos brasileiros daquela que
consideram foi a resistência mais típica contra a escravidão, isto é, a formação de grupos de
africanos e seus descendentes, nos denominados palenques, quilombos, cumbes ou marroon
communities, dependendo da região da América onde essas organizações territoriais
existiram.3 De acordo com Gomes e Reis, esse fenômeno foi estudado desde o surgimento
dessas organizações territoriais, uma vez que há registros coloniais que detalham tais
resistências, com ênfase na compreensão do seu funcionamento e nas dificuldades para
erradicá-las. Durante o período de vigência da escravidão, essas narrativas foram enquadradas
na história militar e procuraram exaltar o poder exercido pelas autoridades coloniais.4 Por
2 No presente texto, estudaremos a historiografia das resistências contra a escravização; portanto, não
discutiremos o conceito da diáspora africana por resultar igualmente amplo. No entanto, é importante salientar
que a definição da noção da diáspora africana foi debatida pelo menos desde a década de 1960. Atualmente a
ideia mais aceita de diáspora africana refere-se à dispersão da população africana em todo o mundo, em
momentos diferentes da história, dos quais surgiu uma auto-identificação com o continente africano tanto por
parte das afrodescendentes, como das pessoas africanas que moram fora da África. Essa auto-identificação
refere-se à consciência de que existem laços culturais, linguísticos e históricos com o continente africano, bem
como o reconhecimento de que, a nível global, injustiças similares foram e são cometidas contra pessoas
africanas e seus descendentes de pele escura. Entre os trabalhos relevantes sobre o conceito de diáspora africana,
podemos destacar: HALL, Stuart. Cultural identity and diaspora. In: RUTHERFORD Jonathan, Identity:
community, culture, difference. Lawrence & Wishart, 1990, p. 222-237; GILROY, Paul. The black Atlantic:
Modernity and double consciousness, Harvard University Press, 1993; INIKORI, Joseph E.; HARRIS, Joseph
E.; JALLOH, Alusine; PALMER, Colin A.; CHAMBERS, Douglas; GRADEN, Dale T. The African Diaspora,
Arlington: University of Texas, 1996. La temática es tan amplia que actualmente se pueden encontrar balances
sobre el uso y definición del concepto, por ejemplo en: OLANIYAN, Tejumola, SWEET James H. The African
Diaspora and the Disciplines, Indiana University Press, 2010; MANN, Kristin. Shifting paradigms in the study
of the African diaspora and of Atlantic history and culture, Slavery and Abolition, v. 22, n. 1, p. 1-2. 2001;
BOYCE DAVIES, Carole. Encyclopedia of the African Diaspora: Origins, Experiences, and Culture, 3 volumes,
California: ABC-CLIO, 2008. 3 REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p.
9. 4 REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p.
11.
659
tanto, para os autores, as análises sobre as resistências africanas datam do início mesmo da
colonização.
Outra possível origem desses estudos é sugerida por Kim Butler. A autora propõe que,
uma vez que a legalidade da escravização foi erradicada globalmente e na medida que a mídia
se expandia, as pessoas africanas e afrodescendentes criaram uma consciência da necessidade
de enfrentar a causa comum das atrocidades históricas e contemporâneas cometidas contra
elas. A autora afirma que na passagem do século XIX para o XX, a lógica da raça na
exploração de corpos negros (black bodies) foi mais do que evidente em ambos os lados do
Atlântico; por exemplo, na construção do Canal do Panamá por pessoas exclusivamente
afrodescendentes, a qual ocorreu simultânea com a execução das barbáries da exploração da
borracha pelos belgas no Congo, com a partilha da África, o linchamento de afrodescendentes
nos Estados Unidos, à instalação do apartheid na África do Sul, e à substituição de
trabalhadores afrodescendentes por imigrantes europeus nas Américas.5
Nos Estados Unidos e no Caribe, essas evidências contribuíram para a articulação de
uma causa comum por parte dos afrodescendentes que exigiam a participação igualitária
(rightful share) como cidadãos, pois, apesar de suas contribuições para a construção dos
estados americanos, as pessoas de pele escura continuaram sendo marginalizadas.6 A autora
considera que foi a partir desta consciência que chama de Pan-Africanista, da qual emergiu a
elaboração de um primeiro corpus historiográfico das lutas, posições e demandas da diáspora
africana. Nos Estados Unidos, este tema forjou uma historiografia significativa da diáspora,
das obras de W. E. B. Du Bois,7 George Washington Williams,
8 Carter G. Woodson
9 e
George Haynes.10
No caso do Caribe, a autora destacou a contribuição de Marcus Garvey e
outros ativistas que somaram ao reconhecimento da resistência da diáspora e devem ser
levados em consideração no processo de formação da historiografia da diáspora contra a
5BUTLER Kim D. Clio and the Griot: The African Diaspora in the Discipline of History, In: OLANIYAN,
Tejumola, SWEET James H. The African Diaspora and the Disciplines, Indiana University Press, 2010, p. 23. 6 BUTLER Kim D. Clio and the Griot: The African Diaspora in the Discipline of History, In: OLANIYAN,
Tejumola, SWEET James H. The African Diaspora and the Disciplines, Indiana University Press, 2010, p. 23. 7 DUBOIS, W. E. B. The study of the Negro problems. The Annals of the American Academy of Political and
Social Science, v. 11, n. 1, p. 1-23, 1898. DUBOIS, W. E. B. The Souls of Black Folk, Modern Library, 1903. 8WILLIAMS, George Washington. History of the Negro Race in America from 1619 to 1880, GP: Putnam's
Sons, 1882. FRANKLIN, John Hope. George Washington Williams: A Biography. Duke University Press, 1998. 9 WOODSON, Carter Godwin. The Negro in our history. Associated Publishers, 1922. WOODSON, Carter G.;
WESLEY, Charles H. The story of the Negro retold. Wildside Press LLC, 2008 [1935]. 10
BUTLER Kim D. Clio and the Griot: The African Diaspora in the Discipline of History, In: OLANIYAN,
Tejumola, SWEET James H. The African Diaspora and the Disciplines, Indiana University Press, 2010, p. 24-
25.
660
exploração.11
Kristin Mann compartilha a ideia de Butler de que o surgimento de
interpretações históricas das lutas da diáspora emergiu de intelectuais africanos(as) e
afrodescendentes, embora essa origem não tenha sido suficientemente reconhecida nos
círculos acadêmicos. Para sustentar sua afirmação, a autora também destaca o trabalho de W.
E. B. Du Bois e Carter G. Woodson nos Estados Unidos como pioneiros e enfatiza que, até a
década de 1970, as ideias destes intelectuais afro-americanos tiveram pouco impacto na
produção de conhecimento por parte do establishment acadêmico branco.12
Simultaneamente, no Brasil, as lutas dos militantes esquerdistas e do movimento negro
foram inspirados pelos quilombos forjados por africanos e afrodescendentes durante o período
da escravidão. De acordo com Gomes e Reis, isso pode ser verificado nas décadas de 1920 e
1930, quando as organizações negras recordavam nas suas lutas, as lutas do quilombo dos
Palmares, por exemplo, “o Centro Cívico Palmares, fundado em 1927, forneceria líderes e
idéias para a Frente Negra Brasileira na década seguinte.”13
Ao mesmo tempo, emergiram
intelectuais marxistas como Aderbal Jurema, que interpretaram as revoltas escravizadas como
episódios da luta de classes. A partir da década de 1930, as reflexões acadêmicas sobre as
organizações territoriais criadas pelos africanos e seus descendentes que fugiram da
escravidão, avançaram com os estudos de Nina Rodrigues, Artur Ramos ou Edison Carneiro,
desde uma perspectiva culturalista. Em particular, Edison Carneiro combinou as pesquisas
com o ativismo contra a perseguição policial das religiões da matriz africana, em particular do
Candomblé. Esta tarefa foi retomada a partir da década de 1940 por Roger Bastide,14
quem
associou a formação dos quilombos e religião do Candomblé como resistências contra a
aculturação que os escravizados foram pressionados nas senzalas.15
Entre os anos 1960 e 2000, Abdias do Nacimento propôs um conceito mais amplo de
quilombo, como uma criação identitária da luta afro-brasileira contra as injustiças do sistema
escravo e a subsequente exploração laboral desse setor da população no período pós-abolição.
Sua produção influenciou não apenas as abordagens das ciências sociais brasileiras, mas
também ultrapassou fronteiras, tornando-se um dos ícones das lutas pan-africanas até o
11
BUTLER Kim D. Clio and the Griot: The African Diaspora in the Discipline of History, In: OLANIYAN,
Tejumola, SWEET James H. The African Diaspora and the Disciplines, Indiana University Press, 2010, p. 38. 12
MANN, Kristin. Shifting paradigms in the study of the African diaspora and of Atlantic history and culture.
Slavery and Abolition, v. 22, n. 1, 2001, p. 4. 13
REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996. P.
12. 14
BASTIDE, Roger. Les religions africaines au Brésil: vers une sociologie des interpénétrations de civilisations.
Presses universitaires de France, 1960. BASTIDE, Roger. O candomblé da Bahia (rito Nagô). Brasiliana, 1961. 15
REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996. P.
11.
661
período contemporâneo.16
No caso do Haiti, Jean Prince-Mars entre os anos 1920 e 1950
estudou a tradição oral e a importância da religião Vodu;17
e, em Cuba, a obra de Fernando
Ortiz estudou etnograficamente as diferentes facetas das culturas afro-cubanas desde o início
do século XX até sua morte no final da década de 1960.
Resumindo, de acordo com Reis, Gomes, Mann e Butler, do movimento negro afro-
brasileiro, assim como dos movimentos emancipatórios do Caribe e dos intelectuais afro-
americanos do início do século XX, surgiram perspectivas importantes para entender o papel
dos africanos e afrodescendentes nas resistências contra a escravidão e injustiças do pós-
abolição. No entanto, até a década passada foi a obra de Melville Herskovits de 1941, The
Myth of the Black Past, a mais relevante para a interpretar os tipos de respostas culturais
geradas pela diáspora africana na América.18
Kristin Mann menciona que na década de 1920
Herskovits começou a estudar que "os vestígios das culturas africanas que haviam sobrevivido
nas Américas e, ao longo de sua longa carreira, promoveu apaixonadamente a ideia de que
tradições, atitudes e comportamentos institucionalizados foram mantidos no Novo Mundo,
tanto na vida secular como religiosa." 19
Centenas de estudos começaram a emergir nas Américas utilizando a perspectiva de
análise de Herskovits. No caso dos Estados Unidos, o trabalho de Joseph E. Holloway
destacou que sobrevivências africanas foram procuradas em comunidades isoladas,
especialmente na Flórida, Geórgia e Carolina do Sul.20
No caso do Brasil, de acordo com
Gomes e Reis, na década de 1960, R. K. Kent e Eugene Genovese construíram uma visão
restauradora, argumentando que os quilombos procuraram recriar estados africanos prístinos
no Brasil.21
No caso do México, Luis Aguirre Beltrán, entre os anos 1950 e 1980, estudou os
refúgios territoriais, bem como a medicina e a magia africanas que sobreviviam entre dos
afromexicanos.22
No caso da Colômbia, os estudos pioneiros de Rogerio Velásquez, publicados entre
1950 e 1980, reconstruíram as particularidades etnográficas dos grupos afrodescendentes,
assim como as resistências e rebeliões históricas na região do Pacífico colombiano.
16
DO NASCIMENTO, Abdias. O quilombismo: documentos de uma militância pan-africanista. Vozes, 1980. 17
PRINCE-MARS, Jean. Ansi parla l’oncle Port-au-Prince e Paris: Imprimerie de Compiègne, 1928. 18
HERSKOVITS, Melville Jean. The myth of the Negro past. Beacon Press, 1990 [1941]. 19
“MANN, Kristin. Shifting paradigms in the study of the African diaspora and of Atlantic history and culture.
Slavery and Abolition, v. 22, n. 1, 2001, p. 4. 20
HOLLOWAY, Joseph E. Africanisms in American Culture, Indiana University Press, 1990, p. 3. 21
REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p.
11. 22
AGUIRRE BELTRAN, Gonzalo. La población negra de México, 1519-1810. Estudio etno-histórico, México:
Ediciones Fuente cultural, 1946.
662
Adiantando as linhas de pesquisa que mais tarde se consolidaram em Colômbia sobre os laços
entre a história da África e da diáspora colombiana, Velásquez afirmou
sociólogos y antropólogos dicen que, identificados los pueblos negros hasta donde ello sea
posible, vendrán los enlaces de complejos y de acciones, el descubrimiento de rasgos
culturales entre los grupos del Nuevo Mundo y los que demoran todavía en las zonas donde
salieron los abuelos. Tras los nombres de los esclavos se podrá –tarde, quizás- desembocar
en la razón de ser de tantos neoafricanos que viven en el continente sin alcanzar su propia
ruta.23
Com relação à região do Caribe colombiano, nas décadas de 1950 a 1970, Aquiles
Escalante dedicou-se ao estudo do palenque de San Basilio, das formas tradicionais de
mineração e elaborou ensaios e artigos sobre máscaras de madeira africanas e sua possível
relação com as do Carnaval de Barranquilla. Ademais, o autor discutiu a influência das
línguas do tronco linguístico Banto nas culturas afrodescendentes da Costa Atlântica
colombiana, e estudou o significado do lumbalú, que é o ritual funerário do palenque de San
Basilio.24
Por outra parte, no Brasil, desde a década de 1950, contemporâneo com o
fortalecimento de partidos comunistas e socialistas em América Latina, se tornaram comuns
os estudos sobre a rebelião das pessoas escravizadas associadas aos movimentos de esquerda
e ao movimento negro. Em 1959 Clóvis Moura, apresentado um amplo leque de fontes
primárias, publicou uma interpretação marxista de Palmares, com o objetivo de combater a
concepção de Gilberto Freyre, iniciada em 1930, que no Brasil haveria relações escravas
harmoniosas. Análises como essa fizeram parte da chamada "escola paulista" que buscou
enfatizar a coisificação da pessoa escravizada ocorrida no marco do escravismo brasileiro.
Outros autores desta tendência foram Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso,
Otavio Ianni e, num período posterior, Luís Luna, José Alípio Goulart e Décio Freitas. A
ênfase do período foi entender as táticas de guerrilha dos quilombos e sua relação com outros
movimentos políticos. Por sua vez, os quilombos eram representados como sociedades
alternativas livres marginalizadas e isoladas; onde os quilombolas careceriam da consciência
de classe suficiente para alcançar o sucesso na luta.25
23
VELÁSQUEZ, Rogerio. Fragmentos de historia, etnografía y narraciones del Pacífico colombiano negro,
Bogotá: Instituto Colombiano de Antropología e Historia, 2000, p. 15. 24
ESCALANTE, Aquiles. Notas sobre Palenque de San Basilio, In: Divulgaciones etnológicas, IV, Barranquilla:
Universidad del Atlántico, 1954. ESCALANTE, Aquiles, El negro en Colombia, Tesis de sociología, Bogotá:
Universidad Nacional de Colombia, 1964. ESCALANTE, Aquiles. Minería del hambre. Condoto y la Chocó
Pacifico, Barranquilla: Tipografia Dovel, 1971. 25
REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996,
p.13.
663
Na década de 1970, o trabalho de Leslie B. Rout sobre africanos e afrodescendentes
nas colônias espanholas americanas dedicou todo um capítulo às rebeliões e resistências dos
escravizados. A autora enfatizou a análise da crueldade dos castigos, a legislação punitiva
colonial e as estratégias de contra-ataque que os quilombos exerceram frente às perseguições
de colonialistas e escravistas.26
No caso do Caribe, também na década de 1970, houve um
boom nos estudos sobre resistências e formação de quilombos, cuja ênfase foi o estudo das
conspirações contra o sistema escravista que aconteceram em várias ilhas, embora somente foi
bem sucedida no Haiti.27
Por outro lado, no mesmo período, houve estudos das rebeliões no
Caribe que tentaram traçar as linhas étnicas na formação dos quilombos, contribuindo com
um caráter mais culturalista para o debate.28
No caso da Colômbia, a década de 1970 representou o fortalecimento dos estudos
sobre palenques, particularmente com três autores, María del Carmen Borrego Plá, Roberto
Arrázola e Orlando Fals Borda. Os dois primeiros dedicaram-se à exploração das fontes
disponíveis no Archivo Geral de Indias de Sevilha (AGI) relativas à formação e perseguição
dos palenques do Caribe colombiano entre os séculos XVI e XVII. As narrativas levantadas
no AGI das perseguições e negociações entre escravos, coroas e palenqueros, contém extensas
descrições de caráter etnográfico acerca da organização e funcionamento dessas organizações
criadas pela diáspora africana, a ponto de continuar sendo exploradas atualmente por
pesquisadoras como Jane Landers ou Maria Cristina Navarrete. E enquanto Roberto
Arrázola29
dedicou-se à transcrição dos documentos, Borrego Plá gerou os primeiros mapas
de localização dos palenques e construiu uma narrativa sequencial dos fatos em relação com
as perseguições exitosas e falidas, e a reconstrução de novos palenques em outras áreas.30
O
trabalho de Fals Borda foi de caráter multidisciplinar e marxista, e tratou o caso dos palenques
26
ROUT Leslie B. The African Experience in Spanish America: 1502 to the present day, Cambridge, CUP
Archive, 1976, p. 101. Otro autor de los años de 1970 que destaca porque buscó vincular la historia de las
resistencias en ambos lados del atlántico a partir del uso del modelo de Hobsbawn y del marxismo fue Ronald
Chilcote, CHILCOTE, Ronald H. Protest and Resistance in Angola and Brazil: Comparative Studies, University
of California Press, 1972. 27
GASPAR, David Barry. The Antigua slave conspiracy of 1736: a case study of the origins of collective
resistance. The William and Mary Quarterly: A Magazine of Early American History, 1978, p. 308-323.
SHERIDAN, Richard B. The Jamaican slave insurrection scare of 1776 and the American Revolution. The
Journal of Negro History, 1976, vol. 61, no 3, p. 290-308. GASPAR, David Barry. Runaways in Seventeenth-
Century Antigua, West Indies. Boletín de estudios latinoamericanos y del Caribe, 1979, no 26, p. 3-13.
HANDLER, Jerome S. Slave revolts and conspiracies in seventeenth-century Barbados. Nieuwe West-Indische
Gids/New West Indian Guide, 1982, vol. 56, no 1/2, p. 5-42. 28
KOPYTOFF, Barbara. The development of Jamaican maroon ethnicity. Caribbean Quarterly, 1976, vol. 22, no
2-3, p. 33-50. SCHULER, Monica. Ethnic slave rebellions in the Caribbean and the Guianas. Journal of Social
History, 1970, p. 374-385. 29
ARRÁZOLA Roberto, Palenque, primer pueblo libre de América, Bogotá: Ediciones Hernández, 1970. 30
BORREGO PLÁ, María del Carmen. Palenques de negros en Cartagena de Indias a fines del siglo XVII.
Sevilla: Escuela de Estudios Hispano-Americanos, 1973.
664
numa zona geoestratégica da Colômbia, denominada depressão Momposina, limite sul da
região Caribe, início da região montanhosa dos Andes. Essa é uma região esquecida pelo
Estado, onde o investimento político e social é praticamente ausente e onde a luta secular pela
terra, de acordo com o autor, teria começado pela formação de núcleos territoriais autónomos
a partir da fugas dos escravizados africanos no século XVI. O autor explorou os arquivos da
cidade de Mompox, notadamente o Cartório 1, e fez referência a documentos relativos à
perseguição dos palenques e às concessões de terras que a Coroa e a Governação de Santa Fé
deram aos espanhóis de linhagem, entre os séculos XVI e XVIII.31
Na década de 1970, Richard Price e Sidney Mintz desenvolveram um modelo em que
enfatizaram a inovação e a adaptação da diáspora, em vez da retenção direta de africanismos
na formação das culturas afrodescendentes nas Américas. O livro The Birth of African-
American Culture: An Anthropological Approach, publicado em 1976, argumentou que, nas
Américas, houve um desenvolvimento de culturas híbridas crioulas por parte dos
afrodescendentes.32
O ensaio significou uma inflexão nas análises sobre a maneira como a
memória social poderia ter funcionado a fim de recriar culturas próprias nas Américas por
parte das pessoas africanas e afrodescendentes durante o período da migração escravista.
Diferente do que é comumente escrito sobre o ensaio, Mintz e Price não negaram que os
afrodescendentes teriam sido influenciados por princípios culturais profundos das sociedades
africanas. No entanto, para os autores, a retenção de tradições culturais africanas específicas
resultava improvável, porque as pessoas escravizadas teriam vindo de regiões muito
diferentes da África. Em segundo lugar, os autores advertiram que a ideia de que, na América,
as pessoas africanas retiveram completamente as culturas africanas, poderia levar a negar-lhes
o impacto significativo e criativo que aqui manifestaram.33
Para Mintz e Price, as pessoas
africanas na diáspora usaram as ferramentas e memórias disponíveis de suas matrizes
africanas, não como sobrevivências passivas, mas como elementos que, na América, eles
transformaram através da sua capacidade de resiliência. Portanto, sugeriram que os estudos da
diáspora se concentrassem nos processos de desenvolvimento das culturas afro-americanas,
examinando os diferentes tipos de combinações e misturas que acabariam por gerar culturas
31
FALS BORDA, Orlando. Mompox y Loba, Historia doble de la costa, tomo 1, Bogotá: El Ancora editora,
2002 [1979]. 32
MINTZ, Sidney Wilfred; PRICE, Richard. The birth of African-American culture: An anthropological
perspective. Beacon Press, 1992 [1976]. 33
MINTZ, Sidney Wilfred; PRICE, Richard. The birth of African-American culture: An anthropological
perspective. Beacon Press, 1992 [1976], p. X.
665
americanas crioulas.34
No caso do Brasil, essa perspectiva teve um impacto, pois, de acordo
com Gomes e Reis, durante a década de 1980, a busca das retenções africanas foi
interrompida e, embora houvesse poucos estudos sobre quilombos no Brasil, estes destacaram
pela exploração de novas fontes, escritas e orais, e pela busca das relações quilombolas com
outros grupos sociais.35
No caso da Colômbia, o contexto do novo constitucionalismo (1991) que reconheceu a
diversidade sociocultural desse país dois autores estimulou os estudos sobre afrodescendentes.
Desde a perspectiva da criolização, Peter Wade pesquisa sobre a população afrocolombiana, a
partir das noções de raça e etnia negras que o autor interpreta como identidades mestiças.
Nas suas palavras, os africanismos, bem como qualquer outra origem dessas culturas não é de
interesse, pois o foco dos seus estudos é a discriminação que essa população tem sofrido na
história da Colômbia. Por tanto, sua obra analisa os processos de branqueamento, a
elaboração de uma identidade nacional e às resistências culturais na música, moda e formas de
fala características dos grupos negros da Colômbia; aspectos que, segundo Wade,
possibilitaram a geração de identidades regionais, também de natureza mestiça e não-
afrodescendente, por parte desse setor.36
Na mesma linha de Wade, Eduardo Restrepo estuda
as culturas daqueles que o autor denomina negritudes colombianas.37
Além disso, Restrepo
produz análises críticas sobre os argumentos e fontes utilizadas pelos intelectuais que lideram
a tendência das sobrevivências africanas na Colômbia. Mais tarde, neste texto, retornaremos
as críticas relevantes que Restrepo fez nesse respeito.38
De forma crítica, consideramos que a
produção de ambos os autores representa uma interpretação conjuntural, pois, ao descartar
completamente a existência de vínculos culturais entre a África e a Colômbia, omite questões
relativas à história de longa duração das expressões e memórias socioculturais. Em outras
palavras, ao excluir qualquer influência das histórias anteriores à formação do Novo Mundo
moderno, também suprime a pergunta sobre como essas culturas que existiam na África,
América e Europa poderiam ter impactado a formação sociocultural Colômbia.
No caso dos Estados Unidos, Linda Heywood e John Thornton, apresentam em seus
estudos a perspectiva da criolização. O livro de John Thornton, “África e os africanos: na
34
MINTZ, Sidney Wilfred; PRICE, Richard. The birth of African-American culture: An anthropological
perspective. Beacon Press, 1992 [1976], p. X y XI. 35
REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996. P.
14. 36
WADE, Peter. Blackness and race mixture: the dynamics of racial identity in Colombia, JHU Press, 1995. 37
RESTREPO, Eduardo. Etnización de la negridad: la invención de las "comunidades negras" como grupo
étnico en Colombia. Popayán: Editorial Universidad del Cauca, 2013. 38
RESTREPO, Eduardo. Entre Arácnidas Deidades y Leones Africanos: contribución al debate de un enfoque
afroamericanista en Colombia. Revista Tabula Rasa, n 1, 2003.
666
formação do mundo atlântico”, publicado em 1998, aprofundou a história do tráfico de
escravizados nos dois lados do Atlântico, tomando em consideração os processos que
ocorreram na África Central e os processos americanos a onde essas pessoas foram
introduzidas. Para interpretar as contribuições africanas e afrodescendentes nas Américas,
Thornton partiu da tese de Mintz e Price, observando que, embora os africanos transmitiram
suas culturas africanas na América, houve transformações culturais, estéticas e religiosas
necessárias devido às peculiaridades de novo contexto e à exploração que aqui sofreram.39
O
conceito de criolização apresentado pelos autores refere-se estritamente ao processo de
europeização dos povos africanos, pelo fato de que eles vieram para a América falando
português, vestidos ne moda europeia e praticando o catolicismo. Este modelo não é
satisfatório para James Sweet, pois os autores omitem a criação de culturas próprias e não
somente europeizadas por parte das pessoas africanas, e o fato de que os africanos também
exerceram influência nas culturas atlânticas europeias. Porém, o aspecto mais débil do livro
segundo Sweet, é a interpretação de que a europeização facilitou aos escravizados sua
integração no meio colonial americano e que aqueles com maior domínio da cultura europeia
e do catolicismo, alcançavam a liberdade mais facilmente e rapidamente se sentiram
confortáveis no mundo dos colonialistas europeus.40
Retomando o debate, a partir da publicação de Mintz e Price, a tendência da
criolização se opôs àquela das retenções africanas proposta por Herskovits. Assim, no início
dos anos 80, foi desencadeado um debate apaixonado que persiste até a atualidade. No
entanto, novos paradigmas interpretativos que estudaremos nesse texto, bem como as variadas
tipologias documentais reveladas nas últimas décadas, demoliram a oposição entre ambas as
tendências, uma vez que demonstraram, por uma parte, que a retenção poderia ter ocorrido
simultânea e sem oposição à criolização. Por outra parte, estudos recentes demonstraram que
ambas as tendências possuíam um profundo desconhecimento da história da África, o que
gerou fissuras em suas interpretações. Herskovits tinha uma ideia estática das culturas
africanas e, portanto, as retenções que ele defendeu não incorporaram os processos históricos
de transformação da África, onde as máscaras, danças, tambores e línguas provavelmente não
fossem idênticas às do passado. No caso da criolização de Mintz e Price, os autores haviam
superestimado as diferenças culturais existentes na África, o que lhes impediu ver que, nas
regiões onde os africanos foram capturados, havia aspectos culturais em comum; tais como
39
THORNTON, John. A África e os africanos: na formaçāo do mundo Atlântico, ,1400-1800, Rio de Janeiro:
Ed. Elsevier, 2004 [1998], p. 279 40
Review by: James H. Sweet of Central Africans, Atlantic Creoles, and the Foundation of the Americas, 1585-
1660 by Linda M. Heywood and John K. Thornton, NWIG: New West Indian, v. 83, n. ½, 2009, pp. 124-127.
667
estruturas linguísticas semelhantes e compreensíveis, o uso do tambor, ou o culto dos
ancestrais.41
Por esta razão, a relevância do estudo das estreitas ligações entre as culturas e as
histórias dos continentes africano e americano continuam em vigor, e, no presente, foram
pontuadas com maiores detalhes documentais e conhecimento preciso da história da África. A
existência da criolização das culturas em certas áreas e contextos não é descartada, mas
atualmente esse fenômeno busca ser explicado com base sólida nas histórias regionais de
longo prazo, no tipo de tráfico e nas origens específicas das pessoas africanas que aí
chegaram.
Quanto aos estudos recentes de retenções africanas, destacamos o trabalho de Maureen
Warner-Lewis, 2003, que é capaz de mostrar conclusivamente a gama de práticas culturais,
incluindo práticas arquitetônicas, musicais, políticas, linguísticas e religiosas em África que
estão presentes nos diferentes países que compõem o Caribe.42
No caso da Colômbia, os
estudos de africanismos foram liderados entre as décadas de 1980 e 2010 por Nina S. de
Friedemann, Luz Adriana Maya Restrepo e Jaime Arocha. Nina S. de Friedemman dedicou
suas pesquisas ao estudo das culturas palenqueras, às expressões africanas nos carnavais
colombianos do Caribe e do Pacífico, e às análises linguísticas com ênfase nas retenções de
Bantu nas línguas crioulas afrocolombianas. Os estudos linguísticos os fez lado a lado com
Germán de Granda43
e Carlos Patiño Roselli,44
e foram recentemente continuados por Armin
Schwegler.45
Seu trabalho consistiu principalmente em ensaios curtos onde sugeriu hipóteses
comparativas entre expressões culturais específicas da Colômbia - máscaras, rituais, toques de
tambor - e expressões culturais particulares da África. Mais do que provar com fontes
41
Kristin Mann destaca dois autores que estudam o culto dos antepassados como uma das práticas mais
difundidas entre os afro-americanos; prática que promoveu um senso de unidade entre os afro-americanos. Esses
autores explicam esse fenômeno pela estreita relação com os antepassados que existe em muitas das culturas da
África Central e Ocidental. STUCKEY, Sterling. Slave Culture: Nationalist Theory and the Foundations of
Black America, New York: Oxford University Press, 1987), pp. 3–97; CREEL, Margaret. ‘A Peculiar People’:
Slave Religion and Community-Culture among the Gullahs, New York: New York University Press, 1988,
pp.308–22. 42
WARNER LEWIS, Maureen. Central Africa in the Caribbean: Transcending Time, Transforming Cultures,
University of West Indies Press, 2003. En el caso de Estados Unidos, de manera reciente Jason Young estudió
las prácticas rituales africanas que sobrevivieron a la travesía atlántica en el sur de ese país, YOUNG, Jason R.
Rituals of Resistance: African Atlantic Religion in Kongo and the Lowcountry South in the Era of Slavery,
Baton Rouge: Louisiana State University Press, 2007. 43
DE GRANDA, Germán, Algunas observaciones morfológicas y etimológicas sobre vocabulario de origen
bantú en el habla criolla de San Basilio de Palenque, Bolívar, Colombia. En Revista de dialectología y
tradiciones populares, 29, p. 435-441, 1973. DE GRANDA, Germán. Estudios sobre un área dialectal
hispanoamericana de población negra: las tierras bajas occidentales de Colombia. Instituto Caro y Cuervo, 1977. 44
FRIEDEMANN, Nina S.; PATIÑO ROSELLI, Carlos. Lengua y sociedad en el Palenque de San Basilio.
Bogotá: Instituto Caro y Cuervo, 1983. 45
SCHWEGLER, Armin. "Chi ma nkongo": lengua y rito ancestrales en El Palenque de San Basilio, Frankfurt:
Vervuert, 1996. SCHWEGLER, Armin. 18 Bantu elements in Palenque (Colombia). In African Re-Genesis:
Confronting Social Issues in the Diaspora, p. 204, 2006.
668
documentais, os estudos etnográficos de Friedemann deixaram sugestões bem argumentadas
para aqueles que posteriormente estudaram as culturas afrocolombianas.46
Os estudos de Luz
Adriana Maya são de natureza histórica e procuram encontrar aspectos africanos nas práticas
mágico-religiosas realizadas por homens e mulheres africanas e afrodescendentes em
Cartagena durante o século XVII. Maya utiliza a documentação do Oficio da Inquisição, em
particular os Processos de Fé e as Relações de Causas daqueles que foram acusados de
feitiçaria e heresia. Para a autora,
donde los inquisidores solo veían pactos con satanás y prácticas demoníacas, había en
realidad una particular forma de resistencia a la esclavitud, una forma de cimarronaje
simbólico. […] Sus estrategias se enraizaban en los modos de expresión de la corporalidad
africana, la cual fue resignificada en el contexto católico, y enriquecida con ciertas
adopciones de los saberes de los pueblos indígenas.47
De acordo com Maya, os suportes materiais foram aqueles que sofreram maiores
impactos destrutivos devido à deportação da África e à empresa evangelizadora; estes
"cumpriram a função de ser veículos de comunicação necessários para reviver a memória e
treinar as novas gerações nela."48
Por tanto, máscaras ou instrumentos musicais tiveram de ser
reconstruídos na América através de mecanismos de adoção e resignificação. Embora a autora
proponha a existência de um vínculo entre essas práticas e "veículos de comunicação" com a
África, de acordo com Pablo Gómez, Maya e outras intelectuais dedicadas ao estudo de
julgamentos inquisitoriais, restringiram seus exames ao papel social desempenhado pelos
curandeiros e curandeiras africanas que foram representados como bruxas e hereges pelos
poderes coloniais. No entanto, eles não passaram a estudar quais eram suas práticas de cura.
Portanto, para entender as práticas exercidas por essas pessoas, Gómez sugere fazer uma
contextualização das práticas médicas indígenas, africanas e europeias, no quadro mais amplo
do mundo atlântico. Finalmente, Gómez problematiza que, para provar os vínculos entre as
práticas africanas e aquelas da diáspora na Colômbia, Maya utiliza obras etnográficas dos
séculos XIX e XX, e não as fontes primárias africanas do século XVII e pouquíssima
historiografia sobre as regiões de onde foram deportados os africanos para a Colômbia. Nesse
sentido, a pesquisa de Maya sofre daquela falência mais convincente sobre a perspectiva de
46
FRIEDEMANN Nina S. Palenques: Refugios Cimarrones de Africanía en América, In: LAVIÑA, Javier de.
Esclavitud y rebeldía en América. Esclavos rebeldes y cimarrones. Madrid: Fundación Hernando de Larramendi,
S.F. Friedemann, Nina S. de. Ma ngombe: guerreros y ganaderos en Palenque, Bogotá: C. Valencia Editores,
1987. 47
MAYA RESTREPO, Adriana. Brujería y reconstrucción de identidades entre los Africanos y sus
descendientes en la Nueva Granada, Siglo XVII, Bogotá: Ministerio de Cultura, 2005, p. 1. 48
MAYA RESTREPO, Adriana. Brujería y reconstrucción de identidades entre los Africanos y sus
descendientes en la Nueva Granada, Siglo XVII, Bogotá: Ministerio de Cultura, 2005, p. 2.
669
Herskovits, a de pensar as culturas africanas como entidades estáticas que poderiam ser
comparadas sem uma precisão temporal.49
No caso da Colômbia, outros três autores contemporâneos estudam as resistências
africanas: Maria Cristina Navarrete, Jane Landers e Anthony Mcfarlane. Navarrete dedicou
sua carreira ao estudo sistemático de palenques forjados no Caribe colombiano entre os
séculos XVI e XVII. Embora no início suas investigações fossem dedicadas às estratégias de
perseguição dos fugitivos e quilombolas pelo estado colonial; atualmente suas pesquisas
apresentam análises sociais e culturais dos palenques, detalhando a organização política e as
crenças religiosas, a partir das evidências etnográficas que é possível encontrar nas fontes, e
que ligariam essas práticas com aquelas existentes nas regiões de proveniência dos
escravizados na África.50
Essa mesma ênfase pode ser encontrada nos escritos recentes de
Jane Landers; autora que começou sua carreira estudando a sociedade forjada por africanos e
afrodescendentes na Flórida durante o período do imperialismo espanhol e que mais
recentemente se aventurou nos estudos dos palenques caribenhos colombianos.51
O trabalho
de Anthony McFarlane abordou os estudos de palenques na Colômbia no século XVIII,
49
GÓMEZ ZULUAGA, Pablo Fernando. Bodies of encounter: health, illness and death in the early modern
African-Spanish Caribbean. Vanderbilt University, tesis sem publicar, 2010, p. 11. Outros autores que
recentemente se aventuraram em estudos sobre a resistência de africanos e afrodescendentes em Nova Granada
são OVIEDO, María Fernanda Cuevas. Reniego y resistencia de los esclavizados y sus descendientes en la
Nueva Granada, durante el siglo XVII, Tesis Doctoral sin publicar. Bogotá: Universidad de los Andes, 2002.
Sobre la familia, huida y la cultura como resistencia, MENESES PIÑEROS, José Francisco. De Domingo Biohó
a Domingo Criollo: prácticas de libertad, prácticas libertarias y ejercicio del poder en los cimarrones y palenques
de la sierra de María durante el siglo XVII. Tesis de Licenciatura en Historia, Sin publicar, Bogotá: Universidad
Javeriana, 2010. Un bablance historiográfico sobre los estudios de palenques neogranadinos en CASTAÑO,
Alen. Palenques y Cimarronaje: procesos de resistencia al sistema colonial esclavista en el Caribe Sabanero
(Siglos XVI, XVII y XVIII), Revista CS, n. 16, p. 61-86, 2015. 50
NAVARRETE, María Cristina. Nuevos aspectos en la historia de los palenques y los cimarrones del Caribe
neogranadino, siglos xvi y xvii, In SERNA Juan Manuel de la (dir.) De la Libertad y la Abolición. Africanos y
Afrodescendientes in Iberoamérica, México: Centro de estudios mexicanos y centroamericanos, 2010.
NAVARRETE, María Cristina. "Por haber todos concebido ser general la libertad para los de su color"
construyendo el pasado del palenque de Matudere. Historia Caribe, n. 13, p. 7-44, 2008. NAVARRETE, María
Cristina. Cimarrones y Palenques en el Siglo XVII, Cali: Universidad del Valle, 2003. NAVARRETE, María
Cristina. Génesis y desarrollo de la esclavitud en Colombia siglos XVI y XVII, Cali: Universidad del Valle,
2005. NAVARRETE, María Cristina. Prácticas religiosas de los negros en la colonia: Cartagena, siglo XVII,
Cali: Universidad del Valle, 1995. NAVARRETE, María Cristina. San Basilio de Palenque, Memoria y
Tradición: Surgimiento y Avatares de Las Gestas Cimarronas en el Caribe Colombiano, Cali: Universidad del
Valle, 2008. NAVARRETE, María Cristina. De reyes, reinas y capitanes: los dirigentes de los palenques de las
sierras de María, siglos XVI y XVII. Bogotá: Fronteras de la Historia, v. 20, n. 2, 2015. 51
LANDERS, Jane. Black Society in Spanish Florida, University of Illinois Press, 1999. LANDERS, Jane.
Founding Mothers: Female Rebels in Colonial New Granada and Spanish Florida. Journal of African American
History, v. 98, n. 1, p. 7-23, 2013. LANDERS, Jane. The African landscape of Seventeenth century Cartagena
and its hinterland. In: CANIZARES-ESGUERRA, Jorge; CHILDS, Matt D.; SIDBURY James. The Black
Urban Atlantic in the Age of the Slave Trade, University of Pennsylvania Press, 2013, p. 148-162. LANDERS,
Jane. Conspiradores esclavizados en Cartagena en el siglo XVII, In: MOSQUERA, Claudia; PARDO, Mauricio;
HOFFMANN, Odile. Afrodescendientes en las Américas. Trayectorias sociales e identitarias a 150 años de la
abolición de la esclavitud en Colombia. Bogotá: UN-ICANH-IRD-ILSA, 2002, p. 181-194.
670
começando com a pesquisa documental de um período pouco explorado ainda.52
Finalmente,
uma visão da história de um membro de um palenque colombiano pode ser encontrada no
trabalho de Alfonso Cassiani Herrera.53
No caso do Brasil, podemos falar de uma profusão de obras contemporâneas sobre as
resistências dos escravizados a partir da década de 1990; entre eles, vários são incluídos no
livro Liberdade por um fio, como Stuart Schwartz, Mary Karash, Marcus de Carvalho ou
Carlos Magno Guimarães. Também estão Marisa de Carvalho Soares, que estuda as
particularidades das práticas religiosas da diáspora; Roquinaldo Ferreira, que tem concentrado
seus estudos na diáspora da África Central e a história da resistência desenvolvida na região
central do continente africano,54
e mais recentemente Alexandre Marcussi, que estudou as
práticas de cura dos escravos de Minas Gerais no século XVIII e sua relação com as práticas
de cura existentes na África Central no mesmo período. É de realçar o fato de o autor utilizar
fontes primárias tanto da África como da América.55
Também estão as pesquisas de Silvia Hunold Lara, que estudou a documentação da
repressão sofrida pelo quilombo dos Palmares, a criação da figura do castigador: capitão-do-
mato56
e, mais recentemente, aprofundou as características étnicas, sociais e culturais, bem
como o caráter político das negociações realizadas por Palmares.57
Dois outros proeminentes
autores no estudo dos quilombos e das resistências lideradas pelos africanos e seus
descendentes no Brasil são, exatamente, Flavio Gomes e João José Reis.58
Flavio Gomes
estudou a documentação referente aos quilombos do Rio de Janeiro, sobretudo daqueles
localizados perto das fazendas açucareiras, demonstrando que esses quilombos não estavam
52
MCFARLANE, Anthony. Cimarrones y Palenques en Colombia: Siglo XVIII, Historia y Espacio, n. 14 Cali,
junio 1991. Mientras tanto, María Teresa Arcila y María Teresa Gómez que han incursionado en los estudios de
los palenques del siglo XVIII en la región antioqueña de Colombia ARCILA, María Teresa; GÓMEZ, Lucella.
Libres, cimarrones y arrochelados en la frontera entre Antioquia y Cartagena: Siglo XVIII, Bogotá: Siglo del
Hombre Editores, 2009. 53
CASSIANI HERRERA, Alfonso. Palenque Magno: resistencias y luchas libertarias del Palenque de la Matuna
a San Basilio Magno 1599-1714, Cartagena: Icultur, 2014. 54
FERREIRA, Roquinaldo. Slaving and Resistance to Slaving in West Central Africa. In: ELTIS David;
BRADLEY Keith; ENGERMAN Stanley L.; CARTLEDGE Paul (Org.) Cambridge: The Cambridge World
History of Slavery: Volume 3, AD 1420-AD 1804. Cambridge University Press, 2011, p. 111-131. 55
SOARES, Mariza de Carvalho. O Império de Santo Elesbão na cidade do Rio de Janeiro, no século XVIII. Rio
de Janeiro: Topoi, v. 3, n. 4, p. 59-84, 2002. MARCUSSI, Alexandre Almeida. Cativeiro e cura: experiências
religiosas da escravidão atlântica nos calundus de Luzia Pinta, séculos XVII-XVIII. Tesis Doctoral.
Universidade de São Paulo, (Sem publicar), 2015. 56
LARA, Silvia Hunold. Do singular ao plural, Palmares, capitães-do-mato e o governo dos escravos. In REIS
João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p.81-109 57
LARA, Silvia Hunold. Palmares and Cucaú: Political Dimensions of a Maroon Community in Late
Seventeenth-Century Brazil. En conference ‘American Counterpoint: New Approaches to Slavery and Aboliton
in Brazil, 12th Annual Gilder Lehrman Center, Yale University, New Haven, CT., 2010. 58
REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996. P.
12.
671
isolados, e, ao contrário, mantiveram relações e negociações constantes com a estrutura social
que os cercava, incluindo as fazendas escravocratas.59
Por outro lado, João José Reis tem uma
extensa obra sobre as resistências individuais e coletivas realizadas pelos africanos no Estado
da Bahia. Também estudou as expressões culturais que foram forjadas nos cantos de trabalho
urbanos organizados etnicamente pelos africanos na cidade de Salvador, de acordo com os
serviços específicos que cada etnia africana dominava.60
Também estudou quilombos rurais
como o Oitizeiro composto de quilombolas e coiteros livres e escravizados, que forjaram
"relações de produção complexas que transformariam o lugar em um celeiro próspero de
mandioca, transformadas em farinha e vendidas no mercado regional."61
Reis também estudou
as grandes resistências urbanas como a revolta dos Malés em 1935 na cidade de Salvador,
livro no qual aprofunda a relação dessa revolta com a jihad que ocorreu simultaneamente na
região africana do Sudão, e de onde veio uma população escravizada Haussa e Yoruba
significativa para a cidade de Salvador, justamente no período do levante dos Malés.62
Mais
recentemente, Reis dedicou-se às histórias de vida dos africanos que praticavam as religiões
de matriz africana em Salvador, como o sacerdote Domingos Sodré, líder religioso do
candomblé no século XIX;63
ou e a vida de Alufá Rufino, livro escrito juntamente com Flavio
Gomes e Marcus Carvalho.64
O aprofundamento de Reis na história africana para explicar os tipos de resistências criada nas
Américas pelos africanos e seus descendentes, bem como seus estudos das histórias de vida
individuais dos africanos na América, permite abordar três das principais tendências
contemporâneas nos estudos da diáspora africana em nosso continente.
A primeira tendência destaca a importância de uma cooperação cada vez mais
profunda entre os estudos da história africana para compreender a história da diáspora na
América. De acordo com Mann, a superação a dicotomia criolização versus africanização teve
um ponto de progresso com o projeto liderado por Paul Lovejoy, Elisée Soumonni e Robin
59
REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p.
19. 60
REIS, João Jose. African nations in Nineteenth-Century Salvador. In CANIZARES-ESGUERRA, Jorge;
CHILDS, Matt D.; SIDBURY James. The Black Urban Atlantic in the Age of the Slave Trade, University of
Pennsylvania Press, 2013, p. 63-84. 61
REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p.
20. 62
REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835. São Paulo: Companhia
das Letras, 2003. REIS, João José. Resposta a Paul Lovejoy. Topoi, Revista de História, Rio de Janeiro, vol. 16,
no 30, p. 374-389, 2015. 63
REIS João José, Domingos Sodré, um sacerdote africano: escravidão, liberdade e candomblé na Bahia do
século XIX, São Paulo, Companhia das Letras, 2008. 64
REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, CARVALHO Marcus J. M. de. El alufá Rufino: tráfico,
esclavitud y libertad en el Atlántico negro (c. 1822-c. 1853), São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
672
Law, que em 1996, propuseram que os estudos da diáspora começassem em África e
seguissem o caminho de os escravizados para as Américas, pois eles teriam levado sua cultura
em sua história pessoal para as regiões onde chegaram.65
O projeto buscou fortalecer os
vínculos entre os estudos da história da África como os da história da diáspora, por considerar
que, ao compreender as experiências dos povos africanos e suas histórias de vida antes da
escravidão, é possível revelar como as vidas particulares dos africanos deportados
influenciaram a diáspora cultural, social e politicamente. Não é a mesma abordagem de
Herskovits que buscou sobrevivências africanas desconectadas do seu contexto histórico
temporal, e sim de colocar as influências africanas em contextos históricos específicos e
interpreta-las como parte de uma experiência histórica em constante mudança.66
Desde então,
houve um aumento nos estudos sobre as resistências dos africanos na América, os quais
buscam conectar os detalhes cada vez mais profundos da história das regiões da África de
onde foram retiradas pessoas durante o período de tráfico escravista, com suas histórias nas
Américas. A segunda tendência, revela a necessidade de colocar o surgimento do mundo
atlântico como o eixo para a formação dos fenômenos socioculturais americanos, incluindo as
resistências contra a escravidão, que foram forjadas desde o início da modernidade em ambos
os lados deste oceano. O conceito de mundo atlântico é de longa data e, no caso da diáspora,
foi influenciado por autores como Paul Gilroy e Stuart Hall, que se concentraram suas
análises na forma como as identidades negras foram formadas pela incorporação de
elementos criados no contexto atlântico e com a lembrança de como seria a vida na África.67
São, portanto, estudos que defenderam mais a tendência para a criolização do que para a
africanização.
Mais recentemente, Jorge Cañizares Esguerra junto com James Sidbury, fizeram
propostas de vanguarda que permitem refletir sobre as implicações da formação do mundo
atlântico. Para esses autores, as regiões de ambos os lados do Atlântico, especialmente os
portos, foram ambientes onde gestou-se uma etno-gênese sociocultural. Dado o movimento e
a instalação de pessoas de origem africana, americana e europeia, os intercâmbios sociais
65
LAW, Robin; LOVEJOY Paul; SOUMONNI, Elisée, ‘The Development of an African Diaspora: The Slave
Trade of the “Nigerian” Hinterland, 1650–1900’, paper presented at the UNESCO ‘Slave Route Project’
conference, Cabinda, Angola, 4–6 April 1996, pp.2–3. (p. XIV, Africa respondió más que influenció el mundo
exterior) LOVEJOY Paul E. Transformations in Slavery: A History of Slavery in Africa, Cambridge University
Press, 2011. 66
MANN, Kristin. Shifting paradigms in the study of the African diaspora and of Atlantic history and culture.
Slavery and Abolition, v. 22, n. 1, 2001, p. 5. 67
HALL, Stuart. Cultural identity and diaspora. In: RUTHERFORD Jonathan, Identity: community, culture,
difference. Lawrence & Wishart, 1990, p. 222-237. GILROY, Paul. The black Atlantic: Modernity and double
consciousness. Harvard University Press, 1993.
673
deram origem a novas culturas e até etnias, em espaços poliglotas onde nasceram novas
línguas crioulas, novas formas de autoridade, resistências e religiosidades.68
De acordo com
Canizares e Sidbury, esse processo aconteceu, não só na América, mas também na África,
porque muitas pessoas capturadas foram deslocadas para outras regiões da África e nunca
cruzaram para a América; e onde quer que eles se instalaram, recriaram suas memórias
culturais nutrindo com elas os novos contextos socioculturais. Eles citam o caso dos
retornados Ioruba para a Serra Leoa durante o período da abolição; esses retornados
introduziram nessa região da África o culto dos Orixas que não existiam antes da chegada; lá,
portanto, houve uma etno-gênese, pois esse culto não reproduziu os rituais e crenças da região
da Nigéria ou do Benim, mas sofreu modificações e inovações relacionadas ao novo contexto.
Para James Sweet, embora o modelo de etno-gênese seja relevante para pensar sobre o mundo
atlântico, chama a atenção para o fato de que os autores omitem a violência que este
surgimento cultural significou para pessoas africanas e afrodescendentes que, no final, tinham
sua liberdade impedida no marco da escravidão moderna.69
Finalmente, consideramos que
uma das contribuições mais vanguardistas e de relevância é o estudo das histórias de vida
individuais daqueles africanos e afrodescendentes que enfrentaram a escravidão, através dos
quais é possível analisar um contexto histórico e sociopolítico mais amplo. Como
mencionamos acima, entre os principais autores desta tendência está João José Reis, que
aproveita todos os detalhes expressos nas fontes escritas para aproximar o contexto em torno
da pessoa africana estudada. Além disso, quando encontra evidências de que as práticas que
exercia na América podem estar relacionadas com as culturas de origem na África, Reis passa
a narrativa para esse continente, e se concentra no estudo de fontes africanas na procura de
compreender de onde veio tal prática e em que contexto sociopolítico foi expressada.
Terminamos este artigo analisando o trabalho de James Sweet, que também abraçou o
projeto de estudar histórias de vida de africanos no âmbito do mundo atlântico. Seu trabalho
recente sobre Domingos Alvares, um médico tradicional africano que é sequestrado na região
de Ouidah e embarcado no porto de El Mina para o Brasil. Domingos é primeiro escravizado
em Recife e depois no Rio de Janeiro; e mais tarde, é capturado e conduzido pelo Oficio da
68
CANIZARES-ESGUERRA, Jorge; CHILDS, Matt D.; SIDBURY James. The Black Urban Atlantic in the
Age of the Slave Trade, University of Pennsylvania Press, 2013, p. 63-84. CAÑIZARES-ESGUERRA, Jorge;
SIDBURY, James. Mapping Ethnogenesis in the Early Modern Atlantic. The William and Mary Quarterly, v.
68, n. 2, p. 181-208, 2011. Otro autor que viene incursionando en los estudios de las religiosidades atlánticas de
matriz africana y sus vínculos con la historia de África es Nicolau Parés, PARÉS, Luis Nicolau. A formação do
candomblé: história e ritual da nação jeje na Bahia, São Paulo: Editora Unicamp, 2006. PARÉS Luis Nicolau,
SANSI Roger, Sorcery in the Black Atlantic, University of Chicago Press, 2011. 69
SWEET, James H. The Quiet Violence of Ethnogenesis. The William and Mary Quarterly, v. 68, n. 2, p. 209-
214, 2011.
674
Inquisição para Portugal. Esta é uma das obras mais interessantes para entender a formação
das culturas africanas na diáspora americana, pois Sweet mostra como as práticas medicinais
que Domingos havia aprendido em Ouidah, onde provavelmente nasceu e cresceu, foram
ensinados pelo médico no Rio de Janeiro, onde forjou vários terreiros religiosos e medicinais
Mina. Como Reis, a fim de compreender mais profundamente a vida desse sujeito africano, as
contribuições diretas que fez da sua cultura africana no Brasil, bem como as estratégias que
ele usou para combater a escravidão; Sweet aproveita as descrições das práticas rituais que
encontra nos julgamentos inquisitoriais contra Domingos e atravessa o Atlântico oferecendo
informações historiográficas pontoais sobre as culturas em torno de Ouidah e sobre o contexto
sociopolítico do tráfico nessa região.70
Bibliografia
HERSKOVITS, Melville J. The Myth of the Negro Past, Boston MA: Beacon Press, 1990
[1941].
HALL, Stuart. Cultural identity and diaspora. In: RUTHERFORD Jonathan, Identity:
community, culture, difference. Lawrence & Wishart, 1990, p. 222-237.
GILROY, Paul. The black Atlantic: Modernity and double consciousness. Harvard University
Press, 1993.
MINTZ, Sidney Wilfred; PRICE, Richard. The birth of African-American culture: An
anthropological perspective. Beacon Press, 1976.
FERREIRA, Roquinaldo. Slaving and Resistance to Slaving in West Central Africa. In:
ELTIS David; BRADLEY Keith; ENGERMAN Stanley L.; CARTLEDGE Paul (Org.)
Cambridge: The Cambridge World History of Slavery: Volume 3, AD 1420-AD 1804.
Cambridge University Press, 2011, p. 111-131.
CURTO, José C. Struggling Against Enslavement: The Case of José Manuel in Benguela,
1816-20. Canadian Journal of African Studies/La Revue canadienne des études africaines, v.
39, n. 1, p. 96-122, 2005.
YOUNG, Jason R. Rituals of Resistance: African Atlantic Religion in Kongo and the
Lowcountry South in the Era of Slavery, Baton Rouge: Louisiana State University Press,
2007.
MAYA RESTREPO, Adriana. Brujería y reconstrucción de identidades entre los Africanos y
sus
descendientes en la Nueva Granada, Siglo XVII, Bogotá: Ministerio de Cultura, 2005.
SWEET, James H. Resenha do livro: HEYWOOD Linda M. e THORNTON John K. Central
Africans, Atlantic Creoles, and the Foundation of the Americas, 1585-1660, NWIG: New
West Indian Guide, v. 83, n. ½, p. 124-127, 2009.
70
SWEET, James H. Mistaken identities? Olaudah Equiano, Domingos Alvares, and the methodological
challenges of studying the African diaspora. The American Historical Review, v. 114, n. 2, p. 279-306, 2009.
SWEET James H. Domingos Álvares, African Healing, and the Intellectual History of the Atlantic World,
University of North Carolina Press, 2011. Otros dos autores que ha incursionado en la tendencia de las biografías
atlánticas de africanos son José Curto y Martin Lienhard, ver CURTO, José C. Struggling Against Enslavement:
The Case of José Manuel in Benguela, 1816-20. Canadian Journal of African Studies/La Revue canadienne des
études africaines, v. 39, n. 1, p. 96-122, 2005. LIENHARD, Martin. Disidentes, rebeldes, insurgentes: resistencia
indígena y negra en América Latina: ensayos de historia testimonial, Madrid: Iberoamericana Editorial, 2008.
675
CAÑIZARES-ESGUERRA, Jorge; SIDBURY, James. Mapping Ethnogenesis in the Early
Modern Atlantic. The William and Mary Quarterly, v. 68, n. 2, p. 181-208, 2011.
MANN, Kristin. Shifting paradigms in the study of the African diaspora and of Atlantic
history and culture. Slavery and Abolition, v. 22, n. 1, p. 1-2. 2001.
STUCKEY, Sterling. Slave Culture: Nationalist Theory and the Foundations of Black
America, Oxford University Press, 2013.
LANDERS, Jane. Founding Mothers: Female Rebels in Colonial New Granada and Spanish
Florida. Journal of African American History, v. 98, n. 1, p. 7-23, 2013.
NAVARRETE, María Cristina. Nuevos aspectos en la historia de los palenques y los
cimarrones del Caribe neogranadino, siglos xvi y xvii, In SERNA Juan Manuel de la (dir.) De
la Libertad y la Abolición. Africanos y Afrodescendientes in Iberoamérica, México: Centro de
estudios mexicanos y centroamericanos, 2010.
SWEET, James H. Mistaken identities? Olaudah Equiano, Domingos Alvares, and the
methodological challenges of studying the African diaspora. The American Historical
Review, v. 114, n. 2, p. 279-306, 2009.
PARÉS Luis Nicolau, SANSI Roger, Sorcery in the Black Atlantic, University of Chicago
Press, 2011.
SWEET, James H. The Quiet Violence of Ethnogenesis. The William and Mary Quarterly, v.
68, n. 2, p. 209-214, 2011.
REIS, João José. Resposta a Paul Lovejoy. Topoi, Revista de História, Rio de Janeiro, vol. 16,
no 30, p. 374-389, 2015.
RESTREPO, Eduardo. Entre Arácnidas Deidades y Leones Africanos: contribución al debate
de un enfoque afroamericanista en Colombia. Revista Tabula Rasa, n 1, 2003.
MARCUSSI, Alexandre Almeida. Cativeiro e cura: experiências religiosas da escravidão
atlântica nos calundus de Luzia Pinta, séculos XVII-XVIII. Tesis Doctoral. Universidade de
São Paulo, (Sem publicar), 2015.
LARA, Silvia Hunold. Palmares and Cucaú: Political Dimensions of a Maroon Community in
Late Seventeenth-Century Brazil. En conference ‘American Counterpoint: New Approaches
to Slavery and Aboliton in Brazil, 12th Annual Gilder Lehrman Center, Yale University, New
Haven, CT., 2010.
NASCIMENTO, Abdias. O quilombismo: documentos de uma militância pan-africanista.
Vozes, 1980.
MCFARLANE, Anthony. Cimarrones y Palenques en Colombia: Siglo XVIII, Historia y
Espacio, n. 14 Cali, junio 1991.
NAVARRETE, MARÍA CRISTINA. "Por haber todos concebido ser general la libertad para
los de su color" construyendo el pasado del palenque de Matudere. Historia Caribe, n. 13, p.
7-44, 2008.
REIS, João Jose. African nations in Nineteenth-Century Salvador. In CANIZARES-
ESGUERRA, Jorge; CHILDS, Matt D.; SIDBURY James. The Black Urban Atlantic in the
Age of the Slave Trade, University of Pennsylvania Press, 2013, p. 63-84.
LANDERS, Jane. The African landscape of Seventeenth century Cartagena and its hinterland.
In: CANIZARES-ESGUERRA, Jorge; CHILDS, Matt D.; SIDBURY James. The Black
Urban Atlantic in the Age of the Slave Trade, University of Pennsylvania Press, 2013, p. 148-
162.
LANDERS, Jane. Conspiradores esclavizados en Cartagena en el siglo XVII, In:
MOSQUERA, Claudia; PARDO, Mauricio; HOFFMANN, Odile. Afrodescendientes en las
Américas. Trayectorias sociales e identitarias a 150 años de la abolición de la esclavitud en
Colombia. Bogotá: UN-ICANH-IRD-ILSA, 2002, p. 181-194.
CHILCOTE, Ronald H. Protest and Resistance in Angola and Brazil: Comparative Studies,
University of California Press, 1972.
676
LOVEJOY Paul E. Transformations in Slavery: A History of Slavery in Africa, Cambridge
University Press, 2011.
REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835. São
Paulo: Companhia das Letras, 2003.
WARNER LEWIS, Maureen. Central Africa in the Caribbean: Transcending Time,
Transforming Cultures, University of West Indies Press, 2003.
FALS BORDA, Orlando. Mompox y Loba, Historia doble de la costa, tomo 1, Bogotá: El
Ancora editora, 2002 [1979].
ROUT Leslie B. The African Experience in Spanish America: 1502 to the present day,
Cambridge, CUP Archive, 1976.
REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, Liberdade por um fio, São Paulo: Companhia
das Letras, 1996.
LIENHARD, Martin. Disidentes, rebeldes, insurgentes: resistencia indígena y negra en
América Latina: ensayos de historia testimonial, Madrid: Iberoamericana Editorial, 2008
ARRÁZOLA Roberto, Palenque, primer pueblo libre de América, Bogotá: Ediciones
Hernández, 1970.
OLANIYAN, Tejumola, SWEET James H. The African Diaspora and the Disciplines, Indiana
University Press, 2010.
BUTLER Kim D. Clio and the Griot: The African Diaspora in the Discipline of History, In:
OLANIYAN, Tejumola, SWEET James H. The African Diaspora and the Disciplines, Indiana
University Press, 2010, p. 21-52.
VELÁSQUEZ, Rogerio. Fragmentos de historia, etnografía y narraciones del Pacífico
colombiano negro, Bogotá: Instituto Colombiano de Antropología e Historia, 2000.
ARCILA, María Teresa; GÓMEZ, Lucella. Libres, cimarrones y arrochelados en la frontera
entre Antioquia y Cartagena: Siglo XVIII, Bogotá: Siglo del Hombre Editores, 2009.
BORREGO PLÁ, María del Carmen. Palenques de negros en Cartagena de Indias a fines del
siglo XVII. Sevilla: Escuela de Estudios Hispano-Americanos, 1973.
NAVARRETE, María Cristina. Cimarrones y Palenques en el Siglo XVII, Cali: Universidad
del Valle, 2003.
NAVARRETE, María Cristina. Génesis y desarrollo de la esclavitud en Colombia siglos XVI
y XVII, Cali: Universidad del Valle, 2005.
NAVARRETE, María Cristina. Prácticas religiosas de los negros en la colonia: Cartagena,
siglo XVII, Cali: Universidad del Valle, 1995.
NAVARRETE, María Cristina. San Basilio de Palenque, Memoria y Tradición: Surgimiento
y Avatares de Las Gestas Cimarronas en el Caribe Colombiano, Cali: Universidad del Valle,
2008.
NAVARRETE, María Cristina. De reyes, reinas y capitanes: los dirigentes de los palenques
de las sierras de María, siglos XVI y XVII. Bogotá: Fronteras de la Historia, v. 20, n. 2, 2015.
LANDERS, Jane. Black Society in Spanish Florida, University of Illinois Press, 1999.
OVIEDO, María Fernanda Cuevas. Reniego y resistencia de los esclavizados y sus
descendientes en la Nueva Granada, durante el siglo XVII, Tesis Doctoral sin publicar.
Bogotá: Universidad de los Andes, 2002.
FRIEDEMANN Nina S. Palenques: Refugios Cimarrones de Africanía en América, In:
LAVIÑA, Javier de. Esclavitud y rebeldía en América. Esclavos rebeldes y cimarrones.
Madrid: Fundación Hernando de Larramendi, S.F.
MENESES PIÑEROS, José Francisco. De Domingo Biohó a Domingo Criollo: prácticas de
libertad, prácticas libertarias y ejercicio del poder en los cimarrones y palenques de la sierra
de María durante el siglo XVII. Tesis de Licenciatura en Historia, Sin publicar, Bogotá:
Universidad Javeriana, 2010.
677
CASTAÑO, Alen. Palenques y Cimarronaje: procesos de resistencia al sistema colonial
esclavista en el Caribe Sabanero (Siglos XVI, XVII y XVIII), Revista CS, n. 16, p. 61-86,
2015.
DE GRANDA, Germán, Algunas observaciones morfológicas y etimológicas sobre
vocabulario de origen bantú en el habla criolla de San Basilio de Palenque, Bolívar,
Colombia. En Revista de dialectología y tradiciones populares, 29, p. 435-441, 1973.
DE GRANDA, Germán. Estudios sobre un área dialectal hispanoamericana de población
negra: las tierras bajas occidentales de Colombia. Instituto Caro y Cuervo, 1977.
FRIEDEMANN, Nina S.; PATIÑO ROSELLI, Carlos. Lengua y sociedad en el Palenque de
San Basilio. Bogotá: Instituto Caro y Cuervo, 1983.
SCHWEGLER, Armin. "Chi ma nkongo": lengua y rito ancestrales en El Palenque de San
Basilio, Frankfurt: Vervuert, 1996.
SCHWEGLER, Armin. 18 Bantu elements in Palenque (Colombia). In African Re-Genesis:
Confronting Social Issues in the Diaspora, p. 204, 2006.
FRIEDEMANN, Nina S. de. Ma ngombe: guerreros y ganaderos en Palenque, Bogotá: C.
Valencia Editores, 1987.
CASSIANI HERRERA, Alfonso. Palenque Magno: resistencias y luchas libertarias del
Palenque de la Matuna a San Basilio Magno 1599-1714, Cartagena: Icultur, 2014.
SWEET James H. Domingos Álvares, African Healing, and the Intellectual History of the
Atlantic World, University of North Carolina Press, 2011.
REIS João José, GOMES Flávio dos Santos, CARVALHO Marcus J. M. de. El alufá Rufino:
tráfico, esclavitud y libertad en el Atlántico negro (c. 1822-c. 1853), São Paulo: Companhia
das Letras, 2010.
SOARES, Mariza de Carvalho. O Império de Santo Elesbão na cidade do Rio de Janeiro, no
século XVIII. Rio de Janeiro: Topoi, v. 3, n. 4, p. 59-84, 2002.
INIKORI, Joseph E.; HARRIS, Joseph E.; JALLOH, Alusine; PALMER, Colin A.;
CHAMBERS, Douglas; GRADEN, Dale T. The African Diaspora, Arlington: University of
Texas, 1996.
BOYCE DAVIES, Carole. Encyclopedia of the African Diaspora: Origins, Experiences, and
Culture, 3 volumes, California: ABC-CLIO, 2008.
HOLLOWAY, Joseph E. Africanisms in American Culture, Indiana University Press, 1990.
AGUIRRE BELTRAN, Gonzalo. La población negra de México, 1519-1810. Estudio etno-
histórico, México: Ediciones Fuente cultural, 1946.
PRINCE-MARS, Jean. Ansi parla l’oncle Port-au-Prince e Paris: Imprimerie de Compiègne,
1928.
DUBOIS, W. E. B. The study of the Negro problems. The Annals of the American Academy
of Political and Social Science, v. 11, n. 1, p. 1-23, 1898.
DUBOIS, W. E. B. The Souls of Black Folk, Modern Library, 1903.
WOODSON, Carter Godwin. The Negro in our history. Associated Publishers, 1922.
WOODSON, Carter G.; WESLEY, Charles H. The story of the Negro retold. Wildside Press
LLC, 2008 [1935].
BASTIDE, Roger. Les religions africaines au Brésil: vers une sociologie des interpénétrations
de civilisations. Presses universitaires de France, 1960.
BASTIDE, Roger. O candomblé da Bahia (rito Nagô). Brasiliana, 1961.
MINTZ, Sidney Wilfred; PRICE, Richard. The birth of African-American culture: An
anthropological perspective. Beacon Press, 1976.
ESCALANTE, Aquiles. Notas sobre Palenque de San Basilio, In: Divulgaciones etnológicas,
IV, Barranquilla: Universidad del Atlántico, 1954.
ESCALANTE, Aquiles, El negro en Colombia, Tesis de sociología, Bogotá: Universidad
Nacional de Colombia, 1964.
678
ESCALANTE, Aquiles. Minería del hambre. Condoto y la Chocó Pacifico, Barranquilla:
Tipografia Dovel, 1971.
WADE, Peter. Blackness and race mixture: the dynamics of racial identity in Colombia, JHU
Press, 1995.
GASPAR, David Barry. The Antigua slave conspiracy of 1736: a case study of the origins of
collective resistance. The William and Mary Quarterly: A Magazine of Early American
History, 1978, p. 308-323.
SHERIDAN, Richard B. The Jamaican slave insurrection scare of 1776 and the American
Revolution. The Journal of Negro History, 1976, vol. 61, no 3, p. 290-308.
GASPAR, David Barry. Runaways in Seventeenth-Century Antigua, West Indies. Boletín de
estudios latinoamericanos y del Caribe, 1979, no 26, p. 3-13.
HANDLER, Jerome S. Slave revolts and conspiracies in seventeenth-century Barbados.
Nieuwe West-Indische Gids/New West Indian Guide, 1982, vol. 56, no 1/2, p. 5-42.
KOPYTOFF, Barbara. The development of Jamaican maroon ethnicity. Caribbean Quarterly,
1976, vol. 22, no 2-3, p. 33-50.
SCHULER, Monica. Ethnic slave rebellions in the Caribbean and the Guianas. Journal of
Social History, 1970, p. 374-385.
GÓMEZ ZULUAGA, Pablo Fernando. Bodies of encounter: health, illness and death in the
early modern African-Spanish Caribbean. Vanderbilt University, tesis sem publicar, 2010.
THORNTON, John. A África e os africanos: na formaçāo do mundo Atlântico, ,1400-1800,
Rio de Janeiro: Ed. Elsevier, 2004 [1998].
HEYWOOD, Linda M.; THORNTON, John K. Central Africans, Atlantic creoles, and the
foundation of the Americas, 1585-1660. Cambridge University Press, 2007.
CREEL, Margaret. ‘A Peculiar People’: Slave Religion and Community-Culture among the
Gullahs, New York: New York University Press, 1988, pp.308–22.
LAW, Robin; LOVEJOY Paul; SOUMONNI, Elisée, ‘The Development of an African
Diaspora: The Slave Trade of the “Nigerian” Hinterland, 1650–1900’, paper presented at the
UNESCO ‘Slave Route Project’ conference, Cabinda, Angola, 4–6 April 1996, pp.2–3.
FRANKLIN, John Hope. George Washington Williams: A Biography. Duke University Press,
1998.
WILLIAMS, George Washington. History of the Negro Race in America from 1619 to 1880:
Negroes as Slaves, as Soldiers, and as Citizens; Together with a Preliminary Consideration of
the Unity of the Human Family, an Historical Sketch of Africa, and an Account of the Negro
Governments of Sierra Leone and Liberia. GP Putnam's Sons, 1882.