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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA DEPARTAMENTO DE BIOTECNOLOGIA SARA DE MORAIS DOS SANTOS BACTÉRIAS RESISTENTES A ANTIBIÓTICOS Lorena 2016

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

DEPARTAMENTO DE BIOTECNOLOGIA

SARA DE MORAIS DOS SANTOS

BACTÉRIAS RESISTENTES A ANTIBIÓTICOS

Lorena

2016

SARA DE MORAIS DOS SANTOS

BACTÉRIAS RESISTENTES A ANTIBIÓTICOS

Monografia apresentada à Escola de Engenharia

de Lorena da Universidade de São Paulo como

requisito parcial para obtenção do título de

Engenheira Bioquímica.

Orientadora: Professora Doutora Maria

Bernadete de Medeiros

Lorena

2016

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Automatizado

da Escola de Engenharia de Lorena, com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Santos, Sara de Morais dos

Bactérias resistentes a antibióticos / Sara de

Morais dos Santos; orientadora Professora Doutora

Maria Bernadete de Medeiros. - Lorena, 2016.

50 p.

Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão de Graduação do Curso de Engenharia

Bioquímica - Escola de Engenharia de Lorena da

Universidade de São Paulo. 2016

Orientadora: Professora Doutora Maria Bernadete de

Medeiros

1. Bactérias resistentes . 2. Antibióticos. 3.

Infecção hospitalar. I. Título. II. Medeiros,

Professora Doutora Maria Bernadete de, orient.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, a quem devo tudo. Pela fé maravilhosa que me vivifica a

cada dia. A qual tem me guiado por um caminho impensado.

Aos meus pais, por muitas coisas mais principalmente pelo apoio, companhia e

zelo. A minha irmã Ana pelas conversas e ajudas prestadas na elaboração desse trabalho. E

aos outros três irmãos, que sempre estão dispostos a colaborar. Aqueles cinco pequenos,

que trouxeram uma nova luz em minha vida.

A professora Maria Bernadete, pela paciência e orientação. Bem como esforço

que nos tem contagiado durante todos esses meses. Também, a Bárbara e ao Fabrício. A

Regina Horta pelas palestras e sugestões. E a todos os funcionários da biblioteca pelo

suporte.

A teacher Ariane que me ajudou com o abstract. E, aos demais, professores,

colegas e amigos, dos quais fizeram parte desse projeto, indiretamente. Mas cujas ações

foram essenciais no aprendizado e amadurecimento.

RESUMO

SANTOS, S.M. Bactérias resistentes a antibióticos. 2016. 50f. Monografia (Graduação)

– Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2016.

O crescente aumento na proporção de bactérias resistentes a antibióticos se deve a fácil

replicação desses microrganismos, que leva apenas 20 minutos; e também, pela

transferência horizontal de genes (conjugação) através de plasmídeos, que contenham os

genes de resistência. Estudos realizados revelaram que as bactérias resistentes estão

freqüentemente associadas a infecções: cirúrgicas; respiratórias; gastrointestinais; urinárias

e do sangue. Assim como infecções dermatológicas em casos de queimaduras. O perfil do

paciente infectado varia muito, sendo mais comum entre idosos (acima de 60 anos) e

recém-nascidos, dependendo do patogênico. A presença de doenças crônicas como

diabetes e Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) são agravantes no quadro

clínico do paciente. Fatores externos como tempo de hospitalização acima de duas semanas

aumentam o risco de contrair microrganismos resistentes e em casos de bactérias mais

agressivas esse tempo pode se limitar a 3 dias. Os tratamentos utilizando dois ou mais

antibióticos combinados levou a redução na mortalidade dos pacientes. E, quando o

medicamento não é utilizado por um período, a resistência a ele diminui, sendo assim, a

utilização de antibióticos de forma intercalada seria uma solução na tentativa de prolongar

a usabilidade das drogas. Diante da crise eminente no setor farmacêutico, causado pela

dificuldade no desenvolvimento de novos antibióticos, as diversas técnicas disponíveis

devem ser empregadas em conjunto. Além da conscientização da população para o uso

racional da droga.

Palavras chave: Bactérias resistentes; Antibióticos; Infecção hospitalar.

ABSTRACT

SANTOS, S.M. Antibiotic-resistant bacteria. 2016. 50f. Monografia (Graduação) –

Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2016.

The rising on the proportion of resistant bacteria to antibiotic is due to the facilitated

replication of this microorganism, which takes only 20 minutes; and also because of the

horizontal genes exchange in conjugation, when the plasmids are exchanged and which

contains the resistance genes. Studies have shown that bacteria’s resistant are usually

related to surgery, respiratory, gastrointestinal, renal and blood infections, besides, in cases

of burns dermatological infections. The general profile of patients varies, being more

common between elderly (over 60 years old) and newborn babies, depending on the

pathogenic. If the patient has a chronic disease like diabetes or AIDS that would makes his

clinical situation worse. External factors, as hospitalization time over two weeks, rise the

risk of getting a infection, and, when the bacteria is more aggressive, this time can be

reduced to three days. The mortality rate decreased when two or more medicines were used

together with combined effects. And, when the drug isn’t used for a while the resistance

drops, so, shifting the antibiotics would be a solution to prolong the usage. In front of the

crisis in the pharmaceutical industry, due to difficulty of developing new antibiotics, all the

techniques must be consider and used together. Also, the population needs to become

aware of the problems of using antibiotic unconsciously.

Key-words: Resistant bacteria; Antibiotic; Hospital-acquired infections.

LISTA DE FIGURAS

Figura 3.1 – Placa de cultivo original de Fleming, que mostra uma colônia de Penicillium

provocando a lise de estafilococos. ...................................................................................... 16

Figura 3.2 – Estrutura da parede celular de bactérias Gram-positivas e seus principais

constituintes. ........................................................................................................................ 17

Figura 3.3 – Estrutura da parede celular de bactérias Gram-negativas e seus principais

constituintes. ........................................................................................................................ 18

Figura 3.4 – Espectro de ação antibiótico de diversas drogas antimicrobianas. .................. 23

Figura 3.5 – Estrutura química da penicilina G, com o anel β-lactâmico sinalizado. ......... 25

Figura 3.6 – Penicilinas semi-sintéticas através de síntese orgânica. .................................. 25

Figura 3.7 – Estrutura química geral de cefalosporinas. ...................................................... 26

Figura 3.8 – Estrutura química da tetraciclina e análogos. .................................................. 27

Figura 3.9 – Estrutura química de estreptomicina e kanamicina, pertencente à classe dos

antibióticos aminoglicosídeos. ............................................................................................. 28

Figura 3.10 – Estrutura química da eritromicina, pertencente ao grupo dos macrolídeos. . 29

Figura 3.11 – Mapa genético do plasmídeo de resistência R100. ........................................ 31

Figura 3.12 – Ação da β-lactamase sobre a penicilina. ....................................................... 33

Figura 3.13 – Mecanismos de resistência a antibióticos, onde o antimicrobiano (ATM) é

inibido de diversas formas. .................................................................................................. 34

LISTA DE TABELAS E GRÁFICO

Tabela 3.1 – Número de antibióticos produzidos por grupos de microrganismos. .............. 20

Tabela 3.2 – Mecanismos de resistência bacteriana a antibióticos. ..................................... 35

Tabela 3.3 – Estimativa das infecções adquiridas em Hospitais, nos Estados Unidos em

2011. ..................................................................................................................................... 38

Gráfico 4.1 – Vendas de antibióticos em 2009 no mundo. .................................................. 47

LISTA DE ABREVIATURAS

6-APA - Ácido-6-aminopenicilânico

AcBMR - Acinetobacter baumannii multirresistente

ADN - Ácido desoxirribonucléico

ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária

ARN – Ácido ribonucléico

ATM – Antimicrobiano

CDC – Centros de Controle e Prevenção de Doenças Norte Americano

ERV - Enterococcus resistentes a vancomicina

KPC - Klebsiella pneumoniae produtora de carbapenamase

LPS - Lipopolissacarídeo

OMS - Organização Mundial da Saúde

PABA – Ácido para-aminobenzóico

PAMR - Pseudomonas aeruginosa multirresistente

SARM - Staphylococcus aureus resistentes a meticilina

SARV - Staphylococcus aureus resistente a vancomicina

SIDA – Síndrome da imunodeficiência adquirida

UTI – Unidade de Tratamento Intensivo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 12

2 OBJETIVOS .......................................................................................................... 13

2.1 Objetivo específico ............................................................................................... 13

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 14

3.1 Bactérias patogênicas ............................................................................................ 14

3.1.1 Breve histórico da microbiologia médica ............................................................. 14

3.1.2 Parede celular bacteriana ..................................................................................... 17

3.1.3 Método de coloração de Gram .............................................................................. 19

3.2 Antibióticos ........................................................................................................... 20

3.2.1 Modo de ação ........................................................................................................ 22

3.2.2 Estrutura química dos principais antibióticos ...................................................... 24

2.3 Resistência bacteriana a antibióticos ..................................................................... 29

3.3.1 Mecanismos de resistência .................................................................................... 32

2.4 Infecção Hospitalar ................................................................................................ 35

3.4.1 Casos de resistência bacteriana a antibióticos ..................................................... 38

4 DESENVOLVIMENTO ....................................................................................... 43

4.1 Desenvolvimento de sintéticos antimicrobianos ................................................... 43

4.2 Busca por novas técnicas e antígenos .................................................................... 44

4.3 Mercado dos antibióticos ....................................................................................... 46

5 CONCLUSÕES ..................................................................................................... 48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 49

12

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, o mercado mundial de antibióticos movimenta aproximadamente

US$ 40 bilhões por ano (HAMAD, 2010), sendo um setor representativo na economia do

país produtor. Entretanto, sua importância não está apenas relacionada ao seu valor

econômico, mais também ao seu valor como quimioterápico na saúde pública. Os

antibióticos podem ser bactericidas ou bacteriostáticos, e sua utilização possui uma

tradição de sete décadas.

No início, acreditava-se que essas drogas eram milagrosas e muitos profissionais

se acomodaram diante dessa perspectiva. Mas com o tempo provou-se o contrário. As

bactérias desenvolveram resistência aos antibióticos, deixando de serem susceptíveis.

Como resultado, tornou-se um problema de saúde pública mais grave, com o consumo

indiscriminado de antibiótico. A exposição da droga à bactéria induz uma resposta seletiva

e, como resultado, a ocorrência de linhagem resistente.

Recentemente, muitas pesquisas têm sido realizadas com o objetivo de obter

informações a respeito da gravidade desse problema. Algumas são específicas a pacientes

internos em instituições de saúde, devido à debilidade dos pacientes, que facilita a

disseminação da bactéria resistente; como também, à grande variedade de antibióticos de

importância clínica como os da família dos β-lactâmico, aminoglicosídeo e tetraciclina

que são utilizados nos hospitais, tornando freqüentes as infecções por bactérias resistentes.

Pesquisas têm sido desenvolvidas com o objetivo de novas soluções, como a

utilização de antibióticos sintéticos com modo de ação distinto dos existentes e novos

protocolos de tratamento clínico.

13

2 OBJETIVOS

O trabalho tem como proposta o estudo da resistência das bactérias Gram-

positivas e Gram-negativas a uma variedade de antibióticos de uso clínico. Partindo do

primeiro antibiótico descoberto, penicilina, até os mais recentes; possibilitando assim,

visualizar a disseminação da resistência entre as linhagens de bactéria.

2.1 Objetivo específico

Identificar na literatura possíveis soluções para o grave problema de infecção

hospitalar por bactérias resistentes. Realizando um estudo qualitativo dos dados expressos

nos artigos.

14

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Bactérias patogênicas

Desde a antiguidade os microrganismos vêm causando inúmeras epidemias e

levando a óbito varias pessoas. As doenças causadas por bactérias são responsáveis por

inúmeros distúrbios no organismo humano. Como conseqüência impede o funcionamento

normal de órgãos ou organelas e desequilibra parte ou completamente o sistema

metabólico. Em alguns casos excreta toxinas que danificam as células hospedeiras e induz

uma resposta imune no sistema de defesa orgânica. Para combater as bactérias patogênicas

são utilizados uma variedade de antibióticos. Entretanto nos anos de 1970 e início de 1980,

as bactérias classificadas como Gram-negativas resistentes aos antibióticos foram o

principal obstáculo do uso terapêutico dos antibióticos (ROSSI; ANDREAZZI, 2005).

Nessa monografia será dada ênfase ao processo de resistência das bactérias aos

antibióticos.

As bactérias são microrganismos procarióticos e unicelulares com dimensão de

0,2 a 0,3 µm de diâmetro. As células podem ser esféricas, cilíndricas, espiraladas e

pleomórficas. Possuem cromossomo circular, nucleóide sem membrana e plasmídeo.

As organelas ribossomos são compostas das subunidades 30, 50S e 70S.

No sistema de classificação de Woese estão no domínio Bactéria. Não são vistas a olho nu

devido a sua dimensão (ROSSI; ANDREAZZI, 2005).

3.1.1 Breve histórico da microbiologia médica

O uso do microscópio para observar os microrganismos teve início em 1675, com

um equipamento doméstico idealizado pelo holandês Antony van Leeuwenhoek. No século

XVIII, devido à qualidade dos microscópios, outros microrganismos foram identificados e

classificados quanto à sua célula. Entretanto somente em 1841 em um hospital-

maternidade em Viena, foi relacionado um agente invisível, como causador de morte de

paciente (ROSSI; ANDREAZZI, 2005).

15

O professor de química e bacteriologista Louis Pasteur identificou que as bactérias

eram os contaminantes no processo de fermentação da produção de vinho. Como resultado

comprometia a qualidade do produto. Introduziu os termos de aeróbio e anaeróbio

relacionados com a assimilação ou fermentação dos glicídios (ROSSI; ANDREAZZI,

2005).

Somente em 1877, o médico patologista Robert Kock publicou um trabalho que

define de maneira explicita que uma bactéria causa uma doença específica. Em seguida,

Albert Ludwig Neisser médico e cientista alemão, conhecido por ter descoberto o agente

patogênico causador da doença sexualmente transmissível, definiu a bactéria Neisseria

gonorrhoeae como agente da gonorréia (ROSSI; ANDREAZZI, 2005),

A pesquisa de Robert Koch atingiu o ápice com a publicação dos postulados de

Kock que demonstram a participação do bacilo da tuberculose no desenvolvimento da

tuberculose. Nessa época Hans Christian Gram desenvolveu um método muito simples

para identificar as bactérias e, atualmente é conhecido como coloração de Gram (ROSSI;

ANDREAZZI, 2005).

Em 1929, Alexander Fleming publicou no British Journal of Experimental

Pathology, o trabalho que descreve a presença da penicilina e seus efeitos no cultivo da

bactéria Gram-positiva da espécie Staphylococcus aureus. As placas de Petri com o cultivo

em meio Agar da bactéria foram examinadas após três semanas da inoculação. O fungo

filamentoso Penicillium contaminou o cultivo e provocou uma lise impedindo o

crescimento da bactéria. A cultura ficou na bancada do laboratório até que Fleming

voltasse de férias. Enquanto estava ausente, a cultura foi submetida a temperaturas frias e

mornas, condições necessárias para que a penicilina fosse descoberta (ROSSI;

ANDREAZZI, 2005) (Figura 3.1).

16

Figura 3.1 – Placa de cultivo original de Fleming, que mostra uma colônia de Penicillium

provocando a lise de estafilococos.

Fonte: Modificado (TURTORA; FUNKE; CASE, 2010).

Durante a Segunda Guerra Mundial os rumores de invasão nazista à Grã-Bretanha

levaram Fleming e outros cientistas a se refugiarem nos Estados Unidos. Onde no

Departamento de Agricultura em Peoria, Illinois, buscavam elaborar técnicas para

potencializar a produção da penicilina a nível industrial (SANTESMASES; GRADMANN,

2011). A demanda de medicamentos para curar as infecções dos soldados, proporcionou o

desenvolvimento do processo de produção de penicilina em larga escala (LIMA et al.,

2001). A penicilina foi à segunda, em uma série de antibióticos, precedida pela

sulfonamida e seguida pela estreptomicina, efetiva no tratamento da tuberculose, e depois

pelo cloranfenicol e as tetraciclinas (SANTESMASES; GRADMANN, 2011).

Em 1940, Florey e Chain pesquisadores de Oxford, utilizando o fungo isolado por

Fleming produziram extrato de penicilina e demonstraram que poderia curar infecções de

animais. Florey, Chain e Fleming recebem o Nobel de Medicina em 1945

(SANTESMASES; GRADMANN, 2011).

A descoberta da penicilina deu origem à era dos antibióticos e mudou a maneira

como a medicina e a saúde pública estavam sendo praticadas. O pesquisador Charles

Fletcher demonstrou que a penicilina não é tóxica ao homem. Na ocasião Selman

Waksman definiu antibiótico como substância química que inclui composto ou preparações

produzidas por microrganismos e que possui propriedades antimicrobianas. Em seguida, o

pesquisador Waksman, que descobriu o potencial dos actinomycetes em produzir

antibióticos, completou a definição de antibióticos, como sendo substâncias químicas

produzidas por micróbios que inibem o crescimento ou podem destruir outros micróbios

(ROSSI; ANDREAZZI, 2005).

17

Os pesquisadores Chain e Abraham descobriram, em 1940, uma substância

sintetizada por Escherichia coli que pode destruir a penicilina. Foi o primeiro registro de

um produto de origem bacteriano, resistente a um agente antibacteriano (ROSSI;

ANDREAZZI, 2005).

Em 1959, o microbiologista Sawada demonstrou que a resistência aos antibióticos

pode ser transferida entre linhagens de Shigella e E. coli através de plasmídeos. Em 1966,

William Kirby e Alfred Bauer estabeleceram padrões para os testes de sensibilidade aos

antibióticos com base no princípio de disco difusão. Essa técnica distingue linhagens

sensíveis e resistentes aos antibióticos e é amplamente utilizada nas análises clínicas

(ROSSI; ANDREAZZI, 2005).

3.1.2 Parede celular bacteriana

Está presente em todos os procariotos, exceto nos micoplasmas. Com relação às

bactérias Gram-positivas a parede celular é composta por uma espessa camada de

peptidoglicano que representa 90% da parede (Figura 3.2). Contendo também ácidos

teicóico e lipoteicóico.

Figura 3.2 – Estrutura da parede celular de bactérias Gram-positivas e seus principais

constituintes.

Fonte: Modificado (MIGUEL JR, 2008).

18

A estrutura básica do peptidoglicano é um dissacarídeo composto por N-

acetilglicosamina ligado por ligação glicosídica do tipo β (1-4) ao ácido N-acetil

murâmico. As cadeias de tetrapeptídeos são interligadas por ligações cruzadas, entre o

COOH terminal da alanina de um tetrapeptídeo e o grupo NH2 da lisina do tetrapeptídio

vizinho, por oligopeptídeo composto por cinco unidades de glicina. O tetrapeptídeo é

formado por L-alanina, ácido D-glutâmico, L-lisina e D-alanina (ROSSI; ANDREAZZI,

2005).

Todas as bactérias Gram-positivas sintetizam polímeros aniônicos que contêm

carboidratos, os ácidos teicóicos, que são ligados ao ácido murâmico do peptidoglicano

através de ligações fosfodiéster. Existe uma diversidade na composição química do

polímero do ácido teicóico. Quando o ácido teicóico está ligado à membrana

citoplasmática é denominado de ácido lipoteicóico (ROSSI; ANDREAZZI, 2005).

Com relação às bactérias Gram-negativas a parede celular é constituída por uma

membrana externa, peptidoglicano e o espaço periplasmático (Figura 3.3). A membrana

externa possui permeabilidade seletiva e contém fosfolipídeos, proteínas, lipoproteínas e

lipopolissacarídeos (LPS). Separa o ambiente externo do espaço periplasmático. Possui

como características a distribuição assimétrica dos seus lipídeos. A sua estrutura externa

contém LPS, enquanto que na interna estão os fosfolipídeos e a porção lipídica das

lipoproteínas. A presença da membrana externa torna as bactérias patogênicas Gram-

negativas resistentes às defesas do hospedeiro, como a lisozima e aos antibióticos

(MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997).

Figura 3.3 – Estrutura da parede celular de bactérias Gram-negativas e seus principais

constituintes.

Fonte: Modificado (MIGUEL JR, 2008).

19

Outra propriedade biológica importante da parede é a toxicidade para os animais.

As espécies, principalmente dos gêneros Salmonella, Shigella e Escherichia, causam

inúmeras doenças ao homem e outros mamíferos devido às toxinas de parede.

Principalmente as endotoxinas, localizadas no espaço periplasmático, são responsáveis por

diversas infecções incluindo a alimentar por Salmonella. Além das endotoxinas a parede

celular de bactérias Gram-negativas possui porinas, que são proteínas localizadas na

membrana externa e que formam canais para entrada e saída de substâncias hidrofílicas de

baixa massa molecular. Portanto a permeabilidade da membrana externa é maior quando

comparada à membrana citoplasmática (MADIGAN et al., 2009).

3.1.3 Método de coloração de Gram

Também conhecido como coloração de parede celular de bactérias. Foi

desenvolvido pelo dinamarquês Hans Christian Gram, em 1884. A técnica é utilizada para

diferenciar as bactérias classificadas no domínio Bactéria, em dois grupos. As bactérias são

classificadas em Gram-negativas e Gram-positivas, dependendo da estrutura e composição

da parede celular, como conseqüência da sua capacidade de reter o complexo cristal

violeta-iodo quando expostas a solventes orgânicos, como o etanol ou acetona (CANTEY;

DOERN, 2015).

Inicialmente, as células são coradas com o corante cristal violeta, que penetra na

parede celular dos dois tipos de bactérias, corando-as de azul-violeta. Em seguida, é usado

o mordente que é uma solução de iodo que se complexa com o cristal de violeta, formando

um complexo que dificulta a saída do corante. A solução de álcool remove os LPS,

presentes na membrana externa das Gram-negativas, ocasionando a saída do complexo.

Nas bactérias Gram-positivas, que possuem peptidoglicano mais grossa e sem membrana

externa, o complexo permanece, enquanto que, as Gram-negativas são descoradas. Adição

do corante contraste fucsina penetra somente na parede celular das bactérias Gram-

negativas que estavam incolor. As bactérias Gram-positivas ficam violeta-azul e as Gram-

negativas, avermelhadas (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997).

20

3.2 Antibióticos

Antibióticos podem ser definidos como substâncias produzidas por

microrganismos durante o metabolismo secundário, com capacidade, em doses reduzidas,

de inibir o crescimento ou mesmo destruir outros microrganismos. Por definição, os

antibióticos são substâncias de origem natural, o que não impede, entretanto, sua produção

por via sintética, como sucede com o cloranfenicol e ciclosserina. Antibióticos semi-

sintéticos são aqueles em que as moléculas sintetizadas por microrganismos, são

submetidas a modificações, através de síntese orgânica, de modo a alterar certas

características biodinâmicas, porém conservando as suas propriedades antibióticas

(MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997).

Apesar do grande número de antibióticos descobertos ao longo dos anos, menos

de 1% deles são considerados de valor clínico. Porém, esses causaram grande impacto no

tratamento de doenças infecciosas. Além disso, pequenas modificações químicas nos

antibióticos podem torná-los mais efetivos, como os semi-sintéticos (MADIGAN;

MARTINKO; PARKER, 1997).

A era dos antibióticos pode ser classificada em três gerações, com base no

microrganismo utilizado para a sua produção. A primeira geração surgiu com os estudos de

Fleming, onde foram utilizados fungos filamentosos. A penicilina foi o destaque dessa

geração, e sua primeira utilização na medicina se realizou em 1941. Dentre os fungos

apenas os Deuteromicetos, especialmente os gêneros Penicillium e Aspergillus, produzem

antimicrobianos de interesse para o homem (LIMA et al., 2001). Os fungos filamentosos

quando comparados com Eubactéria produzem um número significativo de antibióticos,

cerca de 1600, dados da Tabela 3.1.

Tabela 3.1 – Número de antibióticos produzidos por grupos de microrganismos.

Microrganismos Número de antibióticos

Fungos 1.600

Actinomicetos 4.600

Bactérias 950

Fonte: Modificado (LIMA et al., 2001).

21

A segunda geração de antibióticos teve início como os trabalhos de Waksman. Na

utilização de actinomicetos do gênero Streptomyces, como um potencial produtor de

antibióticos. Principalmente as espécies Streptomyces griseus e Streptomyces fradiae na

produção de estreptomicina e neomicina, respectivamente. (LIMA et al., 2001). Os

actinomicetos são bactérias que tem como habitat o solo, são Gram-positivas e com

pseudomicélio formado de escassa rede ramificada de filamentos. Os Streptomyces

produzem antibióticos durante a esporulação, um processo iniciado quando o actinomiceto

detecta a falta de nutrientes no meio. O antibiótico inibe o crescimento de outros

organismos e permite a formação do esporo, que aumenta a probabilidade de sobrevivência

do microrganismo (MADIGAN et al., 2009). São registrados 4.600 antibióticos

produzidos por actinomicetos.

Das diferentes espécies de Streptomyces, isoladas do solo, aproximadamente 50%

são produtoras de antibióticos. Entretanto a maioria da sua estrutura química é conhecida

ou não atendem as condições necessárias para a sua utilização na medicina. Vários

actinomicetos produzem mais de um tipo de antibiótico. Dentre os antibióticos de utilidade

médica, estimulantes de crescimento animal, conservantes de alimentos, e os utilizados na

bioquímica e biologia molecular aproximadamente 60 deles são produzidos por

Streptomyces (MADIGAN et al., 2009).

A terceira geração utiliza a bactéria do gênero Bacillus na produção de

antibióticos peptídicos (LIMA et al., 2001), como a bacitracina, polimixina, tirocidina,

gramicidina e circulina. Os Bacillus, são bactérias Gram-positivas, liberam o metabólito

durante a esporulação, quando o crescimento da bactéria passa para a fase estacionária. A

bacitracina produzida pelo B. licheniformis, e a polimixina, sintetizada pelo B. polymyxa

são os antibióticos de maior aplicação e melhor mercado dessa geração (MADIGAN et al.,

2009).

No início da década de 80, observou-se que algumas linhagens de Gonococcus se

tornaram imunes a penicilina. Esse mesmo fenômeno foi observado antes, foram apenas

alguns anos entre a descoberta da sulfonamida, na década de 1930, até o aparecimento de

linhagens resistentes. E sucessivamente a penicilina, a estreptomicina (BLACK, 2002). E

ao longo dos anos a descoberta de novos antibióticos tem sido o objetivo de diversos

cientistas, que financiados pelas indústrias farmacêuticas buscam desenvolver uma nova

geração de antibióticos para combater as linhagens resistentes. No entanto, o processo de

encontrar uma nova droga que seja suficientemente tóxica aos organismos, mas que não

22

danifique as células do hospedeiro é demorado e oneroso (LIMA et al., 2001). No

desenvolvimento de novos antibióticos, da descoberta ao uso clínico, o tempo médio é de

15 anos e o custo de US$ 1 bilhão (MADIGAN et al., 2009).

3.2.1 Modo de ação

Os antibióticos são considerados eficazes no tratamento clínico e devem possuir

as seguintes características: atividade letal ou inibitória contra diversas espécies de

bactérias patogênicas, atuação em largo espectro, mas que não atue sobre os inócuos, a

flora natural presente no corpo humano; ausência de efeitos colaterais, como alergias,

irritações, lesões; e, também, devem ser capazes de eliminar as formas mais simples de

resistência (PELCZAR; REID; CHAN, 1980).

Geralmente, as bactérias Gram-positivas são as mais sensíveis do que as Gram-

negativas, no entanto alguns antibióticos só agem em bactérias Gram-negativas. Quando

um antibiótico atua tanto nas Gram-positivas como nas Gram-negativas é então

denominado antibiótico de amplo espectro. Entretanto, existem antibióticos com espectro

de ação muito limitado, com atividade somente numa espécie (MADIGAN; MARTINKO;

PARKER, 1997).

A atividade antibiótica varia segundo as classes de antibióticos. As tetraciclinas

possuem um amplo espectro de ação, sendo efetivas contra clamídias e ricketisias,

bactérias parasitas obrigatórias, além de bactérias Gram-positivas e Gram-negativas. A

Figura 3.4 apresenta também alguns quimioterápicos sintéticos como a sulfonamida,

quinolonas e isoniazida. Antes da penicilina, a sulfonamida era utilizada como antígeno

contra infecções microbianas, tais como a gonorréia e infecções por estreptococos.

23

Figura 3.4 – Espectro de ação antibiótico de diversas drogas antimicrobianas.

Fonte: Modificado (MADIGAN et al., 2009).

Mecanismos de ação dos antibióticos para inibir ou destruir os microrganismos

são:

Inibindo a biossíntese da parede celular: A penicilina impede a incorporação

do peptídeo do ácido N-acetilmurâmico à parede celular de bactérias Gram-positivas,

resultando em lacunas na parede e como conseqüência perda do material do citoplasma,

provocando a morte celular. Importante destacar que antibióticos que atuam na síntese da

parede, não são eficazes nas células após o crescimento celular, nessa fase a parede está

concluída. Antibióticos que também inibem a síntese da parede são as cefalosporinas,

ciclosserina, bacitracina, novobiacina, vancomicina e as ristocetinas (PELCZAR; REID;

CHAN, 1980).

Desestruturando a membrana citoplasmática: Como as polimixinas, que

interferem na estrutura lipoproteica da membrana e impede que funcione como barreira

osmótica (PELCZAR; REID; CHAN, 1980). A daptomicina se liga a membrana

citoplasmática de bactérias, formando poros, e induz a despolarização da membrana. Com

isso, a célula perde a capacidade de sintetizar macromoléculas como proteínas e ácidos

nucléicos levando a morte celular (MADIGAN et al., 2009).

Interferindo na síntese de proteína: Alguns antibióticos inibem algumas

reações cruciais envolvendo aminoácidos, bases purínicas ou pirimidínicas, nucleotídeos

ou o transporte de membrana, bloqueando totalmente a síntese protéica. As tetraciclinas, a

estreptomicina, a neomicina, a kanamicina, a gentamicina, o cloranfenicol, e a viomicina

são antibióticos que agem dessa forma. A estreptomicina é utilizada no tratamento contra

24

bactérias Gram-negativas (PELCZAR; REID; CHAN, 1980). Os aminoglicosídeos, assim

como as tetraciclinas, atuam interferindo na síntese de proteínas nas subunidades 30S dos

ribossomos bacterianos, podendo ligar-se de modo irreversível a proteína das subunidades

30S livres do complexo 70S (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997).

Inibindo a síntese dos ácidos nucléicos: Atuam bloqueando a replicação e o

reparo das moléculas de Ácido Desoxirribonucléico (DNA) ou de Ácido Ribonucléico

(RNA), assim como inibindo a síntese dos precursores dessas moléculas. Tem efeito em

bactérias Gram-positivas e Gram-negativas; são utilizados como quimioterápicos para

combater as células tumorais, de crescimento rápido (WALSH, 2003). Antibióticos desse

tipo não são utilizados em tratamento clínico, devido a sua toxicidade tanto às células

hospedeiras quanto às infectadas, mas são utilizadas em estudos e pesquisas. Como a

actinomicina e a mitomicina (PELCZAR; REID; CHAN, 1980).

Alguns antibióticos não são letais para os microrganismos, apenas inibem o seu

crescimento e, essa ação inibitória pode ser reversível. Os que inibem a síntese da parede

celular ou lesam a membrana citoplasmática são classificados como bactericidas,

entretanto os que interferem nas funções enzimáticas são bacteriostáticos, inibe somente o

crescimento das bactérias (PELCZAR; REID; CHAN, 1980).

3.2.2 Estrutura química dos principais antibióticos

Os antibióticos podem ser classificados de acordo com a sua estrutura química. Os

que contem carboidratos são aminoglicosídios (estreptomicina), lactonas macrocíclicos

(rifamicina) e as quinonas (tetraciclina). Os com aminoácidos e antibióticos peptídeos são

classificados como peptideos (bacitracina), β-lactâmicos (penicilina e cefalosporina).

Um grupo importante de antibióticos são os β-lactâmicos, que possuem na sua

estrutura, um anel β-lactâmico. As penicilinas são dipeptideos cíclicos, formados a partir

dos aminoácido L-cisteina e D-valina, possuem um núcleo comum que é o ácido- 6-

aminopenicilânico (6-APA). As penicilinas podem ser naturais ou semi-sintéticas. A

penicilina G descoberta por Fleming (Figura 3.5), inicialmente foi ativa somente contra

bactérias Gram-positivas, devido à impermeabilidade da parede celular das Gram-

negativas.

25

Figura 3.5 – Estrutura química da penicilina G, com o anel β-lactâmico sinalizado.

Fonte: Adaptado (HERNANDEZ, 2013).

Porém algumas modificações na sua estrutura, na produção de penicilinas semi-

sintéticas, mudaram significativamente as propriedades dos antibióticos desse grupo

(Figura 3.6). A penicilina V e ampicilina ambas são penicilinas semi-sintéticas, possuem

amplo espectro de ação antimicrobiana, incluindo bactérias Gram-negativas.O resultado é

devido a uma pequena modificação química no radical N-acil da estruturado ácido-6-

aminopenicilânico. A nova estrutura permite que a amplicilina seja transportada através

da membrana externa da bactéria Gram-negativa e inibe a síntese de parede celular

(MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997).

Figura 3.6 – Penicilinas semi-sintéticas através de síntese orgânica.

Fonte: Adaptado (MADIGAN et al., 2009)

26

As cefalosporinas são antibióticos β-lactâmico, porém difere das penicilinas por

possuírem um anel diidrotiazínico ligado ao carbono 6 de sua estrutura ao invés de um anel

tiazolidínico ligado ao carbono 5 (Figura 3.7). Com ação semelhante às penicilinas as

cefalosporinas impedem a transpeptidase e D-ala carbopeptidase na síntese da parede.

Como são resistentes a ação das β-lactamases, as cefalosporinas possuem um espectro de

atividade antibiótica maior quando comparado ao da penicilina (MADIGAN;

MARTINKO; PARKER, 1997).

Figura 3.7 – Estrutura química geral de cefalosporinas.

Fonte: Retirado de (“CEFALOSPORINAS - Laboratorios Sintesis”, [s.d.]).

Para uso clínico são utilizadas as cefalosporinas semi-sintéticas. As cefalosporinas

naturais, classificadas na primeira geração, foram modificadas para serem flexíveis a ação

das β-lactamases, no uso oral. Essa segunda geração de antibióticos foi mais eficaz contra

bactérias Gram-negativas. Após modificações químicas adicionais obteve-se uma terceira

geração de cefalosporinas, com alta estabilidade diante das β-lactamases e amplo espectro

de ação (LIMA et al., 2001).

Um dos primeiros antibióticos caracterizados como de amplo espectro de ação e

bacteriostáticos foram as tetraciclinas. A denominação deve-se por possuírem uma

estrutura com quatro anéis (Figura 3.8). Os derivados como clorotetraciclina, possuem um

átomo de cloro; a oxitetracilina tem uma hidroxila adicionada. As tetraciclinas citadas são

de origem microbiana, porém existem as semi-sintéticas, nas quais são inseridos outros

compostos ao anel. As tetraclinas agem nas unidades 30S dos ribossomos, ligando-se de

maneira reversível e, inibem a síntese das proteínas (MADIGAN; MARTINKO; PARKER,

1997).

27

Figura 3.8 – Estrutura química da tetraciclina e análogos.

Fonte: Adaptado (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 2004).

As tetraciclinas com os β-lactâmicos são os dois antibióticos mais importantes de

utilidade na medicina e de maior mercado. Deve-se considerar que o seu uso não se

restringe apenas à saúde humana. As tetraciclinas vêm sendo utilizadas na medicina

veterinária e, em vários países como suplemento alimentar de suínos e aves domésticas

(MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997).

Os antibióticos classificados como aminoglicosídeos são bactericidas que

apresentam em sua estrutura um anel aminociclitol e duas ou mais moléculas de açúcares

aminados unidos por ligações glicosídicas. Entre os aminoglicosídeos pode-se citar a

estreptomicina e a kanamicina, ambos na Figura 3.9; além da gentamicina, neomicina entre

outros.

28

Figura 3.9 – Estrutura química de estreptomicina e kanamicina, pertencente à classe dos

antibióticos aminoglicosídeos.

Fonte: Retirado (MADIGAN et al., 2009).

Historicamente, a estreptomicina foi um grande avanço na medicina, porque foi o

primeiro antibiótico eficaz no tratamento da tuberculose. Entretanto, atualmente nenhum

antibiótico aminoglicosídeo vem sendo utilizado no tratamento clínico, devido aos sérios

efeitos colaterais ao paciente e ao desenvolvimento de linhagens resistentes. No momento

são prescritos os semi-sintéticos ou as tetraciclinas. Os aminoglicosídeos são antibióticos

de reserva e são utilizados quando os demais antibióticos são ineficientes (MADIGAN;

MARTINKO; PARKER, 1997).

Os macrolídeos são bacteriostáticos e são produzidos por Streptomyces. Contêm

anéis lactona ligados a açúcares. As variações tanto no anel lactona como nos açúcares

resultam em uma grande variedade de antibióticos macrolídeos. O antibiótico mais

conhecido é a eritromicina (Figura 3.10). Outros macrolídeos de aplicação no setor clínico

é a diritromicina, claritromicina e azitromicina. São macrolídeos claritromicina,

azitromicina, oleandomicina, espiramicina, e tilosina. A claritromicina e azitromicina são

semi-sintéticos com amplo espectro de ação (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997).

29

Figura 3.10 – Estrutura química da eritromicina, pertencente ao grupo dos macrolídeos.

Fonte: Adaptado (MADIGAN et al., 2009)

2.3 Resistência bacteriana a antibióticos

Quando um microrganismo é resistente a um antibiótico significa que em algum

momento era sensível. Porém uma linhagem desse microrganismo já não é mais suscetível

a ação deste antimicrobiano. Os antibióticos com ação bacteriostática possibilitam aos

microrganismos se recuperarem e desenvolverem a resistência com mais freqüência em

relação aos bactericidas. Ainda assim, não é correto afirmar que os antibióticos induzem

mutações, no entanto favorecem a seleção dos mutantes resistentes (BLACK, 2002).

O desenvolvimento de resistência às drogas é um mecanismo natural que

possibilita a sobrevivência das espécies melhores adaptadas. Há dois tipos de resistência

microbiana a intrínseca e a adquirida. A resistência intrínseca é definida como aquela

resultante do estado fisiológico do microrganismo. Essa resistência é considerada natural e

herdada por células, estando presente na maioria das linhagens que compõem um grupo,

um gênero ou uma espécie bacteriana (PELCZAR; REID; CHAN, 1980).

A resistência à vancomicina, encontrada nos bastonetes Gram-negativos, é um

exemplo de resistência intrínseca. O tamanho da droga excede o limite de exclusão das

porinas da membrana externa das bactérias Gram-negativas. Portanto a droga não consegue

alcançar o seu alvo nestes microrganismos (ROSSI; ANDREAZZI, 2005). As bactérias

Gram-negativas são geralmente mais resistentes a um grande número de agentes

30

antimicrobianos comparados às Gram-positivas. Uma das teorias considera a membrana

externa como uma barreira que previne o acesso das drogas aos sítios-alvos intracelulares.

A resistência adquirida é decorrente de mutação genética bacteriana ou da

aquisição de material genético codificando genes de resistência. Essa resistência será

característica em algumas estirpes de uma dada espécie bacteriana. Os genes podem estar

localizados no cromossomo bacteriano ou nos plamídeos (MADIGAN; MARTINKO;

PARKER, 1997).

Os plasmídeos de resistência às drogas são denominados de plamídeos R e estão

amplamente disseminados entre as bactérias Gram-positivas e Gram-negativas. Vários

genes de resistência a antibióticos podem ser carreados por um único plasmideo R e,

também, uma célula pode conter vários plasmídeos R. Em ambos os casos, o resultado

corresponde à resistência múltipla. A natureza infecciosa dos plasmídeos R conjungativos

permitiu sua rápida disseminação nas populações bacterianas. Atualmente, os plasmídeos

de resistência são considerados um dos principais problemas da medicina clínica

(MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997).

Em geral, os genes de resistência codificam proteínas que inativam os antibióticos

ou protegem a célula de outro mecanismo. O plasmideo R 100 (Figura 3.11), com 94,3

quilos pares de bases, carreia genes que conferem resistência a sulfonamidas,

estreptomicina, espectinomicina, cloranfenicol e tetraciclina. Esse plasmídeo pode ser

transferido para bactérias entéricas dos gêneros Escherichia, Klebsiella, Proteus,

Salmonella e Shigela. Entretanto não são transferidos às bactérias não entéricas

(MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997).

31

Figura 3.11 – Mapa genético do plasmídeo de resistência R100.

Fonte: Adaptado (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 2004).

O círculo interno apresenta o tamanho do plasmídeo, em quilo pares de base. O

circulo externo mostra a localização dos principais genes de resistência a antibióticos. A

sigla cat, resistência a cloranfenicol; oriT origem de transferência conjugativa; mer,

resistência ao íon mercúrio; sul, resistência a sulfonamida; str, resistência à estrepromicina;

tet, resistência à tetraciclina; tra, funções relacionadas à transferência.

Na ausência de antibióticos os fatores R podem ser perdidos pela célula. Essa é

uma informação encorajadora, pois significa que com o tempo a resistência adquirida

poderia ser revertida e com isso a eficácia de muitos antibióticos poderia ser restabelecida,

realizando monitoramentos em longo prazo e utilizando racionalmente (MADIGAN;

MARTINKO; PARKER, 1997).

Algumas evidências sugerem que os plasmídeos R são anteriores a era dos

antibióticos. O aumento do uso de antibióticos permitiu que os organismos com os

plasmídeos R, com um ou mais gene de resistência predominasse. Em 1946, uma linhagem

de Escherichia coli liofilizada continha em seu plasmídeo genes de resistência a

tetraciclina e estreptomicina, lembrando que os dois antibióticos somente seriam utilizados

após anos. No solo foram encontradas bactérias Gram-negativas não patogênicas que

possuíam no plasmídeo genes de resistência. Para esses organismos essa resistência é uma

forte vantagem seletiva já que a grande parte dos microrganismos produtores de

antibióticos é encontrada também no solo, tais como Streptomyces e Penicillium

(MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997).

32

3.3.1 Mecanismos de resistência

Os agentes antimicrobianos são úteis porque eles possuem como alvo de ação as

estruturas celulares, vias metabólicas ou enzimas. Entretanto uma variedade de

mecanismos resulta na resistência bacteriana a esses agentes. Entre os quais pode-se

destacar as alterações no alvo da droga, de modo que a ligação da droga ou a inibição da

função não ocorra, a redução da permeabilidade da célula bacteriana à droga, o que resulta

na incapacidade do agente alcançar o seu alvo em uma concentração crítica, o efluxo da

droga da célula e a destruição ou a modificação do quimioterápico, tornando o seu

transporte para o interior da célula ou o reconhecimento do alvo impossível de acontecer.

A princípio são considerados seis mecanismos de resistência, cada um deles

relacionado a uma estrutura microbiana especifica. Que serão descritos de modo sucinto.

1. Alteração do sítio-alvo de ligação do antibiótico. O antibiótico liga-se a

sítios específicos na bactéria. Caso o sítio seja alterado, o antibiótico não pode efetivar a

ligação e torna-se ineficiente contra a bactéria. Essa alteração é físico-química e diminui a

afinidade da droga pelo sítio e faz com que haja perda da atividade antimicrobiana. Os

casos de Staphylococcus aureus resistente à meticilina e Streptococcus pneumoniae a

penicilina são exemplos de alterações no sítio-alvo (ROSSI; ANDREAZZI, 2005).

2. Alteração da permeabilidade da membrana. Neste caso a modificação

gênica altera a natureza das proteínas de membrana. Modifica a expressão para a produção

dos canais de porina na membrana e, como conseqüência impede o transporte de diferentes

antibióticos para o citoplasma. Os mecanismos de resistência para tetraciclinas e

estreptomicina ocorrem dessa forma (BLACK, 2002).

3. Desenvolvimento de enzimas. Neste caso os antibióticos são inativos ou

destruídos por ação de uma enzima, que é sintetizada pelo microrganismo. No caso das

penicilinas os plasmídeos R codificam a enzima penicilinase que é uma β-lactamase e

hidrolisa o anel β-lactâmico das penicilinas e de algumas cefalosporinas, inativando o

antibiótico (Figura 3.12). Algumas bactérias Gram-negativas desenvolveram resistência a

estreptomicina e ao cloranfenicol por um mecanismo semelhante (BLACK, 2002).

33

Figura 3.12 – Ação da β-lactamase sobre a penicilina.

Fonte: Modificado (BLACK, 2002).

4. Alteração de uma enzima. Nesse caso a alteração permitirá que uma reação

anteriormente inibida ocorra. Um exemplo prático são as bactérias resistentes a

sulfonamida. Os microrganismos desenvolveram uma enzima com alta afinidade pelo

ácido 4-aminobenzóico (PABA) e baixa com a sulfonamida. Portanto, mesmo na presença

da droga a enzima fica ativa e as reações metabólicas transcorrem normalmente (BLACK,

2002).

5. Modificação de uma via metabólica. Nesse caso uma reação inibida pelo

antibiótico é desprezada e uma nova rota metabólica passa a ser utilizada. Como exemplo,

novamente as bactérias resistentes a sulfonamida, que adquirirem a capacidade de

metabolizar o ácido fólico presente no meio, sem necessitar sintetizá-lo a partir do PABA

(BLACK, 2002).

6. Efluxo ativo de antibióticos. No caso específico desta resistência, novas

proteínas de membrana do citoplasma são sintetizadas e, estão envolvidas em um

bombeamento da droga para fora da célula, por um mecanismo de anti-porte, dependendo

de energia. Como resultado a droga não consegue acumular-se no interior da célula e

exercer a sua atividade de inibição (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997).

Na Ilustração (Figura 3.13) alguns dos mecanismos de resistência já descritos,

onde o antimicrobiano é modificado; impedido de entrar ou expulso da célula bacteriana.

34

Figura 3.13 – Mecanismos de resistência a antibióticos, onde o antimicrobiano (ATM) é

inibido de diversas formas.

Fonte: Modificado (RUAN, 2015).

Na Tabela 3.2, pode-se observar os mecanismos de resistência presentes em

algumas bactérias, o antibiótico e o mecanismo de ação. A partir dessa informação é

possível inferir que um mesmo organismo pode utilizar mais de um mecanismo para inibir

a ação do mesmo ou de outro antimicrobiano, como é o caso do Staphylococcus aureus.

Uma bactéria multiresistente a antibióticos. Provavelmente, possui vários mecanismos de

resistência.

35

Tabela 3.2 – Mecanismos de resistência bacteriana a antibióticos.

MECANISMOS DE

RESISTÊNCIA ANTIBIÓTICO BACTÉRIA

Redução da permeabilidade da

membrana Penicilinas

Pseudomonas aeruginosa

Enterobactérias*

Inativação do antibiótico

Penicilinas

Staphylococcus aureus

Enterobactérias

Neisseria gonorrhoeae

Cloranfenicol Staphylococcus aureus

Enterobactérias

Aminoglicosídeos Staphylococcus aureus

Alteração do alvo

Eritromicina Staphylococcus aureus

Rifamicina Enterobactérias

Estreptomicina Enterobactérias

Norfloxacina Staphylococcus aureus

Enterobactérias

Modificação da via metabólica Sulfonamidas

Enterobactérias

Staphylococcus aureus

Efluxo ativo

Tetraciclinas Enterobactérias

Cloranfenicol Staphylococcus aureus

Bacillus subtilis

* A família das Enterobactérias compreende as bactérias que colonizam o trato

intestinal como Escherichia, Klebsiella e Enterobacter. Além de Shigella, Salmonella e

Proteus.

Fonte: Modificado (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997).

2.4 Infecção Hospitalar

O hospital é o lugar onde as pessoas se curam. Entretanto às vezes elas ficam mais

debilitadas no ambiente hospitalar. Acontece devido à disseminação de doenças

infecciosas. As infecções cruzadas entre os pacientes ou equipe médica e o paciente são

uma constante ameaça no hospital. Ocorre devido à ausência de higienização das mãos. As

infecções hospitalares são de caráter endêmico e se manifestam constantemente em curto

36

prazo. Portanto, teoricamente esses organismos fazem parte da flora natural dos indivíduos

tanto paciente como o pessoal de apoio (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997).

Observando o ambiente hospitalar e as condições de saúde dos pacientes, pode-se

afirmar que esse ambiente propicia o desenvolvimento de microrganismos resistentes.

Como os pacientes internados se encontram mais debilitados e, por muitas vezes, com o

sistema imunológico defasado devido aos medicamentos, a quantidade de espécies

microbianas, principalmente as patogênicas, é maior e se expande com facilidade. Como

também o uso indiscriminado de antibióticos (BLACK, 2002).

Outro fator que auxilia a disseminação de infecções hospitalares é a grande

quantidade de pacientes em um mesmo quarto, uma vez que muitos desses podem estar

contaminados com linhagens altamente patogênicas. A equipe médica atende inúmeros

enfermos por hora, facilitando a contaminação cruzada; muitos procedimentos médicos,

tais como cirurgias e incisões, conferem grande risco de contaminação e, também, devido

ao estresse ao qual o paciente é submetido, que diminui a resistência imunológica do

paciente; em casos de transplante de órgãos, onde o paciente é medicado com drogas

imunossupressoras, a susceptibilidade a infecção aumenta. Geralmente, os pacientes com o

sistema imunológico debilitado possuem maior probabilidade de adquirirem uma infecção

hospitalar, o que justifica a maior ocorrência de infecções em pacientes acima de 60 anos.

Recém nascidos também são mais susceptíveis a infecções, devido ao mecanismo de

defesa não estar completamente formado (MADIGAN et al., 2009).

Estudos têm demonstrado que o tempo de permanência do paciente dentro do

hospital é um fator importantíssimo para que esse contraia infecções. Segundo Oliveira e

Damasceno (2010) o risco de contrair Enterococcus resistentes a vancomicina (ERV) e

Staphylococcus aureus resistentes a meticilina (SARM) é ampliado na presença de

pacientes infectados ou quando a permanência nas instalações médicas excede duas

semanas.

Devido à condição precária dos pacientes as linhagens resistentes podem se

desenvolver e disseminar rapidamente no hospital, causando óbitos. Para evitar tais

situações e sabendo que o processo de encontrar um antibiótico eficaz é demorado e o

desenvolvimento de microrganismos resistentes é um ciclo recorrente, devem-se levar em

consideração as seguintes orientações:

O uso de antibióticos deve ser limitado às situações imprescindíveis. Dados

indicam que tratamento com antibiótico é requerido em apenas 20% dos casos de infecção,

mesmo assim, são prescritos em 80% deles (MADIGAN et al., 2009);

37

Os pacientes devem ser tratados apenas com a medicação ao qual a bactéria

é sensível e utilizada nas concentrações corretas. O uso de antibióticos no tratamento de

viroses é um exemplo do uso inadequado de medicamento (BLACK, 2002);

O tratamento deve ser concluído quando o microrganismo estiver

erradicado do corpo do paciente. Ou seja, antibiótico deve ser administrado por um período

que seja suficiente para que a droga elimine os patogênicos e até mesmo os mutantes

resistentes, ou iniba-os e assim o organismo possa eliminá-los. Segundo Madigan et al.

(2009) em 50% dos casos, tanto as doses prescritas como a duração do tratamento é

inadequada.

Em alguns casos o uso de dois ou mais antibióticos combinados surte efeito

no tratamento contra bactérias resistentes. O uso de drogas conjuntas, para exercer um

efeito maior é denominado sinergismo, e tem como exemplo típico a administração da

estreptomicina em conjunto com a penicilina. A estreptomicina terá maior permeação na

célula microbiana, uma vez que a parede celular foi danificada pela ação da penicilina.

Porém nem todas as drogas apresentam a mesma eficiência quando são empregadas

combinadas, esse efeito é chamado antagonismo, e é observado quando associa uma droga

bacteriostática com uma bactericida (BLACK, 2002).

Ainda sobre o tópico anterior, é necessário avaliar cada situação em particular

devido à existência de plasmídeos resistentes a várias drogas, inviabilizando o uso de mais

de um antibiótico como tratamento.

Os microbiologistas que trabalham no controle de infecções geram e analisam

dados de susceptibilidade dos antibióticos, através de antibiogramas. Essa análise tem

como objetivo determinar a susceptibilidade das bactérias isoladas ao antibiótico utilizado.

Os antibiogramas são usados também no monitoramento dos patogênicos conhecidos para

detectar o desenvolvimento de novos patogênicos e para identificar novas linhagens

resistentes aos antibióticos (MADIGAN et al., 2009). Atualmente utiliza-se o Método de

Disco Difusão (Kirby-Bauer) para avaliar a sensibilidade dos patogênicos aos antibióticos

(ROSSI; ANDREAZZI, 2005).

38

3.4.1 Casos de resistência bacteriana a antibióticos

Dados obtidos em 2011 estimaram que cerca de 1 em cada 25 pacientes norte-

americanos hospitalizados, cerca de 722.000, adquiriram pelo menos uma infecção, dos

quais 75.000 morreram durante o período de internação. Mais da metade dos casos de

infecção hospitalar foram diagnosticados em pacientes fora das Unidades de Tratamento

Intensivo (UTI). Na Tabela 3.3, cita os tipos de infecções mais comuns e a estimativa de

casos nos Estados Unidos em 2011, pode-se observar que infecções decorrentes de

procedimentos cirúrgicos e pneumonia são as de maior ocorrência, seguidas por doenças

gastrointestinais (“Data and Statistics / HAI / CDC”, [s.d.]).

Tabela 3.3 – Estimativa das infecções adquiridas em Hospitais, nos Estados Unidos em

2011.

PRINCIPAIS TIPOS DE INFECÇÕES NÚMERO DE CASOS

ESTIMADOS

Infecções cirúrgicas adquiridas em qualquer tipo de cirurgia 157.500

Pneumonia 157.500

Doenças gastrointestinais 123.100

Infecção do trato urinário 93.300

Infecção primária da corrente sanguínea 71.900

Outros 118.500

Número total estimado de infecções hospitalares 721.800

Fonte: (“Data and Statistics / HAI / CDC”, [s.d.]).

Um número reduzido de bactérias patogênicas é responsável pela maioria dos

casos de infecções hospitalares: Escherichia coli, Staphylococcus aureus, Estreptococos,

Pseudomonas, Klebsiella, Enterobacter, Staphylococcus epidermidis, Bacteróides e

Serratia (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997).

Diversas doenças passaram por modificações com relação à prescrição de

antibióticos no seu tratamento clínico. Resultando no aumento da resistência por bactérias.

Como o caso da sulfonamida, o primeiro quimioterápico obtido por síntese orgânica

utilizado e substituído por penicilina. O primeiro antibiótico descoberto e sintetizado por

39

fungo filamentoso e utilizado em tratamentos clínicos. A substituição dos antibióticos teve

uma sucessão de etapas.

Um quadro clínico clássico é o da penicilina, utilizada no tratamento contra a

Neisseria gonorrhoeae, causadora da gonorréia. Várias linhagens de N. gonorrhoeae,

desenvolveram resistência a penicilina, com a produção das penicilinases. O antibiótico

que passou a ser amplamente utilizado foi a ceftriaxona, uma cefalosporina altamente

resistente às β-lactamases. No entanto, a cada ano novas modalidades de antibióticos são

sugeridas no tratamento. Atualmente, as linhagens ainda sensíveis a penicilina, como

Streptococcus pyogenes, necessitam dosagens mais elevadas para que a droga seja efetiva

(MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997).

O agente etiológico de infecções no trato urinário em hospitais é Escherichia coli,

geralmente presente na flora natural. Entretanto outras bactérias também podem estar

relacionadas como a Pseudomonas aeruginosas e Enterococcus (MADIGAN;

MARTINKO; PARKER, 1997).

Infecção por Enterococcus resistentes a vancomicina (ERV) foram descritas

primeiro na Europa nos anos 80 e, em seguida nos Estados Unidos. A presença de bactéria

do tipo ERV, na Europa, estava relacionada ao uso de glicopeptídeos, como a avoparcina,

como aditivo alimentar para promoção de crescimento em animais. Essa prática perdurou

por mais de duas décadas, mas depois foi banida pela União Européia. A grande maioria de

ERV isoladas são Enterococcus faecium, que podem transferir a resistência para outras

linhagens (ANDERSON, 2014).

O Staphylococcus aureus está associado com infecções: no sangue, a septicemia,

que é uma resposta forte do hospedeiro a presença desse organismo no sangue; pós

cirúrgicas (lesões) e pequenas infecções no trato respiratório. Infecções por esse organismo

têm sido um sério agravante em casos de recém nascidos. No passado, apenas as linhagens

coagulasses positiva de Streptococcus aureus foram consideradas patogênicas, mas

atualmente outras linhagens também são consideradas como causadoras de septicemia e

infecções em lesões em hospitais (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997).

O trato respiratório superior é o “habitat” desse Staphylococcus, normalmente nos

canais nasais e se estabelecem como parte da flora natural dos empregados do hospital.

Esses quando estão saudáveis podem não apresentar sintomas da doença, mas é mais uma

fonte de contaminação para os pacientes. Sendo os Staphylococcus resistentes a baixa

umidade, eles são capazes de sobreviverem por longos períodos no ar, junto às partículas

de poeiras, e posteriormente infectar algum paciente. Devido ao grande risco de infecção

40

hospitalar esse microrganismo requer medidas de sanitização adicionais (MADIGAN;

MARTINKO; PARKER, 1997).

Nos Estados Unidos, entre 1990 e 1996, o Staphylococcus aureus foi o agente

mais comum nas causas de infecções hospitalares, segundo as estatísticas realizadas pelo

Sistema Nacional de Vigilância de Infecção Hospitalar do país, ocasionando pneumonias e

infecções em lesões cirúrgicas. S. aureus resistentes a meticilina (SARM) foram descritos

pela primeira vez na década de 60, e se tornou muito comum nos anos 80. E para eliminar

os SARM passou a ser utilizada a vancomicina, porém em 2000, no Japão, foram isoladas

S. aureus resistente a vancomicina (SANTOS, 2004).

A emergência de S. aureus resistente a vancomicina (SARV) foi antecipada

quando Enterococcus resistentes a vancomicina foram descritos. O desenvolvimento dessa

linhagem pode ter sido a partir de SARM em presença de vancomicina, após falha no

tratamento inicial ou por subseqüente reinfecção. Nos Estados Unidos, o primeiro caso de

SARV foi reportado em 2002, na Europa só depois de mais de uma década, em 2013. Em

2014, no Brasil, um jovem com diabetes, que foi tratado com vários antibióticos incluindo

vancomicina para infecções na pele, foi relatado com infecção no sangue por SARV. Na

maioria dos casos está relacionada a infecções dermatológicas, e muitos pacientes,

também, estão infectados com Enterococcus resistente a vancomicina (LOWY, 2014).

A Pseudomonas aeruginosas é uma das bactérias mais importantes causadoras de

infecções no trato respiratório inferior e urinário. E também em casos de infecção na pele,

em pacientes que sofreram queimaduras. Uma das características agravantes no tratamento

de infecções nosocomiais por esse organismo é a resistência a antibiótico, que é muito

comum, muitas bactérias isoladas de pacientes com infecções geralmente são resistentes a

vários antibióticos (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997).

Infecções causadas por Pseudomonas aeruginosa multiresistentes (PAMR)

geralmente estão associadas a altos índices de mortalidade, especialmente em pacientes

com a síndrome da imunodeficiência adquirida (SIDA). Também, tem sido observada a

persistência desses organismos em pacientes com SIDA. Segundo os estudos realizados

por Ribeiro et al. (2012), quatro dos quinze pacientes observados adquiriram a PAMR

depois de a hemodiálise ter sido realizada por um mesmo técnico, e então foi designado um

técnico para cada paciente e a disseminação foi controlada. O uso de cateteres urinários foi

uma das fontes prováveis de aquisição de PAMR para seis pacientes, mostrando assim a

importância em se prevenir as infecções por transmissão cruzada.

41

Os carbapenêmicos, foram isolados primeiramente na Carolina do Norte, em

1996, linhagens resistentes de Klebsiella pneumoniae. Mas foi a partir de 2001 que os

casos de Klebsiella pneumoniae produtora de carbapenamase (KPC) se tornaram mais

freqüentes e espalhados pelo mundo. O primeiro caso de KPC, detectado no Brasil, foi em

2005 na cidade de São Paulo. A opção terapêutica para tratamento dessa infecção é

basicamente restrita a polimixinas, apesar de sua toxicidade; e tigeciclinas, recomendada

para infecções intra-abdominais, dermatológicas complicadas e pneumonia, mas não para

infecções urinárias e septicemias. Os carbapanêmicos continuam a ser a primeira opção no

tratamento de muitas infecções causadas por Enterobacter (BEIRÃO et al., 2011).

O Los Angeles County relatou 675 casos de KPC em um intervalo de um ano, de

junho de 2010 a maio de 2011. O uso de cefalosporinas de amplo espectro e/ou

carbapenemas é um importante fator de risco no desenvolvimento de infecção por tal

organismo. Para exemplificar, em um estudo de controle de caso, 86% dos pacientes que

desenvolveram KPC haviam sido medicados com cefalosporinas nos três meses anteriores.

Em 2011, no Centro Clínico de Saúde do Instituto Nacional Norte Americano, ocorreu um

surto de KPC com 18 pacientes infectados dos quais 11 morreram. O surto tomou essa

proporção devido à dificuldade em detectar a susceptibilidade do microrganismo. Um

trabalho realizado revelou que cerca de 87% das linhagens de KPC foram detectadas como

susceptível a carbapenêmicos (QUALE; SPELMAN, 2014).

Evidencias clínicas sugerem que o tratamento com terapias combinadas pode

amenizar taxas de mortalidade. Em um estudo retrospectivo de 125 pacientes com

septicemia, infectados por KPC, o índice de mortalidade foi de 42%. A mortalidade foi

menor em pacientes medicados com duas ou mais drogas, 34% (22 de 79), comparados

com monoterapias com colistina, tigeciclina ou gentamicina, 54% (25 de 46). Resultados

similares foram observados em um estudo retrospectivo menor, de 41 pacientes com

septicemia por KPC, aonde os índices de mortalidade foram 13% (2 de 15) com terapia

combinada, geralmente polimixina ou tigeciclina junto com um carbapenêmico;

comparados com 58% (11 de 19) com monoterapia (QUALE; SPELMAN, 2014).

No final da década de 40, logo após a introdução de quimioterápicos efetivos

foram relatados casos de tuberculose resistente a drogas. As Mycobacterium tuberculosis

isoladas eram resistentes a estreptomicina, primeira droga amplamente utilizada no

tratamento dessa doença. O desenvolvimento de tuberculose multirresistente está associado

ao tratamento inadequado, incluindo práticas de prescrição errada; falta de programas

42

supervisão de tratamento; e programas precários de controle de infecção (SCHLUGER,

2015).

Segundo estimativas realizadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) são

relatadas em média 480.000 casos de tuberculoses multirresistentes anualmente, desses

menos de 100.000 pacientes estão sendo tratados apropriadamente. Nos Estados Unidos, de

1993 a 2013 os casos de tuberculose multirresistente diminuíram de 2,4 para 1,3%. Sendo

que as maiorias dos casos estavam relacionadas a imigrantes e estrangeiros. A epidemia da

SIDA permitiu que a tuberculose multirresistente se espalhasse, pois os indivíduos com

SIDA estão mais susceptíveis a adquirir infecções, e o índice de mortalidade nesses casos é

alto (SCHLUGER, 2015).

A Serratia marcescens causadora freqüente de infecções foi isolada de várias

fontes dentro do ambiente hospitalar, dentre elas soluções desinfetantes e anti sépticos,

sendo que essas substâncias são utilizadas no controle de microrganismos. Demonstrando

assim, o aumento da resistência do organismo também as substâncias químicas. E outros

organismos, como o Staphylococcus epidermidis, considerados inócuos no passado, tem

atualmente emergido como causadores de infecções hospitalares (SANTOS, 2004).

Atualmente, uma bactéria emergindo rapidamente como patogênica

multirresistente em hospitais é o Acinetobacter baumannii (AcBMR), caracterizada como

bactéria Gram- negativa. Os fatores associados com a mortalidade em pacientes com

AcBMR foram: idade superior a 60 anos, pneumonia, diabetes mellitus, doenças renais;

uso de mais de dois procedimentos invasivos; e terapia antimicrobiana inapropriada

(PRATA-ROCHA; GONTIJO-FILHO; DE MELO, 2012).

43

4 DESENVOLVIMENTO

Durante muitos anos, os antibióticos foram considerados “drogas milagrosas”,

pois tratavam inúmeras doenças infecciosas de forma eficaz. Entretanto, os médicos

tinham uma falsa impressão de segurança e passaram a utilizar os antibióticos de modo

errôneo e indiscriminado. A utilização clínica de antibióticos passava uma ilusão de que

estava solucionado os problemas de saúde publica (SANTOS, 2004).

Porém o uso indiscriminado de antimicrobianos está causando um rápido

desenvolvimento de resistência à antibiótico em bactérias patogênicas. Desde que os

antibióticos passaram a ser produzidos em escala industrial, o crescimento de linhagens

resistentes tem sido proporcional ao consumo de antibióticos. Muitas pesquisas têm

comprovado a relação entre o uso indiscriminado dos antibióticos e o desenvolvimento de

resistência bacteriana (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997).

4.1 Desenvolvimento de sintéticos antimicrobianos

Com o tempo e a exposição ao antimicrobiano, as bactérias podem desenvolver

resistência a qualquer antibiótico. O uso racional é uma das formas de prolongar a utilidade

deles no meio médico. No entanto, a longo prazo a solução seria desenvolver novas drogas.

Os novos agentes antimicrobianos criados podem ser análogos aos já existentes ou

pertencerem a uma classe totalmente nova (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997).

Produzir novos compostos semelhantes aos existentes é um processo simples e

muito empregado, porque estruturas similares a anteriores têm um modo de ação

previsível. Geralmente, esses estudos iniciam-se com softwares computacionais e

rapidamente são “criados” novos compostos, nesses programas é possível estimar as

propriedades físicas e químicas do composto, tais como adstringência e toxicidade. E em

alguns casos, os parâmetros como solubilidade e afinidade são alterados modificando a

estrutura química, mas sem alterar o modo de ação do antimicrobiano. Devido a resistência

ser baseada no reconhecimento estrutural, o novo composto pode ficar irreconhecível

diante dos fatores de resistência e, portanto mais potentes que os anteriores (MADIGAN;

MARTINKO; PARKER, 1997).

44

Realizando esse procedimento básico, novos antibióticos do tipo tetraciclina e β-

lactâmicos são comumente sintetizados e testados. Como exemplos têm os semi-sintéticos

de penicilina, a oxicilina e a meticilina, que são resistentes as enzimas β-lactamases. Os

novos medicamentos análogos a vancomicina são 100 vezes mais potentes que o original,

sendo capaz de aniquilar até as linhagens resistentes a vancomicina. Porém, a experiência

mostra que a resistência eventualmente se desenvolve tornando o composto modificado

menos útil com o tempo (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997).

Identificar novas classes de antibióticos é um processo mais árduo. Normalmente,

são isolados de fontes naturais ou desenhados para se ligarem a estruturas bacterianas

específica, e então são consideradas com relação à toxicidade e a eficácia. Os efetivos são

aqueles que atingem as vias de biossíntese bacteriana ou tenham um diferencial que

previna a atuação dos fatores de resistência existentes. Uma classe nova de químicos

sintéticos experimentais é das oxazolidinonas. As suas formas solúveis são eficazes no

tratamento contra patogênicos Gram-positivos e muitos outros organismos resistentes. Esse

composto atua inibindo singularmente a síntese de proteína, possivelmente em uma fase

primordial (MADIGAN; MARTINKO; PARKER, 1997). Desde as estreptograminas, em

1962, não havia sido introduzido nenhuma classe nova de antibióticos de uso clínico;

apenas em 2000, cerca de 40 anos depois, é que descobriram as oxazolidinonas (WALSH,

2003).

A bioinformática vem sendo amplamente explorada no desenvolvimento de novos

antimicrobianos, utilizando a genética para arquitetar a molécula e, assim, visualizar a sua

estrutura terciária. Os softwares são utilizados para criar estruturas que ainda não foram

encontradas na natureza, para impossibilitar ou retardar o desenvolvimento de resistência.

Essas ferramentas tornam o processo mais eficiente e em menor tempo, maximizando as

oportunidades de encontrar novos antibióticos sintéticos (WALSH, 2003).

4.2 Busca por novas técnicas e antígenos

A maioria dos antibióticos naturais eficazes sintetizados em quantidades razoáveis

pelo microrganismo já foram isolados. Porém aqueles que estão presentes em pequenas

concentrações são difíceis de serem identificados, no entanto, a descoberta da

platensimicina demonstrou que é possível. Foram analisados 250.000 metabólitos naturais

45

extraídos de 83.000 linhagens diferentes com potencial para produção de antibióticos. Os

cientistas identificaram e isolaram a droga a partir de um organismo presente no solo,

Streptomyces platensis. Apesar da tarefa árdua de analisar um grande número de linhagens,

foi possível identificar um alvo específico quando em pequena concentração (MADIGAN

et al., 2009).

O primeiro membro de uma nova classe de antibióticos capazes de inibir

seletivamente uma enzima importantíssima na síntese de ácidos graxos, a platensimicina, é

eficaz contra uma grande variedade de bactérias Gram-positiva, incluindo infecção por

SARM e ERV; demonstrou ser efetiva na erradicação de S. aureus em ratos, além de

toxicidade nula. Ainda não se conhece um mecanismo para o desenvolvimento de

patogênicos resistentes (MADIGAN et al., 2009).

Outros bactericidas, que seriam uma opção no tratamento de bactérias resistentes,

são os compostos extraídos de vegetais, como os fenóis e flavonóides. Os compostos

fenólicos alteram a seletividade da membrana plasmática devido à sua capacidade

antioxidante; levando a falta de substâncias intracelulares cruciais, e por fim inibindo o

crescimento celular. Ao longo dos anos, muitos estudos comprovaram a atividade

antibacteriana desses compostos, muitos deles utilizando SARM como comparativo de

eficácia do agente. No entanto, os resultados também revelaram que bactérias Gram-

negativas são menos susceptíveis aos compostos fitoquímicos (AL-HABIB et al., 2010).

Uma análise feita com dados de estudos anteriores revelou que o banho com

clorohexadina é efetivo na prevenção de contaminação, e possivelmente septicemia, por

SARM e ERV em pacientes internados em UTIs. Esses microrganismos colonizam a pele

dos pacientes, sendo assim a descontaminação da pele, com o banho, pode além de

prevenir infecções também reduzir a probabilidade de transmissão cruzada. Porém, com o

estudo realizado, não obteve evidências de que o mesmo resultado ocorre para todas as

bactérias Gram-negativas resistentes a antibióticos. Mesmo tendo sido desenvolvido em

1950, no Reino Unido, foi apenas recentemente com o aumento no número de infecções

por bactérias resistentes à antimicrobianos em UTIs, que passou-se a pensar nesse anti-

séptico como medida de prevenção a infecções (DERDE; BONTEN; DAUTZENBERG,

2012).

De 1983 a 1992, na Hungria, devido ao menor consumo de penicilina observou-se

que a quantidade de organismos resistentes também diminuiu. Provando que o processo de

seleção de organismos resistentes a antibióticos é reversível. E, também, que o consumo

racional, aliado ao monitoramento e conscientização de pacientes e médicos pode reverter

46

os efeitos do consumo indiscriminado de alguns antibióticos (MADIGAN; MARTINKO;

PARKER, 1997).

4.3 Mercado dos antibióticos

A produção mundial de penicilina foi de 12.000 toneladas por ano, no início da

década de 80. Das penicilinas produzidas por processo biotecnológico somente 38% são

para fins médicos, sendo que 12% são utilizadas na veterinária e 43% para produção de

penicilinas semi-sintéticas. Dos antibióticos de origem fúngicas apenas 10 são produzidos

em escala industrial e de importância clínica somente a penicilinas, cefalosporina C, e

ácido fusídico. Dentre as semi-sintéticas, treze tipos de cefalosporinas são produzidas com

finalidade terapêutica (LIMA et al., 2001).

Em 2001, a produção mundial de antibióticos estava em torno de 100.000

toneladas por ano, com vendas brutas anuais de US$ 1 bilhão, somente nos Estados

Unidos. A cefalosporina é o antibiótico de maior aceitação ocupando 29% do mercado de

antibióticos, seguida da ampicilina e as tetraciclinas. Estima-se que o mercado mundial de

antibióticos, como aditivos alimentares, movimentem cerca de US$ 100 milhões (LIMA et

al., 2001).

Em 2009, a venda mundial de antibióticos chegou às cifras de US$ 42 bilhões,

com um crescimento anual de 4% em relação aos anos anteriores. As cefalosporinas

continuaram sendo as mais vendidas com uma fatia de US$ 11,9 bilhões e crescimento de

3,4% em relação aos últimos 5 anos. As penicilinas de amplo espectro alcançaram o valor

de US$ 7,9 bilhões e crescimento médio de 5% entre 2005 e 2009; o terceiro mais vendido

foram as fluoroquinonas com US$ 7,1 bilhões e crescimento médio de 5% entre 2005 e

2009; a venda de macrolides foi de US$ 4,8 bilhões, mas ao contrário dos demais teve um

decréscimo de 5% de 2007 a 2009. Em alguns países o consumo de antibióticos tem

reduzido na ultima década, como na França e no Japão, onde foi observado um declínio de

21 e 15%, respectivamente, entre 2000 e 2009 (HAMAD, 2010) (Gráfico 4.1).

47

Gráfico 4.1 – Vendas de antibióticos em 2009 no mundo.

Fonte: Dados obtidos de (HAMAD, 2010).

28,3%

18,8%

16,9%

11,4%

6,4%

3,8%

2,4% 12,0%

Cefalosporina

Penicilinas

Fluoroquinolonas

Macrolides

β-lactâmicos

Tetraciclinas

Aminoglicosideos

Outros

48

5 CONCLUSÕES

A limitação na venda de antibióticos foi prevista pela Resolução RDC 44 da

Associação Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em vigor desde 26 de outubro de

2010. Nela a venda de antibióticos para uso pessoal deve ser realizada mediante prescrição

médica. Essa medida teve como objetivo limitar o uso indiscriminado que favorece a

propagação de bactérias resistentes.

Outras medidas também deverão ser tomadas. Principalmente com relação aos

hospitais, onde as condições propiciam o desenvolvimento dessas linhagens resistentes.

Dentro de hospitais também é necessário realizar o controle no uso das drogas. Assim

como a reafirmação das práticas de higiene, como a lavagem das mãos de forma rotineira

pela equipe médica; esterilização adequada dos equipamentos cirúrgicos e a sepcia dos

quartos.

É conveniente que pacientes com histórico prévio de infecção por bactérias

resistentes fossem examinados ao serem internados. Com isso seria possível isolar os

pacientes infectados dos demais. O desenvolvimento de novas técnicas de análise clínica é

imprescindível no estabelecimento dessa rotina, pois minimizaria o tempo de análise para

avaliação do patogênico. Com os resultados obtidos seria possível realizar um melhor

monitoramento da saúde pública em níveis regionais e globais.

Os estudos comprovaram que a redução no uso de um medicamento levou ao

declínio de bactérias resistentes a ele. Portanto, a alternância no uso das drogas é uma

técnica a ser utilizada diante da escassez na produção de novos medicamentos. Além da

necessidade de investir mais em pesquisas farmacêuticas, as diversas técnicas disponíveis

deverão ser empregadas em conjuntos.

Inovações nesse setor seriam bem-vindas diante dessa crise iminente. Como a

formulação de desinfetantes derivados de compostos fenólicos extraídos de vegetais. Nos

quais as pesquisas revelaram atividade antimicrobiana elevada. A população também deve

ser educada em relação ao efeito prejudicial do uso indiscriminado de antibiótico, para

evitar a obtenção da droga por vias ilegais. E, orientada para os benefícios dos

fitoterápicos.

49

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