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1 Associaªo Brasileira de Odontologia Regional Petrpolis Avaliaªo RadiogrÆfica de Lesıes Produzidas Artificialmente em Regiªo Periapical de Mandbulas Humanas Secas Juliano Egidio Defavere Petrpolis 2006

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Associação Brasileira de Odontologia Regional Petrópolis

Avaliação Radiográfica de Lesões Produzidas Artificialmente em Região Periapical de Mandíbulas Humanas Secas

Juliano Egidio Defavere

Petrópolis 2006

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Associação Brasileira de Odontologia Regional Petrópolis

Avaliação Radiográfica de Lesões Produzidas Artificialmente em Região Periapical de Mandíbulas Humanas Secas

Juliano Egidio Defavere

Monografia apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Endodontia como requisito à obtenção do grau de Especialista em Endodontia.

Orientador: Prof. Sérgio Luís Tavares Adriano

Petrópolis 2006

3

A minha família, que faz de mim alguém inteiro. A Deus, por Quem tudo posso!

4

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Faculdade de Odontologia de Nova Friburgo, que gentilmente emprestou as peças anatômicas usadas no presente estudo; aos professores Carlos Eduardo Thuler, Gilberto Rocha de Oliveira, Sérgio Luís Tavares Adriano e Luiz Antonio Nora que me ensinaram a amar, em substituição do admirar, a Endodontia; aos meus colegas de turma: Cláudia Schifler, Luciana Leal, Fábio Emílio e Lúcia Baptista, que deu uma força especial com a Língua Inglesa; e a todos os que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho.

5

�A verdade para um homem é o que faz dele

um homem.�

SAINT-EXUPÉRY

6

RESUMO

No presente trabalho foram produzidos, em região apical de raiz distal de segundos molares

inferiores, defeitos ósseos compatíveis com situações clínicas, utilizando-se brocas esféricas

de diferentes tamanhos e haste longa. Todos os defeitos ósseos foram radiografados após

produzidos e também, com as brocas que os produziram no interior dos defeitos, para

servirem como contraste. Os resultados obtidos foram de que lesões ósseas, quando

confinadas ao osso esponjoso, são imperceptíveis em exames radiográficos periapicais

intraorais.

Palavras-chave: Lesões ósseas; Doenças periapicais; Radiografia dentária.

7

ABSTRACT

In the present work were produced, in distal apical region of second lower molars, bone

lesions compatibles with clinic situations, making of spherical drillers with different size and

long staff. Every defect bones were radiographed after produced and too, with the drillers that

produced inside defect, for to serve like contrast. The results had been that bone lesions when

confined in spongy bones are imperceptibles at periapical intraoral radiographs examinations.

Key words: Bone lesions; Periapical diseases; Dental radiography.

8

LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - brocas esféricas para confecção de defeitos ósseos..................................................17 Figura 2 - mandíbula colocada na base de isopor, onde se verifica o posicionamento da película radiográfica e do cilindro do cabeçote do aparelho de raio-x.....................................18 Figura 3 - Aparato montado para revelação manual das películas radiográficas......................19 Figura 4 - radiografia inicial.....................................................................................................20 Figura 5 - periápice perfurado com a primeira broca e radiografia de contraste com a broca no local...........................................................................................................................................20 Figura 6 - periápice perfurado com a segunda broca e radiografia de contraste com a broca no local...........................................................................................................................................20 Figura 7 - periápice perfurado com a terceira broca e radiografia de contraste com a broca no local...........................................................................................................................................20 Figura 8 - periápice perfurado com a quarta broca e radiografia de contraste com a broca no local...........................................................................................................................................21 Figura 9 - periápice perfurado com a quinta broca e radiografia de contraste com a broca no local...........................................................................................................................................21 Figura 10 - periápice perfurado com a sexta broca e radiografia de contraste com a broca no

local...........................................................................................................................................21

9

LISTA DE TABELAS Tabela 1- Tabela guia para processamento manual de radiografias intraorais........................29

10

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................11

2 REVISÃO DA LITERATURA...............................................................................13

3 MATERIAIS E MÉTODOS...................................................................................17

4 RESULTADOS DA PESQUISA LABORATORIAL............................................20

5 DISCUSSÃO...........................................................................................................22

6 CONCLUSÃO.........................................................................................................25

7 REFERÊNCIAS......................................................................................................26

8 ANEXO...................................................................................................................28

11

INTRODUÇÃO

A imagem radiográfica da região periapical é extremamente importante no auxílio ao

profissional para estabelecer corretamente um plano de tratamento endodôntico (diagnóstico,

prognóstico, tratamento e proservação), ou até mesmo cirúrgico.

O osso alveolar, ou de suporte, é um componente do processo alveolar. É composto

por duas partes: uma fina camada de osso que circunda a raiz dos dentes e permite sua união

às fibras do ligamento periodontal (osso alveolar propriamente dito) e o osso que circunda o

osso alveolar e dá suporte ao alvéolo (osso alveolar de sustentação, ou de suporte) e, por sua

vez, também é composto por duas partes: osso compacto e osso esponjoso, esse último situa-

se entre a lâmina de osso compacto e o osso alveolar propriamente dito.

A lâmina dura, ou lâmina cortical alveolar, assim também chamado o osso alveolar

propriamente dito, é constituída por osso compacto, muito calcificado e é muito importante

sua observação para avaliação de patologias dessa área. Quando normal, radiograficamente é

observada como uma linha radiopaca, ininterrupta e que acompanha toda extensão da raiz.

Contudo percebemos que as imagens, por ocasião de patologias, podem não

corresponder à realidade, devido a limitações, que são: alterações de anatomia, diferença nas

densidades ósseas, defeitos/cicatrizes no osso adjacente, superposições de estruturas

anatômicas, radiografias eventualmente mal tomadas ou um mascaramento natural e próprio

que será discutido no presente estudo, quando as lesões no periápice dental estão em estágio

inicial.

A região de periápice é comumente alterada devido a processos inflamatórios de

origem endodôntica, oriundos de cárie dental, trauma ou irritação por agentes químicos.

Como possui grande quantidade de células indiferenciadas de defesa e um suprimento

sangüíneo rico, os processos inflamatórios atuam rapidamente ali.

12

O comprometimento da região periapical pode ser observado muitas vezes por exames

radiográficos periapicais, nos quais o cirurgião dentista costuma basear-se para condutas

terapêuticas. No presente trabalho serão oferecidos subsídios para estimular o profissional a

não depender de um único exame para ordenar seu plano de tratamento, lançando mão,

também, de outros recursos disponíveis para avaliação de casos clínicos, pois muitos dos

conceitos hoje existentes, com relação à presença ou não de lesões periapicais, serão

colocados à prova aqui.

Posto que a escolha da terapêutica endodôntica é influenciada pela imagem

radiográfica do periápice pergunta-se: �Quando uma lesão periapical se torna perceptível em

um exame radiográfico e, quando visível, corresponde ao seu tamanho real?�.

13

REVISÃO DE LITERATURA

SELTZER, S.; BENDER, I. B. (1961)12,13, em seu trabalho, utilizando mandíbulas

secas (e brocas esféricas de tamanhos que variavam do número 2 ao 8), produziram lesões

ósseas artificialmente, com o intuito de indicar que exames radiográficos falham quando se

propõem a indicar pulpites em estados iniciais. As lesões apenas podem ser percebidas após

alguns dias, com as mudanças dos tecidos apicais e, quanto a lesões de furca, as mesmas nem

sempre podem ser observadas pelos mesmos exames radiográficos. Assim, demonstraram

que lesões confinadas ao osso esponjoso eram imperceptíveis radiograficamente, a menos que

se estendessem à cortical vestibular, lingual ou a ambas.

WENGRAF, A. (1964)16, produziu lesões, em seu experimento, de vários tipos com

uma broca esférica grande e utilizou, em alguns momentos de seu trabalho, óxido de zinco e

vaselina injetados com pressão para produzir contraste para radiografias. Em seu estudo

percebeu que as lesões não aparecem enquanto apenas em osso medular. Concluiu

ressaltando a importância do exame clínico cuidadoso, mas sem descartar o auxílio do exame

radiográfico periapical, ainda que as lesões apenas apareçam quando há erosão da cortical

óssea.

PAULS, V.; TROTT, J. R. (1966)11, experimentaram a produção de lesões apicais em

mandíbulas humanas maceradas, utilizando brocas esféricas de diâmetros variados (números

4, 6, 10 e 12), e confirmaram os resultados obtidos por BENDER12,13. Enfatizaram que os

ápices da maioria dos dentes se situam próximos à junção entre osso medular e cortical.

Contudo, as raízes distais de primeiros molares inferiores situam-se em posição central em

relação às corticais lingual e vestibular (ou mais próxima à cortical lingual), e os segundos

14

molares inferiores têm sua raiz distal próximas à cortical lingual. Também variaram os

tempos de exposição e não obtiveram melhores resultados.

COHEN, S. & BURNS, RC (1976)3, em seu livro, basearam-se nos estudos de

CARVALHO2, OSADA et al.8,9, PAULS & TROTT11, SELTZER & BENDER12,13 e

WENGRAF16, para explicar a ausência de imagens radiográficas nos estágios iniciais de

certas periodontites apicais agudas, e aproveitaram os estudos desenvolvidos para assinalar

restrições do método radiográfico para diagnóstico onde se percebeu que lesões limitadas ao

osso esponjoso não podem ser diagnosticadas radiograficamente.

VAN DER STELT, P. F. (1985)15, em seu trabalho, onde também produzia lesões

experimentais em osso, definiu a expressão área juncional:

"É referida à região do osso na qual pequenas cavidades medulares são visíveis numa secção transversal do osso imediatamente adjacente ao osso cortical denso, que não contém cavidades medulares. Tipicamente, espaços medulares na área juncional ainda não atingiram as dimensões existentes em qualquer outra parte do osso (que estão na parte mais volumosa do osso esponjoso)�.

PAIVA & ANTONIAZZI (1988)10, em seu livro, consideraram que as variações de

angulagem vertical e horizontal, que permitem ora evidenciar, ora diminuir e até fazer

desaparecer as lesões ósseas, tornam suspeita a interpretação radiográfica (além de citar

também, os fatores relacionados ao próprio filme, tipo de radiação, processamento do filme,

que causam dificuldade à nitidez dos limites das estruturas ósseas por enevovamento da

imagem radiográfica e, também, a interpretação), contudo, ainda consideram a radiografia,

juntamente com o critério clínico, um excelente exame para o profissional tornar sua

avaliação menos questionável.

DAMANTE, J.H. & CARVALHO, P.V. (1989)5,6, em seu experimento, produziram

defeitos ósseos aproximadamente compatíveis com situações clínicas, buscando paralelismo

15

nas tomadas radiográficas mediante a utilização de canaletas em artefatos previamente

produzidos para manter as mandíbulas secas utilizadas em plano oclusal paralelo ao solo e

sagital mediano perpendicular ao mesmo plano (utilizaram brocas tronco cônicas e esféricas

de diferentes tamanhos) e confirmaram os resultados de estudos anteriores. Verificaram que o

uso de diferentes quilovoltagens não teve influência no aparecimento ou não dos defeitos

ósseos, onde se melhora a nitidez e prejudica-se o contraste. Perceberam, também, que a

presença das corticais em nada influenciou o aparecimento de defeitos exclusivamente

localizados em osso esponjoso. Confirmaram que certas enfermidades não são evidenciáveis

radiograficamente enquanto estiverem confinadas à porção esponjosa dos ossos e que essas

lesões apenas aparecem ao assumirem grandes proporções. As lesões produzidas, do centro

para a periferia do osso esponjoso, tornam-se evidentes ao tocar na cortical por destruição das

trabéculas juncionais que, em suma, são responsáveis pela manutenção do padrão arquitetural

do osso esponjoso. Também citaram a subjetividade de algumas situações, mesmo entre

especialistas, o que possibilitaria falhas nas interpretações das radiografias.

SUNDQVIST & FIGDOR (1998)14, em seu trabalho onde avaliavam diferentes

tratamentos para as periodontites apicais, classificaram-nas clinicamente, avaliando-se os

sinais (clínicos e radiográficos) e os sintomas em: Periodontites Apicais Agudas, Primárias e

Secundárias; e Periodontites Apicais Crônicas. Sendo que, na periodontite apical crônica, o

único sinal é a área radiolúcida periapical (que sugere cisto ou granuloma), pois não há

sintomatologia. Sabe-se que esta é meramente uma classificação clínica e que nem sempre

coincide com a classificação histopatológica.

MELO, P. de L. G.; ZACHARIAS, D. A.; NOGUEIRA GONÇALVES, E. A. N.

(2000)7, em trabalho onde também se propunham a avaliar experimentalmente quando uma

16

lise óssea de origem endodôntica torna-se discernível radiograficamente e, quando visível, se

coincide com o seu tamanho real, desenvolveram metodologia para produzir lesões artificiais

em mandíbulas humanas secas utilizando brocas esféricas de diferentes gradações e elegeram,

em seu experimento, a raiz distal do 2º molar argumentando sua eqüidistância das corticais

ósseas. Em suas conclusões classificaram a radiografia como um meio auxiliar indispensável

para um bom diagnóstico (lembrando de boa anamnese e exame clínico), desde que se siga

todos os conceitos para se ter um ótimo resultado. Consideraram a necessidade da utilização

de tomadas orto, mésio e disto-radiais para se contornar possíveis mascaramentos de outras

estruturas ósseas. E confirmaram os resultados dos estudos que o antecederam.

ALMEIDA, S. M. de et al. (2001)1, em pesquisa que objetivava comparar três métodos

radiográficos (periapical convencional, periapical digital e panorâmico) no diagnóstico de

lesões apicais produzidas artificialmente, concluíram que a imagem digital é passível de sofrer

alterações, melhorando assim a nitidez dos limites estruturais; que o ponto médio entre as

corticais alveolares da mandíbula correspondente ao osso esponjoso encontrava-se no centro

da região de corte do aparelho panorâmico, o que conferia limites nítidos; e que a radiografia

periapical convencional e a digital apresentaram melhores resultados no diagnóstico de lesão

quando comparadas à radiografia panorâmica. Contudo, perceberam que os três métodos têm

resultados muito próximos.

17

MATERIAIS E MÉTODOS

Neste estudo, foram utilizadas mandíbulas humanas secas (uma no experimento piloto

e uma segunda, mais volumosa, para o experimento final), as quais foram previamente

inspecionadas e radiografadas para eliminar a existência de possíveis alterações, no padrão

arquitetural do osso, que viessem a prejudicar o experimento.

Para confecção dos defeitos ósseos utilizamos brocas esféricas de aço números 2, 3, 4,

5, 7 e 10 para baixa rotação (peça reta) (figura 1). Os desgastes seguiram a ordem crescente

das brocas e, a cada troca, radiografamos a região. Para controle, repetimos esta radiografia

com a broca respectiva em posição. É importante acrescentar que todas as brocas penetravam

a uma mesma profundidade de 10,0 milímetros.

Figura 1: brocas esféricas para confecção de defeitos ósseos.

Para que as mandíbulas, as películas radiográficas e o cilindro posicionador do

aparelho de raios X ficassem fixos em uma posição única, evitando-se variações durante o

experimento, foram feitas canaletas em resina acrílica auto-polimerizável, sobre bases de

isopor individuais para cada mandíbula (figura 2). Desse modo se obteve padronização nas

radiografias pela técnica radiográfica do paralelismo e eqüidistância foco/filme em todas as

tomadas radiográficas (que foi mantida em 25,0 centímetros). Não fizemos tomadas

18

radiográficas com diferentes angulações verticais, como sugere WENGRAF16, pois não é

prática comum na clínica diária.

Foi dispensada aqui a utilização de orientação por planos sagitais ou oclusais graças às

bases fabricadas, tomando-se o cuidado de manter a incidência do feixe principal de radiação

perpendicular à superfície das películas radiográficas, para que as variações de inclinação

citadas por PAIVA & ANTONIAZZI10 não alterassem os resultados.

Figura 2: mandíbula colocada na base de isopor, onde se verifica o posicionamento da película radiográfica e do

cilindro do cabeçote do aparelho de raio-x.

Como fonte produtora de raios X utilizamos um aparelho Time-X 66 da Gnatus com

6,5 mA e 66 kVp, regulado em 0,7 segundos. Os parâmetros para regulagem do aparelho

foram obtidos com tomadas radiográficas prévias e ajustados conforme as densidades ósseas

das mandíbulas.

19

As radiografias foram tomadas com filmes periapicais E-Speed da Kodak e

processados manualmente usando uma câmara escura portátil VH-Softline utilizando o

método �tempo-temperatura�, com uso de soluções reveladora e fixadora para raios X da

Kodak Brasileira Ltda., seguindo as especificações do fabricante e a sala totalmente

escurecida (figura 3, anexo 1, tabela 1).

Figura 3: Aparato montado para revelação manual das películas radiográficas.

20

RESULTADOS DA PESQUISA LABORATORIAL

Após a confecção dos desgastes crescentes na região apical da raiz distal de primeiros

molares inferiores com brocas esféricas de aço para baixa rotação, peça reta, pudemos

observar mudança apenas no desgaste realizado pela última broca, a de número dez (portanto,

a mais calibrosa) (figuras 4 a 10).

Figura 4: radiografia inicial.

Figura 5: periápice perfurado com a primeira broca e radiografia de contraste com a broca no local.

Figura 6: periápice perfurado com a segunda broca e radiografia de contraste com a broca no local.

Figura 7: periápice perfurado com a terceira broca e radiografia de contraste com a broca no local.

21

Figura 8: periápice perfurado com a quarta broca e radiografia de contraste com a broca no local.

Figura 9: periápice perfurado com a quinta broca e radiografia de contraste com a broca no local.

Figura 10: periápice perfurado com a sexta broca e radiografia de contraste com a broca no local.

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DISCUSSÃO

Aprendemos, há alguns anos, a lançar mão de uma terapia endodôntica diferenciada

para os casos em que o comprometimento endodôntico atingisse o grau de necrose �total�.

Segundo SUNDQVIST & FIGDOR14, para dentes necrosados, utilizam-se medicações e

também tempos de trabalho diferenciados, o que é apropriado, contudo, o diagnóstico de

necrose �total� muitas vezes é baseado unicamente em uma imagem radiográfica, na qual

apresenta-se uma rarefação óssea na região situada no periápice radicular, o que aparece como

uma imagem radiolúcida localizada, mas nem sempre bem delimitada.

Faz-se necessário entender o porquê dessa imagem, e rarefação, aparecerem nessa

região nos casos de avançada destruição do órgão da polpa dentária: Como citado por De

DEUS4:

�Injúria aos tecidos periapicais usualmente resulta em dano celular e a liberação de mediadores não-específicos de mediadores imunológicos específicos da reação inflamatória. Injúrias físicas ou químicas aos tecidos periapicais durante o tratamento podem ocasionar a liberação de aminas vasoativas, como a histamina, que pode iniciar ou agravar uma resposta inflamatória existente.

Trauma persistente aos tecidos periapicais durante a instrumentação pode ativar o fator de Hageman, causando a ativação do sistema de cininas, a cascata da coagulação e do sistema fibrinolítico; como conseqüência, a ativação do sistema do complemento. Produtos liberados dos sistemas ativados podem contribuir para o processo inflamatório iniciado nos tecidos periapicais e causar inchação, dor e destruição dos tecidos.

A presença de mediadores químicos como a prostaglandina e alguns outros metabólitos do ácido aracdônico mostram a importância deles na etiopatogenia das alterações patológicas no periápice, de origem endodôntica.�.

Os processos inflamatórios desencadeados pela presença de microorganismos

patogênicos presentes no sistema de canais radiculares gera uma lise óssea naquela região

periapical e a mesma se torna visível em tomadas radiográficas.

Contudo, há que se considerar que essas imagens radiolúcidas apenas se tornam

perceptíveis ao exame radiográfico depois de determinado grau de

desenvolvimento/crescimento, o que nos remete à necessidade de lançar mão de outros meios

para verificar o real estágio de �morte� pulpar.

23

Já fora considerado a limitação de radiografias acerca da não percepção de lesões

confinadas a osso esponjoso por BENDER12,13, em seu trabalho, e por experimentos

anteriores ao seu. WENGRAF16, PAULS11, COHEN3, DAMANTE5,6 e MELO7, em trabalhos

posteriores, também perceberam que lesões, que ainda não houvessem atingido a chamada

área juncional, assim definida por VAN DER STELT15, não seriam perceptíveis em exames

radiográficos.

Segundo MELO7:

�Entre os exames complementares de rotina utilizados em endodontia, o radiográfico é o mais importante e indispensável para se detectarem lises ósseas. Independentemente das limitações inerentes às radiografias, como o fato de reproduzirem imagens bidimensionais de uma estrutura tridimensional, as sobreposições de imagens, bem como os fatores associados à qualidade do seu processamento, discute-se até que ponto podemos confiar nelas.�.

Havendo proximidade de resultados quando da comparação de radiografias periapicais

convencionais com periapicais digitais e panorâmicas, como demonstrado por ALMEIDA et

al.1, em seu trabalho, e sendo a radiografia periapical acessível à prática endodôntica diária,

escolheu-se as mesmas para o presente experimento.

O ponto de eleição para confecção das lesões foi a região apical (onde se concentram

os processos inflamatórios ocasionados por periapicopatias) de alvéolo de raiz distal de

primeiro molar inferior, região posicionada equidistantemente das corticais ósseas vestibular e

lingual.

Quando avaliadas, as radiografias, apenas na perfuração com a última broca (a de

maior diâmetro) consegue-se perceber o defeito ósseo, contudo é necessário que se considere

a subjetividade provocada pelo fato de observar-se também a radiografia de contraste (com a

broca que provocou o surgimento do mesmo). A subjetividade também influenciou o trabalho

de DAMANTE5,6, onde especialistas em radiologia avaliaram seus exames.

Ressalta-se que, nas tomadas radiográficas iniciais, onde as perfurações foram geradas

por brocas de pequeno diâmetro, não se observou qualquer mudança; contudo, nas

perfurações intermediárias, foi rompido o osso da lâmina dura alveolar, o que se tornou

24

bastante evidente nas radiografias, e remete à percepção de que o osso da referida porção tem

um padrão diferente do osso medular (é mais denso) e, por isso, aparece mais precocemente

no exame radiográfico.

Nesse experimento não se chegou a perfurações de corticais ósseas, contudo

experimentos anteriores, BENDER12,13, WENGRAF16, PAULS11, COHEN3, DAMANTE5,6 e

MELO7, provocaram tal ocorrência, confirmando a necessidade do comprometimento da

cortical ou da área juncional, inicialmente, para que as lesões fossem evidenciáveis em

radiografias.

Por outro lado, DAMANTE5,6, em determinado momento de seu experimento,

removeu as corticais ósseas antes de criar as lesões artificiais no intuito de verificar a possível

interferência das primeiras na absorção dos raios X e a sua conseqüente influência ou não

sobre a projeção dos defeitos presentes em osso esponjoso, contudo os achados não

modificaram os resultados levando à conclusão de que a presença de corticais em nada

influenciou o aparecimento de defeitos exclusivamente localizados em osso esponjoso.

Mediante os achados, o diagnóstico de uma lesão apical que dependesse das

radiografias produzidas seria comprometido, pois muitos profissionais baseiam-se nas

imagens radiográficas para determinar planos de tratamentos e prognósticos. Não apenas

rarefações ósseas, causadas por necroses endodôntica, mas também outros eventos clínicos,

quando ainda confinados à porção esponjosa do osso, como Histiocitose idiopática, Doença

de Gaucher, Mieloma múltiplo e Metástases tumorais, que provocam imagens radiolúcidas

também podem não ser evidenciáveis por exames radiográficos, como citado por

BENDER12,13 e DAMANTE5,6.

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CONCLUSÃO

Pudemos observar mudança apenas no desgaste realizado pela última broca contudo,

essa percepção é subjetiva, pois apenas observa-se tal mudança de densidade óssea por

estarmos comparando a radiografia respectiva com a radiografia inicial após saber da

existência da lesão produzida artificialmente.

Caso fosse in vivo e o profissional, clínico, endodontista ou radiologista, não soubesse

da criação de tal lesão, devido a periapicopatias, muito provavelmente a mesma não seria

percebida, pois não haveria referência para comparação, e a conduta terapêutica seria

influenciada, o que, possivelmente, influenciaria nos resultados do tratamento.

Confirma-se, aqui, que lesões contidas em osso esponjoso não são detectadas em

radiografias. O que ressalta a necessidade de exames complementares durante a eleição de

tratamentos adequados para melhores prognósticos.

Outros estudos, em outras áreas da maxila e mandíbula, se fazem necessários para se

avaliar o grau de fidelidade do exame radiográfico.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ALMEIDA, Solange Maria de et al. Avaliação de três métodos radiográficos (periapical convenciona, periapical digital e panorâmico) no diagnóstico de lesões apicais produzidas artificialmente. Pesqui. odontol. bras., v. 15, n. 1, p. 56-63, 2001. 2. CARVALHO, P. V. de. Contribuição à interpretação radiográfica de lesões ósseas produzidas experimentalmente em mandíbulas humanas secas. Bauru: 1981. 88f. Tese (Mestrado) � Faculdade de Odontologia de Bauru, USP, Bauru, 1981. 3. COHEN, S.; BURNS, R. C. Pathwas of the pulp. Saint Louis, Mosby, 1976. 4. DEUS, Quintiliano Diniz de. Endodontia. Rio de Janeiro: Medsi, 1992. 5. DAMANTE, José Humberto; CARVALHO, Paulo Vasconcelos de. Contribuição à interpretação radiográfica de lesões ósseas produzidas experimentalmente em mandíbulas humanas secas (parte I). Rev. Odontol. Univ. São Paulo, São Paulo, v. 2, n. 3, p. 131-138. 1989. 6. DAMANTE, José Humberto; CARVALHO, Paulo Vasconcelos de. Contribuição à interpretação radiográfica de lesões ósseas produzidas experimentalmente em mandíbulas humanas secas (parte II). Rev. Odontol. Univ. São Paulo, São Paulo, v. 3, n. 1, p. 277-283. 1989. 7. MELO, Patrícia de Lima Guerra; ZACHARIAS, Denise Aparecida; GONÇALVES, Elenice Aparecida Nogueira. Evidenciação radiográfica de lesões ósseas produzidas artificialmente em mandíbulas humanas secas. APCD Revista, São Paulo, jul/ago. 2000. 8. OSADA, H. et al. A radiographic study of artificially created lesions in bone: I: periapical and periodontal defects. Jap. J. Conservative Dent., n. 18, p. 141-149, 1975, apud Oral Res. Abstr., n. 12, v. 5, p. 454, may, 1977. 9. OSADA, H. et al. A radiographic study of artificially created lesions in bone: II: periapical and periodontal defects. Jap. J. Conservative Dent., n. 19, p. 62-66, 1976, apud Oral Res. Abstr., n. 12, v. 8, p. 741, aug., 1977. 10. PAIVA, J.A & ANTONIAZZI, J.H. Endodontia, bases para a prática clínica, 2a. ed. Rio de Janeiro, Guanabara-Koogan, 1988. 11. PAULS, V.; TROTT, J. R. A radiological study of experimentally produced lesions in bone. Dent. Praticit., n.16, v.3, p. 254-258, mar., 1966. 12. SELTZER, Samuel; BENDER, I. B. Roentgenographic and direct observation of experimental lesions in bone: I. J. Am. Dent. Ass., v.62, n.2, p. 152-160, feb. 1961. 13. SELTZER, Samuel; BENDER, I. B. Roentgenographic and direct observation of experimental lesions in bone: II. J. Am. Dent. Ass., v.62, n.6, p. 708-716, jun. 1961.

27

14. SUNDQVIST, G. & FIGDOR, D. Endodontic treatment of apical periodontitis, In ORSTAVIK, D. & PITT FORD, T. R. Essencial Endodontology: Prevention and treatment of apical periodontitis. 1a. Ed., London, Blackwell Science, 1998. p. 242-69 15. VAN DER STELT, P. F. Experimentally produced bone lesions. Oral Surg. Oral Med. Oral Pathol., v.59, n.3, p.306-312, mar. 1985. 16. WENGRAF, A. Radiologically occult bone cavities. An experimental study and review. Brit. dent. J., 117, supl. dec., p.532-536. 1964.

28

ANEXO

ANEXO 1: Procedimentos para o processamento manual:

1. Prepare as soluções reveladora e fixadora de acordo com as indicações do fabricante;

2. Utilize um termômetro apropriado para determinar a temperatura das soluções de acordo

com o filme escolhido;

3. Cuidadosamente prenda o filme na colgadura;

4. Marque no cronômetro o tempo de acordo com a tabela de temperatura para o revelador;

5. Submerja o filme (preso à colgadura) rapidamente na solução reveladora, soltando as

bolhas de ar agitando vigorosamente a colgadura na solução por 5 segundos;

6. Não agite o filme durante a revelação;

7. Remova a colgadura do revelador quando o tempo marcado terminar. Escorra o excesso de

revelador no recipiente de água; não escorra de volta no recipiente do revelador;

8. Submerja a colgadura rapidamente no recipiente de água para lavagem. Agite

continuamente durante o processo de lavagem;

9. Coloque a colgadura na solução fixadora. Agitação intermitente (5 segundos a cada 30

segundos) deve ser usada durante todo o procedimento de fixação. Excessos de fixador

devem ser escorridos no recipiente de água antes de se voltar para o recipiente do fixador;

10. Coloque a colgadura no recipiente de água; lave em água corrente limpa;

11. Seque em local livre de poeira.

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Tabela 1: Tabela guia para processamento manual de radiografias intraorais.

Filmes

Intraorais

KODAK

Revelação Enxágüe Fixação Lavagem

Revelador KODAK Água corrente

fresca Fixador KODAK

Água corrente

limpa

20º C

(68º F)

5

minutos

21º C

(70º F)

4,5

minutos

22º C

(72º F)

4

minutos

24,5º C

(76º F)

3

minutos

Filme Dental

E-SPEED

26,5º C

(80º F)

2,5

minutos

15.5-

29,5º C

(60-

85º F)

30

segundos

com

agitação

contínua

15.5-

29,5º C

(60-

85º F)

2-4 minutos

ou

o dobro do

tempo de

Revelação

Com

agitação

intermitente

15.5-

29,5º C

(60-

85º F)

10

minutos