avaliaÇÃo de organizaÇÕes em relaÇÃo À gestÃo … · conceitos e práticas e aperfeiçoando...
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AVALIAÇÃO DE ORGANIZAÇÕES EM RELAÇÃO À GESTÃO DO
CONHECIMENTO COM BASE NOS CRITÉRIOS DE EXCELÊNCIA DA
FUNDAÇÃO DO PRÊMIO NACIONAL DA QUALIDADE1
Alexandre Korowajczuk, CREA-A 75-1-02475-0Bernadette S. C. Castilho2
Edson José Cossich, CREA-A 78-1-03436-2Fábio José C. S. Fróes, CREA-A 80-1-00274-63
Gilberto da Silva Ferrão, CREA-A 15.607/78
RESUMO: Investiga a existência de elos entre a Gestão do Conhecimento e osCritérios de Excelência da Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade, com afinalidade de adequar tais critérios à avaliação de organizações. Traça o históricodos modelos de gestão empresarial, e cita critérios de premiações nacionaisestrangeiras de estímulo à qualidade e produtividade e que influíram na criação doprêmio brasileiro. Apresenta pontos comuns e mais significativos das obras depesquisadores em Gestão do Conhecimento e conceitos da disciplina presentes eausentes nos fundamentos dos Critérios de Excelência da Fundação. Sinaliza acontribuição que a Gestão do Conhecimento pode dar à melhoria da excelência dagestão empresarial e propõe alterações aos Critérios afim de ampliar o escopo daavaliação.
Palavras-chave: gestão do conhecimento; inteligência de negócio;
gestão empresarial; gestão estratégica; informação
estratégica; critérios do PNQ; qualidade; gestão de
processos; teoria do conhecimento.
1 Monografia apresentada no curso de Pós-Graduação latu sensu em Gestão Estratégica doConhecimento e Inteligência Empresarial da Pontifícia Universidade Católica do Paraná em convêniocom a PETROBRAS – 1998/2000.2 Físico3 Engenheiro Mecânico – UERJ. Atuou nas áreas de projeto, controle da qualidade de soldagem eaplicação de END, e em planejamento de suprimento para obras de instalações industriais. Atua naárea de informação técnica desde 1990, tendo participado no desenvolvimento e implantação de:padronização documental; no tratamento da documentação de engenharia; gerenciamentoeletrônico de documentos; sistema normativo e controle de documentos e dados conforme Item 4.5da ISO 9001. PETROBRAS – SEGEN/DIAGE/SINTEC. Setor de Informações Técnicas, da Divisãode Apoio Gerencial, do Serviço de Engenharia. Tel. (21) 876-5286 Fax (21) 876-5283
1- INTRODUÇÃO
O ambiente competitivo em que as empresas estão inseridas pode
ser traduzido nos desafios impostos pelo mercado ou pelos
concorrentes.
Para enfrentar e superar os desafios impostos pelo ambiente
competitivo, as empresas vêm adotando novos modelos de gestão.
Modelos de gestão que evoluem continuamente, incorporando novos
conceitos e práticas e aperfeiçoando ou desconsiderando os que não se
adaptem à realidade do momento.
A evolução das organizações vem conduzindo as empresas a
considerar o conhecimento como algo útil. em ambiente de competição
acirrada e reconhecimento da importância do conhecimento, identificam-
se relatos de casos de sucesso de práticas empresariais que mostram
semelhança com algumas práticas empregadas na gestão de empresas
que aplicavam conceitos da qualidade e de competitividade.
Além do que estudiosos verificaram que uma nova disciplina
começava a ser delineada. fato mostrado na diversidade de livros
publicações descrevendo e sistematizando conceitos, fundamentos e
práticas de gestão, reunidos sob o nome de Gestão do Conhecimento.
Práticas associadas à Gestão do Conhecimento, caracterizam novo
modelo de gestão, onde os ativos do Capital Intelectual passam a ter
tanta ou mais importância que os ativos físicos e financeiros.
A implantação de um programa de Gestão do Conhecimento na
organização requer dispêndio de recursos e esforços, escassos em
qualquer empresa. Assim, cumpre verificar periodicamente a eficiência e
a eficácia dessa ações com vistas a assegurar economicidade,
continuidade e sucesso do projeto. Contudo, a atividade de avaliação
pressupõe existência de referências que permitam comparações.
Há vários anos, os Critérios de Excelência da Fundação para o
Prêmio Nacional da Qualidade (FPNQ), que têm por base inicial os
conceitos da Gestão pela Qualidade Total, são empregados como
referências para avaliar a gestão de empresas.
O presente trabalho é um estudo feito para investigar existência de
elos entre Gestão do Conhecimento e os Critérios de Excelência da
Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade. O resultado indica que
pequenas alterações poderiam suportar a aplicação dos Critérios de
Excelência para a avaliação necessária.
2– CRITÉRIOS DE EXCELÊNCIA DA FUNDAÇÃO PARA O PRÊMIO
NACIONAL DA QUALIDADE
No Brasil, a partir de 1990, foi criado o Programa Brasileiro de
Qualidade e Produtividade (PBQP). Tal programa visava estimular a
competitividade e a produtividade das empresas brasileiras. Do PBQP
resultou a criação da Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade
(FPNQ), em outubro de 1991, com a missão de promover qualidade e
produtividade em empresas sediadas no Brasil, por meio do Prêmio
Nacional da Qualidade (PNQ).
Para fazer jus ao PNQ as empresas candidatas devem se submeter
a processo de avaliação regulado por um critério estabelecido pela
FPNQ e publicado com a denominação de Critérios de Excelência do
Prêmio Nacional da Qualidade (Critérios de Excelência). Estes
“constituem um modelo sistêmico de gestão ... e ... são construídos
sobre uma base de fundamentos essenciais para obtenção da
excelência do desempenho” (FUNDAÇÃO: 1999, 4).
2.1 – Que são os Critérios de Excelência
Os Critérios de Excelência é um conjunto de requisitos e
características diretamente relacionados ao desempenho e à gestão
organizacional. Estes critérios estão estruturados de modo a constituir
mecanismo de avaliação e comparação que devem ser utilizados como
referencial para avaliação e melhoria de empresas tendo em vista a
excelência do desempenho. Não possuem caráter prescritivo de
tecnologia, metodologias, ferramentas etc., nem definem o modelo
organizacional a ser implementado (FPNQ, 1999: 7).
2.2 – Fundamentos dos Critérios de Excelência
Os Critérios de Excelência baseiam-se em um conjunto de
fundamentos que, se conhecido, entendido e levado a efeito por todos
os níveis da organização, permite-a atingir a excelência. Nesse sentido,
uma síntese destes fundamentos, a seguir apresentadas, dão origem e
servem como objetivo aos planos e ações da organização.
Qualidade centrada no cliente: todo esforço deve ser desenvolvido
visando conhecer os desejos e necessidades dos clientes atuais e
potenciais e alcançar, agilmente, sua satisfação e fidelidade à marca.
Qualidade centrada no cliente constitui também, fundamento que
orienta todos os demais.
Foco nos resultados: toda a organização deve ter sua atenção
voltada para obtenção de sucesso e excelência de todas as partes
envolvidas, estabelecendo metas desafiadoras para o futuro com base
em análise crítica dos resultados obtidos e dos cenários previstos.
Comprometimento da Alta Direção: todas as ações, posturas e
exemplos dos membros da Alta Direção deverão explicitar entendimento
e cumprimento dos objetivos da empresa, bem como reforçar sua
cultura, valores e ética.
Visão de futuro de longo alcance: a organização deve procurar
antever as necessidades futuras de todos os envolvidos e preparar-se
para seu atendimento. Possibilidade de mudanças de cenários devem
fazer parte de todos os planos estratégicos e a organização deve ter
flexibilidade suficiente para acomodação e desempenho excelente em
quaisquer situações.
Valorização das pessoas: o sucesso da organização depende muito
de habilidades, conhecimento, criatividade, motivação e
comprometimento de sua força de trabalho.
Responsabilidade social: a organização deve agir no sentido de
contribuir para melhoria da sociedade que lhe fornece clientes,
trabalhadores e arcabouço legal e cultural e também para a manutenção
do ambiente que lhe dá matérias-primas e energia.
Gestão baseada em fatos e processos: análise crítica e tomada de
decisão na organização devem ser baseadas em fatos e dados
detectados em indicadores de gestão claros e fidedignos. A organização
precisa dispor de um sistema de informação eficaz e rápido, com
estrutura adaptada à sua estratégia.
Enfoque pró-ativo e resposta rápida: a organização deve apresentar
agilidade em estratégia e ação para introdução de produtos novos ou
melhorados no mercado.
Aprendizado contínuo: manter atitude de desenvolvimento de
gerência e processos de trabalho.
2.3 – Os Critérios de Excelência
A estrutura de avaliação dos Critérios de Excelência é constituída
pelos seguintes critérios: Liderança, Planejamento Estratégico, Foco no
Cliente e no Mercado, Gestão de Pessoas, Gestão de Processos e
Resultados da Organização. Definem em conjunto o que a organização
deve fazer pela busca da excelência no desempenho empresarial. A
abordagem de cada um desses critérios é apresentada a seguir:
Liderança: sistema de liderança organizacional e pessoal da Alta
Administração em estabelecimento, internalização, disseminação e
prática das diretrizes da organização e de um conjunto de valores que
promovam a excelência do desempenho; como a liderança leva em
consideração as necessidades de todas as partes interessadas, bem
como os aspectos de responsabilidade pública e cidadania;
Planejamento Estratégico: definição das estratégias da organização
e seu desdobramento em planos de ação de forma a conduzir a um
sistema eficaz de gestão de desempenho.
Foco no cliente e no mercado: identificação, entendimento e
antecipação das necessidades dos clientes e dos mercados pela
organização; como sua imagem, sua marca e os seus produtos são
comunicados; como a organização estreita seu relacionamento com os
clientes e mede e intensifica sua satisfação.
Informação e análise: gestão e eficácia da utilização das
informações da organização, da sociedade e do ambiente e das
informações comparativas para apoiar os principais processos e a
gestão do desempenho da organização.
Gestão de pessoas: estabelecimento de estímulo e condições às
pessoas que compõem a força de trabalho para desenvolver e utilizar
seu potencial em alinhamento com as estratégias da organização;
estabelecimento de clima de confiança e segurança para manifestações
das pessoas que tencionem introduzir melhorias em processos ou
produtos; esforços para criar e manter um ambiente que conduza à
excelência do desempenho, à plena participação e ao crescimento
pessoal e da organização.
Gestão de processos: principais aspectos da operação da
organização, como projeto do produto com foco no cliente e no
atendimento às necessidades dos envolvidos, produção, processos de
apoio e aqueles relativos aos fornecedores e parceiros em todos os
setores e unidades e processos relativos à sociedade e ao ambiente;
exame de como os principais processos são projetados, executados,
avaliados e melhorados para atender às necessidades dos clientes e
para aprimorar o desempenho global.
Resultados da organização: exame da evolução do desempenho da
organização em aspectos críticos como satisfação dos clientes,
mercados, finanças, pessoas, ambiente, fornecedores e parceiros,
produtos e processos organizacionais.
2.4 – Correlação entre os Fundamentos e os Critérios
Tendo como base tão-somente o texto dos Critérios de Excelência,
os autores analisaram os critérios apresentados em relação aos seus
fundamentos listados. Avaliou-se a presença de cada fundamento em
cada um dos critérios e verificou-se a necessidade de, se presente, o
fundamento ser abordado de maneira informal ou ser formalmente
sistematizado nas organizações. O resultado foi esquematizado na
Tabela 2.1.
As correlações mostram que o fundamento que menos permeia os
Critérios de Excelência, Valorização das Pessoas, é exatamente o mais
enfocado pela Gestão do Conhecimento. O conceito de Capital
Intelectual, apresentado em 3.2.2, infra, como fator de diferenciação
para competitividade de empresa e, por conseguinte, para a excelência
empresarial, é pouco enfatizado nos Critérios de Excelência.
Tabela 2.1 – Correlação entre fundamentos e critérios contidos nosCritérios de Excelência
FUNDAMENTOS
Qualid
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ost
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a
Liderança O X X O O O
Planejamento Estratégico O O O X X O O
Foco no cliente e no mercado X O O O O X
Informação e Análise O O O O X
Gestão de pessoas O X O O O O
Gestão de processos O O O X X X
CR
ITÉ
RIO
S
Resultados da organização X X O
Legenda:
X – fundamento presente e necessita ser formalmente sistematizado
O – fundamento presente e pode ser tratado de maneira informal
3– GESTÃO DO CONHECIMENTO
O ambiente competitivo das empresas está tomando nova
dimensão, intensificando-se em áreas que incluem inovação de produtos
e relacionamento com clientes e fornecedores num mercado global.
Passa a ser crítica a habilidade da empresa em lidar com o
conhecimento que possui ou de que necessita sobre suas operações e
mercado e utilizá-lo eficazmente para reinventar e inovar seus produtos,
serviços e processos.
Neste novo ambiente, as empresas estão sendo compelidas a
melhorar sua gestão e cuidar do conhecimento existente na organização
e na mente dos seus empregados como um novo tipo de ativo
empresarial. É então necessário um novo modelo para gerir o
conhecimento como um ativo, chamado de Gestão do Conhecimento.
Este novo modelo tem por objetivo gerenciar os ativos intelectuais
de uma empresa, promovendo uma abordagem sistêmica, integrada e
colaborativa para criação, captura, organização, acesso e utilização de
ativos de conhecimento. Estes ativos incluem bases de dados
estruturais, documentos técnicos e administrativos e, o mais importante,
conhecimento tácito e expertise residentes na mente dos empregados e
suas capacidades de gerar conhecimento.
3.1 – Conceitos relacionados a conhecimento
Aplicação de conhecimento nas empresas implica necessidade de
estabelecer embasamento conceitual e entendimento comum sobre o
tema, como apresentado a seguir.
3.1.1 – Dado, Informação e Conhecimento
Neste trabalho o contexto será delimitado ao ambiente empresarial
e seus objetivos alinhados com a estratégia e o mercado competitivo.
Serão adotadas, por base, as definições apresentadas por Davenport e
Prusak (1998: 2-7).
Dados são um conjunto de atributos ou símbolos distintos e
objetivos, relativos a eventos. Em um contexto empresarial, os dados
podem ser descritos como registros estruturados de transações.
Informações são dados dotados de significado dentro de um
contexto. No contexto empresarial, a informação pode ser descrita como
um termo que permite a tomada de decisão e execução de uma ação,
devido ao significado que tem para aquela empresa.
Finalizando, chega-se ao conhecimento, que deriva da informação
da mesma maneira que informação deriva de dados. Apresenta-se uma
definição funcional do conhecimento, uma descrição pragmática que
ajude a comunicar seu significado quando se abordar o conhecimento
empresarial.
De uma maneira simplificada, pode-se considerar que o
conhecimento é gerado a partir da interação de um conjunto de
informações obtidas externamente a ele com o conhecimento e
informações existentes em seu cérebro.
3.1.2 – Tipos de Conhecimento
O conhecimento pode estar incorporado em pessoas já capacitadas
(conhecimento tácito) ou descrito de alguma forma (conhecimento
explícito) que possa ser localizado e utilizado pelas pessoas.
Adicionalmente, o conhecimento explícito pode se encontrar embutido
nos produtos, serviços ou sistemas.
3.1.3 – Criação do Conhecimento
O conhecimento nas empresas é criado por meio da interação do
conhecimento tácito com o explícito, cujo processo é chamado de
conversão do conhecimento empresarial. Essa interação ocorre de 4
maneiras diferentes, conforme Nonaka e Takeuchi (1997: 81) e Sveiby
(1998: Cap. 4) e mostrado no Quadro 3.1.
Quadro 3.1 – Interação entre conhecimento tácito e explícito nas empresas
Conhecimento Para Tácito Para Explícito
De Tácito
Socialização
(Troca de experiências, comcriação de novoconhecimento tácito)
Exteriorização
(Articulação do conhecimento tácito emconceitos explícitos, criando novosconhecimentos explícitos)
De Explícito
Interiorização
(Absorção de conhecimentoexplícito em conhecimentotácito, intimamenterelacionada ao aprendizadopela prática)
Combinação
(Sistematização de conceitos explícitos emum sistema de conhecimento, ou seja,combinação de diferentes partes deconhecimento explícito, por meio deanálise, categorização e reconfiguração deinformações)
O conhecimento pessoal é percebido, ou não, pelo indivíduo
conforme sua autocrítica sobre o que sabe e o que não sabe sobre um
determinado assunto. A partir de Stewart (1998: Cap. 8) construiu-se o
Quadro 3.2, que mostra as relações entre o indivíduo e o conhecimento.
Quadro 3.2 – Percepção do conhecimento pelo indivíduo
Conhecimento Existente Não existente
PercebidoExplícito
Indivíduo sabe que tem
Lacunas conhecidas
Indivíduo sabe que não tem
Não percebidoTácito
Indivíduo não sabe que tem
Lacunas desconhecidas
Indivíduo não sabe que não tem
3.1.4 – Valor do Conhecimento
O valor do conhecimento em uma empresa depende de sua
aplicabilidade para alcançar os objetivos do negócio.
O conhecimento torna-se um ativo quando promove criação de uma
ordem útil a partir da capacidade intelectual geral, ou seja, quando
assume uma forma coerente (uma mala direta, um banco de dados, a
descrição de um processo); quando capturado de uma forma que
permita que seja descrito, compartilhado e explorado; e quando pode
ser aplicado a algo que não poderia ser realizado se continuasse
fragmentado.
3.2 – Gestão do Conhecimento nas empresas
O conhecimento é um ativo, que deve ser gerenciado com a mesma
ênfase dada aos ativos físicos, observando apenas as suas
particularidades devido a sua natureza intangível que exige a utilização
de novas abordagem e ferramentas.
A evolução de modelos de gestão faz incorporar novos conceitos e
abordagens aos conceitos dos modelos existentes. o modelo da Gestão
do Conhecimento é uma evolução dos modelos de gestão da qualidade
e de competitividade incorporando formalmente os ativos intangíveis na
administração de uma empresa.
3.2.1 – Empresa e conhecimento
O conhecimento não é novo para as empresas, que sempre
investiram em treinamento, promoveram seminários, patrocinaram
pesquisas e elaboraram manuais de procedimentos e padrões.
Entretanto, o conhecimento não era gerenciado de maneira sistemática
e alinhada a objetivos estratégicos com um foco claro de resultados.
As empresas criavam, armazenavam e utilizavam grande
quantidade de conhecimento, porém de maneira desordenada e não
eficaz. A maior parte do conhecimento gerado era disperso por toda
empresa ficando, muitas vezes, inacessível e sem nenhum controle que
garantisse integridade e atualidade.
Outros fatores que não permitiam sua gestão eram falta de
ferramentas adequadas, o alto custo para captura, registro e
compartilhamento, e o fato das empresas possuírem diferentes soluções
tecnológicas. Que dificultavam ou inviabilizavam o intercâmbio de
informações entre as pessoas de diferentes departamentos.
3.2.2 – Capital Intelectual como ativo empresarial
O Capital Intelectual está sendo considerado como um ativo
empresarial intangível e o mercado está reconhecendo e pagando por
este valor. Segundo Stewart (1998: Cap. 4), o Capital Intelectual pode
ser dividido em três segmentos: Humano, Estrutural e Relacional. É
importante ressaltar que o Capital Intelectual não é composto apenas
pelo somatório desses segmentos, uma vez que há interação, influência
e sinergia entre eles.
O Capital Humano é composto pelos talentos dos profissionais de
uma empresa, cujo conhecimento, habilidades e relacionamento social
são capazes de oferecer soluções diferenciadas aos clientes por meio
de inovações e personalizações demandadas pelo mercado. O
conhecimento que reside nos empregados não se restringe ao aspecto
técnico. Inclui as habilidades de relacionamento internas à empresa no
aspecto de saber identificar as fontes de conhecimento e expertise e o
relacionamento com os clientes e o mercado, buscando sintonia com
seus anseios e queixas.
O Capital Estrutural é composto pelos itens que passam a ser de
propriedade da empresa, representados por seus ativos intangíveis
explícitos. Quando o conhecimento tácito de um empregado é capturado
e armazenado passa a fazer parte do Capital Estrutural. Este é formado
por tecnologia, invenções, dados, arquivos, repositórios de
conhecimento, publicações, processos e programas que registram o
conhecimento da organização. Pode-se considerar, também, que é o
valor dos sistemas empresariais que garantem a consistência e
possibilitam aprimoramento do Capital Humano e a ampliação do Capital
Relacional da organização.
O Capital Relacional é formado pelo conhecimento gerado e pelo
caráter desenvolvido no relacionamento de uma empresa com clientes,
empregados, fornecedores ou parceiros.
3.2.3 – Processo de Gestão do Conhecimento
Consta de etapas bem definidas desde a criação do conhecimento
até sua utilização para criar valor para a empresa, representado na
Figura 3.1.
Figura 3.1 – Processo de Gestão do Conhecimento
Criação Captura Organização Acesso Utilização
Segundo Harris et al. (1999c), cada uma das etapas do processo
implica diversas ações, como apresentado no Quadro 3.3.
Quadro 3.3 – Detalhamento das fases do Processo de Gestão do Conhecimento
Etapas do processo de
Gestão do ConhecimentoDetalhamento
Ações
compreendidas
CriaçãoResulta em novo conhecimento ou nova
apresentação do conhecimento já existente
Descobrir
Realizar
Concluir
Articular
Discutir
Captura
Requer articulação de conceitos e discernimentopara a captura de conhecimento tácito na formaexplícita, conversão de informação de uma mídiapara outra
Digitalizar
Documentar
Extrair
Representar
Armazenar
OrganizaçãoInclui as atividades que classificam e categorizam
o conhecimento para navegação, armazenageme recuperação
Estruturar
Catalogar
Abstrair
Analisar
Categorizar
AcessoFornecimento ou disseminação de conhecimento,
diretamente ou atendendo a um programa deperfil do usuário
Apresentar
Mostrar
Notificar
Achar
Perfilar
UtilizaçãoPermite que seja feito uso efetivo do conhecimento
necessário para a atividade de negócio
Fazer
Servir
Aprender
Desenvolver
Desempenhar
3.2.4 – Conceitos Básicos da Gestão do Conhecimento
Os diversos conceitos da Gestão do Conhecimento apresentados
podem ser sintetizados no que os autores denominaram Conceitos
Básicos da Gestão do Conhecimento, os quais são apresentados a
seguir:
a) O conhecimento útil ou Capital Intelectual é um ativo intangível
da empresa: o Capital Intelectual é considerado um ativo formado
pelo conhecimento formalizado ou não, existente na organização
e na mente dos seus empregados, nas suas propriedades
intelectuais e nas suas competências internas; diferentemente
dos ativos ditos tangíveis convencionais tradicionalmente
contabilizados, estes ativos do conhecimento são chamados de
intangíveis;
b) O conhecimento divide-se em explícito e tácito: o conhecimento
pode estar registrado de forma que possa ser localizado e
consultado, neste caso chamado explícito; ou incorporado no
consciente e inconsciente das pessoas, neste caso chamado
tácito ou implícito;
c) O gerenciamento dos ativos intangíveis da empresa deve ser
diferente daquele dos ativos tangíveis: o conhecimento, por ser
considerado um ativo, deve ser gerenciado; ademais, por ser
intangível exige a utilização de novas abordagens e ferramentas
de aplicação e acompanhamento;
O conhecimento é uma vantagem competitiva sustentável: o
conhecimento aumenta com sua utilização, ao contrário dos
ativos materiais, que diminuem ou perdem valor à medida que
são utilizados;
d) O Capital Intelectual é composto pela união sinérgica dos capitais
Humano, Estrutural e Relacional: Capital Humano – formado
pelos talentos dos profissionais da organização; Capital Estrutural
– representado pelos ativos intangíveis explícitos (tecnologia,
invenções, dados, arquivos, publicações, processos etc.); Capital
Relacional – relativo ao conhecimento gerado no relacionamento
de uma empresa com seus clientes, empregados, fornecedores,
parceiros, acionistas e a Sociedade em geral;
e) A Gestão do Conhecimento promove uma espiral de
transformação do conhecimento dentro da corporação: à medida
que os profissionais fazem uso do conhecimento explícito
disponível na empresa e compartilham entre si seu conhecimento
tácito, surgem novos conhecimentos, tanto explícitos quanto
tácitos, que vão sendo incorporados aos anteriores, alimentando
o ciclo;
f) Gestão do Conhecimento é um processo de negócio apoiado por
requisitos estruturais, culturais e tecnológicos: este processo não
é uma disciplina com foco tão-somente em ferramentas e
processos de geração, acúmulo e compartilhamento de
conhecimento; necessita de um ambiente organizacional propício
a seu desenvolvimento;
g) Focam-se os níveis de conhecimento e a competência das
pessoas: a Gestão do Conhecimento leva em consideração não
somente os níveis de conhecimento cognitivo (conhecimento
básico), habilidade avançada (aplicado em uma ação prática),
sistêmico (conhecimento profundo) e criatividade auto-motivada
(motivação) mas também a competência das pessoas.
3.2.5 – Fundamentos da Gestão do Conhecimento
Os autores analisaram os oito conceitos básicos da Gestão do
Conhecimento propostos em 3.2.4, supra, e concluíram ser adequado
seu agrupamento em três fundamentos, que denominaram
Fundamentos da Gestão do Conhecimento e são apresentados a seguir.
a) Importância do Conhecimento: com a redução da capacidade de
vencer os desafios atuais dos modelos de gestão tradicionais,
que atuavam basicamente nos processos ligados a ativos
materiais, a Gestão do Conhecimento surge como meio para
obtenção de vantagem competitiva para a corporação a partir de
ações sistemáticas sobre um segmento ainda pouco explorado, o
conhecimento. Assim, é uma prática essencial para o sucesso da
corporação. Este fundamento engloba os Conceitos Básicos “O
conhecimento útil ou capital intelectual é um ativo intangível da
empresa” e “O conhecimento é uma vantagem competitiva
sustentável”;
b) Sistematização da Gestão do Conhecimento: por ser um
instrumento para se obter vantagem competitiva, é importante
que os princípios da Gestão do Conhecimento permeiem todos os
processos da corporação e sejam tratados de modo
sistematizado. Este fundamento engloba todos os Conceitos
Básicos, com exceção do primeiro;
c) Valoração do Conhecimento: estabelece que a organização deve
identificar e acompanhar periodicamente os indicadores de
desempenho relativos ao Capital Intelectual. Além disso, uma vez
que se trata de um ativo, não obstante intangível, e de uma
vantagem competitiva, deve-se buscar relacionar esses
indicadores a valores financeiros. Mas, considerando suas
naturezas distintas, o conhecimento e patrimônio físico não
podem ser valorados da mesma forma. Este fundamento engloba
os Conceitos Básicos “O conhecimento útil ou capital intelectual é
um ativo intangível da empresa”, “O gerenciamento dos ativos
intangíveis da empresa deve ser diferente daquele dos ativos
tangíveis” e “O conhecimento é uma vantagem competitiva
sustentável”.
Esses três fundamentos foram analisados vis-à-vis os Critérios de
Excelência e os pontos relevantes são apresentados a seguir.
4– COTEJAMENTO ENTRE OS FUNDAMENTOS DOS CRITÉRIOS DE
EXCELÊNCIA E OS DA GESTÃO DO CONHECIMENTO
Com o objetivo de averiguar a adequação dos Critérios de
Excelência como referenciais para avaliação de organizações em
relação à Gestão do Conhecimento, analisaram-se os Fundamentos do
referido instrumento de avaliação à luz dos Fundamentos da Gestão do
Conhecimento, identificados em 3.2.5, supra. Cada um dos fundamentos
foi foco de estudo descrito nos itens 4.1, 4.2 e 4.3, onde se descrevem
presenças e lacunas.
Foi investigada pelos autores a adequação destes Critérios de
Excelência como referenciais para avaliação de organizações em
relação à Gestão do Conhecimento.
4.1 – Acerca do Fundamento Importância do Conhecimento
Os Critérios de Excelência abordam o fundamento Importância do
Conhecimento com certo grau de profundidade em Gestão Baseada em
Fatos e Processos e Valorização das Pessoas.
No primeiro, a identificação e o mapeamento de todos os processos
e a necessidade de ter um sistema de informações que registre os
aspectos importantes acerca de clientes, mercados, pessoas, produtos,
processos, fornecedores, sociedade ou aspectos financeiros denotam,
ainda que parcialmente e não declarada como tal, certa visão para a
Gestão do Conhecimento.
Em Valorização das Pessoas, este fundamento da Gestão do
Conhecimento é realçado quando afirma-se que “o sucesso de uma
organização depende cada vez mais do conhecimento, habilidades e
criatividade da força de trabalho” (FUNDAÇÃO, 2000: 14). Isto é
claramente explicitado pela Gestão do Conhecimento conforme seus
Conceitos Básicos relacionados em 3.2.4, supra, “A Gestão do
Conhecimento promove uma espiral de transformação do conhecimento
dentro da corporação” e “Focam-se os níveis de conhecimento e a
competência das pessoas”.
De uma forma não tão evidente, verifica-se que o Fundamento
Importância do Conhecimento permeia todos os demais Fundamentos
dos Critérios de Excelência citando-se por exemplo, o Aprendizado
Contínuo, quando é afirmado que “o aprendizado precisa ser
internalizado e tornar-se um traço da cultura organizacional”
(FUNDAÇÃO, 2000: 16).
Apesar de todas estas confirmações, é preciso realçar que a
maioria dos Fundamentos dos Critérios de Excelência enfocam somente
o conhecimento explícito da organização. Apenas o fundamento Gestão
Baseada em Fatos e Processos faz menção à sistematização do
conhecimento tácito. Assim surge como uma lacuna no conjunto de
fundamentos dos Critérios de Excelência a abordagem geral e
sistemática do conhecimento tácito.
4.2 – Acerca do Fundamento Sistematização da Gestão do
Conhecimento
Os Fundamentos dos Critérios de Excelência, com exceção de
Comprometimento da Alta Direção, Valorização das Pessoas e
Responsabilidade Social, abordam a necessidade de sistematizar de
alguma forma a gestão do conhecimento relacionado ao cliente (atual e
futuro, real e potencial), ao ambiente competitivo e aos indicadores de
negócio e de processos da organização. Estes fundamentos têm sido
normalmente utilizados para buscar a reorientação da corporação em
suas ações rumo à excelência empresarial.
Os fundamentos Responsabilidade Social e Valorização das
Pessoas, que abordam respectivamente conhecimento sobre a
sociedade e sobre empregados, não fazem menção alguma a
sistematização da gestão desses conhecimentos nem que estes sirvam
como orientadores para a organização. Esta falta de retroalimentação do
conhecimento pela corporação denota existência de outra lacuna nos
Critérios de Excelência, também a ser apresentada em 5.1, infra.
4.3 – Acerca do Fundamento Valoração do Conhecimento
Logicamente, por ser um conceito novo contido na disciplina Gestão
do Conhecimento, que por seu turno vem a ser uma evolução dos atuais
modelos de gestão, nenhum fundamento dos Critérios de Excelência
aborda este fundamento proposto. Nenhum deles faz menção ao
monitoramento de índices e resultados relativos ao conhecimento
corporativo. Nos atuais Critérios de Excelência o Capital Intelectual
ainda não é considerado como um ativo. Assim, surge mais uma lacuna
nos Fundamentos dos Critérios de Excelência.
4.4 – Análise do cotejamento entre os fundamentos
O Fundamento Comprometimento da Alta Direção não se relaciona
explicitamente com nenhum dos três fundamentos da Gestão do
Conhecimento. Contudo, da mesma forma que ocorre nos Critérios de
Excelência, o Comprometimento da Alta Direção também serve de base
para todos estes fundamentos mencionados.
O conteúdo dos itens 4.1, 4.2 e 4.3, relações levantadas entre os
Fundamentos dos Critérios de Excelência e os Fundamentos da Gestão
do Conhecimento, são sintetizadas no Quadro 4.1. Objetiva-se com
esse quadro propiciar visão de conjunto das presenças e lacunas
detectadas.Existe de modo explícito nos Fundamentos dos Critérios de
Excelência resposta positiva com relação à importância do
conhecimento, como mostrado em 4.1, supra, embora sem nenhuma
menção explícita ao conhecimento tácito. Nota-se, também, existência
de ampla referência à Sistematização da Gestão do Conhecimento, mas
não existe abordagem de conhecimentos preciosos acerca de
empregados e Sociedade. Sobretudo, observou-se que a Valoração do
Conhecimento não é em momento algum abordada.
Avaliação de organizações em relação à Gestão do Conhecimento com base nos Critérios de Excelência da Fundação do Prêmio Nacional da Qualidade 21
Quadro 4.1 – Relações entre os fundamentos dos Critérios de Excelência e os fundamentos da Gestão do Conhecimento
FUNDAMENTOS DA GESTÃO DO CONHECIMENTO
Importância do Conhecimento Sistematização da Gestão do ConhecimentoValoração do
Conhecimento
Qualidade Centradano Cliente
Presença: conhecimento explícito
Lacuna: conhecimento tácito
Presença: sistematização e retroalimentação do conhecimentorelacionado ao cliente
Lacuna
Foco nos ResultadosPresença: conhecimento explícito
Lacuna: conhecimento tácito
Presença: sistematização e retroalimentação do conhecimentorelacionado aos indicadores de negócio
Lacuna
Comprometimento daAlta Direção
Não existe relação direta, embora seja condição necessária
Visão de Futuro deLongo Alcance
Presença: conhecimento explícito
Lacuna: conhecimento tácito
Presença: sistematização e retroalimentação do conhecimentorelacionado ao ambiente competitivo
Lacuna
Valorização dasPessoas
Presença: conhecimento explícito
Lacuna: conhecimento tácito
Lacuna: sistematização e retroalimentação do conhecimentorelacionado aos empregados
Lacuna
ResponsabilidadeSocial
Presença: conhecimento explícito
Lacuna: conhecimento tácito
Lacuna: sistematização e retroalimentação do conhecimentorelacionado à sociedade
Lacuna
Gestão Baseada emFatos e Processos
Presença: conhecimento explícito emenção ao conhecimento tácito
Presença: sistematização e retroalimentação do conhecimentorelacionado aos processos da organização
Lacuna
Ação Pró-Ativa eResposta Rápida
Presença: conhecimento explícito
Lacuna: conhecimento tácito
Presença: sistematização e retroalimentação do conhecimentorelacionado aos indicadores de negócio
Lacuna
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Aprendizado ContínuoPresença: conhecimento explícito
Lacuna: conhecimento tácito
Presença: sistematização e retroalimentação do conhecimentorelacionado aos processos da organização
Lacuna
5– ALTERAÇÕES NOS FUNDAMENTOS DOS CRITÉRIOS DE
EXCELÊNCIA
5.1 – Sugestão de alterações
Sugere-se rever os atuais fundamentos dos Critérios de Excelência.
Eles seriam ampliados com incorporação dos fundamentos da Gestão
do Conhecimento. Assim, os autores propõem:
a) em todos os fundamentos, declarar de forma explícita a
necessidade de abordar tanto o conhecimento tácito quanto o
explícito;
b) no fundamento Valorização das Pessoas, incluir a
Sistematização da Gestão do Conhecimento relacionado aos
empregados e usá-lo para orientar a organização, com a
conseqüente valorização do Capital Humano;
c) no fundamento Responsabilidade Social, incluir a Sistematização
da Gestão do Conhecimento relacionado à Sociedade e usá-lo
para orientar a organização, com a conseqüente valorização do
Capital Relacional;
Com visão mais abrangente, pela importância do fundamento
Valoração do Conhecimento para a disciplina Gestão do Conhecimento
e por sua característica inovadora em relação aos conceitos dos demais
modelos de gestão, propõe-se também que este fundamento seja
incorporado aos nove atuais Fundamentos dos Critérios de Excelência,
que passariam a ter a seguinte composição:
• Qualidade centrada no cliente;
• Foco nos resultados;
• Comprometimento da alta direção;
• Visão de futuro de longo alcance;
• Valorização das pessoas e do respectivo capital humano;
• Responsabilidade social e valorização do respectivo capital
relacional;
• Gestão baseada em fatos e processos;
• Ação pró-ativa e resposta rápida;
• Aprendizado contínuo;
• Valoração do Conhecimento.
Suportados por esta relação de fundamentos atualizada, os
Critérios de Excelência passariam por revisão e possibilitariam também
avaliar a organização em relação à Gestão do Conhecimento.
5.2 – Impactos dos novos fundamentos nos Critérios de Excelência
No item 2.4, supra, analisou-se a correlação entre critérios e
fundamentos originais, contidos nos Critérios de Excelência. Nesse item,
avaliou-se a presença de cada fundamento em cada critério e verificou-
se a necessidade de, se presente, o fundamento ser abordado pelas
organizações de maneira informal ou de ser formalmente sistematizado.
Com a proposição de novos fundamentos, torna-se necessário rever
esta análise, avaliando possíveis impactos nesta correlação e, por
conseguinte, na abordagem dos critérios. Assim, os referidos critérios
foram avaliados, agora em relação ao novo fundamento proposto e aos
dois fundamentos que foram mais impactados.
5.2.1 – Impactos do fundamento Valorização das Pessoas e do
Capital Humano
É evidente que o critério Gestão de Pessoas é ampla e diretamente
impactado por este fundamento. A sistematização da gestão do
conhecimento relacionado aos empregados e o uso deste conhecimento
para orientar a organização facilita as tarefas de estabelecer estímulos e
condições favoráveis, clima de confiança e de segurança. No entanto,
este não é o único critério impactado por esta alteração. Outros critérios,
apresentados a seguir, também o são.
Com a inclusão da sistematização da gestão do conhecimento
relacionado aos empregados, percebe-se também, a influência direta e
positiva no critério Foco no Cliente e no Mercado. O conhecimento tácito
dos empregados da linha de frente da organização, aqueles que tratam
com os clientes no dia-a-dia, passa a ser incorporado no processo de
identificação, entendimento e antecipação das necessidades dos
clientes.
O critério Gestão de Processos também é impactado positivamente
por esta sistematização. A busca da disseminação dos mais complexos
fatores relacionados a processos relativos a produtos e apoio, presentes
no conhecimento explícito e tácito de empregados de todos os níveis,
promove o contínuo aprimoramento destes processos e sobretudo, a
espiral de transformação do conhecimento na organização.
O uso do conhecimento relacionado aos empregados para orientar
a organização por sua vez afeta também, direta e positivamente, o
critério Planejamento Estratégico. A definição das estratégias da
organização e o seu desdobramento em planos de ação dar-se-ão de
forma mais eficaz se forem levados em consideração os atuais níveis de
conhecimento e competências de seus empregados.
5.2.2 – Impactos do Fundamento Responsabilidade Social e
Valorização do Capital Relacional
O critério Liderança, principalmente, por abordar como se leva em
consideração os aspectos de responsabilidade pública e cidadania, é
ampla e diretamente impactado pela alteração proposta a este
fundamento. A sistematização da gestão do conhecimento relacionado à
Sociedade supre a organização de dados necessários à identificação
das necessidades daquela. O uso deste conhecimento para orientar a
organização permite aprimorar a liderança e, por conseguinte fortalecer
o relacionamento da organização com a sociedade. Percebe-se que
outros critérios são também impactados.
O uso do conhecimento relacionado à sociedade para orientar a
organização também afeta, por sua vez, direta e positivamente, o critério
Planejamento Estratégico. Se forem levados em consideração os atuais
níveis de conhecimento e competências disponíveis na sociedade,
sobretudo na concorrência, a visualização dos possíveis cenários
competitivos para a definição das estratégias corporativas dar-se-á de
uma forma mais eficiente.
O critério Gestão de Processos também é impactado positivamente
pelo uso do conhecimento relacionado à sociedade. O contínuo
aprimoramento de processos relativos a produtos e apoio é facilitado
pela aplicação dos conhecimentos explícitos sobre concorrentes atuais e
potenciais, parceiros, fornecedores e clientes. Mais uma vez, promove-
se a espiral de transformação do conhecimento na organização.
5.2.3 – Impactos do Fundamento Valoração do Conhecimento
Este fundamento, por sua caraterística de total inovação em relação
aos demais, afeta de alguma forma todos os sete critérios. Em qualquer
caso, onde quer que seja abordado, o conhecimento passa a ser
encarado sob novo ponto de vista, materializado no valor das vantagens
competitivas que pode vir a proporcionar. Contudo, dois critérios são os
mais fortemente impactados que os demais: Informação e Análise e
Resultados da organização.
Primeiro, observa-se que o processo de gestão e a eficácia da
utilização das informações, abordado no critério Informação e Análise,
encontra-se embutido na sistematização da gestão de conhecimento e
no seu uso para orientar a organização. Ainda mais, ao atribuir-se valor
ao conhecimento e por este Critério ser base aos demais processos e a
gestão do desempenho da organização, Informação e Análise passa a
ser percebido como um processo essencial na busca da excelência na
Era da Gestão do Conhecimento.
A Valoração do Conhecimento pressupõe o monitoramento de
índices e resultados relativos ao conhecimento corporativo. Assim, o
critério Resultados da organização também é direta e amplamente
influenciado pela proposição deste novo fundamento. Observa-se,
sobretudo, que a característica intangível do conhecimento não permite
que a análise da evolução dos referidos índices seja realizada da
mesma forma que a análise dos indicadores tradicionais. É preciso
buscar novos métodos para avaliar a evolução do desempenho da
organização em relação ao valor do conhecimento corporativo e a
capacidade da organização de transformar conhecimento em processos,
produtos e serviços, enfim, valor.
5.2.4 – Visão geral dos impactos dos novos fundamentos
De modo a propiciar uma melhor visão do que foi analisado, os
impactos dos novos fundamentos nos Critérios de Excelência são
apresentadas no Quadro 5.1, infra.
Os impactos provocados por estes novos fundamentos
proporcionam, como pode ser observado, ampliação na abrangência
dos Critérios de Excelência. A adequação proposta a este importante
instrumento de avaliação empresarial surge como uma evolução natural,
acompanhando a melhoria da própria gestão empresarial.
Avaliação de organizações em relação à Gestão do Conhecimento com base nos Critérios de Excelência da Fundação do Prêmio Nacional da Qualidade 27
Quadro 5.1 – Impactos dos Novos Fundamentos nos Critérios de Excelência
Valorização das Pessoas e do CapitalHumano
Responsabilidade Social e Valorização do CapitalRelacional
Valoração do Conhecimento
Liderança
A gestão do conhecimento relacionado à sociedadefornece dados necessários à identificação de suasnecessidades. O uso deste conhecimento permiteaprimorar a liderança e fortalecer o relacionamentoda organização com a sociedade.
Conhecimento relativo às partesinteressadas e à sociedade passa aser encarado pelo valor que pode avir representar.
Planejamento
Estratégico
A definição das estratégias e odesdobramento em planos de ação dar-se-áde forma mais eficaz se forem levados emconsideração os níveis de conhecimento ecompetências dos empregados.
Levando em consideração o conhecimento ecompetências disponíveis na sociedade, mesmona concorrência, a visualização dos possíveiscenários competitivos para a definição dasestratégias corporativas será mais eficiente.
Conhecimento relativo ao ambientecompetitivo passa a ser encaradopelo valor que pode a virrepresentar.
Foco nocliente e nomercado
O conhecimento tácito dos empregados dalinha de frente da organização passa a serincorporado em identificação, entendimentoe antecipação das necessidades dosclientes.
Conhecimento relativo a cliente emercado passa a ser encarado pelovalor que pode a vir representar.
Informação eAnálise
Informação e análise passa a serpercebido como processo essencial.
Gestão dePessoas
A gestão e uso do conhecimento relacionadoaos empregados facilita estabelecerestímulos e condições favoráveis, clima deconfiança e segurança.
Conhecimento relativo a empregadospassa a ser encarado pelo valor quepode a vir representar.
Gestão deProcessos
A disseminação de conhecimento explícito etácito de empregados de todos os níveispromove o contínuo aprimoramento dosprocessos e a espiral de transformação doconhecimento na organização.
O contínuo aprimoramento dos processos e a espiralde transformação do conhecimento naorganização é facilitado pela aplicação dosconhecimentos explícitos de concorrentes atuais epotenciais, parceiros, fornecedores e clientes.
Conhecimento relativo a processospassa a ser encarado pelo valor quepode a vir representar.
Resultados
da
organização
Cumpre buscar novos métodos paraavaliar a evolução do desempenhoda organização em relação ao valordo conhecimento corporativo e acapacidade da organização detransformar conhecimento.
6- CONCLUSÃO
A investigação a que se propuseram os autores mostrou-se
oportuna e enriquecedora por propiciar-lhes reunião e exame de
informações dispersas sobre diversos aspectos de Gestão do
Conhecimento bem como propiciar visão dos diversos aspectos do
conhecimento e suas ligações com as empresas, descortina
informações sobre implantação de Gestão de Conhecimento no tocante
a seus requisitos e dificuldades. Vencidas as dificuldades e atendidos os
requisitos as empresas poderão, como mostrado, implantar medições e
contabilizar os grandes benefícios dessa implantação.
Em importante parte da investigação, foi levantada e mostrada no
Capítulo 5 a possível adequação dos Critérios de Excelência para
avaliar iniciativas de Gestão do Conhecimento. Significantes lacunas
foram detectadas, o que levou os autores a propor aumento de
abrangência dos Critérios de Excelência e, mais ainda, inclusão de novo
fundamento nesses Critérios.
Foi plenamente atendido o objetivo geral do trabalho proposto:
verificar adequação dos Critérios de Excelência como referenciais para
avaliação de organizações em relação à Gestão do Conhecimento. Os
Critérios de Excelência, se receberem as alterações propostas pelos
autores, constituir-se-ão em valiosa ferramenta para ampliar o escopo
da avaliação da excelência da gestão empresarial.
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