avaliaÇÃo de endo e ectoparasitas em ovinos … · já os carrapatos são os ectoparasitas menos...
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AVALIAÇÃO DE ENDO E ECTOPARASITAS EM OVINOS
ARTUSO, Dienifer T¹;
DACAMPO, Mariele¹;
FLORES, Sabrina P¹;
PELIZZONI, Eloise F¹;
PICCOLI, Vanusa R¹.
FLORES, Ricardo²;
MAHL, Deise Luiza²
OLIVEIRA, Daniela²;
PIEROZAN, Morgana Karin²;
ROSES, Thiago²;
URIO, Elisandra A².
E-mail: [email protected]
RESUMO:A parasitologia é uma ciência de grande importância, pois a relação do parasita com
o hospedeiro determina danos que podem oscilar de pequenos desconfortos até a morte do animal. Nesses termos e diante da importância de prevenção, o estudo apresenta o resultado de uma pesquisa de campo sobre endo e ectoparasitas em ovinos os endo foram avaliados, por meio da realização de exames clínicos de análise de sangue, urina e fezes, onde buscou-se detectar a presença ou não de parasitas em ovinos de quatro propriedades rurais da região Norte do Estado do Rio Grande do Sul, e bem como avaliar as práticas de manejo realizadas nas mesmas. Não foram encontrados ectoparasitas nos animais examinados. Verificou-se resultados dentro dos parâmetros normais nos exames de urina, apenas nos exames de fezes foram registrados a presença de ovos de parasitas causadores, em sua maioria de doenças hepáticas e gastrointestinais, sendo eles: NeoascarisVitulorum; Trichostrongylidoe, Strongyloide, Eimeria e Oocitos. Apesar destes, os hemogramas não atestaram alterações nos eosinófilos e nos demais parâmetros. Concluiu-se, de acordo com a literatura especializada consultada, que o aparecimento desses parasitas parece estar diretamente relacionado a fatores climáticos, como temperatura, umidade, condições de alimentação e manejo específicas de cada propriedade.
Palavras-Chave: endoparasitas; ectoparasitas; ovinos; hemogramas.
_____________________
¹ Acadêmicos do Curso de Medicina Veterinária - Faculdade IDEAU/ Getúlio Vargas.
² Professores do Curso de Medicina Veterinária - Faculdade IDEAU/ Getúlio Vargas.
ABSTRACT: Parasitology is a science of great importance , since the relationship of the
parasite with the host determines that damage can range from minor discomfort to death of the
animal. In these terms and considering the importance of prevention, the study presents the
results of a field study on endo -and ectoparasites in sheep endo were evaluated by clinical
examinations of analysis of blood, urine and feces , where we sought detect the presence or
absence of parasites on sheep farms in the four northern state of Rio Grande do Sul , as well as
to evaluate management practices carried out in the same . No ectoparasites were found in the
animals examined . There was within normal parameters results in urine tests , stool tests only
in were recorded eggs of parasites , mostly liver and gastrointestinal diseases , namely:
NeoascarisVitulorum ; Trichostrongylidoe , Strongyloide , and Eimeriaoocysts . Despite these ,
the blood counts do not attested changes in eosinophils and other parameters . It was
concluded , according to the specialized literature , the appearance of these parasites seems to
be directly related to climatic factors such as temperature, humidity , feeding conditions and
specific management of each property .
Keywords: endoparasites; ectoparasites; sheep;hemogram.
1 INTRODUÇÃO
As doenças parasitárias de ovinos têm diversas causas, dentre elas
estão fatores como as condições climáticas da região e as práticas de manejo
da criação, sendo a dieta ou nutrição um fator importante para o parasitismo.
Animais que recebem alimentação de boa qualidade tendem a ser mais hábeis
para enfrentar parasitoses. Além disso, podem apresentar aumento na
resistência, limitando o estabelecimento de larvas infectantes, o
desenvolvimento e a fecundidade dos nematódeos ou, até mesmo, causando a
eliminação dos parasitas já estabelecidos no aparelho digestivo. Ainda, o
alimento pode afetar diretamente os helmintos ao conter compostos
antiparasitários, o que ocorre, por exemplo, com plantas ricas em tanino
condensado (COOP & KYRIAZAKIS, 2001). A propósito da resistência, fatores
etários, raciais, individuais e de condição fisiológica interferem na resposta do
hospedeiro contra os parasitas.
No que se refere aos ectoparasitas, destaca-se a prevalência dos ácaros
causadores da sarna, os piolhos, moscas e os carrapatos. Segundo Brito et. al.
(2005), os ectoparasitas levam a diminuição do apetite e consequentemente
ocasionam diminuição dos índices produtivos. Além disto, denigrem a
qualidade do couro utilizado na indústria, da mesma forma que agressões
físicas como arranhões por arame farpado, espinhos ou falha no processo de
retirada da pele levam a elevadas perdas econômicas. Desta forma, o devido
conhecimento das ectoparasitoses auxilia o produtor na prevenção destes
prejuízos.
A miíase é um termo utilizado como sinônimo de parasitose ocasionada
por larvas de moscas das mais diferentes espécies, porém, neste radar, vamos
dar uma atenção especial ao tipo mais comum de miíase em caprinos e ovinos,
que é a miíase ocasionada pelas larvas da Cochilyomyiahominivorax. Este tipo
de miíase é também chamado de bicheira e larva da lã entre outras
designações. A Cochilyomyiahominivorax é conhecida popularmente como
mosca varejeira, esta espécie de mosca põe vários ovos no mesmo local,
diferentemente da Dermatobiahominis, causadora do berne que possui como
característica a postura de apenas um ovo.
A sarna é uma ectoparasitose proveniente de ácaros das mais diferentes
espécies. A sarna psoróptica é a mais frequente nos ovinos lanados e é
ocasionada pelo Psoroptes ovis, que vive e se reproduz na pele dos animais,
alimentando-se do extrato córneo e restos celulares. Os animais parasitados
sofrem lesões na pele, que acarretam depleção na qualidade do couro e geram
sinais como prurido, inquietação, movimentos de coçar com as patas,
mordedura das partes afetadas, emagrecimento progressivo e queda de pelo e
lã. O tipo de sarna mais comum em cabras é a causada pelo Psoroptescuniculi.
Quanto aos piolhos, que são os ectoparasitas com maior frequência nos
rebanhos brasileiros, a principal estratégia de controle é a manutenção de uma
população reduzida dos mesmos, tanto nas instalações quanto no rebanho,
através da utilização de vassoura de fogo nos apriscos e pulverizações com
organofosforados ou piretróides, além da administração de antiparasitário do
grupo das avermectinas.(CRESPILHO et. al, 2005).
Já os carrapatos são os ectoparasitas menos comum nos ovinos e
quase ausentes nos caprinos, não possuindo tamanha importância como na
bovinocultura. Geralmente o carrapato que parasita ovinos é
o Boophilusmicroplus, muito frequente nos bovinos. Estes carrapatos parasitam
os ovinos quando há pastagens superinfestadas, condição que ocorre em
propriedades de clima úmido e quando há criação junto a bovinos,
principalmente quando há algum grau de sangue taurino. Os carrapatos
parasitam os ovinos nas regiões do corpo em que a pele é mais fina, ou seja,
face interna da coxa, úbere, escroto, pavilhão auricular e ao redor dos
batoques. O tratamento e o controle destes ectoparasitas devem seguir o
mesmo protocolo das sarnas (BRITO et. al, 2005).
No que se refere aos endoparasitas, a elevada prevalência, associada à
grande patogenicidade, faz de Haemonchuscontortusum dos principais
parasitas dos ovinos. Esse parasita é hematófago. As infecções pesadas
eventualmente culminam com a morte do animal. Trichostrongyluscolubriformis,
parasita do intestino delgado, é uma espécie muito comum em ovinos. Esses
vermes lesam a mucosa intestinal, provocando exsudação de proteínas séricas
para o intestino, em infecções com grande número de parasitas, os animais
podem apresentar anorexia, diarreia e edema submandibular (REINECK,
1983). Com frequência os animais também são parasitados por
Cooperiaspp.,Strongyloidesspp, e Oesophagostomumspp.
No entanto, as principais endoparasitoses são subclínicas e
compreendem, principalmente, fezes diarreicas de coloração escura e, às
vezes, com presença de muco e sangue, desidratação, perda do apetite,
debilidade orgânica generalizada e perda de peso (HOWARD, 1986). Além
dessas, Torres (1945) destaca a gastrinteriteverminótica. Em todos os casos,
normalmente, o início da sintomatologia clínica coincide com o aparecimento
de oocistos nas fezes (VIEIRA, 2000).
Nesse contexto, o objetivo deste estudo foi a investigação da presença
ou não de doenças parasitárias em ovinos criados em quatro diferentes
propriedades rurais da região Norte do Rio Grande do Sul, associando a
alterações hematológicas, (fezes, urina, ureia e hemograma)
2 MATERIAL E MÉTODOS
2.1 Animais Avaliados
O trabalho de campo compreendeu visitas a quatro propriedades rurais
da região Norte do Rio Grande do Sul, entre os dias 26 de abril e 5 de maio de
2014. Em todas elas, investigou-se a presença ou não de ectoparasitas nos
rebanhos. Para endoparasitas, foram selecionados de dois a quatro ovinos, nos
quais foram realizados exames clínicos de sangue, fezes e urina, além de uma
avaliação clínica. Os hemogramas foram realizados pelo Laboratório Lab Vita
Análise Clínicas, na cidade de Erechim (RS). Já a análise das fezes e urina
foram realizadas no Laboratório de Análises do Instituto de Desenvolvimento
do Alto Uruguai (Faculdade Ideau), na cidade de Getúlio Vargas (RS). As
quatro propriedades também tiveram as condições de manejo e o controle de
zoonoses avaliados.
A primeira propriedade visitada, em 26 de abril de 2014, localizava-se no
município de Estação (RS). Nela, foram avaliados 11 animais para a presença
de ectoparasitas e três para a avaliação de endoparasitas. O mesmo foi feito
na segunda propriedade, visitada também em 26 de abril de 2014, na cidade
de Getúlio Vargas (RS), onde foram avaliados dois animais para endo e cinco
para ectoparasitas.
A terceira propriedade, localizada em Tapejara (RS), foi visitada em 30
de abril de 2014. Nesta propriedade, coletou-se apenas material para exames
de sangue de três animais, avaliados quanto a endoparasitas. A quarta e última
propriedade, localizada no município de Aratiba (RS), foi visitada em 05 de
maio de 2014. Inicialmente, foram examinadas 37 ovelhas para ectoparasitas.
Quatro delas foram submetidas a exames clínicos e tiveram sangue e fezes
coletados, para a avaliação de endoparasitas.
2.2 Técnicas Utilizadas
Para a coleta de sangue, usou-se seringa EMBRAMAC 10 ml, Lote
1207113, e agulha BD Precision Glide 0,70 x 25mm (22G x 1”). Após ser
coletado pela veia femural, o material foi colocado, imediatamente, no tudo
VACUETTE 4 ml K3E K3 ácido etileno diaminotetracético (EDTA) Lote 1309008
e acondicionado em uma caixa de isopor na temperatura ambiente.
Já para a bioquímica (ureia), utilizou-se tubo 4 ml Labor IMPOT e
ativador de coágulo Lote 20130520, os quais também foram acondicionados
em caixa de isopor, na temperatura ambiente. Em seguida o material para
hemograma foi levado ao laboratório citado anteriormente.
Na realização dos hemogramas, foram usados, como material, sangue
com ácido etileno diaminotetracético (EDTA), e o método utilizado foi o
equipamento automatizado KX 21n – Sysmex. Já para a análise da ureia, fez-
se uso de soro, e do método Cinético U.V.
A coleta da urina aconteceu de forma natural. O material foi coletado
diretamente em pote apropriado, disponível no laboratório, e também
acondicionado em caixa de isopor, na temperatura ambiente. O mesmo foi feito
com as fezes, que precisaram de estímulos manuais para ser coletadas. Tanto
as fezes quanto a urina foram mantidas sob refrigeração, na geladeira, por dois
dias até as análises. Esse protocolo foi seguido em todas as propriedades
visitadas.
O exame de urina como foi realizado seguindo o método da fita: de pH
onde, colocou-se a urina em um tubo de ensaio, mergulhou-se a fita por 2
minuto. A partir de então, avaliaram-se as cores e os resultados em até 60
segundos, citado por NCCLS (1992).
Para o exame de fezes, utilizou-se a técnica Hoffman, Pons e Janer,
baseado em sedimentação simples, onde colocou-se o béquersobre a balança
zerada e pesou-se 3 mg do material biológico. Em seguida, foram adicionados
30 ml de água destilada e esmagou-se a mistura, com auxílio do bastão de
vidro, até homogenizá-la. Depois de ser coada, dentro de uma Placa de Petry e
reservada por 15 minutos, a mistura teve uma gota retirada da parte superior
com um conta-gotas. Esta foi aplicada sobre uma lâmina e coberta por uma
lamínula. Só então, o material foi levado para a análise microscópica.
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na primeira propriedade, não foram encontrados ectoparasitas em
nenhum dos 11 animais examinados. Nela, constatou-se que o manejo e o
controle de doenças do rebanho são realizados de forma correta. Para a
análise de endoparasitas, foram selecionados 03 ovinos: destes, todos
apresentaram mucosa (de olhos e boca) normal, frequência respiratória
também normal, temperatura corporal entre 39ºC e 41ºC e frequência cardíaca
levemente alterada, em função do estresse causado pela aferição. Nenhum
destes animais apresentou edema e todos eles tinham cascos em boas
condições de conservação e sem lesões.
Já na segunda propriedade, o controle de verminoses não se encontrava
atualizado. No entanto, não foram encontrados ectoparasitas no rebanho. Para
os exames clínicos, selecionaram-se dois ovinos: o primeiro apresentou
parâmetros normais de mucosas, temperatura corporal, frequência cardíaca e
respiratória. Deste, foram coletados sangue e fezes. O segundo apresentou
mucosas (olhos e boca) pálidas e não teve sangue coletado devido à
dificuldade de se encontrar a veia adequada.
Quanto à terceira propriedade, o local apresentou manejo correto e
controle de zoonoses e vacinação em dia. Também não foram encontrados
ectoparasitas. Os exames clínicos, por sua vez, foram realizados em três
animais: dois deles não apresentaram alterações, enquanto a terceira, prenhe,
apresentava mucosas (olhos e boca) levemente pálidas. Nesta propriedade,
coletou-se apenas material para exames de sangue.
Na quarta e última propriedade, constatou-se total conformidade quanto
ao manejo, controle de zoonoses e calendário de vacinação dos animais.
Inicialmente, foram examinadas 37 ovelhas, e nenhuma delas apresentou
ectoparasitas. Quatro delas foram submetidas a exames clínicos e tiveram
sangue e fezes coletados. Destas, todas apresentaram parâmetros normais,
exceto uma, em estado de prenhez, cujas mucosas (olhos e boca)
apresentaram-se levemente pálidas.
A análise dos resultados dos exames clínicos realizados em ovinos das
quatro propriedades visitadas está apresentada na tabela 1.
Tabela 1 Hemogramas1 de Ovinos da Raça Santa Inês
ANIMAL IDADE AVALIAÇÃO
1 30 dias Normal
2 3 meses Normal
3 6 meses Normal
4 1 ano e 3 meses Normal
5 3 anos Normal
6 3 anos e 5 meses Normal
7 (prenhe de 3 meses e meio)
4 anos Hemácias: baixa VCM: alto HCM: alto
8 (prenhe de 4 meses) 4 anos e 3 meses Hemácias: baixa Leucócitos: alto Plaquetas: baixa
9 5 meses Normal
10 4 anos e meio Normal
11 7 anos Normal
Exame realizado no equipamento automatizado KX 21n – Sysmex Amostra de sangue com Edta. No laboratório Lab Vita Análises Clínicas, em Erechim RS. Fonte: Vanusa Piccoli (2014).
O fato de os exames revelarem anemia (perda de ferro) nas duas
fêmeas prenhezes parece apontar para a toxemia da gestação, que resulta da
inabilidade da fêmea em encontrar glicose requerida por seus múltiplos fetos
nas últimas seis semanas de gestação (SARGISON, 2007; SMITH, 2002a).
Essa condição é causada por um balanço energético negativo resultante do
aumento da demanda energética devido ao rápido crescimento fetal no final da
gestação e insuficiente ingestão (GONZÁLEZ & SILVA, 2006). A propósito, a
toxemia da gestação é uma das principais doenças metabólicas que afetam
ovelhas e cabras, causando perdas econômicas devido à substancial
mortalidade entre esses animais, (ABDUL-AZIZ & AL-MUJALLI 2008). Também
cabe ressaltar fatores como a baixa qualidade de alimentação, o tempo muito
frio, a falta de exercício e o estresse por movimentação, os quais, da mesma
forma, contribuem para o aumento da incidência da patologia em questão
(SCHILD, 2007; SMITH, 2002a).
Nestes mesmos 11 ovinos foram realizados exames de ureia, com soro,
pelo método Cinético U.V., no laboratório Lab Vita Análises Clínicas, em
Erechim (RS). Com exceção do macho de 4 anos e meio, todos os outros
animais apresentaram resultados alterados. Conforme Santos & Greco (2007),
o fornecimento de dietas ricas em proteína, principalmente com elevada
quantidade de PDR, pode gerar um excesso de amônia no rúmen, que será
detoxificada no fígado, pelo ciclo da ureia, com gasto de energia. Assim, o
excesso de proteína ou de PDR na dieta pode elevar a concentração de N-
ureico no sangue (ELROD et al., 1993).
Na tabela 2, é possível observar que o pH é alcalino, pois os valores do
mesmo podem variar de 5-9. Em relação a proteína, obteve-se resultado falso-
positivo, em função da urina fortemente alcalina (pH 9). No entanto, considera-
se que tal resultado possa estar ligado ao fato de a urina ter permanecido em
temperatura ambiente por mais de duas horas (NCCLS, 1992).
Tabela 2: Análise de bioquímica, pH e leucócitos em ovinos da raça Santa Inês (Animal 5)
COMPONENTE AVALIAÇÃO
Bilirrubinas Negativo
Proteína ++100 (1.0)
Nitrito Negativo
Glicose Negativo
PH 9.0
Densidade 1000
Leucócitos Negativo
Exame de urina realizado no Laboratório da Faculdade Ideau de Getúlio Vargas (RS) Método: Tiras para Urinálises URIQUEST. Tira da Labtest.Fonte: Vanusa Piccoli (2014).
O exame parasitológico de fezes de ruminantes pode estimar a carga
parasitária através da contagem dos ovos dos parasitos presentes numa
quantidade conhecida de fezes. Assim, realiza-se a contagem de ovos por
grama de fezes (OPG). Este exame é realizado principalmente para auxiliar no
controle parasitário de caprinos, ovinos e bezerros. É importante também para
ajudar no diagnóstico da resistência anti-helmíntica.
Na técnica utilizada observou-se a presença de ovos de parasitas em
quatro animais e oocistos em um, sendo que todos hemogramas
apresentaram-se normais. Foram encontrados ovos semelhantes aos:
parasitas NeoascarisVitulorum, Strongyloide, Trichostrongylidae e Oocistos,
como apresentado na tabela 3.
Tabela3: Avaliação das fezes dos animais
ANIMAL IDADE PROPRIEDADE AVALIAÇÃO
12 2 meses 2ª NeoascarisVitulorum
9 5 meses 2ª Strongyloide
2 3 meses 1ª Família Trichostrongylidae2
5 3 anos 1ª Oocistos
4 1 ano e 3 meses 4ª Oocistos
Exame de fezes realizado no Laboratório da Faculdade Ideau de Getúlio Vargas (RS) Fonte: Vanusa Piccoli (2014).
No primeiro animal citado acima, verificou-se sinais de anemia, mas não
foi realizado hemograma.
O parasita Neoascarisvitulorum é um endoparasita de ampla distribuição
em áreas tropicais que se instala na parte inicial do intestino delgado dos
ruminantes. As fontes de infecção por essa espécie são a ingestão de larva
pelo leite materno (MIA, 1975; STARKE, 1992) ou a infecção
transplacentária(REFUERZO, 1954; CONNAN, 1985).O T. vitulorum pode
causar pneumonia verminosa durante a migração, além de provocar,
eventualmente, perfuração e obstrução intestinal (LEVINE, 1980), e seu índice
de mortalidade varia entre 30% e 50% dos animais infectados (LÁU, 1999). O
ciclo de vida desse parasito ocorre da seguinte forma: em temperaturas de 27 a
30ºC desenvolve-se a larva de 2º estágio no interior do ovo, tornando o mesmo
infectante aos 17 dias (LEVINE, 1980). Temperaturas e umidade inferiores a
27,5ºC e 80% de umidade relativa (UR) são críticas e os ovos morrem antes de
tornarem-se infectantes (ENYNIHI, 1969). A presença de ovos de T. vitulorum
nas fezes pode ser diagnosticada da 2ª a 20ª semana de idade com maior
concentração entre a 3ª e 4ª semanas (CONNAN, 1985). Após os quatro
meses de idade ocorre a expulsão natural destes nematoides e,
consequentemente, a queda brusca na contagem de ovos presentes nas fezes,
o ovo semelhante ao deste parasita está demonstrado na figura 1.
Foto 1: NeoascariaVitulorum. Fonte: Sabrina Pavan Flores (2014)
O parasita Strongyloidesp, é umendoparasita que age no intestino
delgado, duodeno e jejuno, causando enterite catarral com hemorragias
petequiais no duodeno e jejuno, levando o animal à diarreia e à redução no
ganho de peso, (MORGAN, 1949; VERGOS & PORTER, 1950; VERGORS
1954), citados por Levine (1980); (Griffths, 1974). Segundo Bathia (1992), este
parasita é citado por muitos autores como o de maior prevalência em animais
jovens.
A transmissão transcutânea de Strongyloidesp só ocorre através da
penetração de larvas infectantes na pele através de fissuras, feridas e folículos
pilosos. Ao penetrar no animal, as larvas chegam aos pulmões através de
vasos sanguíneos. Nos pulmões as larvas rompem os alvéolos, migram na
traqueia e passam para o esôfago onde são deglutidas. Os ovos produzidos
pelas fêmeas adultas no intestino são eliminados nas fezes. No ambiente estes
podem dar origem a larvas haploides, diploides ou triploides que originarão
respectivamente adultos machos de vida livre, fêmeas de vida livre e fêmeas
triploides com capacidade de realizar reprodução partogenética no ciclo direto.
Os machos haploides e fêmeas diploides farão o ciclo indireto, se reproduzirão
no ambiente dando origem a ovos triploides (FREITAS, 1976). Após serem
ingeridas, as larvas triploides atingem o intestino delgado e chegam à forma
adulta 120 horas após a infecção. No intestino delgado as fêmeas realizam a
reprodução através de partenogênese (LEVINE, 1980), ondeos ovos
semelhantes aos deste parasita encontrado nas amostras fecais está
demonstrado na figura 2.
Foto 2: Strongyloides. Fonte: Sabrina Pavan Flores (2014)
A família Trichostrongylidae que são endoparasitas muito comuns em
ruminantes, agridem o organismo do animal parasitado, causam alterações na
área e no número de vilosidades do trato gastrointestinal, redução no número
de glândulas funcionais do intestino e permitem a infiltração de linfócitos e
outros leucócitos na lâmina própria. Ocorre um aumento da permeabilidade
vascular e diminuição da atividade das enzimas digestivas (BENZ, 1985). Estas
lesões são mais frequentes na mucosa do duodeno e na região proximal do
jejuno devido à maior concentração dos trichostrongilídeos nesta região
(SYMONS, 1969). As espécies animais susceptíveis aostrichostrongilídeos,
quando parasitados, manifestam diarreia, anorexia, mucosas e membranas
conjuntivas pálidas, perda de brilho dos pêlos, diminuição da conversão
alimentar com emagrecimento progressivo, debilidade e edema submandibular
(BENZ, 1985; GIBBS, 1986; FREITAS, 1976).
Existem épocas do ano em que as condições de meio ambiente são
favoráveis ao desenvolvimento e à migração de larvas nematoides nas
pastagens em países de clima tropical e temperado. A disseminação
dostrichostrongilídeos entre os ruminantes é facilitada pela umidade durante a
estação chuvosa (FREITAS, 1976; MELO, 1977; WILLIANS, 1986). Os
manejos dos animais e da pastagem utilizados na propriedade também
interferem diretamente na disponibilidade de larvas infectantes e na reinfecção
dos animais.O desenvolvimento e eclosão da larva de primeiro estágio (L1) são
influenciados principalmente pela temperatura e umidade.A água é um
importante veículo utilizado pelas larvas para a migração nas pastagens e
infecção dos animais. As larvas também podem ser carreadas por tratores,
patas de animais, transporte de esterco tornando-se disponíveis para infectar
outros animais ou reinfectar o hospedeiro precedente(GREEVE, 1985;
WILLIANS, 1986), os ovos encontrados semelhantes aos desta família, estão
demonstrados nas figuras 3 e 4.
Foto 3: Família Trichostronngylidea. Fonte: Sabrina Pavan Flores (2014)
Foto 4: Avaliação de exemplar de família Trichostronngylidea a partir de ovos de ovinos. Fonte:
Sabrina Pavan Flores (2014)
O protozoário Eimeriaé um endoparasita que ataca, sobretudo, ovinos
jovens e causa enterite, embora a seja uma espécie pouco patogênica É
própria de explorações com altas densidades populacionais, falta de higiene e
estresse o contágio se dá pelo contato fecal-oral. O contágio inicial pode
produzir-se nas primeiras semanas de vida, quando o borrego adquire oocistos
aderentes ao teto da ovelha. A partir da 2ª- 4ª semana os borregos podem
iniciar a eliminação de oocistos, que pode ser aos milhões e logo num período
em que os animais são muito sensíveis à doença. No aleitamento artificial a
contaminação pode advir do período colostral, ou por contaminação fecal do
alimento ou dos utensílios, mas é menos frequente se tomarem medidas
corretas de higiene mais tarde, é possível a infecção a partir de oocistos
sobreviventes do ano anterior, que podem ser muito numerosos nas pastagens,
e são ingeridos pelos borregos que andam com as suas mães, especialmente
se trata de pastoreio melhorado ou de outros cultivos de utilização secundária,
que permitem elevada densidade de pastoreio (CORDERO DEL CAMPILLO &
ROJO VÁZQUEZ, 2002), os oocistos encontrados semelhantes aos de Eimeria
estão demonstrados nas figuras 5, 6 e 7.
Foto 5: Visualização de exemplar de oocisto a partir de ovos de ovinos. Fonte: Sabrina Pavan
Flores (2014)
Foto 6: Idem anterior Oocitos. Fonte: Sabrina Pavan Flores (2014)
Foto 7: Idem anterior Oocitos. Fonte: Sabrina Pavan Flores (2014)
Convém ressaltar que conforme demonstraram os resultados dos
exames clínicos, animais que apresentaram alterações em seus respectivos
hemogramas não continham parasitas. Já os parasitados apresentaram
hemogramas normais, uma vez que se tratava de parasitismo subclínico, caso
em que os animais não apresentam sintomas da doença, apesar de terem a
sua saúde e produtividade afetadas. Os animais com o sistema de defesas
mais debilitado são os mais susceptíveis as doenças, podendo
apresentar sintomas clínicos (PERRI, 2011).
4 CONCLUSÃO
As análises dos dados apresentam, ao mesmo tempo, a ausência de
ectoparasitas e a presença de um número considerável de endoparasitas
diversos, Neoscariavitulorum,Strongyloides, família Trichostronngylidea,
Eimeriae Oocistos das espécies mais comuns, nos ovinos das propriedades
visitadas. A explicação para tal fato parece estar diretamente relacionada às
práticas de manejo adotadas pelos criadores da região Norte do Estado do Rio
Grande do Sul. Dito de forma mais ampla, observa-se que as condições para o
aparecimento dos parasitas encontrados estão diretamente ligadas aos
cuidados com a higiene e com as condições climáticas a que os rebanhos são
submetidos. Todos esses fatores, por sua vez, pressupõem a intervenção
humana.
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