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AVALIAÇÃO DA SUSCETIBILIDADE A MOVIMENTOS DE MASSA
GRAVITACIONAIS EM MARGENS DE CURSOS D’ÁGUA DA CIDADE DE
RIO BRANCO (AC).
SUSCEPTIBILITY ASSESSMENT TO GRAVITATIONAL MASS MOVEMENTS IN RIVER
BANKS OF RIO BRANCO CITY, BRAZIL.
Ricardo Ribeiro do NASCIMENTO1, Gustavo Ferreira SIMÕES2
(1) Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas – CCET/UFAC. Bloco Omar Sabino, Campus Universitário. BR-364, km 4. Distrito
Industrial, 69.920-900. Rio Branco/AC. Endereço eletrônico: [email protected]
(2) Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental. Escola de Engenharia da UFMG, Av. Antônio Carlos, 6627 -
Pampulha 31270-901. Belo Horizonte /MG. Endereço eletrônico: [email protected]
Introdução
Área de Estudo
Materiais Procedimentos Metodológicos
Resultados e Discussão
Conclusões Agradecimentos
Referências
RESUMO - Este artigo apresenta os resultados do estudo de avaliação da suscetibilidade a movimentos de massa gravitacionais que
foi realizado em duas áreas marginais da cidade de Rio Branco-AC. O estudo baseou-se na análise integrada de informações básicas
do meio físico. Essas informações foram sistematizadas em um banco de dados georreferenciado e permitiram individualização dos
terrenos em unidades fisiográficas, cujas características geológico-geotécnicas foram avaliadas frente aos processos geodinâmicos
mapeados. Os resultados consistem principalmente na carta de suscetibilidade em escala 1:5.000, obtida como o resultado da inter-
relação das unidades mapeadas e dos fatores indutores dos processos deflagrados.
Palavras-chave: Movimento de massa gravitacional. Suscetibilidade. Rio Branco. Acre. Brasil.
ABSTRACT - This article presents the results of the evaluation study of the susceptibility to gravitational mass movements, which
was carried out in two marginal areas of the city of Rio Branco-AC, Brazil. The study was based on an integrated analysis of basic
environmental information. The information was systematized in a geographic database and allowed individualization of the area into
physiographic units, in which geological-geotechnical characteristics were evaluated by comparison with the mapped processes. The
results consist mainly of the susceptibility chart in 1:5,000 scale, obtained from the interrelation between the mapped units and the
inducing factors of the triggered processes.
Keywords: Gravitational mass movement. Susceptibility. Rio Branco. Acre. Brazil.
INTRODUÇÃO
Em alguns canais fluviais do sistema
hidrográfico amazônico, como o rio Acre e
seus tributários, são observadas diversas
feições de instabilidade com características
muito peculiares. Conhecidas, regionalmente,
pela designação de Terras Caídas, essas
formas de instabilidade são decorrentes de
processos geodinâmicos externos que podem
associar, em uma mesma unidade de
paisagem, diferentes tipos de movimentos de
massa gravitacionais.
Embora não ocasionem um elevado
número de vítimas fatais, processos dessa
natureza têm causado, direta ou
indiretamente, danos extensos às propriedades
em diversas cidades da região Norte do
Brasil.
Em razão da falta do necessário
conhecimento, principalmente, sobre a gênese
dos processos, há uma imensa dificuldade
para se equacionar, de forma clara e objetiva,
as porções do relevo mais favoráveis ao
desenvolvimento desses fenômenos naturais,
o que muitas vezes, resulta em projetos
construtivos inadequados e no planejamento
deficiente da ocupação dessas áreas.
Entende-se, portanto, que os mapeamentos
voltados à caracterização e avaliação
geotécnica dos terrenos podem fornecer
subsídios importantes à problemática abordada,
à medida que promovem a indicação das
características e comportamentos dos terrenos
em função da avaliação pretendida (Fernandes
& Cerri, 2011).
Vedovello (2000) destaca que as
potencialidades e limitações dos terrenos
devem ser avaliadas com base no entendimento
dos mecanismos associados ao fenômeno
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geológico avaliado e como esses se associam
aos diferentes tipos de relevo e materiais
geológicos.
Dentre os procedimentos de aquisição de
dados mais usados em mapeamento
geotécnicos, destaca-se a inferência realizada a
partir da compartimentação de terrenos em
unidades fisiográficas homogêneas, para as
quais é possível obter determinadas
informações sobre características e
comportamentos que as diferem das demais,
podendo-se, assim, antecipar as consequências
diretas e indiretas decorrentes do fenômeno
avaliado (Rodrigues et al., 2014).
Frente ao exposto, o objetivo deste trabalho
é contribuir para o melhor conhecimento de
algumas características geológico-geotécnicas
que se relacionam com processos de
instabilidade atuantes nas margens em cursos
d’água de uma região pouco estudada sobre
esse tema, que é a cidade de Rio Branco (Figura
1), capital do estado do Acre.
Sob a perspectiva de que essa região é
frequentemente atingida por movimentos de
massa gravitacionais, procurou-se caracterizar
os tipos de movimentos de massa gravitacionais
a partir da análise integrada dos componentes
do meio físico (relevo, cursos d’água e
materiais geológicos), visando o zoneamento da
região em diferentes classes de suscetibilidade.
Figura 1 - Localização do município de Rio Branco.
ÁREA DE ESTUDO
A área de estudo abrange duas faixas de
terrenos adjacentes aos principais cursos d’água
da área urbana de Rio Branco, o rio Acre e o
igarapé São Francisco. Essas áreas receberam
as designações “área rio Acre” e “área igarapé
São Francisco” para indicar o canal com o qual
se limitam, como pode ser observado na Figura 2.
O rio Acre, com uma largura média de
100m, é o maior canal de drenagem do
município. Na área urbana de Rio Branco, o
igarapé São Francisco é o maior afluente do rio
Acre. Com largura média de 15m, este curso
d’água é o principal responsável pela
macrodrenagem local, respondendo por cerca
de 70% da drenagem natural (Hid, 2000).
Uma característica marcante desse sistema
fluvial para promoção de movimentos de massa
gravitacionais diz respeito à relação entre as
chuvas e as descargas dos canais.
O regime pluviométrico da região é
caracterizado por um período chuvoso, cujo
trimestre mais crítico, ocorre entre janeiro e
março e é responsável por cerca de 40% da
precipitação total anual (1.944mm).
A distribuição temporal das chuvas nessa
região resulta em alterações bruscas da cota dos
canais, refletindo diretamente nas
características da geomorfologia da Bacia em
que os mesmos estão inseridos (Latrubresse,
1992).
Em Rio Branco, foram registrados, pela
Coordenadoria de Defesa Civil Estatual,
entre 1971 e 2016, 23 eventos de enchentes
no rio Acre, com vazões acima de 900m³/s,
entre os meses de janeiro e março, com cotas
superiores a 13,0m; e 11 eventos de vazões
inferiores a 50m³/s, relacionadas a níveis
inferiores a 1,8m.
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Figura 2 - Localização das áreas de avaliação.
Uma característica marcante desse sistema
fluvial para promoção de movimentos de massa
gravitacionais diz respeito à relação entre as
chuvas e as descargas dos canais.
O regime pluviométrico da região é
caracterizado por um período chuvoso, cujo
trimestre mais crítico, ocorre entre janeiro e
março e é responsável por cerca de 40% da
precipitação total anual (1.944mm).
A distribuição temporal das chuvas nessa
região resulta em alterações bruscas da cota dos
canais, refletindo diretamente nas
características da geomorfologia da Bacia em
que os mesmos estão inseridos (Latrubresse,
1992).
Em Rio Branco, foram registrados, pela
Coordenadoria de Defesa Civil Estatual, entre
1971 e 2016, 23 eventos de enchentes no rio
Acre, com vazões acima de 900m³/s, entre os
meses de janeiro e março, com cotas superiores
a 13,0m; e 11 eventos de vazões inferiores a
50m³/s, relacionadas a níveis inferiores à 1,8m.
O revelo local é sustentado por rochas
sedimentares, de origem continental e de idade
cenozoica, constituídas basicamente por
argilitos e siltitos, maciços ou finamente
laminados, pertencentes à Formação Solimões
(Brasil, 1976).
Sob o aspecto geomorfológico, o trecho
selecionado envolve regiões com características
ambientais específicas, visto que atravessa duas
províncias distintas: a Depressão do Rio Branco
e a Planície Amazônica (Acre, 2006).
A Depressão do Rio Branco é caracterizada
por apresentar colinas suaves com topos
aplainados ou pouco convexos e vales em V
com baixo grau de dissecação. Nessa unidade
predominam solos plásticos, com textura
argilosa ou argilo-siltosa, sotopostos em
discordância angular com as rochas
sedimentares da formação do Solimões (Acre,
2006; Cavalcante, 2006).
A Planície Amazônica se forma por
colmatagem de sedimentos em suspensão e pela
construção de planícies e terraços orientada por
ajustes tectônicos e acelerada por evolução de
meandros. Os padrões de drenagem nela
presentes são o meândrico e o anastomosado,
indicando ajuste hidrodinâmico em áreas
rebaixadas. Ela é caracterizada por vários níveis
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de terraços e as várzeas recentes, com diques e
lagos de meandro (Acre, 2006; Latrubresse,
1996).
Na área de estudo, Latrubresse (1992)
observou que esta unidade é composta pelos
depósitos aluviais quaternários e sedimentos
recentes, que fazem parte da planície de
inundação do rio Acre. Feres (1998) e Maia
(2003) observaram que os materiais
inconsolidados presentes nesta unidade
apresentam espessura variável e são
constituídos por areias finas, com intercalações
entre camadas orgânicas e solos moles.
Devido à distinção de contextos geológico e
geomorfológico, os movimentos de massa
gravitacionais atuantes nas áreas avaliadas se
processam com intensidade e características
distintas.
Os rastejos e os escorregamentos rotacionais
são os movimentos de massa gravitacionais
mais significativos nessa região, devido ao
volume da massa movimentada e por causarem
perdas materiais significativas às ocupações ali
presentes (Oliveira & Ferreira, 2006).
MATERIAIS
As informações utilizadas nesta pesquisa
foram obtidas por meio de trabalhos de campo,
produtos cartográficos existentes e imagens de
sensoriamento. Os principais materiais
utilizados foram:
Mosaico digital de fotografias aéreas de
2013, com resolução espacial de 5 metros,
em escala 1:5000, desenvolvidos pela
empresa Aeroimagem S/A, obtidas por meio
de uma câmera aerofotogramétrica digital –
LEICA ADS-80;
Mapa topográfico digital da área urbana,
com curvas de nível equidistantes de um
metro na escala 1:5.000, obtido por
perfilamento a laser aerotransportado no ano
de 2013;
Base cartográfica em escala de 1:5.000, do
ano 2013, contendo planos de informações
de logradouros, lotes, cursos d’água, bairros
e áreas inundáveis;
Dados fluviométricos do período de 1970 a
2014 cedidos pela Coordenadoria de Defesa
Civil Estadual;
Relatório geológico-geotécnico desenvol-
vido por Oliveira e Ferreira (2006);
Banco de dados de sondagem do tipo SPT
(Standard Penetration Test) contendo 23
perfis inseridos na área de estudo.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O desenvolvimento do trabalho foi
organizado em três etapas principais,
fundamentando-se na análise integrada das
características do meio físico para definir das
unidades da paisagem e inferir sobre os fatores
exógenos atuantes.
Inicialmente, procedeu-se uma pesquisa
bibliográfica e documental que subsidiou o
desenvolvimento de uma base teórico-
metodológica, a construção de um banco de
dados geográfico e a definição de critérios para
avaliação dos terrenos. A etapa seguinte
consistiu no tratamento das informações
disponíveis com duas finalidades principais:
realizar uma compartimentação fisiográfica
preliminar dos terrenos e identificar áreas com
sinais ou evidências de instabilidade. Por fim,
os esforços concentraram-se na realização de
trabalhos de campo que visaram à
caracterização geotécnica das áreas
compartimentadas e à identificação de fatores
relacionados aos processos deflagrados.
Os procedimentos de compartimentação
iniciaram com a identificação de áreas
homogêneas quanto à morfologia do relevo. As
principais feições foram delineadas com base
na construção e análise de planos de
informações, como descrito a seguir:
P1 (Modelo digital do terreno ou MDT) –
Foi gerada uma grade triangular, com o
módulo 3D Analyst do Programa ArcGIS,
utilizando-se a rotina TIN para interpolação
das curvas de nível. Posteriormente, essa
grade foi convertida para o formato matricial
com malha regular de 5x5m. Então,
considerando a escala de trabalho e
reconhecendo a importância do MDT para o
sucesso das etapas subsequentes, procedeu-se
à correção de imperfeições nesse plano de
informação, por meio da remoção de
depressões espúrias. Para tanto, fez-se uso da
ferramenta Hydrology (Spatial Analyst).
P2 (Modelo Sombreado) – Utilizando-se o
MDT como dado de entrada, foram geradas
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três imagens sombreadas com a ferramenta
Hillshade (Spatial Analyst). Essas imagens
foram geradas em azimutes distintos (135º,
180º e 255º), permitido a elaboração de uma
composição de bandas RGB (Composite
Bands da caixa de ferramentas do
ArcToolbox).
P3 (Mapa de compartimentos) – Com base
no plano P2, foram identificadas as linhas de
ruptura de declive, que permitiram definir a
segmentação dos terrenos em polígonos
representativos de superfícies aplainadas
(planícies e topos) e superfícies inclinadas.
O passo seguinte foi a caracterização de cada
compartimento quanto aos atributos declividade
e amplitude. Um plano de informações
referente à declividade foi gerado por meio do
MDT, com a função Slope do módulo Spatial
Analyst. A declividade predominante em cada
compartimento foi obtida por meio do operador
Zonal Statistics, com a opção mean.
Para definição das classes de declividade,
foram levados em conta os trabalhos Amaral et
al. (2015) e De Biase (1970), que permitiram
estabelecer os seguintes intervalos e
comportamentos: 0 a 3% e 3 a 6% (superfícies
aplainadas ou em declives suaves com
escoamento superficial lento a médio); 6 a 12%
(superfícies pouco inclinadas, geralmente, com
relevo ondulado e escoamento superficial
médio); 12 a 20% (superfícies inclinadas,
geralmente, com relevo ondulado e escoamento
superficial médio a rápido); maior que 20%
(superfícies de grande inclinação do terreno e
escoamento superficial rápido).
A amplitude foi obtida com operador
Zonal Statistics, entretanto com a opção
range. As classes desse atributo foram
estabelecidas com base nas características do
relevo local, em que foram definidos os
seguintes intervalos: menor que 10m; 10 a
20m; maior que 20m.
O mapa de unidades compartimentadas foi
cruzado com o mapa geológico de Oliveira e
Ferreira (2006), o que possibilitou um
enquadramento preliminar dos compartimentos
quanto ao setor geomorfológico com base na
estimativa dos materiais geológicos presentes
em cada compartimento.
Os trabalhos de campo associados à análise
das sondagens SPT objetivaram a obtenção de
dados relacionados com a textura e a espessura
dos materiais inconsolidados, os tipos
litológicos, a presença de nível freático e as
características dos processos atuantes. Os dados
contidos nos boletins de sondagem foram
confirmados e extrapolados para outras áreas
com semelhança morfológica, com base na
análise táctil-visual de perfis de alteração
expostos em taludes marginais e cortes nos
terrenos. Os dados referentes aos sinais de
instabilidade foram registrados em fichas de
campo, com informações sobre o tipo de
material mobilizado, a posição em relação às
drenagens e, quando possível, sobre o período
de ocorrência do evento.
As unidades decorrentes da comparti-
mentação preliminar constituíram a base para o
armazenamento dos dados geotécnicos,
permitindo que os diferentes compartimentos
fossem categorizados em Unidades Geológico-
Geotécnicas (UGGs) e Subunidades Geológico-
Geotécnicas (SUGGs). As UGGs representam
grupos de compartimentos de um mesmo setor
geomorfológico, cujas características são
semelhantes quanto ao domínio litológico, à
textura e à disposição das camadas de materiais
inconsolidados. As variações morfológicas de
cada compartimento, notadamente relacionadas
à declividade e à amplitude, foram descritas na
forma de SUGGs.
Foram cadastradas como áreas instáveis, as
regiões em que ocorrem cicatrizes de
escorregamentos rotacionais e/ou evidências de
rastejo. As áreas que apresentaram uma série de
rupturas combinadas ou sucessivas foram
designadas como “Áreas de Múltiplas Feições –
AMF”, de modo que foi utilizada a seguinte
nomenclatura para descrever as áreas instáveis:
Área com única cicatriz de escorregamento
rotacional (AE).
Área com várias cicatrizes de escor-
regamentos rotacionais (AMFe).
Área com cicatrizes de escorregamentos
rotacionais e com evidências generalizadas
de rastejo (AMFer).
A ocorrência do rastejo foi avaliada de modo
indireto, por meio do registro de evidências
(árvores, muros e construções inclinadas,
degraus de abatimentos, trincas no solo e em
construções).
Na Figura 3 estão indicados alguns sinais de
movimentação que possibilitaram classificar
uma feição como AMFer.
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A definição do grau de predisposição dos
diferentes tipos de SUGGs baseou-se na
hierarquização de seus respectivos atributos, de
acordo com a maior ou menor influência que
essas características exercem no condiciona-
mento dos processos geodinâmicos. Nesse
sentido, foram considerados, em ordem
decrescente, os seguintes atributos: declividade,
material de cobertura inconsolidada e a
concentração de processos.
Figura 3 - Delimitação de uma área com multiplas feições (AMFer).
Os trabalhos realizados permitiram inferir
que os processos considerados estão
intrinsecamente associados aos efeitos causados
pela infiltração das águas de chuva e pelas
solicitações impostas pela dinâmica fluvial
(erosão e oscilação de nível).
Conquanto seja reconhecido o papel da
pluviosidade como agente desestabilizador de
taludes e encostas, essa variável não foi
introduzida na análise, pois os dados
disponíveis não permitiram que se
estabelecesse uma relação espacial ou temporal
entre esse fator e os eventos cadastrados.
A influência da dinâmica fluvial foi avaliada
por meio da introdução de fatores relacionados
à distribuição da velocidade da água (perfil
longitudinal da margem) e à área da unidade
sujeita à inundação periódica.
Sabe-se que, em canais com o padrão
meandrante, as zonas de máxima velocidade e
turbulência, encontram-se nas proximidades das
margens côncavas decrescendo em direção das
margens de menor profundidade, convexas
(Durlo & Sutili, 2012). O perfil longitudinal da
margem busca descrever, de maneira
qualitativa, esta influência na estabilidade
global do compartimento, de modo que foram
definidas as seguintes classes para este fator:
Ausente; Côncava; Convexa; Retilínea e
Sinuosa.
A área sujeita à inundação periódica foi
estimada tomando-se as cotas 132m e 134m do
mapa topográfico; que são corriqueiramente
utilizadas pela Defesa Civil de Rio Branco
para identificar as áreas suscetíveis a
inundações periódicas e excepcionais. Foram
definidas três classes para este fator: NI (não
inundável), relacionada aos compartimentos
totalmente inseridos em cotas superiores ao
leito maior; PI (parcialmente inundável), que
são pertinentes aos compartimentos que
apresentam no máximo 1/3 de sua área sobre o
leito maior; I (inundável), associada às
unidades totalmente inseridas no leito menor
ou com mais de 1/3 da área sobre o leito
maior.
A tomada de decisão quanto ao grau de
suscetibilidade resultou da combinação entre o
grau de predisposição das subunidades
geológico-geotécnicas para o desenvolvimento
Via interrompida
Limite da área com instabilidade
Escorregamentos rotacionais, sinais de
rastejo e degraus de abatimento
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de eventos e os fatores de indução
considerados.
A importância relativa desses elementos foi
estimada por meio da rotina de apoio à decisão
denominada de Processo de Análise
Hierárquico – AHP (Saaty, 1990).
O AHP é uma técnica de análise baseada em
uma árvore de decisão, que consiste em
formalizar a compreensão intuitiva de
problemas complexos, mediante a um modelo
hierárquico conceitual, nos quais, os
julgamentos realizados, são comparados e
avaliados por meio da obtenção de pesos
normalizados para cada critério avaliado.
Alguns exemplos de sua aplicação em estudos
relacionados à movimentos de massa
gravitacionais podem ser encontrados em
trabalhos como: Rodrigues & Zuquete (2006);
Faria & Augusto Filho (2011); Paula & Cerri
(2012); Kayastha et al. (2013).
Seguindo a sistemática do AHP, descrita por
Saaty (1990) na qual os critérios de decisão
foram estruturados em matrizes quadradas e
recíprocas, posteriormente, comparados aos
pares, conforme escala predefinida apresentada
na tabela 1.
As operações matemáticas que permitiram
a obtenção desses pesos normalizados foram
realizadas por meio do programa ASSISTAT
7.7 (Silva & Azeredo, 2009). Uma vez que as
comparações e os pesos relativos foram
estabelecidos, fez-se a aferição da coerência
dos julgamentos, considerando-se, para tal, os
valores de razão de consistência menores ou
iguais a 0,10, como preconiza o método AHP.
O grau de suscetibilidade para cada
compartimento foi obtido a partir da
combinação linear entre os pesos de critérios e
classes, por meio da seguinte equação:
(1)
Em que: IS é o índice de suscetibilidade
natural no compartimento i; PRCi é peso
relativo normalizado do critério no
compartimento i; PRli é o peso relativo
normalizado da classe presente no
compartimento i; n é número de critérios.
Por fim, os resultados foram validados
através da sobreposição entre mapa gerado e o
grupo de feições cadastradas.
Tabela 1 - Escala de julgamento de importância (modificada de Saaty, 1990).
Valores
numéricos
Termos
verbais Comentário
1 Igual
importância
Os dois fatores contribuem igualmente no favorecimento a ocorrência do
evento
3 Moderada
importância
O julgamento é ligeiramente favorável a um fator em relação ao outro para o
desencadeamento do evento
5 Forte
importância
O julgamento é fortemente favorável a um fator em relação para o
favorecimento à ocorrência do evento
7 Muito forte
importância
O julgamento mostra que um fator é fortemente favorecido em relação ao outro
e sua predominância pode ser demonstrada na prática
9 Extrema
importância
A evidência favorece um fator em relação ao outro, com grau de certeza
elevado, indicando que um atributo é absoluto em relação ao outro
2,4,6 e 8 Valores
intermediários
Quando os fatores apresentam grau de importância intermediária entre as
definições anteriores
Recíprocos
dos valores
São os valores
inversos Refere-se aos valores inversos
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os trabalhos de campo associados à análise e
interpretação de produtos de sensoriamento
remoto permitiram a delimitação de áreas com
sinais ou evidências de instabilidade e a
compartimentação dos terrenos em unidades e
subunidades geológico-geotécnicas.
Os procedimentos adotados permitiram iden-
tificar três Unidades Geológico-Geotécnicas
que estão associadas aos setores geomor-
fológicos da Depressão do Rio Branco e da
Planície Amazônica. Essas unidades foram
segmentadas em 17 subunidades para repre-
sentar as variações quanto à declividade e à
amplitude dos compartimentos.
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A distribuição dessas áreas é apresentada na
Figura 4 e a descrição de suas características
geológico-geotécnica encontra-se, de forma
resumida, nos quadros 1 e 2.
Figura 4 - Mapa de compartimentos geológico-geotécnicos.
O setor geomorfológico da Depressão do
Rio Branco responde por 73% da área de
estudo. Desse total, 44% estão representados
pelas colinas da Formação Solimões, em que
predominam as subunidades SR3 (21%) e
SVM3 (19%). A unidade V responde por
29% da região de estudo e é caracterizada
por apresentar baixa declividade, em que
somente 5% dos terrenos apresentam
declividade superior a 6%.
No setor geomorfológico da Planície
Amazônica, os terrenos estão essencialmente
inseridos na subunidade QP (71%), as
demais áreas estão distribuídas na
subunidade QVA2 (25%) e QVM2 (4%).
Os registros de movimentos de massa
gravitacionais totalizaram 12,3% da região de
estudo e corresponderam à 65 áreas com
escorregamentos rotacionais (48 do tipo AE e
17 do tipo AMFe) e oito com áreas com
escorregamentos rotacionais e rastejos
(AMFer), totalizando 73 feições cadastradas.
Esses registros estão apresentados na Figura
5, assim como a localização das seções
geológico-geotécnicas utilizadas para
caracterização dos processos.
Em termos de abrangência, aproxima-
damente 46% das feições ocupam área
menor que 1000m², 30%, entre 1.000 e
10.000m² e somente 5% apresentaram mais
de 100.000m². A maior delas, classificada
como AMFer, apresenta em torno de
551.578m².
Para uma melhor compreensão sobre a
distribuição dos registros de processos
geológicos, elaborou-se um gráfico de barras
(Figura 6) que exibe a concentração de áreas
instáveis por subunidade geológico-
geotécnica. As SUGGs que não possuem
qualquer registro de instabilidade foram
excluídas desse gráfico.
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Figura 5 - Áreas instáveis cadastradas.
Figura 6 - Distribuição das ocorrências por tipo de SUGG.
Pela leitura da Figura 6, fica evidente que os
escorregamentos rotacionais (AE e AMFe) estão
essencialmente concentrados no leito fluvial, que é
caracterizado pelas SUGGS: QVA, QVM e VVA.
As feições cadastradas como AMFe indicam
uma maior incidência de escorregamentos nas
SUGGS QVA2, QVM2, desse modo, eviden-
ciando a fragilidade dos taludes formados por
sedimentos fluviais perante as solicitações
hidrodinâmicas.
A conjugação de escorregamentos e rastejo
(AMFer) foi evidenciada somente na Formação
Solimões, cujos sinais de movimentação básica-
mente se concentram na SUGG SVM3 (90%).
Para os trabalhos que envolvem a previsão da
ocorrência de movimentos de massa gravita-
cionais de qualquer natureza, em encostas
naturais, é importante que se tenha em mente que
os mesmos ocorrem a partir de uma sequência de
eventos e/ou estágios, cuja caracterização é muito
importante. Nesse sentido, foram construídas as
seções geológico-geotécnicas cuja localização
está indicada na Figura 5 e as mesmas,
apresentadas, nas Pranchas 1 a 6, juntamente com
a descrição das evidências, dos materiais
geológicos, além de registros fotográficos.
As seções AB, CD e EF ilustram a transição
entre a Unidade S e o terraço que acompanha o
rio Acre (Unidade Q); as seções GH, IJ e KL, a
transição das colinas da Unidade S para o vale
fluvial que acompanha o igarapé São Francisco
(Unidade V).
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Prancha 1 - Seção AB - síntese do relevo, do substrato geológico e processos geológicos.
Seção esquemática do relevo e substrato geológico Registro fotográfico
Legenda: [ag/st] argila siltosa [st/ag] silte argiloso [st/ar] silte arenoso
[Rst] siltito [Rag] argilito [E] espessura da camada
SUGG Feição Descrição das evidências
SVM3 AMFer
Escorregamentos concentrados entre as cotas 120 e 140 m. Os mesmos envolvem solos argilo-
siltosos e causam a exposição da rocha sedimentar (Foto A). Ocorrem degraus de abatimento
com altura entre 0,4 e 2,2m no topo e a meia encosta, além de evidência generalizadas do
rastejo.
QVA2 AMFe
Cicatrizes de escorregamentos sucessivas ao longo da margem envolvendo sedimentos fluviais
(Foto B), com rupturas da base ao topo da margem. Escarpas nas cicatrizes com altura entre 2 e
6m.
QP - Sem evidências (área plana)
Prancha 2 - Seção CD - síntese do relevo, do substrato geológico e processos geológicos.
Seção esquemática do relevo e substrato geológico Registro fotográfico
Legenda: [ag/st] argila siltosa [ag/lt] argila com concreções lateríticas [ar/st] areia siltosa
[ag/ar] argila arenosa [Rag] argilito [E] espessura da camada
SUGG Feição Descrição das evidências
SVM3 AMFer
As cicatrizes de escorregamentos estão concentradas na seção inundável e no topo da encosta.
Ocorrem degraus de abatimento com altura entre 0,4 e 2,2m e trincas de tração com centenas de
metros de extensão (Foto A) no topo e a meia encosta. As evidências de rastejo são
generalizadas e há um incremento de sua taxa de deslocamento no trimestre mais chuvoso,
evidenciado por meio do desalinhamento das fundações das edificações em madeira. Os
movimentos se processam em solos argilo-siltosos que são mobilizado até o leito de vazante
(Foto B).
QVA2 AMFe
Cicatrizes de escorregamentos sucessivas ao longo da margem envolvendo sedimentos fluviais
(Foto C), com rupturas da base ao topo da margem. Escarpas nas cicatrizes com altura entre 2 e
8m.
QP/ ST - Sem evidências (área plana)
st/ar
Rst
B
A
Rag
B
A
C
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Prancha 3 - Seção EF - síntese do relevo, do substrato geológico e processos geológicos.
Seção esquemática do relevo e substrato geológico Registro fotográfico
Legenda: [ag] argila plástica [ag/ar] argila arenosa [ar/st] areia siltosa
[Rag] argilito [E] espessura da camada
SUGG Feição Descrição das evidências
SVA3 AMFer
Múltiplos escorregamentos em solos argilosos, indo do topo a base (Foto A). Instabilidade
ocasionada, principalmente, pelas oscilações do nível do canal, com diversos abatimentos, cuja
altura varia entre 1,4 e 3,0 m. O rastejo ocorre entre degraus, no material mobilizado.
QVA2 - Zona de deposição de sedimentos fluviais (Foto B), sem cicatrizes, mas ocorrem trincas de
tração.
QP/ ST - QP sem evidências; Tricas de tração no contato com SVA3.
Prancha 4 - Seção GH - síntese do relevo, do substrato geológico e processos geológicos.
Seção esquemática do relevo e substrato geológico Registro fotográfico
Legenda: [ag] argila [ag/st] argila siltosa [ar/st] areia siltosa
[Rag] argilito [E] espessura da camada [ag/ar] argila arenosa
SUGG Feição Descrição das evidências
SVM3 AMFe
r
Rastejos generalizados, do topo a base. Cicatrizes de escorregamentos e degraus de
abatimento (Fotos A e B) em solo argiloso plásticos e saturados, devido principalmente
a infiltração de águas de chuvas. A altura dos degraus varia entre 0,4 e 1,5 m, indo do
topo a base da encosta. O rastejo está presente tanto nos materiais mobilizados por
escorregamentos, como nas áreas não em que os mesmos não ocorreram.
QVA2 AE Escorregamento em desenvolvimento, concentrado na margem côncava, em solo
predominantemente argilosos com abatimentos da ordem de 0,4m.
QP/ VP/
SR3 - Sem evidências (área com baixa declividade)
As informações e os dados obtidos evidenciam
que os processos observados estão intrinsecamente
relacionados a dois tipos de fatores exógenos: às
oscilações de descargas no leito fluvial e à
infiltração das águas de chuva. No primeiro caso, a
elevação do nível d’água pode desestabilizar as
margens devido, principalmente, ao acréscimo de
pressões neutras no interior do maciço e a
subtração da base por ação de forças erosivas. O
repentino rebaixamento das águas causa o alívio
de pressões laterais e, teoricamente, uma inversão
na direção do fluxo de água no interior do maciço,
gerando os escorregamentos frequentemente
observados nas zonas inundáveis.
B
A
B
A
São Paulo, UNESP, Geociências, v. 36, n. 2, p. 233 – 249, 2017 245
Prancha 5 - Seção IJ - síntese do relevo, do substrato geológico e processos geológicos.
Seção esquemática do relevo e substrato geológico Registro fotográfico
Legenda: [ag] argila [ag/st] argila siltosa [ar/st] areia siltosa
[Rag] argilito [E] espessura da camada
SUGG Feição Descrição das evidências
SVM3 AMFer
Múltiplas feições de escorregamentos, evoluindo da margem para no topo, em solos argilo-
siltosos plásticos. As evidências do rastejo são generalizadas, ocorrendo inclusive na massa não
escorregada. A Foto A ilustra um depósito coluvial oriundo de um evento ocorrido em março de
2015, durante intenso período de precipitações.
VVM2 AE Ocorrem escorregamentos, principalmente nas margens côncavas devido a dinâmica fluvial,
como ilustra a foto B.
ST/ VP - Sem evidências (área com baixa declividade)
Prancha 6. Seção KL - síntese do relevo, do substrato geológico e processos geológicos.
Seção esquemática do relevo e substrato geológico Registro fotográfico
Legenda: [ag] argila [ag/st] argila siltosa [ar/st] areia siltosa
[Rag] argilito [E] espessura da camada
SUGG Feição Descrição das evidências
SVM3 AMFer
Significativas movimentações são percebidas após a ocorrência de chuvas intensas,
ocorrendo novos abatimentos na escarpa de falha (Foto A) e o aumento do número de
cicatrizes (Foto B) na camada argilo-siltosa. As evidências do rastejo são generalizadas,
ocorrendo inclusive na massa não escorregada.
VVM1 AE Ocorrem escorregamentos, principalmente nas margens côncavas e em solos argilosos.
SR3/ VP - Sem evidências.
Mais frequentemente, este tipo de
movimentação afeta os materiais
inconsolidados e deixam cicatrizes arqueadas
(Figura 7) nas seções inundáveis das
subunidades QVA2, QVM2, SR2, SVA2,
SVA3, SVM3, VR, VVA1 e VVA2.
As intensidades das descargas no rio
Acre e a natureza dos sedimentos da
unidade Q, de certo modo, podem justificar
a significativa concentração de escor-
regamentos nas subunidades QVA2 e
QVM2.
B
A
B
A
246 São Paulo, UNESP, Geociências, v. 36, n. 2, p. 233 – 249, 2017
Figura 7 - Eventos ocorridos em fevereiro de 2015, logo após o rebaixamento do nível das águas no rio Acre: A)
unidade QVA2; B) unidade SVM3.
O rastejo está intrinsecamente relacionado
aos solos plásticos que recobrem as colinas da
Formação Solimões. Os mesmos ocorrem
principalmente em terrenos com declividade
entre 13 e 20%, possivelmente, em razão da
infiltração de águas de chuva ou devido às
sobrecargas e à supressão da base das encostas
que foram geradas por escorregamentos
pretéritos. Sua detecção em estágio inicial é de
suma importância para prevenção de
movimentos de massa posteriores, uma vez que
podem diminuir a resistência dos solos e criar
condições favoráveis ao desenvolvimento dos
escorregamentos observados (Leroueil et al.,
1996)
Nas colinas da Formação Solimões, a su-
pressão da base pela dinâmica fluvial, a
infiltração de águas de chuva e os solos
enfraquecidos pelo rastejo promovem o
incremento de tensões nas superfícies
inclinadas, gerando uma dinâmica própria, com
rupturas sazonais, que resulta nas diversas
feições de instabilidade observadas nas AMFer
(escarpas, blocos abatidos, trincas de tração no
topo e depósitos coluviais), como ilustra a
Figura 8.
Com base na caracterização dos processos
geológicos e na relação desses com as unidades
mapeadas, gerou-se a Tabela 2, que apresenta
os resultados da hierarquização dessas
unidades, segundo sua predisposição natural ao
desenvolvimento de eventos.
Figura 8 - Feições de intabilidade observadas em uma AMFer.
São Paulo, UNESP, Geociências, v. 36, n. 2, p. 233 – 249, 2017 247
Tabela 2 - Potencial para ocorrência de eventos com base nas características geológico-geotécnicas.
UGG Declividade
predominante
Materiais
inconsolidados Processos ocorridos/esperados SUGGs Predisposição
S
VA (> 20%)
Argiloso; argilo-
siltoso
Rastejo e/ou escorregamentos SVA2; SVA3 Alta
VM (12 a 20%) Rastejo e/ou escorregamentos SVM2; SVM3 Média
R (6 a 12%) Rastejo e/ou escorregamentos SR2; SR3 Baixa
T (<6%) Nenhum ST Muito Baixa
V
VA (> 20%) Argilo-siltoso;
argilo-arenoso;
Arenoso
Rastejo e/ou escorregamentos VVA1; VVA2 Alta
VM (12 a 20%) Rastejo e/ou escorregamentos VVM1; VVM2;
VVM3 Média
R (6 a 12%) Rastejo e/ou escorregamentos VR1 Baixa
P (<6%) Nenhum VP Muito Baixa
Q
VA (> 20%) Sedimentos
fluviais
Múltiplos Escorregamentos QVA2 Alta
VM (12 a 20%) Múltiplos Escorregamentos QVM2 Média
P (<6%) Nenhum QP Muito Baixa
Tabela 3 - Potencial para ocorrência de eventos com base nas características geológico-geotécnicas.
Fatores PRC Classes PRl
Predisposição natural 50%
Muito Baixa 5,00%
Baixa 12,69%
Média 30,75%
Alta 51,56%
Forma predominante da margem 25%
Ausente 8,64%
Convexa 11,51%
Retilínea 17,33%
Sinuosa 26,99%
Côncava 35,54%
Área sujeita a inundação periódica 25%
Não inundável 7,82%
Parcialmente inundável 43,53%
Totalmente inundável 48,66%
Na Tabela 3 estão apresentados os
resultados da valoração realizada com o
método AHP.
Através da combinação linear desses
pesos, realizou-se no programa Excel o
cálculo de índice de suscetibilidade (IS),
cujos resultados variaram de 2,5 a 46,8. Na
ponderação das classes, optou-se por não
realizar a combinação entre as unidades com
muito baixa predisposição (áreas planas) e os
fatores indutores, para evitar uma majoração
equivocada dessas unidades quanto ao seu
grau de suscetibilidade.
Os valores de IS foram agrupados em
quatro classes utilizando-se os respectivos
critérios:
Muito baixo - valor do IS mínimo, ou
seja, compreende às unidades com
predisposição muito baixa, em que não se
computou o peso dos fatores indutores;
Baixo - valores inferiores à média
aritmética e superiores ao IS mínimo;
Médio - valores iguais ou superiores à
média aritmética e inferiores à média
somada ao desvio padrão;
Alto - valores iguais ou superiores à
média somada ao desvio padrão.
A validação dos resultados pode ser
observada na Figura 9, onde se encontra a
combinação das classes de suscetibilidade
com as feições registradas na área de
estudo.
248 São Paulo, UNESP, Geociências, v. 36, n. 2, p. 233 – 249, 2017
Figura 9 - Distribuição das classes de suscetibilidade aos movimentos de massa gravitacionais considerados.
CONCLUSÕES
Por meio da compartimentação
fisiográfica dos terrenos e levantamentos de
campo, obteve-se um produto cartográfico
único, no qual os elementos ambientais
foram individualizados em unidades
homogêneas. Essa abordagem evitou o
cruzamento aleatório de informações
dispersas no espaço, que poderiam gerar
resultados sem qualquer relação física com
os eventos.
Em relação aos dados obtidos, notou-se
que ainda faltam informações para propiciar
uma adequada caracterização dos mecanismos
associados aos processos, como por exemplo,
dados que permitam estabelecer uma
correlação temporal e espacial entre eventos
e precipitações, assim como dados
relacionados à resistência dos materiais e às
superfícies potenciais de ruptura.
A avaliação indireta permitiu apenas um
indicativo sobre os possíveis fatores de indução
e a hierarquização dos compartimentos, com
base nas formas de relevo e nas características
dos materiais inconsolidados.
Mesmo reconhecendo as limitações e
imprecisões quanto aos dados obtidos e as
inferências realizadas, os resultados desta
atividade contribuíram para o aumento do
conhecimento sobre a gênese dos processos
considerados, permitindo inferir que as chuvas
e a dinâmica fluvial agem mutuamente na
desestabilização das encostas.
Observou-se também que rastejo constitui
um agente preparatório para ocorrência de
escorregamentos nas colinas da Formação
Solimões. Sua detecção, ainda no estágio de
pré-ruptura, é de fundamental importância para
prevenção de acidentes.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem às instituições de fomento à pesquisa CAPES, CNPq e FAPEMIG e
também, à prefeitura municipal de Rio Branco (AC) pelas informações fornecidas.
São Paulo, UNESP, Geociências, v. 36, n. 2, p. 233 – 249, 2017 249
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