auto da barca do inferno - análise global

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AUTO DA BARCA DO INFERNO GIL VICENTE Madalena Fernandes ESPAN 2012/13

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Page 2: Auto da Barca do Inferno - análise global

"Segundo António José Saraiva, o enorme sucesso das obras dramáticas de Gil Vicente vem da sua extraordinária vivacidade mimética e do talento para criar aquilo que é especificamente dramático: situações e personagens. Duas grandes forças atuam no teatro vicentino: a paródia (nem sempre satírica), para fazer rir, de vários tipos sociais, em geral estereotipados; e a preocupação didático-religiosa, que se destina a transmitir a doutrina da Igreja Católica, especialmente o mistério da Encarnação e a luta entre o Bem e o Mal. Esses personagens e essas forças estão unidos no Auto da Barca do Inferno." (Pedagogia&Comunicação,pg 3)

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Para se compreender o “Auto da Barca do Inferno” deve-se ter presente que esta obra foi escrita num período da história que corresponde à transição da Idade média para a Idade Moderna. O seu autor, Gil Vicente, enquadra-se justamente nesse momento de transição, ou seja, está ligado tanto ao medievalismo quanto ao humanismo. Esse conflito faz com que Gil Vicente pense em Deus e ao mesmo tempo exalte o homem livre.

Page 4: Auto da Barca do Inferno - análise global

O reflexo desse conflito interior é visto claramente na sua obra, pois ao mesmo tempo que critica, de forma impiedosa, toda a sociedade do seu tempo, adotando assim uma postura moderna, tem ainda o pensamento voltado para Deus, característica típica do mundo medieval.

Page 5: Auto da Barca do Inferno - análise global

Para além de ser uma peça de crítica social, Gil V.

classificou-a de “AUTO DE MORALIDADE”(p.54).

“Auto”, na Idade Média, designava uma peça de teatro

que tratava, normalmente, de temas religiosos.

Geralmente, o auto de moralidade transmitia

ensinamentos morais, isto é, “lições” sobre o bem e o mal,

as virtudes e os vícios.

Page 6: Auto da Barca do Inferno - análise global

«

«RIDENDO CASTIGAT MORES»« A R I R S E C O R R I G E M O S C O S T U M E S » , O U, “A

R I R S E D I Z E M A S V E R D A D E S ”

Este é o lema de todo o teatro vicentino.

Criticar, provocando o riso, não era só mais divertido e adequado, como

também permitia que a crítica fosse mais facilmente aceita.

O cómico é um dos meios utilizados para atingir o seu objetivo (criticar os

comportamentos e as mentalidades das diferentes classes sociais da época).

moralidade

Page 7: Auto da Barca do Inferno - análise global

3 TIPOS DE CÓMICO

Cómico de linguagem: utilização do calão, das pragas, etc.

Cómico de situação: Ex. : o Frade entra a cantar e a dançar

com uma moça.

Cómico de caráter: o Parvo, por ser tolo, não tem consciência

dos seus atos nem das suas palavras.

Ao cómico prende-se a um recurso expressivo

a ironia.

Page 8: Auto da Barca do Inferno - análise global

EXEMPLOS ATUAIS DE CÓMICO

Cómico de situação: uma pessoa vai para se sentar e , não reparando que a cadeira foi desviada, senta-se e cai.

Cómico de caráter: uma menina de 5 anos que tenta passar por adulta (quer ser igual à mãe): calça sapatos de salto alto, veste uma saia da mãe e pinta os lábios e os olhos,

Cómico de linguagem: um aluno, no meio de uma exposição oral sobre Gil Vicente, usando um registo cuidado, diz: “Gil Vicente foi um dramaturgo altamente.”

Page 9: Auto da Barca do Inferno - análise global

A ironia pretende-se sugerir o contrário

daquilo que se diz com as palavras ou daquilo que se

pensa.

A ironia assemelha-se à hipocrisia.

Page 10: Auto da Barca do Inferno - análise global

O “Auto da Barca do Inferno”foi apresentado pela primeira vez em 1517, no Natal, à «muito católica rainha Lianor”.

Este Auto tem como cenário um porto imaginário, onde estão ancoradas duas barcas:  uma, com destino ao paraíso, tem

como comandante o Anjo; a outra, com destino ao inferno, tem

como comandante o Diabo, que traz consigo um companheiro.

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Todas as almas, assim que se desprendem dos corpos, são obrigadas a passar por esse lugar para serem julgadas. Dependendo dos atos cometidos em vida, são condenadas à Barca da Glória ou à do Inferno.     

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“Embora o Auto da Barca do Inferno seja o auto do julgamento das almas, a expressão “barca do Inferno” indica a tendência de as almas seguirem, na grande maioria, na barca que as leva ao Inferno.” (p.52)

Page 13: Auto da Barca do Inferno - análise global

“A barca é o símbolo da viagem” e “do meio de passagem para o Outro Mundo”. (p.52)

SIMBOLOGIA DA BARCA

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O ESTILO

Quanto ao estilo, pode-se dizer que todo o Auto

é escrito em tom coloquial, ou seja, a

linguagem aproxima-se da fala, revelando assim

a condição social das personagens.

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O Auto possui um único ato, dividido em cenas, nas quais predominam os diálogos entre as almas que estão a ser julgadas com o Anjo e com o Diabo. As personagens do Auto, com exceção do Anjo e  do Diabo, são representantes típicos da sociedade da época (personagens-tipo). Raramente aparecem identificados pelo nome, pois são designadas pela ocupação social que exercem. Exemplo : o onzeneiro, o judeu, sapateiro etc.

ESTRUTURA EXTERNA

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ESTRUTURA EXTERNA

Cenas PersonagensI (Anjo), Diabo e o

companheiroII Anjo, Diabo, Fidalgo e o

Pajem

III Anjo, Diabo e o Onzeneiro

IV Anjo, Diabo e JoaneV Anjo, Diabo e o SapateiroVI Anjo, Diabo, o Frade e a

MoçaVII Anjo, Diabo e a

AlcoviteiraVIII Anjo, Diabo e o Judeu

IX ( a cena da justiça) Anjo, Diabo, o Corregedor e o Procurador

X Anjo, Diabo e o Enforcado

XI Anjo, Diabo e os 4 Cavaleiros

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ALGUMAS DAS PERSONAGENS -TIPO

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PERSONAGEM-TIPO

É uma personagem plana* que pretende caracterizar um grupo

social ou profissional. O seu comportamento não o

individualiza, dado que o objectivo é expressar as qualidades

e/ou defeitos do conjunto a que pertence.

Personagens planas: são aquelas que não tem profundidade

psicológica. Não tem uma caracterização psicológica, que não a

faz evoluir durante a narrativa da história.

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O FRADE

Representa o

clero.

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PERSONAGENS ALEGÓRICAS

O Anjo e o Diabo são personagens alegóricas, porque

representam respetivamente o Bem e o Mal, o Céu e

o Inferno.

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OUTRAS FIGURAS ALEGÓRICAS

A justiça é representada por uma mulher de olhos vendados que segura uma balança;

A paz é figurada por uma pomba;

A crueldade por um tigre.

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ESTRUTURA INTERNA

Este auto não é constituído por uma ação que se desenvolve da

exposição ao desenlace, mas por um conjunto de várias mini-ações

paralelas.

Cada uma destas mini-ações funciona como um tribunal.

Ao longo de toda a obra, o Diabo e o Anjo desempenham o papel de

advogados de acusação e, ao mesmo tempo, de juízes. Não existe

advogado de defesa e são os réus que, bem ou mal, vão

apresentando os argumentos para tentarem defender-se.

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ESTRUTURA INTERNA

A ação corresponde ao desenrolar dos acontecimentos e organiza-se:

o Exposição: parte inicial que apresenta as personagens e a situação;

o Conflito: apresentação dos argumentos de acusação e de defesa;

o Desenlace: Sentença: Paraíso ou Inferno.

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“Gil Vicente fez, no Auto da Barca do Inferno, uma reflexão crítica acerca da sua época, dos costumes e dos homens e das mulheres de que o mundo contemporâneo ainda hoje pode colher ensinamentos.”(p.53)

É, por isso, uma obra intemporal e atual.

CONCLUSÃO

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