aula etica publica (icec)
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ÉTICA PÚBLICAÉTICA PÚBLICAProf. Dr. Juarez Prof. Dr. Juarez
Ap. CostaAp. Costa
As religiões não fazem distinção entre As religiões não fazem distinção entre o plano ético e o plano religioso. Os o plano ético e o plano religioso. Os costumes, as regras ou os princípios costumes, as regras ou os princípios morais são tão religiosos quanto os morais são tão religiosos quanto os
sacrifícios e as orações.sacrifícios e as orações. Entre os dez mandamentos que Entre os dez mandamentos que
Moisés deu aos hebreus (judeus) Moisés deu aos hebreus (judeus) havia os que tratavam de religião: havia os que tratavam de religião: “Não terás outros deuses diante de “Não terás outros deuses diante de
mim” (Ex 20,3) e os relativos à ética: mim” (Ex 20,3) e os relativos à ética: “Não matarás” (Ex 20,13).“Não matarás” (Ex 20,13).
Não há aqui distinção entre a Não há aqui distinção entre a ética e a religião. A noção do ser ética e a religião. A noção do ser humano como uma criação divina humano como uma criação divina
implica que ele é responsável implica que ele é responsável perante Deus por tudo o que faz: perante Deus por tudo o que faz:
ritual, moral, social e ritual, moral, social e politicamente.politicamente.
Dentro da religião há debates Dentro da religião há debates especificamente ético. Em geral, especificamente ético. Em geral,
os profetas do antigo Israel os profetas do antigo Israel atacavam os ricos e poderosos atacavam os ricos e poderosos que observavam fielmente os que observavam fielmente os
rituais, mas pisavam os pobres. O rituais, mas pisavam os pobres. O ponto de vista moral desses ponto de vista moral desses profetas tinha, porém, uma profetas tinha, porém, uma
justificativa religiosa.justificativa religiosa.
Nas sociedades modernas onde Nas sociedades modernas onde coexistem várias religiões e coexistem várias religiões e
vários pontos de vista éticos é vários pontos de vista éticos é mais difícil vincular a ética mais difícil vincular a ética
exclusivamente à religião. As exclusivamente à religião. As sociedades precisam ter suas sociedades precisam ter suas
linhas mestras éticas, sendo que linhas mestras éticas, sendo que algumas delas são preservadas algumas delas são preservadas
nas leis.nas leis.
Os romanos foram os primeiros a Os romanos foram os primeiros a criar, de maneira sistemática, um criar, de maneira sistemática, um arcabouço legal que pudesse ser arcabouço legal que pudesse ser
usado por todos os povos, usado por todos os povos, independentemente da religião. independentemente da religião.
O direito romano se tornou a O direito romano se tornou a base para todos os sistemas base para todos os sistemas
legais subsequentes nos Estados legais subsequentes nos Estados laicos (seculares) modernos.laicos (seculares) modernos.
A Declaração Universal dos A Declaração Universal dos Direitos Humanos proclamada Direitos Humanos proclamada pelas Nações Unidas como uma pelas Nações Unidas como uma afirmação ética comum, seja, afirmação ética comum, seja,
qual for a religião ou a qual for a religião ou a perspectiva geral da sociedade é perspectiva geral da sociedade é
atualmente aceita em muitos atualmente aceita em muitos países. países.
A ética na A ética na sociedade sociedade modernamoderna
PORQUE HÁ PORQUE HÁ NECESSIDADE DE NECESSIDADE DE
ÉTICA?ÉTICA?
DEVIDO AS DEVIDO AS MUDANÇAS NA MUDANÇAS NA
SOCIEDADE SOCIEDADE MODERNAMODERNA
1º. Desde os anos 1970, com a 1º. Desde os anos 1970, com a crise ecológica, o perigo de crise ecológica, o perigo de
proliferação de novas guerras proliferação de novas guerras no planeta, o problema do no planeta, o problema do
reconhecimento dos direitos das reconhecimento dos direitos das minorias e das relações minorias e das relações
internacionais, da fome e da internacionais, da fome e da miséria no mundo, miséria no mundo,
manifestaram a urgência de manifestaram a urgência de uma reflexão ética abrangente.uma reflexão ética abrangente.
2º. A nova reestruturação das 2º. A nova reestruturação das relações globais e da crise relações globais e da crise
ecológica, determinada pelos ecológica, determinada pelos problemas da sociedade industrial problemas da sociedade industrial e da crise do tipo de racionalidade e da crise do tipo de racionalidade
cientificista, que tornou-se cientificista, que tornou-se hegemônico no mundo moderno, hegemônico no mundo moderno,
fez ressurgir o problema da fez ressurgir o problema da justificação filosófica das normas justificação filosófica das normas fundamentais da ação humana.fundamentais da ação humana.
3º. A caracterização do mundo 3º. A caracterização do mundo atual e a desproporção entre atual e a desproporção entre
velocidade absurda do progresso velocidade absurda do progresso científico-tecnológico e o vácuo científico-tecnológico e o vácuo ético que se formou a partir da ético que se formou a partir da
negação dos sistemas negação dos sistemas tradicionais de valores. tradicionais de valores.
A SOCIEDADE NECESSITA A SOCIEDADE NECESSITA DE UMA ÉTICA DIANTE DO DE UMA ÉTICA DIANTE DO
FATOR:FATOR: Ela é fundamentalmente uma Ela é fundamentalmente uma
sociedade sociedade pluralistapluralista, , constituindo-se a partir de um constituindo-se a partir de um confronto permanente entre confronto permanente entre
diferentes cosmovisões.diferentes cosmovisões.
NOÇÕES DE ÉTICANOÇÕES DE ÉTICA
CONCEITO DE ÉTICACONCEITO DE ÉTICA
Etimologicamente, a palavra Etimologicamente, a palavra ética deriva do grego ética deriva do grego ethos, ethos, que que
significa comportamento.significa comportamento.
A ética é a parte da filosofia A ética é a parte da filosofia que se ocupa com o valor do que se ocupa com o valor do
comportamento humano. comportamento humano. Investiga o sentido que o Investiga o sentido que o
homem imprime à sua conduta homem imprime à sua conduta para ser verdadeiramente para ser verdadeiramente
feliz.feliz.
Pertencem ao vasto campo da Pertencem ao vasto campo da ética: a reflexão sobre os ética: a reflexão sobre os
valores da vida, a virtude e o valores da vida, a virtude e o vício, o direito e dever, o bem e vício, o direito e dever, o bem e o mal, a questão da liberdade.o mal, a questão da liberdade.
NORMAS MORAIS E NORMAS MORAIS E NORMAS JURÍDICASNORMAS JURÍDICAS
Sendo uma disciplina prática, a Sendo uma disciplina prática, a ética procura responder a ética procura responder a
questões do tipo: que devo fazer? questões do tipo: que devo fazer? Como devo ser? Como devo agir?Como devo ser? Como devo agir?
Quando essas questões éticas são Quando essas questões éticas são colocadas pelos indivíduos e colocadas pelos indivíduos e
respondidas por suas respondidas por suas consciências, surgem as normas consciências, surgem as normas
morais.morais.
Por outro lado, quando essas Por outro lado, quando essas questões éticas são colocadas questões éticas são colocadas pela sociedade e respondidas pela sociedade e respondidas
pelo Estado, surgem as normas pelo Estado, surgem as normas jurídicas.jurídicas.
DIFERENÇAS ENTRE DIFERENÇAS ENTRE NORMAS MORAIS E NORMAS MORAIS E
NORMAS JURÍDICAS:NORMAS JURÍDICAS: Normas morais: são regras de Normas morais: são regras de
conduta que têm como base a conduta que têm como base a consciência moral das pessoas ou de consciência moral das pessoas ou de um grupo social. As normas morais um grupo social. As normas morais podem estender-se por toda uma podem estender-se por toda uma
coletividade por meio dos costumes coletividade por meio dos costumes e tradições predominantes em e tradições predominantes em
determinado meio social.determinado meio social.
Normas jurídicas: são regras sociais Normas jurídicas: são regras sociais de conduta que têm como base o de conduta que têm como base o poder social do Estado sobre a poder social do Estado sobre a
população que habita seu território. população que habita seu território. Assim, uma das principais Assim, uma das principais
características da norma jurídica é a características da norma jurídica é a coercibilidade. Isto é, a norma coercibilidade. Isto é, a norma jurídica conta com a força e a jurídica conta com a força e a
repressão potencial do Estado para repressão potencial do Estado para ser obedecida pelas pessoas.ser obedecida pelas pessoas.
Portanto, quando alguém desrespeita Portanto, quando alguém desrespeita uma norma moral, como por uma norma moral, como por
exemplo, um dever de cortesia, sua exemplo, um dever de cortesia, sua atitude ofende apenas a moralidade atitude ofende apenas a moralidade
convencional de um determinado convencional de um determinado grupo, que não tem poderes grupo, que não tem poderes
enérgicos para promover uma enérgicos para promover uma punição. punição.
Ao contrário, se uma pessoa Ao contrário, se uma pessoa desrespeita uma norma jurídica desrespeita uma norma jurídica prevista, por exemplo, no Código prevista, por exemplo, no Código
Penal, sua atitude provoca a Penal, sua atitude provoca a coação do estado, que tem poderes coação do estado, que tem poderes efetivos para impor uma pena ao efetivos para impor uma pena ao
infrator.infrator.
A CONSCIÊNCIA A CONSCIÊNCIA REFLEXIVA DO HOMEMREFLEXIVA DO HOMEM
A característica que, essencialmente, A característica que, essencialmente, torna o ser humano diferente dos torna o ser humano diferente dos
outros animais é o desenvolvimento da outros animais é o desenvolvimento da consciência reflexiva. Por intermédio consciência reflexiva. Por intermédio dessa consciência, que é expressão do dessa consciência, que é expressão do seu aparelho psíquico, o homem pode seu aparelho psíquico, o homem pode
acumular conhecimentos e acumular conhecimentos e experiências sobre o mundo.experiências sobre o mundo.
Graças à linguagem, primeiramente Graças à linguagem, primeiramente oral e depois escrita, o ser humano oral e depois escrita, o ser humano
desenvolveu a comunicação entre os desenvolveu a comunicação entre os membros da espécie. E, assim, o membros da espécie. E, assim, o
conhecimento de cada pessoa foi-se conhecimento de cada pessoa foi-se tornando patrimônio coletivo, tornando patrimônio coletivo,
constituído pela soma dos constituído pela soma dos conhecimentos individuais, colocados conhecimentos individuais, colocados
à disposição do grupo social.à disposição do grupo social.
Devido à transmissão dos Devido à transmissão dos conhecimentos, as sucessivas conhecimentos, as sucessivas
gerações de seres humanos não gerações de seres humanos não precisariam reinventar as soluções já precisariam reinventar as soluções já desenvolvidas, anteriormente, pelos desenvolvidas, anteriormente, pelos
antepassados. Cada nova geração antepassados. Cada nova geração pôde herdar as descobertas da pôde herdar as descobertas da
geração anterior, ficando com tempo geração anterior, ficando com tempo disponível para efetuar novas disponível para efetuar novas
conquistas.conquistas.
INTERFERÊNCIA NO MEIO INTERFERÊNCIA NO MEIO AMBIENTEAMBIENTE
Acumulando e desenvolvendo Acumulando e desenvolvendo conhecimentos, o homem passou a conhecimentos, o homem passou a
interferir progressivamente no meio interferir progressivamente no meio ambiente, criando um “mundo novo”, ambiente, criando um “mundo novo”,
diferente daquele encontrado na Natureza. diferente daquele encontrado na Natureza. Assim, dentro da Biosfera terrestre – a Assim, dentro da Biosfera terrestre – a
parte do Planeta que reúne condições para parte do Planeta que reúne condições para o desenvolvimento dos seres vivos –, o o desenvolvimento dos seres vivos –, o
homem foi criando a Antroposfera – que homem foi criando a Antroposfera – que resulta da adaptação do ambiente natural resulta da adaptação do ambiente natural
às necessidades humanas.às necessidades humanas.
O desenvolvimento da consciência O desenvolvimento da consciência reflexiva torna o homem diferente dos reflexiva torna o homem diferente dos
outros animais não apenas pelas outros animais não apenas pelas extraordinárias conseqüências que a ação extraordinárias conseqüências que a ação humana provoca no mundo, mas também, humana provoca no mundo, mas também, e sobretudo, pelos efeitos que provoca no e sobretudo, pelos efeitos que provoca no
próprio homem. Devido à consciência próprio homem. Devido à consciência reflexiva, o ser humano tornou-se capaz reflexiva, o ser humano tornou-se capaz de pensar sobre sua própria existência, de pensar sobre sua própria existência, de perguntar-se sobre o sentido da vida, de perguntar-se sobre o sentido da vida, questionando o presente, analisando o questionando o presente, analisando o
passado e projetando o futuro.passado e projetando o futuro.
CONSCIÊNCIA DE SI CONSCIÊNCIA DE SI MESMOMESMO
Adquirindo consciência de si mesmo, o Adquirindo consciência de si mesmo, o homem passou a refletir sobre os limites homem passou a refletir sobre os limites de sua existência, começou a avaliar as de sua existência, começou a avaliar as
possibilidades da sua ação em vida, antes possibilidades da sua ação em vida, antes da chegada inevitável da morte. Por isso, da chegada inevitável da morte. Por isso,
“o homem é o único animal que pode “o homem é o único animal que pode aborrecer-se, que pode ficar descontente, aborrecer-se, que pode ficar descontente, que pode sentir-se expulso do paraíso. O que pode sentir-se expulso do paraíso. O homem é o único animal para quem sua homem é o único animal para quem sua
própria existência é um problema que ele própria existência é um problema que ele tem de solucionar e do qual não pode tem de solucionar e do qual não pode
fugir” (Erich Fromm. Análise do homem. fugir” (Erich Fromm. Análise do homem. P. 49.)P. 49.)
Não pode fugir porque tem uma Não pode fugir porque tem uma vida que não pode mais ser vivida vida que não pode mais ser vivida
apenas no plano fisiológico da apenas no plano fisiológico da natureza animal, atendendo-se natureza animal, atendendo-se
passivamente as necessidades do passivamente as necessidades do corpo. A consciência de si mesmo corpo. A consciência de si mesmo
tornou o homem dono de uma tornou o homem dono de uma vida que somente ele pode viver.vida que somente ele pode viver.
A CONSCIÊNCIA MORALA CONSCIÊNCIA MORAL
A consciência de si mesmo ou auto-A consciência de si mesmo ou auto-consciência confere ao ser humano a consciência confere ao ser humano a
capacidade de julgar suas ações, e capacidade de julgar suas ações, e de escolher, dentre as de escolher, dentre as
circunstâncias possíveis, seu próprio circunstâncias possíveis, seu próprio caminho na vida. A essa caminho na vida. A essa
característica peculiar ao homem, característica peculiar ao homem, de julgar suas próprias ações, de julgar suas próprias ações,
decidindo se elas são boas ou más, decidindo se elas são boas ou más, damos o nome de consciência moral.damos o nome de consciência moral.
À possibilidade que o homem tem de À possibilidade que o homem tem de escolher seu caminho na vida e construir escolher seu caminho na vida e construir sua história damos o nome de liberdade, sua história damos o nome de liberdade,
autonomia. Evidentemente, a liberdade não autonomia. Evidentemente, a liberdade não é algo que se exerce no vazio, mas dentro é algo que se exerce no vazio, mas dentro
das limitações impostas pelas das limitações impostas pelas circunstâncias. Pois, como escreveu Karl circunstâncias. Pois, como escreveu Karl
Marx, “os homens fazem sua própria Marx, “os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se escolha e sim sob aquelas com que se
defrontam diretamente, legadas e defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”.transmitidas pelo passado”.
A LIBERDADE HUMANAA LIBERDADE HUMANA
A liberdade e a consciência moral A liberdade e a consciência moral estão intimamente relacionadas. estão intimamente relacionadas. Isso porque só tem sentido julgar Isso porque só tem sentido julgar moralmente a ação de uma pessoa moralmente a ação de uma pessoa se esta ação foi praticada em se esta ação foi praticada em liberdade. quando não se tem liberdade. quando não se tem escolha (liberdade), é impossível escolha (liberdade), é impossível decidir entre o bem e o mal decidir entre o bem e o mal (consciência moral).(consciência moral).
Entretanto, quando estamos livres Entretanto, quando estamos livres para escolher entre esta ou aquela para escolher entre esta ou aquela ação, tornando-nos responsáveis ação, tornando-nos responsáveis
pelo que praticamos. É esta pelo que praticamos. É esta responsabilidade que pode ser responsabilidade que pode ser
julgada pela consciência moral do julgada pela consciência moral do próprio indivíduo ou do grupo próprio indivíduo ou do grupo
social.social.
O DEVER E A O DEVER E A LIBERDADELIBERDADE
O comportamento moral é consciente, livre O comportamento moral é consciente, livre e responsável. É também obrigatório, cria e responsável. É também obrigatório, cria
um dever. Mas a natureza da um dever. Mas a natureza da obrigatoriedade moral não reside na obrigatoriedade moral não reside na
exterioridade; é moral justamente porque exterioridade; é moral justamente porque deriva do próprio sujeito que se impõe a deriva do próprio sujeito que se impõe a necessidade do cumprimento da norma. necessidade do cumprimento da norma.
Pode parecer paradoxal, mas a obediência Pode parecer paradoxal, mas a obediência à lei livremente escolhida não é prisão; ao à lei livremente escolhida não é prisão; ao
contrário, é liberdade.contrário, é liberdade.
A consciência moral, como um juiz A consciência moral, como um juiz interno, informa-se da situação, interno, informa-se da situação,
consulta as normas estabelecidas, consulta as normas estabelecidas, interioriza-as como suas ou não, interioriza-as como suas ou não,
toma as decisões e julga seus toma as decisões e julga seus próprios atos.próprios atos.
O compromisso humano que daí O compromisso humano que daí deriva é a obediência à decisão. deriva é a obediência à decisão. No entanto, esse compromisso No entanto, esse compromisso
não exclui a não-obediência, que não exclui a não-obediência, que justamente determinará o justamente determinará o
caráter moral ou imoral do nosso caráter moral ou imoral do nosso ato.ato.
Por isso o filósofo existencialista Por isso o filósofo existencialista Gabriel Marcel diz: “O homem livre é Gabriel Marcel diz: “O homem livre é o homem que pode prometer e pode o homem que pode prometer e pode
trair”. Isso significa que, para sermos trair”. Isso significa que, para sermos realmente livres, devemos ter a realmente livres, devemos ter a possibilidade sempre aberta da possibilidade sempre aberta da transgressão da norma, mesmo transgressão da norma, mesmo
daquela que nós mesmos escolhemos.daquela que nós mesmos escolhemos.
HETERONOMIA E HETERONOMIA E AUTONOMIAAUTONOMIA
A palavra A palavra heteronomiaheteronomia ( (heterohetero, , “diferente”, e “diferente”, e nomosnomos, “lei”) significa , “lei”) significa
a aceitação da norma que não é a aceitação da norma que não é nossa, que vem de fora, quanto nos nossa, que vem de fora, quanto nos submetemos aos valores da tradição submetemos aos valores da tradição
e obedecemos passivamente aos e obedecemos passivamente aos costumes por conformismo ou por costumes por conformismo ou por
temor à reprovação da sociedade ou temor à reprovação da sociedade ou dos deuses. É característica do dos deuses. É característica do
mundo infantil viver na mundo infantil viver na heteronomia.heteronomia.
A A autonomiaautonomia ( (autoauto, “próprio”) não , “próprio”) não nega a influência externa, os nega a influência externa, os
condicionamentos e os condicionamentos e os determinismos, mas recoloca no determinismos, mas recoloca no
homem a capacidade de refletir sobre homem a capacidade de refletir sobre as limitações que lhe são impostas, a as limitações que lhe são impostas, a partir das quais orienta a sua ação. partir das quais orienta a sua ação. Portanto, quando decide pelo dever Portanto, quando decide pelo dever de cumprir uma norma, o centro da de cumprir uma norma, o centro da decisão é ele mesmo, a sua própria decisão é ele mesmo, a sua própria
consciência moral. Autonomia é consciência moral. Autonomia é autodeterminação.autodeterminação.
SOCIEDADE SOCIEDADE TOTALITÁRIATOTALITÁRIA
As sociedades totalitárias se apóiam em uma As sociedades totalitárias se apóiam em uma ideologia e se organizam em estruturas ideologia e se organizam em estruturas
incompatíveis com a dignidade da pessoa incompatíveis com a dignidade da pessoa humana, com o respeito de seus legítimos humana, com o respeito de seus legítimos
direitos e liberdades.direitos e liberdades. O totalitarismo não reconhece no ser humano O totalitarismo não reconhece no ser humano uma dimensão individual irredutível à totalidade uma dimensão individual irredutível à totalidade
e ao conjunto das relações sociais, embora e ao conjunto das relações sociais, embora condicionada por ambos em toda a sua atividade condicionada por ambos em toda a sua atividade
e precisando deles para o próprio e precisando deles para o próprio desenvolvimento. O verdadeiro sujeito humano desenvolvimento. O verdadeiro sujeito humano
não são as pessoas mas a espécie.não são as pessoas mas a espécie.
Mas quem conhece e define o Mas quem conhece e define o destino da coletividade? Os fins destino da coletividade? Os fins
da coletividade são da coletividade são infalivelmente interpretados por infalivelmente interpretados por
uma minoria privilegiada.uma minoria privilegiada.
As sociedades totalitárias acham As sociedades totalitárias acham que lhes cabe a missão de formar que lhes cabe a missão de formar
um homem novo. Para isso, um homem novo. Para isso, implantam o monopólio da implantam o monopólio da
cultura e da educação cultura e da educação suplantando a sociedade.suplantando a sociedade.
SOCIEDADES SOCIEDADES AUTORITÁRIASAUTORITÁRIAS
É um modelo de sociedade que se É um modelo de sociedade que se distingue tanto do totalitário distingue tanto do totalitário como do democrático. Tem como do democrático. Tem alguma semelhança com o alguma semelhança com o modelo totalitário em seu modelo totalitário em seu funcionamento, mas não funcionamento, mas não
compartilha seus princípios compartilha seus princípios ideológicos fundamentais.ideológicos fundamentais.
Suas características são: ditaduras Suas características são: ditaduras inspiradas na doutrina da inspiradas na doutrina da
Segurança Nacional; Estados Segurança Nacional; Estados formados a partir da descolonização formados a partir da descolonização
política efetuada após a II Guerra política efetuada após a II Guerra Mundial; sociedades tecnocráticas Mundial; sociedades tecnocráticas
em países do Primeiro Mundo.em países do Primeiro Mundo.
SOCIEDADE SOCIEDADE DEMOCRÁTICADEMOCRÁTICA
A democracia é um projeto de A democracia é um projeto de convivência humana, cujos perfis e convivência humana, cujos perfis e conteúdos foram ganhando formas conteúdos foram ganhando formas
concretas no decorrer dos séculos. É concretas no decorrer dos séculos. É um ideal ou utopia – no sentido que um ideal ou utopia – no sentido que a sociologia atual dá a esta palavra – a sociologia atual dá a esta palavra – que nunca se realizará plenamente, que nunca se realizará plenamente, mas do qual poderemos aproximar-mas do qual poderemos aproximar-nos sempre mais e, por motivos de nos sempre mais e, por motivos de
peso, vale a pena procurar alcançar.peso, vale a pena procurar alcançar.
O princípio inspirador deste projeto O princípio inspirador deste projeto de convivência humana é a de convivência humana é a
criatividade das pessoas humanas, criatividade das pessoas humanas, sem discriminação; o protagonismo sem discriminação; o protagonismo dos cidadãos que assumem o papel dos cidadãos que assumem o papel
de sujeitos ativos, em vez de ser de sujeitos ativos, em vez de ser objetos passivos em todos os níveis objetos passivos em todos os níveis
da vida social.da vida social.
A FÉ DIANTE DOS A FÉ DIANTE DOS VALORESVALORES
A fé cristã ensina a igualdade A fé cristã ensina a igualdade essencial de todos os seres humanos, essencial de todos os seres humanos, a fraternidade universal fundada na a fraternidade universal fundada na
paternidade divina comum.paternidade divina comum. Dessa igualdade se deduz ser Dessa igualdade se deduz ser inadmissível a discriminação ou inadmissível a discriminação ou
segregação racial, de classe ou sexo. segregação racial, de classe ou sexo. E a existência de direitos E a existência de direitos
fundamentais comuns a todos os fundamentais comuns a todos os seres humanos.seres humanos.
A fé cristã ensina que a pessoa A fé cristã ensina que a pessoa humana é a imagem de Deus, humana é a imagem de Deus,
partícipe da natureza divina... Por partícipe da natureza divina... Por isso, tem a vocação de co-criadora e isso, tem a vocação de co-criadora e
co-libertadora da velha terra. co-libertadora da velha terra. Além disso,o Evangelho que a Igreja Além disso,o Evangelho que a Igreja
deve proclamar e fazer vida inclui deve proclamar e fazer vida inclui uma gama de atitudes éticas que me uma gama de atitudes éticas que me
parecem traços fundamentais do parecem traços fundamentais do perfil do verdadeiro cristão e perfil do verdadeiro cristão e
cidadão.cidadão.
BIBLIOGRAFIABIBLIOGRAFIA AMARTYA SEN, Sobre Ética e Política. São AMARTYA SEN, Sobre Ética e Política. São
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