aula 13 manejo de nematÓides e pragas decana...
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Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
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AULA 13
MANEJO DE NEMATÓIDES E PRAGAS DECANA-DE-AÇÚCAR
Professor: Dra. Leila Luci Dinardo-Miranda
Centro de Cana - IAC
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
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NEMATÓIDES EM CANA-DE-AÇÚCAR
1. ESPÉCIES IMPORTANTES E SEUS DANOS EM CANA-DE-AÇÚCAR
Muitas espécies de nematóides são encontradas em associação com a cana-de-
açúcar, mas, nas condições brasileiras, três são economicamente importantes, em função dos
danos que causam à cultura: Meloidogyne javanica, M. incognita e Pratylenchus zeae. Em
muitos canaviais pouco desenvolvidos e com baixa produção, são encontradas altas
populações de pelo menos uma delas. Outra espécie, P. brachyurus, é também muito comum
em canaviais brasileiros, mas sua patogenicidade para a cultura ainda não está estabelecida
(DINARDO-MIRANDA, 2008).
Os nematóides do gênero Meloidogyne são conhecidos como formadores de galhas,
devido às deformações que provocam no sistema radicular das plantas. As fêmeas têm corpo
em forma de pêra, globoso com a região anterior formando um “pescoço”, de cor branco-
leitosa. Cada fêmea deposita de 400 a 500 ovos em um único local no interior das raízes ou na
superfície delas. Os ovos são envolvidos por uma substância gelatinosa excretada pela fêmea
através de suas glândulas retais, formando uma massa inadequadamente chamada de ooteca
(FERRAZ e MONTEIRO, 1995).
No interior dos ovos, as formas juvenis de primeiro estágio (J1) sofrem a primeira
ecdise. Dos ovos eclodem, portanto, juvenis de segundo estágio (J2), que são vermiformes e
móveis e migram no solo à procura de raízes de plantas hospedeiras. São ditas formas pré-
parasitas ou infestantes.
Atraídos por emanações radiculares das plantas, os J2 penetram nas radicelas de
plantas suscetíveis, geralmente pelas pontas, e atravessam o parênquima cortical para
posicionar a região anterior do corpo na periferia do cilindro central. Ali estabelecem o
parasitismo. Através do estilete, injetam secreções esofagianas em cerca de 3 a 8 células,
localizadas ao redor da região anterior do corpo. Essas células, chamadas nutridoras, tornam-
se hipertrofiadas, com citoplasma denso, granuloso e núcleos e nucléolos muito evidentes
(FERRAZ e MONTEIRO, 1995). Em razão dessa hipertrofia, são conhecidas também como células
gigantes e são essenciais à alimentação e ao desenvolvimento dos nematóides, pois passam a
ser seus bolsões alimentadores. Os nematóides injetam continuamente toxina nestas células e
sugam o material exsudado por elas.
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Concomitantemente à formação das células gigantes ou nutridoras, a substância
injetada pelos nematóides irradia-se, sai do cilindro central e atinge a região cortical, onde
ocorre aumento no número e no tamanho das células; em conseqüência, o córtex entumece e
as raízes engrossam, formando a galha, o mais conhecido e freqüente sintoma de ataque de
nematóides do gênero Meloidogyne (figura 1).
Figura 1. Raízes de cana-de-açúcar com galhas características do ataque de nematóides do
gênero Meloidogyne (Foto: L.L. DINARDO-MIRANDA).
Com a formação das células nutridoras, os J2 tornam-se gradualmente mais robustos,
com corpo em forma de salsicha, perdem a mobilidade e tornam-se sedentários. Atingindo o
máximo do desenvolvimento, passam rapidamente por mais duas ecdises. Tanto os juvenis de
terceiro estágio (J3) como os de quarto estágio (J4) são desprovidos de estilete e têm o esôfago
parcialmente degenerado, sendo incapazes de se alimentar. Após a quarta ecdise, formam-se
os adultos, já com estilete e esôfago regenerados (FERRAZ e MONTEIRO, 1995). São
endoparasitos sedentários, isto é, alimentam-se no interior das raízes e, após estabelecido o
sítio de alimentação, não mais se locomovem.
Tanto para M. incognita como para M. javanica, a reprodução se dá por
partenogênese mitótica obrigatória, com as populações sendo constituídas praticamente só de
fêmeas. Os machos aparecem em maior número somente quando as condições ambientais são
desfavoráveis. Quando presentes, os machos têm corpo vermiforme, alongado, e resultam de
complexa metamorfose do último estádio juvenil e, de acordo com muitos autores, não são
parasitos (FERRAZ e MONTEIRO, 1995).
A duração do ciclo biológico é muito influenciada por fatores como temperatura,
umidade e planta hospedeira, sendo em geral ao redor de 3 a 4 semanas (FERRAZ e MONTEIRO,
1995).
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Os nematóides do gênero Pratylenchus são conhecidos como nematóides das lesões
radiculares e são endoparasitos migradores. Nesse gênero, todos os estádios juvenis e adultos
são vermiformes, movimentam-se intensamente e podem iniciar o parasitismo, portanto,
todas as formas são infestantes. As fêmeas depositam seus ovos isoladamente, no solo ou no
interior das raízes parasitadas. Deles eclodem J2, que passam por mais quatro ecdises,
formando-se os adultos (FERRAZ e MONTEIRO, 1995).
Adultos e juvenis preferem penetrar nas radicelas pelas regiões subapicais e, para isso,
injetam toxinas que degradam parcialmente as paredes celulares. Em seguida, por ação
mecânica, rompem totalmente as paredes celulares. Ao entrar nas raízes, os nematóides
movimentam-se por entre as células e também por dentro das células, o que provoca o
rompimento de muitas delas, formando-se túneis e galerias no córtex das raízes.
A infestação, no geral, restringe-se ao parênquima cortical, que fica bastante
desorganizado devido à destruição de numerosas células durante a movimentação dos
nematóides. Para se alimentar, os nematóides posicionam-se paralelamente ao cilindro
central, secretam ênzimos no interior das células e sugam seu conteúdo. As células assim
atingidas se degeneram e acabam morrendo pouco tempo depois da saída do nematóide.
Devido aos danos mecânicos decorrentes do caminhamento dos nematóides e à ação tóxica
dos ênzimos por eles excretados, muitas células morrem e são invadidas por fungos e bactérias
do solo, resultando no aparecimento de lesões necróticas típicas, de coloração escura (FERRAZ
e MONTEIRO, 1995; figura 2).
Em P. brachyurus e em P. zeae, os machos são raros e a reprodução se dá por
partenogênese.
A duração do ciclo varia em virtude de fatores ambientais (temperatura e umidade) e
do hospedeiro, indo de 3 a 6 semanas, geralmente (FERRAZ e MONTEIRO, 1995).
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Figura 2. Raízes de cana-de-açúcar com necroses provocadas por nematóides do gênero
Pratylenchus. (Foto: L.L. DINARDO-MIRANDA).
O ataque dos nematóides à cana-de-açúcar restringe-se às raízes, de onde extraem
nutrientes para o crescimento e desenvolvimento. Para isso, injetam enzimas no sistema
radicular, resultando em deformações, como as galhas provocadas por Meloidogyne, e
extensas áreas necrosadas, quando os nematóides presentes são Pratylenchus. Em
decorrência do ataque de nematóides, as raízes tornam-se pobres em radicelas e incapazes de
absorver água e nutrientes necessários para o bom desenvolvimento das plantas que,
conseqüentemente, ficam menores, raquíticas, cloróticas, murchas nas horas mais quentes do
dia e menos produtivas. Em condições de campo, são verificadas reboleiras de plantas
menores e cloróticas entre outras de porte e coloração aparentemente normais.
A grandeza dos danos causados por nematóides pode ser quantificada em ensaios
nos quais se faz a aplicação de nematicidas, como a apresentado na Figura 3. Segundo
DINARDO-MIRANDA (2008), M. javanica e P. zeae causam cerca de 20 a 30% de redução de
produtividade no primeiro corte de variedades suscetíveis. M. incognita pode ocasionar perdas
maiores, ao redor de 40 %. Em casos de variedades muito suscetíveis e níveis populacionais
muito altos, as perdas provocadas por nematóides podem chegar a até 50 % da produtividade.
Os danos, porém, não se restringem à cana planta; os nematóides também reduzem as
produtividades das soqueiras e, conseqüentemente, a longevidade do canavial.
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6
104.2
116.4
96.9
117.7
83.3 86.2
76.6
98.2106.9
85.7
0
20
40
60
80
100
120
140
IAC87-3396 RB72454 RB855536 SP80-3280 SP81-3250
Pro
du
tivid
ad
e d
e c
olm
os (
t/h
a)
Tratada Não tratada
Figura 3. Produtividade agrícola (t/ha) de variedades cultivadas em área infestada por P. zeae,
tratadas ou não com nematicida no plantio (Fonte: adaptado de DINARDO-MIRANDA
et al., 1996).
2. MANEJO DE ÁREAS INFESTADAS POR NEMATÓIDES
2.1. Amostragem
Para que medidas de manejo possam ser corretamente recomendadas, a fim de
reduzir os prejuízos causados pelos nematóides, é necessário um diagnóstico seguro da
presença desses parasitos na área, o que é feito por meio de uma boa amostragem.
O primeiro aspecto a ser considerado é a época de amostragem. Os nematóides
importantes para a cana-de-açúcar são parasitos obrigatórios; necessitam, portanto, de raízes
vivas para sobreviver e se multiplicar. A cana-de-açúcar tem raízes abundantes na época
chuvosa do ano, mas, na época seca, ocorre morte de muitas raízes. Em conseqüência da
morte de raízes, a população de nematóides cai drasticamente e somente os ovos desses
parasitos permanecem vivos no solo. Os métodos de extração tradicionais utilizados pelos
laboratórios, porém, não conseguem recuperar os ovos do solo. Assim, amostragens efetuadas
na época seca do ano são inadequadas porque não permitem diagnosticar a real população de
nematóides. As amostragens devem ser feitas, sempre, na época chuvosa do ano.
As amostragens podem ser feitas tanto em cana planta como em soqueiras. Em áreas a
serem reformadas, a coleta de amostras deve ser feita no período chuvoso antes do último
corte.
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Outro aspecto a ser considerado nas amostragens é que as populações de nematóides
variam muito a pequenas distâncias e isso tem uma importante implicação prática: uma
amostragem bem feita exige a coleta de grande número de amostras. Assim, para talhões de até
10 ha, recomenda-se a coleta de uma amostra composta por duas sub-amostras por ha,
recolhidas em toda área.
Para facilitar a amostragem, deve-se começar pelo vértice do talhão. Se o espaçamento
entre sulcos for de 1,5 m, o amostrador deve contar inicialmente 33 sulcos e adentrar no talhão
neste sulco (33º sulco). Em seguida, ele deverá dar aproximadamente 30 passos (25 m) e coletar
uma sub-amostra. Coletada a sub-amostra, ele deverá dar mais 60 passos (50 m) e coletar outra
sub-amostra, prosseguindo desta maneira até sair no carreador. No carreador, o amostrador
deverá então contar 66 sulcos, adentrando no talhão novamente e prosseguindo como
anteriormente citado. Desta forma, ao terminar o talhão, ele deverá ter coletado,
aproximadamente, 2 sub-amostras por hectare.
Para coleta das sub-amostras, o amostrador deverá caminhar com dois baldes e um
enxadão. Em cada ponto de amostragem, parte de uma touceira é arrancada para coleta de
raízes. É importante que o arranquio das plantas seja feito com cuidado, batendo o enxadão
longe da touceira, de maneira a permitir, sempre que possível, a retirada de raízes longas, pois os
nematóides tendem a entrar no sistema radicular pelas pontas das raízes e a permanecer em todo
o comprimento delas. A Figura 4 mostra uma sequência de arranquio de touceira, para coleta de
raízes.
Depois que a touceira é arrancada, coleta-se uma parte das raízes (Figura 5) e a armazena
em um dos baldes. No outro balde, coloca-se um punhado de terra. Prossegue-se dessa forma até
coletar todas as sub-amostras da área. Ao final, o solo e as raízes deverão ser homogeneizados,
colocando-se em um saco plástico uma amostra de aproximadamente 500g se solo e 100g de
raízes.
O saquinho contendo a amostra deverá ser fechado e devidamente identificado. Durante
o dia, enquanto as amostras são coletadas em campo, aquelas já coletadas devem ser mantidas
em caixa de isopor, na sombra, a fim de evitar a incidência direta de raios solares sobre elas, que
podem esquentar a amostra e matar os nematóides presentes.
Depois de coletadas, as amostras podem ser armazenadas em local fresco, onde não
recebam luz solar direta., por no máximo uma semana, até serem enviadas ao laboratório para
análise. Não é conveniente armazenar as amostras em geladeira ou em freezer, pois elas tendem
a se deteriorar muito rapidamente quando retiradas destas condições.
Embora a época ideal para coletar as amostras seja o período chuvoso, deve-se evitar
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a b
c d
Figura 4. Sequência de tarefas para amostragem nematológica: (a) corte da parte aérea do
canavial; (b) e (c) início do arranquio da touceira; (d) touceira arrancada na qual nota-se
o grande comprimento e volume das raízes.
Figura 5. Parte das raízes de uma touceira que deve ser coletada para formar a amostra
composta
fazê-lo quando o solo estiver encharcado, pois as raízes coletadas nestas condições apodrecem
muito rapidamente.
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Quando as soqueiras já foram destruídas e as áreas se encontram preparadas para o
plantio da cana, pode-se plantar cerca de 10 covas por talhão homogêneo de uma variedade
suscetível qualquer, para posterior análise das raízes dessa variedade. O plantio desta variedade,
conhecida como isca de campo, deve ser feito entre setembro e dezembro. Cerca de 60 a 90 dias
depois do plantio, as raízes e o solo da rizosfera das plantas são coletadas, compondo uma
amostra, e enviadas para análise em laboratório. Desta forma, antes do plantio da cultura
definitiva na área, é possível fazer um diagnóstico seguro da ocorrência de nematóides no local.
O laboratório deve determinar as principais espécies encontradas na área e a
população de cada uma delas. O nematologista interpretará os resultados, definindo se as
populações encontradas são prejudiciais à cultura em questão, se estão em nível populacional
baixo, médio ou alto. Para uma correta interpretação dos dados, é imprescindível que a amostra
seja acompanhada das informações: cultura; variedade; estágio (cana planta ou soca); idade (se
for cana, meses após o plantio ou corte); tipo de solo; data de coleta da amostra; uso de
nematicida na área.
Em áreas com populações médias e altas de nematóides, medidas de controle devem
ser adotadas.
2.2. Adoção de medidas de controle
Uso de variedades resistentes
Entre as medidas de controle que poderiam ser adotadas em cana-de-açúcar para
reduzir as populações de nematóides, o uso de variedades resistentes ou tolerantes seria, sem
dúvida, o mais prático e econômico, pois a produção de mudas dessas variedades tem os
mesmos custos que o de mudas de outras variedades. Além disso, o uso de variedades
resistentes não interfere nas outras práticas culturais, não apresenta problemas com resíduos
indesejáveis e suprime as populações de nematóides (LORDELLO, 1981). Entretanto, são raras as
variedades atualmente em cultivo resistentes ou tolerantes a pelo menos uma das espécies de
nematóide de importância econômica. Uma das exceções é a IACSP93-3046, resistente a M.
javanica (DINARDO-MIRANDA et al., 2008). Esta variedade, entretanto, é suscetível a M. incognita
e P. zeae.
A resistência a uma só espécie de nematóide restringe a adoção desta ferramenta de
controle, pois, em campo, é comum a ocorrência de duas ou mais espécies de nematóides
conjuntamente.
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Devido ao número reduzido de variedades comerciais resistentes, o manejo de áreas
infestadas, atualmente, baseia-se no uso de nematicidas químicos aplicados no plantio e/ou nas
soqueiras, associado ou não ao uso de matéria orgânica e à rotação de culturas.
a) Uso de matéria orgânica
Diversos autores, entre os quais LORDELLO (1981), citam que a adição de matéria orgânica
ao solo resulta em diminuição na população de certos nematóides, por criar condições favoráveis
à multiplicação de seus inimigos naturais, principalmente de fungos, e por liberar, durante sua
decomposição, substâncias orgânicas com ação nematicida.
Em cana-de-açúcar, a matéria orgânica mais utilizada é a torta de filtro. Estudos em
campo, entretanto, mostram que a torta de filtro, nas doses usualmente utilizadas, não reduz as
populações de nematóides, embora contribua para aumentos de produtividade devido aos seus
efeitos nutricionais (NOVARETTI e NELLI, 1985; DINARDO-MIRANDA et al., 2003). Devido aos efeitos
nutricionais, a torta de filtro é bastante indicada para solos fracos e infestados por nematóides
e, se aplicada junto com nematicidas, os incrementos de produtividade são muito mais
significativos, pois somam-se os efeitos nutricionais da torta de filtro com os efeitos
nematicidas do produto.
Outro material orgânico que pode ser utilizado é a torta de mamona que, em estudo em
campo, promoveu certa redução populacional de nematóides e contribuiu para aumentar a
produtividade do canavial, quando utilizada em doses de 600 a 1800 kg ha-1, levando os autores
da pesquisa, DINARDO-MIRANDA e FRACASSO (2010), a considerar que a torta de mamona poderia
ser útil em um programa de manejo integrado de nematóides.
b) Rotação de culturas
Em áreas cultivadas tradicionalmente com cana-de-açúcar, há produtores que fazem
rotação com leguminosas, visando principalmente aos benefícios da adubação verde, como a
adição de nutrientes ao solo. Crotalaria juncea L. é a espécie mais empregada, por ser muito
produtiva. Estudos mostram que as crotalárias não reduzem as populações de Pratylenchus
(em alguns casos elas até aumentam) e somente reduzem as populações de Meloidogyne se o
cultivo for feito consecutivamente na área por mais de 2 anos (MOURA, 1991; ROSA et al., 2003;
DINARDO-MIRANDA e GIL, 2005), o que não é comum em áreas de cana-de-açúcar.
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Apesar de pouco afetar as populações de nematóides, em muitas situações, o cultivo
de crotalária contribui para aumentos na produtividade do canavial subseqüente, fato
atribuído aos benefícios da adubação verde. Assim, a rotação de culturas pode trazer
benefícios às áreas infestadas por nematóides, especialmente pela adição de nutrientes ao
solo. Pelo fato de não reduzirem as populações de nematóides e, em alguns casos, até
multiplicarem certas espécies, essa ferramenta torna-se mais interessante do ponto de vista
econômico quando utilizada em conjunto com nematicida.
c) Uso de nematicidas no plantio
A aplicação de nematicidas no plantio em áreas infestadas resulta em significativos
incrementos de produtividade, como pode ser visto no experimento cujos resultados estão
resumidos na figura 3.
A figura 6 ilustra uma área infestada, tratada ou não com nematicida no plantio.
Figura 6. Aspecto de uma cana planta com seis meses, conduzida em área infestada por
nematóides, não tratada (à esquerda) e tratada com nematicida no plantio.
Uma das razões para as excelentes respostas da cana planta ao uso de nematicidas
no plantio está relacionada à eficiência das raízes. Raízes jovens de plantas também jovens são
muito eficientes na absorção (ANGHINONI e MEURER, 1999). As raízes da cana planta são
fisiologicamente muito ativas, absorvendo eficientemente não só a água e os nutrientes, mas
também os nematicidas aplicados no solo. Em decorrência da boa absorção de nematicidas, há
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grande redução populacional de nematóides e, consequentemente, bom desenvolvimento das
raízes. Raízes bem desenvolvidas exploram melhor o solo, extraindo dele maior quantidade
dos nutrientes colocados à disposição da planta, o que contribui para maior produtividade da
parte aérea. É, portanto, um ciclo virtuoso que se dá no solo.
A aplicação de nematicidas no plantio aumenta a produtividade no primeiro corte do
canavial em 10 a 30%. Em solos mais argilosos e populações médias, estes incrementos são da
ordem de 10 a 12%; Em solos arenosos ou de textura média, com populações altas de
nematóides, os incrementos são de 30 a 35 %, podendo chegar a mais de 50 %, se a variedade
cultivada for muito suscetível.
Como o controle de nematóides no plantio contribui para melhor desenvolvimento
da parte aérea e do sistema radicular das plantas, o canavial, como um todo, tende a
apresentar menor número de falhas. Em conseqüência, a soqueira resultante de uma cana
planta tratada também se apresenta melhor desenvolvida e com falhas mais reduzidas. Assim,
muitas vezes, devido ao tratamento feito no plantio, observa-se incremento de produtividade
também na segunda colheita, variando de 5 a 12 t ha-1 (Figuras 7 e 8).
144.3
124.1114.9 114.7
29.4
9.4
0
20
40
60
80
100
120
140
160
1° corte 2° corte
Pro
du
tivid
ad
e d
e c
olm
os (
t/h
a)
Tratada Não tratada Incremento
Figura 7. Produtividade agrícola (t ha-1) da variedade RB867515, cultivada em área infestada
por M. javanica e P. zeae, tratada ou não com nematicida no plantio e incremento
de produtividade em função do tratamento nematicida (t ha-1).
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Figura 8. Aspecto de uma soqueira, três meses depois do primeiro corte, conduzida em área
infestada por nematóides, não tratada (à esquerda) e tratada com nematicida no
plantio (à direita).
O uso de nematicidas na implantação do canavial resulta em melhor desenvolvimento
da parte aérea e do sistema radicular das plantas e a cultura, como um todo, tende a
apresentar menor número de falhas. Em conseqüência, a soqueira resultante de uma cana
planta tratada com nematicidas também se apresenta melhor desenvolvida e com falhas mais
reduzidas. Portanto, o bom estabelecimento da cultura em seu primeiro ciclo (cana planta)
tem papel importante na longevidade do canavial.
Os nematóides, porém, atacam a cana-de-açúcar em todos os ciclos, e não somente na
cana planta. Assim, para uma maior longevidade do canavial, a adoção de medidas de controle
tem se mostrado fundamental.
Estimulados pelos bons resultados em cana planta, muitos produtores passaram a
aplicar nematicidas também em soqueiras, com o objetivo de aumentar a vida útil do canavial
e postergar os altos investimentos da reforma da lavoura.
d) Uso de nematicidas em soqueiras
Uma das questões frequentemente levantadas, quando se discute a aplicação de
nematicidas em soqueiras, se refere aos incrementos de produtividade. Vale a pena aplicar
nematicida em soqueiras? A Figura 9 mostra uma soqueira infestada por nematóides, tratada
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ou não com nematicida após o corte, na qual se vê claramente o melhor desenvolvimento da
faixa tratada, ilustrando os benefícios do tratamento da soca.
Figura 9. Soqueira de cana-de-açúcar tratada (à esquerda) e não tratada (à direita) com
nematicida após o corte.
Assim como ocorre em cana planta, o controle de nematóides em soqueira pode ser
viável economicamente, embora os incrementos de produtividade decorrentes do uso de
nematicidas nas socas sejam geralmente mais modestos do que os observados em cana planta.
As razões para uma menor resposta das soqueiras ao controle químico de
nematóides não estão perfeitamente esclarecidas, mas dois fatores merecem destaque. O
primeiro deles está relacionado à eficiência das raízes, já apresentado no item anterior. De
acordo com ANGHINONI e MEURER (1999), as taxas de absorção de nutrientes e água pelas
raízes decrescem rapidamente com a idade da planta; plantas jovens são mais eficientes na
absorção do que plantas velhas. Os autores afirmam também que raízes jovens de uma planta
velha não absorvem os nutrientes na mesma taxa que as raízes jovens de uma planta jovem.
Considerando a cana-de-açúcar, pode-se afirmar, portanto, que as raízes da cana
planta são fisiologicamente mais ativas, absorvendo mais eficientemente não só a água e os
nutrientes, mas também os nematicidas aplicados no solo. Em decorrência da melhor
absorção, a eficiência do nematicida na redução populacional de nematóides é maior,
justificando os maiores incrementos de produtividade observados em cana planta, em
comparação com as soqueiras.
Outro fator que merece destaque pela influência que exerce sobre o controle de
nematóides e, conseqüentemente, sobre os incrementos de produtividade devido ao uso de
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nematicidas em soqueiras é, sem dúvida, o período decorrente entre a colheita do canavial e a
aplicação do nematicida. A falta de resposta ao tratamento químico em soqueiras, em muitos
casos, deve ser atribuída à aplicação de nematicidas em época inadequada.
Para entender a razão da influência da época de aplicação do nematicida em
soqueira sobre a produtividade do canavial, é necessário considerar a dinâmica de crescimento
das raízes em cana-de-açúcar. Sobre este assunto, há a brilhante tese de doutoramento de
Antonio Carlos M. Vasconcelos, que foi resumida em VASCONCELOS e DINARDO-MIRANDA (2006) e
que serviu de base para o texto apresentado a seguir.
O sistema radicular da cana-de-açúcar cresce paulatinamente de um ciclo para o
outro (cana planta, primeira soca, segunda soca, etc.), o que é comum em plantas perenes
Segundo KLEPPER (1991), em perenes, o crescimento de raízes ocorre por fluxos de atividade,
com padrões de distribuição dos fotoassimilados variando com a estação do ano. Os trabalhos
de Vasconcelos, apresentados em VASCONCELOS e DINARDO-MIRANDA (2006), revelam que,
embora o volume de raízes da cana-de-açúcar aumente de um ciclo para o outro da cultura,
ocorre morte parcial de raízes em função da disponibilidade de água no solo. Sob condições de
déficit hídrico, grande quantidade das raízes morre, ocorrendo renovação sob condições de
acúmulo de água. Portanto, nos meses de seca a cana-de-açúcar perde parte de seu sistema
radicular, que volta a se desenvolver nos períodos chuvoso. Assim, a morte ou a renovação do
sistema radicular da cana-de-açúcar não estão relacionados ao corte da parte aérea, mas à
condição hídrica a que a cultura está submetida em determinado período de desenvolvimento
(Figura 10).
As raízes superficiais são as primeiras a morrer durante o período de estiagem e
também são as primeiras a se renovar durante o período das chuvas (VASCONCELOS, 2002).
Esse fato é bastante relevante, já que nutrientes e nematicidas, especialmente nas soqueiras,
são aplicados nas camadas superficiais do solo (5 a 10cm de profundidade).
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16
0
20
40
60
80
100
120
140
jan97 ago97 jan99 mai99 set99 jan00 mai00 set00 jan01
0-20 cm
20-40 cm
40-60 cm
60-80 cm
g/78 dm3
Figura 10. Massa seca de raízes da variedade RB72454, em 4 profundidades e sua
correspondência com o balanço hídrico do período (VASCONCELOS e DINARDO-
MIRANDA, 2006).
e) Aplicação de nematicidas em soqueiras colhidas em início de safra
Quando o corte é feito em abril e maio (início de safra), a cana apresenta grande
quantidade de raízes vivas e ativas, por ocasião da colheita, pois ainda há água disponível no
solo. Nestas condições, as populações de nematóides também são elevadas, pois as raízes são
abundantes e a temperatura e a umidade, adequadas para o desenvolvimento desses
parasitos. Por causa disso, a aplicação de nematicidas logo após o corte (5 a 10 dias) tem certo
efeito inicial sobre as populações de nematóides e consequentemente sobre o
desenvolvimento da cultura, como visto em alguns ensaios, entre eles aquele cujos resultados
estão apresentados na Figura 11. Entretanto, na maioria das situações, não há efeito algum.
-100-50
050
100150200
se
t-98
no
v-9
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jan
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0
jan
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Deficiência Armazenamento Evapotr. Real
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17
0 02,5
11,3
140
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148
152
156
160
Testemunha F 13ddc F 50ddc F 85ddc F127ddc
Área colhida em 10/05
Pro
du
tivid
ad
e (
t/h
a)
Figura 11. Produtividade (t/ha) em cada tratamento (em azul, incremento em relação à
testemunha; F 13ddc, F 50ddc, F 85ddc e F 127ddc representam nematicida aplicado
aos 13, 50, 85 e 127 dias depois do corte, respectivamente) (DINARDO-MIRANDA et al.,
2010).
Estes canaviais de começo de safra, embora tenham muitas raízes vivas por ocasião
da colheita, com o passar do tempo e escassez das chuvas, sofrem redução gradativa das
raízes, a começar pelas mais superficiais e passando para as mais profundas. Pode ocorrer
emissão lenta de raízes novas após chuvas ocasionais, mas, com a continuação do período
seco, as raízes recém emitidas e também as mais velhas morrem paulatinamente.
Consequentemente, a cana-de-açúcar, no final do período seco, apresenta pequena
quantidade de raízes vivas e ativas e se sustenta, basicamente, com as reservas do rizoma a
por meio das raízes de cordão, que atingem profundidades maiores. Com início do período
chuvoso, entretanto, há rápida emissão e crescimento de novas raízes. Em conseqüência deste
crescimento de raízes e das condições de temperatura e umidade adequadas para os
nematóides, é também no período chuvoso que as populações desses parasitos aumentam.
Se o nematicida for aplicado em pleno período seco, ele gradativamente se
decompõe no solo, e uma quantidade menor do que a aplicada fica disponível para as plantas,
no período chuvoso, quando então o produto é necessário, devido à emissão de novas raízes e
aumento das populações de nematóides. Esta é a razão para as aplicações feitas no período
seco (junho a setembro) não resultarem em incrementos de produtividade em muitos dos
ensaios conduzidos em áreas colhidas no início de safra. Por outro lado, uma aplicação tardia
de nematicidas, feita no início do período chuvoso (outubro, novembro) poderia ser bastante
adequada para reduzir as crescentes populações de nematóides no período. Sabe-se, porém,
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
18
que a severidade dos danos causados por nematóides está relacionada à fenologia da planta:
plantas mais velhas são afetadas de maneira menos severa do que plantas mais jovens
(DUNCAN e NOLING, 1998). Como os canaviais colhidos em início de safra dispõe de condições
hídricas e temperatura adequadas para brotação, eles inicialmente ganham massa verde e,
com e entrada do período seco mantém um lento crescimento das plantas, às custas das
reservas do tolete (CASAGRANDE e VASCONCELOS, 2008). Desta forma, canaviais colhidos em início
de safra, embora lentamente, crescem a partir da colheita, e, quando da entrada do período
chuvoso, quando o ataque de nematóides se intensifica, eles estão mais desenvolvidos e
sofrem menores danos devido ao ataque dos parasitos. Esta talvez seja a razão para não se
observar aumentos consistentes de produtividade nos ensaios nos quais as aplicações de
nematicidas foram feitas entre setembro e novembro, de 120 a 180 dias depois do corte. Um
dos poucos experimentos em que se observou aumento de produtividade devido à aplicação
tardia de nematicida em canavial de começo de safra está apresentado na Figura 12.
6.43.93.1
60
65
70
75
80
Testemunha F 120ddc F 150ddc F 180ddc
Área colhida em 11/05
Pro
du
tivid
ad
e (
t/h
a)
Figura 12. Produtividade (t/ha) em cada tratamento (em azul, incremento em relação à
testemunha; F 120ddc, F 150ddc e F 180ddc representam nematicida aplicado aos
120, 150 e 180 dias depois do corte, respectivamente) (DINARDO-MIRANDA et al.,
2010).
Além da resposta menos consistente da aplicação de nematicidas nos canaviais de
começo de safra, a aplicação tardia também é tarefa difícil de ser executada em campo, pois o
crescimento das plantas dificulta ou, até mesmo impede, a entrada de maquinários no
canavial.
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
19
O manejo de áreas infestadas por nematóides, quando submetidas à colheita em
início de safra, deve, portanto, ser considerado com cuidado. Em locais de populações altas,
pode haver resposta ao tratamento de soqueira, se ele for feito logo após o corte (5 a 10 dias),
mas em muitas situações a resposta ao nematicida não será significativa. Nestas condições,
talvez o mais interessante seja mudar a época de colheita. Em tais áreas, deveriam ser
cultivadas variedades médias ou tardias que, cortadas em meio ou final de safra (julho a
novembro) possibilitariam a aplicação de nematicidas com obtenção de aumentos
significativos de produtividade.
f) Aplicação de nematicidas em soqueiras colhidas em meio de safra
Vários experimentos foram conduzidos pelo IAC, em áreas colhidas entre julho e
setembro, em pleno período seco, aplicando o nematicida, em média, dos 5 aos 120 dias
depois do corte, mantendo-se parcelas testemunhas, sem nematicida, para comparação.
Nestes ensaios, os maiores incrementos de produtividade foram registrados quando se aplicou
o nematicida 60 dias depois do corte, ou seja, entre setembro e novembro, coincidindo,
portanto, com o início do período chuvoso, como apresentado na Figura 13.
4,3
9,5 10
16,4
80
85
90
95
100
Testemunha F 5ddc F 20ddc F 40ddc F 60ddc
Área colhida em 08/09
Pro
du
tivid
ad
e (
t/h
a)
Figura 13. Produtividade agrícola (t/ha) em cada tratamento (em azul, incremento em relação
à testemunha; F 13ddc, F 50ddc, F 85ddc e F 127ddc representam nematicida
aplicado aos 13, 50, 85 e 127 dias depois do corte, respectivamente) (DINARDO-
MIRANDA et al., 2008).
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
20
Para canaviais colhidos em meio de safra, em pleno período seco, a aplicação de
nematicidas logo após o corte é inadequada devido à falta de raízes para absorver o produto.
Sem raízes para absorvê-lo, o nematicida permanece no solo, sujeito à decomposição biótica e
abiótica, como discutido anteriormente. Assim, na época chuvosa, quando ocorrem emissão
de novas raízes e crescimento das populações de nematóides, a quantidade de nematicida
disponível é menor do que a aplicada, já que parte do produto se decompôs. Por outro lado,
ao fazer as aplicações de nematicida mais tardiamente, aos 120, 90 ou 60 dias depois do corte,
elas estão mais próximas ou até mesmo coincidem com o início do período chuvoso, quando
ocorre emissão de novas raízes, principalmente as superficiais, responsáveis pela absorção.
Dessa forma, o produto fica um tempo menor no solo sujeito à decomposição, sendo
aproveitado pela planta em sua quase totalidade. Isso explica porque nos ensaios conduzidos
em áreas colhidas entre a segunda quinzena de junho e primeira quinzena de setembro, os
maiores incrementos de produtividade foram obtidos quando se aplicou nematicida aos 90 ou
aos 60 dias depois do corte.
g) Aplicação de nematicidas em soqueiras colhidas em final de safra
Em canaviais colhidos a partir de final de outubro, no final do período seco ou em
plena época úmida, os maiores incrementos de produtividade geralmente são observados
quando o nematicida é aplicado logo depois do corte, como pode ser visto na Figura 14, que
traz resultados de um experimento conduzido nestas condições. As aplicações feitas mais
tardiamente, aos 40 ou 60 dias depois da colheita do canavial, resultam em menores
incrementos de produtividade.
Esta resposta pode ser explicada pelo fato das raízes estarem, por ocasião da
colheita, em pleno desenvolvimento assim como, as populações de nematóides. Aplicações de
nematicidas logo após o corte do canavial reduziriam as populações de nematóides e
proporcionariam bom desenvolvimento das plantas. Por outro lado, aplicações de nematicidas
feitas mais tardiamente resultam em incrementos menores provavelmente porque os
nematóides, favorecidos por condições edafoclimáticas adequadas e raízes abundantes,
crescem e causam danos às plantas por longo período, até que o tratamento seja efetuado. Em
canaviais colhidos em época chuvosa, portanto, aplicações efetuadas logo após a colheita são
mais efetivas.
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
21
22,2
9,9
80
90
100
110
120
130
140
Testemunha F 10ddc F 40ddc
Área colhida em 25/10
Pro
du
tivid
ad
e (
t/h
a)
Figura 14. Produtividade agrícola (t/ha) em cada tratamento (em azul, incremento em relação
à testemunha; F 10ddc e F 40ddc representam nematicida aplicado aos 10 e 40 dias
depois do corte, respectivamente) (SILVA et al., 2006).
Os resultados aqui apresentados sobre os efeitos da época de aplicação de
nematicidas em soqueiras são semelhantes aos de trabalhos mais antigos, relacionados à
adubação em soqueiras. Os trabalhos de IDE et al. (1984) e IDE et al. (1986) mostraram que,
em canaviais colhidos na época seca do ano (julho e agosto), as maiores produtividades foram
obtidas quando o adubo foi aplicado em setembro ou outubro, próximo ao início do período
chuvoso, à semelhança do observado nos ensaios com aplicação de nematicida. Para as áreas
colhidas em setembro, a aplicação do adubo em novembro, já em pleno período chuvoso,
resultou em menor produtividade, também em consonância com o observado nos ensaios com
nematicida. Neste caso, o atraso na aplicação do adubo prejudicou o desenvolvimento inicial
da soqueira, pois, com o início das chuvas, as plantas necessitavam dos nutrientes, que ainda
não tinham sido fornecidos, para seu pleno crescimento.
Os dados relativos à adubação ilustram que a preocupação em determinar o melhor
período para realização das operações em soqueira está presente nas várias áreas de manejo.
É importante ressaltar que o período de espera entre o corte do canavial e a
aplicação de nematicidas em soqueiras, a fim de obter o máximo de produtividade, pode e
deve ser alterado em função do regime de chuvas de determinada região ou ano. Em anos ou
regiões nos quais as chuvas são abundantes em setembro, por exemplo, a cana-de-açúcar
começa a emitir novas raízes nessa época e, em conseqüência, a aplicação de nematicida em
soqueira de meio de safra deve ser antecipada, de modo que o nematicida seja aplicado no
início do período chuvoso e não muito tempo depois dele. Da mesma forma, áreas
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
22
freqüentemente irrigadas, onde a dinâmica do desenvolvimento do sistema radicular é
diferente, também devem ser tratadas quando há raízes vivas, o que pode acontecer
imediatamente depois do corte.
Em canaviais colhidos em meio de safra, o desenvolvimento da parte aérea é, desde
o início, bastante lento, em função das baixas umidades no solo e temperaturas mais amenas,
porém também nessas condições, aos 60 ou 90 dias depois do corte (outubro/novembro),
plantas de algumas variedades podem atingir um porte alto o suficiente para dificultar a
entrada de equipamentos para aplicação de nematicida. Neste caso, a aplicação deve ser feita
um pouco antes da época considerada ideal, quando o porte das plantas ainda não limita a
entrada de máquinas e implementos. Assim, as aplicações devem ser feitas o mais tardiamente
possível, desde que não ocorram limitações em decorrência do desenvolvimento da parte
aérea.
Vale salientar que, neste conceito, a época considerada ideal para aplicação de
nematicidas é aquela em que a operação resulta no maior incremento de produtividade.
Assim, quando a aplicação for feita fora da época ideal, incrementos de produtividade podem,
eventualmente, ser obtidos, mas, com certeza, serão menores do que aqueles que seriam
observados, caso o nematicida tivesse sido aplicado na época ideal.
Finalmente, para aplicação de nematicidas em soqueiras infestadas por nematóides
devem ser consideradas as condições gerais da área a ser tratada. Áreas com muitas falhas e
previsão de baixa produtividade na colheita seguinte não devem receber nematicidas, pois, o
incremento de produtividade a ser obtido pode não justificar economicamente o investimento
realizado.
3. Referências
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açúcar a Meloidogyne javanica. In: CONGRESSO NACIONAL DA STAB, 9., 2008, Maceió,
Anais… p. 133-136.
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DINARDO-MIRANDA, L.L. Nematóides. In: DINARDO-MIRANDA, L.L.; A.C.M. VASCONCELOS;
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nematóides fitoparasitos e a produtividade da cana-de-açúcar. Nematologia Brasilera,
v.34, n. 1 p. 68-71, 2010.
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nematóides e a produtividade da cana-de-açúcar. Nematologia Brasilera, 2010 (no
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Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
25
PRAGAS EM CANA-DE-AÇÚCAR
Leila Luci Dinardo-Miranda
Centro de Cana-de-açúcar – Instituto Agronômico (IAC)
1. BROCA DA CANA-DE-AÇÚCAR, Diatraea sacharalis
A broca da cana D. saccharalis é uma das pragas da cana-de-açúcar mais conhecida,
tanto pelos danos que causa quanto pela sua dispersão: é encontrada em praticamente todos
os canaviais da América.
É um inseto de desenvolvimento homometabólico, ou seja, passa pelas fases de ovo,
larva, pupa e adulto. O adulto é uma mariposa com as asas anteriores de coloração amarelo-
palha com manchas mais escuras, lembrando dois “Vs” invertidos quando fechadas. As asas
posteriores são esbranquiçadas. A envergadura das asas mede cerca de 25mm. As fêmeas são
ligeiramente maiores, de abdome volumoso e asas menos pigmentadas do que o macho
(Figura 1). Após acasalamento, a fêmea faz postura nas folhas ainda verdes da cana, na face
superior, ou de preferência, na inferior e, algumas vezes, nas bainhas.
O número de ovos em cada postura é variável de 5 a 50, em média 12., sendo a
postura imbricada, assemelhando-se a um segmento de couro de cobra ou escama de peixe
(Figura 1). Cada fêmea pode colocar de 200 a 500 ovos. A eclosão da-se de 4 a 9 dias, em
média, variando com a temperatura, principalmente. As larvas recém-nascidas alimentam-se,
inicialmente, do parênquima das folhas ou da casca do entrenó em formação, e migram para a
região do cartucho à procura de abrigo, permanecendo ali por 1 a 2 semanas. Nesse período, o
inseto passa por 1 ou 2 ecdises e inicia a perfuração da casca do colmo. Geralmente, essa
perfuração ocorre próxima à base do entrenó, região mais mole, e o inseto prossegue fazendo
galeria no sentido ascendente na região do palmito da planta. Em alguns casos, a lagarta se
alimenta, abrindo galeria de forma circular, enfraquecendo o entrenó, que pode se quebrar
facilmente por ação do vento.
Quando o ataque se dá próximo à região de crescimento, ocorre morte da gema apical
e amarelecimento das folhas mais novas, conhecido como “coração morto”. Dentro do colmo,
o inseto passa por número variável de ecdises: geralmente mais quatro.
A lagarta é de coloração branco-leitosa, com pequenas manchas de coloração
castanha em todo corpo, cápsula cefálica marrom escura, três pares de pernas torácicas,
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
26
quatro pares de falsas pernas abdominais e um par de pernas anis. Quando completamente
desenvolvida, mede cerca de 25mm (Figura 1). A fase larval dura cerca de 70 dias, podendo ser
maior ou menor em função das condições ambientais.
Próximo à pupação, a lagarta abre um orifício na casca e o fecha parcialmente com fios
de seda e restos de sua alimentação. Assim protegida, passa para a fase de pupa, conhecida
como crisálida (Figura 1). A pupa é livre, inicialmente marrom clara, escurecendo a medida que
se aproxima do estágio adulto. A fase pupal dura cerca de 10 dias (Terán, 1983; Botelho e
Macedo, 2002; Gallo et al, 2002).
Figura 1. Adultos (fêmea, abaixo; macho acima), postura, larva e pupas de D. saccharalis.
(Fotos cedidas pela Biocontrol).
Fatores ambientais bióticos e abióticos exercem grande influência sobre as populações
da broca. Entre os fatores bióticos destacam-se os inimigos naturais nativos, que atuam sobre
todos os estágios biológicos da broca e pertencem a diversos grupos taxonômicos. Há um
consenso entre os pesquisadores de que a participação mais efetiva se dá sobre a fase de
ovos, na qual predadores, parasitóides e patógenos, de acordo com Téran (1980) chegam a
reduzir em 80% a população da praga.
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
27
A lagarta também está sujeita à ação de inimigos naturais, que agem principalmente
até a penetração dela no colmo. Nessa fase, em condições não perturbadas dos canaviais
paulistas, o controle está entre 15 a 20%, sendo causado principalmente pelas moscas
Paratheresia claripalpis, Lydella minense e pela vespa Cotesia flavipes (Téran, et al., 1983).
Outro fator ambiental que influi nas populações da broca em cana, especialmente por
afetar sua capacidade reprodutiva, é o cultivo de outros hospedeiros em áreas vizinhas aos
canaviais. Embora muitas plantas, especialmente gramíneas (Poaceae), sejam registradas
como hospedeiras de D. saccharalis, a praga estabelece-se e multiplica-se muito bem em
arroz, trigo, sorgo e milho. O milho é um ótimo hospedeiro da broca talvez por ter sido seu
principal hospedeiro nativo antes da chegada da cana às Américas. Segundo Téran (1980), o
sucesso do milho em aumentar as populações da broca poderia ser atribuído a sua maior
atratividade para os adultos da praga e a menor eficiência do controle biológico natural nessa
cultura. Assim, o plantio de milho em áreas vizinhas aos canaviais geralmente promove
incrementos populacionais da broca na cana.
A variedade cultivada também interfere nas populações da broca, já que existem
diferenças marcantes entre elas quanto à suscetibilidade à praga.
Embora, de uma maneira geral, a cana-de-açúcar seja atacada durante todo o seu
desenvolvimento, o ataque é menor quando as plantas ainda são pequenas, sem entrenós
formados, e, normalmente, cana planta é mais atacada do que as socas em conseqüência,
provavelmente, de seu maior vigor vegetativo e pelo maior tempo de sua exposição à praga.
Os fatores climáticos, especialmente temperatura e chuva, também são causa direta
e indireta das flutuações populacionais da broca, interferindo na duração do ciclo biológico e
na sua capacidade reprodutiva e exercendo pressões sobre os inimigos naturais e sobre a
própria cultura hospedeira, a cana-de-açúcar.
Nas condições do estado de São Paulo, em cana de ano e meio (plantada entre
janeiro e abril), a ocorrência de lagartas da broca é mais freqüente no início da primavera
(setembro/outubro), atingindo o pico populacional nos meses seguintes, em pleno verão. Em
cana de ano, plantada em setembro/outubro, os problemas se acentuam no início do ano
seguinte. Em variedades muito suscetíveis, regiões ou anos de condições muito propícias à
broca, o ataque é quase constante ao longo do ano, com ligeira queda no inverno e aumento
populacional nos períodos quentes e úmidos. Em soqueiras, geralmente, o ataque pode se
concentrar nos meses quentes e úmidos (Botelho e Macedo, 2002)
Os danos são causados pelas larvas ou lagartas, que se alimentam no interior dos
colmos e provocam redução do peso dos colmos, morte da gema apical da planta,
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
28
encurtamento de entrenó, quebra de colmos, enraizamento aéreo e brotação de gemas
laterais, nos casos mais graves.
Em decorrência dos orifícios abertos, há invasão de microorganismos nos colmos,
causando a podridão vermelha, que pode abranger toda a região entre as diversas galerias. Os
agentes mais comuns da poderidão vermelha são os fungos Colletotricum falcatum e Fusarium
moniliforme, que provocam perdas de sacarose pelo consumo desta e pela sua inversão.
Os orifícios abertos pela broca também são porta de entrada de pragas secundárias,
especialmente Metamasius hemipterus.
Há prejuízos, ainda, nos processos industriais, tanto pela dificuldade em cristalizar o
açúcar, em conseqüência do desdobramento da sacarose, quanto pela redução da eficiência
na fermentação alcoólica, devido à contaminação do caldo pelos microorganismos.
Estudos desenvolvidos por Almeida et al. (1997) revelaram que a cada 1% de
intensidade de infestação da broca corresponde a reduções de 0,25% de açúcar, 0,20% de
álcool e 0,77% de produção de colmos. Estudos mais recentes mostraram, entretanto, que as
perdas podem ser muito mais significativas, chegando a 0,49% de açúcar, 0,28% de álcool e
1,50% de produção dos colmos, a cada 1% de intensidade de infestação (Arrigoni, 2002).
Como os dados na literatura eram já bastante antigos, DINARDO-MIRANDA et al (2012)
desenvolveram um trabalho semelhante no IAC, para quantificar a interferência do ataque da
broca nos parâmetros tecnológicos de colmos de novas cultivares. O ensaio foi conduzido no
Centro de Cana IAC em Ribeirão Preto-SP, utilizando as cultivares IACSP95-5000 (cana planta e
cana soca, com respectivamente 14 e 10 meses de idade), IACSP93-3046 (cana planta com 14
meses de idade) e IAC91-1099 (cana planta com 15 meses de idade) e os dados completos
podem ser vistos na referida citação.
Neste trabalho, para cada cultivar, foram feitas análises tecnológicas de acordo com a
metodologia para Pagamento de Cana pelo Teor de Sacarose, PCTS, descrita por FERNANDES
(2001), em feixes com 10 colmos, agrupados de maneira a resultar em intensidades de
infestação de 0, 3, 6, 9, 12 e 15 % de entrenós brocados, que se constituíram nos tratamentos.
Confirmando o observado em trabalhos anteriores, também neste ocorreu maiores ataques de
broca resultando em aumento nos teores de fibra e de açúcares redutores e redução nos
teores de pol na cana e na pureza. Na média, a curva que representa a relação entre pol na
cana (y) e intensidade de infestação (x, % de entrenós brocados) é dada por y = 16,591 –
0,0672x, cujo coeficiente de determinação (r2) foi 0,92, (Figura 2).
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
29
y = 16.591 - 0.0672x
R2 = 0.9196
15.4
15.6
15.8
16
16.2
16.4
16.6
16.8
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Intensidade de infestação (% de entrenós brocados)
PC
C (
po
l%can
a)
Média das três variedades
Figura 3. Relação entre PCC (y, pol%cana) e a intensidade de infestação (x, % de entrenós
brocados) (Fonte: DINARDO-MIRANDA et al., 2012).
2. Manejo integrado da broca
A filosofia dos programas de manejo integrado é reduzir os prejuízos econômicos
ocasionados pela praga, causando impactos ambientais mínimos ou, preferencialmente, nulos.
Dessa forma, tais programas, em geral, preconizam a adoção de vários recursos ou métodos de
controle, uma vez que, para cada situação ambiental um será o mais adequado. Para o caso da
broca da cana, o manejo está baseado no uso de inimigos naturais, especialmente da vespinha
Cotesia flavipes, e é um dos exemplos mundiais de eficiência de controle biológico, em larga
escala. Porém, nos últimos anos, dada a crescente expansão da cultura, exigindo grandes
quantidades do parasitóide, nem sempre disponível, e devido a outros fatores, as populações
estão se elevando e, muitas unidades, estão utilizando controle químico.
Outras medidas, tais como o uso de variedades resistentes, têm aplicabilidade restrita.
Embora existam diferenças marcantes entre as variedades quanto à suscetibilidade à broca e
embora a maioria dos programas de melhoramento genético da cana no Brasil (IAC, CTC e
Ridesa) procure informar o comportamento de variedades liberadas para plantio em relação à
praga, não se faz, em áreas comerciais, locação de variedades baseada exclusivamente no
comportamento delas em relação à broca; outros fatores, como ambiente de produção, época
de colheita, mostram-se mais importantes para a locação de variedades. É certo, entretanto,
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
30
que variedades muito suscetíveis podem ter a expansão de seu cultivo comprometido em
decorrência de seu comportamento em relação à broca. De uma maneira geral, o
conhecimento da suscetibilidade da variedade em relação à broca é importante para outras
etapas do programa de manejo, tais como direcionamento de levantamentos populacionais.
3. Levantamentos populacionais
Devido à grande extensão das áreas cultivadas com cana-de-açúcar, são observadas
em campo muitas variações a respeito de variedades, condições edafoclimáticas, tratos
culturais e outros fatores que interferem significativamente no nível populacional da broca.
Por causa disso, tanto para emprego do controle biológico como de controle químico, são
necessários levantamentos populacionais, para indicar os locais, épocas e medidas de controle
mais adequadas para reduzir as populações da praga.
O método usado no levantamento populacional depende da medida de controle que
se deseja empregar. Independentemente do método de amostragem a ser adotado, a
amostragem em si deve ser feita de forma cuidadosa, pois as populações de broca, assim
como da imensa maioria de insetos, não tem distribuição homogênea na lavoura; elas ocorrem
geralmente de forma contagiosa (em reboleiras), como pode ser visto na Figura 4, que ilustra
a distribuição de forma contagiosa (reboleiras) de lagartas de D. saccharalis em canaviais
(DINARDO-MIRANDA et al. 2012).
Quando se pretende utilizar o controle biológico, liberando C. flavipes, a amostragem
deve visar as populações de broca que já penetraram nos colmos e que tem mais de 1,5 cm de
comprimento, pois são estas lagartas o alvo da vespinha.
Como o sucesso do controle biológico depende da estimativa das populações
ocorrentes da praga, os levantamentos populacionais são imprescindíveis. Assim, esses
levantamentos visam essencialmente assinalar o local e a época apropriados para melhor
utilização dos parasitóides a serem liberados, ou seja, identificar os talhões com maiores
infestações da broca, onde as vespinhas liberadas poderão se multiplicar vantajosamente,
beneficiando inclusive os talhões vizinhos. Além disso, os levantamentos estimam as
populações ocorrentes da praga, informação necessária para estabelecer a quantidade de
parasitóides a ser liberada nos talhões.
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
31
Figura 4. Mapas da distribuição espacial de lagartas em quatro canaviais (Fonte: DINARDO-
MIRANDA et al., 2012).
O IAC recomenda que as amostragens sejam feitas em 6 pontos por ha, sendo cada
ponto representado por 2 m, nos quais todos os colmos são despalhados e aqueles que
tiverem entrenós furados, são rachados para coleta de todas as formas biológicas da broca
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
32
(brocas pequenas, médias, grandes e crisálidas) e do parasitóide. Tais dados, registrados em
tabelas apropriadas, são utilizados para estimar a população da praga por ha (Dinardo-
Miranda et al., 2011).
Para fazer 6 pontos de amostragem por ha, em um talhão com espaçamento de 1,5
m, o caminhamento é aquele apresentado na Figura 5, onde a estrelinha representa o ponto
de amostragem.
16ª
linha
20 passos
15 m
Soca de cana cruaSoca de cana crua
40 passos
30 m
40 passos
30 m
33 linhas
33 linhas
Espaçamento = 1,5m
6 pontos/ha
40 passos
30 m
Figura 5. Esquema recomendado pelo IAC para caminhamento em canavial de 1,50m de
espaçamento entre sulcos, para amostragem de lagartas de broca e de cigarrinha.
Geralmente, as amostragens devem ser iniciadas pelas áreas de cana planta, de
variedades mais suscetíveis, irrigadas ou fertirrigadas e viveiro de mudas, em regiões com
histórico de altas infestações. Como a área com potencial para ser amostrada em uma usina é
muito grande, é importante que ela tenha um banco de dados bem estabelecido e um
software de gerenciamento para facilitar a seleção das áreas a serem amostradas a cada dia.
Quando é preciso lançar mão de inseticidas, o método de amostragem é diferente
pois os alvos dos inseticidas são as lagartinhas que ainda não entraram nos colmos. Assim,
devem ser vistoriados 125 colmos por talhão. Estes colmos devem ser coletados em diferentes
pontos do talhão, de maneira a representar todo o talhão. Dos colmos, deve-se desprezar as
folhas secas e retirar cuidadosamente as folhas verdes, olhando com atenção para localizar
lagartas pequenas, nas folhas, nas bainhas e nos colmos (palmito). Colmos infestados, ou seja,
com lagartas pequenas em seu exterior, devem ser marcados em ficha apropriada.
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
33
4. Liberações de parasitoides
Atualmente, na região Centro-Sul do país, o parasitóide utilizado no controle
biológico da broca é a vespinha C. flavipes, um endoparasitóide larval gregário, originário da
Ásia e Austrália e introduzido no Brasil em 1971 pela antiga Copersucar e pela Esalq. Algumas
usinas e destilarias possuem insetários para produção do parasitóide, mas há também
laboratórios particulares que o produzem e comercializam.
De uma maneira geral, recomenda-se a liberação de C. flavipes em número
proporcional à população da praga. Essa recomendação varia ligeiramente entre os
pesquisadores, assessores, laboratórios fornecedores e entre usuários (usinas e destilarias),
mas em geral, estão ao redor dos valores apresentados na Tabela 1.
Tabela 1. População estimada de broca (1,5cm ou mais) e número de indivíduos de C. flavipes
a serem liberados (Almeida et al., 1997).
População estimada de broca (número/ha) Indivíduos de C. flavipes a serem liberados
Até 3.000 6.000 vespas/ha
3.000 a 10.000 2 vespas/broca
10.000 a 15000 3 vespas/broca
Mais de 15.000 4 vespas/broca
Os parasitóides geralmente são acondicionados em grupos de 1.500, em copos
plásticos ou de papel. Por se tratar de material vivo, certos cuidados são imprescindíveis para o
sucesso do programa, entre eles, proceder à liberação nas horas mais frescas do dia, ou seja,
pela manhã ou no final da tarde, evitando a exposição dos copos aos raios solares e ambientes
de temperatura elevada. O material estará pronto para liberação quando os casulos estiverem
70% emergidos dentro dos copos.
Como trabalhos conduzidos pelo IAC revelaram que o alcance médio de voo da C.
flavipes está ao redor de 15 m, para aumentar as taxas de parasitismo o IAC recomenda que
as liberações sejam feitas em pontos distantes entre si de não mais que 30 m, uma vez que a
dispersão pode ocorrer em raio de somente 15 m. Desta forma, os parasitóides seriam
liberados em pelo menos 9 pontos por hectare.
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
34
A liberação deve ser feita de modo a cobrir toda a área problema, passando em
seguida para as demais áreas.
Canaviais em maturação não devem receber liberações, pois nessa fase já não há
mais tempo para evitar os danos.
5. Avaliação do parasitismo de C. flavipes
Para avaliar o desempenho do parasitóide, devem ser novos levantamentos
populacionais cerca de 10 a 15 dias depois das liberações. Com os dados tabulados, calcula-se
a porcentagem de parasitismo na área, dada pela fórmula:
%parasitismo = [total de parasitóides/(total de parasitóides + total da praga)] x 100
Recomendam-se novas liberações quando o parasitismo for inferior a 20%.
Convém ressaltar que, para cálculo do parasitismo, as formas biológicas coletadas em
campo devem ser levadas ao laboratório para o completo desenvolvimento, visto que, em
algumas lagartas da praga, recém parasitadas em campo, as “massinhas” do parasitóide serão
recuperadas no laboratório somente após alguns dias de desenvolvimento.
6. A eficiência do controle biológico da broca
As liberações massais de inimigos naturais ao longo dos anos permitiram a redução
significativa das populações da broca e, consequentemente de seus danos, expressos em
intensidade de infestação. Um dos exemplos é frequentemente citado pela Copersucar, e
ilustra claramente a queda nos índices de infestação final (II%) em função do crescimento e da
continuidade de liberação de parasitóides (Figura 6, Arrigoni, 2002).
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35
0
5
10
15
20
25
30
35
40
80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95 96 97 98 99 00. 01.
0
2
4
6
8
10
12
Liberações
(milhões de insetos ou de massas)
Ano
( I.I.%)
Figura 6. Parasitóides liberados pelas usinas cooperadas da Copersucar e índices de infestação
final (II%) obtidos, de 1980 a 2001 (extraído de Arrigoni, 2002)
7. Controle químico
Embora o controle biológico da broca seja muito eficiente, nos últimos anos tem
aumentado as áreas com altas populações da praga. Este aumento da população é resultante
de vários fatores como uso de variedades mais suscetíveis, colheita de cana crua, etc. Em
função disso, algumas unidades precisam aplicar inseticidas em áreas muito infestadas, como
uma medida auxiliar no manejo da broca.
A maioria dos inseticidas controla as lagartas que ainda não entraram no colmo. Por
isso, as amostragens devem focar este estágio da praga. Como mencionado em item anterior,
são vistoriados 125 colmos por talhão, e, se mais de 3 a 5 % deles estiverem com broquinhas
no palmito + folhas, os inseticidas podem ser aplicados.
Deve-se dar preferência para os produtos fisiológicos, pois tem menor impacto
ambiental.
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
36
A recomendação do IAC é que o manejo de broca seja feito de forma integrada
(biológico+químico) nas áreas de infestação muito alta, com histórico de altas populações, que
nos anos anteriores tenham apresentado altos índices de infestação final (ver amostragem
para infestação final adiante). Nestas áreas, no início do período mais adequado para
crescimento populacional da broca, ou seja, no início do período chuvoso, devem ser feitos os
primeiros levantamento para verificar as populações de broca. É interessante fazer os dois
tipos de levantamentos: tanto para detectar a ocorrência de colmos infestados por
broquinhas nas folhas e palmito (alvos dos inseticidas), quanto para estimar as populações de
broca no interior dos colmos (alvos da C. flavipes). Ocorrendo mais de 3 a 5 % de colmos
infestados externamente, deve-se fazer a aplicação de inseticida. Dependendo do inseticida
utilizado, deve-se esperar alguns dias e fazer liberações de C. flavipes.
8. Avaliação da infestação final da broca (levantamentos de infestação)
Os levantamentos de infestação final permitem estimar os danos e as perdas
causados pela broca e, por revelarem a infestação da praga em cada área, fornecem subsídios
para a escolha dos locais prioritários para controle, ou seja, daqueles por onde as amostragens
populacionais e liberações devem ser iniciadas.
Os primeiros levantamentos também equivalem a um diagnóstico inicial dos
canaviais, permitindo futuras comparações com os dados dos anos seguintes para avaliar os
resultados do programa de manejo.
As estimativas da intensidade de infestação final são realizadas durante a safra,
antes, durante ou depois do corte do canavial. Em áreas de colheita mecanizada, as
amostragens são feitas na frente de corte, pouco antes da colheita dos colmos pela máquina.
Para que a amostragem seja representativa, com amostras coletadas em vários locais do
canavial, os amostradores geralmente acompanham a máquina, coletando colmos ainda não
cortados, em vários pontos do talhão, a medida que a colheita avança. Em áreas de colheita
manual, a amostragem é feita geralmente após o corte, coletando-se colmos nos montes.
Outra opção é amostrar os colmos inteiros ou pedaços de colmos nos caminhões, quando
estes chegam à balança (plataforma).
Os métodos de levantamentos empregados pelas empresas variam ligeiramente entre
si, mas, basicamente constam da coleta ao acaso de 20 colmos ha-1 (ALMEIDA, 2005) ou 125
colmos por talhão homogêneo (mesma variedade, idade, corte, tipo de solo) com até 20 ha.
Nesse caso, os colmos são coletados em 5 pontos do talhão (25 colmos/ponto), e em cada
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
37
ponto, coletam-se 5 subamostras de 5 colmos cada, estando separadas entre si por 5 m
(BOTELHO e MACEDO, 2002).
Quando a amostragem é feita no pátio (plataforma), colmos inteiors ou toltes devem
ser retirados ao caso do caminhão, amostrando o correspondente a 20 colmos ha-1 ou 125
colmos por talhão.
Em qualquer situação, os colmos amostrados devem ser abertos ao meio,
longitudinalmente, e examinados. Em cada um, devem ser contados os entrenós totais e
aqueles com sintoma de ataque do complexo broca-podridão. Os dados assim observados são
anotados em fichas apropriadas e utilizados no cálculo do índice de infestação final (II% =
(número de entrenós brocados/número total de entrenós) x 100), para cada talhão.
Os resultados obtidos em determinada safra permitem a confecção de mapas de II.
9. Referências
ALMEIDA, L.C.; ARRIGONI, E.B.; RODRIGUES FILHO, J.P. Modelo de análise econômica para
avaliação do controle biológico da broca da cana-de-açúcar, Diatraea saccharalis. In:
Seminário Copersucar de Tecnologia Agronômica, 7., 1997. Piracicaba. Anais...
Piracicaba: Copersucar, 1997. p.95-104.
ARRIGONI, E.B. Broca da cana: importância econômica e situação atual. In: ARRIGONI, E.B;
DINARDO-MIRANDA, L.L.; ROSSETTO, R. Pragas da cana-de-açúcar: importância
econômica e enfoques atuais. Piracicaba, 2002 (CD).
BOTELHO, P.S.M.; MACEDO, N. Cotesia flavipes para o controle de Diatraea saccharalis. In:
PARRA, J.R.; BOTELHO, P.S.M.; CORREA-FERREIRA, B.S.; BENTO, J.M. (EDS.). Controle
biológico no Brasil: parasitóides e predadores. São Paulo, Manole, 2002. p.409-425.
DINARDO-MIRANDA, L.L.; FRACASSO, J.V.; PERECIN, D. Variabilidade espacial de populações de
Diatraea saccharalis em canaviais e sugestão de método de amostragem. Bragantia, v.
70, n.3, p.577-585, 2011.
GALLO, D. NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R.P.L.; BATISTA, G.C.; BERTI FILHO, E.;
PARRA, J.R.P.; ZUCHI, R.A.; ALVES, S.B.; VENDRAMIN, J.D. Manual de Entomologia
Agrícola. São Paulo, Ceres, 1988. 649p.
MACEDO, N.; BOTELHO, P.S.M. Controle integrado da broca da cana-de-açúcar Diatraea
saccharalis (Fabr., 1794) (Lepidóptera, Pyralidae). Brasil açucareiro, v.106, p.2-14. 1988.
TERAN, F.O. Fatores que afetam o manejo integrado de Diatraea saccharalis (Fabr., 1794)
(Lepdoptera: Pyralidae) em cana-de-açúcar. 1983. f. Dissertação (Mestrado em
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
38
entomologia) – Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São
Paulo, Piracicaba, 1983.
TERAN, F.O. Natural controlo of Diatraea saccharalis (F., 1794) eggs in sugarcane fields of São
Paulo. In: Congress of ISSCT, 2. 1980. Filipinas. Proceedings… Filipinas: ISSCT, 1980.
p.1704-1714.
TERAN, F.O. Densidade larval de Diatraea saccharalis (Fabr., 1794) e seu controle natural em
milho. In: Congresso Brasileiro de Entomologia, 6. 1980. Campinas.
Resumos...Campinas:SEB, 1980. p. 323-324.
TERAN, F.O. Estudos sobre amostragens populacionais de formas imaturas de Diatraea
saccharalis. Boletim Técnico Copersucar, v.41, p.31-36, 1988.
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
39
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
40
Lagartas aptas/ha = [b / (número de pontos x 2)] x 6666 = ___________
Parasitismo = [c / (a+b+c+d)] x 100 = _____________________________
Total ! (a)! (b)! (c) ! (d)
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Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
42
CIGARRINHA-DAS-RAÍZES, Mahanarva fimbriolata
1. Introdução
Desde que as áreas de colheita de cana sem queima prévia (cana crua) foram
expandidas, no Estado de São Paulo, uma praga até então de pouca importância econômica
vem causando sérios danos, tornando-se um problema de relevância para a cultura: a
cigarrinha das raízes, Mahanarva fimbriolata.Esta espécie se encontra disseminada também
em lavouras de cana de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Santa Catarina, Paraná,
Amazonas, Rio Grande do Norte, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia,
Mato Grosso do Sul e Goiás (Guagliumi, 1973; Mendonça et al., 1996). Além da cana-de-
açúcar, M. fimbriolata é freqüentemente encontrada em diversos capins e gramas
(Guagliumi, 1973)
Os adultos apresentam aproximadamente 13mm de comprimento por 6,5mm de
largura. Os machos são avermelhados, com asas orladas de castanho escuro e com uma faixa
longitudinal da mesma cor. As fêmeas normalmente são mais escuras, marrons avermelhadas,
com faixas das asas quase pretas (Figura 1). Têm hábitos crepusculares. São voadores de
pouco alcance, mas muito ativos. Após acasalamento, as fêmeas ovipositam na palhada e,
principalmente, na subsuperfície do solo, em reentrâncias próximas à base das touceiras. Os
adultos vivem cerca de 15 a 20 dias e uma fêmea põe entre 50 e 60 ovos. Os ovos, no período
seco, ficam em diapausa, com emergência das ninfas somente no início do período úmido, que
para região Centro-Sul do país corresponde à primavera/verão.
Em condições de temperatura e umidade elevadas, as ninfas emergem dos ovos
cerca de 15 a 20 dias após a postura, dirigem-se às raízes, de onde sugam grande volume de
seiva. Passam por cinco ecdises, num período de 30 a 45 dias, e estão sempre envolvidas por
uma espuma densa, bastante característica, cuja função principal é proteger as ninfas da
dissecação (Figura 2). Em condições de umidade e temperatura elevadas, o ciclo evolutivo
completo é de 45 a 60 dias (Guagliumi, 1973). O nome vulgar, cigarrinha das raízes, está,
portanto, relacionado ao local de alimentação e desenvolvimento das ninfas, as raízes.
Os fatores climáticos têm grande influência na dinâmica populacional destes insetos.
Ambientes quentes e úmidos favorecem significativamente o desenvolvimento da cigarrinha,
razão pela qual o incremento das áreas de colheita mecanizada de cana crua, no Estado de São
Paulo, contribuiu para aumentos significativos das populações desta praga. As condições
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
43
proporcionadas pela abundante cobertura vegetal deixada no solo são bastante favoráveis às
cigarrinha. Além disso, a despalha de cana a fogo, antes da colheita, contribuía para uma
destruição significativa de todas as formas biológicas da praga, especialmente, dos ovos em
diapausa (Dinardo-Miranda, 1999).
Visto que as ninfas começam a emergir dos ovos diapáusicos logo após as primeiras
chuvas da primavera, na região Centro-Sul o ciclo vital de M. fimbriolata inicia-se em
setembro/outubro, com as populações atingindo o ápice em dezembro/janeiro e reduzindo-se
significativamente em períodos de estresse hídrico, comuns na região em janeiro/fevereiro e
em abril, com o final das chuvas e início do inverno.
Figura 1. Adultos de Mahanarva fimbriolata
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
44
Figura 2. Espuma característica do ataque de ninfas de cigarrinha-das-raízes
Os danos à cana-de-açúcar são causados tanto pelas formas jovens da cigarrinha das
raízes, que extraem grande quantidade de água e nutrientes das raízes quanto pelos adultos,
que se alimentam nas folhas. As ninfas, ao sugarem as radicelas, atingem os vasos do xilema,
onde injetam secreção salivar e de onde retiram seiva bruta, contendo sais inorgânicos de
nutrientes extraídos do solo, vários aminoácidos e açúcares. Os adultos, ao sugarem a seiva
das folhas, injetam saliva nos estomas, local onde são armazenadas a água e as substâncias
que se transformarão em nutrientes para a planta, durante a fotossíntese. A saliva liberada,
tanto pelas ninfas como pelos adultos, é rica em enzimas e aminoácidos e auxiliam o inseto no
processo de ingestão do alimento. No entanto, são tóxicas para a planta, causando necrose
nos tecidos foliares e radiculares (Fewkes, 1969).
Em conseqüência do ataque dos adultos e das ninfas, o processo de fotossíntese é
reduzido e, como não ocorre a formação de açúcares nas folhas, não há acúmulo nos colmos e
eles se tornam menores, mais finos e com entrenós mais curtos. Sob infestações severas, os
colmos apresentam-se desnutridos e desidratados, secando do topo para a base, as folhas se
tornam de início amareladas e posteriormente secas, e toda a planta pode a atingir a morte. O
canavial fica completamente seco, com aspecto queimado. Estes sintomas podem ser notados
mesmo na época das chuvas, embora sejam mais evidentes no período seco subseqüente
(Figura 3).
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
45
Figura 3. Aspecto de um canavial atacado por cigarrinha-das-raízes
As quebras de produtividade podem chegar a 40-50%, em culturas colhidas em final
de safra. Em culturas colhidas em começo de safra, as quebras são menores, embora muitas
vezes, as populações encontradas nessas áreas sejam mais elevadas que nas demais. Isso
revela que a cultura colhida no início de safra suporta melhor o ataque da praga,
provavelmente porque as plantas estão mais desenvolvidas, com vários entrenós. Além disso,
esta cultura passa por um curto período de estresse hídrico, entre o final da época de
ocorrência da cigarrinha e a colheita. Os campos colhidos no final da safra sofrem o ataque
quando suas plantas estão ainda pouco desenvolvidas e, após ele, o longo período de estresse
hídrico até a colheita não favorece a recuperação das plantas, fazendo com que os danos
provocados pelas cigarrinha sejam acentuados nestas condições (Dinardo-Miranda et al.,
2001a).
Visto que o ataque da cigarrinha resulta em colmos menores, mais finos e secos,
chegando muitas vezes à morte, ocorrem também alterações na qualidade da cana-de-açúcar,
geralmente com redução nos valores de pol e aumento nos de fibra, como visto em Dinardo-
Miranda et al. (2000a). Além disso, há prejuízos nos processos industriais. Embora difícil de
mensurar, a grandeza desse tipo de dano é sentida na indústria, sempre que material
proveniente de canavial severamente atacado entra para moagem e extração de açúcar Os
colmos mortos e secos, em decorrência do ataque da praga, diminuem a capacidade de
moagem e, como muitas vezes, estão rachados e deteriorados, os contaminantes dificultam a
recuperação de açúcar e inibem a fermentação, reduzindo portanto os rendimentos industriais
e dificultando a obtenção de açúcar de qualidade.
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
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2. Manejo integrado da cigarrinha
Devido à grande extensão das áreas cultivadas com cana-de-açúcar, são observadas
em campo muitas variações a respeito de condições edafoclimáticas, tratos culturais,
variedades, nível populacional da praga, etc., fatores que interferem na eficiência de medidas
de controle. Desta forma, o manejo de áreas com problemas de cigarrinha, para ser bem
sucedido, deverá englobar todas as ferramentas disponíveis, pois, para cada situação, uma
delas se mostrará mais adequada. Dificilmente, uma única ferramenta de manejo será
eficiente em todas as condições de cultivo da cana-de-açúcar. Assim, é apresentado a seguir
um programa de manejo de cigarrinha das raízes em cana-de-açúcar, extraído de Dinardo-
Miranda (2003).
a) Uso de variedades resistentes
Do ponto de vista econômico e ambiental, o método mais adequado para reduzir os
danos causados pela cigarrinha, assim como por qualquer outra praga ou patógeno, é o uso de
variedades resistentes. No entanto, dados experimentais e de áreas comerciais mostram que
quase a totalidade das variedades cultivadas comercialmente é atacada pela praga, sofrendo
significativas reduções na produtividade e na qualidade tecnológica. o que torna o uso de
variedades resistentes uma ferramenta de difícil utilização, atualmente, num programa de
manejo da cigarrinha, simplesmente pela falta de material comercial com essa característica.
I IAC tem um programa de avaliação da resistência de seus novos genótipos à
cigarrinha. Há material promissor, com certo grau de resistência tipo antibiose e tolerância. No
futuro estes genótipos poderão ser ferramentas valiosas no manejo integrado da praga.
b) Levantamentos populacionais
Como todo canavial é um alvo potencial da praga, por se constituir de material
suscetível a ela, resta aos produtores identificar onde, quando e como fazer o manejo da
cigarrinha, a fim de minimizar os prejuízos. Para isso são necessários levantamentos
populacionais da praga, a base para qualquer programa de manejo bem sucedido. Como as
ninfas começam a eclodir dos ovos em diapausa, cerca de 15 a 20 dias após as primeiras
chuvas da primavera, os levantamentos populacionais devem ser iniciados nessa ocasião,
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
47
quando as primeiras ninfas são observadas em campo. Embora quase todas as variedades
sejam atacadas pela cigarrinha, deve-se começar os levantamentos por áreas cultivadas com
aquelas citadas anteriormente, reconhecidamente algumas das mais suscetíveis. Devem ser
amostrados 6 pontos por ha, sendo cada ponto constituído por 2m de sulco. Em cada ponto,
deve-se contar os adultos nas folhas e cartuchos das plantas e em seguida, afastar com
cuidado a palha entre os colmos, dispondo-a na entrelinha, a fim de que os pontos de espuma
possam ser visualizados. Depois disso, conta-se as ninfas e adultos nas raízes. Para visualizar
os insetos nas raízes, estes podem ser retirados da região radicular, na subsuperfície do solo,
com auxílio de um palito de madeira ou ferro, com cerca de 20 cm de comprimento e 0,5 cm
de diâmetro. A ocorrência de inimigos naturais, especialmente da mosca Salpingogaster nigra
(Diptera, Syrphidae) e de ninfas e adultos de cigarrinha mortos pela ação de fungos, tais como
Metarhizium anisopliae e Batkoa, poderá ser anotada. O registro dos dados observados deve
ser feito em ficha apropriada.
É importante que sejam amostrados muitos pontos por hectare (6) pois a praga
ocorre em reboleiras, ou seja, a variabilidade espacial de suas populações é muito alta. Por
causa disso, uma boa estimativa de suas populações exige uma amostragem feita em muitos
pontos no talhão. O esquema de caminhamento sugerido é o mesmo apresentado para a
broca (Figura 5 - item broca)
A figura 4 ilustra a variabilidade espacial de populações de cigarrinha-das-raízes.
Figura 4. Distribuição espacial de cigarinha-das-raízes em um canavial (Fonte: Dinardo-
Miranda et al., 2007)
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
48
c) Nível de controle e nível de dano econômico
Muito se discute sobre a densidade populacional de cigarrinha-das-raízes
(Mahanarva fimbriolata) acima da qual se deve entrar com medidas de controle, sejam elas
químicas ou biológicas. Esse valor, chamado em entomologia de nível de controle (NC), é
sempre inferior ao nível de dano econômico (NDE), que, por definição, é a densidade
populacional da praga na qual ela causa prejuízo à cultura semelhante ao custo de adoção de
uma medida de controle.
Por considerar custos (dos insumos, das aplicações, da cana, do açúcar, do álcool
etc), o NDE não é um valor fixo, constante. Ele é variável de um ano agrícola para outro, visto
que os preços dos insumos e produtos flutuam, assim como a época de colheita, a renovação
de variedades e outros fatores. Quanto mais suscetível a variedade, mais baixo é o NDE, pois
sob mesma infestação da praga, ela sofre maior dano que uma variedade menos suscetível.
Por outro lado, vários estudos mostram que determinada variedade sofre maiores danos
quanto mais tarde se dá sua colheita. Portanto, o NDE é menor para colheitas de final de safra
do que de início. Para as situações em que se pode adotar medidas e/ou produtos mais
baratos, o NDE é mais baixo do que para aquelas nas quais se adotam medidas e/ou produtos
mais caros.
A análise econômica (margem de contribuição agroindustrial e agrícola) dos
resultados observados em áreas comerciais e experimentais, nas quais se adotou medidas de
controle da praga, em várias regiões e envolvendo diversas variedades, épocas de corte,
populações da cigarrinha-das-raízes etc, sugere que o NDE, hoje, está provavelmente entre 3 e
10 insetos/m, ficando mais próximo do limite inferior - 3 insetos/m - em canaviais colhidos no
final de safra e, no limite superior -10 insetos/m -, em canaviais de início de safra. Como as
medidas de controle devem ser adotadas antes das populações atingirem o NDE, os valores de
NC são menores que os citados. Visto que os inseticidas, químicos ou biológicos, possuem
características distintas, o NC varia com o produto escolhido para controle, bem como com sua
dose. Assim, quanto maior o efeito de choque do inseticida, mais próximo do NDE se encontra
o NC, ou seja, a medida de controle pode ser adotada (NC) em uma densidade populacional
bem próxima, mas ligeiramente menor, do que aquela definida como NDE.
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
49
d) Controle biológico
A ocorrência natural do fungo M. anisopliae, atacando cigarrinha das raízes em
canaviais de todo o país, é bastante comum e incentiva o uso desse agente de controle
biológico em áreas infestadas pela praga. Somando-se a esse, o fato de que um programa
envolvendo controle biológico é extremamente interessante, por razões ambientais e também
econômicas, muitos esforços tem sido despendidos em estudos envolvendo essa ferramenta.
Atualmente, o fungo encontrado no comércio é multiplicado em grãos de arroz e
pode ser adquirido no arroz ou em esporos, já isolados do arroz.
Embora sua utilização tenha crescido nos últimos anos, são freqüentes os relatos de
ineficiência do fungo em campo, mesmo quando as aplicações são feitas em condições ideais
(ausência de sol e alta umidade relativa do ar) .
Dados o custo relativamente baixo do fungo, multiplicado em grãos de arroz, e sua
ação inicial relativamente lenta, quando comparado com certos inseticidas químicos,
preconiza-se que seu uso seja feito, preferencialmente, em áreas nas quais as infestações
estejam entre 0,5 e 2 insetos/m, pulverizando a base das plantas, com fungo na dose de
aproximadamente 2 a 4.1011 esporos viáveis/ha, o que corresponde a cerca de 1 a 2kg/ha de
arroz (2.108 esporos/g de arroz). Estas aplicações devem ser feitas de preferência no final da
tarde, à noite ou em dias nublados, de modo a evitar a incidência de raios ultravioletas, que
afetam a viabilidade dos esporos. Para aplicações aéreas, a distribuição direta dos grão de
arroz infestado parece mais apropriada que a de esporos em calda, já que o grão de arroz
atinge o solo com mais facilidade. As gotas de água contendo os esporos podem, em grande
parte, ficar retidas nas folhas, sujeitas à ação dos raios solares. Essas inferências, porém,
carecem de uma comprovação científica. Em ambos os casos, após a aplicação do fungo, as
áreas devem ser continuamente monitoradas e uma segunda aplicação pode ser feita se as
infestações subirem para 3 a 4 insetos/m.
Embora o controle biológico deva ser priorizado, aplicações de M. anisopliae as
vezes mostraram resultados pouco satisfatórios, especialmente sob altas infestações iniciais
da praga. Nesses casos, o controle químico é mais eficaz.
e) Controle químico
O controle químico é uma ferramenta bastante valiosa no programa de manejo da
cigarrinha, especialmente em canaviais colhidos a partir de agosto (meio para final de safra),
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
50
que sofrem maiores danos devido ao ataque da praga, e naqueles severamente infestados.
Embora os inseticidas químicos geralmente sejam caros e mais agressivos ao ambiente do que
os biológicos, o seu uso criterioso resulta em uma relação custo/benefício bastante
interessante e em baixos riscos ambientais.
Os inseticidas registrados para controle de cigarrinha são thiamethoxam e etiprole.
A aplicação de inseticidas químicos é recomendada nas áreas cujas populações,
entre final de outubro e dezembro, estejam ao redor de 3 a 4 insetos/m. Como canaviais
colhidos em início de safra (até julho) suportam populações maiores da praga, inseticidas
químicos podem ser aplicados quando as infestações são superiores a 10 insetos/m. Por outro
lado, em canaviais colhidos a partir do meio de safra (agosto), mais sensíveis ao ataque da
cigarrinha, a aplicação de inseticidas quando a praga atinge níveis populacionais ao redor de 3
a 4 insetos/m parece mais adequada.
Dados experimentais e de campo revelam que, em áreas nas quais as infestações
atingem níveis próximos ou superiores aos de dano, as respostas ao controle químico são mais
significativas, quanto antes ele for adotado. Assim, em experimento para avaliar a eficiência de
inseticidas no controle da cigarrinha e seus reflexos na produtividade agrícola e de açúcar,
foram feitas aplicações de inseticidas em novembro, dezembro ou janeiro. Embora a eficiência
dos produtos não tenha se alterado significativamente em função da época de aplicação, os
incrementos de produtividade foram maiores quando os inseticidas foram aplicados em
novembro. Em aplicações feitas em janeiro, não se observaram incrementos de produtividade,
em relação à testemunha, sugerindo que a cultura havia sofrido danos tão severos que não
conseguiu se recuperar. Desta forma, em áreas comerciais, a adoção de medidas de controle
deve ser feita preferencialmente até dezembro, já que aplicação tardia de inseticidas, químicos
ou biológicos, pode não resultar, na maioria das vezes, em incrementos de produtividade.
Além de ser feita o quanto antes, a aplicação de inseticidas mostra-se mais adequada
quando efetuada de uma só vez, ao invés de parcelada ao longo do período de ocorrência da
praga. Estudo conduzido por Dinardo-Miranda et al (2002) para avaliar a eficiência de
inseticidas quando aplicados em uma (outubro) ou em duas ocasiões (outubro e janeiro) ao
longo do período de ataque da cigarrinha, revelou que inseticidas aplicados uma única vez no
início do período de infestação (outubro) contribuíram para maiores reduções populacionais
da praga e, consequentemente, maiores incrementos nas produtividades de colmos e de
açúcar, quando comparados com a testemunha ou com a aplicação parcelada dos produtos.
Além da aplicação de alguns inseticidas em doses parceladas não ter contribuído para
incrementos de produtividade, em relação à aplicação única no início do período de ocorrência
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
51
da praga, essa prática não se mostrou adequada também por aumentar os custos da aplicação
e por exigir monitoramento constante da área.
f) Retirada ou afastamento da palha
O acúmulo de palha no canavial, deixando-o mais úmido, foi um fator importante
para os incrementos populacionais de cigarrinha. Assim, a retirada ou afastamento da palha de
cima da linha de cana contribui para reduzir as populações da praga, por manter as linhas de
cana mais secas, devido à maior incidência dos raios solares sobre ela. Experimentos
conduzidos no estado de São Paulo mostraram que a operação de enleirar a palha nas
entrelinhas de cana, deixando as linhas sem palha, pode ser uma prática eficiente para manter
baixas as populações da cigarrinha, durante todo o período de sua ocorrência, desde que suas
infestações não sejam elevadas demais (Dinardo-Miranda, 2002). Assim, em talhões com
histórico de altas populações, outras medidas de controle devam ser adotadas, isoladamente
ou em conjunto com o afastamento da palha, a fim de evitar prováveis quebras de
produtividade. Visto que em locais de populações mais elevadas, as infestações da praga
podem atingir picos de 15 a 20 insetos/m e, algumas vezes, até um pouco maiores, o
afastamento de palha parece mais indicado para canaviais colhidos em início de safra, pois
podem tolerar infestações maiores que aqueles colhidos a partir de julho.
Para adotar o enleiramento da palha, deve-se considerar algumas dificuldades
operacionais: (1) se feito logo após o corte, a camada de palha ainda é muito volumosa,
voltando para cima da linha de cana, com facilidade; além disso, quando ainda não se iniciou a
brotação da cana, é difícil visualizar a linha para passagem do implemento; (2) quando o
canavial está grande demais, a operação quebra muitos brotos, além de se quebrarem muitos
“dedos” do enleirador. Outro fator a considerar é que, se por um lado a retirada da palha da
linha de cana reduz as populações da cigarrinha, por outro, a brotação e o desenvolvimento
inicial de algumas variedades, especialmente se colhidas na época mais seca do ano
(julho/agosto), são severamente prejudicados, justamente devido à diminuição da umidade do
solo na região da linha, de onde se afastou a palha. Esse prejuízo ao desenvolvimento inicial da
cultura, muitas vezes, se reflete sobre a produtividade agrícola e é bastante marcante em anos
mais secos ou em solos ácricos.
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
52
g) Fogo
A queima pré-colheita do canavial é uma medida que reduz as infestações de
cigarrinha, no ciclo seguinte, por eliminar a palha e por matar parte dos ovos em diapausa. No
entanto, em áreas severamente infestadas, somente o fogo não é suficiente para reduzir as
infestações de cigarrinha a níveis não problemáticos, pois muitos ovos permanecem viáveis, já
que o fogo na pré-colheita aquece somente a camada superficial do solo, não atingindo
aqueles colocados em maior profundidade. Em situações de infestações elevadas, é comum a
ocorrência de cigarrinha em áreas de colheita de cana queimada, como em Goiás, por
exemplo.
Apesar de eficiente no controle da cigarrinha, em algumas situações, o fogo na pré-
colheita é de uso bastante restrito, por força da legislação ambiental.
Antecipação de colheita em áreas severamente atacadas
Nos locais onde ocorreu severo ataque das cigarrinhas, colmos secos e deteriorados
podem ser observados já no início do outono (abril/maio). Nesses casos, quanto maior o
tempo em que este canavial permanece em pé, mais acentuados se tornam os sintomas de
ataque da cigarrinha e maiores são as quebras de produtividade observadas. Assim, a
antecipação da colheita reduz as perdas de provocadas pela praga, embora não seja uma
medida de controle da cigarrinha.
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Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
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Levantamento populacional de cigarrinha-das-raízes
Fazenda________________ Talhão_____ Variedade________________
Corte:______ Data do corte__/__/__ Data do levantamento__/__/__
Ponto Insetos Ponto Insetos Ponto Insetos
01 11 21
02 12 22
03 13 23
04 14 24
05 15 25
06 16 26
07 17 27
08 18 28
09 19 29
10 20 30
Insetos/m = ______
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1. PRAGAS DE SOLO
1.1. Sphenophorus Levis
Nos últimos anos têm sido freqüentes, em várias regiões do Estado de São Paulo, os
relatos de canaviais severamente danificados e, até mesmo, dizimados, pelo besouro
Sphenophorus levis (Coleoptera; Curculionidae), conhecido como gorgulho da cana-de-açúcar.
De acordo com Precetti & Teran (1983), os adultos desta praga medem de 12 a 15mm de
comprimento, são marrons escuros com manchas pretas sobre o dorso e com a face ventral
preta (Figura 1). Após o acasalamento, as fêmeas perfuram os tecidos sadios do rizoma, com
as mandíbulas presentes no ápice do rostro ou bico e aí, na base das brotações, abaixo do nível
do solo, inserem os ovos. De sete a doze dias depois da postura, nascem as larvas, branco
leitosas, com a cabeça castanho-avermelhada e ápodas (Figura 1), que escavam galerias no
interior do rizoma, ao se alimentarem. Estas galerias permanecem cheias de serragem fina,
característica do ataque da praga. O período larval médio é de 50 dias, findos os quais passa-se
à fase pupal, ainda encerrada no interior dos colmos. A pupa é inicialmente branco leitosa,
tornando-se castanho-clara e com manchas dorsais à medida em que se desenvolve. Esta fase
dura cerca de 10 dias. Ao emergirem da câmara pupal, os adultos permanecem no solo, sob
torrões e restos vegetais ou entre os perfilhos, na base das touceiras. São bastante longevos,
vivendo por mais de 200 dias.
Os danos são causados pelas larvas que, broqueiam os rizomas (Figura 2). Em
conseqüência das galerias abertas na base dos colmos, ocorre amarelecimento de folhas,
seguido pelo secamento e morte de perfilhos, que podem ser facilmente destacados da
touceira. Sob infestações severas, as touceiras morrem e são observadas muitas falhas na
rebrota, favorecendo altas populações de plantas daninhas (Figura 3). Estes sintomas são
mais facilmente visualizados na época seca do ano (junho a agosto), quando são encontradas
as maiores populações de larvas.
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
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Figura 1. Adulto e larva de Sphenophorus Levis
Figura 2. Danos causados pelas larvas de S. levis.
Figura 3. Aspecto de um canavial infestado por S. levis
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
58
Os primeiros registros da praga, no final da década de 1970 e início da década de
1980, foram feitos na região de Piracicaba, SP, quando o inseto foi detectado em 14
municípios, mas atualmente S. levis já foi observado nas regiões Central (Araraquara, São
Carlos, Jaú, etc.), Sul (Assis, Ourinhos), Nordeste (Pradópolis) e Leste (Leme, Pirassununga,
Araras, São João da Boa Vista, Santa Cruz das Palmeiras, etc.) do Estado de São Paulo, estando,
portanto, em quase todas as regiões de cultivo de cana.
A dispersão da praga em longas distâncias se deu provavelmente com mudas
retiradas de local infestado, já que a capacidade de vôo do inseto é muito restrita. As mudas
podem transportar tanto insetos no interior dos colmos, já que em alguns casos as galerias
podem atingir os primeiros internós basais, como insetos, especialmente adultos, entre os
colmos depositados no solo, após o corte. Assim, a sanidade de viveiros, mais uma vez, se
mostra fator importante para reduzir os problemas fitossanitários da cultura. Pelo solo, os
adultos deslocam-se muito lentamente, o que explica sua dispersão somente de um talhão
para talhões vizinhos.
Nos últimos anos, além de registros de novas áreas infestadas, ocorreram
incrementos nas populações da praga, em decorrência das dificuldades de controle, já que a
eficiência de inseticidas químicos ou biológicos ainda não é bem clara, mesmo quando
utilizados no sulco de plantio e a destruição mecânica das soqueiras afetadas, embora
contribua para reduzir as populações, especialmente quando aplicado nas épocas mais secas
do ano, é insuficiente, em muitos casos, para um controle efetivo da praga. O uso de
armadilhas tóxicas, feitas com toletes de cana, rachados longitudinalmente e embebidos em
uma solução de inseticida, como descrito em Precetti & Arrigoni, (1990), muito comum no final
dos anos 80 e início dos anos 90, tornou-se proibitivo pelo seu alto custo, em função da grande
demanda de mão-de-obra, e praticamente foi abandonado. Hoje, esta medida só pode ser
indicada para controlar a praga em pequenas áreas, como por exemplo, em uma reboleira
recém detectada, numa fazenda ainda não totalmente infestada por ela. Nesse caso, valeria a
pena investir para impedir que a praga se espalhe por uma área maior.
A colheita de cana crua também contribuiu para aumentar as populações da praga.
Estudos conduzidos pelo IAC comparando populações e danos em áreas de colheita de cana
crua e de colheita de cana queimada revelaram que em áreas de colheita de cana crua as
populações da praga e seus danos aumentaram muito mais rapidamente do que na área de
colheita de cana queimada (Dinardo-Miranda, 2009). Isso porque o fogo (cana queimada) mata
muitos adultos da praga, já que eles ficam perambulando pelo solo e, por outro lado a
palhada, resultante da colheita de cana crua, serve de abrigo a esses adultos.
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1.2. CUPINS
Muitas espécies de cupins foram registradas em canaviais de todo o país. ARRIGONI et
al. (1989), fazendo levantamentos no estado de São Paulo, constaram a ocorrência de sete
gêneros de cupins, com nove espécies identificadas, nas áreas amostradas, sendo as mais
comuns Heterotermes tenuis (Hagen, 1858), Cornitermes cumulans (Kollar), Neocapritermes
opacus e Procornitermes triacifer. Na região Nordeste, as espécies mais comuns pertencem
aos gêneros Amitermes, Cylindrotermes e Nasutitermes, embora espécies de Heterotermes e
Neocapritermes também causem danos em algumas áreas (NOVARETTI e FONTES, 1998).
Segundo MACEDO (1995), as espécies presentes em canaviais podem ser divididas em
dois grupos pelos hábitos de construir suas colônias: cupins de montículos e cupins
subterrâneos. Os mais importantes são os cupins subterrâneos, cujas colônias se distribuem
em galerias no solo, sob rochas, no interior das raízes, etc. Neste grupo estão as espécies de
Heterotermes, Procornitermes, Nasutitermes, Neocapritermes, Syntermes e outros. As espécies
de Heterotermes são consideradas as mais importantes do ponto de vista econômico, pois se
alimentam de material lenhoso em várias fases de decomposição e das partes vivas das
plantas, tais como raízes, toletes e entrenós basais da cana-de-açúcar. No grupo que
contempla os cupins de montículos, a espécie mais comum em canaviais é a C. cumulans.
Estes insetos constroem ninhos acima do solo e são considerados de menor importância,
porque se alimentam basicamente de material vegetal morto e raramente são encontrados
atacando tecidos vivos.
Os cupins ocorrem em todos os tipos de solo, independentemente da textura, como
verificado por ARRIGONI et al. (1989), mas os danos são mais facilmente visualizados em
culturas conduzidas em solos arenosos, provavelmente porque, em comparação com solos
argilosos, os arenosos geralmente são menos férteis e retêm menor quantidade de água,
proporcionando às plantas neles conduzidas menores condições de suportar ataque de pragas.
Embora possam ser encontrados na lavoura durante todo ao ano, as populações na
região das raízes são maiores no período seco, o que pode ser atribuído ao fato de que os
indivíduos estão se utilizando das raízes não somente como fonte de alimento, mas também
como fonte de água.
As populações geralmente são mais elevadas em canaviais mais velhos, já que as
operações de preparo de solo para plantio reduzem as populações, por desestruturarem as
colônias. Com o passar do tempo, no entanto, as colônias se reorganizam e as populações se
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
60
elevam. Esse fato poder ser visualizado na figura 31, que mostra notas populacionais
observadas em levantamentos feitos em épocas secas, em canavial da variedade RB835486,
implantado em 27/03/03, em solo arenoso na região de Araçatuba, SP.
Quando atacam a cana-de-açúcar no plantio, os cupins destroem os toletes e
também as gemas (Figura 4) e, conseqüentemente, ocorrem falhas na brotação. Sob
infestações severas, os cupins podem destruir o interior dos entrenós basais, provocando
morte de perfilhos (“coração morto”), quando esses ainda são jovens ou quebra de colmos
adultos. Em decorrência do ataque de cupins, há severas reduções de produtividade. Em cana
soca, os danos se acentuam (Figura 5), com falhas na brotação da soqueira, baixa
produtividade e redução na longevidade do canavial. Segundo Novaretti et al (1985), os cupins
causam em média redução de produtividade da ordem de 10t/ha a cada colheita. Estudos mais
recentes, no entanto, mostram que essas reduções podem ser maiores.
Figura 4. Danos causados por cupins nos toletes utilizados no plantio.
Figura 5. Danos causados por cupins nos rizomas da cana-de-açúcar.
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
61
1.3. Migdolus fryanus
Há dez espécies no gênero Migdolus (Coleoptera: Cerambycidae); todas são
consideradas raras, com exceção de M. fryanus Westwood, que ocorre em canaviais dos
estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rondônia, Santa Catarina e São
Paulo.
Os adultos de Migdolus são besouros com marcante dimorfismo sexual, medindo de
12 a 37 mm. Os machos são pretos, castanho-escuros ou de cor castanha-avermelhada, têm
as asas membranosas desenvolvidas e funcionais, com antenas atingindo aproximadamente o
meio do corpo. Os olhos são de tamanho variável. As fêmeas são geralmente mais claras
(marrom ferrugínea), com asas não funcionais e antenas bem mais curtas que a dos machos.
Os olhos também são bem menores que nos machos e em geral um pouco salientes.
O inseto é de metamorfose completa, passando pelos estádios de ovo, larva, pupa e
adulto (Figura 6), mas a duração completa de seu ciclo ainda não é perfeitamente conhecida,
estimando-se que esteja entre 1 a 2 anos (TERÁN et al., 1983), porém uma parcela da
população pode completar o ciclo em três anos (ARRIGONI, 1995).
Nos meses quentes e úmidos, entre novembro e março, ocorrem as revoadas,
geralmente precedidas por chuvas (TERÁN et al., 1984; ARRIGONI et al., 1986). Os machos que
saem para a superfície do solo se mostram agitados e voam buscando as fêmeas, atraídos pelo
potente feromônio sexual que elas liberam. As fêmeas vagueiam pelo solo e podem ser
copuladas por vários machos. Fêmeas e machos não se alimentam e vivem às custas de suas
reservas energéticas. Depois da cópula, que em geral ocorre no primeiro dia em que surgem
na superfície do solo, as fêmeas de 7 a 38 dias, retornando imediatamente para o solo. Cada
fêmea oviposita de 14 a 45 ovos, a diferentes profundidades, podendo chegar até a 4 m. Os
machos vivem de 4 a 7 dias. Os ovos são brancos, de formato ovóide e medem de 6 a 7 mm. A
eclosão das larvas ocorre de 20 a 22 dias depois da postura, e elas são de cor branco-leitosa,
de formato cerambiciforme, ápodas e com a parte anterior do corpo mais alargada do que as
demais. Quando recém- eclodidas, provavelmente se alimentam de matéria orgânica. Passam,
possivelmente, por sete ínstares larvais, atingindo, quando completamente desenvolvidas,
cerca de 60 mm de comprimento. A pupa é livre, branco-amarelada e fica protegida na câmara
pupal, geralmente abaixo de 1,5 m de profundidade. Os adultos aparentemente emergem de 3
a 4 meses antes da revoada e no início são pouco móveis, permanecendo na câmara pupal até
o começo da época de acasalamento (revoada), quando então sobem à superfície (TERÁN et al.,
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
62
1983; ARRIGONI, 1988a, 1988b). Enquanto permanecem na câmara pupal, os adultos
apresentam a região abdominal expandida e são muito sensíveis à umidade, o que, de acordo
com ARRIGONI, (1988b), seja o fator mais importante para predispô-los às revoadas após o
início das chuvas.
As larvas possuem grande mobilidade no solo e, durante sua movimentação, formam-
se numerosos canais ou galerias, posteriormente usados pelos adultos para atingir a superfície
do solo.
As populações de larvas são mais elevadas na camada superficial do solo na época fria
e seca do ano.
Embora possam ocorrer em qualquer tipo de solo, os sintomas de ataque são mais
severos em solos arenosos, onde as plantas têm menos condições de suportar danos devido às
restrições nutricionais e principalmente de água.
Além da cana-de-açúcar, Migdolus spp ataca várias outras plantas cultivadas, como
café, feijão, mandioca, algodão, além de eucalipto, várias gramíneas utilizadas em pastagens e
cipós nativos (BENTO et al., 2004).
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Figura 6. Macho, fêmea, adultos em acasalamento e larvas de M. fryanus (Fotos: G.C. PIUBELLI e
L.L. DINARDO-MIRANDA).
Os danos são causados pelas larvas que atacam o sistema radicular, danificando tanto
as raízes superficiais como as mais profundas. Também atacam os rizomas (internódios basais
localizados abaixo da superfície do solo), abrindo galerias. Em conseqüência da destruição das
raízes e rizomas, as plantas não se desenvolvem, amarelecem, secam e morrem, reduzindo
drasticamente o estande e a produtividade do canavial. Em reboleiras severamente infestadas,
pode ocorre destruição total do canavial (Figura 7). Geralmente, há redução na longevidade
da lavoura.
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Figura 7. Reboleira de plantas atacadas por Migdolus: canavial adulto em vista aérea (à
esquerda) e canavial recém-cortado (à direita) (Fotos: M.A. P. LIMA; L.L. DINARDO-MIRANDA).
2. Manejo de áreas infestadas
a) Amostragens de rotina em áreas de reforma
Em áreas cultivadas com cana-de-açúcar, as amostragens para estimar as populações
de pragas de solo devem ser feitas, rotineiramente, logo após o último corte do canavial e
antes da destruição da soqueira, o que coincide, normalmente, com o período mais seco do
ano, quando as populações são mais elevadas. O método de levantamento mais utilizado é o
proposto por ARRIGONI et al. (1988), que consta de 2 pontos de amostragem por ha, e em cada
ponto abre-se, na linha de cana, uma cova de 0,50 m de largura por 0,50 m de comprimento e
0,30 m de profundidade. O IAC, entretanto, recomenda que sejam feitos pelo menos 6 pontos
por ha, pois estudos preliminares indicam que, quando a praga ainda está em população não
muito alta, ela pode causar perdas severas à cultura, mas geralmente não é detectada em
amostragens feitas em somente 2 pontos/ha. Especialmente para S. levis, o aumento no
número de pontos amostrados por hectare, durante levantamento, é extremamente
importante. O solo e material vegetal contidos na cova são vistoriados, anotando-se em ficha
apropriada (figura 8) a ocorrência de danos nas touceiras, a presença de cupins e de outras
pragas de solo (Migdolus, S. levis e outros). Para cupins, deve-se atribuir nota em função do
número de indivíduos presentes (0 = sem cupins; 1 = 1 a 10 indivíduos; 2 = 11 a 100
indivíduos; 3 = mais de 100 indivíduos). Os soldados devem ser coletados, colocados em vidros
com álcool 70% ou formol para identificação da(s) espécie(s) presente(s). É importante
identificar as espécies de cupins ocorrentes, pois, como anteriormente citado, há espécies
mais daninhas à cana-de-açúcar que outras.
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Os dados da amostragem de rotina são utilizados para tomar decisão de controle por
ocasião do novo plantio.
Figura 8. Ficha utilizada em levantamento de pragas de solo.
Além do levantamento populacional em áreas de reforma, anteriormente citado, áreas
infestadas por M. fryanus podem ser monitoradas por armadilhas com feromônio distribuídas
no canavial. As armadilhas podem ser de vários tipos, mas constam basicamente de um
recipiente com água e detergente no fundo e um dispositivo (arame) no qual a pastilha de
feromônio é presa. O feromônio utilizado é sexual e, na natureza, é liberado pelas fêmeas para
atração dos machos. Nas armadilhas, utiliza-se um feromônio sexual sintético, com alta
capacidade de atração.
Por se tratar de um inseto de solo, as armadilhas devem ser colocadas rentes ou
ligeiramente abaixo da superfície do solo, uma vez que os machos atraídos voam em direção à
fonte do feromônio e descem ao solo, caminhando até a armadilha, onde ficaram retidos na
solução de água e detergente (5%).
Visando ao monitoramento das populações de M. fryanus, as armadilhas devem ser
distribuídas ao longo dos carredores, em número variável de 1 a 10 a cada 10ha. Como as
revoadas ocorrem, geralmente, entre novembro e março, as armadilhas devem ser colocadas
na área a ser monitorada nesse período, fazendo-se vistorias periódicas para certificar-se da
presença de adultos nas armadilhas. É aconselhável a substituição das pastilhas a cada 15 ou
20 dias (BENTO et al., 1995).
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A coleta de adultos na área indicará a ocorrência da praga. O uso de armadilhas com
feromônio é indicado para áreas com suspeita da presença da praga, nas quais não se
detectaram larvas durante os levantamentos tradicionais. Também é indicado para áreas de
expansão, sem informações sobre a presença da praga.
Muitas vezes, ao se fazer o levantamento tradicional em áreas para reforma ou
mesmo utilizando-se armadilhas com feromônio, não se detectam formas biológicas de M.
fryanus ou de outras pragas de solo, como S. levis. Entretanto, com a cultura implantada,
notam-se em campo reboleiras de plantas depauperadas, secas, com sistema radicular e
rizomas danificados. Nesses casos, é aconselhável proceder-se a um levantamento para
confirmar a presença de pragas e, se possível, delimitar a reboleira, usando-se GPS. A reboleira
assim demarcada deve ser plotada em mapa, a fim de que futuras medidas de controle
possam ser adotadas.
b) Amostragens em canaviais em condução e em viveiros
Quando a cultura já estiver implantada, pode ser necessário adotar medidas de
controle. Isso é especialmente importante para canaviais infestados por S. levis. Esses
canaviais, mesmo que já tratados no plantio, podem exigir novos tratamentos nas soqueiras.
Para esses casos, é importante amostrar o canavial a fim de decidir se será ou não necessário
adotar medidas de controle nas soqueiras.
Nestes casos, o interessante é fazer a amostragem logo após o corte, pois o
caminhamento na área é facilitado. O procedimento a ser adotado é o mesmo adotado na
amostragem de rotina (6 pontos/ha), mas, neste caso, como o objetivo é somente S. levis,
cujas larvas e pupas se concentram no interior do rizoma, não é necessário demarcar as covas
de 0,50 m de largura por 0,50 m de comprimento e 0,30 m de profundidade; Basta marcar 50
cm no local a ser amostrado (na linha de cana) e, neste local, retirar todo o material vegetal
para ser cuidadosamente vistoriado. Formas biológicas das pragas eventualmente encontradas
são então registradas em ficha apropriada. Para facilitar, pode-se utilizar a mesma ficha
apresentada na Figura 8.
Outra situação em que a amostragem de um canavial em condução se faz necessário
é quando este canavial é um viveiro. Neste caso, é imprescindível proceder às amostragens
continuamente na área para se certificar de que ela está, de fato, livre de S. levis. Estas
amostragens podem ser feitas durante todo o desenvolvimento da cultura, a partir dos 6
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
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meses de idade. Assim, seria interessante proceder às amostragens aos 6, 9 e 12 meses de
idade do viveiro.
Em áreas de viveiros é também importante monitorar a presença de adultos de S.
levis.
Adultos de S. levis podem ser monitorados por iscas tóxicas, constituídas de dois
pedaços de colmos com cerca de 30 cm, rachados longitudinalmente e embebidos em solução
inseticida com melaço. As iscas devem ser colocadas na base das touceiras, em número de 10
por ha, cobertas com capim, palha ou folhas de cana (PRECETTI e ARRIGONI, 1990). Tais iscas
atraem os adultos e podem ser utilizadas para detectar a presença da praga em áreas de
baixas infestações, nas quais as larvas e pupas não foram detectadas pelo método de
levantamento tradicional.
3. Nível de dano econômico
Não há estudos recentes desenvolvidos com o objetivo de definir o nível de dano
econômico de pragas de solo para a cana-de-açúcar. Considerando-se porém, que os preços
atuais de cana, açúcar e álcool são bastante vantajosos, a análise de áreas comerciais e
experimentais sugere que medidas de controle devem ser adotadas quando os levantamentos
revelarem, em solos arenosos, 25% de touceiras atacadas por H. tenuis ou 40% de touceiras
atacadas por outras espécies de cupins, que não H. tenuis. Em solos argilosos, que geralmente
propiciam às plantas melhores condições de desenvolvimento, medidas de controle podem ser
adotadas quando forem registradas cerca de 40% de touceiras atacadas por H. tenuis ou 60%
de touceiras atacadas por outras espécies de cupins, que não H. tenuis.
Por outro lado, áreas infestadas por M. fryanus e/ou S. levis sempre recebem medidas
de controle, devido aos grandes danos provocados por essas pragas e à baixa eficência das
medidas de controle. A medida a ser adotada varia com a infestação.
4. Medidas de controle
A) Destruição mecânica de soqueiras infestadas
Independentemente das espécies de pragas de solo encontradas na área, o manejo
envolve a destruição mecânica de soqueiras atacadas.
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A destruição mecânica da soqueira é ferramenta importante para reduzir as
populações de pragas de solo, pois desestrutura (e algumas vezes, destrói) as colônias de
cupins e mata, por danos mecânicos e/ou exposição ao sol e aos predadores, larvas e pupas de
M. fryanus e S. levis. Por essa razão, deve ser feita na época seca do ano, entre julho e
setembro, quando as populações de larvas de M. fryanus e S. levis são mais elevadas nas
camadas superficiais do solo.
Esse método de controle é bastante eficiente para reduzir as populações de larvas que
se encontram até 20 ou 30 cm de profundidade. Como os equipamentos utilizados para
destruir soqueiras (grade aradora, grade destorroadora, eliminador de soqueira) não atingem
profundidades maiores, os insetos localizados nas camadas mais profundas do solo não são
afetados diretamente por essa prática. Além disso, quando a infestação na área é muito alta,
somente a destruição mecânica da soqueira velha não é suficiente para reduzir as populações
da praga a níveis tão baixos que dispense outras medidas de controle. Por isso, além da
destruição mecânica da soqueira velha é preciso aplicar inseticidas no plantio.
B) Controle químico
Áreas infestadas por S. levis devem receber inseticidas no plantio e nas soqueiras.
O IAC desenvolve uma série de experimentos nesse sentido e os resultados obtidos até
agora revelam que os inseticidas mais eficientes no controle de S. levis são fipronil,
imidacloprid e thiamethoxan (Dinardo-Miranda et al., 2010; Fracasso et al., 2011). Mesmo
sendo os mais eficientes, tais produtos tem eficiência mediana no controle da praga e tal
desempenho pode ser atribuído ao hábito dos adultos de se movimentarem pouco e ao fato
de as larvas e pupas ficarem no interior dos rizomas, em locais pouco acessíveis aos produtos.
Embora muitos dos inseticidas testados sejam sistêmicos, há a tendência de eles se
deslocarem para as demais regiões da planta, o que reduz a concentração nos toletes e
rizomas, onde as larvas se alimentam. Apesar da eficiência mediana desses inseticidas, quando
eles são aplicados no plantio, contribuem para grandes incrementos de produtividade,
justificando o uso em programa de manejo da praga.
Em muitos casos é preciso também aplicar inseticidas na soqueira. Estudos conduzidos
pelo IAC mostram que os produtos mais eficientes, em aplicações na soqueira, também são
fipronil, imidacloprid e thiamethoxan e devem ser aplicados, de preferência, por meio de um
equipamento que corta a soqueira no meio para injetar o produto (Dinardo-Miranda et al.,
2006)..
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Quando a área se mostra infestada somente por cupins, os produtos recomendados
são fipronil, imidacloprid e thiamethoxan em mistura.
Estes mesmos produtos são também recomendados para controle de Migdolus
fryanus.
Em áreas infestadas por Migdolus, o inseticida deve ser aplicado em profundidade, por
bicos colocados atrás das bacias do arado de aiveca. Este método, que implica num consumo
de 300 a 700 L/ha de calda, visa depositar o inseticida a cerca de 40 cm de profundidade,
formando uma barreira protetora. Essas áreas ainda recebem, por ocasião do plantio,
inseticida aplicado no sulco, imediatamente antes da cobertura dos toletes.
Algumas unidades, por falta de equipamento adequado, somente aplicam inseticida
sobre os toletes, antes do fechamento dos sulcos. Nesse caso, o produto geralmente é
aplicado em dose dupla. Trabalhos do IAC (Dinardo-Miranda et al., 2010) e de outros
pesquisadores mostram que a aplicação de inseticidas no arado de aiveca é mais eficiente para
reduzir as populações da praga do que a aplicação no sulco de plantio.
Como o controle de M. fryanus exige a aplicação de inseticidas em doses elevadas, é
conveniente mapear corretamente as áreas infestadas por essa praga, a fim de reduzir ao
máximo o tratamento químico e, em conseqüencia, o custo do tratamento e os impactos
ambientais decorrentes do uso de inseticidas.
Muitas vezes, a ocorrência de M. fryanus se dá em reboleiras isoladas no interior do
talhão. Nesses casos, deve-se proceder ao tratamento somente na área infestada e em uma
larga bordadura ao seu redor.
Algumas empresas também fazem aplicações de inseticidas na soqueira, visando
reduzir as populações de M. fryanus. Nem sempre, porém, essa prática é economicamente
viável, pois a eficiência de inseticidas aplicados na soqueira é bastante inferior à observada
quando a aplicação se dá no sulco de plantio.
C) Medidas auxiliares
C. 1 - Uso de matéria orgânica no plantio
Não há estudos comprovando que o emprego de matéria orgânica, tal como torta de
filtro ou torta de mamona, tenha algum efeito sobre as populações de pragas de solo.
Entretanto, o uso desse material no plantio é uma ferramenta interessante no manejo de
Curso Tópico da Cultura de Cana IAC
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áreas infestadas, por propiciar melhores condições de desenvolvimento para as plantas,
capacitando-as a suportar melhor os danos causados pelas pragas.
C.2- Rotação de culturas
Em áreas de reforma infestadas por M. fryanus, o plantio de crotalárias também é
bastante recomendável, por propiciar melhores condições de desenvolvimento do canavial,
em decorrência dos benefícios promovidos pela adubação verde.
Por outro lado, em se tratando de áreas infestadas por S. levis, a melhor alternativa
seria manter a área no limpo, no período entre a destruição da soqueira e a implantação de
nova cultura. No entanto, como o solo exposto fica muito sujeito à erosão, o plantio de adubos
verdes muitas vezes se faz necessário. Nessas condições, o feijão-guandu é a cultura mais
indicada por propiciar menor sobrevivência de adultos em comparação com as crotalárias
(ARRIGONI e PRECETTI, 1997).
C.3 - Uso de vinhaça
Se a aplicação de vinhaça parece não interferir nas populações de M. fryanus,
observações em campo revelam que as populações de S. levis se elevam significativamente
em talhões fertirrigados, talvez por favorecer a sobrevivência de adultos. Por isso, áreas
infestadas com S. levis devem receber vinhaça com parcimônia.
C.4 - Manutenção da cultura no limpo
A observação de áreas comerciais revela maiores populações de S. levis naquelas onde
as infestações de plantas daninhas também são elevadas, sugerindo que estas servem de
abrigo aos adultos, favorecendo sua sobrevivência e longevidade. Portanto, a manutenção da
cultura no limpo é ferramenta importante para reduzir os danos provocados pela praga.
C.5 - Uso de mudas sadias
Na implantação de nova lavoura, cuidado especial deve ser dado ao material utilizado
como muda. Visto que larvas, pupas e adultos de S. levis podem ser transportados no interior e
entre os colmos retirados de local infestado, o uso de mudas sadias é ferramenta valiosa para
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impedir a introdução de S. levis em novas áreas. Até mesmo o cultivo em locais infestados
deve ser feito com mudas isentas dessa praga, a fim de que não ocorra aumento populacional
na área. Assim, viveiros de mudas não devem ser conduzidos em áreas infestadas por S. levis.
C. 6 - Uso de iscas tóxicas
Em áreas infestadas por S. levis, iscas tóxicas, constituídas de dois pedaços de colmos
de aproximadamente 30 cm, rachados em sentido longitudinal e embebidos em solução
inseticida (inseticida + melaço + água) podem ser utilizadas para reduzir as populações de
adultos. As iscas devem ser colocadas na base das touceiras, em número de 500 a 1.000 por
ha, cobertas com capim, palha ou folhas de cana (PRECETTI e ARRIGONI, 1990). Devido à grande
necessidade de mão-de-obra, essa medida é de uso restrito às pequenas reboleiras.
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