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MeditaçãoDas dificuldades da mente ocidental na busca do Yoga(Texto escrito pela Professora Larissa Gandolfo a partir
reflexões realizadas em Satsanga com o Mestre Victor Lino)
Se por conta de nossas limitações históricas e culturais por muitas
vezes encontramos dificuldade em compreender as diferentes formas do
pensamento oriental – seja quando nos referimos ao Japão, à China ou à Índia
- por outro lado, o pensamento ocidental parece sempre apresenta-se como
algo tangível. Essa divergência pode encontrar um motivo no modo cartesiano
positivista de buscar uma classificação e análise racional das questões ligadas
ao conhecimento.
Assim, como ocidentais formados nessa linha de pensamento, enviamos
nossas crianças à escola para que tenham acesso aos conhecimentos
sociamente acumulados pela humanidade, de forma compartimentada, bem
classificada e estratificada por ordem de dificuldade e importância. E assim
seguimos no caminho do conhecimento no ocidente: em diferentes instituições,
classificando, ordenando, sedimentando e acumulando conhecimentos – no
geral científicos – que vão nos dando uma melhor ou pior colocação na vida
social.
Pensamos demais – não por gosto, mas por necessidade – e
aprendemos, desde muito cedo, a buscar raciocinar sobre tudo. A matemática
nos parece o limite da verdade e o que não pode ser alcançado por ela ainda
sim é por ela dominado como uma incógnita. Nada escapa a mente racional
ocidental. Não há espaço para o mistério. Não há espaço para o mito, não há
espaço para o ser que não possa ser explicado com fórmulas e soluções.
Assim aprendemos desde cedo e, quando nos deparamos com o conhecimento
do Yoga, assim buscamos proceder, na tentativa de obter êxito por meio dos
caminhos que conhecemos.
Por essa via procuremos classificar o Yoga como um tipo de
conhecimento humano dentro dos limites da razão. Encontraremos o primeiro
desafio na diferenciação entre o Yoga e as religiões. Apesar da existência de
diversas religiões que se apropriaram das práticas do Yoga, ele por si só não
poderia ser considerado uma religião?
Se considerarmos os vestígios das civilizações no vale do Hindu
onde acredita-se que o Yoga tenha surgido primordialmente, chegaremos à
conclusão que esta prática estava sedimentada em uma sociedade que, pelo
indícios históricos, não apresentava uma hierarquia entre homem-natureza ou
homem-deus. O formato das casas, a posição que ocupavam umas em relação
às outras, as diferentes referencias à imagem feminina e a ausência de
instrumentos de guerra podem nos dar a ideia de uma civilização harmoniosa,
que voltava sua atenção para outras questões que não as disputas de poder,
sejam ideológicos ou sejam territoriais.
Dessa forma, podemos entender que o Yoga está historicamente
locado antes das religiões no espaço de sua origem. Mas seria então o Yoga a
primeira religião? Essa indagação nos levaria à busca da possibilidade de
compreender o Yoga dentro de uma dimensão religiosa no sentido estrito da
ideia de re-ligar o homem a Deus.
Ao lermos o Brhadãranyaka Upanisah sobre o inicio da existência,
encontramos um ser que tem como ponto inicial o grito “Sou eu!”. Nos
desdobramentos da história este ser vai se doando em existência criando tudo
que há. A ideia que há um único ser que se faz múltiplos rompe com a noção
de um criador e uma criatura. Este ser não é mais o primeiro do que todos os
outros que dele derivam, não existe hierarquia na criação; ele é o princípio e
fim, sendo todo o processo, toda a matéria, toda a existência e possibilidade de
existência. Nada é para além dele e tudo que é será em tempo, espaço e
possibilidade. Ora, se não há criador e criatura, ou não há deus ou tudo é deus.
E se podemos compreender que tudo é deus, a noção de uma religião, no
sentido de re-ligação perde o sentido, pois não pode haver ligação do um com
ele mesmo. O que deve haver é a compreensão do múltiplo de sua unidade.
Ao descartamos a pertinência da classificação do Yoga como uma
religião pela inexistência da necessidade de ligação ou religação entre dois
diferentes, podemos questionar se o Yoga está historicamente localizado antes
dos mitos. E para essa indagação o simples fato de existirem diferentes
narrativas arquetípicas sobre o yoguin nos leva a compreensão de que os
mitos criados sobre o Yoga e as escrituras deixadas pelos sábios antigos são a
prova que as práticas do Yoga são anteriores a criação dos mitos, uma vez que
elas são elementos presente nas narrativas. Obviamente só poderiam ser
contadas histórias sobre elementos que já eram presentes na vida dos
homens.
Se também com facilidade podemos descartar a possibilidade do
Yoga ser uma manifestação do senso comum, estamos, nós ocidentais, diante
de um grande problema: ou admitimos que o Yoga é um conhecimento inato ou
estaremos novamente sem a resposta para o questionamento inicial sobre qual
o tipo de conhecimento humano que o Yoga representa. Mas agora com um
agravante: não existem mais possibilidades de classificação dentro da
realidade ocidental.
O texto de Patanjali no apresenta a definição de Yoga como:
yogas cittavritti-nirodhah (Yoga é a suspensão – intencional – da atividade
espontânea da substância mental). Se entendermos as oscilações mentais
como um produto da mente humana, que por sua vez é produto de uma série
de sucessivas experiências do ser humano, não podermos entender o Yoga
como uma atividade inata, uma vez que a própria mente não é inata e sim
histórica e socialmente construída. Todavia, a possibilidade dessa supressão
possa talvez ser desenhada como uma atividade inata. Guardemos essa
observação para depois.
As técnicas do Yoga certamente não podem ser conhecimentos
inatos, uma vez que não podemos nascer em posse de tais técnicas. A partir
desse fato de fácil compreensão, voltamos ao problema da classificação: não
sendo senso comum, mito ou religião, a que classificação recairia o Yoga? As
ciências e as filosofias não podem alcançar o Yoga por conta da sua
constituição a partir da compreensão racional. Diante de tais reflexões,
podemos entender as angústias que a mente ocidental pode enfrentar ao
buscar a classificação do Yoga em seus padrões. Diante disso, cabe-nos, para
continuar na trilha do conhecimento do Yoga, abandonar solenemente todas as
classificações da via racional para abrirmos a porta do Sentir. A intuição e os
sentidos devem ganhar o espaço das construções puramente racionais para
que possamos dar um passo além na compreensão, ainda que não possamos
dizer que esta será uma compreensão no sentido estrito do termo. O que cabe
aqui talvez com mais exatidão é a noção de experiência, pois o Yoga, mais do
que compreendido precisa ser experimentado. Assim, abandonamos a via da
compreensão, fechamos os livros, fechamos os olhos e abrimos a mente o
coração na trilha da experiência. Retomemos, por tanto, ideia previamente
apresentada do Yoga como uma atividade inata.
É de conhecimento que o cérebro humano pode e precisa ter
atividades em diferentes frequências que determinam o estado da pessoa entre
o sono e a consciência. Em diferentes faixas de atuação, nosso cérebro é
capaz de entrar em sono profundo e estar alerta durante os momentos que nos
é exigida mais atenção. Porém, entre o sono e a vigília existe o estado de
frequência cerebral que entendemos como o estado de meditação. E é nesse
estado de consciência que se dá o descrito por Patanjali em seus Sutras: a
supressão das oscilações mentais. Todas as pessoas passam por esse estágio
algumas vezes por dia – ao ir dormir ao acordar, por exemplo. O esforço do
Yoga consiste em alcançar tal estado de forma consciente, intencional e por
um tempo longo o suficiente para que se possam obter determinados
resultados psíquicos e físicos durante essa experiência.
Dessa forma, podemos concluir que a supressão das oscilações mentais
é, de certa forma, inata enquanto possibilidade. O Yoga consiste em alcançar
esse estado natural do cérebro humano para que, a partir dessa experiência,
possamos retornar a consciência da unidade. Essa consciência primordial do
Um nos leva à libertação das ilusões dos múltiplos e assim o Yoga torna-se o
caminho para dentro de si que leva a liberdade.
I – TÉCNICAS PRELIMINARES: “Quando os sentidos
já não estão em contato com seus objetos
e assumem a própria natureza da consciência, isso é pratyáhára.
Assim obtém-se o total controle dos sentidos.”
Pátañjali Yoga Sútra, II: 54-55.
PRATIÁHÁRA, A ABSTRAÇÃOTraduzido como abstração, ou retração dos sentidos, pratyáhára é a
faculdade de liberar a atividade sensorial do domínio dos objetos exteriores: “O
praticante de Yoga deve em princípio apreender seu órgão mental como um
pescador agarra o peixe que se debate, e do mesmo modo sua audição, sua
visão, sua gustação e seu olfato.” Maha Bhárata, CXXXII: 15-16.
“O yogin retira seus sentidos dos objetos sensoriais, como uma
tartaruga encolhe a cabeça e as patas sob a carapaça”. Bhagavad Gitá, II: 58.
Essas metáforas são bem eloqüentes em relação ao propósito da
técnica: a liberação da consciência da tirania que os estímulos externos
exercem sobre os sentidos.
Havendo o yogin atingindo o estado de pratyáhára, cessa toda e
qualquer instabilidade. Ele não mais será perturbado pela volubilidade
sensorial, mental ou subconsciente, embora continue a perceber essas
realidades. O estado de retração sensorial lhe permite ver os tattwa, a
substância dos níveis de realidade.
EKAGRÁTÁ, A CONCENTRAÇÃO EM UM SÓ PONTOEkagrátá, a fixação da atenção em um ponto determinado, é o
passo prévio à prática do samyama. Esse ponto pode ser uma região do corpo
(um chakra, o intercílio, a ponta do nariz), uma imagem (a chama de uma vela,
uma estrela, um yantra) ou uma idéia abstrata (um mantra, um sútra).
Por meio desta concentração o yogin abstrai a sua psique das
dispersões inerentes à condição terrena conseguindo assim lograr um estado
de unificação do fluxo consciente.
O alvo primordial do ekagrátá é controlar as faculdade dos
sentidos e queimar a atividade subconsciente, o samskára e os vásaná, que
são corpo à vida psico-mental.
O samskára é o conjunto das raízes profundas dos
condicionamentos do ser, de caráter kármico e inato, que se estruturam em
malhas subconscientes. Perpetua-se através das gerações por herança
genética, histórica, cultural ou étnica, afetando a todos os indivíduos.
Vásaná são os sulcos subconscientes. O cheiro que uma flor
deixa em um pano é o vásaná dessa flor. Mesmo depois de retirá-la, o cheiro
ainda está lá. Vásaná significa precisamente perfume. Os vásaná constituem
um colossal obstáculo para o meditante, pois a vida subconsciente é um fluxo
constante de impressões latentes que dão corpo aos vritti. Para poder atingir o
estado de cessação das instabilidades da consciência – chitta vritti nirodhah -,
objetivo do Yoga, é necessário aniquilar essas tendências através da
contemplação.
Quando a atenção está perfeitamente centrada e dirigida alcança-se
dháraná, a concentração, primeiro degrau do samyama. No capítulo dedicado à
descrição das técnicas veremos como desenvolver corretamente algumas
modalidades do pratyáhára e do ekagrátá.
II – TÉCNICAS DO SAMYAMA“Yoga é samádhi.”
Mestre Victor Lino.
Samyama significa numa só sentada fazemos dháraná, dhyána,
samádhi. Essas técnicas (concentração, meditação e enstase) são diferentes
nuances da mesma experiência: cada uma é a prolongação e o
aperfeiçoamento da anterior. Estas três etapas centram-se no alvo essencial do
Yoga: a conjunção, a conquista da liberdade absoluta.
Fazer samyama sobre um determinado objeto é praticar
conjuntamente dháraná e dhyána de forma contínua, até atingir o estado
samádhi, que é a culminação dos esforços colossais, às vezes temerários, do
praticante.
Vamos agora conhecer separadamente essas três etapas,
estudando as diferenças entre elas.
DHÁRANÁ, A CONCENTRAÇÃOA palavra dháraná deriva da raiz dhr, que quer dizer manter
apertado: “a fixação do pensamento em um só ponto é concentração.” Y.S., III:
1.
Diferentemente do ekagrátá, onde o único objetivo é deter o fluxo
do pensamento, no dháraná esta fixação é utilizada para compreender a nível
nocional a natureza da dháraní, o suporte utilizado para fazer concentração. O
que distingue o dháraná do ekagrátá é a índole conceitual do seu conteúdo.
Esse objeto sobre o qual se fixa a consciência pode ser um yantra
(símbolo), um mandala (diagrama geométrico), um chakra (roda em sânscrito.
Os chakra são centros de captação, armazenamento e distribuição da energia
vital no coro. Existem inúmeros dentro do organismo, sendo os mais
importantes aqueles que se localizam ao longo da espinha dorsal e na cabeça.
Os sete principais estão descritos no capítulo IV.), um bíja mantra (o som
semente ao quais esses centros respondem quando são devidamente
estimulados, seja através da vocalização, seja através da repetição mental dos
mesmos), os ritmos corporais, et coetera.
Restringe-se a movimentação da mente ao interior desse suporte,
até que a atenção esteja perfeitamente centrada e imóvel nele.
Praticar dháraná sobre um chakra, por exemplo, consiste em
contemplá-lo, visualizando claramente o seu contorno, as suas cores, número
de pétalas, bíja mantra e demais detalhes, passeando pelo interior do yantra
até conhecer a essência da sua forma.
O dháraná acontece quando a atenção estiver perfeitamente fixa sobre o
seu suporte durante certo tempo.
DHYÁNA, A MEDITAÇÃO CONTEMPLATIVA“Dhyána, meditação, consiste em manter a continuidade da
atenção sobre aquela área específica da consciência.” Y.S., III: 2.
O comentário de Vyása nos ajuda a compreender melhor este
aforismo: “Um contínuo esforço consciente para assimilar o objeto de
meditação, livre de qualquer distração.”
A meditação é um instrumento de apreensão da realidade, de
conhecimento da essência da natureza. Nós lemos a realidade através da lente
da nossa mente cotidiana. O intuito do dhyána é ir além: ver as coisas como
elas são, desvencilhando-nos da visão interpretativa e limitada da consciência
habitual.
Poderíamos comparar a atividade consciente durante o dháraná a
uma sucessão de gotas de água caindo sobre o mesmo ponto. Essa atividade
psico-mental, fluindo de forma suficientemente intensa e prolongada sobre o
suporte de meditação, é comparável a um fio de mel, contínuo e uniforme.
O yogin que pratica durante certo tempo dháraná desliza para o
estado meditativo, pois o dhyána nada mais é do que o aperfeiçoamento da
concentração. Essa passagem não exige colocar em prática nenhuma técnica
nova. Da mesma forma, a passagem do estado meditativo para o samádhi
acontece de maneira espontânea quando o praticante já atingiu a maestria da
meditação. Por isso essas três técnicas quando feitas juntas e sucessivas,
recebem o nome comum de samyama.
Resumindo, meditar é deter o fluxo do pensamento na
contemplação de um objeto determinado até saturar com ele a consciência. Ao
deter-se as turbulências dos vritti, manifesta-se o buddhi, a inteligência
superior, o que nos permitirá penetrar na essência do real e emancipar-nos dos
condicionamentos para podermos desenvolver plenamente o nosso ser
profundo. Estando o praticante devidamente concentrado, a atenção flui de
forma espontânea sobre o suporte de meditação. Dessa forma, intensifica-se a
sua lucidez, e o objeto meditado revela-se fixa e claramente ante ele. Em
outras palavras, podemos dizer que a consciência assume a índole do alvo da
contemplação.
SAMÁDHI, O ENSTASE YOGI“Samádhi (hiperconsciência) é quando chitta assume a natureza
do objeto sobre o qual se medita, esvaziando-se da sua própria natureza.” Y.S.,
III: 3.
É certamente difícil definir com clareza o samádhi, pois é uma
experiência supra-racional, indescritível, que está muito além da nossa vida
consciente habitual, e ainda possui numerosas variantes. É a experiência
daquilo que está além do tempo e das leis naturais. Não é nem transe, nem
êxtase, nem sonho, nem visão mística, nem auto-hipnose, pois não há nele
flutuação de chitta. O neologismo enstase, cunhado por Mircéa Éliade, define-o
mais adequadamente: um estado de implosão das percepções, bem-
aventurança, hiperlucidez, e sabedoria transcendente.
“A palavra samádhi implica ao mesmo tempo um agrupamento –
prefixo verbal sam – de todos os elementos constitutivos da personalidade, e
uma posição estável – raiz dha -, orientada para o interior – prefixo verbal -á -.
É ao mesmo tempo o apogeu da introspecção, a concentração perfeita e a
posição definitiva do indivíduo considerado em sua totalidade.” Jean Varenne,
Upanishads du Yoga, página 42.
Até aí está claro, porém; o que significa que a consciência esteja
esvaziada de sua própria natureza?
O yogin Mircéa Éliade nos esclarece a esse respeito: “Emprega-
se o termo em um sentido gnosiológico; samádhi é o estado contemplativo no
qual o pensamento capta imediatamente a forma do objeto, sem o auxílio das
categorias e da imaginação (kalpaná); estado onde o objeto revela-se em si
mesmo (swarúpa), no que possui de essencial, e como se estivesse vazio de si
mesmo.” Pátañjali et le Yoga, página 80.
Como veremos mais adiante, o samádhi não compreende apenas
um estado de consciência; ele seria mais uma área de sabedoria que abrange
várias modalidades de megalucidez. A liberação da que se fala aqui não é
instantânea, mas o resultado de uma extensa série de experiências que se
realizam em função desse único objetivo.
KUNDALINÍ E SAMÁDHIKundaliní literalmente, aquela que está enroscada como uma
serpente, é a detentora da força, o suporte e o poder que move o universo e o
indivíduo. No nível macro cósmico é Shaktí a energia feminina, Prakriti a
energia da natureza. Na escala humana é a energia, o motor, a causa do
movimento e da vida do indivíduo, uma energia física, de natureza nervosa e
manifestação sexual.
O despertar dessa força conduz à iluminação. Tal despertar pode
ser obtido por meio do samyama (concentração, meditação e enstase), mantra,
ou da combinação de certos pránáyáma, ásana, bandha e manaskriyá.
“Em síntese, kundalíni é a representante corporal individual do
grande poder cósmico – Shaktí -, que cria e sustenta o universo. Quando esta
Shaktí individual que se manifesta como a consciência pessoal – jíva –
absorve-se na consciência do Shiva supremo, o mundo dissolve-se para esse
jíva, e obtêm-se a liberação – mukti -. (...) O despertar e estímulo ascendente
da Kundaliní é uma forma dessa fusão do indivíduo na consciência universal,
ou união dos dois, que é a finalidade de todos os sistemas de Yoga.” Sir John
Woodroffe, El Poder Serpentino, páginas 180 e 181.
STHÚLAsobre os objetosdensos
SÚKSHMAsobre os objetos
sutis
savitarká samádhiargumentativo
nirvitarká samádhinão argumentativo
savichárá samádhireflexivo
nirvichárá samádhisupra reflexivo
ASAMPRÁJÑÁTA SAMÁDHI enstase não diferenciado ou nirbíja samádhi, sem apoio
SAMPRÁJÑÁTA SAMÁDHIenstase com cognição, diferenciado, ou sabíja samádhi
Convém esclarecer aqui uma questão em relação à terminologia
utilizada kundaliní possui dois aspectos: um cósmico e um individual. No nível
cósmico, ela recebe indistintamente os nomes de Shaktí (energia) ou Prakriti
(Natureza). Da mesma forma, o Purusha (literalmente, homem, o Ser, princípio
imutável e eterno) é identificado como Shiva na metafísica do tantrismo e como
Brahman nas Upanishad. Estes não devem confundir-se com os deuses
mitológicos homônimos.
MODALIDADES DE SAMÁDHI
Existem dois tipos diferentes de enstase: com apoio e sem apoio.
Quando se alcança o samádhi fixando a consciência em um ponto
determinado, a experiência recebe o nome de samprájñáta samádhi, ou sabíja
samádhi, com semente, ou com apoio.
Dentro desta primeira categoria de iluminação, Pátañjali, nos sútra
42 e 44 dos seus Aforismos, distingue quatro tipos bem diferenciados da
experiência:
a - enstase argumentativo, savitarká samádhi
b - enstase não argumentativo, nirvitarká samádhi
c- enstase reflexivo, savichárá samádhi
d - enstase supra reflexivo, nirvichárá samádhi
Os quatro estados de iluminação diferenciada anteriormente
mencionados recebem o nome comum de samápatti. Há ainda uma outra lista
dada por Pátañjali no sútra I:17, que se aplica a diferentes tipos de experiência:
vitarká, vichará, ánanda e asmitá samádhi, considerados pelo seu comentarista
Vijñána Bhikshu apenas como termos técnicos, utilizados para designar
diferentes nuances desta vivencia.
1 - SAMPRÁJÑÁTA SAMÁDHI
A - SAVITARKÁ SAMÁDHI. Nesta primeira etapa existe uma análise
preliminar do suporte da contemplação sobre cuja totalidade essencial meditar-
se-á. Esse tipo de iluminação é uma percepção direta da coisa em seu aspecto
substancial, assimilando-a na dimensão temporal; isto é, conhecendo não
apenas o seu presente momento senão ainda seu passado e seu futuro. O
conceito e a associação verbal estão aqui ligados a vivencia do objeto. Por
isso, esse tipo de samádhi é chamado também nocional.
B - NIRVITARKÁ SAMÁDHI. Esse segundo estágio, o do enstase
não argumentativo, é definido nos seguintes termos: Chitta (designa o corpo
consciente, o psiquismo. É necessário esclarecer aqui que, segundo a
metafísica sámkhya, manas, o aspecto cognitivo da consciência, a mente como
sede dos pensamentos e das idéias é apenas um dos componentes que
constituem a vida psíquica (chittabhúmi)), torna-se nirvitarká quando cessam as
associações verbais ou lógicas; no momento em que o objeto está vazio de
nome e de sentido, em que o pensamento se reflete de maneira imediata,
adotando a forma do objeto e brilhando exclusivamente com esse objeto em si
mesmo (swarúpa).
O suporte da meditação é captado diretamente revelando-se
despojado de toda representação mental.
Essas duas categorias referem-se aos sthúla, objetos densos
compostos pelos cinco elementos (bhúta): éter, ar, fogo, água, terra. Nas
palavras de Mircéa Éliade, são estados-conhecimento que se situam muito
além da própria dimensão da consciência, obtidos por meio de dháraná e
dhyána.
C - SAVICHÁRÁ SAMÁDHI. Os suportes desse e do próximo grau de
enstase são chamados súkshma, sutis. Na contemplação savichárá, com
diferenciação, o yogin não considera já as coisas como conglomerados
orgânicos de átomos, nem observa mais o seu aspecto externo, senão que
penetra os núcleos energéticos infinitesimais, tanmátra (Os tanmátra são o
fundamento e princípio da luz, do som e das diversas manifestações da
energia, incluindo-se aqui a matéria. Correspondem, no plano sutil, aos
elétrons).
. Meditando sobre os tanmátra, o contemplador chega a absorver-se no
ahamkára (O sentido de individuação, princípio egóico. É o momento no qual
mahat, a massa energética indiferenciada, começa a tomar consciência de si),
e posteriormente no mahat, a massa energética que constitui a Prakriti -
Natureza-.
Medita-se assim sobre súkshma, a natureza sutil da matéria e a
sua relação com as dimensões Tempo e Espaço.
D - NIRVICHÁRÁ SAMÁDHI. É o aperfeiçoamento do estágio
anterior: a identificação com os tanmátra é feita de maneira ideal, indo além
dos sentimentos e emoções que possam ser provocados pelo contato com
estas partículas prânicas. Trata-se de uma vivencia direta da essência do
universo físico, onde o pensamento funde-se com os núcleos de energia que
são o alicerce da matéria.
Posteriormente advém a contemplação de princípios ainda mais
sutis que os tanmátra: os órgãos sensoriais (jñánendriya), o pensamento
(manas). O sentido de individuação (ahamkára) e, finalmente, o buddhi, a partir
do qual são alcançados mahat e a própria Prakriti, a substância primeira.
Ao atingir o domínio dos quatro graus da sabíja samádhi, a
consciência está completamente sob controle, podendo absorver-se
totalmente, tanto na contemplação do infinitamente grande, quando do micro
cósmico. Isto forma a base para o enstase sem apoio, asamprájáñata samádhi.
O yogin é tomado então por um sentimento de bem-aventurança inefável, uma
paz profunda, luminosa e perdurável: ánanda.
Ao concluir o asamprájñáta samádhi, obtém-se a faculdade da
consciência absoluta, a preparação para o nirbíja samádhi, enstase sem apoio,
no qual o ser não aparece mais separado do conhecer: Então, com a remoção
de todas as impurezas (o yogin) torna-se infinito; e o que se pode conhecer
através da mente torna-se insignificante. Atinge-se por meio desta experiência
transcendente a unificação de todos os níveis do ser.
2 - ASAMPRÁJÑÁTA SAMÁDHI
O sádhaka (praticante) passa sucessivamente por todos os
diversos graus da samprájñáta samádhi e a sua consciência (chitta) exerce a
contemplação referente a cada variedade do estado hiperconsciênte.
Porém, durante todas estas experiências, ele ainda permanece
consciente da diferença entre o seu psiquismo e o Purusha. O conceito de
Purusha é chave para compreendermos para onde vai o yogin, ou melhor
ainda, em que se transforma. Purusha é o Ser, o Princípio de Consciência,
imutável e eterno. Diz a Katha Upanishad a seu respeito: “Além do não
manifestado está o Purusha, onipresente e indistinguível. Aquele que o
conhece, liberta-se e obtém a imortalidade.” “Além do Purusha não há nada.
Ele é o resultado, o objetivo final.”
Afirmando-se a produção de uma entidade (Prakriti) por uma não
entidade (Purusha), então, esta última, ao existir em toda parte e em todo
momento, deveria dar origem em toda parte e em todo momento a qualquer
efeito, e a todos os efeitos.
O Purusha nada tem a ver com a noção de Deus das religiões
judeu-cristãs, pois ele não cria, nem atua, nem julga. Ele somente é,
manifestando-se através de Prakriti, a natureza, a substância primordial. Não
esqueçamos que o Sámkhya não é teísta nem espiritualista. O Prakriti Yoga,
sendo estritamente prático, não afirma nem nega a existência de Deus.
Contudo, suas bases Sámkhya não nos induzem a nenhum tipo de religião
nem misticismo: “facilmente podemos imaginar, em efeito, um Yoga que tenha
aceitado totalmente a dialética Sámkhya, e não existe nenhum motivo para
acreditar que semelhante Yoga, mágico e ateu, não tenha existido. Porém,
Pátañjali teve que introduzir a íshwara no Yoga, porque íshwara era, por assim
dizer, um dado experimental: os yogins recorriam em efeito a íshwara, embora
tivessem podido liberar-se mediante a observância exclusiva das técnicas do
Yoga.” Mircéa Éliade, El Yoga. Inmortalidad y Libertad, página 67.
Quando finalmente esvai-se a diferença entre contemplador e
contemplado, o yogin alcança o asamprájñáta samádhi, no qual se queima todo
vritti e, posteriormente, todo samskára.
Havendo o homem conquistado a liberdade absoluta, havendo-se
emancipado dos seus condicionamentos enquanto ser humano, havendo-se
absorvido no Ser e no Conhecer, ele é o que se denomina jívanmukta, o
liberado em vida. Como jívanmukta, ele não vive mais no tempo lineal, senão
em um eterno presente. É swámi, senhor de si mesmo, estando livre,
emancipado e incondicionado.
Essa afirmação que o Yoga faz sobre chegar ao absoluto vai
muito além do ‘conhece-te a ti mesmo’ dos sofistas gregos; implica uma
mudança radical em relação ao papel do homem no universo, uma rupture de
niveau, ao dizer de Mircéa Éliade: “O descobrimento de si próprio, a auto-
reflexão do Purusha envolve uma ruptura de nível na escala cósmica; como
conseqüências do seu surgimento ficam abolidas as modalidades do real, o Ser
(Purusha) coincide com o não Ser (‘o homem’, propriamente dito), o
conhecimento vê transformado em domínio mágico graças à absorção integral
do conhecido pelo conhecedor. E como desta vez o objeto de conhecimento é
o ser puro, despojado de qualquer forma e atributo, o samádhi conduz à
assimilação do ser puro. (...) A auto-revelação do Purusha equivale a uma
tomada de possessão do ser em toda a sua plenitude. (...) O homem que
rejeita a sua própria condição e reage conscientemente contra ela, esforçando-
se por aboli-la, é um homem sedento pelo incondicionado, sedento de
liberdade, de poder, em uma palavra, de uma das inumeráveis modalidades do
sagrado.” Pátañjali et le Yoga, páginas 101 e 102.
O enstase não diferenciado é a conclusão final do Yogapáda, a
senda do Yoga, e é experimentado apenas por aqueles que já vivenciaram
exaustivamente todas as técnicas precedentes, constituindo-se no instrumento
de liberação e reintegração no Purusha.
SIDDHI, OS PODERES PARANORMAISComo resultado do samyama, o praticante adquire a capacidade
de penetrar em áreas da consciência e da realidade que são habitualmente
inacessíveis. Ao exercer samyama sobre um objeto determinado, o yogin
assimila o siddhi, perfeição, o poder inerente a essa realidade. Esses poderes
são formas diferentes de relacionar-se com as leis naturais, que visam
estimular o sádhaka, desenvolvendo confiança no método, para assim atingir a
liberação final, a iluminação supra cognitiva.
Porém, adverte-se sobre o perigo que corre o yogin, ser seduzido por
esses siddhi. Esses poderes são obstáculos para chegar ao samádhi, embora
sejam perfeições no conceito profano.
Se o siddha, o detentor dos poderes, cair na tentação de querer
usar esses poderes com fins alheios ao objetivo do Yoga, ele perderá a
possibilidade de atingir a verdadeira liberação, acessível apenas por meio do
nirbíja samádhi.
SÁDHANA E SAMÁDHIO Yoga é um conjunto de técnicas que visam levar o indivíduo ao
samádhi, Assim sendo, é condição indispensável o abhyása, o exercício, a
aplicação, sem os quais não se atingirá a meta. Aquele que está sempre
mergulhado em livros, estudando e pesquisando, que conhece nos seus
mínimos detalhes os textos antigos e modernos e os milhares de exercícios
existentes, jamais saberá o que é verdadeiramente o Yoga se não dedica uma
parte do seu tempo para vivenciá-lo.
Podemos aqui tentar explicar o quanto é fascinante atingirmos um
estado de consciência como o samádhi, mas, pelo fato de ser uma experiência
que está muito além do racional não é especulando sobre metafísica do Yoga
ou do Sámkhya que chegaremos lá: é necessário praticar.
Por outro lado, o sádhaka que apenas pratica e não procura
aprofundar-se por meio do swádhyáya (Estudo de si próprio e das escrituras),
ficará carente de estímulos para o seu progresso e o aprofundamento da sua
vivencia.
OBSTÁCULOS AO SAMYAMANo aforismo 30 do capítulo I, Pátañjali nos apresenta uma lista de nove
obstáculos à prática:
Vyádhi, enfermidade, é a perturbação do equilíbrio fisiológico. É
essencial que a saúde esteja perfeitamente em dia, para que o corpo possa
suportar as descargas energéticas advindas do despertar de kundaliní.
Styána, a preguiça, aparece quando há falta de disposição da mente
para a atividade.
Samshaya, indecisão, é a impossibilidade de escolher entre duas
alternativas.
Pramáda, negligencia ou insensibilidade, manifesta-se na falta de
iniciativa para por em prática as técnicas.
Alásya, inércia, é a ausência de disposição para a ação.
Avirati, sensualidade, é o desejo causado quando os objetos dos
sentidos apossam-se da consciência.
Bránti darshana, conhecimento falso ou intenção errônea, são os erros
conceituais, as falsas verdades que podem desviar o praticante do caminho.
Anavasthitattwa, instabilidade, impede ao praticante de alcançar um fluxo
contínuo de pensamento sobre o suporte de meditação, por não haver
dominado ainda o ekagrátá.
Avabhdabhúmikatwa é a incapacidade de captar a realidade à falta de
fixidez, à movimentação constante da mente.
Há ainda outros obstáculos, tais como a dor (duhkha), o desespero
(dáurmanasya), o nervosismo, et coetera; e todavia mais um, não mencionado
por ele, que é misturar técnicas de meditação de egrégoras diferentes,
tentação bastante freqüente hoje em dia, mas que deve ser evitada para não
por em risco o progresso e a integridade do praticante.
Se você achou que algum dos obstáculos acima mencionados
pode estar bloqueando seu sádhana... Alerta! Faça um bom pránáyáma,
sacuda a preguiça com um shírshásana (invertida) e boa prática!
CUIDADOS PARA PRATICARPara que a prática de samyama seja bem direcionada, e de resultados
visíveis a curto prazo, recomendamos ao praticante que leve em consideração
esses conselhos, pois eles irão facilitar a concentração.
Reservem um lugar especial para meditar. De preferência, que seja bem
arejado, amplo, iluminado, fresco, tranqüilo e silencioso, onde reine uma
atmosfera de paz. Meditar sempre no mesmo local favorece o controle dos
pensamentos. Com o tempo, a mente irá aquietando-se cada vez mais
rapidamente.
Escolha um momento adequado do seu dia: tradicionalmente, as horas
de maior concentração de prána no ar são o alvorecer e o crepúsculo. Praticar
sempre à mesma hora ajuda a disciplinar a atividade psico-mental e, desta
forma, entra-se em meditação com maior facilidade.
É importante a perseverança, principalmente ao começar. No início, vinte
minutos é um tempo razoavelmente bom para dedicar-se ao samyama.
Gradativamente, na medida em que os primeiros resultados forem
manifestando-se, você irá aumentar de forma natural e progressiva esse tempo
até uma hora por sessão.
Convém regularizar a respiração ao iniciar, fazendo durante
alguns minutos a respiração completa, ou o pránáyáma quadrado. Depois,
mantenha a respiração espontaneamente ritmada, lenta e abdominal.
Use sempre o Shiva mudrá, pois por meio dele você conseguirá
uma sintonia perfeita. Este gesto está estreitamente ligado à nossa egrégora, e
facilita enormemente a concentração.
Ao começar, não se esforce para eliminar os pensamentos que
foram alheios à contemplação. Eles acabarão desaparecendo, como nuvens
passageiras no céu. Não utilize mais do que uma técnica por sessão. Com o
tempo você descobrira qual é a técnica que favorece mais o seu samyama, e
passará a trabalhar exclusivamente com ela.
As pessoas, por inclinação natural, tendem a meditar mais
facilmente sobre imagens (yantra) ou sons (mantra). Pelo que temos visto ao
longo destes anos todos de cursos intensivos pelo planeta afora,
aproximadamente a metade das pessoas propende a concentrar-se com mais
desembaraço sobre imagens e símbolos visuais, enquanto que a outra metade
prefere a concentração sobre sons, verbalizados ou emitidos apenas
mentalmente. Como primeiro passo desta caminhada, descubra então se você
é um meditante visual ou auditivo, pondo em prática e apreciando as técnicas
propostas neste livro.
A posição deve ser sthirasukham, isto é, firme e agradável,
mantendo em todos os casos as costas eretas, a região dos ombros livre de
tensões e as pernas soltas. Os melhores dhyánásana, posições de meditação,
são padmásana, siddhásana, samánásana e swástikásana. Evite o sukhásana,
a posição simples com as pernas cruzadas e os pés por baixo das coxas, pois
esta posição impede que os joelhos desçam até o chão.
Mantenha os olhos suavemente fechados e a musculatura do
rosto bem descontraída. Se for necessário, faça um simhásana antes de iniciar,
para aliviar a tensão da fisionomia.
Alguns pensam que o progresso no Yoga depende de fazer
práticas de austeridade ou mortificação, de ficar sofrendo ou atormentando-se
com exercícios extenuantes; porém, há formas e formas de fazer-se tapas. A
prática de tapas, o esforço sobre si próprio, deve estar em função do
temperamento e do caráter da pessoa. A austeridade que vale para um
camelo, que fica dias a fio sem beber água, pode não ser boa para o homem.
O segredo é fazer tapas com inteligência. Como já dizia Vivekánanda, ‘cara
feia não é sinal de espiritualidade, e sim de dispepsia’. A auto-superação deve
entender-se como disciplina na prática, fidelidade ao Mestre e ao método,
cultivo das virtudes mais elevadas, e aperfeiçoamento em todas as atitudes e
decisões do dia a dia.
É importante evitar os exageros e adquirir alguns costumes que
possam elevar e manter a nossa qualidade de vida: pensamento positivo,
alimentação correta, exercícios para manter o corpo em forma, dedicar alguns
momentos à natureza e a atividades que nos outorguem satisfação e nos
realizem como seres humanos. Ao mesmo tempo, convém eliminar hábitos
notadamente perniciosos, como o uso de álcool, drogas ou tabaco, mesmo
socialmente.
A adoção do vegetarianismo puro e honesto é condição se
queremos seguir todos os passos do Yoga. A razão desta opção por uma
alimentação sáttwica, equilibrada e frugal, evitando os excessos, é que assim
conseguem-se fazer muito mais facilmente todos os exercícios, desde os
ásana à meditação, e a evolução no sádhana é mais rápida. “A pureza da
alimentação engendra a purificação da natureza interior.” Swámi Shivánanda.
YOGA 24 HORAS POR DIANa medida em que o praticante modifica sua estrutura psicofísica
através das técnicas do Yoga, ele vai passando a vivenciar um estado de
consciência próximo do samádhi. É algo que se conquista passo a passo, de
acordo com a dedicação e o tempo de prática.
No início necessita-se de um lugar e um momento adequados
para o desenvolvimento destas técnicas, mas após te-las experimentado e
dominado, passará a utilizá-las durante as 24 horas do seu dia.
Em vez de conviver com uma mente confusa e turbulenta, poderá
ter sob o seu domínio um poderoso instrumento de realização, cujo potencial
concentrará e canalizará para conquistar o propósito do Yoga: o estado de não
condicionamento, a liberdade absoluta do nirbíja samádhi.
A técnica de meditação do dia a dia consiste em realizar qualquer
atividade com muita consciência e atenção, e o máximo de perfeição, sem
colocar expectativas sobre os resultados das suas ações. Nisto baseia-se a
arte do Karma Yoga.
O sádhana diário deve ser mantido, pois a execução das técnicas
anteriormente descritas proporcionará ao indivíduo a estrutura indispensável
para o despertar do poder da serpente, kundaliní. Esse despertar está
condicionado ao empenho e dedicação que o yogin colocar na prática. Para
que a energia se manifeste, o corpo deve estar limpo pelo bhúta shuddhi, a
purificação dos seus elementos, e pelo nádí shuddhi, a desobstrução dos
meridianos de circulação do prána. Desta forma, estaremos aptos para
suportarmos a saturação prânica que antecede ao despertamento.
Nos primeiros momentos da dinamização deste poder, o sádhaka
sente crescer o seu potencial de vitalidade, a sua força interior e o seu
magnetismo. De pouco em pouco desabrocham seus poderes latentes.
Segundo Pátañjali, “o samádhi está próximo para aqueles que o
anseiam muito. Esse anseio pode ser de tres intensidades: brando, médio ou
forte.” Sútra 21 e 22 do capítulo I.
III – A PRÁTICA
“Naquele que tiver controlado totalmente a instabilidade, ocorre uma
identificação
entre o observador, o objeto observado e o ato de observação,
assim como o cristal identifica-se com a cor do objeto próximo.”
Pátañjali, Yoga Sútra, 1:41.
ANTES DE COMEÇAR...Qualquer objeto que atraia a atenção pode ser utilizado para fazer
samyama. Existem inúmeras técnicas diferentes, das quais darei aqui trinta e
oito. No decorrer das práticas, você saberá escolher aquelas que lhe permitirão
uma concentração mais rápida e profunda.
Na primeira etapa compreenderemos melhor a mecânica e a
natureza dos pensamentos, que começarão a ser disciplinados.
Na etapa seguinte será possível segurar com firmeza as rédeas
da consciência, e guiá-la para um só ponto. Então poderemos unificar essa
incrível força que estava dispersa e aplicá-la de acordo com os nossos
interesses.
Finalmente, não será tão necessária a intervenção da força de
vontade. O fluxo mental tornar-se-á sereno, como a superfície de um lago sem
ondas. Desta forma poderemos enxergar claramente o nosso ser interior.
Quando cessam as instabilidades da consciência, o lugar dela é
ocupado pelo buddhi, o conhecimento direto e intuicional da realidade. O
processo de conhecer já não passa pelo mundo das formas (rúpa), nem pelo
raciocínio e os mecanismos mentais habituais: o alvo sobre o qual medita-se
resplandece claramente ante o contemplado e é assimilado diretamente.
O suporte da concentração deve ser atraente, de maneira que a
atenção seja conduzida para ele sem esforço. O não esforço é fundamental,
pois quanto mais se obriga a mente a estabilizar-se, mais ela resiste: assim a
prática acaba tornado-se desgastante. No caso de fazer-se uma preparação
prévia com as demais técnicas do Sádhana, não haverá dificuldades para
meditar.
Existem tres categorias de meditação, dependendo da natureza
do alvo sobre o qual se exercerá o samyama: YANTRA DHYÁNA, que toma
como suporte de contemplação os símbolos; MANTRA DHYÁNA, onde o
objetivo utilizado é um mantra, um som vocalizado, ou a sua vibração; e
TANTRA DHYÁNA, meditação vibratória, de caráter reservado.
NOTA IMPORTANTE
Observe que a diferença entre pratyáhára e ekagrátá é muito sutil,
assim como é estreito o limite entre dháraná e dhyána. Sendo cada técnica o
aperfeiçoamento da anterior, considere que os exercícios aqui descritos
poderão ser utilizados indistintamente para fazer pratyáhára, ekagrátá ou
samyama, independentemente da sua catalogação neste trabalho.
Fazer ekagrátá significa fixar a atenção em um determinado
ponto. Dháraná é concentrar-se nesse ponto. Já o estado de dhyána implica a
parada dos pensamentos, ficando a consciência totalmente absorvida na
contemplação da sua dháráni. Podemos dizer então, concluindo, que ekagrátá
é o ponto de partida, e samyama o aperfeiçoamento, a culminação da
experiência.
PRATYÁHÁRA1 – BHRÁMÁRI, O VOO DA ABELHA.
Bhrámári é um dos mais fortes exercícios de retração dos
sentidos, embora também esteja catalogado como pránáyáma. Como vimos
anteriormente, a retração dos sentidos é o passo prévio e essencial para
realizar os estados mais profundos de samyama.
Sente-se na sua posição preferida de meditação, mantendo a espinha
ereta e os olhos fechados, sem contrair a musculatura do rosto nem tencionar
as costas. Eleve os braços e coloque as mãos sobre a cabeça, obstruindo
firmemente os canais auditivos com os polegares. Inspire profundamente, e
seguidamente exale devagar, emitindo um som baixo e contínuo, pronunciando
a letra m e sentindo como este som vibra no interior da caixa craniana. A
respiração deve fluir de forma ampla. Não é aconselhável fazer retenções.
Comece a fazer esse som, e concentre-se nele. Se após alguns ciclos você
começar a sentir os braços cansados, descanse as mãos sobre os joelhos
enquanto estiver inspirando, e volte a colocá-las nos ouvidos quando for exalar,
continuando assim até o fim do exercício.
Faça isto durante vários fôlegos, procurando perceber os sons
sutis, que vibram no interior do seu corpo. Após alguns minutos, você irá
perceber como, naturalmente, os seus pensamentos detêm-se na
contemplação deste som. Começamos assim por recolher o sentido da audição
e voltá-lo para o interior, prestando atenção aos sons internos. O tempo ideal
de prática oscila entre dez e quinze minutos. Bhrámárí desperta a
sensibilidade, clarifica as idéias e detém as instabilidades do pensamento. É
um excelente preparatório para os exercícios de concentração.
2 – JYOYI, A VISÃO DA LUZAgora você irá retrair o sentido da visão, fechando-se aos
estímulos exteriores que alimentam a atividade mental através do olhar.
Sentado relaxadamente na posição anterior, deixe uma das suas
mãos no colo, e coloque a outra sobre o seu rosto.
Mantenha os olhos fechados e apóie com firmeza, porém sem fazer
força, o polegar e o dedo médio da mão dos lados de fora dos globos oculares,
obrigando-os a se dirigirem para o ponto entre as sobrancelhas, o trikuti. A
base do dedo indicador poderá apoiar-se neste ponto, para facilitar a
concentração.
Permaneça durante um bom tempo pressionando os olhos desta
forma. Quando sentir o braço cansado, ou certo desconforto, retire a mão, mas
permaneça ainda atento àquela sensação de luminosidade no interior da
cabeça. Abstraia-se nesta contemplação, ainda depois de cessar a pressão
nos olhos.
EKAGRÁTÁ3 – BHÚCHARÍ, OLHAR O VAZIO.
Este exercício é excelente como introdução para desenvolver e
facilitar os estados contemplativos.
Assumindo a atitude correta para meditar, coloque uma das mãos
estendida na altura do rosto, e a um palmo de distância dele. Fixe o seu olhar
em um ponto qualquer do dorso da mão. Após alguns instantes, já com a visão
detida sobre ele, retire-a, mas permaneça olhando aquele ponto. Concentre-se
no vazio durante dez a quinze minutos, abstraindo a sua atenção ao máximo.
4 – NASÁGRA DRISHTI, A CONCENTRAÇÃO NA PONTA DO NARIZEm posição de meditação, com as mãos em Shiva mudrá, dirija o
seu olhar à ponta do nariz, mantendo os olhos entreabertos. Ao haver adquirido
uma boa estabilidade, poderá continuar com eles fechados.
Mantenha este drishti enquanto respira lenta e profundamente. No
início é normal sentir uma certa tontura, ou até uma leve dor de cabeça. Se
isso acontecer, não force demasiadamente a visão. Conforme for dominando a
técnica, aumente gradualmente o tempo de execução, partindo do mínimo de
cinco minutos, até chegar a quinze.
5 – BHRÚMADHYA DRISHTI, A FIXAÇÃO DO OLHAR NO INTERCÍLIO
Costas eretas, ombros descontraídos, Shiva mudrá e olhos
entreabertos. Aquiete os seus pensamentos respirando pausadamente. Volte o
olhar para o ájña chakra, o centro de energia localizado no intercílio, como se
quisesse enxergar o interior da sua cabeça. Permaneça desta forma um bom
tempo, sentindo o efeito do exercício sobre um ritmo do fluxo mental.
Bhrúmadhya drishti reduz o stress, fortalece a musculatura e os
nervos ópticos e prepara a mente para as práticas mais avançadas. Caso sinta
algum tipo de desconforto, proceda como no exercício anterior. O tempo ideal
de prática fica entre cinco e dez minutos.
6 – SHÁMBHAVÍLeve a consciência para o interior, colocando-a sobre um chakra,
à sua escolha. Os olhos permanecem entreabertos, fixos em um ponto à frente
ou no intercílio, sem movimentar as pálpebras. Após um tempo de prática, você
perceberá uma luz, mesmo com os olhos abertos. Praticando o drishti ainda
mais, essa luz aparecerá mesmo quando você os fechar.
“Quando o yogin permanece continuamente com chitta e prána
absorvidos no alvo interior, embora o seu olhar de pupilas imóveis esteja
dirigido para o exterior ou para baixo, como se visse, e contudo não vendo,
esse gesto em verdade é chamado shámbhaví.
Shámbhaví é uma técnica utilizada nas práticas tântricas para
atingir estados elevados de consciência. É o aperfeiçoamento dos dois drishti
anteriores. Devem observar-se os mesmos cuidados que neles durante a
execução. Às vezes esse movimento do olhar para baixo ou para o intercílio
pode acontecer espontaneamente durante a meditação profunda, sem que o
praticante precise fazer esforço algum. Se por ventura isso lhe acontecer, não
se preocupe e deixe que seus olhos se movimentem naturalmente.
SAMYAMAAntes de começar com a descrição das técnicas de samyama
propriamente ditas, recordemos que as tres, concentração, meditação e
enstase estão intimamente vinculadas, chegando inclusive a amalgamar-se em
uma só desde que o yogin esteja suficientemente treinado.
Assim sendo, não farei distinção aqui entre elas tres. Cada
praticante conseguirá aproveitá-las ao máximo, em função da sua capacidade
de concentração, tempo de prática, grau evolutivo, bháva, método e,
principalmente, perseverança.
Falarei então indistintamente em dháraná, dhyána e samádhi, e o nosso
amigo leitor saberá como se aplicam esses conceitos à sua experiência
pessoal.
Demais está dizer que essas técnicas, consagradas pelo tempo,
possuem alguns milênios de garantia e foram exaustivamente testadas antes
de chegar às suas mãos. Começaremos pelas mais simples, e iremos
introduzindo as mais complexas ao longo do texto.
YANTRA DHÝANAYantra significa instrumento que serve para reter.
Etimologicamente deriva das raízes yan, reter, restringir, controlar; e tra,
instrumento, artefato. Os yantra são símbolos ou diagramas que encerram nas
suas linhas os princípios do tantrismo e do Yoga, e que falam diretamente ao
nosso eu profundo. São imagens do macrocosmo que se refletem no
microcosmo. Nos aprofundaremos sobre essas afirmações na medida em que
formo analisando os símbolos mais complexos, especialmente o shrí yantra.
Constituem excelentes imagens para meditação. Alguns são de
estrutura simples, como o omkara, a sílaba OM traçada em sânscrito. Outros
de estrutura mais complexa, como o shrí, o bhairaví ou o kalí yantra, são
diagramas desenhados sobre metal, madeira, pedra ou diretamente no chão.
Compõem-se geralmente de figuras geométricas entrelaçadas, circunscritas
dentro do bhupura (cidadela), um quadrado de linhas de força.
A rigor, yantra é qualquer diagrama geométrico traçado com a finalidade
específica de servir como suporte para meditar. Podem-se utilizar para a
prática desde figuras simples como o triângulo, o quadrado ou o círculo;
símbolos como a imagem da lua, o sol ou uma chama; até outras infinitamente
mais intrincadas e labirínticas, como alguns yantra do tantrismo.
Necessita-se uma certa habilidade para se fixar a atenção nestes
desenhos, por serem eles muito ricos em detalhes; além do que, devem ser
visualizados tridimensionalmente.
7 – MEDITAÇÃO NA CHAMASente-se em uma posição cômoda e estável, na qual possa
manter a coluna ereta sem esforço. Verifique se a respiração flui com
suavidade. Coloque uma vela acesa diante de si e observe-a durante algum
tempo, permitindo que a imagem do fogo se imprima em suas retinas.
Fechando os olhos, centre a sua atenção na chama. Se sentir que a mente se
dispersa, volte para essa imagem ou abra os olhos, fixando-os novamente na
vela.
Existe ainda outra variação, na qual deve visualizar-se uma
chama violeta. Essa visualização é utilizada para queimar resíduos kármicos e
formar um cinturão protetor em torno do yogin, isolando-o de influencias
exteriores.
8 – JYOTHIRDHYÁNA, SAMYAMA NO FOGO SERPENTINOPreste atenção agora à contemplação da luz, por meio da qual o
yogin obtém o triunfo e enxerga seu verdadeiro Eu. No múládhára está
kundaliní, em forma de serpente. O jívátman (eu individual) é aí como a chama.
Contemple essa luz. Isto é tejodhyána ou jyothirdhyána.
“Outro procedimento: no intercílio, sobre o manas, está a luz do
OM. Contemple essa chama. Este é outro método para contemplar a luz.”
Gheranda Samhitá, VI: 15-17.
9 – AGNIDHYÁNA, MEDITAÇÃO NO FOGO“Vejamos agora a meditação yogica com respeito ao fogo, tal
como se ensina hoje em dia. A meditação começa com dháraná, a
concentração em alguns carvões ardentes colocados frente ao yogin; não
somente esta revela-lhe o fenômeno da combustão e seu sentido profundo,
mas permite-lhe ademais: 1) identificar o processo físico-químico que acontece
na brasa com o processo de combustão que ocorre dentro do corpo humano;
2) identificar esse fogo com o fogo do Sol, etc.; 3) unificar os conteúdos de
todos esses fogos para obter uma visão como fogo; 4) penetrar no interior
desse processo cósmico, às vezes até o nível astral (o Sol), outras até o nível
fisiológico (o corpo do homem) e outras, por último, até o nível infinitesimal (a
semente do fogo); 5) reduzir esses níveis a uma modalidade comum a todos, a
Prakriti enquanto fogo; 6) dominar o fogo interior graças ao pránáyáma, à
suspensão da respiração (respiração = fogo vital); 7) estender, por último,
graças a uma nova penetração, esse domínio à própria brasa, que esta frente a
ele (porque se o processo da combustão é identicamente o mesmo de um
limita a outro do Universo, qualquer domínio parcial sobre este processo
conduz indefectivelmente a seu domínio total).” Mircéa Éliade, El Yoga.
Inmortalidad y Libertad, páginas 64 e 65.
10 – CONTEMPLAÇÃO DA LUZ DO SOLFechando os olhos, imagine o sol, exatamente como ele é,
brilhando no seu trikuti, o ponto de intercílio. Mantenha a consciência nele,
sentindo o seu poder. O pensamento deve a cada instante manar de forma
contínua sobre seu alvo, de forma que você possa penetrar na essência do sol.
A contemplação transformar-se-á assim em um instrumento de assimilação
dessa realidade.
Podem utilizar-se as diferentes tonalidades que o sol adota ao
longo do dia.
11 – SAMYAMA SOBRE A LUAImagine o céu à noite. Projete nesse céu escuro a imagem da lua
cheia, irradiante e luminosa. Permita que a sua consciência se detenha sobre
ela.
A atitude deve ser a mesma que no exercício anterior;
primeiramente você se encontra, unificando as flutuações da mente. Logo,
entra em estado de contemplação, havendo parado sobre essa imagem.
Posteriormente, ao conseguir deter o pensamento, ela se revelará em sua
essência.
Se eventualmente algum pensamento alheio à contemplação
surgir, deixe-o passar. Não se comprometa com nenhum outro vritti. Ao final da
meditação você poderá resolver todas aquelas situações que a mente (a
macaca louca, segunda Ramakrishna) faz ver como urgentíssimas justo no
momento em que senta para praticar.
12 – CONCENTRAÇÃO SOBRE O VOO DE UM PÁSSAROImagine-se sentado à beira do mar, contemplando o horizonte
infinito. Surge ao longe uma gaivota, voando sobre o oceano. Seu vôo cativa a
sua atenção. Comece a observá-la, sentindo a sua majestade, a harmonia das
linhas que desenha no céu, sua liberdade. Aos poucos ela aproxima-se mais,
até chegar bem perto de você. Observe sua silhueta, os músculos das suas
asas, a beleza da sua plumagem, as suas cores. Permita-se voar com ela,
identificando-se com a sua leveza e liberdade.
13 – MEDITANDO EM UM CAMPO FLORIDOConfira se o dhyánásana está realmente confortável e a
respiração tranqüila. Fechando os olhos, projete na sua tela mental um campo
em flor. Deixe que sua imaginação passeie por ele, até deter-se
espontaneamente em uma flor. Coloque toda a sua atenção sobre ela,
eliminando qualquer outra imagem. Penetre nela, visualizando seu talo, folhar,
pétalas e perfume...
No momento em que sua atenção se dispersar, retorne à imagem
do campo e reinicie o exercício escolhendo outra flor. Proceda desta forma a
cada vez que se distrair.
14 – A VISÃO DA PÉROLA AZULEscolha a posição mais adequada para meditar, certificando-se
de que a respiração esteja naturalmente profunda e pausada, a coluna bem
ereta, as mãos em Shiva mudrá e a fisionomia descontraída.
Com os olhos fechado, dirija a atenção para o interior da cabeça, na
altura do ájña chakra. Visualize uma pérola azul turquesa neste centro,
brilhando com intensidade, e detenha-se nela. Para facilitar a concentração,
volte o olhar para o trikuti, como se fizesse bhrúmadhya drishti, mas
permanecendo com os olhos fechados.
Havendo logrado um continuum mental firme, denso e unificado
sobre esta esfera azul, vivenciará um estado de extrema lucidez.
15 – SAMYAMA NO LÓTUSVisualize um grande lago à sua frente. Um lado lindíssimo,
rodeado de bosques de árvores majestosas
e plantas nunca antes vistas, em tons de
verde e azul. Flutuando sobre ele, há vários
lótus dourados, luminosos. Alguns pavões brancos passeiam calmamente pela
beira. Perto de você, um pequeno grupo de saddhus encontra-se absorvido no
mais profundo samádhi. O sol começa a se por detrás das montanhas no
horizonte, tingindo o céu de dourado, com uma claridade inefável.
Uma sensação de paz e bem-aventurança indescritível invade o
seu ser. Sentando-se de frente para as águas profundas, a última coisa que
você vê, antes de fechar os olhos, é um lótus dourado, maior que os demais, e
que parece crescer, vibrando, tamanha é a sua beleza. Essa visão prende
imediatamente a sua atenção, e chitta é seduzida pelas formas perfeitas da flor
e pela harmonia das linhas das suas pétalas acetinadas, que brilham com luz
própria, iluminando as águas à sua volta.
Ao concluir a contemplação, a noite já caiu sobre o lugar e você
volta para casa, andando sob o céu estrelado.
16 – MEDITANDO SOBRE O YANTRA OM
Fixe esta imagem a sua frente e olhe firmemente por cinco minutos para
ela, depois feche os olhos e imagine-a entre suas sobrancelhas.
O OM é o corpo sonoro de Purusha, o fonema que sintetiza o Yoga, pois
possui uma ressonância interior muito profunda. O OM, assim como os outros
mantras, só mostra o seu poder e a sua mensagem durante a prática. É o bíja
mantra do ájña chakra, o lótus do intercílio. É chamado pranava, ou veículo do
prána, a energia vital.
A cada som corresponde uma imagem. Ao bíja OM corresponde o
omkára, o símbolo aqui traçado. Como yantra, ele é muito anterior à criação da
escrita devanágarí, utilizada no sânscrito; podemos perceber isso em suas
formas arredondadas e na ausência de ângulos e retas, característicos do
nágarí.
Existe todavia outra forma de meditação sobre o OM, mais forte,
que consiste em combinar este yantra com o seu mantra correspondente, é o
chamado yantramantra dhyána, sobre o qual voltaremos mais adiante. Para
fazer samyama sobre este símbolo, devemos visualizá-lo claramente, pulsando
no intercílio na cor dourada. Se no início você sentir alguma dificuldade para
visualizá-lo como ele é, coloque-o na parede à sua frente no local de
meditação. Ao perceber que a imagem está desvanecendo-se, abra os olhos e
grave-a novamente na memória. Como técnica auxiliar, utilize bhrúmadhya
drishti, o exercício número cinco.
17 – KÁLÍ YANTRA
O Kálí yantra é um dos símbolos mais fortes e importantes do tantrismo,
sendo muito adequado para a prática de meditação. Nas suas linhas encerram-
se os elementos e princípios fundamentais desta filosofia: o bindu, o ponto a
partir do qual se expande o universo, a yoní, símbolo da potencia criadora
feminina, e o lótus, que representa transformação, evolução.
Visualize primeiramente o bhupura, o quadrado de força protetor, com
uma porta a cada lado. A visualização é tridimensional: o bhupura é uma
espécie de pódio ou plataforma sobre a qual eleva-se o yantra. O lótus
sustenta cinco triângulos invertidos que formam uma pirâmide, cujo ponto mais
alto é o bindu, o eixo do diagrama. O yantra inteiro articula-se em torno desse
ponto central.
Como sempre, comece a concentrar-se nele desde o exterior para
o centro. Ao chegar no bindu, visualize-o como uma pequena estrela irradiante,
e veja o conjunto tridimensionalmente, brilhando diante de si.
18 – SHRÍ YANTRA
O shrí yantra também apresenta o tradicional bhupura, a cidadela que
encerra e contém o conjunto, com suas quatro portas abertas ao mundo
exterior. O quadrado sustenta um lótus de dezesseis pétalas que contém outro
de oito inscrito no seu interior; sobre eles, um conjunto de nove triângulos
entrelaçados: cinco com o vértice para baixo, e quatro com o vértice para cima.
Esses triângulos simbolizam a união de Shiva e Shkatí: os que estão para
baixo, representam a energia criadora feminina, yoní; os que apontam para
cima, o princípio gerador masculino, o lingam.
A interpenetração destes triângulos forma circuitos geométricos
menores, que representam a subdivisão da energia criadora original. No centro
do diagrama está o bindu, a esfera que possui localização, porém não
magnitude, a semente do universo, o ponto central e dimensional a partir do
qual se expande a criação. Dele diz-se que contém dentro de si todo o
universo.
19 – CONCENTRAÇÃO SOBRE UM TEMPLO“O simbolismo do mandala (yantra) é constitutivo dos templos:
visto em projeção, o templo é uma mandala. Pode-se dizer então que todo
passeio ritual equivale a uma caminhada de aproximação ao Centro, e que a
entrada em um templo repete a inserção iniciática no manda ou a passagem de
kundaliní através dos chakra (...) Não somente o discípulo identifica-se com o
cosmos, senão que também chega a redescobrir no seu corpo a gênese e a
destruição dos universos.
“O sádhana compreende duas etapas: 1) a cosmização do ser
humano e 2) a transcendência do cosmos, isto é, a sua destruição mediante a
unificação dos contrários. O signo por excelência da transcendência está
constituído pelo ato final da ascensão de kundaliní e sua união final, no alto da
caixa craniana, no sahásrara.” Mircéa Éliade, El Yoga. Inmortalida y Libertad,
página 181.
20 – MEDITAÇÃO NO PRÓPRIO CORPOEsta é uma técnica tântrica por excelência: “Não existe nada
neste universo que não esteja contido no corpo humano. Tudo o que está aqui,
está em toda parte; o que não está aqui, não está em nenhuma parte.”
Vishvasára Tantra.
Para fazê-la, deve sentar no dhyánásana da sua preferência,
preparando-se para meditar, com as mãos em Shiva mudrá, a espinha
relaxadamente ereta e a respiração lenta e profunda. Reflita sobre a frase
acima, que sintetiza a essência dos princípios tântricos. Pense no seu corpo
como um receptáculos de energia cósmica, um aglomerado de átomos
conscientes, construído à imagem do macrocosmos. A consciência vibra em
cada uma das suas células, o prána está presente em todos os seus tecidos.
Sentado assim, você emula a ressoa junto com o arquétipo do yogin
perfeito. Ao repetir o paradigma, o modelo exemplar, estabelece-se uma
conexão nas estruturas do registro ákáshico com Shiva, criador do Yoga e
primeiro Mestre. O ákásha (literalmente, o que tudo penetra) é o espaço sutil
onde estão armazenados todos os conhecimentos e realizações da
humanidade, desde suas origens. No ocidente, quem chegou mais perto dessa
noção foi C. G. Jung, com sua tese do inconsciente coletivo. Através de
técnicas yogi como estas podemos aceder a conhecimentos e estados-
conhecimento que lá estão guardados: “Aqui mesmo (neste corpo) estão o
Ganges, Prayága e Varanasi, o sol e a lua (isto é, o masculino e o feminino) e
os lugares sagrados... Não existe outro lugar de peregrinação nem morada de
felicidade semelhante ao meu corpo. Em verdade, o yantra que é o próprio
corpo é o melhor de todos os yantra.” Gandharva Tantra.
21 – MEDITAÇÃO SOBRE O KANDA, CENTRO DO SERKanda é o centro da corporeidade sutil, o ponto a partir do qual emanam
todas as nádí, ou meridianos pelos quais o prána circula. A palavra significa
raiz, bulbo. Localiza-se logo acima do períneo, é de cor branca e possui forma
oval, exatamente como os lingam ovóides. As pétalas do múládhára chakra
abrem-se a partir da sua base. A cauda eqüina, o grupo de filamentos nervosos
que se espalham a partir da região dorsal da coluna, é a estrutura que
corresponde ao kanda no corpo físico.
Para fazer este exercício, sente em vajrásana, e coloque o peito
do pé de polaridade positiva por cima do outro, deixando os calcanhares para
os lados, por fora dos quadris. Faça mula bandha e sinta a pressão exercida
sobre o períneo pela posição, sentado sobre os pés. A pressão estimula
diretamente essa área.
Localize a sua atenção na altura da base dos genitais, e visualize
aí este centro sutil e as nádí que emanam a partir dele, formando uma rede que
abrange o corpo todo. Permaneça com as costas eretas, respirando
amplamente e mantendo a pressão sobre o períneo.
CONCENTRAÇÃO SOBRE OS CHAKRAAlém do yantra OM, correspondente ao ájña chakra, pode-se
ainda fazer samyama sobre os outros centros prânicos ao longo da coluna e na
cabeça.
Apresentaremos aqui a descrição resumida dos principais padma
e seus elementos mais importantes, para exercer contemplação sobre eles.
Para quem quiser aprofundar-se no estudo desses centros,
recomendamos a leitura da obra de John Woodroffe, El Poder Serpentino, na
qual se comentam dois importantes textos tântricos: o Satchakra Nirúpana e o
Páduká Pañchaka. Esses textos, notadamente o primeiro, possuem descrições
detalhadas e exaustivas desses chakra. Aqui os mostraremos de forma
estilizada, para facilitar a visualização.
22 – MÚLÁDHÁRA CHAKRA
Nome Muladhara
Petalas 4
Bija Lam
Sons Van, Sum, Sham, Sam
Granti Brahma
Elemento Terra
Tattva Olfato
Formato Quadrado
Glândula Supra-renais
Idade Até 7 anos
Princípio Vontade física para ser
Função Emoção inferior: instinto
Condução Sobrevivência
Nivel de consciência Sono profundo
Ligação Segurança, comida,
bebida, amigos, bens materiais,
dinheiro.
Corresponde ao plexo sacro, na base da
coluna, acima do períneo e distribui o ar vital
chamado apána. Está associado às glândulas
supra-renais, que segregam a adrenalina.
Múládhára significa suporte da raiz. Esse lótus
aparece circundado por quatro pétalas
vermelhas. Inscrito nesse círculo de pétalas, um
quadrado da cor do açafrão, que representa o
elemento terra (prithiví). Dentro dele, um triângulo avermelhado
invertido(tripura), símbolo da yoni, órgão sexual feminino, princípio da
fertilidade. No triângulo aparece o lingam, o falo, fundamento criador
masculino, que brilha como um diamante. Em forma de serpente, enroscada
três vezes e meia em torno do lingam, jaz adormecida kundaliní, a energia
latente. Não é casualidade essa região ser chamada sacra, que significa
sagrada em latim. O bíja mantra, som que ativa esse centro, é Lam. Um
indivíduo que viva sob a predominância deste chakra tenderá a ser céptico e
pragmático. As latências mentais associadas ao chakra são: ilusão, cólera,
avareza, desejo, sensualidade, territorialidade, instinto de sobrevivência,
possessividade, temor e preocupação excessiva com o próprio corpo.
23 – SWÁDHISTHÁNA CHAKRA
Nome Swadhishthana
Petalas 6
Bija Vam
Sons Bam, Bham, Mam, Yam, Ram, Lam
Granti
Elemento Água
Tattva Paladar
Formato Lua crescente
Glândula Testículos, ovários
Idade 7 aos 14 anos
Princípio Reprodução criativa do ser
Função Criatividade inferior: procriação
Condução Prazer físico
Nivel de
consciência
Sonho
Ligação Prazer sexual e suas expressões:
livros, filmes, roupas, pinturas
Swádhisthána significa tendo um bom
ponto de apoio. Este padma deve visualizar-se
na altura do plexo sacro, um pouco acima dos
genitais, vibrando, girando e distribuindo energia
nesta área.
Meditando nele desenvolvem-se suas
potencialidades latentes: “Aquele que medita
sobre este lótus impoluto libera-se
imediatamente de todos seus inimigos, como o defeito do ahamkára (o
egoísmo) e outros. Converte-se em senhor entre yogins, e é como o sol que
ilumina a densa escuridão da ignorância. A riqueza de suas palavras, similares
ao néctar, flui em prosa e verso em discurso bem ponderado.”
O fundamento de si próprio, de cor branca azulada, está localizado na raiz
dos órgãos genitais, próximo ao osso pubiano. Assim como o múládhára,
distribui o apána váyu. Associa-se às gônadas, correspondendo ao plexo
prostático. Possui seis pétalas vermelhas, dentro das quais aparece uma Lua
Crescente, que simboliza o elemento água (apas). Sobre ela pulsa o bíja
mantra Vam. Quando este chakra está hiperativo, determina indivíduos
intuitivos, sensíveis e com tendência à introversão. As tendências
subconscientes inerentes ao swádhisthána são: desdém, estupor, abandono,
indulgência excessiva, desconfiança, medo, indiferença e sensualidade.
24 – MANIPÚRA CHAKRAManipúra significa em sânscrito cidade da jóia, a causa do seu
resplendor. Concentra a natureza ígnea do ser humano, relacionando-se com o
fogo, o sol e a absorção da bioenergia. A cidade da jóia fica localizada na altura
do plexo solar. Distribui o ar vital samána, o alento vital que faz a ligação entre
prána e apána, sendo responsável pela vitalização dos órgãos internos e o
processo da digestão, está associado ao plexo epigástrico, ao pâncreas e ao
elemento fogo (tejas), a força expansiva e calórica.
Este centro de força possui dez pétalas de cor azul escuro dentro das
quais aparece um triângulo vermelho com o vértice para baixo, que representa
tejas, o elemento fogo. Inscrito no triângulo aparece o bíja mantra RAM.
O bíja mantra deste chakra é Ram. O manipura chakra determina
indivíduos enérgicos, coléricos ou com disposição para a liderança. As
latências subconscientes que correspondem ao centro do umbigo são: raiva,
irritabilidade, fascinação, ódio, medo, timidez, crueldade, inveja, ciúme, apego
cego, melancolia, letargia e ânsia de poder.
Nome Manipura
Petalas 10
Bija Ram
Sons Dam, Dham, Nam, Tam,
Tham, Ddam, Ddham, Nam, Pam,
Pham
Granti
Elemento Fogo
Tattva Visão
Formato Triângulo
Glândula Pâncreas
Idade 14 aos 21 anos
Princípio Constituição do ser
Função Eu inferior: egoismo
Condução Força de vontade
Nível de
consciência
Vigília
Ligação Mental o poder da razão
A cidade da jóia.
Durante a meditação, imagine-o
girando vertiginosamente em sentido horário na
altura do plexo solar, banhando esta região com
uma intensa luz avermelhada.
25 – ANÁHATA CHAKRA
Nome Anahata
Petalas 12
Bija Yam
Sons Kam, Kham, Gam, Gham, Ngam, Cham,
Chham, Jam, Jham, Nyam, Tam, Tham
Granti Vishnu
Elemento Ar
Tattva Tato
Formato Hexagonal
Glândula Timo
Idade 21 aos 28 anos
Princípio Abnegação do ser
Função Transcender a matéria
Conduçã
o
Despertar
Nivel de
consciência
Consciência transcedental
Ligação Amor incondicional, entendimento,
conhecimento intuitivo (condicionado à interpretação
individual)
Anáhata é o som que vem do interior:
“Os munis o chamam assim, pois é aqui que se
ouve o sabda-brahman, o som que surge sem o
choque de duas coisas juntas.”
Meditando sobre este lótus obtém-se o
conhecimento da palavra e o domínio total
sobre os sentidos. É aqui, e através do som não
provocado (ana: não; ahata: batido) que se
vivencia a pulsação do Universo.
Anáhata chakra significa o som não produzido. O nome refere-se
ao som do coração, que não é provocado por percussão, nem pelo choque de
duas coisas, como no caso da música, senão que é um som que surge do
interior. Relacionado ao plexo cardíaco e ao timo (glândula responsável pelo
funcionamento do sistema imunológico), este centro de energia tem doze
pétalas vermelho escuro que rodeiam circularmente dois triângulos
superpostos de cor cinza. Os triângulos formam um yantra de seis pontas,
símbolo do elemento ar (bhúta váyu). No centro deste yantra pulsa o bíja
mantra Yam. Nele aparece novamente o lingam, indicando a presença de um
granthi. Os granthis são nós ao longo da sushumná nádí, válvulas de
segurança e ao mesmo tempo obstáculos para a ascensão da energia.
Voltaremos sobre eles mais adiante.
O anáhata chakra é a sede do váyu, o ar vital chamado prána, que está
localizado no plexo cardíaco, na altura do coração. Sentimentos como o amor
estimulam positivamente o timo, aumentando a capacidade imunológica. Não é
à toa que os chimpanzés batem instintivamente no peito como forma de
manifestar alegria: estão massageando o timo. Os laços afetivos fortalecem o
sistema imunológico, é por isto que pessoas solitárias podem ser mais
propensas a ficar doentes. Os samskáras relativos a este centro são:
arrogância, vaidade extrema, depressão, desespero, egoísmo, avareza,
hipocrisia, tendência à discussão, ansiedade, desgosto. No aspecto positivo:
esperança, positividade, altruísmo, preocupação com os outros, contrição,
pensamento profundo, amor, afeição, auto-estima, arrependimento.
26 – VISHUDDHA CHAKRA
Nome Vishuddha
Petalas 16
Bija Ham
Sons Am, Ām, Im, Īm, Um, Ūm, Rim, Rīm, Lrim, Lrīm,
Em, Aim, Om, Aum, Am, Ah.
Granti
Elemento Eter
Tattva Audição
Formato Redondo
Glândula Tireóide e paratireóide
Idade 28 aos 35 anos
Princípio Ressonância do ser
Função Criatividade elevada: artística
Conduçã
o
Expressão criativa
Nivel de
consciência
Consciência cósmica
Ligação Prefere não resistir às experiência o mundo se
torna uma vivencia de extrema alegria
O nome significa grande purificador (vi:
grande, incomparável; shuddha: purificador). É
chamado a grande porta da liberação, pois
possibilita o conhecimento extra-temporal por
meio do despertar das potencialidades inerentes
ao elemento éter.
“O yogin, com sua mente fixa
constantemente neste lótus, com usa respiração
controlada mediante o kúmbhaka, em sua ira, é capaz de movimentar os tres
mundos.” durante a meditação no vishuddha adquire-se a qualidade de ver as
tres formas do tempo: o presente, o passado e o futuro.
Vishuddha chakra
Vishuddha significa o grande purificador. Esse centro fica no plexo
laríngeo, na região da garganta. Está relacionado com as glândulas tireóide e
paratireóide, que regulam o metabolismo e com o ar vital udána, que distribui
energia na área da garganta e nos membros. É prateado e possui dezesseis
pétalas de cor púrpura escuro ou cinza. No seu pericarpo, um círculo branco,
resplandecente como a Lua Cheia, representa o elemento espaço (ákásha),
inscrito em um triângulo invertido da mesma cor. No seu centro vibra o bíja
mantra Ham. "O yogin, com a mente fixa constantemente neste lótus, com a
respiração controlada mediante o kúmbhaka (retenção do ar durante o
pránáyáma), em sua ira, é capaz de mover a totalidade dos três mundos".
Correspondências emocionais: afeto, tristeza, respeito, devoção,
contentamento, lamento. Através do massageamento destas glândulas
estimulamos o centro da garganta, sede do dom da palavra, a eloqüência, o
conhecimento e a clariaudiência, a audição paranormal.
27 – ÁJÑA CHAKRA
Nome Ajña
Petalas 2
Bija Om
Sons Ham, Ksham
Granti Rudra
Elemento Todos
Tattva Mente
Formato Redondo
Glândula Pituitária
Idade 35 aos 42 anos
Princípio Auto conhecimento
Função Eu elevado: altruismo
Conduçã
o
Conhecimento elevado
Nível de
consciência
Consciência Shakti Shiva
Ligação Intuição, revelação direta, auto-realização,
auto-autoridade
Ájña significa comando.
A meditação neste padma é
uma das mais poderosas do Yoga.
Meditando nesse centro, o yogin
"vê a luz, como uma chama
incandescente. Fulgurante como o sol
matutino claramente brilhante, reluz
entre o céu e a terra."
Ájña chakra
O chakra do comando situa-se no intercílio, concentra as faculdades
sensoriais, indriya, e aquelas relacionadas ao conhecimento: manas, ahamkára
e buddhi. É de forma circular, como a Lua, e belamente branco. No centro do
lótus aparece um triângulo invertido vermelho, simbolizando a yoni e, no meio
do triângulo, um lingam branco. Rodeando o chakra, duas pétalas luminosas. O
bíja mantra desse centro é o Om, considerado o melhor objeto de meditação. O
nome do mantra é pránava, que significa veículo do prána.
A confluência no ájña chakra das tres principais nádí, chamada triveni, ou
trikuti, constitui um poderoso centro de energia, que desperta a força criativa do
homem e suas percepções extra-sensoriais: clarividência, clariaudiência,
telepatia, et coetera. Este lótus está associado às funções das glândulas pineal
e pituitária, que regulam o sistema endócrino.
O ájña está ligado ao plexo cavernoso e à glândula pituitária (hipófise),
que segrega a endorfina (hormônio 200 vezes mais forte que qualquer
tranqüilizante). A prática da meditação estimula a secreção de endorfina,
causando uma agradável sensação de bem-estar. Este centro é o berço da
intuição, do pensamento, do conhecimento, do orgulho intelectual, a soberba e
fenômenos paranormais como clarividência e telepatia. Correspondem aos
tattwas manas, buddhi e ahamkára (a mente racional, a mente superior e o eu
nocional). Latências: relaciona-se com determinação e força de vontade,
autocontrole, paciência, capacidade de perdoar e bem-aventurança.
28 – SAHÁSRARA CHAKRA
Nome Sahasrara
Pétalas 1000
Bija Om
Glândula Pineal
Idade 42 aos 49 anos
Princípio Auto conhecimento
Função Iluminação
Conduçã Samadhi
o
Nivel de
consciência
Consciência Una
Ligação Samadhi
Chamado lótus das mil pétalas, encontra-se no alto da cabeça,
voltado para baixo. Ele é mais branco que a lua cheia, irradiante e luminoso. É
denominado também brahmarandhra.
Você poderá fazer samyama sobre ele
imaginando-o como se estivesse
desabrochando: um lótus de luz prateada do
qual emana néctar, inundando seu corpo por
dentro e por fora com uma sensação
indescritível de bem-aventurança e hiperlucidez.
Assim como kundaliní Shaktí descansa no múládhára chakra, diz-se também
que o sahásrara é a sede da consciência pura, a morada de Shiva. Ao
encontrar-se a energia ascendente com a consciência pura, advém o samádhi.
Sahásrara chakra
O lótus das mil pétalas: "por cima de todos os outros (...) está o lótus das
mil pétalas. Este lótus, brilhante e mais branco que a Lua Cheia, tem a sua
cabeça apontada para baixo. Ele encanta. Seus filamentos estão coloridos
pelas nuances do Sol jovem. Seu corpo é luminoso". Esse centro fica na
fontanela, no alto da cabeça, e entra em atividade unicamente após o despertar
da energia ígnea. É nele que se experimenta a união final de Shiva e Shaktí,
aonde chega a kundaliní, após ter atravessado os outros seis centros.
Está relacionado ao primeiro tattwa, o Purusha (Princípio Imutável do
Ser), ao plexo cerebral e à glândula pineal (epífise), produtora da melatonina,
substância que regula o sono e os ritmos biológicos. Sensível à luz, esta
glândula funciona durante a noite, quando aumenta o nível de melatonina no
corpo, favorecendo uma mente mais internalizada. A máxima secreção se dá
entre meia-noite e três da madrugada, a melhor hora para fazer trabalhos
intelectuais que envolvam criatividade.
A estimulação desta glândula pode gerar no corpo índices elevados de
DMT (N,N-dimethyltryptamine) substancia liberada todas as noite enquanto
dormimos, mas em uma quantidade baixa. Níveis maiores só são possíveis
através da meditação ou ingestão oral. Existe também dois momentos em que
o corpo libera grande quantidade dessa substancia: quando nascemos e
quando morremos. Estudos do Dr. Rick Strassman da Universiadade do Novo
México com pacientes que tiveram experiências perto da morte mostram a
ligação dessa substancia com os estados supra-consciente.
MANTRA DHYÁNAMantra dhyána é a meditação sobre um mantra. Mantra é um corpo
sonoro que produz uma vibração ultra-sônica no organismo. Todo som é uma
forma de energia constituída por determinados comprimentos de onda. O Yoga
utiliza diferentes fórmulas sonoras com o objetivo de elevar o praticante a
estados superiores de conhecimento.
Literalmente, mantra significa instrumento do pensamento. O potencial
vibratório desses sons, pronunciados ou não, possui efeitos ilimitados: “Há algo
que não possa realizar-se através dos mantra, se forem aplicados segundo as
regras?” Sádhanamálá.
O poder do mantra reside no fato de que ele pode transformar-se, por
meio da vocalização adequada, no objeto que representa. A cada estado de
realização corresponde um som determinado, que é a sua semente: por
exemplo, o mantra OM, induz à meditação e identificação com o Purusha, o Si.
O mantra OM NAMAH SHIVAYA, à aproximação com o arquétipo de Shiva, et
coetera. Desta forma, através das diversas vibrações sonoras do universo,
assimilam-se diretamente conhecimentos e experiências essenciais à liberação
pelo samádhi. Porém, cabe destacar que se a prática for feita sem animar o
mantra, sem chaitanya, a consciência mântrica, não será mais do que uma
movimentação mecânica das cordas vocais, com efeito inócuo.
“Os fonemas descobertos durante a meditação expressavam quiçá
estados de consciência de estrutura ‘cósmica’, difíceis de formular-se por meio
de uma terminologia profana (...) Trata-se pois de experiência solidárias de
certo modo com o descobrimento da linguagem e que, com essa regressão
extática a uma situação primordial, provocam a implosão da consciência
diurna. Todo esse esforço do yogin tântrico emprega-se para ‘despertar’ essa
consciência primordial e redescobrir a plenitude que precedeu à linguagem e a
consciência do tempo. (...)
“Um mantra é um ‘símbolo’ no sentido arcaico do termo: é ao mesmo
tempo a ‘realidade’ simbolizada e o ‘signo’ que simboliza. Existe uma
correspondência oculta entre, por uma parte, as letras e as sílabas (...) e os
órgãos sutis do corpo humano, e, por outra, entre esses órgãos e as forças
latentes ou manifestas no cosmos.” Mircéa Éliade, El Yoga. Inmortalidad y
Libertad. Páginas 161 e 162.
FORMAS DE REPETIÇÃOA repetição do mantra, chamada japa, pode ser feita de tres
maneiras diferentes: em voz alta, na forma de um murmúrio quase inaudível,
ou mentalmente. A mais forte é a última. Todas elas possuem uma estreita
relação com a respiração, o pránáyáma e o mantra (ritmo). Voltaremos sobre
esse tema mais adiante.
Outra forma de meditação sobre os mantra, menos utilizada e
conhecida mais não por isso menos efetiva, é o likhita mantra, que consiste em
traçá-los em escrita devanágarí. Para isso, precisa dedicar o tempo que
dedicaria ao dhyána sádhana regular, e estudar um pouco de sânscrito. A
intenção não é traçar uma grande quantidade de fonemas, senão fazê-lo de
forma tal que você seja absorvido pela tarefa, completamente centrado no
símbolo escolhido. Ao escrever um mantra, como quando incorporamos o bíja
OM à nossa assinatura, nos associamos à energia inerente a esse som.
Fora as técnicas de mantra dhyána aqui descritas, você poderá
ainda fazer concentração sobre outros sons, como os da natureza (uma
cachoeira, as ondas do mar, o vento nas árvores), um kirtan, ou ainda uma
música que chame a sua atenção.
UTILIZAÇÃO DO JAPA MALAPara auxiliar-nos a manter o ritmo durante a prática, e também
para contar o número de repetições feitas, utilizamos o mala, que é um colar de
108 contas feito de sândalo, rudráksha, ou outro material. Tomando-o na mão,
deslize as contas uma a uma pelos dedos, contando a partir da primeira junto
àquela que está separada do fio principal, chamada meru. A cada conta
corresponde uma repetição do mantra.
Na falta deste mala, você poderá fazer essa contagem com uma
mão, usando o polegar para contar sobre os artelhos das falanges dos outros
dedos. Assim, para contemplar o equivalente a 108 repetições, você precisará
deslizar o polegar tres vezes sobre cada dedo, fazendo nove vezes este ciclo
(3x4=12; 12x9=108).
29 – BÍJA MANTRA LAMLAM é o som semente do múládhára chakra, na base da espinha
dorsal. Este bíja mantra ativa o tattwa (elemento, nível de realidade) prithiví,
correspondente à terra. Ao pronunciar mentalmente este som, podemos dizer
que damos vida ao princípio que ele representa.
Assuma a posição e atitude corretas para meditar e sinta o som
vibrando na altura do múládhára chakra, dentro de uma intensa luz alaranjada,
brilhante como brasas incandescentes. É útil fazer também mula bandha
durante o exercício. O som LAM desperta o chakra raiz, e as nádí que emanam
dele.
30 – BÍJA MANTRA VAMAtiva o swádhisthána chakra, que se localiza cinco dedos abaixo
do umbigo. O elemento deste centro é apas, a água.
Deve executar-se (com vocalização ou mentalmente)
concentrando-se na altura do ventre. Quando esses mantra são vocalizados,
percebe-se uma atuação vibratória a nível profundo nos corpos físico e
energético. Quando são produzidos mentalmente, em manasika japa,
podemos perceber a sua manifestação mais sutil. Nos estados mais avançados
da contemplação, o yogin chega ao para-shabda, o estado casual não
manifestado.
31 – BÍJA MANTRA RAM“RAM é o bíja do fogo, no manipúra chakra. Este mantra RAM é a
expressão em som denso (vaikhárí shabda) do som sutil produzido pelas forças
que constituem o fogo. A mesma explicação dá-se com relação a LAM no
múládhára, e aos outros bíja dos demais chakra. Porém, a simples
pronunciação do RAM ou de qualquer outro mantra nada mais é do que uma
movimentação dos lábios. Apenas quando o mantra é despertado (prabuddha),
isto é, quando há mantra cahitanya (consciência mântrica), o sádhaka pode
realizar a ação mântrica. Assim, no caso citado o vaikhárí shabda, através do
seu veículo dhwáni, é o corpo de um poder de Consciência que capacita o
mantrin (praticante) para converter-se em Senhor do Fogo.” Sir John
Woodroffe, El Poder Serpentino, página 79.
32 – BÍJA MANTRA YAMDesperta e desenvolve o anáhata chakra, o centro do plexo solar,
cujo tattwa é váyu, o ar.
Na prática, sinta esse som pulsando no diafragma e imagine uma
aura na aura dourada envolvendo o padma. Utilize o japa mala, ou a contagem
dos dedos. Ao iniciar o exercício, você poderá vocalizar em voz alta o bíja
durante um japa mala, para fixá-lo bem no seu pensamento. Depois, comece a
abaixar gradativamente o volume, até passar a fazê-lo mentalmente. De modo
geral, os efeitos do japa começam a manifestar-se de forma evidente após
algumas voltas completas, ou seja, algumas centenas de repetições. A atitude
deve ser de receptividade total, a mente vibrando junto com o som.
33 – BÍJA MANTRA HAMAtiva o vishuddha chakra, centro de força situado no plexo
laríngeo, à altura da garganta. O tattwa correspondente a esse lótus é ákásha,
o éter. Meditando sobre este som despertamos as qualidades da consciência
relativas a esse elemento: eloqüência, clariaudiencia e clarividência.
Preste atenção à pronúncia correta da letra h (como em house,
em ingles) ainda ao fazer o mantra mentalmente. Não esqueça de pronunciar
também a letra m, chamada bindu, ponto ou semente.
É importante trabalhar sobre todos os chakra com a mesma
intensidade, seja fazendo japa ou samyama sobre cada um deles na mesma
prática, seja estimulando-os separadamente, um por sádhana.
34 – BÍJA MANTRA OMOM é vibração primordial, o som do qual emana todo o universo,
a substância essencial que constitui todos os outros mantra, sendo o mais
poderoso de todos eles. Ele é o gérmen, a raiz de todos os sons da natureza.
“Com OM vamos até o fim: o silencio do Absoluto. O fim é
imortalidade, união e paz. Tal como uma aranha alcança a liberdade do espaço
por meio de seu fio, assim também o homem em contemplação alcança a
liberdade por meio do OM.” Maitrí Upanishad, VI: 22.
Essa técnica é uma das mais antigas e eficazes que existem no Yoga.
Estimula o ájnã chakra, na região do intercílio, sede dos tattwa manas, o
pensamento, e buddhi, a intuição, ou consciência superior.
Existem sete formas diferentes de vocalizar o OM. Aqui veremos
especificamente a sua utilização como dhárání, suporte para concentração.
Aconselhamos que, ao iniciar o samyma vocalize algumas vezes o
mantra para poder fixá-lo firmemente. Sinta a letra o vibrando no tórax e
diafragma, e o m ressoando na caixa craniana e na garganta.
O mais adequado para efeitos de contemplação é fazer o OM ritmado, a
curtos intervalos. Depois de alguns minutos comece a diminuir gradativamente
o volume da voz, até fazê-lo de forma quase inaudível. Finalmente, deixe que
ele continue pulsando no intercílio.
Uma técnica bastante eficiente é associar o yantra a esse som,
projetando mentalmente a imagem do omkára a sílaba OM, em dourado sobre
aquele ponto. O símbolo passa assim a pulsar em sincronia com o mantra. Isto
chama-se yantramantra dhyána.
Além desses bíja mantra principais, aparece ainda sobre as pétalas de
cada chakra uma série de fonemas do alfabeto sânscrito: são os bíja menores,
que representam as manifestações sonoras do tipo de energia de cada chakra.
Desta forma, cada sílaba de cada mantra estimula uma pétala definida de um
chakra particular. Este é o motivo pelo qual o sânscrito é considerado língua
sagrada na Índia: seu potencial vibratório produz efeitos em todos os níveis.
35 – SO’HAM, O AJAPA JAPAAjapa japa, o japa que não é japa, é o mantra não vocalizado que
fazemos de forma inconsciente ao respirar. É o som produzido pelo fluxo do ar
ao entrar e sair dos pulmões.
A técnica deve fazer-se respirando de forma profunda e ritmada,
mantendo a atenção sobre a inalação e a exalação.
Associa-se a sílaba SO à inspiração, e a sílaba HAM à expiração. A
respiração é contínua, sem pausas nem retenções. É preciso permanecer
consciente e atento, e deixar que chitta seja enfeitiçada pelo som,
Recomendamos colocar a atenção sobre o ájña chakra, fazendo bhrúmadhya
drithi, para facilitar a contemplação. Esta é uma das técnicas mais forte, pois
utiliza a pulsação interna da respiração; o mantra que nos acompanha desde o
nascimento e que emula o ritmo de expansão e recolhimento do universo.
36 – NÁDA, A SONORIDADE INTERIORAo fechar-se os ouvidos com a ajuda dos polegares ouve-se o som do
espaço que está no interior do coração, cuja aparência assume sete formas: (é
como) o som de rio, de um sino, de uma caixa de cobre, de uma roda de
carruagem, o coaxar de uma rã, (como o som) da chuva ou da palavra em
lugar fechado. Após haver ultrapassado este som, que possui diferentes
características, vai dissolver-se no Purusha, o Som supremo.
Quando se repete o esforço para ouvir este nada (som), ele acaba por
superar todos os sons exteriores. No início da prática ouve-se um som de
grande volume e diversificado, não homogêneo. Em seguida, à medida em que
se progride na prática, ouve-se um som cada vez mais sutil. Mesmo quando se
ouvem sons poderosos, como os da multidão e os do timbal, deve-se procurar
ater-se somente a um som cada vez mais sutil.
Levada assim pelo som, a consciência fixa-se em vibrações cada
vez mais sutis até que, no fim, mergulha no silencio do Purusha, e obtém-se o
samádhi.
37 – JAPA OM NAMAH SHIVAYAEste é um mantra polissilábico, utilizado como kirtan, mas que
pode servir para se fazer japa. A rigor, todo kirtan pode usar-se desta forma,
bastando seguir com atenção essas instruções.
O mantra deve fazer-se sem melodia; comece pronunciando-o
mentalmente diversas vezes, de forma lenta. Aos poucos, acelere esse ritmo
cada vez mais, até estabilizar-se em uma velocidade na qual a consciência não
se disperse, sem fazer intervalos.
OM namah Shivaya significa literalmente eu saúdo Shiva, porém,
o que nos interessa no mantra não é apenas o significado, mas o efeito que ele
tem a nível prático. Mais importante ainda que conhecermos a tradução do
mantra é fazê-lo com bháva, com contrição e sentimento.
38 – NETI! NETI!“Negando-se todas as limitações graças à palavra escritural: neti!
neti! (não é isso! não é isso!), compreende-se a unidade do eu individual e do
Eu supremo graças a mahavakya, as grandes afirmações.” Shankaracharya,
Átmabodha, 15.
Esta expressão aparece também no Sámkhya Sútra, livro irmão
do Yoga Sútra, onde se expõem os fundamentos da filosofia Sámkhya, e
também nas Upanishad.
Neste exercício de negação, os diferentes casulos que ocultam o
Purusha, impedindo o yogin de alcançá-lo, vão desvanecendo-se um por um na
medida em que ele absorve-se nesta meditação.
TANTRA DHYÁNAA técnica do tantra dhyána, por ser a mais poderosa de todas, só
pode ser transmitida diretamente pelo Mestre, através do parampará. Não
falaremos dela no momento. Se estiver interessado em recebê-la, fique atento
aos cursos ministrados pelo Mestre Victor Lino, participe e receba a técnica
diretamente das suas mãos; será com certeza uma experiência muito mais
intensa que as que as técnicas aqui descritas possam lhe proporcionar.