atividades recreativas e psicomotricidade no contexto hospitalar - parte i
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7/24/2019 Atividades Recreativas e Psicomotricidade No Contexto Hospitalar - Parte i
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ATIVIDADES RECREATIVAS E
PSICOMOTRICIDADE NO CONTEXTO
HOSPITALAR
PARTE I
Conteudista
Prof. Me. LENITA CARMELLO DE ALMEIDA
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Introduo
Conforme estudos anteriores, a hospitalizao pode se caracterizar
como uma experincia e perodo bastante negativos na vida de uma criana ou
jovem trazendo-lhes prejuzos psicoemocionais irreversveis.
Diante dessa perspectiva, o brincar no contexto hospitalar se destaca
como fundamental para garantir a essas crianas e jovens hospitalizados maior
conforto bem como diminuir os traumas e ansiedade derivados do contexto
vivido, alm disso, essa atividade est prevista em lei.
Ao brincar, a criana tem a possibilidade de vivenciar o momento de
forma autnoma ressignificando-o, elaborando seus conflitos interiores e
modificando seus desejos. Tal atividade, alm de se constituir uma funo
teraputica, se constitui tambm como vlvula de escape para as emoes
sentidas nesse contexto adverso.
Para alm dos benefcios psicoemocionais, as atividades recreativas
contribuem com o desenvolvimento psicomotor do indivduo.A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade a conceitua como sendo:
Uma cincia que estuda o homem atravs do seu movimentonas diversas relaes, tendo como objeto de estudo o corpo ea sua expresso dinmica. A Psicomotricidade se d a partir daarticulao movimento/ corpo/ relao. Diante do somatrio deforas que atuam no corpo - choros, medos, alegrias,tristezas... - a criana estrutura suas marcas, buscandoqualificar seus afetos e elaborar as suas ideias. Vai
constituindo-se como pessoa. (OTONI, 2007, s/p).
Sendo assim, de acordo com Araujo e Silva (2013), podemos dizer que
atravs do seu corpo que a criana descobre o mundo, explora situaes,
experimenta sensaes expressando-se, percebendo-se e percebendo o que
as cerca. a partir da explorao do concreto que a criana desenvolve a
conscincia de si e do mundo externo.
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Portanto, atividades recreativas por si s so potencializadoras do
desenvolvimento psicomotor da criana.
Mas , o que rec reao?
Recreao vem do latim recrearee significa recrear. Segundo Behrmann
(2011), uma atividade fsica ou mental a que o indivduo estimulado para
satisfazer suas necessidades fsicas, psquicas ou sociais e cuja realizao lhe
causa prazer, alegria, distrao. Podemos dizer, portanto, que toda e qualquer
atividade que provoque alegria, distrao, divertimento pode ser considerada
uma atividade recreativa, nesse sentido, desde a leitura de um livro (atividade
que no requer movimento fsico) a jogos e brincadeiras em geral.
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A recreao fundamental para o desenvolvimento humano em uma
perspectiva que considera o ser humano em sua totalidade, como um ser
global. Nesse sentido, os aspectos sociais, cognitivos, morais/ticos e motores
so desenvolvidos. Uma mesma atividade recreativa possibilita o
desenvolvimento de todos os aspectos mencionados. Por exemplo, brincar de
esconde-esconde desenvolve o aspecto social medida que um grupo de
crianas esto se divertindo juntas, o que melhora o convvio social.
Desenvolve tambm o aspecto cognitivo medida que novos esquemas
mentais podem ser estruturados, alm de facilitar a assimilao de contedos.
O aspecto moral/tico tambm privilegiado medida que preconceitos e
diferenas de gnero, raa, cor so esquecidas, permitindo aos envolvidos um
convvio harmonioso. Outrossim, o aspecto motor medida que desenvolve
habilidades motoras como correr, pular, andar, desviar, pegar importantes para
o desenvolvimento humano.
Sendo assim, as atividades recreativas devem ser consideradas no
atendimento a crianas e jovens hospitalizados contribuindo, assim, no
apenas para diminuir os prejuzos psicoemocionais derivados do perodo vivido
como tambm diminuindo os prejuzos biopsicossociais a que esses indivduos
ficam sujeitos.
Nesta unidade, vamos apontar algumas atividades que podem ser
trabalhadas no ambiente hospitalar quando da hospitalizao infantil em uma
perspectiva humanizadora e globalizadora do ser humano enquanto ser
biopsicossocial.
1. Recreao hospitalar: aspectos fundamentais da discusso
Antes de tudo, preciso salientar que toda atividade requer
planejamento. A ao do pedagogo hospitalar, enquanto profissional da
educao, deve ser intencional e requerer objetivos claros. A ao no pode
ser pela ao, seno, a funo deste profissional perde o seu sentido no
contexto hospitalar.
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Desse modo, o planejamento de uma atividade recreativa tambm deve
partir de objetivos definidos antecipadamente e considerar alguns aspectos
para que a ao educativa seja assertiva e alcance os resultados desejados
como, por exemplo, o gnero (feminino/masculino), a faixa etria, a patologia e
a condio psicoemocional do paciente visto que atividades recreativas no
devem ser obrigatrias.
Estes elementos so fundamentais para que a prtica a ser
desenvolvida tenha resultados. Isso porque os interesses de uma menina so
diferentes dos interesses de um menino que, por sua vez, so diferentes dos
interesses de uma jovem ou de um jovem. A menina sempre prefere bonecas e
o menino, carrinhos, embora isso no seja uma regra. Como o pedagogo
hospitalar conhece seu grupo apenas depois deste ser submetido
internao, faz-se necessrio direcionar a ao de modo mais pontual em um
primeiro momento. Depois, quando o profissional j estiver mais familiarizado
com o grupo, pode-se aprofundar mais nos gostos pessoais e preferncias de
cada um e partir disso para o planejamento das atividades.
Outro aspecto importante quando do planejamento de atividades a
patologia da criana que, muitas vezes, a impede de sair do leito hospitalar. s
crianas e jovens neste quadro devem ser oferecidas alternativas, pois muitas
atividades podem ser realizadas no prprio leito como, por exemplo, contao
de histrias, fantoches, dramatizaes, pinturas, desenhos, entre outros. Os
brinquedos podem ser levados ao leito.
A condio psicoemocional do paciente deve ser considerada, pois
como mencionado anteriormente, as atividades recreativas no podem ser
impostas. Se a criana ou jovem ou a famlia destes no aceitarem as
atividades propostas, deve-se respeitar e tentar novos ensaios em outromomento, mas nunca deixar de tentar.
1.1 Atividades recreativas na brinquedoteca hospitalar
Conforme estudo anterior, a brinquedoteca um espao ldico que
permite criana imaginar, brincar com suas fantasias, elaborar seus medos,
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desejos, inseguranas facilitando, assim, a adaptao rotina hospitalar e
recuperao de sua sade.
Mas, qual ou deveria ser o acervo de uma brinquedoteca
hospitalar?
As brinquedotecas devem conter um acervo diversificado de brinquedos
para que possam atender todas as faixas etrias e as necessidades/interesses
que os usurios apresentam.
De acordo com Paula et. al (2007), existe dois tipos principais de
brinquedos no mbito da interveno pedaggica: os didticos e os ldicos,
mas a autora ressalta que, qualquer tipo de brinquedo, se bem explorado,
possibilita a aprendizagem.
Os brinquedos didticos so aqueles planejados com a inteno de
estimular a aprendizagem do usurio alfabetizando, ensinando matemtica
e/ou outros conceitos. Exemplos de brinquedos didticos so os domins,
desde o tradicional que ensina bases matemticas at os com figuras que
trabalham vrios conceitos como higienizao, alfabetizao, pessoas, letras,
animais.
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Os brinquedos ldicos so aqueles que trabalham com a imaginao em
que a criana projeta, a partir do brinquedo, sua viso-de-mundo aperfeioando
seu conceito sobre ele. Quando a criana brinca de cozinhar, por exemplo,representa e imita aquilo que ela j viu um adulto fazer. Exemplos de
brinquedos ldicos:
Os brinquedos mais comuns em brinquedotecas so os mais tradicionais
e conhecidos das crianas por fazer parte de seu cotidiano como o carrinho,
boneca, cozinha, fantoche, brinquedos de montar em geral e pintura. Alm
disso, fazem parte de seu acervo por atender a todas as crianas e por ser de
fcil higienizao e conservao.
O carrinho um brinquedo que estimula e desenvolve a criatividade, a
coordenao motora e a imaginao.
A boneca se constitui importante recurso para o desenvolvimento infantil
medida que permite criana exercer poder sobre ela imitando o mundo do
adulto no que se refere ao zelar, cuidar, amar, proteger, etc. ainda
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considerada um brinquedo de afeto por trazer segurana e fazer companhia
criana.
A cozinha representa uma situao cotidiana observada pela criana.
Por ser considerado um local perigoso, geralmente, a criana no tem acesso a
ele e, ao brincar, projeta esse desejo de poder cozinhar no brinquedo, se
imaginando nessa situao e imitando o mundo do adulto.
O fantoche favorece a linguagem, a criatividade, imaginao,
interpretao e, principalmente, a ateno das crianas. Se bem planejado, se
constitui de importante recurso no combateaos efeitos da hospitalizao.
Os brinquedos de montar favorecem o desenvolvimento da coordenao
motora e do raciocnio. Podem ser quebra-cabeas, peas de encaixe e ainda
h os pedaggicos em que as montagens resultam em palavras, situaes,
clculos, entre outros.
As atividades artsticas, tambm chamada de arteterapia, como pintura,
colagens, dobraduras, desenho, lpis, hidrocor, giz de cera, massinha de
modelar, mscaras, colagens, dentre outros, permite criana expressar
livremente os seus sentimentos. Alm disso, para as crianas que apresentam
dificuldades em comunicar verbalmente os seus desejos e necessidades, a
pintura se constitui como recurso assertivo e de defesa dos direitos da criana
hospitalizada.
Alm destes brinquedos, bolas, jogos de tabuleiro, artesanais, fabricados
com sucatas pelas prprias crianas, brinquedos especiais ou adaptados para
crianas com movimentos limitados devido a sua enfermidade, para crianas
cegas ou com dificuldades de fala e escuta e at para crianas que esto
isoladas no hospital devem fazer parte do acervo e ser oferecidos para entreter
as crianas, lembrando que os brinquedos devem estar em consonncia faixaetria dos usurios.
H ainda dois tipos de atividades que podem ser propostos s crianas.
O primeiro tipo de atividade o chamado brinquedo dirigido. Nessa atividade,
os brinquedos devem ser previamente escolhidos pela equipe sendo estes
especficos ao processo de hospitalizao como, por exemplo, bonecas
pacientes, seringas, estetoscpios, ambulncias, bonequinhos mdicos, entre
outros. Atravs dessa atividade a criana expressa sentimentos especficos do
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momento vivido, elabora suas fantasias, desmistifica o ambiente hospitalar.
recomendvel que o pedagogo acompanhe a atividade procurando estimular a
dramatizao e verbalizao dos fatos por parte da criana.
A segunda atividade a do brinquedo livre em que so usados
brinquedos diversos e as crianas brincam de maneira livre, no entanto, o
pedagogo pode intervir orientando e apoiando a criana caso seja necessrio.
importante que o pedagogo esteja atento, na aplicao de ambas atividades,
aos sentimentos expostos pela criana procurando auxili-la na elaborao
desses sentimentos e no entendimento do processo de internao. Vale
ressaltar que, criana impedida de sair de seu leito, devem ser oferecidas
atividades no local.
Alm dos brinquedos em geral, outras atividades podem ser
desenvolvidas neste espao, so elas a dramatizao e a musicoterapia.
A dramatizao pode ser utilizada como recurso em que as prprias
situaes decorrentes da hospitalizao sirvam de tema. Segundo Chiattone
(2003 apud BARROS e LUSTOSA, 2009), as crianas podem se vestir com
roupas usadas pela equipe de sade bem como mscaras, aventais, seringas,
maleta de mdico, entre outros. Tal experimentao possibilita criana se
aproximar e espelhar a conduta dos profissionais de sade. A autora ainda
aponta que essa atividade talvez a mais favorvel em termos de expresso e
elaborao dos sentimentos das crianas internadas.
A musicoterapia se constitui de tratamento teraputico que, a partir da
msica, trata de problemas tanto de ordem fsica quanto de ordem emocional
ou mental. A msica promove o equilbrio entre o pensar e o sentir, alm de
provocar a improvisao de movimentos que proporcionam prazer ao paciente.
Essa tcnica pode auxiliar as crianas em processo de hospitalizao de modoa promover formas de socializao, diminuio do estresse, criatividade e
relaxamento.
Pode-se citar ainda importncia da biblioteca e at mesmo da utilizao
de instrumentos musicais como atividades alternativas e fundamentais para
amenizar os efeitos da hospitalizao, promover o desenvolvimento da criana
e a recuperao de sua sade. Atravs de projetos possvel tornar realidade
uma biblioteca hospitalar e um local que rena instrumentos musicais.
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Consideraes Finais
Nesta unidade, estudamos algumas atividades que podem ser
desenvolvidas na brinquedoteca hospitalar reafirmando, novamente, a
importncia desse espao para a recuperao da sade e amenizao dos
possveis efeitos que o processo de hospitalizao pode causar,
principalmente, em crianas.
Nesse sentido, destaca-se o papel do pedagogo como fundamental para
criar, inovar em atividades pertinentes a cada faixa etria, condio clnica e
psicoemocional de cada paciente.
As possibilidades no se esgotam aqui neste texto. A qualidade e
diversificao das atividades desenvolvidas junto a crianas hospitalizadas
varia de acordo com a criatividade e empenho da equipe responsvel pelo
atendimento pedaggico-educacional.
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Referncias Bibliogrficas
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PARCIANELLO, A. T.; FELIN, R. B. E agora doutor? Onde vou brincar?Consideraes sobre a hospitalizao infantil. Disponvel em:http://online.unisc.br/seer/index.php/barbaroi/article/view/356/584 Acesso em12,ago, 2014.
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