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Assessoria de imprensa em tempos de convergência midiática: uma análise da TV Canal do Produtor da CNA
Aline de Oliveira Silva1 Juliana Feliz2
RESUMO: A convergência midiática é um fenômeno que tem se propagando
com velocidade ao longo das últimas três décadas no Brasil. Diante disso, as
empresas jornalísticas, bem como as assessorias de comunicação, têm procurado se
adequar a essa realidade ao diversificar suas formas de atuação no ambiente virtual.
Conectada a essa realidade, existe uma iniciativa da Confederação da Agricultura e
Pecuária do Brasil (CNA) implantada em junho de 2016 em parceria com um veículo
de televisão segmentado do setor, o Canal Rural. O programa ‘TV Canal do Produtor’
oferece seis horas diárias de programação focada nos assuntos que permeiam o setor
agropecuário e foi idealizado com intuito de oferecer uma programação interativa,
visto que o conteúdo é disponibilizado no portal da instituição e possibilita a
participação do público por meio de ferramentas midiáticas como Youtube, Facebook,
Twitter, Instagram e WhatsApp. Tendo como base os estudos em cibercultura, esta
proposta oferece uma reflexão, por meio de revisão bibliográfica, acerca da
importância imputada à assessoria de imprensa no atendimento dos interesses de seu
público-alvo, cada vez mais seletivo e exigente.
Palavras-chave: Assessoria de Imprensa. Mídias Sociais. Convergência Midiática. Cibercultura. Agronegócio
1 Mini currículo. Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo (Uniderp), Pós-graduada em Assessoria de Comunicação (Estácio de Sá). E-mail: [email protected] 2 Mini currículo. Mestre em Estudos de Linguagens – Linguística e Semiótica (UFMS), especialista em Imagem e Som (UFMS), bacharel em Comunicação Social – Jornalismo (UFMS) e licenciada em Letras – Língua Portuguesa e Literaturas (UNESA). Atua como professora, assessora de imprensa e escritora. Atualmente é coordenadora do curso de Jornalismo da Estácio Campo Grande e da pós-graduação em Assessoria de Comunicação na mesma Instituição. E-mail: [email protected]
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1. INTRODUÇÃO
Um dos setores mais expressivos da economia brasileira é o agronegócio,
responsável pela participação de 22% no PIB (Produto Interno Bruto) nacional e
registrando 36% nas exportações para outros países e continentes. A produtividade e
a tecnologia propiciaram o desenvolvimento do setor, porém há muitos desafios a
serem enfrentados, entre eles, capacitar mão-de-obra, atrair a participação da
sociedade e promover a implantação de políticas públicas que fortaleçam o trabalho
dos produtores rurais, independentemente do tamanho da propriedade e a quantidade
de produção.
Considerado por muito tempo uma atividade primitiva, na qual os trabalhadores
e produtores foram taxados de pessoas sem estudo e sem visão mercadológica, o
setor agropecuário foi deixado de lado, como possibilidade de oportunidade de
trabalho segmentado.
No entanto, o investimento em tecnologia e pesquisa modificaram
gradualmente o panorama do setor. Um levantamento publicado pela FAO
(Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) em 2014 indica
que o maior desafio do Brasil é aumentar a produção de alimentos em 40% nos
próximos 20 anos, a fim de contribuir para erradicação da fome global.
A organização do setor também demonstrou fortalecimento com a criação e
implantação do Sistema CNA composto por três entidades representativas: a
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, o SENAR (Serviço Nacional de
Aprendizagem Rural) e o Instituto CNA que desenvolve estudos e pesquisas na área
social e no agronegócio. O sistema possui o seguinte funcionamento: as Federações
da Agricultura e Pecuária atendem os Estados e representam os Sindicatos Rurais
dos municípios, que por sua vez desenvolvem ações diretas de apoio ao produtor
rural, buscando soluções para os problemas locais. Já a CNA defende os interesses
dos produtores junto ao governo federal, congresso nacional e os tribunais superiores
do poder Judiciário.
Semelhante ao que ocorre em outras instituições representativas, a CNA
investe na divulgação de informações sobre o setor produtivo, com intuito de atender
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ao seu público-alvo que são os produtores rurais e demais participantes da cadeia
produtiva do agronegócio (indústrias, empresas prestadoras de serviços e produtos,
redes varejistas e consumidores). Para isso conta com uma estrutura de assessoria
de comunicação com sede em Brasília (DF), responsável pelo alinhamento e
distribuição de conteúdo informativo para as federações espalhadas nas 27 unidades
federativas do país.
O conteúdo comunicativo abrange o portal institucional
www.canaldoprodutor.com.br, Facebook, Twitter, Instagram, Youtube e desde junho
de 2016, uma parceria com o Canal Rural (veículo televisivo de canal pago) oferece
conteúdo informativo e educativo, por meio de programação televisiva diária no
período das 6h às 12h. Entretanto, o objetivo dos realizadores é ampliar e aprofundar
o alcance das informações, utilizando para isso uma plataforma virtual interativa
proporcionada pela contribuição da sociedade, por intermédio de questionamentos
enviados ao canal via ferramentas como E-mail, WhatsApp e vídeos produzidos a
partir de aparelhos celulares.
Uma das justificativas da atuação da confederação para ampliação dos canais
de comunicação com a sociedade e que consta na apresentação do site é de que
apoia a geração de novas tecnologias que possam auxiliar o produtor no plantio e
manejo, além da criação de agroindústrias responsáveis por aumentar a produtividade
rural. Esta afirmação comprova a disposição da CNA em levar conteúdo informativo
para o setor produtivo e sociedade, tendo em vista as barreiras enfrentadas junto à
opinião pública com relação a produção em alta escala. Outra iniciativa da entidade é
propor a cooperação e apoio aos programas regionais de desenvolvimento agrícola,
principalmente aqueles que se destinam a reduzir as desigualdades geoeconômicas.
2. REVISÃO DE LITERATURA: ASSESSORIA DE IMPRENSA A atividade de Assessoria de Imprensa foi criada pelo jornalista Ivy Lee em
1906, quando decidiu montar o primeiro escritório de Relações Públicas e aceitar
como cliente o maior empresário da época, John Rockeffeller3, odiado pela opinião
pública, em razão da forma agressiva com que conduzia seus negócios, destruindo
3 Assessoria de Imprensa e Relacionamento com a Mídia. Jorge Duarte, 2011.
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pequenas e médias indústrias que não tinham condições de competir financeiramente
nos Estados Unidos.
Ao aceitar o trabalho, o jornalista criou uma das mais eficientes estratégias de
reverter a imagem negativa de um empresário. Rockkeffeller se transformou do mais
impopular homem dos Estados Unidos, chamado de ‘Barão do Capitalismo
Selvagem’, no mais admirado nome empresarial da época.
No Brasil, a assessoria se fortaleceu a partir da década de 1960 com a decisão
dos jornalistas Reginaldo Finotti e Alaor José Gomes de aceitarem o convite para
montar o setor de imprensa da Volkswagen do Brasil. A expertise dos profissionais
oriundos de veículos como Folha de São Paulo e Última Hora viabilizou o
estreitamento de relações com repórteres da editoria de Economia, consolidando a
importância do jornalismo no cenário da comunicação institucional.
O jornalista Jorge Duarte define a prática destes profissionais com os seguintes
argumentos: A atividade de assessoria de imprensa pode ser conceituada como a gestão do relacionamento e dos fluxos de informação entre fontes de informação e imprensa. Busca, essencialmente, atender às demandas por informação relacionadas a uma organização ou fonte em particular. O exercício desta atividade no Brasil é especializado e realizado, na maior parte das vezes, por profissionais com experiência ou curso superior de jornalismo. (DUARTE, 2011, P. 51)
De lá para cá, a comunicação social no país passou por várias transformações
políticas e econômicas e o trabalho do assessor de imprensa se estabeleceu e passou
a desempenhar papel crucial no processo de fluxo de informações para os veículos
de comunicação. Com as mudanças verificadas a partir da globalização das
informações, exige-se deste profissional conhecimentos cada vez mais apurados no
fazer institucional. A demanda do mercado de trabalho é a melhor comprovação desta
transição ao solicitar colaboradores que atuem como produtores de conteúdo
jornalístico, publicitário e estratégico (fortalecimento e visibilidade da marca ou
instituição). As influências do ambiente externo, marcada pela competitividade crescente em escala mundial provocam rupturas e estão impondo o estabelecimento de novas relações baseadas na mobilidade e na flexibilidade. Essas novas relações estão criando um novo modelo: o da organização virtual caracterizada como uma rede temporária de parceiros independentes, ligados pela tecnologia da comunicação para dividir habilidades, custos e o acesso de cada um ao mercado. (SEABRA, DUARTE, 2011, p.100)
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Assim como nas redações jornalísticas, o trabalho na assessoria de imprensa
vem acompanhando a evolução da nova narrativa proposta pelo ciberjonalismo. As
equipes se especializam cada vez em mais em oferecer um material multimídia que
atenda às necessidades e interesses do seu público-alvo, como também da imprensa
em geral. Na avaliação de pesquisadores como Castells, nenhuma outra tecnologia
transformou tanto o jornalismo como a internet, responsável pelo maior índice de
penetração junto ao público, no menor espaço de tempo: A Internet tem tido um índice de penetração mais veloz do que qualquer outro meio de comunicação na história: nos Estados Unidos, o rádio levou trinta anos para chegar aos sessenta milhões de pessoas; a TV alcançou esse nível de difusão em 15 anos; a Internet o fez em apenas três anos após a criação da teia mundial (CASTELLS, 1999, p.439).
Com intuito de atender aos novos públicos gerados pela diversificação do
ambiente virtual é indispensável que o jornalista/assessor de imprensa perceba as
peculiaridades narrativas do ciberespaço e planeje quais as estratégicas mais
eficazes de alcance e consumo das notícias.
Segundo conceitua o pesquisador Pierre Levy, o ciberespaço é o meio de
comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores, enquanto que a
cibercultura reúne um conjunto de técnicas, práticas, atitudes, modos de pensamentos
e valores que estão se desenvolvendo conforme o crescimento do espaço virtual. “O
termo ciberespaço específica não apenas a infraestrutura material da comunicação
digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como
os seres humanos que navegam e alimentam esse universo”. (Levy, 1999, p.17).
No entendimento de Bastos (2014, p.13): O novo modelo narrativo do espaço virtual introduz ao mesmo tempo, fatores de complexidade e abrangência que passam pela escolha ampliada de elementos, delineamento e estruturação, hipertextualização e reconhecimento de opções de interatividade. Ou seja, o profissional de comunicação precisa congregar o máximo de domínio da técnica e pensar cada vez menos em termos de redação linear, para assim, aproximar-se progressivamente do atual conceito de produção jornalística.
A fim de consolidar o entendimento de que o cenário comunicacional evoluiu e
se tecnificou para atender aos crescentes anseios do público, é oportuno destacar a
análise feita por Jenkins: Bem-vindo à cultura de convergência, onde as velhas e as novas mídias colidem, onde mídia corporativa e mídia alternativa se cruzam, onde o poder
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do produtor de mídia e o poder do consumidor interagem de maneiras imprevisíveis. (...) Convergência é uma palavra que consegue definir transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando e do que imaginava estar falando. (JENKINS, 2009 p.29).
O objetivo deste trabalho é demonstrar que é possível produzir um trabalho
institucional para atender jornalisticamente os interesses dos veículos de imprensa na
busca por pautas sobre o setor agropecuário e ao público consumidor de conteúdo
noticioso e educativo, focado na atualidade e contemporaneidade das novas
plataformas virtuais. Isso porque conforme será esclarecido sobre a programação do
programa Canal do Produtor TV, idealizado pela CNA, existe um material que está
sendo produzido com informações que visam atender a demanda dos produtores
rurais por questões relativas aos temas sobre manejo, economia, política e direito.
A equipe de comunicação social da CNA encarou em junho de 2016 o desafio
de produzir diariamente, no período das 6h às 12h, uma programação televisiva
veiculada ao vivo no Canal Rural, um dos mais relevantes canais de televisão
segmentados em agronegócio. O diferencial do programa é disponibilizar o conteúdo
audiovisual no portal criado exclusivamente para o projeto e que permite a
participação e interatividade do público-alvo, por meio de mídias sociais como o
Youtube, Facebook, Twitter, Whatsapp e Instagram.
No manual publicado sobre assessoria de imprensa, Ferrareto (2009) esclarece
os profissionais sobre a importância de ampliar as opções de publicações
institucionais das instituições ou empresas: Assim, uma empresa pode possuir, por exemplo, uma revista impressa bimestral, para divulgação de reportagens mais aprofundadas e atemporais e, dispor de um jornal ou boletim on-line para divulgação semanal ou até mesmo diário de fatos que requeiram uma disseminação imediata. (FERRARETO, 2009, p.146)
Sobre o espaço de veiculação do conteúdo noticioso, o autor aponta que a
melhor opção é ser divulgada via circuito fechado no caso do público interno, enquanto
que no caso de público externo a opção ideal passa a ser a compra de espaços em
emissoras comerciais. Com a aquisição dos espaços é importante ter em mente que o programa a ser produzido deverá seguir uma “estrutura à qual o ouvinte, leitor ou telespectador já estejam acostumados. Para que o público seja de fato conquistado, não se devem abandonar as formas jornalísticas consagradas
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nesses meios, optando por estruturas que se aproximem da publicidade ou propaganda. (FERRARETO, 2009, p.148)
As observações apontadas neste artigo reforçam o comprometimento dos
profissionais de comunicação em idealizar conteúdos informativos que atendam os
diferentes nichos do mercado. No ambiente virtual, com seu caráter dinâmico e repleto
de opções, “o desafio do comunicador é manter a competência na atividade original e
ao mesmo tempo, assumir a ampliação das possibilidades de penetração em um
ambiente volátil, em transformação permanente e com enorme potencial produtivo”
(DUARTE, 2011, p.71).
3. TRAJETÓRIA DA CNA E SENAR NO BRASIL A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA iniciou as atividades
há 65 anos no país, localizada no Distrito Federal, representando 27 federações
estaduais e mais de 2.000 sindicatos espalhados no território nacional. A entidade
sindical patronal é constituída pela categoria econômica dos ramos da agricultura,
pecuária, extrativismo rural, pesca, silvicultura e agroindústria e tem por objetivo
representar, organizar e fortalecer os produtores rurais brasileiros, defendendo seus
direitos e interesses, promovendo o desenvolvimento econômico, social e ambiental
do setor agropecuário.
Com mais de dois milhões de produtores rurais filiados, a CNA obteve
participação expressiva na Assembleia Nacional Constituinte, de 1988. Com isso, a
entidade assumiu a parte institucional do movimento que reivindicava direitos básicos
da agropecuária nacional como: manutenção da propriedade produtiva, política
agrícola com geração de renda para o produtor, avanços tecnológicos, de mercado e
exportação da produção.
Além da participação política e institucional, a Confederação idealizou uma
estrutura técnica para monitorar o desenvolvimento da produção agropecuária
brasileira a partir da década de 1990. Os dados compilados sobre o setor produtivo
são referência nacional para estudos, projeções e planejamento de safras ou ainda,
para criação de programas que ofereçam propostas de melhoria na atividade rural,
demonstrando a preocupação do setor em produzir mais, sem deixar de lado a
sustentabilidade.
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Uma das principais premissas da CNA é tornar pública as ações promovidas
em prol do setor, no entanto, está atenta a necessidade de tecnificação e
profissionalização dos produtores rurais. Para isso, foi instituído em dezembro de
1991, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR, uma entidade de direito
privado, paraestatal, mantida pela classe patronal rural e vinculada à Confederação.
Administrada por um Conselho Deliberativo tripartite é integrante do chamado Sistema
“S” e tem como representantes membros do governo federal e das classes
trabalhadoras e patronal rural.
O SENAR tem a finalidade de oferecer oportunidade para cidadãos que
desejam ampliar os conhecimentos técnicos que possibilitam a melhoria da
produtividade rural, com foco na preservação ambiental, melhoria da renda e
qualidade de vida no campo. As ações da entidade são compostas pelos seguintes
eixos: Formação Profissional Rural, Promoção Social, Ensino Técnico de Nível Médio
(presencial e a distância) e Assistência Técnica e Gerencial. O plano de trabalho
realizado ao longo de quase três décadas possibilitou o atendimento gratuito de dois
milhões de brasileiros no ano de 2015, por meio de cursos e capacitações que
oferecem habilitação em cerca de 300 profissões do meio rural.
4. CANAL DO PRODUTOR E CNA: ASSESSORIA DE IMPRENSA
A CNA possui uma superintendência de comunicação formada por profissionais
das áreas de jornalismo, propaganda e publicidade responsáveis pela produção e
divulgação de material institucional que atende à demanda da imprensa em todo
território nacional e países como: Estados Unidos, China e Nova Zelândia, com os
quais o Brasil possui relacionamento econômico no setor agropecuário.
O principal veículo para comunicação com o público é o portal da instituição
denominado Canal do Produtor, além de estar presente em todas as redes sociais
disponíveis no ambiente virtual: Facebook, Youtube, Twitter, Instagran, Flickr e
Linkedin. A fim de conseguir um maior alcance conta com a colaboração das
federações na divulgação de releases e informativos online, disponibilizados por um
e-mail marketing que registra usuários cadastrados em todos os estados brasileiros.
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A interação é uma realidade consolidada pela instituição conforme pode ser
observado no portal, no qual é possível ter acesso a informações sobre o Sistema
CNA composto pela Confederação, o SENAR e um Instituto que desenvolve estudos,
pesquisas sociais e do agronegócio nacional. No destaque da página, notícias e
informações atualizadas sobre diversas frentes que compõem a participação do
agronegócio e indicação de links sobre notícias do mercado, informações econômicas
e clipagem do que é publicado no ambiente virtual acerca de temas atuais.
Buscando sempre atender as necessidades dos associados está disponível um
espaço com informações de serviço para produtores, sindicatos e federações. Os
internautas têm acesso aos principais programas em desenvolvimento, agenda de
eventos, espaço fale conosco e podem se inscrever para receber newsletter com
resumo informativo e noticioso.
O plano de comunicação da CNA idealizou para 2016 a reformulação do site e
a criação de um canal televisivo que ofereça programação direcionada aos principais
assuntos do setor agropecuário. Para otimizar este acesso, a CNA formalizou uma
parceria com o Canal Rural, emissora televisiva em atividades desde 1996 e presente
em 43 milhões de domicílios, por meio de transmissão a cabo. O objetivo é oferecer
conteúdo diário com seis horas programação, de segunda a sexta-feira, das 6h ao
meio dia. A TV Canal do Produtor possui uma grade de programação fixa composta
pelos seguintes temas: Jornal do Produtor, Clima no Campo, O produtor quer saber,
Agenda do Produtor e Sindicato na TV.
Na programação está prevista a realização de três grades com assuntos
desenvolvidos pelo SENAR que variam de acordo com os cursos, vídeos técnicos e
quadros, dispostos durante a semana. O quadro ‘Sala de aula’ é formatado com aulas
ao vivo (duração de 20 minutos), no formato de videoconferências (TED) apresentado
por técnicos, pesquisadores e instrutores da instituição. Na sequência é veiculado o
tema ‘Interação’, no qual é oferecida a possibilidade de interatividade para produtores,
trabalhadores e estudantes tirarem dúvidas sobre o conteúdo por intermédio de
Whatsapp, e-mail ou telefone. Os temas das aulas são divulgados um dia antes na
programação e contam com participação de todos os estados brasileiros. Fechando a
programação há o ‘SENAR em Campo, histórias de sucesso’, com uma série de
episódios sobre cases de sucesso acompanhados pelos técnicos que atuam na
Assistência Técnica e Gerencial (ATeG) do SENAR.
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A veiculação do conteúdo é possibilitada pela transmissão via satélite, por meio
de antena parabólica digital em qualquer lugar do país e boa parte da América do Sul.
Além disso, os internautas têm a opção de assistir à programação pelo computador,
tablet ou celular. A base de operação é compartilhada pelas cidades de Brasília e São
Paulo, responsáveis pela produção do programa.
5. TECNOLOGIA A SERVIÇO DA INFORMAÇÃO Ao idealizar um canal de TV segmentado e interativo, a CNA teve o intuito de
aprimorar o conteúdo jornalístico produzido pela assessoria e proporcionar condições
de participação do público sobre os temas apresentados na programação. O
diferencial do projeto é utilizar as ferramentas comunicacionais para oferecer
educação à distância a milhares de produtores brasileiros, que têm dificuldade de sair
da propriedade para atualizar e reciclar os conhecimentos sobre as atividades rurais
que desenvolvem.
Em tempos de convergência midiática é fundamental atender uma categoria
econômica que busca tecnologia, conhecimento e informação para melhor
desenvolver sua produção. A contrapartida é esclarecer a sociedade sobre os
avanços conquistados pelo setor rural e demonstrar que assim como outros
segmentos econômicos do país, a agropecuária está atenta para os desafios de
aumentar a produção de alimentos e preservar o meio ambiente local. (...) A convergência representa uma mudança de paradigma – um deslocamento de conteúdo de mídia específico em direção a um conteúdo que flui por vários canais, em direção a uma elevada interdependência de sistemas de comunicação, em direção a múltiplos modos de acesso a conteúdo de mídias e em direção a relações cada vez mais complexas entre a mídia corporativa, de cima para baixo, e a cultura participativa, de baixo para cima. (JENKINS, 2009, P.325)
A justificativa de idealizar um canal televisivo se dá pelas condições de
infraestrutura e acesso as regiões periféricas do Brasil, que ainda enfrenta muitas
dificuldades quanto o alcance do sinal telefônico. Em algumas localidades, a
comunicação só é possível via satélite ou rádio, e a TV Canal do Produtor pode assim
suprir a lacuna existente pela falta de internet.
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O primeiro portal de notícias brasileiro a implantar o formato WebTV foi o UOL
em 1997 e o Terra no mesmo período. A dinâmica desta configuração, segundo
(RIBEIRO, 2009) é caracterizada pela transformação do conteúdo televisivo em mídia
digital, a qual pode ser acessada em computadores, tablets ou smartphones. O autor
analisa que: A intenção é de estimular mais interação entre o produtor e o seu receptor, que pode comentar, compartilhar com os amigos e assistir o vídeo diversas vezes, diferente do padrão televisivo. Apesar de promissor, ainda não existem características específicas que definem exatamente o padrão de se produzir para a internet. (RIBEIRO, 2015, p.9)
Para que a transmissão da TV Canal do Produtor ocorra em toda sua
potencialidade foi operacionalizada a opção parabólica com receptor digital que pode
ser sintonizado por busca automática na opção de canais e gravar na memória do
aparelho ou manualmente, colocando o equipamento na polarização vertical e
utilizando frequência específica (03652 ou symbol rate 03000). Esta alternativa foi
pensada tendo em vista que o serviço de internet nas regiões rurais do país ainda
registra consideráveis problemas estruturais oferecendo assim, uma oportunidade de
acesso conforme o tempo disponível de cada usuário. Nesta realidade, o projeto
atinge seu objetivo ideal, visto que é o momento onde melhor ocorre a interatividade
por meio de compartilhamentos, esclarecimentos de dúvidas ou ainda sugestões e
reclamações.
Para conseguir uma comunicação eficiente com os usuários da internet na
atualidade é importante que os comunicadores desenvolvam um plano estratégico, no
qual será analisado quais os interesses, necessidades e nível de satisfação. Estes
fatores serão determinantes na eficácia da mensagem que se pretende transmitir.
Segundo Argenti & Barnes: Como as mídias de interação online se tornaram de fato mais proeminentes, a opinião do público em geral sobre qual seria o ‘meio de comunicação mais essencial’ mudou radicalmente: na primeira década do século XXI, a escolha da internet como ‘mídia mais essencial’ aumentou em 39% enquanto as opções pelo jornal e rádio diminuíram em 10 e 53% respectivamente. Já a televisão manteve seu espaço, apresentando um módico aumento de 8% (ARGENTI & BARNES, 2011, P. 101).
Com esta perspectiva é oportuno ressaltar a grade de programação da TV
Canal do produtor que oferece temas escolhidos a partir de pesquisas internas de
opinião: Sala de Aula, Técnica em Campo, Saúde e Qualidade de Vida no Campo,
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Tecnologia em Dia, Formação Técnica, Sala de Aula, SENAR Responde, Jornal do
Produtor, Clima no Campo, O produtor quer Saber, Agenda do Produtor e Sindicato
na TV (vide Anexo).
Seja em uma empresa jornalística ou entre as equipes de assessoria de
imprensa, o que definirá o sucesso do conteúdo disponibilizado na rede é a quantidade
de engajamento, envolvimento, compartilhamento e curtidas que o assunto obterá. No
caso das assessorias, o filtro é ainda mais criterioso, pois, nos dias atuais as empresas
criam conteúdos de acordo com direcionamento dos seus stakeholders4.
Como é possível observar, os setores se aproximam e se reestruturam para
atender públicos específicos, mas, que anseiam por qualidade, diversidade e
detalhamento de informações segundo a constatação feita por Argenti & Barnes:
Tais obrigações já não envolvem apenas a simples elaboração e o envio de press releases por meio de vias noticiosas, mas, sim na construção de relacionamentos com mídias influentes tanto online como off-line. Esse, aliás, é o ponto crucial do sucesso ou do fracasso das campanhas de relações de mídia. ARGENTI & BARNES,2011, P. 101).
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Refletir sobre a importância de se produzir um conteúdo informativo, detalhado
e que atenda às necessidades e interesses do público-alvo da TV Canal do Produtor,
observando a contemporaneidade das ferramentas de comunicação digital existentes
no mercado. Este foi o objetivo do artigo proposto analisando o viés do trabalho
desenvolvido pela assessoria de comunicação da CNA.
A opção de elencar a estratégia de comunicação de uma assessoria em
agronegócio tem a finalidade de propor o aprofundamento de discussões futuras sobre
os vários segmentos de atuação do jornalismo institucional e analisar quais resultados
podem ser utilizados de forma mais eficiente na divulgação de informações e notícias
que compreendem o universo de uma empresa, instituição ou organização.
4 Pessoas ou grupos que possuem participação, investimento ou ações e que possuem interesse em uma determinada empresa ou negócio. No caso do objeto de estudo podemos citar todos os elos da cadeia produtiva do agronegócio: empresas, mercado, produtores rurais, sindicatos e federações.
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O formato proposto pela CNA é recente e observa particularidades como
dificuldade de acesso já que expressiva parte do público reside em locais com
deficiência de acesso à internet (área rural). Entretanto, o canal avaliou esta situação
e disponibilizou o acesso da programação via satélite digital, somando mais uma
opção de alcance do público-alvo.
Procurou-se detalhar as ações utilizadas por uma assessoria de comunicação
que tem o objetivo de estar presente digitalmente nas mídias sociais absorvidas pelo
seu público alvo, além de conquistar maior visibilidade na sociedade contemporânea
que utiliza a internet como principal fonte de informação.
Ao idealizar um conteúdo que compreende educação, informação técnica e
conteúdo noticioso, a equipe de assessoria de comunicação comprovou que é
possível produzir uma programação multimídia, interativa e com várias possibilidades
de acesso, reforçando o conceito de que a convergência midiática está cada vez mais
presente no cotidiano da sociedade.
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARGENTI, A. Paul & BARNES, M. Courtney. Sobrevivendo na Selva da Internet. Editora Gente, tradução Bete Torii, 2011, São Paulo.
BARUM, Henrique; NOBRE, Yuri; RIBEIRO, Marislei. A Utilização da WebRádio e WebTV para Práticas Comunicacionais na Educação Inclusiva - Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS. Disponível em: http://www.portalintercom.org.br/anais/sul2015/resumos/R45-0554-1.pdf. Acessado em: Ago. /2016.
BASTOS, Helder. Ciberjornalismo e Narrativa Hipermédia. 2014, Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Disponível em: http://revistas.ua.pt/index.php/prismacom/article/view/583 Acessado em: Ago. /2016.
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
CNA – Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil www.canaldoprodutor.com.br Acessado em: Ago. /2016.
DUARTE, Jorge. (org) Assessoria de Imprensa e Relacionamento com a Mídia – Teoria e Prática. Editora Atlas, São Paulo, 4ª edição. 2011.
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FERRARETO, Artur Luiz e Kopplin Elisa. Assessoria de Imprensa: Teoria e Prática. Summus Editorial, 2009, São Paulo, 6ª edição.
JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. Editora Aleph, São Paulo, 2ª edição, 2009.
LEVY, Piérre. Cybercultura. Editora 34, 1999. Tradução: Carlos Irineu Costa, Coleção Trans.
SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural www.senar.org.br Acessado em: Ago. /2016.
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7 – Anexo
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7.1 Detalhamento da grade de programação:
A proposta é oferecer três grades de programação do SENAR no Canal do Produtor,
que variam de acordo com os cursos, vídeos técnicos e quadros, nos 5 dias da
semana
Segunda e quarta
Vinheta SENAR A MAIOR ESCOLA DA TERRA 5”
6h - 6h01: ABERTURA (1’)
6h01 - 6h20: SALA DE AULA (aula ao vivo 1) (20’)
Break
6h20 - 6h30: INTERAÇÃO
6h30 - 6h35: SENAR EM CAMPO (vídeos técnicos)
6h35 - 6h50: SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA NO CAMPO (15’)
Break
6h50 - 7h: TÉCNICA RURAL (nossos vídeos técnicos) (10’)
7h - 7h15: FORMAÇÃO TÉCNICA (vídeo aulas Rede eTec) (10’)
7h15 – 7h30: SENAR RESPONDE
Terça e quinta
Vinheta SENAR A MAIOR ESCOLA DA TERRA 5”
6h - 6h01: ABERTURA (1’)
6h01 - 6h20: SALA DE AULA (aula ao vivo 1) (20’)
Break
6h20 - 6h30: INTERAÇÃO
6h30 – 6h45: TÉCNICA RURAL (nossos vídeos técnicos)(15’)
Break
18
6h45 - 7h05: TECNOLOGIA EM DIA (capacitações tecnológicas) (20’)
7h05 - 7h25: SALA DE AULA (aula ao vivo) (20’)
7h25 - 7h30: INTERAÇÃO
Sexta
Vinheta SENAR A MAIOR ESCOLA DA TERRA (5’)
6h - 6h01: ABERTURA (1’)
6h01 - 6h20: SALA DE AULA (aula ao vivo 1) (20’)
Break
6h20 - 6h30: INTERAÇÃO
Break
6h30 - 6h45: SENAR EM CAMPO, HISTÓRIAS DE SUCESSO (11’)
Break
6h45 – 6h55: SÉRIE PROJETO BIOMAS (10’)
Break
6h55 – 7h15: SENAR BRASIL ENTREVISTA (20’)
Break
7h15 - 7h20: TÉCNICA RURAL (nossos vídeos técnicos)(5’)
Break
7h20 – 7h30: HORA DA VIOLA
DESCRIÇÃO
SALA DE AULA: aulas ao vivo, de 20 minutos, no formato TED, com técnicos do
sistema, pesquisadores e instrutores, que terão à disposição ferramentas modernas
em uma televisão de 75 polegadas e tela Touch Screen.
INTERAÇÃO: momento para o produtor, trabalhador e jovens tirarem dúvidas sobre
a aula, por WhatsApp, e-mail, telefone. Os temas dessas aulas serão sempre
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divulgados no dia anterior. A estratégia para as primeiras semanas é gravarmos nos
Estados perguntas sobre os primeiros temas. Vamos precisar da colaboração de
todas as regionais.
SENAR EM CAMPO, HISTÓRIAS DE SUCESSO: série de 24 episódios sobre
trabalho dos técnicos de ATeG.
SENAR EM CAMPO: Série de vídeos sobre técnicas rurais
SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA NO CAMPO: quadro com entrevistas ao vivo,
vídeos, nossos e de parceiros, e dicas de saúde e vida saudável.
TÉCNICA RURAL - nossos vídeos técnicos: Manejo de Pragas, Proteção de
Nascentes, ABC, Helicoverpa
SENAR RESPONDE: duas vezes por semana vamos informar, com antecedência,
temas do quadro para que produtores possam enviar perguntas por WhatsApp, e-mail
e Skype que serão respondidas por técnicos e instrutores do SENAR. Quando já
tivermos instalado ponto de videoconferência no estúdio, colaboradores das regionais
também podem responder.
TECNOLOGIA EM DIA: nossos cursos de capacitação tecnológica oferecidos em
nosso portal EaD. A proposta é começar com o de Suinocultura.
SÉRIE PROJETO BIOMAS: A partir do segundo semestre de 2010 começamos a
registrar em vídeo as etapas do projeto nos 6 biomas. São reportagens técnicas que
mostram o trabalho dos mais de 200 pesquisadores envolvidos. A ideia é começar
com o último vídeo institucional, de 5 minutos, e a cada sexta-feira mostrar uma etapa
de um bioma ou sequência completa de cada um.
SENAR BRASIL ENTREVISTA: entrevistas de 20 min, com temas atuais, começando
com pesquisador do projeto Biomas para abrir a série.
HORA DA VIOLA: momento musical da sexta-feira com a viola do Yassir.