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RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS Edição 88 [10/5/2012 a 16/5/2012]

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RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS

Edição Nº 88[10/5/2012 a 16/5/2012]

Page 2: ASSESSORIA DE IMPRENSA DO GABINETE - … a... · Em sequência marcante de "Luz nas Trevas", Ney Matogrosso faz o Bandido, livre outra vez, interpretar a canção "Sangue Latino",

Sumário

CINEMA E TV...............................................................................................................4Valor Econômico - Filmes retomam as ousadias de Sganzerla......................................................4O Estado de S. Paulo - Nas fronteiras da vida ...............................................................................5O Estado de S. Paulo – Pensador do Brasil....................................................................................7Folha de S. Paulo – Christiane Riera deixa sua marca no cinema brasileiro..................................9Valor Econômico - Um longo caminho para um clássico americano.............................................10O Estado de S. Paulo - Cannes inicia a festa................................................................................12O Estado de S. Paulo - O eleito - TV Cultura no alvo....................................................................13Correio Braziliense - Janela internacional de Brasília...................................................................14Istoé - Produção em série.............................................................................................................15

TEATRO E DANÇA....................................................................................................15Folha de S. Paulo – 30 anos em cartaz.........................................................................................16Folha de S. Paulo – Fenômeno, trupe de humor mira exterior......................................................17Valor Econômico - Boom de peças cria gargalo em salas de teatro no Brasil..............................18Valor Econômico - "Tim Maia - Vale Tudo" é um marco no musical brasileiro..............................19Estado de Minas – Folclore: Intercâmbio cultural .........................................................................20

ARTES PLÁSTICAS...................................................................................................22O Globo - Arte de rua....................................................................................................................22O Globo - A situação das obras no espaço público do Rio...........................................................24Estado de Minas - Imagens recicladas .........................................................................................24O Globo - É dia de feira.................................................................................................................25O Estado de S. Paulo - Encontro com a arte brasileira.................................................................28O Globo - Caixa exibe a trajetória poética de Milton Dacosta.......................................................29Valor Econômico - Maria Bonomi apenas para os franceses........................................................30Estado de Minas – Antologia criativa ............................................................................................32

FOTOGRAFIA............................................................................................................33Folha de S. Paulo – Coleção desvela os bastidores do poder......................................................33

MÚSICA......................................................................................................................34Correio Braziliense - Gaita sob medida ........................................................................................34O Globo - A mais nova voz saída do caldeirão do Pará................................................................35O Globo - A música brasileira de duas francesas..........................................................................36Correio Braziliense - Guinada rumo ao pop..................................................................................37O Globo - João Bosco por ele mesmo...........................................................................................38O Globo - Nova geração reaquece a cena do forró.......................................................................39Estado de Minas – É só o começo ...............................................................................................40Zero Hora – O pulo do Catto.........................................................................................................41Folha de S. Paulo – 23º Prêmio da Música Brasileira anuncia indicados......................................42Estado de Minas – Desplugado no mundo ...................................................................................43

LIVROS E LITERATURA...........................................................................................44Correio Braziliense - Escritora brasiliense lança livro em Nova York...........................................44Valor Econômico - Michel Laub e o contemporâneo.....................................................................44Folha de S. Paulo - Biblioteca do Congresso dos EUA dá prêmio a FHC por obra acadêmica....46Correio Braziliense - Histórias mineiras de Brant .........................................................................47O Globo - O Rio do século XXI e seus tristes cariocas sob o olhar de um cronista......................48Istoé - Um brasileiro no front.........................................................................................................50

MUSEUS.....................................................................................................................51Estado de Minas – Presente da memória .....................................................................................51O Estado de S. Paulo – Coluna / Sonia Racy / “Tenho pavor de arte moderna” ..........................52O Estado de S. Paulo - Museu Internacional de Arte Naïf reabre no Rio......................................56

OUTROS.....................................................................................................................57O Estado de S. Paulo – Coluna / Direto da Fonte / Sonia Racy....................................................57Valor Econômico - História enfim respeitada.................................................................................57

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Agência Brasil - Rio de Janeiro se candidata ao título de patrimônio histórico da humanidade da Unesco..........................................................................................................................................59

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CINEMA E TV

Valor Econômico - Filmes retomam as ousadias de Sganzerla

Por Sérgio Rizzo

(10/5/2012) Quando "O Bandido da Luz Vermelha" foi exibido pela primeira vez ao público, no final de 1968, o mato-grossense Ney de Sousa Pereira tinha 27 anos e vivia no Rio de Janeiro. Determinado a fazer carreira como ator, ainda não havia aproveitado o nome do Estado natal no pseudônimo. Mais de quatro décadas depois, a trajetória do filme e a do artista se encontraram de maneira talvez insólita, mas plena de significado: coube a Ney Matogrosso, agora celebrado como um dos mais performáticos cantores brasileiros, reviver com sangue latino e alma cativa o personagem singular criado pelo diretor e roteirista Rogério Sganzerla (1946-2004).

A incorporação do bandido-filósofo pelo ex-vocalista dos Secos & Molhados - fenômenos quase contemporâneos

no cenário cultural brasileiro - é um dos principais atrativos de "Luz nas Trevas", que estreia em São Paulo amanhã. Não é propriamente uma continuação do filme de 1968, e sim um retorno àquele universo, com a figura envelhecida do personagem - preso em penitenciária de segurança máxima por 30 anos, pena acumulada por confessar inclusive crimes que não cometeu - como epicentro de uma trama irônica que, à semelhança do clássico de Sganzerla, enfatiza o aspecto lúdico, brincalhão mesmo, das histórias de cinema.

Guiada por um roteiro escrito pelo próprio Sganzerla, a realização de "Luz nas Trevas" tem intenso caráter afetivo. A viúva do cineasta, Helena Ignez, estrela de "Bandido" e dos trabalhos seguintes do marido, faz uma ponta como atriz, assina a direção (ao lado de Ícaro C. Martins), a adaptação do roteiro e a trilha sonora - que é também da compositora Sinai Sganzerla, uma das filhas do casal e co-produtora do filme. A outra filha, Djin Sganzerla, faz o principal papel feminino (como a namorada de Tudo ou Nada, filho do Bandido e espécie de seu sucessor, interpretado por André Guerreiro Lopes) e foi coordenadora de produção.

Uma celebração à memória do cineasta e à sua ideia de "filme-manifesto", construído como "uma peça musical ou sinfonia, levando em conta as virtualidades e tendendo a uma unidade melódica, traduzida em sons e imagens imperecíveis".

A celebração ganha reforço no próximo dia 25, com a estreia do documentário "Mr. Sganzerla - Os Signos da Luz" em São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Brasília, Salvador e no Rio. Vencedor da competição brasileira da 17ª edição do festival É Tudo Verdade, é também uma tentativa de aproximação do universo criativo de Sganzerla, por meio de um vertiginoso "filme-ensaio" cuja montagem utiliza como referência seus experimentos narrativos. Nada que lembre, portanto, um documentário convencional, com narração didática, sobre vida e obra de uma figura ilustre. O diretor e roteirista Joel Pizzini ("500 Almas") revive Sganzerla à moda Sganzerla - não porque imite seu registro inconfundível (e inimitável), e sim porque também se propõe a fazer pesquisa de linguagem, na crença de que forma é conteúdo.

"Rogério Sganzerla significa um ponto de inflexão no cinema brasileiro moderno", resume o professor e ensaísta Ismail Xavier: "Talento precoce, explodiu no Festival de Brasília de 1968, com 22 anos, ao trazer a invenção de estilo que desafiou o que havia de melhor: o Cinema Novo. Suas provocações diretas não teriam efeito não fosse o 'poder do filme'. O 'Bandido' foi uma renovação do horizonte, encarando de frente os impasses do cinema de autor. Irrompeu naquela maneira agressiva do dissidente que sai dos quadros de um movimento que havia defendido como crítico. Não surpreende que tenha feito e gerado, em resposta, muito barulho... por tudo. Felizmente, ao contrário do que diria

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Em "Luz nas Trevas", o cantor Ney Matogrosso revive o bandido-filósofo criado por Rogério Sganzerla no clássico "O Bandido da Luz Vermelha" (1968), marco do cinemamoderno brasileiro.

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a consagrada expressão que está no título da comédia de Shakespeare, a referência maior da sua referência maior: Orson Welles."

Diretor de "Cidadão Kane" (1941) e do inacabado "É Tudo Verdade", que Sganzerla retomou - com o músico Arrigo Barnabé no papel do cineasta norte-americano - em "Nem Tudo É Verdade" (1986), Welles é uma das principais evocações de "Mr. Sganzerla", ao lado de Noel Rosa, Oswald de Andrade e Jimi Hendrix.

Imagens de arquivo e recriações dramáticas navegam pelas influências artísticas e pelos pontos mais importantes de seu percurso, como o encontro e a parceria com Helena Ignez (que havia sido mulher de Glauber Rocha, com quem teve uma filha, Paloma Rocha) e a sociedade com o diretor Julio Bressane ("Matou a Família e Foi ao Cinema", "O Anjo Nasceu") na produtora Belair, fundada em 1970 - e tema, por sua vez, de outro projeto de carga também afetiva, o documentário "Belair" (2011), de Noa Bressane (filha de Julio) e Bruno Safadi.

"Como bem aponta Bressane, Rogério propôs um modelo de cinema para o Brasil que nunca vingou, um cinema sofisticado e popular ao mesmo tempo, na mesma tradição do Oswald de Andrade, que pretendia fabricar biscoito fino para as massas", observa Pizzini, que tinha oito anos de idade quando "O Bandido da Luz Vermelha" foi lançado. "Talvez seja este o ponto: como furar o bloqueio do mercado resignado a um cinema de resultados, que só reproduz clichês, com o Brasil que se quer ver, a confirmação do subdesenvolvimento, ou o cinema ruidoso, pirotécnico, que desperta no público a sensação de produtos impecáveis, que 'nem parecem filmes brasileiros'."

Na análise de Pizzini, "Bandido" e "A Mulher de Todos" (1969) - o longa seguinte de Sganzerla - diluíram "essa fronteira entre arte e indústria" ao "dialogar com os gêneros, incorporar o pop e o mau gosto, e debochar do clichê". Com esses procedimentos, o cineasta "embaralhou o jogo e atingiu uma empatia popular surpreendente".

Daí, segundo Pizzini, uma das explicações para a atualidade de Sganzerla. "As novas gerações, mesmo que estranhem às vezes a sua estética, se envolvem no suíngue e aceitam o enigma, percebendo muito depois os recados contidos nas citações, ironias e avacalhações do poder constituído." Ele e Glauber Rocha seriam "dois gênios barrocos que fazem falta justamente por exercerem, cada um a seu modo e estilo, a arte da polêmica, desestabilizando o cinema higienizado, bem acabado, que investe na embalagem dos mitos".

Xavier lembra que, "como todo gesto de ruptura", o efeito de longo prazo de "Bandido" foi a "ampliação de caminhos de um cinema que já tinha a percepção aguda de seus limites e já iniciara o seu próprio questionamento na forma do drama barroco, com 'Terra em Transe' [1967], de Glauber". Sganzerla, de acordo com Xavier, "fez da colagem um sistema, e da montagem, um dispositivo de se apropriar de clichês, do próprio cinema, das histórias em quadrinhos, do filme tosco de aventura, das canções sentimentais da América Latina". Ao optar por esses procedimentos, "deu vazão à sua sensibilidade 'camp' ao revelar o encanto daquilo que não conseguiu vingar na alta cultura, compondo a família ampliada dos pequenos heróis de gibi e de 'femmes fatales' que seu cinema cercou de figuras masculinas do fracasso".

Em sequência marcante de "Luz nas Trevas", Ney Matogrosso faz o Bandido, livre outra vez, interpretar a canção "Sangue Latino", tendo ao fundo os arranhas-céus da metrópole cuja burguesia um dia aterrorizou. O pop, o clichê e o "camp" revisitados e revalorados: eis, em forma de cinema, um pouco da herança de Rogério Sganzerla.

O Estado de S. Paulo - Nas fronteiras da vida

'Uma Longa Viagem' é retrato do Brasil e de toda uma geração

Crítica: Luiz Zanin Oricchio

De maneira um tanto esquemática, costuma-se dizer que a juventude radical dos anos 60/70 tinha duas alternativas - as armas ou as drogas. Ambas vertentes, e talvez ainda uma terceira, conviveram na mesma família, a da cineasta Lúcia Murat, e este é o núcleo duro do seu

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belíssimo documentário Uma Longa Viagem, que entra agora em cartaz depois de vencer o Festival de Gramado de 2011.

Ator Caio Blat lê as cartas de Heitor à família

A própria Lúcia Murat lutou contra a ditadura e pagou caro por isso. Foi presa e torturada durante os chamados anos de chumbo. Mas o personagem mais evidente do filme não é a cineasta e sim seu irmão, Heitor, que foi mandado para o exterior pela família justamente para protegê-lo de um possível envolvimento com a luta armada. É de Heitor a "longa viagem" de que fala o título. Há ainda outro irmão presente de maneira virtual na narrativa, o médico Miguel.

Quem toma a frente de todos é Heitor, entrevistado pela irmã. Ele, e seu "duplo", interpretado pelo ator Caio Blat, ao ler as cartas que o andarilho enviava à sua família, em especial à mãe, durante suas viagens pelo mundo. É um recurso interessante, funcional e bastante tocante, afinal de contas. Caio lê as cartas como se as estivesse escrevendo. Ao fundo, entram imagens em transparência, evocando os lugares de que fala, alguns exóticos, naquele tempo, como Índia e Afeganistão. A técnica foi inspirada pelo curta-metragem Superbarroco, de Renata Pinheiro. A atmosfera assim criada, pela leitura das cartas e pelas imagens em sobreposição, beira ao onírico, mais que ao realístico.

E, de fato, as viagens de Heitor tinham esse caráter de sonho um tanto desesperado, mas cuja profundidade quase nunca aparece na narrativa das cartas, muito bem escritas, vívidas, porém destinadas mais a sossegar a família do que esclarecer exatamente o que ele estava passando. Esse sentido se completa pelo que fala, no tempo presente, com a dicção um tanto prejudicada talvez por medicamentos fortes, mas com a inteligência intacta de quem muito andou, viu e experimentou. E de quem assimilou e decantou toda essa experiência variada. Afinal, viajar, no sentido literal e no figurado, era o ideal de uma geração. Tudo o que evoca Heitor é expresso com invejável senso de humor, que contamina (de maneira positiva) o filme, do princípio ao fim.

É bom que haja esse tempero, mesmo porque Uma Longa Viagem traz também passagens pouco agradáveis, como a memória dos tempos de cárcere de Lúcia. Ou os episódios de

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internação de Heitor, como consequência provável de trips prolongadas. Há também o elemento deflagrador do filme - o luto pela morte prematura do irmão Miguel, médico abnegado, cheio de consciência social.

Nesse ambiente, tanto emocional como rigoroso, se estabelecem as maneiras muito diferentes de se opor à ditadura e que se deram no interior de uma mesma casa: a resistência pelo trabalho social, o confronto armado e a opção pelo desbunde e a contracultura. Racionalizadas, essas alternativas cobririam quase o espectro completo das formas possíveis de sobrevivência psíquica em tempos ruins. Pois é claro que, falando de pessoas particulares, o filme trata de toda uma época da história recente brasileira, uma fase de ruptura, cujas consequências ainda estão presentes na vida de todos e não apenas nas de seus protagonistas.

Por oferecer esse retrato particular, ao mesmo tempo tão abrangente, Uma Longa Viagem justifica a imersão corajosa da diretora na intimidade da sua família. Um revisita que, pode-se adivinhar, não foi feita sem dor ou hesitações. De qualquer forma, oferecida ao público tantos anos depois, é uma continuação, em termos pessoais, das convicções políticas e libertárias da cineasta.

O Brasil da democracia progrediu muito em relação ao País do AI-5 e das prisões arbitrárias. Em outros aspectos, por exemplo na relação harmoniosa com os diferentes, os avanços não parecem tão notáveis. Dois ritmos diferentes de desenvolvimento convivem. O testemunho de histórias tão dilaceradas serve de medida a esses graus de evolução distintos. No Brasil de 2012 ninguém é preso por ideias políticas e nem enfrenta com armas um governo ilegítimo. Por outro lado, a sociedade caminha rumo a uma normalização compulsória (maquiada pelo politicamente correto), que continua a marginalizar quem não se enquadra na média. Há muito que fazer.

O Estado de S. Paulo – Pensador do Brasil

Documentário, CD e novos shows iluminam vida e obra de Jorge Mautner - e seu projeto de um País feito de misturas

Luiz Carlos Merten

(12/5/2012) Foram cinco anos, consumidos entre pesquisa e preparação. Como havia pouco dinheiro para fazer O Filho do Holocausto, seu admirável documentário sobre Jorge Mautner, os diretores Pedro Bial e Heitor D'Alincourt prepararam a produção nos mínimos detalhes. Para garantir a melhor qualidade de imagem e som, filmaram num estúdio. Para reduzir os custos, concentraram tudo - as entrevistas e apresentações musicais - em quatro dias.

Havia gente dançando no final da sessão do filme, no Cine PE. "Aquilo foi bonito, não é?", observa o próprio Mautner. O júri presidido por João Batista de Andrade ignorou os documentários e despejou seus prêmios nas ficções. O Filho do Holocausto foi lembrado por meio de uma menção - a Jorge Mautner, não aos diretores. "Deixei tudo na mão deles, da seleção das músicas aos textos e entrevistas", diz o artista, multimídia como poucos no País.

O Filho do Holocausto saiu do Recife e já começa a ganhar uma vida internacional. Na terça, será exibido no Festival do Cinema Brasileiro de Paris, no Nouveau Latina, um cineminha de arte do Marais, no qual os documentários musicais viram sempre festas. Ex-sogro de Bial, Cacá Diegues deu uma definição que agradou ao ex-genro: "É um documentário com desejo de ficção".

Nos últimos anos, Bial virou o sr. BBB, sempre convidando o público a dar "uma espiadinha" na casa que abriga o reality show. Os críticos o converteram em saco de pancada, de ódio do programa. O BBB surpreende o próprio Bial. "É o único País do mundo em que a 13ª edição teve mais audiência que a primeira", observa. No cinema, ele havia feito Outras Histórias, baseado em Guimarães Rosa. O autor de Grande Sertão: Veredas tinha um projeto de nação, Jorge Mautner tem outro, baseado no

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amálgama. O Brasil mestiço é um exemplo de integração social para o mundo. "Ou o mundo todo se abrasileira ou a coisa vira nazista", diz Jorge.

Mesmo que sua visão de Brasil e de mundo não seja a mesma dos artistas que o inspiram, Bial é suficientemente fascinado por eles para fazer todos esses filmes e se manter no BBB. Ele não se envergonha, tem o maior orgulho do programa. O Brasil pode não se refletir nos personagens do BBB, mas se reflete na forma como os vê. Um documentário autoral, um CD e a volta do filme mítico que fez em Londres, O Demiurgo. O Filho do Holocausto inicia o resgate de Mautner como pensador do Brasil.

Vida e obra de um mago

Dos Sermões de Vieira à arte feita no exílio, Jorge Mautner celebra sua trajetória

Luiz Carlos Merten

(12/5/2012) Filho do Holocausto e do tai chi chuan. Jorge Mautner credita ao segundo a excelente forma física. Todo dia, pratica ginástica por três horas. Interessam-lhe o que chama de "bases medicinais" da prática milenar, com elementos de shao-lin. Mas só a preparação física não basta. "Sou um abençoado", ele repete várias vezes durante a entrevista. Escritor, cantor, compositor, cineasta, Mautner tem sido um pensador do amálgama social brasileiro e, como tal, se faz presente na cultura do País no último meio século. Mas está mais atuante que nunca.

“Sou um abençoado”. Artista vê filme e disco que será lançado pelo Canal Brasil como marcos de carreira

No dia 24, ele estará em São Paulo, no Sesc, com seu eterno parceiro, Nelson Jacobina. O show integra homenagem a Neville D'Almeida, para quem escreveu Jardim de Guerra. Mautner também é personagem do documentário que Pedro Bial e Heitor D'Alincourt levaram ao Recife. O Filho do Holocausto foi feito para cinema e, no dia 15, deverá incendiar o Festival do Cinema Brasileiro de Paris. Ontem, no Rio, D'Alincourt, Bial e o diretor do Canal Brasil, Paulo Mendonça, reuniram-se para discutir datas. Se não surgir parceiro para o grande lançamento que o filme merece, o Canal Brasil repetirá a experiência de Loki, que teve distribuição independente.

O selo do Canal lançará o CD com a íntegra das canções editadas no filme. E, culminando tudo, o Canal Brasil promete abrir janela para exibir o longa mítico de Jorge Mautner, O Demiurgo, que ele fez quando exilado em Londres, com Caetano Veloso e Gilberto Gil. O filme tem problemas de som, mas o resgate é importante e, contextualizado, o público poderá aceitar as deficiências técnicas da obra em troca do muito que ela pode oferecer. Jorge é só alegria. "Sou um abençoado."

No Recife, primeiro o curta Maracatu Atômico e, depois, a explosão de O Filho do Holocausto. Como se sentiu?

É difícil explicar a sensação de felicidade, mas o carinho daquele público me fez sentir pleno, tranquilo. Eles entenderam que o que faço possui uma estrutura de pensamento. Durante toda minha vida, o que mais gostei e gosto de fazer é criar grupos de estudos. Em Londres, no exílio, formamos, Gil, Caetano e eu, um grupo gramsciano/brasileiro. Estudamos os pré-socráticos, a mitologia. Sou filho de judeu austríaco, que era fascinado pelo Brasil e queria decifrar este País. Nasci um mês após meus pais desembarcarem aqui, fugindo do Holocausto. Quando se separaram, minha mãe se casou de novo e o marido dela era viola da Sinfônica de São Paulo. Eu tinha uma relação de amor e ódio com meu padrasto, mas por meio dele conheci a efervescência cultural de São Paulo nos anos 1950.

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O pensamento, a filosofia, a música, tudo se amalgamou no meu imaginário. E foi fundamental minha mãe ter ficado doente, o que me levou a ser criado pela babá que me introduziu no candomblé.

Além de filho do Holocausto, você também é a combinação perfeita de amálgama, não?

Nos shows e textos, falo muito desse amálgama. O termo se refere ao processo de mistura dos metais na formação de ligas e foi usado por José Bonifácio para se referir à capacidade de as culturas terem produzido, no País, algo além da miscigenação. Na verdade, é um conceito antigo, que vem desde os Sermões do Padre Vieira. No Brasil, somos todos mestiços, graças a Deus, e, sem romantizar, o País fornece um exemplo e uma alternativa. Ou o mundo se abrasileira ou a coisa vira nazista de vez.

Tudo isso permeia sua música, seus livros. Como surgiu o filme?

A ideia veio do (Pedro) Bial e do Heitor (D'Alincourt). Já conhecia o Bial, que sempre curtiu meus shows. O Heitor integrou minha banda. Dei carta branca para que selecionassem as músicas, o que deveria dizer. Fiquei feliz com o resultado.

Alguns reclamaram que suas falas são leituras dos textos. Por que você não deu uma entrevista?

Falo demais e a viabilização do projeto passava por um rígido cronograma. Tínhamos quatro dias de estúdio. O formato não apenas salvaguardou o que interessava aos diretores. Foi uma forma de me conter, mantendo a estrutura de pensamento.

Mas também ficcionaliza o documentário, o que é muito interessante. E o som é maravilhoso.

O som do filme é elaborado, tem músicas minhas que ficaram melhores. O lançamento do CD, vai ser um marco da minha carreira.

Esse resgate da sua figura envolve também o resgate do filme feito em Londres. Qual o problema de Demiurgo?

O filme é uma chanchada filosófica que fiz no exílio, morrendo de saudade do Brasil. Filmei em 16 mm, um bando de loucos discutindo questões fundamentais, tudo muito sério. O problema é que o técnico de som tinha tomado um ácido e o sincro ficou desconectado. A ditadura militar, inclusive, tirou o filme de circulação alegando falta de qualidade técnica. Esse problema de sincro entre imagem e som permanece, mas o Canal Brasil exibir me faz muito feliz.

A grande cena é o diálogo com sua filha: dois adultos que se admiram e amam e encaram suas diferenças sem ressentimentos.

Se você se emocionou, imagine eu. O mérito é da Amora (a filha). Ela é maravilhosa.

Folha de S. Paulo – Christiane Riera deixa sua marca no cinema brasileiro

CAO HAMBURGER(14/5/12) Christiane Riera me ensinou que, em teatro, muitas vezes, o diretor e os atores contam com ajuda da dramaturgista, pessoa com a função de "desvendar as nuances e as entrelinhas do texto, situá-lo no tempo e na história, decodificar as intenções e motivações do autor".

Foi mais ou menos assim que ela definiu sua função quando me disse que estava pensando em aplicar essa ideia em cinema. Com a diferença de que atuaria a partir da escrita do roteiro.

Recém-chegada de um doutorado, em Yale, Estados Unidos, um dos primeiros filmes que ela se envolveu foi "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias". Sorte minha.

Sua atuação contundente partiu do roteiro, mas se estendeu a outros elementos do filme. E o pensamento ficou inteiro, completo, integral.

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A notícia se espalhou rápido e sua colaboração passou a ser disputada por diversos filmes e séries de televisão.

Sempre com respeito aos roteiristas, diretores e produtores, mas com opiniões firmes, participou de filmes importantes como "Jardineiro Fiel", "A Mulher Invisível", "À Deriva", "A Cadeira do Pai", "VIPs", "Chega de Saudade", "O Homem do Futuro" e "O Céu de Suely".

Na televisão, "Filhos do Carnaval", "Antônia", "Destino SP" e "Alice".

Em cada um deles, foi capaz de entender a delicada relação entre o roteirista e/ou o diretor e a história que está sendo contada. Com generosidade ímpar, se dispunha a "pensar com a nossa cabeça" e nos fazer entender nossas motivações e interesses.

No filme "Xingu", ela foi fundamental no difícil processo de entender o que fazer com uma história tão cheia de histórias, pontos de vistas, questões políticas, sociais e filosóficas.

E, de novo, até o último corte do filme, esteve presente e atuante. Brigamos durante a montagem. Firme, me fez ver que algumas ideias, que eu achava brilhantes, estavam entornando o caldo.

O cinema brasileiro teve sorte de Christiane Riera ter inventado e se inventado nessa função.

A moça do teatro -crítica da "Village Voice" e da Folha-, de uma consistente carreira acadêmica, veio nos ensinar a pensar da essência para o todo e vice-versa.

Inquieta e pioneira, com rara generosidade, sensibilidade, talento, cultura e competência, deixou sua marca no cinema brasileiro. E se não tivesse nos deixado tão jovem, o que teria inventado em teatro, literatura, cinema, televisão, como professora, ou qualquer outra área que escolhesse? Obrigado, Chris.

Cao Hamburger é diretor dos filmes "Xingu" e "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias".

Valor Econômico - Um longo caminho para um clássico americano

Por Elaine Guerini | Para o Valor, de São Paulo

Sam Riley (esq.) faz Sal Paradise, o alterego de Jack Kerouac, e Garrett Hedlund interpreta Dean Moriarty em "Na Estrada", dirigido por Walter Salles

(14/5/2012) Foi preciso um cineasta brasileiro para que a adaptação de "On the Road'', projeto que circulava por Hollywood há mais de 50 anos, finalmente desencantasse. Conhecido pela sensibilidade que imprime em tudo o que faz, Walter Salles acabou atraindo para si a missão de traduzir nas telas (para os americanos e o público internacional) a essência da obra-prima de Jack Kerouac (1922-1969), publicada em 1957, que é um dos símbolos da contracultura.

O olhar do cineasta de 56 anos sobre o inconformismo registrado pelo escritor beatnik, batizado nas telas de "Na Estrada'', terá première mundial no dia 23 deste mês, na 65ª edição do Festival de Cannes (que acontece entre quarta-feira e o dia 27/5), onde concorrerá com mais 21 títulos à Palma de Ouro. No Brasil, o filme estreia em 15/6.

"O fato de um brasileiro dirigir 'Diários de Motocicleta' [de 2004, sobre a viagem de Che Guevara pela América do Sul] também não era algo evidente'', diz Salles, que leu o livro de Kerouac pela primeira vez aos 18 anos. Numa linguagem transgressora, a ação segue os passos de dois jovens, Sal Paradise e Dean Moriarty, que atravessam os EUA de costa a costa, encarando o sexo e as drogas como forma de ampliação da consciência e do conhecimento do mundo.

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"A primeira leitura causou um impacto profundo em mim e essa sensação foi reforçada pelas releituras ao longo do tempo.'' Ainda assim, o diretor carioca não via a sua intimidade com a obra como "passaporte suficiente para encarar o desafio''. "Daí a proposta de fazer um documentário em busca do livro, à procura de Kerouac, da sua geração e dos poetas beatnik que lançaram as bases da contracultura'', afirma Salles, referindo-se à produção "Em Busca de On the Road", iniciada em 2005.

"O trabalho foi feito ao longo de vários anos, de forma intermitente'', diz o cineasta. "Ele nos permitiu conhecer várias pessoas que deram origem aos personagens do livro, vários escritores da geração de Kerouac. Também contatamos músicos e cineastas que, como David Byrne ou Wim Wenders, foram influenciados por 'On the Road' ou pelo movimento [da contracultura]. Isso acabou alimentando o projeto e permitindo que o contexto sociopolítico e cultural do final dos anos 1940 e 1950 ficasse mais claro para todos nós.''

Antes de se encontrar com Salles para discutir o projeto, Viggo Mortensen tinha certo receio sobre a adaptação, por se tratar de um "livro mítico''. O ator americano interpreta Old Bull Lee, personagem baseado no escritor William Burroughs (1914-1997). "A minha desconfiança passou ao perceber que Salles e eu falávamos a mesma língua, por procurarmos entender o significado e a importância do assunto que tratamos. A incansável pesquisa de Walter não deixou dúvidas de que ele era o homem certo para dirigir o filme'', afirma o ator.

Para Salles, um diretor que não se cerca de "atores de extrema inteligência e sensibilidade não vai a lugar nenhum''. Ele lembra que Mortensen chegou a Nova Orleans, onde a sua participação foi filmada, levando a máquina de escrever que Burroughs usou, em 1949. O ator também tinha feito pesquisa sobre os livros que autor estava lendo naquela época. "Dessa riqueza de elementos surgiram várias improvisações, possibilitadas por aquilo que Viggo trouxe para o filme. A verdade é que cada ator se torna coautor da obra, se ele tem a sensibilidade e o grau de comprometimento de Viggo e dos outros'', diz Salles, que escalou Sam Riley, como Sal; Garrett Hedlund, como Dean; Kristen Stewart, como Marylou; e Kirsten Dunst, como Camille.

"Trabalhar com Walter é tão inspirador que o ator automaticamente se esforça para dar o seu melhor. Parecia que ele carregava o filme nas mãos, como se fosse a coisa mais preciosa do mundo'', conta a californiana Kristen Stewart. Foi graças à atmosfera harmoniosa no set que a atriz conseguiu se libertar da inibição, para interpretar a jovem sexualmente aventureira. "Marylou desconhece medos e julgamentos. Ela está realmente aberta para a vida.''

Kirsten Dunst teve uma participação menor em "Na Estrada'', de apenas uma semana de filmagem. "Como 'Diários de Motocicleta' é um de meus filmes favoritos, mal pude acreditar quando Walter me convidou'', diz Kirsten. A atriz nascida em New Jersey define o brasileiro como um cineasta que "sabe exatamente o que quer'', fazendo no máximo três tomadas de cada cena ("diferentemente de diretores inseguros, que insistem em uma quantidade exagerada de takes''). "Walter privilegia as performances mais naturais, envolvendo os atores em ambiente criativo e de total liberdade.''

Depois de uma longa jornada para concluir o filme, Salles está ansioso para apresentá-lo em Cannes, o maior festival de cinema do mundo. "No universo do futebol, é como ser convidado a jogar no Camp Nou, o estádio do Barcelona, com toda a pressão que isso implica.'' Ele lembra que a competição é acirrada no evento francês. "Cannes recebe 1.800 longas para avaliação a cada ano. Fazer parte desta seleção é um prêmio para a família de atores e técnicos que estão envolvidos com o projeto há tantos anos."

Salles reforça que o filme só se tornou possível "graças à ação de jovens produtores franceses'', da empresa MK2, a mesma companhia que financiou filmes de Jean-Luc Godard, Krzysztof Kieslowski e Abbas Kiarostami, entre outros. "Hollywood nunca se interessou de verdade pela adaptação do livro de Kerouac'', diz Salles, lembrando que nas primeiras tentativas, realizadas no final dos anos 1950, o personagem Dean morria em acidente de automóvel, preso nas ferragens do carro. "Era uma maneira de dar fim a um personagem que, por tudo que faz, colide com certo puritanismo americano.''

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O Estado de S. Paulo - Cannes inicia a festa

Com o Brasil de homenageado e 'On the Road' na disputa, começa nesta quarta-feira o maior festival de cinema do mundo

Luiz Carlos Merten

(15/5/2012) AFP - Walter Salles está desde sábado em Paris. Embora consumido pela gripe, o diretor fez questão de se antecipar para revisar a cópia de Na Estrada (On the Road). Ele faz questão de que sua adaptação do livro mítico de Jack Kerouac seja projetada em película no maior festival do mundo. Sábado era a data limite para eventuais correções de luz e som, de forma que On the Road esteja nos trinques para sua soirée de gala, às 19 horas do dia 23. Neste dia, On the Road estará estreando na França. Em junho, será a vez do Brasil e os lançamentos vão pipocar ao redor do mundo, até dezembro nos EUA.

On the Road é filme para Oscar? Para a Palma de Ouro? Walter Salles prefere não acumular expectativas exageradas. O filme que consumiu oito anos de sua vida e o levou a percorrer cerca de 100 mil km de estrada ainda é muito recente para que ele possa falar com distanciamento. "Somente agora estou me distanciando de Central do Brasil", ele brinca.

Seu novo filme é uma das atrações anunciadas do 65.º Festival de Cannes, que começa amanhã. Luz, câmera, ação - a Croisette, como todo ano, volta a ser a maior vitrine de cinema do mundo. O longa que inaugura o tapete vermelho de 2012 é de um autor com fama de excêntrico, Wes Anderson. Em Moonrise Kingdom, ele conta a história de um casal jovem que foge para viver seu grande amor. Ocorre que, na repressora 'América' do começo dos anos 1960, uma garota de boa família não poderia fazer isso. Cria-se a ideia de que ambos foram sequestrados e a cidade toda inicia uma louca perseguição.

O casal de Wes Anderson é formado por dois novatos, Jared Gilman e Kara Hayward, mas de resto o elenco é cheio de caras conhecidas do público - Bruce Willis, Bill Murray, Frances McDormand, Edward Norton, Jason Schwarztzman, Tilda Swinton e Harvey Keitel. O festival, portanto, inicia-se sob o signo de um mundo em transe e numa época de transformações, os míticos anos 60, que levaram a Maio de 68, o ano que não termina nunca.

Mudança é coisa de que Cannes entende e, ao anunciar a seleção de 2012, o mandachuva do evento, Gilles Jacob, e seu braço direito, que assina a curadoria da mostra principal, Thiérry Frémaux, assinalaram que Cannes preserva a tradição que fez a sua grandeza, mas de olho nos novos autores e nas inovações tecnológicas.

Na sequência de Moonrise Kingdom, Cannes/2012 mostra uma seleção de deixar cinéfilo babando - os novos filmes de Alain Resnais, David Cronenberg, Michael Haneke, Ken Loach, Abbas Kiarostami, Jacques Audiard, Sergei Loznitsa, Carlos Reygadas, Thomas Vinterberg, Jeff Nichols, Christian Mungiu, IM Sang-soo e, claro, Walter Salles. O brasileiro concorre com uma coprodução franco-americana, falada em inglês. O júri é presidido por Nanni Moretti, que já foi a pedra no meio do caminho de Salles quando ele concorreu em Veneza com Abril Despedaçado. O filme não ganhou nada, mas isso não quer dizer nada. Cada ano, cada júri, cada seleção encerram os próprios desafios e possibilidades. Moretti, que agora preside o júri, concorreu no ano passado com Habemus Papam - e nada levou.

O festival homenageia o Brasil, por meio de uma seleção organizada por Hilda Santiago, do Festival do Rio, e que inclui A Música Segundo Tom Jobim, de Nelson Pereira dos Santos,. Música, cinema e caipirinha, para fazer a festa brasileira em Cannes. E Cannes Classics, o altar dos cinéfilos, anuncia versões restauradas de Era Uma Vez na América, de Sérgio Leone, com 25 minutos a mais de duração; Lawrence da Arábia, comemorando os 50 anos do clássico de David Lean; Tess, de Roman

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Polanski, em presença do diretor e de sua estrela, Nastassia Kinski. Só por isso, o cinéfilo, como devoto, deveria fazer o caminho da Croisette de joelhos.

O Estado de S. Paulo - O eleito - TV Cultura no alvo

Novo presidente do Conselho da Fundação Padre Anchieta, Belisário dos Santos Jr. abre mão da remuneração do cargo

CRISTINA PADIGLIONE - Eleito por 26 votos a 15 para a presidência do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta, o advogado Belisário dos Santos Jr. pretende despertar nos telespectadores um interesse pela TV Cultura que seja compatível ao orgulho e à admiração que a sociedade tem de sua emissora pública paulista. Embora tenha uma programação de qualidade reconhecida pelo público, a Cultura amarga índices de audiência média inferiores a 1 ponto no Ibope da Grande São Paulo, onde cada ponto equivale a 60 mil domicílios.

Para honrar um mandato tampão de 11 meses, Belisário abrirá mão do salário de R$ 18 mil atribuídos ao ocupante do cargo. Moacyr Expedito Marret Vaz Guimarães, titular do posto até anteontem, encerrou seu mandato de três anos antecipadamente porque sua condição de conselheiro teve o prazo expirado, sem alternativa de renovação.

Belisário venceu Jorge da Cunha Lima, ex-presidente da Fundação Padre Anchieta e ex-presidente do Conselho, cuja oposição à administração do atual presidente da Fundação, João Sayad, tem sido abertamente declarada. Ao Estado, o novo presidente do Conselho disse que a vitória não foi conquista fácil - no mês passado, em uma primeira tentativa de votação, os dois empataram em 24 votos.

"É uma eleição complicada. São muitas personalidades, juristas, secretários de Estado, ex-governadores, membro da Comissão da verdade... Meu oponente é uma pessoa de muitos anos de Fundação, de muitas relações, eu não tinha mais do que as minhas indicações e o meu passado", afirmou,

Secretário de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo (1999/2000) e secretário da Administração Penitenciária do Estado (1995), Belisário é membro da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo e representa o Brasil na Comissão Internacional de Juristas, com sede em Genebra.

Para colocar suas funções em prática, o advogado pretende usar o conhecimento de quem já esteve na outra ponta do fio que liga a TV Cultura ao governo de São Paulo - exatamente a dos recursos que sustentam a emissora - e a sabedoria de quem já frequenta o conselho da Fundação Padre Anchieta há sete anos, como membro do seleto grupo.

"Sinto que há um diálogo difícil entre o governo e a Fundação porque, para o governo, muitas vezes a Fundação é um problema. A entidade produz bastante coisa e a TV Cultura tem uma programação de altíssimo nível, de uma qualidade absolutamente indiscutível", diz. Mas reconhece que falta ao público usufruir melhor esse conteúdo. "Nós temos algumas travas. Uma delas é a questão das TVs a cabo, a proliferação das TVs comunitárias e alguns problemas que enfrentamos, como decisões de redistribuidoras de sinal, que nos colocam numa posição um pouco acanhada."

Em suas contas, o fornecimento de R$ 140 milhões por ano do governo equivaleria a R$ 3 por cidadão. "O problema é assegurar esse recurso, para pagar dissídio, por exemplo. São espaços importantes em que a questão fim é relativizada porque o meio não está garantido."

O novo presidente do Conselho avisa que seu trabalho não se dará na programação, até porque, a seu ver, o conteúdo é algo muito bem resolvido pela atual gestão. "É lutar para que

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o Conselho seja um bom parceiro na TV Cultura e possa provar ao Estado e à sociedade que deve ter espírito elevado e que nós precisamos exigir que a TV se faça de uma forma ou de outra. Não se pode encher a programação de anúncio nem baixar o nível da programação."

Mantra que norteia as TVs públicas, mas nem sempre alcança seu objetivo final, a Cultura "deve fazer o que as televisões comerciais não conseguem ou não querem fazer, que é um entretenimento de altíssima qualidade, de educação, de vários contrastes e não de uma linha editorial só". Belisário faz apenas a ressalva de que é preciso fazer com que isso chegue ao público e, para isso, lembra dos progressos feitos com a Osesp, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, nos concertos que hoje lotam a Sala São Paulo. "É preciso chamar toda a sociedade de alguma forma para mostrar a ela, por exemplo, 'olha o que você perdeu nos últimos 30 dias'."

Correio Braziliense - Janela internacional de Brasília

Nahima Maciel

(16/5/2012) Quando decidiram começar a montar o Brasília International Film Festival (BIFF), Anna Karina de Carvalho e Nilson Rodrigues queriam um evento mais ligado ao garimpo de novos diretores e menos dependente dos esquemas de distribuição. O BIFF virou então um projeto com várias pequenas mostras — sendo uma competitiva — pensadas para abrigar expressões de fora do circuito cinematográfico comercial e projetar novos nomes. Marcado para a segunda quinzena de julho, o festival vai ocupar as quatro salas do Cine Cultura, do qual Rodrigues é proprietário, e o Museu Nacional, com oito mostras, que vão da animação infantil ao cinema trash.

Para a Mostra Competitiva, a principal do BIFF, um time de cinco curadores vai escolher 12 longas-metragens entre os inscritos e os sugeridos pelos olheiros do evento espalhados pela Europa e Estados Unidos. O prêmio para o filme vencedor será de 10 mil dólares, valor a ser desembolsado pelo próprio festival. Na mostra Novo Cinema Europeu Independente, a proposta é trazer longas de diretores com carreira já consolidada, mas que ainda não podem ser considerados veteranos.

O cinema africano contemporâneo terá espaço no Panorama África, e uma parceria com os festivais Sundance e Slamdance vai permitir montar programação com seis filmes para a mostra Independentes Americanos. Uma retrospectiva de filmes da atriz dinamarquesa Anna Karina, rosto da Nouvelle Vague e estrela de vários filmes de Jean-Luc Godard, integra a programação. A própria atriz, que será homenageada pelo BIFF, selecionou os filmes e deverá apresentar um show musical.

Para diversificar a programação, os organizadores planejaram ainda uma sequência de filmes experimentais macabros. Subterrâneos terá a nata do trash e Anna quer fazer uma homenagem a Lloyd Kaufman e sua produtora Troma, reduto do cinema trash e responsável pela distribuição de milhares de filmes do gênero. Na mostra Cara latina, o espaço é feminino. “Não é porque defendemos a questão de gênero, é porque tem uma onda mesmo na América Latina.”

A lista de filmes ainda não está fechada, mas alguns longas estão em processo avançado. Victoria Abril deve vir a Brasília para acompanhar a exibição de The woman who brushed off her tears, do diretor macedônio Teona Strugar Mitevska, mostrado na Berlinale em fevereiro. Grande Prêmio do Júri em Sundance este ano, Beasts of the southern wild , do norte-americano Benh Zeitlin, pode desembarcar por aqui como parte da programação do BIFF. Anna e Rodrigues também estão empolgados com o português Tabu, de Miguel Gomes, sucesso este ano no 62º Festival de Berlim.

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Cena do filme Tabu, de Miguel Gomes, uma das atrações do Brasília Internacional Film Festival (BIFF)

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Além dos debates que devem acompanhar todos os filmes, Nilson Rodrigues quer levar o festival para fora do Plano Piloto. Orçado em R$ 1,2 milhão e com 60 filmes, o BIFF funcionará como uma alternativa ao Festival Internacional de Cinema de Brasília (FIC), cuja última edição ocorreu em 2009. “É fácil fazer a comparação, mas a proposta é diferente”, avisa Anna Karina, que trabalhou em duas edições do FIC.

Istoé - Produção em série

Os canais a cabo correm contra o tempo para cumprir a nova legislação que estabelece cotas de produção nacional. O HBO sai na frente com "Preamar"

Michel Alecrim

O rico empresário carioca João Velasco faz uma aposta equivocada na bolsa de valores e acaba falido. Seu fim poderia ser o de muitos magnatas que perdem tudo de uma hora para outra: o suicídio. Prestes a se jogar de sua cobertura de frente para a Praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, vem-lhe à mente a solução: explorar os negócios informais que fervilham nas areias. Este é o enredo na nova série brasileira do canal a cabo HBO, “Preamar”, que pretende mostrar o submundo de cartões-postais pouco habitual nas tevês abertas. Com a entrada em vigor da nova legislação que prevê cota para a produção nacional, prevista para junho, os chamados enlatados americanos perderão ainda mais espaço para os projetos gerados exclusivamente no País.

A exigência de cota de três horas e meia em horário nobre com programação nacional está prevista na polêmica Lei 12.485, de 2011, que passou por consulta pública antes da regulamentação. Para a HBO, com a experiência de já ter produzido outras séries no Brasil, a adaptação está sendo fácil. “Mandrake” (2005), “Alice” (2008) e “Filhos do Carnaval” (2009) estão no histórico do canal americano. Mesmo com poucos rostos conhecidos, a programação (que conta com a parceria com produtoras independentes) busca manter a qualidade das grandes emissoras. Para isso, o canal foi atrás de profissionais formados no cinema e na tevê, caso de Estevão Ciavatta, o diretor de “Preamar”, com

passagem pela Rede Globo (esteve à frente do programa “Brasil Legal”, apresentado por sua mulher, Regina Casé). “Há bastante técnicos e atores com experiência. O que falta são roteiristas e produtores de conteúdo para atender a essa nova realidade”, afirma Marco Altberg, presidente da Associação Brasileira de Produtoras Independentes de Televisão (ABPITV).

Como a legislação passa a valer em junho, os canais estão correndo contra o tempo. A própria HBO já tem na manga outra série, sobre os bastidores do futebol. O Telecine prepara nova programação com mais filmes nacionais, a partir de julho. “As tevês terão um prazo razoável para se adaptar às normas, senão poderão até pagar multa”, adverte o diretor-presidente da Agência Nacional do Cinema (Ancine), Manoel Rangel.

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SUBMUNDO Karen Junqueira na série “Preamar”: “negócios informais” na praia de Ipanema

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TEATRO E DANÇA

Folha de S. Paulo – 30 anos em cartazCelebração do Grupo Galpão inclui remontagem em Londres e peça de Pirandello

Antonio Edson e Fernanda Vianna na remontagem de "Romeu e Julieta"

LUCAS NEVES, ENVIADO ESPECIAL A BELO HORIZONTE(10/5/12) Pense na típica família mineira: ciosa de sua história, afeiçoada a padrões de conduta sedimentados pelo tempo e cautelosa com novidades e modernismos -bem-vindos desde que não arranhem as tradições que, à moda de tapetes arraiolos e oratórios barrocos, são guardadas como relíquias.

Agora aplique esse sistema de valores a um clã teatral, o Galpão, que finaliza os preparativos para a festa dos 30 anos de sua fundação.

Surgirá uma agenda comemorativa pautada pela disposição de encapsular essa trajetória em DVDs, documentários, diários de montagens e exposição, como se quisesse desafiar a efemeridade do teatro, sugerir que ele não precisa (não pode?) ser tão volátil quanto o tempo.

Além da já anunciada participação do grupo em um festival do teatro londrino Shakespeare's Globe, na semana que vem, com a remontagem da aclamada "Romeu e Julieta" (1992), a programação balzaquiana inclui uma mostra de repertório.

Belo Horizonte (junho), São Paulo (julho/agosto) e Rio (outubro/novembro) verão a tragédia dos Capuleto e Montecchio e as três produções mais recentes da companhia: "Till, a Saga de um Herói Torto" (2009), "Tio Vânia" (2011) e "Eclipse" (2011).

"A seleção ilustra elementos pertinentes da história do Galpão", diz a atriz Inês Peixoto. "'Romeu' traduz a capacidade do grupo de manter seu repertório ativo, 'Till' é teatro de rua, usa linguagem popular. 'Eclipse' e 'Tio Vânia' têm diretores convidados e apontam para a nossa proximidade com clássicos."

Mesmo o item inédito do pacote trintão tem um pé na tradição: para seu próximo trabalho, a trupe pinçou do cânone o italiano Luigi Pirandello (1867-1936) e seus "Gigantes da Montanha". A estreia deve ser em junho de 2013. Gabriel Villela, parceiro em "Romeu..." e "A Rua da Amargura" (1994), volta a dirigir os conterrâneos.

O texto, que o dramaturgo deixou inconcluso, é uma meditação sobre a arte e seu poder de comunicar estados de alma e sensações.

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Uma companhia mambembe aporta em um vilarejo longínquo e enigmático para encenar o texto de um poeta morto, sem saber o que esperar do público. Tirando-se o elemento fantástico, poderia ser mais uma memória sacada do baú do Galpão.

'Renovar não é colocar em cena uma Julieta de 15 anos'Ator do Grupo Galpão diz que repaginação do grupo passa mais por projetos do que por mudanças no elenco

"O bom da maturidade é poder dizer: 'Vamos fazer o que queremos, não o que se espera'", afirma cofundador

(10/5/12) Se, na incursão à obra de Tchékhov empreendida em 2011, os integrantes do Grupo Galpão falavam em guinada rumo a um teatro menos festivo, mais intimista, agora o discurso sobre a repaginação da linguagem da companhia soa menos assertivo.

"A renovação acontece naturalmente, acompanhando necessidades de substituição pontual [de elenco] trazidas pela idade, pelo cansaço com as viagens. Mas é algo lento, como tudo no teatro", observa o ator Rodolfo Vaz.

"Não se trata simplesmente de chamar outras pessoas ou de colocar em cena uma Julieta de 14 anos e um Romeu de 15. É muito mais a chegada de uma nova sede [prevista para 2014; leia ao lado] ou o surgimento de um novo projeto que vai definir que renovação é essa."

A atriz Teuda Bara completa: "Não vamos mudar ou abandonar o nosso jeito de fazer teatro. Só queremos fazer outro também".

Apesar de ter se projetado com montagens lúdicas, de forte apelo visual e acenos diretos à plateia, o Galpão já enveredou pelo drama mais seco, doído, como em "Álbum de Família" e "Pequenos Milagres", lembra Eduardo Moreira, ator e cofundador. "Um dos aspectos bons da maturidade é poder dizer, em alguns momentos: 'Vamos fazer o que desejamos, não o que o público espera'. Mas isso não apaga o lado mais conhecido, da arte popular".

O que segue na mesma toada na trajetória recente dos mineiros é o comichão audiovisual. A celebração dos 30 anos prevê o lançamento dos DVDs de três peças e a apresentação de um documentário na linha "pé na estrada" e de uma compilação de curtas que é o "último suspiro" da imersão tchékhoviana.

Ainda em produção, outro documentário vai contrapor fato e criação da memória a partir das lembranças de pessoas fotografadas na plateia de uma das primeiras apresentações de "Romeu e Julieta", numa praça de Belo Horizonte. Pouco antes de assistirem à remontagem, elas dirão o que recordam, quase 20 anos depois. (LN)

Folha de S. Paulo – Fenômeno, trupe de humor mira exteriorOs Melhores do Mundo, que leva anualmente quase 200 mil pessoas ao teatro, planeja montagens na Argentina

Companhia brasiliense se apresenta hoje pela 4ª vez em Portugal e prepara primeiro longa-metragem para 2013 LEONARDO RODRIGUES(11/5/12) A ideia ganhou força em 2009, quando os integrantes da companhia brasiliense Os Melhores do Mundo souberam que o esquete do personagem Joseph Klimber, sujeito que não desiste nunca, vinha sendo copiado pelo grupo L'incrocio, na TV Itália 1.

O caso, que resultou em um pedido formal e constrangedor de desculpas, acendeu a faísca: era hora de alçar voo rumo ao exterior. "Entramos em contato e pedimos para pararem de fazer. Mas isso nos fez pensar em traduzir os espetáculos e montar com outro grupos, de outros lugares", conta Adriana Nunes, a única mulher do coletivo.

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Os planos, incipientes, incluem montar peças em Buenos Aires e se firmar em Portugal, onde a trupe se apresenta hoje pela quarta vez.

No Brasil, o sucesso é incontestável. Peças como "Sexo", "Notícias Populares" e "Hermanoteu na Terra de Godah" levam aos teatros quase 200 mil pessoas/ano, em mais de 170 apresentações.

Só para se ter uma ideia, apenas dois Estados brasileiros -Roraima e Amapá- não conhecem o humor do grupo, formado em 1995 por amigos de Brasília fanáticos por Monty Python, Trapalhões e Chico Anysio (1931-2012).

"Acho que o segredo, primeiro, é ser engraçado. Depois, falar a linguagem do povo, as coisas que estão acontecendo", diz Jovane Nunes, que sublinha o esforço em incorporar referências locais a cada apresentação.

A marca Os Melhores do Mundo já visitou a TV (no quadro "Jajá e Juju", do "Zorra Total"), rendeu dois DVDs e, em 2013, deve chegar aos cinemas, com o filme "Hermanoteu na Terra de Godah", produzido em parceria com Bruno Mazzeo e Cazé.

O trabalho da companhia levou 11 anos para adquirir projeção nacional. A mudança de patamar veio por obra do tragicômico Joseph Klimber e da repercussão de seus vídeos a partir de 2006. "Quando colocaram na internet a cena do Joseph, tudo mudou. Ganhamos uma divulgação espontânea gigantesca. Viramos artistas queridos da rede", lembra Adriano Siri.

Antes praticamente restrito ao Distrito Federal, o sucesso adquiriu vulto inédito. Casas com menos de mil lugares começaram a ficar pequenas para os espetáculos. A autoconfiança da trupe é tão superlativa quanto sugere seu nome?

"Não! Isso começou como piada, quando a avó de um dos integrantes disse que éramos os melhores. Nos achamos bons, mas nem tanto", brinca Siri.

Valor Econômico - Boom de peças cria gargalo em salas de teatro no Brasil

Por Gustavo Fioratti

(14/5/2012) Os teatros de São Paulo e do Rio estão passando por intensa disputa. Segundo produtores e donos de casas de espetáculos, o aquecimento fomentado por editais públicos e leis de dedução fiscal tem contribuído para o aumento da quantidade de peças, musicais ou não, gerando um gargalo no setor nos últimos anos. Falta espaço para dar vazão à essa programação. As filas enfrentadas pelas produções para conseguir horários ultrapassam os seis meses de espera. São comuns os casos de peças que já encerraram a fase de captação de recursos, mas não iniciam o período de ensaios porque não têm onde estrear.

Esse foi o caso da peça "Maria Miss", que vai enfim entrar em cartaz em SP no dia 22 de maio, no Teatro Eva Herz. Segundo Fernando Cardoso, produtor do espetáculo, que é baseado em texto de Guimarães Rosa e tem Tânia Casttello e Daniel Alvin no elenco, havia condições de fazer a estreia no início do ano. "Queríamos estrear no teatro Eva Herz, ou em uma casa que tivesse condições técnicas parecidas. Mas se você quer um teatro em boas condições, hoje, é preciso esperar", diz Cardoso. Ele diz que o espetáculo terá sessões às terças e quartas, os únicos horários disponíveis. "Se quiséssemos os chamados horários nobres, que são sexta a domingo, precisaríamos esperar mais."

O produtor teve de adiar também o lançamento de "Crânio", que tem texto de Lúcia Carvalho e interpretação da atriz Patrícia Gaspar, para o segundo semestre deste ano. "Não estamos conseguindo palco e só podemos começar os ensaios depois de fechar com alguma sala", explica. O espetáculo já tem R$ 250 mil captados pelo Proac, o Programa de Ação Cultura do Estado, que funciona por meio de editais.

Não existe uma pesquisa que quantifique o crescimento no número de espetáculos teatrais em São Paulo. Mas foi essa percepção que influenciou, por exemplo, a decisão da GEO Eventos de locar o

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teatro instalado no complexo cultural Tomie Ohtake, onde está em cartaz a peça "Vermelho", com Antônio Fagundes. Pelo contrato, a GEO adquire direito de comercialização do espaço.

Segundo o diretor da empresa, Leonardo Ganem, o gargalo atinge a própria empresa, que teve problemas para estrear o musical "Priscilla - A Rainha do Deserto". "O único espaço aqui de São Paulo com condições técnicas para receber o espetáculo era o Teatro Bradesco. No Rio, não estamos encontrando espaço", diz Ganem. "É um problema temporário, porque outros espaços devem abrir, principalmente em shoppings. Nós, por exemplo, temos interesse em adquirir mais um teatro", afirma Ganem, sem revelar qual seria o endereço. No Brasil, afirma, não há nenhuma outra cidade com condições de receber "Priscilla".

Cena de "Maria Miss", peça que estreia na semana que vem no Teatro Eva Herz, em SP, após meses de espera

Claudia Andrade, diretora de produção do teatro Renaissance, sentiu que o crescimento na demanda por espaços aconteceu nos últimos 12 meses. Para os horários nobres do segundo semestre de 2011, ela recebeu propostas de aluguel de 15 projetos. Para o mesmo período deste ano, já foram 30 solicitações. No Renaissance, o contrato de aluguel vale por dois meses, mas a administração do local dá preferência de reserva para quem já está em cartaz. "Se uma peça está indo bem de bilheteria, preferimos manter ela ali, por isso deixamos nossa pauta em aberto", diz Claudia. Em outras palavras, quem quiser agendar algo no Renaissance, hoje, só vai conseguir a partir do ano que vem. A casa, com capacidade para 462 pessoas, também disponibiliza outro horário, o da meia-noite, que há quatro anos está ocupado por um stand-up, o "Comédia ao Vivo". "E não há previsão de que esse show saia de cartaz, porque estamos lotando todas as sessões."

No Teatro Augusta, que tem duas salas - a maior delas para 300 pessoas-, a demanda cresceu nos últimos dois

anos, diz o proprietário, André Ferreiras. "Hoje, só podemos fazer reservas a partir de novembro", afirma. Ele diz que, além disso, já há acordos sendo fechado tanto para o fim deste ano como para o início do ano que vem. Estão em cartaz no Augusta "Senhora no Jardim", peça com direção de Fábio Rodrigues sobre uma prostituta, e "Artaud - A Realidade É Doida Varrida", encenada e interpretada por Marcos Fayad. "A alta procura nos permite escolher os espetáculos que vão estrear na casa", completa Ferreiras.

O congestionamento é mais intenso na capital fluminense. "Muitos espetáculos não vão para o Rio por falta de teatro", diz João Fonseca, diretor do espetáculo musical "Tim Maia - Vale Tudo", que estreou em setembro do ano passado no teatro Oi Casa Grande, na capital fluminense, após meses de espera. O espetáculo teve de deixar a casa dois meses após entrar em cartaz, apesar de ter conseguido vender bilhetes com até um mês de antecedência. "Estávamos com muito público e não queríamos deixar a casa, mas tivemos, porque o musical 'Xanadu' já estava na fila", diz o diretor. Depois de deixar o Oi Casa Grande, o espetáculo foi apresentado ainda no João Caetano e no Municipal. "Mas foram apresentações muito curtas, também porque outras produções já haviam feito reserva."

Para o diretor, mesmo com a inauguração do Teatro Bradesco e, mais recentemente, do GEO, ainda existem poucos espaços para espetáculos de grande porte, como os musicais. "É tão maravilhoso ver que o teatro tem conquistado espaço, mas, ao mesmo tempo, isso é desesperador. Não temos mais espetáculos estreando apenas porque não temos estrutura para isso", conclui.

Por conta da falta de teatros, os musicais que têm estreado em São Paulo não conseguem fazer ensaios nas salas onde vão estrear. "Priscilla", por exemplo, foi inteiramente concebido em uma sala

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do complexo cultural Tomie Ohtake. E Marisa Orth e Daniel Boaventura ensaiaram "A Família Addams" em uma sala do Colégio Salesiano Liceu Coração de Jesus.

Valor Econômico - "Tim Maia - Vale Tudo" é um marco no musical brasileiro

Por Zuza Homem de Mello

(14/5/2012) Desde os espetáculos de teatro de revista no Teatro Santana da rua 24 de Maio ou na sala vermelha do Odeon à rua da Consolação, ambos em São Paulo, desde os musicais da Broadway ("My Fair Lady", "West Side Story", "No Strings", "Bells Are Ringing", "Jamaica", com elencos originais nos anos 1950), entre dezenas de outros inéditos ou revivals montados em New York e Londres nas décadas seguintes, desde as primeiras montagens essencialmente brasileiras em torno da vida de cantores como Carmen Miranda, Dalva de Oliveira, irmãs Batista ou Orlando Silva, não me lembro de recepção tão radiante como a da plateia para "Tim Maia - Vale Tudo, o Musical".

Uma consagração. Não tenho dúvida de que em cada sessão, independentemente do dia e horário, o misto de aplausos e gritos de alegria se repete com a mesma intensidade no Teatro Procópio Ferreira. O público delira, viaja, sobrevoa em nuvens. É um marco nos musicais brasileiros, os não transplantados do exterior, como foi o pioneiro e maravilhoso "My Fair Lady" com Bibi Ferreira, nos anos 1960.

Como tema originalmente brasileiro, nada se compara a Tim Maia (1942-1998). O roteiro tem a virtude de não pender demais para o fantasioso ou demais para a realidade do fato

- grande dilema de um espetáculo biográfico. A ideia de entregar a narrativa a diferentes personagens é uma solução que mantém a dinâmica do espetáculo, evitando tanto a previsibilidade como a monotonia. Alguns dos personagens são definidos por inteiro com uma simples frase: "Eu sou f...". Essa era Elis. Tal capacidade de síntese só é atingida pela familiaridade que o autor do texto, Nelson Motta, tem com os personagens, com quem conviveu, imprimindo a cada um a possibilidade de ser caricaturado em seus traços mais marcantes, chegando ao hilário sem resvalar no inconveniente. Caso do Roberto Carlos com sua voz anasalada. Em suma, o primeiro dado positivo desse musical é o texto de Motta com a narrativa que consegue cobrir toda a existência de Tim Maia com tiradas espirituosas e, acima de tudo, intrinsecamente brasileiras.

O segundo trunfo são as insuperavelmente dançantes canções em vocais envolventes e arranjos instrumentais que respeitam o original sem tentar reformular o que dispensa reformulação. Assim como a Bossa Nova, que é nova sempre. Mérito para o arranjador Alexandre Elias, músicos e cantores de um elenco homogêneo onde não se consegue localizar um elemento que destoe dos demais. Cada música entra oportunamente no momento certo do texto como se tivesse sido para ele composta embora seja o oposto.

Claro que a performance de Tiago Abravanel é o destaque mais impressionante que, realçada pela direção de João Fonseca, resulta numa atuação impecável, emocionante e contagiante, atingindo o que se pode supor ser o papel de sua vida. Quem conheceu Tim Maia chega a confundi-lo com Tiago no visual, no gestual, na voz, nas nuances da interpretação, no deboche, no desprezo pelo convencional, na inconsequência e nas mudanças ao longo de sua existência, em que Abravanel literalmente engorda e envelhece sem artifício algum.

A criatividade da direção acrescida de soluções brilhantes nas sequências, a eficiência e a determinação da produção de Sandro Chaim, a iluminação, as soluções de cenário e de mutações revelam um grau de maturidade nessa realização como não acontecera na história dos musicais verdadeiramente brasileiros. "Tim Maia - Vale Tudo" é de fato o marco. De tal forma que se chega a imaginar ter sido produzido para que, numa inversão impossível, o próprio Tim Maia aí visse como seria a vida que teria de viver. E que de fato viveu.

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Resta desejar que se encontrem soluções para que esse emocionante e histórico espetáculo possa prosseguir em cartaz, viabilizando assim uma trajetória longa para o bem do público brasileiro tão necessitado de realizações vitoriosas por serem verdadeiras. Ou melhor, verdadeiras e por isso vitoriosas.

Estado de Minas – Folclore: Intercâmbio cultural

Festival internacional organizado pelo Grupo Banzé, de Montes Claros, chega quinta-feira a Ouro Preto e sexta a Belo Horizonte, depois de movimentar três cidades do Norte de Minas

O grupo Nova Veneza apresenta a cultura italiana no Festival Internacional de Folclore de Minas Gerais

Luiz Ribeiro

(15/5/2012) As danças e ritmos de diferentes países podem ser conferidos no 10º Festival Internacional do Folclore de Minas Gerais, que, depois de movimentar três cidades do Norte de Minas (Januária, Montes Claros e Pirapora), terá espetáculos em Ouro Preto (quinta-feira) e Belo Horizonte (de sexta a domingo). Ao todo, se apresentam nove delegações da cultura estrangeira, sendo quatro originais dos seus países (Senegal, Chile, Paraguai e Argentina) e cinco de etnias (colônias no Brasil): Rússia, Índia, Italia, Líbano e Portugal. Também participam nove grupos do folclore mineiro.

O evento é organizado pelo Grupo Folclórico Banzé, de Montes Claros, com apoio da Cemig, do governo de Minas e de outros patrocinadores, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura. A organizadora do festival, Jaqueline Pimenta, lembra que os grupos se apresentam sem a finalidade de lucro, apenas com o objetivo de mostrar as tradições dos povos e na busca do intercâmbio cultural. Por isso não há cobrança de cachês e os preços dos ingressos são simbólicos, servindo apenas para ajudar nas despesas da montagem dos shows, deslocamento, hospedagem e alimentação dos músicos e dançarinos.

Ela salienta que o festival acabou sendo prejudicado pela crise econômica da Europa, com a desistência de delegações da Inglaterra (de um grupo que representa a cultura indiana), República Tcheca, Sérvia e Polônia. “Os grupos europeus já estavam confirmados, mas, infelizmente, não conseguiram patrocínio para que pudessem viajar. Apesar das dificuldades, o evento está sendo um sucesso, promovendo verdadeiro intercâmbio cultural e contemplando o público com espetáculos de alto nível”, afirma Jaqueline. Ela lembra que, além das apresentações, o festival permite troca de informações, com os integrantes das delegações aprendendo mais sobre a cultura de outras nações.

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Esse intercâmbio ocorre durante as oficinas. Em Belo Horizonte, será realizada uma na tarde de sexta-feira, na Escola de Belas-Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no câmpus da Pampulha.

A primeira cidade a receber os conjuntos folclóricos foi Januária, às margens do Rio São Francisco, onde os shows foram realizados em praça pública, na quarta e na quinta-feira. No fim de semana, o evento movimentou Montes Claros. Além dos shows (apresentados à noite), no ginásio do Serviço Social do Comércio (Sesc), houve oficina no câmpus da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). Apresentaram-se o Ballet Ucrânio Kalena (da colônia ucraniana na Argentina), o Grupo Ítalo-Brasileiro de Nova Veneza (da colônia italiana de Nova Veneza/SC), Polinésio Ariki Rapa Nui (Chile) e Grupo Ballet Africa (Senegal).

As manifestações norte-mineiras também puderam ser apreciadas pelo público, com shows de cinco companhias de dança da própria cidade: Grupo Banzé, Grupo Zabelê (formado no Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernandez), Grupo Fitas (da Fundação Cultural Marina Lorenzo Fernandez/Colégio Marista São José), Grupo Saruê (formado por professores e alunos do curso de educação fisica da Unimontes) e Grupo Ginga Mineira. Este último é composto por crianças de projeto social desenvolvido pela Fundação Educacional Montes Claros e pela Escola Estadual Filomeno Ribeiro, no Bairro Cidade Cristo Rei (antigo Feijão Semeado), área carente da cidade, com elevado índice de violência.

A programação prevê, para hoje e amanhã, espetáculos na área de eventos em frente ao Rio São Francisco, em Pirapora. A cidade comemora 100 anos de emancipação político-administrativa. Na quinta-feira, haverá show na Casa da Opera/Teatro Municipal, em Ouro Preto, com a participação dos grupos Ballet Africa, Ballet Ucrânio Kalena (Argentina), Grupo Artístico Folclórico Kyre'y (Paraguai) e Polinésico Ariki Rapa Nui (Chile), além da Associação Parafolclórica Angelina Blahobrazoff (etnia russa). De sexta a domingo, os espetáculos do Festival Internacional de Folclore poderão ser conferidos no Sesc Paladium, em Belo Horizonte, sempre a partir das 20h, com apresentações de danças e ritmos do Senegal, Ucrânia, Paraguai, Chile, Russia, Líbano (Cia Brigitte Bacha – etnia), India (Chandra Kala Brasil – etnia) e Portugal (Grupo Gil Vicente, da colônia lusitana em BH). Também vão se apresentar na capital os grupos mineiros Aruanda, Sarandeiros e Guararás.

ARTES PLÁSTICAS

O Globo - Arte de rua

Avaliadas em R$ 7 milhões, três obras monumentais do mineiro Amilcar de Castro, expoente do movimento neoconcreto, ganham destaque na paisagem da cidade a partir do mês que vem

Catharina Wrede

(10/5/2012) Uma das esquinas mais movimentadas da cidade, o encontro das avenidas Rio Branco e Presidente Vargas, vai convidar à contemplação a partir do mês que vem. Além das três naves neoclássicas da Igreja da Candelária, o local passará a abrigar um imponente portal de ferro acobreado assinado pelo artista mineiro Amilcar de Castro (1920-2002). Feita em 1997, com altura equivalente a um prédio de dois andares, a escultura monumental, sem título, que hoje está em Nova Lima, Minas Gerais, é uma das três obras do neoconcretista, avaliadas em R$ 7 milhões, que ganharão destaque na paisagem do Rio em junho. As outras, que, somadas ao portal, representarão três características diferentes no trabalho de Amilcar, ficarão em pontos nobres da Zona Sul: Arpoador e final do Leblon.

A chegada das obras monumentais do artista mineiro à cidade nasce da parceria entre o Instituto Amilcar de Castro e a Prefeitura do Rio, articulada pela galerista carioca Silvia Cintra, que desde a morte do artista é a responsável por seu espólio no Rio. E, no que depender dela, as ruas da cidade serão cada vez mais povoadas por arte brasileira.

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— Eu quero que essa moda pegue! — brinca Silvia, instigando outros galeristas a seguirem seus passos. — Já não tenho mais nada para provar a ninguém. Minha galeria anda sozinha. Agora está na hora de ver meus artistas plantados na cidade.

Silvia, cuja galeria está completando 30 anos, tem uma ligação especial com Amilcar. O mineiro foi o primeiro artista a ser representado por ela, em 1982. — Ele foi importantíssimo na minha vida profissional. Além de ter sido um dos meus grandes amigos, me emprestou o olhar e a competência que ele tinha para ver arte e atuar como artista. Foi assim que aprendi a me comportar profissionalmente — conta.

O imenso portal de chapa grossa, corte e dobra vai sair de Nova Lima — cidade mineira onde está sediado o Instituto Amilcar de Castro — e chegar à Avenida Presidente Vargas sob regime de comodato de dois anos, que podem ser renovados.

— Já queríamos colocar algum monumento naquele lugar — diz Carlos Roberto Osorio, secretário de Conservação do Rio, pasta hoje responsável pelas obras de arte públicas. — O portal do Amilcar é perfeito. O local emblemático reforça a obra e vice-versa.

Outra escultura de Amilcar, “Estrela”, de 2,40m de diâmetro e que desde 1996 está instalada no Largo das Artes, no Centro, vai ganhar mais visibilidade: será instalada na Praia do Leblon,

próxima à estátua do jornalista Zózimo Barrozo do Amaral (1941- 1997), homenageado em 2001.

Iole de Freitas quer doar obra para a Lagoa

“Estrela”, de 1996, é uma réplica que o artista fez de uma escultura premiada na Bienal de São Paulo de 1953. A original tinha 50 centímetros de diâmetro. A posterior, de chapa de ferro mais fina, mas em escala maior, foi confeccionada justamente sob encomenda da prefeitura.

— O Rio foi uma cidade maravilhosa na vida do meu pai. Foi onde ele fez os melhores amigos e encontrou o movimento do qual fez parte e que culminou no Manifesto Neoconcreto — conta o artista plástico Rodrigo de Castro, responsável pela negociação dos comodatos. O local escolhido para a obra, em frente à Rua Jerônimo Monteiro, tem significado especial para a família do artista.

— Moramos durante anos nessa rua. É como se colocássemos ali uma placa do tipo “aqui viveu o artista...”—- diz Rodrigo. — O neoconcreto é carioca e nasceu ali. O pessoal ia para aquela casa e bebia, discutia... Tem tudo a ver.

A terceira obra do escultor ainda não foi definida, mas também virá de Nova Lima em regime de comodato e terá características específicas:

— Queremos que seja uma escultura de corte e chapa grossa, com cerca de 30cm de espessura. A ideia é ter três trabalhos de tipos diferentes — explica Rodrigo, que pensou no Arpoador como destino.

Nos planos de Silvia, o Rio deveria ganhar uma espécie de circuito Amilcar de Castro, com outras obras do artista espalhadas pelas ruas.

— Seria lindo, mas não dá — afirma Rodrigo. — Preciso levar as obras para exposições, comercializá-las... Não posso simplesmente doá-las em comodato ao Rio.

Três é um número bom e, acredito, o limite. Silvia, porém, segue empenhada em pôr na cidade obras de grandes nomes que representa. O próximo da lista é a escultora Iole de Freitas, que confirma seu desejo de doar uma obra, em comodato, para o espelho d’água da Lagoa Rodrigo de Freitas — local

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A galerista Silvia Cintra, articuladora da parceria entre o Instituto Amilcar de Castro e a prefeitura

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que abrigou a “Estrela” de Tomie Ohtake, instalada em 1986 e retirada em 1990, degradada por falta de manutenção.

— A intervenção de esculturas contemporâneas no espaço urbano é fundamental para a ampliação cultural do Rio — diz Iole. — Como meu trabalho lida especificamente com essa relação entre arte e arquitetura, acho que é o momento certo para colocá- lo na cidade.

Há dois anos articulando a vinda do portal de Amilcar, Silvia resolveu arcar com os custos de transporte e instalação, já que a negociação com a prefeitura estava difícil: — Era tanta burocracia para eles (a prefeitura) pagarem o frete que, se eu não tivesse me disposto a bancar, o negócio não iria acontecer.

A cargo da prefeitura ficaram, então, a preservação e a segurança das três obras. — Não haveria sentido fazer esse esforço todo para as obras serem depredadas ou abandonadas. Conto com a devida conservação — diz Rodrigo.

O Globo - A situação das obras no espaço público do Rio

(10/5/2012) A instalação das esculturas de Amilcar de Castro na cidade acontece três anos após o início de um amplo debate entre artistas plásticos, curadores, críticos de arte e representantes da prefeitura sobre a implantação sem critério e a má conservação de obras de arte no espaço público do Rio. Criada no fim de 2009, a comissão vinculada à subsecretaria municipal de Patrimônio, Patrimônio Cultural, Intervenção Urbana, Arquitetura e Design foi dissolvida. O grupo, formado por,

entre outros, os críticos Fernando Cocchiarale, Paulo Venancio Filho e Paulo Herkenhoff, foi convocado a definir regras para padronizar os pedidos de execução de obras — o que, segundo Washington Fajardo, subsecretário de Patrimônio, foi feito. De acordo com ele, os critérios continuam vigentes:A escultura de Angelo Venosa no Leme foi recuperada

— Antes da comissão, recebíamos uma média de 20 pedidos de execução por mês. Hoje, depois dos critérios estabelecidos, essa demanda diminuiu muito. Fajardo agora estuda, com o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a criação de uma comissão

propositiva, que não trabalhe mais sob demanda e, sim, traga ideias para a instalação de novas obras na cidade.

A ideia é corroborada por Carlos Roberto Osorio, secretário municipal de Conservação:

— A região portuária e o entorno do parque olímpico e do Maracanã são locais de grandes intervenções urbanísticas e é importante termos marcos de obras de arte por lá.

A Secretaria municipal de Conservação, criada em março de 2010, ficou responsável pela instalação e manutenção das obras de arte da cidade, antes sob a tutela da Fundação Parques e Jardins. A mudança, segundo Osorio, foi fundamental: agora, por exemplo, a secretaria dispõe dos equipamentos necessários para a limpeza dos trabalhos. A nova secretaria já promoveu o restauro de importantes obras da cidade que estavam em péssimo estado de conservação. Esculturas de artistas como Angelo Venosa, no Leme, Ivens Machado, na Rua Uruguaiana, e José Resende, no Largo da Carioca, foram recuperadas.

— Temos uma meta: para ganhar o 14º salário este ano, precisamos concluir 56 restauros de obras e ainda fazer a manutenção de 350 monumentos — diz Osorio.

Estado de Minas - Imagens recicladas

Escultor autodidata, Oceano Cavalcante compõe figuras sacras com garrafas PET

(10/5/2012) Muito antes de as garrafas PET serem usadas como material básico para artesanatos variados, o enfermeiro Oceano Cavalcante fazia uso delas com raro proveito. Com uma veia artística

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latente, começou a recolher, no caminho para o trabalho, objetos e outras mil e uma coisas jogadas no lixo. Pega daqui, pega dali, resolveu juntar o que recolhia pelo caminho, sem saber muito bem o que fazer. Autodidata autêntico, suas primeiras criações executadas a partir de objetos recolhidos na rua eram representações de dom Quixote e Sancho Pança. Como trabalhava há muitos anos com o mesmo paciente, aproveitava as horas de folga para compor suas figuras. Apostei nele, divulguei seu trabalho, que era realmente uma novidade, em 2006. A partir daí, ele passou a receber encomendas e a participar de vários acontecimentos culturais.

Quando Erly Hooper foi convidada para fazer parte da Casa Cor montada na Pampulha, imaginou uma representação do curso do Rio São Francisco. Chamou Oceano para colaborar e ele criou para ela a figura do santo com mais de dois metros, que deu um clima diferente e bastante cultural ao jardim. Recentemente, ele voltou ao mesmo tema, idealizando a representação do rio, numa exposição de arte reciclada que contou com vários artesãos.

O tempo passou e agora a reciclagem entrou na ordem do dia, virou moda geral. Oceano, pioneiro, continua com a mesma temática. As garrafas PET são seu material privilegiado, que ele molda de acordo com a figura do personagem que imagina, intuitivamente. A técnica é a mesma: esquentar a garrafa e modelar a figura. Ultimamente ele tem criado muitas imagens sacras – São Francisco é admiração antiga.

Está fazendo uma série de 15 santos, que serão mostrados em uma exposição. A trabalheira não é fácil. Ele leva em média uma semana para compor cada escultura, uma vez que vai compondo o conjunto com o que vai encontrando em suas caminhadas. Para fazer os rostos, arma primeiro uma estrutura de arame, que vai preenchendo com pequenos achados (botões e tampinhas de garrafa). A feição é modelada com papel machê.

O mesmo cuidado é usado com as roupas, que seguem estilo barroco, com mantos e drapeados. Nada que ele usa é industrial. As cores, os tons, são conseguidos com papel colorido. Um resplendor pode nascer de uma bijuteria encontrada na rua; os raios que nascem das mãos de Nossa Senhora das Graças são aros de bicicleta; a base que firma o São Francisco é um retrovisor de moto. Atualmente, o artista tem um ateliê em casa e quem quiser saber mais sobre seu trabalho pode usar seu endereço eletrônico: [email protected].

O Globo - É dia de feira

Maior presença de galerias estrangeiras, isenção de ICMS e boas vendas pautam a abertura da SP-Arte

Audrey Furlaneto

Um homem de terno masca chiclete sem parar e, alternando as mãos entre os bolsos e um iPhone, passa por obras dos britânicos Antony Gormley e Damien Hirst. Uma vez. Duas. Três. Tim Marlow não fica imóvel por mais de alguns segundos no estande da White Cube, galeria inglesa que faz sua estreia na SP-Arte, aberta anteontem em São Paulo. Um dos diretores da galeria, ele caminha com desenvoltura (e um sorriso de canto de lábios) entre as obras: não se passaram quatro horas, e a White Cube já vendeu mais de R$ 5 milhões.

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UMA DAS “Spot paintings” de Damien Hirst, vendida pela galeria inglesa White Cube por R$ 1,9 milhão na abertura da feira: “Estamos nos saindo muito bem, você não acha?”, pergunta o diretor Tim Marlow

O PAVILHÃO DA BIENAL, palco da SP-Arte, que triplicou de tamanho e traz 110 galerias, 21 a mais do que em 2011

— Estamos nos saindo muito bem, você não acha? — diz, radiante, antes de puxar uma gargalhada interrompida em seguida pelo mascar de chiclete.

A White Cube levou para a SP-Arte obras de Hirst — entre elas, uma das “Spot paintings” (telas de bolinhas) do artista, vendida por R$ 1,9 milhão, e uma vitrine de remédios (R$ 2,5 milhões) — além de uma escultura de Gormley (arrematada por R$ 933 mil) e um néon de Tracey Emin (vendido por R$ 156 mil).

A poucos metros dali, Luisa Strina, dona da galeria mais antiga de São Paulo (fundada em 1974), que lançou artistas como Cildo Meireles e Antonio Dias, comenta com bem menos bom humor o crescimento da feira — este ano, com o triplo do tamanho e 110 galerias (21 a mais do que em 2011).

— Acho péssimo! Gosto de feira pequena. Por quê? Porque é mais gostoso, ora — diz, enquanto pede a um dos assistentes que lhe coce as costas (“Não aí! Mais para o meio!”, ela guia). Luisa abre o sorriso quando colecionadores se aproximam. Vendeu na abertura uma série de esculturas em bronze de Edgard de Souza, uma pintura de Caetano de Almeida e uma obra de Cildo.

— Não vou falar de preço, pelo amor de Deus! — diz, ajeitando o colar de incontáveis figas, para, como afirma, “espantar o olho gordo”.

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Não é só ela que está um tanto tensa com o crescimento da feira paulistana. O carioca Ricardo Rego, dono da Lurixs, afirma ter “algumas dúvidas” sobre a forte presença de galerias internacionais na feira (são 27 neste ano, contra 14 no ano passado):

— Acho que toda competição é interessante. Um atleta só melhora sua performance quando disputa com os melhores. Por outro lado, essas galerias internacionais exercem um deslumbramento sobre as pessoas. E brasileiro é deslumbrado, né? Talvez prefira comprar algo internacional, porque está numa boa condição, com menos impostos. Falo também como colecionador. É muito sedutor ter a possibilidade de incluir um Damien Hirst na coleção. Ainda mais sem imposto. Aos moldes do que fez a ArtRio em 2011, a SP-Arte deste ano conseguiu, com o governo estadual, isenção do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) para atrair mais galerias e, claro, compradores. Embora reduza em cerca de 20% o preço das obras comercializadas na feira, a isenção é objeto de quase desdém entre as galerias estrangeiras.

— Nós decidimos vir antes de saber disso. O imposto alto do Brasil dificulta, sim, as vendas, mas não é impossível vender ainda assim — afirma Tim Marlow. Na francesa Yvon Lambert, que no primeiro dia vendeu trabalhos de Mario Testino e Douglas Gordon, o discurso era parecido.

— Quando se decide ir a uma feira ou não, não é por ter mais ou menos impostos — diz o francês Olivier Belot, diretor da Yvon Lambert. — Mesmo se o imposto estivesse valendo, seria bom vir.

No estande da galeria paulista Millan, que reúne artistas brasileiros como Tatiana Blass, Rodrigo Andrade e Paulo Pasta, foram vendidas obras por valores entre R$ 6 mil e R$ 90 mil. Sócia da galeria, Socorro de Andrade Lima diz que a feira sempre é muito boa, mas que ainda não sabe avaliar seu crescimento. — Ampliar e abrir é muito bom, mas não é preciso focar em quantidade. A Basel, que é a melhor do mundo, não cresce há décadas. São 200 galerias e ponto. Só entra uma se sai outra — lembra a marchande. — É preciso crescer com caminhos certos. Não sei, por exemplo, se os colecionadores brasileiros querem ir por esse caminho de comprar obras internacionais. É deixar de estar num universo em que se transita muito bem, o da arte brasileira, e ir para outro.

Para Socorro, a SP-Arte ficou “um pouco balançada” depois da ArtRio: — Precisaram se mexer e mostrar algo novo, o que, aliás, é muito positivo. Para a fundadora da feira, Fernanda Feitosa, o crescimento é “absolutamente normal”:

— Nunca tivemos a intenção de transformar a SP-Arte numa megafeira de 200 galerias. Crescemos 21 galerias de 2011 para este ano, não é nada demais. Temos mais espaço, sim, mas você vê que temos mais de 5 mil pessoas no pavilhão, e todas circulam livremente. Sobre a influência da ArtRio, que surgiu no ano passado e alardeou números muito maiores do que os da SP-Arte — a feira do Rio diz ter arrecadado R$ 120 milhões, enquanto a SP-Arte, no mesmo ano, vendeu R$ 30 milhões —, Fernanda minimiza: — Nós somos a feira líder do país e somos modelo para outras feiras. Estou absolutamente confortável neste papel.

Daniel Roesler, que trabalha ao lado da mãe na galeria Nara Roesler, comemorava a venda de uma pintura de Rodolpho Parigi por R$ 50 mil e outra de Cristina Canale por R$ 60 mil — as obras, segundo ele, ficaram cerca de 9% mais baratas com a isenção do ICMS (o percentual do desconto varia de acordo com o faturamento de cada empresa). O marchand parece se importar menos com o alvoroço em torno das galerias internacionais: — De certa forma, talvez ainda faça mais sentido, para os brasileiros, focar em obras locais.

Na Fortes Vilaça, que vendeu, entre outras, uma tela de Janaina Tschäpe por R$ 145 mil, a marchande Alessandra d’Aloia defende que uma feira não trata apenas de negócios: — Feira é troca, é diálogo, é dar visibilidade aos artistas e fechar exposições, por exemplo. É por isso que acredito que o mais radical aqui é a nova separação de galerias.

A marchande se refere à atual divisão da SPArte, que restringiu ao primeiro andar galerias de arte contemporânea de mercado primário (que cuidam da carreira do artista). No segundo andar, ficam as de mercado secundário, ou seja, que revendem obras. No terceiro, estão as mais jovens e um projeto curatorial assinado por Adriano Pedrosa — quatro curadores foram convidados a montar exposições com artistas de galerias presentes na feira.

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— Não usaria a palavra separação — diz Fernanda Feitosa, já depois das 22h, no fim do primeiro dia (a feira vai até domingo no Pavilhão da Bienal). — É uma redistribuição. Isso aqui é um exercício coletivo de leitura de obras de arte. E precisamos nos reinventar.

O Estado de S. Paulo - Encontro com a arte brasileira

Museu de Seattle prepara grande mostra brasileira e exibe instalação de Sandra Cinto como preparativo

Camila Molina

(13/5/2012) Há mais de dois anos, o Seattle Art Museum (SAM), dos EUA, está de olho na arte brasileira. Em 2010, quando os diretores da instituição, uma das principais da costa oeste norte-americana, estiveram em São Paulo para pesquisar a produção contemporânea nacional, entre museus e galerias ficaram impressionados com a mostra Imitação da Água, que a artista Sandra Cinto exibia, na ocasião, no Instituto Tomie Ohtake. "Essa viagem já era parte das preliminares de um projeto do museu, o de realizar uma grande exposição de arte brasileira, que estamos programando para 2015", diz Catharina Manchanda, curadora do SAM.

Na quinta-feira, Catharina e a curadora associada do museu americano, Marisa Sánchez, conversaram com o Estado no Ibirapuera, o local que fervilhou de pessoas do meio artístico nacional e internacional durante esta semana por conta da SP-Arte - Feira Internacional de Arte de São Paulo, que termina hoje no pavilhão da Bienal. Vieram a convite do programa do evento, aproveitaram a oportunidade para "pesquisar" - Catharina ainda ia ao Rio; Marisa, iria depois para o Instituto Inhotim, em Minas Gerais. O SAM quer investir no projeto da mostra de arte brasileira. Afinal, já está investindo.

No último dia 14 de abril, Sandra Cinto inaugurou no Olympic Sculpture Park Pavilion do museu de Seattle a instalação Encontro das Águas, desdobramento da obra que realizou em 2010 em São Paulo e que ficará em exposição no local até maio de 2013. "Pensamos que seria importante para nós convidar artistas seminais, como a Sandra, para fazer um projeto antes no museu, como uma forma de introduzir a importância da arte brasileira aos visitantes, sobretudo, o público do noroeste dos EUA, que nunca viu nada do Brasil", diz Catharina. "Foi o começo de uma relação mais profunda."

Sandra Cinto é a primeira brasileira a expor no SAM. O trabalho da artista é um grande painel, com um desenho que recria um mar em tormenta sobre fundo azul e traços feitos com canetas permanentes à base de óleo em tonalidades de prata. As ondas remetem às das gravuras ukiyo-e do japonês Katsushika Hokusai (1760-1849), mas a obra, em seu sentido poético mais geral, tem como referência o famoso quadro A Balsa de Medusa, do francês Théodore Géricault (1791-1824).

No pavilhão de vidro do parque de esculturas do SAM (que tem peças permanentes de Calder e Louise Bourgeois, por exemplo), a obra de Sandra, formada pelo painel desenhado e por um barco instalado no espaço, fica de frente para o Oceano Pacífico. "A ideia era colocar o observador na condição de náufrago da sociedade contemporânea no meio do mar real e o virtual. Fala de tragédia, mas sem perder a poesia", diz Sandra. A artista já viaja para os EUA novamente, para inaugurar neste sábado uma instalação na The Phillips Collection em Washington.

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Seu Encontro das Águas foi uma experiência coletiva, criada como "um bordado" por duas semanas e com a participação de assistentes e de 18 voluntários. "A obra de Sandra está introduzindo a arte brasileira em Seattle de uma maneira monumental", diz Marisa Sánchez. Por enquanto, como conta Catharina Manchanda, não há nenhuma obra de artista do Brasil no acervo (de seções históricas e culturais, europeia, moderna e contemporânea) da instituição americana - formada pelo museu de arte, museu de arte asiática e pelo parque de esculturas. A grande exposição brasileira programada para 2015 poderá alavancar aquisições para o SAM.

"Quero que a exposição tenha um capítulo sobre o momento concretista, com conexões da arte com a música, a arquitetura e o design; e outro tendo como ponto de partida o desenvolvimento fascinante da arte brasileira no contexto político do fim dos anos 60 e reverberando para a arena contemporânea", diz Catharina, completando que a mostra será acompanhada de catálogo com textos de profissionais brasileiros convidados. "Na arte internacional produzida hoje, parece-me que vemos muitas das coisas formuladas no Brasil no final dos anos 60, uma arte de conexão com a vida, uma estética que tem uma potência política e social", continua a curadora, que citou "curiosidade", por exemplo, sobre obras de artistas como Erika Verzutti e Laura Lima.

O Globo - Caixa exibe a trajetória poética de Milton Dacosta

Exposição apresenta 45 obras de todas as fases do artista

Catharina Wrede

(15/5/2012) O trabalho do artista plástico Milton Dacosta (1915-1988) sempre despertou a atenção da crítica. Ao longo de sua vida, escreveram sobre ele Mario Pedrosa, Antônio Bento, Ferreira Gullar, Roberto Pontual, entre outros. Esse interesse permanece mesmo após a morte do artista, e sua obra tem recebido análises de críticos como Ronaldo Brito, Paulo Venancio Filho e Maria Alice Milliet. Pela relevância que seus trabalhos suscitam, a Caixa Cultural abre hoje para o público a exposição “Milton Dacosta, a construção da forma”, com um conjunto de 45 obras realizadas desde a década de 1930 até o fim de sua vida.

De acordo com a curadora Denise Mattar, a mostra não tem a pretensão de fazer uma retrospectiva da carreira de Dacosta, mas sim de traçar um “percurso poético” do artista:

— O espaço expositivo não me permite fazer uma retrospectiva, pois a mostra teria que ter muito mais obras. Mas pude dar uma pincelada de cada momento significativo da trajetória dele.

A exposição começa com as primeiras produções de Dacosta. Nessa parte, estão retratos e paisagens impressionistas nos quais já ficam evidentes, segundo Denise, certas características que o acompanhariam por toda a vida: o senso de construção formal, o desinteresse por temas regionais e a capacidade de captar a essência dos assuntos escolhidos.

Em seguida estão as obras da década de 1940, figuras de pescoço longo e cabeças ovaladas nas quais percebe-se a influência da escola de Paris, especialmente de Cézanne, Modigliani e De Chirico.

— Mesmo eu, que já era muito familiarizada com a obra do Milton, fiquei encantada ao ver todos esses trabalhos juntos. O fim da década de 1940 e o início dos anos 1950 foram muito importantes na obra dele e, dessa fase, pude trazer três obras da série “Pintura metafísica”, que são belíssimas.

A pintura como abstração

Os três trabalhos, “Carrossel”, “Ciclistas” e “Piscina”, são da época em que Dacosta estava bastante influenciado pelo cubismo, com figuras de traços muito marcados. Os anos 1950 estão representados por trabalhos construtivistas, considerados, segundo a curadora, os mais importantes de sua obra.

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“CARROSSEL” (1950), uma das três telas da série “Pintura metafísica

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Foi nesse período que Dacosta representou o Brasil na XXV Bienal de Veneza e recebeu o prêmio de melhor pintor na II Bienal de São Paulo com a obra “Construção”.

A mostra segue reunindo os trabalhos da série seguinte, caracterizados pelo abstracionismo. — É interessante, porque ele dizia que toda pintura era abstrata. Mesmo as figurativas ele dizia que eram abstrações da realidade — conta Denise.

Foi durante esse período que Dacosta produziu séries monocromáticas, como vermelho, roxo, azul, marrom e, por último, branco.

— Como o branco era, para Milton, o máximo a que se podia chegar, ele terminou a série e voltou para a pintura figurativa — lembra a curadora. São desse momento — fim da década de 1960 até seus últimos anos — telas que evidenciam sensuais imagens de Vênus. A obra desse período foi, de acordo com Denise, um sucesso de vendas, mas completamente rejeitada pela crítica.

— A característica mais interessante de Milton Dacosta é que ele era uma pessoa com uma trajetória muito individual numa época em que todos os artistas seguiam um percurso parecido — reflete a curadora.

Valor Econômico - Maria Bonomi apenas para os franceses

Por Daniela Fernandes da Costa

(16/5/2012) O mundo dá voltas, como se costuma dizer, mas em alguns casos isso pode levar 45 anos. É o que aconteceu com a artista plástica ítalo-brasileira Maria Bonomi, conhecida por seus painéis monumentais no Memorial da América Latina ou na estação Luz do metrô, em São Paulo. Após ter conquistado, com várias gravuras, o prêmio Jovem Artista na 5ª Bienal de Arte Moderna de Paris, em 1967, ela está de volta à capital francesa, onde apresenta atualmente sua primeira exposição individual na cidade.

A mostra reúne obras emblemáticas de sua longa carreira, que a consagrou como uma das mais importantes gravuristas do Brasil. Entre elas, algumas das que foram premiadas em Paris há mais de quatro décadas, como "Liberdade Condicional", "Berlim", "Águia" e "Mechanicus". Naquela época, Maria Bonomi havia dividido o espaço na Bienal parisiense com artistas como Hélio Oiticica (1937-1980) e o colombiano Fernando Botero.

Essa primeira mostra individual - realizada na Maison de l'Amérique Latine, nas proximidades da Praça da Concórdia - tem um sabor especial para Maria Bonomi, de 77 anos, por marcar o retorno a Paris da artista que se define como "off Broadway" por preferir não frequentar o circuito de exposições oficiais e de galerias de arte.

"São obras premiadas, que circularam pelo mundo e que agora estão reunidas em Paris. Quando uma obra tem conteúdo, ela se impõe em vários mercados e passa a existir pelo que ela representa", diz Maria Bonomi, referência quando o assunto é esculpir sulcos na madeira, técnica que aprendeu com artista plástico Lívio Abramo (1903-1992).

Diferentemente de sua primeira passagem profissional por Paris, ela não precisou, décadas depois, lutar para que suas gravuras, com cerca de dois metros de altura, sejam expostas nas paredes em vez de vitrines, como era comum naquela época.

Desta vez, até a fachada do elegante prédio da Maison de l'Amérique, do século XVIII, foi decorada com duas obras da artista - "Balada do Terror", de 1970, uma grande faixa vermelha "presa" em formas escuras, e "Sex Appeal", uma xilografia de 2,30 metros por um metro com desenho que lembra uma árvore. Essas duas enormes gravuras na fachada do prédio parisiense se referem a dois temas de sua predileção: a política (ela foi presa pela ditadura militar em 1974 após viagem à China) e o universo da sensualidade feminina.

A exposição na Maison de l'Amérique Latine conta com várias gravuras de tamanho grande, o que causou, aliás, alguns "sofrimentos" na equipe para instalar as obras. Como o espaço é bem mais limitado do que o da mostra realizada no ano passado em Brasília, que contava com mil metros

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quadrados, a opção foi apresentar ao público francês as obras "mais expressivas", que retraçam as principais etapas da artista, diz Jorge Coli, curador da exposição em Paris.

São gravuras como "O Pente" (1993) e "A Ponte" (2011), que, apesar dos 18 anos de distância, foram realizadas na mesma matriz. A primeira é uma estrutura com dentes que parecem estar ligados a um grande eixo curvo. Para criar depois "A Ponte", esculpida na madeira, a artista ampliou a ideia de curvas, associando outras pequenas matrizes menores e irregulares em aço que criam linhas sinuosas e dão a ideia de águas revoltas. Fiel à sua característica de fazer o inverso do que é esperado, a ponte da obra é azul e a água é negra.

A técnica utilizada em "Ponte" inspirou outro tipo de trabalho da artista: o recorte em metais, feito a laser, que cria verdadeiras esculturas. Elas podem ser vistas na "sala vermelha" da mostra, como foi batizado o espaço com peças desse tipo, como a série Quadrantes, com formas semiesféricas ou ainda "Águas Sólidas", feita com chapas de alumínio. "As matrizes que serviram para criar a água da gravura da ponte resultaram em outra inspiração, que criou obras em metal autônomas e originais", diz Coli.

Para Maria Bonomi, a gravura não é uma técnica e sim uma linguagem de expressão artística. Ela diz que Paris deixou de ser um importante centro mundial da gravura por existir hoje uma "desconfiança" com o suporte em papel. "É culpa dos artistas que não emigraram para outros suportes", diz ela, acrescentando que as pessoas normalmente confundem gravura com reprodução.

Outra obra importante exposta em Paris é "Tropicália" (1994), uma gravura de dois metros de altura por um de largura, ligada ao tema do prazer feminino. Nessa obra, a artista utiliza inúmeras matrizes pequenas, com cores como vermelho e verde, e formas circulares. "Esse trabalho é muito interessante porque foge da ideia de uma matriz fixa, sobre a qual o papel vai ser impresso. As pequenas matrizes funcionam como carimbos e constroem uma forma visual com efeitos vibrantes internamente", diz Coli.

Mas antes de ver tudo isso o visitante inicia a exposição em uma sala que recria um pequeno calabouço, com gravuras de caráter político e que abordam a ditadura militar. A exposição, que totaliza cerca de 40 obras, também tem um espaço ligado à literatura, com um texto do poeta Haroldo de Campos sobre a xilografia, com várias obras desse tipo. E apresenta ainda quatro grandes matrizes em madeira, com cores, que Maria Bonomi utilizou na criação de suas gravuras.

As relações entre a artista e a França levaram anos para ser reatadas, mas não vão se resumir a esta exposição, que fica em cartaz até 15 de setembro. Maria Bonomi foi recentemente convidada pelo renomado designer francês Philippe Starck para trabalhar em um projeto comercial em São Paulo. Ela preferiu não dar detalhes sobre o empreendimento, mas dá uma ideia do que poderá ser o seu trabalho: relevos em concreto. "Fui convidada pelo Starck para fazer a sensorialização das paredes."

Esse seu novo projeto em São Paulo se insere em sua visão de democratizar o acesso à arte e também da importância de criar uma interação entre o público e a obra. Desde os anos 1970, ela passou a fazer arte pública, que as pessoas podem ver na rua, sem pagar, o que a artista chama de "arte expandida para grandes plateias". "A arte tem uma função social e não pode se restringir unicamente a pequenos espaços privados", diz ela, que já realizou vários painéis monumentais em prédios comerciais e espaços públicos, principalmente em São Paulo.

"Arte pública não é uma escultura colocada numa praça. É uma obra que se integra ao espaço e que cria uma referência visual, com impacto sobre quem passa no local", diz. Quem circular pelo Boulevard Saint-Germain para ver as duas obras de Maria Bonomi na fachada da Maison de l'Amérique Latine terão a oportunidade de aplicar na prática o conceito da artista.

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Maria Bonomi expõe suas gravuras em individual na Maison de l'Amérique Latine, 45 anos após ter recebido o prêmio Jovem Artista na 5ª Bienal de Arte Moderna de Paris; com curadoria de Jorge Coli, mostra retraça fases da artista

Estado de Minas – Antologia criativa

Nuno Ramos abre mostra em BH com série de trabalhos que resumem sua trajetória, com desenhos, instalações e pinturas. Artista diz que mantém parceria produtiva com Minas

Sérgio Rodrigo Reis(16/5/2012) O artista plástico Nuno Ramos, diante do Brasil, “um país onde tudo está pronto e não está, onde há ainda muito o que fazer”, se deleita. “É o mais legal daqui”, conta ele, que se alimenta desse caos, e das soluções encontradas para os problemas nacionais, para criar e conceber a própria obra, seja nas artes plásticas, na literatura, no cinema e na música. “Essa confusão é a minha estética”, resume ele, cheio de projetos em andamento nas mais variadas áreas de atuação, boa parte com interface com Minas Gerais. A abertura da exposição Só lâmina, hoje, para convidados, e amanhã para o público, no Sesc Palladium, em Belo Horizonte, é oportunidade para uma aproximação com o processo criativo do artista.

A mostra reúne 11 desenhos, oito deles representações visuais de estrofes do poema Uma faca só lâmina, de João Cabral de Melo Neto. Também apresenta Luz negra, instalação feita a partir de caixas acústicas que, no chão, tocam a canção Juízo final, de Nelson Cavaquinho. Em outro momento da exposição, dois blocos de pedra, um diante ao outro, estabelecem diálogo a partir do texto escrito pelo artista e lido pelos atores Gero Camilo e Marat Descartes. “A mostra foi adquirida pelo Sesc e já circulou por mais de 40 cidades. É, essencialmente, meu pé na estrada. Tentei propor uma antologia, dando conta da diversidade de gênero e linguagem com que trabalho”, explica Nuno, que estará presente na abertura.

São grandes os projetos aos quais o artista se dedica atualmente. Além de letras de canções, feitas em parceria com Rômulo Froes e com Clima, que deverão se desdobrar em discos em breve, flerta

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Artista plástico, escritor, compositor e cineasta, Nuno Ramos prepara novos projetos que serão vistos no Rio de Janeiro e Belo Horizonte

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com a literatura, quase diariamente. Autor premiado com várias obras publicadas, entre elas o livro de contos Ó e o de poesia Junco, ambos da Editora Iluminuras, ele prepara para ano que vem Os sermões, livro poético ambientado em Ouro Preto. “É verso, mas prefiro chamar de prosa entrecortada. Será um livro longo, erótico e o nome é referência a um personagem que, quando vai à praia, sobe num banquinho e começa a fazer seu sermão”, adianta.

No entanto, são os projetos de artes visuais que mais o aproximam de Minas. “A cada 15 dias estou aí, culpa do Allen Roscoe”, diz ele, citando a parceria com o arquiteto mineiro que o tem ajudado a tirar do papel a maioria de suas obras. “É um privilégio trabalhar com ele. Me dá segurança, entro com as ideias e ele com a execução, que não é só o lado mecânico do processo, mas também o criativo. Depois que entrou na minha vida, tudo melhorou.” Como trabalha com projetos inéditos, a maioria deles concebidos no limite físico dos materiais empregados na elaboração das peças, a contribuição do arquiteto, que também é engenheiro mecânico, tem sido primordial. Durante muitos anos, Allen manteve parceria semelhante com escultor Amílcar de Castro (1920-2002).

No chão As soluções para os projetos desenvolvidos para a exposição que Nuno Ramos planeja para agosto, na Celma Albuquerque Galeria de Arte, em Belo Horizonte, têm sido desenvolvidas em Nova Lima pelo arquiteto. “Estou com o coração nela”, avisa Nuno, que vai, literalmente, quebrar todo o chão da galeria para realizar uma enorme instalação no espaço. Ela é inspirada em casas onde morou e na notícia inusitada de um homem que foi cavar um poço artesiano e acabou atingindo um vulcão, que passou a jorrar lava, inundando toda a região próxima ao buraco.

Cada casa onde morou será lembrada por Nuno Ramos por meio de cortes dos cômodos, que serão reproduzidos no chão da galeria mineira em tamanho real, como piscinas. Elas serão preenchidas com lama preta, outra com lama branca e, a última, com material marrom. “Vou escolher partes de cada uma das casas que surgirão do chão. É como se a lama e o que está sobre ela fossem estágios diferentes da mesma matéria. Quase como se a casa tivesse voltado a ser novamente matéria”, explica. O projeto que fará em Viena, na Áustria, no ano que vem, seguirá raciocínio parecido.

O outro projeto que está sendo desenvolvido junto com Eduardo Climachauska é O globo da morte de tudo, que será apresentado em dois momentos na Galeria Anita Schwartz, no Rio de Janeiro, em novembro. Na abertura da mostra, o visitante verá prateleiras de sete metros de altura com cerca de 5 mil objetos quebráveis, sustentando dois globos da morte em perfeito equilíbrio. Quinze dias depois, dois motociclistas ocuparão os postos dentro dos globos e farão as apresentações, desestabilizando tudo em volta e provocando a queda dos objetos. “O resultado será o segundo momento da exposição, que poderá ser visto por mais 45 dias. Tudo será amplamente documentado e catalogado”, antecipa.

FOTOGRAFIA

Folha de S. Paulo – Coleção desvela os bastidores do poderVolume que chega às bancas no domingo, 20/5, remonta em imagens a formação das elites que guiaram o Brasil

Livro destaca universo econômico, político e social do país, por meio de fotografias realizadas entre os séculos 19 e 20 (11/05/12) DE SÃO PAULO - A família imperial posa incômoda para algumas imagens que inauguram a prática da fotografia no Brasil, em meados do século 19. Mais tarde, seriam os grandes industriais a ocupar o lugar de protagonistas do poder.O 18º volume da Coleção Folha Fotos Antigas do Brasil, que chega às bancas no domingo, 20 de maio, reúne fotos relacionadas ao universo da política e imagens que ilustram aspectos da trajetória econômica do país.

A elite da década de 1940, apanhada em festa no Cassino da Urca, no Rio, também integra a iconografia da publicação, ao lado das carreatas da Era Vargas, já nos anos 1950.

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Na seção sobre a economia nacional, há fotografias das diferentes sedes que a Casa da Moeda já teve e registros de queima de sacos de dinheiro na década de 1930, expediente empregado para valorizar o café no mercado.

MÚSICA

Correio Braziliense - Gaita sob medida

O brasiliense Gabriel Grossi ganha uma harmônica fabricada para ele. Do instrumento, saiu a gravação do CD Villa-Lobos popular

Nahima Maciel

Gabriel e seu instrumento: Eu queria tirar o som mais bonito que pudesse, a nota que sonhava tirar

(10/5/2012) Difícil esbarrar em satisfação maior do que aquele experimentado quando a nota imaginada é exatamente a mesma emitida pelo instrumento. Gabriel Grossi sabia desse prazer, embora nem sempre conseguisse encontrá-lo. Por isso, trabalhar durante três anos na construção de uma gaita capaz de reproduzir os sons guardados na cabeça pareceu mágico ao gaitista brasiliense, de 33 anos. Há três anos, a Hering Harmônica, a maior fabricante de gaitas do Brasil, convidou Grossi para criar e assinar um

instrumento moldado para suas próprias expectativas. Assim nasceu a Hering 64 Gabriel Grossi, uma gaita com quatro oitavas de extensão, cor grafite e mais robusta que os modelos da mesma linha.

Reconhecimento e prestígio entram, obviamente, para o pacote de agrados proporcionado pelo novo instrumento, mas é algo muito além que Grossi realmente comemora. É a possibilidade de dispensar uma série de ajustes aos quais se obrigava par obter o com idealizado cada vez que subia em um palco. “A grande vantagem desse instrumento é que ele já vem pronto”, explica. “Em outro instrumento, se vou tocar em um show, tenho que pedir para cortar as frequências, mascarar o som do instrumento para me satisfazer e ficar mais próximo do que eu gostaria de ouvir. Agora isso não acontece.”

A gaita de Grossi tem o som mais aveludado e um bocal mais estreito para diminuir um vazamento de ar que ele considerava excessivo em outros instrumentos. Mais largo e com palheta de uma liga utilizada pela Nasa — diferente do latão de cobre tradicionalmente usado pela fabricante —, o novo instrumento também tem projeção sonora mais encorpada em relação a seus irmãos. Um monte de detalhes técnicos capazes de fermentar e fazer crescer até mesmo o entusiasmo do artista.Sonoridades

O músico ficou tão empolgado com o resultado que passou a desenvolver pequeninas obsessões sonoras como lapidar cada nota com extrema aplicação e aperfeiçoar as sonoridades. “Ela me dá mais vontade de tocar e de estudar”, conta. Grossi confessa ter passado mais tempo debruçado nos estudos desde que recebeu o instrumento. “Ele é uma inspiração para tocar.”Villa-Lobos popular é o primeiro disco, ainda não lançado, gravado com a gaita assinada. “Como é uma coisa mais erudita, que nem é tanto meu universo, mudei meu foco”, avisa. “Meu foco foi a sonoridade, eu queria tirar o som mais bonito que pudesse, a nota que sonhava tirar. Músico popular gosta de improvisar, trabalhar a sonoridade é coisa de músico erudito.”

Gravado em duo com Amilton Godoy, pianista do Zimbo Trio, o disco traz uma seleção que mistura peças folclóricas, como O trenzinho do caipira e Uma festa no sertão, e obras mais ancoradas na música erudita, caso da Bachiana Brasileira nº 5 e dos Estudos para piano. “Misturamos porque o Villa foi o grande cara do resgate do folclore.” Villa-Lobos popular também é a estreia de Godoy fora

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do Zimbo Trio. O pianista nunca havia gravado um disco sem a banda. As faixas integraram o repertório de show da dupla durante a Virada Cultural, em São Paulo, no domingo passado.

O Globo - A mais nova voz saída do caldeirão do Pará

Unindo pop, brega e regionalismos, a cantora Aíla apresenta no Rio o CD ‘Trelelê’, na abertura do festival Levada

Leonardo Lichote

(10/5/2012) A cantora paraense Aíla, de 23 anos, sabe o valor de um bom trelelê. É essa a palavra — usada para se referir a uma relação amorosa indefinida, entre o namoro e o caso descompromissado — que batiza seu recém-lançado (e bom) CD de estreia, que ela apresenta amanhã e sábado no Oi Futuro Ipanema, abrindo o festival Levada.

— É um disco pop que dialoga, de forma leve, com referências da Jovem Guarda, do brega das décadas de 1970 e 1980, e de gêneros locais, como carimbó, lambada — explica Aíla. — Não é só uma coisa ou outra, ele flerta com tudo isso dentro de um conceito pop. Por isso o trelelê, essa ideia de casinho informal.

E também porque trelelê no Pará também é como chamamos a dormência provocada pelo jambu (erva típica da culinária do Norte do país).

Dueto com Gaby Amarantos

A música de Aíla carrega, portanto, o desejo de fundir a riqueza da formação musical da região — com forte influência caribenha — e a linguagem do pop internacional. Uma característica comum a muitos artistas da produtiva e talentosa cena contemporânea paraense, como Gaby Amarantos e Felipe Cordeiro.

Ambos, aliás, presentes no CD. Gaby faz dueto com Aíla em “Garota”, clássico brega de Alípio Martins. Já Felipe assina a produção de “Trelelê” — repleto de timbres de teclados do brega, guitarras da guitarrada e metais latinos.

Além de Gaby, a compositora Dona Onete, ícone da música paraense, faz um dueto com Aíla numa canção sua, “Proposta indecente”.

— Quando nos conhecemos, ela estava com 70 anos e ainda não tinha gravado nenhum CD. Quando ela me falou que era compositora, pedi para me mostrar algo e a primeira coisa que ela cantou foi “Proposta indecente”. Me interessei de cara quando vi aquela senhora cantando uma música daquela (“Você pode ligar pro meu celular a hora que você quiser/ A proposta está de pé/ Pra você passar o inverno comigo/ E se a gente se der bem/ Passe o verão também”, dizem os versos). O disco, que tem o romantismo do brega, tem muito a ver com o carimbó chamegado que ela faz. Mas, para sair do óbvio, ela canta numa parte da música que é mais um rockinho que um bolero.

O CD “Trelelê” começou a nascer em 2010, quando Aíla montou um show — já com o nome do disco e com direção de Felipe Cordeiro — para pôr em prática as ideias deles sobre as possibilidades da música popular paraense e os diálogos que ela podia estabelecer com a vanguarda do pop.

Foi nesse momento que ela conheceu Gaby Amarantos — os trabalhos das duas, com personalidades marcadas, trazem pontos de contato claros. — Ela ainda estava trabalhando no conceito do disco dela (previsto para ser lançado este mês, mas que circula na internet desde a

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Cores locais: a cantora, que sobe hoje ao palco do Oi Futuro, descreve o disco como urbano, mas com os pés fincados em seu estado (“Tem a urbanidade, mas das ruas daqui, da vida daqui”)

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semana passada), num momento muito semelhante ao meu. Foi um período de trocas, bem bacana. Tanto o meu disco como o dela, têm, por exemplo, composições de Alípio Martins e Eliakim Rufino.

Rufino emplaca a irônica “Todo mundo nasce artista”, num disco que traz também um sucesso de outra figura importante da música do Pará, Pinduca — com “Dona Maria”, originalmente um carimbó, na gravação vertido para um ritmo mais lento, ganhando assim em lirismo:

— Percebemos que a letra tem uma ingenuidade que caberia numa leitura mais lúdica, menos apoiada no ritmo — explica Aíla, que faz questão de reafirmar a identidade paraense de “Trelelê”. — As músicas são todas de artistas da Amazônia, por isso o disco traz muito do Pará. Tem a urbanidade, mas das ruas daqui, da vida daqui.

O Globo - A música brasileira de duas francesas

Aurélie e Verioca lançam hoje CD derivado da paixão pelas canções do país

Luiz Fernando Vianna

Na juventude de ambas, cada qual em uma década, as francesas Aurélie Tyszblat, hoje com 37 anos, e Verioca Lherm, de 50, se apaixonaram pelas canções brasileiras de uma forma tão intensa que determinou o que seriam suas vidas a partir de então.

— Não consegui mais ouvir outra coisa que não fosse música brasileira. Ela me ajuda no dia a dia. Tudo o que eu sou está ligado a pedaços dessa música — diz a cantora parisiense Aurélie.

— O problema é esse: não dá para ouvir outra coisa. Preciso de minhas doses todos os dias — reforça a multi-instrumentista Verioca, de Montpellier.

O resultado dessa paixão em comum está expresso no CD “Além des nuages”, lançado na França em novembro passado e que chega agora ao Brasil. A dupla Aurélie & Verioca faz show hoje, às 21h, no Centro Cultural Carioca.

O trabalho é original, pois não consiste em mais duas estrangeiras cantando sucessos brasileiros. Das 13 faixas do disco, apenas duas não foram compostas por elas do zero: uma versão em francês de “Canto de Ossanha” (Baden Powell/Vinicius de Moraes) escrita por Aurélie, e uma le tra, também em francês, que ela fez para “Dos anjos”, música de Guinga que era apenas instrumental.

— A gente brinca com o Guinga que fica com a perna machucada quando ouve as músicas dele. A cada música é um “que beleza!” e um soco na perna. Nosso primeiro show juntas foi só com o repertório dele — conta Aurélie, que teve a participação do violonista no CD, mas não terá no show (ele está tocando no exterior), no qual também interpretará “Chá de panela”, do autor e de Aldir Blanc.

A cantora e letrista conheceu a música brasileira graças ao pai, o pianista e pintor Michel Tyszblat. Decidiu estudar o assunto e numa oficina, em 2002, conheceu Verioca. A violonista que se tornou também cavaquinista e percussionista tinha sido contaminada aos 18 anos ouvindo Villa-Lobos. Depois, viu shows de Tania Maria e Monica Passos, cantoras brasileiras radicadas na França, e passou a fazer viagens frequentes ao Brasil para ter aulas com instrumentistas daqui e comprar discos.

Versos em português

Na canção “Será que eu sou francesa?”, a única com letra sua, ela lista alguns de seus ídolos: Elis Regina, Edu Lobo, Djavan, João Bosco, Dori Caymmi, Fátima Guedes e outros. São versos em

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AURÉLIE (no alto) e Verioca cantam no Centro Cultural Carioca

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português, o que também predomina nas letras de Aurélie, que estudou a língua por dois anos — Verioca aprendeu ouvindo música. Começaram a compor juntas em 2010. “Reconciliação” é um destaque.

— É curioso, porque nossa música não é francesa e não é vista como brasileira. Mas nós a consideramos brasileira — ressalta Aurélie.

Participam do show de hoje a cantora Paula Santoro, o pianista Rafael Vernet e a flautista Aline Gonçalves, que estão no CD — assim como Casuarina, Philippe Baden Powell e Marcelo Pretto.

Correio Braziliense - Guinada rumo ao popMaíra de Deus Brito(11/5/2012) No encarte do novo disco, Não tente compreender, Mart’nália alerta os desavisados: “Mudei de poesia e fui pro pop, sem cuíca, pandeiro e tamborim”. A transformação tem justificativa. “Não posso fazer a mesma coisa sempre, senão, criam aquele rótulo, e eu quero justamente me desfazer disso. Na verdade, eu não mudei, só estou fazendo de um outro jeito. Esse CD também é uma homenagem ao meu Ovídio Brito, que fez a passagem no fim de 2010. Foi ele quem me ensinou a tocar pandeiro, tamborim”, explica.

Ou seja: o samba não deixou Mart’nália. “Isso não tem possibilidade”, resume a artista carioca que, para fazer o novo trabalho, decidiu até trocar os integrantes de sua banda. Da antiga formação, só ficaram Luiz Brito (filho de Ovídio, responsável pelo percussão e cavaco) e Analimar Ventapane (vocal), sua irmã. “É nepotismo musical!”, gargalha, com seu bom humor típico. Ivan Machado (contrabaixo), Antonio Guerra (teclados), Tuca Alves (violão e guitarra), André Siqueira (percussão), Theo Zagrae (bateria) e Jussara Silva (vocal) completam a trupe que participou das gravações no estúdio e estará nos shows da turnê.

“Não tente compreender é uma guinada, uma libertação, um excesso de carioquice. Esse jeito carioca me faz cantar o que eu quiser. Já cantei rap (com Emicida), jazz em francês (com Madeleine Peyroux). Enquanto eu posso mudar, vou mudando”, comenta. Os compositores Nando Reis, André Carvalho, Junior Almeida, Marisa Monte e Lula Queiroga completam a lista de novidades do CD que, assim como Mart’nália, não deixou suas origens. Zélia Duncan, Moska, Caetano Veloso e Mombaça — parceiros que estiveram em trabalhos anteriores — voltaram em Serei eu?, Namora comigo, Demorou e Que pena, que pena… respectivamente. O pai, Martinho da Vila, não podia ficar de fora e marcou presença na melancólica Reversos da vida.

Entre amigosDjavan, outro velho amigo, está em vários momentos de Não tente compreender. Ele assina a direção e produção musical do disco e participa dos vocais de Namora comigo. Além disso, Max Viana, seu filho, é o compositor e violonista de Itinerário. Foi em fevereiro do ano passado, depois de um show no Vivo Rio que Dija, como é chamado por Mart’nália, ouviu o convite para comandar o novo disco da cantora.

“Fiz o DVD/CD Mart'nália em África ao vivo e já estava pensando em um novo trabalho de estúdio. Dija é meu companheiro das antigas. Dele, gravei Celeuma, Alegre menina, e canto os sambas dele há muito tempo. Ele

têm uma assinatura carioca, por mais que seja de Alagoas. Eu estava tomando umas cervejas no camarim e falei: ‘pô, você não quer me produzir não?’. Daí, no dia seguinte perguntei de novo. Na terceira vez, ele disse: ‘Fala sério, o que você quer comigo?’. E respondi: ‘quero você no meu novo CD’. E ele topou”, conta Mart'nália.

Em 12 de maio, ela inaugura a turnê no Rio de Janeiro (Vivo Rio), de onde segue para São Paulo (dia 17) e Belo Horizonte (sem data definida). “Quero levar esse som para o palco e transformá-lo em

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Mart'nália: "Não posso fazer a mesma coisa, quero me desfazer disso"

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DVD. Em Brasília, já toquei no Clube do Choro, no Centro Cultural Banco do Brasil, e quero voltar”, avisa.

O Globo - João Bosco por ele mesmo

Homenageado do Prêmio da Música Brasileira e celebrando quatro décadas de carreira, o compositor reflete sobre a sua trajetória em CD e DVD

Leonardo Lichote

(12/5/2012) As quatro décadas de carreira (“Agnus sei”, parceria com Aldir Blanc, foi lançada encartada no “Pasquim” em 1972) e a homenagem no Prêmio da Música Brasileira deste ano (13 de junho, no Teatro Municipal, com participação de artistas como os que o celebram nas frases do quadro ao lado) impõem a João Bosco uma reflexão sobre sua trajetória. E ele a fez. Sem a rigidez de biografia, fluido como seu violão, o DVD/CD “40 anos depois” (Universal) conta essa história de forma única. Porque em vez de simplesmente escolher um punhado de canções mais representativas de sua carreira e suas fases, o compositor vai mais fundo, estabelecendo relações (insuspeitas ou claras) entre músicas, personagens e épocas que revelam muito de seu olhar e, consequentemente, de sua vida e música. Natural, portanto, que o início do relato musical de João documente mais que sua estreia oficial. É o falsete de Milton Nascimento sobre a guitarra de Toninho Horta que abre a história, em “Agnus sei”. Ali estão representadas a música e a alma de Minas Gerais, que formaram o compositor desde seus tempos de estudante em Ouro Preto.

— É de Minas que vem meu lado de melancolia, de densidade, mais barroco. Isso está em “Agnus sei” — conta João, aos 65 anos. — Milton tem muito a ver com isso. Fiz inclusive uma introdução para essa regravação que, na verdade, ele que fez, porque compus pensando no canto dele. E foi tudo no take um, ninguém sabia o que aconteceria no estúdio, nada combinado. Quando acabou, Toninho (que participa também de “Bodas de prata”) falou com Milton: “Bituca, agora bateu uma saudade.” Mosaico unindo Minas e Rio Falar de Milton — presente no repertório do DVD como compositor de “Tarde” e “Lilia” (com participação de Cristóvão Bastos), feitas naquele período inicial — é a chave para a pré-história daquela trajetória iniciada em 1972: — Quando cheguei a “Agnus sei”, já havia me preparado muito. Conheci Vinicius em 1967. Ele viu algo em mim e fez uma letra no mesmo dia. Em 1969, conheço Aldir Blanc e, em 1971, Vinicius me apresenta a vários compositores, numa reunião em sua casa onde estavam Toquinho, Jobim. Ali, já tinha “Agnus sei”, “Bala com bala”, “Caça à raposa”...

De Minas ao Rio, então, o disco — gravado ao vivo em estúdio — continua com “Plataforma”. Parceria com Aldir, João vê na canção, junto com “De frente pro crime”, um documento de sua chegada à cidade. — É outra ambientação, outro dia a dia, diferente de Minas. A melancolia mineira somada à descontração carioca é que vai formando esse mosaico da minha música. É a densidade, mas também a síncope, a alegria do samba, o suor da africanidade — afirma. — Em “De frente pro crime”, Aldir me apresenta o Rio, e eu mostro a ele como um mineiro vê aquilo. Convidei o Trio Madeira Brasil para essas duas por isso (em “De frente pro crime”, Roberta Sá também participa). Queria o som das cordas cariocas, o regional, essa impressão que mantive do Rio naquela época. É sempre o filtro do olhar de João que aponta os caminhos de “40 anos depois”. Ele cita (o compositor espanhol) Manuel De Falla ao tocar Milton, relacionando-os (“Em Valencia, vi o busto de De Falla e a primeira pessoa que imaginei ao lado dele foi Milton, mas nem eu mesmo sei por quê, só sei que eles estão ligados para mim”); reinventa “Fotografia” com balanço (“Sempre ouvi na melodia uma coisa da música negra americana, meio Stevie Wonder”); evoca sua latinidade via João Donato, convidado em “Drume negrita” (“Ele tem um conhecimento gigantesco, discos raríssimos que ouço quando vou à sua casa, e em sua música ele reduz esse universo expansivo ao essencial”, louva João, notando que o pianista aproxima Cuba e Japão no solo que fez para a canção); canta “Tudo se transformou”, de Paulinho da Viola, apontando seu parentesco torto com “Chega de saudade” (“Harmonicamente, são universos afins, mas se ‘Chega de saudade’ é a esperança, ‘Tudo se transformou’ reduz a esperança a zero”).

— Quando você começa a pensar na sua vida, muitas pessoas vêm à mente — conta João, sobre o repertório. — Caymmi não entrou dessa vez porque já falo dele todo dia. Mas nunca tinha gravado Nelson Cavaquinho (que entrou com “Dona Carola”). “Pra que mentir?” (de Noel Rosa) também

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sempre mexeu comigo. No disco, João também fez recortes originais sobre as suas próprias canções, aproximando clássicos, lados B e sua produção mais recente:

— “Trem bala” (parceria com Antonio Cicero e Waly Salomão) entra no disco ao lado de “Tanajura” (com Francisco Bosco) e “Jimbo no jazz” (com Nei Lopes). É o mesmo grupo afro, em que exercito uma rítmica afro-brasileira, uma das faces do meu trabalho. “Bom tempo”, de Chico Buarque (com participação do autor, que canta também em “O mestre-sala dos mares”, de João e Aldir), foi pinçada para o CD/DVD por um detalhe da vida pessoal do mineiro.

— Meu pai era tricolor, sou o primeiro filho homem depois de uma sequência de cinco mulheres. Lembro dele ouvindo jogos no rádio. E, obviamente, esperava que eu fosse tricolor. E acabei virando Flamengo por causa do Dida, que tinha um topete como o do Elvis. Eu achava que Elvis jogava no Flamengo — recorda João, rindo. — Um dia, jovem, fui num show aberto de Chico e ele cantou “Bom tempo” (“Satisfeito, a alegria batendo no peito/ O radinho contando direito/ A vitória do meu tricolor”). Pensei: “É o filho que meu pai queria ter, um dia vou cantar essa para meu pai ficar mais feliz.”

No fim de “Bom tempo”, sambamaxixe com sabor da primeira metade do século XX, são enfileiradas, em ritmo de desfile, citações de sambas antológicos, como “Aquarela do Brasil” e “Na Baixa do Sapateiro” (“Termina com esperança, final de filme do Chaplin”, define João ). É o complemento da ideia que ele evoca ao trazer “Caça à raposa” ao disco. — Quando Elis gravou, ela me disse:

“Hoje gravei uma música que me estimula a ir para a frente.” Só mais tarde entendi. É uma música que fala de recomeçar todo dia. Como as epidemias, a lua, as paixões, o fogo. É preciso recomeçar quando se apaixona e quando se queima. Na segunda parte, ela dá o impulso de que Elis fala. E quando chega na parte mais alta, lá em cima, recomeça-se, com o que você precisa lá embaixo — diz. — Quando canto “Caça à raposa”, fico mais seguro. Que venham os 50, 60 anos depois.

O Globo - Nova geração reaquece a cena do forró

Depois do ‘boom’ do fim dos anos 1990, gênero ganha festas, prêmio, rádio e até raves por todo o Brasil

Leonardo Lichote

(13/4/2012) Silenciados, a zabumba, o triângulo e a sanfona nunca foram. Mas, depois do boom do forró na virada dos anos 1990 para os 2000, os instrumentos vinham sendo ouvidos baixinho ao longo da última década. Recentemente, porém, o volume voltou a subir. Uma nova geração de artistas e festas — aliados ao surgimento de um prêmio, uma rádio e uma grande celebração anual em torno do gênero — reaquecem a cena forrozeira.

O forró volta mudado, porém, na mão de artistas como Trio Meketréfe, Os Cabras, Trio Dona Zefa, Mariana Mello, DJs como Sergio Feijó e Messias e festas como Forrozada, Forró de Santa e Pedrada. A primeira diferença para aquela cena de então — que revelou nomes como Mariana Aydar, João Cavalcanti (do Casuarina) e Moyséis Marques — é o crescimento dos trios. Antes, formações maiores, de bandas como Forróçacana e Falamansa, eram as mais populares.

— Acredito que isso tem a ver com a queda do público após aquela fase, com o fechamento de lugares como o Malagueta (casa em São Cristóvão que era uma referência da cena na virada do século). O forró começou a movimentar menos dinheiro, e os trios tinham custos menores — arrisca Ronier Perdizio, produtor da festa Forrozada, que reúne até mil pessoas em sua edição mensal na sede do Cordão da Bola Preta (a próxima acontece no dia 2 de junho).

Will Santos, zabumba e voz do Trio Candiêiro, um dos mais populares atualmente, destaca a atração dos jovens de hoje pela tradição do forró e, consequentemente, pelo formato dos trios. Se, há dez, 15 anos, as bandas buscavam uma abordagem mais pop do gênero, agora, quanto mais “raiz” melhor.

— Mais do que nunca, essa geração de músicos é formada por pesquisadores — define o zabumbeiro de 24 anos (a idade dos músicos dos novos trios está entre 20 e 29). — Conhecemos o forró com os grupos jovens daquela geração e, a partir deles, chegamos a Luiz Gonzaga e aos trios clássicos, como Trio Nordestino, Trio Virgulino... Nossos arranjos seguem essa estética. E, nas letras,

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a temática é a mesma: situações dos bailes, o amor, a vida no sertão. Damos um tratamento um pouco mais atual, mas no fundo tudo vem dos antigos.

O Candiêiro — baseado no Rio, mas formado por dois mineiros e um paulista — foi apontado como melhor trio na premiação Destaques do Forró, que teve sua primeira edição realizada no ano passado (o grupo também ganhou pelo intérprete e pelo zabumbeiro). Com voto popular, o prêmio tem mais cinco categorias, além das três citadas: trianglista, sanfoneiro, show especial, DJ e música.

O desejo pela tradição se reafirma nas chamadas festas roots, grandes raves de forró realizadas por todo o Brasil em espaços como sítios. Na visão de Perdizio, foram essas festas que acabaram determinando um novo padrão, mais profissional, para os eventos do gênero. Uma profissionalização que é apontada como um dos principais motivos para o reaquecimento da cena.

— É algo que vem de 2010 para cá, esse aumento na qualidade dos eventos. As produções se renovaram, vieram com outras ideias, há um empenho maior em atrair público — explica o DJ Darvyn Orlan, vencedor na categoria DJ no Destaques do Forró. — Cada festa tem uma identidade visual, uma forma de usar as redes sociais. O mesmo fenômeno se dá, acredita Darvyn, com relação ao comportamento dos DJs:

— Antes, a preocupação era basicamente com a pesquisa — diz Darvyn, que participou daquele primeiro boom como músico e produtor. — Agora, a parte técnica melhorou, assim como a abordagem da pista. Começamos a usar técnicas de dinâmica de pista, mixagem, que aprendemos com música eletrônica, hip-hop. E também, além da pesquisa, temos material novo para tocar, dos trios de hoje.

Tanto o material novo quanto o antigo podem ser ouvidos na radio Forró Pesado (na internet, em radioforropesado.com. br). Ao vivo, além das festas mensais e semanais espalhadas pela cidade, há um grande encontro anual. A revalorização do gênero fortaleceu a comemoração do Dia Nacional do Forró — no ano passado, o 13 de dezembro foi celebrado na Praça Tiradentes, com 11 shows, 4 DJs e um público de 5 mil pessoas. Outras iniciativas confirmam — e aproveitam — o bom momento do gênero:

— Até o fim de junho, estrearemos a Sociedade Forrozeira, uma rede social dentro do Facebook. Teremos vídeos, fotos, música, material de pesquisa de uma forma geral. Será um ponto de encontro, com ligação para outros sites — adianta Perdizio, destacando a vocação participativa do novo público do forró.

— Eles fazem campanha para trazermos determinados artistas e ajudam a definir a cara das produções.

Estado de Minas – É só o começo

Lenine mostra com o show de lançamento de Chão que ocupa lugar de destaque na transição entre o modelo da MPB tradicional e o novo momento musical e poético da canção brasileira

Ailton Magioli

(14/5/2012) Se Caetano Veloso preferiu não correr risco – no show de lançamento do CD Recanto, de Gal Costa, produzido por ele, ainda inédito em BH, ele optou por mesclar modernidade e tradição no palco – ,ao pernambucano Lenine cabe o histórico privilégio de protagonizar o espetáculo de MPB que melhor expressa o período de transição vivido entre a velha e a nova canção.

Em apresentação única sexta-feira, no Grande Teatro do Palácio das Artes, o cantor, compositor e instrumentista provou que é possível encontrar o equilíbrio para o formato, em tempos de reivindicadas mudanças, conforme prevê a própria música-chave de Chão, o disco que Lenine está lançando em turnê nacional.

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“E isso é só o começo... ”, indica os apropriados versos de Carlos Rennó, com os quais Lenine abre (a capela) e encerra o show. Não por acaso, De onde vem a canção (“Pra onde vai a canção/ quando finda a melodia?”) e Uma canção e só (“Siga cada nota até seu coração/ Só pela canção/ Tocar você”) também estão no disco-show e dizem muito a respeito da atual fase do formato.

Em palco coberto por estopa tingida de vermelho, sob três lâmpadas comuns (que piscam de vez em quando), Lenine (voz, vocais, violões e guitarras), o filho Bruno Giorgi (vocais, baixo, guitarra, delays, looper, sampler, sequencer, bandolim, dobro e motosserra) e Jr. Tostoi (guitarras, baixo, piano, metalofone e looper, que pareciam estar dando trabalho, já que passou grande parte do show agachado para controle da aparelhagem) se encarregam de dar corpo às canções (novas e antigas). Ao vivo, elas ganham impacto maior, graças ao uso da tridimensionalidade: além de caixas de som à esquerda e à direita do palco, há as propositalmente colocadas nos fundos da caixa cênica.

A direção de arte (cenário e iluminação) do show de lançamento de Chão é do mineiro Paulo Pederneiras, do Grupo Corpo, para quem Lenine fez Breu, além de preparar uma nova trilha. Sendo esta a primeira vez que o cantor não usa bateria e percussão em um show, ele ainda aproveita para se apropriar de sons cotidianos, tais como os passos de alguém ao redor da caixa de brita de seu orquidário, as batidas do coração, uma máquina de lavar e uma chaleira, além do canto da cigarra e do canário-belga.

Caymmi

Com o disco integral em cena (além da música-título, destacam-se Se não for amor, eu cegue; Amor é pra quem ama; Seres estranhos; Envergo mas não quebro, Malvadeza e Tudo que me falta, nada que me sobra), o cantor ainda recorre ao repertório antigo para conquistar os fãs. A ponte, apenas em companhia do filho, sem o violão, e com a participação dos fãs, é a primeira. A seguir vem A rede, em que Lenine aproveita para citar mestre Dorival Caymmi, em O mar.

O assédio do público feminino (“Ô trenzim de mandá com pedra!”, gritou uma fã para Lenine, que depois quis saber se era aquilo que ele realmente havia ouvido) é insistente. “Maravilhoso!”, disse outra. Lenine canta Relampiano, Leão do Norte e outras pérolas de repertório, sem deixar de confessar que Breu, que fez para o Grupo Corpo, marcou a vida dele de maneira indelével. No bis, Paciência, seguida de Se não for por amor, eu cegue, oportuna e novamente. O público quer mais, mas a noite chega ao fim. Volte sempre, Lenine.

Zero Hora – O pulo do Catto

Vencedor do Açorianos, Filipe Catto se destaca por suas performances no palco

FRANCISCO DALCOL

(14/5/12) Filipe Catto recorda muito bem do tempo em que começou a desenvolver o timbre de contratenor – vocal agudo, próximo ao feminino. Foi na infância, cantando com o pai. O que o músico gaúcho de 24 anos não tem como lembrar, mas apenas contar, é por que nasceu em Lajeado: – Minha família já morava em Porto Alegre, mas minha mãe foi me ter em Lajeado porque não tinha grana pro hospital particular na Capital. Nasci em Lajeado e, no outro dia, já estava em Porto Alegre – explica o músico, que hoje vive em São Paulo.

No dia 9, Catto foi o grande destaque do 21ºAçorianos de Música. Ele ganhou nas categorias Disco do Ano, Intérprete de MPB e Disco de MPB pelo álbum Fôlego (2011). No Açorianos de 2010, Catto já havia sido eleito Artista Revelação graças ao EP Saga (2009). No clima da conquista, o músico reencontra o público gaúcho no dia 26, com show na Capital, no Salão de Atos da UFRGS.

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– Estou emocionadíssimo pra voltar a tocar para o público gaúcho, agora com cenário, figurino e a concepção do espetáculo. Vou lavar a alma – promete.

Em 2010, Catto chegou a São Paulo para se apresentar no Sesc Pompeia. Acabou ficando por lá de vez, segundo ele, após uma decisão planejada:

– Sempre soube que acabaria morando aqui (em São Paulo). Como eu tinha lançado meu primeiro EP pela internet, esse projeto acabou alcançando uma projeção bacana. Não foi como se eu tivesse começado do zero, já havia um processo acontecendo.

Desde então, ele tem se apresentado em todos os lugares e eventos paulistanos que pode. Com um show aqui, outro ali, acabou cantando ao lado de nomes como Luiz Melodia, Leci Brandão, Elza Soares, Tulipa Ruiz e Virgínia Rosa.

– Tento fazer muitos shows. É a parte boa, porque meu negócio é palco. Tem toda uma mágica sagrada ali – diz Catto.

Em São Paulo, ainda emplacou música em novela (Saga, em Cordel Encantado, de 2011), chamou atenção por suas intensas performances e lançou, pela Universal, seu álbum de estreia, Fôlego. Catto é autor de oito canções do disco, que ainda tem composições de conterrâneos: Nei (Rima Rica Frase Feita) e das bandas Cachorro Grande (Dia Perfeito ) e Apanhador Só (Nescafé). O repertório também traz uma canção de Zé Ramalho (Ave de Prata) e uma parceria de Arnaldo Antunes com Dadi (2 Perdidos ), além de Reginaldo Rossi (Garçom).

– O que me inspira nos artistas não é o estilo de música, mas a paixão, a entrega. Eu vejo isso na PJ Harvey, no Jeff Buckley e no Nick Cave, assim como na Bethânia, na Elis, no Milton Nascimento, na Nina Simone...

Em suas composições, Catto se destaca por uma leitura particular de ritmos como tango, samba, blues e música latino-americana. Sua voz aguda é amparada por instrumentos como violão, piano, acordeão, baixo e percussão.

No palco, o músico costuma arrebatar as plateias. E Catto sabe disso, tanto que, na hora de gravar Fôlego, resolveu levar a pegada de sua interpretação em palco para dentro do disco:

– O palco é onde eu realmente existo como artista. Tudo que eu faço é para estar lá. A única coisa que eu faço é viver intensamente aquela situação.

Folha de S. Paulo – 23º Prêmio da Música Brasileira anuncia indicados

Pernambucano Herbert Lucena se destaca na lista; João Bosco será o grande homenageado (15/5/2012) DE SÃO PAULO - O Prêmio da Música Brasileira divulgou ontem a lista de indicados para concorrer na sua 23ª edição, com destaque para nomes novos como Herbert Lucena e Criolo e consagrados como Beth Carvalho, Dori Caymmi, Dominguinhos e Cauby Peixoto. A cerimônia, que acontece no dia 13 de junho, no Rio, premia artistas em 16 categorias, e terá como grande homenageado o compositor mineiro João Bosco, que completa 40 anos de carreira.

O pernambucano Herbert Lucena é o líder de indicações (quatro), entre elas as de Revelação, Cantor Regional e Melhor Álbum Regional, por "Não Me Peçam Jamais que Eu Dê de Graça Tudo Aquilo que Eu Tenho pra Vender".

Na lista estão também Chico Buarque, que concorre a Melhor Álbum de MPB ("Chico") e Melhor Canção ("Sinhá"), e Caetano Veloso, que disputa prêmios com os trabalhos "Zii e Zie ao Vivo" e "Caetano e Maria Gadú - Multishow ao Vivo".

Na disputa de Melhor Cantora na categoria que inclui pop, rock, reggae, hip-hop e funk a disputa se dará entre Marisa Monte, Gal Costa e Zélia Duncan.

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Dominguinhos concorre nas categorias Arranjador, Melhor Álbum Instrumental ("Iluminado") e Melhor Solista. Cauby Peixoto tem indicações pelos projetos "A Voz do Violão" e "Cauby ao Vivo - 60 Anos de Música".

No total são 104 artistas concorrendo, selecionados a partir de 735 CDs e 93 DVDs inscritos. Também são destaques da lista, com duas indicações cada: Osesp, Filipe Catto, Ângela Maria, Alcione, Yamandu Costa e Xitãozinho e Xororó.

Estado de Minas – Desplugado no mundo

Arnaldo Antunes reservou boas surpresas para seu Acústico MTV, em que voltou a trabalhar com o experiente produtor Liminha. Projeto gerou programa de televisão, CD, DVD e Blu-Ray

Ailton Magioli(16/05/2012) Além de praticamente refazer os arranjos das canções, algumas das quais nunca havia cantado antes – incluindo as inéditas Dentro de um sonho e Ligado a você –, Arnaldo Antunes volta a trabalhar com o produtor Liminha em Acústico MTV, cuja turnê de lançamento estreia hoje, na cidade paulista de Piracicaba.

O ex-titã, que produz cada vez mais desde que trocou a banda pela carreira solo, aceitou o desafio de incursionar por um formato meio desgastado, surpreendendo

não apenas pelo entrosamento da banda que o acompanha e reúne gente como Curumim (bateria e vocais) e Marcelo Jeneci (Vk7, mellotron, clavinete, wurlitzer, acordeom, bells e vocais), além do indispensável Edgard Scandurra (violão de aço, violão de 12, harp suzuki, talk box e vocais), com o qual já trava parceria de pelo menos 20 anos.

Mas, principalmente pelos convidados – Nina Becker, Moreno Veloso e o trompetista Guizado –, que fogem do óbvio, além de reafirmar a parceria com Liminha, que havia produzido com ele Ninguém, o elogiado segundo disco solo de carreira. O timbre grave de Arnaldo casou perfeito com o agudo de Moreno, filho de Caetano Veloso, em Até o fim.

Para fechar, o Acústico MTV de Arnaldo ainda vem devidamente embalado por um lúdico carrossel de cenário, sob uma cúpula de luzes. Gravado no fim do ano passado, em São Paulo, o novo projeto do cantor está sendo lançado em CD, DVD e Blu-Ray, depois de exibido como programa da MTV.

Outro aspecto que chama a atenção é a disposição de Arnaldo em fazer canções sob encomenda para artistas como Maria Bethânia (Debaixo d’água e Até o fim), Zélia Duncan (Alma) e Marisa Monte (De mais ninguém). Ele canta ainda Pop zen, da banda baiana Lampirônicos.

Equilíbrio “Foi trabalhoso fazer o repertório, porque queria algo representativo da carreira”, confessa Arnaldo, que aproveita o projeto para rever os 30 anos de estrada. Nos extras do vídeo, além do indispensável making of, a faixa Cabimento. “A ideia foi equilibrar sucessos com o lado B”, afirma o cantor e compositor, lembrando ainda que foi necessário testar se as canções funcionavam no novo formato.

Rocks pesados como Fora de si e Consciência, por exemplo, exigiram cuidados do autor, que, oportunamente, traz o sucesso Comida, dos Titãs, em companhia de O que. “A escolha das canções foi demorada. Quando cheguei à lista maior, levei para a banda me ajudar a depurar. Houve uma etapa em que todos puderam opinar”, recorda o cantor.

Na busca pela nova timbragem, Arnaldo contou com a ajuda indispensável de instrumentos como banjo (Chico Salém, que também toca violão de aço e náilon, lapsteel, guitarra portuguesa e guitalelê, além de também fazer vocais) e mellotron (Marcelo Jeneci). Fora a experiência do parceiro Edgard

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O ex-titã Arnaldo Antunes abre hoje, em Piracicaba (SP), a turnê de divulgação de seu novo trabalho

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Scandurra, que dá um show à parte no talk box, dispositivo usado para dar um efeito similar à voz em instrumentos musicais, normalmente guitarras e teclados, formado por um tubo que ecoa na boca do instrumentista, produzindo efeito surpreendente.

Arnaldo, que no ano passado lançou Ao vivo lá em casa, seguido de A curva da cintura, de repertório inédito, gravado ao lado do parceiro Edgard Scandurra e do malinês Toumani Diabaté, diz que sempre tem em casa material que ainda não gravou. “Sempre há o baú da hora certa”, diverte-se o cantor, alertando que disco novo, agora, só daqui a cerca de dois anos. Apesar da ausência dos convidados, a turnê do Acústico MTV deverá ocupar toda a agenda de Arnaldo, que, eventualmente, poderá substituir um ou outro integrante. Rio de Janeiro e São Paulo estão na rota do cantor, que de Piracicaba vai seguir para Curitiba, para tocar no Festival Lulapaluna.

LIVROS E LITERATURA

Correio Braziliense - Escritora brasiliense lança livro em Nova York

(10/5/2012) Pesadelos, sonhos e contos é o título de uma das obras da escritora Clotilde Chaparro Rocha (foto), que estará na Feira do Livro de Nova York. Paulista, radicada em Brasília, a escritora tem uma trajetória literária de sucesso. A obra está em formato convencional e em audiolivro (livro para escutar). “Nele, não haverá uma simples leitura das histórias, e sim uma radionovela, na qual participam atrizes e atores de Brasília”. Os textos são fruto da criatividade e imaginação da escritora, assim como as histórias que foram passadas direta e indiretamente para ela durante sua vida, como o “desassossego que se vive nos dias atuais”. O livro traz uma mistura dos contos e dos pesadelos, esses colocados pela autora na primeira pessoa do singular. “Para dar mais efeito” diz. Ela transcreve várias histórias contadas por sua avó paterna, como forma de homenagear uma pessoa marcante para toda sua família. Na Feira do Livro de Nova York – Book Expo América 2012, o livro Pesadelos, sonhos e contos será a única obra brasileira. Muito comum nos Estados Unidos, Nightmares, dreams and teles, o audiolivro está em crescimento no mercado literário brasileiro. Trata-se de um dos caminhos da literatura no futuro, além “de servir ao idoso, ao cego, às pessoas com outras deficiências e àquelas que preferem se deliciar com um livro para escutar em seu aparelho de som, inclusive em seu carro”.

Valor Econômico - Michel Laub e o contemporâneo

José Castello

Michel Laub: "Meus livros estão dentro de um nicho de histórias íntimas e memorialísticas, às vezes de formação".

(11/5/2012) Rumo aos 40 anos de idade, o escritor gaúcho Michel Laub tornou-se um dos mais importantes valores ascendentes da literatura brasileira do século XXI. Nasceu como escritor com o novo século. Nele, publicou cinco romances: "Música Anterior", de 2001, "Longe da Água", de 2004, "O Segundo Tempo", de 2006 e "O Gato Diz Adeus", de 2009, são os quatro primeiros. Lançado em 2011, seu romance mais recente, "Diário da Queda",

consagrou-o, de vez, como um narrador original e brilhante, cujos relatos se alinham no que costumamos chamar de "romances de formação". O livro desponta como um dos favoritos para os prêmios literários a serem conferidos ao longo de 2012.

Laub trabalha, no momento, em uma nova narrativa, "um texto que pode ser um conto longo ou um romance curto", que tem como tema básico a música. Mais uma vez - como em seus relatos anteriores - um livro que tem a memória como ponto de partida, mas nunca como ponto de chegada. Depois de passagens bem-sucedidas pela imprensa cultural paulista (foi editor-chefe da revista "Bravo!" e coordenador de publicações do Instituto Moreira Salles), há um ano e meio Laub instalou seu escritório em casa, o que lhe dá a chance de escrever todos os dias. Como ele mesmo se apressa em corrigir, "se quiser e conseguir." Sabe Laub que um escritor não é inteiramente dono de

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si; que a literatura é uma amante temperamental e cheia de caprichos. Admite logo, para que não pensem que se lamenta: "O problema nunca foi a falta de tempo, e sim a preguiça, a angústia, a ansiedade e a tristeza que sinto quando estou trabalhando em um livro." Quatro sentimentos fortes, e nada confortáveis, aos quais é preciso resistir, ou ainda melhor, dos quais é preciso tirar alguma coisa, caso contrário nada se escreve.

Michel Laub - que, quase quarentão, mantém um aspecto jovial e algo desafiador - encantou, recentemente, a plateia do "Tacacá Literário", café de debates da Bienal do Livro do Amazonas. Escondido sob um par de óculos escuros, ele fez da timidez sua melhor maneira de aparecer.

"Diário da Queda" consagrou Laub como um narrador original e brilhante, um dos mais ascendentes valores da literatura do país

É um homem sincero, de respostas firmes e que despreza a eloquência. Admite com tranquilidade, por exemplo, que não teve uma "juventude de escritor." Andou muito de bicicleta, praticou surf e skate, teve uma banda de rock e foi um leitor entusiasmado de quadrinhos de terror. Sua literatura, ainda que calcada em restos da infância, é, não se deve duvidar disso, uma literatura para adultos, tramada em sentimentos fortes e até desagradáveis. Em Manaus, preguiça, angústia, ansiedade e tristeza se disfarçavam bastante mal sob os óculos novos. Elementos humanos que ele, em vez de disfarçar, ou justificar, prefere exibir frontalmente.

"Acho que meus livros estão dentro de um nicho de histórias íntimas e memorialísticas, às vezes de formação", diz. "Mesmo quando falo de política ou de grandes questões, isso está subordinado à trama e à realidade dos personagens." Estranhas essas memórias precoces, escritas ainda antes dos quarenta, e embrulhadas em tantos e tão delicados disfarces. Estranhas e belas. Memórias fictícias escritas, no entanto, com uma rapidez e precisão que lembram o melhor jornalismo. A literatura não o isolou do mundo. Ao contrário. Lê jornais e acompanha blogs literários. Ele mesmo mantém um blog (michellaub.wordpress.com/), além de ainda escrever artigos para a imprensa. Seu blog tem um espírito contemporâneo, recheado de links e de textos curtos, além de referências a sua obra literária. Nele, de certo modo, ele exercita o enxugamento e exatidão que pratica em suas ficções.

A literatura de Laub, ainda que calcada em restos da infância, é para adultos, tramada em sentimentos fortes e até desagradáveis

Admite com franqueza: "O jornalismo me deu várias habilidades, como a de escrever rápido e nas horas livres caso precise, e ao mesmo tempo limitações, porque ele é quase o contrário da literatura." Quantos escritores evocariam, de modo tão claro e despudorado, os próprios limites e contradições? Seu "Diário da Queda" é escrito em capítulos curtos e cortantes. É, além disso, uma reflexão corajosa a respeito do que - talvez por falta de um nome melhor - chamamos de "identidade". Narrado na primeira pessoa, o romance se desenrola sobre uma pergunta antiga: Quem sou eu? Essa é a pergunta que mais atormenta os personagens de Laub, embora - e isso é uma vantagem, não um defeito - ele não a adorne com o manto suntuoso da filosofia. Não: seus personagens são humanos, tratam de coisas humanas, sofrem feridas humanas. O humano é seu objeto, com tudo o que ele tem de limitador e, muitas vezes, de decepcionante.

Insisto nos quatro elementos, que assombram pela clareza corajosa. A preguiça, na maior parte das vezes - e não só pelos escritores - é encoberta pelo argumento do cansaço. Já a angústia costuma ser vista, de modo esnobe, como um motor (talvez uma iluminação), e não um entrave. Algo parecido acontece com a ansiedade, quase sempre atribuída às pressões do mercado e dos editores - enquanto Laub faz questão de dizer que é amigo de seu editor, Luiz Schwarz, e que tem muitos laços de afeto na Companhia das Letras. Por fim, a tristeza raramente é nomeada como um elemento da criação; os escritores preferem camuflá-la sob a ideia mais nobre, e romântica, da melancolia. Quem conhece Laub - sempre afetuoso e receptivo, embora ostentando na fala, com frequência, uma ponta delicada de ironia - dificilmente imagina que estes quatro obstáculos o atormentam. Sua imagem jovial nos leva a crer que a literatura, para ele, é mais um divertimento; mas basta ler seus relatos para perceber o quanto neles há de forte, e mesmo de doloroso. Talvez a persistência dessa imagem juvenil, mal escondido pela barba cerrada, leve uma parte considerável dos leitores a julgá-lo, ainda, e erroneamente, como um simples "talento promissor". A leitura de seus livros desmente essa suposição e nos coloca diante de um imperativo: aceitar que a maturidade não tem tempo.

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Para Laub, o maior obstáculo para sua escrita não vem de sentimentos passados, mas do futuro. O que mais emperra a escrita é a internet

O próprio Laub admite que seus escritos guardam uma estrutura circular, repetitiva, e portanto mais "suja". E mais ainda: que essa tendência se exacerbou nos dois romances mais recentes. "Eu não a vejo como uma desvantagem, mas como uma vantagem." Há um paralelo, discreto, mas importante, entre a escrita de Laub e o estilo fragmentado e às tontas que caracteriza a internet. "Diário da Queda" está dividido em capítulos muito curtos - como se fossem posts enviados para a web. Sua opção pela literatura, ele mesmo explica, é algo que oscila "entre o ceticismo e o pessimismo" e, nesse sentido, ele caminha na contramão da escrita alegre e descompromissada que domina a rede. Conserva, porém, a leveza que caracteriza nosso mundo veloz e fragmentado. Ele mesmo diz: "O que não deixa de ser um sentimento libertador: os grandes compromissos podem matar a espontaneidade de um trabalho."

Na antevéspera de se tornar um quarentão, o jovem Laub admite, ainda, que o avançar dos anos lhe trouxe algumas vantagens - nem sempre consideradas, porém, vantajosas. Diz: "Estou ficando mais velho e relativizando ou eliminando uma série de ilusões que tinha." Sempre duro consigo mesmo, ele corrige: "Se é que tinha mesmo." Embora escreva nela inspirado, não dramatiza, ou exagera sua juventude. Ao mesmo tempo em que admite ser um leitor entusiasmo de William Faulkner, não esconde que, quando jovem, cultivou o gosto pela leitura devorando os policiais rasteiros de Agatha Christie e os gibis da editora Vecchi. É franco: "Sem ter lido isso eu não estaria dando essa entrevista." Raciocina: "Uma vez que você adquira o hábito, os caminhos e as possibilidades são infinitos, o que inclui as possibilidades que você acaba achando por acaso, ou não."

Laub não esconde que, com o avançar dos anos, perdeu a paciência com textos muito enfeitados, muito "literários". Diz: "Na minha vida pessoal, o simples fato de estar mais velho e experiente, para o bem e para o mal, mudou a maneira como escrevo." Não recusa as pressões do tempo, ao contrário, ele as incorpora. Daí que o século XXI está presente, de modo decisivo, ainda que suave, em sua literatura. Escreve sobre o passado, mas sempre sob a perspectiva do presente. Seus personagens são quase sempre adultos que rememoram a infância e juventude. Para Laub, porém, o passado é um instrumento para a decifração do presente, e não seu objeto. Sabe que o tempo molda um escritor: "Cada livro foi escrito de um jeito porque as circunstâncias de minha vida eram diferentes."

Mesmo se afirmando um contemporâneo, Laub admite que o maior obstáculo para sua escrita não vem de sentimentos passados, mas de certo modo do futuro. "O que mais emperra a escrita, para mim e para qualquer autor de hoje, é a internet." O presente emperra o presente. Não esconde que o trabalho literário é, para ele, "quase uma tortura." Delimita: "São 70% de angústia, ansiedade e eventual depressão. Os 30% de alegria, que podem ser algo intenso a ponto de fazer você esquecer os 70%, só aparecem depois que um capítulo fica pronto." Laub é, antes de tudo, um contemporâneo de si mesmo. Sabe que está preso à grande rede de pensamentos e de ideias que, no dia a dia, o atormentam. Que é um escravo do próprio imaginário. Mas aceita: "Se eu continuar escrevendo, o que não sei sinceramente se vai acontecer, é possível que lá pelos cinquenta anos eu comece a fazer coisas bem diversas das que fiz até aqui." Admite que, à beira dos 40, sente certo cansaço e, por isso, entra em uma fase de balanços pessoais. "Tenho hoje uma noção mais clara da minha dimensão e do meu talento, até onde posso ir, para o bem e para o mal." Contemporâneo de si mesmo, Laub é, por excelência, um escritor do século XXI. Com todos os riscos, mas também todas as vantagens e delícias que isso inclui.

Folha de S. Paulo - Biblioteca do Congresso dos EUA dá prêmio a FHC por obra acadêmica

Para ex-presidente, premiação de US$ 1 mi é fruto de ação 'inovadora'

(14/5/2012) O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, 80, venceu o prêmio Kluge, concedido pela Biblioteca do Congresso dos EUA a personalidades que se destacam pela produção acadêmica na área das ciências humanas não contempladas pelo Nobel.

A premiação, de US$ 1 milhão, destaca o papel de FHC "na transformação do Brasil de uma ditadura militar com alta inflação em uma democracia includente, com forte crescimento econômico".

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O ex-presidente afirmou à Folha ter recebido o prêmio com "alegria e surpresa". "Reconhecer uma obra cientifica produzida na América Latina não é usual", disse.

Ele credita a escolha a sua produção "inovadora". "Nunca fui exclusivamente sociólogo, cientista político ou economista. Fiz uma ligação entre várias áreas, uma produção de ciência social no seu conjunto. Isso me ajudou também a ter uma visão mais integral na vida pública."

FHC lembrou da importância dos que trabalharam com ele e reconheceu que a escolha "tem a ver também com o Brasil estar em evidência".

Presidente da República pelo PSDB de 1995 a 2002, FHC é formado em sociologia pela USP, onde se tornou professor em 1952. Com o golpe militar de 1964, exilou-se no Chile e na França. Retornou ao Brasil quatro anos depois.

Atuou no Cepal (Comissão Econômica para a América Latina) e produziu obras como "Dependência e Desenvolvimento na América Latina", ao lado do sociólogo chileno Enzo Faletto, e "Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional".

A entrega da premiação, que existe desde 2000, será em 10 de julho, em Washington. (PAULO GAMA)

Correio Braziliense - Histórias mineiras de Brant

Parceiro dos melhores sucessos de Milton Nascimento, a exemplo de Travessia, o letrista lança, hoje, em Brasília, livro de crônicas. Cantores farão shows com músicas do escritor

Irlam Rocha Lima

“Esse livro é uma longa travessia através da vida e do tempo, do espaço e dos acontecimentos que marcaram o Brasil na segunda metade do século 20 e na primeira década do século 21”Fernando Brant, letrista e autor do livro de crônicas Casa aberta

(15/5/2012) Fernando Brant está um tanto quanto distanciado da celebração dos 40 anos do Clube da Esquina. “O que tenho comemorado são os 45 anos de Travessia, música que, ao classificar-se em segundo lugar no Festival Internacional da Canção, em 1967, nos fez , ao Milton Nascimento e a mim, conhecidos nacionalmente”, afirma o poeta e cronista.

De volta a Brasília, Brant lança hoje, às 19h, no Feitiço Mineiro, com noite de autógrafos, o livro Casa aberta, que reúne crônicas publicadas nos últimos cinco anos no jornal Estado de Minas. Mais tarde, às 22h, a cantora Nani Barros e o cantor Nilson Lima fazem show para homenageá-lo, interpretando canções que o têm como letrista, feitas em parceria com Milton e outros compositores. O couvert artístico é de R$ 15.

Publicadas semanalmente, as crônicas traçam amplo panorama da vida brasileira das últimas décadas, numa linguagem suave, humana, por vezes coloquial, profundamente comprometida com vivências e amizades. “Meu ponto de partida é o ambiente familiar. Rememoro o passado e projeto o futuro, a partir da visão do mundo que nos é oferecida”, diz Brant. “Esse livro é uma longa travessia através da vida e do tempo, do espaço e dos acontecimentos que marcaram o Brasil na segunda metade do século 20 e na primeira década do século 21”, acrescenta.

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Fernando Brant inspira-se em histórias familiares e do passado para escrever crônicas

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Coletânea de textosA seleção das 100 crônicas, reunidas no livro — lançamento da editora Dubolsinho — foi feita pela professora de literatura Cristina Brasileiro. Ela sugeriu, também, o título, que tirou da letra de Vida, canção pouco conhecida de Milton e Brant, que em trecho diz: “O amor bateu na porta/ Eu de dentro respondi/ Minha casa é aberta/ Pode entrar estou aqui”. A obra está dividida em cinco capítulos e o primeiro deles é Travessia, por razões óbvias. Os outros são Sou de Minas, Sou do mundo, Coração civil, Saídas e bandeiras, Encontros despedidas, que fazem alusão à composições consagradas.

“Quando a Cristina deu forma ao livro, levei um susto e passei a conferir valor maior às crônicas que escrevi todas as semanas, ao longo dos últimos cinco anos”, revela. Casa aberta foi lançado no mês passado em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. “Agora, chego a Brasília, lugar em que me sinto muito bem e onde tenho grandes amigos, a começar pelo Jorjão (Jorge Ferreira) do Feitiço Mineiro”, comemora Brant.

O letrista, que já perdeu a conta de quantas músicas dividiu com Milton Nascimento, espera retomar a parceria em breve. “Estou esperando que ele consiga tempo para voltar a compor. Nos últimos anos, tem se ocupado com shows e outros compromissos. Sinto que ele recuperou o brilho da voz e está, novamente, cantando bonito, como sempre fez, para a alegria dos seus admiradores”.

Embora não lembre com exatidão quantas músicas tenha composto com Milton, Brant acredita que chegam a 200, só entre as gravadas, incluindo os clássicos Maria Maria, Canção da América, Encontros e despedidas, Nos bailes da vida, Conversando no bar, Ponta de areia e San Vicente. É dos dois, também, a trilha sonora de Tostão: a fera de ouro, filme sobre o ex-jogador do Cruzeiro e da Seleção Brasileira, com roteiro de Roberto Drummond e direção de Ricardo Gomes Leite e Paulo Leander.

O Globo - O Rio do século XXI e seus tristes cariocas sob o olhar de um cronista

Em ‘A última madrugada’, João Paulo Cuenca traça mapa subjetivo da cidade

Leonardo Lichote

JOÃO PAULO CUENCA lamenta a perda de espaço da crônica na imprensa e defende a mistura contra uma ideia segregadora de cosmopolitismo da Zona Sul, de “imitar o barzinho de Nova York, o clube de Londres”

(16/5/2012) Acuado pelo mendigo que o segura com desespero, chamando-o de amigo, João Paulo Cuenca escreve, não sem culpa: “Quero sair dali, continuar meu périplo pequeno-burguês por bares sujos como a mão que o homem me oferece”. A frase traz uma possível definição para o livro do qual foi extraída, “A última madrugada” (Leya) — reunião de crônicas de Cuenca publicadas entre 2003 e 2010, com lançamento marcado para amanhã, em Belo Horizonte, e dia 18, no Rio (Livraria da Travessa de Ipanema, às 19h).

Mas não o encerra. Além de um périplo pequeno-burguês por bares sujos, o livro traz filosofia descompromissada sobre o tempo e a morte, diários de viagem, diagnósticos ácidos sobre a vida contemporânea, tratados sintéticos sobre a solidão. E, sobretudo, uma defesa da crônica como um mapa subjetivo de uma cidade, um gênero literário que, Cuenca acredita, está sumindo.

— O Rio tem uma tradição linda disso. Mas o espaço da crônica está sendo substituído por reflexões sobre o escândalo da semana, comentários sobre a novela. Isso não é crônica — avalia Cuenca. — Eu entendo o Rio do século passado lendo crônicas de João do Rio, de Lima Barreto. E isso está acabando. O país está perdendo subjetividade.

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Nostalgia do presente

O personagem de “A última madrugada” flana por um Rio bem específico — o roteiro Centro- Zona Sul de certa intelectualidade boêmia por volta dos 30 — e documenta, assim, cenários, comportamentos e a fauna que povoa esse recorte da cidade nesse início de século XXI. Cenas como a madrugada da Pizzaria Guanabara — “(...) onde não há privacidade entre as mesas ocupadas por louras calipígias de farmácia e dopados de camisa polo listrada (...), com as portas do banheiro em movimento perpétuo e casais sendo feitos e desfeitos em enorme velocidade”. Ou um show de Nelson Sargento para mendigos no Largo do Machado — “No Largo do Machado é sempre anteontem”. Ou a Help em sua última noite — “Seus funcionários parecem ter orgulho até da limpeza: se uma lata de cerveja é derrubada na pista de dança, em 30 segundos um faxineiro surge diligente, empunhando um esfregão”.

— O Rio de que eu gosto não é a praia de Ipanema, é a Praça Tiradentes, a Rua Paissandu, o jardim do Palácio do Catete, a Adega Pérola. Gosto do Rio para dentro. A única vez em que aparece uma praia no livro cai um toró, é triste pra caramba — nota o autor, rindo.

Tão terno quanto destruidor, o olhar sobre a cidade que aparece no livro, sobretudo a partir de seus personagens (tristemente vaidosos e vazios, seja num bloco de carnaval, nos bares do Baixo Leblon, num restaurante francês ou na Casa da Matriz), faz pensar que, para o cronista, o Rio está condenado.

— Não sei se o Rio está condenado, mas é uma cidade que tende cada vez mais à superficialidade. O Rio generoso que sabe conviver com o outro e é cosmopolita está muito mais na Central e em Madureira que no Quarteirão do Charme de Ipanema. Cosmopolitismo é o encontro de culturas. E o Rio está cada vez mais no caminho do cada um no seu quadrado.

Tem o feudo do bar, das comunidades, o orgulho de ser da Vieira Souto, de Oswaldo Cruz, da Providência. E o desejo cosmopolita da Zona Sul é imitar o barzinho de Nova York, o clube de Londres, sem se dar conta que o clube de Londres que é supercool tem os nigerianos frequentando, os jamaicanos fazendo som. A cidade só é interessante quando se mistura.

O atual processo de reorganização da cidade, que mira na Copa do Mundo e nas Olimpíadas, é visto por Cuenca como algo em certa medida perverso:

— A revolução urbanística atual do Rio aponta para a exclusão, e não para a mistura. Não sou contra a organização dos espaços, mas esse processo não pode seguir uma lógica de limpar o lugar e os moradores originais não poderem mais ficar lá. Isso aconteceu em Kreuzberg (em Berlim), no Brooklyn (em Nova York). O Vidigal, por exemplo, é o nosso Brooklyn, tomado por estudantes de arte, estrangeiros. Sua definição de cronista (“um cara em confronto com a cidade”), portanto, é pertinente. Até por contemplar outros embates que se dão abaixo da superfície.

— Você está na cena, mas tem que dar um passo para fora da foto para ganhar a distância necessária ao cronista. Você está na mesa do bar e não está, frequenta a área VIP e a critica. Boto o dedo na ferida da cidade, mas sou também uma das figuras tristes e solitárias que estão orbitando ali. Estou cortando um pouco na carne. Afinal, se eu fosse um cara trancado na biblioteca, não poderia ser cronista — afirma Cuenca, que chama atenção também para a questão temporal. — A crônica é um confronto do velho com o novo. Sempre falo das modernices do Rio com escárnio. Nesse momento, estou do lado Lima Barreto da força.

A nostalgia, característica comum aos cronistas de diferentes épocas, está, portanto, em “A última madrugada”. Mas de forma torcida:

— O cara do livro não quer que o tempo passe. De certa maneira é meio reacionário, no ponto de vista de conservar as coisas: aquela tarde na praia, o show. É uma nostalgia do presente. É o cara que no meio da festa pensa:

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“Porra, isso vai passar”. Minha imagem preferida no livro é o sujeito que no meio do bloco de carnaval pensa: “O que eu tô fazendo aqui?”. É a pergunta que não se deve fazer e o cronista faz. Eu sou esse cara.

Istoé - Um brasileiro no front

Diário e cartas inéditas do piloto Fernando Corrêa Rocha durante a Segunda Guerra Mundial revelam detalhes da participação do Brasil no conflito

Ivan Claudio

Antes de embarcarem para a Itália, para se somar às tropas aliadas na Segunda Guerra Mundial, os pilotos brasileiros do 1º Grupo de Aviação de Caça ouviram de um treinador americano, à frente de seus potentes aviões P-47 Thunderbolt, a seguinte recomendação: “O P-47 sempre trará vocês de volta para casa, a não ser que façam ataques rasantes ou bombardeios de mergulho. Se o fizerem, terão a mais emocionante e a mais curta das vidas.” Entre esses jovens militares estava o paulista Fernando Corrêa Rocha, um ex-estudante de direito de 23 anos, afilhado do escritor Mário de Andrade, e apaixonado por aviação. Escalado para 75 missões de combate, Rocha deu rasantes, afugentou soldados nazistas e voltou ao Brasil com vida e condecorações militares. Seus gestos heroicos estão sendo lembrados agora com o lançamento do livro “Cartas de um Piloto de Caça” (editora Ouro Sobre Azul), que reúne a correspondência mantida com a família e os amigos, além de um diário dos dias no front. Com prefácio de Antonio Candido, que foi colega do rapaz na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em São Paulo, o livro é documento precioso: reúne uma iconografia inédita e depoimentos nunca antes publicados de um aviador brasileiro na Campanha da Itália.

Esse material foi descoberto há quatro anos por Heloisa Rocha Pires, filha do piloto, ao organizar os pertences do seu pai recém-falecido. São, ao todo, 63 cartas escritas entre maio de 1943, ano em que o jovem ingressou em um treinamento nos EUA, e junho de 1945, quando terminou a participação da FAB na guerra. O “senso de humor” do futuro tenente, ressaltado por Candido em sua apresentação, é uma constante na correspondência, que – supõe-se – visava tranquilizar os familiares diante dos riscos vividos a todo instante. Escreve Rocha: “Os nossos ataques têm desmoralizado tanto a famosa Luftwaffe que os pobres-diabos dos pilotos

alemães nos evitam a todo custo. Eles só aparecem de vez em quando, e sempre se arrependem. A missão de nosso esquadrão é a coisa mais perigosa dessa guerra, mas, em compensação, é a mais gozada e emocionante.”

O tom muda radicalmente no diário. Ao descrever o bombardeio da ponte de Treviso, operação fundamental para neutralizar a mobilidade das tropas nazistas, Rocha dá a exata medida do que se passou. Após receber as ordens de “senta a pua”, famoso grito de guerra dos nossos pilotos, ele mergulhou de uma altura de oito mil pés. “Olhei o altímetro: 3.500 pés! As granadas de 20 mm já explodiam brancas lá atrás mais acima. Era hora de recuperar. Cuidado com as .50, pensei num relance. Comecei a levantar o nariz do avião, soltei as bombas e cabrei violento recuperando pela esquerda, enquanto de esguelha eu vi minhas bombas rebentarem uma sobre a ponte e a outra dentro do brejo.” Não resta dúvida: Fernando Corrêa Rocha é um herói brasileiro.

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PERÍCIA Rocha durante o treinamento nos EUA, em 1943: apenas dois tiros na asa do avião em 75 combates

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MUSEUS

Estado de Minas – Presente da memória

Semana de Museus começa hoje com atividades gratuitas em mais de mil instituições brasileiras. Em Minas Gerais estão programadas ações em Belo Horizonte e no interior

Sérgio Rodrigo Reis(14/5/2012) O Conselho Internacional de Museus, na última reunião em Paris, citou o Brasil como o lugar em que mais se comemora, em todo o mundo, o dia dedicado a essas instituições. “A referência é importante para que possamos colocar o tema no centro das políticas culturais”, afirma José do Nascimento Júnior, presidente do Instituto Brasileiro de Museus, o Ibram. Há motivos para a celebração, que, por aqui, acontece há 10 anos não apenas no dia 18 (data oficial), mas durante uma semana inteira. Desta vez serão 3.420 eventos nas mais diversas áreas artísticas, em 1.114 instituições de 513 cidades do país. Devido à importância histórica dos acervos mineiros, a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, escolheu uma instituição de Belo Horizonte, o Museu de Artes e Ofícios, para lançar, amanhã, às 10h, as principais ações anuais de fomento para a área.

Exposições, palestras, oficinas, seminários e agenda educativa estão entre as atrações previstas para a semana, que tem como tema Museus em um mundo em transformação: novos desafios, novas inspirações. A ideia é aproveitar a oportunidade para promover o debate sobre o desafio de trabalhar com a memória em uma era de fragmentação das fronteiras entre passado, presente e futuro. A proporção a que chegou o evento impressiona até os organizadores. Quando foi criado, o desejo era crescer e propagar a ideia. “Mas não imaginávamos que chegaríamos aonde estamos, o que mostra quão acertada tem sido a estratégia”, diz Nascimento. Ele cita números: nas últimas edições, o evento aumentou em 87% a frequência dos museus, que tiveram, em média no período, 15 mil visitantes.

Os dados positivos estão longe da meta do presidente do Ibram. “Precisamos aprofundar a interiorização das ações e que todos os museus sejam mais envolvidos na semana.” Segundo ele, o surgimento do evento ajudou a criar uma imagem positiva, aproximando as comunidades das instituições e ampliando o diálogo. E por que os museus são necessários? “Porque são importantes instrumentos da identidade e da memória das comunidades”, afirma o presidente do Ibram. José do Nascimento Júnior acha que Minas Gerais ainda tem muito o que melhorar. Hoje são 149 municípios do estado com museus, num universo de 853. “Está abaixo da média nacional, que é de 21%. Os municípios precisam entender também a importância desses lugares para a mobilização das comunidades”, enfatiza José do Nascimento Júnior.

Os investimentos federais de 2003 até hoje subiram, segundo ele, de R$ 20 milhões para R$ 120 milhões. É necessário ainda mais. “Precisaríamos manter o nível de investimento para os próximos 10 anos em pelo menos R$ 200 milhões, para dar conta do déficit existente e continuar com o processo de qualificação”, justifica. As ações promovidas pelo Ibram já começaram a chegar ao interior. Eleni Cássia Vieira, diretora do Museu do Tropeiro, de Ipoema, distrito de Itabira, a 85 quilômetros de Belo Horizonte, acha que o Ibram sozinho não é capaz de fazer nada. “Recebo aqui o material e os convites para participar das atividades, nós é que temos que nos mobilizar. As ações governamentais só são capazes de nos fortalecer quando existe nosso interesse.” Para ela, é preciso haver uma troca.

A diretora do Museu de Ipoema atribui a criação do Ibram à valorização e ao aumento do número de visitantes das instituições. “Desde então o museu parou de ser pensado como algo velho, só para a elite, para ser um lugar de memória. O que nos mantém vivos é exatamente esta interligação com a comunidade. O tema da Semana dos Museus chama atenção para isso”, avalia.

O diretor do Museu Histórico Abílio Barreto, Leônidas Oliveira, considera que a temática proposta tornou-se uma chamada importante para que os museus façam reflexões internas e com a comunidade. “Acredito que é essa atitude que vai diferenciar a semana dos demais momentos e atividades das instituições. Nesse entendimento é necessário que as instituições de fato proponham ações para a semana e, sempre que possível, refletindo a temática. Por outro lado, momentos assim fortalecem o conjunto da área museológica, levando a conhecer em âmbito nacional as particularidades de cada instituição e suas ações”, analisa Leônidas Oliveira.

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O Estado de S. Paulo – Coluna / Sonia Racy / “Tenho pavor de arte moderna”

(14/7/2012) Para Bernardo Paz, a caminhada da mineração para a arte foi árdua. Empresário self made, exportando desde os anos 80 para a China – “o partido comunista chinês entrou de sócio e me deu US$ 10 milhões em 1986” –, o idealizador de Inhotim conta que chegou a ter 39 empresas, nove mil funcionários e custos baixíssimos. O Brasil mudou, seu grupo entrou em processo difícil e, sem apoio do BNDES, “eu tinha oficial de Justiça na minha porta todo dia. Era um inferno a minha vida na década de 90”. Paz esclarece que, no auge da crise, entre pagar impostos ou funcionários, optou por seus empregados.E acabou tendo que entrar no Refis.

O mineiro só respirou melhor em 2000, com a alta do preço do minério. Hoje, sua Itaminas fatura cerca de R$ 600 milhões por ano, e ele transfere praticamente tudo o que ganha para Inhotim. “Isto é a minha vida”, diz o homem que, não sabendo ser impossível, foi lá e fez.

Paz só concordou em dar entrevista depois que a colunista conhecesse o parque de 300 mil metros quadrados, ao lado

da cidade de Brumadinho em Minas. A chegada é indescritível, tamanha a harmonia entre os projetos arquitetônico e de jardinagem. Ao se percorrer as alamedas projetadas inicialmente por Burle Marx, esbarra-se em pavilhões gigantes que nada devem a qualquer museu no mundo. Ele não revela quanto enterrou ali, mas há quem estime mais de R$ 500 milhões. Nunca teve ajuda de governos. No aguardo da cobiçada obra de Anish Kapoor – o artista indiano está desenhando algo especial para lá –, Paz está hoje empenhado em montar um complexo imobiliário que possa dar sustentabilidade à sua singular criação. Ele abrange desde hotéis a até um aeroporto. A mineradora hoje mantém Inhotim praticamente sozinha, mas seu criador quer perpetuá-lo. E começa a contar com apoio de empresas do porte do Itaú, Vale, Votorantim e Vivo.

A seguir, os principais trechos da conversa com a coluna.

Como você começou a se interessar por arte?

Eu comprava obras de arte moderna. Hoje, tenho pavor de arte moderna. Vou tentar resumir. Antes da fotografia, arte era muito importante, era a única forma de você mostrar aos outros os lugares, os acontecimentos, as pessoas. E era muito controlada pelos ricos, pelos reis, pela Igreja.

Eram retratos mesmo.

Sim, inclusive de lugares, que você jamais veria não fosse por meio da pintura. Você nem saberia como era o rosto de uma pessoa. Imortalizava-se por meio da pintura. Veio a fotografia, e o modernismo passou a ser uma fuga da fotografia. O quadro não tinha mais sentido em si mesmo ou passou a ter sentido só para os gênios que tentavam traços de mulheres deformadas, cubismos e outras coisas mais, fugindo da fotografia. Mas arte, para mim, sempre foi educação. Foi e é.

E como a arte contemporânea pode ser educativa?

Agora nós vamos chegar lá. A arte passou por cem anos em que não se transformou em processo educativo nem cultural. Quem era Picasso? Um devasso que gostava de mercado, gostava de comércio, ia à galeria e perguntava qual quadro estava vendendo mais. Aí, fazia mais dez. Assim foi a arte moderna. Não ensinou nada a ninguém.

Até artistas como Gauguin você inclui nessa lista?

Gauguin é uma pessoa que, de alguma forma, me traz simpatia. É um homem que viajou para o Taiti, sofreu o diabo para pintar aquelas mulheres maravilhosas, morreu de sífilis. Mas era um homem entregue à arte, como foi Van Gogh. São pessoas em que o sangue aparece mais do que a obra.

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Michelangelo você também acha comercial?

Não, espera aí, Michelangelo é outra história. Michelangelo era outro momento, o Renascimento, era um grande artista. Agora, os modernistas não têm nada a ver, não têm sentido. Como você educa uma criança? Esse amarelo, só esse artista pintava esse amarelo. Justifica? A criança aprendeu o quê? Que um amarelo é diferente de outro amarelo? Olha esse azul, só Cézanne pintava esse azul. Pelo amor de Deus. Cézanne tem uma história bonita, foi para o mar, foi pintar a claridade, deixou uma marca. Mas como um azul diferente de outro azul educa uma criança? Então, um monte de teóricos da arte moderna falam palavras difíceis, mas não dizem nada.

A que você atribui o sucesso dessa gente, então?

Foi a única arte plástica que existiu do período da fotografia para cá. Na fuga da fotografia, eles partiram para essa arte da deformação da pessoa, para a arte abstrata e para uma série de artes que não criavam emoção. Às vezes, um quadro enorme com uma paisagem maravilhosa dá até vontade de embarcar lá dentro. Mas isso era muito difícil, eram mais os clássicos. Já essa arte deformante, essa arte abstrata, o que isso trouxe de benefício para a sociedade, a não ser para alguns ricos que querem mostrar que têm em casa um quadro que custou US$ 20 milhões? Vai criar polêmica com isso.Manda à m… as pessoas. Aí, entrou Duchamp, primeiro exemplar da arte contemporânea. Entrou com uma curiosidade, a arte passou a ser uma curiosidade. E, da curiosidade, ela passou à crítica. Hoje, toda a arte contemporânea é crítica. Em todos os sentidos: crítica na ecologia, na religião, na situação política, nas questões sociais. Ela exalta os benefícios criados, critica e destrói a sociedade atual, tentando criar uma sociedade melhor. Você passa por Inhotim e entra no Através. O que é o Através? Uma simplificação das dificuldades da vida. Você pisa em cacos de vidro, vai atravessando um monte de obstáculos para chegar ao outro lado. O que significa isso? Você enxerga o outro lado, mas não vai reto.

Você tem o Hélio Oiticica em Inhotim. Ele educa?

O Hélio criou a arte interativa, a alegria, uma arte em que as pessoas participam daquele processo artístico. Essa interatividade do artista com a sociedade…

Você acha que educa?

Totalmente. Uma criança que vai a Inhotim vibra mais do que um adulto. Agora, entra com ela no MoMA. A criança quer ir embora 15 minutos depois, ela não suporta. E o MoMA é um museu extraordinário, criado por pessoas muito inteligentes, de artistas extraordinários. Mas a arte contemporânea não funciona no MoMA, porque ela exige espaços muito grandes, que não cabem dentro de um andar.

Foi por isso que você criou Inhotim? Por causa do espaço?

Foi intuitivo, percebi que a arte contemporânea exigia isso e chamei os artistas para pensarem seus sonhos. E eles colocaram esses sonhos lá. Eu fiz este jardim sem sentido, só era belo. Comecei, então, a construir alguns pavilhões de arte – que passaram a ser visitados por um público diferenciado, que tomou um susto com o que estava sendo feito. Foi a partir dessa reação que comecei a observar esses visitantes mais atentamente, a ver os olhos brilharem. Pensei: estou certo, o caminho é esse. O público está sendo educado. E qual era esse público? Classe média alta.

E como se deu o start do projeto de Inhotim?

Numa conversa com o Tunga, ele me falou: esquece o modernismo, porque a verdade está na arte contemporânea. Aí, sim, você saiu da fotografia; aí, sim, você não pode ser repetido, não é mais uma cultura.

Qual foi o empurrão?

Foi loucura. Não me pergunte, porque nem eu sei. Fui fazendo. Eu nasci e sofria, a cada dia da vida, porque não era do tamanho que queria ser. Cada dia que passa, hoje, eu sofro, porque quero ser maior do que fui ontem. Esse processo é extremamente angustiante.

Mas maior em que sentido?

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Você tem de pensar grande a vida toda. O que é Inhotim hoje? O que era Inhotim há dez anos? Utopia que virou realidade? Inhotim está de pé. E, além de curadores do mundo inteiro, que aprendem no parque o que é arte contemporânea, temos também cientistas de todos os cantos do planeta nos nossos laboratórios. Fazem desde pesquisa de genoma até pesquisa biológica. A folha de alface, por exemplo, te dá 30% de nutrientes. Mas a biologia propicia que você aumente isso para 70% de nutrientes. Vamos poder alimentar o mundo por meio do processo biológico. Dizem que não temos terra suficiente para plantar e alimentar todos os que estão nascendo. Mentira, a alimentação virá da concentração de nutrientes numa mesma planta. Você vai comer menos e se alimentar mais.

Você diria que o artista é um esquizofrênico que deu certo?

O artista mora dentro do umbigo dele, é ensimesmado, acha que é o melhor do mundo e ponto final. Com alguns, você consegue conversar, são pessoas facílimas de trocar ideias, inteligentíssimas em relação à humanidade, ao mundo. O artista, entretanto, não é importante pelo que é, mas, sim, pelo que faz. Então, normalmente, o artista é insuportável, mas faz coisas extraordinárias. Numa análise geral, você vai encontrar mais neurônios nesse pessoal, eles sabem mais. Agora, sabem para eles, interpretam a vida para eles e jogam para fora o sentimento por meio de suas obras.

Você se considera um artista?

Não. O que eu sou? Já disse uma vez: sou uma pessoa que está tentando alcançar alguma coisa o tempo todo. Isso tem a ver com gente que faz escalada, alpinismo.

É um insatisfeito?

Sempre insatisfeito, sempre angustiado, sempre ansioso, sempre deprimido. Minha vida é um inferno. Eu olho para o que ainda tenho de fazer na vida e vejo uma trilha no meio, que vai dar em um túmulo. Não consigo enxergar essa trilha com um céu aberto, cheio de alegria e um horizonte belíssimo no final. Eu vejo um túmulo, porque não há outra alternativa para mim. Não existe essa outra alternativa, porque minha cabeça não para. Isso me irrita profundamente, me faz tomar remédios demais para dormir, remédios demais para acordar, remédio para o coração, remédio para veia e assim por diante.

Mas como se sente um artista? Não é assim?

O problema do artista é que ele é egoísta, o artista pensa nele, não pensa nos outros, não pensa nas pessoas. Nem sabe que existem outros. Só sabe que existe ele. Mora dentro do umbigo dele, não enxerga nada além do umbigo. No meu caso, é diferente, porque eu não penso em outra coisa a não ser nas pessoas. A gente vive da perspectiva do sonho, da realização. Quer dizer, da tentativa da realização, porque a realização já é passado.

Você é feliz?

Acho muito difícil ser feliz, porque tenho de pensar nas outras pessoas. O burro pensa mais nele do que nos outros, o inteligente pensa mais nos outros do que em si. A diferença é essa. O que é a verdade na vida, meu Deus? A verdade na vida é que só a vida é importante. Por que o ser humano destrói a vida?

Você faz análise?

Fiz durante muitos anos, mas nem ligo para isso. Minha análise era conversar com o cara para não ficar maluco. Meu analista era psiquiatra de hospital de doido, eu gostava desse tipo de gente. Tem 80 anos, hoje; passei 30 com ele. Se você está desesperado no seu dia a dia, tem de procurar alguém que te ajude a achar a solução, para que possa sair lá na frente e abrir outra janela.

Qual sua opinião sobre o ser humano?

Olha, eu não posso desacreditar do ser humano. A formação do ser humano é formação animal, então essa formação animal era irracional e foi se tornando racional, foram se formando tribos. Quando dois grupos de leões se encontram, um mata o outro. A Europa era uma série de tribos, cada país daqueles era formado por 30, 40 tribos. Elas foram se juntando, uma foi matando a outra. Ainda há 27 países que lutam entre si – e dentro de cada país, tribos que brigam umas contra as outras. Qual a razão disso? O que isso traz de benefício? É o poder pelo poder.

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Como você vê Inhotim daqui a dez anos?

Não vejo Inhotim daqui a dez anos. Faço questão de ver Inhotim daqui a mil anos.

Não dá para ser um pouquinho mais perto? Cem anos?

Não, não dá. Porque, quando você trabalha com educação e cultura, tem de imaginar milhares de anos. Não adianta, cultura é um processo que avança, não pode parar.

O Estado de S. Paulo - Museu Internacional de Arte Naïf reabre no Rio

(15/5/2012) Roberta Pennafort - Joalheiro, mecenas, acima de tudo um apaixonado por arte, o francês feito carioca ainda adolescente Lucien Finkelstein legou à família e ao Rio a maior coleção de arte naïf do mundo. São seis mil obras de mais de 120 países, reunidas em quatro décadas de viagens pelos cinco continentes, sendo as mais antigas datadas do século 15.

O xodó. Riode Janeiro, Gosto deVocê, tela de 7 m x 4 m dacarioca Lia Mittarakis

Em 1995, ele fundou o Museu Internacional de Arte Naïf (Mian), para compartilhá-las e divulgá-las. Em 2008, aos 76 anos, morreu desgostoso, vítima de um ataque cardíaco, ao ver o museu fechado, por falta de patrocínio. Nos anos seguintes, o funcionamento foi irregular, possível somente com o agendamento prévio, a despeito dos esforços de sua diretora, Jacqueline Finkelstein, filha de Lucien.

Sua neta Tatiana Levy trabalha agora para dar uma gestão mais profissional ao espaço, reaberto há vinte dias graças a investimentos nacional e estrangeiro. A intenção é perpetuar sua existência. A localização é superprivilegiada: o casarão centenário, tombado, fica colado à estação do trenzinho que leva os visitantes ao Corcovado, no Cosme Velho.

Por conta disso, e pela inclusão do destino em guias turísticos da cidade, a coleção é visitada principalmente por quem vem de fora (somente 30% do público é de moradores). O Mian tem ainda

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um potencial pouco explorado que está ganhando força com Tatiana, egressa da área pedagógica: a interação com as crianças, que se identificam facilmente com a pintura e a escultura de nascimento espontâneo, que não seguem escolas artísticas e cujos criadores são autodidatas.

Um programa educativo foi desenhado ao mesmo tempo em que o espaço expositivo era modernizado: três janelões, sobre os quais antes pendiam quadros improvisadamente, foram fechados com painéis de MDF, de modo a uniformizar a parede principal do salão e aumentá-la em 4 metros de altura e 7 metros de extensão. No subsolo, as vitrines foram abolidas, deixando as telas mais agradáveis aos olhos.

O museu está ganhando nova identidade visual. A iluminação foi suavizada e agora tem filtro UV. Outra novidade é o audioguia - por enquanto, apenas em português. Legendas em braile estão para chegar. A partir de agosto, o funcionamento deve se estender pelos fins de semana.

A reserva técnica, inundada em 2010 por conta de chuvas fortes, que derrubaram o telhado, foi recuperada, e ganhou exaustores e desumidificadores. As 300 telas danificadas pela água ainda estão comprometidas.

A verba para a recuperação estrutural, de 35 mil euros (R$ 87,5 mil) veio do fundo holandês Prince Claus, destinado a socorrer acervos que sofrem com desastres naturais. Outros R$ 400 mil, usados para as demais melhorias, vieram da prefeitura do Rio, que no passado fazia repasses ao Mian.

OUTROS

O Estado de S. Paulo – Coluna / Direto da Fonte / Sonia Racy

Na frente

(10/5/2012) Os irmãos Campana vão decorar uma suíte do chiquérrimo Hotel Lutétia, em Paris. Coisa que Giorgio Armani e Vik Muniz já fizeram.

Valor Econômico - História enfim respeitada

Por Fernando Exman

O relógio do século XVIII estava abandonado num depósito,e sem a estatueta de Netuno, encontrada por acaso.

(11/5/2012) O amplo corredor que dá acesso ao gabinete da presidente Dilma Rousseff, no terceiro andar do Palácio do Planalto, receberá em breve uma nova peça de decoração: um raro relógio fabricado pela família que atendia a corte de Luís XIV substituirá o quadro "Barbearia", de Francisco Galeno. A peça, avaliada em aproximadamente R$ 250 mil, estava esquecida num depósito do governo. Agora, pode se tornar símbolo da

busca feita recentemente pela Diretoria de Documentação Histórica do Gabinete Pessoal da Presidente da República nos galpões e palácios presidenciais. Restaurado, o relógio passará a marcar um novo tempo nos cuidados dispensados a objetos de arte e mobiliário, não apenas em respeito a seu valor histórico, literalmente, mas também na atualização de seu valor material, reduzido a quase nada numa contabilidade carcomida por seguidas desatualizações monetárias e pelo descaso de uma máquina burocrática pouco afeita a considerações de ordem estética.

Para que o relógio seja instalado em seu novo espaço, o governo precisará realizar uma licitação para contratar um especialista que consiga fazê-lo voltar a funcionar - pendência a ser resolvida a curto prazo. A criação de um mecanismo que leve servidores de todos os escalões da administração federal a ter mais cuidado com o acervo público, por sua vez, ainda precisará ser estudada pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão para sair do papel.

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A pauta não é de simples solução. O diretor de Documentação Histórica da Presidência, Claudio Soares Rocha, conta que o valor de diversos móveis e peças de arte do governo foi reduzido a praticamente zero. Assim como ocorre na declaração do imposto de renda, esses ativos foram registrados no patrimônio público da União com o valor de compra da época da aquisição. Com os sucessivos planos econômicos e mudanças de moedas, a administração pública optou por atribuir a esses itens o valor simbólico de R$ 0,01.

A desvalorização acabou reduzindo a preocupação de gestores e servidores públicos com a manutenção e o cuidado no trato desse patrimônio. Por isso, decidiu-se dar os primeiros passos para alterar essa situação. Soares Rocha aproveitou um convite da ministra do Planejamento, Miriam Belchior, para fazer a curadoria de seu gabinete e advogou a mudança na atual metodologia de contabilização desses ativos.

Soares Rocha montou um arquivo de referências de valores, com anúncios publicados em sites estrangeiros especializados na venda de móveis assinados por arquitetos ou designers renomados. As ofertas dão uma ideia de quanto o governo subestima seu patrimônio. Um par de "cadeiras do juiz", de Jorge Zalszupin, por exemplo, estava à venda em fevereiro por US$ 11.800. Uma mesa do mesmo arquiteto era cotada a US$ 8.200, enquanto uma outra, de Sergio Rodrigues, poderia ser comprada por US$ 18.000. Zalszupin e Rodrigues são justamente alguns dos nomes de responsáveis pela criação de móveis em recuperação pertencentes ao acervo da Presidência.

As consequências do descaso com que esse mobiliário veio sendo tratado podem ser vistas na oficina de restauração mantida pelo Palácio do Planalto em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Cerca de 700 móveis, na maioria assinados por Sergio Rodrigues, Jorge Zalszupin, Sergio Bernardes e Joaquim Tenreiro, estão sendo recuperados. Foram recolhidos em galpões e depósitos de órgãos federais nos últimos anos, depois que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu restaurar o Palácio do Planalto. Quando o trabalho for concluído, os móveis que antes estavam abandonados serão reacomodados no palácio.

A oficina tem também o objetivo de formar técnicos em restauração de móveis modernos e contemporâneos. Os aprendizes são 40 jovens de cidades-satélites de Brasília em situação de risco, que, além do curso prático e de teoria da arte, recebem transporte e alimentação da Presidência da República.Conjunto de poltronas Veronka, de Sergio Rodrigues (foto), agora em processo de recuperação, foi "redescoberto", assim como móveis de Jorge Zalszupin

O projeto foi concebido no governo passado, quando Lula pediu ao diretor de Documentação Histórica do Gabinete Pessoal da Presidência e ao arquiteto Rogério Carvalho, braço direito de Soares Rocha na curadoria do Palácio do Planalto, que um pente fino fosse feito nos depósitos do governo. O então presidente também decidiu alterar as normas de exibição dos objetos de arte que fossem encontrados e dos já catalogados. Para garantir acesso amplo às obras, ficou decidido que as salas de espera e os gabinetes dos ministros teriam direito a apenas um quadro de autor renomado cada. O restante do acervo teria de ficar nas áreas públicas dos prédios.

Conjunto de poltronas Veronka, de Sergio Rodrigues (foto), agora em processo de recuperação, foi "redescoberto", assim como móveis de Jorge Zalszupin.

A realocação do raro relógio, fabricado no século XVIII, seguirá essa orientação. O que atesta a sua procedência é uma assinatura, do relojoeiro Martinot, gravada na máquina. Outra marca do fabricante está na base da peça, mas acabou danificada ao longo do tempo. "É a assinatura na máquina que nos dá a mais absoluta certeza da sua proveniência", afirma Soares Rocha.

Quando o relógio foi encontrado, havia um fenda na sua parte superior. Em outra busca, o mistério foi desvendado. Numa serralheria da Presidência, foi encontrada uma pequena estátua de Netuno. Um antigo funcionário do governo que lá trabalha deu a pista: lembrou que a estatueta pertencia a um

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antigo relógio que fora transferido daquele local havia cerca de 20 anos. De fato, a estatueta se encaixou perfeitamente no relógio.

"Nossa dúvida, e o que a gente não vai decifrar nunca, é se o relógio foi um presente para d. Pedro I ou d. Pedro II ou um presente do Conde d'Eu para a Princesa Isabel", lamenta Soares Rocha.

O relógio é do mesmo período de outros três itens encontrados pelos responsáveis pelo acervo da Presidência: uma "garniture" composta por uma floreira e dois candelabros feitos de bronze ormolu, material que garante às peças uma "eterna" coloração dourada. "Isso é certamente francês", observa Soares Rocha.

O quadro "Baía de Guanabara", de Lia Mitarakis, hoje num dos halls de acesso ao Palácio do Planalto, estava num banheiro

Ele acredita que, pela idade, as peças tenham percorrido um grande trajeto antes de serem resgatadas durante a reforma do Palácio do Planalto. Podem ter já adornado os palácios das Laranjeiras, Guanabara, Catete e Alvorada. "Estão pelo menos há mais de 20 anos esquecidas em depósitos."

Esses não foram os únicos artigos "resgatados". Segundo Soares Rocha, o quadro "Baía de Guanabara", de Lia Mitarakis, foi encontrado num banheiro do Palácio do Planalto e hoje está exposto num dos halls de acesso ao edifício.

Outro exemplo é o quadro "Palácio do Planalto", de Firmino Saldanha. Feita especialmente para decorar o palácio, a obra foi encontrada num canto da garagem do Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente da República. Antes de ser retirado do Palácio do Planalto, o quadro ficava na sala de reuniões do gabinete presidencial. Atualmente, está exposto ao lado da rampa curvilínea que liga o segundo andar ao mezanino do terceiro pavimento, usada pela presidente Dilma Rousseff e demais autoridades que a acompanham quando ela deixa sua sala e desce em direção ao salão onde as principais solenidades são realizadas no palácio. "Hoje está no terceiro andar do Palácio do Planalto, de onde não deveria ter saído", diz Soares Rocha.

A busca não se limitou aos depósitos e garagens da Presidência, onde foram localizados também quatro tapetes e uma passadeira nacionais dobrados dentro de um saco de juta. "E o palácio enfeitado com tapete persa...", ironizou Soares Rocha. Foram achados também dois quadros atribuídos a Juan Miró, cuja autoria ainda não foi confirmada.

A Diretoria de Documentação Histórica do Palácio do Planalto resgatou ainda um banco projetado por Oscar Niemeyer que tomava chuva num almoxarifado da Universidade de Brasília. E conseguiu obter a guarda de alguns móveis do Congresso Nacional que seriam leiloados e poderiam, talvez, ser encontrados nos sites estrangeiros que Soares Rocha monitora.

Agência Brasil - Rio de Janeiro se candidata ao título de patrimônio histórico da humanidade da Unesco

Renata Giraldi, repórter da Agência Brasil

(16/5/2012) Brasília – As autoridades do Brasil apresentaram a candidatura da cidade do Rio de Janeiro ao título de patrimônio mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). A ideia é reunir esforços internacionais na luta pela preservação da cultura e das riquezas naturais de uma área que inclui os principais pontos turísticos cariocas.

Em julho, o projeto da Unesco será analisado em São Petesburgo, na Rússia. Depois, os especialistas votarão a proposta brasileira, apresentada ontem (15), para decidir se o Rio deve receber o título. O público-alvo das apresentações é formado pelas representações diplomáticas dos 21 países com poder de voto na Convenção do Patrimônio Mundial, membros das principais universidades, formadores de opinião, jornalistas e instituições de preservação de todo o mundo.Atualmente, 911 sítios são considerados como patrimônio mundial da Unesco, localizados em 151 países. O Brasil faz parte dessa lista, com 18 sítios cadastrados - entre eles Brasília, o centro histórico de Salvador e as reservas de Fernando de Noronha.

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O Projeto Rio de Janeiro, Paisagem Cariocas entre a Montanha e o Mar foi apresenado pela embaixadora do Brasil na Unesco, Maria Laura da Rocha, pelo presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Luiz Fernando de Almeida, e pela superintendente do Iphan, Cristina Lodi.

Pela proposta apresentada, as áreas que devem ser incluídas como patrimônio vão do alto do Corcovado até o Morro do Pico, em Niterói. Também devem ser incluídos pontos turísticos conhecidos, como o Parque Nacional da Tijuca, o Passeio Público, o Jardim Botânico, o Parque do Flamengo, a Baía de Guanabara e as orlas de Copacabana – com as praias do Leme, de Copacabana, Urca e Botafogo.

O presidente do Iphan disse que a situação social e econômica da cidade dificulta o trabalho de preservação de suas características naturais. Para Almeida, os grandes eventos internacionais, como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 216, representam um desafio na luta pela conservação do Rio, que não deve ser feita de forma pontual .

A embaixadora Maria Laura da Rocha está otimista em relação à candidatura do Rio, embora especialistas tenham sugerido mudanças no documento final. "Eles [os especialistas] reconheceram as características de patrimônio mundial, o valor universal. Mas acharam que há algumas dúvidas quanto ao plano de gestão e monitoramento", disse ela.

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