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Anais do I Seminário Brasileiro de Valorização da Profissão de Relações Públicas – SEMBRARP 2007 ISBN: 978-85-60936-02-1 AS RELAÇÕES PÚBLICAS COMUNITÁRIAS EM ONGS Anne Gabrielle Almeida Guimarães Matheus Pereira Mattos Felizola Resumo Este trabalho traz para a discussão reflexões acerca da atuação do Profissional de Relações Públicas Comunitárias em ONGS. O profissional de relações públicas é o gestor da comunicação, que faz um trabalho de construir uma imagem positiva da organização onde atua para surtir efeitos frente à opinião pública a seu favor. Como a sociedade torna-se cada vez mais exigente, atualmente está sendo desenvolvido o trabalho de Relações Públicas Comunitárias, que diz respeito ás práticas de Relações Públicas que se estabelecem no âmbito das associações comunitárias e de outras organizações sem fins lucrativos, que têm como princípio básico acreditar no homem e na sua potencialidade de construir uma sociedade justa e livre, pautada na cidadania e na ação coletiva, para tanto as Relações Públicas Comunitárias devem ser feitas com a comunidade, dentro dela e em função da mesma. O objetivo geral desse trabalho foi demonstrar a importância do papel das Relações Públicas Comunitárias na sociedade e verificar a existência desta modalidade de atuação em ONGS. Onde os objetivos específicos foram: Mostrar que o trabalho das Relações Públicas Comunitárias deve ser feito juntamente com as entidades populares e não somente para elas; Especificar que as Relações Públicas se estabelecem no âmbito das associações e organizações não-governamentais e sem objetivos lucrativos; Identificar a existência de uma diferença entre as Relações Públicas Comunitárias e as Relações Públicas com a Comunidade e verificar se há uma mudança de paradigma na atuação do profissional de relações públicas em Ongs. Para tanto, o método utilizado para a fundamentação teórica deste trabalho foram técnicas de pesquisa em documentação direta em fontes primárias e secundárias, além da observação da atividade de relações públicas em Ongs de Aracaju e de outras capitais brasileiras, através de pesquisas por e-mail e entrevistas. PALAVRAS-CHAVES: Cidadania, Comunidade, Ongs, Relações Públicas Comunitárias. 1- INTRODUÇÃO A atividade do profissional de relações públicas nasceu basicamente no sistema capitalista. O objetivo deste profissional era exclusivamente atender as necessidades da organização em busca de fins lucrativos para a mesma, ou seja, as relações públicas eram 1

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Anais do I Seminário Brasileiro de Valorização da Profissão de Relações Públicas – SEMBRARP 2007 ISBN: 978-85-60936-02-1

AS RELAÇÕES PÚBLICAS COMUNITÁRIAS EM ONGS

Anne Gabrielle Almeida Guimarães

Matheus Pereira Mattos Felizola

Resumo

Este trabalho traz para a discussão reflexões acerca da atuação do Profissional de Relações Públicas Comunitárias em ONGS. O profissional de relações públicas é o gestor da comunicação, que faz um trabalho de construir uma imagem positiva da organização onde atua para surtir efeitos frente à opinião pública a seu favor. Como a sociedade torna-se cada vez mais exigente, atualmente está sendo desenvolvido o trabalho de Relações Públicas Comunitárias, que diz respeito ás práticas de Relações Públicas que se estabelecem no âmbito das associações comunitárias e de outras organizações sem fins lucrativos, que têm como princípio básico acreditar no homem e na sua potencialidade de construir uma sociedade justa e livre, pautada na cidadania e na ação coletiva, para tanto as Relações Públicas Comunitárias devem ser feitas com a comunidade, dentro dela e em função da mesma. O objetivo geral desse trabalho foi demonstrar a importância do papel das Relações Públicas Comunitárias na sociedade e verificar a existência desta modalidade de atuação em ONGS. Onde os objetivos específicos foram: Mostrar que o trabalho das Relações Públicas Comunitárias deve ser feito juntamente com as entidades populares e não somente para elas; Especificar que as Relações Públicas se estabelecem no âmbito das associações e organizações não-governamentais e sem objetivos lucrativos; Identificar a existência de uma diferença entre as Relações Públicas Comunitárias e as Relações Públicas com a Comunidade e verificar se há uma mudança de paradigma na atuação do profissional de relações públicas em Ongs. Para tanto, o método utilizado para a fundamentação teórica deste trabalho foram técnicas de pesquisa em documentação direta em fontes primárias e secundárias, além da observação da atividade de relações públicas em Ongs de Aracaju e de outras capitais brasileiras, através de pesquisas por e-mail e entrevistas.

PALAVRAS-CHAVES: Cidadania, Comunidade, Ongs, Relações Públicas Comunitárias.

1- INTRODUÇÃO

A atividade do profissional de relações públicas nasceu basicamente no sistema

capitalista. O objetivo deste profissional era exclusivamente atender as necessidades da

organização em busca de fins lucrativos para a mesma, ou seja, as relações públicas eram

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consideradas tanto na teoria como na prática como um instrumento a serviço do capital, dos

governos e das classes dominantes.

Depois de anos de uma atuação voltada aos interesses das organizações capitalistas e

das classes dominantes, as relações públicas passaram a sobreviver destas instituições e a

defendê-las.

No final do século XX, as organizações capitalistas entraram em uma crise

proporcionada pelo próprio regime capitalista e a sociedade começou a perceber a exploração

deste sistema econômico, e a se organizar em entidades e associações para buscar direitos

iguais para todos os cidadãos. Diante destas transformações e das exigências desenvolvidas

por elas, as profissões iniciam um processo de reestruturação das suas atuações.

Como a sociedade encontra-se cada vez mais exigente e em processo de plena

transformação nos aspectos políticos, econômicos e sociais. As relações públicas passam a

acompanhar todas essas transformações sociais de uma sociedade, que começa a se preocupar

com o homem como cidadão.

O profissional de Relações Públicas Comunitárias entra nesse contexto com a função

de colaborar para que os diversos tipos de organizações em que o homem vive interajam

melhor umas com as outras. Essas organizações possuem atitudes e opiniões comuns, que

permitem ação conjugada em benefícios comuns, no caso das Organizações não-

governamentais (ONGs) e associações beneficentes.

A proposta desta análise será alertar o profissional de Relações Públicas (RRPP) para

uma nova opção academicista de formação de públicos, passando a perceber criticamente as

características que fazem uma sociedade ser mais justa, pois é essencial à participação das

Relações Públicas na sociedade, para uma possível renovação em seu conteúdo teórico que

assuma um novo paradigma para ser capaz de colaborar com o desenvolvimento comunitário.

As Relações Públicas Comunitárias referem-se ao trabalho realizado apenas com a

comunidade, dentro dela e em função dela, por profissionais que se integram nos grupos ou

por profissionais orgânicos surgidos nas próprias organizações.

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O objetivo geral deste trabalho é demonstrar a importância do papel das Relações

Públicas Comunitárias na sociedade e verificar a existência desta modalidade de atuação nas

Ongs de Aracaju.

Os objetivos específicos foram:

Mostrar que o trabalho das Relações Públicas Comunitárias deve ser feito juntamente

com as entidades populares e não somente para elas.

Especificar que as Relações Públicas Comunitárias se estabelecem no âmbito das

associações e organizações não-governamentais e sem objetivos lucrativos.

Identificar a existência de uma diferença entre as Relações Públicas Comunitárias e as

Relações Públicas com a Comunidade.

E verificar se há uma mudança de paradigma na atuação do profissional de Relações

Públicas nas Ongs de Aracaju, através de uma análise comparativa entre Ongs das principais

capitais brasileiras.

O presente estudo procurou analisar o fenômeno das Relações Púbicas Comunitárias

em todas as suas possíveis perspectivas, através de pesquisas, que tiveram um direcionamento

bibliográfico e empírico. A revisão da literatura existente baseou-se em artigos e obras

voltadas para esta temática, como também, houve a preocupação de coletar depoimentos de

profissionais envolvidos no terceiro setor.

Além de pesquisar as experiências de atividades de relações públicas comunitárias,

através de contatos com Ongs do Brasil, foram pesquisadas as ONGs registradas pela Abong

e algumas sem serem, e verificada a importância do profissional de Relações Públicas

Comunitárias em Aracaju, onde foram realizadas entrevistas nas ONGs Cesep e Saci filiadas

na Abong e ainda nas ONGs Federação das Mulheres de Sergipe, Sociedade Semear e Feama,

para observação dos trabalhos de relações públicas existentes.

JUSTIFICATIVA:

O papel das Relações Públicas Comunitárias é muito importante para a sociedade. É

fundamental que os futuros profissionais e os profissionais atuantes contribuam efetivamente

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para esse novo modelo de fazer Relações Públicas. Desta forma o que se propõe com este

trabalho é mostrar a importância de levar a sério essa nova exigência que a sociedade impõe

na busca de uma sociedade mais justa, cidadã e democrática. Assim, será fundamental a

renovação do conteúdo teórico das relações públicas para colaborar com o desenvolvimento

comunitário dentro da sociedade.

Como o tema de Relações Públicas com a Comunidade tem que se tornar um assunto

de interesse de muitos estudantes e profissionais de relações públicas, pois o motivo para tal é

a implantação de programas de cunho social por um crescente número de empresas, é

necessário esclarecer através deste trabalho a diferença entre Relações Públicas com a

comunidade e Relações Públicas Comunitárias.

Para uma análise mais completa deste estudo será necessário observar criteriosamente

os melhores meios para se fazer as relações públicas comunitárias, pois a comunicação

comunitária no Brasil é um tema que vem sendo estudado e explorado muito pelos

pesquisadores e profissionais da área desde meados dos anos 80, portanto é recente a sua

existência científica .

METODOLOGIA:

O método de abordagem será o indutivo, fundamentando-se na observação das

constatações do presente estudo.

As técnicas de pesquisa serão de documentação indireta em fontes primárias e

secundárias, para pesquisa bibliográfica e observação direta dos fatos, valendo-se da

modalidade de entrevistas e pesquisas para obtenção das informações e conhecimentos

necessários.

Além da observação de experiências de atividades de relações públicas comunitárias,

onde possivelmente será pesquisado em ONGs a importância do profissional de RRPP

Comunitária em Aracaju.

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2. HISTÓRICO DAS RELAÇÕES PÚBLICAS E AS VÁRIAS CONCEPÇÕES DAS

RELAÇÕES PÚBLICAS COMUNITÁRIAS EM ONGS.

No início do Século XX, surge a semente da atividade de relações públicas, através do

trabalho de Ivy Lee, nos Estados Unidos para servir aos interesses dos capitalistas, ou seja,

tentando amenizar os impactos do modo de produção capitalista na sociedade.

Nos Estados Unidos as relações públicas tiveram início na indústria moderna em

decorrência de um momento histórico preciso. Após a Guerra de Secessão germinou um

grande desenvolvimento industrial (WEY, 1986, p.29). As indústrias começaram a ser

atacadas por líderes do governo e escritores de fama com cobranças e ironias do mundo dos

negócios, que mostravam a exploração das organizações no trato com os consumidores.

(PERUZZO, 1982, p.15). Os grandes capitalistas denunciados e acuados encontraram em Ivy

Lee o grande caminho para evitar denúncias, a partir de um trabalho em cima da opinião

pública. (WEY, 1986, p.30)

Depois das ações de Lee, observou-se um vasto momento histórico, não só nos

Estados Unidos mais em outros países capitalistas, onde as relações públicas passaram a

desenvolver não só as técnicas e atividades de sua origem, mas foram aprimoradas as mesmas

e tratadas como um processo elaborado de relacionar-se com públicos de uma organização.

Por isso, que é atribuída a Lee a honra de ter sido o primeiro a colocar em prática princípios e

técnicas de relações públicas, pois foi o primeiro profissional a relaciona-se com o público.

2.1. RELAÇÕES PÚBLICAS NO BRASIL

O processo de Relações Públicas no Brasil está associado ao surgimento da grande

indústria, com seus decorrentes problemas de administração de pessoal, no que se refere as

relações humanas no trabalho e a implicação destas questões no contexto social e suas inter-

relações com os diversos públicos.

Segundo Kunsch (1997b, p.19), pode-se contar como o fato mais relevante que

marcou o surgimento das relações públicas no Brasil a chegada da empresa Canadense de

eletricidade (The São Paulo Tramway Light and Power Company Limited), em 1914, a qual

acelerou o processo de institucionalização desta profissão. Com a criação de um departamento

de relações públicas, “Eduardo Pinheiro Lobo” foi nomeado por esta referida empresa de

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eletricidade para chefiar o departamento. Desta forma, Eduardo foi considerado o patrono da

profissão no país, por ser o primeiro a exercer a atividade profissional de um departamento de

Relações Públicas no Brasil.

As atividades de relações públicas ganharam forma na década de 50, pois o Brasil

respirava os ares da democracia, graças a Constituição de 1946, e entrava no processo de

produção, com uma nova conjuntura econômica, devido à vinda de empresas multinacionais,

as quais valorizavam a comunicação, sobretudo das áreas de propaganda, publicidade e

relações públicas que para atender esses grandes clientes faziam-se necessários investimentos

na criação de cursos e serviços especializados. (KUNSCH, 1997b, p.19-20).

Somente na década de 1960 a profissão de relações públicas é regulamentada.

Segundo Kunsch (1997b, p.22) tem-se o seguinte sobre a década de 60, o que se pode dizer

que foi decisivo para o reconhecimento do profissional de relações públicas:

A década de 60 é assinalada pela emissão da lei 5.377, de 11 de dezembro de

1967, que, regulamentada em 26 de setembro de 1968 e aprovado no mesmo

dia pelo decreto-lei nº. 63.283, tornou a atividade privativa dos bacharéis de

comunicação social com habilitação em relações públicas. Trata-se sem

dúvida, do fato mais marcante da década, comemorado na época por seu

pioneirismo, pois o Brasil foi o primeiro país do mundo tal iniciativa.

Foi o aparecimento das faculdades de comunicação social na década de 60, que

contribuiu para as relações públicas no Brasil se desenvolverem. Pode-se dizer que no campo

do ensino e da pesquisa, no que se refere a cursos em nível de graduação e pós-graduação, o

Brasil está muito desenvolvido, o que é muito enriquecedor aos conhecimentos e intercâmbios

de experiências com outros países e até mesmo entre o meio acadêmico, no sentido de ampliar

o acervo técnico e cultural indispensável a uma profissão.

2.2. RELAÇÕES PÚBLICAS EM SERGIPE

As relações públicas em Sergipe surgiram da mesma necessidade que fez estas

emergirem no mundo e no Brasil. Para tanto, não se tem uma data cronológica exata de

quando estas passaram a ser executadas no mercado sergipano, visto que as relações públicas

em Sergipe são muito incipientes quanto a fundamentação de fontes existentes.

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De acordo com a Ata da Instalação da Secção Regional da Associação Brasileira de

Relações Públicas do Estado de Sergipe, transcrita por Julieta Frutoso de Araújo (1ª

Secretária) e disponível na ABRP-SE pode-se encontrar que esta foi fundada no dia 6 de

fevereiro de 1976. A criação e instalação da citada regional obedeceram as diretrizes contidas

no Estatuto do Conselho Nacional da Associação Brasileira de Relações Públicas.

(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RELAÇÕES PÚBLICAS/SERGIPE, 1976, p.1).

Para a aprovação da secção regional em Sergipe, realizou-se uma reunião do Conselho

Nacional da ABRP, na cidade de São Paulo, por meio de uma votação unânime dos delegados

presentes aquela sessão para a sua aprovação. Na ocasião pôde-se contar com a presença do

professor Cândido Teobaldo de Souza Andrade, delegado daquele Conselho, devidamente

credenciado pelo seu presidente Senhor J. M. Ruy Barbosa, além da presença do professor

Dante Lima Viana, presidente da ABRP-RJ e coordenador da ABRP-SE, Raimundo Valquírio

Coréia Lima, presidente do ex-Centro Sergipano de Relações Públicas, transformado em

Regional da ABRP/SE e considerado como um dos primeiros a exercer as atividades de

relações públicas em Sergipe.

Desta forma, o professor Cândido Teobaldo de Souza Andrade, em nome do Conselho

Nacional da ABRP, deu posse a diretoria provisória sob os aplausos dos presentes e tendo

como presidente desta Regional Raimundo Valquírio Correia Lima. O representante do

Conselho Nacional esclareceu que a diretoria ora empossada tinha o prazo de 30 dias para

convocar, eleger e empossar a diretoria definitiva, na forma de estatuto em vigor da ABRP.

Atualmente o presidente da ABRP - SE é o relações públicas Hudson Muad. (ASSOCIAÇÃO

BRASILEIRA DE RELAÇÕES PÚBLICAS/ SERGIPE, 1976, p.1).

A Universidade Tiradentes (UNIT) foi a única instituição no Estado de Sergipe a

oferecer o curso de relações públicas, que foi criado em 1981, obedecendo aos critérios para

credenciamento ditados pelo Parecer CFE nº. 480/83, de 06 de outubro de 1983 e à

Resolução CFE nº. 02/84, de 02 de janeiro de 1984. O Curso foi reconhecido pela Portaria

Ministerial nº. 456, de 21 de novembro de 1983. E em 1984, a Faculdades Integradas

Tiradentes formou a sua primeira turma de relações públicas, com 15 profissionais.

Atualmente, o mercado Sergipano conta com aproximadamente quinhentos profissionais de

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relações públicas formados pela agora UNIT. (ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO

SOCIAL DA UNIVERSIDADE TIRADENTES-UNIT, 2001).

Infelizmente a Universidade Tiradentes não oferece mais o Curso de Relações

Públicas, a última turma de profissionais foi concluída em 2004. O curso teve que ser extinto,

pois a procura não satisfazia a oferta.

2.3. PAPEL DAS RELAÇÕES PÚBLICAS COMUNITÁRIAS

O trabalho de Relações Públicas Comunitárias não deve ser entendido como uma

especialidade na área de atuação das relações públicas, mas sim como uma mudança na forma

de agir em suas atividades dentro das organizações e entidades sem fins lucrativos que fazem

a sociedade civil.

As Relações Públicas Comunitárias buscam o estabelecimento de novos canais de

integração na organização, além de conseguir novos aliados ou parceiros para melhor executar

as propostas efetivas de comunicação que tem tal organização. Para isso, o relações públicas

tem que se perceber como agente da ação a serviço da coletividade e não como agente de

criação de projetos, para atender a fins lucrativos organizacionais. Elas devem desenvolver

um trabalho comprometido com os interesses dos grupos sociais organizados, ou seja, deve

atender ao interesse público, diferentemente da posição de atuar para fins privados.

Desta forma, Kunsch (2003, p.2) deduz as Relações Públicas Comunitárias como o

“trabalho realizado diretamente com a comunidade, dentro dela e em função da mesma, por

profissionais que se integram nos grupos ou por profissionais surgidos nos próprios grupos”.

O papel das Relações Públicas Comunitárias é fundado na busca da transformação

social, através da conquista da cidadania no trabalho desenvolvimento com a comunicação

comunitária, dentro da sociedade civil, ou melhor, dizendo, em organizações não-

governamentais, associações beneficentes, sindicatos, associações de moradores ou de bairros,

enfim, organizações sem fins lucrativos, classificadas como sendo membros do terceiro setor.

Neste âmbito de trabalho das relações públicas, é importante que o profissional

perceba-se como integrante da comunidade trabalhada, para melhor alcançar os seus

objetivos, ou melhor, para conseguir surtir efeitos mais rápidos ao que se pretende realizar,

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pois até então, as relações públicas executavam atividades a serviço de organizações que

atendiam a fins individuais, enquanto que as Relações Públicas Comunitárias trabalham a

serviço do coletivo. (CESAR, 2003, p.5)

É necessário ressaltar que o papel das Relações Públicas Comunitárias é também o de

desenvolver suas ações e programas, além das escolhas dos meios de comunicação junto com

a comunidade, pois o fundamental é fazer com que a comunidade sinta-se parte deste

trabalho, pois o trabalho das Relações Públicas Comunitárias deve ser feito com a

comunidade, dentro dela e sendo para ela o objetivo da sua função.

Os princípios que regem as Relações Públicas Comunitárias segundo Peruzzo

(1993, p.128-129) são as seguintes:

Elas têm a ver com uma concepção de mundo e uma concepção de homem que: a) Acredita no homem, na sua potencialidade de construir uma sociedade “justa e livre”. b) Que enxerga a desigualdade social, as contradições de classes e quer o bem-estar, a plenitude e os direitos de cidadania assegurados para todos os homens. c) Acredita nas possibilidades de mudança, e na sociedade civil como gestora de mudanças e de nova hegemonia. d) Implica a interdisciplinaridade entre vários campos do conhecimento e da ação político-educativa. e) Que se realizem de modo orgânico ao interesse público, e preferencialmente inseridas em experiências concretas e alicerçadas na metodologia de uma educação popular libertadora. f) Favoreça a ação coletiva, a autonomia, a partilha do poder de decisão, a co-responsabilidade (tanto pelas práticas participativas como pela implementação de políticas públicas em conformidade com as necessidades e interesses da comunidade) e, claro, respeitando a dinâmica própria dos movimentos onde se inserem.

Tais princípios resumem o papel das Relações Públicas Comunitárias, pois eles se

referem ao que o profissional acredita, para a superação dos conflitos existentes na

comunicação e na comunidade e que necessitam ser transformados para a busca do bem

comum. O papel das Relações Públicas Comunitárias é uma proposta de grande valia dentro

do trabalho comunitário, e tende a crescer cada vez mais.

2.4. PLANEJAMENTO EM RELAÇÕES PÚBLICAS COMUNITÁRIAS

Todo trabalho para se concretizar precisa ter sido planejado antes, pois o planejamento

é estruturar alguma coisa ou algo, organizando todas as etapas para que sejam concluídas com

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êxito, pois planejar também é saber conviver com os obstáculos e imprevistos. Assim, pode-se

dizer que todo trabalho exigi um planejamento para ser realizado.

É importante ressaltar que o planejamento é antes de tudo uma função básica de

relações pública. De acordo com KUNSCH (2003, p.204), “o planejamento pressupõe

imagens do futuro e a definição que a organização deve seguir no contexto desse futuro, ao

passo que a solução de problemas é imediatista e visa simplesmente corrigir descontinuidades

entre a organização e seu ambiente”.

No processo tradicional de relações públicas e na modalidade de Relações Públicas

Comunitárias, o planejamento une as ações, para construir uma integração no trabalho com os

públicos, como explica Kunsch (1986, p.53), “planejamento integrativo que envolve todo o

conjunto de unidades interdependentes da organização, facilitando e unificando as suas

tomadas de decisão”.

Assim, é fundamental construir um planejamento de relações públicas para melhor

distribuir as tarefas cabíveis a cada um dos participantes em um trabalho de Relações Públicas

Comunitárias, ou até mesmo, um projeto, pois o planejamento é uma função básica de

qualquer atividade do relações públicas e não podendo ser excluída nessa nova proposta de

ação.

As etapas fundamentais no processo de planejamento nas relações públicas, segundo

Kunsch (2003, p.326) são quatro: A “pesquisa” que compreende a identificação e

conhecimento da situação, o “planejamento”, a “implantação” e a “avaliação”. Estas etapas

são essenciais no trabalho com as Relações Públicas Comunitárias também.

No trabalho das Relações Públicas Comunitárias não é necessário seguir essas etapas

como um roteiro fixo, as etapas se desenvolvem a partir do momento em que se conquista a

confiança do grupo, ou seja, da comunidade trabalhada. A prioridade desse processo é o

conhecimento da realidade existente na comunidade, respeitando as suas características. O

planejamento de Relações Públicas Comunitárias deve ser realizado juntamente com os

elementos da comunidade, ou seja, buscar a participação do público que será beneficiado com

a atividade de relações públicas.

Todo o trabalho comunitário deve ser marcado pela conquista da confiança do público

nele trabalhado, pois isso é primordial para uma perfeita comunicação, para o ato de

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compartilhar informações. César (2003, p.4) diz que a convivência com o grupo será o meio

fundamental para se adquirir um diagnóstico da realidade, percebendo os problemas

existentes no movimento social, nos grupos, nos subgrupos, nas lideranças, nos jogos de

interesses, nas diferenças políticas e os aspectos sociais, culturais e econômicos da

comunidade em questão.

2.5. DIFERENÇA ENTRE RELAÇÕES PÚBLICAS COMUNITÁRIAS E RELAÇÕES

PÚBLICAS COM A COMUNIDADE

Muitas confusões são feitas a respeito dos trabalhos realizados pelas Relações Públicas

Comunitárias e as Relações Públicas com a comunidade, tal complicação ocorre porque o

público principal de ambas se refere ao público denominado “comunidade”.

No entanto, as Relações Públicas Comunitárias são diferentes das Relações Públicas

com a Comunidade. Pois a atividade desenvolvida pelas relações públicas com a comunidade

se refere ao relacionamento estabelecido entre as organizações privadas ou públicas, com um

dos seus públicos denominado “comunidade”. Já as Relações Públicas Comunitárias, referem-

se ao trabalho realizado com uma comunidade específica dentro dela e junto com ela, ou em

uma organização ou entidades da sociedade civil, sem fins lucrativos.

Explicando melhor essa definição, encontra-se em Peruzzo (2003) o seguinte:

Relações Públicas Comunitárias são aquelas que dizem respeito as relações que se estabelecem no âmbito das associações e organizações comunitárias, ou seja, das organizações não-governamentais e sem objetivos lucrativos. Enquanto que Relações Públicas com a Comunidade se caracterizam como as relações que as instituições privadas e públicas, estabelecem com um dos seus públicos, denominado “comunidade”.

Confunde-se muito o trabalho das Relações Públicas Comunitárias com as Relações

Públicas com a Comunidade, porque a comunidade é considerada um dos públicos de

organizações públicas privadas e sem fins lucrativos.

A respeito disso, pode-se dizer que o trabalho de relações públicas feito em

organizações públicas, encontra-se no chamado primeiro setor, nas relações com as

organizações privadas, encontra-se no chamado segundo setor e com relação às organizações

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sem fins lucrativos, as atividades de relações públicas que se estabelecem no chamado

terceiro setor. (FERNANDES, 2003, p.5).

Desta forma, encontram-se em Raposo (2002, p.83) os conceitos do que vem a ser

primeiro, segundo e terceiro setor. Tem-se o seguinte:

Primeiro setor referimo-nos ao governo, que utiliza os tributos, ou seja, os recursos públicos para uma finalidade também pública. Já na iniciativa privada, que chamamos de segundo setor, os recursos são de origem privada e têm fins privados. Por fim, temos o terceiro setor, que trata dos recursos privados, mas com fins públicos.

Assim, se repete que a atividade das Relações Públicas com a Comunidade se

estabelece no primeiro e segundo setor, pois as exigências da sociedade perante a sua própria

evolução buscam os seus direitos nas organizações, e estas sentem cada vez mais necessidade

de criar programas de cunho social para não correrem o risco de serem extintas do mercado.

As Relações Públicas Comunitárias estabelecem relações com organizações do

terceiro setor, neste enfoque, as atividades do processo de relações públicas desenvolvem-se

junto com a comunidade, as decisões das ações a serem realizadas são tomadas em parceria

com a coletividade.

Voltando a falar na diferença do trabalho de Relações Públicas com a comunidade e

Relações Públicas Comunitárias é necessário explicar que as primeiras devem agir com ética e

muita responsabilidade, pois criam programas de responsabilidade social em organizações

privadas, para satisfazer as exigências da sociedade, neste caso, o trabalho do relações

públicas neste âmbito deve visar aos interesses tanto da organização como da comunidade,

não olhando apenas o interesse privado da organização, encarando os problemas com

sinceridade, sem querer fazer somente uma imagem positiva da instituição que representa.

2.6. AS RELAÇÕES PÚBLICAS COMUNITÁRIAS EM ONGS

Visto que o desenvolvimento social do país cresce com o caráter de ajudar a

população, faz-se necessária a emergência das Relações Públicas Comunitárias no âmbito de

toda a sociedade civil, principalmente nas Ongs.

Pode-se dizer que o terceiro setor aparece atualmente como um mercado bastante

promissor para atuação do relações-públicas, pois tal profissional pode entrar neste contexto

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com o papel, buscando facilitar parcerias entre ambos, na construção de um mundo justo e

cidadão, de mediador entre a comunidade, as organizações com fins lucrativos e com o

Estado.

Segundo Raposo (2001, p.83) tem-se o seguinte:

A expressão terceiro setor nasceu nos Estados Unidos, a partir de um trabalho de uma economista que, vislumbrado o volume de recursos movimentados pelas fundações, pela filantropia e pelas organizações não-governamentais, procurou saber o que estava por trás desse setor que movimentava um volume tão grande de recursos (....) No Brasil, o terceiro setor aparece basicamente a partir do processo de democratização, pois ele é uma força viva que nasce na sociedade civil- e só há sociedade civil atuante e forte em ambiente democrático.

Sendo assim, qual seria a relação do terceiro setor com a sociedade civil no trabalho

das Relações Públicas Comunitárias em Ongs, quanto a esta atuação, pois esse novo

paradigma não está estritamente ligado no trabalho em Ongs, mas em todas as outras

organizações sem fins lucrativos que fazem parte da sociedade civil?

Sobre a sociedade civil Peruzzo (1982, p.93) diz que “é a sociedade fundada no

contrato, na cidadania, num direito público que garante os direitos e os deveres do cidadão”.

Deste modo, dizer-se que as Ongs, os sindicatos, as universidades, os partidos polí-

ticos e demais membros que compreendem a sociedade civil, têm em comum conquistar o

bem social, a democracia, a cidadania e todos os direitos que fazem uma sociedade ser mais

justa.

Para a atuação do relações públicas dentro de toda a sociedade, Vieira (2002, p.20) diz

que:

Buscam um método de motivação para a mudança de mentalidade, no sentido de humanizar relações de trabalho, minimizar diferenças sociais, transformando a própria sociedade. Constituem-se não apenas numa necessidade do modo de produção capitalista, como também de instituições como sindicatos, universidades, escolas, hospitais, associações.

Seguindo tal referência sobre o trabalho do relações públicas, acredita-se que estas são

uma necessidade não só das organizações privadas e públicas, mas também das organizações

da sociedade civil de interesse público.

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2.6.1. UMA PROPOSTA DE MUDANÇA NA ATUAÇÃO DAS RELAÇÕES

PÚBLICAS NAS ONGS DO BRASIL

Como ainda é muito recente a emergência de atuação das Relações Públicas

Comunitárias dentro da sociedade civil, principalmente no âmbito das Ongs, acredita-se que

uma renovação na metodologia das funções das relações públicas deixaria mais claro o papel

e a importância do relações públicas neste âmbito, pois as funções do relações-públicas como,

assessoria, pesquisa, planejamento, execução (comunicação) e avaliação, foram feitas

segundo concepções do capitalismo, onde até hoje são praticadas pela maioria dos

profissionais de relações públicas em organizações públicas e privadas.

Uma mudança metodológica nas ações e funções das relações públicas demonstraria

aos profissionais o vasto campo de atuação que há no terceiro setor, pois acredita-se ser um

novo modo de fazer relações públicas, onde se pode encontrar um considerável número de

livros, artigos, periódicos, revistas, projetos e trabalhos experimentais, referentes ao assunto.

O que pode impulsionar aos profissionais de relações públicas, a busca por novas estratégias

de comunicação no universo que compreende as entidades do terceiro setor.

Para compreender melhor o que pode ser feito pelos profissionais de relações públicas

no terceiro setor, Kunsch (2003, p.145) diz o seguinte:

O terceiro setor compreende um vasto campo de atuação: ONGs; fundações; associações e institutos que se dedicam a melhorar a vida das pessoas, a atender crianças, adolescentes e idosos desprotegidos, portadores de deficiência, famílias carentes ou em situação de risco, refugiados, presos, minorias raciais e muitos outros grupos esquecidos pelo poder e pela sociedade em geral.

É importante ressaltar para tanto, que uma mudança metodológica nas funções das

relações públicas não se trata de criar uma nova habilitação, até porque o trabalho das

Relações Públicas Comunitárias tem o mesmo objetivo dos trabalhos de relações públicas

realizados em organizações públicas e privadas. A diferença básica desse novo paradigma

será o tipo de organização a ser trabalhado, no caso no âmbito das organizações que fazem

parte do terceiro setor, principalmente no universo das Ongs, que é justamente o objeto desse

estudo.

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Para se realizar uma proposta de mudança na atuação das relações públicas nas Ongs,

é importante primeiro analisar como encontra-se o universo das Ongs no Brasil, na sua grande

maioria, pois de acordo com (KUNSCH 2003, p.145 ), tem-se que: “Nos últimos anos, o

número das Ongs tem crescido de forma impressionante no país. Dados de 1999 registravam

mais de 250 mil entidades cadastradas, que atuavam nas mais diferentes frentes e

empregavam cerca de 2 milhões de pessoas”.

Haddad (2003, p.1) presidente da ABONG (Associação Brasileira de Organizações

não-governamentais), a respeito disso, diz o seguinte:

As ‘Ongs são muitas, difíceis de serem contadas. Apesar da importância da sua presença no desenvolvimento social do país - o que pode ser evidenciado pelo número e pela diversidade de grupos beneficiados e também pelas experiências exitosas desenvolvidas, muitas premiadas e outras adotadas como políticas públicas pelo Estado, a natureza de seu trabalho ainda não é de domínio público’. (...). A respeito de algumas fontes que, no entanto, correspondem ao universo das entidades sem fins lucrativos em geral: - Secretaria da Receita Federal (1995): 220 mil organizações sem fins lucrativos cadastradas; - Registro Administrativo de Informações Sociais (Rais)- 1995:250 mil; - Conselho Nacional da Assistência Social (CNAS)- 1994: mais de 40 mil.

Sendo assim, para contextualização deste trabalho foram contactadas duzentas e

quarenta e nove Ongs filiadas a ABONG, e mais seis Ongs de Porto Alegre, objeto de

trabalho para obtenção do título de Mestre em Comunicação Social do autor Henrique

Wendhausen (2003), o qual resultou mais tarde no nascimento do livro “Comunicação e

Mediação das ONGs- Uma leitura a partir do canal comunitário de Porto Alegre”. Estes

contatos tiveram como objetivo, observar a atuação de profissionais de relações públicas em

Ongs, e se estes executam as atividades segundo a proposta do novo paradigma das Relações

Públicas Comunitárias.

Dentre essas Ongs, apenas dezessete delas enviaram respostas. Destas, quinze

responderam não ter profissionais de relações públicas. Estas são originárias dos seguintes

estados: duas são da Bahia, duas de Brasília, uma do Pará, três do Rio Grande do Sul, uma do

Rio Grande no Norte, três do Rio de Janeiro, uma de Pernambuco e mais duas de São Paulo.

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As duas que responderam ter relações públicas, são da Bahia e de São Paulo. A Ong

Moc-Movimento de organização Comunitária da Bahia, respondeu que tinha uma assessora

de comunicação formada em Relações Públicas pela UNEB e que coordenava as ações da

entidade, desta forma, acredita-se que essas ações feitas, sejam da atuação das Relações

Públicas Comunitárias. E a Ong CEDAP-Centro de Educação e Assessoria Popular de São

Paulo, respondeu ter um estudante em fase de conclusão do curso de relações públicas e que

exerce o papel de Relações Públicas Comunitárias na Ong. Ele (o estudante) respondeu que

desenvolve essa atividade de forma bem abrangente, propiciando, inclusive, a criação de uma

política de comunicação que visa a dar mais visibilidade aos projetos e a organização como

um todo.

2.6.2. AS RELAÇÕES PÚBLICAS EM ARACAJU

Em Aracaju, foram feitas entrevistas em cinco Ongs, destas, duas possuem

profissionais de relações públicos, as outras três não têm profissional de relações públicas. Em

uma destas não se sabia o que de fato um relações-públicas fazia, mas que depois de uma

breve explicação, demonstraram interesse em ter dentro do seu quadro de voluntários um

profissional de relações públicas e ainda disse que talvez as dificuldades encontradas nas

ações de comunicação realizadas pela organização fossem frutos da falta de um profissional

qualificado na área de relações públicas. Nas outras duas, que também disseram não ter

relações-públicas, também houve interesse nas atividades de um relações-públicas na

organização, disseram que em seus futuros projetos, enquadrariam profissionais de relações

públicas.

As Ongs Feama e Sociedade Semear disseram ter profissionais de relações públicas

comprometidos com a comunidade, onde a atuação dos mesmos se refere as atividades

inerentes as Relações Públicas Comunitárias, pois estas são de fundamental importância nas

ações de comunicação de uma Ong para com os seus públicos. Ainda foi verificado que no

universo destas duas Ongs, o profissional de relações públicas, também desempenha

atividades inerentes aos eventos da organização, como palestras, seminários, cursos e outros,

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voltados não só para a comunidade atendida pela Ong, mas para toda a sociedade que tiver

interesse no que está sendo oferecido.

A falta do profissional de relações públicas na maioria das Ongs pode ser

compreendida como falta de comprometimento com os interesses da sociedade pelo próprio

profissional de relações públicas, acostumado a executar as suas funções em organizações do

primeiro e segundo setor, ou que profissionais de outras áreas estão executando as atividades

de relações públicas, pois nas três Ongs de Aracaju que não têm profissionais de relações

públicas, foi mencionado que as ações comunitárias, como: programas, projetos e demais

atividades de relações públicas são feitas por profissionais de outras áreas, auxiliados por

serviços prestados de assessorias.

Sobre a proposta de mudança na atuação das relações públicas nas Ongs de Aracaju,

primeiramente é necessário incutir na sociedade, principalmente nas organizações dos três

âmbitos (primeiro, segundo e terceiro setor), a importância da atuação das relações públicas

nas organizações. Segundo, diferenciar as Ongs de entidades filantrópicas, pois pôde-se

observar que várias entidades filantrópicas são cadastradas como sendo Ongs e pensam ser

uma Ong de fato. E terceiro, os profissionais de relações públicas devem estar interessados

em desenvolver este trabalho e conhecer esta modalidade de ação.

Não se pode concluir que a escassez de profissionais no universo das Ongs, é uma

culpa estritamente dessas organizações, pois é importante ressaltar o interesse do profissional

de relações públicas em atuar neste âmbito, e observar se a população sabe de fato o que o

relações-públicas pode fazer. É importante frisar que o campo deste tipo de atividade de fazer

Relações Públicas Comunitárias no universo das Ongs é promissor não só em Aracaju, mas

no Brasil de uma forma geral, visto que há um grande movimento de surgimento e

crescimento de organizações não-governamentais.

O que se observou na atividade de relações públicas nas Ongs de Aracaju, é a

preocupação destas Ongs em se colocarem na mídia, de serem reconhecidas pela sociedade

como um todo, no entanto, essa é apenas uma das ações que o relações públicas poderia fazer

para mediar as suas atividades no universo da sociedade. Outro ponto observado foi a carência

de experiências de projetos realizados dentro deste âmbito.

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A observação mais importante quanto à falta de profissionais de relações públicas nas

Ongs de Aracaju, foi a ausência de conhecimento do que este profissional é capaz de executar,

pois no que se refere a confecção de projetos de comunicação, estes são feitos na sua maioria

por profissionais de outras áreas e não por um especialista como é o caso do relações-

públicas, além das várias dificuldades quanto a estabelecer uma comunicação eficiente,

externa e interna nessas Ongs.

Outro problema encontrado em duas das Ongs entrevistadas, e que não possuem

profissionais de relações públicas, foi à falta de profissionais da área de comunicação

graduados, pois a execução das atividades inerentes as relações públicas é feita por

profissionais sem formação acadêmica de comunicação.

O campo de atuação das relações públicas nas ongs em Aracaju, quando está sendo

desenvolvido é executado por jornalistas, pois a falta de conhecimento do que um relações-

públicas pode fazer ainda é muito grande. E estas pessoas só vêem o jornalista como o único

profissional capaz de fazer divulgação, além dos seus projetos. Foi demonstrada surpresa em

duas Ongs, que não possuem profissionais de relações públicas que ao se explicarem suas

atividades, os entrevistados entenderam a importância do profissional de relações públicas em

uma organização, seja ela qual for o seu âmbito de atuação e principalmente neste novo

paradigma de Relações Públicas Comunitárias.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo foi constatado que a atividade das Relações Públicas Comunitárias

encontra-se ainda na teoria e muito pouco na sua prática, pois através das entrevistas feitas em

Ongs de Aracaju e os contatos com diversas Ongs do Brasil, notou-se uma ausência deste

profissional nestas organizações, onde poucas amostras demonstram a existência da atuação

com timidez.

Para aumentar esta modalidade de relações públicas é necessária não só uma mudança

metodológica nas funções das relações públicas, mas também uma maior divulgação das

entidades de classes que compreendem as relações públicas, como as Associações Brasileiras

de Relações Públicas e os Conselhos de Relações Públicas, deixando claro para a sociedade a

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importância deste profissional no âmbito das organizações, principalmente nas organizações

do terceiro setor.

Pode-se afirmar que às vezes as dificuldades encontradas no universo das Ongs,

podem ser sanadas com a implantação do processo de Relações Públicas Comunitárias. Pois,

o relações-públicas sabe utilizar os meios mais eficazes para tais organizações, como os

canais da mídia comunitária, além de uma comunicação dirigida as comunidades em questão.

É importante propor que os próprios profissionais de relações públicas estejam bem

informados sobre as tendências da profissão, não só pelos órgãos de classe, mas por sua

própria iniciativa no mercado de trabalho. As organizações sem fins lucrativos, os sindicatos,

associações e demais entidades do terceiro setor necessitam do processo de relações públicas

e, portanto, do trabalho de profissionais atuantes nesta área.

Conclui-se que para a atuação das Relações Públicas Comunitárias se expanda na

prática, isso somente será possível e só terá resultado positivo se essa nova modalidade de

relações públicas for definida com clareza, pois as dúvidas da profissão em si são constantes

pelos profissionais da área, principalmente no que se refere a uma nova proposta de mudança

de paradigma no trato com a comunidade, que realmente é um campo bastante promissor.

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