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1 AS FAMÍLIAS ESCRAVAS DOS RODRIGUES BARCELLOS: ESCRAVIDÃO, LIBERDADE, HIERARQUIAS SOCIAIS E MOBILIDADE SOCIAL NA CIDADE DE PELOTAS/RS, 1830/1888 Natália Garcia Pinto (UFRGS) Resumo: A pesquisa visa investigar e problematizar as experiências de liberdade e parentesco acionadas pelos escravos e seus familiares, abordando as questões sobre hierarquia e mobilidade social, tendo como foco de análise dessa experimentação, as escravarias da família dos Rodrigues Barcelos na cidade de Pelotas. Diante disso, a investigação dedica- se ao estudo da composição de laços familiares envolvendo os cativos das senzalas pertencentes a esse núcleo senhorial, através de um acompanhamento geracional das famílias cativas. A recomposição das trajetórias familiares dos escravos será realizada pelo método onomástico em distintas fontes tais como: registros paroquiais, inventários post-mortem, testamentos, alforrias, registros de compra e venda, processos-crimes. Palavras-Chave: Liberdade; Escravidão; Alforria. Abstracto: La investigación tiene como objetivo investigar y discutir las experiencias de la libertad y la relación con el cliente por los esclavos y sus familias, para abordar las cuestiones de jerarquía y la movilidad social, centrándose en el análisis de este ensayo, la familia escravarias Barcelos Rodrigues 'en la ciudad de Pelotas. Por lo tanto, la investigación se dedica al estudio de la composición de los lazos familiares que involucran cautivos de los cuartos de los esclavos pertenecientes al núcleo principal, a través de un monitoreo generacional de las familias cautivas. La reconstrucción de las trayectorias familiares de los esclavos se realizará por fuentes dispares método onomásticos, como los registros parroquiales, inventarios post mortem, testamentos, registros de manumisión, la compra y venta, y los procesos de crímenes. Palabras clave: Libertad; Esclavitud; Emancipación.

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Page 1: AS FAMÍLIAS ESCRAVAS DOS RODRIGUES BARCELLOS: … · estratificação social dentro dessas senzalas. Observou-se que algumas famílias dessas escravarias estendiam seus laços parentais

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AS FAMÍLIAS ESCRAVAS DOS RODRIGUES BARCELLOS:

ESCRAVIDÃO, LIBERDADE, HIERARQUIAS SOCIAIS E

MOBILIDADE SOCIAL NA CIDADE DE PELOTAS/RS, 1830/1888

Natália Garcia Pinto (UFRGS)

Resumo:

A pesquisa visa investigar e problematizar as experiências de liberdade e parentesco

acionadas pelos escravos e seus familiares, abordando as questões sobre hierarquia e

mobilidade social, tendo como foco de análise dessa experimentação, as escravarias da

família dos Rodrigues Barcelos na cidade de Pelotas. Diante disso, a investigação dedica-

se ao estudo da composição de laços familiares envolvendo os cativos das senzalas

pertencentes a esse núcleo senhorial, através de um acompanhamento geracional das

famílias cativas. A recomposição das trajetórias familiares dos escravos será realizada

pelo método onomástico em distintas fontes tais como: registros paroquiais, inventários

post-mortem, testamentos, alforrias, registros de compra e venda, processos-crimes.

Palavras-Chave: Liberdade; Escravidão; Alforria.

Abstracto:

La investigación tiene como objetivo investigar y discutir las experiencias de la libertad y

la relación con el cliente por los esclavos y sus familias, para abordar las cuestiones de

jerarquía y la movilidad social, centrándose en el análisis de este ensayo, la familia

escravarias Barcelos Rodrigues 'en la ciudad de Pelotas. Por lo tanto, la investigación se

dedica al estudio de la composición de los lazos familiares que involucran cautivos de los

cuartos de los esclavos pertenecientes al núcleo principal, a través de un monitoreo

generacional de las familias cautivas. La reconstrucción de las trayectorias familiares de

los esclavos se realizará por fuentes dispares método onomásticos, como los registros

parroquiales, inventarios post mortem, testamentos, registros de manumisión, la compra y

venta, y los procesos de crímenes.

Palabras clave: Libertad; Esclavitud; Emancipación.

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Introdução

A pesquisa visa investigar e problematizar as experiências de liberdade e

parentesco acionadas pelos escravos e seus familiares, abordando as questões sobre

hierarquia e mobilidade social, tendo como foco de análise dessa experimentação, as

escravarias da família dos Rodrigues Barcelos na cidade de Pelotas, localizada ao sul do

Brasil Meridional. Diante disso, a investigação dedica-se ao estudo da composição de

laços familiares envolvendo os cativos das senzalas pertencentes a esse núcleo

senhorial, através de um acompanhamento geracional das famílias cativas.

Ao inferirmos a análise sobre as relações de compadrio e projetos de liberdade

das famílias escravas nos plantéis dos Rodrigues Barcelos, foi possível notar uma

estratificação social dentro dessas senzalas. Observou-se que algumas famílias dessas

escravarias estendiam seus laços parentais com cativos bem posicionados na hierarquia

social da senzala e com a parentela senhorial. E essa conexão via os laços de parentesco

poderiam auferir barganhas sociais para os grupos familiares em questão. Por exemplo,

a liberdade de um familiar. Nota-se que nem todos os escravos conseguiam de fato

alforriar-se. Talvez os que conseguiram passar “pela porta estreita da liberdade” fossem

sujeitos bem posicionados na hierarquia costumeira da senzala e que pertenciam a

núcleos familiares já antigos nessas escravarias. Como bem pontuo Mattos “o caminho

para a liberdade fazia dos cativos com alianças familiares (...), superiores em recursos

sociais a escravos com ofícios especializados” para a obtenção da carta de manumissão

para si ou um parente (MATTOS, 2013, p. 153). Aliás, importante destacarmos que

uma das hipóteses a ser testada na investigação é de procurar avaliar o peso da família

escrava para os projetos de liberdade de parentes, ou seja, se cativos que possuíam laços

de parentesco eram os mais beneficiados com o papel de liberdade como em voga é

destacado na historiografia nacional.

Observamos também que os laços de dependências constituídos pelas famílias

escravas dos Barcelos talvez lhes proporcionassem benefícios caros a sua sobrevivência

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dentro e fora do cativeiro. Por isso, construir boas relações sociais com seus senhores

fosse um jogo estratégico dessas famílias escravas, um artifício utilizado por eles para

tentarem uma possível mobilidade social. Entretanto, para a construção da pesquisa faz-

se necessário uma investigação que utilize-se de métodos quantitativos, cruzando se

possível, com um variado leque de documentação, objetivando a reconstituição de

famílias ao longo do tempo. Assim sendo, por meio do método da ligação nominativa

poderemos realizar um estudo intensivo a respeito das famílias cativas das escravarias

senhorias abordadas (SLENES, 2011).

As análises que empreendemos são relativas às posses de dois grandes

charqueadores da cidade, sendo um deles o Comendador Boaventura Rodrigues

Barcellos, seu filho o Dr. Miguel Rodrigues Barcellos (VARGAS, 2013).

Salientamos que o critério de escolha dessas duas escravarias está pautado pela

maior variedade de registros encontrados sobre a posse escrava desses proprietários, o

que possibilitou o intercruzamento de distintas fontes. Desta maneira, a estratégia de

trabalharmos com uma documentação variada para uma mesma família senhorial ao

longo do tempo, permitiram a possibilidade de acompanhar um estudo geracional das

famílias escravas naquelas propriedades. Por intermédio dos senhores tivemos acesso

ao grupo familiar dos escravos, o que proporcionou conhecermos se as famílias cativas

foram separadas no momento da partilha dos bens, se porventura receberam legados

após o falecimento de seus senhores e quais os benefícios que essas famílias escravas

tiveram acesso tais como: alforria, casamento, pecúlio, roças. Além de vislumbrar as

experiências e os significados da liberdade e do tramado do parentesco dos sujeitos

históricos analisados. A abordagem teórico-metodológica que contribui para o

entendimento da pesquisa em desenvolvimento são os trabalhos de Levi (2000) e

Ginzburg (1989) não apenas no quesito de perseguir os indivíduos pelo rastro dos

nomes em diferentes fontes em uma perspectiva longitudinal, mas para o estudo de

grupos sociais em uma escala micro (LEVI, 2000).

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As trajetórias familiares das escravarias observadas demonstram as

singularidades dos processos de libertação de escravos agenciados pelas famílias

escravas. A sociedade do século XIX, marcada por uma forte desigualdade entre os

indivíduos e suas hierarquias costumeiras, não impediu que os escravos agissem,

articulassem-se com outros sujeitos históricos. Seja ao estreitar laços de parentela com

parentes de seus senhores, seja aparentando-se com cativos bem posicionados no

interior das hierarquias das senzalas, os escravos moviam-se com o objetivo de

sobreviver e quiçá tornarem-se homens livres do jugo do cativeiro imposto por outrem.

Ou pelos menos projetavam a liberdade de um familiar como foi possível verificar

nessas escravarias. Notório que o projeto de liberdade era um beneficio concedido pelos

senhores aos seus cativos, todavia, uma concessão conquistada. Pois mesmo que os

cativos estivessem no rol de laços de dependência com seus proprietários, considero que

era um artifício utilizado por eles para tentarem uma mobilidade social, mesmo que essa

estratégia social nunca acontecesse de fato. Pelo menos a tentativa seria válida mesmo o

risco sendo alto de o projeto fracassar.

Todavia para compreender as estratégias sociais engendradas por essas famílias

escravas para a conquista da liberdade, para sabermos quais os benefícios angariados

por eles, como a possibilidade de um casamento, o acesso ao mundo sócio-profissional

com trabalhos qualificados, a possibilidade de ter um roçado, em que relações de

compadrio teriam construído sob os santos óleos na pia batismal, esse estudo

longitudinal salienta o cruzamento dos dados nas fontes. Temos como uma das

principais fontes de análises as alforrias registradas nos cartórios da cidade de Pelotas.

Nesse corpo documental além de identificarmos o perfil dos escravos alforriados (sexo,

cor, profissão, condição da manumissão), é possível constatar uma expressiva

participação de cativos tendo como auxílio para sua libertação a participação de

parentes, tendo como protagonista dos projetos das liberdades, as mães de seus rebentos

cativos (PINTO, 2012).

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Contudo, a pesquisa se tornaria um tanto frágil se apenas nos restringíssemos aos

dados dos laços familiares contidos nas cartas de liberdade. Por isso, tão necessário o

cruzamento das cartas de alforrias com os registros de batismos, casamentos e óbitos, os

quais nos possibilitam uma maior apreensão dos laços familiares entre os escravos.

Outra fonte relevante são os testamentos. Cruzando os dados das cartas de manumissões

com as alforrias testamentárias, foi possível observar e acompanhar a maioria dos

escravos que foram libertados pelas famílias senhoriais que seguimos ao longo do

tempo na pesquisa.

Notório salientar que para essa pesquisa os inventários post-mortem das famílias

proprietárias de escravos, neste caso, os Rodrigues Barcellos, foram imprescindíveis

não apenas para identificarmos a riqueza acumulada por esses senhores em um

determinado momento da vida, mas também possibilitou a obtenção de informações

sobre as relações de parentesco dos cativos que porventura estavam ausentes nas demais

documentações consultadas. Cientes de que os inventários post-mortem são um retrato

de uma realidade posta naquele momento como destacara Scherer (2008), pode-se

verificar se os afetos dos cativos foram separados no momento da partilha dos bens de

seus proprietários quando faleciam. O cruzamento dos inventários com as outras fontes

também nos permite mapear as relações afetivas dos núcleos familiares cativos dos

membros senhoriais estudados. Diante disso, por intermédio do cruzamento das fontes

elencadas, rastreando os núcleos familiares de escravos pelo fio condutor do nome dos

indivíduos, pode-se ter uma visão mais precisa das escravarias da família senhorial dos

Rodrigues Barcellos ao longo do tempo. A respeito disso Freire destaca que:

A reunião e o cruzamento de todo tipo de registro existente permite

um estudo intensivo que acompanhe tais grupos por longos períodos

de tempo. Por meio desse procedimento, podemos tentar capturar

vivências escravas que possam explicar ou destacar situações

possíveis na tentativa de entender o parentesco e a família escrava

(FREIRE, 2009, p. 16).

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Salientamos que além do que fora pontuado por Freire, poderíamos também enfatizar

qual o papel das famílias escravas na luta pela liberdade de seus familiares e afetos.

Quais os significados dessas liberdades tramadas pelo parentesco? Houve realmente

alguma possibilidade de ascensão social dessas famílias cativas? Quais ganhos

obtiveram com o papel da liberdade? Foram realmente os indivíduos que inseridos em

redes de parentesco e relações comunitárias foram os mais beneficiados com a alforria?

Ou a mistura desse argumento somado à qualificação profissional desses sujeitos e

consequentemente sua posição hierárquica dentro das senzalas também auxiliaram o

projeto de liberdade encabeçada pela família escrava? É o que veremos.

Parentesco, liberdade e relações familiares entre os escravos de Boaventura Rodrigues

Barcellos: um estudo de caso

O Comendador Boaventura nasceu em 16 de outubro de 1776 e faleceu em

1856, deixando a viúva Silvana Eulália de Azevedo Barcelos1. Em seu testamento

redigido na Costa do Arroio Pelotas, em 22-11-1855, Boaventura disse ser católico e

batizado em Porto Alegre, filho legítimo de Antônio Rodrigues Barcelos e sua mulher

Rosa Perpétua, ambos falecidos. Responsável por um patrimônio avaliado em

183:119$815 réis, legou 82 cativos, deixando a sua terça para a esposa e para um dos

filhos, o Dr. Miguel Rodrigues Barcelos.

Entre os quase incontáveis bens arrolados no inventário post-mortem do

Comendador Boaventura, dois nos chamaram a atenção. Primeiro, um terreno na Boa

Vista (estimado em 400 mil réis). Segundo, uma porção de terras de matos localizada na

1 Eulália não foi a sua primeira esposa, já tendo casado em primeiras núpcias com Cecília Rodrigues da

Silva, com quem teve os seguintes filhos: Boaventura da Silva Barcelos, Dr. Israel Rodrigues Barcelos,

Bartolomeu Rodrigues Barcelos, Semiana da Silva Barcelos (casada com o Major José de Melo Pacheco

de Resende), Maria Amália de Azevedo (casada com Luiz de Azevedo e Souza), Clara Rodrigues de

Azevedo (casada com José de Azevedo e Souza). Filhos das segundas núpcias: Dr. Miguel Rodrigues

Barcelos, Maria Luiza Barcelos Chaves, Francisco de Paula Rodrigues Barcelos, Sebastião Rodrigues

Barcelos, Pedro Rodrigues Barcelos. APERS – 1º Cartório de Órfãos e Provedoria de Pelotas, maço 28,

inventário nº 409, Inventariado: Boaventura Rodrigues Barcellos, Inventariante: Silvana Eulalia de

Azevedo Barcellos, 1856.

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Serra dos Tapes, fronteira com o Arroio de Pelotas, dividindo de um lado com terras do

co-herdeiro Luiz de Azevedo e Souza, de outro com Joaquim Surdo e tendo ainda como

confinante a propriedade dos herdeiros de Tomás Francisco Flores. Esta porção de

terras não deveria ser pouca, pois era estimada em 6 contos de réis, isso sem computar

as benfeitorias das sobreditas terras, “colocadas no lugar junto ao arroio do quilombo”

e avaliadas em outros 2 contos de réis.2

Em 1856, devido ao falecimento do comendador, a viúva Dona Silvana

Eulália de Azevedo Barcellos encabeçou a abertura do processo do inventário de seu

esposo.3 O comendador possuía um plantel de 86 escravos, e um rebanho de seiscentas

reses de criar, vinte cavalos, três éguas, sessenta bois mansos, dez ovelhas, quarenta

galinhas, além de uma charqueada na Boa Vista e propriedades no centro urbano da

cidade.

A escolha de trabalhar com a escravaria deste proprietário é pelo fato de

conseguirmos reunir um razoável número de fontes a respeito dos seus escravos, através

de um cruzamento nominativo. Pretendo observar como os escravos tramaram suas

redes familiares diante do “mundo das incertezas” da sociedade escravista, negociando

os projetos familiares com seu senhor. Além disso, postulo que esse estudo de caso

possa evidenciar as hierarquias sociais costumeiras construídas pelos cativos e quais os

mecanismos acionados pelos mesmos para uma mobilidade social tanto dentro como

fora das paredes das senzalas que habitavam. Conforme adverte João Fragoso:

Enfim, o parentesco fictício era uma língua franca, conhecida por

senhores, cativos, forros e consangüíneos. Podia, portanto, organizá-

los e estabelecer entre eles uma estratificação; ou, sendo mais correto,

ser um indício de uma hierarquia social costumeira (FRAGOSO,

2010, p. 267).

2 Parte deste texto já foi trabalhada pelos autores MOREIRA, AL-ALAM, PINTO, 2013, p. 35. 3 Inventário de Boaventura Rodrigues Barcellos. Ano de 1856, número 409. Vara de Família, Sucessão e

Provedoria. APERS.

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Tabela A – As famílias escravas do Comendador Boaventura Rodrigues Barcellos,

Pelotas/RS,1856

Casal/ Mães Filhos Padrinhos Madrinhas Alforriados

Congo José e

Rebolo

Mariana4

Jerônimo

Cosme

Romana

Benguela Maria

Escrava

Teodora

Escrava Jacinta

O pai

Joaquim e

Joaquina pretos

da Costa

Bonifácio Escravo

Nicolau

Escrava Tereza #

Nazária, preta

da Costa

Custódio

Anastácio

Heliodoro

Azevedo de

Souza

João Rodrigues

Lima Barcellos

Gabriela

Bernardina de

Azevedo

Hediviges

Rodrigues

Barcellos

Mãe

Joaquim pardo

e Narciza preta

da Costa

Alexandre Simão Vergara

Casado e forro

Tereza Vieira da

Cunha casada e

forra

O filho

Crioulos

Manuel e

Delfina

Emílio Miguel

Rodrigues

Barcellos

Dona Josefa

Eulália

Barcellos

#

Crioula Paula Josefa Escravo

Antônio

Barbeiro

Escrava Maria #

Benguela

Maria

Eufrásia Escravo Albino Escrava Eufrásia #

Joaquina,

congo

Inácia Escravo

Apolinário

Escrava Eufrásia #

Angola Narcisa Vitória Jacinto Lunteria #

Lucinda,

crioula

Elvira

Simplicio

Roberto

Joaquim forro

Heleodora

Joaquina da

Mãe e filhos

4 Óbitos encontrados dos filhos do casal de africanos José (Congo) e Mariana (Rebolo): 24/04/1833 de

Sinfronia (crioula), de 8 anos de idade, morreu de espasmo; 16/09/1833 de Felipe, de nove anos, faleceu

de febre; 31/07/1834 Ignacio (crioulo), com 6 anos, morrerá de bexigas; 14/09/1834 de Maria, de

apenas sete dias, tendo como causa da morte espasmo; 27/09/1835 Maria, de um dia de vida, mas não

consta a causa da morte; 29/09/1835 Felisarda, de 3 dias, também não consta a causa do falecimento; e

no dia 07/04/1838 Maria, de 4 dias, que morreu de espasmo. Livros 01 e 02 de óbitos de Escravos da

Catedral São Francisco de Paula. ACDP.

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Silva forra

Esperança,

crioula

Antônio

Sara

Boaventura Luiz

de Azevedo

Luis José de

Araújo, Liberto

Rosa Maria da

Conceição,

escrava

Maria da

Conceição,

liberta

Filho

Delfina, mina Albino, crioulo Mãe e filho

Maria Rebolo Sinfronia Antônio Congo,

escravo

Rita Maria,

escrava

Mãe

Fonte: Livro 01 (1812/1835) e 02 (1835/1852) de Batismos de Escravos da Catedral São Francisco de

Paula. ACDP.

Livro 01 e 02 de óbitos de Escravos da Catedral São Francisco de Paula. ACDP.

Catálogo Seletivo de Cartas de Alforrias (1830/1888). APERS.

Inventário de Boaventura Rodrigues Barcellos. Ano de 1856, número 409. Vara de Família, Sucessão e

Provedoria. APERS.

Visualizando as informações presentes na tabela acima, nota-se que os

companheiros de senzala costuraram distintas relações familiares. O casal de africanos,

Congo José e a Rebolo Mariana, optaram por compadres escravos para batizarem seus

rebentos. Sabemos que o crioulo Domingos, a Benguela Maria e a escrava Teodora,

faziam parte do plantel do comendador. Descobri que Teodora era parda, casada com o

pardo Cosme, cativo da mesma propriedade que sua esposa. Ao contrário de seu marido

Cosme, que apenas foi convidado a comparecer uma única vez para apadrinhar, a parda

Teodora foi requisitada por quatro vezes para batizar. A primeira, ao apadrinhar junto

com seu esposo, os cativos Ivo e Sabino,5 a segunda ocasião batizando o filho do Congo

José e a Rebolo Mariana,6 a terceira apadrinhando os escravos africanos, Congo

Joaquim e o Gege Antônio, 7 e a última para o batizado do filho da africana Rosa,

5 Batizou no dia 23/07/1831 os escravos adultos Ivo e Sabino da escravaria de Boaventura Rodrigues

Barcellos. Livro 01 de Batismos de Escravos da Catedral São Francisco de Paula, fl. 179. ACDP. 6 Batizou o crioulo Cosme filho legítimo de José Congo e Mariana Rebolo, escravos de Boaventura

Rodrigues Barcellos. Batizado ocorrido no dia 21/02/1833. Livro 01 de Batismo de Escravos da Catedral

de São Francisco de Paula, fl. 210. ACDP. 7 Batizou no dia 02/08/1835 os escravos africanos Ivo e Sabino pertencentes à Boaventura Rodrigues

Barcellos. Livro 02 de Batismo de Escravos da Catedral São Francisco de Paula, fl. 7. ACDP.

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escrava de Luís Azevedo de Souza.8 A parda Teodora não tinha apenas o

reconhecimento dentro da comunidade que pertencia, mas também fora dela, pois foi

requisitada como comadre pela africana Rosa para apadrinhar seu filho. Passados quatro

anos após batizar seu último afilhado, a parda Teodora consegue alforriar-se. Consta em

sua manumissão que fora concedida “em remuneração de seus serviços com a condição

essencial de conservar-se em minha companhia durante a minha vida”.9

A liberdade da parda Teodora foi cerceada, pois teria de esperar até a morte de

seu senhor para poder concretizá-la de fato, assim como tantos indivíduos libertados sob

condição pela morte do proprietário. Fato semelhante enfrentado por seu compadre, o

Congo José, o qual teve como condição para manumitir-se, de servir por mais quatro

anos ao charqueador Boaventura Rodrigues Barcellos. 10 Sobre o núcleo familiar

constituído pelo africano José, apenas constatei que ele foi alforriado, ficando seus

filhos e esposa presos ao cativeiro, afinal a liberdade não era possível a todos, sendo,

portanto, um privilégio de quem a conseguia de fato. Suponho que um dos anseios

resgatados pelo escravo Congo José foi à constituição de uma família, onde poderia

partilhar e galgar por espaços de autonomia, tendo uma liberdade “de mais tempo de

lazer, de trabalhar em roça própria, liberdade para acumular pecúlio, liberdade de ver

crescer os filhos juntos a si” (SALLES, 2008, p. 249), uma vez que o projeto de

liberdade da escravidão apenas foi possível para um membro da família.

Experiência semelhante foi vivenciada pela família do pardo Joaquim e da preta

da Costa Narciza. Somente o pequeno Alexandre conseguiu a sua emancipação no dia

da celebração de seu batismo. Aos dezoito de novembro do ano de 1832, o pardo

Alexandre, filho legítimo do pardo Joaquim e da preta da Costa Narciza, recebeu a

8 Batizou no dia 15/09/1846 o crioulo Gil, filho natural da preta de nação, Rosa, escravos de Luís de

Azevedo de Souza. Livro 02 de Batismo de Escravos da Catedral São Francisco de Paula, fl. 90. ACDP. 9 Catálogo Seletivo de Cartas de Alforrias. Livro 03 (1848-1853), fl. 57v. Carta concedida em

22/06/1850 e registrada 21/08/1850. APERS. 10 O Congo José teve seu papel de liberdade concedido em 05/05/1847 e registrado em 05/05/1847. Livro

04, fl. 8v. APERS.

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liberdade, segundo a declaração do sinhô de seus pais de que a partir daquele momento

passara a ser uma criança livre. Os compadres do casal foram Simão Vergara e sua

esposa Teresa Vieira da Cunha, ambos pretos forros. 11 Julgo a possibilidade da

libertação do pardo Alexandre ter sido agenciada pelo grupo familiar do menino. Quiçá

seus padrinhos ajudaram nessa empreitada. O casal de forros possuía uma modesta

venda de artigos variados em Pelotas. Aliás o padrinho do pardo Alexandre, o forro

Simão Vergara fornecia gêneros para os aquilombados de Manuel Padeiro na cidade,

sendo futuramente processado e condenado a cárcere por essa solidariedade aos

criminosos insurretos do quilombo. 12 Não consegui saber se os pais do pardo

Alexandre – com que grau de êxito – angariou a emancipação do seu rebento.

Poderiam ter se preparado há algum tempo, amealhando parcas economias, para

obter o papel de liberdade para seu filho que poderia apenas ser um objetivo calculado a

distância, visto que essa estratégia nem sempre era alcançada com sucesso por aqueles

que tentavam, sendo privilégio de uma minoria. No entanto, “não quer dizer que a

possibilidade da manumissão não permanecesse uma importante miragem a nortear boa

parte das ações dos cativos” (SALLES, 2008, p. 280). Ou por outra via de raciocínio,

pois como não se sabe se de fato a manumissão foi paga pelos familiares do menino,

talvez a carta de liberdade fosse gratuita, sendo neste caso, uma barganha do senhor

com estes cativos de confiança, os pais do pardo Alexandre.

Já no caso da família (i)legítima da africana Nazária houve o estreitamento de

laços sociais com pessoas do segmento livre, quiçá pudessem ser do círculo de

amizades ou negócios do Comendador ou de outro parente do clã dos Rodrigues

Barcellos, visto que os dois rebentos da cativa não tiveram como padrinhos e madrinhas

parceiros de cativeiro. Não se sabe que tipo de relação poderia ter a escrava com essas

pessoas. É certo que o cálculo senhorial sempre se fazia presente nas indicações de

quem seria os compadres de seus escravos. A africana Nazária foi libertada pelo

11 Livro 03B de Batismos de Livres da Catedral São Francisco de Paula, fl. 129. ACDP. 12 Processo-crime de número 74. Ano de 1835. Réu: Simão Vergara. APERS.

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charqueador, sendo a carta concedida mediante o pagamento de 500$ mil réis por Luís

Azevedo de Souza.13 Que estratagema teria lançado a africana para que esse senhor de

escravos pudesse ter pagado por sua alforria? Teria ela contraído um empréstimo com

este homem para libertar-se? Ou seriam amásios e ele teria libertado a mãe de um dos

seus filhos? Custódio um dos rebentos dela era pardo, talvez fruto de uma união

consensual entre a escrava e um homem livre. 14

Para o historiador Fragoso, os escravos teciam suas estratégias buscando aliados

com os mais diferentes estratos sociais, estabelecendo laços de amizades e vínculos de

clientela entre os próprios parceiros de escravidão. Fato que pode-se observar pelo

seguinte trecho:

Como toda elite, a das senzalas de Sacopema, montava suas redes

sociais seguindo três princípios: buscar aliados entre estratos sociais

com mais recursos na sociedade local, forros e livres; reafirmar pactos

de amizade entre seus componentes; e formar uma clientela entre os

demais escravos (FRAGOSO, 2010b, p. 83).

Certamente, os escravos também procuraram estreitar laços de compadrio com

pessoas livres, e algumas dessas, eram familiares de seus proprietários. Lembrando os

dados colocados na última tabela, em vários momentos notamos os sobrenomes dos

Rodrigues Barcellos presentes tanto para padrinho como para madrinha dos filhos das

escravas. Exemplo disso é o caso do filho do comendador e charqueador Boaventura

Rodrigues Barcellos, Miguel Rodrigues Barcellos, o qual foi requisitado em duas

celebrações para apadrinhar os rebentos das cativas de seu pai.

No dia treze de junho do ano de 1833, em pleno inverno pelotense foram

batizados os filhos das escravas do Comendador Boaventura Rodrigues Barcellos. O

primeiro a receber os santos óleos foi o crioulo Emílio que nascera em dez de dezembro

do ano de 1832, filho legítimo dos escravos Manuel e Delfina crioulos. Os padrinhos do

13 A carta foi concedida em 07/07/1841 e registrada em 21/11/1842. APERS. 14 Custódio batizado em 23/07/1831. Livro 01 de Batismo de Escravos da Catedral São Francisco de

Paula, fl. 179. ACDP.

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13

crioulinho foram os seguintes: Miguel Rodrigues Barcellos15 e sua irmã Dona Josefa

Eulália Barcellos. 16

No caso da família dos crioulos Manuel e Delfina, o Comendador poderia ser

um forte conector entre a senzala e o mundo exterior a ela, neste caso, o bando de seu

clã, formado pelos seus filhos Miguel e Dona Josefa. Sabiamente a agência escrava da

família do crioulo Emílio reconhecia o bando que frequentava a casa do seu sinhô,

aproveitando para estreitar vínculos de parentesco e proteção social com tal grupo

familiar dos Rodrigues. Ou seja, os jogos tramados entre as partes envolvidas na busca

de seus anseios tanto passava pelos cálculos senhoriais como pelas artimanhas dos

cativos ao estabelecerem as regras sociais em torno do compadrio (ENGEMANN,

2008).

Ao observar os laços de parentesco costurados pelos escravos do Comendador

Boaventura Rodrigues Barcelos, percebe-se a construção de hierarquias, contudo, “não

de qualquer hierarquia” (FRAGOSO, 2010, p. 266). Como foi possível detectar as

famílias legítimas ou não de cativos dessa senzala estreitaram laços familiares com

escravos da mesma senzala, mas também com a parentela senhorial. Conforme é sabido,

não era qualquer família cativa que possuía um parente espiritual com seu senhor ou

com os parentes da casa senhorial. Havia hierarquias complexas nesse jogo social. É

certo, segundo as palavras de Fragoso, “que existia uma preocupação senhorial de que o

compadrio dos escravos ocorresse num ambiente de endogamia, ela devia ocorrer,

preferencialmente, entre parceiros de uma mesma propriedade ou sob a tutela do mesmo

senhor” (FRAGOSO, 2010, p. 266). Notório salientar que as relações de compadrio

dessa escravaria não ultrapassavam os limites da rede social a qual o Comendador

pertencia.

15 Miguel Rodrigues Barcellos batizou também o pardo Cipriano, no dia 06/11/1834, filho natural da

parda Paulina, escravos de Francisco Teixeira de Magalhães. A madrinha foi Dona Silvana Rodrigues

Barcellos. Livro 01 de Batismo de escravos da Catedral São Francisco de Paula, fl. 237. ACDP. 16 Livro 01 de Batismo de Escravos da Catedral São Francisco de Paula, fl. 214. ACDP.

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14

Por outro lado, nota-se que poucos escravos foram alforriados por esse senhor.

Mas os escassos casos de escravos que receberam a alforria pertenciam a grupos

familiares que talvez estivessem em topo de uma hierarquia social dessa senzala

analisada. Talvez por uma inserção sócio-profissional no mundo do trabalho, por serem

famílias antigas nos plantel, pelo fato de algumas mães terem abastecido a escravaria do

comendador com bastantes crias, ou pelos laços fortes de dependência existente entre

essas famílias escravas e o proprietário Boaventura Rodrigues Barcelos. Analisando as

alforrias passadas a alguns membros familiares da senzala deste proprietário, postulo

que essa propriedade era marcada por estratificações e hierarquias sociais. A alforria era

um “instrumento de ascensão social por excelência para os escravos” (ENGEMANN,

2008, p. 52), talvez as estratégias do grupo familiar de alforriar a todos os membros não

fossem possíveis. O risco de a estratégia familiar malograr era bastante alto, por outro

lado, ser um egresso do cativeiro não era nada fácil também naquela sociedade marcada

por desigualdades. Para sobreviver nessa coletividade o individuo ou grupo familiar

teria de estar ligado a um bom número de laços sociais, pois liberdade naquele mundo

de antanho significava pertencer a alguém ou a um determinado grupo social.

A premissa de que esta sociedade escravista ancorada em um conjunto de

relações sociais era fundada em uma “natural desigualdade”, quiçá os primeiro passos a

serem dados por essas famílias talvez fosse a própria sobrevivência dentro dessa

coletividade antes de tentar libertar a si ou a um familiar. Dessa maneira, acredito os

projetos de liberdade eram plurais, ou seja, coletivos e não de cunho individual. Pois

quanto mais laços sociais ou inseridos em redes familiares os cativos estivessem,

maiores chances de sucesso teriam de alcançar a liberdade e manterem-se vivos dentro

dessa engrenagem social. Se o leitor esteve até aqui atento, observou que o filho do

comendador Boaventura Rodrigues Barcellos foi padrinho espiritual de uma das

famílias escravas de seu pai. Passamos adiante a analisar de que maneira o Dr. Miguel

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Rodrigues Barcellos gerenciava a comunidade cativa que possuía naquela sociedade de

antanho.

Sob o signo da liberdade na senzala do Dr. Miguel Rodrigues Barcellos

Corria o ano de 1873 quando ocorre à abertura do inventário de Dona Eulália

Barbosa de Azevedo Barcellos, esposa do Dr. Miguel Rodrigues Barcellos. Dentre os

bens listados para a avaliação estavam sobrados e lances de casas no meio urbano da

localidade, uma charqueada, os escravos e uma cadeira no Teatro Sete de Abril da

cidade.17 O espólio da riqueza deste senhor era modesto se comparado a do seu pai,

visto que possuía um plantel com 16 escravos, sendo que destes nove cativos foram

doados a sua fortuna pelo seu sogro, o então também charqueador Heleodoro de

Azevedo Souza. Ao percorrermos a documentação cartorária das alforrias constatamos

dezenove escravos alforriados por Miguel Barcellos, sendo que nove destes possuíam

laços afetivos na comunidade de senzala, a qual geria como vemos na tabela abaixo:

Tabela B – Famílias cativas de Dr. Miguel Rodrigues Barcellos

Nome. do

Escravo

Laços

Familiares

Alforria Ofício Alforriados

Regina Mãe de

Angelina e de

Artur

Sim Costureira Dois filhos

Domingas Filha de

Joana

Sim Costureira Filha

Martinha Mãe de

Paula,

Roberto e

Joana

(ingênuos).

Filha de

Sim Costureira Martinha

17 Inventário de Dona Eulália Barbosa de Azevedo Barcellos. Segundo Cartório de órfãos e Ausentes da

cidade de Pelotas. Ano: 1873. Número do Processo: 10. APERS.

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Joana

Paixão Filha de

Felisberta

Sim Costureira Mãe

Avelino Filho de

Joana

Pedreiro Filho

Abraão Filho de

Joana

Sim Carreteiro Filho

Virginia Filha de Rosa Sim Costureira Apenas

Virgínia

Paulo Filho de Rosa Sim Sem Ofício Filho

Inventário de Dona Eulália Barbosa de Azevedo Barcellos. Ano 1873. Número do Processo: 10. Segundo

Cartório de órfãos e Ausentes de Pelotas. APERS.

Livro 03 de Batismos de Escravos (1853/1859). ACDP.

Livro de Ingênuos de Pelotas (1879/1884). ACDP.

Registro de Matrícula dos escravos de Dr. Miguel Rodrigues Barcellos (1873).

Catálogo Seletivo de Alforrias (1830/1888). APERS.

É significativo averiguarmos que grande parte dos núcleos familiares da

escravaria do Doutor Barcellos conseguiu a liberdade. O caso da família da parda

Regina é exemplo disto. Sua filha Angelina era menor de idade quando foi agraciada

com plena liberdade por seu amo no ano de 1859. 18 Por sua vez, seu irmão o pequeno

Artur teve a liberdade concedida ao receber os santos óleos na pia batismal no ano de

1856.19 Todavia a mãe dos pequenos manteve-se escrava. Não sabemos se a alforria de

Artur foi paga por algum parente ou dada gratuitamente a ele. Conjecturamos a

possibilidade de que pelos bons serviços prestados pela mãe, a parda Regina podem ter

interferido positivamente para que suas crianças fossem contempladas com a liberdade.

Importante destacar que a grande maioria dos núcleos familiares eram

chefiados por mulheres, ou seja, forte presença da matrofocalidade, pois aparentemente

os lares negros eram chefiados por essas mães, ao que tudo indica solteiras. Contudo,

não é impossível que suas crias convivessem com seus pais na mesma comunidade de

18 Carta concedida em 11/09/1959 e registrada em 25/11/1859. Livro 05, fl. 64r. APERS. 19 Carta concedida em 09/04/1856 e registrada em 11/04/1856. Livro 07, fl. 25v. APERS.

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senzala em que viviam. O Comendador Boaventura Rodrigues Barcellos, em sua grande

maioria, também possuía famílias escravas onde mãe e filho, predominavam como

componentes centrais, tendo poucos casos de famílias legítimas que foram sancionadas

perante a sociedade escravista pelos olhos da Igreja Católica. Esse cenário não foi

exceção na sociedade escravista pelotense. Mães e filhos nos núcleos familiares foi a

regra, talvez aqui resida a singularidade da família escrava nessa sociedade. Cenário

diferente encontrado pelo historiador Robert Slenes para Campinas no Século XIX,

onde o predomínio de famílias conjugais se fazia presente de maneira relevante em seus

dados (SLENES, 2011, p. 101-125). Para Slenes a família escrava potencializava

maiores recursos para obtenção da liberdade. Segundo a linha de seu raciocínio:

Especificamente, a poupança da família conjugal ou da família

extensa poderia ser coordenada com a finalidade de resgatar um de

seus membros do cativeiro, ou mais de um sucessivamente, de acordo

com o critério do grupo (SLENES, 2011, p. 206).

Concordamos com a linha de pensamento de Slenes. Todavia a singularidade

da família escrava em Pelotas reside que os esforços despendidos para a compra da

liberdade de um familiar foram projetados de maneira significativa pela figura materna

e não pelos casais, ou seja, a família conjugal. Em trabalho anterior constatei a agência

de mães que resgataram seus rebentos do cativeiro ora pagando pela manumissão da

criança ora pagando com seus longos anos de trabalho e fidelidade para com seu dono

ou ex-senhor (PINTO, 2012, p. 188).

Investigando as alforrias legadas pelo Doutor Miguel Rodrigues Barcellos às

famílias escravas de plantel, inferimos que em algumas liberdades foram concedidas

gratuitamente dando plena liberdade ao escravo, outras foram concedidas com a

condição de continuarem a prestar por mais um determinado tempo de trabalho a ele,

especialmente aquelas manumissões ofertadas no ano de 1884. Diante disso, vemos uma

significativa diferença de seu governo de senhor se comparado ao controle que seu pai

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exerceu com suas famílias cativas, visto que a maioria destes núcleos familiares pagou

pela liberdade de um parente.

Vejamos o caso da família chefiada pela finada escrava Joana do Doutor

Barcellos. Pelo quadro acima observamos que quatro de seus filhos tidos durante o

cativeiro foram contemplados com a liberdade, Martinha, Domingas, Avelino e Abraão.

Por exemplo, os irmãos Abraão, Avelino e Martinha foram alforriados com a condição

de prestar por mais seis anos serviços a Miguel Barcellos. 20 Por sua vez, Domingas

também teve legada uma liberdade condicional de trabalho, todavia por menos tempo

em relação a seus irmãos, deveria continuar servindo seu senhor por mais três anos de

serviços. 21

Quiçá a família da escrava Joana ocupasse um lugar de privilégio na

escravaria de seu senhor, visto que todos os seus filhos obtiveram o papel de alforria.

Contudo, uma liberdade que carregava ainda um gosto amargo devido aos anos que

ainda teriam de ser cativos obedientes, leais e trabalhadores rentáveis até que o prazo

estipulado pelo Sr. Miguel Rodrigues Barcellos chegasse ao término. Indubitavelmente

que a passagem do cativeiro para o mundo dos livres para os integrantes da família da

finada cativa Joana deveriam passar pelos códigos senhoriais, ou como Slenes (2011, p.

28) pontuou pelas “políticas de domínio” senhoriais, entretanto isso não tirava a ação

desses agentes sociais para a conquista de suas liberdades. Além disso, se a família

escrava auferia um instrumento de controle de domínio a seu senhor, cabia aos escravos

e seus familiares jogarem dentro dessas margens de linha para tramarem a sua liberdade

individual ou de um familiar, mesmo que esse jogo passasse pelas linhas das políticas

de domínio senhoriais. Conforme destacou Araújo em seu trabalho, a alforria “era a

recompensa pela fidelidade, pelos bons serviços prestados e pela espera laboriosa até

20 Carta de Abraão concedida em 26/08/1884 e registrada em 27/08/1884. Livro (07, fl. 17v). APERS.

Carta de Avelino concedida em 26/08/1884 e registrada em 27/08/1884. Livro (07, fl. 18v). APERS.

Carta de Martinha concedida em 26/08/1884 e registrada em 27/08/1884. Livro (07, fl. 21v). 21 Carta concedida a Domingas em 26/08/1884 e registrada em 27/08/1884. Livro (07, fl. 15v).

APERS.

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que fossem concluídas as condições impostas” (ARAÚJO, 2008, p. 207) ao indivíduo

ou ao grupo familiar.

Possivelmente as alforrias passadas aos núcleos familiares da comunidade de

senzala do Doutor Barcellos, ao que tudo indica se deve pelos laços familiares e

comunitários que estes cativos estavam inseridos e também pela via da mobilidade

ocupacional, visto que grande parte dos alforriados conforme indica a tabela acima eram

sujeitos com ofícios especializados, sobretudo em relação às mães dos libertados que

exerciam o trabalho de costureiras. Segundo Jonas Vargas o grupo ocupacional das

cativas costureiras “era muito importante nas charqueadas, pois seus serviços eram

utilizados para reformar o próprio estabelecimento e seus equipamentos”, realizando a

manutenção diária desses locais de trabalho (VARGAS, 2013, p. 210). Ressaltamos

ainda que no caso das costureiras essas profissionais poderiam locar seus serviços a

terceiros auferindo e amealhando recursos extras a renda de seu proprietário

(KARASCH, 2000).

Acreditamos mesmo que não tenhamos encontrado indícios a respeito da

compra com pagamento em espécie das alforrias pelos núcleos matrifocais dessa

escravaria analisada, postula-se a hipótese que essas famílias escravas tenham

envelhecido e feito história através da boa conduta de seus serviços. O que acarretaria

em um longo espaço de tempo o legado da liberdade via os bons serviços prestados por

suas mães e filhos, como também pela mobilidade ocupacional que estas famílias

possuíam. Como relata o historiador Guedes “a vontade de melhorar de vida, porém

começava no cativeiro, mediante a família escrava”, sendo um dos primeiros passos

para se diferenciar dos demais na hierarquia do mundo do cativeiro (GUEDES, 2008, p.

125).

Talvez tenha sido este o caminho traçado por essas famílias cativas que ao

potencializarem suas forças na família, no trabalho obediente ao seu senhor

conseguiram passar “pela porta estreita” da vida em liberdade, subindo mais um dos

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degraus da hierarquia social da sociedade escravista de outrora, isto é, vivem como

senhores de si e não mais como propriedade de outrem.

Considerações Finais

Analisando as trajetórias esboçadas nesse artigo, observam-se situações

singulares. Ao inferir a análise sobre as relações de compadrio e projetos de liberdade

das famílias escravas no plantel do Comendador Boaventura Barcelos, foi possível notar

uma estratificação social dentro dessa senzala. Observaram-se diferentes tramados de

parentesco e de relações sociais amalgamadas na pia batismal, onde em uma sociedade

marcada pela desigualdade iam sendo construída e traduzida pelas hierarquias sociais

realizadas tanto pelas famílias escravas legítimas ou não. Inferiu-se que algumas

famílias dessa escravaria estendiam seus laços parentais com cativos bem posicionados

na hierarquia social da senzala. Hierarquias assentadas em uma tradição costumeira,

onde “cada grau é conectado a outro pelos compromissos do compadrio, reforça a ideia

de diferenças no interior das senzalas” (FRAGOSO, 2010, p. 281). E essa conexão via

os laços de parentesco poderiam auferir barganhas sociais para os grupos familiares em

questão. Por exemplo, a liberdade de um familiar. Nota-se que nem todos os escravos

conseguiam de fato alforriar-se no plantel do comendador. Talvez os que conseguiram

passar “pela porta estreita da liberdade” fossem sujeitos bem posicionados na hierarquia

costumeira da senzala e que pertenciam a núcleos familiares já antigos nessa escravaria,

visto que os laços de parentesco seriam acionados na luta pelo projeto de liberdade de

um parente. Penso também que essas famílias escravas não cumpriam apenas o papel de

tentar o resgate de um familiar do cativeiro. Cumpriam também um “papel importante

nas estratégias de legitimidade de seu senhor” (FRAGOSO, 2010, p. 281) no poder

local, quem sabe. Os laços de dependências constituídos pelas famílias escravas de

Barcelos talvez lhes proporcionassem benefícios caros a sua sobrevivência dentro e fora

do cativeiro, pois como é sabido viver em liberdade em uma sociedade escravista,

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marcada pela desigualdade não era nada fácil. Provar que era um homem liberto naquela

época era uma situação complicada. Por isso, construir boas relações sociais com seus

senhores fosse um jogo estratégico dessas famílias escravas de tentarem manterem-se

vivas dentro da engrenagem social do mundo escravista de outrora. Entretanto, ao

observar-se o caso da família da escrava Joana, propriedade de Miguel Barcellos, filho

do Comendador tem-se a nítida impressão da linha tênue entre o cativeiro e liberdade.

Seus filhos foram libertados condicionalmente por seu senhor. Se porventura nenhum

de seus filhos respeitasse as regras sociais arquitetadas pelo mando senhorial do Doutor

Barcellos, o retorno ao cativeiro seria inevitável. Como relata o historiador Chalhoub

“parecia claro que a liberdade era experiência arriscada para os negros no Brasil do

século XIX, pois tinham sua vida pautada pela escravidão, pela necessidade de lidar

amiúde com o perigo de cair nela, ou voltar para ela” (CHALHOUB, 2012, p. 29).

Ocasião que não deve ter sido apenas experimentada pelo grupo familiar da finada

Joana, mas como tantos outros, que tiveram suas vidas pautadas pelas alforrias

condicionais. Mas é emblemático destacar que tanto na comunidade de senzala do pai

(Comendador) e do filho (Doutor) os escravos que conseguiram a liberdade eram

aqueles possuíam relações familiares e uma qualificação profissional, ou seja, eram

sujeitos qualificados e bem posicionados na hierarquia social das senzalas de seus

respectivos proprietários. Em suma, ainda há que se investigar com mais vagar a

respeito da liberdade geracional (BERLIN, 2006) desses indivíduos para

problematizarmos os projetos de liberdade liderados pelos familiares cativos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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