as diferentes concepÇÕes de extensÃo rural€¦ · assistência técnica e extensão rural no...
TRANSCRIPT
AS DIFERENTES CONCEPÇÕES
DE EXTENSÃO RURAL
Antonio Lázaro Sant’Ana (Prof. Unesp Ilha Solteira)
Setembro 2017
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
CÂMPUS DE ILHA SOLTEIRA
Disciplina Comunicação e Extensão Rural
Curso de Graduação em Agronomia e Zootecnia
UNESP
AS DIFERENTES CONCEPÇÕES DE EXTENSÃO RURAL
Bordenave (1985) considera que as diferentes concepções de
extensão rural ou comunicação rural dependem do modelo de
desenvolvimento rural que se pretende adotar para uma região
ou país.
Por sua vez os modelos de desenvolvimento dependem do tipo
de sociedade que se pretende construir ou transformar.
AS DIFERENTES CONCEPÇÕES DE EXTENSÃO RURAL
1 - HUMANISMO ASSISTENCIALISTA (1948 – 1962)
➢ Visou promover a melhoria das condições de vida da
família rural, especialmente pequenos agricultores;
➢A equipe composta de um extensionista agrícola e uma
extensionista doméstica seriam os indutores de mudanças
de hábitos, condutas e habilidades;
➢ Metodologias deveriam permitir “aprender fazendo”;
(RODRIGUES, 1997)
➢ Interação técnicos – agricultores vista como uma
relação sujeito – objeto (BRASIL, 2010).
2 - DIFUSIONISMO PRODUTIVISTA (1963 – 1984)
➢ Visou promover a melhoria da produção e produtividade
de médios e grandes agricultores, com base na adoção de
tecnologias modernas;
➢Ação extensionista dirigida especialmente para a
elaboração e acompanhamento de projetos de crédito
relacionados a produtos específicos;
➢ Ênfase na mudança tecnológica, sem considerar as
estruturas econômicas e sociais; (RODRIGUES, 1997)
➢ Interação técnico – agricultor tratada como uma relação
sujeito – objeto (BRASIL, 2010).
AS DIFERENTES CONCEPÇÕES DE EXTENSÃO RURAL
Bordenave (1985) subdivide o Difusionismo Produtivista
em:
Modelo Difusionista
Considera que o desenvolvimento rural ocorre quando se
introduzem e são difundidas entre os agricultores novas
ideias, de maior eficiência produtiva, e estes efetivamente as
adotam.
Objetivos do difusionismo:
➢ Reduzir o tempo entre o lançamento de uma inovação
pela pesquisa e a sua adoção generalizada pelos
agricultores;
➢ Busca desenvolver nos agricultores as qualidades de
inovação, inclinação para o risco e racionalidade técnica e
econômica;
➢ A unidade de programação é o produto e a mensagem
transmitida enfatiza sempre uma tecnologia que permita
aumentar a produção e a produtividade deste produto.
Extensionista
A maneira preconizada para atingir o maior número de
produtores era:
➢ a utilização intensa dos líderes naturais e
➢ o trabalho com base em grupos instrumentais (Conselhos
de desenvolvimento agrícola, clube de mães, de jovens).
Retardatários
Inovadores Adotadores iniciais
Maioria inicial Maioria tardia
Sistema de produção*: é a combinação dos fatores terra,
capital, mão-de-obra, administração adequada e tecnologia,
em um estabelecimento agrícola.
* No caso de referência às técnicas de produção de um produto, é
preferível usar o termo sistema de cultivo.
Modelo dos pacotes
Na América latina estes fatores não estavam facilmente ao
alcance da grande maioria dos produtores, por isso o
Modelo Difusionista não teria sido bem sucedido.
Em função deste problema, o Modelo dos Pacotes, propõe
que além de difundir um pacote de técnicas, deveria ser
colocado ao alcance do produtor um pacote de serviços.
Esta estratégia integrada combinava:
➢ o uso de meios de comunicação de massa;
➢ programas de crédito com recursos maciços;
➢ melhoria nas condições de comercialização;
➢ estabelecimento de preços mínimos;
➢ criação de agências de coordenação;
➢ e o envolvimento de lideranças políticas.
(BORDENAVE, 1985)
Modelo da inovação induzida pelo mercado
Os modelos anteriores tem como pressuposto que o
desenvolvimento depende mais da ação do Estado e se
realiza graças a esforços de promoção diretos das
instituições e seus “agentes de mudanças”.
Muitos economistas (clássicos ou neoliberais), no entanto,
afirmam que a mudança técnica é mais eficiente quando
orientada por sinais de preço no mercado, desde que haja
livre competição e interação entre os agentes que formam
uma determinada cadeia produtiva (agentes privados e
públicos).
O Modelo da inovação induzida pelo mercado depende
do setor público investir na modernização dos sistemas de
comercialização e de comunicação (acesso ao mercado e
às informações), mas:
➢ O mecanismo de mercado livre tende a beneficiar os
maiores produtores e as empresas rurais;
➢ Para que o desenvolvimento alcance os produtores
familiares mais pobres, estes teriam de estar organizados
e/ou contar com mecanismos de proteção do Estado.
3 – HUMANISMO CRÍTICO (Fase I - 1985 – 1989)
➢Visou o protagonismo das famílias de modo que estas
construíssem as condições que consideravam necessárias à
melhoria de suas vidas;
➢Ação extensionista dirigida especialmente para a
catalisação de processos sociais de mudanças;
➢ Postura crítica em relação ao difusionismo, como um
processo que gerou exclusão social e impactos ambientais
desastrosos; (RODRIGUES, 1997).
➢ Interação técnicos – agricultores tratada como uma
relação sujeito – sujeito (BRASIL, 2010)
4 – HUMANISMO CRÍTICO (Fase II – 1990 em diante)
➢Nunes, Grígolo e Gnoatto (2013) identificam uma Fase II
do Humanismo Crítico com orientação semelhante à fase
inicial, mas o foco, em termos de público, são os
agricultores familiares, o que inclui os assentados da
reforma agrária e as comunidades tradicionais;
➢ Também passa-se a dar mais ênfase ao trabalho com
grupos; às ações de elaboração de projetos de crédito
voltam a ganhar importância, assim como orientações
sobre legislação sanitária e ambiental.
➢ Trata a interação técnicos – agricultores como uma
relação sujeito – sujeito (BRASIL, 2010)
Bordenave (1985) identifica dois modelos que são
associados ao Humanismo Crítico:
Modelo baseado na Organização e Participação
Este modelo parte da crítica ao modelo difusionista e seus
derivados, que teriam contribuído para:
➢ acelerar o êxodo rural e a exclusão dos produtores
familiares;
➢ degradar os recursos naturais;
➢ e manter as estruturas de poder e decisão concentradas
em uma pequena camada da população.
Modelo da Organização e Participação considera que:
➢ o desenvolvimento deve estar orientado para o bem-estar
da população;
➢ a população rural deve ter uma importante participação
decisória (e não apenas ser consultada) em todas as fases
do processo, inclusive na elaboração de projetos e políticas;
➢ o fomento de inovações tecnológicas deve estar
subordinado à melhoria efetiva das condições de vida dos
agricultores e não só ao aumento da produção e
produtividade.
➢ Utiliza métodos baseados na perspectiva holística e na
análise sistêmica, buscando entender a interação dos
diversos fatores em um sistema de produção e as
relações deste com o contexto externo em seus diversos
níveis.
A objeção a este modelo é que teria caráter meramente
reformista, não sendo capaz de produzir mudanças
significativas em uma sociedade capitalista que reproduz
e aprofunda as desigualdades sociais.
Modelo da transformação estrutural
Os modelos já descritos não questionam a estrutura da
sociedade como um todo e do campo em particular.
Consideram possível um desenvolvimento capaz de
satisfazer a todos sem transformações nas classes sociais.
Diversos movimentos sociais e cientistas, no entanto,
consideram necessário mudanças drásticas das estruturas
de poder e das relações de produção, para que ocorra um
efetivo desenvolvimento rural sustentável.
Modelo da transformação estrutural
A comunicação rural nesta perspectiva visa contribuir para
a construção da consciência crítica dos sujeitos (famílias
de trabalhadores e agricultores, e suas organizações),
aumentando sua participação ativa, empoderamento e
autonomia decisória.
Os métodos também se baseiam na perspectiva holística e
na análise sistêmica, mas dentro da concepção dialética,
pois tem como pressuposto a superação da situação de
exploração, por meio da transformação das estruturas
sociais e econômicas.
REFERÊNCIAS
BORDENAVE, J. D. O que é comunicação rural. 2 ed. São Paulo: Brasiliense,
1985. 104p.
BRASIL Ministério do Desenvolvimento Agrário. Fundamentos teóricos,
orientações e procedimentos metodológicos para a construção de uma
pedagogia de ATER. Brasília: MDA/SAF, 2010. 45p.
NUNES, S. P.; GRÍGOLO, S. C.; GNOATTO, A. A. A reorganização dos serviços
de ATER no Sul do Brasil diante do desenvolvimento capitalista na agricultura. In:
NUNES, S. P.; GRÍGOLO, S. C. (Orgs.) Assistência técnica e extensão rural no
sul do Brasil : práticas, avanços e limites metodológicos. Ijuí : Ed. Unijuí, 2013,
p.21 - 43.
RODRIGUES, C. M. Conceito de seletividade de políticas públicas e sua
aplicação no contexto da política de extensão rural no Brasil. Cadernos de
Ciência & Tecnologia. Brasília, v. 14, n. 1. p.113-154. 1997.