artrite encefalite caprina – cae

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CENTRO REGIONAL UNIVERSITÁRIO DE ESPIRITO SANTO DO PINHAL UNIPINHAL FUNDAÇÃO PINHALENSE DE ENSINO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA JOÃO HENRIQUE MOTA DA SILVA ARTRITE-ENCEFALITE CAPRINA – CAE ESPIRITO SANTO DO PINHAL - SP 2005

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CENTRO REGIONAL UNIVERSITÁRIO DE ESPIRITO SANTO DO PINHAL

UNIPINHAL FUNDAÇÃO PINHALENSE DE ENSINO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

JOÃO HENRIQUE MOTA DA SILVA

ARTRITE-ENCEFALITE CAPRINA – CAE

ESPIRITO SANTO DO PINHAL - SP 2005

CENTRO REGIONAL UNIVERSITÁRIO DE ESPIRITO SANTO DO PINHAL

UNIPINHAL FUNDAÇÃO PINHALENSE DE ENSINO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

JOÃO HENRIQUE MOTA DA SILVA

ARTRITE-ENCEFALITE CAPRINA – CAE

Locais de estágio e áreas: Kleffmann e Partner Com. e Representação Mercadológica – Extensão Rural

Clínica Veterinária Saúde Animal – Clinica Médica de Grandes Animais

Prof. Dr.SILVIO DORIA DE ALMEIDA RIBEIRO

Orientador

Prof. MSc. MANOEL DE CASTRO LEITE NETTO Supervisor de CEMS

ESPIRITO SANTO DO PINHAL - SP 2005

FOLHA DE APROVAÇÃO

JOÃO HENRIQUE MOTA DA SILVA

ARTRITE-ENCEFALITE CAPRINA – CAE

Monografia de Estágio Multidisciplinar Supervisionado,

apresentado para obtenção do titulo de Médico Veterinário junto ao curso de Medicina Veterinária

UNIPINHAL

Banca examinadora:

_______________________________________ Prof. Dr. SILVIO DORIA DE ALMEIDA RIBEIRO

Presidente

_______________________________________ Prof. MSc. CELSO LEITE VILLELA

Membro

_______________________________________ Prof. MSc. ADAUTO DE CARVALHO ROSAS FILHO

Membro

_______________________________________ Prof. MSc. MANOEL DE CASTRO LEITE NETTO

Supervisor da CEMS

Espírito Santo do Pinhal, ______ de _________________ 2005

DEDICATORIA

Primeiro a Deus, por ter me dado vida e preparado uma família

maravilhosa.

Aos meus pais que nunca mediram esforços para que eu pudesse

realizar o sonho de me tornar Médico Veterinário e estiveram comigo em

as todas etapas de minha vida. Ao restante da família que também

apostou em minha vitória, aos verdadeiros amigos, pois esses se

satisfazem com minhas conquistas e a Priscila, que hoje, faz parte da

minha vida...Agradeço também às pessoas que sentem inveja de mim,

já que essa é a prova de que estou sendo bem sucedido, estimulando

assim meu crescimento.

AGRADECIMENTO

Agradeço a todos que me auxiliaram na elaboração deste trabalho,

aos pesquisadores pela divulgação e diponibilização dos resultados, ao

meu orientador que sempre acreditou na minha capacidade e esteve

presente sempre que necessário e a todos os demais professores, os

que eu gostei e os que eu apenas suportei mas, durante o curso cada

um com sua parte contribuiu para minha formação profissional. Também

não poderia esquecer jamais de todos os funcionários do MORRO AZUL

e do HOVET do UNIPINHAL, em especial o Sr. Joaquim que muitas

vezes não é lembrado, mas é um exemplo de dedicação e amor aos

animais que a ele são confiados.

PENSAMENTO DE UM VELHO ÍNDIO

UM VELHO ÍNDIO DESCREVEU CERTA VEZ SEUS CONFLITOS

INTERNOS

“DENTRO DE MIM EXISTEM DOIS CACHORROS, UM DELES É

CRUEL E MAU, O OUTRO É MUITO BOM E DÓCIL. ELES ESTÃO

SEMPRE A BRIGAR”.

QUANDO ENTÃO LHE INDAGARAM QUAL DOS CACHORROS

GANHARIA A BRIGA, O SÁBIO ÍNDIO PAROU, REFLETIU E

RESPONDEU:

“AQUELE QUE EU ALIMENTAR”.

RESUMO

Artrite-encefalite caprina – CAE-

Autor: Silva, João Henrique Mota da

Orientador: Ribeiro, Silvio Doria de Almeida

Supervisor: Netto, Manoel de Castro Leite

A artrite-encefalite caprina (CAE), é uma doença degenerativa de

evolução lenta e progressiva, e pode se manifestar com cinco quadros

clínicos diferentes: artrite, mamite, encefalite, pneumonia e

emagrecimento crônico. Foi introduzida no Brasil pela importação de

animais leiteiros. A transmissão ocorre geralmente por via digestiva,

pela ingestão de colostro ou leite contaminados. A doença apresenta

baixa morbidade e animais infectados acabam passando despercebidos,

permanecendo no rebanho como fonte de contaminação e

disseminando a CAE para todo o plantel. Existem varias maneiras de

diagnosticar a CAE, a maioria delas por exames laboratoriais, pois o

diagnóstico clinico fica comprometido devido aos sintomas inespecificos.

Como a CAE não possui tratamento, é fundamental trabalhar em sua

prevenção.

PALAVRAS-CHAVE: Caprinos, colostro, lentivírus, artrite.

1

SUMÁRIO

SUMÁRIO..............................................................................................................................1

1. INTRODUÇÃO..................................................................................................................2 2. REVISÃO DE LITERATURA...........................................................................................3

2.1 ETIOLOGIA................................................................................................................. 3

2.2 EPIDEMIOLOGIA...........................................................................................................4

2.3 PATOGENIA ..................................................................................................................8

2.4 PATOLOGIA E SINAIS CLÍNICOS.............................................................................10

2.5 PATOLOGIA CLÍNICA E MEIOS LABORATORIAIS AUXILIARES .....................12

2.6 DIAGNÓSTICO.............................................................................................................12

2.7 CONTROLE E PROFILAXIA.......................................................................................16

3 CONCLUSÃO..................................................................................................................20 4 BIBLIOGRA.....................................................................................................................21

2

1. INTRODUÇÃO

A artrite-encefalite caprina (CAE) foi identificada clinicamente, pela primeira vez,

em 1959, na Suíça, onde se observou artrite crônica em caprinos adultos (STÜNZI et al.

1964 apud CALLADO et al. 2001).

O vírus da CAE foi isolado pela primeira vez nos Estados Unidos da América

(EUA), em 1979, da membrana sinovial e do líquido cefalorraquidiano de caprinos

infectados. O reconhecimento internacional da CAE como uma virose ocorreu em

1980, após a identificação do agente, classificado como um lentivirus da família

Retroviridae (CRAWFORD et al. 1980).

A doença foi introduzida no Brasil através da importação de animais puros de

raças leiteiras, proveniente de rebanhos europeus e americanos (SARAIVA NETO 1994).

Segundo Almeida et al.(2001), a primeira descrição de CAE no Brasil foi feita por Moojen et

al. (1986), no Rio Grande de Sul, seguido de Fitterman (1988) na Bahia, Pinheiro et al.

(1989) em Pernambuco e Assis & Gouveia (1994) no Ceará “(CALLADO et al. 2001).

Segundo Franke (1998), a CAE pode manifestar-se através de cinco quadros

clínicos principais: artrite, encefalite, mamite, pneumonia e emagrecimento crônico. A

CAE é caracterizada por uma alta prevalência de soropositividade e, geralmente, baixa

morbidade. Os animais infectados, mesmo aparentemente saudáveis ou soronegativos,

podem disseminar o vírus continuamente (RIMSTAD et al. 1993). A Artrite-Encefalite

Caprina é uma enfermidade crônica incurável e com repercussão negativa sobre a

produtividade do rebanho (ANDRIOLI & GOUVEIA, 2005).

Na Suíça, foi realizada uma tentativa de quantificar as perdas econômicas em

conseqüência da CAE, através de questionários distribuídos aos caprinocultores. A

análise destes questionários revelou que de 5 a 10% dos caprinos são anualmente

sacrificados por apresentarem um quadro grave de artrite. Segundo estimativas dos

caprinocultores, a queda na produção de leite das cabras infectadas é de 10 a 15%,

sendo que esta porcentagem pode ser observada também nos casos em que a cabra

infectada não apresenta alterações no úbere (KRIEG, PETERHANS, 1990 apud FRANKE 1998).

3

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1ETIOLOGIA

O vírus da Artrite-Encefalite Caprina é um lentivirus pertencente à família

Retroviridae, e sub família Lentiviridae (FRANK, 1998), à qual pertencem também o vírus

da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), da Anemia Infecciosa Eqüina e

Pneumonia Progressiva Ovina (MAED VISNA) (GARCIA, 1993). É caracterizado por

produzir doença degenerativa de evolução lenta e progressiva (SIGURDSSON, 1954 apud

CALLADO et al. 2001). Os lentivirus são vírus envelopados. A partícula viral é composta

pelos produtos do gene gag (“Group Antigen”), pol (polimerase) env (envelope) e pelo

RNA genômico. Os genes gag e pol são os mais conservados, enquanto que o gene

env é altamente heterogêneo. A partir da transcrição reversa, o RNA genômico da

origem ao DNA proviral, o qual se integra ao genoma das células-alvo, os monócitos e

macrófagos, sendo que a replicação ocorre preferencialmente em algumas populações

de macrófagos teciduais, resultando na produção e excreção do vírus infeccioso no leite

e provavelmente secreções respiratórias (NARAYAN et al.1992).

Beer (1988) descreveu o vírus da CAE como sendo sensível ao éter, clorofórmio,

metaperionato, tripsina, formol a 0,04%, luz ultravioleta, distintas temperaturas e valor

de pH compreendidos abaixo de 5,1, ou acima de 9,4.

O vírus da CAE possui três características gerais que promovem a persistência

da infecção em seus hospedeiros. Primeiro, após a transcrição reversa do RNA viral

nas células infectadas, o DNA pró-viral se integra no genoma celular, permitindo que o

vírus escape dos mecanismos de defesa do hospedeiro e preserve o seu genoma.

Segundo, se multiplica em células do sistema imunológico, normalmente responsáveis

pela eliminação de células infectadas, assim, o hospedeiro não consegue desenvolver

resposta imunológica curativa. Além disso, a restrição da expressão viral sem produção

de partículas virais, permite que as células infectadas pelo vírus escapem do sistema

imunológico (NARAYAN et al. 1992). Terceiro, esse vírus acumula alta taxa de mutação

durante o processo de replicação, resultando em variabilidade genética e fenotipica

escapando, assim, do sistema imunológico do hospedeiro (CHEEVERS et al. 1993).

4

2.2 EPIDEMIOLOGIA

Segundo Garcia (1993), a CAE já foi descrita em quase todos os continentes do

mundo com prevalência mais elevada naqueles países onde há uma caprinocultura

mais tecnificada (OIE/FAO, 1997).

O quadro a seguir demonstra a distribuição da CAE nos diversos países e

reforça o conceito de que a doença é mais intensa em países onde os caprinos são

criados de forma intensiva.

Quadro 1. Quadro demonstrativo da prevalência da CAE em alguns países. País Caprinos soros-

positivos (%) Comentário

Canadá 77,0 França 77,0 Noruega 74,0 Criação intensiva de caprinos Suíça 83,0 EUA 81,0 Inglaterra 9,5 Ilhas (maior possibilidade de Nova Zelândia 8,3 controle) Kenia 4,5 México 5,8 Introdução por Importação Peru 9,3 Sudão 0,0 Somália 0,0 Criação Extensiva de Caprinos África do Sul 0,0

Fonte: Franke (1993)

No Brasil, tem sido registrada a ocorrência de animais soropositivos em vários

estados (CALLADO et al. 2001). O primeiro registro sorológico da CAE e o primeiro

isolamento do vírus foram realizados no Rio Grande do Sul e, já se sabe que o vírus se

encontra bastante disseminado por todo país, principalmente nos estados de São Paulo

e Minas Gerais (CARLTON; McGAVIN, 1998). O quadro a seguir apresenta os estados

brasileiros onde já foi diagnosticado o vírus da CAE.

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Quadro 2. Quadro demonstrativo de estados brasileiros onde já foi diagnosticado o vírus da CAE. Estado Referência RS Moojen et al. 1986, Dal Pizzol et al. 1989 BA Fitterman 1988, Assis e Gouveia 1994

CE Pinheiro et al. 1989, Assis & Gouveia 1994, Alves & Pinheiro 1997, Melo & Franke 1997

SP Garcia et al. 1992 MG Assis & Gouveia 1994, Dezan 1996, Castro et al. 1999 RJ Assis e Gouveia 1994, Cunha & Nascimento 1995

PE Castro et al. 1994, Saraiva Neto et al. 1995, Castro et al. 1990, Castro et al. 2000

MA Alves e Pinheiro 1997 PA Ramos et al. 1996 PI Pinheiro et al. 1996 PR Sotomaior & Milczewski 1997 PB Souza & Alves 1999, Castro et al. 2000

Fonte Callado et al. (2001)

Segundo trabalho realizado por Pinheiro et al. (2001), onde foram pesquisadas 4019

amostras de soro caprino, a prevalência da infecção pela CAE no estado do Ceará foi

de 1% (40/4019 animais) considerando todos os tipos de animais testados. Entretanto,

a prevalência em rebanhos leiteiros foi de 4.6% (37/810 animais), enquanto em

Pernambuco foi de 17.6% ( 70/397), em São Paulo 29,9% (615/2065 animais), Minas

Gerais, Rio de Janeiro e Bahia verificou-se respectivamente 33,3% (205/615), 29,7%

(20/101) e 27,5% (211/768). Ainda com base neste trabalho, é possível explorar os

resultados de acordo com sexo, categoria, grau de sangue e tipo racial dos animais

testados, formando o quadro abaixo:

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QUADRO 3. Sexo, composição do rebanho, grau de sangue e tipo racial de caprinos positivos e negativos para CAE no Ceará 1999.

Variável Estrato Reagente Não Reagente Total Número % Número %

Sexo Macho 14 2,3 606 99,7 620 Fêmea 26 0,8 33,73 99,2 3399 Reprodutor 12 3,8 306 96,2 318

Categoria Matriz 25 0,9 2779 99,1 2804 Jovem 3 0,3 894 99,7 897 Raças puras leiteiras 37 4,6 773 95,4 810

Grau de Sangue Mestiço 3 0,1 23202 99,9 2305 Nativo/ SRD 0 0,0 904 100,0 904 Pardo Alpina (PA) 8 18,6 35 81,4 43 Saanen (SA) 7 4,4 151 95,6 158

Tipo racial Anglo Nubiana 22 4,0 533 96,0 555 Mestiço PA x SRD 1 1,1 94 99,0 95 Mestiço SA x SRD 2 1,0 200 99,0 202

FONTE: Pinheiro et al. (2001)

O Reservatório e a fonte de infecção da CAE são animais infectados, que

transmitem o agente por meio de secreções ou excreções ricas em células do sistema

monócito-fagocitario. A transmissão ocorre geralmente por via digestiva, pela ingestão

de colostro ou leite contaminados (Adans et al. 1983, Guiguen et al. 1990, Peretz et al. 1993 apud

CALLADO 2001). Apesar de ter um significado menor, a transmissão horizontal por fezes,

saliva, secreção respiratória e urogenital e, sobretudo, leite contaminado dos copos de

ordenhadeiras mecânicas, tem sido considerada importante, dependendo da situação

particular de cada criação. A transmissão vertical pode ocorrer, pois já foi observado a

soroconversão de cabritos que foram separados imediatamente após o parto e

receberam colostro e leite de vaca pasteurizado (East et al. 1993). Segundo Andrioli &

Gouvea (2005), a presença da CAE no sêmen já foi comprovada, o que sugerem que

este também possa ser transmitido na monta natural e inseminação artificial.

Após a introdução da CAE em uma criação, a prevalência de animais

soropositivos e clinicamente afetados, bem como a intensidade das alterações são

bastante variadas, dependendo de fatores relacionados à intensidade do estresse, tipo

de nutrição e condições gerais de higiene (Crawford & Adams 1980).

7

Segundo Callado et al. (2001), a infecção pela CAE acomete animais de ambos os

sexos, várias raças e idades. Apesar de relatos de maior prevalência em determinadas

raças e em animais do sexo masculino, não se pode concluir pela maior

susceptibilidade racial ou relacionada ao sexo, pois os estudos são de difícil

interpretação em relação aos vários fatores ligados ao manejo Um fator muito

importante é o tempo de exposição para soroconversão. Assim, tem-se observado que

a freqüência dos soros positivos é maior em animais mais velhos (Saraiva Neto et al. 1995).

Em rebanhos com alta infecção, a soroprevalência pode ser detectada entre animais

jovens (CALLADO et al. 2001).

Para Guedes et al. (2001), a infecção e/ou soropositividade não estão

obrigatoriamente relacionadas com a presença de sinais clínicos, uma vez que apenas

35% dos animais infectados apresentam algum sinal característico. Relata ainda, que

apesar da soroprevalência da CAE em um rebanho poder atingir 90%, a maioria dos

animais infectados não desenvolve sintomatologia clínica.

A ocorrência de alguns rebanhos com quase a totalidade dos animais infectados

tem sido explicada e atribuída ao fato da infecção poder persistir por toda a vida do

animal e apresentar, inúmeras vezes uma evolução assintomática, ou não

diagnosticada, tornando esses animais fontes de infecção (NARAYAN et al.1992).

A doença pode levar vários meses e até anos para se manifestar; portanto os

animais nessas condições representam um importante elo de transmissão, pois

aparentemente são sadios mas são portadores do vírus e podem transmiti-lo aos

demais animais.

Com a evolução da caprinovinocultura e o constante crescimento do mercado,

houve a necessidade dos órgãos públicos dispensarem uma maior preocupação com

aspectos sanitários desses animais, assim, a produção de caprinos e ovinos deve ser

fundamentada em sistemas de exploração que possam garantir melhores condições

sanitárias para estes animais, através de medidas de biosegurança e de exames

diagnósticos confiáveis e acessíveis.

Através da Instrução Normativa Nº 87 da Secretaria de Defesa Agropecuária, de

10 de dezembro de 2004, foi aprovado o Regulamento Técnico do Plano Nacional de

Sanidade de Caprinos e Ovinos – PNSCO, que visa o controle e erradicação das

8

doenças de caprinos e ovinos, por meio de ações sanitárias e de vigilância

epidemiológica definidas pelo DDA e executadas pelos serviços oficiais e médicos

veterinários cadastrados.

Atualmente, o PNSCO encontra-se em fase de estruturação. Foi formado um

Comitê Técnico Científico, composto de profissionais dos diversos setores da caprino e

ovinocultura, com o objetivo de dar suporte técnico às decisões do Programa. As

propostas sanitárias estão em fase de conclusão e estão sendo disponibilizadas por

meio de Consulta Pública, de maneira a permitir a participação de todos setores

interessados.

Dentre as estratégias de atuação, serão destacadas: o cadastro de

estabelecimentos, o controle de trânsito de animais, a certificação de estabelecimentos,

o cadastramento de Médicos Veterinários do setor privado e o credenciamento de

laboratórios para realização de exames diagnósticos das doenças de controle oficial.

Elaborado sem a participação de veterinários atuantes nestas atividades, o

PNSCO apresenta muitas falhas. O artigo que trata da CAE constitui ameaça real à

caprinocultura e sofreu críticas severas dos profissionais

especializados.(www.agricultura.gov.br , 2005)

2.3 PATOGENIA

O vírus da CAE possui uma particular afinidade pelas células de linhagem

mononuclear fagocitária (monócitos e macrófagos).

Esse vírus é introduzindo no organismo dos animais na maioria das vezes pela

via digestiva. Em seguida o vírus infecta as células do sistema monocítico-fagocitário

produzindo a infecção persistente do hospedeiro (CALLADO et al. 2001).

Sob catálise de uma enzima viral chamada “transcriptase reversa”, A partir da

transcrição reversa, o RNA genômico da origem ao DNA proviral, o qual se integra ao

genoma das células-alvo os monócitos e macrófagos constituindo o chamado “próvirus”

sendo que a replicação ocorre preferencialmente em algumas populações de

macrófagos teciduais, resultando na produção e excreção do vírus infeccioso no leite e

provavelmente secreções respiratórias (NARAYAN et al.1992),

9

Processos inflamatórios em outros locais promovem o recrutamento desses

macrófagos infectados; desse modo, facilitam a disseminação do vírus ao pulmão,

SNC, articulações e à glândula mamária. (CARLTON; McGAVIM, 1998).

Os mecanismos desenvolvidos pelos lentivirus para persistência da infecção

frente a resposta imune incluem: capacidade dos monócitos de conter próvirus

integrado em seu genoma sem ser detectado pelo sistema imune, pois a expressão do

gene viral só é ativada quando os monócitos maturam; para capacidade de infectar

persistentemente macrófagos, sem causar lise celular, podendo disseminar o vírus no

próprio hospedeiro, sem a produção de partículas virais através do contato com outras

células (NARAYAN et al. 1992); interrupção do ciclo viral; replicação de variantes

antigênicos na presença de anticorpos neutralizantes (CHEEVERS et al. 1991); a produção

insuficiente de anticorpos neutralizantes e produção do interferon, que diminui o índice

de replicação e favorece a persistência do estimulo antigênico. Ainda há presença de

ácido salicílico na superfície da partícula viral, o que dificulta a ação dos anticorpos

neutralizantes, e a alta mutabilidade do agente que pode resultar em variantes

antigênicas funcionam como mecanismo de escape da resposta celular e humoral (KNOWLES et al. 1990, CHEEVERS et al. 1993, LICHTENSTEIGER et al. 1993 apud CALLADO et al.

2001). A replicação viral é seguida pela produção de anticorpos e citocinas que

participam do desenvolvimento das alterações imunopatologicas que ocorrem nos

órgãos-alvo (DeMARTINI et al. 1993). A produção persistente de antígenos virais e

interação, quer seja na forma de proteína livre, ou expressa na célula durante a

infecção, e os anticorpos, formando imunocomplexos, contribui para progressão da

doença (NARAYAN et al. 1992). As alterações patológicas que ocorrem nas infecções

causadas pelo vírus da CAE, são na maior parte, mediadas internamente pela resposta

imune do hospedeiro, resultado da alteração da atividade ou produção de citocinas,

como a Interleucina 1 (IL-1) e Interferon (IFN) pelos monócitos. Já foi demonstrado a

presença de elevados níveis de IFN no líquido sinovial de cabritos naturalmente

infectados. O IFN é responsável pelo desenvolvimento da resposta linfoproliferativa por

induzir a expressão de antígenos (CALLADO et al. 2001). É provável ainda que infecções

oportunistas possam induzir a secreção de fatores celulares que modulem a replicação

viral e a manifestação da infecção como doença clinicamente aparente. Finalmente a

10

freqüência e severidade das lesões parecem estar associadas a fatores do genoma do

hospedeiro e da amostra viral (CHEEVERS et al. 1993).

2.4 PATOLOGIA E SINAIS CLÍNICOS

A infecção pela CAE, geralmente persistente e assintomática, pode causar

lesões multissistêmica, de evolução geralmente crônica. As apresentações clínicas da

CAE têm sido classificadas de quatro formas básicas: nervosa, artrítica, respiratória e

mamária (NARAYAN et al.1992).

A forma artrítica é a mais importante e é geralmente observada em animais com

mais de oito meses de idade. As alterações clínicas afetam freqüentemente as

articulações carpianas, sendo observado aumento da consistência e tamanho das

articulações. Ao exame macro e microscópico observam-se lesões típicas de processos

degenerativos e inflamatórios, que afetam os tecidos conjuntivos periarticulares, bolsas

sinoviais, tendões e bainhas tendinosas (PEREIRA, 1995). Sendo esses os fatores que

levam ao aumento articular (SMITH, 1993). Os animais também desenvolvem pelagem

escassa e ficam em decúbito external na maior parte do tempo, sendo resultados

comuns as úlceras de decúbito e ainda podem andar de joelhos (BLOOD et al. 1991). As

alterações macroscópicas encontradas são de natureza inflamatória e degenerativa. No

líquido sinovial estão presentes fibrinas e coágulos de sangue. Em casos mais

avançados, lesões degenerativas estão presentes, caracterizando-se por diminuição do

líquido sinovial, focos de degeneração, erosão e necrose articular. Nas alterações

microscópicas há sinal de inflamação crônica, caracterizadas por hiperplasia sinovial,

com deposição de fibrina e infiltração de células inflamatórias mononucleares como

linfócitos, macrófagos e plasmócitos. Células multinucleadas são identificadas

ocasionalmente. O colágeno subsinovial, perisinovial e tendinoso geralmente se

encontra necrótico e mineralizado. (CORREA et al. 2001).

A forma mamária é freqüente e tem grande significado econômico devido ao

comprometimento da produção leiteira e predisposição a infecções secundárias da

glândula mamária (SMITH et al. 1993). As cabras afetadas apresentam mamite aguda ou

crônica. A aguda é observada no início da galactogênese, havendo endurecimento não

11

edematoso do órgão com baixa ou nenhuma produção leiteira. A crônica instala-se

durante a lactação com assimetria e endurecimento da mama e leite de aspecto normal

(PEREIRA 1995). Em ambas as formas, há hiperplasia persistente de linfonodos

retromamários que apresentam-se com aumento de volume e consistência dura (SANTA

ROSA 1996). A forma encefálica é mais comum em cabritos de um a quatro meses de idade

ou mais raramente em caprinos mais velhos em associação com a artrítica (CRAWFORD

& ADAMS, 1981). Os animais mesmo mantendo o apetite e o estado ativo, apresentam

ataxia e paresia uni ou bilateral dos membros posteriores, que evoluem para

tetraparesia (NARAYAN et al. 1992). A marcha do animal é curta e inconsciente, seguida

por fraqueza e por fim decúbito. Nos animais que ainda têm capacidade de ficar em pé

pode haver perda acentuada da propriocepção em uma das pernas posteriores. O

envolvimento cerebral se manifesta por cabeça pendente, torcicolo e marcha em círculo

(BLOOD et al. 1991). Essa compromete a substância branca do cérebro, os cordões

espinhais e a medula (SANTA ROSA, 1996). As lesões macroscópicas geralmente não

ocorrem, podendo ocasionalmente haver áreas focais de coloração marrom clara na

substância cinzenta da medula oblonga e medula espinhal. (CORREA et al. 2001).

A apresentação pulmonar é mais rara e de pouca gravidade, pode seguir ou

acompanhar a forma encefálica e é percebida apenas quando o animal é exitado

(CARLTON, 1998), seus sintomas são: tosse, taquipneia, consolidação pulmonar, som

úmido à auscultação e comprometimento do estado geral (PEREIRA, 1995). Os animais

afetados comem normalmente, estando alertas e afebris (SMITH, 1993). A necropsia

observa-se aderências pleurais, pulmões pesados e firmes a palpação e áreas de

coloração róseo-acinzentadas.(PEREIRA, 1995).

No útero não ha alterações macroscópicas visíveis. Na histologia, observa-se

infiltração mononuclear, com predominância de linfócitos evolvendo principalmente o

endométrio, sem aparente envolvimento do miométrio e da serosa, a infiltração

linfocitária é focal ou difusa, sendo mais abundante na camada subepitelial. (CORREA et

al. 2001).

12

2.5 PATOLOGIA CLÍNICA E MEIOS LABORATORIAIS AUXILIARES

O hemograma e bioquímica sangüínea geralmente nada apresentam de

notáveis. As radiografias das articulações precocemente afetadas revelam tumefação

do tecido mole anteriormente ao carpo e por vezes ao tarso. Esse quando é seguido

pelo surgimento de depósitos calcificados no tecido periarticular, cápsulas articulares,

ligamentos, tendões e bainhas tendinosas. As alterações ósseas são: branda reação

periosteal, mineralização periarticular e irregularidade das superfícies ósseas proximais

e distais à articulação (SMITH 1993).

O líquido sinovial das articulações em geral está com maior volume, com

coloração marrom a vermelho, redução na proteína e aumento da contagem celular

(1.000 a 20.000 células/ mm3, com 90% de células mononucleares das quais 60-70%

são linfócitos) (CORREA et al. 2001).

Na forma mamária, histologicamente observa-se mamite intersticial com

presença de nódulos linfóides (OLLIVER et al. 1985).

Na forma encefálica as lesões microscópicas são de meningoencefalomielite e

desmielinização (SMITH, 1993). Também são observados infiltração de células

inflamatórias mononucleares na substância cinzenta da medula espinhal, múltiplos

focos de infiltrados perivasculares linfocitários e de macrófagos na substância branca

cerebral, associado a desmielinização.

Na forma pulmonar, os achados histopatológicos são de pneumonia intersticial e

broncointesticial (PEREIRA, 1995).

2.6 DIAGNÓSTICO

O diagnóstico clínico da CAE baseia-se nas manifestações como artrite, mamite,

pneumonia ou encefalite, também devemos investigar o histórico da propriedade com a

provável introdução do vírus por animais oriundos de rebanhos infectados. Porém como

já mencionado neste trabalho, muitas vezes os animais positivos não apresentam

nenhum sintoma, aí se faz necessário o uso de exames laboratoriais para diagnosticar

a doença.

13

Sempre que optar por um teste no diagnóstico de uma doença, deve-se procurar

aquele que confira uma boa sensibilidade e uma boa especificidade. Segundo Cortes

(1993), a sensibilidade é a habilidade de um método detectar o maior numero de

achados positivos no grupo de indivíduos que realmente apresentem o atributo julgado.

A especificidade é a habilidade deste método classificar como positivos somente

indivíduos dotados do atributo em questão, ou seja, é expresso pela proporção de não

infectados que o método é capaz de qualificar corretamente como negativo.

O diagnóstico laboratorial baseia-se na detecção de anticorpos, no isolamento

viral ou na detecção de antígenos virais ou porções correspondentes ao seu genoma (CORREA et al. 2001).

Segundo Abreu et al. (1998), o teste laboratorial para diagnóstico da CAE mais

difundido e utilizando é o Imunodifusão em Agar Gel (IDAG), que tem grande aceitação

na execução de testes de rebanhos devido ao custo relativamente baixo, devido a boa

sensibilidade e especificidade, além da praticidade de execução de leitura.

O material utilizado para diagnostico laboratorial, é o soro sangüíneo, que pode

ser armazenado desde que seja congelado. Seu envio para o laboratório, deve ser em

caixa de isopor com gelo, mantendo a temperatura entre 2 e 8 ºC.

O antígeno comumente utilizando no diagnóstico sorológico da CAE pelo IDAG é

produzido a partir do vírus da Pneumonia Progressiva Ovina (OPP) e também pelo vírus

da Maedi-Visna (MVV) (ambos importados), por sua semelhança antigênica (GUEDES;

SOUZA; GOLVEIA, 2001).

A escolha do antígeno para pesquisa de anticorpos para CAE tem sido motivo de

controvérsia, pois embora haja recomendação para o emprego do MVV, recentemente

tem sido demonstrado que a IDGA com glicoproteínas do CAE é mais sensível que

com o Ag do vírus MVV.

O trabalho realizado por Abreu et al. (1998) comparou o teste de IDAG utilizando os

Ag do CAEV (preparados a partir de cultura de células de membrana sinovial caprina

(MSC) e Ag MVV. Foram testados 120 soros e o Ag CAEV classificou 75 como positivos

e 45 como negativos. Esses soros quando testados frente ao Ag. MVV resultaram em

58 positivos e 62 negativos (Sensibilidade relativa de 77.3%). Os 45 soros classificados

como negativos pelo Ag. CAEV apresentaram o mesmo resultado frente ao Ag. MVV

(Especificidade relativa de 100%).

14

Para melhor avaliação dos resultados foi comparada a distribuição de

intensidade na formação das linhas de precipitação entre os soros testes de cada Ag.,

onde observa-se um número maior de soros positivos (++ e +++) para o teste com o Ag.

CAEV.

Gráfico 1. Distribuição da freqüência dos soros positivos em função da intensidade de formação da linha de precipitação frente ao Ag. CAEV e MVV.

66,7

29,3

4

77,6

20,7

1,70

1020304050607080

+ ++ +++

CAEVMVV

Fonte: Abreu et al. (1998).

A análise deste trabalho permite afirmar que o diagnóstico da CAE por meio de

IDGA utilizando Ag. CAEV é mais confiável que aqueles que utilizam Ag. MVV.

O teste de IDAG é útil para o diagnóstico do rebanho, mas tem pouco valor no

diagnóstico de um animal individualmente (OGILVIE, 2000)

Devido a maior sensibilidade e possibilidade de quantificação e automação

vários tipos de ELISA têm sido desenvolvidos para pesquisa de anticorpos, preparados

a partir do antígeno da CAE.

Outro método de diagnóstico pode ser a Imunofluerescência Direta, que é

recomendada pela OIE e apresenta um grande potencial como teste alternativo e

complementar. Entretanto devido a maior sensibilidade e possibilidade de quantificação

e automação, vários ensaios imunoenzimáticos (EIE) têm sido desenvolvidos para

pesquisa de anticorpos, preparados a partir de antígenos da CAE ou proteína interna

e/ou transmembranária recombinante (SCHROEDER et al. 1985, RIMSTAD et al. 1994 apud

CALLADO 2001), porém uso de proteínas recombinantes tem causado problemas de

resultados falso positivos, o que tem resultado na substituição desse antígeno pelo

vírus completo. Também tem sido adaptado um EIE para pesquisa de anticorpos no

15

leite ou colostro, sem grandes vantagens práticas aos testes com soros, pois só se

aplica em animais em lactação. Para detecção qualitativa, tem-se recomendado as

técnicas de Western Blotting e imunoprecipitação (GOGOLEWSKI et al. 1985, KNOWLES 1997

apud CALLADO 2001).

Uma outra alternativa seria o uso da técnica de PCR.

Existe um interesse crescente no diagnóstico sorológico da CAE, usando

técnicas rápidas, simples e de baixo custo Pensando nisso, a Embrapa Caprinos,

juntamente com a Universidade Federal de Minas Gerais e a Fundação Ezequiel Dias,

desenvolveram o DOT-BLOT (DB). Segundo Pinheiro (2005), o DB é um teste atrativo

para aplicação de rotina, em virtude dos procedimentos que permitem a realização de

dezenas de exames em uma tira de nitrocelulose para detecção de anticorpos com alta

sensibilidade.

No quadro a seguir é apresentado o resultado do teste de soros caprinos pelo

IDAG, ELISA-i e Dot-Blot na detecção da CAE.

Quadro 4. Quadro comparativo de resultados entre os testes DB, IDAG e ELISA.

POSITIVO % NEGATIVO % TOTAL

IDAG 144 44.04 183 55.96 327 Dot-Blot 200 61.16 127 38.84 327 ELISA 209 63.91 118 36.09 327

Fonte: Pinheiro (2005).

O DB mostrou-se um teste viável, rápido e sensível para detecção da CAE. Para

Pinheiro (2005) é um teste com uma ótima sensibilidade e uma boa especificidade,

sendo superior ao teste de IDAG e semelhante ao ELISA-i. Seu protocolo apresentou

boa resolução e reação inespecífica baixa além de um bom rendimento.

Portanto, o DB é um teste mais viável que o IDAG e o ELISA-i no controle desta

infecção, pois além de ser mais sensível que o IDAG não necessita da indumentária

tecnológica do ELISA . É também mais barato que o ELISA e mais rápido que o IDAG,

podendo ser utilizado em eventos (exposições, leilões, etc) e até mesmo no campo (PINHEIRO, 2005).

16

O teste imunohistoquímico também pode ser utilizado para detecção da CAE.

Segundo Garcia (1992) se pode utilizar o Índice Clínico (IC) como método para

diagnosticar a manifestação clínica da CAE em cabras e cabritos. O IC é calculado

através da diferença obtida entre o diâmetro da articulação carpo-cubital e o diâmetro

do metacarpo. O animal é considerado clinicamente negativo para CAE, quando o IC

for igual ou inferior a 5,5 cm. Se o IC estiver entre 6,0 e 6,5 cm, o animal é considerado

clinicamente suspeito. Com um índice igual ou superior a 7,0 cm o animal passa a ser

considerado clinicamente doente.

2.7 CONTROLE E PROFILAXIA

Não há tratamento específico para a infecção pelo CAEV e não há vacina

(CORREA et al. 2001) por esses motivos se torna de suma importância sua prevenção,

evitando comprar animais de criatórios onde ela ocorre e nunca adquirindo animais com

sintomas clínicos (RIBEIRO, 1997).

Recomenda-se o controle da infecção realizando os testes sorológicos periódicos

(uma a duas vezes por ano) nos caprinos acima de 9 meses de idade (CORREA et al.

2001).

Uma vez introduzindo a doença no plantel, se deve adotar algumas medidas

para seu controle e posteriormente erradicação.

A implantação e o acompanhamento do plano de saneamento nas propriedades

deve ser realizado por um Médico Veterinário que esteja em contato com um centro que

realize o diagnóstico sorológico da CAE (FRANKE, 1998)

Segundo Garcia (1993), em primeiro lugar deve ser feito um levantamento da

situação do rebanho por meio de exames sorológicos. Em casos de prevalência baixa

de animais soropositivos (5 – 10 %), recomenda-se à erradicação do problema com o

abate desses animais. Em uma prevalência mais alta (acima de 10%) pode-se optar

pela manutenção dos animais de elevado valor zootécnico, desde que sejam

identificados com uma marca de fácil visualização.

É necessário adotar um cuidado especial com os animais recém nascidos em

criações onde ocorre a CAE, pois como visto anteriormente o colostro é a principal via

17

de transmissão. Desta forma, o cabrito não deve mamar na mãe “sendo separado logo

após o parto e assim, criados livres da infecção (BLOOD et al. 1991).

Segundo Ribeiro (1997), o colostro da cabra nunca deve ser fornecido cru, há

necessidade de tratá-lo termicamente aquecendo-o a 56 ºC por uma hora. Também se

pode utilizar colostro de outras espécies ou sucedâneo de colostro e colostro em pó.

O colostro de outras espécies (como por exemplo a bovina), certamente não

transmite a CAE, porém pode transmitir doenças típicas de bovinos como a brucelose e

tuberculose, além disso devemos estar cientes de que a transmissão de imunidade é

menos eficiente. O sucedâneo de colostro deve ser preparado com sangue de animal

comprovadamente sadio, caso contrário este irá disseminar doenças para os

cabritinhos. Existe também a possibilidade de formar um banco de colostro, onde as

cabras fornecedoras devem ser testadas pela técnica de PCR a fim de confirmar a

inexistência de anticorpos para a CAE.

Para Correa et al. (2001), a formação de dois rebanhos, um com caprinos positivos

e outro com negativos, mantidos separadamente, e a eliminação gradativa dos caprinos

afetados é uma medida eficaz no controle da infecção. Os cabritos negativos devem ficar permanentemente isolados por uma faixa de

no mínimo 1,8 m de largura com relação aos caprinos soropositivos. Não se deve

permitir que os animais compartilhem comedouros e bebedouros. Cabras soro

negativas devem ser montadas por bodes CAE-NEGATIVOS (SMITH, 1993).

Recomenda-se dispensar cuidados especiais com as agulhas, seringas e

materiais cirúrgicos que devem ser criteriosamente esterilizadas dando preferência a

materiais descartáveis. Quando não possível a utilização desses, é necessário

desinfetá-los entre o uso de um animal e outro. Materiais como canivetes e tatuadores

devem ser mergulhados em água fervente antes de serem utilizados em outros animais.

Para Garcia (1993) uma linha de ordenha deve ser instituída, pois, embora remota,

há a possibilidade de transmissão da CAE, assim devemos ordenhar primeiro os

animais negativos e por fim os animais positivos.

Por último, se deve levar em conta a presença da CAE no ambiente uterino, visto

que pode ocorrer transmissão da CAE de matrizes portadoras do vírus para suas crias

durante a prenhes ou no peri-parto. Assim, a separação das crias logo após o

18

nascimento e o uso dos métodos de controle restringindo leite e colostro para as crias

pode não ser 100% efetivos, o que explicaria a persistência do vírus nos rebanhos onde

são seguidos rigorosos programas de controle da CAE (ANDRIOLI & GOUVEA, 2005).

Segundo Santa Rosa (1996), o tempo necessário para eliminar a doença do

rebanho depende da pressão que se estabelece no programa de controle empregado.

Quando o rebanho já está praticamente limpo, mas ainda possui cabras soro positivas

comprovadamente superiores, cujo material genético é realmente de grande

importância, uma alternativa é a inclusão desses animais em um programa de

transferência de embriões, desde que possam permanecer isolados do rebanho

(RIBEIRO, 1997) pois a CAE não é transmitida pela transferência de embriões como pode

ser comprovada no quadro a seguir:

Quadro 5. Transmissão de enfermidades através da transferência de embriões de doadoras infectadas para receptoras sadias

No lavagens Transmissão TransmissãoAGENTE dos Embriões Receptoras Crias Referência

Embriões caprinos

CAEV 3 Negativo Negativo Wolfe et al. 1987 CAEV 10 Negativo Negativo Andrioli et al. 2002

Língua Azul 10 Negativo Negativo Chemineau et al.1986

Embriões ovinos

Scrapie 0 Negativo Positivo Foster et al. 1992 Scrapie 3 NR Negativo Foote et al. 1993

Língua Azul 4 Positivo Negativo Gilbert et al. 1987 Maedi Visna nr Negativo Negativo Dawson et al. 1988

Fonte: http://www.emepa.org.br/caprino_te03.php

Segundo Franke (1998), o criador de caprinos pode desempenhar um importante

papel no controle da disseminação da CAE. Para isso, é necessário que ele incentive a

sua associação a promover discussões sobre este tema, convidando pesquisadores da

área e, juntos, elaborarem propostas de planos regionais de controle. Outra forma de

colaboração dos caprinocultores seria a de exigirem o exame sorológico da CAE na

inscrição em exposições, bem como nas transações de compra e venda de animais. Em

hipótese alguma os animais positivos poderão ser vendidos a outros criadores. A saída

19

de animais positivos de uma propriedade só poderá ser permitida quando estes se

destinarem ao abate.

O rebanho é considerado livre da doença quando apresentar pelo menos dois

resultados consecutivos de sorologia negativa com intervalo mínimo de seis meses (SANTA ROSA, 1996).

20

3 CONCLUSÃO

É possível concluir que a CAE esta presente em grande parte do rebanho

brasileiro, e que muitas vezes passa despercebida aos olhos dos criadores devido a

sua baixa morbidade; porém, gera grande perda de produção. Muitas vezes esse

prejuízo é ainda maior, pois além da queda de produção existe o tratamento dos

sintomas, descarte de animas e até a morte.

Uma vez introduzida a CAE no rebanho, o criador terá que adotar uma série de

medidas para controlá-la e posteriormente erradicá-la. O processo é demorado e exige

paciência, tempo e persistência. Como não existe tratamento, tomar o máximo de

cuidado para não contaminar os animais sadios. Assim, o uso de matérias cirúrgicos,

agulhas e tatuadores, entre outros. Como a principal via de transmissão é a vertical,

pela ingestão de colostro e leite contaminados, é fundamental adotar as medidas que

evitam essa forma de transmissão (uso de colostro tratado ou colostro de outra espécie

e o aleitamento com leite de cabra pasteurizado, leite de vaca ou leite em pó).

Exames laboratoriais são de suma importância para monitorar a situação do

rebanho, acompanhando assim se o plano de controle esta funcionando ou não,

ajudando na decisão de manter ou introduzir novas medidas de controle.

21

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