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O POTENCIAL COMUNICATIVO DAS FORMAS NO DESIGN:ANLISE SEMITICA DE CADEIRAS CRIADAS PELOS IRMOS CAMPANA

Luiz Tenrio Dias[footnoteRef:1] [1: Bacharel em Design pela Universidade de Sorocaba, em 2012 e orientando da Profa. Dra. Maria Ogcia Drigo no Programa de Ps-Graduao em Comunicao e Cultura da Uniso.]

Resumo: Este artigo apresenta resultados de uma pesquisa, em desenvolvimento, que tem como tema a produo de sentidos no design. Iniciamos com explicaes referentes pesquisa, em seguida, comentamos o trabalho dos designers Irmos Campana e finalizamos com anlise semitica, na perspectiva da semitica de Charles Sanders Peirce, da cadeira Vermelha, da cadeira Favela e do sof Cipria, trs criaes destes designers.

1. Introduo: alguns aspectos da pesquisa

No perodo de 2010 a 2012, durante a formao em Design, nosso interesse por estudos sobre a forma se intensificou. Em uma pesquisa que realizamos, tratamos os objetos como coisas e signos, na perspectiva de Baudrillard (2006). Mostramos o quanto a forma contribui para que os objetos caminhem para alm da simples utilidade. Os objetos que nos rodeiam esto impregnados de sentidos. Eles reorganizam o nosso cotidiano. A cor, a forma, a textura, bem como o arranjo destes aspectos aguam nossos sentidos. Conforme Trcke (2010) h tambm uma torrente de estmulos das mdias no nosso meio, de tal modo que o tempo e o ritmo de nossos pensamentos no conseguem permanecer sem ser por eles transformados em algum aspecto. A nossa sociedade pode ser vista como uma sociedade da sensao. No entanto, como menciona Trcke (2010), a presso de proclamar novos tipos de sociedade uma caracterstica da sociedade da sensao, tanto que a mais recente tentativa est em A sociedade do espetculo, de Guy Debord. A estetizao espetacular no se constitui numa nova roupagem que se precisa tirar para desmascar-lo como um velho conhecido. Esta estetizao aderiu ao capitalismo, a sua pele, e no seu envoltrio (Trcke, 2010, p. 11). Sendo assim, novos conceitos, novos pontos de vista so necessrios para dar conta das especificidades dessa sociedade. Compreendemos que a vida dos objetos, caracterizada pelo potencial de sentidos neles latentes, bem como pelos que emergem nas relaes entre as pessoas, constitui um aspecto desta nossa sociedade que necessita ser estudado. Os objetos, conforme Sudjic (2010, p. 21), so o que usamos para nos definir, para sinalizar quem somos, e o que somos. Ora so as joias que assumem esse papel, ora so os mveis que usamos em nossas casas, ou os objetos pessoais que carregamos conosco, ou as roupas que usamos. E o design passou a ser a linguagem com que se moldam os objetos e confecciona as mensagens que eles carregam. Os designers so forjadores de signos, construtores de linguagem, portanto. Assim sendo, o modo como os designers manuseiam a forma nos importa de modo especial. H diversas maneiras de levar a forma a produzir sentidos, mas entre elas esto os modos de lidar com padres usuais, ou com arqutipos. Segundo Sudjic (2010), um arqutipo dominante necessita de uma forma capaz de transmitir o que faz e o que o usurio precisa fazer para que ele funcione; alguns tm histrias milenares, com gerao aps gerao produzindo suas interpretaes particulares de um dado formato. Esses so arqutipos que, de to universais, se tornaram invisveis, cada verso avanando a partir dos anteriores para renovar continuamente os parmetros bsicos. Quem pensaria em perguntar quem primeiro desenhou a cadeira com um p em cada canto?. (SUDJIC, 2010, p. 60)Os designers constroem objetos tendo tambm estas formas como ponto de partida. Alguns preferem dar aplicabilidade contempornea aos arqutipos, aperfeioando-os em vez de buscar sem cessar a novidade pela novidade, entre os quais esto os Irmos Campana. Vamos tomar como objeto de estudo, trinta peas do mobilirio entre as criaes dos Irmos Campana e avaliar em que medida eles agregam novos sentidos a arqutipos. Qual o potencial comunicativo desses objetos do mobilirio criados pelos Irmos Campana?Deste modo, a pesquisa contempla interfaces da Comunicao com o Design. O Design visto como linguagem e seus objetos, como signos, lanam um duplo desafio: o de explicitar como se configura o potencial comunicativo tanto na expressividade dos objetos como nos modos de relacionamento que eles constroem e reconstroem no cotidiano das pessoas. Deste modo, a pesquisa tem como objetivo geral compreender aspectos da vida dos objetos na sociedade da sensao. Para alcan-lo delineiam-se os seguintes objetivos especficos: traar um panorama do design considerando o trabalho de designers e os modos de lidar com as formas, principalmente; identificar o papel do design na sociedade da sensao; tratar os objetos como signos, na perspectiva da semitica peirceana; explorar o potencial de sentidos dos objetos selecionados e explicitar em que medida possvel agregar novos sentidos aos objetos que se valem de arqutipos. Trata-se de uma pesquisa emprica com anlise semitica de trinta peas do mobilirio criadas pelos Irmos Campana. A metodologia envolve duas etapas. Na primeira, pretendemos explicitar como um objeto pode se fazer signo; em seguida, considerando o objeto como signo, na perspectiva da semitica peirceana, avaliamos o papel deste na sociedade da sensao. A questo da vida do objeto pode assim ser compreendida. Na segunda etapa, por sua vez, vem as anlises das peas selecionadas. Ao inventariar o potencial de sentidos latentes nestas peas, avaliamos tambm em que medida os arqutipos podem gerar novos sentidos.

2. SemiticaNesse contexto utilizaremos como ferramenta de anlise do potencial comunicativo dos objetos em questo, a semitica peirceana.Charles Sanders Peirce (1839-1914) cientista-lgico-filsofo norte americano, foi fundador da rea do saber designada por semitica. Peirce desenvolveu a semitica como lgica e foi o criador do pragmatismo filosfico. Semitica a cincia dos signos e signo , como segue, segundo Peirce:Defino signo como qualquer coisa que, de um lado, assim determinado por um objeto e, de outro, assim determina uma ideia na mente de uma pessoa, esta ltima determinao, que denomino e Interpretante do signo , desse modo, mediatamente determinada por aquele Objeto. Um signo, assim, tem uma relao tridica com seu Objeto e com seu Interpretante (CP 8.343).

2. Categorias fenomenolgicas de Peirce

Para Peirce, categoria um modo lgico de as coisas (reais ou no) serem. Como a sua semitica procura os sentidos em todos os tipos de linguagens possveis, ele precisa de modos de produo de sentidos que sejam aplicveis a todo e qualquer fenmeno. Esses fenmenos aparecem na conscincia segundo trs modos categoriais (qualidade, existncia e lei) que no so entidades mentais, mas modos de operao do pensamento signo que se processam na mente. So elesO signo uma coisa que representa outra coisa, seu objeto. Ele representa seu objeto para um intrprete, e produz na mente desse intrprete uma outra coisa que est relacionada ao objeto, mas pela mediao do signo.O signo que entra em uma relao tridica de significao chamado representamen. a face do signo imediatamente perceptvel e faz parte da primeiridade.O objeto uma forma de representao do referente. Faz parte da secundidade, da experincia existencial, a o qu o interprete envia o signo em um processo de semiose.O interpretante o signo mediador do pensamento, um terceiro, que permite relacionar o signo apresentado ao objeto que ele representa.

Entendemos que compreender o mecanismo pelo qual se envereda a semitica, na relao usurio/objeto, ou seja, compreender o potencial comunicativo dos objetos nessa relao matria fundamental para que se possa conhecer o desenvolvimento cientfico dos processos significativos e para o melhor desenvolvimento de projetos de design, para que contemplem valores comunicacionais que sejam objetivamente efetivos na produo de sentidos, fazendo com que possivelmente esses objetos se tornem mais atraentes para o usurio.

Antes de apresentar as anlises das cadeiras selecionadas entre os objetos dos Irmos Campana, para anlise neste artigo, apresentamos informaes referentes produo destes designers.

2. Os irmos CampanaSegundo Leite Perrone (2012), atualmente estabelecidos em um ateli localizado no centro de So Paulo, os irmos Humberto e Fernando, mais conhecidos como Irmos Campana, constroem os prottipos de objetos que a crtica internacional considera os mais representativos do design brasileiro dos ltimos tempos. Os Irmos apareceram na mdia, em 1989, com a uma exposio nomeada, propositalmente, Desconfortveis. Nesta exposio, as cadeiras de ferro foram apresentadas quase como esculturas e em nada convidavam funo associada a este tipo de mvel, pois tais peas, devido talvez frieza do material e a rigidez das formas - reiterando o ttulo da exposio - j indicavam o esprito irreverente que permearia toda a trajetria da dupla, que mescla, em suas criaes, artesanato, design e arte. As peas possuam um gestual nico, indicando a velocidade do trao e a confeco com auxlio de um serralheiro. O processo de criao e fabricao destas peas suscitou, entre os crticos e profissionais do design, a seguinte questo: Os irmos Campana fazem arte ou design? Como classificar esse tipo de produo? Com a exposio, denominada Desconfortveis, os Irmos Campana mostram a caracterstica principal de seu trabalho: os deslocamentos de significados dos objetos. Esse tipo de deslocamento se tornaria praticamente um procedimento caracterstico desses designers. As suas criaes, em certa medida, contribuem para transformar as relaes entre as pessoas e estes objetos, pois os subvertem s expectativas dos indivduos quanto aos valores de um mvel ou objeto, como o conforto, a beleza e a funcionalidade, dentro de um dado padro baseado na conceituao funcionalista do design.O trabalho destes designers ganhou dimenso internacional no fim dos anos 1990, com a mostra no MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova York) e a edio da Cadeira Vermelha produzida pela empresa italiana Edra. Seguiram-se outras criaes, sempre marcadas pelo ineditismo na experimentao de materiais pouco usuais para a construo dos prottipos e muito afastados de sua funo inicial. Fios de arame, cordas, retalhos de borracha, plstico e couro, espelhos, pedaos de madeira, vime, bonecas de pano e bichos de pelcia j foram ingredientes, que passando pela mgica de suas mos criativas, se transformaram em cadeiras, estantes, luminrias, utenslios, sofs, mesas e outros objetos. No Brasil, os Irmos so mais conhecidos pela criao de uma coleo de sandlias femininas, para a marca Melissa. Mas, eles tambm atuam nas reas de interiores e cenografia. Eles assinam o caf do Teatro Municipal de So Paulo e o do Museu DOrsay, de Paris. Eles assinam produtos para a Edra e para a Alessi, marcas italianas. Algumas de suas criaes integram colees permanentes do MoMA, nos Estados Unidos, do Georges Pompidou, na Frana e do Vitra Design Museum, na Alemanha.Entre as criaes desses designers selecionamos trs peas: a cadeira Vermelha, a cadeira Favela e o sof Cipria. Seguem as anlises. 3. Anlise semiticaEscolhemos trs exemplos de mobilirio criados pelos Irmos Campana, a saber: a cadeira Vermelha, a cadeira Favela e o sof Cipria. Separamos as peas, tomando como base os fundamentos do signo: os aspectos qualitativos, os referenciais e os de carter de lei (regras, normas ou convenes construdas culturalmente) e que provocam efeitos, respectivamente, de sugesto, de constatao ou que propiciam o crescimento do pensamento, ou seja, desencadeiam a semiose, conforme Santaella (2002).

Figura 1: Cadeira Vermelha e o poder de sugesto em foco

Fonte: Disponvel em: . Acesso em: 31 out. 2013No caso das cadeiras, prevalece o poder de sugesto quando o arqutipo no tem primazia no processo interpretativo. Isto ocorre com a cadeira Vermelha (FIG. 1), na qual preponderam os aspectos vinculados cor, textura e forma, no caso, institudas pela trama de fios. Considerando que o intrprete contempla a cadeira, podemos dizer que a cor vermelha aliada trama de fios, que parecem resistentes, propicia a sensao ttil igual ao toque de cordames de algodo de textura levemente rstica. A sensao a de uma superfcie agradvel ao toque, onde o conforto se insinua pela forma aconchegante da cadeira, que vem com o entrelaamento dos fios. Sendo a cadeira quase que totalmente na cor vermelha, ela preponderantemente vai funcionar, na maioria dos ambientes em que for instalada, como ponto focal, conforme Lupton e Miller (2008) segue a tradio da escola de Weimar, a Bauhaus, com sua filosofia da forma e sua psicologia gestltica Segundo Farina (1982), a cor vermelha pode ter diversas associaes, como por exemplo, pode significar materialmente, sangue, guerras, fogo, e afetivamente pode significar paixo, proibio, furor, luta, trazendo, por conseguinte, para esse objeto infindveis possibilidades de leitura. A cor prateada das hastes sustentadoras sugere requinte, sofisticao, alm de trazer a estabilidade confivel do elemento ao cadeira. O jogo dos tons vermelho e prateado torna a imagem harmnica, impregnada de clareza e limpeza visual, e numa suposta leitura visual, pode ser entendida como uma lana de guerra suja de sangue, resultados das batalhas pessoais ou como um ramalhete de rosas envolto em papel metlico, que funciona como uma carcia visual para o seu intrprete.O contraste entre as cores que se apresentam no objeto e a distncia entre os tons (vermelho e prateado) traz leveza rusticidade exacerbada do volume que se dispe na parte superior do objeto e que parece ser macio em alguns pontos. Os efeitos da cadeira, enquanto qualissigno, so os vinculados s sensaes de aconchego, harmonia, leveza. Anunciados os aspectos qualitativos, vejamos os referenciais, que vem com a observao do objeto. A trama de fios, que forma o assento e o encosto da cadeira, apreendido numa s forma, elaborada com uma corda vermelha de aproximadamente 450 metros de comprimento. Uma s forma se faz assento e encosto, portanto. As formas que compem a cadeira se distanciam do arqutipo de cadeira (quatro ps, assento e encosto). H trs ps e a estrutura do encosto com hastes prateadas submerge em meio ao emaranhado de fios vermelhos. Os ps e a estrutura do objeto so feitos de ao inoxidvel. Estes contrastes provocam no usurio certo estranhamento. um objeto que incomoda, mas atrai. Este estranhamento um efeito uma reao - da cadeira enquanto sinsigno. A cadeira pode se fazer signo quando algum aspecto vinculado lei, regra ou conveno predominar no processo interpretativo, como o uso de material no convencional na criao de cadeiras ou no modo de se distanciar das formas requeridas pelo arqutipo. O volume vermelho formado pelos laos dados na corda, que nada mais so do que elementos vazados, apresentados de forma a se tornarem um s bloco, podem ter como possvel significado, que um objeto pode se transmutar em outro e adquirir novos significados a partir da simples reorganizao de sua funo tida, at ento, como aceitvel e natural. Nesta cadeira, uma corda nutica passa a ser estrutura e corpo do assento e do encosto. O processo de criao da cadeira, quando comparado com o arqutipo da cadeira, se diferencia. Neste sentido, a cadeira pode representar aspectos do processo de criao dos Irmos Campana. As reflexes acerca do processo de criao dos Irmos Campana so os efeitos da cadeira enquanto legissigno.Todos os efeitos so possveis, no entanto, para a cadeira Vermelha prepondera o poder de sugesto. O mesmo no se d com a cadeira Favela (FIG. 2), que remete o intrprete forma arquetpica para cadeira. Neste caso, prepondera a constatao. No h como ao contemplar ou observar o objeto no identific-lo, imediatamente. O arqutipo predomina no processo interpretativo e a descrio do objeto vem como uma consequncia. A cadeira Favela produzida pela sobreposio de pedaos de madeira com diferentes dimenses. Aparentemente, a madeira o nico material presente nesta pea de mobilirio. Se considerarmos que uma grande quantidade de blocos de madeira se junta e forma a cadeira, ento, da aparente desorganizao um amontoado de pedaos de madeira - vem a organizao, a ordem, a cadeira. Um amontoado de fragmentos de madeira transforma-se em um objeto funcional, bem construdo e longe de ser imperfeito, desorganizado, catico.

Figura 2: Cadeira Favela e o poder de constatao

Fonte: Disponvel em: . Acesso em: 01 nov.2013

Se focalizarmos o olhar para uma parte da cadeira, encontramos nesta os mesmos elementos do todo, da cadeira como um todo. Nela, h similaridade das partes para com o todo. H homogeneidade em relao cor e textura, construda com a aglutinao das pequenas placas de madeira.Linhas que podem ser consideradas retas seguem em sentido vertical, paralelas, formando superfcies em forma de paraleleppedo retangular, vazado na parte inferior, para dar vez s pernas da cadeira. Outras regies, em forma de paraleleppedo reto se encontram e se transformam em assento e em encosto, agora na parte superior dando forma cadeira. H um rompimento esttico de valor autoral que agrega valor forma e dessa maneira podemos observar que conceitualmente a parte est no todo e o todo est nas partes do objeto. Construindo-o pelo caminho da desconstruo, tornando essa cadeira subversiva, anrquica e libertria.Primitiva, frgil, desordenada apesar de certa regularidade nas formas da madeira (placas) aglutinadas. Em outra pea, o sof Cpria, as formas ovides, justapostas e em cores contrastantes anunciam ao usurio/intrprete a funo esperada do objeto. Mas, as cores aliadas textura se transformam em convite para o usurio/intrprete, o que faz com que venha a sucumbir. O sof produz efeitos, antes como sinsigno indicial e depois como sinsigno icnico.

Figura 3: Sof Cipria: Alegria e o arqutipo como regra

Fonte: Disponvel em: .Acesso em: data

No Cpria vemos em primeiro lugar, sem dvida alguma, as cores nele contidas, para no decorrer da leitura visual vislumbrarmos suas formas, que nos remetem, pela experincia colateral, s almofadas que ficavam espalhadas pelo sof da casa de meu av e causa como efeito sentimentos como carinho, alegria, saudade. Mesmo assim, o arqutipo se mantm firme, uma vez que nosso olhar alcana a base do agora j entendido sof, pois ali existem as quatro hastes metlicas que o sustentam. Temos certeza de que um sof. Da maneira como est representado e pelas cores e texturas que apresenta, o mvel transmite casualidade e descontrao. No primeiro modelo, todo colorido, temos como efeito a sensao de liberdade total de pensamentos e talvez de atitudes, pois a somatria das sensaes causadas por suas cores nos liberta, conforme Farina (1982), uma vez que o vermelho carrega, entre as suas possibilidades, a energia; a cor verde oliva pode ser traduzida como bem estar; o rosa, em nossa sociedade est ligado ao sentimento de amor; o azul marinho maior instncia da liberdade: o espao; a cor laranja indubitavelmente alegria e amizade; o azul claro indica afeto e o amarelo traduz a espontaneidade. Desta maneira podemos concluir que a cor a chave desse mvel. atravs dela que ele suscita sentimentos e pode causar efeitos no observador. Se for apresentado na verso em preto, castor e dourado (Fig. 4) ganha ares de requinte e se torna deveras elitizado e masculino, uma vez que a cor preta pode ser entendida como um valor de nobreza e o dourado indica riqueza material e controversamente, pureza espiritual. H uma verso inteiramente em pelcia cor-de-rosa (Fig.5) que pode significar pureza, delicadeza, fragilidade, suavidade e que nos faz facilmente lembrar a boneca Barbie pela semelhana da cor, e se torna extremamente feminino, ao mesmo tempo em que lembra os pincis usados para maquiagem por pessoas do mundo inteiro. Figura 4: Requinte: Verso negra/dourada do Cpria

Fonte: Disponvel em: http://tijolosetecidos.com/2012/08/03/sofa-cipria >.Acesso em: 31 out. 2013

Figura 5: Ternura: Verso em cor-de-rosa do sof Cpria

Fonte: Disponvel em: < http://tijolosetecidos.com/2012/08/03/sofa-cipria >. Acesso em: 31 out. 2013

Ao encontrarem um ponto comum no universo das diversidades culturais, os irmos Campana adicionam pea o poder de congregar olhares de culturas diferentes e de maneiras diferentes, pois todas as reflexes inerentes a esse objeto surgem a partir da contemplao das cores e das formas que o compem.Forte presena, conjunto, fluidez, conforto e sentimentos diversos advm desse objeto de design.

5. Consideraes FinaisAs criaes apresentadas suscitam diversos efeitos e sensaes no usurio/intrprete, pois tais objetos possuem latentes, mltiplos aspectos qualitativos e a partir da interveno do usurio/intrprete, as significaes latentes tendem, pelo processo da semiose, a crescer infinitamente.No caso da cadeira Vermelha, onde prepondera o poder de sugesto, poderamos ainda dizer que ela suscita pela maneira como foi construda, o genial, onde um elemento deveras desestruturado como uma corda, passa a ser estrutura e corpo, compondo um quase surreal deslocamento de material. Na cadeira Favela, onde reside o poder da constatao, o todo (a favela) empresta a parte (os pedaos de madeira) para que o todo da cadeira seja feito pelas partes do todo primal. Os pedaos de madeira so indcios, marcas, vestgios da favela. Dessa maneira cria-se uma anttese potica de ordem reversa, que nada mais que tornar o objeto capaz de explicar sua origem atravs do indcio nele contido e tambm de a prpria origem se manifestar, com a ajuda do nome da cadeira, no caso. O carter de lei se mostra no Cpria que exemplifica o magnfico do deslocamento: suas peas com formas orgnicas, ora so, por atuao das cores, a representao do descontrado, do casual, do alegre, ora do requinte e da masculinidade, bem como da ternura e da feminilidade. Assim esse objeto quase que nos obriga a ampliar os pensamentos sobre suas possibilidades, alterando cada vez mais suas significaes diante do usurio/intrprete.

RefernciasBAUDRILLARD, Jean. O sistema dos objetos. So Paulo: Perspectiva, 2006.DEBORD, Guy. A sociedade do espetculo: comentrios sobre a sociedade do espetculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997. DRIGO, Maria Ogcia e SOUZA, Luciana C. P. de. Aulas de semitica peirceana. So Paulo: Annablume, 2013.

FARINA, Modesto. Psicodinmica das cores em comunicao, So Paulo: Edgard Blcher, 1982.

LEITE PERRONE, Carlos Eduardo. Fernando e Humberto Campana. So Paulo: Folha de So Paulo, 2012.LUPTON, Ellen; MILLER, J. Abbott. ABC da Bauhaus: a Bauhaus e a teoria do design. So Paulo: Cosac & Naify, 2008.SANTAELLA, Lcia. Semitica aplicada. So Paulo: Pioneira Thomson, 2002.

SUDJIC, Deyan. A linguagem das coisas. Rio de Janeiro: Intrnseca, 2010.TRCKE, Christoph. Sociedade excitada: filosofia da sensao. Campinas/SP: Editora da Unicamp, 2010.