articulaÇÃo regional e desenvolvimento: polÍticas pÚblicas de educaÇÃo e de saÚde na serra...
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ARTICULAÇÃO REGIONAL E DESENVOLVIMENTO: POLÍTICAS PÚBLICAS
DE EDUCAÇÃO E DE SAÚDE NA SERRA CATARINENSE
162 mil habitantes (IBGE, 2008)
162 mil habitantes (IBGE, 2008)
Sobre o desenvolvimento (ou a falta dele) e as articulações regionais (ou a falta
delas) direcionadas às políticas de educação e de saúde, é preciso dizer que
de uns tempos para cá ...
O que era ... Planalto Serrano, Planalto Catarinense virou SERRA CATARINENSE.
Para “pegar carona” no êxito turístico da Serra Gaúcha, claro!
A Serra pode até ter baixo CAPITAL SOCIAL mas o capital ambiental…
Em que pesem os reflorestamentos de pinus eliottis e taeda, que já estão
mudando a paisagem…
CAPITAL SOCIAL como conceito multidimensional (PATTUSSI et al., 2006) implica em:
- PARTICIPAÇÃO SOCIAL - engajamento, participação em organizações e ação política.
- NÍVEL DE “EMPODERAMENTO” - percepção do controle que as pessoas têm sobre suas vidas.
- PERCEPÇÃO DE COMUNIDADE - nível de satisfação com relação à área de residência.
- REDES E APOIOS SOCIAIS - contato com amigos, familiares, suporte e profundidade dos relacionamentos.
- CONFIANÇA SOCIAL - confiança e reciprocidade em pessoas e instituições.
FALTA TRADIÇÃO ASSOCIATIVA CAPAZ DE PRODUZIR CAPITAL SOCIAL
PÚBLICO, POIS:
Na área governamental, das políticas públicas, não se tem produzido capital
social, mas fragmentação e apatia. Conselhos Municipais de Saúde: participação
não muito alentadora.
COMO CAPITAL SOCIAL NÃO É SOMENTE UM ATRIBUTO CULTURAL, PODE SER CRIADO. O
QUE PRECISAMOS É SABER COMO TORNAR:
- Menos poderosos - mais poderosos.
- Desorganizados - mais organizados.
- Menos favorecidos - mais capazes.
É preciso levar em conta o contexto histórico e cultural no qual o capital
social é gerado (ou não).
NA SAÚDE…
Vocês conseguiram transformar um hospital filantrópico em universitário.
Na Serra Catarinense perdemos a gestão municipal de um hospital
estadual.
NA EDUCAÇÃO Vocês criaram e mantêm um patrimônio
que é referência no estado de Santa Catarina: a UNOESC.
Na Serra Catarinense a UNIPLAC completa 50 anos neste ano, mais antiga
IES comunitária do estado, uma das últimas transformada em universidade,
está sob intervenção judicial.
Enfim, vocês têm TRANÇAS DA TERRA...
A Serra Catarinense tem NÓS: de pinho, de laço...
Como entender o (“pouco”) desenvolvimento e a (des) articulação da
Serra Catarinense, no contexto das políticas públicas de educação e de saúde, sem resgatar o passado que
“condena”?
Podemos entender de várias formas...
Artigo analisa o Índice de Desenvolvimento Social dos municípios de Santa Catarina (renda, alfabetização, escolaridade e saneamento básico) e diz
que...
“... os menos desenvolvidos localizam-se no Planalto, local de colonização
portuguesa e cabocla, caracterizada pelo latifúndio” (ZAMPIERI & VERDINELI,2007).
Querendo distanciamento de análises preconceituosas-“terra de caboclo
preguiçoso”, “de gente que não gosta muito de trabalhar”- procurei OUTRAS
explicações para a “baixa” capacidade de articulação regional e de desenvolvimento
da Serra Catarinense...
A industrialização se desenvolveu por meio de pequenas propriedades homogêneas - tal estruturação
social
“... explicaria a ausência de indústrias na região serrana, povoada sob outra concepção de trabalho e de dinamização econômica”(…)
(…) competências técnicas trazidas pelos imigrantes [italianos e alemães] de uma Europa
em plena Revolução Industrial e transmitidas entre gerações desempenharam um papel
determinante (...)” (RAUD, 1997, p. 254).
A Serra Catarinense é a “mais pobre e atrasada” (MUNARIM, 2000):
Formação social constituída no setor primário da economia, descapitalizada.
Politicamente conservadora.
Certa resistência à inovação.
Cultura da permanência…
... que apresenta reflexos na visão de mundo dos serranos…
A forma de ocupação do território – latifúndio (200 anos) forjou relações econômicas, políticas e sociais, cuja herança
de ambiência da fazenda acarretou em:
Cultura política de dependência: compadrio/patronagem/clientelismo.
Distâncias que dificultam acesso a equipamentos e serviços.
Estilo de vida peculiar: pouca fala/timidez/conservador/tradicionalista.
Poucos contatos sociais, pouco expansivo, lentidão no falar/no agir.
Maior extensão territorial/menos povoada: 12,5 habitantes por k², SC=56,5hab/km².
Analfabetismo (16 anos e +) na Serra = 6.91% em SC= 2,71%.
QUE IMPACTOS O CONTEXTO HISTÓRICO DA REGIÃO TRAZ PARA A
EDUCAÇÃO E A SAÚDE?Baixos níveis de instrução se
manifestam:
Na percepção dos problemas de saúde.Na capacidade de compreensão de informações
sobre saúde. Na adoção de estilos de vida mais saudáveis.
Na adesão a tratamentos de saúde.
São os chamados Determinantes Sociais de Saúde que refletem as condições de
vida e de trabalho (CNDSS, 2009).
Saúde é uma questão de escolaridade, economia, tecnologia, religiosidade, cultura, crenças e costumes
que caracterizam as populações e devem ser consideradas quando discutimos articulação e
desenvolvimento regional.
Assim, a partir dessa breve descrição, pode-se visualizar um cenário revelador
da realidade da Serra Catarinense caracterizada por precárias condições de
vida.
COMO ENFRENTAR TAL REALIDADE?
EDUCAÇÃO e SAÚDE na Serra Catarinense: articulação e desenvolvimento regional
Nas últimas décadas: movimentos
voltados para o desenvolvimento e
práticas de articulação regional.
Em 2002 a UNIPLAC, em articulação com instituições e
organizações regionais, define Saúde Coletiva como eixo
estratégico:
Perspectiva de consolidação da área da saúde.
Favorece criação de cursos sintonizados com perfil
profissional preconizado.
Incorporação de novas práticas acadêmicas – incentivada pelo
Ministério da Educação.
Internalização de novas posturas profissionais - aspirada pelo
Ministério da Saúde.
ASSIM:
2003: Graduação em Medicina - inovadora.
2004: Odontologia e Enfermagem - nova estrutura
curricular – modular.
2006: Mestrado em Saúde Coletiva.
2008: Residência Médica - Medicina de Família e
Comunidade.
2009: Residência Multiprofissional - Saúde da
Família e Comunidade.
REFERÊNCIASCNDSS - Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais de Saúde. As causas sociais das iniqüidades em saúde no Brasil: relatório final. Brasília: Ministério da Saúde, 2008.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Sistema IBGE de Recuperação Automática. http://www.sidra.ibge.gov.br/ (acessado em 22/Set/2008).
LOCKS, G. A. dos Agricultores familiares brasileiros de São José do Cerrito- SC. Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Santa Catarina. 1998.
MUNARIM, A. ção e esfera pública na Serra Catarinense: a experiência política do Plano Regional de Educação. NUP-UFSC. 2000.
NUNES, P. de T. “Se a Clube não deu, é porque não aconteceu”: Radio Clube de Lages, comunicação e poder na região Serrana de Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política - UFSC. 2001.
PATTUSSI, M.P., Moysés, S.J., JUNGES, J. R., SHEIAN, A. Capital Social e a agenda de pesquisa. CAD. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(8): 1525-1546, ago. 2006.
PEIXER, Z. I. Cidade e seus tempos: o processo de constituição do espaço urbano em Lages.Lages: Editora: UNIPLAC.2002.
RAUD, C. O Ecodesenvolvimento e o desenvolvimento territorial: problemáticas cruzadas. VIEIRA, P. F et al. e Meio Ambiente no Brasil. A contribuição de Ignacy Sachs. Porto Algre: Palloti/ Fpolis: APED. 1998, p. 253-262.
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Izabella Barison MatosDoutora em Saúde Pública ENSPSA/Fiocruz
Imagens CD ROM - 2006