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Foto: Jhonatan Reis Vagão rosa no metrô Para a assessora chefe da Secretaria de Política para Mulheres, “como sociedade inclusiva e igualitária, não podemos tolerar espaços restritos” Página 14 Samambaia: arte que valoriza a cidade Pintura, metalurgia, grafite e mosaico. Uma galeria a céu aberto reúne obras do artista plástico Skartazini. Região busca ampliar projeto Página 9 Smartphone Veio para facilitar a vida, mas pode ser fonte de problemas Página 24 Segurança ou insegurança no estádio? Mané Garrincha se torna atração do Brasileirão e leva candangos às arquibancadas. A violência também chegou Páginas 6 e 7 Ano 14, Nº 5 Jornal-Laboratório do Curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília Distribuição Gratuita Brasília, setembro de 2013 Ar efato t Brechó Comprar barato e vender caro. Isso não vale Página 18 Motoristas ignoram passageiros em paradas de ônibus. Para especialistas, sistema de transporte público do DF está falido. Páginas 4 e 5 Passou e não parou Foto: Michele Mendes ARTEFATO 1a edicao_2_2013.indd 1 9/11/13 3:07 PM

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Jornal-Laboratório da Universidade Católica de Brasília, ano 14, n. 5 de 2013

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Vagão rosa no metrôPara a assessora chefe da Secretaria de Política para Mulheres, “como sociedade inclusiva e igualitária, não podemos tolerar espaços restritos” Página 14

Samambaia: arte que valoriza a cidade Pintura, metalurgia, grafite e mosaico. Uma galeria a céu aberto reúne obras do artista plástico Skartazini. Região busca ampliar projeto Página 9

SmartphoneVeio para facilitar a vida, mas pode ser fonte de problemas Página 24

Segurança ou insegurança no estádio?Mané Garrincha se torna atração do Brasileirão e leva candangos às arquibancadas. A violência também chegou Páginas 6 e 7

Ano

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Brechó Comprar barato e vender caro. Isso não vale Página 18

Motoristas ignoram passageiros em paradas de ônibus. Para especialistas, sistema de transporte público do DF está falido. Páginas 4 e 5

Passou e não parou

Foto: Michele Mendes

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Aperitivo de cascas de batataMolho de cascas de berinjela para massasRamas de cenoura crocantesDoce de casca de melanciaBolinho de talo de brócolisPatê de talos de legumesAssado de cascas, talos ou folhasDoce de casca de maracujáAqui, é claro, só estou mostrando os títu-

los, mas você pode ir ao manual e copiar as receitas. Bom, mas eu ia dizendo: muito inte-ressantes essas sugestões, não? Pensei, então, em preparar um banquete consciente e convi-dar os amigos. E seria mais ou menos assim:

Antipasti – aperitivo de cascas de batata e patê de talo de legumes – mas aí eu tenho de incluir um pãozinho ou uma torrada... já sei... crostini de pó de folha de mandioca;

Primo piato – tradicionalmente, essa é a

NO dia 28 de agosto de 1963, nos de-graus do Lincoln Memorial em Washington, capital dos Estados Unidos da América, o ativista político Martin Luther King fez um discurso para uma plateia de mais de 200 mil pessoas. Nesse discurso, ele falava da neces-sidade de união e coexistência harmoniosa entre negros e brancos norte-americanos. O discurso tornou-se um marco na história da humanidade. No ano seguinte, Luther King recebeu o Prêmio Nobel da Paz pelo combate à desigualdade racial sem o uso da violência. Em abril de 1968, Dr. King foi as-sassinado em Memphis, Tennessee.

Na véspera do aniversário de 50 anos do histórico discurso, quando o mundo inteiro lembrava o sonho de Luther King e reafirma-va a importância de suas palavras para o avan-ço dos direitos civis em todas as nações, outro discurso foi pronunciado. Dessa vez, uma jornalista brasileira, Michelline Borges, de-clarou ao mundo, via Facebook, que médicas cubanas recém-chegadas ao Brasil para par-ticipar do Programa Mais Médico têm “cara de empregada doméstica”. Houve indignação por parte de internautas, que compartilharam as palavras racistas da jornalista aos milhares.

Vamos retomar outra famosa frase de Luther King para deixar aqui uma reflexão: “Nada no mundo é mais perigoso que a igno-rância sincera e a estupidez conscienciosa.” O Artefato é um jornal laboratório de um curso de Comunicação Social, feito, portanto, por estudantes – os mesmos que assinam as ma-térias, as fotos e as ilustrações destas páginas. Seremos, muito em breve, jornalistas. Que a nossa formação nos permita seguir o exemplo que Luther King deu ao mundo e repudiar a infelicidade de Michelline, que não entendeu que o jornalismo não é uma profissão buro-crática com expediente de oito horas diárias. O jornalista é jornalista 24 horas por dia.

Os estudantes de jornalismo, atuais res-ponsáveis pelas quatro edições do Artefato neste segundo semestre de 2013, assumem, desde já, o compromisso de observar, a todo o momento, o Código de Ética dos Jornalis-tas, que, em seu Capítulo II, art. 6º, I, dispõe que “é dever do jornalista opor-se ao arbítrio, ao autoritarismo e à opressão, bem como de-fender os princípios expressos na Declaração Universal dos Direitos Humanos.” E jamais se esquecerão de que também é seu dever “combater a prática de perseguição ou dis-criminação por motivos sociais, econômicos, políticos, religiosos, de gênero, raciais, de orientação sexual, condição física ou mental, ou de qualquer outra natureza” (Cap. II, art. 6º, XIV). Dentro e fora de uma redação.

opinião

Jornal-Laboratório do Curso de Comunicação Social da Universidade Católica de BrasíliaAno 14, n. 5, setembro de 2013

Reitor: Prof. Dr. Afonso Tanus GalvãoDiretora do Curso: Profa. Me. Angélica Córdova Machado MilettoProfessoras responsáveis: Me. Karina Gomes Barbosa e Me. Fernanda VasquesOrientação de fotografia: Me. Bernadete BrasilienseMonitores: Anna Cléa Maduro e Henrique Carmo

Editores-chefes: Anna Mizzu e Ricardo FelizolaEditores de arte: Bruno de Oliveira e Shizuo AlvesEditores de fotografia: Alessandra Modzeleski e Paula MoraisSubeditores de fotografia: Ana Beatriz Santos, Guilherme Rocha, Ramila Moura e Yago Alves

Editoras web: Jéssica Paulino e Stefany SalesEditoras de texto: Adriele Vieira, Anna Lourenço, Caroline Coêlho, Caroline Paixão, Renata de Paula e Renata RibasProjeto gráfico: Alessandra Modzeleski, Ana Paz, Igor Bruno, Nayara de Andrade, Renato Gomes, Shizuo AlvesDiagramadores: Alana Araújo, Ana Paz, Evely Leão, Lucimar Bento, Renato GomesRepórteres: Alessandro Alves, Amanda Vilas Boas Christian Kelly Soares, Filipe Rocha, Guilherme Azevedo, Gledstiane Laíssia, Igor Bruno, Júlia Amarante, Jusciane Matos, Jussara Rodrigues, Karinne Rodrigues, Luiz Fernando Souza, Marcela Luiza, Murilo Lins, Narla Bianca, Nayane Gama, Nayara de Andrade, Rayanne Larissa, Rhayne Ravanne, Thalyne CarneiroChecadores: Christian Kelly Soares, Júlia Amarante, Jusciane Matos, Marcela Luiza,

Rayanne Larissa, Rhayne RavanneFotógrafos: Amanda Bartolomeu, Amanda Costa, Ana Beatriz Santos, Daniel Mangueira, Carolina Vajas, Eduarda Lewicz, Jéssica Duarte, Jéssica Eufrásio, Juliana Macêdo, Letícia Sousa, Michele Mendes, Quéssia Fernanda, Rafaela Brito, Rosiléia Araújo

Tiragem: 2 mil exemplaresImpressão: Gráfica Saturno

Universidade Católica de BrasíliaEPCT QS 7, Lote 1 - Bloco K, sala 212 Águas Claras, DFFone: 3356-9098/9237

Email: [email protected]: pulsatil.com.brFacebook: facebook.com/artefato.ucbEdições anteriores: isssuu.com/jornalartefato

Artefato

EDITORIAL

ANNA MIZZU

As ideias estão no chão. Você tropeça e acha a solução

CRÔNICA

POUCOS temas têm tanto apelo, atu-almente, quanto a importância de evitar o mau uso dos recursos naturais, sobretudo, como forma de preservar o meio am-biente. Do mais catastrófico ao mais confiante, é fácil encontrar todos os tipos de defensores do ar, do solo e das águas do planeta. Aliás, ainda não encontrei ninguém que não faça essa defesa. Claro, pelo menos, publicamen-te. Assim, a variedade de recomendações é enorme, e as ideias, às vezes, podem ser surpreendentes.

Por exemplo, estive dando uma olhada no Manual do cidadão consciente, produzi-do pelo Sebrae especialmente para a Feira do Empreendedor, realizada em Brasília neste final de agosto de 2013. Legalzinho o material. Se quiser olhar também, está aqui: www.feiradoempreendedordf.com.br.

Lá no final, na página 33, começa o ca-pítulo mais curioso do manual: “Consumo consciente de alimentos”. A ideia central da introdução desse capítulo é o desper-dício de alimentos – segundo o manual, o Brasil é campeão mundial em desperdício –, seguido de uma forma de diminuir o problema. Que forma? A óbvia: reaprovei-tar as sobras. Mas o mais interessante são as sugestões, e até receitas culinárias, que o manual traz. Confira algumas:

Folhas de brócolis ao fornoBolinhos de folhas de beterrabaDoce de casca de banana

hora da massa ou do arroz, mas não é o caso – só posso pensar em reaproveitar sobras, então vamos de bolinhos de folhas

de beterraba e bolinhos de talo de bró-colis. Pode ser que algum convidado goste mais de brócolis;

Piatto di mezzo – essa é a hora de carne, ave, peixe ou frutos do mar, acompanhados por verduras e legumes, mas parece, pelos ensinamentos do ma-

nual, que o brasileiro não desperdiça isso, então, só verduras – folhas de brócolis ao forno, ramas de cenoura crocantes e assa-do de cascas, talos e folhas;

Dolce – agora sim, podemos ser clás-sicos: doce de casca de banana, doce de casca de maracujá e doce de casca de melancia.

Acho que não vai ter bebida. Ou será que eu deveria aproveitar as frutas para fazer sucos? Hummm... só agora me dei conta: o que eu vou fazer com batatas, ce-nouras, beterrabas, mandioca e brócolis depois que eu aproveitar as cascas, as fo-lhas, os talos e as ramas? Bom, jogar fora seria ainda mais desperdício. Pensando bem... quem, neste país, desperdiça tan-to “alimento”? Quem consome a batata e quem consome a casca da batata?

Enfim, todos serão convidados. Será que a Glorinha Kalil ia curtir? Bem que eu poderia ter aproveitado a vinda dela à Fei-ra do Empreendedor para convidá-la para esse jantar. Que tal?

“I have a dream”

Ilustração: Shizuo Alves

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especial - As cidades do DF

LUIZ FERNANDO SOUZAMURILO LINS

TAGUATINGA é a Região Adminis-trativa III do Distrito Federal e comple-tou 55 anos em 2013. Se fosse um municí-pio independente, seria um dos que mais teriam crescido em todo o país na última década. Segundo o portal Brasil Net, a cidade é considerada a capital econômica do DF, com indústria moderna e comér-cio forte e variado, além de ser o 12º maior arrecadador de ICMS dentre todos os municípios brasileiros. Os arranha-céus, incomuns na paisagem do Plano Piloto, a animada vida noturna e o trânsito intenso nas avenidas contribuem para dar à cidade ares de metrópole.

No meio da cidade encontra-se a Praça Central, popularmente conhecida como Praça do Relógio, local de maior circulação de pedestres. Ao redor, há lojas, shoppings, igrejas, bancos, escolas, teatros, quartéis militares e a sede da Administração Regio-nal de Taguatinga, responsável pela manu-tenção.

A Praça do Relógio é frequentada por gente de todo tipo. Uma amostra de quem circula por ali: estudantes de colégios pú-blicos e particulares próximos, camelôs, idosos, índios, servidores públicos e ins-trutores de autoescola. O aposentado José Honório da Silva, de 76 anos, é um pioneiro em Taguatinga – chegou quando a cidade tinha apenas três meses de existência. José adora a cidade e a praça onde passa as tardes conversando e jogando com os amigos. Para ele, “a situação hoje é muito melhor do que era há algum tempo, já que tenho bancos novos para me sentar, mas a segurança precisa melhorar, principalmente, à noite”.

O estudante Mardson Soares Santos, de 20 anos, chegou a Taguatinga há pouco tempo, vin-do do Piauí, e concorda: “Gosto do ambiente da praça durante o dia, mas, à noite, já vi depen-dentes químicos na área”.

Questionada, a Assessoria de Comunicação da Administração Regional de Taguatinga informou que o órgão vem realizando ação de revitalização da praça desde 2011, com lavagem do piso, poda das árvores, servi-ços de jardinagem, pintura de todo o meio--fio, realocação dos bancos para áreas mais adequadas, construção de um posto poli-cial, revitalização do relógio, renovação da fonte luminosa e pintura de toda a praça. A Assessoria informou também que as ques-tões que envolvem a segurança da praça já

foram repassadas para o 2º Batalhão de Po-lícia Militar, assim como a responsabilidade da fiscalização.

Segundo a Assessoria de Comunica-ção da Polícia Militar do Distrito Federal, não é possível impedir a locomoção de moradores de rua na área central de Ta-guatinga, mas abordagens são realizadas dia e noite e prisões de criminosos acon-tecem diariamente. Também há ações de reforços do policiamento com o emprego de tropas especializadas como Rotam, Bp-choque e Bpcães.

O chefe de gabinete da Administra-ção de Taguatinga, Joaquim Katsuyuki Nakahara, informou: “A praça é de livre circulação de pessoas, mas o uso do espaço requer a assinatura de um documento, que deverá ser providenciado junto à Adminis-tração, autorizando o uso do espaço público da praça. A administração libera o uso da praça para a realização de trabalhos sociais. Fora isso, não é autorizado qualquer tipo de atividade, como venda, propaganda e ou-tros serviços.”

Contrariando, porém, a informação de Nakahara, o GDF vem utilizando a área para fazer propaganda do atual governo, com anúncios de melhorias no transporte público e mensagens de outras ações go-vernamentais na cidade.

Manutenção feita

O relógio, referência mais significativa do local, passou por mais uma manutenção em abril deste ano, o que custou R$ 45 mil aos cofres do GDF, segundo a Adminis-tração de Taguatinga. O relógio foi doado pelo japonês Eiichi Yamada, à época, presi-dente da multinacional Citizen Watch Co., que visitou a cidade em agosto de 1970. A inauguração foi no dia 22 de dezembro do mesmo ano e, em 18 de setembro de 1989, foi tombado como Patrimônio Cultural e Artístico do DF. Atualmente, é o símbo-lo da cidade, substituindo a antiga caixa d’água que era localizada na entrada de Taguatinga. O relógio tem 17 metros de altura. A torre, com 15 metros, tem seção hexagonal. No topo, em forma cúbica, cada uma das quatro faces aponta para um dos principais pontos cardeais. Depois de anos sem funcionar, com cada face parada em uma hora, os ponteiros estão atualizados e, o relógio, pontual.

Foto: Daniel Mangueira e Jéssica Duarte

Última manutenção do relógio, em abril, custou R$ 45 mil

A praça ao redor do relógioTAGUATINGA

Administração Regional investiu na revitalização da Praça do Relógio, mas local ainda enfrenta problemas

“A situação hoje é muito melhor do que era há algum tempo, já que tenho bancos novos para me sentar, mas a segurança precisa melhorar, principalmente, à noite”.José Honório da Silva, aposentado

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cidades

MARCELA LUIZARENATA DE PAULA

ESPERAS prolongadas nos pontos de ônibus, falta de coletivos e motoristas que ignoram passageiros nas paradas são recla-mações frequentes de usuários do transpor-te rodoviário do Distrito Federal e Entor-no. De acordo com o Transporte Urbano do DF (DFTrans), são 3.950 veículos para atender os cerca de um milhão de passagei-ros que dependem do transporte público urbano do DF diariamente. Já nos percur-sos entre as cidades do Entorno e Brasília, o número de ônibus disponíveis nas ruas não passa de 1.261 para suprir a demanda de aproximadamente 294 mil usuários, se-gundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Com um número de coletivos insuficien-te para atender à população e um sistema falho, as empresas de ônibus são obrigadas pelo DFTrans a estipularem prazos para o cumprimento das rotas das linhas realizadas pelos veículos. Por pressão ou descaso, mui-tos motoristas ignoram os passageiros nas paradas. “Uma vez um vizinho teve que me buscar na faculdade, porque os dois ônibus que passaram não pararam para mim”, con-ta a estudante de Letras, Iasmin dos Santos Cruz, de 19 anos, moradora de Ceilândia.

Iasmin precisa pegar ao menos seis ônibus todos os dias para chegar à faculdade, em Taguatinga, e ao trabalho, no Plano Piloto. Quando não há atrasos durante o percurso – algo raro de ocorrer -, a estudante gasta quatro horas diárias dentro de um coletivo. Uma das principais reclamações da jovem é o fato dos ônibus passarem na parada, mas não pararem; ela sai às 23h da instituição de

ensino, vai para o ponto de ônibus esperar o coletivo, que passa, mas, muitas vezes, igno-ra o aceno dado por ela. “Às vezes é porque está cheio, mas mesmo vazios muitos não param”, reclama.

Para o padeiro Álax Paulo Santana, 37 anos, o “descaso” de muitos rodoviários de-ve-se à pressão e aos prazos a serem cumpri-dos. Ele conta que já ocorreu duas vezes de tentar pegar um ônibus e ser ignorado pelos condutores. “Alguns motoristas não deixam a gente nem pisar no ônibus e já aceleram, porque estão sempre correndo contra o tem-po. Já vi motoristas apagarem o letreiro só para não precisar parar”, revela.

Uma pesquisa realizada pelo Artefato constatou que o fato de motoristas não pa-rarem em pontos de ônibus solicitados é uma realidade comum entre os passageiros que utilizam o transporte público urbano no DF e entorno. Dos 130 entrevistados, 103 (79%), com idade entre 17 e 52 anos, con-fessam já ter acenado para um coletivo, que mesmo vazio, passou e não parou. Do total de entrevistados, 121 (92%) pessoas contam que já viram a situação ocorrer com outros passageiros mais de uma vez

Diante da situação, Brasília se vê obriga-da a pensar em uma transformação no siste-ma de transporte público da capital federal e Entorno. O engenheiro e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Trans-portes da Universidade de Brasília (UnB), Paulo César Marques da Silva, conta que o problema de condutores de ônibus que ig-noram paradas não é “um privilégio apenas de Brasília”. Ele atribui o fato dos moto-ristas não pararem em pontos de ônibus à pressão para cumprir o trajeto em um tem-po determinado.

“Com o engarrafamento e a frota reduzi-da, os motoristas tentam compensar o tempo perdido furando as paradas. Como a lógica é a do lucro, as empresas trabalham com o menor número de ônibus possível e esticam a viagem de modo que o motorista cumpra o roteiro com o mínimo de perda de tempo nos percursos”, explica Paulo César.

Pediu pra parar, passouTRANSPORTE PÚBLICO

Por descaso ou pressão, condutores pulam paradas durante trajeto e passageiros ficam sem transporte

O estudante Pedro Guilherme Pires, 19 anos, já chegou atrasado na aula porque o onibus passou e não parou

“Já vi motoristas apagarem o letreiro só para não precisar parar”Álax Paulo Santana, padeiro

Foto: Elisa Borges

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Registro de reclamações, sugestões ou pedido deinformações junto ao DFTrans pode ser feito nonúmero 162, todos os dias, das 8h às 18h, ou pelo site www.dftrans.df.gov.br

COMO DENUNCIAR

Visão do rodoviárioUm cobrador da Viação Planalto (Vi-

plan), que trabalha na empresa há cinco anos e não quis ser identificado, revela que, quando ocorrem atrasos durante o trajeto da linha, o motorista sofre punições, como fal-tas e suspensões, além de ficar “queimado” na empresa. O funcionário trabalha na linha que faz o percurso entre a Rodoviária do Pla-no Piloto e Santa Maria, e conta que o mo-torista tem uma hora para fazer o trajeto. O tempo, segundo ele, é insuficiente. Pela pres-são constante, ele pensa em largar a profissão assim que conseguir algo melhor.

Diante de realidades distintas, o motorista Ueliton Ferreira, da empresa Rápido Brasí-lia, acredita que a cobrança para o cumpri-mento do trajeto dentro do prazo não pode ser desculpa para os motoristas, uma vez que a companhia em que trabalha não penaliza pelos atrasos. Para o rodoviário, coletivos lotados, passageiros que sinalizam fora da parada ou quando o veículo está próximo demais dos pontos são alguns dos motivos que levam o condutor a ignorar os acenos de quem espera pelo transporte. O motorista, entretanto, confessa que já presenciou cole-gas de trabalho cometerem irregularidades. “Tem muitos que não param. Eu vi um cole-ga fazer a linha ‘Eixão’, quando deveria fazer a linha ‘Eixo’. Ele mudou o itinerário e não pegou um passageiro”, conta.

Ueliton, que também é usuário do trans-porte coletivo, disse que já chegou a quebrar as janelas de um ônibus que não parou, en-quanto esperava na parada. O rodoviário considera que atitudes como a relatada por ele representam a “irresponsabilidade” de funcionários que não se veem na condição de passageiro; mas admite que a profissão é estressante. “Se você for dar ouvidos para quem te xinga, não trabalha”, completa.

Administração do serviçoO itinerário e a tabela horária das linhas

dos coletivos são determinados pela Ge-rência de Programação e Monitoramento do DFTrans, e estão sujeitos à advertência, segundo previsto na Lei nº 3.106/2002, e à multas, onde – com valores repassados ao Fundo de Transportes –, são geridas pela Secretaria de Transportes. De acordo com o órgão, para estipular o período de percurso para cada linha é levado em consideração o tempo gasto na viagem de ida e volta, a dis-tância percorrida e a velocidade média do veículo, definida em 32 km/h quando não há retenção e 18 km/h para horários de pico.

Segundo o DFTrans, é necessário deter-minar prazos para o cumprimento das rotas, pois “o mesmo veículo que é alocado para fazer uma viagem é utilizado em várias ou-tras, inclusive de linhas diferentes, para que ocorra uma otimização da frota e a criação de uma frequência na tabela horária”.

O professor Paulo César acredita, entre-tanto, que a fórmula (veja no quadro) não é aplicável, pois a velocidade média estipulada para horários de pico não corresponde à re-alidade do trânsito. “Se eles determinam es-sas velocidades, devem dar todas as medidas para garantir a viabilidade”.

Caminhos para soluçãoPara o engenheiro Paulo César, qualquer

solução precisa vir de um planejamento que determine o modelo de operação e mostre como deve ser feita a integração para de-pois definir os parâmetros de qualidade do sistema e, assim, buscar recursos, como o aumento da frota de ônibus e mudanças na distribuição de coletivos.

“Se a empresa consegue fazer o transpor-te de passageiros com menos veículos, trans-formando cada ônibus em uma lata de sar-dinha, ele faz porque não está pensando no sistema do ponto de vista do usuário, e sim no ponto de vista do caixa”, acusa.

Aumentar a frota de ônibus no DF é uma das propostas do Governo do Distrito Fe-deral (GDF) para solucionar o problema. O governo já entregou 236 coletivos, de um total de 2.580, segundo dados do DFTrans. Mas há quem discorde dessa solução. O pro-fessor Paulo César, por exemplo, acredita que soluções desse tipo podem trazer prejuí-zos financeiros à capital. “Não posso afirmar que a solução é aumentar a frota de ônibus, porque corremos o risco de colocar mais re-cursos em um modelo que está errado, signi-ficando desperdício de recurso público.”

Em meio à realidade do sistema, a Presi-dência da República sancionou, em abril de 2012, a Lei de Diretrizes Política Nacional de Transporte Urbano (Lei nº 12.587/2012), a qual determina que os municípios com mais de 20 mil habitantes elaborem planos de mobilidade em três anos para concorrer ao

repasse de recursos federais destinados a po-líticas de mobilidade urbana. A obrigação é imposta aos municípios com mais de 500 mil habitantes, desde 2001.

Entre os principais pontos da lei estão a prioridade dos modos de transporte não motorizados e dos serviços públicos coleti-vos sobre o transporte individual motoriza-do, além da participação da população por meio de conselhos de mobilidade da cidade, para analisar a solução mais adequada para o transporte do ponto de vista do usuário.

De acordo com dados da Pesquisa de In-formações Básicas Municipais de 2012, di-vulgada pelo IBGE, a maior parte das cida-des brasileiras ainda não conta com planos de mobilidade. Dos 1669 municípios com mais de 20 mil habitantes, somente 10% contam com um plano municipal de transportes, e em apenas 7% o plano foi desenvolvido com participação dos cidadãos. Entre os muni-cípios com mais de 500 mil habitantes, esta proporção aumenta para 55,26% e 36,84%, respectivamente.

Para colocar em prática o plano de mobili-dade urbana no DF, o governo criou há dois anos o Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade do Distrito Federal (PDTU/DF), que pretende criar políticas estratégi-cas para a gestão dos transportes urbanos no âmbito do DF e Entorno. Regido pela Lei nº 4.566, o PDTU/DF tem entre os objetivos “atender às exigências de deslocamento da população”, buscando a eficiência geral do sistema de transporte público do DF e garan-tindo condições adequadas de mobilidade para os usuários, com fornecimento de transporte público regular, confiável, seguro, eficiente, ambientalmente sustentável, com menos custos e que projeta o patrimônio histórico da capital.

Dos 130 entrevistados, 103 (79%) afirmam já ter acenado para um ônibus na parada que mesmo vazio, não parou.

79%

Do total de entrevistados, 121 (92%) relatam já ter visto passageiros acenarem para um ônibus na parada que, mesmo vazio, não parou.

92%

“Se você for dar ouvidos para quem te xinga, você não trabalha”Ueliton Ferreira, motorista de ônibus

Infográfico: Henrique Carmo

Pesquisa realizada pelo Artefato constatou que é comum motoristas não pararem em pontos de ônibus quando a parada é solicidade. A realidade é comum entre os passageiros do DF e Entorno. Um questionário, disponibilizado na web e distribuído na Rodoviária do Plano Piloto, foi respondido por 130 pessoas com idade entre 17 e 52 anos. Confira os dados abaixo:

TP = D x 60

TP = Tempo de percurso da linha con-siderando ida e volta (em minutos),D = Distância percorrida na linha (em quilômetros),V = Velocidade média (em quilôme-tros/hora).A velocidade média considera todo o percurso, varia de 30 Km/h em per-curso livre de retenções até 18 Km/h para horários de pico e vias muito congestionadas e cheias de semáfo-rosObs: O número 60 tem por objetivo igualar a unidade de tempo em mi-nutos.

CÁLCULO DO TEMPO DE PERCURSO

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GUILHERME AZEVEDO

A COPA do Mundo transformou em realidade um sonho antigo de vários tor-cedores que nunca puderam ver seus times de perto. Várias cidades do Brasil já fize-ram acordo com o Governo do Distrito Federal para realizar mando de campo na capital federal (veja mais sobre as torcidas do DF ao lado).

A expectativa do público da capital é grande, e a infraestrutura do DF tem de atender a esse novo cenário. Além do transporte público, vários outros serviços precisam funcionar para que Brasília seja bem vista pelos torcedores e organizado-res ao receber partidas de tamanha impor-tância. Um deles é a segurança dentro e fora do estádio. Facilidade nos acessos ao estádio, organização na entrada, na saída e no trânsito também dependem da ação da Polícia Militar, que conta com a ajuda da Polícia Civil, do Detran e do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal.

A divisão dos homens que vão atuar em cada jogo é realizada com a escolha do te-nente que chefiará entre 20 e 30 policiais de

diversos batalhões, totalizando aproxima-damente 1.500 homens, dentro e fora do estádio. Pelo menos 700 policiais atuam na área interna da arena, na revista dos tor-cedores, no monitoramento dos bares, na escolta das torcidas organizadas e no con-trole do público. Os que ficam do lado de fora, cerca de 800 homens, trabalham na segurança dos torcedores na entrada e na saída para evitar confusão.

Via Assessoria de Imprensa, a PM aler-ta quanto a furtos e ingressos falsos sendo vendidos por cambistas. “Os torcedores devem comprar os ingressos nos postos autorizados a fim de evitar esse problema. Quanto ao furto de ingressos, o torcedor deve primeiramente procurar a PM pelo 190 ou alguma equipe mais próxima para tentar prender os criminosos em flagran-te, além de não deixar de registrar a ocor-rência na delegacia mais próxima, que, no caso do Estádio Nacional Mané Garrincha, é a 5ª DP.” A Secretaria de Segurança Pú-blica afirmou que ainda não foram coleta-dos e totalizados os números de ocorrên-

cias de roubos feitas nos postos da Polícia Civil e Militar.

No dia 25 de agosto, em confronto vá-lido pelo Brasileirão entre Corinthians e Vasco, cenas de violência tomaram conta da parte superior das arquibancadas do Mané Garrincha. Até então, não havia sido registrada nenhuma ocorrência desde a primeira partida realizada no DF. O epi-sódio ocorreu no intervalo da partida e en-volveu membros das torcidas organizadas dos dois times.

Câmeras de segurança flagraram, entre os envolvidos, três integrantes da torcida organizada do Corinthians que estive-ram presos em Oruro, na Bolívia, acusa-dos de participação na morte do menino Kevin Espada. “Um policial militar fez o reconhecimento formal dos torcedores, que foram indiciados. Temos 30 dias para concluir o processo e enviar para a Justiça, que tomará as medidas cabíveis”, explicou o Delegado responsável pelo caso, Marco Antônio de Almeida, em entrevista coleti-va na sede da Polícia Civil.

Foto: Michele Mendes

Torcida organizada do Corinthians em confronto com a PM no jogo contra o Vasco

PM atua no estádio, mas organizadas geram tumulto e confusão

cidades

SEGURANÇA

Polícia Militar, Polícia Civil, Detran e Bombeiros reforçam o esquema dentro e fora do estádio em dias de jogos

DETRAN:Agentes de trânsito e viaturas (veículos, guinchos e empilhadeiras) ficam estrategicamente localizados em diferentes pontos ao redor do Mané Garrincha, organizando o trânsito e o estacionamento em áreas próximas, como Eixo Monumental, Rodoviária e Centro de Convenções.

POLÍCIA CIVIL:Todas as delegacias do DF ficam abertas nos dias de jogos. Uma unidade foi instalada no subsolo do estádio para registro de ocorrências. Além disso, equipes de repressão à falsificação tentam conter a ação de cambista e o furto de veículos.

CORPO DE BOMBEIROS:Cerca de 100 militares ficam de prontidão, com o apoio de viaturas de combates a incêndio, helicópteros, salvamento, atendimento pré-hospitalar e atendimento a contaminações por produtos perigosos.

A COLABORAÇÃO DOS ÓRGÃOS DE SEGURANÇA DO DF

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Brasilienses lotam estádio e demonstram amor pelo time; mas com as partidas veio também a violência

JÚLIA AMARANTE

EM Brasília, é possível encontrar gen-te de todos os cantos do país, logo, aqui existem torcedores dos mais diversos ti-mes. Em maio deste ano, a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Code-plan) realizou parte de uma pesquisa, ain-da em andamento, referente ao tamanho das torcidas em regiões administrativas do DF. Das 31 RAs, seis já foram mapea-das, o que representa pouco mais de 30% da população do DF, e o resultado até ago-ra é: Flamengo (52,14%), Vasco (12,13%), São Paulo (7,59%), Corinthians (6,97%), Palmeiras (5,12%), Botafogo (4,95%), Fluminense ( 4,78%), Cruzeiro (1,77%), Santos (1,18%) e Atlético-MG (1,02%).

BrasileirãoCom a reforma do Mané Garrincha, os

moradores da capital ganharam a oportu-nidade de acompanhar de perto seus ti-mes. Já jogaram no novo estádio, em par-tidas válidas pelo Campeonato Brasileiro de 2013, Flamengo, Santos, Coritiba, Vas-co, Atlético Mineiro, Portuguesa, Botafo-go, Goiás, São Paulo, Grêmio e Corin-thians. O Flamengo firmou uma parceria com o Governo do Distrito Federal e, de maio até setembro, estão confirmadas, no Mané Garrincha, sete partidas durante o primeiro turno do Brasileirão .

Torcedor fanático do Clube de Regatas do Flamengo, Clédson Emídio, 21 anos, é integrante da torcida Raça Rubro-Negra há oito anos e já foi assistir a jogos do time em Minas Gerais, Goiás e Rio de Ja-neiro. Ele conta o que mudou para os tor-cedores depois da reforma do Mané Gar-rincha: “Melhorou bastante, tanto para o torcedor comum quanto para o torcedor organizado. Hoje, em vez de assistirmos aos jogos na nossa sede, ou em casa pela TV, ou ter que organizar viagens e ir ao estádio, no máximo, a dois ou três jogos por ano, agora podemos ir aqui perto. Com certeza, estamos bem mais próxi-mos do Flamengo ”. Clédson assistiu a todos os jogos do time que aconteceram até agora no estádio, mais do que costu-mava ir em outros anos.

Para assistir às partidas no Rio de Ja-neiro, os integrantes da torcida organiza-da Raça Rubro-Negra gastam em média R$ 250 com passagem e o valor do in-gresso. Eles não têm despesa com hospe-dagem, pois ficam na casa de torcedores de lá. Aqui em Brasília, o sócio torcedor do Flamengo paga a “meia da meia”, ou seja: se o ingresso custa R$ 120, estu-dantes, maiores de 60 anos, menores de 21, professores, funcionários públicos, doadores de sangue, deficiente físicos e

acompanhantes têm direito a meia entra-da, no valor de R$ 60. Os sócios torcedo-res pagam R$ 30.

Preço nas alturas

A média de público nos jogos do Cam-peonato Brasileiro no Mané Garrincha está surpreendendo. A partida do campe-onato com o maior número de pagantes até aqui foi Flamengo x Santos, em Brasí-lia, no dia 26 de maio, com 63.501 pesso-as. A renda foi de R$ 6,9 milhões.

Mesmo com os valores dos ingressos mais altos do que nas outras cidades, os brasilienses comparecem em peso para prestigiar seus times. No Maracanã, por exemplo, o bilhete mais barato para o Flamengo x Cruzeiro nas oitavas de final da Copa do Brasil custou R$ 30 a meia entrada; sócios-torcedores paga-ram R$ 15.

O auxiliar financeiro Ricardo Dantas, 22 anos, faz parte da torcida organiza-da União Vascaína. Nascido no Rio de Janeiro, ele acompanha o Vasco desde pequeno e já viajou para vários lugares para ver o time jogar. Segundo Ricardo, os organizadores e os próprios clubes es-tão se aproveitando do amor do torcedor brasiliense para colocar os preços muito altos – são eles que estipulam os valores

Torcedores do DF marcam presença no estádio para apoiar seus times

Foto: Michele Mendes

esporte

das entradas. “O ingresso mais barato aqui em Brasília para Vasco e Flamengo foi de R$ 50 a meia. Quando eu morava no Rio de Janeiro, o máximo que paguei foi R$ 40 para acompanhar uma final do Campeonato Carioca”, reclama.

Longe da diversão

Ir ao estádio para ver seu time jogar tem tudo para ser um dia de diversão e alegria, mas nem sempre é isso o que acontece. As notícias de violência entre torcidas organizadas adversárias são fre-quentes.

E em Brasília não tem sido diferente. No dia 18 de agosto, antes da partida Fla-mengo x São Paulo no Mané Garrincha, um torcedor rubro-negro foi espancado por três integrantes da Torcida Indepen-dente do São Paulo, presos em flagrante. O rapaz agredido sofreu fratura na man-díbula e precisou passar por cirurgia.

No local do ocorrido, havia policiais militares que não interferiram na situa-ção e esperaram a chegada da cavalaria para acabar com a confusão, o que causou polêmica sobre o despreparo das forças de segurança do DF em eventos esporti-vos de grande porte. (Leia mais sobre a segurança no estádio na página ao lado).

A confusão se repetiu no dia 25 de agosto, dessa vez dentro do Mané Gar-rincha, que, projetado para a Copa do Mundo, não pôde considerar a divisão do público. Durante o intervalo do jogo Vasco x Corinthians, houve confronto entre as duas torcidas organizadas. Para pôr fim à briga, a polícia precisou usar cassetete e spray de pimenta. Como não há a divisão, um cordão de policiais vai isolar os grupos.

A resposta para esses confrontos veio rápida. As torcidas organizadas Indepen-dente, do São Paulo, e Gaviões da Fiel, do Corinthians, estão proibidas de entrar no Estádio Mané Garrincha durante dois anos. A medida foi divulgada pela Secre-taria de Segurança Pública do Distrito Federal. Também será proibido circular no entorno do estádio portando obje-tos que se refiram às torcidas proibidas, como bandeiras, faixas ou emblemas. A partir de agora, todas as torcidas orga-nizadas terão de entregar às autoridades cinco dias antes da partida um cadastro dos integrantes que vão ao jogo, com nome completo, fotografia, RG, CPF, nome dos pais, estado civil, endereço, profissão e escolaridade.

A capital no novo “Mané”FUTEBOL

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Pratique esporte sem sair da frente do computador

IGOR BARROS

esporte

tração: Shizuo Alves

SIMPLES diversão para muitos, profis-são para poucos. É assim que diversos jogos eletrônicos são considerados. Com a alcu-nha de eSport, a nova modalidade ganha cada vez mais espaço no Brasil, depois de conquistar um mercado gigantesco na Ásia, em parte da Europa e na América do Norte. O mesmo nível de importância que o futebol tem para nós, brasileiros, talvez Starcraft II, jogo eletrônico de estratégia em tempo real, tenha para os sul-coreanos. Com campeo-natos transmitidos em TV aberta, lá, o jogo é reconhecido pelo governo como esporte nacional. Nos Estados Unidos, estão sendo emitidos vistos de atletas profissionais para jogadores de League of Legends que vão ao país disputar campeonatos. Em ambos os países, a renda mensal de um cyberatleta pode chegar a mais de US$ 2.500.

Sucesso de público, a final do último campeonato brasileiro de League of Legen-

ds é a prova dessa crescente aceitação. Com US$ 100 mil distribuídos em premiações, o evento em São Paulo contou com aproxi-madamente 10 mil pessoas nos três dias de competição. As partidas finais foram acom-panhadas por mais de 112 mil pessoas que assistiram à transmissão on-line do torneio pelo canal de stream (transmissão ao vivo feita por uma pessoa ou equipe com o in-tuito de emitir informações em tempo real via internet).

Para ser considerado um eSport, um jogo eletrônico precisa ter forte meio competitivo e boa jogabilidade, além do estreitamento da relação entre empresa e a comunidade de jogadores. Praticado em níveis amadores, semi-profissionais e pro-fissionais, são divididos em seis categorias: FPS (First Person Shooter, jogos de tiro em primeira pessoa), TPS (Third Person Shooter, jogos de tiro em terceira pessoa),

TECNOLOGIA

Saiba como se transformar em jogador profissional, conquistar contratos de patrocínio e participar das “olimpíadas”

RTS (Real Time Strategy, jogos de estraté-gia em tempo real), MOBAS (Multiplayer Online Battle Arena, subgênero de jogos de estratégia em tempo real), Racing (jogos que simulam corridas automotivas) e Sports ( jogos que simulam esportes).

Além de ter performance acima do co-mum no jogo que pratica e bom conheci-mento de táticas, o que leva horas e horas de treinamento, para ser considerado um pro-gamer e conquistar contratos de patro-cínios, é preciso fazer um grande marketing pessoal. “Essa alcunha de pro-gamer, geral-mente, é o público que dá ao jogador. Além de um conhecimento enorme do jogo em si, ter uma base sólida de fãs é fundamen-tal. Mas, para isso, o jogador precisa sempre fazer streams e interagir de forma constante com as mídias sociais.” Quem afirma é Ga-briel Cunha, criador do e-sportmarketing.com, único site brasileiro ligado ao marke-ting nos esportes eletrônicos.

Preços altosEngana-se quem pensa que é barato se

tornar um cyberatleta. Em um universo onde um clique mais rápido no mouse faz toda a diferença entre ganhar ou perder, ter um equipamento de qualidade é essen-cial, como em qualquer outro esporte. “O equipamento interfere no desempenho do jogador. De início, o preço assusta, mas qual é a diferença entre pagar R$ 300 por um par de chuteiras, usado no máximo uma vez por semana, e gastar o mesmo va-lor em um mouse ou fone de boa qualida-de? Infelizmente, a alta tributação desses produtos no Brasil diminui a possibilidade de os jogadores terem material de boa qua-lidade. Comprei meu mouse fora do país e paguei menos da metade que eu pagaria aqui”, completa Gabriel.

Criado em 2001 com o intuito de ser a “olimpíada dos gamers”, o World Cyber Games (WCG) é o principal campeonato de esportes eletrônicos no mundo. Com eli-minatórias por todos os continentes, a final mundial deste ano acontecerá em Kunshan, na China, entre 28 de novembro e 1 de de-zembro. League of Legends, Assault Fire, Cross Fire e Fifa 13 são os jogos oficiais do evento. Assim como nos jogos olímpicos, os vencedores da WCG são premiados com medalhas de ouro, prata e bronze.

Boa coordenação motora e reflexos rápi-dos são as principais características de um cyberatleta. Para provar isso, foi realizado um estudo na Universidade Britânica de Essex, em que pesquisadores testaram jo-gadores profissionais em esportes eletrô-nicos para compará-los com os atletas pro-fissionais de modalidades tradicionais. As atividades constataram que os pro-gamers tiveram respostas emocionais em competi-ções e a agudeza mental comparáveis às de atletas, e os tempos de resposta visual são quase tão rápidos quanto os de pilotos de aviões a jato.

A parte negativa fica por conta do físico. A pesquisa mostrou que jogadores profis-sionais de esportes eletrônicos tinham bai-xos níveis de aptidão física, comparáveis à de pessoas muito mais velhas que eles. Os médicos observaram um jovem jogador magro de aparência saudável, mas que, pelo estilo de vida sedentário, tinha a fun-ção pulmonar igual à de um fumante de 60 anos. “Alguém dessa idade deveria estar muito mais apto, mas talvez este seja o ris-co ocupacional do jogador profissional que pode gastar em torno de dez horas por dia na frente de uma tela”, afirmou o médico responsável pelo estudo, Dominic Mick-lewright, ao jornal The Telegraph.Ilus-

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BRASÍLIA é conhecida pelos traços de Oscar Niemeyer, mas também tem outras formas artísticas que marcam seu visual de forma única, espalhadas por todo o Dis-trito Federal. Oficializada em 1989, a RA XII (12ª Região Administrativa do Distrito Federal), ou simplesmente Samambaia, foi criada com a intenção de abrigar a grande demanda de imigrantes que chegavam ao DF. E, desde o início, Samambaia já servia de inspiração para a arte.

Um de seus primeiros registros artísti-cos foi a pintura que ilustra a vista aérea da cidade, chamada O Grande Quadro, feita no ano da fundação pelo gaúcho da cidade de David Canabarro, José Elton Scarta-zzini, de nome artístico Élton Skartazini. Hoje a cidade é caracterizada por quatro monumentos artísticos desenvolvidos por Élton, além da restauração do monumento

Casinha de Boneca. Outros dois de cria-ção da artista Lia Samara (As Três Meninas e Dê Asas à Imaginação). As obras estão distribuídas nas rotatórias da cidade ou no parque Três Meninas.

O presenteA ideia do projeto “Monumentos para

Samambaia – Obras de arte para valoriza-ção da cidade” surgiu em 2005, quando o diretor do colégio Centro de Criativida-de Infantojuvenil (CCI), Cleiton Braga, sugeriu que Skartazini desse à cidade um presente por ocasião do seu 16º aniversário. Desde então, o objetivo do projeto é criar uma galeria de arte a céu aberto, reunindo ao todo 25 obras instaladas por rotatórias e canteiros. Com o apoio do colégio, foi cria-do no mesmo ano o primeiro monumento, intitulado Lugar ao Sol. A lista dos cinco monumentos feitos até então pode ser con-ferida no Pulsátil (www.pulsatil.com.br).

As técnicas usadas nas obras vão de pin-tura e metalurgia a grafite e mosaico, e os materiais usados são aço, carbono e concre-to, além de manilhas. Os monumentos de-vem durar, se bem conservados, de 96 a 189 anos, baseado na resistência dos materiais usados, o que garante a beleza da cidade pelas próximas gerações. Skartazini destaca a importância das obras: “Esse tipo de arte é importante para caracterizar uma cidade. Somos uma sociedade eclética e democráti-ca e abrigamos diversidade racial, social e cultural surpreendente, portanto, a impor-

tância está em manifestar a arte para carac-terizar nossa população”.

Em 2011, Skartazini também participou da revitalização do antigo e histórico mo-numento Casinhas de Boneca, construído nos anos 1960 pelo casal Inezil e Martha Penna Marinho para as filhas Zilta, Mari-ne e Martita e localizado no Parque Três Meninas. A mais recente obra do artista foi em 2012, quando foi implantado o primeiro monumento da série Figuras do Agreste, na rotatória entre Samambaia e o Recanto das Emas. A obra homenageia a caatinga e o modo de vida do agreste brasileiro.

A manutenção das obras não têm datas programadas. De acordo com Skartazini, a última limpeza foi feita em 2010 e ou-tra está sendo programada para este ano, próxima ao aniversário de Samambaia, sempre com o apoio da Novacap. “Minha inspiração é a vontade de fazer a cidade ter na essência a arte e a cultura, de vivê-las. Tanto que agora estamos lutando para construir o Complexo Cultural de Samam-baia, que será um ambiente que abrigará uma tenda cultural com salas de música, teatro, biblioteca e posteriormente salas de artes plásticas e cinema.”

A cantora evangélica Mariana Souza Barros, 33 anos, moradora da cidade há 13, faz caminhadas diariamente e aproveita para observar as obras: “Acho que são mui-to importantes para dar uma diferenciada

no visual da cidade. Minhas filhas brincam que o monumento À Luz do Saber é o pas-tor de nossa igreja”.

Já o frentista Manoel Gonzaga de Lima, 49 anos, morador de Samambaia desde 1991, garante que as obras são um ponto de referência: “Esse tipo de arte é importan-te para qualquer cidade, até para usarmos como ponto de referência e localização.”

Concurso públicoA Administração de Samambaia está

trabalhando em um concurso público para reunir artistas plásticos que elaborem o restante das esculturas e as distribuam em mais pontos. A ideia é dar continuidade à iniciativa “Monumentos para Samambaia – Obras de arte para valorização da cidade”, agora com o apoio do governo. “O proje-to ainda está sendo escrito e discutido pelo conselho de cultura da cidade. Temos que ter a autorização do Detran para, então, lançarmos o concurso, com premiação de R$ 20 mil por obra implantada. Não temos pressa, já que tudo tem que ser analisado. Portanto, não há previsão para o início das obras”, explica Élton.

Samambaia, fonte de inspiraçãoProjetos e monumentos artísticos são marcas da cidade

SHIZUO ALVES

ARTE

Élton Skartazini é formado em jornalismo pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). É cenógrafo, iluminador, artista plástico registrado pela Secretaria de Cultura e, atualmente, trabalha como assessor de comunicação da Administração Regional de Samambaia. É também professor de artes plásticas no Centro de Criatividade Infantojuvenil. Trabalhou como ator e cinegrafista no filme A TV que virou estrela de cinema, gravado em Brasília, em 1993.

SAIBA MAIS

“A arte é uma coisa contínua, nunca para.” Élton Skartazini

Élton Skartazini mostra uma de suas obras, feitas sobre madeira

Foto: Amanda Bartolomeu

Foto: Amanda Bartolomeu

À luz do saber: monumento em comemoração ao 17º aniversário de Samambaia

cultura

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comportamentoPAIS E FILHOS

Violência é um desvio ou uma fase?Comportamento agressivo dos jovens nem sempre pode ser diagnosticado como desvio de comportamento e sim, transição de amadurecimentoJUSSARA RODRIGUESPAULA MORAIS

NAS últimas semanas, o país vem acom-panhando o caso misterioso da família que foi assassinada, no dia 05 de agosto. Cinco pessoas foram encontradas mortas dentro de casa, entre elas, um garoto de 13 anos, Marcelo Pesseghini. Para a polícia, o ado-lescente é o principal suspeito de ter ma-tado a sua família e em seguida cometido suicídio. O fato aconteceu em Brasilândia, Zona Norte de São Paulo.

O desdobramento do caso gira em tor-no da possibilidade de um menor de idade ter cometido um ato bárbaro e sem moti-vo aparente. Diante de um fato polêmico, o Artefato se propôs a conversar com es-pecialistas para saber como os pais podem reconhecer nos filhos o comportamento agressivo e qual a melhor maneira de lidar com a situação.

Maria Eveline Cascardo Ramos, psi-cóloga clínica especializada na relação familiar e jurídica, explica que toda e qualquer criança pode, em algum determi-nado momento, se comportar de maneira agressiva, independente de classe social. Cabe aos pais saber identificar no filho as atitudes que fogem do padrão espera-do. Sobre o comportamento violento, a psicóloga comenta que por questões natu-rais, algumas crianças podem quebrar um brinquedo para conhecer como funciona, por exemplo. Atitude que ela avalia como normal em fase de crescimento. Por outro lado, um filho que quebra um brinquedo por quebrar e sem nenhum objetivo, pode ser um sinal de desvio de comportamento. Momento em que os pais devem ficar aten-tos. “Existem várias maneiras de identifi-car esse comportamento agressivo, basta à gente querer identificar”.

Ambiente escolarA Orientadora Educacional Rosângela

Costa de Paula conta que lida diariamente com alunos que sofrem transtornos com-portamentais. Ela diz que as reações ina-dequadas devem ser analisadas a partir de diversos fatores. “Existem alunos que estão passando por uma fase difícil. Por exemplo, sofrendo problema de saúde, enfrentado a separação dos pais, existe aqueles que mudaram de cidade e depara com novos

costumes, até mesmo, caso que o animal de estimação morreu e o adolescente ficou perplexo diante a perda”, explica.

Rosângela que atua na área há 18 anos, afirma que os transtornos de conduta de-pendem do histórico familiar, do contexto de vida, do ambiente no qual ele convive e, sobretudo, da cultura imposta pela socie-dade. “Os garotos são mais propícios aos transtornos, porque a cultura da sociedade nos diz que esse pensamento de insultar o próximo para se defender parte dos pró-prios pais”, lamenta.

Ela afirma que tanto os pais quantos os professores, devem estar atentos às moder-nidades, pois a geração atual é diferente de outrora. Então não adiante os pais disci-plinar seus filhos, semelhante como foram educados em sua época. Sendo assim a educação não pode ser a mesma, pois cada geração deve atribuir um linguajar refor-mulado. Se os familiares e os docentes não estudar, pesquisar, conversar com profis-sionais da saúde, e trocar experiências com outras pessoas, certamente terá problemas futuro, aconselha a orientadora.

Pesquisas revelam que os estudantes considerados ter o desvio de comporta-mento, nem sempre apresentam baixo ren-dimento nas notas. Isso só acontece pela ausência de foco e atenção durante as aulas, e não por falta de condições cognitivas.

A educadora detalha que os estudantes de comportamentos distorcidos, tendem a querer chamar atenção das pessoas que o cercam, por meio, da agressividade constante, inquietações, fazem gracinhas apelativas, provocam brigas, entre outras práticas. Quando isso acontece, ela cha-ma o aluno em sua sala, conversa e pro-cura saber o motivo pela ação constran-gedora, logo após aconselha. Se depois disso, o estudante retomar as mesmas atitudes que viole as leis e obrigações, os pais são chamados na escola para uma conversa. “Convivi com diversos alunos que sofriam transtornos em seu compor-tamento. Muitos deles conseguiram se ajustar a partir da intervenção dos pais juntamente com o apoio da escola, mas outros alunos foram encaminhados ao psiquiatra para se tratar”, relembra.

FAMÍLIAS, ATENÇÃO Segundo o Presidente da Associação Dos Pais e Amigos dos Deficientes (APADA), Marcos de Brito, muitos pais não entendem o motivo de seus filhos apresentarem comportamentos distorcidos, por não estar ciente da verdadeira causa. Há crianças que apresentam comportamento agressivo não por terem o desvio de comportamento, mas por não entenderem os comandos de quem está falando. Provavelmente a criança pode apresentar o quadro leve, moderado, severo ou profundo de surdez.

A psicóloga Maria Eveline Ramos explica que toda e qualquer criança pode se comportar de maneira agressiva

Fotos: Rafaela Brito

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comportamento

A Pedagoga Rúbya Elizabeth relembra o caso de um aluno, que não pode ser identificado em nossa matéria, por questões judiciais e preservação da fonte. Ela conta que quando estagiava em uma escola deparou-se com um aluno diferente dos outros. “O estudante tinha nove anos na época, era muito calado, não tinha um círculo de amizade, não era sociável aos outros alunos da classe. Quando ele ouvia algum colega falar no nome dele, o mesmo jogava as cadeiras para o alto, avançava nos alunos e praticava agressão física. Após um período de conversas com o estudante, ele declarou ser aviãozinho de traficantes. Por ser inexperiente fiquei muito chocada e imediatamente fui à coordenação contar o fato. A escola chamou a mãe deste aluno para conversar e descobriram que ela era alcoólatra e esposa do marido que a deixou. Com o apoio do colégio, a família foi encaminhada para o Conselho Tutelar e hoje tanto a mãe quanto o filho recebem tratamentos”, conta.

DEPOIMENTO

RECOMENDAÇÃO DAS ESPECIALISTAS

1Os pais devem ter,

diariamente, no mínimo cinco minutos para conversar com

seus filhos

2Amor e disciplina

caminham juntos. A maior desculpa dos pais é dizer que trabalham

muito e não têm tempo para dialogar com

os filhos

3Pais, coloquem senha no

computador

4Estabeleçam regras para utilizar o PC

6Mostrem interesse

pelos sites que seus filhos costumam acessar

5Estipule a hora para a entrada e saída

da internet

Os pais devem estar sempre atentos ao comportamento dos filhos e buscar ajuda quando acharem necessário

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ALESSANDRO ALVES

DEIXAR de comer carne pode não ser uma tarefa das mais fáceis, afinal o brasi-leiro é um apreciador nato dos mais varia-dos tipos: gado, frango ou porco. Seja ela bem passada, ao ponto, suculenta ou mes-mo a carne crua, como os famosos sushis, prato típico japonês que caiu no gosto dos brasileiros. Só a ideia de não ter aquele bife acompanhado do brasileiríssimo ar-roz com feijão, pode assustar muita gente.

O Brasil possui um rebanho de qua-se 200 milhões de cabeças de gado, o que gera uma renda de R$ 60 bilhões por ano na produção de carne e leite para o país, segundo o Ministério da Agricultura. A carne é um alimento que não pode faltar na alimentação dos brasileiros e para ali-mentar esse grande país de carnívoros, 30 milhões de bovinos são abatidos todos os anos, de acordo com a pasta.

Na última pesquisa feita pelo Institu-to Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), no ano de 2012, mais de 15 mi-lhões de pessoas no Brasil se declararam vegetariana ou que tira da alimentação di-ária qualquer alimento de origem animal. Isso significa que um pouco mais que toda a população da cidade de São Paulo não consome carne.

De acordo com a Sociedade Vegetaria-na Brasileira (SVB) não existe apenas um único tipo de vegetariano. As pessoas que deixam de consumir alimentos de origem animal, são classificadas conforme o tipo de alimentos que não comem: ovolactove-

Alternativa de alimentação

VEGETARIANOS

Seja para levar uma vida mais saudável ou para poupar a vida dos animais, cada vez mais pessoas tiram a carne do cardápio

Foto: Quéssia Fernanda

comportamento

getarianos, lactovegetarianos, vegetaria-nos estritos e veganos.

A Servidora Pública Mayra Stefany, 30 anos, parou de comer carne há treze anos, mas somente há três ela se considera uma vegetariana Vegana. “Eu já comia pouca carne, não gostava de todos os tipos, en-tão aos poucos fui deixando de colocá-la nas minhas refeições diárias”, conta. Pra-ticante da religião Espírita, que segundo ela estimula os adeptos a diminuírem o consumo -, a consciência do sofrimento dos animais foi o maior motivo que a le-vou a parar de comer alimentos de origem animal. “Quando eu percebi que gostava muito dos animais, vendo o que eles so-friam para poder me alimentar, parei de consumir qualquer coisa relacionada aos animais, desde a comida até as roupas”, completa. Mayra tenta influenciar o maior número de pessoas a ter uma dieta vege-tariana e diz que já conseguiu fazer com que o marido diminuísse a quantidade de carne nas refeições.

Falta de vitaminasQuando uma pessoa passa a ter uma die-

ta exclusivamente vegetariana, deixa de in-gerir alguns nutrientes essenciais ao orga-nismo que só alimentos de origem animal possuem. A vitamina B12, por exemplo, é encontrada somente em carnes e ovos e é uma importante substância que ajuda na prevenção de problemas cardíacos e derra-mes cerebrais.

De acordo com a professora Maria Fer-nanda Castione, do curso de Nutrição da Universidade Católica de Brasília (UCB), a alimentação vegetariana está mais li-gada ao estilo de vida de uma pessoa, ou às crenças religiosas, do que a qualidades nutricionais. Mas ela acredita que qualquer um possa ser vegetariano. “Uma alimenta-ção vegetariana, desde que com algumas eventuais suplementações e bem conduzi-da, qualquer pessoa pode muito bem viver de forma plena e saudável”, afirma.

Para a professora, o reino animal pos-sui alimentos riquíssimos como os peixes de água gelada ou mesmo o ovo; a não ser que seja uma opção por parte do paciente, ela diz que dificilmente recomendaria uma alimentação vegetariana como dieta.

Restaurantes vegetarianos O site da Sociedade Vegetariana Brasi-

leira (SVB) lista vários restaurantes para vegetarianos que estão espalhados por todo o Brasil.

O número de restaurantes vegetarianos no DF ainda é pouco, mas de acordo com Tiago Lopes, gerente do Girassol - restau-rante que é uma das referências de comida vegetariana em Brasília -, com o aumento do número de pessoas que procuram por uma alimentação viva, a tendência é que a quantidade de restaurantes também au-mente. “Cerca de 70% do público do nosso restaurante são de vegetarianos fixos, que adotaram o estilo de vida porque é mais

saudável. Outros são vegetarianos even-tuais. A pessoa que vem comer em nosso restaurante pode se alimentar bem sem qualquer alimento de origem animal. E, se for o caso, temos até carne de soja”, diz. Mesmo sendo gerente de um restauran-te vegetariano, Tiago diz que ainda come carne, mas que está parando aos poucos.

A publicitária Janine Erica, 25 anos, pa-rou de comer carne branca ainda na infân-cia devido a um trauma. Quando criança, ela viu uma galinha sendo morta e isso fez com que ela deixasse de comer carnes brancas e de porco. Até o Natal do ano passado, ela comia carnes vermelhas, mas resolveu parar quando assistiu a um vídeo de maus tratos de animais. “Depois que eu parei de comer carne, não tive nenhum problema com a falta dela, na verdade tive mais problemas com as pessoas. Como eu sempre tive problema de pressão baixa, di-ziam que era porque eu não comia carne. Eu sentia certo preconceito por parte das pessoas”, conta.

Para a professora doutora da UCB, Fa-biani Beal, não se pode estigmatizar uma única opção alimentar como saudável. “Somos seres onívoros e caso tenhamos alguma restrição por doença ou qualquer outro motivo de ordem pessoal, a dieta que contenha o maior número e diversidade de alimentos é a mais acessível e consequente-mente mais saudável. A menos que tenha-mos alguma condição que restrinja a dieta onívora”, conclui.

Sentiu falta de alguma coisa no prato? Quem opta por deixar de comer carne tem opções variadas para compor o cardápio

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comportamentoSUPERAÇÃO

ANSIEDADE, insegurança pessoal ou consequên-cia de um trauma decorrente de acidente de trânsito. Essas são algumas das principais causas do medo de dirigir. É preciso que o motorista avalie de onde vem o medo, e assim, procure ajuda. Os locais mais indicados para superar este obstáculo, são as auto-escolas para habilitados ou psicólogos.

Para alguns, dirigir um carro é uma ação comum e estimulada antes mesmo de tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Mas, para outros, pegar no volante é motivo de pânico, que causa suor excessivo, mãos trêmulas, taquicardia e pernas bambas – reações características de estresse e medo.

De acordo com a Organização Mundial da Saú-de (OMS), seis em cada 100 motoristas no Brasil têm medo de dirigir. A assistente de trânsito, psicóloga e professora do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) Márcia Rangel Gusmão expli-ca que o medo e a fobia são sensações diferentes. “O medo é caracterizado como uma emoção que protege o ser humano, como uma forma de defesa da vida e nos ajuda a estar preparados para uma reação. Já a fo-bia, também conhecida como ‘medo patológico’, é um medo persistente, excessivo, irracional, revelado pela presença ou antecipação de um objeto ou situação, condicionando o indivíduo a evitar tal fato gerador”, aponta Márcia.

O medo de dirigir atinge até mesmo quem já pos-sui carteira de habilitação. Insegurança ao volante ou trauma são dois dos principais motivos que levam as pessoas a evitar usar o carro como transporte. Már-cia comenta que, de forma geral, as causas que levam uma pessoa a evitar dirigir são ligados à personalidade. “Normalmente são pessoas muito responsáveis, per-feccionistas, inseguras e muito críticas consigo mes-mas”, completa.

Desculpas como “prefiro andar porque é mais sau-dável” ou “esse carro é muito grande, vou comprar um menor” também são comuns para quem evita dirigir. “Segue-se, então, uma vida cheia de limitações, em que é mais difícil visitar amigos que moram longe ou ir ao teatro porque a peça termina tarde. Tornam-se depen-dentes do filho que tirou a habilitação ou dos amigos que dirigem normalmente”, exemplifica Márcia.

Segundo a especialista, as dificuldades mais enfren-tadas pelos alunos que fizeram o curso de Iniciação à Superação do Medo de Dirigir no Detran-DF são re-lacionadas ao medo de bater em outro carro, tirar o carro da garagem, subir ladeiras, estacionar e atropelar alguém. Ela explica que o primeiro passo para superar

o pânico é saber se de fato sabe dirigir. Se a resposta for positiva o próximo passo é assumir o sentimento de medo e não sentir vergonha. Depois é necessário desenvolver um planejamento com estratégias para focar a atenção na superação do medo, motivando-se a querer dirigir e enfrentar o problema. Por isso, é ne-cessário separar um tempo para reaprender a dirigir e voltar a ter intimidade com o carro, persistir e treinar.

Medo ao volanteA dona de casa Silvia Maria da Costa, 46 anos, é um

exemplo de quem superou o medo. “Hoje dirijo tran-quilamente, mas nem sempre foi assim. O caminho até aqui foi complicado, eu era muito insegura. Não era exatamente medo, era falta de prática.”

Dez anos atrás, Silvia precisou mudar-se de Brasília para uma chance de emprego em Goiânia. Ela conta que encontrava muita dificuldade para se adaptar ao trânsito na nova cidade. “Não digo que eu sofria crí-tica ou qualquer outro tipo de pressão, mas eu queria poder ir e voltar sem precisar da ajuda do meu mari-do”, relata.

Em um fim de semana de folga, Silvia decidiu pegar o carro e dar uma volta na quadra onde mora. “Acho que minha atitude serviu para eu perceber que não precisava ter medo. Respirei fundo, liguei o carro e fiz tudo com calma. E assim foi, até criar confiança na di-reção”, explica.

Já a técnica de edificações Lucy Andrade, 37 anos, teve mais dificuldades para conseguir a carteira de ha-bilitação. Durante o processo, ela já se sentia insegura para dirigir e passou por quatro provas práticas. Mas um acidente foi o motivo do trauma. “Bati em um car-ro de auto-escola. Não foi nada sério, só atingiu o para--choque. Depois disso começou o meu medo, e perdi a vontade de dirigir”, conta Lucy.

A técnica recebeu uma proposta para trocar de em-prego, e para levar o filho até a escola, sentiu necessidade de dirigir para facilitar a locomoção. Ela, então, se matri-culou em uma escola para habilitados. No pacote, esta-vam inclusas aulas práticas e acompanhamento psicoló-gico. “Como o tempo era curto, a única saída seria usar o carro, e isto me incentivou a voltar a dirigir”, conta.

Curso para habilitadosEm 2007, o Detran criou o Curso de Superação do

Medo de Dirigir, para atender de forma gratuita a de-manda de pessoas habilitadas que possuem veículo e carteira de motorista, mas que têm medo de dirigir. “O curso do Detran é para ajudar condutores já habi-

litados, mas que precisam dirigir e não conseguem”, comenta a chefe do Núcleo de Formação e Cursos de Trânsito, Ediene Borges Assante.

O curso é teórico, e nele são trabalhadas questões de relação humana e de psicologia, para a superação de traumas e auto-conhecimento. Os professores passam uma série de exercícios para que os alunos façam em casa, e aos poucos, garantirem confiança para dirigir. Ediene acrescenta que as aulas também são importantes para a atualização do conhecimento na legislação de trânsito e direção defensiva. Desde a criação, aproximadamente 1.500 pessoas já fizeram o curso, sendo que desse total, 95% são mulheres. O curso é ministrado uma vez por mês e as turmas são divulgadas no site do Detran. Cerca de 90%, após o curso, voltam a dirigir.

Medo de dirigir tem tratamentoCerca de 90% dos alunos que participam do curso do Detran criam coragem na direção

CURSO DE SUPERAÇÃO DO MEDO DE DIRIGIR

Telefone: 3120-9800Endereço: SAM, Lote “A” Bloco “B” Ed. Sede DETRAN/DFE-mail: www.detran.df.gov.br/

SERVIÇO

ALANA ARAÚJO CAROLINE COÊLHO

Perfeccionismo e insegurança são causas do problema

Foto: Juliana Macêdo

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RAPAZ, ouve essa: há uns 6 meses, um ca-marada sentou no banco atrás de uma mulher de uns 21-22 anos. Meio da tarde, trem relati-vamente vazio, quando o trem para na estação Feira, ele levanta, goza no cabelo/cara dela e sai correndo do trem, passa pelos empregados do metrô – que não sabiam de nada – e saiu da estação. Sorte que uma galera que estava no trem saiu correndo logo atrás, pegou o cara no estacionamento, deu uma surra nele e entregou pro pessoal da estação. Isso é só uma das várias histórias que eu, como Supervisor do Metrô-DF, sei que acontecem.

Esse comentário foi feito no perfil do Face-book de Alberto Brandão, analista de sistemas e integrante da equipe do coletivo papodeho-mem.com.br., onde foi reproduzido para ilus-trar a discussão: vagão exclusivo para mulhe-res no metrô é ou não é uma boa medida?

Segundo Brandão, “iniciativas como essa tiram a responsabilidade dos homens de me-lhorar sua postura em relação às mulheres. É como se, dando um vagão exclusivo para elas, você estivesse dizendo: ‘se não quer ser abusa-da, use seu vagão exclusivo’”. Mas ele ponde-ra: “De um lado, temos a necessidade de evi-tar que mulheres sejam submetidas a situações ultrajantes e humilhantes como essa, do outro, temos a subjetividade de impor às mulheres a responsabilidade por sua segurança”.

Bom ou ruim, o fato é que o vagão “rosa” foi implantado no dia 1º de julho deste ano no Distrito Federal. De segunda a sexta-fei-ra, nos horários de pico, é permitida apenas a

Espaço restrito necessário Sistema de vagão exclusivo para mulheres no Metrô-DF provoca debate

ALESSANDRA MODZELESKIADRIELE VIEIRA

SEGURANÇA PÚBLICA

entrada de mulheres e pessoas com deficiên-cia nesse vagão.

Para a chefe da Assessoria de Comunica-ção da Secretaria de Políticas para as Mulhe-res da Presidência da República, Isabel Cla-velin, o projeto tem como função dar alguma proteção para as mulheres, enquanto ainda não há medidas que ponham fim aos casos de desrespeito e abuso, mas ela alerta: “No fundo, o que existe é a questão do patriarca-do, que fortalece a livre circulação do homem no espaço público e obriga as mulheres a esse espaço restrito”. Na avaliação de Isabel, a iniciativa é positiva no que diz respeito às necessidades que as mulheres têm no uso do transporte público lotado e permite que elas circulem com integridade e segurança, mas insiste: “Como sociedade inclusiva e iguali-tária, não podemos tolerar espaços restritos”.

A Lei Distrital 4.848/2012, que criou o sistema de vagão exclusivo na capital, foi proposta pelos deputados distritais Evandro Garla (PRB) e Eliana Pedrosa (PSD). A de-putada explica que não se baseou nos números de assédio registrados pelo Metrô-DF, mas em informações colhidas durante visitas domici-liares aos eleitores, quando tem a oportunida-de de conversar e ouvir o que as mulheres têm a dizer. Para ter certeza de que o vagão está agradando as mulheres, Eliana Pedrosa envia assessores para entrevistar as usuárias e reco-lher opiniões. Nessa pesquisa, elas se colocam a favor da iniciativa e, mesmo as que nunca foram abusadas acham que evitar é necessário, por isso usam só o vagão “rosa”.

A Assessoria do Metrô-DF informou que

os funcionários orientam os usuários sobre o uso desse vagão, e avisos sonoros são emitidos com informações sobre as normas de utilização. Quinze dias antes da inauguração, foram distri-buídos panfletos ao público explicando a inicia-tiva. Ainda segundo a assessoria, no primeiro mês, foram registradas oito reclamações: três de fiscalização e cinco contra o carro.

O abuso sexual

O projeto é uma resposta a 12 denúncias de assédio ocorridas no Metrô-DF em 2012. A usuária Regina Araújo Soares da Silva acredi-ta que esse número não corresponda à reali-dade. Ela explica que não usa com frequência o transporte público, mas sabe que existem “muitos engraçadinhos”. Conta também que já foi molestada em horário de pico: “Ele pas-sou a mão em mim. Na hora, eu xinguei e o pessoal também brigou. O metrô estava lota-do. O homem desceu na estação seguinte e fi-cou por isso mesmo”. Regina avalia que, como ela, outras mulheres também não denunciam por diversos motivos, inclusive vergonha.

Para Isabel Clavelin, um caso como esse é muito constrangedor: “Nós, que estamos distantes e não somos atingidos diretamente, não entendemos por que a vítima não denun-cia. Mas são várias obrigações que recaem so-bre a mulher: ela tem que dizer para o Metrô, para a delegacia, para a família, para a polícia e para o namorado que está em situação de vulnerabilidade”. E completa: “O papel de denúncia não é só da vítima, mas também da sociedade, que muitas vezes vê, mas não é solidária e não intimida a ação do violador”.

O vagão “rosa” entrou em vigor no dia 1º de julho e veio atender a uma demanda de 12 denuncias de abuso, ocorridas em 2012

Fotos: Alessandra Modzeleski

A sinalização é colocada no local onde o vagão para

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EURÍDICE Januária é mãe social há três anos e dez meses, mas já lida com cri-anças há bastante tempo. “Eu morava em Salvador e estudava Pedagogia. Quando estava estagiando, as crianças me chama-vam de mãe”, conta. Hoje, Eurídice mora em uma casa-lar na Asa Norte, em Brasília, onde cuida de seis crianças e adolescentes. “Quando cheguei a Brasília, tive contato com uma assistente da Vara da Infância e ela me falou sobre o trabalho da ONG Aldeias Infantis e eu me interessei”. A rotina na casa-lar é parecida com a de qualquer outra casa e todos ajudam nas tarefas domésticas. “Nós somos respon-sáveis por tudo aqui: pela compra do mês, pela ida ao médico e pela educação das cri-anças.”, afirma Eurídice. Além disso, as cui-dadoras, como também são chamadas, têm total autonomia na casa.   “Quando temos que tomar alguma decisão, primeiro dis-cutimos com a gestão e a equipe técnica e sempre somos ouvidas”, explica. Para Eurídice, a adaptação à nova vida não foi fácil. “Eu tive um pouco de resistên-cia no começo até conseguir me adaptar, mas me identificava muito com o gestor an-terior e com a sensibilidade dele e foi isso que me ajudou”, conclui.

Mãe social Amor, carinho, dedicação e paciência – es-ses são alguns dos requisitos para se tornar mãe social, profissão que surgiu na Áustria, idealizada pelo filantropo Hermann Gmein-er, com o objetivo de ajudar crianças ór-fãs vítimas da Segunda Guerra Mundial. Naquela época, o trabalho era voluntário e realizado por viúvas que perderam os maridos durante o conflito. Hoje, é pro-fissão regulamentada e registrada pela Lei n° 7.644/87 e ajuda milhares de crianças e adolescentes nas diversas unidades de re-colhimento espalhadas pelo mundo. No Brasil, a ONG internacional Aldeias In-fantis SOS é uma das responsáveis por esse trabalho e está presente em 12 estados e no Distrito Federal. Mãe social é a mulher responsável por cuidar de crianças e adolescentes que foram abandonados ou vítimas de abuso e ne-gligência pelos pais biológicos. Quando isso acontece, as crianças são encaminhadas para a ONG, que passa a ter a guarda delas, concedida pela Vara da Infância. Cada mãe social vive em uma casa-lar e pode cuidar de até nove crianças. Irmãos biológicos nunca são separados. A mãe social, como qualquer outra mãe, deve estar presente no dia a dia das crianças, levando-as à escola, ajudando no dever de casa, dando conselhos, atenção, amor e carinho. O objetivo da ONG é re-integrar a criança ao ambiente social para que ela possa voltar a morar com a família biológica. Quando o retorno à família de origem não é possível, as crianças são ca-dastradas no banco de adoção.

Requisitos As mulheres que quiserem ser mães sociais devem ter mais de 25 anos, ser solteira, não ter filhos dependentes, ter completado o en-sino médio, ter disponibilidade para morar em uma casa-lar e gostar de crianças, tendo

A MATERNIDADE COMO PROFISSÃOPreparo e vocação são fundamentais para o trabalho das cuidadoras de crianças

MÃES SOCIAIS

em mente que terá que lidar com até nove delas com temperamentos distintos e em fases diferentes. A divulgação das vagas é feita pelas redes sociais e as interessadas devem enviar o cur-rículo. Caso se enquadre nos pré-requisitos, são convocadas para uma reunião, em que são distribuídos materiais de estudo sobre a profissão. Por último, as candidatas fazem um estágio. “A partir desse momento, elas podem assumir as casas, mas sempre acom-panhadas de outra pessoa, até que estejam completamente aptas a assumir a casa so-zinha”, explica a psicóloga Daniela Batista, que trabalha na ONG Aldeias Infantis. A mãe social trabalha com carteira as-sinada, tem direito a 36 horas de descanso por semana, 13º salário, previdência social e todos os demais direitos trabalhistas pre-vistos pela lei.

Eurídice é mãe social há três anos e dez meses

“Nós somos responsáveis por tudo aqui: pela compra do mês, pela ida ao médico e pela educação das crianças.”Eurídice, mãe social

40anos tem a introdução da profissão no Brasil.

RAYANNE LARISSA

250é o número de mães sociais espalhadas pelo país.

Foto: Eduarda Lewicz

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OS diversos recursos para modelar e re-modelar o cabelo, corrigir “imperfeições” no rosto por meio de maquiagens, aumen-tar a altura ao usar sandálias de salto são ati-tudes comuns ao universo de algumas mu-lheres. Porém, de acordo com o professor de Filosofia da Universidade Católica de Brasília (UCB) Manoel Barbosa, essas arti-manhas não devem ser usadas como forma de sobreposição de cultura nem como clas-sificação de uma etnia como superior. Para ele, um fenômeno a ser observado é o ali-samento do cabelo, muitas vezes entendido como tentativa de branqueamento.

O professor analisa essa questão por dois ângulos. O primeiro é quando a mu-

lher alisa o cabelo por opção e o segundo é quando procura modificar a aparência como uma tentativa de aceitação na socie-dade. Segundo ele, a segunda situação é o processo de maior violência que uma pes-soa pode sofrer.

“Não é um afrontamento externo, é o próprio indivíduo que se coloca em uma posição inferior, como sendo de uma raça abaixo da média em detrimento de uma raça tida como superior. Por isso, usar as terminologias ‘cabelo bom’ e ‘cabelo ruim’ é altamente discriminatório por qualificar a pessoa de acordo com o tipo de cabelo que ela possui”, explica Manoel.

A professora da UCB Isabel Clavelin

realça a reflexão quando afirma não ver problema em uma mulher querer passar chapinha no cabelo, fazer alisamentos, apli-ques e outros recursos estéticos. “Esse é um desejo que deve ser aceito, desde que a pessoa tenha chance de tomar a iniciativa e que seja uma determinação consciente, em que ela entenda e assuma sua negritude sem querer apagá-la”.

Isabel entende o processo do branque-amento por meio da chapinha como um fator altamente violento. Ela destaca que o negro, além de ser imposto a um padrão de beleza da supremacia branca, precisa lidar com o julgamento da sociedade pela não aceitação das suas origens.

Sociedade excludenteIsabel Clavelin acredita que a questão

do cabelo crespo deve ser discutida, pois é parte de um processo que ajuda na afir-mação do negro dentro de uma socieda-de excludente como a nossa. “Imagine o sofrimento que é ouvir a vida inteira que seu cabelo é ruim e querer transformar algo que não é possível de ser transfor-mado”, reflete.

A busca por uma beleza admirada e dentro dos padrões estipulados social-mente fez a estudante Bruna Evelyn da Silva, 19 anos, negra, optar pelo uso de aplique, o que a faz passar quatros horas em um salão de beleza para arrumar os no-vos fios. “Você coloca uma roupa bonita e está com o cabelo feio, então você não está bonita. Pra mim o cabelo é tudo”, ressalta.

Ela conta que sofreu com o cabelo no período escolar, pois os colegas usavam apelidos como “negrinha”, “cabelo ruim” e assim por diante. Ela acredita que ter o cabelo crespo influenciou o relacionamen-to social. Ela chegou a pensar que as pes-soas se afastavam dela por esse motivo.

Ainda na adolescência, Bruna procurou tratamentos químicos como forma de so-lucionar o que ela achava ser um proble-ma. Por falta de resultados satisfatórios, desenvolveu um tipo de “mania” de arran-car cabelo. “Eu estava conversando com as pessoas e começava a mexer no cabelo e arrancar os fios”, relata a estudante.

Ela conta que diminuiu o ritual depois que colocou o aplique, por se achar mais bonita e atraente. “Quando eu estava sem aplique não era a mesma coisa, mudou mi-nha vida depois”, explica.

Brasil menos negro

De acordo com o professor Manoel Barbosa, o processo de clarear a popula-ção brasileira foi intencional e começou com a migração de povos brancos para o país motivado pelo crescimento da popu-lação negra. Acreditava-se que essa raça seria a mais fraca e desapareceria. Porém, não foi o que aconteceu.

Para ele, a tentativa frustrada de bran-queamento literal da população, depois do período escravocrata no Brasil, se estende para os dias atuais percorrendo outro ca-minho, que perpassa a cor da pele, come-çando pela não aceitação do próprio negro e chegando ao desejo da sociedade de ate-nuação da cor.

Ainda segundo o professor Manoel Barbosa, negar a negritude é diferente de ter insatisfação com algum aspecto físico, o que é comum ao ser humano. O preo-cupante é quando esses fatores transpas-sam o nível pessoal e chegam à sociedade como valorização de uma raça em detri-mento de outra, que são os conceitos de superior e inferior.

Cabelo crespo em discussãoUso da chapinha para tentar modificar a aparência como forma de aceitação na sociedade levanta questões raciais

BRANQUEAMENTO

cidadania

Bruna Evelyn não sai de casa quando a raiz do cabelo está alta

JUSCIANE MATOSSTEFANY SALES

Foto: Ramila Moura

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DIVERSÃO, autoestima e inclusão. É isso que a Associação dos Idosos de Ta-guatinga Norte, mais conhecida como Pa-radão, proporciona para aproximadamen-te 300 idosos que frequentam o local todas as segundas-feiras para participarem dos bailes de forró. O Paradão, localizado na QNL, atrás da feira permanente, surgiu há 30 anos com o objetivo de oferecer re-cursos em benefício do idoso.

O forró atrai idosos de todas as regi-ões do DF. “Eu moro na Asa Norte, mas venho dançar forró aqui no Paradão, em Taguatinga”, diz dona Nira Maçu, de 68 anos. Para participar, é cobrada uma taxa simbólica que dá direito a uma cartela de bingo. “Cobramos o valor de R$ 5,00 para a entrada no baile. O dinheiro arrecadado é utilizado para pagar o cantor, pois eles fazem questão que tenha música ao vivo”, afirma a presidente da Associação, Maria de Lourdes, de 72 anos.

Com músicas ao vivo, muitos idosos se empolgam e arriscam boas coreografias. Com quase cinco horas de baile, é pos-sível ver a alegria estampada no rosto de muitos deles. Cansaço? Não existe! Esse pessoal é mesmo muito animado. Cláudio Alves, de 48 anos, vem de Santa Maria só para dançar. “Conheci o local por meio de amigos e participo do baile há muitos anos. Aqui, eu me sinto bem, é um lugar que me traz muita alegria”.

E quem disse que o pessoal da terceira idade não tem vaidade está muito enga-nado. Entre as mulheres, por sinal as mais vaidosas, encontramos looks da moda, salto alto, maquiagens caprichadas e mui-to brilho nos acessórios. Muitas não apa-rentam a idade que têm. E não é diferente

no comportamento: animadas, cheias de disposição e sempre prontas para cair no forró.

O salão é amplo. As mulhe-res ficam sentadas em cadeiras ao redor do salão na esperança de serem chamadas para uma dança. E tem aquelas que en-caram os passos sozinhas, mes-mo assim, não deixam de se divertir. A lanchonete do local oferece canjica, tortas, bolos e refrigerantes, tudo de graça.

Hoje, a atividade é referên-cia para os idosos que buscam distração e novas amizades. Há também casais que vão para praticar a dança, como é o caso de João Bosco e Maria de Fa-rias. Eles rodopiam por toda parte do salão e exibem os mais variados passos de forró, tudo acompanhado por muita troca de beijos. O casal se formou em um antigo baile que existia em Ceilândia. “Nos conhe-cemos no forró da Ceilândia. Depois que acabou, passamos a frequentar o de Taguatinga. É muito bom. Deveria haver ou-tros lugares como esse aqui no DF”, conta João.

Além dos bailes todas as se-gundas-feiras, das 15 às 19h30, o Paradão também oferece, durante a semana, outras ativi-dades, como ginástica, pintura em pano de prato, crochê, tricô e capoterapia gratuitamente.

Essa iniciativa da Associa-

Baile para a terceira idadecidadania

E quem disse que eles não se divertem? O Paradão de Taguatinga norte tem sido o ponto de encontro de muitos idosos em busca de novidades

ção dos Idosos acaba sendo responsável por promover a valorização dos idosos que, às vezes, acabam sendo esquecidos dentro de casa pelos familiares. Lá eles encontram seu valor e enxergam que ain-da têm muito o que viver. E como no filme brasileiro “Chega de Saudade”, de Laíz Bodansky, o Paradão retrata a esperança de pessoas solitárias em encontrar nesses bailes a alegria e o companheirismo, seja para dançar, conversar ou namorar.

Bem-estar Além de ser prazerosa e elevar a au-

toestima, a dança também traz vários benefícios à saúde, tanto no aspecto

físico quanto no psicológico. “Os prin-cipais seriam no equilíbrio, na postura, na atenção, na orientação visoespacial e como exercício aeróbico. Outros bene-fícios seriam a interação social e a me-mória. A música estimula o cérebro de uma maneira totalmente diferente das atividades habituais”, afirma a geriatra Tatiana Peron.

Segundo ela, a atividade física e uma boa alimentação são as únicas medidas comprovadas para a prevenção de de-mência, embora a maioria dos pacientes ainda busque um medicamento para isso. É importante que, antes de praticar a dan-ça, o idoso esteja em dia com seus exames.

DANÇA

RHAYNE RAVANNEKARINNE RODRIGUES

Foto: Rhayne Ravanne e Karinne Rodrigues

Homens e mulheres vêm de todas as regiões do DF para dançar, sobretudo, um bom forró

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economia

ANA PAZANNA MIZZU

ROUPAS que ficaram apertadas ou fo-ram substituídas por modelos mais atuais, sapatos e bolsas encostados, lenços, echar-pes, chapéus, óculos de sol e até vidros va-zios de perfumes famosos não precisam ir para a lixeira. Tudo isso pode ser reutilizado e render um bom dinheirinho. O comércio de objetos usados garante aos empresários a sobrevivência no mercado; aos consumi-dores, boa economia; ao planeta, fôlego na luta contra a destruição ambiental. Antigos, porém atuais, os brechós diversificaram tanto que é possível encontrar tudo de se-gunda mão e por preços atraentes. O novo termo da moda é o vintage e nada melhor do que buscar essas opções em um brechó. Como são setorizados, o público pode pro-curar aquele que faz mais o seu estilo. Eles oferecem desde as grandes marcas de grifes até as peças mais simples de lojas de depar-tamento. Os preços também podem variar de R$ 10, em um acessório, a R$ 12.680, em um vestido Roberto Cavalli original.

Bom negócioEm Brasília, são inúmeras as lojas que

movimentam o comércio de objetos usa-dos – isso sem contar os que funcionam em ambiente virtual, categoria que ganha cada vez mais espaço no mercado. De acordo com Ana de Oliveira, dona do Choose Vin-tage Boutique Brechó, Brasília é a segunda capital com o maior número de brechós e perde apenas para São Paulo. Maria Cân-dida, dona do Retrô Ativa, afirma que são cerca de 200 estabelecimentos do tipo em funcionamento no Plano Piloto. Não há, no entanto, números oficiais sobre o segmento. Um dos motivos da falta de dados é que, na Junta Comercial, nem sempre as empresas são registradas como brechós. Outra razão, segundo Iana Bastos, sócia de Ana de Oli-veira, é que muitas dessas lojas iniciam e encerram as atividades em períodos muito curtos.

Para quem quer abrir um brechó, o in-vestimento inicial é baixo e a montagem é barata – fora o ponto comercial. A margem de lucro é variável, mas pode chegar a 15% por produto. Funciona assim: os fornece-dores entregam as peças em consignação,

ou seja, recebem por elas apenas se forem vendidas dentro de um prazo estipulado, e, geralmente, o dono da loja e o fornecedor ficam, cada um, com 50% do valor conse-guido com a venda.

Mas cuidado! O brechó é um comércio que precisa ser bem administrado, como co-menta Ana de Oliveira: “Dá muito trabalho, não é só você pegar a roupa usada e colo-car pendurada. É preciso visitar as clientes, passar horas e horas com elas, selecionar as peças e depois ter um sistema de gerencia-mento. E é importante saber atender o públi-co, que no nosso caso são as classes A e B. Eu estou muito feliz aqui e já tenho planos para o futuro: abrir um Café Brechó.” Segundo Iana Bastos, “Brechó não sobrevive só com as coisas do guarda-roupa da dona. Tem que conhecer muita gente, viajar e planejar o funcionamento, porque tem que pagar alu-guel, funcionário, etc.”

Para os que estão pensando em entrar no negócio, vale a dica da jornalista de moda Mariza de Macedo-Soares: pratiquem pre-ços de brechós! Segundo a colunista de moda e comportamento da Band News FM Brasília, “essa ideia de reaproveitar, do brechó, já ficou. Agora, a pessoa que quer abrir um brechó está pensando em ganhar dinheiro. Comprar barato e vender caro. Aí não vale.”

Sem preconceitoPara os apaixonados por essas lojinhas,

as visitas são programas prazerosos e se transformam em momentos de descobertas incríveis: peças únicas, de cores, formatos e texturas incomuns. Ali encontram o tubi-nho que nem o shopping mais chique tem para vender, ou um objeto de decoração que pode dar ao ambiente contemporâneo um traço nostálgico. Tudo por preços bem convidativos. As peças podem ser encon-tradas por até 30% do valor original.

A jornalista, Marina Cavecchia, 30 anos, é uma dessas apaixonadas. “Toda vez que vou visitar uma cidade, principalmente fora do país, tento descobrir qual é a rua dos brechós. Aqui, vira e mexe, passo nos brechós para ver se tem alguma novidade. Eu procuro peças únicas – ou realmente velhas, bem antigas, ou de uma produção local. Então, na verdade, procuro coisas di-ferentes e não vou atrás de marca. Prefiro

itens antigos, bem conservados, mas com cara de vó. E não tenho preconceito. Tem gente que acha que é roupa de morto, mas eu não ligo pra isso.”

O meio ambiente também ganhaOs brechós ainda têm o seu papel na

sustentabilidade. O processo de troca de peças, além de renovar o guarda-roupa gastando pouco, pode ajudar a diminuir a movimentação da indústria têxtil, uma das mais poluentes e degradantes para o meio ambiente, capaz de contaminar ar, rios, la-gos, oceanos e até solo e águas subterrâne-as.

O setor têxtil brasileiro, conforme a As-sociação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), tem destaque no cenário mundial: é a sexta maior indústria têxtil do mundo, o segundo maior produtor de denim – matéria-prima para fabricação de jeans – e o terceiro na produção de malhas. Aqui são produzidos 9,8 bilhões de peças ao ano, das quais 5,5 bilhões são de vestuário. Se tudo isso for descartado, todo o “lixo” irá para o meio ambiente, que sofrerá cada vez mais.

COMÉRCIO

Brechós se tornam opção de negócio rentável, alternativa para quem gosta de variedade no guarda-roupa e atividade produtiva que respeita o meio ambiente

Foto: Rosiléia Araújo

Marina Cavecchia, consumidora apaixonada por brechós

Novo e usado na capital da modernidade

No final de 2012, a organização ambiental Greenpeace Internacional divulgou um relatório que denunciou 20 grandes marcas de roupa, entre elas Zara, C&A, GAP, Levi’s, Victoria’s Secret e Diesel por vender roupas contaminadas com produtos químicos perigosos.

O The toxic threads: the big fashion stitch-up (Os fios tóxicos: o grande remendo da indústria da moda) alerta sobre os danos que esses produtos podem causar ao corpo humano.

Calças jeans, camisetas, vestidos e roupas íntimas estão entre as peças mais contaminadas. Isso ocorre pela incorporação dos produtos químicos nas fibras ou por resíduos que restam no processo de fabricação.

SAIBA MAIS

na webhttp://migre.me/fXvDf

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economia

AS festas infantis ganharam força, luxo e espaço no mercado de tal forma que apenas bolo, refrigerante e docinhos não são mais suficientes para a nova geração. Para satis-fazer os filhos e organizar uma festa ines-quecível, pais chegam a gastar até R$ 50 mil em uma grandiosa comemoração, in-cluindo buffet, brinquedos, salão de festa, decoração, lembrancinhas personalizadas, bombons, balas, doces e mais uma infinida-de de detalhes.

Entre as principais casas de festas infan-tis em Taguatinga, Águas Claras e Park Way, os preços para organizar uma festa para 100 pessoas variam de R$ 4.500 até R$ 10.000. Em sua maioria, as empresas que organizam esses eventos fornecem desde os convites até as lembrancinhas entregues aos convidados no final da festa. A decora-ção é composta, no mínimo, por dois mil balões e a quantidade de material plástico utilizado é de duas a quatro vezes maior que o número de convidados. Todos os copos, pratos, toalhas, guardanapos, talhe-res descartáveis, embalagens de salgados e doces, garrafas de refrigerante e balões são jogados no lixo horas depois do tér-mino da festa. Em média, 90% de tudo isso é lixo plástico, que demora cerca de cem anos para se decompor. As festas têm qua-tro horas de duração, podendo se estender por mais 30 minutos. Esse tempo curto se torna desproporcional à grande quantidade de lixo gerada quando comparado a outros eventos, como, por exemplo, churrascos e festas noturnas, que têm maior duração e produzem menos lixo.

Foi pensando em resolver esses proble-mas trazidos com a produção, o excesso de

SAIBA MAIS

DICAS PARA UMA FESTAECOLOGICAMENTE CORRETA: CONVITE: Substitua convites de papel pelos virtuais ou por papel semente, que pode ser picado e plantado depois. Outra opção é produzir convites que tenham uma utilidade e, assim, não vão para o lixo, como é o caso de um convite marcador de página;

ILUMINAÇÃO: A festa pode ser durante o dia para aproveitar a luz solar. Caso não seja possível, as lâmpadas fluorescentes são uma boa escolha por ter maior vida útil e consumir menos energia;

DECORAÇÃO: Balões não são indicados em nenhuma situação! Substitua-os por lanternas japonesas e bolas de seda, que dão um charme à decoração, além de não serem poluentes;

BUFFET: Quanto mais natural, melhor. Evite comidas pré-prontas que venham ensacadas. Escolha alimentos que possam ser feitos na hora. Calcule o número de convidados para não haver desperdício;

SOBREMESA: O mesmo vale para os doces. Evite os industrializados. Enrolar docinhos e colocar em forminhas ainda é a melhor opção. Dispense o plástico que, nos últimos tempos, vem junto com a forminha de papel;

LOUÇA: Substitua os descartáveis por louça e para as crianças escolha copos que podem ser personalizados e até servir como lembrancinha. Troque o guardanapo de papel pelo de pano, que pode ser reutilizado depois de lavado;

LEMBRANCINHAS: Opte por algo que instigue o conhecimento da criança e possa ser usado depois. Se não der para fazer lembrancinhas sustentáveis, escolha um quebra-cabeça ou outro jogo interessante e barato;

ADESIVOS: Não é preciso colar adesivos nas lembrancinhas e em todos os detalhes da festa. Pode-se optar por bordar, pintar ou gravar o nome da criança;

LIXO: Lixeiras de coleta seletiva distribuídas pelo salão são essenciais.

ANNA LOURENÇOCAROLLINE PAIXÃO

Para comemorar o aniversário dos pequenos, pais gastam cada vez mais e produzem mais lixo a cada celebração

Consciência ambiental transforma mercado de festas infantis

SUSTENTABILIDADE

lixo e os grandes gastos, principalmente nesse tipo de evento, que algumas empre-sas especializadas surgiram no mercado brasileiro. Elas buscam promover a sus-tentabilidade em festas infantis, ensinando desde cedo às crianças o valor do planeta, a importância de cuidar

do futuro e mostrando como é possível organizar uma festa bonita, ecologicamen-te correta e de baixo custo. Apesar de trazer tantos benefícios, esse mercado ainda é in-cipiente em Brasília.

A Happy Birthday, casa de festas que tem unidades em Águas Claras e ParkWay, investe em lembrancinhas ecológicas pro-duzidas por eles mesmos. São bonequinhos de terra com sementes para as crianças rega-rem. A planta que cresce ocupa o lugar do que seriam os cabelos do boneco. Renata, que trabalha na empresa, se entusiasma com o sucesso que os bonecos têm feito por cha-marem a atenção das crianças e passar um pouco de consciência sustentável. “A ideia da lembrancinha ecológica surgiu para que tivéssemos uma novidade sustentável, ainda mais nos tempos de hoje em que todos que-rem fazer a diferença”, conta.

Com sede no interior do Paraná, a em-presa Festas Ecológicas é voltada exclusi-vamente para festas infantis sustentáveis.

Segundo a empresa, o orçamento de uma comemoração desse tipo para cem pessoas sai em torno de R$ 1.200, ou seja, quase três vezes mais barata que uma festa tradicional. Apesar de o custo ser menor, a mão de obra é grande, já que todo o trabalho feito pela empresa é artesanal e a maior parte dos ma-teriais é reaproveitada. “Festas Ecológicas surgiu quando fui preparar a festa da minha filha com o intuito de reaproveitar o lixo que produzia em casa, como latas de leite em pó, rolos de papel, garrafas, caixas de leite, entre outros, e consegui um resultado melhor do que o esperado. Foi aí que descobri um nicho de mercado ainda não explorado aqui na re-gião”, conta a designer Andressa Lima, que começou seu trabalho na empresa faz nove meses.

Laila Jadalla, mãe do pequeno Daniel, de 4 anos, não sabia da possibilidade de produ-zir festas 100% sustentáveis. “Meu filho fez aniversário há duas semanas e gastei mais do que o esperado em coisas que a gente nem vê. Acho esse tipo de festa uma ótima ideia, por-que vemos para onde o dinheiro foi”, ressalta a mãe, que demonstra interesse em produzir, a partir de agora, festas ecológicas. Laila con-tou também que já havia visto lembrancinhas sustentáveis, mas que imaginava ser impro-vável um evento inteiro dessa forma.

Para satisfazer os filhos e organizar uma festa inesquecível, pais chegaram a gastar até R$50 mil em uma grandiosa comemoração

Lixo produzido em festa infantil: excesso de mimos, tudo personalizado e produtos plásticos

Foto: Eduarda Lewicz

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meio ambiente

COM 2.300 hectares, a Área de Relevan-te Interesse Ecológico Juscelino Kubitschek (Arie JK) é uma unidade de conservação localizada entre Taguatinga, Samambaia e Ceilândia. A área abriga maravilhas natu-rais do Cerrado, bioma predominante no Centro-Oeste, e já possui alguns espaços delimitados para preservar e estudar o pa-trimônio ambiental, como Três Meninas, Boca da Mata, Onoyama e Cortado. Contu-do, das três cidades que integram a Arie JK, Ceilândia é a única delas que não tem um parque ecológico.

Preocupados com o bem estar da cidade, um grupo de cidadãos criou o movimento popular, intitulado “Amigos do parque”, que tenta salvar os recursos naturais da região administrativa. Por meio do projeto Ceilân-dia mais Verde, eles buscam traçar estraté-gias para recuperar a Arie JK da devastação.

Johnny Welligton, integrante do movi-mento, conta que “uma das principais for-mas para conservação e o bom uso das áreas verdes é a criação de parques ecológicos pa-recidos com o Parque Nacional de Brasília, mas precisamos do governo para que isso

aconteça”. Os amigos do parque afirmam que é necessário que o governo do Distrito Federal faça com que seja cumprida a Lei Distrital n°1.002, de janeiro de 1996, que declara que a Arie JK tem finalidade de preservar os ecossistemas naturais de im-portância regional ou local.

A ideia dos apoiadores é construir o Par-que Ecológico Metropolitano, para utilizar de forma sustentável a beleza cênica da área. Além de possibilitar espaços de uso orienta-do para atividades de educação ambiental e de recreação em contato com a natureza, o parque poderá oferecer opções de lazer e serviços abertos à comunidade. Tudo em busca de um desenvolvimento equilibrado entre a natureza e o homem.

Promessas no papelAs ameaças de queimadas, exploração

predatória, especulação imobiliária e lixo afetam o ecossistema dos espaços ecológi-cos que são fundamentais para a sobrevi-vência dos seres vivos. Para enfrentar esses problemas, o Instituto Brasília Ambiental (Ibram) criou o “Brasília, Cidade Parque”.

Ceilândia pede parque

Segundo a entidade, o programa tem como princípio implementar e revitalizar as áreas de conservação da capital federal, por meio do uso sustentável de parques ecológicos, que facilitem o desenvolvimento social.

O Parque Metropolitano se enquadra nos objetivos do programa desenvolvido pelo Ibram. Porém, ele não está na lista de parques a serem entregues pelo projeto. Em 2011, os integrantes do movimento levaram a concepção do parque para o Or-çamento Participativo do governo federal, como prioridade de efetivação. Contudo até hoje nada foi feito.

Uma audiência pública foi realizada na Escola Técnica de Ceilândia, em abril de 2013, para debater as delimitações do par-que. Na ocasião, o presidente do Ibram, Nilton Reis, previu um prazo de 90 dias para criar a área e definir a melhor data de início das obras, mas isto tampouco saiu do papel.

O artigo científico da mestranda em Pla-nejamento e Gestão Ambiental da Univer-sidade Católica de Brasília (UCB) Jackeline dos Santos Dato mostra que ficou estabele-cido pelo Plano de Desenvolvimento Lo-cal que o Parque Metropolitano deve ficar dentro da Arie JK, próximo à rodovia que liga Ceilândia a Samambaia. Os limites do espaço ecológico, no entanto, ainda não fo-ram determinados.

O Artefato entrou em contato com o Ibram para esclarecer o motivo do não cumprimento das promessas, mas até o fe-chamento desta edição não houve resposta. Enquanto isso, o movimento e moradores do local continuam a negociar e cobrar uma ação do GDF.

A região administrativa mais populosa do Distrito Federal abriga riquezas hídricas importantes que podem desaparecer com a destruição

DEGRADAÇÃO

LUCIMAR BENTO

Foto: Letícia Sousa

Ambientalista Ivanete Silva recolhe lixo de cachoeiras e mananciais localizado na Arie JK

Invasão habitacional degrada área de preservação ecológica. despejando lixo de forma irregular.

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na web

http://ceilandiamaisverde.blogspot.com.br/

Riquezas naturaisContemplada por uma diversidade de

espécies da fauna e flora, Ceilândia é uma região administrativa rica em água potá-vel. Com cachoeiras, rios e nascentes do córrego Melchior, a cidade tem afluentes que desaguam na Bacia Hidrográfica do Rio Descoberto e posteriormente na barra-gem do Rio Corumbá IV. Segundo Beatriz Barcelos, mestra em Recursos Hídricos e professora do curso de Gestão Ambiental da UCB, esses recursos hídricos são muito importantes para o futuro abastecimento da população do DF.

Ceilândia também abriga em sua exube-rante vegetação uma riqueza histórica. Em 2003, foi encontrado um sítio arqueológico de 9 mil anos. Embora a região administra-tiva mais populosa do DF tenha tamanha riqueza natural, a questão ambiental fica em segundo plano. Alguns trechos da Arie JK apresentam vários problemas, como córregos poluídos, erosão, desmatamento e habitações que avançam sobre a área, con-tribuindo para a degradação.

A preocupação com a preservação do Cerrado é justificada pela ambientalista da ONG Centro de Preservação e Conserva-ção Ambiental Ivanete Silva dos Santos. Ela afirma que o restante do bioma tem que ser conservado. “Preservar a Arie JK é meta de reconhecimento ao que é de mais sagrado em nossa vida.”

http://pulsatil.com.br/

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NARLA BIANCATHALYNE CARNEIRO

BRAÚLIO Alves, 62 anos, foi diagnos-ticado com a doença de Chagas em 2006. Devido ao problema, o comerciante teve o coração e o cérebro aumentados de tama-nho de forma irreversível, o que resultou em problemas cardíacos e em um AVC. Ele perdeu a fala e parte dos movimentos do lado direito do corpo, além de ter de passar por um transplante de coração em 2007. Hoje, Bráulio faz parte da equipe de corredores transplantados do Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF).

A ideia de criar o grupo surgiu com o próprio Bráulio. Durante a reabilitação, ele conseguiu recuperar os movimentos do braço direito e informou à equipe mé-dica do ICDF, por meio de bilhetes, que já havia experimentado a corrida antes de adoecer. Em 2010, participou pela pri-meira vez de uma maratona com a equipe médica do ICDF e, desde então, se esforça

para progredir como atleta. Com os re-sultados psicológicos e físicos positivos de Bráulio, a equipe médica do instituto decidiu levar a ideia adiante para outros pacientes, achando uma forma de mostrar a eles que poderiam ter uma rotina normal após o transplante, mas com mais qualida-de de vida.

Além de Bráulio, o grupo é formado pela equipe médica do instituto e por mais três pacientes: Luiz Fernando, 19 anos, Agnolio Ferreira, 36, e Eduardo Olivei-ra, 18. Todos homens, já que nenhuma mulher transplantada se interessou pelo esporte ainda. Antes de realizarem a cirur-gia, os pacientes passaram por várias di-ficuldades e muitos deles não conseguiam fazer movimentos que exigissem esforços simples, como pentear o cabelo ou escovar os dentes. Poucos meses depois do trans-plante, adotaram uma rotina de exercícios

físicos acompanhada por profissionais de saúde e, por meio do esporte, buscam uma reabilitação mais acelerada e saudável.

Agnolio Ferreira e Luiz Fernando sa-bem muito bem o prazer de se recuperar de uma doença e voltar à rotina. Ambos praticavam esportes antes de adoecer e achavam que, depois do procedimento cirúrgico, fazer alguns exercícios estava fora de cogitação. “Comecei devagar e aos poucos fui aumentando a velocidade e a distância. Hoje já chego a correr até 6 km por dia!”, comenta, feliz, Agnólio. “Eu já praticava outros esportes antes. Nadava, andava a cavalo, jogava bola, até me destacava no colégio. Sempre gostei”, conta, empolgado, Luiz Fernando. “No começo, a minha família ficou preocupa-da. Me perguntavam se era boa ideia, já que eu tinha acabado de passar por um transplante. ‘Duvido que você vai dar contar de correr 5 Km!’, diziam. Mas eu dei conta sim”, completa.

Nova oportunidadePara Núbia Vieira, cardiologista do

ICDF que acompanha o grupo, as corri-das podem ajudar a acelerar o processo de recuperação do indivíduo recém-trans-plantado. “Para pacientes portadores de insuficiência cardíaca terminal, o trans-plante de coração traz uma nova oportuni-dade de viver”, diz. ”Nesta nova jornada, a atividade física é um prazer para quem não conseguia fazer ativida-des simples como abo-toar a própria roupa”, pontua. Ainda segundo a médica, fazer atividades físicas é essencial para a qualidade de vida dos pacientes pós-transplan-tados. Para eles perma-necerem saudáveis, não podem ser sedentários, assim como quem nunca passou pelo procedimen-to. “Os transplantados podem praticar qual-quer esporte, inclusive corridas de rua, mas é necessário um período de reabilitação que pode durar em média quatro meses”, explica.

Além dos benefí-cios físicos, correr tem

Corredores de coração novoATIVIDADES FÍSICAS

Pacientes que passaram por transplante participam de corridas de rua no DF

saúde

Foto: Narla Bianca

Equipe de corrida do Instituto de Cardiologia do DF formada por equipe médica e transplantados

Luiz Fernando, transplantado em 2010

Foto: Amanda Costa

um significado ainda maior para quem nunca pôde praticar esportes durante a vida, como é o caso do estudante Edu-ardo Oliveira, o corredor mais jovem da equipe. Devido a complicações car-díacas desde que nasceu, não conseguia jogar bola nem participar de brincadei-ras de criança, pois tinha dificuldade até para andar. Passou por quatro cirurgias durante a infância e usou marca-passo até chegar ao transplante em outubro de 2011. “Participar das corridas é uma das vitórias que consegui depois de adquirir um coração novo”, conclui.

Segundo a psicóloga que os acompanha, Marina Cipriano, praticar atividades desse tipo pode ajudar os pacientes a retomarem as atividades cotidianas normalmente. “O paciente vive um momento de muita an-gústia antes do transplante, principalmen-te pelo medo da cirurgia e da rejeição do órgão. Então, ele precisa ressignificar sua vida para poder resgatar a liberdade que um dia teve, como caminhar ou correr”, diz. “A corrida vem com esse propósito: resgatar a liberdade e a vitalidade do in-divíduo, além de servir como incentivo para outras pessoas ou outros pacientes transplantados e proporcionar mudanças significativas no humor, na disposição e na concentração”, finaliza.

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saúde

O CÂNCER de pênis é uma doença pouco conhecida e rara entre os homens. Ainda assim, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), em 2010 foram regis-tradas 363 mortes no Brasil. Uma das ex-plicações para as complicações é a demora na procura de atendimento. “Precisamos mudar os paradigmas sociais, o homem não deve ter vergonha de procurar um médico”, destaca o urologista Diogo Mendes, presi-dente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Dados divulgados em 2012 relatam que 43% dos homens brasileiros nunca fo-ram ao urologista . Mas mesmo sem ir ao médico é simples prevenir o câncer de pê-nis: está provado que realizar a higiene da área corretamente ajuda a evitar a doença. O tratamento, por outro lado, é extrema-mente invasivo e traz consequências físicas e emocionais.

O câncer de pênis está geralmente rela-cionado à situação socioeconômica do ho-

mem, especialmente à falta de informações sobre higiene. As regiões Norte e Nordeste têm maior incidência da doença, 5% a mais que nas regiões Sul e Sudeste, apesar de o estado de São Paulo contar com o maior número de casos confirmados. No Mara-nhão a cada 13 dias um diagnóstico é con-firmado. O meio mais eficaz de confirmar o câncer é por meio de biópsia, na qual uma amostra do tecido é colhida para teste labo-ratorial. O tratamento é indicado confor-me o nível em que o câncer se apresenta. O tumor pode ser extraído com cirurgia a laser ou, em casos graves (a maioria deles, devido à demora no diagnóstico), somente por meio da emasculação – a retirada com-pleta do órgão, o que causa infertilidade e, em alguns casos, transtornos psicológicos.

No Brasil, ocorrem mil amputa-ções por ano devido ao câncer de pênis. Os custos com o tratamento podem che-gar a R$ 35 mil. A quimioterapia rara-

mente faz parte do trata-mento, mas é indicada nos casos em que há metástases (propagação das células can-cerígenas para outros órgãos). Os sintomas são de fácil per-cepção, como o aparecimento de bolhas, verrugas ou feridas semelhantes às aftas, coceira, nódulos, secreção com mau cheiro, perda de pigmentação ou manchas esbranquiçadas. Ao primeiro indício dessas manifes-tações o homem deve procurar um clínico geral, que poderá encaminhá-lo ao urologista para analisar e diagnosticar os sintomas. O tratamento deve ser iniciado com até 20 dias do diagnóstico, porém os pacientes demoram cerca de nove meses para ir atrás de ajuda, agravan-do o caso e dificultando a cura. Quanto antes o diagnóstico for feito, maior as chances de um tratamento menos invasivo, preservando a integridade do órgão, bem como a vida sexual e fertilidade do paciente.

É só lavar com água e sabãoCâncer de pênis provoca mil amputações por ano no Brasil e pode ser evitada com medidas simples de higiene

HigieneA doença pode ser prevenida de for-

ma simples, por meio de higiene adequa-da na hora do banho e após as relações sexuais, uso frequente de preservativo, autoexame e visita ao médico uma vez ao ano. Uma cirurgia chamada postec-tomia, em que a pele excedente do pênis é retirada, evita o acúmulo de sujeira, além de prevenir a fimose (dificuldade de expor a glande). Além da má higiene, outra causa comum do câncer de pênis é o HPV, doença sexualmente transmis-sível, que se não tratada adequadamen-te pode evoluir até tornar-se um tumor. “Alguns preconceitos sobre o homem fo-ram impostos pela sociedade brasileira. Ir ao médico pode ser um questionamento da sexualidade. Precisamos mudar esse para-digma, o homem não deve ter vergonha de procurar ajuda, de conversar sobre os pro-blemas e de se cuidar”, declara o urologis-ta Diogo Mendes. Os pais são importan-tíssimos na prevenção do problema, pois podem optar por circuncisar os filhos ain-da bebês ou educá-los com informações de higiene no órgão genital. “O pai ensinou ele a lavar, mas sempre pergunto e nos fins de semana eu dou uma ‘faxina’”, relata Fa-biana Torres, mãe de Cauã Torres, 9 anos. Forma eficaz de prevenção A circuncisão ou postectomia é o procedi-mento de retirada do prepúcio, pele que re-cobre a glande do pênis. A cirurgia é rápi-da, feita com anestesia local e não necessita de pontos cirúrgicos nem de internação.

Segundo estudos, homens circuncida-dos têm 60% menos chances de contrair in-fecções que, quando não tratadas, podem levar ao câncer de pênis. A medida também impossibilita o desenvolvimento da fimose. Uma pesquisa realizada na Bélgica de-monstrou que homens que se submetem à cirurgia podem perder parte da sensibili-dade do pênis. Dessa forma, os orgasmos podem ser menos intensos. Mesmo com pontos negativos, alguns especialistas se mantêm a favor da circuncisão, que deve ser feita ainda na infância, caso seja a op-ção dos pais. “Eu recomendo às famílias

CAMPANHA

A SBU, com o apoio da Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado, realizará em novembro a campanha Câncer de Pênis Zero, com objetivo de alertar os homens sobre a importância da prevenção e cuidados com a saúde.

A campanha tem como slogan “Homem que é homem se cuida” e pretende informar a população sobre as práticas adequadas de higiene, uso de preservativo e sobre o tratamento da fimose, fatores preventivos do câncer de pênis.

SAIBA MAIS

PREVENÇAO

NAYANE GAMA

autorizar as crianças, e que os homens já esclarecidos façam a cirurgia. Além de prevenir o câncer de pênis, também pre-vine doenças sexualmente transmissíveis, inclusive a aids, além da ejaculação preco-ce”, enumera Diogo Mendes.

A cirurgia é comum entre os judeus, por questões culturais e imposições religio-sas. Os islâmicos também circuncisam as crianças aos cinco anos. Estudos feitos na África pela ONU comprovam que homens circuncidados apresentam menos doenças.

Foto:Jéssica Eufrásio

43%dos homens brasileiros nunca foram ao urologista

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ria dos chocolates contém glúten por causa do malte. Só com pães e biscoitos a família chega a gastar de R$ 150 a 200 por mês. As comidas prediletas dela são tapioca, cus-cuz, sushi e açaí. Outra portadora da doença é a servi-dora pública Denise Griesinger, 37 anos, que descobriu o problema em outubro de 2011, após ter passado por um grande emagrecimento e sintomas como fortes dores na barriga. Atualmente, ela tam-bém faz tratamento no HUB, onde rece-be acompanhamento e orientação sobre a doença e alimentação. Denise relata que enfrentou grandes di-ficuldades, principalmente ao se alimentar na rua. “A maior parte dos restaurantes, bares e cafés não tem informações nutri-cionais do que servem o que torna com-plicado para o celíaco comer na rua, com a certeza de que não está se prejudicando.” Ela considera um obstáculo na vida de um celíaco a ida ao supermercado: “Fazer compras foi um desafio. Tive que come-çar a ler aquelas letrinhas minúsculas nos rótulos dos produtos, atrás da informação ‘não contém glúten’”. No Brasil, a lei fe-

saúde

AOS 9 anos, Cecília Ávela começou a sentir fortes dores de cabeça e na barriga. Como fazia acompanhamento com endo-crinologista, o especialista desconfiou que ela era portadora da doença celíaca, uma intolerância à proteína do glúten presen-te principalmente no trigo, aveia e cereais. Após alguns exames foi confirmada a sus-peita, e a menina foi encaminhada para fa-zer o tratamento no Hospital Universitário de Brasília (HUB). Hoje, Cecília tem 13 anos, segue a dieta médica e não come trigo, cevada, malte e aveia, ou qualquer derivado desses pro-dutos. Ela conta que foi muito difícil se adaptar à doença. A maior dificuldade foi não poder comer pizza e guloseimas, coi-sas que a maioria das pessoas gostam. “É chato, é difícil, quando vou para festinhas fico olhando as meninas comerem doces. Mas tenho alguns segredinhos, como sair de perto e ir comer pão de queijo e pipo-ca, por exemplo.” Ela considera ter uma vida normal, a doença já está controlada e ela retorna ao médico todo ano. Seus pais compram pão, biscoito, macarrão sem glú-ten e o achocolatado especial, pois a maio-

deral 10.674 de 2003 obriga os fabricantes de alimentos a informarem nos rótulos se o produto contém glúten ou não. Para Denise, seguir a dieta pode levar uma vida normal, e até mais saudável. “A doença trouxe mudanças de hábitos significativas, foi difícil abrir mão de coisas como pizza, macarrão e cerveja, mas é uma questão de adaptação”. Ela segue a dieta na maior par-te da semana, mas confessa que, quando frequenta festas, consome glúten. Entre-tanto, quando comete excessos fica receosa, porque sabe que fazem mal ao organismo ao longo prazo – além de ter diarreia, quase instantânea para um celíaco.

Suporte hospitalar Segundo uma das coordenadoras do pro-grama do HUB, a médica Lenora Gandol-fi, 30% da população têm a genética para a doença celíaca, que é complexa e autoi-mune (quando o próprio organismo ataca o corpo do portador). Os sintomas mais comuns são diarreia, vômito, inchaço nas pernas, alteração na pele, perda do peso corporal e sinais de desnutrição. Como em alguns casos as pessoas não desenvolvem os sintomas, pode-se observar maior ten-dência a ter anemia e osteoporose. A médica explica que a maior dificulda-de está na mudança de comportamento. “É muito difícil porque é uma dieta 100% sem glúten muitas pessoas são expostas até em restaurantes. Por exemplo, a pessoa que tem a doença celíaca não pode usar a mes-ma faca de uma pessoa que passou mantei-ga em um pão comum. Dos pacientes que atendemos só a metade consegue aderir à dieta”, alerta. O HUB é um dos hospitais referenciais no DF para pacientes celíacos. O serviço funciona há 15 anos, com um ambulatório aberto para toda a comunidade. O atendi-mento é feito com agenda aberta. A pes-soa chega no hospital e é feito um prontu-ário pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O paciente é atendido por uma equipe composta por dentistas, nutricionistas e, quando necessário, psicólogos. O progra-ma atende cerca de oito pessoas por dia. Para iniciar o tratamento é feito o diag-nóstico por meio de exames genéticos e de sangue, além de endoscopia com biópsia. Após confirmar o diagnóstico começa um tratamento com a retirada do glúten do

Predisposição genética exige mudança na rotina alimentar e pode atingir 30% da população

AMANDA VILAS BOASCHRISTIAN KELY SOARES

GLÚTEN

PÃOZINHO RÁPIDO SEM GLÚTEN

INGREDIENTES:

- 3 xícaras de chá de farinha de trigo sem glúten- 3 colheres de margarina sem sal- 4 colheres de margarina sem sal- 2 ovos- 1 xícara de leite (200 ml) ou leite de soja ou de coco

MODO DE PREPARO:

Misture todos os ingredientes em uma tigela mexendo com uma colher. Quando estiver misturando, fazer os pãezinhos untando a palma da mão com margarina. Coloque em uma assadeira levemente untada e pincelar com gema de ovo. Aqueça o forno em temperatura máxima de 10 ou 15 minutos. Enquanto o forno está sendo aquecido, deixe os pãezinhos descansando. Passando esse tempo leve ao forno.

COMO ASSAR:

Deixe por 5 minutos em forno máximo abaixe para 200 graus e deixe 10 minutos nessa temperatura. Depois abaixe para 180 graus e deixe assar os pães por mais 10 minutos. Após isso desligue e retire do forno. Sirva com manteiga, geleia ou mel.

Fonte: http://www.acelbra-df.com.br/

SAIBA MAIS

Cecília Ávela busca alimentos substitutos para comer o que gosta

cardápio e a orientação alimentar. Além do tratamento oferecido pelo hos-pital, existe na Universidade de Brasília (UnB) a Associação dos Celíacos do Brasil, que realiza quatro oficinas por ano, em que os médicos e nutricionistas desen-volvem receitas sem glúten. Essa doença geralmente se manifes-ta na infância, entre o primeiro e terceiro ano de vida, mas pode surgir em qualquer idade, inclusive na fase adulta. O celíaco já nasce com uma predisposição genética. Apesar de o problema ser mais comum em mulheres, atinge ambos os sexos.

Foto: Amanda Vilas Boas

Doença celíaca, uma luta diária

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RENATA RIBAS

ELES surgiram com o objetivo de reunir em um único dispositivo serviços de tele-fonia, acesso à internet, plataformas de lei-tura e programas que facilitem a vida dos usuários. Com telas sensíveis ao toque, fa-cilidade de interação e diversas ferramen-tas de comunicação, o uso de smartphones e tablets cresce a cada ano no Brasil. Seja na escola, no trabalho, em casa, no trân-sito, nas filas, no ônibus ou no metrô, os aparelhos nos deixam conectados 24 horas por dia. Contudo, é justamente do hábito de estarmos sempre com eles em mãos que vem o alerta dos especialistas: a utilização constante e inadequada desses equipamen-tos pode trazer danos à saúde.

Conforme pesquisa divulgada em mar-ço deste ano pelo Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), as chances de o usuário de smart--phone desenvolver dor no polegar são maiores do que as daqueles que usam ce-lulares sem recursos de acesso à internet. De acordo com o ortopedista e professor da Faculdade de Medicina da Universi-dade Católica de Brasília (UCB) João Vicente Teodoro Gomes da Silva, isso ocorre porque as pessoas costumam segu-rar o aparelho de maneira errada, além de sobrecarregar o polegar com excessos de movimentos na digitação.

“O polegar é o dedo mais importante dos seres humanos, é ele que faz a pinça, que apreende os objetos. O usuário deve segurar o smartphone com os quatro dedos atrás do aparelho, deixando o polegar de forma oposta a eles”, explica João Vicente. O ortopedista recomenda ainda que usar o

segundo dedo, conhecido como indicador, é a melhor opção para digitar. “Quem usa o segundo dedo tem menos chance de de-senvolver tendinites. Já quem digita com o polegar aumenta as chances de ter lesões na articulação, pois sobrecarrega o dedo, que é muito sensível”, afirma.

João Vicente alerta também que a má postura quando olhamos para baixo ao uti-lizarmos os aparelhos pode causar dores na coluna, pescoço e braços, e até evoluir para doenças mais graves como a hérnia de disco – lesão dos discos que compõem a coluna vertebral. Segundo ele, o ideal é usar o smartphone na altura dos olhos. No caso dos tablets, o usuário não deve ma-nusear o aparelho no colo, pois além de problemas cervicais, esse comportamento pode acarretar dores nas mãos e punhos.

A redatora publicitária Sônia Vieira Nobre, 31 anos, relata que utiliza os apa-relhos com muita frequência no dia-a-dia. Ela admite sentir dores devido ao hábi-to de estar sempre conectada. “Faço uso quase ininterrupto de smartphones, tablets e computadores, tanto os meus quanto os da empresa onde trabalho. Normalmente digito no celular com ambos os polegares e como respondo muitas mensagens e e--mails por dia, já senti dores no polegar direito e costumo sentir dores também no pescoço quando faço alguma leitura ou re-visão pelo tablet”, aponta.

O especialista em ortopedia acrescenta que os problemas de Sônia são comuns para quem usa as novas tecnologias de forma excessiva. Conforme pesquisa rea-lizada em dezembro de 2012 pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística

(Ibope), os brasileiros passam em média 84 minutos no smartphone e 79 minutos no tablet por dia. Para diminuir os riscos de dores e lesões, João Vicente recomenda que o usuário não fique mais de 30 minutos com o equipamento na mesma posição. “O que tem que ficar bem claro é que não é o aparelho que vai causar algum problema, mas sim a postura incorreta durante o uso e o tempo que se gasta com ele”, finaliza.

Visão comprometida O oftalmologista do Hospital Oftalmo-

lógico de Brasília (HOB) Mário Jampaulo também alerta para os problemas de fadiga e irritação nos olhos que o uso prolongado dos aparelhos pode causar. Segundo Má-rio, uma pessoa pisca normalmente de 20 a 25 vezes por minuto, mas quando está com o smartphone ou tablet em mãos essa quantidade diminui para 4 a 5 vezes, o que reduz a proteção dos olhos. “Precisamos nos lembrar de piscar, pois ao realizar o movimento renovamos nossas lágrimas, que têm propriedade regeneradora. Por estar muito concentrado na tela do apare-lho, o usuário não pisca e o olho exposto, sem proteção, pode desenvolver processos inflamatórios e ficar irritado com mais fre-quência”, informa.

O médico esclarece que, além da vista cansada, a exposição contínua e frequente aos equipamentos pode acarretar verme-

Foto: Renata Ribas

Segundo especialista, digitar com os polegares aumenta as chances de lesões

saúdeTECNOLOGIA

Uso excessivo de smartphones e tablets pode causar inflamações nos dedos, dores na coluna, irritação nos olhos e outros prejuízos à saúde

DICAS PARA O USO CORRETO DE SMARTPHONES E TABLETS: Evite digitar com a mesma mão com que segura os aparelhos;

Procure manter distância de, no mínimo, 33 cm da tela para os olhos;

Não manuseie os equipamentos com a cabeça inclinada para baixo;

Faça pausas para descansar os olhos;

Prefira digitar textos longos em computadores ou notebooks;

Evite usar os aparelhos por mais de 30 minutos na mesma posição;

Lembre-se de piscar para aumentar a proteção dos olhos.

SAIBA MAIS

Os riscos de estar sempre conectado

lhidão nos olhos, coceira, lacrimejamen-to, turvação visual e algumas vezes até dores de cabeça. A assistente adminis-trativa Jhully Marçal de Freitas, 20 anos, costuma usar o celular a maior parte do dia. Ela afirma que após trocar mensagens por muito tempo tem incômodos na visão. “Sinto uma irritação nos olhos, eles lacri-mejam, coçam e ardem. A sensação é que tem areia neles.”

De acordo com Mário Jampaulo, os sintomas relacionados ao uso intenso das tecnologias já são a segunda maior causa da procura por oftalmologistas nas gran-des cidades, e perdem apenas para as cor-reções de grau. “As pessoas chegam ao consultório e se queixam de incômodos na visão. O paciente acha que está com a pressão do olho alta, mas o que acontece é que o olho inflamado incomoda, traz dor de cabeça, além de diminuir a competência do indivíduo para desenvolver suas ativi-dades”, expõe.

O oftalmologista recomenda que o usuário faça pausas a cada 40-50 minutos no uso para descansar os olhos. Ele alerta, no entanto, que não adianta deixar o smart--phone de lado e utilizar o computador ou ler um livro, por exemplo, pois a visão de perto continua a ser forçada nessas situa-ções. “O ideal é que a pessoa vá para uma janela e olhe para o horizonte, para longe, e deixe a musculatura relaxar”, conclui.

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