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o início de um trabalho de pesquisa que relaciona a percepção do capitalismo contemporâneo às lutas de forças sociais e a aplicabilidade da arquitetura e urbanismo como forma de potencializar um ambiente de exclusão.

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transformando do na da

REDES NA MARÉ ARQUITETURA NA PRODUÇÃO DO CAPITAL COGNITIVO

Rodrigo Bertamé

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Este trabalho surge primeiramente como um agradecimento ao projeto de inclusão urbana da vila residencial UFRJ coordenado pelos professores Pablo Benetti e Maria Julieta Nunes projeto este pertencente ao programa de in-clusão social da Vila Residencial UFRJ coordenado pela professora Selene Alves Maia - Instituto de Matemática da UFRJ.

O projeto de inclusão urbana da vila residencial abriu a possibilidade de atuação no complexo da maré, trazendo a universidade um contato de troca de conhecimento com seu vizinho mais próximo, e demonstrando um campo de estudo do espaço pouco visto dentro da grade curricular tradicional de arquitetura

Assim sendo a experiência adquirida durante o tempo de trabalho prestado ao projeto de pesquisa me permitiu recolher a base de conhecimento para a fundamentação do projeto final aqui apresentado.

Deixo meu agradecimento aos professores Pablo Benetti e Maria Julieta Nunes e Selene Alves, que sempre me apoiaram e acreditaram no meu trabalho e no trabalho com o complexo da Maré e Vila Residencial UFRJ.

Agradeço também a professora Solange Carvalho, por ser minha orientadora nesta etapa de projeto final que começa após a conlusão deste caderno de fundamentação.

Por fim porém importante, agradeço a Vila Residencial representada por Vera Valente e Joana Angélica, cuja luta pelo direito a terra e reconhecimento foi um aprendizado.

AGRADECIMENTOS

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INTRODUÇÃO 7

IMPÉRIO E MULTIDÃO 9

COMUNICAÇÃO E PODER 11

TERRITÓRIO DO MEDO 12

COMUNICAÇÃO EM MOVIMENTO 14

ARQUITETURA E CONTRA PODER 18

COMPLEXO DA MARÉ 20

SITUAÇÃO 21

LEVANTAMENTO SÓCIO ECONÔMICO 22

ÁREAS LIVRES 23

APROPRIAÇÃO ESPACIAL 26

LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO 27

REFERENCIAS PROJETUAIS 33

CONCEPÇÃO PROJETUAL 49

ÍNDICE

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O trabalho consiste em produzir uma espacialidade que possa valorizar ações estratégicas de produção e visibilidade do complexo da maré.

Tendo como base teórica as obras de Antonio Negri, recortando em especial os conceitos de multidão e da possibilidade, de no mundo contemporâneo, construirmos forças de trabalho e lutas sociais em estruturas cooperativas e descentralizadas, onde o espaço do trabalho imaterial vem ganhando força, devemos repensar que novas espacialidades materiais podem ser produzidas de forma a potencializar esse novo sistema de redes de trabalho e relações sociais.

Em um primeiro momento visamos compreender um pouco os conceitos desta nova estrutura social e sua aplicabilidade, apresentando após algumas de suas possibilidades de uso no complexo da maré.

Em um segundo momento analisaremos o recorte a ser estudado no complexo da Maré, de forma a compreendermos suas relações sociais, geográficas e morfológicas e sua inserção na cidade do Rio de Janeiro.

A partir dos dos estudos dos dados levantados refletiremos sobre o termo e suas implicações na qualidade de vida dos moredores da maré.

INTRODUÇÃO

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Em um primeiro momento trazemos aqui uma apresentação de alguns concei-tos trazidos por Negri a respeito das novas estruturas do capital e das forças produtivas no mundo contemporâneo.

O capital não é algo estático, o capital é comunicação, uma relação de forças sociais que compreende o mundo onde o capital nos tempos contemporâneos tende cada vez mais a explorar o tempo e o espaço, estar inserido em todos os limites da vida humana, para Negri já não há mais um “fora” do capital, de onde se lute contra ele.

A soberania que é entendida aqui como controle da reprodução o capital, se desloca do eixo dos Estados-Nações, vistos serem estes hoje, para o olhar do capital, incapazes de controlar os mecanismos de reprodução da sociedade. O capital assume sua soberania no não-lugar é aqui que Negri traz o conceito de Império, que diferente do imperialismo onde um estado-nação controla de forma unilateral áreas subordinadas de sua influencia, o Império é supra-nacional atuando através de sistemas de controle da vida. Esta fluidez que se tornou realidade a partir da evolução dos sistemas de comunicação e da he-gemonia da produção de trabalho imaterial, torna possível observarmos hoje um mundo de poderes descentralizados.

Em a natureza do espaço, Milton Santos define que - “a busca da mais-valia a nível global faz com que a sede primeira do impulso produtivo(...) seja apátri-da, extra-territorial, indiferente as realidades locais e ambientais”(santos,1996)Temos também que esta mesma mobilidade que define o mercado de trabalho como um todo geram ampla oscilação entre empregados e desempregados, gerando a classe que Milton Santos define como proto proletários.

Esta passagem do fordismo ao pós fordismo onde o trabalho é separado de sua potencia politica gera este novo grupo amorfo, “um enxame de trabal-hadores empregados, desempregados, biscateiros, camelôs,...”(negri,2000) A pobreza torna-se um simples fato de não conseguir dar valor a atividade que realiza.

A dialética hegemônica já não é mais a de uma classe trabalhadora contra uma burguesia capitalista, mas a luta deste corpo amorfo que Negri denomina de multidão – “uma rede de singularidades que se mantém unida com base no que compartilham e produzem em comum” (negri,2002)– pela vida.

IMPÉRIO E MULTIDÃO

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A multidão, é assim um conceito de classe, sempre produtiva e que está em movimento, cujo poder é o da comunicação, de através de símbolos e da con-stituição de uma nova linguagem propiciar uma revolução subjetiva que para Negri formariam uma estrutura de potencia em espiral crescente.

O mundo contemporâneo pode ser desenhado por um apartheid global, onde as diferenças de rendas e condições de trabalho e de vida não só constituem a causa de uma grande parte da miséria como também são essenciais para a gestão da economia mundial, onde qualquer ação local da multidão é uma ação global.

Ressaltamos também outra característica importante do mundo contemporâ-neo levantada por Negri e Hardt, para ambos, a guerra se tornou estrutural e inevitável para manutenção da ordem do Império. A guerra funciona como um forte sistema de policiamento global, que age como uma forma de controle ininterrupto em pró da manutenção e redistribuição das hierarquias do sistema de ordenamento global de acordo com as demandas do capital mundial.

O Império consegue assim constituir territórios com funções determinadas se-gundo suas (do império) demandas e necessidades, a mesma estrutura global pode ser recortada para um âmbito do Rio de Janeiro, neste ponto podemos começar a compreender as favelas e a manutenção de suas condições, como um produto da ação de diversas relações sociais da cidade. Que constroem com a favela uma relação extremamente ambígua pois necessitam da sua existência para manter as estruturas da economia da cidade, mas ao mesmo tempo produzem uma repulsa a sua existência como parte desta mesma ci-dade.

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O processo de massificação dos sistemas de comunicação foi uma revolução social, porém os altos custos sempre restringiram o acesso democrático aos meios de produção, o que facilitou o controle dos mesmos ser realizados por grandes corporações , cujo interesse específico é reproduzido como interesse comum.

A comunicação do Poder trabalha de forma a construir um simulacro de mun-do que tomamos como real, reduzindo a realidade a mera condição de es-petáculo, faz o mundo como ele é mostrado sobrepujar o mundo como ele realmente é, e a vida misturar-se com o show.

A indústria cultural e a mídia de massa, ao eliminar o risco do novo na produção cultural, desarticula a capacidade de produção de reflexão da massa, man-tendo o homem na superficialidade do conhecimento sobre as relações da vida.

COMUNICAÇÃO E PODER

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“No meu comando invisível que às vezes só aparece na cor inevitável do medo de ser confundido com alguém que duvide da minha carteira assassinada de trabalho “ Yukka

O mito do espaço de pobreza e violência , vendido todos os dias através dos telejornais das grandes emissoras, que homog-eniza é gerador de uma dicotomia maniqueista que define o espaço informal como território do “mal”.

A imagem construída do mal banalizado atua como uma jus-tificativa a por a violência como sinônimo de justiça, o simula-cro constituído ocasiona assim uma perda da potencia real das importâncias que determinados espaços tem para a dinâmica da cidade. Tal perda tem sua importância na manutenção das estruturas pois diminuindo-se a potencia real, diminui-se o valor agregado de tal grupo social, barateando sua força produtiva.

Tal justificativa se baseou durante a história a partir do medo que o pobre sempre representou, não só pela questão do dis-túrbio social, quanto pelas questões sanitaristas. Sendo assim associados ao território de habitação da pobreza, o lugar da ausência de saúde e o foco de proliferação das doenças.

TERRITÓRIO DO MEDO

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A homogeneidade pregada socialmente, mascara uma verda-deira realidade de pluralidade sócio-cultural que conforma as áreas de favela, que hora é tratada como os demônios a ser exorcizados, hora como os bons-selvagens. Cria-se assim um estereótipo do morador das favelas cujas relações sociais se apresentam de forma ambígua. São geradas duas identidaes diferentes sobre o mesmo indivíduo. O ser como ele o é e se reconhece dentro de seu grupo social, e o ser como a sociedade constrói e o reconhece.

Quando percebemos a questão da identidade na favela, vemos o retrato do como a sociedade tende sempre a ser o majoritário em relação a identidade formada de dentro do território da fave-la, identidade esta que muitas vezes é consumida pelos próprios moradores da favela, isso é facilmente percebido quando es-tamos no ambito do complexo de favelas, o espaço em que o outro não é mais o asfalto, a cidade legalizada, ainda assim, as comunidades formadoras do complexo percebem a comuni-dade vizinha como um diferente; o território mais perigoso, mais problemático.

Podemos entender que o território do medo está acima das questões objetivas da violência; é construído também por um conjunto de subjetividades que fortalecem a percepção do outro como inimigo, aqueles que não queremos ser.

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Em contraponto a comunicação da indústria cultural e da mídia de massa, vemos surgir com o advento das organizações em rede como formas dominantes de organização uma nova forma de re-lação e produção de comunicação descentralizada.

As organizações em redes nos permitem através da dissolução de uma centralidade única e hierárquica produzir sem líderes, a partir de redes e células ou mesmo da ação individual coralizada.Através das hipermídias o usuário é ao mesmo tempo divulgador ,produtor, questionador das informações, podendo constituir um verdadeiro campo de militância, construindo blogs, sites, redes sociais, webradios, por onde podem ser divulgados para o mun-do toda uma produção cultural que antes não teria acesso aos espaços de divulgação das mídias tradicionais.

Fred Evans cita que a internet ajudou a perceber que as comu-nidades são trocas dialógicas entre vozes, e que essas ressoam umas nas outras. Nesse ressoar que constrói as subjetividades que formam as culturas habita o que Negri denomina de inteligencia de enxame, uma forma de inteligencia cuja organização se baseia fundamentalmente na comunicação em redes.

No mundo contemporâneo as redes sociais virtuais possibilitam ao homem a construção de vínculos sociais para além dos limites físicos, constituindo assim uma nova leitura espacial, o espaço de fluxos apresentado por Castells, para Castells as redes virtuais surgem como complementares as relações espaciais físicas por

COMUNICAÇÃO EM MOVIMENTO

www.vivafavela.com.br

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permitirem transpassar os limites do espaço-tempo, visto que hoje um conjunto de informações pode atravessar continentes de forma in-stantânea.

“Pegando carona nessa onda tecnológica, os comunitários, sem deixar de lado a tradição, têm novos planos para potencializar e disseminar as informações da Maré. Para o próximo semestre “O Cidadão” es-tará lançando seu primeiro site e pretende formar uma lista com os números de celulares de moradores e não moradores para receberem via SMS informações do bairro.” - Viviane Oliveira - www.vivafavela.org - vila do joão conjunto de favelas da maré 06/2010 .

Os pobres são fortemente ativos na esfera comunicacional - Milton Santos

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A Redes de desenvolvimento da maré – REDES é uma or-ganização da sociedade civil de interesse público que visa articular pessoas e instituições para realizar projetos de de-senvolvimento para a maré.

Consideram que a mudança do complexo é algo a ser pensado em caráter global e atuam através do fortaleci-mento das redes e articulações para a formação de agen-tes sociais capazes de interferir nas estruturas do complexo.

O projeto UERÊ é uma experiencia pedagógi-ca, destinada a crianças e jovens entre quatro e dezoito anos, onde se observam tanto as questões sociais quanto as particularidades de cada criança para o aprendizado.

A escola UERÊ funciona em espaços da própria comunidade adaptados para ser uma escola sem grandes particularidades que a diferen-ciem de uma escola comum, porém o trabalho pedagógico gera nos estudantes uma noção de pertencimento do espaço o que permite que a escola trabalhe com portas abertas, sem problemas de vandalismos.

A pedagogia foi reconhecida pelo MEC e está atualmente em processo de entrada para o sistema de ensino de formação de professores de nível fundamental.

O observatório de favelas é uma organização so-cial de pesquisa consultoria e ação pública desti-nadas à produção de conhecimento sobre favelas e fenômenos urbanos. Localizada na comunidade de Nova Holanda.

Produz inúmeros materiais a respeito das favelas, o observatório através do seu trabalho tem con-struído um banco de dados e permitido a visibi-lidade das reais condições das áreas de favelas.

Entre seus projetos encontram-se o cineclube sem-tela, projeto de cineclubismo itinerante; o circu-lando que promove o diálogo e comunicação no complexo do alemão; imagens do povo, a escola de fotógrafos populares da maré.

Situado no morro do Timbau, o museu da maré é o primeiro museu reconhecido do país localizado dentro de uma favela, tendo sido criado pela própria comunidade expõe um acervo de fotos e ob-jetos do cotidiano (incluindo uma casa de palafitas em tamanho real) além de possuir um arquivo de material para pesquisas. Jornal O CidadãoO jornal de bairro da maré, projeto do CEASM, destinado a retratar e trazer questões importantes sobre o bairro popular através do trabalho de mídia alternativa tendo tiragem de 20.000 cópias por edição e sendo distribuído pelas principais escolas associações e organizações do complexo.

UERÊ

DESENVOLVIMENTO DA MARÉ

OBSERVATÓRIO

MUSEU DA MARÉ

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Desde o seu princípio, a arquitetura esteve ligada ao poder e sua representação no mundo. Hegel busca como o princípio mais remoto da arquitetura a habitação e o templo, carac-terizando-os como meios com vista a uma exteriorização do homem. A habitação é a necessidade e o templo o desejo de transcendencia.

O homem se relaciona com o espaço como formador de vivência espacial, o espaço é produzido e está em constante produção como um sistema de relações sociais que constro-em seu significado. O espaço está além de suas questões técnico-funcionais, visto haver questões relativas a construção de uma subjetivi-dade que devem ser consideradas. O caráter simbólico do projeto é a exteriorização de um discurso onde o espaço é a síntese entre os aspectos objetivos e subjetivos da vida, os afetos que trarão ao espaço um determinado sentido.

A arquitetura como discurso de contra-poder pode se propor um estranhamento em relação a visão da cultura de massas, possibilitando constituir-se como um objetivo representativo da multidão mas deve realizar-se pelos processos constituí-dos por ela. Como arte deve expressar este conteúdo não negando sua relação intrínseca com a forma, como já cita-va Adorno. Não podemos negar a estética da forma, assim como não podemos negar que a arte deve abranger não só a consciência mas o sentimento dos homens.

A favela não é um espaço de luta contra um poder por uma nova cartilha, por uma nova organização social. O desejo hegemônico hoje não só na favela, mas no mundo não é necessariamente o de construir uma sociedade nova, mas afirmar-se como representatividade de poder dentro da mes-ma. Lembramo-nos que dentro de um processo de guerra global, a luta de forças deixa os locais mais oprimidos como um ponto a parte, cujos desejos destes se espelham em ser como os das classes que os oprimem.

A favela carioca contemporânea já não é mais o espaço homogêneo da pobreza das habitações provisórias da falta de forças produtivas, mas sim é o retrato de uma multiplici-dade de singulares cuja identidade é representada não ape-nas pelas condições econômicas, mas primeiramente pela ausência da ação do estado, a favela é representada pelo que não é. Apesar de ser uma multiplicidade, é como comu-nidade que a favela ganha espaço e consegue competir por bens políticos, sociais e econômicos.

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Complexo formado por 16 favelas, dentre elas apresentaremos aqui um recorte de três favelas que se circunvizinham o terreno de intervenção, Tim-bau, Baixa do Sapateiro, Vila Pinheiro.

Tem seu inicio na década de 40, a partir da ocupação do morro do Timbau onde os primeiros habitantes ocupavam áreas próximas aos mananciais, a escolha do território foi favorecida por ser a única área de morro, e por consequência não alagadiça da maré na época.

Com a abertura da Avenida Brasil em 1947 o processo de industrializa-ção saindo dos centros urbanos e caminhando em seu sentido, favoreceu um aumento das ocupações da maré, devido a esta proximidade da nova área de crescimento da cidade unida a questões de terreno de propriedade desconhecida.

O segundo momento de ocupação da maré foi a Baixa do Sapateiro, inicialmente situa-da em terreno alagadiço no pé do morro do Timbau construída a partir de restos das de-molições do centro que eram trazidos pelas águas da Baía de Guanabara, os barracos eram construídos em palafitas que ficavam cerca de 2m sobre as águas e as casas se co-nectavam por pontes precárias também con-struídas com restos, e abaixo do qual com o tempo os próprios moradores iam aterrando com entulhos.

Vila Pinheiro nasce como parte do projeto Rio, criado em 1979 com objetivo de sanear a orla do Rio, visava a retirada das palafitas promovendo a transferência dos moradores para conjuntos habitacionais assim em 1989 nasce o conjunto de Vila Pinheiros, situado em área de aterro público .

COMPLEXO DA MARÉ

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O complexo da maré situa-se a margem da Baía de Guanabara, tem como limitadores as três principais vias expressas da cidade do Rio de Janeiro, Linha Vermelha, Av. Brasil e é cortada pela Linha Amarela, o que se apresenta como uma potencialidade devido a velocidade de transporte que podemos propor de con-exão de seus moradores e usuários com toda a cidade do Rio de Janeiro.

O Território do projeto situa-se nas margens da Linha Amarela e é hoje uma área de fronteira entre três comunidades, Timbau, Baixa do Sapateiro e Vila Pinheiro.

TIMBAU BAIXA DO SAPATEIRO

VILA PINHEIROS

120.000m²

NSITUAÇÃO

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Segundo dados levantados pelo Censo 2000, CEASM vemos que os índi-ces de transito entre comunidades é muito baixo

A população total segundo o censo maré 2000 produzido pelo CEASM é de 132.176 moradores, sendo 6031 no morro do Timbau, 11467 na baixa do Sapateiro e 15485 na vila Pinheiros, representando aproximadamente 25% da população total.

Ainda segundo o censo, temos por exemplo uma média de aproximada-mente 50% de moradores das comunidades analisadas nunca circulam por outras comunidades, e a média dos que fazem esta circulação com frequência não chega aos 15% dos moradores.

A relação de circulação pela cidade do rio melhora um pouco com uma média de 16% a 17% de moradores que circulam frequentemente pela cidade, este número porém continua a ser um padrão muito baixo e que representa uma clara não inserção desta população na cidade.

A dificuldade de livre circulação da população intra-complexo da maré atua como uma quebra de potência social do complexo como um todo integrado e deixa claro uma impossibilidade de integração da mesma.

Pesquisas do CEASM apontam que em média 48% ( no morro do Timbau esse valor sobe para 56,6% dos entrevistados) não fariam um curso em favelas na comunidade rival, enquanto apenas 19,9% fariam sem temor.Em experiência pessoal no EPFAU – escritório público da faculdade de ar-quitetura e urbanismo, teve como uma demanda recente o projeto de um mini-posto avançado de saúde localizado a poucos quarteirões do posto de saúde principal, tendo como primeira justificativa a não circulação dos moradores de uma comunidade para a outra.

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Segundo o CEASM os dados apontam para um forte processo de particularização espacial existente na Maré determinado tanto pela formação histórica de suas comunidades quanto pelo domínio ter-ritorial da violência.

A violência também é um dos motivos pelo qual a Maré apresenta um decréscimo na taxa de jovens entre 10 e 19 anos apesar de um alto índice de natalidade.

Cerca de 63% da população da maré possui renda média entre 1 a 2 salários mínimos, sendo que na Vila Pinheiros, Morro do Timbau e baixa do Sapateiro há uma média de 1/4 a 1/3 da população des-sas comunidades com renda entre 3 a 6 salários mínimos.

A média de analfabetismo é de 11,8% , a população acima de 10 anos o índice de analfabetismo nas comunidades são de Baixa do Sapateiro – 8,6% Vila Pinheiro -12,8% , morro do Timbau – 3,4% sendo que a de evasão escolar entre 7 e 14 anos está em média de 6,4% sendo que na Vila Pinheiros é de 7,2% segundo senso de 2000.

Quando levantamos o número de escolas oferecidas encontramos nas três comunidades estudadas quatro escolas sendo duas no Mor-ro do Timbau - Escola Municipal Bahia (1935) e CIEP Operário Vicente Mariano(1987), uma na Vila Pinheiro – CIEP Gustavo Capanema(1985) e uma na Baixa do Sapateiro – Escola IV Cen-tenário(1958).

Temos no total da maré um grupo de 16 escolas públicas e 7 crech-es, o ensino médio porém é contemplado com oferta de apenas 3 escolas públicas.

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Nas favelas analisadas, o morro do Timbau é o que possui maior densidade de área construída, e por consequência menor espaço de áreas livres, em contra-partida temos a vila pinheiros como uma das mais amplas em áreas livres, possuindo em seu território não só a área escolhida par a intervenção como também o parque municipal de vila Pinheiros.

O terreno escolhido para intervenção representa 5% do total do com-plexo da maré e aproximadamente 10% do território ocupado pelas favelas que o tem como fronteira, hoje encontra-se subutilizado e atua como um território do medo onde sempre há conflitos entre facções criminosas e a polícia.

O território escolhido porém apresenta uma grande potencialidade , visto ser o ponto de saída do complexo da maré para a linha ama-rela e para a linha vermelha o que permite fácil escoamento para o centro-zona sul, barra da tijuca, por um lado e baixada fluminense e região serrana por outro.

Apesar das vias expressas estarem em contato direto com a maré, sua relação com o complexo é principalmente de barreira, a oferta de transporte público para o complexo é pequena apesar de ter nove linhas de ônibus passando pela linha amarela, sendo porém a maio-ria linha alternativa, e tendo como únicos pontos de ônibus os da linha amarela.

O complexo porém é bem servido de transporte alternativo tendo vans que circulam por dentro do complexo e que seguem para di-versos lugares, entre eles centro e zona sul, ilha do governador e bonsucesso, permitindo assim um melhor deslocamento do morador pela cidade.

ÁREAS LIVRES

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movimento pedestresponto de ônibusacesso as comunidades

áreas de lazer esportivoespaços sub-aproveita-do

alto fluxo de pedestresônibus e vansconexão com a cidademototáxi

área de sombrapouco utilizada por pedestremov veículos

moradias precárias construídas dentro de galpões

movimento pde moradoresáreas de lazer esportivo

APROPRIAÇÃO ESPACIAL

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LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO

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Podemos perceber até o momento que o complexo da Maré é uma região de extrema fragmentação e pouco diálogo físico entre suas co-munidades, em especial nas que circunvizinham o território escolhido, como já fora dito, devido construções históricas das comunidades e relações de poder e violência. Tais fatores sempre foram determinantes para criarem na área em estudo um vazio urbano, um território de não-uso.

A maioria das ações de revitalização de um território com os problemas como os apresentados tende a agir de forma a propiciar para o local uma gama de elementos que o local necessita, como praças parques, áreas esportivas. Apesar de necessários, consideramos que é importante para os dias contemporâneos uma segunda via: pensar em projetos

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que ponham o complexo como produtor social capaz de agregar valor ao município.

A pobreza que é capaz de construir web-rádios e radios comunitárias, que constrói o tv morrinho, que produz a DasPu, que produz samba, funk, artes diversas, que elab-ora seus próprios jornais, seus próprios conhecimentos, não pode mais ser projetada sem que isso seja consid-erado.

Ao mesmo tempo encontramos na comunidade uma ampla demanda de espacialidades e usos diversos des-de praças e parques de lazer a transportes e outros bens para a comunidade. E encontramos também uma forte potencialidade crescente de grupos, organizações e pro-jetos que se constituem por tentar construir a unidade e o diálogo entre as comunidades a partir da cultura e das construções de mídia e de acervos de visibilidade.

O trabalho assim compreende a importância de se con-struir espaços que gerem produção e potencialidade de vida e que possam permitir ao complexo uma formação e exteriorização de bens sociais como cultura, serviços, produtos materiais e imateriais, além da construção de uma subjetividade própria.

Um projeto para um terreno de fronteira como o escolhi-do tem que ser pensado de forma a ser apropriado pelos moradores, pelo desejo dos mesmos e não apenas pela necessidade, devemos pensar nas convergências de usos e na ligação da comunidade com o município em seu caráter economico-social e não apenas físico.

O trabalho relacionado a arquitetura, não deve voltar-se apenas para o povo como o povo é , mas para o povo como o povo pode vir a ser, sendo assim um trabalho bio político na medida em que seu produto é para a vida.

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REFERÊNCIAS PROJETUAIS

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o uso de ma-teriais simples

não impede um projeto de ser esteticamente

significante.

Africa do Sul

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Ruy Ohtake elabora pequenas células que se harmonizam com o entorno sem perder um arrojo estético

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uso de iluminação , criação de um espaço cênico sob o viaduto

urban plaza - milwaukee

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BASE - parque para uso lúdico - PARIS

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escola primária - as salas de aula são trabalhadas de modoa a tornar os pátios uma ex-tensão destas.

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O parque da juventude se divide em três partes, o parque central, o parque esportivo e o parque institucional, além de uma área de preservação permanente.

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O olhar contemporâneo se ajusta a topografia -rolex learning center

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CONCEPÇÃO PROJETUAL

O conceito do projeto consiste em atuar em duas vias, uma primeira via produzir espaços que tragam o sentimento de pertinencia dos moradores do complexo da maré, e uma segunda via que consiste em construir projetos que permitam uma produção de cultura e conhecimento que sejam levadas para além do complexo da maré.

O projeto consiste em reconhecer o terreno de 120.000m² como um sistema onde cada subsistema se conectará com o outro mas terá uma particularidade própria, criamos assim espaços celulares onde em cada sub-terreno aconteceria hegemoni-camente um conjunto de projetos sendo complementados por outros.

Dividindo o terreno em 6 áreas de ação sendo 3 áreas âncora onde se propõe um elemento arquitetônico iconográfico destinadas a produção e exteriorização de con-hecimento da maré para o mundo e que atuariam como os pontos de conexão entre as favelas, e áreas de desenvolvimento de projetos direcionados ao lazer e cultura para a maré, sendo assim divididos em áreas institucionais e comerciais (que se situ-ariam nos projetos âncora) , áreas desportivas, áreas de contemplação e espaços de esquizo usos ou usos lúdicos.

Nos territórios âncora atuariam organizações já reconhecidas, utilizando-se de es-paços tanto para educação quando para produção de trabalhos da comunidade, como gravação de músicas e vídeos, elaboração e produção de livros, revistas, blogs os espaços contariam assim com amplas salas, oficinas, bibliotecas e áreas de comércio em torno de uma praça, os espaços âncora também seriam providos de pontos de transporte urbano ou alternativo devido suas localidades estratégicas de conexão com a cidade.

nos espaços desportivos seriam distribuídos campos de futebol e quadras polies-portivas para uso da comunidade, além de espaços de lazer contemplativos comple-mentares.

As áreas lúdicas seriam marcadas por espaços de caráter mais subjetivos, como monumentos, bibliotecas de pedras (pedras de diferentes texturas e formas espal-hadas por um determinado local) , escolha mais apurada do tipo de vegetação e iluminação na área de frente a avenida Maxwell, e na área sob o viaduto seria um local marcado por iluminação diferenciada, pavimentação e equipamentos urbanos que propiciem um uso noturno para eventos, tendo como apoio áreas desportivas mais voltadas a esportes como o skate, street-basket, ou arte urbana como graffiti street-dance, os espaços também poderiam receber projetos de cineclubismo ou qualquer expressão de arte. A área sob o viaduto seria assim um espaço cultural urbano a céu aberto.

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livros

HARDT, Michael e NEGRI Antonio (2001). Império. Rio de Janeiro: Record.

HARDT, Michael e NEGRI Antonio (2005). Multidão- guerra e democracia na era

do império. Rio de Janeiro: Record.

SANTOS, Milton(2008).A natureza do espaço. São Paulo:edUSP

sites

open architecture network - http://openarchitecturenetwork.org/

viva favela 2.0 - http://www.vivafavela.com.br/

observatório de favelas - http://www.observatoriodefavelas.org.br/

projeto redes - http://www.redesdamare.org.br/

cultura digital e capitalismo cognitivo - http://culturadigitaldopontao.wordpress.

com/

BIBLIOGRAFIA

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