apresentaÇÃo - diaadiaeducacao.pr.gov.br · no brasil, no século xix, apresentadas nos relatos...
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APRESENTAÇÃO
Este material propõe apresentar o resultado da Produção Didático – Pedagógica do Professor PDE 2008. O formato aqui escolhido é o Caderno Pedagógico. Trata-se de um material composto por fragmentos retirados do
livro de John Mawe “Viagens ao Interior do Brasil” (primeira publicação em
1812), sendo este o objeto de estudo do Projeto de Intervenção Pedagógica.
Trata-se de várias experiências vivenciadas pelo viajante inglês
durante suas viagens ao interior do Brasil, no inicio do século XIX, relatadas no
livro mencionado. Os textos estão acompanhados de suas respectivas
atividades, as quais foram elaboradas com a finalidade de levar o aluno da quinta série do ensino fundamental a aprender a história do Brasil dirigindo
sua atenção para as representações construídas pelos sujeitos e para a
simplicidade e riqueza informativa dos relatos que aparecem no documento.
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Aos Professores
Para todos nós professores de História, alcançar a valorização da
disciplina, bem como despertar o interesse dos alunos pelas aulas, tem sido
motivo de questionamentos e reflexões. No entanto, temos nos esbarrado nas
dificuldades que a realidade educacional nos apresenta.
O que ocorre, é que tudo parece perfeito em cada nova concepção do
ensino de História, porém, quando a idéia deixa o papel para se efetivar como
proposta na sala de aula, o processo se torna difícil de executar.
Trabalhamos na perspectiva de que os conteúdos das aulas de
História se apresentem aos alunos de forma interessante. Devemos estimular a
pesquisa e o debate, mostrando ao aluno que a História pode ser vista de
várias perspectivas. Enfim proporcionando o desejo de conhecer. Porém,
muitas vezes somos vistos como fiel depositário, na transmissão de conteúdos,
como se essa transmissão não fizesse parte do papel do professor. Sabemos
que existe engajamento por parte dos educadores em busca da melhoria da
qualidade da educação. Pesquisas estão mostrando que o desinteresse e as
dificuldades de aprendizagem são causadas por vários fatores. O que gera
apatia e desinteresse dos alunos pelas aulas.
Realmente, muitas situações apontam nossas aulas como uma
obrigatoriedade, o que nos impossibilita de trabalhar atrelados ao prazer da
pratica educacional, transformando nossa sala de aula em um lugar de
construção do conhecimento, redimensionando os conteúdos, orientados por
nós professores.
O objetivo deste trabalho, então seria que não esqueçamos nossas
dificuldades e sim que a tomemos como ponto de partida para promover uma
prática pedagógica que nos remeta ao ensino de História voltado à pesquisa,
narrativa histórica e produção do conhecimento.
Este trabalho não tem apenas cunho informativo, mas que ao
conhecer a história brasileira através de leituras e pesquisas, o aluno passe a
acreditar que nossa terra tem memória, considerando que às vezes
valorizamos mais a história geral do que a história do Brasil.
Buscar pela memória não é reviver, mas conhecer e repensar as
experiências do passado (e aprender com elas!).
2
Assim espera-se contribuir para a melhoria das aulas de História para
os alunos da quinta série do ensino fundamental.
O objeto dessa reflexão então é pensar nas manifestações observadas
no Brasil, no século XIX, apresentadas nos relatos das viagens dos
estrangeiros. É compreender a importância do trabalho dos viajantes, onde
contribuíram na época para o progresso de todos os campos em que estiveram
envolvidos, seja nas ciências, na literatura, na arte, no comércio.
Para entender e delimitar mais precisamente os fatos históricos a
serem pesquisados será feito um recorte a ser estudado. Tendo em mente a
riqueza que caracteriza quanto a explorar e interpretar com plenitude toda a
contribuição que privilegiou as experiências apresentadas na bagagem dos
viajantes estrangeiros que estiveram no Brasil no século mencionado.
É neste cenário que buscamos justificar o objetivo desse trabalho:
fazer uma investigação histórica da rica bagagem cultural de um viajante
europeu que esteve no Brasil do Século XIX, construída a partir das
experiências sociais e culturais que com certeza não foram exploradas
profundamente.
Portanto nesta incursão, elegemos os relatos de John Mawe um
mineralogista inglês que aqui permaneceu entre os anos de 1807 a 1811,
viajando pelo interior do Brasil, incorporando os hábitos e a vida da população
brasileira. Seus escritos são ricos nos detalhes que vão exatamente ao
encontro do objetivo desta pesquisa: explorar e valorizar a historia que não foi
enfatizada nos livros e documentos oficiais. Coletar tais relatos se volta para a
recuperação de documentos históricos dessa época.
Mas porque estudar os relatos dos viajantes estrangeiros?
Os detalhes desse cenário colonial brasileiros foram bem explorados e
registrados pelos viajantes europeus, porém nosso aluno (ou mesmo o
educador) não dispõe de muito material sobre esse trabalho, incluindo aqui
também os livros didáticos.
Ninguém melhor do que o próprio viajante para nos seduzir a tomar
conhecimento do cotidiano do Brasil colônia, por isso foi escolhido os relatos de
John Mawe para esse trabalho.
Com certeza existe um terreno bastante extenso para pesquisar,
refletir, discutir e finalmente produzir o conhecimento, haja vista que esse
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processo continuaria aberto a novas abordagens e passamos a compreender
as ações e as relações humanas no tempo, a partir da investigação histórica.
Assim espera-se contribuir com a melhoria das aulas de História para
os alunos da quinta série do ensino fundamental.
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SÚMARIO
APRESENTAÇÃO 1
AOS PROFESSORES 2
OBJETIVOS 7
TEXTO 1: O BRASIL COLÔNIA 9
TEXTO 2: OS VIAJANTES 10
2.1 Batendo um papo 10
2.2 Vamos investigar? 11
2.3 Vamos imaginar e fazer uma produção de texto 11
TEXTO 3: UM VIAJANTE INGLÊS 12
3.1 Interpretação do texto 13
TEXTO 4: AS PRIMEIRAS VIAGENS 14
4.1 Trabalho com o texto 14
TEXTO 5: A CARTA 15
5.1 Para responder 15
5.2 Para aprender mais 16
5.3 Lembrete 17
TEXTO 6: A CIDADE DE SÃO PAULO 18
6.1 Vamos produzir? 18
6.2 Atividades de interpretação 19
TEXTO 7: A FAZENDA DO PRÍNCIPE 20
7.1 Atividade de interpretação 22
7.2 Vamos investigar? 22
TEXTO 8: JOHN MAWE CHEGA A UMA MINA DE DIAMANTES 23
8.1 Vamos pesquisar? 24
8.2 Atividade para desenhar 24
TEXTO 9: LIMÃO DE CHEIRO 25
9.1 Atividade de interpretação 26
TEXTO 10: LEITURA COMPLEMENTAR 26
10.1 A Mulheres de Mantilha 27
TEXTO 11: COMO SE VESTIAM AS PESSOAS 31
11.1 Atividade de interpretação 32
TEXTO 12: OS INDIOS DE CANTAGALO 33
5
12.1 Atividade de interpretação 34
12.2 Vamos pesquisar? 35
TEXTO 13: LEITURA COMPLEMENTAR 35
13.1 A LENDA DO ARCO E FLECHA 35
TEXTO 14: A CANA DE AÇUCAR 39
14.1 Atividade de interpretação 40
TEXTO 15: VARIEDADES 42
15.1 SOBRE A VIDA RELIGIOSA DOS ESCRAVOS NEGROS 42
15.2 FABRICAÇÃO DA CERVEJA 42
15.3 UM INVENTO INTERESSANTE 43
15.4 SOBRE A EDUCAÇÃO DA MULHER NO BRASIL 43
15.5 O COMÉRCIO DOS INGLESES NO BRASIL 44
15.6 OS DIAMANTES BRASILEIROS ENVIADOS PARA A EUROPA 44
15.7 ESPERANÇA NO BRASIL 44
15.8 O PARANÁ 45
15.9 ALIMENTAÇÃO EM SÃO PAULO 45
15.10 VOLTA AO RIO DE JANEIRO 45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 47
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OBJETIVOS
Segundo as Diretrizes Curriculares para o Ensino de História do Estado
do Paraná, podemos ler nesse documento:
Narrar a História é compreender o outro no tempo. A
narrativa histórica constrói-se por argumentos
fundamentados em documentos. Para os alunos esta
narrativa precisa ser plausível. Para isso ele precisa
propor um dialogo entre as suas idéias históricas com os
presentes nas narrativas dos historiadores, sendo assim
percebe-se que a natureza da Historia é interpretativa.
Diante disto, os alunos devem conhecer a interpretação
dos outros pela narrativa histórica desses sujeitos. As
narrativas dos estudantes são constituídas pelas
temporalidades e intencionalidade especifica deles, a
partir do dialogo com as narrativas dos historiadores.
(DCEs, 2008, p.22)
GERAL
A atuação dos viajantes estrangeiros que vieram para o Brasil no
século XIX, é pouco citada pela historiografia, principalmente nos livros
didáticos. Diante disso, o aluno passará a conhecer essa participação dentro
da sociedade brasileira do século XIX, mediante a importância da sua
participação num período de grandes mudanças, com a chegada da família real
portuguesa no Brasil.
Neste trabalho será feita uma análise e uma interpretação das
linguagens produzidas em seus relatos, relacionando com o cotidiano da
população do Brasil desta época. De acordo com o material apresentado
(relatos de John Mawe), procurar-se-á descobrir a riqueza que compunha os
cenários vivenciados pelo viajante inglês em suas passagens pelo interior do
Brasil. Diante da investigação histórica, viabilizar-se-á uma interpretação dessa
leitura, procurando despertar o interesse pela História, restaurando e
valorizando o Brasil no seu contexto histórico.
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ESPECÍFICOS
- Pesquisar acontecimentos que estimulem a compreensão da História
através da leitura.
- Despertar o prazer pela leitura de textos inéditos como fonte de
conhecimentos e informações.
- Ter o contato com material inovador, comparado ao livro didático,
buscando o enriquecimento do conteúdo.
- Descobrir através dos relatos pesquisados situações extraordinárias
da História do Brasil.
- Conhecer a coleta e o registro de dados partindo dos relatos dos
próprios viajantes.
- Compreender o espaço brasileiro na sua construção enquanto
colônia, á partir dos relatos estudados.
- Interessar-se pela investigação histórica, a fim de produzir seus
conhecimentos.
- Sistematizar seus conhecimentos baseado na experiência real e
concreta do testemunho do próprio sujeito histórico.
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TEXTO 1: O BRASIL COLÔNIA
Você já sabe que foram os portugueses que chegaram ao nosso
território em abril de 1500 e por isso tomaram posse de nossas terras.
Portanto, isso aconteceu já faz muito tempo!
Durante todo esse tempo muitas coisas aconteceram e para sabermos
sobre tudo isso precisamos ler e pesquisar sobre a história do Brasil. Por mais
de trezentos anos os portugueses dominaram o Brasil no tempo em que ficou
conhecido como “período colonial”.
Nós iremos pesquisar, através de leituras, sobre os acontecimentos do
século XIX, ou seja, a História do Brasil após o ano de 1800 e às vésperas da
Independência acontecida em 07 de setembro de 1822.
Portanto, quem mandava no Brasil nessa época era Portugal. Foi
quando em 1808, com a invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão
Bonaparte, a família real portuguesa veio morar na sua colônia americana, ou
seja, aqui nas terras brasileiras.
Com a chegada de D. João, Príncipe Regente de Portugal, e sua
família no Rio de Janeiro, muita coisa mudou por aqui. Durante o tempo em
que D. João viveu no Brasil, ele tomou muitas medidas que transformaram a
vida dos brasileiros. E uma delas foi permitir que outros europeus, além dos
próprios portugueses, pudessem conhecer e explorar o Brasil.
Para os europeus do século XIX, sair de seu país de origem e arriscar-
se numa viagem á América significava mergulhar numa aventura que quase
sempre significava a ambição de alcançar uma riqueza rápida.
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TEXTO 2: OS VIAJANTES
Os viajantes que visitaram o Brasil no século XIX tinham diversos
interesses, e todos eles registraram suas passagens por aqui.
Uns desenhavam o que viam, outros colecionavam coisas, escreviam
diários, crônicas, colecionavam catálogos. E teve até quem escreveu livros
contando tudo o que observava durante suas viagens pelo Brasil.
Esses relatos, centenas deles, foram publicados em varias línguas e
muitas vezes em mais de uma edição, causando grande interesse na
população européia, que via ali um meio de saber mais sobre o Novo Mundo.
Todos os escritos que deram origem ao composto de obras desses
estrangeiros passaram a ser chamados de “literatura de viagem”. Ao abordar
as situações vividas em suas viagens, transformando-as em literatura,
trouxeram ao nosso tempo conhecimentos importantes sobre a história do
Brasil. Assim abriu-se uma alternativa de obter informações fundamentais
desse tempo e espaço.
BATENDO UM PAPO- Você gosta de viajar?
- Qual o lugar que mais gostaria de conhecer?
- Qual a viagem mais interessante que você já fez?
- Você costuma trazer coisas das viagens que faz?
- Em sua opinião, podemos aprender viajando?
- Você algum dia fez anotações sobre alguma viagem que fez?
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VAMOS INVESTIGAR?
1- Pesquise sobre alguns viajantes europeus que estiveram no Brasil
no século XIX e anote seus nomes. Escreva de que forma cada um deles
fazia seus registros, enquanto viajava pelo Brasil. Para isso você pode
observar fotos e ler relatos.
Sugestão para pesquisa na internet:
www.fundaj.gov.br - procure por pesquisa escolar
1- VAMOS IMAGINAR E FAZER UMA PRODUÇÃO DE TEXTO:Volte no tempo e encontre um dos viajantes que pesquisou. Você irá
entrevistá-lo. Para isso formule algumas perguntas que gostaria de saber a
respeito da viagem que ele fez. Lembre-se que neste faz-de-conta,
você mesmo irá responder e para isso terá que retomar as leituras sobre o
viajante que escolheu na atividade anterior, para aproximar as suas respostas
da realidade. Mas vale imaginar para enriquecer seu trabalho. Uma segunda
idéia é trocar sua entrevista com algum colega para que ele responda suas
perguntas e você fará o mesmo com o trabalho dele.
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TEXTO 3: UM VIAJANTE INGLÊS
Como você já sabe, no século XIX, ou seja, á partir do ano de 1800, o
Brasil passou a receber muito europeus que passaram a ser chamados de
“viajantes”. Através de sua pesquisa pessoal, já conheceu alguns deles na
atividade anterior.
Como são muitos, nós iremos escolher um deles para conhecer melhor
e falar do seu trabalho.
Ele irá se apresentar á você:
Olá! Meu nome é John Mawe. Sou inglês e
viajei pelo
Brasil conhecendo sua terra, sua gente,
seus costumes...
Isso faz muito tempo! Mas eu gostei tanto
que até escrevi um livro relatando tudo que
presenciei. Ainda bem que tive essa idéia,
caso contrário você não poderia saber de
tudo que vou te contar!
Isso mesmo, John Mawe, como muitos, foi um viajante estrangeiro que
esteve no Brasil entre os anos de 1807 e 1811. Ele veio da Inglaterra com a
intenção de conhecer nossa terra e certamente em busca de riquezas.
Ele era um mineralogista, ou seja, gostava de pesquisar e estudar os
minerais. Inclusive aqui no Brasil, onde conheceu as jazidas de diamantes de
Minas gerais.
Mawe foi considerado o primeiro viajante repórter que esteve por aqui.
Enquanto viajava ele anotava tudo e seus escritos deram origem a um livro
chamado “Viagens ao Interior do Brasil”, que foi publicado em 1812.
Através da obra de John Mawe podemos conhecer muito da História
do Brasil.
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INTERPRETAÇÃO DO TEXTO
1- Explique com suas palavras o que você entende por “viajante
estrangeiro”?
2- Com poucas palavras quem foi John Mawe?
3- Qual a profissão de Mawe?
4- Porque Mawe foi chamado de viajante repórter?
5- Qual a importância do livro de John Mawe?
6- Você sabe a nacionalidade de Mawe. No mapa abaixo ( mapa-
mundi) pinte de azul o continente onde Mawe nasceu e de vermelho o
nosso país.
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TEXTO 4: AS PRIMEIRAS VIAGENS
Enquanto vivia na Inglaterra, nosso viajante John Mawe, já gostava
muito de conhecer o mundo. Ele nasceu numa cidade chamada Derbyshire no
ano de 1764 e passou quinze anos realizando viagens marítimas.
Como era mineralogista, vivia percorrendo as minas de seu país para
estudar e colecionar minerais.
Em 1804 partiu para a América e ficou algum tempo nos países do sul
do nosso continente.
Em 1807, chegou ao Brasil, passando alguns dias em Santa Catarina,
passando pelo Paraná e São Paulo.
Chegou ao Rio de Janeiro e encontrou-se com D. João, o príncipe
português que estava residindo no Brasil.
Ele conseguiu uma permissão para visitar as minas de diamantes de
Minas gerais.
O estudo que fez sobre os minérios rendeu a publicação de muitos
trabalhos sobre o assunto em vários idiomas.
Em 1811, ele voltou para Londres, capital da Inglaterra e abriu uma
loja com suas coleções de pedras preciosas e outros minérios que conseguiu
recolher ao longo de suas viagens.
John Mawe morreu em 1829.
TRABALHO COM O TEXTO
Construa uma linha do tempo com todos os acontecimentos da vida de
Mawe a partir do ano de seu nascimento.
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TEXTO 5: A CARTA
Para leitura e interpretação da carta que John Mawe escreveu ao
Príncipe D. João, o professor deverá trabalhar bem o vocabulário. Para isso,
uma sugestão é dividir a turma em pequenos grupos e distribuir trechos da
carta para que cada grupo trabalhe com o dicionário. Após, cada grupo deverá
apresentar sua interpretação ao grande grupo. Cabe ao professor, fazer a
ligação entre as falas para a carta não perder o sentido.
Vejamos aqui a carta que John Mawe escreveu a D. João com a
intenção de obter permissão para publicar seus relatos, publicada em seu livro:
A
Sua Alteza Realização
O Príncipe Regente de Portugal
Príncipe do Brasil
SENHOR,
Com a sanção de Vossa Alteza Real, realizei viagens pelos domínios
do Brasil, é delas é a narrativa que se segue: obedecendo á ordem que Vossa
Alteza se dignou dar-me, quando parti do Rio de Janeiro, submeto-a a gora, ao
Público.
Com imparcialidade, e livre de qualquer preconceito, tentei fazer um
relato claro e fiel do que vi. Ao descrever as condições atuais da mineração e
da agricultura nos seus domínios, tomei a liberdade de sugerir alguns
melhoramentos, que, na minha modesta opinião, contribuiria para aumentar a
rendo de Vossa Alteza real e multiplicar os recursos do país. Estes foram os
pontos principais em que baseei minha esperança de que o trabalho, apesar de
suas imperfeições, fosse julgado digno de ser patrocinado por um Príncipe,
cuja felicidade consiste em assegurar a de seus súditos.
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Aproveito a ocasião para manifestar meu profundo pesar pelo
falecimento do excelente membro do gabinete de Vossa Alteza real, o Conde
de Linhares, cuja bondade e gentileza de espírito encorajaram.
Com zelo que só verdadeiro patriotismo sabe inspirar, todo o
empreendimento destinado a beneficiar o público. Presumo que, se ainda
vivesse, receberia essas páginas com aquela bondade e camaradagem parcial
que sempre caracterizaram sua conduta para comigo. Privado do amparo
desse nobre cavalheiro,
Apresento-me desprotegido, perante Vossa Alteza Real, a cuja
proteção submeto este trabalho, como testemunho de alto respeito com que
tenho a honra de ser, de Vossa Alteza Real.
O servo grato e mais humilde.
JOHN MAWE
Para responder:1- Quem escreveu a carta acima?
2- A quem ela está endereçada?
3- Qual o objetivo de quem escreveu a carta?
4- Com a sanção de Vossa Alteza Real, realizei viagens pelos
domínios do Brasil, é delas é a narrativa que se segue. Interprete esse trecho
da carta.
PARA APRENDER MAIS...
Existem alguns valores de medidas que parecem nos textos e que não
mais costumamos usar atualmente. Para entendê-los, leia as explicações
abaixo:
Milhas: A primeira vez que o termo "milha" foi usado para denotar
distância foi na Roma antiga, onde valia 1 000 passos ou 5 000 pés romanos.
Em unidades modernas, essa medida equivaleria a 1 480 metros.
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Jardas: é um múltiplo da milha, ou seja, uma milha equivale a 1760
jardas.
Polegadas: A polegada tem sua origem na medida realizada com o
próprio polegar humano, não todo ele, mas a distância entre a dobra do polegar
e a ponta. Uma medida rápida do polegar de um ser humano adulto fornece
aproximadamente 2,5 cm de comprimento para esta distância.
Libra: uma libra = 453,59237 gramas
Quilates: Quando é usado para pedras preciosas, como o diamante,
um quilate representa um peso igual a duzentos miligramas. Aplicado ao
ouro, entretanto, o quilate é uma medida de pureza do metal, e não de peso.
Um quilate de ouro é o total de seu peso dividido por 24.
LEMBRETE:
A partir do texto 6 passaremos a ler e trabalhar trechos do livro “
VIAGENS AO INTERIOR DO BRASIL” DE JOHN MAWE
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TEXTO 6: A CIDADE DE SÃO PAULO
[...] Raramente estrangeiros visitam a cidade. As passagens que lhe
dão acesso, partindo-se da costa, estão situadas em posições tão estratégicas
que se torna quase impossível evitar os guardas nela estacionados,
encarregados de vigiar todos os viajantes e as mercadorias, que se dirigem
para o interior. Soldado de categoria mais baixa tem direito de inspecionar
todos os estrangeiros que se apresentam de detê-los, assim como os seus
bens se não possuírem passaportes. Eu e meus amigos, no percurso até aqui,
fomos obrigados a apresentar três vezes a licença, concedida pelo governador
de Santos, como já me referi. A nossa presença em São Paulo excitou de
maneira indescritível a curiosidade do povo, que parecia nunca ter visto
ingleses, até então; as próprias crianças demonstravam seu espanto, algumas
fugindo, outras contando os nossos dedos, constatando admiradas, termos o
mesmo número que elas. Muito bom cidadão convidou-nos a ir as suas casas e
mandaram chamar os amigos para que nos viessem ver.
Como a casa que ocupáramos era muito grande, vimo-nos
frequentemente cercados por uma multidão de jovens de ambos os sexos, que
vinham até a porta para ver como comíamos e bebíamos. Sentimos-nos gratos
ao verificar que esta admiração geral converteu-se num sentimento mais
sociável; encontramos bom acolhimento em toda parte e fomos convidados
várias vezes, para jantar com os habitantes. Nas festas publicas e nos bailes
do governador encontramos novidade e prazer; novidade porque fomos muito
melhor recebidos do que nas colônias espanholas, e prazer, por estamos num
meio mais requintado e cortês [...].
VAMOS PRODUZIR?
Após a leitura do texto, imagine que John Mawe escreveu uma carta
para seus parentes que ficaram na Inglaterra contando como foi sua chegada
em São Paulo. O que você acha que ele escreveu nesta carta?
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ATIVIDADES
1-Assinale a resposta correta:
Segundo o texto 6, os viajantes estrangeiros sentiam dificuldades em
visitar:
( ) O Brasil ( ) a cidade de Santos ( ) a cidade de São Paulo
O que acontecia quando um estrangeiro chegava:
( ) Todos iam presos ( ) Eles perdiam suas mercadorias ( ) Era
exigido um passaporte
2- Que você entende por “passaporte”? Qual a diferença entre o
passaporte mencionado no texto e os atuais?
3- Mawe era visto pela população com:
( ) raiva ( ) desprezo ( ) curiosidade
4- Transcreva uma cena contada no texto que comprove a sua
resposta para a questão anterior.
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TEXTO 7: A FAZENDA DO PRÍNCIPE
Ao chegar ao Rio de Janeiro, então capital do Brasil, John Mawe ali
permaneceu por algumas semanas e depois ele foi convidado a conhecer a
fazenda de D. João. Leia o relato sobre essa viagem:
[...] Depois de cavalgarmos cinqüenta milhas, chegamos à fazenda,
cerca de seis horas mais tarde, muito fatigados. As acomodações que
encontramos justificam plenamente o interesse do ministro de Sua Alteza Real,
inquirindo sobre o estado de seus domínios. Tendo apresentado minhas
credenciais, fui forçado a esperar até as dez horas, sem que oferecessem um
refrigério, nem mesmo uma xícara de café: o único prato que nos serviram foi
um prato de carne semicrua, certamente a pior que provei no Brasil. O mulato
que nos atendeu se comprometeu a aprontar o almoço para as sete horas da
manhã; ficamos prontos à hora estipulada e, embora assegurasse que nos
serviria imediatamente, esperamos três horas e, quando já pediram os cavalos
para voltar ao Rio, a fim de evitar que morrêssemos de fome, anunciaram a
refeição, com a desculpa que não a tiraram mais cedo por falta de leite.
Passei então revista ao estabelecimento e percorri as terras. A casa,
segundo me informaram,fora convento de jesuítas, donos também de terras
que a circundavam, das quais cuidaram melhor que seus sucessores, se
pudéssemos julgar pelos remanescentes de seus empreendimentos. O edifício
não é grande nem imponente; construído em forma quadrangular, com um
pátio aberto no centro e galerias no interior, para o primeiro e segundo
andares. Os alojamentos são em numero de trinta e seis, muito pequenos,
tendo sido adaptados para o uso da comunidade e, desde que os jesuítas
partiram, foram ligeiramente alterados e decorados para receber a família real,
como residência de verão. Em frente à casa, em direção ao sul, estende-se
uma das mais belas planícies do mundo, de duas léguas quadradas, regadas
por dois rios navegáveis por pequenas embarcações, e limitadas por um belo e
altivo cenário rochoso, embelezado em vários pontos por arvores nobres da
floresta. Esta planície está coberta pelo mais rico pasto, que sustenta de sete a
oito mil cabeças de gado. A parte baixa que é considerável apresenta-se
entrecortada de pântanos, que podem ser drenados facilmente e tornarem-se
cultiváveis. O parque abrange em toda a sua extensão, área superior a cem
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milhas quadradas, território quase tão grande quanto o de alguns recentes
principados italianos, e capazes em virtude de sua fácil comunicação com a
capital, tanto por via terrestre quanto fluvial, de transformar-se numa das mais
produtoras e populosas do Brasil. Com o atual sistema, encontra-se em estado
progressivo de decomposição; dois pequenos trechos, os melhores da terra,
um com cerca de meia légua quadrada e outro com mais de uma, já foram
vendidos por meio de falsos expedientes. E o restante pode, em pouco tempo,
ser sacrificado a homens cujo cupidez incita-os a depreciar o seu valor, a
menos que se empreguem as medidas adequadas a frustrar os seus maus
intuitos. [...] Uma reforma no estabelecimento poderia ter sido realizada
facilmente, mas agora será muito difícil, pois os abusos foram tacitamente
sanciona dos pela indiferença daqueles cujo dever e interesse era corrigi-los.
Nesta estação de magníficos terrenos vê-se raramente um cercado; as terras
cultivadas estão cheias de mato, e às plantações de café assemelham – se a
um matagal, onde os arbustos silvestres cobrem as lavouras. O gado este
deploravelmente abandonado, e não se encontra, em arredores, sequer um
cavalo digno de ser montado pelo mais miserável mendigo. Tal era o estado
em que encontrei este rico e vasto distrito, que parece ter sido destinado pela
natureza à introdução de melhoramento que poderiam determinar, pela
influencia de um exemplo elevado, modificação completa no sistema agrícola
do Brasil.
Pouco tempo depois de me instalar em Santa Cruz, o Príncipe
apareceu. No dia imediato, à sua chegada, honrou – me com uma visita, depois
da qual sai varias vezes com Sua Alteza Real. Um dia, deu – me a honra de
manifestar o desejo de que me encarregasse da administração da fazenda;
pedi licença para declinar desta proposta, alegando a impossibilidade de
conciliar tal emprego com meus outros interesses, lembrando ao mesmo tempo
o serviço superior que podia prestar trabalhando na mina de ferro. Não
obstante isto, o Príncipe, no dia seguinte, entregou – me um papel, contendo
uma proposta para superintender toda fazenda e estabelecendo as condições.
A insistência na oferta não me embaraçou pouco; tinha consciência de que,
recusando – a, me privaria de qualquer favor futuro; ainda assim, compreendi a
dificuldade de aceita – lá de qualquer uma da formas [...].
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ATIVIDADES
1- O que as pessoas que moravam na fazenda ofereceram a Mawe
e seu companheiro para comer?
2- O que você achou mais estranho nesta parte do relato?
3- Em poucas palavras, descreva a casa da fazenda.
4- O que Mawe admirou e achou muito bonito por lá?
5- Qual a idéia que nosso viajante teve para melhorar uma parte das
terras e poder usá-la para a agricultura?
6- Descubra no texto o nome do lugar onde se localizava a
fazenda? Era muito longe do Rio de Janeiro?
7- Ao sair para visitar a fazenda de D. João, com certeza Mawe deve
ter levado uma mochila. O que acha que não deve ter faltado na bagagem
dele?
VAMOS INVESTIGAR?
Faça uma pesquisa para saber quais as atividades econômicas
praticadas nas fazendas do Brasil na primeira metade do século XIX.
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TEXTO 8: JOHN MAWE CHEGA A UMA MINA DE DIAMANTES
[...] Acima do montão de cascalho, são colocados, a distâncias iguais,
assentos elevados para os oficiais inspetores. Quando estes estão sentados,
os negros entram nos compartimentos: cada um traz uma enxada de forma
especial e cabo curto, com a qual faz cair no compartimento cinqüenta a oitenta
libras de cascalho, introduzindo nele, depois, a água. Agita, então, e remexe
constantemente o cascalho, lançando-o sem cessar para o alto do
compartimento. Esta operação dura cerca de um quarto de hora, depois do que
a água, caída no conduto inferior, começa a clarear. Tiradas todas as partículas
de terra, o saibro é levado para a extremidade superior do compartimento; e
quando a água está inteiramente clara, põe fora a principio os maiores pedaços
de pedra, depois os menores, e examinam o resto com muita atenção para
descobrir os diamantes. O negro que encontra um, endireita-se, bate com as
mãos, abre-as, conservando a pedra entre o index e o polegar e o inspetor a
recebe e a deposita em uma gamela ou tigela semi-cheia de água e suspensa
no meio do barracão. Colocam-se naquele vaso todos os diamantes
encontrados no correr do dia. À noite levam a gamela e entregam-na ao oficial
principal, que depois de pesar as pedras, as inscreve, em detalhe, num registro
destinado a esse fim.
Quando um negro tem a felicidade de encontrar um diamante que
pese uma oitava (17 quilates e meio), cingem-lhe a cabeça com uma grinalda
de flores e levam-no em procissão ao administrador, que lhe dá a liberdade e
uma indenização ao seu senhor. Ganha também roupas novas e obtém
permissão para trabalhar por conta própria; o que encontra uma pedra de oito a
dez quilates, recebe duas camisas novas, um terno novo completo, um chapéu
e uma bela faca. Concedem prêmios proporcionais aos descobridores de
pequenos diamantes de pouco valor [...].
23
VAMOS PESQUISAR
Leia os textos abaixo:
Um diamante descoberto no Brasil, que recentemente adquiriu
notoriedade, é o denominado Moussaieff Vermelho, um dos 4 únicos desta cor
sem qualquer tom modificador, cuja existência é pública. Até 1997, ele possuía
mais que o dobro do peso de qualquer outro diamante vermelho lapidado.
A África responde por três quartos da produção mundial de diamantes
e é um campo de batalha para ativistas que procuram acabar com o mau uso
da receita obtida com os diamantes
Faça uma pesquisa respondendo as perguntas abaixo e depois
complete os textos acima, complementando com o que você aprendeu.
Para que servem os diamantes?
Como são os diamantes brasileiros?
ATIVIDADE PARA DESENHAR
Vamos transformar o texto em uma história em quadrinhos. O primeiro
passo é ler cada trecho, separando as cenas que irão ilustrar cada quadro.
Depois comece a desenhar e não se preocupe se você é ou não um bom
desenhista, porque o mais importante é que as cenas sejam bem
representadas. Você poderá usar balões para as falas.
24
TEXTO 9: LIMÃO DE CHEIRO
[...] Devo observar aqui que, quer em São Paulo, quer nos outros
lugares por mim visitados, não presenciei nenhuma leviandade nas mulheres
do Brasil, apresentadas por alguns escritores como sendo o traço
predominante do seu caráter.Atribuo o costume, que se diz reinar entre elas, de
atirar flores das sacadas sobre os transeuntes, de acordo com o seu capricho,
ou presentear com uma flor ou ramalhete os seus favoritos, como prova de
deferência. A circunstancia parece ter dado origem a tal conjetura, tal mal
fundada, é a seguinte: aqui se consideram flores parte integrante dos adornos
femininos, para o cabelo, e quando se apresenta um estrangeiro a uma
senhora, não passa de ato comum de cortesia desprender uma flor do cabelo e
oferece-la. A este elegante cumprimento, deve-se retribuir, durante a visita,
escolhendo uma flor entre a profusa variedade que adorna o jardim, ou a
sacada, e oferecê-la.
Costume singular, não devo omitir, é o de atirar frutas artificiais, tais
como limões e laranjas, feitas de cera, com grande habilidade e cheias de água
de cheiro. Nos primeiros dias da quaresma, comemorados com grandes
festividades, pessoas de ambos os sexos divertem-se jogando, uma sobre as
outras, essas bolas; senhoras, em geral, começam o brinquedo, os cavalheiros
revidam com tanta animação, que raramente param antes de trocarem dúzias,
e ambas as partes ficam tão molhadas como se estivessem sido pescadas de
um rio. Nestes dias de carnaval, os habitantes percorrem as ruas mascarados,
e a brincadeira de atirar frutas é praticada por pessoas de todas as idades.
Considera-se de grande impropriedade um cavalheiro atira-las sobre outro. A
fabricação destes projeteis, estes períodos, proporciona trabalho considerável
a determinadas classes; informaram-me de que na capital do Brasil muitas
centenas de pessoas ganham a vida, temporariamente, vendendo-as. O
costume (posso garantir) é muito desagradável aos estrangeiros, e não raro
provoca brigas, de conseqüências graves [...].
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ATIVIDADES
1- Observe esta foto:
Escreva uma frase que esta ilustração traga a sua mente, pensando
nos viajantes estrangeiros.
2- Construa três frases verdadeiras sobre o conteúdo do texto.
3- Interprete o significado da frase:
“Considera-se de grande impropriedade um cavalheiro atira-las
sobre outro”
4- Reescreva o texto substituindo as palavras grifadas por um outro
significado:
“Atribuo o costume, que se diz reinar entre elas, de atirar flores das
sacadas sobre os transeuntes, de acordo com o seu capricho, ou presentear
com uma flor ou ramalhete os seus favoritos, como prova de deferência”.
5- O costume de atirar frutos de cera sobre as pessoas era bastante
comum naquela época. Qual a importância dessa festa sobre a economia do
Rio de Janeiro?
TEXTO 10: LEITURA COMPLEMENTARO texto abaixo fala um pouco mais sobre os “limões de cheiro”.
Chamavam de “limões de cheiro”, mas na verdade usava mais frutas como
formato. Eram fabricadas nas casas com cera e recheadas com água
perfumada para serem usadas principalmente na segunda-feira do carnaval.
Até os escravos se dedicavam a esta tarefa. Leia este trecho do livro de
Joaquim Manuel de Macedo que fala sobre este costume.
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AS MULHERES DE MANTILHA (CAPÍTULO XVIII)
Os dois lírios penderam suavemente para as caixas de laranjinhas que
acabavam de abrir.
Brilhavam nos olhos a flama, e nos lábios o sorriso da alegria de Irene
e Inês.
Eram limões-de-cheiro brancos, verdes, rubros, amarelos, de todas as
cores e nuanças possíveis...
— Tão bonitos, diz Irene; que faremos deles?...
Inês fez um momo e respondeu:
— Tu me molharás e eu te molharei... eis aí tudo.
A nobre mãe das duas meninas tinha parado junto delas e as
contemplava e ouvia risonha.
Irene tornou:
— Se pudéssemos molhar mais alguém...
— Nhanhã, disse Inês, meu padrinho me deu licença para molhar a
todos. E se não fosse meu pai, eu era capaz...
— De quê?...
— De molhar, de quebrar limões em meu padrinho que deu licença
para isso...
A senhora Inês não se pôde vencer, riu-se da idéia da filha e de modo
que as meninas se voltaram para ela.
— Mamãe ouviu?
— Ouvi, sim.
— E que diz?
— Vão molhar o compadre: cada uma leve dois limões, cheguem-se a
ele sem mostrar os limões, e não tenham medo.
— E meu pai?... perguntou Irene, enquanto Inês se armava, não com
dois, mas com quatro limões em suas mãos pequeninas.
As duas meninas animadas pela mãe, palpitantes de emoção,
dirigiram-se à sala, escondendo, como puderam, os limões-de-cheiro que
levavam, e se aproximaram de Antônio.
Era exatamente no momento em que, armadas as pedras, os dois
amigos lançavam os dados.
27
— Vou dar-te um gamão cantado! exclamara o padrinho de Inês.
Mas de súbito soltou um grito: as meninas tinham-lhe quebrado os
limões-de-cheiro no peito.
Em vez de ralhar Jerônimo desatou a rir.
— Ah, brejeirinhas! exclamou Antônio, levantando-se e largando o
tabuleiro do gamão nos joelhos do parceiro.
E correndo a um moringue d’água, que vira sobre a mesa, tomou-o,
mas em vez de vingar-se das meninas, foi despejá-lo na cabeça de Jerônimo
que ainda se ria.
Jerônimo deixou cair o tabuleiro do gamão, e levantando-se para o
interior da casa, voltou com um prato d’água que atirou sobre Antônio.
As meninas tornaram com outros limões e também a senhora Inês que
os quebrou no marido e no compadre; vendedores de limões-de-cheiro da casa
onde os portadores de Irene e Inês os tinham ido comprar, prevendo o
costumado fervor que sucedia sempre ao começo do jogo, apareceram no
terreiro, trazendo tabuleiros disfarçados em caixas fechadas; Antônio e
Jerônimo compraram todos estes, e a luta se tornou mais vigorosa e animada
com a abundância e igualdade das armas, embora houvesse desproporção
entre os combatentes; porque toda a família Lírio acabava de fazer colisão
contra Antônio.
De repente e ao grande ruído que se fazia, apareceu correndo agitada
e temerosa a mulher de mantilha, já porém sem mantilha, e deixando ver em si
uma bela moça vestida com simplicidade.
A chegada imprevista da jovem fez hesitar por instantes os com
batentes; as duas meninas ficaram surpreendidas; Jerônimo contrariado; mas a
senhora Inês pronunciava-lhe breves palavras ao ouvido, quando também
Antônio exclamava à bela moça:
— São quatro contra um! Venha em meu socorro, menina!...
A moça confusa e trêmula não ousava avançar um passo; Jerônimo
porém que ouvira o bom conselho, provocou-a, arrojando-lhe limões, no que foi
imitado pela mulher e pelas filhas; então ela, risonha e com vivacidade pronta,
voou para o lado de Antônio, e tomou parte na ação, excedendo a todos na
viveza do ataque e na certeza das pontarias.
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No fim de uma hora de amigas provocações, risadas, gritos e alegria,
que novos tabuleiros de limões, acudindo à mina explorada, alimentaram, o
combate cessou por falta de munições e pela fadiga dos combatentes que
todos se acharam molhados da cabeça aos pés, assim como estava sala toda
inundada.
Jerônimo atirou-se em uma cadeira, dizendo:
— Eis aí o que fizeram aquelas duas doidinhas impelidas por um velho
criança!
— Cala-te aí, rabugento! Comadre, mande-nos vir aguardente e Parati,
disse Antônio.
— E basta de entrudo, ouviram? tornou o outro, falando a Irene e Inês;
vão mudar de roupa. Quanto à senhora... à senhora... esqueceu-me o seu
nome...
A moça respondeu, abaixando os olhos:
— Isidora.
— Peço-lhe perdão, menina Isidora; pois fui o primeiro a desafiá-la a
este jogo maldito; ande, vá mudar de vestidos e tranqüilize-se que ninguém
mais se lembrará de entrudo nesta casa.
A senhora Inês e suas filhas entraram para o interior da casa, e Isidora
recolheu-se ao gabinete que lhe haviam destinado.
Cada um dos dois velhos bebeu um cálice aguardente e foram ambos
tomar outras roupas, ao mesmo tempo que alguns escravos varriam e
enxugavam a sala.
Meia hora depois aqueles bons amigos achavam-se de novo em frente
um do outro, rindo-se das inocentes proezas que acabavam de fazer tão contra
os seus hábitos e disposições, e como um pouco envergonhados ambos, não
disseram palavra sobre o entrudo.
— Jerônimo, disse Antônio: estou com vontade de ensaiar uma
experiência...
— Qual?
— Quisera ver, se ainda haveria hoje pessoa ou fato que nos
impedisse de jogar o gamão...
— Pois experimentemos.
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E, tomando o tabuleiro, sentaram-se e armaram as pedras; mas
imediatamente a senhora Inês entrou na sala, e disse:
— Compadre, o nosso feijão está na mesa.
E foi à porta do gabinete chamar Isidora.
— Antônio, observou Jerônimo, sopa fria não presta.
— Hás de ver que nem à tarde conseguiremos jogar o gamão,
respondeu Antônio, deixando o tabuleiro sobre as duas cadeiras.
30
TEXTO 11: COMO SE VESTIAM AS PESSOAS[...] Os vestidos de sair das senhoras, principalmente nas igrejas, eram
de seda preta, com um longo xale da mesma fazenda, e guarnecida com renda
larga; na estação mais fria, vestiam casimira preta ou lã. Usavam quase
sempre o mesmo xale nas ruas, embora seja parcialmente substituída por um
casaco comprido, de lã grossa, enfeitado com veludo, renda dourada, fustão ou
pelúcia, conforme os recursos do possuidor. Este abrigo é usado como uma
espécie de casaco em casa, nos passeios a noite, em viagens, e as senhoras
sempre que o vestem, usam chapéus redondos. O ser paulista é considerado
aqui, por todas as senhoras, grande honra; pois os paulistas são decantados
em todo Brasil pelos seus atrativos e dignidade de caráter. Extremamente
abstêmias a mesa, seu divertimento favorito é a dança, em que revelam grande
variedade e graça.
Nos bailes e outras festas publicas aparecem em geral, em elegantes
vestidos brancos, com uma profusão de colares de ouro no pescoço, o cabelo
graciosamente penteado, preso com travessas. Sua conversa, sempre
animada, parece ter qualquer coisa musical. Na realidade, a sua educação se
restringe a conhecimentos superficiais, ocupando-se muito pouco com
assuntos domésticos, confiando tudo quanto se refere às dependências
inferiores da direção da casa, ao negro ou a negra cozinheira, e deixando todos
os outros assuntos a cargo dos servos. Devido a esta indiferença,
desconhecem por completo as vantagens daquela ordem, limpeza e
propriedade que reina numa família inglesa, ocupam-se, principalmente, em
casa, em cozer, bordar e fazer renda. Outra circunstância que fere a delicadeza
é que não tem modistas; todas as peças do vestuário feminino são feitas por
alfaiates. Sofrem de anemia quase geral, o que é atribuído, em parte, ao seu
modo de vida abstêmico, mas sobretudo, a falta de exercícios e aos contínuos
banhos quentes a que se abandonam. Empregam todos os meios ao seu
alcance para conservar a plástica, muitas vezes com prejuízo para o organismo
[...].
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ATIVIDADEDiscuta com seus colegas seguinte questão:
1- Qual a importância da maneira de se vestir das pessoas diante da
sociedade?
2- Faça um desenho ou uma colagem ilustrando o tema da questão
anterior.
3- Pesquise em jornais como se vestem as pessoas hoje na cidade
de São Paulo em diversas ocasiões (passeios, festas, trabalho etc.) e compare
com as descrições do texto.
4- Leia o trecho abaixo e procure dar a sua interpretação: ”Sofrem
de anemia quase geral, o que é atribuído, em parte, ao seu modo de vida
abstêmico, mas, sobretudo, a falta de exercícios e aos contínuos banhos
quentes a que se abandonam. Empregam todos os meios ao seu alcance para
conservar a plástica, muitas vezes com prejuízo para o organismo”.
5- Transcreva do texto algum hábito ou costume que é preservado
até hoje pela sociedade.
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TEXTO 12: OS INDIOS DE CANTAGALO
[...] Numa das muitas excursões nos arredores de Cantagalo, antes da
minha visita á pretensa mina de prata, obtive alguns informes sobre os semi-
civilizados aborígines do distrito, de um homem que se dedicava a procura da
ipecacuanha e que é uma espécie de chefe entre eles. Habitam as florestas,
em condições miseráveis; suas moradas, algumas das quais visitei, são
construídas de ramos de arvores, inclinados de forma a suportar o colmo ou
teto de folhas de palmeiras; os leitos de capim seco. Possuindo poucos
conhecimentos da lavoura, dependem para sua alimentação, quase por
completo, dos arcos e das flechas, e das raízes e frutos selvagens, que
eventualmente encontrem nas florestas. O chefe que me referi veio visitar-me,
com cerca de cinqüenta índios, visita que muito me agradou, pois me deu
oportunidade de examinar suas feições e conversar com os poucos dentre eles
que trocavam algumas palavras em português. Os homens vestiam colete e
calças, as mulheres, camisa e saia, com um lenço amarrado em volta da
cabeça, à moda das mulheres portuguesas. Tinham os característicos gerais
da raça: pele bronzeada, atarracados, rosto redondo, nariz chato, cabelo negro
e liso, estatura regular, com tendência para o tipo baixo e musculoso. Desejoso
de assistir a prova da sua perícia e precisão na pontaria, de que tanto ouvira
falar, coloquei uma laranja a trinta jardas de distância, que foi atingida por
todos que desfecharam seu arco contra ela. Apontei, a seguir, uma bananeira
com cerca de oito polegadas de diâmetro, a distancia de quarenta jardas; nem
uma só flecha errou o alvo, embora todos atirassem de ligeira elevação.
Interessado nestas provas de atirar com arco, acompanhei-os até a floresta,
para vê-los abater pássaros; embora houvesse muito poucos, descobriram-nos
bem mais depressa que eu; e rastejando cuidadosamente até chegarem a
distancia necessária para lançar a flecha, nunca deixaram de abater a caça. O
silencio e a rapidez com que penetravam nas moitas e atravessavam o mato,
eram, na verdade, surpreendentes; nada me podia ter proporcionado idéia mais
completa de sua maneira peculiar de viver. Fazem os arcos da madeira
resistente e fibrosa da palmeira iri, com seis a sete pés de extensão, e muito
fortes; as flechas têm seis pés de comprimento e uma polegada de diâmetro,
sendo a ponta feita num pedaço de madeira em forma de pena, talhada com
33
osso, e, ultimamente de preferência com ferro. Suas pessoas e seus hábitos
são asquerosos; estão apenas um passo acima da antropofagia; devoram
quase todos os animais de maneira primitiva, como por exemplo, um pássaro
sem as penas, semi-cru, com entranhas. Não são acanhados ou de caráter
indolente, mas tem grande aversão ao trabalho, e não se consegue persuadi-
los a submeterem-se a qualquer emprego regular. Raramente se encontra um
índio servindo como criado, ou trabalhando por salário, e a esta circunstancia
atribui-se o atraso da agricultura no distrito. Os fazendeiros, quando começam
a fazenda, raramente possuem fundos suficientes para comprar negros no Rio
e suas operações, por longo tempo, são muito limitadas, extinguindo-se, com
freqüência, as fazendas por falta de braços. Que lucros resultariam para o
Estado e como seria beneficiada a causa geral da humanidade, se estes índios
fossem civilizados e domesticados! Uma tribo de selvagens errantes e
preguiçosos se converteria em lavradores úteis e produtivos; todo o aspecto do
distrito melhoraria; as estradas, que atualmente o ligam a capital livrar-se - iam
dos milhares de inconveniente que agora os embaraçam, e abrir-se-iam novas
para dar escoamento a seus produtos [...].
ATIVIDADESObserve a foto e responda:
a – O que ela mostra? Que tipo de pessoas aparecem na foto? O que
elas estão fazendo?
34
b – Como você imagina que eram os índios que Mawe encontrou?
Desenhe-os no caderno e depois compare com o desenho do seu colega.
c- No texto John Mawe demonstra algum estranhamento em relação
aos costumes indígenas. Escreva sobre isso.
d- Que características físicas dos indígenas são mencionadas no
texto?
e- Procure o significado da palavra “aborígine”. Porque você acha que
John Mawe chamou os índios assim?
VAMOS PESQUISAR.
1- Escolha um grupo indígena que vive ou viveu na região que você
mora e faça uma pesquisa sobre eles. Poderá escrever sobre:
a- Hierarquia no poder
b- Divisão de tarefas
c- Educação infantil
d- Economia
e- Festas e rituais
f- Relação com a natureza
g- Artesanato
2- Será que os indígenas de hoje vivem do mesmo modo que os
índios do texto, ou seja, do século XIX? E os índios que habitavam o Brasil
quando foi conquistado pelos portugueses?
Faça uma pesquisa e construa um quadro comparativo com os dados
obtidos.
3- Após terminar as duas atividades, que tal construir um mural para
exposição. Uma idéia é aproveitar o mês de abril quando no dia 19 se
comemora o “Dia do Índio”.
TEXTO 13: LEITURA COMPLEMENTARA LENDA DO ARCO E FLECHA
35
Os índios costumavam explicar muitas coisas através das lendas.
Como o texto anterior fala das armas dos índios de Cantagalo, então vamos
conhecer esta lenda.
Avinhocá resolveu às margens do rio Kuluene, acima da foz do
Turuine (rio Sete de Setembro), reuniu índios de todas as tribos, mansos,
bravos, para distribuir instrumentos de defesa.
O primeiro a aparecer foi o Kuikúru que tomou o arco branco. Daí em
diante os Kuikúru e todos os seus parentes usam arco desse tipo.
Depois apareceu outro índio, que pegou o arco de madeira escura.
Finalmente apareceu outro que pegou a arma de fogo.
Feito isso, Avinhocá mostrou uma pequena lagoa e mandou todos se
banharem ali. Como a lagoa tinha muita piranha, jacaré, cobras, etc., os índios
ficaram com medo, o que fez Avinhocá ficar zangado. Os índios, então,
molharam só as mãos e correram para enxugá-las num tronco de árvore. Essa
árvore ficou com a casca branca e foi denominada de pau-de-leite. Mas, um
menos medroso obedeceu a Avinhocá e se atirou na lagoa, por isso ficou
branco. Esse é o civilizado que pegou a arma de fogo. Nesse instante uma
árvore gritou lá de dentro da mata e os índios responderam. Avinhocá predisse:
-"As árvores morrerão um dia e os índios também desaparecerão".
Novo grito foi ouvido, desta vez vindo de uma pedra. O civilizado
respondeu o grito e daí Avinhocá disse:
-"A pedra nunca morrerá e, portanto, os caraíbas nunca
desaparecerão".
Depois disso tudo, Avinhocá determinou que todos fossem embora,
cada um para um lado. Avinhocá ainda estava ali quando chegaram seus
filhos, Tivári e Torrôngo. Nesse momento apareceu Rit-Taurinha. Deu óleo de
pequi a um dos filhos de Avinhocá e mandou que passasse no corpo. Avinhocá
não deixou, dizendo que aquele óleo envelhecia. Para provar, passou o óleo no
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seu próprio corpo, ficando bem velho. Em seguida, Rit-Taurinha deu um
pedaço de fumo ao outro filho de Avinhocá mandando que ele fumasse.
Avinhocá interveio outra vez dizendo que o fumo é somente para os velhos.
Moço fumando envelhece depressa. Por isso é que só índio velho é que fuma.
Rit-Taurinha partiu deixando Avinhocá e os filhos. Um deles, Tivári, resolveu
casar e partiu para beira do rio. Chegando lá, disse que seria sua mulher
aquela que o acompanhasse. Dizendo isso, mergulhou nas águas. Todas
ficaram com medo, até as capivaras fugiram do lugar. A andorinha porém,
imprevidente, continuou esvoaçando por sobre as águas e, numa das vezes
em que se chocava com a superfície, foi apanhada por Tivári, que a levou para
sua aldeia no fundo do rio. Todos acreditam que lá no fundo do rio há uma
grande aldeia com bonitas roças.
Essa é uma bonita lenda que faz referências a origem dos diversos
tipos de arcos em diferentes tribos, assim como também faz um alerta sofre a
feroz perseguição que sofriam os indígenas pelo homem branco.
Entretanto, não era só a arma do homem branco que exterminava o
índio, pois mal ele chegava, aos núcleos dos civilizados, para obter utensílios
ou armas, a fortaleza de seu perfeito organismo, abria-se a todo tipo de
doenças, que acabou devastando gerações inteiras.
O menor contato que o nosso índio tinha com os estrangeiros,
apanhava gripes mortais e sucumbia rapidamente, transmitindo o vírus para os
demais indivíduos de sua tribo.
Quanto à alegação de Avinhocá de que as árvores iriam desaparecer
assim como o índio, era porque a floresta já estava sendo derrubada para
construção de gaiolas, casas, estradas, pontes, devido a agitação febril da
população estrangeira que se estabelecia na região.
O sábio Avinhocá, sem ilusão de seu destino com a chegada do
homem branco, ainda assim, estava determinado a permanecer até o fim de
seus dias e nesse tempo, deveria repassar toda sua sabedoria aos membros
mais jovens. Sendo assim, orientava-os sobre o mal que causa o óleo pequi e
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o fumo. Vê-se, inclusive, que Avinhocá já tinha conhecimento dos malefícios do
hábito do fumo, pois admite que esse só deveria ser consumido pelos velhos.
O que devemos ter em mente hoje é, que não existe, nem nunca
existiu, povos superiores e povos inferiores, conforme determinavam os
primeiros colonizadores dessa terra. A diferença tecnológica entre as culturas
não revela nada que a respectiva cultura possa gerar. Uma tribo indígena da
Amazônia, que vive sem televisão, sem automóveis ou aviões, não tem uma
cultura inferior àquela que vive nas grandes cidades, onde a fome a a fartura
dividem pobres e ricos de uma mesma rua.
Do mesmo modo, não podemos falar de povos "mais cultos" que os
outros, pois a cultura é algo muito mais amplo que inclui a produção material,
social e cultural. Portanto, todos os povos têm cultura e todas as pessoas são
cultas. É a cultura que nos distingue do reino dos animais e da natureza
orgânica e inorgânica.
É através da cultura e de sua história que um povo constrói sua
identidade e sua alteridade.
Infelizmente, a "intervenção estrangeira" junto aos povos indígenas
continua até hoje. A comunidade nacional contemporânea ainda não conseguiu
aprender a respeitar o ser diferente: a alteralidade dos povos indígenas.
PARA SABER MAIS VISITE O SITE:
http://www.rosanevolpatto.trd.br/armacaca.html
Bibliografia:
Xingu, Os índios e seus Mitos - Orlando e Cláudio Villas Boas
38
Texto 14: A CANA DE AÇUCAR
[...] Se plantada em solo virgem, pode ser cortada dentro de quatorze
meses, mas uma terra esgotada requer de dezoito a vinte meses. Depois de
amadurecida, cortam-na, limpam-na, retirando as folhas da extremidade
superior, etc. às quais constituem excelente forragem para o gado: levam-na
em seguida, á moenda, formada por três cilindros de madeira, ou de ferro,
movendo-se nos seus eixos numa posição perpendicular. As canas passam
continuamente entre eles, até lhes extraia o caldo e fiquem reduzidas a
bagaço.
O caldo é conduzido por tubos de uma grande caldeira, ou clarificador,
onde se lhes adiciona certa quantidade de substância alcalina denominada
clarificador. Depois é conduzida á maior das caldeiras de uma série de três, ou,
ás vezes, quatro, de dimensões decrescentes. A maior raramente comporta
mais de uma centena de galões. Aqui o xarope ferve por algum tempo, sendo
continuadamente escumado,: a seguir, é derramado na outra, onde continua a
ferver, até que se evapore a maior parte do fluido gasoso: passa depois para a
terceira caldeira, e ai muitas vezes, fica suficientemente cozido, sem
necessidade de remover para quarta. Certificam-se de sua consistência pelo
tato: toma-se um pouco de xarope entre o polegar e o indicador, e se, formar
fios e não se quebrarem, ao puxá-los cerca de uma polegada, considera o
cozimento suficiente. É então colocado em formas cônicas, com cerca de dois
pés de altura e dez polegadas de diâmetro, na extremidade aberta, onde,
esfriando, se solidifica. Na extremidade inferior de cada forma há um orifício
que, a principio, fica completamente obstruído: mas depois que o açúcar
começa a esfriar é desobstruído, ligando-se a ele um tubo, por onde escorre o
melaço. Enchidas as formas, removem-nas para um compartimento mais
arejado, onde são colocados de modo a permitirem que o melaço corra para
uma grande cisterna, daí passando para tonéis de fermentação, receptáculos
destinados a receber os refugos de toda sorte num engenho. O processo de
fermentação depende muito da qualidade da madeira com que fabricam os
tonéis, muitos deles fazem com que o liquido fui que pronto para ser destilado
dois ou três dias antes dos outros.
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A maior parte dos açucares aqui fabricados são refinados por um
processo muito simples, que consiste apenas em cobrir o açúcar com barro
bastante umedecido, cuja água filtra a massa e carrega com melaço
remanescente. Quando a substancia terrosa seca, repete-se a operação, até o
açúcar fique perfeitamente limpo e quase alvo. Depois de permanecer na casa
de secar aproximadamente seis semanas, as formas são emborcadas e os
pães de açúcar delas se desprendem: é em seguida, batidos, até se reduzirem
a pó, em grandes e fortes caixas, construídas de quatro pranchas inteiras,
tendo em geral cerca de oito pés de comprimento por cerca de vinte e seis
polegadas quadradas, pesando de quinze a dezesseis quintas. As caixas
depois de cheias e pregadas, estão prontas para o embarque.
Os principais cuidados a observar na fabricação do açúcar são:
primeiro que as canas estejam maduras e limpas as folhas: depois que sejam
imediatamente muitas, não as deixando em montes, expostas ao calor: e,
terceiro, que os cilindros e todos os condutores da rapa, lavados, tantas vezes
quantas foram necessárias, estejam bem limpos. Quanto ao clarificador, as
opiniões variam: cada negro tem as suas maneiras peculiar de misturá-lo e
aplica – lo. As canas que crescem em algumas terras requerem mais
clarificador do que outras, e a estação seca ou chuvosa exerceram influencia
considerável no caldo; mas estes fatos são inteiramente ignorados aqui, ou não
lhes atribuem a menor importância.
As partes centrais dos pães de açúcar, sendo melhores do que as
pontas, algumas casas as conservam em separado, vendendo – as por preços
mais elevados. E quase todas as famílias, refinam o açúcar, mascavo, quando
o desejam particularmente branco. O processo é muito simples e praticamente
diariamente nos botequins [...].
ATIVIDADES1- Identifique a importância da qualidade do solo na produção da
cana-de-açúcar no século XIX?
2- Procure no texto duas utilidades da cana - de- açúcar.
3- Reescreva no caderno um trecho que indica o uso do açúcar
pelas famílias da época.
40
4- Procure conhecer alguma pessoa que trabalhe ou já trabalhou
nas lavouras de cana-de-açúcar. Pergunte sobre o seu trabalho e sobre esse
produto agrícola. Compare suas anotações com as informações citadas no
texto e veja se encontra alguma semelhança.
5- Crie um desenho representando a produção do açúcar descrita
no texto.
6- Faça uma pesquisa sobre as usinas de fabricação do açúcar na
atualidade. Produza um texto com as informações obtidas.
7- Procure saber se no seu município tem alguma empresa que
realiza esta atividade.
41
TEXTO 15: VARIEDADES
Professor: aqui poderá enriquecer os textos e usar a sua criatividade
para contextualizar os assuntos abordados, inclusive criando alguma atividade
ou promovendo uma pesquisa para complementação do assunto.
Neste último texto faremos uma leitura diferente, onde foi extraído
fragmentos do livro de John Mawe “Viagens ao Interior do Brasil” sobre
diversos assuntos. Veremos o que ele escreve ao vivenciar cada situação.
SOBRE A VIDA RELIGIOSA DOS ESCRAVOS NEGROS:[...] Nesta fazenda, os negros, segundo todos os dados que obtive,
sobem cerca de mil e quinhentos. Constituem no geral excelente classe de
homens, de ânimo dócil e tratável, e de modo nenhum destituídos de
inteligência. Esclarecê-los tem dado grande trabalho: são regularmente
instruídos nos princípios da fé cristã, e as orações lhes são lidas publicamente,
pela manhã e a noite, ao iniciar e ao terminar o dia de trabalho [...]
FABRICAÇÃO DA CERVEJA:[...] Na segunda parte da minha visita ao intendente, que gosta muito
de cerveja, me manifestou desejo de ver centeio convertido em borra, para
fazer aquela bebida. Atendendo a solicitação reiterada, fui tentar a experiência.
Molhei a principio o centeio, o tempo necessário, depois o coloquei no assoalho
e tratei-o de maneira usada nas cervejarias inglesas: quando já estava
suficiente fermentado, fi-lo secar a fogo, lento: em seguida, tirei-lhe a película
por meio de fricção, triturei-o e reguei-o com água. A infusão produziu um
mosto passável, mas pareceu-me que lhe faltava matéria açucarada. Supri
essa falta, misturando uma pequena quantidade de açúcar. Fiz então ferver o
licor até que tivesse adquirido consistência conveniente: substitui o lúpulo por
uma substancia de amargor agradável e depois tentei favorecer a fermentação
com levedo preparado dias antes. Quando terminou a operação, derramei o
licor em pequenos pipotes, que foram fechados. Pode ser que esta cerveja não
fosse boa por causa da maneira muito apressada por que foi feita, mas pelo
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menos ficaram sabendo como fazê-la, o que era o objetivo principal da
experiência [...].
UM INVENTO INTERESSANTE[...] O milho é moído por uma roda-d’agua horizontal, que alcança
grande velocidade movida pela água. N extremidade superior, acha-se a pedra
do moinho, que realiza de sessenta a setenta rotações por minuto. Em pregam
método semelhante para transformar milho em fubá por meio de maquina
denominado preguiçoso (monjolo). A margem do rio insta-la grande pilão de
madeira, cuja mão está encaixada na extremidade de uma alavanca com vinte
e cinco a trinta pés de comprimento, repousando sobre uma barra transversal
ao cinco oitavos de seu comprimento, em redor da qual oscila. A extremidade
do braço mais curto desta alavanca está escavada, de modo a sustentar o
peso da água suficiente para levantar outra extremidade, a qual está presa a
mão do pilão. O peso da água faz com que a colher desça e se esvazie ao
chegar a certo ponto. O encher e descarregar, alternadamente esta cavidade,
provoca a elevação e a queda da mão do pilão, o que se verifica quatro vezes
por minuto. Este invento ultrapassa todos os outros em simplicidade, num lugar
onde o desperdício de água não tem importância, preenche, plenamente, o fim
visado [...].
SOBRE A EDUCAÇÃO DA MULHER BRASILEIRA:[...] Fiquei firmemente convencido de que, se as brasileiras
recebessem educação melhor, sobretudo no que se refere á economia
domestica, e estivessem habituadas a ver tudo quanto diz respeito ao lar
administrado com ordem e regularidade, se tornariam úteis a sociedade. Na
verdade, constantemente observei nelas essa louvável curiosidade e esse
desejo de instrução, que se pode chamar o primeiro passo párea o
aperfeiçoamento. Mas o que esperar de mulheres mal educadas, vivendo
desde a infância, no meio de negros, em más habitações, apenas abrigada da
chuva e do sol, e destituídas de toda espécie de comodidade?[...].
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O COMÉRCIO DOS INGLÊSES NO BRASIL:[...] Desde a emigração da corte de Lisboa, o Rio de Janeiro pode ser
chamado, verdadeiramente, o empório da América do Sul, e está destinado a
tornar-se um deposito geral das mercadorias das quatro partes do globo: no
entanto, o seu comércio com a África, Índia e as ilhas do mar índico,
pertencentes a coroa de Portugal, assim como seu intercambio com a china,
apenas começou. Foram tantas as decepções causadas pelos acontecimentos
políticos na mãe-patria e tão inesperado o afluxo de mercadorias inglesas,
ocasionando tal paralisação nas transações comerciais, que os negociantes
abastados resolveram não mais especular, e outros, grandes capitalistas,
devido às pesadas perdas que sofreram não o podiam fazer. Assim cessou o
monopólio exercido até então pela primeira classe de negociantes, os ingleses,
que os substituíram, vendiam as mercadorias ao publico da melhor maneira
possível [...].
OS DIAMANTES BRASILEIROS ENVIADOS PARA A EUROPA:[...] Dizem que a quantidade de diamantes enviada a Europa, durante
os vinte primeiros anos após sua descoberta, foi quase inacreditável, excedeu
de mil onças. Era tão prodigiosa que diminuiu o valor geral das pedras, que
antes só vinham da Índia, até para ali foram mandados os diamantes do Brasil
e aí vendidos em melhores condições que na Europa [...].
ESPERANÇA NO BRASIL[...] O Brasil, livre das restrições coloniais, terá, dentro em breve, sua
população duplicada: seu ouro, em vez de transportado para os paises
estrangeiros, como até aqui, circulará entre os habitantes: e, sob uma sob uma
sábia administração, é razoável esperar-se que, em vinte anos, este grande
país prosperará mais do que qualquer outro no mesmo espaço de tempo [...].
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O PARANÁ:[...] Os arredores de Curitiba são cortados por bons rios, que
deságuam no Paraná. Em muitos deles existem ouro, notadamente no Rio
Verde: e o Tibagi é rico em diamantes, do que não se esquecem algumas boas
famílias que moram em suas margens. Tornara-se perigoso avançar em
direção ao oeste, pois vivem os antropófagos expulsos desses limites há
poucos anos. A região norte está coberta de florestas [...].
A ALIMENTAÇÃO EM SÃO PAULO:[...] Não tivemos dificuldades em nos acomodar ao método geral de
vida, em São Paulo. O pão é muito bom e a manteiga tolerável, mas usada
raras vezes, exceto no café da amanhã e no chá a noite. Prato bastante
comum no almoço é uma variedade de ervilha, muito gostosa, denominada
feijão, cozida ou misturada com farinha de mandioca. O almoço servido
usualmente ao meio dia, ou mais cedo, consiste, em geral, numa quantidade
de verduras fervidas com carne de porco gorda, ou bife, uma raiz da espécie
da batata e uma galinha recheada, com excelente salada, seguida por grande
variedade de deliciosas conservas e doces. Tomam muito pouco vinho as
refeições. A bebida usual é água. Em ocasiões publicas ou quando se oferece
uma festa a muitos convidados, ornamenta-se a mesa suntuosamente: servem-
se, de uma só vez, de trinta a cinqüenta pratos: arranjo pelo qual se evita uma
série de mudanças de pratos. O vinho circula copiosamente, repetindo-se os
brindes durante o banquete, que dura em geral de duas a três horas, seguido
de doces, o orgulho da mesa: depois do café, os convidados passam a noite
dançando, ouvindo musica ou jogando cartas [...].
A VOLTA AO RIO DE JANEIRO[...] Deixando Vila Rica continuei minha viagem e cheguei ao Rio de
Janeiro em meados de 1810. Achava-me em profundo estado de abatimento,
devido à fadiga e a doença, agravada por exercícios continuo e falta de
repouso. Comuniquei a Sua Excelência, o conde Linhares minha chegada, e
alguns dias depois tive a honra de apresentar-lhes um relatório que continha
particularidades de minha viagem. Fui em seguida apresentado ao Príncipe
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Regente: Sua Alteza deu-me a honra de manifestar sua aprovação
pela narrativa que eu fizera da região por onde viajara, e convidou-me a
publicá-la. Também teve a bondade de, a meu pedido, promover a oficiais,
para recompensá-los pelo seu bom procedimento, os dois soldados que me
haviam acompanhado, e quando lhe exprimi meu reconhecimento por esta
mercê, o Príncipe respondeu-me que era pequeno para merecer atenção, e
perguntou-me de que maneira poderia me provar sua satisfação pelos meus
serviços. Minha saúde nessa ocasião era tão precária, que não podia pensar
em ficar no Rio de Janeiro, onde sentia que ela piorava dia a dia. De outra
maneira não ponho duvida de que o Príncipe me tivesse amplamente
recompensado das fadigas que sofrera [...].
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Departamento de Ensino fundamental. Diretrizes Curriculares para o Ensino de História. Curitiba: SEED, 2008.
MAWE, J. Viagens ao Interior do Brasil. São Paulo: Ed. Universidade de São Paulo, 1978. Coleção Reconquista do Brasil, v.33.
COTRIM, Gilberto. História e Consciência do Brasil. São Paulo: Ed. Saraiva 1996.
GOMES, Laurentino. 1808. São Paulo: Ed. Planeta, 2007.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Ed. Companhia das Letras, 1995.
Ministério da Educação e Cultura. 500 anos: O Descobrimento do Brasil Colônia. Brasília, 2000. Cadernos da TV Escola, v. 1.
www.fundaj.gov.br acesso em 05/11/2008
http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa acesso em 06/12/2008
http://www.rosanevolpatto.trd.br/armacaca.html acesso em 05/11/2008
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