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Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
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CURSO BÍBLICO INTERNACIONAL
Apostila nº 19
Estudo de I Coríntios
Versículo Por Versículo
(Segunda Parte)
Introdução
Nesta apostila continuaremos a estudar em profundidade a
Primeira Carta de Paulo aos Coríntios. Esta carta que Paulo escreveu
à Igreja de Corinto é muito prática. Aconselho você a não deixar de
ler a primeira parte do estudo desta carta, para que tenha o
conhecimento básico necessário para compreender melhor as
verdades que Deus quer que aprendamos nesta última parte da
Primeira Carta aos Coríntios.
Capítulo 1
“Homem e Mulher, Deus e Cristo”
(I Coríntios 11:1-16)
Nos capítulos 8, 9 e 10 de Primeira Coríntios, Paulo
compartilhou esta sua filosofia de vida e de ministério: “Você não
consegue servir ao próximo e a você mesmo”. Mas depois dos
primeiros versículos do capítulo 11, Paulo abordou outro problema
da igreja de Corinto: o papel da mulher no corpo de Cristo. No
versículo 6 do capítulo 11 ele escreveu: “Se a mulher não cobre a
cabeça, deve também cortar o cabelo; se, porém, é vergonhoso para
a mulher ter o cabelo cortado ou rapado, ela deve cobrir a cabeça”.
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A partícula “se” neste versículo é de significativa
importância. Na cidade de Corinto a prostituição fazia parte da
cultura e até da adoração pagã no templo. Se uma mulher quisesse
que todos soubessem que ela era uma prostituta, uma mulher de
comportamento diferente das outras, ela não usava um véu nem
qualquer outra cobertura sobre a cabeça, e cortava seu cabelo curto.
Por isso, na cultura de Corinto, usar o cabelo curto era sinal de
prostituição.
Nas igrejas que se reuniam nos lares da cidade, algumas
mulheres, por causa da revolução espiritual pela qual tinham passado
e por causa da liberdade que tinham em Cristo, consideravam-se
livres para não usar mais nenhuma cobertura sobre a cabeça enquanto
oravam ou profetizavam.
Paulo começou a tratar dessa questão tão delicada no
versículo 2: “Eu os elogio por se lembrarem de mim em tudo e por se
apegarem às tradições exatamente como eu as transmiti a vocês”. A
palavra “tradições” aqui, tem um significado especial.
Aparentemente, nas primeiras igrejas eles tinham que tomar posição
a respeito de certas questões culturais, e Paulo manifestava sua
opinião sobre o que achava mais sábio para eles dentro daquela
cultura. Se não tivesse uma base específica das Escrituras, usava o
que ele próprio chamava de “tradições”.
Observemos o versículo 3, como ele continuou a tratar do
problema das mulheres que estavam tirando o véu durante a adoração
pública: “Quero, porém, que entendam que o cabeça de todo homem
é Cristo, e o cabeça da mulher é o homem, e o cabeça de Cristo é
Deus. Todo homem que ora ou profetiza com a cabeça coberta
desonra a sua cabeça; e toda mulher que ora ou profetiza com a
cabeça descoberta desonra a sua cabeça; pois é como se a tivesse
rapada. Se a mulher não cobre a cabeça, deve também cortar o
cabelo; se, porém, é vergonhoso para a mulher ter o cabelo cortado
ou rapado, ela deve cobrir a cabeça. O homem não deve cobrir a
cabeça, visto que ele é imagem e glória de Deus; mas a mulher é
glória do homem. Pois o homem não se originou da mulher, mas a
mulher do homem; além disso, o homem não foi criado por causa da
mulher, mas a mulher por causa do homem. Por essa razão e por
causa dos anjos, a mulher deve ter sobre a cabeça um sinal de
autoridade” (3-10).
O que Paulo quis dizer nesta passagem? Primeiro está claro
que ele dizia que aquelas mulheres estavam erradas por tirarem a
cobertura que usavam sobre a cabeça durante a adoração pública, em
razão do que significava para a cultura de Corinto a mulher usar
cobertura sobre a cabeça. Nesse espírito de ser “tudo para com
todos” (cf. 9:22) e ser flexível para não perder nenhuma
oportunidade de ser uma testemunha, Paulo foi claro ao escrever que
essas mulheres deveriam cobrir suas cabeças. Ele explicou que “se”
era vergonhoso naquela cultura usar cabelo curto ou não usar o véu,
então elas deveriam usar o véu ou cabelo comprido por causa do
testemunho que deveriam dar.
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Para quem tinha sido um rabino judeu, Paulo escreveu algo
maravilhoso. Ele escreveu que quando um homem orasse ou
profetizasse, não deveria ter nada sobre a cabeça. Ainda hoje é
costume entre os judeus ortodoxos o uso do manto “tallith” sobre a
cabeça durante a oração. Neste texto Paulo escreveu que os homens
não deveriam usar nenhum tipo de véu na presença de Deus.
Na verdade Paulo estava escrevendo que o relacionamento do
marido e da mulher é extremamente parecido com o relacionamento
entre Cristo e Deus. É claro que o Deus Pai está sobre o Filho e que
a glória do Pai é a primeira preocupação do Filho. Ainda assim
ouvimos o Filho dizer: “Eu e o Pai somos um” (João 10:30). Nessas
palavras Jesus estava dizendo que Ele e o Pai trabalham em perfeita
harmonia.
Tanto Paulo como Pedro foram consistentes em usar o
relacionamento entre Cristo e a igreja e a unidade entre Jesus e o Pai
como modelo inspirado da Bíblia para o casamento (Cf. I Pedro 2:25;
3:1,7; Efésios 5:22-27). Paulo não disse nesse texto que o homem é
tudo e a mulher é nada, mas que a mulher e o homem se relacionam
da mesma maneira que Jesus, o Filho, se relaciona com o Deus Pai.
O marido está sobre a mulher, no sentido de ter responsabilidade pelo
lar e a família. Ele tem a autoridade acompanhada da
responsabilidade. Assim como o Pai está sobre o Filho, ainda que o
Filho e o Pai sejam um e vivam em perfeita harmonia um com o
outro e, de certa forma Ele é igual a Deus, da mesma forma, o
homem e sua mulher têm um relacionamento de um estar sob a
autoridade do outro e ao mesmo tempo em absoluta igualdade.
Estude atentamente os 16 primeiros versículos do capítulo 11
de I Coríntios e você descobrirá como eles são profundos. Eles
falam sobre o papel e a função do homem e da mulher tementes a
Deus em um casamento cujo centro é Cristo. Também falam sobre o
mesmo valor que têm o homem e a mulher; tratam de problemas
essencialmente culturais, com aplicação cultural. Esses problemas
culturais e suas aplicações devem ser diferenciados dos ensinos
bíblicos sobre casamento os quais são supra-culturais, ou seja, são
aplicáveis em qualquer cultura. Por exemplo, a figura do
relacionamento do Filho com o Pai e de Cristo com a Igreja como
modelo para o casamento cristão.
Capítulo 2
“Ceia do Senhor ou Ceia de Vocês?”
(I Coríntios 11:17-34)
No versículo 17 do capítulo 11, Paulo começa a abordar outro
problema daquela igreja.
A celebração da Ceia do Senhor na igreja de Corinto era
precedida por um tipo de festa para a qual as pessoas traziam comida
de casa. Alguns membros da igreja eram escravos e muito pobres.
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Esses não podiam levar nada e, enquanto o resto comia, eles
passavam fome. Ao invés de colocar toda a comida sobre uma mesa
e repartir igualmente para todos, eles comiam em pequenos grupos.
Alguns se estufavam com tanta comida, enquanto outros passavam
fome olhando seus irmãos e irmãs comerem. Dá para imaginar essa
cena em uma reunião de cristãos?
Devia também ter muito vinho e quando chegava a hora da
celebração da Ceia do Senhor alguns estavam literalmente bêbados!
Esse foi o problema que Paulo passou a tratar nesta passagem dessa
carta: “Entretanto, nisto que lhes vou dizer não os elogio, pois as
reuniões de vocês mais fazem mal do que bem. Em primeiro lugar,
ouço que, quando vocês se reúnem como igreja, há divisões entre
vocês, e até certo ponto eu o creio” (11: 17-18).
Paulo dá uma explicação maravilhosa de como Deus usa as
divisões entre os crentes: “Pois é necessário que haja divergências
entre vocês, para que sejam conhecidos quais dentre vocês são
aprovados” (11:19). O que podemos dizer de bom sobre as divisões
entre os crentes é que Deus usa as diferenças para revelar aqueles que
têm Sua aprovação.
A seguir Paulo dá uma instrução freqüentemente lida na
celebração da Ceia do Senhor: “Pois recebi do Senhor o que também
lhes entreguei: Que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído,
tomou o pão e, tendo dado graças, partiu-o e disse: ‘Isto é o meu
corpo, que é dado em favor de vocês; façam isto em memória de
mim’. Da mesma forma, depois da ceia ele tomou o cálice e disse:
“Este cálice é a nova aliança no meu sangue; façam isso sempre que
o beberem, em memória de mim’. Porque, sempre que comerem
deste pão e beberem deste cálice, vocês anunciam a morte do Senhor
até que ele venha” (23-26).
Nesta passagem, Paulo apresenta uma solução inspirada pelo
Espírito para o terrível problema de profanação da Ceia do Senhor na
igreja de Corinto: “Se alguém estiver com fome, coma em casa, para
que, quando vocês se reunirem, isso não resulte em condenação”
(34).
Com base neste versículo, muitas igrejas hoje crêem que não
é bíblico ter uma cozinha na igreja ou mesmo oferecer qualquer tipo
de refeição na igreja. Acho uma interpretação muito radical. O
problema não era o fato de que eles estavam comendo na igreja, mas
sim que estavam cometendo o pecado da glutonaria, não repartiam
com os irmãos que não tinham o que comer e se embebedavam. Era
isso que Paulo estava repreendendo nessa passagem. Eu não acho
que Paulo estava proibindo os crentes de terem comunhão na igreja
compartilhando uma refeição. As Escrituras usam o “cear” ou o
fazer uma refeição em conjunto como metáfora de um nível de
comunhão mais profundo (cf. Apocalipse 3:20; Lucas 14:16-24).
A Ceia do Senhor
Qual é o significado da Ceia do Senhor? Depois de mais de
vinte séculos de história da igreja os seguidores de Cristo ainda não
entraram em um acordo a esse respeito. Para alguns, o pão e o vinho
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literalmente se tornam o corpo e o sangue de Cristo. Isso é chamado
de “transubstanciação”. Outros acreditam que o Espírito Santo
apenas está com o pão e o vinho de uma forma muito especial. Isso é
chamado de “consubstanciação”. Outros ainda acreditam que a Ceia
do Senhor é apenas um memorial simbólico do sacrifício do Seu
corpo e sangue, porque Jesus disse “façam isto em memória de mim”.
Estes interpretam que na noite anterior à Sua morte na cruz Jesus
disse: “Essa foi a maneira que escolhi para ser lembrado”.
É interessante que essa figura de Cristo, que Ele próprio
apresentou à Igreja para que fosse observada até que Ele volte, não é
uma figura tão bonita. Na verdade é até mesmo uma figura trágica
do Senhor. É a figura do Cristo crucificado. Mas, é claro, quando
percebemos que ela representa o amor de Deus que trouxe salvação
para o mundo, ela se torna linda! Ao tratar de um problema tão
vergonhoso da igreja de Corinto, Paulo apresentou instruções muito
importantes sobre a Ceia do Senhor.
Capítulo 3
“Olhe Para Cima, Para Dentro e Para o Alto”
(I Coríntios 11:17-34)
As instruções do apóstolo Paulo referentes à celebração da
Ceia do Senhor já foram lidas milhões de vezes nas igrejas. Esse é
um assunto muito importante e por isso gostaria de continuar
comentando-o em mais um capítulo.
O ensino de Paulo continua no versículo 27: “Portanto, todo
aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente
será culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor.
Examine-se cada um a si mesmo, e então coma do pão e beba do
cálice. Pois quem come e bebe sem discernir o corpo do Senhor,
come e bebe para sua própria condenação. Por isso há entre vocês
muitos fracos e doentes, e vários já dormiram. Mas, se nós
tivéssemos o cuidado de examinar a nós mesmos, não receberíamos
juízo. Quando, porém, somos julgados pelo Senhor, estamos sendo
disciplinados para que não sejamos condenados com o mundo.
Portanto, meus irmãos, quando vocês se reunirem para comer,
esperem uns pelos outros. Se alguém estiver com fome, coma em
casa, para que, quando vocês se reunirem, isso não resulte em
condenação. Quanto ao mais, quando eu for lhes darei instruções”
(27-34).
Paulo dá uma instrução muito valiosa ao tratar da maneira
blasfematória com que a igreja de Corinto lidava com respeito à Ceia
do Senhor. Primeiro, ele deixa bem claro que o propósito desse
sacramento instituído pelo Senhor Jesus Cristo é que nos reunamos
para olhar para o alto. Isso é chamado de “comunhão” por alguns,
porque o propósito é mantermos nossa união com Cristo.
Paulo afirma que participar dessa Mesa “indignamente” é um
pecado muito sério. No versículo 30 ele escreveu: “Por isso há entre
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vocês muitos fracos e doentes, e vários já dormiram”. Quando disse
“dormiram” Paulo estava se referindo à morte, ou seja, por isso havia
muitos que eram fracos, doentes e vários que já tinham morrido.
Em primeiro lugar, essa celebração nos faz olhar para o alto,
crendo no que a Ceia do Senhor representa. A Mesa representa o
Evangelho que nos salva e também representa a união que temos
com o Cristo Vivo e Ressurreto. Com o pão e o vinho, que se tornam
parte de cada fibra do nosso corpo através da digestão e depois da
circulação, nós celebramos o milagre de estarmos em união com
Cristo.
Depois, a Ceia do Senhor pede que olhemos para dentro de
nós mesmos: “Examine-se cada um a si mesmo, e então coma do pão
e beba do cálice” (28). Isso me faz lembrar de uma grande verdade
que Jesus ensinou: que devemos julgar primeiro a nós mesmos, para
depois julgarmos os outros (Mateus 7:1-5). Esse é um importante
princípio que não podemos esquecer quando abordamos a Ceia do
Senhor.
Portanto, devemos ter dois olhares ao celebrarmos a Ceia do
Senhor. (1) Devemos olhar para a cruz de Jesus Cristo e (2) devemos
olhar para frente, para a volta de Jesus Cristo. A cruz de Cristo é o
tema central das Escrituras. O Velho Testamento enfoca o
significado da cruz através do sacrifício de animais e o Novo
Testamento olha de volta para a cruz.
Lembre-se de que Jesus estava celebrando a Páscoa Judaica
com Seus apóstolos judeus quando transformou aquela forma de
adoração judaica na principal forma de adoração cristã (conclusão
extra-bíblica). Essa é a única instrução que Jesus deu aos Seus
apóstolos de como Sua igreja deveria adorá-lO! A refeição da
Páscoa dos judeus comemora a libertação milagrosa do filhos de
Israel da cruel escravidão no Egito. Naquele dia, eles sacrificaram
um cordeiro e um pouco do seu sangue foi espargido nos batentes das
portas das casas. Quando o anjo do mal, enviado por Jeová, via o
sangue derramado ali, passava direto por aquela casa e não vitimava
o seu primogênito (cf. Êxodo 12:12-13).
Quando Jesus celebrou a Páscoa com os apóstolos, disse que
eles não comeriam aquela refeição novamente até que ela fosse
cumprida (cf.Lucas 22:15,16). Ele estava dizendo que quando
morresse na cruz, seria o cumprimento de tudo que a Páscoa do
Cordeiro representava. Quando celebramos a Ceia do Senhor
olhamos de volta para a cruz, e depois olhamos para frente, pois
Jesus disse: “...sempre que comerem deste pão e beberem deste
cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha.” (26).
Portanto, quando nos reunimos para a Ceia do Senhor, olhamos para
frente, para a esperança da Sua Segunda Vinda (cf. Tito 2:13).
Finalmente, nessa admoestação envolvendo a Comunhão,
Jesus e Paulo ensinaram que devemos olhar ao redor quando
participamos dessa mesa. A comunhão não é apenas vertical, mas
também horizontal. Existem muitas passagens no Novo Testamento
que mencionam este ensino: “Portanto, se você estiver apresentando
sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo
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contra você, deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro
reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta”
(Mateus 5:23 e 24). João também foi muito claro e objetivo no final
do capítulo 4 de sua primeira carta, quando disse que se nós dizemos
que amamos a Deus e não amamos nosso irmão, somos mentirosos,
porque o relacionamento vertical com Deus e o relacionamento
horizontal com nosso irmão são inseparáveis.
A Mesa da Comunhão também ensina uma disciplina
espiritual. Paulo disse que devemos esperar até que todos estejam
presentes para depois tomarmos nossa porção. Se as coisas não
estiverem bem na comunhão horizontal com seus irmãos e você sabe
que vai participar da Ceia do Senhor, vá se acertar com seu irmão ou
irmã. Reconcilie a comunhão dos seus relacionamentos horizontais,
porque você sabe que vai celebrar o relacionamento vertical, a sua
comunhão com Cristo.
Resumo
Nessa passagem Paulo instrui como participar da Mesa do
Senhor e manda que ao fazê-lo olhemos para cima, para dentro, para
trás, para frente e depois ao redor, a fim de participarmos da Ceia do
Senhor.
Capítulo 4
“Quanto aos Dons Espirituais”
(I Coríntios 12:1-11)
O capítulo 12 dessa magnífica carta pastoral é uma parte de
suma importância. Os onze primeiros capítulos compreendem a
parte destinada à correção; a partir do capítulo 12 inicia-se a parte
construtiva da carta.
Nos onze primeiros capítulos Paulo apresentou soluções
específicas para problemas específicos, dos quais tomou
conhecimento através da igreja que se reunia na casa de Cloe e de
carta que tinha recebido da igreja. Mas nos capítulos restantes Paulo
apresenta soluções espirituais gerais, capazes de solucionar todos os
problemas da igreja de Corinto e das nossas igrejas hoje.
Os três primeiros capítulos desta nova divisão podem ser
intitulados de “A Função do Espírito Santo”. Neles Paulo ensinou
aos coríntios, a você e a mim como o Espírito Santo quer trabalhar na
igreja.
É impossível não questionar a situação espiritual dos
coríntios. Paulo os chamou de “santos”, mas depois mencionou
todos os problemas que eles tinham; chamou-os de “carnais” e disse
que eles eram bebês espirituais. No capítulo 12, Paulo apresenta o
diagnóstico do estado espiritual dos coríntios: ignorantes espirituais!
Eles não eram ignorantes quanto à existência do Espírito Santo, mas
eram ignorantes em relação à função do Espírito Santo na igreja.
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No capítulo 13 Paulo tratou do que chamou em outras
passagens, de “o fruto do Espírito” (cf. Gálatas 5:22,23). O Espírito
Santo opera duas obras muito importantes na vida dos crentes. Uma
dessas obras ocorre dentro de nós e Jesus a chamou de “novo
nascimento”. Se você fizer uma busca da preposição “sobre” no
Livro de Atos, verá que o Espírito Santo também trabalha sobre nós
para que depois trabalhe através de nós como Seus agentes humanos.
A obra do Espírito Santo sobre nós está associada ao
ministério que exercemos. A evidência ou prova de que o Espírito
Santo está operando em nós é o fruto do Espírito. A prova de que o
Espírito veio sobre nós para nos usar é o que Paulo chama de “os
dons do Espírito”. Os dons do Espírito nos equipam para vários tipos
de ministérios. No capítulo 12 Paulo fala como o Espírito Santo
opera na igreja.
Paulo compartilha a segunda solução espiritual no capítulo
13. Este é o famoso “Capítulo do Amor” da Bíblia. Nele lemos que
o amor é a grande evidência da obra do Espírito em nós. A essência
do capítulo do amor é que a obra do Espírito sobre nós jamais poderá
substituir a dinâmica obra do Espírito em nós. Um princípio
facilmente aplicável é o seguinte: “Não é uma questão de uma coisa
ou outra, mas sim de uma e outra”. Devemos todos orar pedindo a
obra milagrosa do Espírito Santo em nós e sobre nós.
No capítulo 14 Paulo vai ensinar a ordem que deve prevalecer
entre nós quando o Espírito Santo trabalha em e sobre nós. Esses
capítulos maravilhosos nos quais Paulo ensina sobre questões
espirituais são o coração desta carta.
No capítulo 15 Paulo vai apresentar a quarta solução
espiritual ao escrever uma obra-prima sobre a ressurreição, não
apenas a morte e a ressurreição de Jesus, que constituem o Evangelho
que nos salva, mas sobre a nossa própria ressurreição – a ressurreição
nos últimos dias e o poder de ressurreição que opera diariamente em
nós dando-nos vitória sobre o pecado.
No capítulo 16 Paulo apresenta a solução espiritual
conclusiva e dá instrução para uma coleta para os santos sofredores
de Jerusalém. O último capítulo dessa carta é mais do que um pós-
escrito e uma despedida. Deliberadamente Paulo coloca a mordomia
entre os dons espirituais, que são soluções gerais para os problemas
da igreja de Corinto. Encontramos a correção de Paulo quanto à
“carnalidade” daquela igreja nos onze primeiros capítulos dessa carta
e as soluções espirituais gerais para todos os problemas da igreja em
Corinto e também para nossas igrejas hoje, nos capítulos 12 a 16.
Existem duas observações que devem ser feitas nessa segunda
parte da Carta de Paulo aos Coríntios. Paulo escreve que não
devemos ser ignorantes a respeito das funções do Espírito Santo. O
desejo de Paulo, que podemos perceber em toda carta, era que
nenhum crente “fosse ignorante”.
Não podemos deixar de destacar uma segunda observação
feita no final do capítulo 14: “Se alguém pensa que é profeta ou
espiritual, reconheça que o que lhes estou escrevendo é mandamento
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do Senhor. Se ignorar isso, ele mesmo será ignorado” (I Coríntios
14:37,38).
Paulo compartilha verdades espirituais maravilhosas nesses
três capítulos e no final, basicamente, escreve o seguinte: “Se vocês
são realmente espirituais, então reconheçam as verdades escritas
nesses mandamentos do Senhor. Se vocês continuarem ignorantes
depois de eu ter compartilhado essas verdades, será porque
escolheram continuar ignorantes e eu escolho respeitar a escolha de
vocês e deixar que vivam em sua própria ignorância”.
Paulo também escreveu nesses capítulos que contêm soluções
espirituais gerais, que é errado ignorar a função do Espírito Santo.
Se com o estudo desses capítulos você entender como o Espírito
Santo funciona neste mundo e escolher ignorar a obra dEle estará
sendo desobediente e, como crente, pode perder o seu ministério.
Paulo também vai falar que é errado idolatrar certos dons ou
manifestações do Espírito Santo.
Capítulo 5
“Dons e Ministérios”
(I Coríntios 12:1-6)
Os onze primeiros versículos do capítulo 12 levam-nos ao
que considero ser o coração desta carta. Pretendo enfocar cada um
desses versículos. No versículo 3 obviamente o apóstolo Paulo está
tratando da atividade demoníaca associada à adoração de ídolos na
cidade de Corinto. O povo que estava adorando e oferecendo
sacrifícios aos ídolos estava adorando e oferecendo sacrifícios a
demônios (cf. 10:19-21; 12: 2, 3).
Quando o povo adorava ídolos, espíritos do mal o levavam a
amaldiçoar Jesus. Paulo escreveu no versículo 3: “Por isso, eu lhes
afirmo que ninguém que fala pelo Espírito de Deus diz: “Jesus seja
amaldiçoado”; e ninguém pode dizer: “Jesus é Senhor”, a não ser
pelo Espírito Santo”.
A doutrina básica de comunhão nas igrejas do Novo
Testamento pode ser resumida nesta frase: “Jesus é Senhor”. Jesus
disse: “Se alguém vem a mim e ama o seu pai, sua mãe, sua mulher,
seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até sua própria vida mais do que a
mim, não pode ser meu discípulo. E aquele que não carrega sua
cruz e não me segue não pode ser meu discípulo” (Lucas 14:26 e 27).
No contexto dessa passagem Jesus estava dizendo: “Da mesma
forma, quem não desistir de tudo, não pode ser Meu discípulo” (cf.
Lucas 14:25-35).
O que significava tudo isso para aqueles que ouviram essas
palavras de Jesus? Significava estar disposto a morrer por Ele, caso
contrário não poderia ser Seu discípulo. Jesus Cristo tem que ser
mais importante do que qualquer bem ou pessoa em sua vida, caso
contrário, você não pode ser Seu discípulo. Paulo estava ensinando
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essa verdade ao escrever a doutrina básica de comunhão para a igreja
do Novo Testamento.
Como o crente pode ter essa conquista em sua vida? De
acordo com Jesus, para que alguém veja o Reino de Deus e usufrua
um relacionamento com Ele, de acordo com o que Ele é, ou seja,
como seu Rei, precisa nascer de novo. Foi isso que Jesus disse a
Nicodemos (cf. João 3:3,5). Paulo concorda com Jesus ao escrever
que para declararmos com nossa boca e com a nossa vida “Jesus é
Senhor” devemos ter uma experiência com o Espírito Santo, ou seja,
devemos ter nascido de novo.
Com essa introdução, a partir do versículo 4 do capítulo 12 e
nos próximos três capítulos, Paulo expõe seu ensino sobre as funções
do Espírito Santo na igreja. O apóstolo enfatiza dois conceitos nesse
capítulo. De acordo com Paulo, quando o Espírito Santo atua
devidamente em uma igreja, essa igreja tem a marca da diversidade e
da unidade. Observe quantas vezes Paulo repetiu esses dois
conceitos nesse capítulo. Como esses dois princípios antagônicos
coexistem em uma igreja? Com a inspiração do Espírito Santo,
Paulo une esses dois princípios opostos entre si, diversidade e
unidade, quando diz que a igreja funciona como o corpo humano. É
grande a diferença entre o olho e o ouvido, entre a mão e o pé, mas a
diversidade funciona em perfeita união, porque todos os diversos
membros de um corpo estão sob o controle da Cabeça.
Na última metade do século XX houve um reavivamento do
interesse pelo Espírito Santo. Devemos ser cuidadosos na maneira
como rotulamos nossas experiências com o Espírito Santo, para não
criarmos divisão nem confusão. Por exemplo, você já ouviu pessoas
se referindo ao pastor, a outros crentes ou a igrejas como sendo
cheios do Espírito? Isso implica que há crentes, pastores e igrejas
que são cheios do Espírito e outros crentes, pastores e igrejas que não
o são.
Será que é isso que está implícito quando a Bíblia usa a
expressão “cheio do Espírito”? Todos os crentes receberam o
mandamento para serem “cheios do Espírito” (Efésios 5:18). No
original grego fica claro que este é um mandamento e não uma opção
para o discípulo verdadeiro de Jesus Cristo.
O que significa ser cheio do Espírito? No Livro de Atos
lemos que Pedro, “cheio do Espírito”, pregou e milhares se
converteram. Mais adiante lemos novamente que “Pedro, cheio do
Espírito”, fez isso e aquilo outro. E agora? Como estava Pedro entre
um episódio e outro, quando a Bíblia afirmou que Pedro estava
“cheio do Espírito”?
O Espírito Santo não é um líquido. O Espírito Santo é uma
Pessoa. Ou nós temos a Pessoa do Espírito Santo em nossas vidas ou
não temos. A questão não é o quanto do Espírito você tem, mas
quanto de nós o Espírito Santo tem. Quando Ele tem tudo de nós,
então estamos cheios do Espírito.
Um crente cheio do Espírito é um crente controlado pelo
Espírito. Antes de ordenar que fossemos cheios do Espírito, Paulo
escreveu: “Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem,
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mas deixem-se encher pelo Espírito” (Efésios 5:18). Assim como a
pessoa bêbada está sob a influência ou controle do álcool, nós
estamos sob a influência ou controle do Santo Espírito.
Paulo está dizendo, neste capítulo, que quando nós e os
membros da nossa igreja estamos cheios do Espírito, a igreja é
caracterizada por uma diversidade e unidade maravilhosas. Paulo
explicou que “Há diferentes tipos de dons, mas o Espírito é o
mesmo” (4). Como os dons espirituais nos equipam para ministérios
espirituais? “Há diferentes tipos de ministérios” (5). Isto significa
que há diferentes maneiras de servir a Deus. Existe diversidade de
dons e por causa dessa diversidade, existe uma diversidade de
ministérios. Em uma igreja controlada pelo Espírito, seus membros
não têm os mesmos dons nem os mesmos ministérios.
No versículo 6 Paulo escreveu: “Há diferentes formas de
atuação, mas é o mesmo Deus quem efetua tudo em todos”. Os dons
e ministérios do Espírito não são dados conforme nossa vontade, mas
conforme o Espírito quer (cf. 11). Concluímos, então, a partir dos
versículos 4, 5 e 6, que os dons são diversos, os ministérios são
diversos e a maneira como Deus opera através desses dons e
ministérios não é sempre a mesma. Mas Paulo reforça a idéia de que
é o mesmo Espírito quem trabalha e opera em e através desses
diversos dons e ministérios. Essas manifestações do Espírito são
dadas para o proveito de toda igreja.
Capítulo 6
“Os Dons do Espírito Santo”
(I Coríntios 12:7-11)
Essa passagem descreve os diversos dons espirituais da
igreja, que é o corpo de Cristo. No versículo 8 Paulo escreveu: “Pelo
Espírito, a um é dada a palavra de sabedoria”. Estou convencido de
que, usando a expressão “palavra de sabedoria” Paulo estava se
referindo ao dom de pregação e ensino da Palavra de Deus quando se
sabe aplicar e ilustrar o que a Palavra significa para nós.
Paulo também explica que “pelo único Espírito Deus dá a
outro, dons de curar” (9). Quanto ao dom de cura, não pense apenas
em cura física. Lembre-se de que a dimensão espiritual do ser
humano é muito mais importante do que a física, porque é eterna, e a
dimensão visível e física de um homem ou uma mulher é temporal.
Por isso a cura espiritual ou interior é mais importante do que a
exterior ou física.
No versículo 10 lemos: “a outro, profecia”. O profeta é
aquele através de quem Deus fala. Na minha opinião, quando
pastores-mestres ou evangelistas pregam com a unção do Espírito, o
que sai da boca deles é profecia, porque Deus está falando através
deles.
Paulo continua: “a outro, discernimento de espíritos” (10).
Nos primeiros versículos deste capítulo 12, Paulo destacou que antes
de se converterem a Cristo, os coríntios eram completamente
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
12
controlados por espíritos do mal ligados à adoração a ídolos. Como
podemos saber que estamos sendo controlados pelo Espírito Santo e
não por espíritos do mal? A resposta é que precisamos da Palavra de
Deus e do dom do discernimento no corpo de Cristo.
Ainda no versículo 10 lemos: “a outro, variedade de
línguas”. O que é isso que Paulo escreveu? Sabemos que no dia do
Pentecostes aconteceu um fenômeno miraculoso e as barreiras das
línguas foram quebradas. Quando Pedro pregou seu maravilhoso
sermão e os apóstolos louvaram a Deus, uma só língua foi falada.
Todos entenderam, independentemente da língua nativa de cada um.
Foi um milagre. A mensagem de Pedro e dos apóstolos era para os
ouvidos dos homens. E foi por isso que foi rotulada de “profecia”
pelo profeta Joel e pelo autor do Livro de Atos (Joel 2:28; Atos
2:17,18).
Comentaremos mais sobre “línguas” quando chegarmos no
capítulo 14 desta carta, onde Paulo afirma que aquele que fala em
línguas fala para Deus e não para homens. Paulo explica que os
homens não podem entender porque, o que fala em línguas fala no
seu espírito, fala mistério; não línguas, mas mistérios (14:2). Não foi
isso o que aconteceu no dia do Pentecoste. Lucas, no Livro de Atos,
e Paulo, nesta carta aos coríntios, descreveram dois tipos diferentes
de línguas.
Veja a lista dos dons nos versículos 7 a 10 e procure
familiarizar-se com eles. Olhe os dons espirituais listados no
capitulo 12 de I Coríntios e tente descobrir que tipo de dom o
Espírito Santo lhe deu. Depois procure maneiras de exercitar os dons
que você acha que o Espírito lhe deu.
Paulo conclui seu ensino sobre dons espirituais escrevendo:
“Todas essas coisas, porém, são realizadas pelo mesmo e único
Espírito, e ele as distribui individualmente, a cada um, como quer”
(11). É assim que o Espírito Santo trabalha. Ele dá dons como esses
aos que pertencem ao Corpo, para equipá-los para seus ministérios.
Capítulo 7
“Cinco Impressões Digitais de uma Igreja Saudável”
(I Coríntios 12:4-19)
Depois de falar como os dons espirituais se tornam
ministérios, Paulo dá continuidade a outra parte deste importante
ensino. Ele toma os princípios da diversidade e da unidade que são
opostos entre si e os une ao falar que a igreja funciona como o corpo
humano.
O que é a igreja? Qual é a essência e a função da igreja?
Jesus disse: “... edificarei a minha igreja, e as portas do Hades não
poderão vencê-la” (Mateus 16:18). Jesus anda no meio das Suas
igrejas (Apocalipse 1:12,13,20). Quais são as evidências de que
nossa igreja faz parte da igreja que o Cristo Vivo e Ressurreto está
construindo e visitando hoje?
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
13
Existem mais de 60 bilhões de impressões digitais neste
mundo e cada uma é distinta da outra. Agências de investigação em
todo o mundo podem identificar você e eu pelas nossas impressões
digitais. Será que a igreja que Cristo está construindo tem
“impressões digitais” que a identificam? Em outras palavras, será
que existem provas suficientes que a igreja que freqüentamos faz
parte da Igreja que Cristo está construindo?
Encontrei, no Novo Testamento, dez “impressões digitais”
que podem identificar essa igreja que Cristo está construindo e
abençoando com Sua divina presença. Elas não apenas identificam a
igreja de Cristo, mas também nos ajudam a monitorar a saúde de uma
igreja.
Essas “impressões digitais” podem ser encontradas em dois
lugares. As cinco primeiras, bem no começo da Igreja, ou no que
chamamos de “A Grande Comissão” que deu origem à Igreja. Jesus
deu um mandamento aos apóstolos: “Portanto, vão e façam
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do
Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu
lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos”
(Mateus 28:19-20).
O Livro de Atos é um registro de como os apóstolos e os
discípulos de Jesus implementaram a Grande Comissão. O objetivo
de pregar o Evangelho é fazer discípulos, batizá-los e ensiná-los. A
Grande Comissão literalmente significa: “Fazer discípulos,
batizando-os e ensinando-os”.
Assim, no dia do Pentecoste, quando três mil judeus se
converteram, os apóstolos sabiam o que fazer com eles. Lemos que
aqueles que se converteram “se dedicavam ao ensino dos apóstolos e
à comunhão, ao partir do pão e às orações” (Atos 2:42). É o início
da Igreja de Jesus Cristo e é aí que encontramos as cinco primeiras
“impressões digitais” de uma igreja sadia.
Na “mão direita”, considere o “polegar” como o evangelismo.
Os apóstolos pregaram o Evangelho e levaram os convertidos para a
Igreja. O “dedo indicador” representa o ensino. Em obediência à
Grande Comissão, os apóstolos ensinaram aqueles que se
converteram no dia do Pentecoste. O “dedo do meio” é a comunhão.
Os discípulos que se converteram pela pregação dos apóstolos não
foram apenas evangelizados. Eles permaneceram no ensino e na
comunhão dos apóstolos. O “dedo anular” é adoração. Eles
expressaram o amor deles pelo Cristo Vivo e Ressurreto através do
partir do pão com os apóstolos. Isso quer dizer que eles celebravam
juntos, a Ceia do Senhor. Rotulei de “dedo mindinho” a impressão
digital da oração, porque os novos discípulos permaneciam em
oração com os apóstolos.
Encontrei mais cinco impressões digitais no capítulo 12 da
Primeira Carta de Paulo aos Coríntios, as quais creio que são a
declaração mais importante do Novo Testamento sobre a igreja
planejada pelo Cristo Vivo para funcionar no mundo.
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
14
Capítulo 8
“Outras Cinco Impressões Digitais de uma Igreja Saudável”
(I Coríntios 12:12-24)
No último capítulo mencionei que as impressões digitais da
mão direita de uma igreja saudável são: o polegar, o evangelismo; o
dedo indicador o ensino; o dedo do meio a comunhão; o dedo anular
a adoração e dedo mindinho a oração.
Neste capítulo encontramos mais cinco impressões digitais de
uma igreja saudável. De acordo com essa descrição inspirada de
Paulo, de como a igreja funciona, o dedo polegar da mão esquerda é
a unidade. Numa oração de Jesus, Ele pediu cinco vezes pela
unidade da Sua igreja. Por isso só podemos esperar que esta seja
uma marca visível da igreja.
A impressão digital do dedo indicador da mão esquerda é a
diversidade. Paulo estava dizendo basicamente que, se formos
exatamente iguais, um de nós será desnecessário. Paulo usa uma
ilustração chocante na pergunta do versículo 17: “Se todo o corpo
fosse olho, onde estaria a audição? Se todo o corpo fosse ouvido,
onde estaria o olfato?”. Dá para imaginar um corpo feito só de olho
ou só de ouvido? O corpo humano é marcado pela beleza da
diversidade e sem ela o corpo humano seria uma coisa horrorosa.
Unidade sem diversidade é uniformidade. Uma igreja controlada
pelo Espírito tem unidade sem sacrificar a diversidade de dons e
ministérios.
O dedo do meio é a pluralidade: “O corpo não é feito de um
só membro, mas de muitos” (14). Muitas igrejas têm pastores com
dons maravilhosos e isso é muito bom, mas quando a igreja se reúne,
o pastor não deve ser o único a manifestar seus dons. Isso não é
pluralidade. Os líderes sempre são referidos no Novo Testamento no
plural. A igreja não funciona como um corpo deficiente, mas sim
como um corpo saudável, no qual todos os membros funcionam bem.
O corpo de Cristo precisa que todos os membros funcionem como
Deus planejou.
O dedo anular da mão direita seria a compaixão ou o amor de
um para com o outro. Se um membro sofre, todos os outros sofrem
com ele. “Vejam como eles se amam!”. Esse era o comentário que
faziam a respeito da primeira geração da igreja, e que seja isso o que
se diga hoje a respeito da igreja do Cristo Vivo.
A impressão digital do dedo mindinho da mão direita poderia
ser chamada de igualdade. Todos os membros do corpo têm a
mesma importância. Dentro do nosso aparelho auditivo existe um
pequeno osso que controla nosso equilíbrio. Não podemos vê-lo, tão
pouco nos lembramos que ele existe, mas se ele for removido, vamos
direto ao chão. Na igreja existem os pequenos membros, aqueles
membros do corpo que não vemos, mas que têm uma função vital na
vida para o corpo. Todos os membros, os da frente ou os do fundo,
os que todos vêem e os que são anônimos, são iguais em importância
para o funcionamento do corpo de Cristo.
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
15
Unidade, diversidade, pluralidade, compaixão e igualdade –
essas são as cinco impressões mais importantes da igreja, de acordo
com este ensino do apóstolo Paulo, ao descrever a natureza e a
função da verdadeira igreja do Cristo Vivo e Ressurreto.
Problemas na Manutenção da Unidade e da Diversidade
Paulo aborda vários problemas ao escrever sobre a
diversidade e a unidade da igreja. Podemos chamar o primeiro
problema de “discriminação espiritual”. Existiam, na igreja de
Corinto, pessoas com dons do Espírito, como o dom de línguas, por
exemplo. Quando alguém recebia o dom de línguas, achava que era
mais espiritual do que os que não o tinham recebido.
Esse problema de discriminação espiritual existe hoje nas
igrejas. Muitos acham que o dom de línguas é um “dom credencial”.
Aqueles que têm o dom tratam os que não o têm como se não fossem
tão espirituais. Isso é descriminação espiritual. Se eu fosse um
crente novo, ficaria sentido se fosse descriminado por não ter os
mesmos dons que o resto dos membros tem. Paulo tratou da
descriminação espiritual ao escrever: “E se o ouvido disser: ’Porque
não sou olho, não pertenço ao corpo’, nem por isso deixa de fazer
parte do corpo” (16).
O próximo problema enfocado por Paulo pode ser chamado
de “depreciação espiritual”. Muitos crentes são inseguros
espiritualmente e porque não têm os mesmos dons do grupo, logo
começam a depreciar ou subestimar os dons espirituais que Deus lhes
deu.
Por último, outro problema que preocupava Paulo era o
problema da divisão espiritual. A ordem em que as coisas acontecem
é a seguinte: a discriminação espiritual leva à depreciação espiritual e
este problema pode levar à divisão no corpo de Cristo. Se eu for
tratado como membro de segunda categoria na igreja que freqüento,
acabo procurando outra igreja onde não serei tratado dessa maneira.
O problema de divisão existe. Infelizmente, a discriminação
espiritual às vezes se manifesta quando os crentes se reúnem em
grupos, de acordo com os dons que têm, excluindo aqueles que não
receberam o mesmo tipo de dons espirituais que eles.
Em Sua oração pela igreja, Jesus pediu cinco vezes que
sejamos um (cf. João 17). Que trágico pensar que os crentes
permitem que o diabo use a manifestação do Espírito Santo dada por
Cristo para cultivar e manter nossa unidade, para causar divisão e
fraturas nessa unidade pela qual Ele orou.
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
16
Capítulo 9
“O Corpo de Cristo”
(I Coríntios 12:27-31)
Como podemos resumir esse estudo maravilhoso do apóstolo
Paulo agora que estamos quase no fim do capítulo 12?
Primeiramente devemos observar que o apóstolo enfatizou mais de
uma vez que é Deus quem coloca todos no corpo. Não temos os
dons do Espírito que desejamos, mas os que Ele quer que tenhamos.
Paulo escreve: “Todas essas coisas, porém, são realizadas pelo
mesmo e único Espírito, e ele as distribui individualmente, a cada
um, como quer... De fato, Deus dispôs cada um dos membros no
corpo, segundo a sua vontade” (12:11,18). Obviamente Paulo estava
se referindo ao corpo de Cristo, a Igreja. Em outras palavras, Deus
une o corpo de Cristo com a diversidade de dons e ministérios, da
maneira que Ele quer; também com a unidade necessária para que
todos trabalhem juntos, sob o controle do Cabeça, que é o Cristo
Vivo e Ressurreto.
Observe que o dom de línguas, que os coríntios
transformaram em um tipo de “dom credencial”, é o último a ser
mencionado em uma ordem de preferência (cf. 12:10). Se fôssemos
tornar algum dom do Espírito em um tipo de credencial, o dom de
línguas seria a última opção.
É evidente que Deus quer que essa diversidade de dons
funcione em unidade no corpo de Cristo. Toda essa gente diferente,
ainda mais diferente devido à diversidade de dons do Espírito que
recebeu, pode exercitar seus dons espirituais e trabalhar juntos de
maneira sobrenatural, porque todos são controlados pelo Cristo Vivo.
Paulo prioriza alguns ministérios e papéis de liderança da
igreja em outra lista. No versículo 28, ele escreveu: “Deus
estabeleceu primeiramente apóstolos”. Alguns dizem que Paulo
estava se referindo aos Doze Apóstolos e ao ministério que eles
tiveram. Outros dizem que a palavra “apóstolo” aqui significa
“missionário” ou “enviado”. Portanto, podemos considerá-lo o dom
dos missionários ou daqueles que plantam igrejas ou iniciam
ministérios e por isso pode ser considerado como um dom apostólico.
Paulo continua: “em segundo lugar, profetas”. Profetas são
aqueles que falam por Deus ou aqueles através de quem Deus fala
durante um ensino ou pregação da Palavra de Deus. Depois, “em
terceiro lugar, mestres”. A Grande Comissão determina que os
novos discípulos sejam ensinados. É por isso que encontramos
pessoas na igreja com o dom de ensino. Depois Paulo lista “os que
realizam milagres, os que têm dons de curar, os que têm dom de
prestar ajuda, os que têm dons de administração...”. Esses dons
práticos não tinham sido mencionados antes. Nenhum dom é tão
pastoral como o dom de cura pela fé e o dom da pregação da Palavra.
As igrejas e ministérios precisam desesperadamente de bons
administradores para implementar a Grande Comissão! E aqui
encontramos a citação dos prestadores de ajuda, ou seja, as pessoas
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
17
que ajudam a fazer as coisas acontecerem! Finalmente, no final da
lista, Paulo menciona “os que falam diversas línguas”.
Paulo faz algumas perguntas ao concluir o capítulo: “São
todos apóstolos? São todos profetas? São todos mestres? Têm
todos o dom de realizar milagres? Têm todos os dons de curar?
Falam todos em línguas? Todos interpretam?” (29, 30). A resposta
óbvia é “Não!”. Se dois forem exatamente iguais, um passa a ser
desnecessário. Se algum de nós tivesse todos os dons não
precisaríamos dos outros membros do corpo. Mas da maneira como
Deus organizou, ninguém tem todos os dons. Por esta razão somos
todos necessários e precisamos todos uns dos outros. Louvado seja
Deus que nos fez todos diferentes uns dos outros e todos necessários
ao corpo de Cristo!
Capítulo 10
“A Sinfonia do Amor”
(I Coríntios 13)
O capítulo 13 desta carta é considerado o “Capítulo do Amor”
da Bíblia. Entretanto, devemos observar que apesar disso, o “amor”
não é o assunto principal desta passagem, mas sim os dons
espirituais. Antes de comentarmos versículo por versículo deste
capítulo, veremos o contexto no qual Paulo escreveu essas palavras
inspiradas sobre o amor. Essa declaração sobre amor vem depois de
um ensino sobre os dons espirituais, que terminou com as seguintes
palavras: “Entretanto, busquem com dedicação os melhores dons.
Passo agora a mostrar-lhes um caminho ainda mais excelente”
(12:31).
Depois dessa introdução, Paulo escreveu o grande “Capítulo
do Amor da Bíblia”. E a conclusão do capítulo 13 é o primeiro
versículo do capítulo 14: “Sigam o caminho do amor e busquem com
dedicação os dons espirituais, principalmente o dom de profecia”.
No início desse maravilhoso tratado do amor, Paulo admoesta para
que busquemos com dedicação os melhores dons; e no final a
admoestação se repete, “busquem com dedicação os dons
espirituais” (12:31; 14:1).
Neste capítulo Paulo contrasta o amor com os dons
espirituais, que eram supervalorizados pelos crentes de Corinto. Um
joalheiro usa um fundo de veludo preto para exibir seus diamantes.
Da mesma maneira, Paulo traz o assunto do amor em sua
argumentação como um pano de fundo para que tenhamos uma
perspectiva melhor dos dons espirituais. Entendemos assim, porque
no capítulo 12 ele ensina sobre dons espirituais e volta a este assunto
no capítulo 14.
O Capítulo 13 apresenta a evidência dessa grande obra do
Espírito Santo em nós. Este capítulo é como uma “Sinfonia do
Amor” em três movimentos. O primeiro movimento são os três
primeiros versículos, o qual intitulei de “Amor Comparado”.
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
18
Nesses três primeiros versículos o apóstolo Paulo compara o
amor com coisas que eram muito valorizadas pelos coríntios, crentes
dentro de uma cultura grega. Por exemplo, como crentes, eles
valorizavam o dom de línguas e como gregos valorizavam a
eloqüência, o saber falar bem. Por isso Paulo começa dizendo:
“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver
amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine”
(13:1). Em outras palavras, eu não vou passar de uma barulheira se
falar em línguas muito bem, mas sem amor.
Paulo então compara o amor ao dom da profecia, sabedoria
de mistérios, conhecimento e fé suficiente para mover montanhas.
Ele afirma que todas essas coisas, sem amor, é nada. E continua
escrevendo que mesmo que ele dê todo o seu dinheiro aos pobres e o
seu corpo para ser queimado como mártir, mas não tiver amor, “nada
disso valerá” (3). Ao comparar o amor a essas coisas que os crentes
de Corinto valorizavam tanto, Paulo estava declarando: “Não há nada
que eu faça, que eu tenha, ou que eu seja, que substitua a importância
do amor na minha vida”.
O segundo movimento dessa sinfonia intitula-se “Conjunto
do Amor” (4-7). A respeito desses versículos, o autor Henry
Drummond escreveu: “O conceito do amor passa pelo prisma do
intelecto de Paulo, inspirado pelo Espírito Santo e se expressa do
outro lado como um conjunto de virtudes”. Ele chamou esse
segundo movimento de “Amor Analisado”.
Existem na Bíblia diferentes palavras em grego para a palavra
“amor”. “Eros” refere-se ao amor erótico. “Phileo” representa um
tipo de amor entre irmãos. Mas nesses quatro versículos é o conceito
de amor representado pela palavra grega “ágape” que passa pelo
prisma do intelecto de Paulo, inspirado pelo Espírito Santo. Esse
amor ágape, amor altruísta, só pode ser compreendido através de um
conjunto de virtudes. Paulo apresenta quinze virtudes nos versículo
4 a 7 e mostra que se você tiver esse amor, terá também essas
atitudes.
O terceiro movimento dessa sinfonia do amor está nos
versículos 8 a 13. Chamo esse movimento de “Amor
Recomendado”. No último movimento dessa magnífica sinfonia do
amor, Paulo mostra por que o amor é incomparável e por que cada
uma das qualidades com as quais ele comparou o amor no primeiro
movimento não o podem substituir. Esse último movimento se
encerra com estas palavras: “Assim, permanecem agora estes três: a
fé, a esperança e o amor. O maior deles, porém, é o amor” (13). Ao
contrastar e recomendar o amor nesse terceiro movimento, Paulo
mostra por que o amor é a coisa mais importante do mundo.
Por que a fé, a esperança e o amor são os três valores eternos?
Fé é um valor eterno porque, de acordo com a Bíblia, sem fé não
podemos chegar a Deus nem agradá-lO (Hebreus 11:6). E a
esperança? Esperança é a convicção no coração do ser humano, de
que existe algo de bom para acontecer em sua vida. No Livro de
Hebreus também lemos: “a fé é a certeza daquilo que esperamos e a
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
19
prova das coisas que não vemos” (Hebreus 11:1). Em outras
palavras, a fé dá substância à nossa esperança. A esperança é
importante porque nos leva à fé. E a fé é importante porque nos leva
a Deus.
Aqui, Paulo está dizendo que o amor é maior do que a
esperança e do que a fé, porque o amor não é algo que nos leva a
Deus. Esse Amor Ágape descrito por Paulo é o próprio Deus (I João
4:8,16). Quando descobrimos esse amor ágape, descobrimos Deus;
descobrimos a divina presença de Deus, porque esse amor é a
essência do Seu ser. É por isso que Paulo conclui que esse amor é o
que existe de mais importante no mundo.
Não é de se maravilhar que Paulo tenha iniciado esse capítulo
escrevendo: “Passo agora a mostrar-lhes um caminho ainda mais
excelente”. Segundo Paulo, esse amor é incomparável e é a coisa
mais importante do mundo. Podemos entender porque, depois de
falar sobre o amor ágape, ele escreveu: “Sigam o caminho do amor e
busquem com dedicação os dons espirituais” (14:1). Os dons
espirituais são importantes. Deseje-os. Mas faça do amor o seu
maior objetivo, por que Deus é amor.
Capítulo 11
“Um Conjunto de Virtudes”
(I Coríntios 13:4-7)
No coração do capítulo 13 de Primeira Coríntios devemos
examinar o “conjunto de virtudes”, que é a essência do amor, a
essência de Deus. Paulo não poderia definir o amor, assim como não
poderia definir Deus. Mas aqui e em outros dos seus escritos, o
apóstolo afirma que se o Espírito Santo de Deus vive em nossos
corações, essas quinze virtudes são a evidência desse milagre (cf.
Gálatas 5:22,23). Isso quer dizer que nesses versículos, o amor não é
apenas analisado. Se quisermos conhecer mais sobre quem e o que
Deus é, devemos examinar essas virtudes separadamente, porque elas
não apenas analisam o amor, mas são uma análise da essência de
Deus.
Primeiro Paulo afirma que o “amor é paciente”. No original,
ao invés de “paciente” temos a palavra grega que indica que o amor é
misericordioso, incondicional, que ele não se vinga, mesmo quando
tem o direito e a oportunidade de fazê-lo.
A seguir lemos que “o amor é bondoso”. Essa palavra em
grego significa “o amor é fácil de se conviver”, ou seja, o amor é
doce, é bom, faz o que é bom. Todos esses conceitos estão contidos
na palavra grega que foi traduzida por “bondoso”.
Paulo continua dizendo que o amor “não tem inveja”. As
palavras de Paulo sugerem um compromisso altruísta com o bem
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
20
estar do outro. Um altruísmo santificado; um compromisso
deliberado e altruísta com o bem estar daquele a quem se ama.
A próxima qualidade é: o amor “não se vangloria”. Quer
dizer, a pessoa com essa qualidade não precisa impressionar
ninguém.
A seguir lemos: o amor “não se orgulha”. O amor não é
arrogante ou, em outras palavras, é humilde.
Continuando, lemos: “Não maltrata”. O amor tem boas
maneiras, tem um comportamento cortês e educado porque está
voltado para o bem-estar do outro. E depois, “não se ira facilmente”,
não fica irritado por qualquer coisa. Entre essas duas qualidades
Paulo acrescenta que o amor “não procura os seus interesses”. Se
você tem essa qualidade do amor, jamais será egocêntrico, porque o
amor não busca as coisas sempre do seu jeito.
“Não guarda rancor”, o amor não fica com uma lista dos
erros da pessoa que ama. A pessoa que ama com o amor ágape não
tem o que se pode chamar de “memória muito santificada”, que
guarda uma lista de todos os erros da pessoa que ama.
“O amor não se alegra com a injustiça”, significa que o amor
não fica feliz com os erros ou falhas dos outros. “... mas se alegra
com a verdade”, o que significa alegrar-se quando a verdade
prevalece na vida daquele que você ama.
“Tudo sofre”, essa frase, no original grego, sugere que com
esse amor, você quer que a pessoa amada prospere espiritualmente e
quando ela erra, você não fica falando para todo mundo. E quando a
pessoa conta os erros dela, você sabe manter o sigilo.
“Tudo crê” significa acreditar no melhor da pessoa amada.
Esse amor tem fé para ver e crer no potencial da pessoa amada.
“Tudo espera” significa que o amor espera com alegria pelo
cumprimento do que vê e crê a respeito da pessoa amada.
“Tudo suporta” significa que o amor persevera enquanto
espera o cumprimento do que crê e acredita que verá na vida da
pessoa que é objeto do seu amor.
Depois de apresentar essas quinze virtudes, Paulo escreve: “O
amor nunca perece” (8). O original grego sugere que aquele que
ama tem confiança para esperar, crer e suportar, porque sabe que esse
amor não vem dele. Esse amor vem de Deus e esse conjunto de
virtudes é uma expressão do milagre de Deus existindo no homem e
expressando-se através dele. Como Deus é amor e essas virtudes
revelam o amor que Deus, esse amor jamais perecerá, porque Deus
jamais vai perecer. Nós falhamos em não acessarmos nem nos
apropriarmos de Deus; falhamos em não amar. Mas esse amor que
Deus tem por nós e através de nós jamais perece.
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
21
Capítulo 12
“Amor Excêntrico”
(I Coríntios 13:4-7)
O Capítulo do Amor da Bíblia afirma que o amor é
incomparável, porque Deus é amor. O amor definido e recomendado
neste capítulo é o próprio Deus, porque esse amor é Deus, é
incomparável e insubstituível. Essas quinze virtudes não
compreendem toda a lista de virtudes do amor ágape. Elas são
apenas alguns exemplos que caracterizam a pessoa cheia do Espírito
d’Aquele que na Sua essência é Amor.
Ao examinar as quinze virtudes que definem e expressam o
amor que é Deus, podemos afirmar que o amor é “excêntrico” porque
ele é “descêntrico”. Os coríntios acusaram o apóstolo Paulo de ser
“excêntrico” ou de estar “fora do seu centro”. Todos nós temos um
centro ao redor do qual nossas vidas giram. Para muitas pessoas,
esse centro é o próprio “eu” ou o interesse próprio. Os coríntios
viram que o centro da vida de Paulo era diferente do centro da vida
deles e Paulo concordou com eles (cf. II Coríntios 5:13).
Engenheiros espaciais cunharam a palavra “descêntrico”, que
define o fato de um satélite estar em uma órbita irregular e
disfuncional, ou seja, um satélite cujo centro de sua órbita foi
trocado.
A palavra “descêntrico” descreve o que têm em comum as
quinze virtudes que expressam o amor ágape. Se o Espírito Santo
habita em você e assim você tem esse amor em sua vida,
conseqüentemente você passa a ser “excêntrico”, porque se tornou
“descêntrico”. As pessoas do mundo vão considerá-lo excêntrico
devido a esse centro de vida diferente; você será descêntrico porque
o centro da sua vida mudou quando o Cristo Vivo e Ressurreto
estabeleceu residência em seu coração.
Outra observação sobre esse conjunto de virtudes é que elas
se manifestam exteriormente porque foram antes vividas
interiormente. Elas são uma expressão exterior de uma realidade
interior. Por exemplo, poderíamos dizer que esse amor é
exteriormente indestrutível, porque interiormente é incondicional.
Quando você ama alguém com o amor ágape, pela graça de Deus,
você pode dizer: “Meu amor por você não depende do que você faz
ou deixa de fazer. Meu amor por você é incondicional. Nada que
você diga ou faça me fará deixar de amar você. Esse amor é forte.
Esse amor agüenta qualquer coisa que você disser ou fizer, porque eu
o amo com o amor de Deus”.
Aquilo que as pessoas consideram amor é condicional,
porque o amor humano geralmente se baseia no que a pessoa amada
faz. Muitas vezes as crianças são amadas condicionalmente. Os pais
chegam a dizer explicita ou sutilmente: “Se você tirar boas notas e
não nos causar problemas, então nós o amaremos”. Isso deixa a
criança insegura, porque mesmo que durante uma semana ela se
comporte bem, como ter certeza de que na próxima, conseguirá o
mesmo comportamento?
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
22
Se uma mulher acredita que é amada pelo seu marido apenas
porque é boa parceira sexual, ela poderá alimentar dentro de si o
pensamento: “E se eu ficar doente ou engravidar? E se eu não puder
mais ter o mesmo desempenho na cama, será que ele vai me amar
mesmo assim?”.
Se um homem acredita que é amado pela sua esposa
simplesmente porque é um bom provedor para a família, poderá
também alimentar dentro de si o pensamento: “E se eu perder meu
emprego? E se eu ficar doente e não puder mais prover o necessário
para minha família, será que ela vai me amar mesmo assim?”.
Finalmente, esse amor jamais se manifestará exteriormente se
interiormente não ocorrer um milagre espiritual. Você não pode
amar ninguém com suas próprias forças. Nós temos a capacidade de
expressar esse amor apenas porque Deus é a fonte miraculosa desse
amor interior.
Capítulo 13
“A Solução que Jamais Falha”
(I Coríntios 13)
Ao ler a Primeira Carta de Paulo aos Coríntios procure
observar que o Capítulo do Amor pode ser uma solução espiritual
geral para todos os problemas tratados até agora. Por exemplo, o
primeiro problema tratado foi a divisão na igreja. Qual era realmente
o centro dessa questão? Orgulho, arrogância, egocentrismo e
egoísmo. Mesmo tendo apresentado uma solução específica nos
quatro primeiros capítulos dessa carta, ao ensinar que o amor é
humilde e voltado para os interesses do outro, Paulo apresentou uma
solução geral para o problema de divisão na igreja.
No capítulo 5 Paulo tratou do problema de um irmão que
estava tendo um caso com sua madrasta. Observe que o coração da
solução apresentada por Paulo para esse problema foi o amor por
Cristo, amor pela Sua Igreja e amor pelo irmão caído. Toda
disciplina na igreja, ensinada nas Escrituras é baseada no princípio
do amor, da reconciliação e da restauração do irmão.
No capítulo 6, o problema dos coríntios era que um estava
processando o outro na justiça comum da cidade e Paulo, no coração
da solução específica para esse problema, perguntou: “Por que vocês
não aceitam ser a parte lesada? Por que não ser a parte que leva
prejuízo, a fim de que se preserve o testemunho da igreja na cidade
de Corinto?” (cf. 7). Como podemos perceber, o amor não busca
levar vantagem em tudo nem procura os seus próprios interesses.
Portanto, o amor ágape seria a solução geral que resolveria o
problema dos processos judiciais entre os irmãos de Corinto.
Certamente o espírito do ensino específico sobre casamento
no capítulo 7 é o amor ágape. Qual é a causa principal da maioria
dos problemas nos casamento dos crentes? O egoísmo. Qual é a
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
23
solução geral para o egoísmo? O amor ágape, apresentado com
clareza no capítulo 13.
Ao tratar da questão da carne oferecida aos ídolos, Paulo
escreveu: “O conhecimento traz orgulho, mas o amor edifica” (8:1).
A solução específica apresentada por Paulo não determinava se era
certo ou errado comer carne, mas quanto era amado o irmão mais
fraco, que achava errado comer daquela carne. Jesus amou esse
irmão mais fraco o suficiente para morrer por ele. Você o ama o
suficiente para abrir mão de um prato de carne?
Nos capítulos que tratam dos dons e ministérios do Espírito
na igreja, o princípio do amor foi enfatizado novamente quando
Paulo apresentou as soluções específicas no capítulo 12. Os dons e
ministérios espirituais não são para edificar você mesmo, mas para
edificar o irmão. Eles foram dados para todos os membros do corpo.
No capítulo 14 o conceito de que você deve edificar os outros
membros do corpo é mencionado mais de quarenta vezes. Esse
capítulo é todo voltado para o amor que serve e que se centraliza no
outro.
Mesmo na aplicação da Ressurreição, no capítulo 15,
encontramos o amor. Quando você compreende o Evangelho da
morte e da ressurreição de Jesus Cristo que lhe salvou, a aplicação é
que você deve ser sempre abundante na obra do Senhor, para que
outros experimentem essa salvação. E o amor, obviamente, é o
espírito da coleta para os santos em sofrimento de Jerusalém, no
capítulo 16. Isso também é um exemplo muito bonito de solução
geral encontrada no amor ágape, no capítulo 13.
Do começo ao fim da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios,
encontramos soluções específicas para problemas específicos.
Quando Paulo encerra suas admoestações específicas para as
carnalidades da igreja de Corinto, ele inicia o capítulo 12 escrevendo:
“Irmãos, quanto aos dons espirituais, não quero que vocês sejam
ignorantes”. Com essas palavras ele começou a apresentar soluções
gerais para os problemas da igreja. Junto com a obra do Espírito
Santo, o amor ágape é o primeiro na ordem que resulta em edificação
de toda igreja, em ressurreição, em mordomia, e a solução geral para
todos os problemas da igreja de Corinto. Portanto, esse Capítulo do
amor é o coração desta carta de Paulo aos Coríntios, e a solução geral
para todos os problemas da igreja de Corinto encontra-se neste
capítulo maravilhoso.
Capítulo 14
“A Edificação da Igreja”
(I Coríntios 14:1-5)
No capítulo 14 Paulo trata novamente da questão do dom de
línguas. Ao estudar este assunto no Livro de Atos ou nesta carta de
Paulo, chegamos à conclusão que descrevi quando comentei a
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
24
maneira como Paulo mencionou o dom de línguas no capítulo 12
desta carta. As línguas faladas no Pentecoste não são as mesmas às
quais Paulo se refere nesta carta aos Coríntios. As línguas faladas no
Dia do Pentecoste são chamadas de profecia, porque um profeta é
aquele que fala por Deus para os homens e aquelas línguas foram
dirigidas aos ouvidos dos homens (cf. Joel 2:28; Atos 2:17,18).
Neste capítulo Paulo inicia o ensino sobre o dom de línguas
afirmando que aquele que fala em línguas não fala aos homens, mas
a Deus. As línguas, mencionadas dezessete vezes neste capítulo, são
dirigidas aos ouvidos de Deus e não aos ouvidos dos homens. “Pois
quem fala em uma língua não fala aos homens, mas a Deus. De fato,
ninguém o entende; em espírito fala mistérios” (2).
As Escrituras afirmam que Deus nos deu a música para nos
apresentarmos diante d’Ele em adoração, expressando o
inexprimível. É por isso que o povo de Deus tem sido sempre muito
musical. Davi nos exortou a nos apresentarmos diante de Deus com
cânticos (cf. Salmo 100:2). Davi coordenava quatrocentos sacerdotes
que não faziam outra coisa senão louvar a Deus com instrumentos
para adoração, que ele próprio tinha confeccionado (I Crônicas 23:5).
Pela maneira como o capítulo 12 acaba, fica evidente que
nem todo mundo tem o dom de línguas nem deve esperar ter. Esse
dom não deve ser considerado como um dom credencial, ou seja, um
dom que atesta que a pessoa é realmente espiritual. Se algum dom da
lista que Paulo apresentou pudesse ser considerado como um dom
credencial, este seria o de profecia. Depois de dizer que aquele que
fala em línguas fala com Deus, Paulo escreveu: “Mas quem profetiza
o faz para edificação, encorajamento e consolação dos homens”
(14:3). Um profeta é aquele através de quem Deus fala Sua Palavra
para Seu povo visando à edificação. Como o objetivo de todos os
dons é a edificação da igreja (cf. 14:26), aquele que tem o dom
de profecia é maior do que aquele que fala em línguas.
Paulo afirma claramente no versículo 4, que aquele que fala
em línguas estranhas edifica apenas a si mesmo, mas a pessoa que
profetiza, aquela através de quem Deus fala Sua Palavra, edifica a
igreja. Foi por isso que Paulo escreveu: “Gostaria que todos vocês
falassem em línguas, mas prefiro que profetizem. Quem profetiza é
maior do que aquele que fala em línguas, a não ser que as interprete,
para que a igreja seja edificada” (5).
Mais uma vez observe a ênfase dada ao propósito de todos os
dons espirituais, qual seja, a edificação da igreja. Portanto, de acordo
com o ensino inspirado de Paulo, se houver manifestação de línguas
na igreja, deve haver também um intérprete. Tudo o que acontece
em uma assembléia deve edificar toda a assembléia.
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
25
Capítulo 15
“Com Decência e Ordem”
(I Coríntios 14:6-22)
O apóstolo Paulo foi enfático ao encorajar o exercício do dom
de línguas durante as reuniões da igreja. Entretanto, lançou algumas
regras para o exercício desse dom: não deve haver mais de duas ou
três ocorrências em uma reunião; deve ocorrer uma de cada vez e
deve haver sempre interpretação. A interpretação é ordenada para
que todos sejam edificados. As línguas sem interpretação edificam
apenas ao que as fala e isso é inaceitável para o apóstolo.
No versículo 6 ele escreveu: “Agora, irmãos, se eu for visitá-
los e falar em línguas, em que lhes serei útil, a não ser que lhes leve
alguma revelação, ou conhecimento, ou profecia, ou doutrina?”.
Em outras palavras, deve haver proclamação, pregação ou ensino da
Palavra de Deus para que, através de mim, você seja edificado.
No versículo 9 ele conclui: “Assim acontece com vocês. Se
não proferirem palavras compreensíveis com a língua, como alguém
saberá o que está sendo dito? Vocês estarão simplesmente falando
ao ar”. Em outra passagem, na tradução revista e atualizada de João
Ferreira de Almeida lemos: “Tendo, pois, tal esperança, servimo-nos
de muita ousadia no falar” (II Coríntios 3:12). Ou seja, devemos ser
explícitos, claros na pregação e fáceis de sermos entendidos!
Com relação ao dom de línguas, Paulo continuou: “Sem
dúvida, há diversos idiomas no mundo; todavia, nenhum deles é sem
sentido. Portanto, se eu não entender o significado do que alguém
está falando, serei estrangeiro para quem fala, e ele, estrangeiro
para mim” (10, 11). Se a língua não é inteligível, como pode haver
edificação? “Assim acontece com vocês. Visto que estão ansiosos
por terem dons espirituais, procurem crescer naqueles que trazem a
edificação para a igreja. Por isso, quem fala em uma língua, ore
para que a possa interpretar. Pois, se oro em uma língua, meu
espírito ora, mas a minha mente fica infrutífera. Então, que farei?
Orarei com o espírito, mas também orarei com o entendimento;
cantarei com o espírito, mas também cantarei com o entendimento”
(12-15).
Paulo ensinou que, mesmo que você esteja orando sozinho no
seu quarto e experimentar esse fenômeno, deve orar pedindo a
interpretação para que seja ainda mais edificado. Mas aí ele volta a
falar sobre o dom de línguas na assembléia: “Dou graças a Deus por
falar em línguas mais do que todos vocês. Todavia, na igreja prefiro
falar cinco palavras compreensíveis para instruir os outros a falar
dez mil palavras em uma língua” (18 e 19).
O que ele continuou a enfatizar foi que, no meio da
assembléia, toda a igreja deve ser edificada com tudo o que acontece
quando a igreja se reúne. Depois ele resume tudo dizendo: “Irmãos,
deixem de pensar como crianças. Com respeito ao mal, sejam
crianças; mas, quanto ao modo de pensar, sejam adultos” (20). Em
outras palavras, cresçam! Isso quer dizer que é melhor ter a
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
26
inocência e a pureza de uma criança do que ser cínico. Mas,
principalmente o que ele quis dizer foi: cresça no seu entendimento.
No capítulo 3 Paulo chamou os coríntios de “bebês” (cf. 3:1).
No terceiro movimento dessa sinfonia do amor, no capítulo 13, ele
ensinou que devemos colocar de lado nossas atitudes infantis. Agora
aqui, pela terceira vez ele diz aos coríntios que eles eram crianças,
espiritual e intelectualmente falando.
A Mulher Falando na Igreja
Nos últimos versículos deste capítulo encontramos uma
passagem controversa que proíbe as mulheres de falarem na igreja.
Paulo chega ao ponto de dizer que é uma vergonha para a mulher
falar na igreja. Um pouco de conhecimento cultural vai nos ajudar a
compreender esses versículos.
Os estudiosos acreditam que na igreja reunida nos lares de
Corinto, o costume mandava que as mulheres e os homens sentassem
em lados opostos da sala. Como o nível educacional das mulheres
era baixo naquela cultura, temos a impressão que elas não
compreendiam o ensino e se envolviam em conversas entre si. Além
disso também ficavam perguntando ao marido o significado do que
era ensinado, causando muita distração, pois chamavam seus maridos
do outro lado da sala. Isso explica por que elas deveriam esperar até
que chegassem em casa para fazer perguntas a seus maridos.
No capítulo 11 Paulo deu instruções sobre as mulheres
orarem e profetizarem na igreja. Isso quer dizer que ele não proibiu
que as mulheres falassem na igreja. O que era vergonhoso para as
mulheres eram os falatórios e as perguntas aos maridos, feitas de um
lado para o outro do recinto.
Capítulo 16
“Tudo Seja Feito Para a Edificação da Igreja”
(I Coríntios 14:26-36)
Nestes próximos onze versículos Paulo faz um resumo do
ensino do capítulo 14. Apesar de ter tratado da questão do dom de
línguas e, como já comentamos, ter mencionado “línguas” dezessete
vezes, o verdadeiro tema deste capítulo é mencionado mais de
quarenta e cinco vezes. O verdadeiro tema é: quando a igreja se
reúne, tudo deve ser feito para edificação de toda igreja.
O resumo do seu ensino também é uma instrução de como os
crentes devem adorar quando a igreja está reunida. Se onde você
vive, existem muitas igrejas, experimente durante três meses visitar
uma igreja diferente a cada domingo. Você vai ficar impressionado
com as diferentes formas de adoração. Vamos supor que você
abrisse o Novo Testamento com a pergunta: de todas as igrejas
visitadas, qual dentre elas é a correta na maneira de adorar a Deus e a
Cristo? Você ia acabar descobrindo que a única instrução de Jesus
para a Igreja sobre formas de adoração é a chamada “Ceia do
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
27
Senhor” ou “Santa Ceia”. A passagem citada no início desse capítulo
do nosso estudo é a instrução mais completa do Novo Testamento
referente à adoração na igreja.
Observe alguns dos princípios que Paulo apresentou nos
versículo 26 a 36 deste capítulo 14 de I Coríntios. Em primeiro
lugar, todos os presentes deveriam ser participantes. Quando nos
reunimos, cada um de nós deve ter algo para compartilhar: um salmo,
um ensino, uma revelação, uma língua ou uma interpretação (cf. 26).
A seguir ele escreve que os profetas, os quais, acredito, sejam
os pregadores e mestres da Palavra, não devem ser apenas um, mas
dois ou três (cf. 29). Como esses dois ou três profetas são os que
pregam a Palavra, se alguma coisa for revelada por alguém mais, o
que estiver falando deve silenciar e deixar que os outros falem (cf.
30). A idéia é que, se todo mundo tiver alguma coisa para
compartilhar e tiver uma oportunidade para fazê-lo, na sua vez, todos
serão instruídos, consolados, exortados e edificados.
Paulo descreve algo parecido com o que é considerado o
método mais eficiente de ensino hoje em dia nos seminários e muito
utilizados nas faculdades. Nos seminários, o professor é uma fonte
para consulta e cada aluno tem a sua vez para apresentar e
argumentar o seu tema diante da classe. Esse método é considerado
a maneira mais eficiente de aprendizado por envolver discussão e
interação. Foi essencialmente isso que Paulo escreveu nesses onze
versículos há mais de dois mil anos.
Como são as reuniões das igrejas hoje? Será que as pessoas
têm algo para compartilhar? Se você freqüenta uma igreja onde
esses princípios são aplicados, talvez um grupo pequeno, então todos
os dias da semana você deverá estar buscando na Palavra, um Salmo,
um ensino, algo que o Senhor lhe revelou pessoalmente, sabendo que
quando o corpo se reunir, terá oportunidade para compartilhar. Se
nunca lhe for dada oportunidade, jamais você buscará algo para
compartilhar. Para que essa ordem de adoração funcione, todos
devem trazer alguma coisa e cada um deve ter a oportunidade para
compartilhar o que trouxe. Na igreja onde essa ordem de adoração
funciona, as pessoas têm oportunidade para exercitar seus dons,
crescendo e amadurecendo. No Livro aos Hebreus encontramos uma
instrução para adoração semelhante (cf. 10:21-25).
As duas passagens possuem o mesmo princípio de adoração.
Esse princípio é que quando nos reunimos com outros crentes, nosso
objetivo deve ser buscar edificar e abençoar uns aos outros.
Posso fazer um pergunta particular? Por que você vai à
igreja? Muitos crentes freqüentam a igreja pensando no que vão
ganhar com isso. Observe que essas duas passagens instruem os
crentes a receber do Senhor antes de se reunirem. Quando eles se
tornam parte da experiência de adoração, o objetivo passa a ser o que
lemos nesta passagem: “E consideremos uns aos outros para nos
incentivarmos ao amor e às boas obras” (Hebreus 10:24).
Mesmo que para muitos, o capítulo 14 de Primeira Coríntios
seja “O Capítulo do Dom de Línguas do Novo Testamento”,
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
28
devemos saber que sua verdadeira ênfase está nestas palavras de
Paulo: “Tudo seja feito para a edificação da igreja” (14:26).
Capítulo 17
“O Que É o Evangelho?”
(I Coríntios 15:1-4)
Vamos imaginar que eu lhe dê um pedaço de papel e uma
caneta e peça que você escreva sua resposta para a pergunta “O que é
o Evangelho?”. Imagine que sua resposta deva ser acompanhada de
algumas referências a textos bíblicos. Qual seria sua resposta?
Jesus comissionou Seus apóstolos e discípulos para
proclamarem o Seu Evangelho a toda criatura de todas as nações da
terra (cf. Marcos 16:15). Se levarmos a sério a Grande Comissão,
devemos começar conhecendo precisamente o que é o Evangelho.
De acordo com o apóstolo Paulo, o Evangelho consiste em
dois fatos sobre Jesus Cristo. Paulo escreveu: “Irmãos, quero
lembrar-lhes o evangelho que lhes preguei, o qual vocês receberam e
no qual estão firmes (...) Pois o que primeiramente lhes transmiti foi
o que recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as
Escrituras, foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia, segundo as
Escrituras” (I Coríntios 15:1,3,4). Esta é a resposta certa para a
pergunta “O que é o Evangelho?”. O apóstolo iniciou essa carta
dizendo que quando ele foi a Corinto estava determinado a não saber
nada entre eles a não ser Jesus Cristo e Este crucificado (cf. 2:1,2).
Ele conclui a carta lembrando os coríntios de que tinha pregado o
Cristo crucificado e ressurreto.
Você já percebeu que para os autores dos quatro Evangelhos
a Celebração da Ressurreição é muito mais importante do que a
Celebração do Natal? Quando o apóstolo João escreveu seu
Evangelho, dedicou aproximadamente metade dos vinte e um
capítulos aos 33 anos que Jesus viveu na terra, e a outra metade à Sua
última semana de vida aqui. Dos 89 capítulos dos quatro
Evangelhos, quatro capítulos cobrem o nascimento e os trinta
primeiros anos da vida de Jesus na terra, e vinte e sete capítulos,
cobrem a última semana dEle na terra. Por que a última semana de
vida de Jesus é tão importante e por que a Páscoa é tão mais
importante do que o Natal para aqueles que escreveram as biografias
inspiradas de Jesus?
A resposta óbvia a essas perguntas é que durante esta única
semana, Jesus morreu e ressuscitou dos mortos para nossa salvação.
Outra resposta que não é tão óbvia é que durante essa semana Jesus
Cristo demonstrou vida eterna, que é a estrutura ou a perspectiva
através da qual aqueles que crêem no Evangelho devem viver, morrer
e estabelecer suas prioridades de vida neste mundo.
No capítulo 15 de Primeira Coríntios, depois de afirmar
claramente que o Evangelho é a morte e a ressurreição de Jesus
Cristo, Paulo enfoca, como com um raio laser, o segundo fato do
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
29
Evangelho, a ressurreição de Jesus Cristo. Ele escreveu 58
versículos que mostram de maneira prática e devocional, qual deve
ser o significado da ressurreição de Jesus Cristo para você e para
mim. Neste importante capítulo do Novo Testamento, o apóstolo
Paulo retira o véu da sepultura e mostra que existe vida após a morte,
vida depois da sepultura.
Todos os domingos, seguidores de Jesus Cristo se reúnem
para adorá-lO, celebrando o segundo fato do Evangelho: Jesus Cristo
ressuscitou dos mortos. Você nunca se perguntou por que os
apóstolos, que eram todos judeus, mudaram o dia de adoração de
sábado para domingo, o primeiro dia da semana? Se você ler
atentamente, observará que eles nunca chamaram o domingo de
“Sabath”. O primeiro dia da semana foi chamado pelos apóstolos “O
Dia do Senhor”, porque foi neste dia que Jesus ressuscitou dos
mortos. Todos os domingos a Igreja se reúne para adoração,
celebrando a ressurreição de Jesus Cristo, porque no primeiro dia da
semana Jesus declarou e demonstrou o valor eterno e absoluto da
ressurreição e da vida eterna.
Na obra-prima da ressurreição escrita por Paulo, a força
propulsora da sua mensagem é que a ressurreição de Jesus Cristo é a
profecia, a prova, o protótipo e uma pré-estréia do milagre tremendo
que acontecerá na Segunda Vinda de Jesus Cristo, a ressurreição de
todos os crentes, tantos dos vivos como dos mortos. De acordo com
Paulo, esse grande milagre está provado, previsto e proclamado na
ressurreição de Jesus Cristo.
Jesus Cristo morreu e ressuscitou dos mortos para nos salvar.
As Boas Novas (Evangelho) são que quando Jesus morreu na cruz,
Deus colocou sobre Seu Filho amado todo o castigo que nós, seres
humanos rebeldes, merecíamos pelos nossos pecados. Dessa
maneira, Deus exerceu e satisfez Sua justiça perfeita. Com a morte
de Jesus na cruz Deus também expressou o Seu Amor Perfeito. João,
o apóstolo amado, apontou para a cruz e escreveu que Jesus “... é a
propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas
também pelos pecados de todo o mundo” (I João 2:2).
Quando você coloca sua fé no fato de que Cristo morreu em
seu lugar e confia nEle como Seu Salvador, você passa a usufruir a
salvação pela qual Jesus morreu e ressuscitou (Isaías 53; II Coríntios
5:21; I Pedro 2:24).
A palavra grega traduzida para “confessar”, na verdade é
formada por duas palavras que significam “a mesma coisa” e “falar”.
Portanto, “confessar” literalmente significa “falar a mesma coisa”
que Deus fala ou concordar com Deus. Este é o sentido no qual
somos exortados, no Novo Testamento, para confessarmos Jesus
Cristo (cf. I João 4:1-6).
Ao considerarmos o significado da morte e da ressurreição de
Jesus Cristo, eu o desafio a falar a mesma coisa e a concordar com
Deus a respeito da morte de Jesus Cristo.
O profeta Isaías mostra como confessar que Jesus Cristo
morreu por nossos pecados neste versículo: “Todos nós, tal qual
ovelhas, nos desviamos, cada um de nós se voltou para o seu próprio
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
30
caminho; e o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós”
(Isaías 53:6).
Este versículo começa e termina com “todos nós”. O
primeiro “todos nós” refere-se à má notícia de que cada um de nós se
desviou para o seu próprio caminho. Você se inclui neste “todos”?
O último “todos nós” deste versículo refere-se às Boas Novas
de que Deus colocou sobre Jesus Cristo os pecados ou as iniqüidades
de todos nós. Você acredita que está incluído nesse “todos nós”?
Quando, pela fé, você se incluir nos dois “todos nós” desse
maravilhoso versículo de Isaías, você estará confessando o valor
eterno, que Jesus Cristo morreu pelos seus pecados.
O Capítulo da Ressurreição da Bíblia
O assunto do capítulo 15 de Primeira Coríntios é sobre
ressurreição. Neste capítulo Paulo mostra que a ressurreição, não
apenas a de Jesus Cristo, mas também a ressurreição dos crentes que
já morreram faz parte do Evangelho que ele pregou quando esteve
em Corinto. Foi por isso que ele iniciou o capítulo dizendo: “Irmãos,
quero lembrar-lhes o evangelho que lhes preguei, o qual vocês
receberam e no qual estão firmes. Por meio deste evangelho vocês
são salvos, desde que se apeguem firmemente à palavra que lhes
preguei; caso contrário, vocês têm crido em vão” (15:1, 2).
Paulo então passa a enfocar o Evangelho que tinha pregado:
“Pois o que primeiramente lhes transmiti foi o que recebi: que Cristo
morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, foi sepultado e
ressuscitou no terceiro dia, segundo as Escrituras” (3, 4).
O Evangelho é constituído de dois fatos: a morte de Jesus
Cristo e a Ressurreição de Jesus Cristo. Muitos acreditam que o
Evangelho consiste apenas de um fato: que Cristo morreu pelos
nossos pecados. A morte de Jesus Cristo, quando colocamos nossa
fé nela, significa perdão. Mas colocar nossa fé no segundo fato do
Evangelho, a Ressurreição de Jesus Cristo, significa comunhão com
Cristo, Aquele que pode realmente nos dar a graça de sermos tudo
aquilo para que Ele nos chamou para ser, e fazer. Esses dois fatos
constituem o Evangelho.
Nos próximos cinqüenta e oito versículos, Paulo continua
argumentando sobre o segundo fato do Evangelho, a ressurreição de
Jesus Cristo. Provavelmente a razão para isso seja porque, em carta
que tinham enviado a Paulo os coríntios tinham levantado perguntas
e dúvidas a respeito da ressurreição. Ou talvez essa questão de
ressurreição fosse um problema intelectual para aqueles gregos
filosófica e intelectualmente sofisticados.
Esse capítulo trata principalmente da ressurreição, mas se
inicia com uma declaração explícita sobre o que é o Evangelho.
Você compreende o que é o Evangelho? Pode ser que você não siga
a Cristo porque nunca ouviu sobre o Evangelho. Os quatro primeiros
versículos deste capítulo são uma declaração explícita sobre o que é
o Evangelho ou Boas Novas. Jesus Cristo morreu na cruz, não
apenas pelos pecados do mundo, mas pelos meus e os seus pecados.
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
31
Se você está pensando em crer em Jesus e acha que jamais
poderia viver como os seguidores de Cristo são chamados e
instruídos a viver, você está absolutamente certo! Você não
conseguirá viver dessa maneira se não tiver o poder do Cristo Vivo e
Ressurreto em sua vida. Por isso precisamos compreender o segundo
fato do Evangelho, a Ressurreição de Jesus Cristo. Isso quer dizer
que Ele está vivo, é real e você pode ter um relacionamento pessoal
com Ele, que lhe dará a graça para viver da maneira como um
discípulo de Jesus Cristo deve viver.
Se você ainda não confia em Cristo, gostaria de crer no
Evangelho agora? Se fizer isso, então conhecerá a salvação. E
depois de experimentar a salvação, acompanhe-me no estudo do resto
deste capítulo maravilhoso e veja o que as Boas Novas de
Ressurreição significam para você, tanto para hoje como para quando
você tiver que encarar a inegável realidade da morte.
Capítulo 19
“Fé nos Fatos”
(I Coríntios 15:1-10)
Ao estudarmos o Capítulo da Ressureição do Novo
Testamento, precisamos entender que Jesus Cristo não é apenas uma
figura histórica. Ele não é um profeta ou um mestre morto, nem um
líder que viveu há muitos anos. Estudando a pessoa de Cristo nas
Escrituras descobrimos que Ele é a Palavra que se tornou carne ou
Deus em forma humana. Ele morreu na cruz pelos pecados do
mundo em geral, e em particular pelos nossos pecados. Quando
colocamos nossa fé nessa obra acabada de Cristo por nós na cruz, o
resultado é a nossa salvação pessoal.
Mas Jesus Cristo também ressuscitou dos mortos. Durante a
Última Ceia, antes da traição de Judas, Jesus declarou a Seus
discípulos que as coisas mudariam. Depois de Sua morte e
ressurreição, Jesus estaria no mundo, de uma maneira que
possibilitaria um relacionamento com Ele ainda mais íntimo do que
aquele que eles tiveram enquanto Ele esteve em um corpo físico. E é
isso o que tem acontecido há mais de dois mil anos. Quando você
coloca sua fé pessoal no fato da ressurreição de Cristo, o resultado
pode ser uma comunhão íntima com Ele.
Um dos maiores argumentos que testificam a ressurreição de
Jesus Cristo é a vida e o ministério do apóstolo Paulo. O que foi que
transformou Saulo de Tarso, o homem que odiava os cristãos, no
grande apóstolo de Jesus Cristo? A ressurreição de Jesus Cristo.
Não dá para explicar a vida do Apóstolo Paulo sem pensar em
“experiência”. Ele teve pelo menos três grandes experiências. Ele
teve a experiência na estrada de Damasco e também a experiência no
deserto da Arábia. Paulo alegou que ficou no deserto da Arábia
durante três anos, onde o Cristo Ressurreto lhe ensinou tudo o que
ele compartilhou em suas obras-primas teológicas (Gálatas 1:11-
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
32
2:10). Ele também teve uma experiência envolvendo o céu (II
Coríntios 12:1-4). No seu capítulo da ressurreição, Paulo alega que o
encontro que teve com o Cristo Vivo transformou sua vida. Ele
escreveu: “...depois destes apareceu também a mim, como a um que
nasceu fora de tempo” (15:8).
Depois Paulo fez a seguinte declaração a respeito de si
mesmo: “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e sua graça para
comigo não foi inútil; antes, trabalhei mais do que todos eles;
contudo, não eu, mas a graça de Deus comigo” (10). Alguns
estudiosos consideram que neste texto Paulo se mostrou egoísta, mas,
estudando seus escritos, vemos que não se trata de egoísmo. Preste
atenção nesta importante qualificação do apóstolo: “Mas, pela graça
de Deus, sou o que sou”. Paulo reconheceu que não foi ele quem fez
todas essas coisas. Ele não estava se gloriando, mas apenas falando
de fatos. Ele trabalhou mais do que todos os outros apóstolos juntos,
pela graça de Deus que lhe foi dada.
A ênfase de Paulo nesta passagem é principalmente no
resultado de todo este trabalho apostólico: “Portanto, quer tenha sido
eu, quer tenham sido eles, é isto que pregamos, e é isto que vocês
creram” (11).
Ressurreição Aplicada
No versículo 12 Paulo retoma este fato: se a ressurreição de
Jesus Cristo é verdadeira, então a ressurreição dos seguidores de
Cristo já falecidos também é verdadeira. O resto do capítulo não
enfoca tanto a ressurreição de Jesus Cristo, mas a ressurreição de
todos os crentes.
Os coríntios não duvidaram apenas da ressurreição de Jesus,
mas principalmente do ensino de Paulo sobre a ressurreição dos
crentes. Por isso, até o final do capítulo Paulo associa a ressurreição
de Jesus à ressurreição de todos os seguidores de Cristo.
Leia esses primeiros onze versículos como uma introdução a
este Capítulo da Ressurreição. Observe que Paulo enfoca a
ressurreição de Cristo, tanto como uma parte do Evangelho, como
uma transição para a questão da nossa própria ressurreição. Quando
nos deparamos com a realidade da nossa própria morte ou da morte
de algum dos nossos queridos, esse capítulo passa a ter um
significado muito importante.
Capítulo 20
“Os Quatro Conquistadores”
(I Coríntios 15:12-22)
A partir do versículo 12 Paulo argumenta que a ressurreição
do crente está intrinsecamente ligada à ressurreição de Jesus. Se
temos fé para crer no milagre da ressurreição de Cristo, devemos ter
fé para crer que um dia seremos ressuscitados dos mortos.
Entretanto, se Cristo não ressuscitou dos mortos, então não existe
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
33
ressurreição dos mortos para ninguém. Procure sempre acompanhar
a lógica do apóstolo Paulo. Ele escreveu: “Ora, se está sendo
pregado que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como alguns de
vocês estão dizendo que não existe ressurreição dos mortos? Se não
há ressurreição dos mortos, nem Cristo ressuscitou; e, se Cristo não
ressuscitou, é inútil a nossa pregação, como também é inútil a fé que
vocês têm. Mais que isso, seremos considerados falsas testemunhas
de Deus, pois contra ele testemunhamos que ressuscitou a Cristo
dentre os mortos. Mas se de fato os mortos não ressuscitam, ele
também não ressuscitou a Cristo. Pois, se os mortos não
ressuscitam, nem mesmo Cristo ressuscitou. E, se Cristo não
ressuscitou, inútil é a fé que vocês têm, e ainda estão em seus
pecados. Neste caso, também os que dormiram em Cristo estão
perdidos. Se é somente para esta vida que temos esperança em
Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de compaixão”
(15: 12-19).
Você está acompanhando a argumentação de Paulo? Essas
duas ressurreições estão intrinsecamente ligadas. A ressurreição de
Jesus foi a prova de que a ressurreição do crente é possível. O
milagre da nossa própria ressurreição leva-nos à dimensão eterna.
A seguir Paulo passa a ensinar um assunto que para mim é
fascinante. Ele escreveu: “Visto que a morte veio por meio de um só
homem, também a ressurreição dos mortos veio por meio de um só
homem. Pois da mesma forma como em Adão todos morrem, em
Cristo todos serão vivificados” (21-22).
Na Carta aos Romanos Paulo escreveu uma versão mais
completa deste ensino, o qual podemos chamar de “Os Quatro
Conquistadores” (cf. Romanos 5:12-21). Nesta passagem Paulo
descreve quatro conquistadores nos quais podemos pensar como
quatro reis. Primeiramente Paulo fala do Rei Pecado. O pecado
entrou no mundo e abundou nele até conquistá-lo. Depois passou a
reinar no mundo.
Paulo ensina que o Rei Morte veio logo depois do Rei
Pecado. Quando a morte entrou no mundo como uma conseqüência
do pecado, ela abundou até que conquistou toda a humanidade.
Morte aqui significa tanto a morte física como a espiritual – “o
salário do pecado é a morte” (cf. Romanos 6:23). Cedo ou tarde a
morte conquista cada um de nós e a única razão por que a morte
conquista todos nós é porque o pecado conquistou a todos. As duas
primeiras coisas que Paulo descreve nessas palavras profundas que
escreveu aos romanos são “as más notícias”.
Mas depois Paulo anuncia as Boas Novas. Ele conta que o
Rei Jesus entrou neste mundo e abundou nele até que conquistou e
reinou, possibilitando que nós reinemos em vida através de um
relacionamento pessoal com Ele. Assim, o terceiro Rei é Jesus e o
quarto é, potencialmente, você e eu, o Rei Você e o Rei Eu. Nós
podemos entrar nesta vida e abundar nela em Cristo (cf. João 10:10).
Podemos reinar em vida através de Jesus Cristo e sermos mais do que
vencedores através dEle (Romanos 5:17; 8:37). Tudo isso que foi
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
34
bem explicado na versão ampliada da Carta aos Romanos, encontra-
se de maneira simplificada nos versículos 21 e 22.
A expressão “em Cristo” é a mais bonita do Novo
Testamento. Paulo usa essas duas palavras 97 vezes em suas cartas.
O que significa estar em Cristo? Estar em Cristo é mais do que estar
em uma igreja ou em um ministério. Estar em Cristo significa estar
localizado na Pessoa, relacionado com a Pessoa da mesma maneira
que um ramo está relacionado com a vinha. Jesus Cristo está vivo e
ativo no planeta Terra como resultado da Sua ressurreição. Nós
podemos habitar como ramos no Cristo Vivo e Ressurreto, com Ele
sendo nossa Vinha (cf. João 15:1-16).
Em seus escritos, o apóstolo Paulo conta que ele estava
constantemente em Cristo. Tudo o que fazia era em Cristo, por
Cristo e para Cristo. Cristo se tornou o centro de sua vida. É esse o
significado destas suas palavras: “... em Cristo todos serão
vivificados”. Nós só experimentamos vida verdadeira depois que
passarmos a viver em Cristo.
Capítulo 21
“O Corpo Espiritual”
(I Coríntios 15:23-46)
Nesses versículos Paulo ensina que existe uma ordem na
ressurreição. “Mas cada um por sua vez...”, afirma ele. Aqueles que
já estudaram sobre a Segunda Vinda de Cristo sabem que quando
Cristo voltar chamará deste mundo aqueles que estão nEle. Lemos
que “dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de
Deus, o próprio Senhor descerá dos céus, e os mortos em Cristo
ressuscitarão primeiro” (I Tessalonicenses 4:16). Os crentes que
estiverem vivos quando Cristo voltar, serão radicalmente
transformados para estarem preparados para o estado eterno.
Comentaremos melhor este assunto mais adiante. Mas, no versículo
24 Paulo afirma: “Então virá o fim, quando ele entregar o Reino a
Deus, o Pai, depois de ter destruído todo domínio, autoridade e
poder”.
No versículo 30 Paulo levanta a seguinte pergunta: “Também
nós, por que estamos nos expondo a perigos o tempo todo?”. E
continua: “Todos os dias enfrento a morte, irmãos; isso digo pelo
orgulho que tenho de vocês em Cristo Jesus, nosso Senhor. Se foi
por meras razões humanas que lutei com feras em Éfeso, que ganhei
com isso? Se os mortos não ressuscitam, ‘comamos e bebamos,
porque amanhã morreremos’” (31 e 32). De certa forma, ele
continua com o assunto que iniciou no versículo 19: “Se é somente
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
35
para esta vida que temos esperança em Cristo, somos, de todos os
homens, os mais dignos de compaixão”.
No versículo 33 Paulo repreende os coríntios citando um
provérbio grego - “Não se deixem enganar: 'As más companhias
corrompem os bons costumes’”. Ele estava sugerindo que os crentes
de Corinto tinham sido corrompidos pelos valores da cultura grega.
No versículo 34 lemos: “Como justos, recuperem o bom senso e
parem de pecar; pois alguns há que não têm conhecimento de Deus;
digo isso para vergonha de vocês”. Paulo queria chocar os crentes
de Corinto e fazê-los voltar aos valores de um seguidor de Cristo e
considerarem a ressurreição como parte vital desses valores. Ele
estava enfocando os valores eternos de um crente e, essencialmente,
dizendo: “Porque vocês permitiram ter o caráter corrompido pela
cultura na qual vivem? Por causa disso existem pessoas na cidade de
Corinto que ainda não conhecem a Deus. Vocês deveriam se
envergonhar!”
Essas palavras de Paulo são chocantes e deveriam recuperar
os verdadeiros valores daqueles que crêem no Evangelho. Em sua
carta aos romanos o apóstolo recomendou aos que desejam descobrir
e fazer a vontade de Deus, que “se ofereçam em sacrifício vivo, santo
e agradável a Deus; este é o culto racional” (Romanos 12:1). Jesus
ensinou que podemos ser a luz do mundo e o sal da terra (cf. Mateus
5:13-16). Essas duas metáforas significam que devemos causar
impacto e revolucionar nossa cultura, e não sermos impactados pela
cultura em que vivemos. Paulo ensinou essa mesma verdade nesses
versículos.
No versículo 35 ele inicia o que considero o coração desse
grande Capítulo da Ressurreição. Nele Paulo responde duas
perguntas que os coríntios tinham feito: “Como os mortos são
ressuscitados?” e “Que tipo de corpo terão?”. Essas duas perguntas
são óbvias para qualquer um que reflita sobre a ressurreição dos
crentes em Jesus. De que forma acontece a ressurreição? E que tipo
de corpo os ressuscitados terão?
Para responder a estas duas perguntas, Paulo usa a ilustração
da semente na terra. É uma ilustração muito bonita dentro da
chamada “lógica inspirada” desse apóstolo. Como você pode
perceber, os crentes de Corinto, como intelectuais gregos que eram,
diziam que não acreditavam em ressurreição porque não podiam
compreendê-la. Acho que Paulo argumentou: “Olha, vocês
acreditam em muitas coisas que não compreendem. Quando jogamos
uma semente na terra, ela morre e deixa de ser uma semente. Deus
lhe dá um novo corpo. Pode ser o corpo de uma linda flor. Mesmo
que vocês não compreendam esse milagre, sabem que ele existe e
crêem nele”.
Naquele tempo era comum as pessoas terem suas próprias
hortas para sustento da família. Elas plantavam as sementes crendo
que elas produziriam verduras e legumes. Por esse motivo Jesus e os
escritores do Velho Testamento usaram tanto a metáfora de plantar e
colher. Paulo argumentou que eles, pelo fato de terem seus jardins e
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
36
hortas, criam no milagre da semeadura e da colheita, mesmo sem
compreender como uma semente se torna uma flor ou uma fruta.
Paulo argumentou que o corpo humano é exatamente como
uma semente. E neste cenário, ele não é enterrado, mas plantado.
Nesses versículos o apóstolo conclui: “Assim será com a
ressurreição dos mortos. O corpo que é semeado é perecível e
ressuscita imperecível; é semeado em desonra e ressuscita em
glória; é semeado em fraqueza e ressuscita em poder; é semeado um
corpo natural e ressuscita um corpo espiritual. Se há corpo natural,
há também corpo espiritual” (42-44).
Esta é uma descrição muito bonita da ressurreição. As
Escrituras ensinam que o homem é feito de pelo menos duas partes: a
parte física, tangível e material, que se pode vê, e a parte espiritual,
aquela que não se vê. Quando o homem morre, a parte física se
corrompe e é plantada na terra em corrupção. Como uma semente
que deixa de ser semente para produzir uma flor, assim, a fim de nos
prepararmos para o estado eterno, nosso corpo corruptível tem que
passar por um milagre que o fará incorruptível. Quando esse corpo é
plantado não tem honra, mas quando ressuscitar, será em glória.
Quando morre, o corpo é a epítome absoluta da fraqueza, por
isso é plantado em fraqueza. Mas quando ressuscitado, será
levantado em poder.
Paulo então traz um grande ensino: “é semeado um corpo
natural e ressuscita um corpo espiritual” (44). Um corpo espiritual?
O que ele quis dizer com “corpo espiritual”? João afirmou que ainda
não foi revelada a natureza de um corpo ressurreto. Ele escreveu:
“Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o
que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestara,
seremos semelhantes a ele, pois (então) o veremos como ele é
(agora)” (I João 3: 2).
O nosso corpo ressurreto vai ser exatamente igual ao corpo
ressurreto de Jesus? No primeiro capítulo de sua primeira carta, João
ressaltou que ele viu e apalpou o corpo ressurreto do Cristo
Ressuscitado. Entretanto no terceiro capítulo, João escreveu que
ainda não foi revelado como serão nossos corpos ressuscitados.
No Capítulo da Ressurreição o ensino de Paulo é claro: existe
o corpo natural e o corpo espiritual. E mais, “Não foi o espiritual
que veio antes, mas o natural; depois dele, o espiritual” (15:46).
Continue a estudar esse capítulo refletindo sobre o que Paulo
quis dizer ao escrever que temos um corpo natural e que através do
milagre da ressurreição Deus vai nos dar um corpo espiritual.
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
37
Capítulo 22
“Vitória Sobre a Morte”
(I Coríntios 15:46-58)
Os coríntios tinham duas dúvidas a respeito da ressurreição
do crente: como ele seria ressuscitado e que tipo de corpo teria. E a
resposta de Paulo foi: “Existem dois tipos de corpos. Existe o corpo
natural e o corpo espiritual. O corpo natural vem primeiro e é
seguido pelo corpo espiritual. ‘O primeiro homem era do pó da
terra; o segundo homem, dos céus. Os que são da terra são
semelhantes ao homem terreno; os que são dos céus, ao homem
celestial. Assim como tivemos a imagem do homem terreno, teremos
também a imagem do homem celestial’ (47-49)”.
Paulo estava dizendo que fomos feitos para viver em dois
mundos, não apenas em um. Recebemos um corpo físico para viver
na Terra. Na parte mais importante desse capítulo Paulo afirma que
também fomos feitos pelo nosso Criador para vivermos no céu.
Nosso Deus um dia nos dará um corpo espiritual que nos equiparará
para vivermos no céu por toda eternidade.
Para viver nessa segunda dimensão, a dimensão celestial,
precisamos experimentar o milagre da morte e da ressurreição. Paulo
está dizendo que duas coisas precisam ser cumpridas através do
milagre da morte e da ressurreição. Nosso corpo corruptível tem que
experimentar um milagre que o tornará incorruptível. E nosso
espírito mortal tem que experimentar um milagre que o fará imortal.
Quando nosso corpo se tornar incorruptível e nosso espírito se tornar
imortal, pelo milagre da ressurreição, estaremos prontos para viver
no céu com Deus e com Cristo para sempre!
Vida em Duas Dimensões
Você já observou uma libélula voando de flor em flor com
suas maravilhosas asas duplas? Ás vezes ela fica parada no ar, como
um helicóptero e pode ficar assim durante todo o dia. Essas criaturas
são uma maravilha da aerodinâmica. Com seu par de asas duplas
elas podem voar continuamente.
A libélula passa de um a quatro anos de sua existência dentro
d’água. Em um estudo laboratorial de uma libélula durante o seu
primeiro ano de vida constataremos que essa criatura aquática possui
dois sistemas respiratórios. A libélula que vive debaixo d’água tem
um sistema respiratório que a capacita inalar água através de seu
estreito corpo, retirando oxigênio dela, como acontece com outros
animais aquáticos. Mas também constataremos que essa criatura
fascinante tem um segundo sistema respiratório, que um dia, quando
ela entrar para a segunda dimensão de sua vida, vai capacitá-la a
inalar o ar.
Quando se encerra a primeira fase da vida da libélula na água,
ela sai para a terra, estende suas asas magníficas sob o sol para secá-
las e começa de maneira gloriosa a segunda dimensão da sua
existência. A libélula foi criada por Deus para viver sua existência
em duas dimensões.
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
38
Nesse maravilhoso Capítulo da Ressurreição descobrimos que
temos muito em comum com a libélula. De acordo com Paulo, nós
também fomos criados por Deus para vivermos em duas dimensões.
Deus nos deu um corpo terreno para vivermos aqui na Terra e vai nos
dar um corpo celeste que nos capacitará a viver para sempre, na
segunda e eterna dimensão da nossa existência no céu.
Falando de maneira figurada, se fizéssemos um estudo
laboratorial em um crente nascido de novo, descobriríamos que ele,
assim como a libélula, está equipado com dois sistemas de vida.
Todo crente verdadeiro está equipado com um corpo terreno, um
sistema de vida que o capacita a viver nesta primeira dimensão de
vida e também descobriríamos que todo crente verdadeiro está
equipado com o que Paulo chama de “nova criação” ou “novo
homem” ou ainda “homem interior”. De acordo com Paulo, essa
obra miraculosa de criação do Espírito Santo, como o segundo
sistema de respiração da libélula, é um prenúncio do corpo espiritual
que Deus dará a todo o que crê e com o qual será equipado para viver
no céu eternamente.
Na segunda dimensão da sua vida a libélula revela uma
aerodinâmica maravilhosa. Quando os crentes forem ressuscitados,
quando Deus der a você e a mim corpos espirituais que nos
equipararão para a segunda e eterna dimensão de vida, imagine como
seremos!
Quase no final do Novo Testamento, na Primeira Epístola de
João, esse velho líder da Igreja do Novo Testamento reflete sobre
quem e o que somos como crentes e quem e o que seremos. João
afirma que isso ainda não nos foi revelado, mas será algo
maravilhoso, além de qualquer coisa que possamos imaginar, porque
no céu seremos exatamente como é o Cristo Vivo e Ressurreto (cf. I
João 3: 1, 2)!
No versículo 50 Paulo registrou a empolgante conclusão do
Capítulo da Ressurreição ao escrever: “eu lhes declaro que carne e
sangue não podem herdar o Reino de Deus, nem o que é perecível
pode herdar o imperecível”. Esta é uma declaração muito profunda!
Como é a dimensão celestial? Paulo está dizendo que nós não
teremos corpos físicos no céu, porque o reino de Deus é incorruptível
e nossos corpos físicos são corruptíveis.
Nos versículos 51 e 52, Paulo continua: “Eis que eu lhes digo
um mistério: Nem todos dormiremos...”. Isso quer dizer que nem
todo mundo vai morrer, porque quando Cristo voltar pessoas estarão
vivas. “... mas ...”, Paulo continuou, “... todos seremos
transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som
da última trombeta. Pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão
incorruptíveis e nós seremos transformados”.
Mais uma vez Paulo ensina um pouco sobre as coisas futuras
e fala do chamado “arrebatamento da Igreja”. Paulo escreveu que
Jesus Cristo virá e levará Sua Igreja deste mundo. Quando isso
acontecer, os mortos em Cristo serão ressuscitados (cf. I
Tessalonicenses 4:13-18).
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
39
Paulo escreveu “num momento, num abrir e fechar de
olhos...”, para explicar que se estivermos vivos quando Cristo vier,
num instante seremos totalmente transformados para sermos
preparados para o céu. A expressão grega usada nessa passagem é
literalmente “em um átomo”, ou seja, na menor medida de tempo
possível. Usando um termo mais atual, poderíamos dizer que
seremos “atomizados”.
A questão é que temos que ser totalmente transformados pela
morte e pela ressurreição, porque a carne e o sangue não podem
entrar no Reino de Deus. Não podemos levar nosso corpo
corruptível para o céu incorruptível, conforme Paulo escreveu no
versículo 53: “Pois é necessário que aquilo que é corruptível se
revista de incorruptibilidade, e aquilo que é mortal, se revista de
imortalidade”.
Depois vem a conclusão no versículo 54: “Quando, porém, o
que é corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal,
de imortalidade, então se cumprirá a palavra que está escrita: ‘A
morte foi destruída pela vitória’”. Em outras palavras, o milagre da
ressurreição ocorreu e a morte foi conquistada. O significado literal
da palavra “ressurreição” é “vitória sobre a morte”.
Todos os que crêem no Evangelho e têm entendimento dele,
por experiência própria não devem temer a morte. Através dessa
transformação total e completa que experimentaremos quando o
Senhor voltar, venceremos o problema da morte. A ressurreição
eliminará o ferrão da morte. Por isso, para nós a sepultura é uma
vitória. Nossa morte literal e nossa ressurreição literal removerão o
ferrão do pecado e a força da lei que nos condena.
Não é de se estranhar que Paulo exclame: “Mas graças a
Deus, que nos dá a vitória por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”
(57). E como sempre, existe uma conclusão na lógica inspirada de
Paulo que devemos guardar no coração. E porque tudo isso é
verdadeiro, ele escreveu: “Portanto, meus amados irmãos,
mantenham-se firmes, e que nada os abale. Sejam sempre dedicados
à obra do Senhor, pois vocês sabem que, no Senhor, o trabalho de
vocês não será inútil” (58).
Capítulo 23
“Quanto à Coleta”
(I Coríntios 16)
Depois de nos elevar aos céu com o Capítulo da Ressurreição,
Paulo nos traz de volta à terra com a maneira como ele inicia o
último capítulo desta carta pastoral tão prática: “Quanto à coleta...”.
Descobrimos um episódio muito interessante na vida e no ministério
do Apóstolo Paulo com o enfoque que ele dá a esta coleta em
particular. Paulo teve dificuldade para ser aceito pelos crentes judeus
de Jerusalém, talvez porque antes de sua conversão na estrada de
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
40
Damasco ele perseguia ferozmente os crentes messiânicos (Atos 8:1-
3; 9:1, 2).
Acho muito tocante observar que aquele que antes odiava
Cristo e perseguia os Seus seguidores passou a fazer coleta para os
crentes judeus que antes perseguia, e que estavam passando fome em
Jerusalém e na Judéia. A força que sempre fez a igreja de Jesus
Cristo poderosa neste mundo é a graça de Deus que transforma vidas.
Nessas instruções referentes à coleta na igreja, Paulo deixou
alguns princípios de mordomia muito importantes. Esses princípios
estão claramente expostos na seqüência dessa carta (cf. II Coríntios,
capítulos 8 e 9). Estas são as instruções de Paulo neste capítulo: “No
primeiro dia da semana, cada um de vocês separe uma quantia, de
acordo com a sua renda, reservando-a para que não seja preciso
fazer coletas quando eu chegar” (16:2).
Existem dois pontos muito importantes neste versículo. Um
deles é a menção ao primeiro dia da semana. Não é interessante
observar que naquele tempo o “Dia do Senhor”, como os apóstolos
costumavam se referir, não fosse mais o sétimo dia da semana, mas o
primeiro?
Existem muitas provas sobre a ressurreição de Jesus Cristo.
Uma delas é que a Igreja escolheu o primeiro dia da semana para ser
o dia de adoração, em razão de ter sido esse, o dia em que o Senhor
ressuscitou dos mortos. Por isso é importante o que Paulo escreveu,
que “No primeiro dia da semana...” todos deveriam separar fundos
para essa coleta.
A seguir, ele apresenta este princípio: “de acordo com a sua
renda”. Qual é a base que determina quanto o povo deve dar para a
obra do Senhor? No Velho Testamento o padrão era o dízimo, que
correspondia à primeira décima parte da renda da pessoa. Deus
estabeleceu o dízimo para o povo de Israel, como um padrão de
medida, a fim de lhes mostrar que Ele era o primeiro em suas vidas.
Deus sempre soube a medida do comprometimento daquele povo
com Ele.
O povo de Deus também foi instruído a dar ofertas além do
dízimo. Eles também faziam sacrifícios. Davi determinou que não
ofertaria nada a Deus que não lhe fosse um sacrifício, que não lhe
custasse alguma coisa (II Samuel 24:24).
Mas quando chegamos no Novo Testamento, a questão é
mordomia. A mordomia engloba todos esses padrões, porque é o
reconhecimento de que tudo que possuímos já pertence a Deus.
Como mordomos desses bens que pertencem a Deus, devemos ser
fiéis na maneira como administramos os recursos do Senhor. O
critério do Novo Testamento para ofertar é “de acordo com a sua
renda”. Na carta seguinte que Paulo escreveu aos Coríntios ele
ensina que a mordomia se baseia no que você tem e não naquilo que
você não tem.
Também vemos aqui o princípio da integridade, na maneira
como as ofertas são administradas pelos responsáveis em entregar a
coleta para os santos que sofriam em Jerusalém. Paulo deu
instruções para que fossem escolhidos homens que levassem a oferta
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
41
(3). Vemos aqui o princípio da responsabilidade. Existe uma trágica
irresponsabilidade na prestação de contas dentro do corpo de Cristo.
Alguns ministérios não prestam conta dos milhões que recebem. Isso
não deveria acontecer no corpo de Cristo. Veja como Paulo foi
cuidadoso ao levantar a oferta, insistindo que houvesse prestação de
contas.
Nos dois capítulos de II Coríntios que mencionei, Paulo se
referiu aos padrões de ofertar dos filipenses como exemplo para os
coríntios (II Coríntios 8,9). A igreja de Filipos era a preferida de
Paulo e o apoiava financeiramente de forma constante. Essa igreja
era madura espiritualmente com relação aos princípios de mordomia,
a ponto de Paulo permitir que eles fossem a base principal de apoio
do seu ministério.
No último capítulo desta carta Paulo escreveu: “Se Timóteo
for, tomem providências para que ele não tenha nada que temer
enquanto estiver com vocês, pois ele trabalha na obra do Senhor,
assim como eu. Portanto, ninguém o despreze. Ajudem-no a
prosseguir viagem em paz, para que ele possa voltar a mim. Eu o
estou esperando com os irmãos” (10-11).
Timóteo é um personagem bíblico muito interessante. Ele
parece ser um jovem extremamente sensível e tímido. Quando Paulo
queria transmitir uma verdade, ele a “embrulhava” em uma pessoa, e
com freqüência Timóteo era essa pessoa. Quando Paulo quis mostrar
à igreja de Filipos como viver com Cristo, ele enviou Timóteo para
viver com eles. Ele escreveu aos filipenses: “Espero no Senhor Jesus
enviar-lhes Timóteo brevemente, para que eu também me sinta
animado quando receber notícias de vocês. Não tenho ninguém que,
como ele, tenha interesse sincero pelo bem-estar de vocês, pois todos
buscam os seus próprios interesses e não os de Jesus Cristo”
(Filipenses 2:19-21).
No versículo 13 ele iniciou sua exortação final: “Estejam
vigilantes, mantenham-se firmes na fé, sejam homens de coragem,
sejam fortes. Façam tudo com amor”. Paulo costumava encerrar
suas cartas com esse tipo de exortação. A partir daí Paulo passa aos
cumprimentos, como por exemplo, aos da casa de Estéfanas, e
menciona outras pessoas que ele conhecia. A maioria das cartas de
Paulo termina com esse tipo de cumprimento.
Preste atenção agora nos últimos versículos dessa carta: “As
igrejas da província da Ásia enviam-lhes saudações. Áqüila e
Priscila os saúdam afetuosamente no Senhor, e também a igreja que
se reúne na casa deles” (19). A igreja em Corinto se reunia na casa
de pessoas, como Cloe, e Priscila e Áquila. “Todos os irmãos daqui
lhes enviam saudações. Saúdem uns aos outros com beijo santo. Eu,
Paulo, escrevi esta saudação de próprio punho. Se alguém não ama
o Senhor, seja amaldiçoado. Vem, Senhor! A graça do Senhor Jesus
seja com vocês. Recebam o amor que tenho por todos vocês em
Cristo Jesus. Amém” (20-24).
A saudação de Paulo em todas as suas cartas era: “A graça do
Senhor Jesus seja com vocês”. Paulo cria que se você tiver a graça
do Senhor Jesus Cristo, terá o favor, a bênção e o poder de Deus
Apostila nº 19: I Coríntios Versículo Por Versículo (Segunda Parte)
42
trabalhando em sua vida. Sem a graça de Deus a vida que ele viveu e
usou como exemplo seria impossível. Por isso não há nada que ele
desejasse mais para o povo do que a graça do Senhor Jesus Cristo.
Quando Paulo finalizava suas cartas dessa maneira, era como
se dissesse: “Pela graça de Deus posso viver esta vida para a qual fui
salvo e chamado e você também pode, pela graça do nosso Senhor
Jesus Cristo”. Paulo iniciou essa carta chamando os coríntios de
“santos” e dizendo que eles foram chamados para serem santos. Ele
também escreveu que Deus é fiel e os tinha preparado para cumprir
os propósitos para os quais tinham sido chamados. Na verdade Paulo
conclui a carta do mesmo jeito que começou (1:1-3,9).
Espero que esse estudo de I Coríntios o ajude a crescer na
graça do Senhor Jesus Cristo. A graça do Senhor Jesus é o poder que
você e eu devemos ter para viver a vida para a qual fomos salvos e
para a qual fomos chamados para Deus, em Jesus Cristo, como
santos que vivem em um mundo pecador.