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1 SEMIOLOGIA MÉDICA APARELHO CARDIOVASCULAR AULAS PRÁTICAS Conceitos: Débito cardíaco - quantidade de sangue impulsionada pelo coração num minuto Frequência cardíaca - depende da descarga espontânea do nódulo sino atrial (S.A.) * Parassimpático => diminui freq. cardíaca (acetilcolina). * Simpático => aumenta a freq. cardíaca. Pré-carga - Volume final diastólico. Pós-carga - resistência à ejecção do sangue Ciclo cardíaco Activação eléctrica Aumento da Abertura da do nódulo S.A. tensão atrial válvula A.V. Fluxo de sangue para o ventrículo. Elevação da pressão, volume e tensão ventriculares. Aumento de Activação Atinge-se a pré- tensão ventr. eléctrica A.V. -carga máxima

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SEMIOLOGIA MÉDICA

APARELHO CARDIOVASCULAR

AULAS PRÁTICAS

Conceitos:

Débito cardíaco - quantidade de sangue impulsionada pelo

coração num minuto

Frequência cardíaca - depende da descarga espontânea do

nódulo sino atrial (S.A.)

* Parassimpático => diminui freq. cardíaca (acetilcolina).

* Simpático => aumenta a freq. cardíaca.

Pré-carga - Volume final diastólico.

Pós-carga - resistência à ejecção do sangue

Ciclo cardíaco

Activação eléctrica Aumento da Abertura da

do nódulo S.A. tensão atrial válvula A.V.

Fluxo de sangue para o

ventrículo.

Elevação da pressão, volume e

tensão ventriculares.

Aumento de Activação Atinge-se a pré-

tensão ventr. eléctrica A.V. -carga máxima

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Encerramento A.V. por

maior pressão ventricular S1

do que atrial.

Aumento da pressão atrial

Fase de contracção Pressão ventricular supera

isovulométrica pressão aórtica=> Abertura

(vol.=; pressão ↑) da válvula aórtica.

Diminuição da pressão Fase de contracção

ventricular isotónica (Vol.↓; press.=)

Relaxamento Encerramento das vál. Ejecção aórtica.

isovolumétrico semilunares Aumento do volume atrial

S2

A. ANAMNESE A.1. ANAMNESE GERAL

• Idade:

- Jovens:

Cardiopatias congénitas

Cardiopatias infecciosas Figura 1 - Cirurgia de um ductus arterioso

persistente.

Ductus

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- Adultos:

Cardiopatias degenerativas

Neoplasias

• Raça:

- Persistência do ducto arterioso - Collies; Caniches; P.Alemão

- Estenose aórtica - P.Alemão; Boxer; Terra Nova; Samoiedo.

- Valvulopatia degenerativa mitral - Raças pequenas.

- Cardiomiopatia dilatada - Raças gigantes (Doberman)

• Sexo:

- Machos mais sensíveis a cardiomiopatia

- Fêmeas mais sensíveis à persistência do conduto arterioso

• Peso:

- Animais obesos - Persistência a dçs respiratórias ou hipertensão

• Doenças prévias

- Abcessos (dentários / hepáticos)/ foco séptico grave => endocardite

bacteriana

- Parvovirose canina => miocardite (rara)

A.2. ANAMNESE ORIENTADA PARA AP. CARDIOVASCULAR

# Tosse:

Nunca assumir que tosse + sopro cardíaco = cardiopatia

Tosse de fluído não purulento => Suspeita de edema pulmonar

§ Induzida por esforço; beberagem; espontânea

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§ Geralmente nocturna

§ Muito rara em Gatos com cardiopatias (mais dispneia)

# Dispneia:

Em repouso => GRAVIDADE

Paroxística e induzida por exercício (a insuf. respiratória de origem

cardíaca diminui muito em repouso)

Inspiratória (dç respiratória superior)

Expiratória (dç bronquial, intersticial, alveolar)

Mista (mesma causa que expiratória + efusão pleural)

# Ascite:

Acúmulo abdominal de transudado na cavidade peritoneal por

aumento da pressão hidrostática vascular (principalmente hepática)

Pode dar lugar a um aumento do diâmetro do abdómen.

Figura 2 - Animal com uma cardiomiopatia dilatada exibe distensão abdominal por ascite.

# Edema:

O dono poder ter observado algum edema periférico, mas com

frequência é tão ligeiro que só se detecta na exploração.

Membros - articulação tarsal

Zonas ventrais - prepúcio

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Figuras 3 e 4 - Edema subcutâneo ao nível do tarso.

# Fadiga - intolerância ao exercício

# Síncopes:

Episódios bruscos e de curta duração:

- com ou sem perda de consciência

- com ou sem defecação e micção

O proprietário informa que sucedem quando se requer uma certa

reserva de capacidade do coração (principalmente durante o esforço)

Se as síncopes são de origem cardíaca => Stokes-Adams

# Tromboembolismo ilíaco (aórtico)

gatos!! Com cardiomiopatia hipertrófica

Figuras 5 e 6 - Anatomia da aorta abdominal e das artérias ilíacas. A figura da direita é um espécimen de necropsia de um gato com um tromboembolismo na bifurcação das artérias ilíacas secundário a uma cardiomiopatia hipertrófica.

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# Morte súbita

Por arritmias ventriculares:

- Doberman com cardiomiopatia dilatada oculta (antes de se produzir outros

sinais característicos de insuf. cardíaca)

- na estenose sub-aórtica por isquémia do miocárdio

B. EXAME FÍSICO B.1. OBSERVAÇÃO

- Atitude / postura:

Edema pulmonar ou efusão pleural => recusa a deitar-se

Posição ortopneica

- Respiração (dispneia)

- Edemas (distribuição ventral)

Exploração da função cardíaca:

§ PVC (pressão sanguínea que se atinge no interior da aurícula dir.)

Na insuf. cardíaca há uma estimulação do sist. Renina-Angioten.-

- Aldosterona => ↑ do volume circulatório => ↑ PVC:

Moderado: observados ao explorar veia jugular e safena

Sério: aparece hepatomegália e ascite

Grave: edemas periféricos

Como nos casos de pressão venosa elevada as paredes das veias estão mais

tensas => pulsações venosas das grandes veias podem apreciar-se em pontos mais

periféricos.

• Gatos - aumentos de PVC normalmente só detectáveis ao nível da pleura

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Figura 7 - Funcionamento da válvula e 3 vias para a medição da pressão venosa central. Inicialmente abre-se a torneira (a) para que o soro do balão flua livremente para o paciente para assegurar a patencia do cateter venoso central. Depois (b) roda-se a torneira para que o soro do balão flua para encher a coluna de vidro a uma altura acima do paciente. Finalmente (c) abre-se a torneira para que o soro contido na coluna de vidro flua livremente em direcção ao paciente. Quando a coluna de água estabilizar num ponto em que o menisco oscila para cima e para baixo com a respiração, isso significa que se igualaram as pressões entre a coluna de água e o sistema venoso. O valor zero da escala deverá estar ao nível do átrio direito. A distância obtida entre o menisco e o valor zero da coluna de água é o valor da pressão venosa central (PVC), o qual é dado em cm de H2O.

§ Pulso arterial

A qualidade do pulso periférico (uniformidade, amplitude e forma)

depende débito cardíaco do ventrículo esq.

velocidade de ejecção

elasticidade das paredes das artérias

das pressões sistólica e diastólica

do tamanho e da distância do ponto em que e palpa ao coração

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Figura 8 - Detectar sincronismo do pulso. Com uma mão na região pré-cordial e a outra na artéria femoral procura-se falta de sincronismo entre os batimentos sentidos na região pré-cordial e as ondas de pulso sentidas na artéria.

§ Pulso venoso

- Diferenciar pulso venoso verdadeiro (por congestão venosa) -

com garrote desaparece - de pulso venoso falso (pulso venoso

induzido por pulsação da artéria carótida) - o garrote não altera o

pulso.

# Cabeça:

a) assimetrias ou edemas

b) olhos:

Congestão conjuntival = possível hipertensão

c) boca - cor e perfusão mucosa:

TRC > 2 segundos => possível ↓ débito cardíaco

Cianose => possível insuficiência cardíaca grave

Mucosas hiperémicas=> policitémia em resposta a

um shunt vascular crónico

Mucosas pálidas=> possível má perfusão por insuf.

miocárdio

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# Pescoço:

Pulso jugular (animal de pé, com a cabeça em posição normal).

Figura 9 - Ingurgitação da veia jugular (seta).

# Tórax

PALPAÇÃO (choque de ponta; vibrações anormais transmitidas

através da parede torácica)

- Choque de ponta ou pré-cordial:

Ponto de máxima intensidade

-4º a 6º espaço intercostal esquerdo

§ Deslocamentos:

- Dilatação cardíaca

- Massas intra-torácicas que deslocam o coração

- Colapso de lobos pulmonares

§ Diminuição de intensidade:

- Obesidade

- Derrame pleural

- Derrame pericárdico

- Massas torácicas

- Pneumotórax

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# Abdómen - procurar indícios de edemas / ascite

# Reflexo hepatojugular - um ajudante deverá colocar ambas as mãos de

cada um dos lados do abdómen e, de seguida, deverá elevar o abdómen exercendo

pressão para cima e cranialmente, comprimindo o fígado. Ao mesmo tempo, o

veterinário, deverá olhar para o pescoço do animal e verificar se se observa

distensão das veias jugulares aquando da pressão hepática.

Em animais com algum grau de insuficiência cardíaca direita o sangue do

fígado congestionado é empurrado para a circulação venosa aumentando a pressão

no átrio direito, o que leva à distensão jugular.

AUSCULTAÇÃO CARDÍACA

Estetoscópio:

• Diafragma => ruídos de alta frequência (S1 e S2, sopros sistólicos)

• Campânula =>ruídos de baixa frequência (S3 e S4, sopros diastólicos)

Áreas de projecção valvular:

Lado esquerdo: Lado direito:

Pulmonar - 3º espaço intercostal Tricúspide - 4º espaço

Aórtica - 4º espaço intercostal

Mitral - 5º espaço intercostal

Gatos

P e A 2-3 M 4-5 T 4-5 união costocondral

• RUÍDOS CARDÍACOS NORMAIS (para além da intensidade, auscultar

desdobramentos):

# S1 (1º ruído) = Encerramento das válvulas AV

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+ intenso na área mitral

- Intensidade aumentada: Intensidade diminuída:

Febre Obesidade

Medo Derrame pleural

Taquicardia Derrame pericárdico

Emaciação Massas torácicas

Hérnias diafragmáticas

Bradicardias

Diferenciar S1 de S2:

• O S1 aparece após uma pausa longa e o S2 após uma pausa curta.

S1 S2 S1 S2

• Em casos de freq. cardíacas baixas pode identificar-se o 1º ruído (S1) ao

observar o aparecimento do choque de ponta.

# S2 (2º ruído) = Encerramento das válvulas semilunares

(pulmonar e aórtica)

+ sonoro na base do coração esquerda

• RUÍDOS CARDÍACOS ANORMAIS:

# S3 (3º ruído) = Enchimento ventricular diastólico rápido

+ intenso na área da mitral.

Dilatação ventricular:

- Cardiomiopatia dilatada

- Insuficiência mitral

- Insuficiência tricúspide

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# S4 (4º ruído) = Contracção atrial contra ventrículos

hipertrofiados e rígidos

+ intenso na área aórtica ou pulmonar

=> Dilatação atrial em resposta a disfunção diastólica ventricular:

- Cardiomiopatia hipertrófica

Quando ocorre S3 e S4:

S1 S2 S3 S4 S1 S2

# Ritmo de galope = S3, S4 ou ambos

# “Clics” = Entre S1 e S2

=> Benigno: Não associado a insuficiência cardíaca

# Sopros

a) Classificação:

- Tempo - Localização no ciclo cardíaco

Sistólico

Diastólico

- Localização - Ponto de máxima intensidade:

Pontos de referência = áreas de proj. valvular

- Intensidade - Escala de I a VI

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I / VI: Som de baixa intensidade (audível com muita atenção e após

auscultar-se uns segundos; soa como um S prolongado)

II / VI: Suave e baixo, mas logo que se aplica o estetoscópio no tórax.

III / VI: Intensidade baixa a moderada

IV / VI: Muito intenso, mas não palpável; ausculta-se em ambos os lados do

tórax.

V / VI: Muito intenso e palpável (frémito)

VI / VI: Audível sem estetoscópio ou com ele levemente afastado da parede.

- Duração:

Protosistólico: Ao princípio da sístole; termina a meio da

sístole.

Mesossistólico / telessitólico: A meio ou no fim da sístole.

Holosistólico: Continua durante a sístole mas termina antes de

S2.

Pansistólico: Continua durante a sístole e sobrepõe-se a S2

Contínuo: Começa após S1, tem um pico em S2 e termina a

meio ou no fim da diástole.

Em determinadas lesões produz-se uma conductividade tal que o ruído se

pode ouvir em outros pontos para além do de máxima intensidade:

- Na estenose aórtica o ruído crescendo-decrescendo que aparece na

sístole também se pode ouvir nas artérias carótidas.

É auscultável uma arritmia respiratória no cão:

Taquicardia na inspiração

Bradicardia na expiração

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Figuras 9 e 10 - Radiografias de tórax de dois animais com patologia cardíaca. Na figura da esquerda observa-se um colapso do brônquio principal induzido por marcada dilatação do átrio esquerdo motivada por insuficiência da válvula mitral. Na figura da direita observa-se marcada dilatação cardíaca com deslocação dorsal da traqueia e aumento da silhueta cardíaca (cardiomiopatia dilatada).

Figuras 11 e 12 - Aparelho de Doppler vascular. Com o auxílio de um esfignomanómetro e o Doppler é possível determinar a pressão arterial sistólica. Assim, com um manguito (“cuff”) que se enche de ar, sob pressão, produz-se uma oclusão do fluxo sanguíneo pela artéria. O Doppler serve para detectar o fluxo sanguíneo na artéria à medida que se vai aliviando a pressão do manguito. Quando se produz o ruído induzido pelo fluxo sanguíneo a passar pela artéria, essa corresponde à pressão sistólica, devendo nessa altura registar-se a presão indicada no esfigmomanómetro.