antropologia 6 i. introduÇÃo 6 ii. origem do … · por certo não existe pergunta com maior...

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3 ANTROPOLOGIA 6 I. INTRODUÇÃO 6 II. ORIGEM DO HOMEM 7 A. Evolução Ateísta 7 Algumas objeções: 8 B. Evolução Teísta 8 Algumas objeções: 9 C. Criação 9 Algumas Objeções: 9 III. CRIAÇÃO DO HOMEM 11 A. O homem foi criado diretamente por Deus 12 B. O homem foi criado em distinção das outras criaturas 13 C. O homem foi colocado numa posição exaltada 14 IV. IMAGO DEI 15 A. Breve Histórico 15 B. Significado do termo 16 C. Aspectos envolvidos 16 Justiça Original 17 Constituição natural do homem 18 Constituição espiritual do homem 18 Vida Infinita 19 D. Definição do termo 19 Personalidade 20 Teomórfica 20 Dependente 20 Estrutura 20 Relacionamento 20 Domínio 20 V. CONSTITUIÇÃO DO HOMEM 21 A. Tricotomia 21 B. Dicotomia 23 O relato da criação 23 Uso intercambiável dos termos “alma” e “espírito” 24 VI. ASPECTOS IMATERIAIS DO HOMEM 26 A. Elementos que compreendem a Parte imaterial 26 Alma 26 Espírito 26 Coração 27 Mente 28 B. Capacidades e Faculdades da Parte Imaterial 28 Intelecto 28

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ANTROPOLOGIA 6

I. INTRODUÇÃO 6

II. ORIGEM DO HOMEM 7 A. Evolução Ateísta 7

Algumas objeções: 8 B. Evolução Teísta 8

Algumas objeções: 9 C. Criação 9

Algumas Objeções: 9

III. CRIAÇÃO DO HOMEM 11 A. O homem foi criado diretamente por Deus 12 B. O homem foi criado em distinção das outras criaturas 13 C. O homem foi colocado numa posição exaltada 14

IV. IMAGO DEI 15 A. Breve Histórico 15 B. Significado do termo 16 C. Aspectos envolvidos 16

Justiça Original 17 Constituição natural do homem 18 Constituição espiritual do homem 18 Vida Infinita 19

D. Definição do termo 19 Personalidade 20 Teomórfica 20 Dependente 20 Estrutura 20 Relacionamento 20 Domínio 20

V. CONSTITUIÇÃO DO HOMEM 21 A. Tricotomia 21 B. Dicotomia 23

O relato da criação 23 Uso intercambiável dos termos “alma” e “espírito” 24

VI. ASPECTOS IMATERIAIS DO HOMEM 26 A. Elementos que compreendem a Parte imaterial 26

Alma 26 Espírito 26 Coração 27 Mente 28

B. Capacidades e Faculdades da Parte Imaterial 28 Intelecto 28

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Consciência 29 Vontade 30

VII. ORIGEM DA ALMA 32 A. Preexistencialismo 32

Objeções à teoria da preexistência 33 B. Criacionismo 33

Argumentos a favor do criacionismo 34 Objeções à teoria Criacionista 34

C. Traducionismo 35 Argumentos a favor do traducionismo 35 Objeções à teoria Traducionista 36

D. Um convite à Cautela “Lembrete do professor” 36

HAMARTIOLOGIA 37

I. INTRODUÇÃO 37

II. QUEDA 38 A. Queda como Fato Histórico 38

Jardim literal 38 Adão Histórico-literal 40 Evidências 41

B. Queda como Fato Teológico 41 C. Definição de Pecado 42

Conceito no Velho Testamento 42 Conceito no Novo Testamento 43 Ato 44 Natureza 45 Culpa 46

III. DEPRAVAÇÃO HUMANA 47 A. Depravação Total 47

Negativamente não implica 48 Positivamente indica 48

B. Incapacidade Total 49 C. Depravação, Incapacidade e a Liberdade Humana 50

IV. CONSEQÜÊNCIAS CÓSMICAS DA QUEDA 52 A. Separação Espiritual: o homem e o Criador 52 B. Separação Psico-somática: o homem em si mesmo 53 C. Separação Sociológica: o homem do homem 53 D. Separação Antro-ecológica: o homem da natureza 54 E. Separação Ecológica: a natureza da natureza 54 F. Separação Final 54

SOTERIOLOGIA 55

I. INTRODUÇÃO 55

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II. QUESTÕES ANTERIORES 56 A. Quem é Deus? 56

Deus é Soberano 57 Deus é Justo 58

B. Quem é o homem? 59 O homem é totalmente depravado 59 O homem é totalmente incapaz de agradar a Deus 60 O homem não é livre, é escravo do pecado 60 O homem é totalmente responsável por sua condição 60

III. REDENÇÃO, UM PLANO HISTÓRICO 62 A. Na queda, o anúncio 63 B. Com Noé, uma Ilustração 63 C. Com Abrão, um Fato 65 D. Na Páscoa, a sombra 66 E. Israel, o Resultado Imediato 68

Resumo Visual – História da Salvação 70

IV. OBRA SALVÍFICA DE CRISTO, O CENTRO 72 A. Significados 72

A Morte de Cristo foi em lugar dos pecadores 72 A Morte de Cristo foi para Redenção dos Pecados 74 A Morte de Cristo foi para reconciliar o Mundo Consigo 76 A Morte de Cristo foi para Satisfazer a Ira de Deus pelo Pecado 77

B. Conseqüências 78 Justificação 78 Adoção 79 Santificação 81 Perseverança 82 Glorificação 83 Fim da Lei 84 Resumo Visual – Obra de Cristo a nosso Favor 86

V. ELEIÇÃO, O FUNDAMENTO DA SALVAÇÃO 87 A. Eleição Universal 87

Apresentação da Ideologia 87 Defensor da Ideologia 88 Réplica da Ideologia 89

B. Eleição Prevista 91 Apresentação da Ideologia 91 Defensores da ideologia 92 Réplica da Ideologia 94

C. Eleição Incondicional 97 Apresentação da Doutrina 97 Defensores da Doutrina 103 Principais Concepções Evangélicas sobre Eleição 105

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Antropologia

I. Introdução

A antropologia, por definição, nada mais é do que o estudo do ho-

mem. Entretanto a Antropologia bíblica difere-se da Antropologia científica em

fundamento, abordagem e propósito :

• Fundamento: encontra-se exclusivamente na Revelação Especial

de Deus ao homem;

• Abordagem: feita a partir da visão bíblica do homem, e não, co-

mo propõe a antropologia científica, do homem pelo homem;

• Propósito: demonstrar a postura privilegiada do homem em rela-

ção às demais criaturas, bem como sua atual deficiência moral

diante de Deus;

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1 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Cultura Cristã: São Paulo, 2001. pp.167 2 CHAFER, Lewis Sperry, Teologia Sistemática. Hagnos:São Paulo, 2003, Vol II, pp.535.

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II. Origem do Homem

Por certo não existe pergunta com maior bagagem de discussão do

que esta: “De onde veio o homem?” Historicamente o homem, como ser inte-

lectual, vem buscando respostas para essa pergunta. Desde a Antigüidade

mais remota se encontra relatos de civilizações antigas que tentam responder a

essa pergunta. No entanto, nenhuma resposta está próxima do fato narrado

nas escrituras.

Mas com certeza, muitas dessas tentativas já foram removidas das

possibilidades aceitas pelos estudiosos e cientistas. Assim, é possível sistema-

tizar essas respostas possíveis de maneira simples, como se pode observar

nos próximos tópicos.

A. Evolução Ateísta

A palavra evolução indica um processo crescente, desenvolvimento.

Mas quando é aplicada ao homem tem seu significado muito mais expressivo,

pois envolve suas origens. Assim, a Evolução Ateísta preocupa-se em respon-

der a pergunta em pauta demonstrando apenas um processo natural no que

tange a origem da primeira substância como do desenvolvimento desta.

Não se pode negar ao certo que mudanças ocorreram através dos

tempos, entretanto, para os evolucionistas, essas mudanças incluem a geração

de novas espécies e de formas mais complexas a partir de formas de vida mais

simples. Essa ótica dispensa a idéia de Deus ou de sua atividade, fato bem

evidenciado pela identificação desta corrente ideológica.

Isso pode ser demonstrado pelas palavras do próprio Charles Dar-

win, pai de muitos dos pensamentos dessa corrente: “Não darei absolutamente

nada pela teoria da seleção natural se ela requerer adições milagrosas em

qualquer de seus estágios3”. Com obviedade, o que fundamenta esse tipo de

raciocínio é a ciência naturalista. O livro que abre as portas do conhecimento

para esse raciocínio é o Origem das Espécies, de Charles Darwin, publicado

em 1859.

3 CLARK, R.E.D. Darwin: Before and after. In: RYRIE, Charles. Teologia Básica. Mundo Cris-

tão:São Paulo. 2004. pp.196.

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Algumas objeções:

Logicamente, essa teoria não tem como ser bíblica, assim algumas

questões bíblicas podem ser estampadas diante dela:

- Qual a possibilidade de que a alma derivasse de um processo u-

nicamente natural?

- Quem poderia ter dado início ao primeiro movimento que desen-

cadeou os outros?

- Quando não existia vida, como surgiram as substâncias que hoje

são absolutamente essenciais para a existência dos sistemas

vivos?

B. Evolução Teísta

”A evolução teísta afirma que Deus direcionou, usou, e controlou o

processo da evolução natural para ‘criar’ o mundo e tudo o que nele existe4”. A

idéia presente nessa ideologia nada mais é do que a tentativa de incluir em

apenas um raciocínio ambas resposta, o evolucionismo e o criacionismo.

Esse raciocínio é expresso por cientistas religiosos que fazem algu-

mas alterações no processo normal da evolução e na literatura bíblica, mas

sem conseguir adaptar satisfatoriamente os argumentos contraditórios das cor-

rentes. Um exemplo clássico dessa fato é a origem de Eva. Segundo eles, A-

dão surgiu de uma espécie preexistente de vida que Deus resolveu soprar o

espírito de vida, mas Eva surgiu de uma intervenção especial de Deus no pro-

cesso da evolução. Ou seja, a evolução só deu conta da raça humana do gê-

nero masculino.

Essa corrente ideológica consegue responder ao menos algumas

das perguntas feitas anteriormente, pois reconhece que Deus é esse “ser invi-

sível” que deu o pontapé inicial para desencadear esse processo. As bases

utilizadas pela evolução teísta são a Bíblia e a ciência.

4 Idem

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Algumas objeções:

Embora algumas questões sejam respondidas, nascem outras um

pouco mais intrigantes, como podemos notar abaixo:

- Se a evolução é natural, qual a necessidade da intervenção de

Deus?

- Se Deus é poderoso para intervir na criação da mulher, por que

não fez com o homem?

- Por que Deus deixaria em sua auto-revelação uma descrição i-

nexata de sua criação?

- Qual o papel da descrição da criação do homem nas escrituras?

- Deus seria incapaz de criar o mundo ex-nihilo?

C. Criação

A criação é a resposta encontrada nas escrituras para a pergunta

em pauta, e por certo é a mais correta dentre as anunciadas. Embora exista

muitas visões dessa criação, a principal característica dessa ideologia é que

ela tem unicamente a Bíblia como fundamento. Isso não significa que todos os

conceitos científicos devem ser descartados, mas que a ciência em si não con-

trola ou altera a interpretação natural dos relatos bíblicos.

O que se pode descrever em poucas palavras sobre o homem na

criação é que Deus criou o primeiro a partir do pó da terra e com seu sopro de

vida (Gn.1.27; 2.7). Assim, nunca existiu uma criatura “preexistente”, ou subu-

mana, muito menos um processo que fizesse com que a criação de Deus fosse

aperfeiçoada.

Algumas Objeções:

Como é óbvio, essa posição em relação às origens do homem nunca

foi considerada como ciência, e sim como fé cega. Por esse fato, todos os a-

deptos de correntes ideológicas diferentes deixam suas questões tentando afo-

gar o relato bíblico da criação do homem.

- Qual o caráter científico da Bíblia?

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- Se Deus é tão poderoso para criar o homem, por que o fez tão

imperfeito?

- Se existe um Deus, por que Ele deixou pistas na natureza que

contradizem o relato bíblico?

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III. Criação do Homem

O homem é criado por Deus (cf. Mt.19.4; Rm.5.12-19; 1Co.15.45-49;

1Tm.2.13), e não existe verdade mais estupenda do que esta. Somente Deus

seria a causa suficiente e razoável para explicar a complexidade da vida hu-

mana. Somente na palavra de Deus pode-se encontrar uma revelação especial

das atividades de Deus na CRIAÇÃO do universo e de tudo o que nele existe.

“Nenhuma outra literatura no mundo é tão repleta de revelação direta destinada

a informar a mente do homem e orientar pesquisas científicas como essas pri-

meiras páginas da Bíblia5”.

A criação é relatada em dois textos distintos em Gênesis: 1.26,27 e

2.7, 21-23. Essa duplicidade de relatos tem feito com que alguns teólogos

questionem sua validade e veracidade. Alguns afirmam que existe certa con-

tradição entre os relatos ou até que existem duas fontes na qual o autor deve

ter pesquisado. “A alta crítica é de opinião que o escritor de Gênesis juntou du-

as narrativas da criação (...) e que as duas são independentes e contraditó-

rias6”.

No entanto, seguindo o plano do autor de Gênesis nota-se que a se-

gunda narração trata-se de uma descrição mais detalhada da criação. “O pri-

meiro registro da criação do homem reporta com simplicidade sublime um tema

muito difícil”, mas não de maneira insuficiente. “No detalhe acrescentado que

caracteriza o segundo registro, está declarado que homem e mulher são pare-

cidos no aspecto físico, por ter sido diretamente – como no caso do homem – e

indiretamente – como no caso da mulher – do pó da terra” [Chafer, Vol. II.

pp.546].

Para os cristãos convictos pouco importa se a ciência afirma, em ca-

ráter científico bem fundamentado ou não (como é o que acontece), que a his-

toricidade de terra é bem maior que a sustentada por alguns teólogos, visto que

não viola o texto bíblico de maneira nenhuma. “Seja num tempo ou noutro,

permanece verdadeiro que Deus Criou o homem imediata e diretamente” [Cha-

5 CHAFER, Lewis Sperry. Teologia Sistemática. Hagnos:São Paulo, 2003. Vol. II pp.545 6 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Cultura Cristã:São Paulo, 2001. pp.167

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fer, Vol. II. Pp.547]. Segue-se, então que é possível concordar com Strong

quando se propõe a definir o ato da criação da seguinte maneira:

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Criação pode ser compreendida como origem com desígnio, pois é

impossível que o homem tenha capacidade de imaginar um Ser Pessoal como

criador, sem que o tenha conhecido como tal. Outro fato interessante, é que na

criação Deus preocupou-se em formar todos os outros seres vivos a fim de que

o homem pudesse ter o ambiente perfeito para viver. Ou seja, tudo o que era

essencial para a existência do homem já havia sido criado por Deus. Seguindo

esse raciocínio podemos ressaltar alguns fatos, ressaltados abaixo.

A. O homem foi criado diretamente por Deus

Ao observar o primeiro relato bíblico da criação, não se pode chegar

à outra conclusão senão que o homem é resultado da intervenção direta de

Deus. Observe o versículo: “Criou Deus, pois, o homem...” (Gn.1.27). Esse ver-

sículo inibe a possibilidade da utilização de um processo evolutivo para a for-

mação do homem. Deus não utilizou formas “preexistentes” ou subumanas de

vida para formar Adão. Assim Deus não soprou o fôlego da vida em um “maca-

co-quase-homem” que veio a ser o primeiro homem.

No segundo relato da criação podemos percebem que Deus não se

utilizou de formas orgânicas menos desenvolvidas para formar o homem, mas

“formou o Senhor Deus o homem do pó da terra”. Dessa maneira podemos di-

zer que “essa passagem reforça o fato da criação especial a partir de materiais

inorgânicos, não apoiando a idéia de uma criação derivada de alguma forma de

vida prévia8”.

Entretanto alguns atestam que a referência ao pó da terra pode ser

considerado como uma forma alegórica para um ser vivo preexistente. Mas

devemos desconsiderar essa possibilidade, pois o próprio Deus afirmou que o

homem voltaria ao pó quando morresse, mas o homem nunca volta a um esta-

do animal na sua morte (Gn.3.19). 7 STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. Hagnos:São Paulo, 2003. Vol. I, pp.547 8 RYRIE, Charles. Teologia básica. Mundo Cristão:São Paulo, 2004. pp.271.

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Portanto, temos que admitir, se cremos que a Palavra de Deus é in-

falível e inerrante como ela afirma ser, que não existe outra possibilidade ver-

dadeira para a origem do homem fora das escrituras. Deus criou o homem de

fato, e isso não pode ser negado.

B. O homem foi criado em distinção das outras criaturas

Outro fato que deve ser percebido na criação do homem é que ele

não foi criado nem derivado de outras criaturas. Na descrição de Gênesis,

Deus cria o reino vegetal distinto do animal, e o homem distinto de ambos. Ob-

serve:

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Essa identificação exata de Deus em relação ao reino vegetal inclui

até mesmo a condição da semente do fruto das árvores. Mas não se encontra

aqui nenhuma referência ou semelhança com os animais ou o homem, mas

declara que sua reprodução é única e exclusiva segundo a sua espécie, ou

como declara o próximo versículo “conforme a sua espécie”. Fato similar acon-

tece com os animais marinhos e as aves:

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Note que cada ser criado por Deus é criado segundo a sua espécie.

E o mesmo acontece com os animais selváticos:

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Assim, cada categoria de animal foi criada em conformidade com

sua própria espécie, bem como a sua reprodução de acordo com essa confor-

midade. Segue-se que não se pode afirmar a partir do relato bíblico que houve

nalgum momento da criação um processo evolutivo, mas cada animal foi criado

segundo a sua espécie.

E, tendo isso como fundamento, na criação do homem não podemos

atribuir a utilização de um outro ser vivo para a sua formação. Pois além de ser

criado a partir do pó da terra, não pertence à espécie de nenhum outro ser vivo.

Portanto, o homem é distinto de qualquer outra forma de vida.

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C. O homem foi colocado numa posição exaltada

O fato de que o homem não pertence à categoria dos animais pode

ser percebido em função da criação distinta dos outros seres vivos, como uma

espécie distinta de ser vivo e pela posição distinta que tem das demais criatu-

ras.

Esse distinção em termos de posição pode ser observada na decla-

ração:

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Essa identificação demonstra que existe algo especial, não somente

na criação, mas na formação. Além da intervenção especial, o homem é criado

à imagem e semelhança de Deus. Isso faz toda diferença entre o homem e os

outros seres vivos. Mas é ainda reforçado por sua posição exaltada, pois é cri-

ado para ter domínio sobre todos os outros seres vivos. Portanto, o homem

está colocado numa posição privilegiada em relação a demais criaturas.

Essa posição exaltada é ainda demonstrada de forma poética em

Salmos, quando Davi escreve uma exaltação das obras de Deus dizendo:

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Portanto, o homem é considerado como ápice da criação, a coroa da

criação, e por isso tem sua distinção de todas as outras criações e criaturas e

está acima de todas elas. Outro fator que evidencia essa verdade é que como

a criação do homem a Obra Criativa de Deus chegou ao fim. Isso pode ser ob-

servado pela frase dita pelo próprio Deus após a criação do homem: “Viu Deus

tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gn.1.31).

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IV. Imago Dei

Esse tópico visa cuidar especificamente do aspecto mais interes-

sante do homem, a saber a Imagem e a Semelhança de Deus em que foi cria-

do o homem. Normalmente nas obras de Teologia Sistemática utiliza-se um

termo em latim para designar esse fato, Imago Dei (Imagem de Deus), e por

isso continuam nesta forma neste estudo.

Imago Dei é o grande diferencial na criação do homem, é o que, por

certo, diferencia o homem do resto da criação. Entretanto, é tema antigo de

debates teológicos, pois historicamente, não se chegou a um consenso a res-

peito deste termo. Assim é válido observar algumas das diferentes opiniões

históricas sobre esse tema.

A. Breve Histórico

Alguns dos “Pais da Igreja” concordavam que a Imagem de Deus no

homem consistia em suas capacidades racionais, morais e na capacidade para

a santidade. Entrementes alguns tendiam a crer que existiam alguns aspectos

físicos pertencentes a essa Imagem de Deus.

Em outros desses “Pais da Igreja”, criam que Imagem e Semelhança

eram aspectos distintos e que como tal tinham implicações distintas. Para Cle-

mente de Alexandria e Orígenes (gregos), que rejeitavam qualquer relação do

termo com o corpo, criam que Imagem estava relacionado a características do

homem como tal, e Semelhança como qualidades não essenciais do homem.

Esse tipo de abordagem, que distingue Imagem de Semelhança, foi

também encontrada nos escolásticos, embora nem sempre expressa do mes-

mo modo. Já os reformadores abandonaram a distinção entre Imagem e Seme-

lhança, pois “consideravam a justiça original como incluída na imagem de Deus

e como pertencente à própria natureza do homem em sua condição

originária9”.

Alguns teólogos mais recentes tem discordado de todas essas pos-

sibilidades, como Scheleiermacher, que rejeitou a possibilidade de que hou-

9 BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Cultura Cristã:São Paulo, 2004. pp.187

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vesse justiça original no homem original, pois cria que essa justiça só era pos-

sível por meio de desenvolvimento.

B. Significado do termo

As palavras hebraicas de Gênesis 1.26,27 são tselem e demuth, o

equivalente às palavras gregas eikon e homoiosis (que em latim são imago e

similitudo). Tselem significa imagem moldada, uma figura moldada, imagem no

sentido concreto da palavra (2Rs.11.18; Ez.23.14; Am.5.26). Já demuth tam-

bém se refere à idéia de similaridade, mas num aspecto mais abstrato ou idea-

lístico. Segundo Addison Leitch, “o autor bíblico parece estar tentando expres-

sar uma idéia muito difícil, na qual deseja deixar claro que o homem, de alguma

maneira, é o reflexo concreto de Deus10”.

Embora durante muito tempo se tentou diferenciar as palavras, nos

relatos bíblicos as palavras imagem e semelhança são empregadas como si-

nônimos. Em Gn.1.26 são empregada as duas palavras, mas no v.27 apenas a

primeira delas. Em Gn.5.1 só ocorre a palavra semelhança e no v.3 ambas no-

vamente. Porém em Gn.9.6 aparece apenas a palavra imagem. Ou seja, são

utilizadas em Gênesis de maneira intercambiável. Outro detalhe importante é

que, até mesmo as preposições utilizadas são igualmente intercambiáveis (cf.

Gn.1.26,27 e 5.1-3).

Portanto o que se pode concluir até aqui é que não se deve apoiar

na utilização das palavras unicamente para enfatizar diferenças de ênfases ou

de aspectos desse fato. Logo, é prudente os aspectos envolvidos a fim de en-

contrar uma definição mais plausível para os termos utilizados em Gênesis.

C. Aspectos envolvidos

Antes de procurar definir, é importante observar na literatura bíblica

algumas afirmações relevantes para compreensão correta do termo teológico

Imago Dei.

10 LEITCH, Addison. Image of God. In: RYRIE, Charles. Teologia Básica. Mundo Cristão:São

Paulo, 2004. pp. 218.

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Justiça Original

A imagem de Deus, na qual foi criado o homem, certamente inclui o

que normalmente se denomina “justiça original”. Esse termo diz respeito a con-

dição do homem, que foi criado sem pecado. Esse fato tem grande respaldo

escriturístico. Em Gn.1.31, após a criação do homem fala que tudo o que Deus

fizera eram muito bom. Salomão também faz uma boa observação do homem

com criatura especial de Deus quando diz :

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O Novo Testamento testemunha de maneira semelhante, mas o faz

retratando a condição do salvo como uma volta a um estado anterior. Paulo,

em sua epístola aos colossensses faz a seguinte observação:

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Em Efésios, Paulo faz semelhante afirmação:

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O que se pode notar nessas citações paulinas é que a condição a

qual o homem retorna na salvação é sua condição original. Esse fato é eviden-

ciado pela palavra refaz, que traz a idéia de realizar novamente algo anterior-

mente pronto ou de fazer novo novamente, como sugere a forma grega da pa-

lavra em pauta. Se essa conclusão é exata, pode-se ainda conferir o aspecto

original do homem, que se perdeu com a entrada do pecado, que é de pleno

conhecimento, justiça e santidade. Logo, as referências à Imagem de Deus

nestes textos refletem sua imagem moral, que estão presentes no homem. As-

sim, o homem é criado segundo a imagem moral de Deus.

Portanto, “a criação do homem segundo esta imagem moral implica

que a condição original do homem era de santidade positiva, e não um estado

de inocência ou de neutralidade moral13”.

11 Pode-se afirmar a possibilidade de tradução como “renovar”. 12 Deve-se ressaltar que a palavra retidão, originalmente carrega a idéia de santidade, e que segundo a tradução KJV pode-se ler: “verdadeira santidade”. Entretanto, o termo referente a verdade é um Genitivo de Origem, ou seja, justiça e santidade procedem da verdade, como ficou bem demonstrada pela tradução ARA. 13 BERKHOF, Louis, pp. 189

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Constituição natural do homem

Não há dúvidas que o fato do homem ser criado segundo a Imagem

de Deus implica que até mesmo os aspectos mais naturais do homem derivem

de Dele. Ou seja, as faculdades intelectuais, sentimentos naturais, liberdade

moral e a volição, no homem são reflexos do que Deus é em primeiro lugar.

Por ser criado a Imagem de Deus o homem dispõe de uma capaci-

dade moral e racional. Essas capacidades asseguram a condição de homem

ao ser humano, e é impossível que participe dessa condição sem a presença

dessas dádivas. Ou seja, embora o homem hoje esteja em um estado de peca-

do, não perdeu completamente essas características, mas é impossível que

elas sejam exatamente como foram outrora.

Portanto, é importante evidenciar que, ainda que o homem tenha a

capacidade moral e intelectual, ela foi maculada pelo pecado. Entretanto, é vá-

lido demonstrar que mesmo após a queda o homem é apresentado como sen-

do imagem de Deus (Gn.9.6; 1Co.11.7; Tg.3.9). Segue-se que é impossível

afirmar que o homem perdeu totalmente a Imagem de Deus, da mesma forma

que é impossível afirmar que ela seja identicamente a mesma.

Constituição espiritual do homem

É natural esperar que o homem sendo criado a imagem de Deus

desfrute de uma condição espiritual, pois “Deus é espírito” (Jo.4.24). E não é

difícil observar esse fato, pois mesmo na narrativa da criação podemos encon-

trar dados referentes a esse fato:

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Dois fatos podem ser ressaltados e considerados importantes nesta

questão, (1) a vida do homem só foi possível após o sopro de vida da parte de

Deus, sendo considerado como o princípio da vida do homem e (2) a expres-

são “alma vivente” é considerada condição de sua vida.

Embora não seja o cunho deste tópico tratar da constituição do ho-

mem no que diz respeito às suas divisões, é válido demonstrar que o homem

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criado a Imagem de Deus é formado pelo corpo e pela alma. Isso não indica

que estes são os únicos aspectos do homem, mas que existe em sua totalida-

de única uma duplicidade constitucional. Ou seja, existe a parte material e visí-

vel do homem bem como a imaterial e invisível. Porém estes assuntos serão

melhores discutidos pouco à frente (Ponto V).

Vida Infinita

Parece pouco contraditório afirmar que o homem original desfrute da

vida sem fim, pelo fato de não estar presente hoje em algum lugar da terra. Pa-

rece mais contraditório ainda quando notamos que não existem referências a

outro ser que não morre a não ser a Deus (1Tm.6.16).

Contudo, ao ser criado a Imagem de Deus, o homem participa dessa

vida, não de maneira completa e perfeita como o próprio Deus (que é eterno

por definição). Assim, essa Vida é verdadeira, considerada como uma dádiva

de Deus e não uma fonte autônoma de vida derivada do próprio homem. Se-

gundo Chafer, o sopro divino foi a doação de uma vida interminável, ainda que

a punição pelo pecado incluísse a morte do corpo (física).

Mas se pensarmos coerentemente, nalgum sentido da palavra a e-

xistência do homem é sem fim, pois, apesar da morte física ser real, a alma do

homem é dotada de uma existência interminável. É válido afirmar que a utiliza-

ção do termo aqui não implica em uma vida semelhante a de Deus (que não

tem nem origem nem fim), mas em uma vida que não tem fim unicamente.

D. Definição do termo

Segundo o conceituado teólogo Carlos Osvaldo Pinto Th.M e Ph.D.,

a definição de Imago Dei é: “Personalidade teomórfica dependente manifesta

em estrutura relacionamento e domínio14”. Embora sucinta seja essa definição

é necessário compreender sua profundidade.

14 PINTO, Carlos Osvaldo. Teologia Sistemática III. Material não publicado.

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Personalidade

Tudo o que torna possível um ser autoconsciente, incluindo os as-

pectos materiais e imateriais do homem.

Teomórfica

Indica que o arquétipo do homem é o Deus trino e que nossos atri-

butos refletem, ainda que imperfeitamente, o caráter de Deus.

Dependente

Indica que o homem não é um ser autônomo, derivando sua própria

existência dAquele que o criou.

Estrutura

Por estrutura quer-se dizer não estrutura física, mas emocional, inte-

lectual e volitiva. O aspecto físico do homem reflete o plano original de Deus de

encarnar-se para a redenção da humanidade.

Relacionamento

Indica que o perfeito amor existente entre a Trindade estaria refletido

na interação entre os seres humanos.

Domínio

Por fim, domínio sugere o exercício de uma autoridade construtiva

no seio da criação, onde o homem é o regente de Deus.

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V. Constituição do Homem

Este tópico visa demonstrar biblicamente os aspecto da constituição

humana. Sistematicamente, pode-se definir duas possibilidades de interpreta-

ção para os aspectos da constituição humana: (1) Tricotomia, e (2) Dicotomia.

A. Tricotomia

A interpretação trina do homem é fundamentada sobre algumas

passagens bíblicas que sugerem que o homem é formado por corpo alma e

espírito, apenas. Essa visão tem suas bases voltadas para a filosofia grega,

que está alheia dos relatos bíblicos. Essa idéia foi sugerida pelo aprofunda-

mento dos estudos de Aristóteles sobre as informações deixadas por Platão.

Esse raciocínio foi encontrado também em alguns pais da Igreja, como Tertuli-

ano, e nos os escolásticos (teólogos católicos por volta do século XII e XIII),

como Tomás de Aquino.

A idéia básica dessa forma de ver o homem, é a supremacia do Es-

pírito em relação ao corpo e alma, embora a alma seja superior ao corpo. As-

sim, o Espírito diz respeito aos sentimentos espirituais; a Alma ao que é de na-

tureza intelectual, emocional ou volitivo; Corpo, refere-se unicamente ao senti-

dos naturais, como, visão, tato, olfato, audição e paladar.

A fundamentação desse pensamento nasce a partir dos textos que

seguem:

“O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conser-vados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts.5.23)

“Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para dis-

cernir os pensamentos e propósitos do coração” (Hb.4.12)

Mas, nesta visão é possível ressaltar alguns problemas, pois como

explicar os “pensamentos” e os “propósitos do coração”? Onde eles se encai-

xam? E, segundo outros textos que afirmam a existência da consciência do

homem? E textos, como Mc.12.30, que não falam nem sobre “espírito” nem

“corpo”?

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A concepção da tricotomia, acaba por recortar o homem em três par-

tes distintas, onde alma e espírito são distintos entre si e do corpo. É como se

fossem três aspectos autônomos em um mesmo homem. Mas tal postura não

pode ser sustentada à luz das escrituras, pelas seguintes razões:

• Nas escrituras, a palavra espírito, assim como alma, são utiliza-

das para a mesma substância (Ec.3.21; Ap.16.3);

• Atribui-se a palavra alma em referência a Deus (Am.6.8; Is.42.1;

Hb.10.38)

• Os mortos são chamados de alma (Ap.6.9, cf. 20.4)

• Perder a alma é perder tudo (Mc.8.36, 37)

Os versículos demonstrados para a visão tricotomista podem ter sua

explicação mais razoável da perspectiva bíblica. Em 1Ts.5.23, Paulo não tem

por propósito enumerar as facetas da constituição humana, nem mesmo distin-

guí-las, mas demonstrar um apanhado da sua natureza nas principais relações.

Esse fato pode ser demonstrado em um texto alternativo, Mc.12.30. neste texto

notamos que existem quatro aspectos separados da constituição humana, co-

ração, alma, entendimento e forças, mas ninguém se arrisca a afirmar uma

quadricotomia baseado neste texto. Ou seja, em ambos texto nota-se que o

autor não tem interesse de segmentar o homem, mas demonstrar que cada

aspecto de sua constituição imaterial deve estar presente em seu relaciona-

mento com Deus.

Com referência à Hb.4.12, podemos notar que o autor de Hebreus

fala que a Palavra de Deus é suficientemente poderosa para dividir alma e es-

pírito. O que se nota neste texto é a ênfase da profundidade da ação da Bíblia

na vida de um homem. Outro detalhe importante é que a palavra de Deus divi-

de, e só pode-se dividir o que está junto. Ou seja, as evidências a favor da tri-

cotomia são pouco conclusivas. Assim, é mister compreender o que ser a visão

dicotomista do homem.

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B. Dicotomia

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A interpretação dual do homem é baseada não somente no relato da

criação, mas também na observação do texto bíblico que sugere que o homem

é formado de um aspecto material (corpo) e outro imaterial (alma, espírito, co-

ração, pensamentos, consciência). A própria palavra “Dicotomia” sugere isso. A

origem da palavra é grega, e formada pela junção do substantivo “�����”, que

significa dois, e “���� ”, que significa cortar, traduzido satisfatoriamente por

“formado de duas partes”. Assim é importante demonstrar alguns princípios

bíblicos que asseguram essa posição:

O relato da criação

“A natureza dupla do ser humano – que é material e imaterial – é de-

terminada pelo modo como o homem foi criado16”, o corpo do pó da terra e a

alma é soprada por Deus.

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Deve atentar para a ordem dos fatos na narrativa mosaica, pois não

afirma que o homem foi criado alma vivente e depois Deus soprou o espírito,

mas, o homem passa a ser alma vivente apenas após o sopro de Deus. Sobre

isso Strong afirma que “a vida de Deus apossou-se do barro e, como resultado,

o homem teve uma alma17”.

Outro detalhe importante que deve ser notado são as considerações

de Jó com respeito a essa percepção:

Tão certo como vive Deus, que me tirou o direito, e o Todo-Poderoso, que amargurou a minha alma, enquanto em mim estiver a minha vida, e o sopro de Deus nos meus narizes, nunca

os meus lábios falarão injustiça, nem a minha língua pronunciará engano. (27.2-4)

Nota-se que para Jó era certo que ele era uma criatura de Deus e

que sua vida natural estava intimamente ligada ao “sopro de Deus” em suas

15 BERKHOF, Louis. pp.178. 16 CHAFER, Lewis Sperry. Teologia Sistemática. Hagnos:São Paulo, 2003. Vol II. pp.553. 17 STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. Hagnos:São Paulo, 2003. Vol. II, pp.45.

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narinas, como ele mesmo assegura. Pensamento semelhante é esboça do Eliú,

que pouco depois:

Na verdade, há um espírito no homem, e o sopro do Todo-Poderoso o faz sábio. (32.8)

O Espírito de Deus me fez, e o sopro do Todo-Poderoso me dá vida. (33.4)

Eis que diante de Deus sou como tu és; também eu sou formado do barro. (33.6)

O que podemos observar é que para a cosmovisão hebraica a cria-

ção de Deus era um fato real, tal como narrado em Gênesis. Outro fato mais

interessante ainda, é que, segundo estudiosos, Jó é um homem que viveu mui-

to antes que Moisés pudesse ter escrito o livro de Gênesis. Ou seja, a tradição

judaica já sustentava o fato da criação, mas de uma perspectiva ainda dicotô-

mica desta. E a mesma percepção com respeito a constituição do homem per-

manece. Nota-se que em nenhum momento o relato de Jó ou Eliú parece es-

boçar a constituição humana além do que é material ou imaterial (Para outros

exemplos, cf. Gn.35.18; Sl.31.5).

Uso intercambiável dos termos “alma” e “espírito”

É notório nas escrituras que os termos “alma” e “espírito” podem ser

utilizados de maneira intercambiável. Esse fato pode ser evidenciado. Note:

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Em sua narrativa sobre as origens de seu povo, Moisés ressalta a

história que envolve José no período que estava no Egito. Neste tempo, Faraó

teve um sonho um tanto estranho, e isto o estavam incomodando. Nessa altura

na narrativa mosaica afirma que, pela manhã após o sonho, Faraó estava con-

fuso, ou como Moisés afirma, de espírito perturbado. Entretanto, em um dos

Salmos dos filhos de Coré podemos encontrar um sentimento distinto, mas a-

plicado à alma do indivíduo. Observe:

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O que se pode ressaltar deste texto, senão o relato da tristeza do

salmista exilado no extremo norte da Palestina, que anseia por voltar ao templo

em Jerusalém. Mas o que os dois textos tem em comum? O que parece óbvio,

a expressão de um sentimento, embora um atribua à alma e outro ao espírito.

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Seria isto uma prova de que alguns sentimentos reportam-se a alma e outros

ao espírito? Não, significa que os termos, alma e espírito, são utilizados de

maneira intercambiável para expressar o mesmo fato. Vamos observar outros

versículos:

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A palavra grega referente ao sentimento expresso pelo vocábulo

“angustia” é “������� ”, que denota basicamente inquietação, angústia. Este

vocábulo grego é encontrado nas duas sentenças, mas ora atribuído à alma,

ora ao espírito. Ou seja, ou Jesus tem dificuldade de reconhecer a que aspecto

da sua constituição reportam-se as emoções, ou os termos alma e espírito são

utilizados de maneira intercambiável. (Para mais exemplos observe os seguin-

tes textos: Mt.20.28, cf. 27.50; Hb.12.23, cf. Ap.6.9).

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VI. Aspectos Imateriais do Homem

Como tem sido demonstrado, o homem é um ser completo e unitá-

rio, embora bipartido. Ou seja, em sua inteireza o homem é constituído de duas

partes, material e imaterial. O aspecto material do homem é muito bem enten-

dido, pois se sabe o necessário sobre esse aspecto, que é bem entendido pela

biologia. Entretanto, a parte imaterial é constituída de algumas facetas que me-

recem nossa atenção. Assim,neste tópico estaremos estudando esses aspec-

tos imateriais do homem.

A. Elementos que compreendem a Parte imaterial

Podemos listar alguns elementos importantes que compreendem a

Parte Imaterial do Homem, e procurar entender o que cada um é de fato. Den-

tre esse, é possível listar: Alma, Espírito, Coração e Mente.

Alma

O termo “alma” em português reporta-se basicamente a “nephesh”

em hebraico e a “psiche” no grego. No Velho Testamento podemos encontrar

os seguintes usos para o termo hebraico: “Alma”, “ser vivente”, “vida”, “eu”,

“pessoa”, “desejo”, “apetite”, “emoção” e “paixão”. Mas basicamente significa

“vida”. O termo hebraico pode tanto significar uma pessoa por inteiro, tanto viva

quanto morta. Pode referir-se ao aspecto imaterial do homem como um todo

em relação à emoções, e tem um importante enfoque na redenção.

Espírito

A palavra “espírito” é equivalente a “ruah” hebraico e “pneuma” gre-

go. Pode, como já bem demonstrado, ser utilizado intercambiavelmente com a

palavra “Alma”, referindo-se ao Aspecto Imaterial do homem como um todo.

Mas é válido demonstrar que o homem nunca é apresentado como um espírito,

embora possua um. O que se demonstra com a atribuição de Espírito e Alma

ao Aspecto Imaterial do homem, não é que Alma e Espírito sejam o mesmo

elemento, mas que não são os únicos elementos do aspecto imaterial.

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Não é verdadeira a premissa que sustenta que apenas os cristãos

têm espírito, pelo fato de que a Bíblia ensina que todos os homens tem espírito

(Nm.16.22; Hb.12.9; 1Co.2.11; Hb.4.12; Tg.2.26). Algumas funções são atribuí-

das ao espírito, da mesma forma que para a Alma: entendimento (Is.29.24),

memória (Sl.77.6), humildade (Mt.5.3), amargura (Gn.26.35), a angústia

(Jo.13.21), ciúme (Nm.5.14), a altivez (Pv.16.18) e a opressão (Sl.34.18).

Assim, podemos dizer que o Espírito não pode indicar uma pessoa

como um todo, é uma palavra que se refere exclusivamente ao aspecto imate-

rial do homem, imediatamente ligado à suas atividades, embora para Paulo a

palavra assuma proeminência à vida espiritual.

Coração

O Coração também é relatado na Bíblica como parte do homem.

Com certeza nós sabemos que o coração é um órgão muito importante para a

vida natural, embora poucas passagens falem sobre isso (2Sm.18.14;

2Rs.9.24). Na maioria dos casos o coração é utilizada para se referir ao ho-

mem interior, “a essência da muitas facetas de sua personalidade18”.

Sobre o coração, quatro observações podem ser importantes: (1) o

coração é o centro da vida intelectual, pois adquire o conhecimento da palavra

de Deus (Sl.119.11), ele sabe (Dt.8.5), é fonte dos maus pensamentos e ações

(Mt.15.19, 20), possui propósitos e pensa (Hb.4.12) e pode ser enganoso; (2) o

coração é o centro da vida emocional, pois ama (Dt.6.5), reprova (Jó.27.6), se

alegra (Sl.10415; Is.30.29), entristece (Ne.2.2; Rm.9.2), possui desejos

(Sl.37.4) e pode ficar amargurado (Sl.73.21); (3) Ele é o centro da vida volitiva,

pois busca (Dt.4.29), pode ser mudado (Ex.14.5) e endurecido (Ex.8.15;

Hb.4.7), é capaz de escolher (Ex.7.22, 23) e pode ser insubmisso (Jr.9.26;

At.7.51); (4) o coração é o centro da vida espiritual, pois é nele que o homem

crê para justiça (Rm.10.9, 10), é a morada do Pai (1Pe.3.15), do Filho (Ef.3.17)

e do Espírito Santo (2Co.1.22), e para o cristão seu coração deve ser puro

(1Tm.1.5; Hb.10.22) e estar submisso (Rm.2.29).

18 RYRIE, Charles, Teologia Sistemática. pp.228 (Informações sobre o aspecto imaterial retira-

dos dele)

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Mente

Mente é normalmente mais encontrado no Novo Testamento. O con-

ceito para mente no Velho Testamento é formado por coração. Na concepção

hebraica, o coração aparece como o responsável pela atividades intelectuais,

como já foi mencionado. No Novo Testamento é claro o conceito de mente,

entretanto com uma distinção interessante entre cristãos e incrédulos. Para os

cristãos a mente está ligada ao desenvolvimento espiritual, pois com ela o ho-

mem compreende a verdade (Lc.24.45; 1Co.14.14, 15), está envolvida em

questões de decisão complicada (Rm.14.5), na busca da santificação

(1Pe.1.13), na compreensão da vontade de Deus (Ef.5.17), no amor de Deus

(Mt.22.37) e ela deve ser renovada para uma vida dedicada (Rm.12.2) e ter

todo pensamento cativo em Cristo (2Co.10.5)

B. Capacidades e Faculdades da Parte Imaterial

Neste sub-tópico gostaria de demonstrar existem atividades dos e-

lementos que compreendem o aspecto imaterial do homem. Por exemplo, que

o homem possui mente, mas de que lhe serve? E o que é essa consciência? O

coração por vezes tem vontade, mas o que ela seria? A mudança, aqui, encon-

tra-se na ênfase que é posta, não sobre o que é, mas o que faz.

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Intelecto

O intelecto é a faculdade cognitiva pela qual as impressões recebi-

das pelos sentidos se tornam inteligíveis, e podem ser plenamente conhecidas.

É uma referência abrangente, em relação à mente como um todo, que diz res-

peito ao entendimento.

Essa atividade da mente do homem é bem demonstrada pela litera-

tura bíblica. O entendimento do cristão tem grande lugar no Novo Testamento,e

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uma iluminação sobrenatural desse entendimento foi prometida por Cristo

(Jo.16.7-11). O intelecto reporta-se à compreensão da mensagem do evange-

lho (2Co.4.3-4). Para o regenerado pelo Espírito Santo, uma gama de informa-

ções se torna inteligíveis (Jo.16.12-15; cf. Jo.3.3; 1Co.2.9-3.4; Hb.5.12-14;

11.3; 1Pe.2.2; 1Jo.2.27)

Paulo, após anunciar grandes verdades na introdução de sua epísto-

la aos efésios, ele ora para que Deus dê “o espírito de sabedoria e de revela-

ção no pleno conhecimento dele” aos efésios (Ef.1.17). Assim, o homem não

possui apenas uma mente que absorve informações, mas também é apta a

executá-las, e em função disso, o homem precisa ter sua mente transformada

(Rm.12.2), mesmo após a iluminação do Espírito Santo, para que informações

corretas levem à prática correta. “O viver é reflexo do pensar”.

Consciência

A consciência é a capacidade das faculdades do aspecto imaterial

do homem que se reporta ao julgamento destas faculdades. Assim como a

mente pode produzir pensamentos, a memória guardá-los, o espírito discernir o

valor desses pensamentos, a alma respondê-los, a consciência os avalia sua

dignidade moral. A consciência é a marca da criação de Deus, pois até mesmo

os que não conhecem o padrão moral de Deus, por vezes o seguem, pelo fato

de que a consciência testemunha esse padrão (Rm.2.15).

A consciência de alguém que não é salvo pode ser classificada co-

mo: (1) Corrompida (Tt.1.15); (2) Má (Hb.10.22); (3) Convencida (Jo.8.9); (4)

Cauterizada (1Tm.4.2). Já o cristão busca manter a boa consciência

(1Tm.1.19), o que sugere que mesmo o cristão pode ter uma consciência má.

Outra sugestão que pode existir é que a consciência no cristão tem o próprio

Espírito Santo como árbitro (Rm.9.1).

Outras referências relativas à consciência: At.24.16; 1Co.4.4;

Hb.10.1,2; 1Pe.3.16; 1Jo.3.20-22.

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Vontade

“A vontade humana é legitimamente um tema importante em teologi-

a. Ela aparece não somente em antropologia, mas também em soteriologia19”.

É possível ainda que a vontade esteja diretamente relacionada Deus, pois a

vontade do homem é reflexo da Imagem de Deus no homem.

O que pode-se afirmar sobre a vontade, é que ela é influenciada, ou

dirigida, pelo intelecto, emoções e desejos e que sua liberdade nada mais é do

que a experiência de realizá-la na ausência de controle ou influência. Seguindo

essa afirmação, a liberdade da vontade é inconsciente. Entretanto, isso é im-

possível, pelo fato de que a vontade sempre está à mercê de alguma informa-

ção, necessidade, desejo correto ou não.

Observe que quando Paulo afirma que os não salvos tem um modo

de vida em conformidade o curso deste mundo, o enganador deste mundo, e

das inclinações da própria carne (Ef.2.1-3). Neste texto pode-se ler:

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A vontade relaciona-se com os outros aspectos da constituição do

homem, e inclina o homem segundo as inclinações destes aspectos. Dessa

forma, o homem não regenerado tem sua vontade inclinada pelas paixões car-

nais e intenções malévolas, o que faz com que sua vontade não possa ter arbí-

trio isento de influência.

O mesmo acontece com o homem regenerado, embora após a sal-

vação o homem seja conduzido à liberdade, a vontade do homem não é abso-

lutamente livre. Paulo testemunha esse fato quando diz:

“Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que

não quero, esse faço” (Rm.7.18-19)

O que acontece nesse texto demonstra a luta entre a intenção de fa-

zer o bem e não conseguir efetuá-lo. Embora o homem regenerado desfrute de

um ambiente de liberdade ainda não possui a liberdade essencial e verdadeira

19 CHAFER, Lewis Sperry, pp.601

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que o próprio Deus tem. De alguma forma até mesmo a vontade do homem é

influenciada, ou regida por outro aspecto. Em Fp.2.13 podemos ler:

“Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”

Segue-se que a liberdade da vontade é o desejo de todo homem,

porém, impossível à luz de sua própria definição:

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Assim, não se nega a capacidade volitiva do homem, ao mesmo

tempo que não afirma seu liberdade utópica.

20 BERTI, Marcelo Mendes.

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VII. Origem da Alma

Como estamos estudando, as questões mais difíceis em se respon-

der são aquelas que dizem respeito às origens dos fatos. É comum observar-

mos as pessoas e afirmarmos com certeza: “Este homem, para que seja ho-

mem, com absoluta certeza tem uma Alma”. Quem nunca fez isso!? (obs. isso foi a

utilização de uma figura de linguagem chamada IRONIA, pode rir...).

Mas é muito complicado tentar responder a pergunta: “De onde veio

a alma deste indivíduo?”. Tentar responder essa pergunta não é uma atitude

recente. Cristãos antes de nós já o tentaram fazer, mas todos de maneira insu-

ficiente. Assim, é importante reconhecer as diversas opiniões sobre o assunto.

A. Preexistencialismo

A teoria da preexistência é uma tentativa de responder a pergunta

em pauta de uma perspectiva especulativa. Para os defensores do preexisten-

cialismo, as almas dos homens já existiam em um estado anterior, e qualquer

deficiência moral que demonstrasse neste estado, teria grande implicação na

vida material desta alma (espiritismo, panteísmo). Alguns ícones teológicos

desse pensamento são: Orígenes, Scotus Erígena e Júlio Muller.

Em alguns dos representantes da filosofia grega que adotavam esse

ponto de vista, como Platão e Filo, pode-se encontrar razões diferentes. Platão

tinha em mente explicar que a Alma possui informações e conhecimentos não

derivados dos sentidos. Filo, pretendia compreender a prisão de sua vida, o

corpo. Esses pensamentos acabaram por influenciar Orígenes, que tentou ex-

plicar a disparidade de condições em que os homens entram no mundo.

Nas formas mais modernas desse pensamento, podemos encontrar

Kant e Júlio Müler. Para eles a depravação da vontade, ou sua deficiência mo-

ral, só pode ser real a partir de um ato pessoal de autodeterminação em um

estado anterior ao da vida material. Assim, todos os homens que vivem materi-

almente, tem suas definições finais determinadas por esse ato pré-temporal.

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Objeções à teoria da preexistência

Podemos fazer as seguintes objeções à este pensamento:

• Em primeiro lugar essa corrente ideológica é vazia de bases bí-

blicas e filosóficas (Berkhof);

• Esse pensamento tem origem na visão dualista entre matéria e

espírito, ensinado pela filosofia pagã; (Berkhof)

• Se a alma é preexistente, e apenas um ato consciente de autode-

terminação poderia explicar as deficiências morais do homem,

como não temos a menor lembrança desse estágio? (Strong)

• Se a alma é preexistente, mas não é consciente de sua existên-

cia nem pessoal para tomar decisões, ela deixa de explicar as

deficiências morais do homem; (Strong)

• A existência anterior não tem qualquer fundamento escriturístico;

• Conflitante com a perspectiva bíblica sobre punição eterna;

B. Criacionismo

A teoria criacionista afirma que Deus cria diariamente almas para

acoplar em corpos que estão sendo gerados. A tentativa desta teoria é respon-

der a pergunta em pauta de uma perspectiva filosófica, mas com fundamenta-

ção bíblica. Alguns teólogos que defendem tal posição são: Berkhof, Hodge,

Jerônimo e Pelágio.

Os dois últimos são símbolos de uma geração antiga de pensadores

cristãos, que influenciados pelos pensamentos de Aristóteles, chegaram a con-

clusão que Deus criou imediatamente a alma de cada ser humano e a uniu a

um corpo, na concepção, no nascimento, ou em algum momento entre esses

dois eventos.

Hodge e Berkhof tem pensamento semelhante ao demonstrado aci-

ma. Sobre isso Berkhof afirma que “cada alma individualmente deve ser consi-

derada como uma imediata criação de Deus, devendo sua origem a um ato

criador direto, cuja ocasião não se pode determinar com precisão”.

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Argumentos a favor do criacionismo

Normalmente são encontrados três grandes argumentos em prol

deste pensamento:

• Na criação é demonstrada que existe diferença entre a origem do

corpo e da alma. No decorrer das evidências bíblicas é possível

notar que sempre existe algum tipo de separação entre esses

dois aspectos (Z.21.1; Is.42.5, Nm.16.22; Hb.12.9);

• Este pensamento esmera-se em manter una a alma, visto que é

indivisível;

• No tocante a Jesus Cristo, como homem completo, o pensamen-

to responde de melhor maneira o fato de que Cristo não partici-

pou do pecado;

Objeções à teoria Criacionista

Como observado, o criacionismo é, em síntese, a declaração da cri-

ação direta de Deus para cada alma. Sobre isso pode-se objetar que:

• Se Deus é o responsável pela criação das almas, e estas tem

tendências depravadas, faz com que Deus seja diretamente autor

do mal moral;

• Se as almas são criadas absolutamente puras, Deus é culpado

indiretamente pela criação do mal moral, pois permite que uma

alma pura venha a se perverter em um corpo depravado que,

com obviedade, a corromperia;

• Se o pai natural é apenas responsável pelo corpo, os animais

tem maior dignidade que os homens, pois reproduzem segundo

sua própria imagem;

• A atividade criadora de Deus parece ter sido interrompida após a

criação do homem, completo com alma.

• A criação de Eva é bem demonstrada pelo escritor bíblico. Nesta

criação não se fala nada sobre a origem da alma da Eva;

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C. Traducionismo

O traducionismo responde a pergunta em pauta a partir de uma

perspectiva tanto bíblica como filosófica. Entretanto, as considerações do tra-

ducionismo encontram mais fortes evidências na literatura bíblica, ao contrário

do criacionismo. Porém é valido demonstrar que o traducionismo e o criacio-

nismo são opções encontradas na história da igreja, e em ambos lados é de-

fendida por cristãos. O criacionismo foi a teoria grandemente aceita pelo orien-

te, enquanto o traducionismo, pelo ocidente. Segundo Chafer, “a questão sem-

pre foi de opinião pessoal e não tem como base uma separação teológica” (Vol.

II, pp.582).

O traducionismo afirma que “a raça humana foi criada imediatamen-

te em Adão e, com relação tanto ao corpo como à alma, propagou-se a partir

dele por geração natural, e todas as almas desde Adão são apenas mediata-

mente criadas por Deus, o sustentador das leis de propagação que foram origi-

nariamente estabelecidas por ele21”. Ou seja, a alma tem origem a partir do

momento da concepção, em um processo natural, e são transmitidas de pais

para filhos. Alguns dos representantes dessa corrente são: Tertuliano, Rufino,

Apolinário, Gregório de Nissa, Lutero, H.B. Smith, Augustus Hopkins e Charles

Ryrie.

Argumentos a favor do traducionismo

Vários argumentos poderiam ser demonstrados, tais como:

• Está em harmonia com o relato da criação, pois Deus soprou

uma única vez o fôlego da vida no homem, e deixou que ele se

reproduzisse (Gn.1.28, 2.7); a criação da alma de Eva estava in-

cluída na de Adão (Gn.2.23; cf. 1Co.11.8);

• A bíblia afirma que os descendentes foram formados da carne de

seus pais (Gn.46.26; Hb.7.9, 10; cf. Jo.3.6, 1.13; Rm.1.3;

At.17.26)

• Explica de maneira mais satisfatória a transmissão da deprava-

ção moral e espiritual, que é assunto da alma, e não do corpo; 21 STRONG, Augustus Hopkins. Teologia Sistemática. Vol. II, pp.59

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Objeções à teoria Traducionista

Vários argumentos poderiam ser demonstrados, tais como:

• Se Deus só age mediadamente em relação a sua obra criativa,

após a criação, que será, então a regenereação?

• “A teoria leva a dificuldades insuperáveis a cristologia. Se em

Adão a natureza pecou globalmente, e esse pecado foi, portanto,

o verdadeiro pecado de cada parte dessa natureza, não se pode

fugir a conclusão de que a natureza humana de Cristo também

foi pecadora e culpada, porque teria pecado de fato em Adão”

(Berkhof, pp.183).

D. Um convite à Cautela “Lembrete do professor”

Como foi demonstrado, dentre as variantes consideráveis como res-

posta à questão que reporta-se à origem da alma, apenas uma é completamen-

te descartável, a preexistência, visto ser repleta de falácias filosóficas e raízes

lançadas em um panteísmo oriental, que em formas modernas atinge o espiri-

tismo. Entretanto, o traducionismo e o criacionismo tem formas mais aceitáveis,

embora sejam contraditórias entre si.

É notório que não existe respaldo bíblico suficiente e definitivo em

favor nem de uma nem de outra teoria, e que logicamente ambas podem ser

sustentados com louvor, o correto é apelar para uma tentativa de cautela no

estudo destes fatos. Charles Swindoll, em seu livro “O mistério da vontade de

Deus” afirma que “o problema dos jovens teólogos é que eles querem desven-

dar o inescrutável”. Uma vez que não temos tamanha clareza a partir dos rela-

tos bíblicos, não devemos buscar sabedoria além do que por Deus foi dado a

conhecer em sua revelação.

Entretanto, deve-se ressaltar que o traducionismo merece maior

consideração visto que reporta-se melhor ao testemunho das escrituras a res-

peito deste fato. As explicações a favor do traducionismo são superiores às

suas objeções. E suas objeções tem resposta bíblica, sem que seja necessário

interpolação teológica para obtê-la.

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Hamartiologia

I. Introdução

A doutrina do pecado é uma das mais importantes doutrinas da teo-

logia crista, pois se ocupa a ressaltar a condição que o homem está em função

do pecado, demonstrar sua impossibilidade em agradar a Deus, com o objetivo

de demonstrar que o homem está perdido e abismado em relação a Deus, e

que, sozinho não pode fazer nada para alterar essa realidade.

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BLAISE PASCAL

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JOÃO CALVINO

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EDWARD OAKES

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II. Queda

A queda é o marco da origem do pecado no mundo e de todas as

deficiências que existem nele. É o momento histórico que explica tanto a ori-

gem de todo o mal existente no mundo, como a concepção correta do pecado.

Assim, não compreender o pecado do ponto de vista do Velho Testamento im-

possibilita vislumbrar a maravilhosa graça no Novo Testamento.

Da mesma forma, é necessário compreender a queda do ponto de

vista teológico, pois apenas assim pode-se notar suas conseqüências danosas

na humanidade, bem como em todos seus relacionamentos.

A. Queda como Fato Histórico

Para que a queda tenha qualquer sentido real, é necessário que os

acontecimentos narrados em Gênesis sejam verdadeiros. Para que a salvação

possa ter qualquer validade é necessário que exista uma deficiência que care-

ça ser sanada. Ou seja, sem a queda não se pode reconhecer o pecado, e sem

ele não há necessidade de salvação.

Jardim literal

Se os acontecimentos narrados em Gênesis são reais, era necessá-

rio um ambiente real para que atos reais possam ser executados. Segue-se a

necessidade de um Jardim do Éden geográfico-histórico. Este Jardim é assim

demonstrado pela literatura bíblica:

�E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, na direção do Oriente, e pôs nele o ho-mem que havia formado. Do solo fez o SENHOR Deus brotar toda sorte de árvores agradáveis

à vista e boas para alimento; e também a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do co-nhecimento do bem e do mal. (...) Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no

jardim do Éden para o cultivar e o guardar” (Gn.2.8,9,15)

Após o ato imediato da criação do homem, nota-se o seguinte texto

que demonstra claramente a criação do Ambiente do Primeiro homem. Nota-se

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que Deus é a causa primeira deste Jardim que está localizado na terra, que já

havia sido criada. A localização descrita pelo autor bíblico sugere que este Jar-

dim estava situado na região da Palestina. Nos versículos que seguem pode-

mos notar esse fato:

E saía um rio do Éden para regar o jardim e dali se dividia, repartindo-se em quatro braços (...) O nome do terceiro rio é Tigre; é o que corre pelo oriente da Assíria. E o quarto é o Eufrates”

(Gn2.10, 14)

Os nomes de rios mencionados neste texto são muito bem conheci-

dos e Norman Geisler chega a sugerir que a Bíblia situa os rios na Assíria, atu-

al Iraque22. As informações bíblicas são muito bem arranjadas, e isso faz com

que alguns teólogos acreditem em uma inserção de informações posteriores.

Mas tal informação é especulativa, visto não existir informações que sustentem

essa opinião.

Por causa das especulações teológicas colocadas sobre o texto de

Gênesis, é importante demonstrar que as evidências dão suporte para a inter-

pretação normal do texto, que neste caso é literal.

Normalmente as objeções lançadas sobre a mitologia relacionada

com o Jardim do Éden são colocadas em função da inexistência de artefatos

arqueológicos que evidenciem tal existência. Contudo, é necessário que se

demonstre que após a queda Deus selou o Jardim (Gn.3.24), isso impossibilita-

ria que qualquer evidência arqueológica fosse encontrada. Outro detalhe que

merece atenção é que não existem evidências de que Adão ou Eva tenham se

aplicado à produção de artefatos neste Jardim, nem mesmo se empenhado a

qualquer espécie de construção. Ou seja, sem tais fatos é impossível que se

encontre evidências arqueológicas. Se existisse, ainda, qualquer evidência,

com o Dilúvio elas seriam destruídas (Gn.6-9; cf. 2Pe.3.5, 6).

A inclusão dos rios Tigre e Eufrates, que são reais, parece sugerir

que o Jardim seja igualmente literal. A preocupação do autor bíblico em de-

monstrar os rios deve reportar-se ao fato de que tal Jardim seja também real.

Um ponto que merece destaque dentre os mencionados, é que o

Novo Testamento testemunha sobre os fatos relacionados ao Jardim como re- 22 GEISLER, Norman, Enciclopédia de Apologética.

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ais. Fala da criação de Adão e Eva (Mt.19.4; 1Tm.2.13) e de seu pecado origi-

nal (1Tm.2.13; Rm.5.12) . Assim, esses eventos reais precisam de um Ambien-

te Real para acontecer, um lugar geográfico-histórico.

Adão Histórico-literal

A argumentação que proporciona a interpretação mítica ou irreal é a

consideração de que o autor utiliza-se de um estilo poético, repleto de parale-

lismo com outros mitos antigos e a suposta contradição entre o relato e a ciên-

cia. No entanto, para os escritores bíblicos, tanto Adão quanto Eva, são perso-

nagens históricos, e encontrados em uma leitura literal de Gênesis.

O primeiro fato que evidência a condição histórica de Adão é a pró-

pria narrativa de Gênesis. Embora muita discussão exista neste ponto, para

aqueles que consideram o texto como fonte fidedigna de informações é o ponto

de partida. Observe que o autor sempre demonstra Adão como uma pessoa

real. Se Adão fosse irreal não poderia ter gerado filhos, e na narrativa de Gê-

nesis ele perpetua a espécie humana, gerando filhos à sua imagem (Gn.5.3).

Outro detalhe importante dentro da narrativa de Gênesis é que a

sentença “Este é o registro”, ou “são estas as gerações” encontradas para re-

gistrar a história do povo hebreu (cf. Gn.6.9; 10.1; 11.10, 27; 25.12, 19) é usada

para o registro da Criação (2.4) e para Adão e Eva e seus descendentes (5.1).

Fora da narrativa de Gênesis é possível encontrar Adão como per-

sonagem histórico. Na cronologia encontrada em 1Cr.1.1, Adão encabeça a

genealogia mais extensa das escrituras (1.1 - 9.44), que demonstra a historici-

dade das tribos de Israel e a importância da linhagem davídica. Mas para que

esta genealogia tenha valor real é necessário que os personagens envolvidos

seja igualmente reais.

O Novo Testamento testemunha a favor da historicidade de Adão.

Em Lc.3.38 Adão é designado como um ancestral literal de Jesus, e este, pos-

teriormente, referiu-se a Adão e Eva como os primeiros “homem e mulher” lite-

rais, fazendo da união deles a base para o casamento (Mt.19.4).

Paulo em Romanos declara que a morte foi trazida ao mundo por um

homem real (Rm.5.12, 14). Em Coríntios, Paulo faz uma comparação entre

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Cristo e Adão (1Co.15.45). Para Timóteo, Paulo afirma que primeiro foi criado o

homem e depois a mulher (1Tm.2.13, 14). Ou seja, se as comparações e cita-

ções paulinas sobre os diversos assuntos que aborda fossem baseadas em

mitologia, as asseverações morais seriam nada mais do que afirmações equi-

vocadas e inválidas. Entretanto, não parece ser esse o caráter que Paulo es-

creve. Tanto ele, como os autores do Novo Testamento tem por certo de que

os acontecimentos narrados em Gênesis são fatos. Assim, é impossível não

crer na historicidade de Adão.

Evidências

A queda é considera verdadeira e histórica pelo fato de que a Litera-

tura Bíblica, mesmo fora do relato de Gênesis, apresenta tanto a queda como

verdadeira como os resultados desse evento:

• Velho Testamento: Gn.3.20; 5.1-15; 10.1-32; 11.1-32; 1Cr.1.1; Jó.31.33;

Ec.7.29; Is.43.27; Os.6.7.

• Novo Testamento: Mt.19.4-5; Mc.10.6-7; Lc.3.38; Rm.5.12-21; 1Co.11.7-9;

15.22, 45; 2Co.11.3; 1Tm.2.13-14; Jd.14.

B. Queda como Fato Teológico

A queda não é observada apenas do escopo histórico, mas também

teológico. O primeiro visa a demonstração da queda como um fato dentro da

história do homem. O segundo, por sua vez, tem por norte a demonstração das

conseqüências evidenciadas pelos resultados observáveis. Ou seja, evidencia

o pecado muito mais como FATO do que como ATO. Assim, em função do pe-

cado:

1. A natureza humana foi corrompida por inteiro. Todos os aspectos

do homem foram pervertidos a ponto de deteriorar com o passar do

tempo. (ver detalhes no ponto IV)

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2. A Imagem de Deus foi maculada. O homem não deixa de ser I-

magem de Deus, mas não pode ter a mesma.

3. A morte, tanto física como espiritual ,passou a reinar no homem.

E como conseqüência, todos os descendentes de Adão sofrem com

esse resultado danoso.

Em suma, a queda do ponto de vista teológico determinou a culpa

judicial sobre a humanidade, o rompimento da comunhão entre Deus e o ho-

mem e a deturpação da perfeita e anterior “Imago Dei”. (Veja Gn.2.15-17 c/

1Co.15.22 e Rm.5.12).

C. Definição de Pecado

Antes de uma definição significativa do pecado é válido buscar in-

formações tanto no Velho como no Novo Testamento, com a intenção de bus-

car informações que revelem a realidade do pecado.

Conceito no Velho Testamento

No Velho Testamento podemos encontrar as seguintes palavras

normalmente encontradas com o sentido de pecado:

hatah – significa basicamente errar, tornar-se culpado;

heth’ – erro, malogro;

awon – iniqüidade;

pesha – transgressão, infração;

Nos profetas do Antigo Testamento, o pecado é muito mais que uma

violação de regras, mas significa o rompimento de um relacionamento pessoal

com Deus. Isso poder ser observado em Is.59.2:

Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça.

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Assim, no Velho Testamento é claro que pecado é visto como uma

transgressão direta à Lei de Deus, evidenciado por um erro moral que torna

culpado diante de Deus.

Conceito no Novo Testamento

No Novo Testamento podemos ressaltar as seguintes palavras:

hamartano: não acertar o alvo, atingir alvo errado;

hamartia: transgressão, pecado. Normalmente visto como

atos específicos;

Especialmente na literatura paulina, o pecado é observado como

uma força em si, que opera no homem e o mantém cativo. Por vezes o pecado

é personificado, como em Rm.7.20:

Mas, se eu faço o que não quero, já não sou eu quem o faz, e sim o pecado que habita em mim.�

Segue-se que no Novo Testamento podemos perceber que o peca-

do é não acertar o alvo correto. Ou seja, não é um ato passivo, mas uma inten-

ção determinada em não se conformar com a Lei preestabelecida. Assim, após

observar o uso das palavras, uma definição de pecado pode ser assim esboça-

da:

�G������������ ������ ������ �*�����������������*���1������ �� ��,�H���������� �������������� ��*��� � ���� ����*������ ��� ����';!,�0�",� C�,;,@2�

A abrangência do conceito do pecado pode ser observada pelo texto

de 1Co.10.31, que diz: “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coi-

sa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”. O que se nota neste texto é que

mesmo as atividades mais simples, como comer e beber, podem ser macula-

das pela presença de motivos ou propósitos distintos ao padrão estabelecido

no referido versículo. Ou seja, qualquer atividade que não tenha como motivo

primeiro a Glória de Deus, É PECADO! Assim, o pecado pode ser observado 23 GRANCONATO, Marcos Mendes. Teologia Sistemática 3, material não publicado.

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como a incapacidade de viver em conformidade com o que Deus espera de nós

no que diz respeito a ATO, NATUREZA e a CULPA.

Ato

Ações que não se conformam com a vontade de Deus; qualquer fal-

ta de conformidade ativa com a lei moral de Deus. Essas ações podem ser pra-

ticadas ou não, pois segundo Tg.4.17, não fazer o que se deve fazer é pecado.

Ou seja, omitir-se de responsabilidades é PECADO. Diante desse fato, qual é a

relação entre o cristão e o pecado como Ato?

TEXTOS IMPLICAÇÕES 1Jo.1.10 O cristão não está livra da prática do pecado. Jo.3.6 Neutralização24 do poder do pecado na vida do cristão.

2Co.3.18 A santificação pressupõe a imperfeição moral de crente. Ef.4.17-29 O cristão deve abandonar os atos.

1Jo.2.6 Deve imitar a Cristo em sua vida.

Em caso do cristão incorrer na prática do pecado ele pode confes-

sar. Em 1Jo.1.9, a palavra utilizada é “ �� � ��� ” (��������), de onde procede

nossa palavra HOMOLOGAR. Ou seja, a confissão de pecado nada mais é do

que dizer a mesma coisa, ou falar em conformidade, ou conformar-se, ou con-

cordar com o que a Palavra de Deus diz e reconhecer sua falha em arrepen-

dimento. Entretanto, é necessário que cristão não apenas confesse o pecado,

mas também deixe o pecado:

I��� � ����� ���������������� ��B ��/��������� ����5��������� �������" ���� �� �%��������������� ���������0$�,':, ;2,�

Mas, a essa altura é necessário que se diga que a disposição de

Deus em perdoar não serve como desculpa, ou estímulo para a prática do pe-

cado:

24 Neutralização não total, parcial.

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Todo aquele que permanece nele [em Cristo] não vive pecando; todo aquele que vive pecan-do não o viu, nem o conheceu (...) Aquele que pratica25 o pecado procede do diabo, por-

que o diabo vive pecando desde o princípio. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo. Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é

nascido de Deus. (1Jo.2.7-9).�

Natureza

É uma inclinação herdada, dedes Adão, potencialmente presente em

todos, para a prática do mal orientado contra Deus. Essa inclinação herdada é

também chamada de “pecaminosidade”, e afeta o homem como um todo. As-

sim, nesse ponto as motivações são tão perniciosas quanto as ações.

Mas é importante ressaltar que não atinge apenas o homem como

um todo, mas todo homem. Dessa forma, todo ser humano possui de maneira

completa esta inclinação. Ou seja, “não é simplesmente que somos pecadores

por que pecamos; [mas] pecamos por que somos pecadores26”. É o que Paulo

afirma em Ef.2.3: “e éramos, por natureza, filhos da ira27, como também os

demais”.

O pecado, visto como essa inclinação, é considerado estúpido, por

que não anula a consciência do homem. Em Rm. 7.15-17 podemos ler:

Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto. 16 Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa. 17 Neste ca-

so, quem faz isto já não sou eu, mas o pecado que habita em mim

Sobre isso R.C. Sproul diz:

Parece estupidez fazermos algo que sabemos que vai roubar-nos a felicidade. Contudo o fa-zemos. O mistério do pecado não é somente o fato da ser perverso e destrutivo, mas de ser

estúpido28.

O crente possui uma Nova Natureza, mas não anulou a Antiga Natu-

reza pecaminosa, que ainda existe substancialmente: “Fazei, pois, morrer a

vossa natureza terrena” (Cl.3.5). Com a conversão a Natureza Pecaminosa

recebe um golpe substancial, embora não deixe de existir. 25 A idéia presente nesta palavra é a “prática constante” do pecado. 26 ERICKSON, Millard J., Introdução à Teologia Sistemática. 27 A expressão “filhos da ira” traz em si a idéia de “merecedor da ira”. 28 SPOUL, R.C., Santidade de Deus.

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46

Culpa

O conceito de culpa nos dias atuais é visto de uma perspectiva in-

correta, e por esse motivo leva a uma realidade também erronia sobre essa

ela. Após o advento dos estudos de Freud, a culpa passou a ser vista como um

sentimento irracional que não merece atenção, pois não prestamos contas a

mais ninguém além de nós mesmos e algumas pessoas ao nosso redor. Assim,

se ninguém é prejudicado por uma atividade pessoal, não existe motivo para

ter culpa.

Contudo, a perspectiva teológica aborda a questão a partir da isen-

ção de dignidade que o homem sofre diante de Deus. Portanto, culpa é mais

que errar, executar algo mau ou sentir-se mal por isso, mas é o resultado da

violação original da Lei Moral de Deus, e atinge judicialmente a todos os des-

cendentes de Adão. Assim, a Culpa do Pecado provem do ato rebelde de A-

dão, e é imposta a todo o qualquer ser humano, de maneira que, esta redunda

diretamente em condenação.

Resumo Visual

O Ato é Pessoal

Agrava a condenação

A Natureza é Herdada

Viabiliza a execução do Ato

A Culpa é Imposta CONDENAÇÃO

Gera Condenação

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47

III. Depravação Humana

O pecado, como demonstrado, não é apenas uma atividade, um ato

de agressão à dignidade e santidade de Deus, mas é tudo o que não se con-

forma com a Lei Moral de Deus, e isso inclui o estado em que o homem se en-

contra, bem como a culpa judicial que carrega.

Assim, notamos que a Natureza Pecaminosa do homem, o estado

em que se encontra, tem grande importância no estudo teológico, e, nessa altu-

ra, nasce uma pergunta: “Qual é a abrangência dessa Natureza Pecaminosa?”.

Para responder a essa pergunta, devemos, primeiramente, demonstrar o termo

teológico que sugere essa abrangência: Depravação. Dessa forma, em outras

palavras poderíamos perguntar: “Essa depravação, é total ou parcial?”.

A. Depravação Total

A pergunta em pauta exige certa explicação, pois é possível que e-

xista uma má compreensão dos termos empregados, fazendo com que a con-

clusão seja errônea. Com Depravação afirma-se a falta de retidão original, por

um lado, e, por outro lado, a corrupção moral ou inclinação para o mal. Assim,

essa Depravação pode corromper parte do homem ou o homem como um todo,

o que seria a Depravação Parcial ou Depravação Total, respectivamente.

Diante do relato bíblico, seria incorreto afirmar que um aspecto da

constituição imaterial do homem seja maculado pelo pecado, enquanto outro

não. Dessa forma, se pode afirmar que a Depravação do Homem é total, ou

seja, todos os aspectos do homem foram corrompidos pelo pecado. Entretanto

é válido demonstrar que afirmar que todos os aspectos do homem são corrom-

pidos, não significa que eles são aniquilados, ou seja, eles ainda existem, mas

estão estragados, decompostos. Assim o homem é totalmente depravado. Con-

tudo, muitas vezes esta frase é mal compreendida, e, portanto requer cuidado-

sa interpretação.

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48

Negativamente não implica

(1) que todo homem é tão completamente depravado como pode-

ria chegar a ser;

(2) que o pecador não tem nenhum conhecimento inato de Deus,

nem tampouco tem uma consciência que discerne entre o bem e o mal;

(3) que o homem pecador raramente admira o caráter e os atos

virtuosos dos outros, ou que é incapaz de afetos e atos desinteressados em

suas relações com o semelhante;

(4) que todos os homens não regenerados, em virtude da sua pe-

caminosidade inerente, se entregarão a todas as formas de pecado: muitas

vezes acontece que uma forma de pecado exclui a outra.

(5) que o pecador seja destituído de consciência;

(6) que o pecador seja desprovido de todas as qualidades agradá-

veis e úteis aos olhos do homem;

Positivamente indica

(1) que a corrupção inerente abrange todas as partes da natureza

do homem, todas as faculdades e poderes da alma e do corpo;

(2) que absolutamente não há no pecador bem espiritual algum

com relação a Deus, mas somente perversão. (Rm.7.18; 2Tm.3.2-4).

(3) totalmente destituído daquele amor a Deus (Jo.5.42).

(4) carregado de desejo que ultrapassa a consideração por Deus e

sua Lei (2Tm.3.4).

(5) supremamente determinado em sua preferência do “eu” (egoís-

ta) em relação a Deus, interna ou externamente ((2Tm.3.2).

(6) possuído de aversão a Deus (Rm.8.7).

(7) desordenado e corrompido em cada faculdade (Ef.4.18;

Tt.1.15; 2Co.7.1; Hb.3.12).

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B. Incapacidade Total

Com respeito ao seu efeito sobre os poderes espirituais do homem,

a Depravação Total tem como conseqüência lógica a Incapacidade Total, ou

seja, diante de Deus o homem é incapaz de agradá-lo.

Aqui, de novo, é necessário fazer adequada distinção. Na atribuição

da incapacidade total à natureza do homem, não queremos dizer que é impos-

sível fazer o bem em todo e qualquer sentido da palavra. Os teólogos Refor-

mados geralmente dizem que ele ainda é capaz de realizar:

(1) o bem natural;

(2) o bem civil ou a justiça civil;

(3) externamente, o bem religioso.

Admite-se que mesmo o não regenerado possui alguma virtude, a

qual se revela nas relações da vida social, em muitos atos e sentimentos que

merecem a sincera aprovação e gratidão dos seus semelhantes. Ao mesmo

tempo, afirma-se que esse mesmo ato e sentimentos, quando considerados em

relação a Deus, são radicalmente defeituosos. Seu defeito fatal é que não são

motivados pelo amor a Deus, nem pela consideração de que a vontade de

Deus os exige, e muito menos, orientados para conceder ou atribuir Glória a

Deus.

Quando falamos da corrupção do homem em termos de incapacida-

de total, queremos dizer duas coisas:

(1) que o pecador não regenerado não pode praticar nenhum ato,

por insignificante que seja, que fundamentalmente obtenha a aprovação de

Deus e corresponda às exigências da lei Santa de Deus;

(2) que ele não pode mudar sua preferência fundamental pelo peca-

do e por si mesmo, trocando-a pelo amor a Deus; não pode sequer fazer algo

que se aproxime de tal mudança. Numa palavra, ele é incapaz de fazer qual-

quer bem espiritual. Há abundante suporte bíblico para essa doutrina: Jo.1.13;

3.5; 6.44; 8.34; 15.5; Rm.7.18, 24; 8.7,8; 1Co.2.14; 2Co.3.5; Ef.2.1, 8-10;

Hb.11.6.

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50

É válido demonstrar que a incapacidade do homem não tange ape-

nas à sua moralidade, mas à sua insuficiência e insignificância diante da Ma-

jestade e Soberania de Deus. Qualquer atividade que tenha por foco distinto da

Glória de Deus, não agrada a Deus. Não interessa qual seja essa atividade.

Por mais que se reconheça a possibilidade da consecução de um bem natural,

cívico, sem fé é impossível agradar a Deus (Hb.11.6).

C. Depravação, Incapacidade e a Liberdade Humana

No que diz respeito a toda essa discussão sobre o pecado, é inevi-

tável que uma questão seja lançada: “Teria o homem o livre-arbítrio?”. Essa

questão deve ser respondida tanto positiva como negativamente.

Pode-se dizer que o homem inevitavelmente possua liberdade para

realizar algo, ou deixar de realizar; adquirir ou não conhecimento; vestir essa

ou aquela camisa; decidir o que lhe agrada e o que não lhe agrada; o que lhe é

bonito ou não é bonito; neste sentido pode-se aplicar o termo livre-arbítrio.

Entretanto, por definição, o livre arbítrio é impossível, pois se refere

principalmente às ações e à vontade humana, e pretende significar que o ho-

mem é dotado do poder de, em determinadas circunstâncias, agir sem motivos

ou finalidades diferentes da própria ação. Ou seja, livre arbítrio é a habilidade

de mover-se em direção a consecução de um ato almejado dentre algumas

possibilidades, sem consideração de motivos ou circunstâncias, a ponto de não

sofrer qualquer inclinação distinta do interesse de realizar este ato. Contudo,

todo ato exige motivo ou interesse. Não existe ato absolutamente livre de qual-

quer inclinação, interesse ou motivo. Se as decisões para executar ou realizar

algo não exigem pressupostos racionais, são espontâneas, e por conseqüência

as decisões não são tomadas, elas acontecem. Segue-se que o livre arbítrio

por definição é impossível.

Observe o exemplo sugerido por Rc. Sproul:

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Por mais que o homem tenha liberdade de escolhas, em algumas si-

tuações, como é reconhecido aqui, ele “perdeu a sua liberdade material, insto

é, o poder racional de determinar o procedimento, rumo ao bem supremo, que

esteja em harmonia com a constituição moral original da sua natureza. O ho-

mem tem, por natureza, uma irresistível inclinação para o mal. Ele não é capaz

de compreender e de amar a excelência espiritual, de procurar realizar coisas

espirituais, as coisas de Deus, que pertencem a salvação29”.

Sobre esse tópico, a Confissão de Westminster afirma:

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29 BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática. pp.231

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52

IV. Conseqüências Cósmicas da Queda

Observe o gráfico:

De acordo com o gráfico acima demonstrado, podemos relevar al-

gumas informações importantes com respeito a realidade da destruição do pe-

cado na humanidade.

A. Separação Espiritual: o homem e o Criador

A Queda implica diretamente na separação espiritual com Deus. Em

função da entrada do pecado no mundo, o homem está privado de desfrutar

dessa bem-aventurança, pois Deus não pode conviver, nem manter comunhão

com o pecado. Por essa razão afirma-se não existir mais comunhão direta en-

tre Deus e os homens. No relato de Gênesis, vemos que após cometerem uma

infração direta à Lei de Deus, tanto o homem como a mulher “esconderam-se”.

Isso implica que a comunhão com Deus havia sido quebrada.

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B. Separação Psico-somática: o homem em si mesmo

O homem, em função do pecado, sofre da falta de unidade no que

tange aos aspectos imateriais do homem. Ou seja, o pecado desestabilizou a

harmonia inicial do homem, e devido a isso, não pode portar-se de maneira

irrepreensível diante da Lei de Deus, e do próprio Deus. E as conseqüências

ainda podem ser claramente observadas: A mulher passa a sofrer as dores do

parto (3.16), o homem a penar em sua labuta diária (3.19a) e a morte passa a

reinar na experiência humana (3.19b), sem contar que suas inclinações, agora,

propendem ao pecado, ao erro, à pratica do mal orientado contra Deus.

C. Separação Sociológica: o homem do homem

O homem não perde apenas comunhão com Deus, e harmonia con-

sigo mesmo, mas em função do pecado o homem está separado do homem.

Em Gênesis 3 podemos ler a seguinte declaração:

Então disse o homem: A mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi (v.12)

O primeiro conflito do homem encontra-se no contexto matrimonial.

Ou seja, entre homem e mulher o conflito já estava anunciado na queda. Con-

tudo, Deus ainda profere punições para esse relacionamento:

E à mulher disse: (...) o teu desejo será para30 o teu marido, e ele te governará. E a Adão dis-se: Visto que atendeste a voz de tua mulher, e comeste da árvore que eu te ordenara não co-

messe...(16-17).

O que se nota é que não existe mais harmonia matrimonial, antes

sobressai o conflito existente nessa relação, como conseqüência do pecado.

Entretanto, o relacionamento homem mulher não é o único prejudicado, mas

qualquer espécie de relacionamento, pois em Gn.4 podemos notar o ciúmes e

o homicídio de Caim para com Abel.

30 A idéia da preposição hebraica sugere que o desejo da mulher será contra o marido.

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D. Separação Antro-ecológica: o homem da natureza

O relacionamento do homem para com a natureza é também afeta-

do, pois é necessário que o homem viva em constante trabalho para sua so-

brevivência (3.18-19). Entretanto, esse trabalho é enfadonho agora, pois a terra

precisa ser cuidada para que de fruto.

E. Separação Ecológica: a natureza da natureza

Por conseqüência do pecado , a natureza passa a sofrer. Note que

agora a “terra é maldita”, “produzirá cardos e abrolhos” e esta sujeita à vaidade

(Rm.8.20; cf.Is.11.6s; 65.25).

F. Separação Final

No meio do juízo adâmico, o Senhor Deus deu a promessa da vitória

sobre Satanás através da semente da mulher (Gn.3.15). A promessa de bên-

ção (1.28) por meio de um filho prometido é a chave da teologia bíblica. Quan-

do o Deus Pai não pode olhar para o Filho na cruz, houve uma divisão catastró-

fica que pagou o preço de todo pecado e destruiu a base do juízo. Na divisão

na cruz, a solução de cada divisão da Queda é providenciada e garantida. Ago-

ra, a reconciliação com Deus e a cura parcial nos níveis psicológicos e sociais

pode ser realizados através da fé. E, no futuro, a cura e a restauração completa

(até da natureza) ocorrerão. A história ainda vai ver a salvação de Cristo, não

por meio do esforço humano, mas pela intervenção divina. Assim, eliminada a

causa, cessam as conseqüências.

A cura total e completa tem dois fatores: # completa erradicação do pecado # completa restauração da criação

Ambos os fatores serão completos no futuro.

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Soteriologia

I. Introdução

Soteriologia é por definição é a parte da teologia que trata especifi-

camente da salvação, conforme efetuada por Jesus Cristo. A palavra Soteriolo-

gia vem da palavra “������” (� ����� ) que significa salvação; é relacionada,

também com “�����” (�����), salvador; e com “����” (� �� ), salvar.

A doutrina da Salvação tem grande lugar na teologia e na prática

ministerial, contudo não tem devida evidência na atualidade. O descrédito atual

pelo conceito correto da salvação tem causado grandes problemas para a Igre-

ja em geral. Em nossos dias a Igreja está centralizando suas atividades evan-

gelísticas em entretenimento, sociabilidade, projetos sociais, contextualização,

enquanto se esquece do primordial: “A salvação é pela Graça”. Não é suficien-

te conquistar multidões para dentro das paredes da Igreja, é necessário que o

indivíduo reconheça que é pecador, separado de Deus e que por suas próprias

forças não pode resolver seu problema, para que então possa entender a reali-

dade da salvação.

Portanto concluímos que, para se compreender conceito correto da

salvação, é necessário reconhecer sua miséria e necessidade de salvação e

que apenas Deus, em sua Soberana Misericórdia, pode provê-la. Segue-se

que, o conceito correto da salvação é fundamento em dois grandes ponto:

Quem Deus é, e quem o Homem é. Uma compreensão incorreta de um dos

pontos leva diretamente a conceituação é errada da salvação, e toda a prática

ministerial é abalada. Assim, devemos ter muita cautela no estudo teológico da

Salvação, pois disto depende nossa práxis ministerial.

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BLAISE PASCAL

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CHARLES H SPURGEON

II. Questões Anteriores

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A.W. PINK

A colocação de Pink é fundamental para o início de nosso estudo

sobre a salvação, pois não temos a intenção de superestimar apenas aspectos

verdadeiros do todo da verdade. Contudo, o real entendimento da Soberania

de Deus, e da responsabilidade do homem é fundamental para a compreensão

da salvação.

Por isso, antes de qualquer progresso com o estudo mais detalhado

da salvação, vamos buscar compreender os dois grandes pilares dela, a sa-

ber: Deus e o homem. Por uma questão de ordem lógica, vamos observar pri-

meiro a Deus, e então o homem.

A. Quem é Deus?

Definir a Deus, é sempre um problema de grandes proporções, pois

é impossível defini-lo exaustivamente. Uma mente finita não pode conceber

completamente um Deus Eterno, sem princípio, sem fim. Entretanto, é possível

defini-lo corretamente, em linhas gerais, sem que sua dignidade seja ofendida.

Assim: “Deus é, no mínimo, a soma integral de todos os Seus Atributos”. Essa

definição, apesar de simples, reconhece os atributos de Deus de forma que

não existe um atributo maior que outro e que, estes, sendo revelados, tornam

possível o conhecimento de Deus. Ou seja, para uma compreensão correta de

Deus, é necessário conhecer Seus Atributos.

31 PINK, A.W. Deus é Soberano. pp.05

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Contudo, nessa altura do estudo teológico, não faremos um estudo

exaustivo dos atributos de Deus, visto que isso já foi realizado anteriormente.

Por isso, vamos ressaltar os atributos de Deus que têm sido mais desprezados

pelos cristãos de todo o mundo: a SOBERANIA e a JUSTIÇA.

Deus é Soberano

Como ribeiros de águas assim é o coração do rei na mão do SENHOR; este, segundo o seu

querer, o inclina (Pr.21.1)

Todos os cristãos conseguem afirmar que Deus é Soberano, mas

muitos não podem admitir que Ele o seja de fato. Na Igreja, as pregações enfa-

tizam apenas o que o público quer ouvir, e não o que eles necessitam ouvir.

Não se ouve pregações sobre pecado do homem e suas conseqüências, nem

mesmo a Soberania de Deus e sua abrangência. Ou seja, a igreja abandonou o

conceito saudável e salutar da SOBERANIA de Deus, e sobre isso McArthur

chega a dizer:

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Contudo, por uma questão de coerência com a Bíblia é necessário

afirmar que Deus é absolutamente Soberano na totalidade do Seu Ser. Ou se-

ja, Deus é Soberano no exercício de Seu Poder, na concessão de sua miseri-

córdia, no exercício de Sua Justiça, na demonstração de Sua Santidade. Mas

sem esse reconhecimento, sempre nos perguntaremos: “Por que Deus faz is-

so?” E para essa resposta nunca haverá outra opção, senão: “Por que Deus é

Soberano, Ele faz o que quer, quando Ele quer, por que Ele quer”.

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32 MCARTHUR, Jonh F. Com Vergonha do Evangelho. pp.178

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58

Ou seja, não existem limites para a execução da vontade de Deus,

por que afirmar que Deus é Soberano é asseverar que Ele é Onipotente. Afir-

mar que Deus é Soberano é afiançar a Supremacia de Deus, que Ele é o Altís-

simo, e em última análise, que Deus é Deus. Portanto, Deus não é sujeito a

ninguém, não influenciado por nada, absolutamente independente e infinita-

mente mais elevado do que a mais eleva das criaturas. Ele é Deus.

Deus é Justo

Por isso, o SENHOR cuidou em trazer sobre nós o mal e o fez vir sobre nós; pois justo é o SENHOR, nosso Deus, em todas as suas obras que faz, pois não obedecemos à sua voz.

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A Justiça, nos nossos dias, tem tomado sentido errado em função da

estulta tentativa de aproximar a Justiça de Deus com o parâmetro errôneo da

justiça humana. Ou seja, Deus não pode demonstrar sua Ira para com os ho-

mens, por que Ele é como o bondoso velhinho do natal capitalista, sempre per-

doa e concede presentes a quem quer que seja. Rebaixar Deus a esse padrão

é mais degradante que desconsiderar sua existência.

Por isso, uma consideração correta de Deus exige a compreensão

adequada de sua Justiça, que pode ser demonstrada com duas ênfases:

É relacionado com o Governo Legal de Deus, e refere-se ao caráter

essencial do Seu governo. Ou seja, Deus Rege o Universo de maneira Justa.

Por conseqüência disto, a Justiça de Deus está diretamente vincula-

do e dependente do caráter Santo de Deus. Ou seja, a Lei de Deus reflete Sua

Santidade, e quando a Lei é infringida, a santidade de Deus o obriga a manifes-

tar-se de forma justa, em Ira.

Por que Deus é Santo ele não pode deixar de punir o pecado. Esta

punição é vista na Bíblia como Deus derramando a sua IRA contra os pecado-

res. Deus deixa isto estampado claramente na Bíblia, por mais que pessoas

tentem esconder essa verdade diante dos seus olhos. “É como tampar o Sol

com a Peneira” (Dt.32.39-43; Ex.22.23, 24; Nm.11.1, 10, 32, 33; 1Sm.15.3 cf.

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59

Dt.7.2-8; Rm.1.18). Deus odeia o pecado por que é Santo; e por que odeia, seu

furor se acende:

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Muitos cristãos não gostam de ouvir essas palavras. Muitos conside-

ram que se Deus executar sua Justiça, como a Bíblia afirma, Deus seria injusto

e que tal atitude não está em conformidade com o amor de Deus. Contudo,

sobre isso Paulo fala: “Porventura, será Deus injusto por aplicar a sua ira? Cer-

to que não. Do contrário, como julgará Deus o mundo?” (Rm.3.5-6). Ou seja, se

Deus não demonstrar sua Ira, Ele será injusto consigo mesmo, por negará sua

própria santidade, o que é impossível, por que Deus não pode fazer nada que

negue o seu próprio caráter (2Tm.2.13).

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A conclusão a que se chega após essa síntese sobre esses atributos

esquecidos de Deus é que, se Ele resolver condenar todos os homens ao In-

ferno, Ele estaria exercendo soberanamente sua justiça, de modo que ninguém

poderia queixar-se disso, ou teria mérito ou prestígio para tal.

B. Quem é o homem?

Responder a essa pergunta é, de fato, muito mais simples, pois tra-

ta de nós mesmo. É válido lembrar que o homem foi criado por Deus de manei-

ra especial, como já foi estudado. Entretanto, este estado original já foi corrom-

pido. Por isso, três conclusões podem ser lançadas:

O homem é totalmente depravado

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60

Sobre isso, a confissão de Westminster é clara, não existe mérito ou

dignidade no homem que o faça merecer a salvação. O homem por si só está

perdido, morto em seus delitos e pecados. E nada pode fazer, por suas pró-

prias forças, para sair dessa situação. (Ef.4.17-19).

O homem é totalmente incapaz de agradar a Deus

Além de totalmente corrompido, o homem natural, não regenerado, é

incapaz de agradar a Deus. Nada que, porventura, ele venha a fazer seja sufi-

ciente para conseguir a aprovação de Deus. A inconformidade do homem com

as exigências morais da Lei de Deus faz com que ele seja impossibilitado de

agradar a Deus (Rm.8.8; Hb.11.6).

O homem não é livre, é escravo do pecado

Se absolutamente todos os homens estão corrompidos, e essa cor-

rupção atinge cada aspecto do seu ser, é impossível que o homem seja livre.

Enquanto o homem está debaixo do pecado, sujeito a ele, escravizado por ele,

não pode ser livre. Apenas quando este conhece a verdade, ele é retirado, pela

verdade, da escravidão para a liberdade (Jo.8.32; cf. 14.6; 17.17). Paulo diz

que na salvação o homem muda de senhorio: do pecado � para Deus

(Rm.6.18, 22). Contudo, a submissão a Deus não aprisiona ninguém, muito

pelo contrário, abre portas para a liberdade (Gl.5.1, 13).

O homem é totalmente responsável por sua condição

A Bíblia nunca coloca sobre Deus a responsabilidade da prática ou

da culpa do pecado, mas antes, sobre aqueles que praticam o mal é que so-

brevém a culpa, a punição e o peso dessa infração da lei moral de Deus. Isso

se chama responsabilidade. Assim, o homem natural, não regenerado, além de

desprovido da Graça, de ser incapaz de agradar a Deus, escravo do pecado, é

responsável por cada uma de suas ofensas a Deus. Nunca uma ação individual

pecaminosa pode ter sua culpa ou responsabilidade lançada sobre outro dentro

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da perspectiva bíblica. Isso pode ser claramente observado no Texto de

Rm.1.18-32, onde todos os verbos relacionados às práticas dos homens são

ativos.

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III. Redenção, um Plano Histórico

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Os cristãos normalmente se referem a um PLANO DA SALVAÇÃO,

principalmente quando estão envolvidos na tarefa de anunciar o evangelho.

Nestas ocasiões ouve-se com freqüência: “Eu apresentei o plano da salvação

para um homem hoje”. Nesta frase reconhecemos a existência de um PLANO

para a salvação, mas não compreendemos sua real profundidade. Por isso faz-

se necessário conhecer o que as escrituras falam desse plano.

“As Escrituras falam de uma Economia de Redenção34”. A palavra

Economia, utilizada em referência a Redenção, deriva da palavra grega “ ��� �

����” que significa administração, mordomia. Ou seja, Deus administra histo-

ricamente a Redenção dos homens. Logo, Deus estabeleceu um Plano para a

salvação dentro da história do homem e pretende levá-lo a cabo.

Dessa forma, podemos admitir que o Plano da Salvação, estipulado

por Deus, compreende: (1) A Seleção de algum objetivo concreto a ser execu-

tado; (2) A escolha de meios apropriados; (3) E a aplicação eficaz desses mei-

os para atingir o fim proposto.

Em todas as Obras de Deus nós podemos notar um plano pré-

estabelecido, o que não poderia ser diferente na salvação. Ou seja, não se de-

ve presumir que, no que diz respeito ao destino do homem tudo seja deixado

ao acaso, permitindo-se que tome seu curso não dirigido para chegar a um fim

indeterminado. E sobre isso a Escritura é clara, pois afirma que Deus não so-

mente vê o fim desde o princípio, mas que ele opera todas as coisas segundo o

conselho de sua vontade, ou com base nesse propósito (Ef.1.11).

Assim, se o que acima foi dito é verdade é possível encontrar na his-

tória marcas desse plano e evidências reais que apontam para a consumação

33 HODGE, Charles, Teologia Sistemática, pp.718 34 Idem, pp. 717

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de um plano iniciado e perfeito por Deus. Dessa forma, vamos buscar essas

evidências na história.

A. Na queda, o anúncio

Na cena da queda é a primeira vez que se ouve falar na derrota da

serpente, responsável de conduzir os homens à queda, e da Promessa de

Deus em prover um Redentor para a humanidade. Esta verdade é estampada

pelo seguinte versículo:

Então, o SENHOR Deus disse à serpente: Visto que isso fizeste, maldita és entre todos os animais domésticos e o és entre todos os animais selváticos; rastejarás sobre o teu ventre e

comerás pó todos os dias da tua vida. Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descen-dência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar. (Gn.3.14-15).

Desses versículos pode-se ressaltar: (1) A maldição de Deus inclui a

serpente, o instrumento de Satanás (v.14; cf. Rm.16.20 2Co.11.3, 14; Ap.12.9);

(2) A maldição de Deus inclui a inimizade entre os homens e Satanás (v.15a);

(3) A maldição de Deus inclui inimizade entre a descendência de Satanás e dO

Descendente da Mulher (15b); (4) A maldição de Deus inclui a derrota de Sata-

nás por meio dO Descendente da mulher (15c).

O Descendente anunciado neste texto tem algumas características

que merecem atenção, pois apontam para um Redentor esperado: (1) Esse

Redentor seria descendente da mulher, ou seja, aponta para a encarnação do

Verbo (Jo.1.1-15; Hb.2.14); (2) Esse, sofreria, padeceria, diante do inimigo; (3)

Mas o venceria.

Embora a compreensão desses fatos pelos primeiros leitores da Sa-

grada Escritura não fosse completa, é certo que Deus, na administração de

Seu Plano Histórico para a Salvação, está revelando paulatinamente seu inte-

resse em Remir o Homem do pecado, por meio de um Plano pré-estabelecido.

B. Com Noé, uma Ilustração

A história de Noé serve como uma ilustração da Salvação proposta

por Deus. No período de Noé, a humanidade já havia atingido um nível muito

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alto de iniqüidade, e Deus não podia aceitar que isso continuasse, e por isso

faz a seguinte afirmação:

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Em função da maldade do homem, este não merecia viver e estava

passível da punição de Deus, ou seja, de ser sentenciado à morte, como bem

demonstra o versículo citado. “Porém Noé achou graça diante do Senhor” (v.8).

Aquele que lê desatento o texto pode ficar surpreso com essas colocações de

Moisés, pois primeiro Deus se arrepende de criar o homem em função de sua

maldade, depois é surpreendido pela existência de um homem, dentre toda a

humanidade perversa, que é considerado “justo e íntegro entre seus contempo-

râneos” (v.9). Na verdade, o texto demonstra a progressão de um Plano esta-

belecido por Deus, pois no v.3 a sentença já estava lançada, mas para que

fosse levado a cabo era necessário o dilúvio. A sobrevivência de alguma parte

da humanidade já havia sido determinada pela promessa feita na queda, com

respeito ao Descendente. Ou seja, nada o pegou de surpresa, nem mesmo a

maldade dos homens, nem a integridade de Noé. Assim, a essa altura é ne-

cessário perguntar: “Como Noé podia manter-se íntegro em meio a uma socie-

dade completamente corrupta?” A resposta a essa pergunta é estampada pelo

próprio texto: “Noé andava com Deus” (v.9b). Deve-se considerar que Noé era

íntegro porque andava com Deus, e não o contrário. Ou seja, Deus revela-se

de maneira especial a Noé, o que não acontece com nenhum outro homem de

sua época. Outro detalhe que merece atenção, é que Deus já o havia separado

para cumprir seu propósito e por isso a apenas ele revela Seu Plano:

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tua mulher, e as mulheres de teus filhos�01�,6, ;� @�*� :2,�

Deus poderia ter demonstrado Seu Plano para toda a humanidade?

Certo que sim. Mas por que não o faz? Por que não constitui Seu Plano fazê-lo.

Deus separa dentre toda a humanidade um homem, e por meio deste executa

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sua vontade soberana. Por isso nota-se que Deus, na Administração do Plano

da Salvação, faz o que lhe apraz.

Contudo, merece atenção a postura de Noé, testemunhada por dois

versículos interessantes:

Assim fez Noé, consoante a tudo o que Deus lhe ordenara. E tudo fez Noé, segundo o SE-NHOR lhe ordenara (Gn.6.22, 7.5)

Ambos versículos demonstram a atitude de Noé em relação à obra

de Deus. Assim, um princípio para a salvação é aqui estabelecido: A resposta e

escolha humana em relação a Obra da Salvação compõem o Plano de Deus,

em função de Sua Escolha, Atuação especial, Auto-revelação e Revelação de

Seu Plano Soberano aos objetos dessa Obra.

C. Com Abrão, um Fato

Abrão era diretamente descendente de Noé, que tinha sido escolhi-

do por Deus para perpetuar a humanidade, e por meio dele asseverar sua

promessa de Redenção proposta na queda do homem. Contudo, dentre muitos

descendentes de Noé, Deus resolveu separar para si a Abrão, homem idoso,

casado com Sarai, que era estéril, para, por meio desse casal, constituir uma

numerosa nação, que seria instrumento em Suas Mãos para abençoar o mun-

do. Isso pode ser visto:

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���� �5� ������ ����� ����������������"����������� ����01�, ', �;2,�

Neste momento histórico é possível perceber a expansão do concei-

to exposto na queda, como relação à salvação, pois nesta altura nota-se que

Deus está separando para si um povo, dentre os muitos outros povos existen-

tes. Contudo, o início dessa grande nação se dá com um casal já fora de con-

dições de poder perpetuar sua descendência, o que demonstra que não de-

pende do homem, mas de Deus realizar sua Obra. A idéia de internacionalida-

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de das bênçãos de Deus é colocada nessa Aliança feita com Abraão, pois as

bênçãos deveriam ser atribuídas a todas as famílias da terra.

Na situação de Abrão, pode-se, da mesma forma que feita com o

exemplo de Noé, ressaltar que a resposta e escolha humana em relação a O-

bra da Salvação compõem o Plano de Deus, em função de Sua Escolha

(Gn.12.1-3; 15.7), Atuação especial (Gn.12.1-3, 7; 13.14; 15.7), Auto-revelação

(Gn.14.18-20; 15.1, 4-5; 17.1-16, 19-21) e Revelação de Seu Plano Soberano

(Gn.12.7; 13.14-17; 15.12-16, 18-21; 22.22.15-18) a Abrão.

D. Na Páscoa, a sombra

É válido expor o significado da palavra “Páscoa”, antes de entramos

na questão do valor histórico que ela pode ter no que tange a progressão do

significado da Salvação. Segundo o Dicionário VINE, a palavra em questão

significa literalmente “passar sobre” ou “poupar”. A palavra grega para Páscoa

é “�����”, uma derivação da palavra hebraica “�����” (��� � � ).

O termo é pela primeira vez empregado em Ex.12.11 que diz: “Desta

maneira o comereis: lombos cingidos, sandálias nos pés e cajado na mão; co-

mê-lo-eis à pressa; é a Páscoa do SENHOR”. O mesmo termo é utilizado du-

as vezes em Ex.12.27, e denota exatamente a idéia de passar sobre, ou pou-

par: “É o sacrifício da Páscoa ao SENHOR, que passou por cima das casas

dos filhos de Israel no Egito, quando feriu os egípcios e livrou as nossas ca-

sas”.

O contexto em que estão inseridos esses versículos se refere ao

Êxodo do povo de Israel que estava cativo no Egito durante 400 anos. E a Pás-

coa é instituída por Deus como memorial de tudo o aquilo que iria acontecer

naquela mesma noite. A celebração desse memorial precedeu a saída do povo

do Egito, ou seja, à liberdade da escravidão do povo. Sendo assim, a Páscoa

assumiu o sentido de livramento, e “o êxodo foi a concretização disso35”.

A Páscoa foi instituída para a nação de Israel como um todo, embora

fosse realizada em um ambiente familiar. “As famílias israelitas tinham ordens

35 CHAMPLIN, Russel Norman, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia.

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de sacrificar um cordeiro sem defeito36” , que deveria estar “na plenitude de sua

vida37”, e este sacrifício era em substituição ao filho primogênito da casa. Con-

seqüentemente, à luz desse sacrifício, “o evento veio a ser integralmente asso-

ciado à idéia de expiação38”, como um memorial da libertação da servidão do

Egito.

Outro aspecto que influencia a perspectiva de expiação e libertação

como fatos unificadores deste evento é o fato de que o sangue deste cordeiro

deveria ser colocado nos umbrais das portas das casas dos israelitas. Além de

um sinal de identificação de quem era de fato um israelita é um símbolo que

expressa a idéia de libertação por meio do sangue de um cordeiro sem mácula.

O objetivo dessa instituição da parte de Deus é que “seu povo se

lembrasse da noite do seu livramento39” como uma comemoração que se es-

tenderia aos limites do tempo, como podemos perceber em suas instruções no

versículo 14. (cf.26-27). Em suma, a Páscoa pode ser definida como a festivi-

dade essencialmente israelita em memória da libertação e expiação proporcio-

nada por Deus em tempo da escravidão no Egito.

Contudo, existe grande valor histórico a ser ressaltado aqui, pois e-

xiste um acréscimo no conteúdo do significado da salvação, pois diante de tudo

o que havia sido revelado, sobre esse assunto, a idéia de sangue estava pre-

sente, a idéia de substituição havia sido apresentada, mas na Páscoa a idéia

de expiação é clara, bem como da substituição. Outro detalhe, é que a conse-

qüência dessa Páscoa é a liberdade, o que sugere que, na progressão do sig-

nificado da salvação, a expiação por meio do sangue do Cordeiro sem Mácula

e a substituição pelo Cordeiro precedem a liberdade, e não o inverso.

Como a Páscoa é um evento e não uma pessoa, a identificação das

quatro linhas de atuação na salvação (Escolha, Atuação especial, Auto-

revelação e Revelação de Seu Plano Soberano) não é tão clara, embora possa

ser percebida, mas no parâmetro geral podemos destacar que Deus faz:

36 XXXX, Xxxx, Dicionário Bíblico Vida Nova. 37 HOFF, Paulo, O Pentateuco. 38 CAHMPLIN, Russel Norman, Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia. 39 HOFF, Paulo, O Pentateuco.

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(1) A Seleção de algum objetivo concreto a ser executado, que neste

caso pode ser identificado a Liberdade, como objetivo imediato; e a expansão

do significado da salvação como objetivo maior.

(2) A escolha de meios apropriados, que neste caso inclui a morte

do Cordeiro sem Mácula, sua substituição e expiação.

(3) E a aplicação eficaz desses meios para atingir o fim proposto,

que neste caso é o Êxodo e a progressão da História da Salvação.

Assim, diante das estipulações dadas por Deus e pela obediência de

seus servos podemos contemplar o resultado imediato dessa demonstração de

apreço e cuidado da parte de Deus: Israel, como povo.

E. Israel, o Resultado Imediato

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Israel, como nação, é separada por Deus desde Abrão, como quem

constituiu uma aliança. A este, Deus revelou que este povo a quem escolhera

passaria por escravidão mas seria liberto por Ele (Gn.15.12-16). Durante o

decorrer da história pode-se notar com clareza que Deus Revela-se aos ho-

mens a quem escolhera, para por meio dele realizar seu Plano. Isso pode ser

visto com Isaque (Gn.24.27; 25.21), Jacó (Gn.25.23; 27.28-29; 28.2-4, 13-15) ,

José (Gn.37.5-10, 21-28; 39.1-6, 20-23; 41.39-44; 45.1-8, 17-20; 50.20), Moi-

sés (Ex.2.1-4.31), e de alguma forma com a Nação de Israel, mas por meio de

seus líderes (Dt.10.15; cf. Ex.19.4-6).

O que se pode notar na História é que Deus resolve atuar por meio

de uma Nação, entre outras nações, a fim de tornar Seu Nome conhecido dian-

te do mundo. E sobre isso podemos levantar dois exemplos:

a. Raabe: Raabe era uma prostituta em Jericó, nação Inimiga a

qual o Senhor entregara nas mãos de Josué. Este, enviara a esta Cidade dois

espias para que andassem na cidade e observassem a cidade, e Raabe pela fé

(Hb.11.31) acolheu-os em sua casa escondendo-os dos Oficiais da cidade, pois

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sabia ela que o Senhor, que é poderoso, lhes tinha entregado aquela terra,

como se percebe em Js.2.9-11:

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� � ���5����� ���9->LIJ*�������� ��*�)�� ��� ������������)��� � ����%������ ����

b. Rute: Rute é uma moabita e toma uma decisão de fé, em con-

siderar o povo de Noemi como seu povo e o mesmo com o Deus de Noemi.

Com está escrito: “Não me instes a que te abandone e deixe de seguir-te. Por

que aonde quer que tu fores, irei eu; e onde quer que pousares, ali pousarei; o

teu povo será o meu povo, e o teu Deus será o meu Deus” (Rt 1.16). A decla-

ração de Rute não é apenas de fidelidade da Noemi, mas é um reconhecimen-

to do verdadeiro Deus.

Em ambos casos, houve um reconhecimento do verdadeiro Deus.

Raabe afirma que Deus é Deus em cima dos céus em embaixo da terra. Rute

afirma que o Deus de Noemi é o seu Deus, pois reconhece que Ele é o verda-

deiro Deus. E assim podemos notar que Deus na administração do Seu Plano

em relação a Salvação conduz os homens para uma Nação, que havia sido

separada por Ele ser um canal de bênçãos.

Assim, a Nação de Israel é considerada no Velho Testamento como

o centro das atividades salvíficas de Deus, não que isso não inclua outros po-

vos (Nínive, com Jonas por exemplo), mas que por meio de Israel a multiforme

sabedoria de Deus era apresentada ao mundo.

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Resumo Visual – História da Salvação

Objetivo específico e concreto a ser executado A escolha de meios apropriados A aplicação eficaz desses meios para

atingir o fim proposto

Adão, o a-núncio

Sentenciar sua criação pela entrada do pecado no mundo e Apresentar a idéia de um Descendente que findaria o exercício malévolo do inimigo, um dos responsáveis pelo pecado. (Gn.3.15).

Na identificação do meio apropriado pode-se, as-severar que inclui a Encarnação do Verbo, pois este seria o descendente da mulher, que sofreria, mas venceria Satanás.

Na morte e ressurreição dO Descendente da mu-lher, Jesus Cristo, o Diabo é absolutamente venci-do, embora o plano de Deus para ele não se tenha encerrado ainda.

Noé, uma Ilustração

Condenação da humanidade em função de sua grande maldade, salvação de Noé e a garantia da vitalidade da Promessa feita na Queda. A conde-nação consistia no dilúvio (Gn.6.5.14).

Salvação pela graça por meio da fé na promessa de salvação de Deus, para aquele a quem Deus havia Escolhido, Revelado Seu Caráter, Atuado Especialmente e Revelado Seu Plano (Gn.6.9, 14-21). Neste caso, o meio apropriado foi a constru-ção de um Arca.

Deus estabeleceu uma aliança com Noé (Gn.6.18), executa o dilúvio (Gn.7.6-8.14) e perfaz a salvação proposta, neste caso, por meio da Arca (Gn.8.15-9.1).

Abraão, um fato

Eleição e separação de progenitor da Nação de Israel como povo pactual (Gn.12.1-3). Expansão da promessa feita na queda: Inclui um povo nume-roso, com posse de uma terra extensa. (A idéia de substituição na morte é apresentada, Gn.22.1-18).

Salvação pela graça por meio da fé na promessa de Salvação de Deus, para aquele a quem Deus havia escolhido (Gn.12.1-3; 15.7), Revelado seu caráter (Gn.14.18-20; 15.1, 4-5; 17.1-16, 19-21), Atuado Especialmente (Gn.12.1-3, 7; 13.14; 15.7) e Revelado Seu Plano (Gn.12.7; 13.14-17; 15.12-16, 18-21; 22.22.15-18). Neste caso, o meio apropria-do foi a obediências às estipulações de Deus e exercer fé em suas promessas.

Deus fez de Abraão uma grande nação que, embo-ra tenha nascido escrava no Egito, foi por Deus conduzida à sua terra, por causa de sua promessa feita a Abraão, mesmo que a permanência nesta terra fosse condicional (Dt.28)

Páscoa, a sombra

Libertar o povo escolhido por Deus da escravidão do Egito, por meio do sacrifício do cordeiro em substituição ao primogênito da família. A idéia de substituição é claramente exposta aqui (Ex.12)

A liberdade e a sobrevivência do primogênito de-pendiam exclusivamente da obediência integral do povo aos requisitos de Deus. Neste caso, a expia-ção foi provida pelo cordeiro, e a liberdade foi pos-sível por meio do sangue deste cordeiro, derrama-do nos umbrais das portas (Ex.12).

O Êxodo é a concretização integral do objetivo proposto, embora o povo não pudesse compreen-der integralmente o que estava sendo realizado (Ex.15).

Israel, o re-sultado i-mediato

Constituir uma nação como centro das atividades salvíficas de Deus, o que incluíam os rituais, as promessas, as alianças, a legislação e o Messias. Israel foi separada por Deus para ser uma canal das bênçãos e não um depósito e um instrumento no alcance das Nações.

A salvação em Israel dependia do cumprimento das exigências estipuladas pela Lei Mosaica, que havia sido concedida por Deus (Ex.20, Lv, Dt) seguida de uma vida cuja fé é depositada na espe-rança do envio do Messias. Tanto o fornecimento da lei como da promessa messiânica são reflexos da graça de Deus manifesta no Antigo Testamento.

A Eleição e Separação de Israel como povo pactu-al implicou na responsabilidade de serviço e mis-são de testemunho a todas as nações, de modo a apontar para o grande ápice de toda a história da Salvação: Cristo.

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Marcelo Berti - Apostila Teologia Sistemática II - Completa.doc2004

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IV. Obra Salvífica de Cristo, o Centro

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Dentro da progressão histórica do significado da salvação e da con-

secução da soberania de Deus em relação ao seu plano preestabelecido para

salvação, o ponto mais alto, mais sublime e necessário é a Obra de Cristo. Por

muitos teólogos a Obra de Cristo é considerada como um acidente na história,

como se Deus fosse pego de surpresa por esse evento. Contudo, a história

demonstra a progressão desse significado, de modo que, fica evidente que a

Obra de Cristo a nosso favor é parte integral do Plano de Deus para a Salva-

ção daqueles que fazem parte da Soberana e Amorosa Eleição Incondicional.

A. Significados

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A verdade estampada por Ryrie não pode ser contrariada, e sobre

essa afirmação é que se sustenta a abordagem sobre o significado da Obra de

Cristo. Assim, podemos facilmente considerar quatro significados principais

para essa Obra: (1) A morte de Cristo foi em substituição dos pecadores; (2) foi

uma redenção para os pecados; (3) uma reconciliação do homem para com

Deus; (4) e uma propiciação pelo pecado.

A Morte de Cristo foi em lugar dos pecadores

Neste ponto é válido recordar algumas verdades: (1) Quando o ho-

mem caiu e se afastou de Deus, ficou em débito eterno para com Deus; (2)

Contudo, a única maneira de o homem pagar por essa dívida, era sofrendo e-

ternamente a penalidade fixada pela transgressão; (3) É também importante

perceber que, o cumprimento dessa penalidade, é o que Deus deveria exigir 40 PASCAL, Blaise, Pensamentos 41 RYRIE, Charles, Teologia Básica. pp.331

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por uma questão de justiça, e teria exigido, se não tivesse agido com amor e

compaixão do pecador.

Assim, nota-se que o homem, por si só não poderia resolver seu

problema ou pagar sua dívida diante de Deus, a não ser que um substituto fos-

se providenciado, o que está fora do alcance do homem conseguir. Contudo,

está dentro do Plano Histórico de Deus conceder esse Substituto. Isso é obser-

vado desde Gn.3.15, como já observamos. E, de fato, Deus designou um subs-

tituto na pessoa de Jesus Cristo para tomar o lugar do homem, e este substitu-

to expiou o pecado e obteve eterna redenção para o homem.

Essa atividade, dentro da Teologia, é chamada de “Expiação Vicá-

ria”, que pode ser entendida como “Substituição Penal”. E não é sem provas

que se admite essa realidade, pois “a Bíblia certamente ensina que os sofri-

mentos e a morte de Cristo foram vicários, e vicários no sentido mais estrito da

palavra, que Ele tomou o lugar dos pecadores, e que a culpa deles lhes foi im-

putada e a punição que mereciam foi transferida para Ele42” [Lv.1.2-4; 16.20-

22; 17.11; Is.53.6, 12; Mt.20.28; Mc.10.45; Jo.1.29; 11.50; Rm.5.6-8; 8.32;

2Co.5.14, 15, 21; Gl.2.20; 3.13; 1Tm.2.6; Hb.9.28; 1Pe.2.2443].

Assim, uma definição simples com relação a esse aspecto da Obra

de Cristo pode ser assim anunciada: “Cristo é o substituto proposto legalmente

por Deus para assumir o débito moral do homem em seu lugar, de modo que

pôde providenciar um benefício eterno para este, para que o homem não tives-

se mais que suportar o fardo da condenação do pecado”. Nosso texto base é

obviamente 2Co.5.14, 15, 21:

$������������ �(������������� *�/���������������.�- ����� �� �������� ������*��������������� ���,�-� ����� �� �������� ������*���"���� ��� ������ ���� ������������������������� ����*������������ ��� � ��� � "������ ������ �� �� ���������,���� ��� ��������� �

� ���� ����*�" ��� � ����� ������������*������� �"��� ����" �����/�������� �� ��,�

42 BERKHOF, Louis, Teologia Sistemática. pp.346 43 Note a progressão de significado no sentido da Substituição. Observe que nos versículos

citados a base encontra-se no VT, mas tem seu significado completo no NT, especifica-mente na Obra de Cristo em nosso favor (� Ou seja, em favor dos eleitos �).

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A Morte de Cristo foi para Redenção dos Pecados

A redenção é um aspecto da morte de Cristo sobre a cruz, que é li-

gado ao pecado e restrito em seu significado. Como substituição tem o sentido

de assumir a culpa, a redenção tem sentido de pagar essa culpa assumida. Ou

seja, a redenção é aplicada no que diz respeito ao pecado e o débito que ele

causa, que pode apenas ser pago com sangue (Hb.9.22 cf. Lv.17.11). Logo,

para que o preço de pecado pudesse ser pago, era necessário derramamento

de sangue de um Cordeiro sem máculas. Essa era exigência colocada na histó-

ria da redenção, que tem seu significado completo em Cristo (Jo.1.29; cf.

Is.53.9; 1Pe.2.21-22).

No Antigo Testamento podemos perceber que o sentido de redenção

é aplicado, não somente a pessoas, mas também a posses, como terras e a-

nimais (Lv.25.25, 47, 48). A idéia expressa nesse contexto é de prover liberda-

de através do pagamento de um resgate.

Um ponto interessante no VT é que existe a idéia de um Redentor-

Parente, como no caso de Boás, que foi o redentor parente da Família de No-

emi em benefício de Rute (Rt.3.9; cf. Os.3.15; Is.43.3, 10-14). É possível que

isso tenha implicações com a Obra de Cristo, como se Ele, como homem que

é, fosse o Redentor da Raça humana. Segundo Chafer, esse aspecto “é uma

exigência básica que o Filho de Deus trouxe do céu para a terra e tornou ne-

cessária a encarnação para Ele pudesse ser um perfeito Redentor-parente44”.

Em Ex.21-1-6 (cf. Dt.15.15-17), podemos perceber que no VT um

escravo tinha vida de serviço de 6 anos, sendo que no sétimo ele deveria ser

solto. Contudo, se este entrasse solteiro para servir seu senhor, e este lhe des-

se uma esposa, quando ele saísse deveria deixar a esposa e os filhos que ti-

vesse com ela. Contudo, se ele amasse sua esposa, seus filhos e seu senhor,

ele voluntariamente aceitaria servi-lo até sua morte. Ou seja:

K�� ��������� �������� ��� ����� �������� �� ���� 5����� ���������������� �� � ����� � ������� ��� ����*����� �� ������,��

Alguns textos que testemunham as verdades acima anunciadas:

[Ex.13.12; 21.28; 30.12; Nm.18.15-17; Sl.130.8; Is.59.20]

44 Idem, pp.95

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No NT podemos ressaltar três vocábulos que auxiliam a compreen-

são dessa verdade: ��� ���������� � e ����� � ����:

��� ���� : A idéia expressa por esse vocábulo é de comprar

(Mt.13.44, 46; 14.15; Mc.6.36; Lc.9.13; cf. LXX Gn.41.57, 42.5, 7; Dt.2.6) Este

vocábulo é aplicado à soteriologia neotestamentária de maneira interessante.

Observe o texto de 1Co.6.20: “Por que fostes comprados por preço” (cf.

1Co.7.23). A idéia presente neste texto aponta para uma compra de alto valor.

Assim, podemos concluir que essa compra implicou no pagamento de um pre-

ço alto (2Pe.2.1), que é o sangue do próprio Messias (Ap.5.9, 10) e deságua

diretamente no serviço daquele que foi comprado em benefício do comprador

(1Co.6.19, 20; 7.22, 23). Neste ponto ainda, é importante ressaltar um uso dis-

tinto do vocábulo em questão. Por vezes, encontra-se tal vocábulo precedido

pela preposição “���”, formando o vocábulo “������ ���� ”. Em Gl.3.13 nota-se

claramente a idéia de resgatar. Ou seja, o termo preposicionado por “���” traz

um sentido de ser comprado para nunca mais retornar à condição anterior a

compra.

���� � : É um termo muito utilizado no NT e significa basicamente

que o redimido é desatado e liberto. Mas isso ocorre apenas quando é recebido

o pagamento do preço do resgate. Assim, por meio do pagamento, o redimido

é desatado e está livre. Mt.20.28 testemunha esse fato: “tal como o Filho do

Homem, que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em

resgate por muitos” (cf. LXX: Ex.30.11-16; Lv.25.31, 32; Nm.2.46-51; NT:

Lc.1.68; 2.38; 24.21; Tt.2.14; Hb.9.12; 1Pe.1.18,19). Neste caso, como com

“��� ���� ”, é possível encontrar o termo preposicionado: “��� ���� ����”. Seu

significado é basicamente redenção, seguindo mesmo rumo do verbo em pauta

(Lc.21.28; Rm.8.23; Ef.4.30 – prisma escatológico; Rm.3.24; Ef.1.7, 14; Cl.1.14;

Hb.9.14 – prisma de libertação de incrédulos; 1Co.1.30 – sentido geral).

����� � ����: Esse vocábulo ocorre apenas uma vez, e é aplicado

ao Sacrifício de Cristo: At.20.28.

Portanto, deve ser observado que a doutrina da redenção mostrada

pelo NT é um cumprimento completo da verdade mostrada em sombras no AT,

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de que há um sentido em que o preço é pago, mas o escravo não é necessari-

amente liberto (que é o estado de todos por quem Cristo morreu que ainda não

são salvos) e que, por uma realização mais profunda e abundante da reden-

ção, o escravo pode ser solto e liberto (que é o estado de todos que são sal-

vos). A relação dos não salvos com a verdade de que, pela sua morte, Cristo

pagou o preço do resgate, é crer no que está declarado como verdadeiro. A

relação dos salvos com a verdade de que, por sua morte, Cristo liberta, é reco-

nhecer essa liberdade maravilhosa e, então, pela rendição de si mesmo, torna-

rem-se escravos voluntários do redentor.

9 �(������� �����������������*������������ ������"�� ��)��������������� ,�

A Morte de Cristo foi para reconciliar o Mundo Consigo

A idéia de reconciliação é completamente neotestamentária, e só

pode ser real por meio da Obra de Cristo. A reconciliação é necessária pelo

fato de que o homem sem salvação vive em uma relação de inimizade e hosti-

lidade com Deus (Rm.5.9, 10; cf. 2Co.5), e, como inimigos de Deus está ple-

namente passível de sofrer a manifestação de Sua Ira. Contudo, o cenário não

assim deixado, pois vemos que Deus propõe uma resolução para esse proble-

ma por meio da morte do Senhor Jesus (Rm.5.10). Assim, fomos aproximados

a Deus, pois Cristo mudou completamente nosso estado anterior de inimizade

e substituiu por um de Justiça e de completa harmonia com Deus (2Co.5.18-

20).

[Rm.5.10; 11.15; 2Co.5.18-21; Ef.2.16; Cl.1.20-21

��������������� � ����� �������������������������������������������������������������������

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A Morte de Cristo foi para Satisfazer a Ira de Deus pelo Pecado

Como já foi demonstrado anteriormente, Deus demonstra sua Justa

Ira para com o pecado (Jo.3.36; Rm.1.18-32; Ef.2.3; 1Ts.2.16; Ap.6.16; 14.10,

19; 15.1, 7; 16.1; 19.15), de forma que, qualquer que seja a atitude desse Deus

absolutamente Santo contra o pecado, é completamente justo e aceitável, pois,

devido a seu caráter Santo, não pode deixar impune o mal, nem tão pouco fin-

gir que ele não existe, ou que não tem importância. Por sua Justiça e Santida-

de deve puni-lo. Contudo, em Cristo é providenciada uma oferta “propiciatória”

e assim a Ira de Deus contra o pecado é apaziguada. Logo, pode-se dizer que

a Morte de Cristo, além de Substitutiva, Redentora, Reconciliadora, é também

Propiciatória, pois satisfaz a Ira de Deus pelo pecado.

Aqui três textos devem ser demonstrados:

Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; e ele é a propiciação pelos nossos peca-

dos e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro. (1Jo.2.1-2)

[Jesus Cristo] a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteri-

ormente cometidos (Rm.3.25)

e sobre ela, os querubins de glória, que, com a sua sombra, cobriam o propiciatório. (Hb.9.5a)

Em todos os textos mencionados podemos encontrar formas deriva-

das do termo grego “���������� ” (hilastérion), que tem por significado básico

“propiciação”. Contudo, no primeiro texto podemos entender o termo como “a-

quele que propicia” (cf. 1Jo.4.10 – Sobre a questão da abrangência eficiente

desse aspecto da salvação). Já no segundo caso a termo denota a idéia de

“lugar da propiciação” (cf. LXX: Ex.25.17-22; Lv.16.14.15). Essa idéia é clara-

mente exposta no terceiro texto. Ou seja, Cristo não é apenas a oferta como

também o lugar onde se faz a oferta, como sugere os textos citados.

O significado dessa oferta vem desde o VT, e “em qualquer lugar

que pudesse estar o propiciatório no Tabernáculo, tipicamente, era para o isra-

elita aquilo que Cristo é, realmente, para o crente e para Deus45” (Dt.13.15-17;

Jn.3.7-10; Sl.78.38; Is.48.9).

45 SCOFIELD, C.I. In: CHAFER, Lewis Sperry, Teologia Sistmática. Vol.3, pp.99

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B. Conseqüências

Diante dos principais significados da Obra de Cristo a nosso favor é

necessário demonstrar que tal Obra tem conseqüências diretas àqueles que

são beneficiados por ela.

Justificação

A Justificação não é apenas uma das conseqüências da Obra de

Cristo a nosso favor, mas um tema doutrinário central na Salvação e funda-

mental para a essência do cristianismo. Tal importância é expressa pelo próprio

vocábulo: “JUSTIFICAR”, que carrega o sentido de declara justo diante de

Deus”. Isso não significa que uma pessoa, ao ser declarada justa, seja absolu-

tamente sem falhas ou completamente justa no seu proceder, mas que a partir

desse momento ela é Posicionalmente Justa, ou livre de culpa do pecado. “A

justificação é o pronunciamento do juiz justo de que o homem em Cristo é jus-

to; mas esta justiça é uma questão de relacionamento, e não de caráter éti-

co46”.

A Justificação é um empreendimento do próprio Deus, e aparece

como o complemento de Deus na obra da Salvação, é uma declaração de

Deus a respeito do cristão de que foi feito para sempre justo e aceitável diante

de Deus. Segundo a Confissão de Fé de Westminster “a Justificação é um ato

da livre graça de Deus, pela qual Ele perdoa todos os nossos pecados, e nos

aceita como justos à sua vista, somente pela justiça de Cristo, imputada a nós,

e recebida pela fé somente”.

Existe estreita ligação entre a Justificação e a Ressurreição de Cris-

to, pois a ressurreição de Cristo mostrou que a morte como resultado do peca-

do de Adão, teve seu poder neutralizado. Se a morte foi vencida, segue-se que

a culpa foi removida. Assim, a ressurreição é uma prova ou garantia de que o

problema da culpa, geradora da morte, foi resolvido. Ora, a Justificação é o

termo que se refere ao livramento da culpa. Daí a relação entre a Ressurreição

46 LADD, George Eldon, Teologia do Novo Testamento. pp. 414

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de Cristo e a Justificação dos cristãos. Tal pensamento tem fundamento evi-

dente em Rm.4.25:

...o qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa justificação.�

Diante dos fatos levantados é notório que existe uma ligação entre a

Justificação e a Lei, por conseguinte com um Juiz. Sobre isso não há dúvidas,

pois Deus não é apenas o legislador, mas o Justo Juiz (2Tm.4.8; Tg.5.9). Logo,

o sentido forense da expressão está completo. Mas é válido demonstrar que,

diante do Juiz, o justificado tem acesso pela fé a esta graça (Rm.5.2; 9.30),

desfruta de um relacionamento de paz com Deus (Rm.5.1) e implica na de-

monstração de uma conduta concernente com a Nova Posição (Rm.6.7;

Tg.2.24).

Adoção

Como já ficou muito evidente, não existe dignidade suficiente no

homem que o faça merecer Tão Graciosa Obra da Salvação. Mas, não há tão

maior prova de ausência de mérito senão a expressão “�������� ������” (para a

adoção) em Ef.1.5 (cf. Gl.4.5; Rm.8.15), “por que um filho adotado deve sua

posição à graça e não ao direito, e, ainda mais, é trazido ao seio da família,

passando a ter os mesmos privilégios e deveres de um filho de nascimento47”.

Adoção é uma palavra normalmente utilizada no meio romano. Em

uma cerimônia legal, o filho adotado era determinado a todos os direitos de um

filho natural. É possível que Paulo tenha emprestado este termo para o empre-

gar eficientemente à salvação. A palavra em pauta, na literatura paulina, “des-

creve os direitos e privilégios como também a nova posição do crente em Cris-

to48”.

Segundo Hendriksen, a adoção vai ainda um pouco além, pois “ela

outorga aos seus recipientes não apenas um novo nome, um novo status legal

47 FOULKES, Francis, Efésio, Introdução e Comentário. Mundo Cristão:São Paulo, pp.41 48 ENNS, Paul, Moody Handbook of Theology. Moody:Chicago, 1998.

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e uma nova relação familiar, mas também uma nova imagem, a imagem de

Cristo (Rm.8.29)49”.

J.I Packer afirma que no mundo de Paulo a “adoção era ordinaria-

mente de homens jovens de bom caráter, que se tornavam os herdeiros e man-

tinham o sobrenome dos ricos sem filhos. Porém, o NT proclama a adoção cor-

tesa de Deus a pessoas de mal caráter para se tornar ‘os herdeiros de Deus e

co-herdeiros com Cristo’50” (Rom. 8:17). Mais uma vez é digno de nota que o

adotado não tem qualquer mérito pela escolha do “Adotador”, embora possa

desfrutar de todos os benefícios e, principalmente, responsabilidades de um

filho natural, pois a “soberania divina exclui com eficácia qualquer mérito51”.

Paulo ensina que o presente de justificação (i.e., aceitação presente

por Deus como o Juiz do mundo) traz com isto o estado de filho por adoção

(i.e., intimidade permanente com Deus como o Pai divino da pessoa, Gl. 3:26;

4:4-7). Justificação é a bênção básica na qual adoção é fundada; adoção é a

bênção de coroamento para a qual justificação é direcionada. O status de ado-

tado pertence a todos que recebem o Cristo (Jo.1:12). Agora, os crentes estão

debaixo do cuidado paternal de Deus e de sua disciplina (Mat.6:26; Hb.12:5-11)

e é dirigido, especialmente por Jesus, a viver suas vidas levando em conta o

reconhecimento de que Deus é seu Pai celestial. .

Adoção e regeneração acompanham um ao outro como dois aspec-

tos da salvação que o Cristo traz (Jo.1:12-13), mas eles serão distinguidos.

Adoção é o favor de uma relação, enquanto regeneração é a transformação de

nossa natureza moral. Ainda a ligação é evidente; Deus quer as crianças dele

quem ele ama, agüentar o caráter dele, e entra em ação adequadamente.

49 HENDRISKSEN, William, Comentário do Novo Testamento. Casa Presbiteriana:São Paulo,

1992. pp.101 50 PACKER, J.I, Concise Theology. Tyndale House Publishers, Wheaton, Illinois. 1997 51 SUPURGEON, C.H., A Soberania de Deus remove a Vanglória. Fé para Hoje, nº10 ano 2001

pp.6 Ed. Fiel.

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Santificação

Santificação, segundo o Catecismo Menor de Westminster (Q.35), é

“a obra da livre graça de Deus, pela qual somos renovados em todo o nosso

ser, segundo a imagem de Deus, habilitados a morrer cada vez mais para o

pecado e a viver para a retidão.” O conceito não é que o pecado é totalmente

erradicado ou completamente controlado, mas de uma divina mudança de dis-

posições, virtudes, hábitos pecaminosos e caráter, forjados nos moldes de

Cristo.

Santificação é uma transformação contínua dentro de uma consa-

gração mantida, e gera real retidão. Por “santo” entende-se aqui como um por-

tador de uma verdadeira semelhança com Deus. Santificação é o estado de ser

separado permanentemente para Deus, e aflora desde a cruz, onde Deus, em

Cristo, nos comprou e nos conduziu para Ele (At.20:28; 26:18; Hb.10:10). San-

tificação implica em renovação moral (Rm.8:13; 12:1-2; 1Co.6:11, 19-20;

2Co.3:18; Ef.4:22-24; 1Ts.5:23; 2Ts.2:13; Hb.13:20-21).

A Santificação é a continuação do que foi iniciado na salvação,

quando uma novidade de vida foi conferida ao crente e sobre ele instalada.

Contudo, é importante saber que a palavra santificação possui dois significados

básicos: (1) é uma característica formal de um grupo de pessoas salvas

(1Co.1.2; Ef.2.19; 1Pe.2.9); (2) é uma qualidade moral almejável e conseqüên-

cia do significado anterior. Assim, os cristãos são Santos, diante de Deus, mas

buscam a Santidade em suas vidas.

O conceito correto de Santificação repousa sobre uma tensão muito

grande: É uma obra da graça de Deus, mas exige busca pessoal do cristão.

Uma ênfase demasiada no primeiro lado dessa tensão, conclui-se que a Santi-

ficação é passiva. Da mesma sorte, uma ênfase demasiada no segundo lado

dessa tensão, a Santificação passa a ser encarada com um grau meritório, e

fruto apenas do esforço humano, o que é impossível. Por isso, deve-se admitir

que a santificação é uma obra sobrenatural (1Ts.5.23; cf. Ef.5.26; Tt.2.14;

Hb.13.20, 21) da qual o cristão participa ativamente (Gl.5.16, 25; Fp.2.12, 13;

Rm.8.13; 12.1, 2, 9, 16, 17). Embora a santificação seja exclusivamente de

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Deus, o crente é constantemente exortado a trabalhar e crescer nas questões

que dizem respeito à salvação.

Sobre esse assunto, é importante ressaltar que a Santificação tem

alvo claro: Semelhança com Cristo (Rm.8.29); e é encarada com um progresso,

que se inicia na salvação e dura toda a vida do homem.

Perseverança

Diante do que já foi anunciado uma pergunta precisa ser feita: “A-

quele que foi justificado, adotado, santificado persistirá para sempre neste es-

tado?”. Ou melhor: “Será um cristão sempre um cristão?”. Ou ainda: “Existe

possibilidade de se perder a salvação?”.

Historicamente a resposta para a questão em pauta sempre correu

para dois lados distintos: o sim (arminianos) e o não (calvinistas). Diante da

lógica é obvio que aquele que é recipiente da salvação, que é iniciada e perfei-

ta por Deus, permanecerá salvo pela graça de Deus. Contudo, não é a mera

lógica que sustenta o fato da Perseverança dos Santos, pois existe grande nú-

mero de evidências bíblicas que testemunham a favor da indestrutibilidade da

salvação. 1Pe.1.3-5 é um exemplo desses:

Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os

mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação prepa-

rada para revelar-se no último tempo.�

Romanos 8.38-39 também testemunha esse fato:

Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principa-dos, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundi-

dade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.

O próprio Cristo testemunhou essa verdade quando falou que aque-

les que o Pai lhe dá, irá até ele e Ele de modo nenhum os jogará fora (Jo.6.37).

Neste mesmo trecho é anunciado por Ele que a vontade de Deus Pai é que

todo o que crer tenha a vida eterna e seja ressuscitado por Ele no último dia

(v.39, 40, 44; cf. Jo.10.27-30).

Assim, nota-se que Cristo não apenas nos concede vida eterna e

nos abandona em nosso próprio esforço, mas antes, a obra que foi por Ele ini-

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ciada em nós continua até ser completada (Fp.1.6). Paulo testemunha essa

fato quando diz: “Não me envergonho, por que sei em quem tenho crido e es-

tou bem certo de que é poderoso para guardar meu tesouro até o dia final”

(2Tm.1.12).

Em Efésios 2, o conceito correto da salvação é exposto, e no v.4 no-

ta-se que aquele que é salvo é feito assentar nas regiões celestiais com Cristo.

Assim, como este poderia ser retirado de onde está, uma vez que tal atividade

é realizada a semelhança da experiência de Cristo, testemunhada pouco antes

(1.20)? Se o cristão pode ser derrubado de sua posição de assentado nas regi-

ões celestiais, o mesmo espera-se de Cristo, o que é ilógico.

Outro detalhe que é comumente esquecido é que a vida eterna é e-

terna, no sentido de que não tem mais fim. Assim, como alguém que tem uma

vida sem fim pode morrer? Dessa forma, podemos crer, diante da clareza das

escrituras, que nossa salvação está garantida perante Deus.

Glorificação

A Glorificação é a confirmação dessa certeza obtida pela doutrina da

Perseverança dos Santos. A Glorificação é o estágio final da salvação e é apli-

cado a todos os salvos incondicionalmente. Essa doutrina impulsiona a Perse-

verança no texto de Rm.8.28, 30:

Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que pre-

destinou, a esses também chamou; e aos que chamou, a esses também justificou; e aos que justificou, a esses também glorificou.

Se analisado com cautela o texto, notar-se-á que todos os verbos re-

lacionados a Salvação são ativos e reportam para uma atividade realizada por

completo no passado: Conheceu, Predestinou, Chamou, Justificou, Glorificou.

Ou seja, aquele que é salvo, já era conhecido por Deus e predestinado por ele

para a salvação, mesmo que ainda seria chamado, justificado e glorificado. O

que nota-se com clareza aqui é que Deus, quando resolveu conceder salvação

eterna aos homens ele o fez de maneira completa. Logo, aquele que já foi Pre-

destinado para salvação, já está Glorificado, mesmo que isso seja um evento

futuro.

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Fim da Lei

Com relação à Lei e a sua validade, é necessário ter muita cautela

em fazer uma afirmação, pois o tema é delicado e tem implicações muito com-

plexas para a práxis cristã e para uma teologia saudável. Anunciar o Fim da Lei

em Cristo, não é uma questão de dizer que ela não tem mais validade, ou que

em Cristo não se necessita mais dela. Portanto, é necessário compreender a

expressão: “���� ������� �� ��� ���� ��” (télos gar nomou Cristós: Por que o

fim da Lei é Cristo, Rm.10.4).

A mesma palavra grega utilizada para “fim” em Rm.10.4, é utilizada

em Rm.6.21-22, como se lê: “Naquele tempo, que resultados colhestes? So-

mente as coisas de que, agora, vos envergonhais; porque o fim delas é morte.

Agora, porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes

o vosso fruto para a santificação e, por fim, a vida eterna”. Ou seja, se Cristo é

o fim (télos) da Lei, pode-se dizer que Cristo é o alvo final da Lei. Logo, pode-

se dizer que a primeira possibilidade a respeito de Cristo ser o fim da Lei é es-

ta: A Lei teve Cristo por alvo, ou testemunhava a seu favor (Calvino). Por outro

lado, o vocábulo ainda pode ser utilizado com o sentido de completar, cumprir,

como se lê em Lc.22.37, que diz: “Pois vos digo que importa que se cumpra em

mim o que está escrito: Ele foi contado com os malfeitores. Porque o que a

mim se refere está sendo cumprido”. A idéia expressa pelo vocábulo neste

texto sugere a idéia de completar ou cumprir, o que pode ser aplicado a Cristo,

que veio para cumprir a Lei: “não vim para revogar, vim para cumprir”

(Mt.5.17b). Assim, pode-se afirmar que outra possibilidade é esta: Em Cristo a

Lei foi completa ou cumprida, ou teve suas exigências satisfeitas (Hodge).

Contudo, a tônica em Romanos não parece estar voltada para ne-

nhuma dessas possibilidades, antes direcionada para a idéia de que em Cristo,

a lei teve seu término. Com essa afirmação concordam Ryrie, John Sttot, F.F

Bruce e L.S. Chafer. Ryrie, sobre esse assunto, afirma:

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John Sttot afirma:

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F.F. Bruce diz:

(������)���� ������������ ������ ������� ��� *�����- *���� ������ �*���������� ��"��������� *�"��� �������*������ �������������� ���������� �����-������3@,�

Deve-se ter em mente que as idéias que mencionadas anteriormen-

te, não são de todo excluídas, mas antes não se restringe a elas o significado

da Obra de Cristo em relação a Lei. Pois, não se pode se negar que a Lei tes-

temunhou a respeito de Cristo (Jo.12.4; Gl.3.24) ou que em Cristo ela é Satis-

feita (Rm.3.29-31). Contudo, não se retira de Rm.10.4 essas idéias. Assim, o

que se pode dizer sobre a Obra de Cristo em relação a Lei, é uma das conse-

qüências dela é o Término da Lei (At.15.10, 24; Rm.3.21, 22; Gl.5.1, 4, 13).

52 RYRIE, Charles, Teologia Básica. pp.350 53 STTOT, John, Romanos. pp. 341 54 BRUCE, F.F. Romanos, Introdução e Comentário. pp.164-165

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Resumo Visual – Obra de Cristo a nosso Favor

Coloque referências em cada uma das Obras de Cristo a nosso Favor:

Nossa Velha Posição Obra de Cristo na Cruz Nossa Nova Posição

Condenados pelo pecado Jesus pagou o preço do pe-

cado Remidos, perdoados

Escravos de pecado, da morte

e de Satanás.

Cristo derrotou o pecado, a

morte e Satanás.

Libertos do medo e do poder

dos mesmos

Declarados pecadores Ele nos justificou (deu-nos

sua Justiça) Declarados justos

Inimigos de Deus Cristo nos reconciliou. Amigos de Deus

Condenados sob a Lei Ele nos deu o Livro da Lei Livres da lei pela fé

Estrangeiros, alienados Ele nos preparou para a ado-

ção do Pai Herdeiros, filhos

Espiritualmente mortos Ele nos deu Espírito da Vida Nascidos denovo, batizados e

habitados pelo Espírito

Eternamente mortos Ele nos deu a Vida Eterna Selados e vivos para toda a

eternidade

Ímpios em prática Através de Cristo, o Espírito

nos justifica.

Santificados em posição e

prática

Sem esperança futura

Ele é nosso precursor na res-

surreição, arrebatamento, as-

censão e glorificação

Seremos como Ele, glorifica-

do.

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V. Eleição, o fundamento da Salvação

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A Eleição é doutrina fundamental no pensamento cristão sobre a

salvação. Diante desse fato ninguém dentro da ortodoxia teológica desacredita

nesta verdade. Contudo, não se tem um conceito sólido sobre o assunto, pois

dentro da ortodoxia teológica encontram-se, basicamente, duas formas de Elei-

ção: a Eleição Incondicional (Calvinismo) e a Eleição Prevista (Arminianismo).

Entretanto, é ainda possível observar fora da ortodoxia teológica versões sobre

a salvação, pois há quem pense que Deus escolheu todos os seres humanos,

de todos os lugares do mundo e de todas suas eras para a salvação (Universa-

lismo). Assim, é necessário compreender tais possibilidades para que a verda-

de bíblica seja ressaltada.

A. Eleição Universal

O Universalismo prega a Eleição de, absolutamente, toda a humani-

dade para a Salvação. Ou seja, no plano redentor que Deus propôs, Cristo

morre por todos os homens e assim todos eles são salvos, por que Deus é a-

moroso e misericordioso.

Apresentação da Ideologia

Segundo os universalistas: Sem qualquer sombra de dúvidas as Es-

crituras nos declaram que a intenção de Deus é salvar todas as suas criaturas.

Ou seja, não importa seu caráter moral, sua condição ou suas atitudes diante

da verdade, aliás, não é nem necessário crer, pois Deus irá salvar a todos. Isso

está de acordo com a revelação de Seu caráter amoroso, gracioso e misericor-

dioso demonstrado em sua Palavra.

55 PASCAL, Blaise, Pensamentos. pp.269

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Fundamento para isso é encontrado em textos como Rm.11.32 e

5.18 que demonstram claramente essa intenção soteriológica universal de

Deus. Observe:

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����� ��������������������� ���0J�,3, :2�

Deve-se ter em mente que essa proposta não é sem fundamento,

pois ainda podem-se assinalar mais dois textos que confirmam sua proposta

1Tm.2.4 somado com Jô.42.2

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��!�0C�,@','2�

Seguindo essa interpretação dos textos acima, podemos dizer que a

Intenção de Deus é Salvar todos os seres humanos.

Defensor da Ideologia

Diante da proposição universalista feita e de sua réplica, é necessá-

rio conhecer quem é o teólogo que propôs tal idéia. É possível que o pai desta

ideologia seja Karl Barth. Para ele Deus elegeu a raça humana para a salva-

ção. Ou seja, aquele que é ser humano pode participar das bênçãos dessa sal-

vação.

A identificação dessa idéia encontra-se em textos, como Ef.,1.5, que

afirmam que Deus nos escolheu em Cristo. A conclusão retirada deste texto é

que “em Cristo” todos os seres humanos podem ser salvos. Observe:

,,,������� � /���� ������������������������ ��� ��� �� ����� ������� ��� �������� ���� ,�Porquanto há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Je-

sus, homem, o qual a si mesmo se deu em resgate por todos (1Tm.2.4-6).

Diante de textos como esse, Karl Barth chegou à conclusão de que

Deus é quem realiza a escolha dos salvos, que são todos os seres humanos.

Isso pode ser demonstrado:

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89

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Embora alguns conceitos soem estranhos, Barth afirma que

Deus é o executor, por meio de Cristo, da salvação. Contudo, em Cristo todos,

absolutamente todos podem chegar à salvação. Assim, a escolha feita anteri-

ormente por Deus é expandida a todos em Cristo. Para ele Cristo é o “Media-

dor único entre Deus e os seres humanos57”. Assim quem realiza a escolha dos

salvos é Deus, mas que o crivo dessa escolha é Jesus, e por meio dele todos,

absolutamente todos podem chegar à salvação. Segue-se que a escolha feita

anteriormente por Deus é expandida a todos em Cristo, e que “a única distin-

ção básica não é entre eleitos e não-eleitos, e, sim, entre os que têm consciên-

cia de sua eleição e os que não tem58”.

Essa afirmação é a base do inclusivismo soteriológico, que a-

firma a salvação a todos os homens, apenas pela conexão indiscriminada com

Cristo. Logicamente o pensamento exposto por esse teólogo não tem respaldo

bíblico, embora seja encontrado de maneira sutil dentro do pensamento de

muitos cristãos.

Réplica da Ideologia

Em primeiro lugar, necessita-se compreender de forma adequada a

pessoa de Deus. É ponto pacífico que Ele seja amoroso, gracioso bem como

misericordioso. Contudo não podemos encerrar Seus atributos apenas nesses

aspectos. Fazer isso é cometer heresia, que por definição é superestimar as-

pectos da verdade. Precisamos compreender que Deus é, na mesma medida

justo, poderoso, reto. Logo, não age apenas em uso do amor ou misericórdia

ou graça, mas no exercício pleno de Seus atributos.

Assim percebemos que o raciocínio Auniversalista@ parece fazer

menos sentido. Entretanto existem outras falácias no argumento, como a utili-

56 BARTH, Karl. Die kirchliche Dogmatik In: MONDIN, Battista. Os grandes teólogos do século

vinte. Teológica:São Paulo, 2003. pp.70. 57 BARTH, Karl. Artigos Selecionados – Eleição de Deus em Graça. Sinodal:Rio Grande do Sul,

1986. pp.243. 58 BARTH, Karl, Gottes Gnadenwhal, In HENDRISKSEN, William, Comentário do Novo Testa-

mento. Casa Presbiteriana:São Paulo, 1992. pp.96

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zação de textos sem o menor estudo de contexto, quer histórico como textual.

Por exemplo, o texto de Rm.11.32 é plausível no argumento universalista, mas

inconsistente à luz do contexto. O versículo, sozinho, afirma que Deus vai usar

misericórdia com todos. Ao ler o contexto nota-se que Paulo discursa com res-

peito aos Propósitos históricos de Deus, a saber, que outrora os gentios eram

desobedientes a Deus, mas alcançaram misericórdia na desobediência de Is-

rael e assim todos, quer gentios como israelitas, foram encerrados na desobe-

diência, afim de usar misericórdia com todos, quer gentios como israelitas. Lo-

go, dentro do contexto o argumento universalista é inconsistente.

O mesmo fato acontece em Rm.5.18, onde o texto enfatiza clara-

mente um contraste em termos de resultado entre Adão e Cristo. Em Adão,

temos juízo a todos os homens, em Cristo justificação a todos os homens. Ou

seja, todos os morreram em Adão e serão vivificados em Cristo. Mas precisa-

mos entender que, embora seja universal o alcance do pecado, em Adão, ele

não é irremediável. Bem como a justificação que, em Cristo é acessível univer-

salmente, mesmo que nem todos serão justificados. A ênfase do texto se dá na

superioridade da Obra Redentora em relação a queda, pois em Cristo os resul-

tados da queda podem ser remediados. Isso fica evidente no versículo 19 que

diz que muitos se tornaram pecadores em Adão e em Cristo muitos se tornarão

justos, e não todos. Logo, dentro do contexto o argumento universalista é in-

consistente.

Falácia semelhante acontece no uso de 1 Tm.2.4 em conjunto com

Jó 42.2. O primeiro afirma que o desejo de Deus é que todos sejam salvos e o

segundo, que os planos de Deus não podem ser frustrados. Logo, Jesus foi

uma encenação histórica. No texto de 1 Tm.2.4 vemos que o contexto é ape-

nas um enfeite inútil para o que se quer entender. A expressão Atodos os ho-

mens@ aparece antes em 2.1, com respeito a oração do cristão que deve ser

em favor de Atodos os homens@. Seguindo vemos uma classificação dentro

desse Atodo@, que são os Areis e de todos os que se acham investidos de au-

toridade@. Logo, a utilização seguinte do mesmo terno, em 2.4, significa, todos,

inclusive os reis e as autoridades, dando um sentido classificatório à expres-

são. Essa distinção era necessária, pois os cristãos dessa época sofriam per-

seguições pelas autoridades, mas que ainda assim eles deveriam orar por eles,

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sabendo que era desejo de Deus que eles também sejam salvos, pois Cristo se

dera em resgate de todos (2.6), inclusive dos reis e autoridades. Logo, dentro

do contexto o argumento universalista é inconsistente.

Em Jó, vemos o mesmo problema. A partir do cap.38 vemos se ini-

ciar um diálogo entre Deus e Jó. Neste Jó é desafiado a responder perguntas

feitas por Deus. E isso segue alguns capítulos. Até que é dada uma oportuni-

dade de resposta a Jó que diz ser indigno, pois não saberia o que responder a

Deus. E, novamente Deus faz perguntas a Jó, mostrando que é quem manda

na História, quem é que tem poder, quem criou o mundo e tudo o que nele há,

quem é de fato o Todo-Poderoso. A luz disso vem a famosa frase do 42.2:

ABem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos podem ser frustrados@.

Isto expressa o reconhecimento de Jó a pessoa de Deus, revelando sua Onipo-

tência e Imutabilidade, pois tudo pode, e seus planos não podem ser frustra-

dos. Isso até poderia auxiliar a leitura herege universalista, mas é mister com-

preender que não é plano de Deus salvar todo homem. Se tal premissa fosse

consistente fora do sistema universalista, teríamos de rejeitar a Obra Messiâni-

ca, bem como todas as profecias em relação a esse acontecimentos, bem co-

mo o Caráter de Deus. Logo, dentro da realidade da revelação bíblica o pen-

samento universalista é inaceitável.

B. Eleição Prevista

Outra possibilidade para a Eleição é que Deus, por causa do seu

conhecimento antecipado de todos os fatos, resolveu escolher todos aqueles

que creram no evangelho. Em termos gerais, é a ideologia que afirma a Liber-

dade de Escolhas do Homem, e que suas opções subjugam as decisões de

Deus.

Apresentação da Ideologia

A ideologia é exposta dentro da teologia ortodoxa e defendida por

cristãos sinceros. A idéia primeira é de que o homem tem Livre Arbítrio. Ou se-

ja, ele pode optar por ser salvo ou não. Contudo, isso não exclui a Soberania

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de Deus, onde este escolhe aqueles que o escolheram. Ou seja, na salvação

existe co-participação entre Deus e os homens, mas o livre arbítrio do homem

precede a decisão de Deus.

A idéia nasce a partir da leitura de Rm.8.29 com uma conexão direta

com 1Pe.1.2. Vejamos os textos:

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As palavras destacadas referem-se a dois termos gregos que signifi-

cam literalmente: pré-conhecer e pré-conhecimento. As duas palavras têm

mesma raiz, mesmo sufixo mas a primeira refere-se ao uso verbal e a segunda

ao uso substantivo do termo. Assim, Deus pré-conheceu aqueles que irão crer

e elege por causa do seu pré-conhecimento.

Dessa forma, o homem tem sua liberdade e Deus sua Soberania.

Enquanto o homem pode, pelo poder que lhe é próprio, decidir seu destino e

seus atos, Deus em sua Soberania pode escolher aqueles que querem ser es-

colhidos. Em resumo, essa ideologia afirma: “A eleição é a escolha de Deus de

algumas pessoas para a salvação e privilégios, fundamentada na escolha inici-

al feita por essas mesmas pessoas”. Outros textos: Is.55.1-3; Ez.18.32;

Mt.11.28; Lc.9.23; 1Co.1.21; 1Tm.2.6; 2Pe.2.1; Hb.2.9; 1Jo.2.2; Ap.22.17.

Defensores da ideologia

Segundo um dos defensores de tal ideologia, a eleição é o “diploma

divino com que é agraciado todo o que recebe a Cristo Jesus como seu Único

e Suficiente Salvador (Jo.3.16)59”. Ou seja, Eleição de Deus é apenas como um

seguro que o homem tem para a salvação, uma vez que ele “aceita a Cristo”

não o perde mais. Contudo, esta Eleição é precedida pela Predestinação, que

é muito semelhante ao conceito anterior, visto que é oferecida a todos os seres

humanos. Observe:

59 ANDRADE, Claudionor Corrêa, Dicionário Teológico. pp.133

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Neste ponto, a Doutrina da Salvação da Convenção da Igreja Batista

Brasileira está em acordo com as opções de Claudionor. Veja:

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�������-�������9�������� ������������������ ����&������������������������,�

Outro escritor cristão que deve ser lembrado é Norman Geisler. Para

ele a Soberania de Deus abrange todas as coisas, mesmo a liberdade de esco-

lhas do homem. Contudo Deus, em sua Soberania, autolimita-se na salvação

do homem, visto que oferece salvação a todos mas só são aceitos aqueles que

crêem. Sua base é o Argumento da Causalidade, que diz que cada evento tem

uma causa. Assim, a escolha para salvação é uma ação auto-causada, como

ele chama. Ou seja, o homem é a causa da sua própria salvação. Em sua con-

cepção isso não fere a dignidade de Deus, pois ele determinou que o homem

seria livre. Observe sua lógica:

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Entrementes, a opção da Eleição Prevista tem suas divergências,

pois segundo alguns defensores esses que escolhem a Deus, podem deixá-lo.

Esse pensamento é exposto por Raimundo de Oliveira:

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Porém, este escritor ainda aceita as opções soteriológicas comuns a

esse grupo de pensadores. Para ele a salvação é impossível sem cooperação

entre Deus e os homens, de forma que a decisão do homem subjuga a decisão

de Deus. Observe: 60 Idem, Ibid. 61 GLEISLER, Norman, Eleitos, mas Livres. pp.62 62 OLIVEIRA, Raimundo, As grandes doutrinas Bíblicas. pp.218

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Assim, a idéia básica é:

(1) O homem tem livre escolha;

(2) Deus sabe quem vai crer;

(3) Logo, Deus escolhe quem irá crer.

Ou, como disse Thiessen:

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Réplica da Ideologia

A ideologia exposta é sem sombra de dúvidas problemática, pois

necessita de superposição temática dentro da terminologia dos termos bíblicos.

O primeiro argumento dos defensores dessa idéia é que o homem tem livre

arbítrio. O segundo é que Deus sabe quem vai crer e por isso escolhe. Assim,

o homem livre escolhe ser salvo e Deus por seu conhecimento antecipado o

predestina para salvação.

Se levado a sério a idéia concluir-se-á que as ações dos homens de-

terminam as ações de Deus. Logo, Deus não tem liberdade para agir, antes é

dependente do homem. Ou seja, Deus quer salvar mais não pode, precisa que

o homem deixe ser salvo.

Dois problemas são claros: (1) Não compreendem corretamente a

Deus; (2) Não compreendem quem o homem é. Sem esses dois reconheci-

mentos é impossível compreender a salvação. Deve-se lembrar que a Eleição

nunca ofende a dignidade de Deus ao mesmo tempo que não retira do homem

a responsabilidade. Observe o que Walter T. Conner diz:

R ��� ���*���� ������*��� ������������ �� ��� ��� �����#� ���������������������� ������ ��� ���������� �� �� �� �� ���� �� �� ��� �,���� �*�)���� ������������� �� ������� ������� �������� ���� ���� �#�"),�-�� ���������������� �������� �,�- �������� � ������ *������)������� ������ ���� ��� ������������� ��-�������9����*�����)��������������� � 63 Idem, pp.222 64 THIESSEN, Henry Clarence, Palestras Introdutórias à Teologia Sistemática. pp.246

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��� �" ����������������������� ���� 63,�

Ideologia fundamentada no Mal uso de terminologias bíblicas:

A premissa de Geisler, sobre a determinação de Deus com relação a

liberdade humana, não tem fundamento bíblico, apenas lógico e filosófico. A

idéia de Claudionor e Thiessen são fundamentadas no mal uso dos termos pré-

conhecer e pré-conhecimento. Pois observe onde mais eles são usados:

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Nos outros textos em que os termos aparecem é impossível dizer

que se referem apenas a um conhecimento antecipado de Deus. Em Rm.11.2 é

impossível que o texto diga que Deus apenas sabia que Israel o iria aceitar.

Isso não é visto em nenhum texto do Velho Testamento. O que se sabe sobre a

origem da Nação de Israel é que Deus escolheu um casal e por meio deles es-

tabeleceu uma nação. Não se pode dizer que Deus sabia que Abraão teria um

filho e que desse filho viria uma nação. O que é certo é o que Paulo afirma: “O

que Israel busca, isso não conseguiu, mas a eleição o alcançou” (Rm.11.7).

Em 1Pe.1.20 e At.2.23 fica mais difícil fazer a afirmação do pré-

conhecimento passivo de Deus, pois é impossível que se diga que Deus sabia

que Jesus ia morrer. Ao contrário, Deus estabeleceu assim. Ou seja, talvez o

termo usado para defender um conhecimento passivo de Deus na salvação

não defende.

Ideologia fundamentada no Mal uso de textos:

Outro pequeno detalhe é que a base estrutural do pensamento da

Eleição prevista está lançada sobre Rm.8.29 somado com 1Pe.1.2, que não

sustentam tal idéia. Não precisa ser um grande conhecedor de terminologias

para perceber isso. Observe:

65 CONNER, Walter T. Evangelho da Redenção. pp.71

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Observe que essa idéia diz que Deus salva os homens que querem

ser salvos. Contudo o primeiro texto diz que o fato de conhecer não antecede

nem fundamenta a predestinação, mas diz que os dois fatos acontecem. Ou

seja, ele conhece quem predestina, e não predestina por que conhece como

insistem os adeptos dessa idéia. Outro detalhe observado no primeiro texto é

que o objetivo da salvação é ser conforme Cristo. Logo, ninguém pode ser sal-

vo por ser conforme Cristo como insistem os adeptos dessa idéia, mas para ser

conforme Cristo.

No segundo texto nota-se que a presciência não é o fundamento da

salvação, como insistem os adeptos dessa ideologia, mas, antes este pré-

conhecimento está em conformidade com a eleição. Pedro diz que nós somos

eleitos em conformidade com a presciência, e não por causa dela. Sem contar

que para ele o objetivo da eleição é a obediência. Logo, ninguém pode ser sal-

vo por obedecer, mas para obedecer.

Assim, diante desses fatos é certo que a idéia da Eleição Prevista

não tem fundamento bíblico por três grandes motivos: (1) Não existem textos

bíblicos que confirmem a absoluta liberdade do homem em relação ao seu des-

tino eterno; (2) Não existem provas bíblicas para a idéia de que Deus escolhe

quem irá crer; (3) Não existe fundamento escriturístico para afirmar a falta de

liberdade de Deus na Salvação.

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C. Eleição Incondicional

Eleição Incondicional é a doutrina apresentada pelos calvinistas e é

fundamentada na Soberania Absoluta de Deus e na Ausência Absoluta de Mé-

rito do homem para alcançar a salvação. Conseqüentemente, o homem não

tem livre arbítrio, no que diz respeito a salvação, e depende exclusivamente da

graça de Deus para ser salvo.

Apresentação da Doutrina

É muito complexo definir em poucas linhas a Eleição, visto ser ela

parte debate intenso desde a era dos Pais da Igreja. No século 5, Agostinho já

discutia com Pelágio sobre o assunto. A respeito de Pelágio, Berkhof diz:

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A idéia presente no pensamento de Pelágio inicia-se na concepção

errada de pecado, e por isso chega a não necessidade de Cristo para apropria-

ção da redenção. Para ele, é possível mediante as obras da lei uma redenção

completa. “Não desprezava ele inteiramente a ‘ajuda da graça’ ou ‘assistência

divina’, mas considerava isso desejável ‘a fim de que aquilo que é ordenado

por Deus possa ser mais facilmente cumprido’67”.

Para ele esta graça não diz respeito à Obra Regeneradora do Espíri-

to Santo, ou Seu convencimento do pecado. Para ele a graça “consiste somen-

te destes fatores: (a) ‘o bem da natureza’, isto é o livre arbítrio de que o homem

é dotado, de tal modo que possa fazer o bem ou mal; e (b) a pregação do e-

vangelho e o exemplo de Cristo, fatores esses que são dirigidos à mente do

homem e lhe ensinam o caminho da salvação. A graça da natureza é universal

e também absolutamente essencial ou necessária, mas a graça do evangelho

não era nem universal nem necessária, embora facilitem ao homem a obtenção

da salvação68”.

66 BERKHOF, Louis, A História das Doutrinas Cristãs. pp.185 67 Idem, Ibid. 68 Idem, Ibid.

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Tal idéia ainda prevalece em alguns guetos pseudo-teológicos. Mas,

antes de qualquer outra menção que fira a doutrina pelagiana, é válido recordar

que foi condenada pelo Sínodo de Cartago, pelo Sínodo de Éfeso e nova-

mente pelo Sínodo de Orange, onde o semi-pelagianismo foi também descar-

tado. Ou seja, diante da História da Igreja tal heresia vem perseguindo a sani-

dade da doutrina bíblica da salvação.

Ou seja, a idéia da co-participação humana na salvação, no sentido

de determinar as atividades de Deus, é claramente descartada pela história da

igreja. Isso não significa que o homem é um robô, ou alguém que não é dotado

da possibilidade de optar, ou realizar escolhas. O que se afirma é que, em fun-

ção do pecado, suas escolhas estão fadadas ao fracasso, no que diz respeito à

salvação. Ou seja, uma vez que todos os aspectos do homem foram corrompi-

dos pelo pecado, incluindo a vontade, é impossível que essa vontade caída,

abarrotada de pecado possa subjugar as decisões de Deus.

O que se pode afirmar sobre a vontade, é que ela é influenciada ou

dirigida, pelo intelecto, emoções e desejos e que sua liberdade nada mais é do

que a experiência de realizá-la na ausência de controle ou influência. Seguindo

essa afirmação, a liberdade da vontade é inconsciente. Entretanto, isso é im-

possível, pelo fato de que a vontade sempre está à mercê de alguma informa-

ção, necessidade ou desejo.

Observe que quando Paulo afirma que os não salvos tem um modo

de vida em conformidade o curso deste mundo, o enganador deste mundo, e

das inclinações da própria carne (Ef.2.1-3). Neste texto pode-se ler:

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A vontade relaciona-se com os outros aspectos da constituição do

homem, e o conduz segundo as inclinações destes aspectos. Dessa forma, o

homem não regenerado tem sua vontade inclinada pelas paixões carnais e in-

tenções malévolas, o que faz com que sua vontade não possa ter arbítrio isen-

ta de influência.

O mesmo acontece com o homem regenerado, embora após a sal-

vação o homem seja conduzido à liberdade, a vontade do homem não é abso-

lutamente livre. Paulo testemunha esse fato quando diz:

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“Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem nenhum, pois o querer o bem está em mim; não, porém, o efetuá-lo. Porque não faço o bem que prefiro, mas o mal que

não quero, esse faço” (Rm.7.18-19)

O que acontece nesse texto demonstra a luta entre a intenção de fa-

zer o bem e não conseguir efetuá-lo. Embora o homem regenerado desfrute de

um ambiente de liberdade ainda não possui a liberdade essencial e verdadeira

que o próprio Deus tem. De alguma forma até mesmo a vontade do homem é

influenciada, ou regida por outro aspecto. Em Fp.2.13 podemos ler:

“Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade”

Segue-se que a liberdade da vontade é o desejo de todo homem,

porém, impossível à luz de sua própria definição:

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Assim, não se nega a capacidade de escolas do homem, ao mesmo

tempo que não afirma seu liberdade utópica. Assim, para a salvação é neces-

sário que Deus em misericórdia inicie o processo de salvação, sendo que este

é iniciado Ele com a eleição. Por isso é necessário compreender o termo teoló-

gico que refere-se a esse início: ELEIÇÃO. Sobre ela, Strong diz:

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Eleição: Prova Bíblica

A Eleição Incondicional é fundamentada na Soberania Absoluta de

Deus. Assim, podemos ressaltar a Soberania de Deus:

(1) Sobre toda a Vida: 1Sm.2.6-10; 2Rs.9.25; 1Cr.29.11-14; Sl.135.6;

i39.1-16; Pr.16.9.33; 20.24; Ec.3.1; Is.14.24, 27; 25.1; 43.7; 45.1-13; 46.10;

48.3; 55.11; 63;16-17; 64.8; Dn.4.17; At.2.23-24; 4.27-28; 17.24-28; Rm.13.1;

Ef.1.11; Fp.2.13;

(2) Sobre Seus Planos: 1Rs.22.19-22; Jó.42.2; Sl.115.3; 135.6;

Pr.21.1; 16.4; Is. 44.18; 54.16; 55.11; Dn.4.17, 35; Jo.1.6; 2.1; Rm.9.11-24;

11.7; 2Pe.2.9; Jd.4; Ap.13.8; 17.8; 19.16; 20.2, 10;

69 BERTI, Marcelo Mendes. 70 STRONG, Augustus Hopkins, Teologia Sistemática. pp.472.

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(3) Sobre a Eleição: Gn.12.1-3; Lv.8; Dt.7.6, 14.2; 1Sm.17.1-12;

Sl.33.12; Is.8.14 (cf.1Pe.2.8); 41.8, 9; 42.1; 43.20, 21; 65.9, 22; Mt.22.14;

24.22; 24.24; Mc.3.13-19; 13.27; Lc.18.7; Jo.1.13; 6.37, 44, 65; 10.29; 15.16,

19; 17.2, 6, 9, 12, 24; At.2.39; 13.48; 18.27; Rm.8.28-30; Cap.9; Cap.11; 16.13;

1Co.1.27-30; Gl.1.5-16; Ef.1.3-6, 11; 2.8-10; Cl.3.12; 1Ts.1.4; 2Ts.2.13; 3.2;

Tt.1.1; 1Tm.1.9; 2Tm.2.10; Tg.1.18; 1Pe.1.2-5; 5.13; 2Pe.1.10; Ap.17.14.

Diante de tantas evidências, vamos ressaltar apenas alguns textos:

(1) A Eleição é para salvação: “porque Deus não nos destinou para

a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo”

(1Ts.5.9); “Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos

amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu desde o princípio para a

salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade” (2Ts.2.13)

(2) A Eleição é restrita: “Porque muitos são chamados, mas poucos,

escolhidos” (Mt.22.14); “e creram todos os que haviam sido destinados para

a vida eterna” (At.13.48);

(3) A Eleição não depende da vontade humana: “os quais não nas-

ceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem,

mas de Deus” (Jo.1.13); “Assim, pois, não depende de quem quer ou de

quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia” (Rm.9.16);

(

4) A Eleição precede a Obediência, a Santificação, o Exercício de

Fé: “assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para ser-

mos santos e irrepreensíveis perante ele” (Ef.1.3); “Porquanto aos que de an-

temão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem

de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos”

(Rm.8.29); “eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do

Espírito, para a obediência e a aspersão do sangue de Jesus Cristo”

(1Pe.1.2); “E ainda não eram os gêmeos nascidos, nem tinham praticado o

bem ou o mal (para que o propósito de Deus, quanto à eleição, prevale-

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cesse, não por obras, mas por aquele que chama) já fora dito a ela: O mais

velho será servo do mais moço” (Rm.9.11-12);

(5) A Eleição é realizada em Amor: “em amor nos predestinou pa-

ra ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o benepláci-

to de sua vontade” (Ef.1.5);

(6) A Eleição é fundamentada na Graça de Deus: “Porque pela gra-

ça sois salvos, mediante a fé; e isto [a salvação] não vem de vós; é dom de

Deus” (Ef.2.8); “segundo a riqueza da sua graça” (Ef.1.5-7);

(7) A Eleição Implica em Chamamento Eficaz: “Sabemos que todas

as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que

são chamados segundo o seu propósito” (Rm.8.28); “a fim de que também

desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que

para glória preparou de antemão, os quais somos nós, a quem também cha-

mou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?.” (Rm.9.23-24);

“mas para os que foram chamados, tanto judeus como gregos, pregamos a

Cristo” (1Co.1.24);

(8) A Eleição é Departamento da Soberania de Deus: “Irmãos, repa-

rai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios

segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimen-

to, pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para enver-

gonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar

as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as despreza-

das, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que

ninguém se vanglorie na presença de Deus.” (1Co.1.26-29); “Pois, segundo o

seu querer, ele nos gerou pela palavra da verdade” (Tg.1.18); “Quem és tu,

ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a

quem o fez: Por que me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a

massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para de-

sonra?” (Rm.9.20, 21);

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(9) A Eleição garante a existência de um Povo de Deus: “Assim,

pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segun-

do a eleição da graça” (Rm.11.5); “Não tivessem aqueles dias sido abrevia-

dos, ninguém seria salvo; mas, por causa dos escolhidos, tais dias serão a-

breviados” (Mt.24.22 – Contexto da Grande Tribulação); “Mas, relativamente a

Israel, dele clama Isaías: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a

areia do mar, o remanescente é que será salvo” (Rm.9.27);

(10) A Eleição Tem um aspecto Negativo: “Que diremos, pois, se

Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com

muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição”

(Rm.9.22); “Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a

quem lhe apraz” (Rm.9.18); “Que diremos, pois? O que Israel busca, isso não

conseguiu; mas a eleição o alcançou; e os mais foram endurecidos, como

está escrito: Deus lhes deu espírito de entorpecimento, olhos para não ver

e ouvidos para não ouvir, até ao dia de hoje.” (Rm.11.7-8); “Por isso, não

podiam crer” (Jo.12.39); “Pedra de tropeço e rocha de ofensa. São estes os

que tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o que também foram

postos” (1Pe.2.8); “O SENHOR fez todas as coisas para determinados fins e

até o perverso, para o dia da calamidade” (Pr.16.4); “Esses, todavia, como

brutos irracionais, naturalmente feitos para presa e destruição, falando mal

daquilo em que são ignorantes, na sua destruição também hão de ser destruí-

dos” (2Pe.2.12); “Pois certos indivíduos se introduziram com dissimulação, os

quais, desde muito, foram antecipadamente pronunciados para esta con-

denação, homens ímpios, que transformam em libertinagem a graça de nosso

Deus e negam o nosso único Soberano e Senhor, Jesus Cristo” (Jd.4); “Qual a

razão por que não compreendeis a minha linguagem? É porque sois incapa-

zes de ouvir a minha palavra. Vós sois do diabo, que é vosso pai, e que-

reis satisfazer-lhe os desejos” (Jo.8.43-44); “Porque a Escritura diz a Faraó:

Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o

meu nome seja anunciado por toda a terra” (Rm.9.17)

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Diante desses textos é impossível negar a existência da Eleição In-

condicional. Aliás, não existe como ser cristão e negar a Soberania Absoluta de

Deus sobre a Vida e a Morte, sobre a Eleição e Preterição.

Defensores da Doutrina

Agostinho, João Calvino, Teodoro Beza, George Whitefield, Charles

Hodge, Augustus Hopkins Strong, Louis Berkhof, Charles Ryrie, Abraham Kuy-

per, John Sttot, Charles Swindow, Charles Spurgeon, A.W. Pink, A.W. Tozer,

J.I. Packer, Walter Conner, Blaise Pascal, Roger Willians, Obadiah Holmes,

Benjamin Keach, John Bunyan, Isaac Backus, Andrew Fuller, Willian Carey,

Luther Rice, Adoniran Judson, J.P. Boice, John A. Broadus, B.H Carroll, Mat-

thew Henry e John Newton, Anthony Hoekma, Jonatas Edwards, R.C. Sproul,

Lewis Sperry Chafer, Millard Erickson, H. W. House, Marcos Ribeiro, Bruce Tri-

plehorn, Jonas Cunha, Marcos Mendes Granconato, Carlos Osvaldo Pinto,

Darcy Sborowisky, Samuel Falcão, Pedro, Paulo, Jesus e etc.

Como são muitos os defensores citados, neste ponto observaremos

apenas o que alguns desses teólogos dizem a respeito da Eleição.

H. Wayne House:

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John Bunyan:

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Matthew Henry:

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Willian Carey:

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Basil Manly:

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Walter T. Conner:

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A.W. Pink

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João Calvino

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Principais Concepções Evangélicas sobre Eleição71

Aminianismo Calvinismo Calvinismo Moderado

Definição

Escolha condicional de Deus pela qual ele determinou quem iria crer com base na sua presciência de

quem irá exercer a fé. É o resultado da fé do ser humano

A escolha incondicional e amorosa de Deus pela qual ele determina

que deve crer. É a causa da fé do ser humano.

A escolha incondicional e amorosa de Deus pela qual ele determina quem irá crer. É a causa da fé do

ser humano.

Principais Expoentes

Jacó Armínio, João Wesley João Calvino, Charles Spurgeon Millard J. Erickson

Raízes Históricas

No início do século dezessete, o pastor holandês Armínio, enquanto

procurava defender as idéias de Beza, convenceu-se de que Beza e

Calvino estavam errados. Mais tarde, Wesley foi mais além de

Armínio ao enfatizar a graça preve-niente.

Durante a Refora, Calvino assimilou a ênfase de Agostinho na graça irresistível de Deus, na natureza pecaminoa do ser humano e na

predestinação. Calvino foi sucedido por Beza, que foi um passo além.

Essencialmente uma interpretação recente.

Prós

Acentua a responsabilidade do ser humano de fazer uma escolha.

Também reconhece a depravação e desamparo humanos sem a inten-ção de Deus. Seu aspecto mais atraente é a aceitação do livre-arbítrio humano. O ser humano pode resistir à Graça de Deus.

Acentua a santidade e soberania de Deu e, portanto, o seu direito de fazer decretos como o da eleição

para salvação. Acentua corretamente a total de-pravação do ser humano e sua incapacidade de escolher por si mesmo o que é certo. A doutrina

predominante é a absoluta sobera-nia de Deus, que não depende dos

caprichos ou da vontade do ser humano. O ser não pode resistir à

graça de Deus. Esse conceito é sustentado por

uma imensa quantidade de evidên-cias bíblicas.

Acentua a santidade e soberania de Deus, ao mesmo tempo que pre-serva a idéia da responsabilidade

humana. A graça de Deus é irresis-tível, mas somente por que Deus escolheu torná-la ta atraente para os eleitos que irão aceitá-la. Em

outras palavras, Deus capacita os eleitos a quererem sua graça.

Assim, Deus aciona a sua vontade soberana por meio da vontade dos

eleitos. É uma posição intermediária entre o calvinismo tradicional e o

arminianismo.

Contras

Deixa de acentuar a soberania de Deus. Ao colocar Deus em uma

posição de dependência das deci-sões de um ser criado, essa con-cepção dá a impressão de que Deus não tem o controle do seu

universo. Além disso, o reconheci-mento da doutrina da depravação

total exigiu que Wesley introduzisse a idéia da graça preveniente, que

não tem base bíblica.

Deixa de acentuar a responsabili-dade humana. Parece obscurecer o livre-arbítrio do ser humano e, por-tanto, a sua responsabilidade pelo pecado. Os críticos acusam que essa posição destrói a motivação

para o evangelismo. Problema principal: aparente contradição lógica com a liberdade humana.

Carece de um precedente claro na história da igreja. Aproxima-se de

um sofisma semântico quando distingue entre Deus tornar algo

certo e algo necessário (Deus deci-de que algo irá acontecer em con-

traste com decidir que tem que acontecer).

Base Bí-blica

Texto central: não existe tratados teológicos que apóiam a posição arminiana. Assim, apelam para o caráter universal do convite de

Deus à salvação. 1Tm.2.3-4 é apre-sentado como evidência de que

Deus deseja que todos sejam sal-vos. (ver também Is.55.1; Ez.33.11;

At.17.30-31; 2pe.3.9)

Texto Central: Rm.9.6-26. Esse texto demonstra que a eleição está baseada no caráter justo de Deus e na sua soberania. Portanto, ele não irá tomar uma decisão injusta e não precisa explicar ao ser humano por

que ele ainda culpa aqueles que não escolheu.

Nenhum texto central é apresenta-do especificamente. Erickson fun-damenta a sua posição nos pontos

fortes da posição calvinista e na fraqueza da posição arminiana,

sendo motivado pela aparente con-tradição entre a soberania de Deus e o livre-arbítrio humano. Ele incli-na-se para posição calvinista na

maior parte das passagens.

71 HOUSE, H. Wayne, Teologia Cristã em Quadros. pp.105