anterograde tomorrow
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AMANHÃ ANTERÓGRADO [PARTE UM: PERDIDO E PRESO]
Escritora: changdictator
Tradutora: Hitomi Spezzet
Notas iniciais: Ok, isso não tinha na história original, mas eu quis acrescentar porque sim :3. É importante ler, então por favor, seja legal comigo e não faça disso inútil euri. Bom, saiba que eu a-do-rei traduzir a história pra você :c adorei o fato de traduzir e adorei a história também. De verdade, super me envolvi mesmo quando eu estava apenas traduzindo, e não escrevendo xD, me senti essa changdictator ali e fiquei orgulhosa do meu trabalho /euri. Então, é o seguinte, eu não sou uma expert super fluente em inglês, mas eu fiz o MELHOR que eu pude, juro! O Google tradutor ficou aberto o tempo todo, virou meu melhor amigo pra sempre /euri. Então, no começo vai ficar meio difícil de entender e você vai pensar “pqp essa menina fuma pra caralho”, mas as coisas vão se ajeitar e eu comprovei que não é culpa da minha tradução, e sim da história. Euri. E os palavrões não são por minha conta ok? Eu queria traduzir todos os “fucking” que estavam perdidos na história, mas infelizmente, não existe uma fucking palavra no nosso fucking português que possa ser fucking colocada em qualquer lugar como o fucking e tudo ainda continuar fazendo um fucking sentido < ok, parei. Mas enfim, eu já conversei com a Maluka e ela disse que se você pedir as próximas partes (que eu acho que vai pedir), eu ficarei muito muito muito feliz em traduzir mais uma vez. Espero que consiga entender tudo, e me desculpe por qualquer erro que encontrar. Beijinhos da Hit <3.
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Kyungsoo tem um caderno de rostos e datas. Colagens Polaroid com pequenas frases inscritas
abaixo. Esse é Zitao, novo garçom chinês fazendo as mudanças de quarta feira à noite (6 de
junho de 2010); Aqui está Yifan, modelo pedindo um Rhapsody in Blue com um whiskey seco
todo domingo (19 de dezembro de 2009); Baekhyun aqui, mas ele se mudou (6 de julho de
2008). É uma sinopse de Do Kyungsoo: vizinhos, conhecidos, velhos amigos, novos estranhos,
apresentados com uma precisão militar.
Perto do fim há uma foto de uma figura debruçada, inclinada em uma parede de tijolos, com um
joelho dobrado e o outro sustentando todo o seu peso. Um cigarro repousando tolamente entre
os seus dedos longos e magros. Fantasmas cinza-monocromáticos ao longo de seu semblante.
Fumaças brancas rodopiando desde o fim de seus lábios, difundindo pelo cabelo e pela garoa
até um estranho senso de solidão.
Duas palavras estão rabiscadas embaixo: vizinho, fumando.
--
O jornal está datado em 12 de julho de 2012. Mas Kyungsoo pode jurar que ontem foi apenas
24 de novembro de 2008. Sua camisa favorita. Aquela que ele ganhou por ser o empregado da
semana, com uma logomarca “Pororo” assimétrica bordada a mão.
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Passando os olhos apressadamente pelas manchetes de “enorme desordem no centro de
Seoul causada por chuva de dinheiro”, Kyungsoo focou na figura. Certamente, é sua camisa,
aquela que ele está usando agora mesmo e saiu da cama vinte minutos atrás. Mais
precisamente, aquela que ele não consegue se lembrar de usar em nenhuma cobertura cara,
onde a foto foi tirada.
De acordo com o artigo, “Escritor honrado Kim Jongin foi afiançado por destruição de ordem
pública, depois de literalmente soprar uma tempestade de centenas-milhões de notas de wons
pela janela de sua cobertura em Seoul com um cúmplice anônimo. Chamando de ‘exibição de
confetes de bilhões de wons’, ele causou o maior engarrafamento na história de Seoul,
efetivamente bloqueando ruas em dois quilômetros de distância quando os cidadãos correram
para coletar o dinheiro.”.
Mas de acordo com Kyungsoo, enquanto ele empurra o jornal abaixo do nariz de Minseok,
- Muitas brincadeiras bem elaboradas estão sendo feitas esses dias... Mas onde eles
encontraram minha camisa?
Minseok arqueou as sobrancelhas ao olhar para o artigo, mais ainda para Kyungsoo, e depois
em direção ao outro fim do bar. Kyungsoo está muito ocupado relendo o artigo e chegando
novamente sua camisa para notá-la, ou o fato de que há alguém extremamente bem vestido
sentado onde Minseok está olhando, alguém escondendo uma curva de lábios divertida atrás
de uma taça de whiskey.
--
Eles se encontraram pela primeira vez, Kyungsoo acha, no elevador do apartamento. Era
sexta-feira de manha, 13 de julho, uma hora na qual o mundo corria em iluminações incertas,
uivos bêbados e o ocasional soco de risadas. Havia apenas os dois àquela hora, e um silêncio
indiscreto.
Tendo retornado do bar a pouco tempo, Kyungsoo tenta lutar contra o coquetel de fumaça
metálica e o espesso perfume de álcool apanhados pelo seu cabelo. O último toque de
saxofone sobre seus dedos e as batidas de cinquillo abaixo da sua pele, mas nada disso é
suficiente para preencher o abismo que persiste entre ele e o estranho.
O estranho, com um cigarro apagado entre seus dentes, se virou primeiro. A iluminação do
elevador não colabora em encobri-lo de amarelo-icterícia e um pesado véu de letargia.
Kyungsoo se pergunta, com o cinquillo batendo em suas veias, se a pele do homem é maleável
como aparenta ser.
- Quente. O tempo. Está quente. - Ele disse, oferecendo uma mão que Kyungsoo pega com
hesitação. Seu aperto é surpreendentemente frio, com dedos longos e unhas curtas e afiadas.
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- Hm... - Kyungsoo gagueja, e tão logo pega o estranho encarando seu rosto. O aperto de
mãos de repente pareceu mais um julgamento intencional do que um abrupto cumprimento.
Mais assustador do que tenso e mais terrível do que estranho.
Em meio aos rangidos do assoalho elevador e rangidos da lâmpada elétrica, a voz de
Kyungsoo vem como um chiado dois tons mais alto do que deveria ser.
- É. A noite está quente.
O estranho não diz nada. Apenas se inclina para trás nas paredes do elevador e encara
Kyungsoo dos pés a cabeça. É o tipo de encarada que faz Kyungsoo se esconder atrás de sua
jaqueta, embora uma pequena camada de casimira seja pouco para escondê-lo da evidente
fixação do outro. O tempo passa até que a porta se abre, quando Kyungsoo deixa o suspiro
que não sabia estar segurando escapar.
Somente depois que Kyungsoo faz seu caminho pelos corredores do apartamento, ele nota que
o estranho se arrastou atrás dele, ele percebeu que não foi a primeira vez que haviam se
encontrado.
- Eu te conheço de algum lugar? - Ele finalmente pergunta, com a voz ecoando dificilmente
pelo corredor. O estranho para na porta do vizinho, rodando a chave em seus dedos. Uma
pequena iluminação da luz da lua passa pelas grades e brilha fora de alguma coisa em seu
traje. Kyungsoo nota um par de abotoaduras, brilhantes e caras, bem caras para pertencer a
alguém que viveria nesse tipo de residência.
- Você conhece? - Os lábios do estranho formaram vagarosamente um sorriso travesso.
Kyungsoo pega uma gaze em sua carteira. Ele não se lembra de ver o rosto do estranho
enquanto revirava o livro de memórias mais cedo. Mas talvez ele tenha pulado uma página. Já
aconteceu antes. Ele pega rapidamente sua bolsa, e para com uma gargalhada.
- Então você não estava brincando sobre a amnésia.
- O que?
- Interessante. Legal. Sério. Qual é a última coisa que você se lembra de ter feito? - O estranho
o interrompe, sem pressa aparente como ele despenca contra sua porta e em relação ao modo
que Kyungsoo está desajeitado com a tranca da porta.
Mesmo no escuro, o brilho de diversão sádico reluzente de seu sorriso é distinto. O que o faz
parecer mais velho do que realmente é, quase triste.
Kyungsoo pensa tanto que se esquece de responder, e no momento em que ele se vira mais
uma vez, o estranho havia ido embora.
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Eles se encontram mais uma vez, pela primeira vez na escadaria. O sol está rachando em uma
segunda-feira. Uma rajada de verão sopra os últimos raios de luar. Kyungsoo corre para seu
emprego na fábrica e o homem com um cigarro apagado entre seus lábios segue seu caminho.
Seus olhares se encontram, e talvez seus ombros tenham se esbarrado, e é o suficiente para
Kyungsoo congelar.
Mas o homem não poupa um segundo para reconhecer o olhar espantado de Kyungsoo. Ele
simplesmente continua subindo, bufando, com a cara pálida e transpirando. Kyungsoo olha o
tremor de suas pernas, cambaleando a cada passo, como se elas não fossem fortes o
suficiente para suportar o invisível, enorme peso em seus ombros. Como se ele fosse tombar
com a menor brisa. É de tirar a respiração como suas costas parecem quebradas desse
ângulo, todos os tecidos desabando sobre os ossos.
Pensa em tirar uma foto desse homem, mas Kyungsoo não sabe como rotularia aquela
imagem, sem contar que está atrasado para o trabalho, então ele corre.
Para Kyungsoo, verões no subúrbio de Seoul são feitos de vozes mezzo à meia noite, caixas
de cartolina de brinquedos arrastadas através da borracha da correia transportadora, feijões
vermelhos, lodo e jornais enrugados debaixo dos beijos macios do crepúsculo. Existem várias
entradas no seu livro de memórias agora. Sua vida está surgindo com colunas de notas pretas;
Zitao e Yifan agora são mais do que amigos; Minseok achou uma nova melodia; há um
estranho vivendo no apartamento desocupado da esquerda, e eles podem ter se falado antes.
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Eles se encontram pela última vez das primeiras vezes quando Kyungsoo abre sua porta e dá
de cara com aquelas enormes pupilas dilatadas.
- Oi. - O homem sorri, cigarro balançando hesitante no canto da sua boca. - Meu nome é
Jongin. Sou um escritor. Crio romances. Eu me mudei para o apartamento ao lado faz uma
semana. Uma questão de inspiração, arte, descobrir pobreza, evitar a pressão da multidão de
onde eu vim. A questão é: nós nos falamos antes. Duas vezes.
- Oh. - Kyungsoo imediatamente cai em sua resposta usual. - Me desculpe... Eu tenho amnésia
anterógrada...
- Você não se lembra de mim. Eu sei. Você esquece tudo no fim de cada dia, então você não
vai se lembrar de mim amanhã.
Jongin dá um passo pra trás, acende o cigarro, dá uma tragada profunda e deixa a fumaça
viscosa e branca passar pelos seus dentes.
- De qualquer forma, escute. Eu preciso de um manuscrito para o meu editor, Oh Sehun, se
você o conhecesse você saberia o quão filho da puta ele é, mas a questão é: se eu não
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entregar algo em um mês, ele vai resmungar como uma vadia—e, para ser franco, eu estou
sem ideias. Mas não exatamente. Eu tenho uma ideia. E ela envolve...
Até Kyungsoo começar a tossir a fumaça do cigarro, ele percebe que estava prendendo a
respiração por todo àquele tempo.
- Hm, sim, envolve o que?
- Você. - Jongin sorriu.
O interessante sobre o sorriso de Jongin é que só sua boca move para cima, então tudo o que
Kyungsoo vê é uma foto bonita de camisas caras e engomadas e um sorriso miserável. Um
monte de sofrimento embrulhado em dentes expostos e olhos estreitos. Os melhores adjetivos
para apontar uma alma abandonada, os mais delicados epítetos para atravessar um coração
fechado.
Kyungsoo escreve aquilo embaixo da Polaroid que ele tirou de Jongin naquela noite. Esse é
Jongin, novo vizinho, escritor, triste sorriso (17 de julho de 2012). Nós teremos entrevistas. Ele
quer escrever um livro sobre mim.
--
Durante o jantar de quarta feira, Kyungsoo decide que embora a sua rotina seja simples e
repetitiva, é melhor desse jeito. Sua memória não dura o suficiente para ele continuar com
mudanças em longo prazo e não é como se ele pudesse crescer cansado de fazer algo que ele
não se lembra de ter feito, de qualquer maneira.
- Então, o que você faz da vida? - Jongin interrompe seus pensamentos, uma caneta enfiada
atrás da orelha e outra entre seus dedos.
Kyungsoo diz que ele trabalha na fabrica de brinquedos da vizinhança, das nove da manhã, às
cinco da tarde, colando pequenos olhos brilhantes de mármore a personagens de desenhos
animados feitos de pelúcia. Um sopro de artificialidade para o brilho da vida. O emprego é
puramente pelo dinheiro, embora Kyungsoo pense que ele pode ter crescido uma afeição pelos
seus colegas de trabalho, pelo tecido macio dos brinquedos e pelos sorrisos sempre alegres. O
emprego o garante o suficiente para pagar as contas e para as suas necessidades. Ainda
assim, está tudo bem porque às sete da noite, tudo se ajeita. As sete, ele dirige até o bar para
acender as melodias de sua alma. Tecnicamente, a hora é sobre as mudanças recatadas pelo
caos de estar bêbado, mas para Kyungsoo, é sobre moldar palavras no ar, suspiros de fumaça
e arrepios de música, olhos fechados e fracas arfadas abrangendo os círculos de serragem nos
carpetes. É sobre musas dormindo através de dedos e se curvando ao redor de seus pés. Sete
é sobre paixão. Um sonho.
Kyungsoo deixa todos os duzentos e seis ossos de seus dedos caírem no lugar como se ele
suspirasse.
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- Isso pode parecer medíocre, eu acho. Mas é difícil sentir a mediocridade quando você nunca
se sentiu diferente disso. Se sentir vivo, eu digo.
- Então você é como um cadáver ambulante?
- Mais parecido com um fóssil ambulante.
Minseok, seu amigo de infância e companheiro de cantar no bar, sempre faz essa brincadeira,
porque o tempo parou para Kyungsoo há quatro anos, ele deve estar com vinte anos
permanentemente. Mas não é bem uma piada, e as pessoas pararam de rir dela muito tempo
atrás.
- Eu acho engraçado. - Jongin comenta, jogando o toco do cigarro na cerveja antes de dar um
gole apreciativo. Kyungsoo tenta não se perguntar qual é o gosto. Nicotina e tabaco afogados
em trigo espumante. Em vez disso, ele olha para o caderninho de Jongin e as pequenas linhas
ilegíveis de tinta preta esparramada nas bordas. Jongin diz que elas são para um livro que ele
está escrevendo. Um romance que um homem esquece tudo o que acontece no fim de cada
dia. Kyungsoo se pergunta onde está o romance nisso. Jongin diz que não há preocupações,
romancistas são escritores de bobagem certificados; só matar alguém e tudo terminará
romântico.
Eles se encontraram pela segunda vez vinte minutos atrás, quando Jongin bateu na porta de
Kyungsoo com uma caixa de Hite e um conjunto entre os dedos frouxos.
- Oi, eu sou Jongin, seu novo vizinho. Nós já nos encontramos antes... - Kyungsoo prontamente
pegou o seu livro e Jongin continuou. - Estou na última página, eu acho. O cara usando um
terno.
Kyungsoo encarou a foto, e desviou o olhar para Jongin, depois. Vinte minutos depois eles
estão: sentados na escada de incêndio, falando sobre grandes filósofos e romances sub-
idealistas que Kyungsoo não pode acompanhar. Suas juntas e ombros estão colidindo, o que
deixa Kyungsoo desconfortável, e mesmo assim, Jongin não parece se importar. Na verdade,
Jongin não parece ser o tipo de cara que se importa com qualquer coisa.
- O que você quer dizer com ”engraçado”?
- Mais importante que isso, como você se sente estando com vinte anos eternamente?
- Bem. - Kyungsoo contemplou.
- Mas não é terrível? Você está parado no tempo, mas o tempo passa. Você não pode se
lembrar de pessoas chegando ou indo embora. O mundo diminui a sua volta enquanto você
está parado no centro. Todos os seus velhos amigos vão embora ou morrem e você não
consegue fazer novos. Você não pode amar. Você não pode odiar.
![Page 7: Anterograde Tomorrow](https://reader035.vdocuments.site/reader035/viewer/2022071921/55cf9bff550346d033a82d8c/html5/thumbnails/7.jpg)
- Então por que acha engraçado?
- É tão triste que chega a ser engraçado. - Jongin encolhe os ombros. - As pessoas costumam
se sentir mal pelos pobres, almas inofensivas como você. Carregando um fardo maior-que-a-
vida com ambições menores-que-a-vida, Como assistir uma formiga morrer embaixo de um
vidro magnífico e guinchando de alegria da tristeza dos outros. É hilário. Bom, eu quero dizer,
eu ganho a vida a explorando para todos, mas é hilário.
Jongin agita o fim do cigarro e eles assistem as cinzas descerem em espiral por três voos de
estrelas juntos. Uma brisa. Jongin inala verão, exala toxinas. Kyungsoo pega seus dedos do pé
e as pequenas ferrugens de aço da escada antes de dizer, decidido, algo que ele não tem
certeza se quer dizer:
- Você parece tão miserável.
- Todos os escritores são.
- Por isso você fuma tanto?
Jongin escreve “inexplicável Bom Samaritano e consequentemente intrometido” na coluna que
indica as características do personagem. Fingindo não enxergar, Kyungsoo o cutuca para a
resposta até Jongin continua com sarcasmo.
- Você não precisa saber. Por que nós não falamos mais sobre como você continua seguindo
em...
- Não. - Kyungsoo o interrompe firmemente. - Não, eu quero saber.
- Olha, o livro é sobre você...
- Essa conversa é sobre nós.
Abaixando a cabeça, Jongin murmura algo sobre pés no saco antes de levantar o rosto
novamente com um sorriso colgate [n/t: rialto, melhor jeito de traduzir “blank smile”, perdão
sweetheart] que revira o intestino de Kyungsoo.
- Ok, sobre nós.
- Eu não vou lembrar amanha, de qualquer maneira. – Kyungsoo o lembra.
Jongin deixa as palavras transbordarem com veemência.
- Eu vou te dizer o que me faz ser miserável. - Jongin olha para algum lugar distante, e então
tudo desmorona. - Eu tenho fibrose pulmonar idiopática. Isso significa que meus pulmões estão
se afogando em muco. Estou morrendo. Isso me torna fudidamente miserável, certo?
![Page 8: Anterograde Tomorrow](https://reader035.vdocuments.site/reader035/viewer/2022071921/55cf9bff550346d033a82d8c/html5/thumbnails/8.jpg)
O barulho dos vendedores na rua, trânsito e crianças brincando de repente se tornam
insuportavelmente brandos. Kyungsoo encara suas juntas e sente o sangue invadindo o seu
rosto.
- Me... Me desculpe... Eu não sabia que você estava...
- Em outras palavras, Deus está me sufocando em câmera lenta. Em três anos o meu coração
estará torto tentando bombear oxigênio suficiente para o meu corpo. Os meus órgãos falharão.
Comer se tornará impossível porque como você faz uma refeição enquanto respira através de
canudos? E por que eu fumo é sua pergunta? Por que eu fumo. Por que.
Kyungsoo assiste suas juntas ficarem ensanguentadas. Ele quer que isso acabe. Ele está
arrependido. Ele está arrependido e ele não entende, mas Jongin não quer que ele entenda.
- Eu fumo pra morrer mais rápido. Eu fumo para que quando eu estiver anestesiado na mesa
do hospital, eu vou morrer com um sussurro em vez de um assobio. – Jongin se distrai, fala de
miséria na forma de um cinza discursivo. – Mas isso não é engraçado, você sabe. Isso é
obviamente triste. Eu sou a merda mais triste no mundo. Miserável, não é? – E um grito
penetrante de uma risada para pontuar a raiva monocromática. – Nah, eu só estou fudendo
com você. É engraçado. É engraçado porque minha vida é cheia disso: você pensa que vai
escapar, até que você cai em si. Vinte e três anos depois, descobre que o caminho mais longo
é o caminho mais curto pra casa, e eu tenho corrido em círculos desde a largada. Que
distúrbio, huh?
Nenhum dos dois ri, embora Jongin bufa quando eventualmente, Kyungsoo termina a conversa
com um gentil “Eu vou esquecer disso amanhã”.
A entrevista dura até as sete. Hoje a noite Kyungsoo canta, como em todas as outras noites,
mas as palavras e melodias saem de sua boca e não de seu coração, e a única coisa que ele
pode se lembrar é de fumaça. A dor liquida infiltrada de Jongin.
Ele vai pra casa meia noite e meia e escreve uma nota na parede, uma nota amarela no centro
de tudo, para ele não esquecer no dia seguinte: “Pegue um brinquedo do trabalho. Deixe-o no
apartamento ao lado. (19 de julho de 2012)”
--
Kyungsoo vai para a casa depois do bar, dois dias depois para encontrar um bicho de pelúcia
Popopo em sua porta. É o mesmo que ele pegou do trabalho, e se ele forçar um pouco, ele
pode ter quase certeza de que ele foi quem colocou os olhos, porque ele é o único que maltrata
a supercola daquela forma. Há um cartão de agradecimento Pororo embaixo que diz, em tinta
preta: “Piedade é um tanto quanto caro para alguém que não se importa”.
Ele não faz ideia do que aquelas palavras significam, mas a angústia em seu coração é muito
alta para ser deixada de lado. De repente, todas as melodias e ritmos se tornaram o mais
esmagador silencio. Mais acidez do que frustração, mais amargura do que solidão. Essa noite,
![Page 9: Anterograde Tomorrow](https://reader035.vdocuments.site/reader035/viewer/2022071921/55cf9bff550346d033a82d8c/html5/thumbnails/9.jpg)
o apartamento ao lado está com um zumbido estridente, risadas irregulares que é como se
alguém soluçasse, uma multidão inteira de vozes e conversas, vagos gritos de Luhan, Sehun e
Jongin embaixo do semi-barulho de nunca-vazias garrafas de scotch e vodka. Enquanto passa
pra tirar o lixo para fora, Kyungsoo tem uma visão rápida de três lindos rostos além das
cortinas, um forte brilho de luzes de lustres, o picante perfume de álcool, colônias e luxo.
Seu próprio apartamento parece desolado a essa hora. Obscuridade engole todas as paredes e
pessoas. Ele reescreve todas as notas adesivas em verde, em vez de azul, e a sexta passou
com os silenciosos cliques de caneta em gel contra o papel neon.
--
Embora Kyungsoo tecnicamente não consiga se lembrar de ter encontrado o escritor
acendendo o que parecia ser seu cinquagésimo cigarro da hora, o cartão em sua mão diz que
eles devem ter tido entrevistas regulares. Mais do que um cartão, ele sabe que se encontraram
antes. E o pensamento não é surpreendedor – nada é, na verdade – talvez durante a bagunça
de neblina fumaça de cigarro tudo tenha saído de foco: xícaras de café, janelas úmidas, as
bordas bagunçadas do caderno de anotações do escritor; isso torna tudo mais lento, entorpece
todos os brilhos em fulgores e todas as pessoas em curvas.
O escritor fuma, apressadamente, e Kyungsoo se sente alheio, aquela sensação de vazio ao
assisti-lo. Como algo rachando lentamente, intensamente, irreversivelmente dentro dele.
A cafeteria durante a tarde de 21 de julho é um estrondo baixo do tinido de xícaras de
porcelana, o continuado zumbido de estudantes cansados, chantilly murmurando em
cappuccinos. Não é particularmente barulhento, mas é do tipo que enche alguém. Afoga
lentamente e deixa nada exceto garranchos e bolhas quebrando a superfície.
Kyungsoo começa a se questionar se todos os escritores são assim, com as olheiras ferindo os
olhos e aspecto entre amarelo e branco e ocasionalmente contração de sobrancelhas. A
pergunta desmorona assim que o escritor esfrega suas juntas e pega o lenço de Kyungsoo.
Uma longa e severa linha de um par de olhos para outro.
- Você está bem? – O escritor, que se apresentou como Jongin, pergunta alegremente.
Jongin não parece ter tempo ou paciência para aceitar outras alternativas, então Kyungsoo
apenas acena com a cabeça.
- Sim, estou bem.
- Me fale sobre o acidente, há quatro anos. Ou melhor, ontem, como voce se lembra. – Jongin
incita. Há um pouco de ansiedade em sua voz. Kyungsoo não pode evitar olhar as bandagens
feias sobre os nós dos dedos. As roxas e verdes manchas em torno de seu punho. E de
repente ele se pergunta se é uma coisa de escritores, aqueles olhos nervosos, juntas
sangrentas e recuos inconscientes.
![Page 10: Anterograde Tomorrow](https://reader035.vdocuments.site/reader035/viewer/2022071921/55cf9bff550346d033a82d8c/html5/thumbnails/10.jpg)
- Foi um acidente típico. – Kyungsoo diz. Embora ele não consiga se lembrar dos dias terem
passado a partir daquele acontecimento em particular, de alguma forma não existem mais
surpresas. – Eu estava indo para casa da fabrica – a mesma que eu trabalho agora – e fui
atropelado por um caminhão de frutas. Ele estava carregando maçãs. Das vermelhas.
- Você sempre trabalhou nessa fábrica?
- Desde que eu tenho dezoito anos. Eu comecei a trabalhar lá desde que eu terminei o ensino
médio. Minha mãe morreu e meu pai estava doente, então eu tive que lidar com isso...
- Hm, ok. – Jongin interrompe. Kyungsoo pode ver a irritação em seu rosto e a vontade de
protestar, mas não, não é uma típica historia sobre apenas mais uma criança bancando o herói.
É uma historia sobre uma família, entusiasmo, biscoitos merecidos ao lado da cama e contar as
gotas de IV e orando por felicidade para personagens fictícios.
Mas Jongin não está com humor para cogitar nenhum esclarecimento.
- Então se voce não fosse um ser humano responsável, voce teria se tornado um cantor?
- Eu acho que sim.
- E então você foi atropelado por um caminhão. Tremenda sorte. – Jongin escreve alguma
coisa fora de seu caderno com seus garranchos. Furioso.
Kyungsoo morde o lábio inferior, um péssimo hábito.
- Você... Você está irritado?
- Não. – Jongin estala, uma resposta muito rápida. Kyungsoo fica quieto enquanto Jongin lê a
próxima pergunta, dificilmente olhando para outro lugar além de sua caneta.
- Como voce continua seguindo sua vida? Todos os detalhes.
- Normalmente, eu tiro fotos das novas pessoas que encontro, coloco-as em um caderno e listo
o que eu aprendi sobre elas. Eu releio no inicio de cada dia e atualizo no fim. Outras coisas, eu
escrevo em minhas paredes, e no meu quadro. Os acontecimentos temporários eu coloco em
notas adesivas e as colo em qualquer lugar. Normalmente em minhas paredes. – Kyungsoo
bebe um pouco de seu café.
- Você acha que tem que reaprender coisas? Tipo como caminhar para a cafeteria hoje,
amanha você se esquecerá como vir aqui de novo?
- Bem, não. Eu posso me lembrar das respostas. Eu só não me lembro de ter aprendido.
Amanhã eu não me lembrarei de ter caminhado até aqui com você. Eu só me lembrarei onde é
o lugar.
![Page 11: Anterograde Tomorrow](https://reader035.vdocuments.site/reader035/viewer/2022071921/55cf9bff550346d033a82d8c/html5/thumbnails/11.jpg)
- Conveniente.
- Você não está mesmo chateado?
- Não.
- Mesmo?
- Escute. Nós estamos escrevendo sobre você. Um romance sobre você. Não vamos falar
sobre mim, ok?
- Por que você está chateado?
Os ombros de Jongin cedem e ele deixa de lado o seu caderno, caneta, tudo com barulho.
Raspando grosseiramente as mãos, ele encara Kyungsoo com uma exasperação desgastada.
- Questões. Ok? Pessoas com memórias atuais têm questões.
Kyungsoo não concorda com o jeito impaciente de Jongin.
- Se você precisar de alguém pra conversar sobre suas questões, você sabe que eu...
- Você é a pessoa perfeita para despejar tudo em cima, claro, porque nada nunca vai ser um
fardo já que voce não se lembra de merda nenhuma, certo?
Há um sentimento vago em Kyungsoo de que ele talvez já tenha escutado essas palavras
várias vezes. Talvez eles tivessem estado em uma situação como essa antes: Jongin frustrado
na barreira da arte e da realidade, Kyungsoo confuso e preocupado, tentando ajudar Jongin
sem nenhuma ideia de como fazê-lo.
- Me desculpe. – Ele diz, finalmente, quando Jongin para de procurar por oxigênio. Ele não
para de observar como os dedos de Jongin tremem. – Você está certo. Me desculpe se eu lhe
perguntei isso antes e eu só estou te lembrando de algo indesejável, eu realmente não quis...
- É sobre mãos. – Jongin de repente decide falar. Demora um longo tempo para Kyungsoo
reconhecer a voz de Jongin porque é baixa, monótona e estranhamente quieta. Não é nada
parecida com a normal e difunde através do ar como éter.
- Escute. Minha vida é sobre mãos. É sobre empurrar as suas mãos rodeadas de diamantes
abaixo da garganta. É sobre retalhar minha alma com um par de luvas caras. É tudo sobre
mãos. Unhas desenhando sangue. Digitais borradas de tinta nas coxas. Articulações
esmagando reflexões atrás de uma fina camada de tinta e vidro. Mãos, mãos, mãos.
Um pequeno gole de café e Kyungsoo apresenta um sorriso irônico.
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- Eu realmente continuo sem...
- Eu estou morrendo, ok? - Kyungsoo sente o seu coração pesar quando Jongin continua, com
o entorpecimento de um homem que anunciou a mesma coisa milhares de vezes até agora. –
Eu estarei morto em três anos, talvez dois. Provavelmente menos. Mas você sabe, pessoas
não vão me amar quando eu estiver morto. Isso é um fato. Pessoas talvez tenham dó de mim.
Talvez me adorem. Talvez digam que eu fui um gênio, se deleitarão com o meu grande
desempenho, com a arte que foi a minha vida. E o que eu faço com isso tudo? Eu posso
vender? Eu posso ter um futuro e uma casa branca e limpa e discutir sobre quais serão as
plantas que colocarei no jardim da frente com as merdas das suas compaixões?
Os olhos de Jongin estão vermelhos. Seus lábios estão brancos. O silêncio é negro.
- Você sabe o que eu penso. – Kyungsoo não tem a menor ideia do que ele diz, somente um
borrão de que ele não deveria dizer aquilo. Mas as palavras vêm sem que ele pudesse
controlá-las. – Acho que você só está com medo.
Jongin não fala por um longo tempo, e quando ele diz, ele não tira os olhos de seu caderno
mais.
- Então se você pode conservar memórias de como você faz algo, você também preserva
sentimentos? Se você se apaixonar por uma mulher hoje, você continuaria a amando amanhã?
- Eu não sei. – Kyungsoo mordisca o seu lábio inferior mais uma vez. – Mas eu imagino que se
eu não posso me lembrar de fazer nada com ela, então eu não poderia realmente... Você não
pode amar alguém que você não tem memória alguma. Certo? O amor não é baseado em
memórias e ações?
- Sim.
Kyungsoo se inquieta com seus braços.
- Você continua chateado.
- Não.
- Você... Eu... não sou seu amigo... Ou seu terapeuta... Ou... Eu acho que eu não posso nem
me qualificar como conhecido, mas... Jongin. – Kyungsoo gagueja, incerto de novo do que ele
diz. – Você pode falar comigo. Eu não vou te julgar. Eu não posso falar que entendo tudo, mas
eu... Só... Você não se sentiria melhor se...
- Cala a boca. – Jongin rebate. Seus olhos continuam fixados em queimar buracos em seu
caderno. – Não me dê um sermão. Cale a boca. Cale. A. Boca.
- Não, Jongin eu só...
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- Você não tem direito algum de dizer o que me faz sentir melhor porque você não entende dor,
entende? O que te faz pensar que poderia me julgar? Você não pode nem amar. Você mesmo
disse isso. Você não pode amar, então não pode se magoar, pode? Amanhã você vai acordar e
tudo estará perfeito. Tudo estará como sempre foi e sabe, você já pensou que você só é feliz
todo dia porque você se esqueceu de todas as vezes que você machucou alguém? Você pensa
sobre isso? E se você machucou alguém ontem? Pelo menos as pessoas normais tem a
decência de se sentir culpadas. Você não pode sentir nada, você não pode entender merda
alguma Do Kyungsoo, porque você... Você. É. Apenas. Um cadáver ambulante.
Quando Kyungsoo sente algo em seus olhos, Jongin já havia jogado seu caderno longe e
bebido todo o café.
E então o caderno não tem nada escrito, apenas linhas bagunçadas de tinta em páginas
rasgadas.
--
- Você parece deprimido. – Minseok comenta um dia, uma hora no fim de julho, quando feijões
vermelhos não são mais suficientes para exaltar. Enquanto eles esperam os músicos
desempacotarem seus instrumentos e harmônica, ele se vira para Kyungsoo com as
sobrancelhas arqueadas. – O que aconteceu?
Kyungsoo franze as sobrancelhas, pensa em todo o dia desde que ele acordou essa manha e
balança a cabeça.
- Nada. Eu tive um dia normal. Por que?
- Eu não sei. – Minseok encolhe os ombros. – Você só parece um pouco sério.
Quando Kyungsoo morde seu lábio e pondera porque ele poderia parecer sério quando todos
haviam sido perfeitamente agradáveis, Minseok conversa com Zitao sobre como o escritor rico
não aparecia no bar há dias.
Eles cantam uma música comum, umas poucas linhas improvisadas antes de Kyungsoo
perceber que Minseok estava certo. Seu coração não estava na música.
--
A noite lava a maré de zumbidos de motos e conversas sobre sua figura imóvel. A meia noite
se passou horas atrás, e seus olhos estão queimando fatigados, mas Kyungsoo simplesmente
não conseguiu dormir, então aqui ele está, mordendo seu lábio inferior e olhando através de
seu caderno.
Em algum momento antes dele perceber, ele começa a contar o número de novas fotos desde
a última riscada. E, para seu desapontamento, a maioria dos seus velhos amigos do ensino
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médio se mudaram ou se afastaram, e ele não fez nenhuma nova anotação em nenhum deles
desde anos atrás. Ele tenta discar o número velho de Baekhyun e obviamente, está fora de
serviço. Está fora de serviço provavelmente há meses, anos. Quanto tempo?
- Ei. – Uma voz sair da escuridão. Kyungsoo se afasta um metro e meio e quase grita, mas de
alguma forma a pessoa parada na varanda vizinha lhe parece familiar. Ele tem um sorriso
estranho, como se doesse fisicamente mover seu rosto daquela forma. - O que você está
fazendo aqui?
Kyungsoo hesita em contar a verdade, mas diz de qualquer forma.
- Contando o número de pessoas que eu perdi o contato.
- E?
- Tem um monte. – E ele se sente péssimo. O distante estrondo de amizade, risadas e
companheirismo, coisas que ele não possui mais, fez suas lágrimas começarem a cair e ele
desvia o olhar novamente para as fotos riscadas no livro. Os velhos sorrisos desaparecendo e
a dor escoando em uma molécula por vez. Ele não quer chorar, e ele não sabe por que ele está
chorando. – Ontem... Eu... Eu era amigo de todos eles, mas... Aqui diz que eles se afastaram?
Eles foram embora? Por quê? Eu sou mesmo sozinho?
O homem na varanda vizinha respira fundo escondendo uma risada estridente.
- Sim, você é extremamente sozinho. Todos nós somos, a diferença é que você não vive o
suficiente para perceber.
Kyungsoo apoia a cabeça em seu braço e chora como nunca havia chorado antes, e ele sabe
disso porque esse não é o tipo de dor que pode ser esquecida no dia seguinte.
Ele não vê a expressão pálida no rosto do outro homem, não escuta o cigarro caindo dos
dedos do homem indo em direção a grama abaixo.
--
Na manhã seguinte, Kyungsoo acorda com os olhos inchados e um gosto amargo em sua
boca. Há um caderno em seus braços, papeis cortados em seus dedos e a parede cheia de
notas verdes o deixa doente de coragem.
--
- Eu não sou um ser humano muito bom, eu não tenho sido um. – Um estranho no elevador
começa a falar quando Kyungsoo entra. Kyungsoo quase recua, mas de alguma forma ele não
está surpreso por ouvir aquela voz. O timbre baixo e as pausas entre cada sílaba. Um tipo de
rancor e aversão, uma tímida ingenuidade apesar das palavras. – Eu tenho machucado todo
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mundo que realmente tentou por mim. Até mesmo eu. Eu sou um covarde, e eu descarrego
isso em outras pessoas porque... Eu tenho medo de admitir.
Kyungsoo acena com a cabeça e compreende tudo sobre esse homem antes dele—a gravada
afrouxada, as grandes olheiras embaixo de seus olhos e as bochechas caídas, a corcunda, as
elevações doloridas em seu peito, lutando contra uma blusa branca. De alguma forma seus
olhos inchados e o gosto de bateria acida que não saiu com canecas de leite desapareceram
facilmente. Seu coração aperta e ele toca o braço do homem.
- Você vai ficar bem.
- Meu nome é Jongin.
Kyungsoo pode não ter ouvido a última sílaba. O nome é familiar em seus lábios como se
ecoasse neles.
- Jongin.
- Eu sou um escritor. – Jongin diz, e as portas do elevador deslizam ao abrir como se fosse um
sinal. Kyungsoo não se move. Eles ficam quietos, o barulho do ventilador e suas desiguais e
barulhentas respirações.
E como as portas se fecharam novamente, Jongin conta uma história sobre um garoto que se
apaixonou por dançar, e caiu forte demais, rápido demais. Uma história sobre alguém nomeado
Jongin que foi pisoteado por expectativas e pressão, desistiu de si mesmo, parou de amar as
pessoas, ele mesmo, paixão, aspirações. Não é uma longa história, e termina com uma nova
história.
- Então ele se tornou um escritor, escreveu sobre aquele dançarino que ele amava e jogou fora.
A inocência se desintegrou em suas mãos, inevitavelmente. Pessoas acumuladas e pagando
pela festa de compaixão o tornaram rico, famoso e triste. Alguém o chamou de miserável uma
vez, e ele escreveu mais sobre sonhos corroídos, desespero e assistir a lua dos fundos, e isso
o tornou mais rico, mais triste, mais famoso, e eventualmente, Deus decidiu colocá-lo fora da
miséria. Mas ele tinha que escrever mais um livro, porque ele se tornou o tipo de bastardo que
vive na miséria. Tinha a dependência parasita de sugar a agonia pra fora dos ossos dos outros.
As portas do elevador se abrem. Dessa vez Kyungsoo dá um passo para frente e puxa Jongin
atrás de si. Eles caminham de uma forma ritmada.
- E teve uma pessoa particularmente interessante que ele conheceu e que praticamente
implorou para que escrevesse um livro sobre ele. Ele tinha tudo para ser triste, mas ele era tão
feliz perseguindo sonhos tão impossíveis. Ele trabalhava em uma fábrica e queria ser cantor-
mesmo não podendo se lembrar de merda nenhuma. Ele tinha amnésia e foi forçado a se
abandonar no fim de cada dia e quem se recusou obedecer. Alguém que lutou contra a
esmagadora perda, para um fim-morto. Isso foi um pouco engraçado, como assistir um hamster
correndo para a morte em uma roda, para um fim que não existe. Eles se conheceram em um
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dia de julho. O dia que o escritor descobriu que ele morreria. Ele convidou esse cara para sua
casa, onde ele virou um ventilador gigante e deixou nevar dinheiro pelas janelas—grandes
notas nítidas. Aquele dia o escritor estava com raiva do mundo, e com inveja, ele quis mostrar
para o amnésico que ele nunca alcançaria seus sonhos. Que se tornar um cantor era a ideia
mais estúpida do mundo inteiro para alguém que não podia nem viver, não podia nem
experimentar o amor, ou perda, ou agonia, ou felicidade. Que ele se tornar um cantor era como
um robô falando de escrever canções de amor. Absurdo e hilário. Jongin quis mostrar pro como
ele era rico, como incrível a vida poderia ser depois de se perder e desistindo de tudo. Ele era
alguém que se importava mais com proteger o orgulho inútil do que com a sua própria vida. As
pessoas dizem que grandes festas com torres de champagne e fontes de chocolate fazem uma
pessoa feliz, então Jongin repetiu várias dessa, e as pessoas diziam que ele era feliz. Ele era
extremamente feliz e... O amnésico não conseguia enxergar. Aqui ele estava, o homem que
não conseguia nem se lembrar de perder seus melhores amigos e pais, aquele cara que viveu
fora de dicas e contou moedas, o mais patético tipo de verme, e ele não conseguia entender
quando a fama foi jogada em sua cara. Glória, fama, riqueza, poder, status. Tudo que Jongin –
que eu – lutei para conseguir.
Jongin passa a mão pelo seu cabelo, tremendo apesar da exaltação.
- Isso foi quando eu reconheci que não era porque você era idiota. E sim porque eu, Kim Jongin
era estúpido. O tempo inteiro eu estava apenas tentando provar para mim mesmo que eu era
feliz, que jogar fora tudo o que eu sempre quis ser, que nadar em desespero para fazer um
show fora de mim, era a coisa certa a fazer. Eu me mudei para a merda do apartamento que
você morava não por inspiração, mas sim para assistir você sofrer. Para confirmar que você
estava sofrendo. Eu assisti você cantar noite por noite e rezei para que você saísse do tom e
se afogasse em uma banheira de cerveja. Eu tentei te tirar do seu casulo de felicidade,
porque... Porque... Eu... Eu só queria alguém comigo. Na areia movediça. Mas você não
afundou. Eu estava errado. Eu estou errado, e sou um tremendo estúpido.
- Mas você não é estúpido – Kyungsoo interrompe.
Eles estão apoiando-se no corrimão na pequena sacada de Kyungsoo. O menor está dobrado
no metal avaliando as sombras abertas sobre a grama, com os braços dobrados embaixo de
seu peito. Jongin está próximo dele, escorado em seus cotovelos e de frente para o outro lado,
pernas dobradas e o olhar fixo para as escadas quando Kyungsoo sussurra:
- Você só está perdido.
Jongin olha para ele pela primeira vez, realmente, ignorando o sarcasmo. A luz da lua ilumina
seu rosto, realçando todas as suas sobras e a sua pele, e Kyungsoo pensa em Jongin
notavelmente frágil dessa forma, notavelmente lindo.
- Eu vou me perder ainda mais. Vou me perdendo, perdendo, e aí...” – Jongin sussurra. – Um
dia, puf, estarei morto. Serei para o mundo como essas fotos no seu caderno são para você. O
mundo não vai se lembrar de ter me perdido.
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A voz de Kyungsoo racha por todo o lugar e as unhas arranham a ferrugem quando ele
finalmente fala.
- Não, não... Não vai “puf”.
Jongin bufa, desconsiderado tipo de zombaria, são apenas palavras, e faz Kyungsoo querer
agarrá-lo pelos ombros e gritar que ele se importa, que ele realmente quer dizer isso – Do
Kyungsoo não vai permitir que Kim Jongin faça “puf”. Mesmo ele não tendo ideia do motivo de
se importar, e Jongin pode estar certo. Ele pode estar apenas dizendo. Ele pode não se
importar. Ele não conhece realmente esse Kim Jongin, apesar de tudo, não tem nenhuma
memória do que aconteceu entre os dois.
- Eu só realmente quero me lembrar de você, por pelo menos um minuto extra.
Mas se fosse simples assim, seu peito não estaria doendo como dói agora.
Seus ombros se tocam um pouco, mas nenhum dos dois se move.
(história original: http://changdictator.livejournal.com/4531.html)