análise do ambiente organizacional de um de confecção do...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Engenharia Mecânica FRANCISMILTON TELES Análise do Ambiente Organizacional de um Cluster de Confecção do Vestuário em Fortaleza CE: Potencialidades e Obstáculos CAMPINAS 2020

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Mecânica

FRANCISMILTON TELES

Análise do Ambiente Organizacional de um Cluster

de Confecção do Vestuário em Fortaleza – CE:

Potencialidades e Obstáculos

CAMPINAS

2020

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FRANCISMILTON TELES

Análise do Ambiente Organizacional de um Cluster

de Confecção do Vestuário em Fortaleza – CE:

Potencialidades e Obstáculos

Tese de Doutorado apresentada à Faculdade de

Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de

Campinas como parte dos requisitos exigidos para

obtenção do título de Doutor em Engenharia

Mecânica na Área de Materiais e Processos de

Fabricação.

Orientador: Prof. Dr. Rosley Anholon

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO

FINAL DA TESE DEFENDIDA PELO ALUNO

FRANCISMILTON TELES E ORIENTADA

PELO PROF. DR. ROSLEY ANHOLON.

CAMPINAS

2020

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA

TESE DE DOUTORADO

Análise do Ambiente Organizacional de um Cluster

de Confecção do Vestuário em Fortaleza – CE:

Potencialidades e Obstáculos

Autor: Francismilton Teles

Orientador: Rosley Anholon

A Banca Examinadora composta pelos membros abaixo aprovou esta Tese:

Prof. Dr. Rosley Anholon, Presidente

Faculdade de Engenharia Mecânica / Universidade Estadual de Campinas

Prof. Dr. Olívio Novaski

Faculdade de Engenharia Mecânica / Universidade Estadual de Campinas

Prof. Dr. Carlos Raul Etulain

Faculdade de Ciências Aplicadas / Universidade Estadual de Campinas

Prof. Dr. Armando Ítalo Sette Antonialli

Departamento de Engenharia Mecânica / Universidade Federal de São Carlos

Prof. Dr. Timóteo Ramos Queiroz

Faculdade de Ciências e Engenharia / Universidade Estadual Paulista - Tupã

A ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida

acadêmica do aluno.

Campinas, 27 de março de 2020.

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DEDICATÓRIA

Com amor e carinho à

Heloisa (esposa, companheira e exemplo de superação);

Meus filhos Levi, Ana e Vivian, que me concederam o

título que mais estimo, o de simplesmente “Pai”.

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AGRADECIMENTOS

Primeiro de tudo, agradeço ao meu único e eterno Deus, que sempre operou milagres em minha

vida e que no desenvolvimento desta tese me concedeu as forças necessárias para sua conclusão;

À família que construí ao lado de minha querida esposa Heloisa, gerando nossos amados filhos,

Levi, Ana e Vivian;

Aos meus pais, Sr. Milton (in memoriam) que me ensinou a trabalhar logo cedo e Sra. Irene (in

memoriam) com quem pouco convivi, mas me recordo de sua garra e determinação;

Aos meus irmãos que me sustentam em amor, Kátia, Ronaldo, Ricardo e Larissa;

A todos os meus familiares, são tantos e precisaria de muitas páginas para mencioná-los, mas

quero destacar duas pessoas fundamentais nesta fase, minha prima e madrinha, Doroti, que

torceu muito para que eu concluísse essa tese, e ao meu tio, o Sr. Teles, que foi um dos

responsáveis pelo recomeço em uma fase de minha vida;

À Universidade Federal do Piauí - UFPI, a qual reconheço pelo investimento em meu

desenvolvimento profissional, proporcionando recursos para que eu concluísse esse trabalho;

À Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, em especial à Faculdade de Engenharia

Mecânica – FEM, com todos os seus colaboradores e professores, que me acolheram de forma

espetacular e onde me senti em casa;

Aos meus companheiros do Dinter, professores da UFPI, com quem compartilhei momentos de

alegria e de superação;

Aos meus amigos do curso de Engenharia de Produção da UFPI, em especial Geordy e Núbia,

os quais lutaram comigo neste mesmo objetivo;

Aos meus alunos Amanda e Gabriel, que foram muito prestativos e persistentes na ajuda com

a coleta de dados;

Aos especialistas ligados às instituições SENAI, SEBRAE, UFC, SINDCONFECÇÕES, SDE

e SCIDADES, que foram muito solícitos em participar das entrevistas e aos empresários e

gestores das empresas de confecção que investiram seu valioso tempo respondendo os

questionários;

Aos Professores, Dr. Olívio Novaski, Dr. Carlos Raul Etulain, Dr. Armando Ítalo Sette

Antonialli e Dr. Timóteo Ramos Queiroz, integrantes da banca examinadora, agradeço as

críticas e valiosas sugestões;

Por fim, agradeço ao meu orientador, Dr. Rosley Anholon, que acredito ter sido uma

providência divina, sempre me incentivando e pelo modo como pudemos nos relacionar de

forma amigável e profissional.

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“Consagre ao Senhor tudo o que você faz, e os seus planos

serão bem-sucedidos”.

Provérbios 16:3

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RESUMO

O Estado do Ceará é um dos maiores polos de confecção do vestuário do Brasil, sendo

Fortaleza, sua capital, a cidade mais representativa, concentrando aproximadamente 72% das

empresas do Estado. Diante deste grande volume de empresas, com foco em um mesmo

segmento, surge a indagação se este aglomerado consegue proporcionar vantagens

significativas em comparação com empresas que atuam isoladamente, tendo em vista que a

literatura apresenta casos, desde a década de 1980, onde determinadas regiões se destacam

diante da forma como suas organizações conseguem se sobressair por estarem próximas

geograficamente e pelo modo como ocorre a interação entre os diversos atores da localidade.

Desde os primeiros estudos sobre estas concentrações empresariais, diversas foram as

nomenclaturas utilizadas, entretanto, nesta pesquisa será adotado o termo cluster, formulado

por Porter (1998). Portanto, o objetivo desta tese foi analisar o ambiente organizacional de um

cluster de confecção do vestuário do município de Fortaleza - CE, destacando seus obstáculos

e potencialidades. Após uma extensa investigação na literatura sobre o tema, o trabalho

percorreu três etapas: a primeira procurou, de forma quantitativa, identificar a região de

Fortaleza mais especializada no setor de confecção; a segunda etapa analisou, de modo

qualitativo e exploratório, a percepção de especialistas conhecedores do assunto e ligados a

importantes instituições do município, a fim de obter uma visão preliminar do setor de

confecção; e a terceira etapa, com base no parecer dos especialistas, investigou, de forma

quantitativa e descritiva, a percepção dos empresários e gestores sobre o cluster identificado na

primeira etapa. Como principais resultados, se verificou que há um aglomerado que possui um

diferencial superior às demais empresas do setor, com gestores mais qualificados e produtos

mais elaborados; como potencialidades, foi percebida a presença de economias externas como

abundância de mão de obra, de fornecedores e de consumidores; entre os principais obstáculos

destacam-se o desestímulo dos jovens em ingressar no setor devido aos baixos salários e

ambientes de trabalho desfavoráveis, havendo também problemas decorrentes do grande

número de empresas informais e de intensa falsificação de produtos. A conclusão é que o cluster

possui externalidades que servem como atrativo para a instalação de empresas na região,

entretanto perde na eficiência coletiva pela baixa interação entre os diversos atores, havendo

poucas ações de cooperação, que é o objetivo central de um cluster. Há indícios de que seja

possível fomentar a cooperação porque os empresários apontaram interesse em tais ações, mas

informaram que falta uma governança com o apoio de instituições públicas e privadas para

conduzir este processo.

Palavras chave: Arranjos Produtivos Locais. Cluster. Confecção do vestuário. Obstáculos.

Potencialidades.

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ABSTRACT

The State of Ceará is one of the largest clothing manufacturing centers in Brazil, with Fortaleza,

its capital, being the most representative city, concentrating approximately 72% of the State's

companies. Given this large volume of companies, focused on the same segment, the question

arises whether this cluster can provide significant advantages compared to companies that

operate in isolation, considering that the literature has presented cases since the 1980s, where

certain regions stand out in the face of how their organizations manage to stand out for being

geographically close and for the way in which interaction between the various actors in the

locality occurs. Since the first studies on these business concentrations, several nomenclatures

were used, however, in this research the term cluster, formulated by Porter (1998), will be

adopted. Therefore, the objective of this thesis was to analyze the organizational environment

of a clothing manufacturing cluster in the city of Fortaleza - CE, highlighting its obstacles and

potential. After extensive research in the literature on the subject, the work went through three

stages: the first sought, in a quantitative way, to identify the region of Fortaleza that is most

specialized in the clothing sector; the second stage analyzed, in a qualitative and exploratory

way, the perception of experts who knew the subject and linked to important institutions in the

municipality, in order to obtain a preliminary view of the clothing sector; and the third stage,

based on the experts' opinion, investigated, in a quantitative and descriptive way, the perception

of entrepreneurs and managers about the cluster identified in the first stage. As main results, it

was found that there is a cluster that has a differential superior to other companies in the sector,

with more qualified managers and more elaborated products; as potentialities, the presence of

external economies was perceived as an abundance of labor, suppliers and consumers; Among

the main obstacles are the discouragement of young people to enter the sector due to low wages

and unfavorable work environments, and there are also problems arising from the large number

of informal companies and the intense counterfeiting of products. The conclusion is that the

cluster has externalities that serve as an attraction for the installation of companies in the region,

however it loses in collective efficiency due to the low interaction between the various actors,

with few cooperation actions, which is the central objective of a cluster. There are indications

that it is possible to foster cooperation because entrepreneurs have shown interest in such

actions, but they informed that there is a lack of governance with the support of public and

private institutions to conduct this process.

Keywords: Local Productive Arrangements. Cluster. Manufacture of clothing. Obstacles.

Potentialities.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Estruturas de redes .................................................................................................... 36

Figura 2 - Curva de localização e área de concentração - cálculo Gini Locacional ................. 70

Figura 3 - Origem da abordagem proposta. .............................................................................. 78

Figura 4 - Mapa de localização da indústria de confecção em Fortaleza. ................................ 82

Figura 5 - Mapa de localização da indústria e centros comerciais de Fortaleza. ..................... 83

Figura 6 - Estrutura da cadeia têxtil e de confecções. .............................................................. 85

Figura 7 – Divisão do setor de vestuário segundo CNAE 2.0 .................................................. 86

Figura 8 – Divisão do setor de vestuário segundo NCM .......................................................... 87

Figura 9- Perfil do setor têxtil e de confecções ........................................................................ 89

Figura 10- Balança comercial brasileira – setor têxtil e de confecções. ................................... 90

Figura 11 – Processo de produção da “modinha” e seus subsistemas ...................................... 94

Figura 12 – Classificação da pesquisa ...................................................................................... 96

Figura 13 – Delineamento da pesquisa ................................................................................... 101

Figura 14 – Relação de trabalhos pelo ano de publicação ...................................................... 102

Figura 15 – Trabalhos com menos e mais de 10 anos de publicação. .................................... 103

Figura 16 – Quantidade e tipos de trabalhos utilizados .......................................................... 103

Figura 17 – Passos para identificação de aglomerados .......................................................... 105

Figura 18 – Passos para o delineamento da análise qualitativa .............................................. 109

Figura 19 - Exemplo de conexões de rede proporcionada pelo Atlas.Ti V.6 ......................... 116

Figura 20 - Mapa das regionais de Fortaleza. ......................................................................... 125

Figura 21 – Classificação dos bairros por importância de aglomeração ................................ 127

Figura 22 - Mapa de localização da indústria de confecção em Fortaleza. ............................ 129

Figura 23 - Aglomerados de empresas de confecção em Fortaleza. ...................................... 129

Figura 24 - Conexão de redes para os 18 fatores .................................................................... 162

Figura 25 – Localização dos respondentes da pesquisa. ........................................................ 173

Figura 26 - Cargos ocupados pelos respondentes. .................................................................. 175

Figura 27 - Sexo dos respondentes. ........................................................................................ 175

Figura 28 - Idade dos respondentes. ....................................................................................... 176

Figura 29 - Nível de escolaridade dos respondentes. ............................................................. 177

Figura 30 - Linhas de produtos do aglomerado. ..................................................................... 178

Figura 31 - Etapas do processo produtivo realizadas. ............................................................ 179

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Figura 32 - Empresas que terceirizam etapas do processo produtivo..................................... 179

Figura 33 - Etapas terceirizadas pelas empresas. ................................................................... 180

Figura 34 - Empresas com ações cooperativas ....................................................................... 184

Figura 35 - Convidados para realização de ações conjuntas .................................................. 185

Figura 36 - Instituições promotoras de associações empresariais. ......................................... 185

Figura 37 - Percentual de empresas afiliadas a algum tipo de associação. ............................ 186

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Graus de desenvolvimento de clusters................................................................... 30

Quadro 2 – Fatores que impactam no desempenho de clusters ................................................ 38

Quadro 3 – Tipos de governança .............................................................................................. 46

Quadro 4 - Classificação da importância dos aglomerados. ..................................................... 79

Quadro 5 - Aglomerações com importância em pelo menos um dos anos-base. ..................... 79

Quadro 6 - Estrutura detalhada CNAE 2.0 ............................................................................. 107

Quadro 7 – Objetos de estudo para análise qualitativa ........................................................... 110

Quadro 8 – Relação de participantes da pesquisa................................................................... 111

Quadro 9 - Símbolos utilizados no software .......................................................................... 116

Quadro 10 – Tempos e números de páginas transcritas ......................................................... 131

Quadro 11 – Decomposição dos códigos por família e questões do protocolo de pesquisa .. 132

Quadro 12 - Fragmentos de texto por instituição e por código .............................................. 133

Quadro 13 - Principais resultados encontrados família perspectivas de clusters. .................. 134

Quadro 14 - Principais resultados encontrados família desempenho cluster ......................... 138

Quadro 15 – Rankeamento pelo número de fragmentos das principais potencialidades. ...... 141

Quadro 16 - Rankeamento pelo número de fragmentos dos principais obstáculos. ............... 143

Quadro 17 – Pontos contraditórios entre potencialidades e obstáculos identificados ............ 144

Quadro 18 – Agrupamento automático por cores considerando citações e vínculos ............. 163

Quadro 19 – Apresentação dos links entre os fatores. ............................................................ 164

Quadro 20 - Comparação sobre potencialidades do cluster. .................................................. 189

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LISTA DE TABELAS Figura 1- Estruturas de redes .................................................................................................... 36

Figura 2 - Curva de localização e área de concentração - cálculo Gini Locacional ................. 70

Figura 3 - Origem da abordagem proposta. .............................................................................. 78

Figura 4 - Mapa de localização da indústria de confecção em Fortaleza. ................................ 82

Figura 5 - Mapa de localização da indústria e centros comerciais de Fortaleza. ..................... 83

Figura 6 - Estrutura da cadeia têxtil e de confecções. .............................................................. 85

Figura 7 – Divisão do setor de vestuário segundo CNAE 2.0 .................................................. 86

Figura 8 – Divisão do setor de vestuário segundo NCM .......................................................... 87

Figura 9- Perfil do setor têxtil e de confecções ........................................................................ 89

Figura 10- Balança comercial brasileira – setor têxtil e de confecções. ................................... 90

Figura 11 – Processo de produção da “modinha” e seus subsistemas ...................................... 94

Figura 12 – Classificação da pesquisa ...................................................................................... 96

Figura 13 – Delineamento da pesquisa ................................................................................... 101

Figura 14 – Relação de trabalhos pelo ano de publicação ...................................................... 102

Figura 15 – Trabalhos com menos e mais de 10 anos de publicação. .................................... 103

Figura 16 – Quantidade e tipos de trabalhos utilizados .......................................................... 103

Figura 17 – Passos para identificação de aglomerados .......................................................... 105

Figura 18 – Passos para o delineamento da análise qualitativa .............................................. 109

Figura 19 - Exemplo de conexões de rede proporcionada pelo Atlas.Ti V.6 ......................... 116

Figura 20 - Mapa das regionais de Fortaleza. ......................................................................... 125

Figura 21 – Classificação dos bairros por importância de aglomeração ................................ 127

Figura 22 - Mapa de localização da indústria de confecção em Fortaleza. ............................ 129

Figura 23 - Aglomerados de empresas de confecção em Fortaleza. ...................................... 129

Figura 24 - Conexão de redes para os 18 fatores .................................................................... 162

Figura 25 – Localização dos respondentes da pesquisa. ........................................................ 173

Figura 26 - Cargos ocupados pelos respondentes. .................................................................. 175

Figura 27 - Sexo dos respondentes. ........................................................................................ 175

Figura 28 - Idade dos respondentes. ....................................................................................... 176

Figura 29 - Nível de escolaridade dos respondentes. ............................................................. 177

Figura 30 - Linhas de produtos do aglomerado. ..................................................................... 178

Figura 31 - Etapas do processo produtivo realizadas. ............................................................ 179

Figura 32 - Empresas que terceirizam etapas do processo produtivo..................................... 179

Figura 33 - Etapas terceirizadas pelas empresas. ................................................................... 180

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Figura 34 - Empresas com ações cooperativas ....................................................................... 184

Figura 35 - Convidados para realização de ações conjuntas .................................................. 185

Figura 36 - Instituições promotoras de associações empresariais. ......................................... 185

Figura 37 - Percentual de empresas afiliadas a algum tipo de associação. ............................ 186

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABVTEX - Associação Brasileira do Varejo Têxtil

ADECE - Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará

APL – Arranjo Produtivo Local

BNB - Banco do Nordeste

BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

CAAE - Certificado de Apresentação para Apreciação Ética

CE – Capital Empreendedor

CEP - Comitê de Ética em Pesquisa

CGL – Coeficiente Gini Locacional

CIE - Comitê Institucional de Ética

CNAE – Classificação Nacional de Atividades Econômicas

CNI - Confederação Nacional da Indústria

CAQDAS - Computer Assisted Qualitative Data Analysis

DL - Desenvolvimento Local

DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas

DP - Documentos Primários

DRE - Demonstração do Resultado do Exercício

EMBRAER - Empresa Brasileira de Aeronáutica

FEMICRO - Federação das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte do Ceará

FIEC - Federação das Indústrias do Estado do Ceará

GIC – Guia Industrial do Ceará

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IEG – Índice Ellison-Glaeser

IHH – Índice Herfindahl-Hirschman

ITA – Instituto Tecnológico da Aeronáutica

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

MDIC - Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio

NCM - Nomenclatura Comum do Mercosul

NS – Não Significativa

PCP - Planejamento e Controle da Produção

PRODIC - Programa de Desenvolvimento da Indústria de Confecção

QL – Quociente Locacional

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QLCH - Quociente de Localização Clustering Horizontal

RAIS – Relatório Anual de Informações Sociais

RMF - Região Metropolitana de Fortaleza

SCIDADES – Secretaria das Cidades

SDE - Secretaria de Desenvolvimento Econômico

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SENAC - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SINDCONFECÇÕES - Sindicato das Indústrias de Confecção de Roupas e Chapéus de

Senhoras do Estado do Ceará

SPIL – Sistema Produtivo e Inovativo Local

UH - Unidade Hermenêutica

UNIDO – United Nations Industrial Development Organization

ZPE – Zonas de Processamento de Exportação

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 20

1.1 Contexto............................................................................................................................ 20

1.2 Problema de pesquisa...................................................................................................... 22

1.3 Objetivo geral.................................................................................................................. 23

1.4 Objetivos específicos........................................................................................................ 23

1.5 Justificativa e originalidade da pesquisa....................................................................... 24

2 REFERENCIAL TEÓRICO........................................................................ 26

2.1 Aglomerados organizacionais........................................................................................ 26

2.1.1 Nomenclaturas apresentadas na literatura sobre aglomerados empresariais............ 27

2.2 Fatores associados a aglomerados................................................................................. 38

2.2.1 Fator cooperação........................................................................................................... 39

2.2.2 Fator fornecedores......................................................................................................... 42

2.2.3 Fator governança/coordenação e instituições de apoio............................................... 43

2.2.4 Fator competitividade.................................................................................................... 48

2.2.5 Fator difusão de conhecimento.................................................................................... 49

2.2.6 Fator recursos humanos................................................................................................ 51

2.2.7 Fator inovação............................................................................................................... 52

2.2.8 Fator proximidade......................................................................................................... 54

2.2.9 Fator infraestrutura...................................................................................................... 57

2.2.10 Fator Cultura............................................................................................................... 57

2.2.11 Fator especialização.................................................................................................... 59

2.2.12 Fator energia empreendedora..................................................................................... 59

2.2.13 Fator estratégia............................................................................................................ 62

2.2.14 Fator uniformidade tecnológica................................................................................. 62

2.2.15 Fator reaproveitamento de produtos........................................................................... 63

2.2.16 Fator políticas públicas................................................................................................ 63

2.2.17 Fator disponibilidade de capital.................................................................................. 64

2.2.18 Fator gestão organizacional........................................................................................ 65

2.3 Métodos quantitativos para a identificação de clusters................................................ 66

2.3.1 Quociente Locacional (QL) .......................................................................................... 66

2.3.2 Quociente de Localização Clustering Horizontal (QLCH) ......................................... 69

2.3.3 Coeficiente Gini Locacional (CGL) ............................................................................. 69

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2.3.4 Índice Herfindahl-Hirshman (IHH) ............................................................................ 71

2.3.5 Índice Ellison-Glaeser (IEG) ....................................................................................... 71

2.4 Pesquisas aplicadas para a identificação de clusters..................................................... 72

2.4.1 Trabalho de Britto e Albuquerque (2002) .................................................................... 73

2.4.2 Trabalho de Suzigan et al. (2003) ................................................................................. 75

2.4.3 Trabalho de Olivares e Dalcol (2014) ........................................................................... 77

2.5 Fontes de informação secundárias para identificação de clusters............................... 80

2.6 Proximidade geográfica de empresas de confecção em Fortaleza-CE....................... 81

2.7 Cadeia produtiva da indústria têxtil e de confecção..................................................... 84

2.7.1 Panorama Global do setor de confecção....................................................................... 88

2.7.2 Panorama Brasileiro..................................................................................................... 88

2.7.3 Panorama no Ceará....................................................................................................... 91

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................... 96

3.1 Classificação da pesquisa................................................................................................ 96

3.2 Delineamento da pesquisa............................................................................................. 100

3.2.1 Revisão da literatura sobre aglomerados empresariais.............................................. 101

3.2.2 Identificação de aglomerados vocacionados do setor de confecção do vestuário..... 104

3.2.3 Percepções de especialistas sobre o cluster................................................................. 108

3.2.3.1 Coleta de dados (1ª Etapa) ........................................................................................ 109

3.2.3.2 Análise de conteúdo das informações dos especialistas (2ª Etapa)........................... 113

3.2.4 Percepções dos empresários/gestores sobre o cluster................................................ 117

3.2.4.1 Definição da amostra................................................................................................ 117

3.2.4.2 Elaboração do questionário...................................................................................... 118

3.2.4.3 Aplicação do questionário........................................................................................ 119

3.2.4.4 Análise dos dados quantitativos................................................................................ 119

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES.............................................................. 121

4.1 Identificação de aglomerados por meio do coeficiente QL....................................... 121

4.2 Percepção dos especialistas em relação ao cluster...................................................... 130

4.2.1 Coleta de dados............................................................................................................ 130

4.2.2 Análise de conteúdo..................................................................................................... 130

4.2.2.1 Compilação do conjunto ordenado de dados:........................................................... 130

4.2.2.2 Decomposição dos .................................................................................................... 131

4.2.2.3 Recomposição e interpretação dos dados................................................................. 134

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4.2.2.4 Síntese dos resultados................................................................................................ 170

4.3 Percepção empresarial sobre o cluster......................................................................... 171

4.3.1 Coleta e purificação de dados...................................................................................... 172

4.3.2 Identificação da empresa............................................................................................. 173

4.3.3 Análise do aglomerado................................................................................................ 180

4.3.4 Síntese da percepção empresarial sobre o cluster...................................................... 186

4.3.5 Comparação percepção especialistas x percepção empresarial................................. 188

5 CONCLUSÕES........................................................................................... 192

5.1 Limitações do estudo.................................................................................................... 194

5.2 Sugestões para trabalhos futuros................................................................................ 195

REFERÊNCIAS............................................................................................. 196

APÊNDICE A................................................................................................. 205

APÊNDICE B................................................................................................. 210

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1 INTRODUÇÃO

Neste capítulo é apresentada a proposta desta pesquisa de doutorado. Primeiramente

há uma contextualização do tema que leva ao desencadeamento do problema, em seguida são

apresentados os objetivos gerais e específicos, finalizando com as justificativas e originilalidade

da pesquisa.

1.1 Contexto

O tema aglomerações empresariais já vem sendo discutido há bastante tempo e

tornou-se destaque em questões relacionadas ao desenvolvimento local e regional. Um dos

trabalhos científicos pioneiros nesse tema foi desenvolvido pelos autores Piore e Sabel, na

década de 1980, focando o desenvolvimento de distritos industriais da Terceira Itália

(GUSSONI; WEISE; MEDEIROS, 2015). Sacomano Neto e Paulillo (2012) mencionam que,

a partir do referido estudo, diferentes formas de aglomerações produtivas foram investigadas

por diversos pesquisadores em diferentes contextos históricos e geográficos.

Há uma grande diversidade de conceitos em relação ao tema e, mediante a isto,

diversas nomenclaturas são utilizadas ao se reportar às aglomerações de empresas, tais como:

distritos industriais; clusters; milieu inovativo; sistemas produtivos; sistemas locais, nacionais

e regionais de inovação; arranjos produtivos, dentre outros (SACOMANO NETO; PAULILLO,

2012). Nesta pesquisa, para indicar uma concentração de empresas com potencial sinérgico de

cooperação, serão adotados três termos.

O primeiro termo será aglomerado, que, segundo Moreira, Fernandes e Dias Junior

(2017, p. 56) é definido como “as interações entre empresas do mesmo setor, distribuídas num

espaço geográfico regional ou local”, esta nomenclatura foi adotada por ser bastante genérica;

o segundo termo utilizado será cluster que, para Inhan et al. (2013, p. 257), é “uma localização

geográfica com performance econômica diferenciada e determinada por um ambiente

institucional, onde ocorre grande parte das operações produtivas de uma organização”, tal

nomenclatura foi adotada por ter sua utilização ampla e no âmbito global; por último, também

se adota o termo Arranjo Produtivo Local (APL), nomenclatura criada pela Rede de Pesquisa

em Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (RedeSist) e que segundo Lastres,

Cassiolato e Maciel (2003, p.2) “propõe uma caracterização específica voltada ao entendimento

de tais sistemas em países como o Brasil”.

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Os três termos serão usados indiscriminadamente nesta tese, sem haver distinção

entre eles, entretanto, a nomenclatura cluster foi priorizada por ser o termo mais difundido de

forma global. Vale salientar que no Brasil, predominantemente, as pesquisas usam a expressão

APL, até por ser considerada por vários autores uma aplicação mais específica desta região

(AMARAL FILHO, 2011; LASTRES; CASSIOLATO, 2003), porém, a expressão cluster

também é comumente utilizada em pesquisas nacionais envolvendo pequenas empresas

(AGUIAR et al., 2017; BRITTO; ALBUQUERQUE, 2002; GEROLAMO, 2007; NUNES,

2014; VICARI, 2009)

Britto e Albuquerque (2002) ressaltam que essas abordagens apresentam alguns

pontos confluentes e complementares, pois enfatizam a proximidade geográfica dos agentes

produtivos e a relevância do contexto social e institucional como fatores importantes na

consolidação dessas aglomerações. Essas confluências contribuíram para não se deter em

apenas uma das nomenclaturas, até porque somente no decorrer da pesquisa é que foi possível

identificar o comportamento do aglomerado objeto de estudo.

Uma particularidade desta pesquisa é que o foco será em aglomerados industriais,

voltados ao setor de manufatura, isto porque também há os aglomerados comerciais, mais

ligados a centros comerciais.

Os aglomerados industriais podem proporcionar às empresas uma gama de

vantagens devido à possibilidade de se obter benefícios decorrentes das proximidades

geográficas e das formas de relacionamento entre os atores. São exemplos dos benefícios

citados: aumento de produtividade, inovação, competitividade, especialização, dinamismo no

mercado, geração de conhecimento, cooperação, acesso a recursos, vantagens em aprendizado,

economias de escala e escopo, dentre outros (PETRESCU; RUS; NEGRUŞA, 2014; VALE,

2007; ZANCAN; SANTOS; CRUZ, 2013).

Gerolamo (2007) destaca que o objetivo central das ações de desenvolvimento de

aglomerados é promover as ações conjuntas entre empresas e demais agentes de uma região, e

assim potencializar o ganho de eficiência, decorrente de economias externas e ações conjuntas

deliberadas.

As economias externas são os benefícios incidentais gerados por fatores existentes

em uma região, como mão de obra especializada e presença de fornecedores; e as ações

deliberadas são as perseguidas conscientemente pelas empresas, como redução de custos por

meio de compras conjuntas de matérias-primas (GEROLAMO, 2007).

Autores como Lastres, Cassiolato e Maciel (2003) relatam que governos e outras

instituições de apoio, ao estudarem os potenciais benefícios, têm percebido a importância de se

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potencializar tais aglomerados. Os referidos autores também destacam a importância de se

compreender corretamente as características de cada aglomerado para a obtenção de bons

resultados, porque estes são sistemas complexos que compreendem um ambiente

organizacional envolvendo muitas variáveis.

Neste contexto, os autores Alexiev, Volberda e Van Den Bosch (2016) reforçam

que um ambiente organizacional possui múltiplas dimensões e que os diferentes tipos de

informações associadas a essas dimensões podem afetar os processos gerenciais subjacentes à

tomada de decisões estratégicas. Assim, o estudo de um cluster envolve uma profunda análise

de inúmeras dimensões para que se possam tomar decisões específicas e apropriadas.

Focando-se especificamente o município de Fortaleza - CE, se indaga sobre o

ambiente organizacional do cluster do setor de confecção do vestuário, tendo em vista que o

município é o terceiro mais importante no ranking de produtores de vestuário das microrregiões

brasileiras, de acordo com o Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (ETENE)

(MENDES JÚNIOR, 2018). Tal debate ganha ainda mais força quando observados os

resultados obtidos por Santos (2014) que estudou a dinâmica dos circuitos da economia urbana

na indústria de confecção em Fortaleza e identificou, apenas pela proximidade geográfica, uma

forte existência de regiões dentro do município com elevada concentração de empresas deste

setor.

Sendo assim, esta pesquisa tem por objetivo investigar o ambiente organizacional

do aglomerado de empresas do setor de confecção em Fortaleza, com suas potencialidades e

obstáculos, que se encaixa o macro tema desta pesquisa.

1.2 Problema de pesquisa

O estudo de aglomerados é de extrema importância para a identificação de suas

características e assim possibilitar a estruturação de estratégias para impulsionar o seu

desenvolvimento. Inúmeros são os casos de identificação de tais aglomerados no Brasil e no

mundo, entretanto observa-se uma lacuna quando se trata de grandes cidades, com intensa

diversidade na geração da economia.

Esta constatação é percebida no estado do Ceará, onde procedimentos quantitativos

de identificação de aglomerados deixam de inserir a sua capital, Fortaleza. Como exemplo há

o levantamento realizado por Amaral Filho (2007) onde foram encontrados 33 aglomerados no

Ceará, sendo que nenhum estava na capital. O autor comenta que apesar dos indícios da

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existência de aglomerados em Fortaleza, por razões injustificáveis ela permaneceu fora dos

trabalhos de identificação.

Outro ponto a ser destacado é que muitos dos aglomerados identificados não

possuem uma formalização, ou nem mesmo possuem algum tipo de governança estabelecida.

O mapa do Observatório Brasileiro de APLs possui o registro de 845 APLs em todo o território

nacional, destes apenas 31 são formalizados com um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica

(CNPJ) (OBAPL, 2020).

Destaca-se também que para conhecer um aglomerado não basta apenas identifica-

los por qualquer tipo de método utilizando dados secundários, é necessário um aprofundamento

investigativo, o qual é realizado somente a partir de dados primários por meio de visitas de

campo e da geração de relatórios técnicos, dissertações, teses, dentre outros (AMARAL FILHO,

2007).

Lastres, Cassiolato e Maciel (2003) destacam que, para que haja uma gestão eficaz,

é necessária uma investigação profunda das características de cada aglomerado, visto que cada

um desses sistemas possui peculiaridades próprias.

Na prática, nem sempre é fácil compreender o ambiente organizacional de um

aglomerado e formas de potencializá-lo. Eles são muito heterogêneos e não há um modelo

padrão, existindo fatores intangíveis relacionados à história e à cultura locais capazes de

influenciar o envolvimento das empresas e o desenvolvimento da cooperação (KOHLER;

ARICA, 2013).

Tomando por base o contexto anteriormente apresentado, a presente pesquisa se

direciona pela seguinte questão: Qual a situação do ambiente organizacional do cluster de

empresas de confecção do vestuário em Fortaleza – CE?

1.3 Objetivo geral

Esta pesquisa tem por objetivo analisar o ambiente organizacional, com seus

obstáculos e potencialidades, a fim de gerar subsídios para potencialização de um cluster de

empresas de confecção do vestuário em Fortaleza – CE.

1.4 Objetivos específicos

Como objetivos específicos foram definidos:

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a) identificar os principais fatores associados ao desempenho de um cluster, por meio

de uma extensa revisão da literatura;

b) mapear de forma quantitativa aglomerados industriais do setor de confecção do

vestuário entre os bairros mais vocacionados no município de Fortaleza;

c) analisar, de forma exploratória, a percepção de especialistas do setor sobre o

ambiente organizacional das empresas de confecções de Fortaleza no contexto da

viabilidade de potencialização de um cluster;

d) averiguar, por meio de uma survey, se as principais percepções dos especialistas se

ajustam com a opinião dos empresários e gestores do cluster identificado.

1.5 Justificativa e originalidade da pesquisa

Esta pesquisa contribui para a base do conhecimento acerca dos estudos existentes

sobre aglomerados empresariais e se justifica pelo reduzido número de estudos que investigam

os referidos aglomerados em municípios grandes e com intensa diversificação de setores, como

é o caso do município de Fortaleza.

Os estudos sobre aglomerados empresariais são geralmente concentrados em

cidades menores, onde o setor investigado possui uma maior notoriedade como representação

econômica para o município. Segundo vários autores (AMARAL FILHO et al., 2006;

OLIVARES; DALCOL, 2014; SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2002), uma das ferramentas

quantitativas mais utilizadas na identificação de aglomerados, o Quociente Locacional, é falha

na identificação de aglomerados em grandes centros urbanos, sendo esta uma das possíveis

causas do baixo interesse por parte dos pesquisadores em investigar os aglomerados nas

localidades supracitadas.

Mesmo já havendo uma elevada quantidade de estudos sobre aglomerados de

diversos tipos e em diversas localidades, cada ambiente organizacional possui suas

peculiaridades e carece de informações específicas, Amaral Filho (2011, p.175) chega a dizer

que “estudar os arranjos de um sistema produtivo significa procurar desvendar sua alma, ou

seja, implica revelar as naturezas e os padrões das interações estabelecidas entre os agentes,

mostrando suas preferências, regularidades e alterações”.

Devido à falta de estudos aprofundados sobre os aglomerados empresariais o poder

público acaba não tendo informações suficientes para a elaboração de políticas públicas mais

consistentes.

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Outra justificativa para esta pesquisa refere-se à elevada concentração de empresas

do setor de confecção do vestuário em Fortaleza. Segundo dados do Relatório Anual de

Informações Sociais - RAIS (2017), do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE, Fortaleza

possui 2081 empresas do setor de confecção do vestuário, gerando 26.880 vínculos

empregatícios, sendo que esse número revela apenas as empresas formalizadas.

Portanto, torna-se clara a importância de um estudo no setor de confecção do

vestuário no município de Fortaleza, devido ao considerável número de empresas e devido à

lacuna de pesquisas sobre aglomerados empresariais neste setor. Sendo assim, a presente

pesquisa contribui para gerar conhecimento na área de organização de aglomerados e poderá

ser utilizada por outros pesquisadores e por elaboradores de políticas públicas como alicerce de

seus projetos.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo são apresentados os principais aspectos teóricos que embasaram a

construção desta pesquisa. Inicia-se com os principais conceitos relacionados a aglomerados

organizacionais; posteriormente estão levantados os principais fatores que afetam no

desempenho de um cluster; em seguida apresenta-se os métodos quantitativos para a

identificação de aglomerados, com suas principais técnicas e pesquisas relacionadas;

posteriormente são apresentadas as fontes de informações secundárias; em seguida apresenta-

se um estudo realizado sobre identificação de aglomerados do setor de confecção em Fortaleza

por meio da proximidade geográfica, finalizando com um levantamento da cadeia produtiva da

indústria têxtil e de confecção.

2.1 Aglomerados organizacionais

De forma generalizada, o termo aglomerado representa a concentração de pessoas

ou de qualquer outro tipo de elemento, como materiais, organizações de todas as espécies,

dentre outros. Nas aglomerações organizacionais, que envolvem sistemas econômicos, estas

podem ser produtivas, científicas, tecnológicas e/ou inovativas, de modo que a proximidade

territorial de agentes econômicos, políticos e sociais é o aspecto central em sua formação. Um

ponto relevante associado a esse termo é a existência de economias de aglomeração, ou seja, as

vantagens derivadas da proximidade geográfica dos agentes, incluindo acesso a matérias-

primas, equipamentos, mão de obra e outros, ampliando as chances de sobrevivência e

crescimento, principalmente no caso de micro e pequenas empresas (LASTRES;

CASSIOLATO, 2003).

A formação dos arranjos organizacionais possui uma origem longínqua, teve

destaque com o reaparecimento das regiões como fonte de vantagens competitivas e inovativas

a partir da década de 1970, sendo muito bem representada pelo sucesso de algumas experiências

econômicas, tais como os distritos industriais na região da Terceira Itália, o Vale do Silício na

Califórnia, Baden-Wurttemberg na Alemanha, dentre outros (LASTRES; CASSIOLATO,

2003).

É comum encontrar regiões com uma alta concentração de empresas, em muitos

casos, ligadas por uma mesma atividade econômica. Estas formações dos aglomerados podem

estar presentes em um município, um bairro ou até mesmo em uma rua. Segundo alguns autores

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(KOHLER; ARICA, 2013; TELLES, 2008), em muitos casos, a simples presença das empresas

em aglomerados já proporciona uma maior vantagem competitiva frente outras que atuam de

forma isolada. Porém, nem sempre a simples inserção de uma empresa em um aglomerado

culmina em ganhos de eficiência. Os melhores resultados ocorrem quando há a criação de uma

eficiência coletiva, gerada por meio da troca de informações e pela cooperação entre as

empresas estabelecidas (AMATO NETO, 2000).

Na próxima seção serão apresentas algumas das nomenclaturas mais utilizadas na

literatura sobre aglomerados. Segundo Silva, Feitosa e Aguiar (2012), nenhuma delas é

predominante, sendo mais comum a utilização dos termos distrito industrial, cluster e Arranjo

Produtivo Local. Destaca-se que o autor desta tese também incluiu no referencial teórico o

termo rede de empresas em função de sua grande utilização.

2.1.1 Nomenclaturas apresentadas na literatura sobre aglomerados empresariais

Elenca-se a seguir as principais nomenclaturas utilizadas na representação de

aglomerados empresariais. Eles foram selecionados por serem os mais difundidos na literatura,

apesar de ainda existirem outros. Nesta tese serão vistos os distritos industriais, clusters,

Arranjos Produtivos Locais – APLs e redes de empresas.

a) Distritos industriais

Os estudos iniciais sobre aglomerados surgiram a partir do conceito de distrito

industrial, introduzido por Alfred Marshall no final do século XIX, derivado de um padrão de

organização comum à Inglaterra do período, quando pequenas firmas especializadas na

manufatura de produtos específicos aglomeravam-se em centros produtores. Não era uma mera

localização de atividades econômicas em um mesmo espaço territorial, mas um conjunto de

atividades econômicas dependentes de recursos específicos do ponto de vista territorial

(QUEIROZ; SOUZA, 2017).

Segundo Amaral Filho et al. (2002), os chamados “distritos” surgiram no Norte e

no Nordeste da Itália, chamada Terceira Itália, especializados em diferentes produtos: Sassuolo,

na Emília Romagna, especializada em cerâmica; Prato, na Toscana, em têxtil; Montegranaro,

na Marche, em sapatos; móveis de madeira especialidade de Nogara, em Veneto; dentre outros.

Algumas das características básicas deste tipo de aglomerado são:

• alto grau de especialização e forte divisão de trabalho (QUEIROZ; SOUZA, 2017);

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• estreita relação entre as diferentes esferas social, política e econômica. O sucesso

repousa não exatamente no econômico real, mas largamente no social e no político-

institucional (AMARAL FILHO et al., 2002);

• acesso à mão de obra qualificada (QUEIROZ; SOUZA, 2017);

• adaptabilidade e capacidade de inovação combinados à capacidade de satisfazer

rapidamente a demanda (AMARAL FILHO et al., 2002);

• existência de fornecedores locais de insumos e bens intermediários (QUEIROZ;

SOUZA, 2017);

• equilíbrio entre concorrência e cooperação (AMARAL FILHO et al., 2002);

• sistemas de comercialização e de troca de informações entre os agentes (QUEIROZ;

SOUZA, 2017); e

• grande parcela das empresas envolvidas é de pequeno ou muito pequeno porte

(AMARAL FILHO et al., 2002).

Diante destas características, os distritos industriais influenciaram a criação do

termo “economias externas locais”, também conhecido como “economias externas

Marshallianas”; estas constituem três principais vantagens: i) a existência de um denso mercado

local de mão de obra especializada; ii) as facilidades de acesso a fornecedores de matérias-

primas, componentes, insumos e serviços especializados e, muitas vezes, também de máquinas

e equipamentos, e iii) a maior disseminação local de conhecimentos especializados que

permitem rápidos processos de aprendizado, criatividade e inovação (SUZIGAN; GARCIA;

FURTADO, 2002).

Segundo Schmitz e Nadvi (1999), as economias externas marshallianas,

consideradas passivas, não são suficientes para explicar o desenvolvimento do aglomerado.

Além de economias externas incidentais, são necessárias economias externas de natureza ativa,

resultantes de uma força deliberada, movida de forma conjunta e organizada pelos atores do

aglomerado, gerando uma eficiência coletiva.

No Brasil, o termo distrito industrial é utilizado para referenciar determinadas

localidades ou regiões destinadas à instalação de empresas, muitas vezes contando com a

concessão de incentivos governamentais, divergindo bastante do conceito tradicional

(QUEIROZ; SOUZA, 2017).

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b) Clusters

Diversas teorias abordam o termo cluster, mas segundo Gaspar et al. (2015), o

conceito formulado por Porter (1998) é o mais referenciado e aceito, o qual define os clusters

como:

[...] concentrações geográficas de empresas e instituições interconectadas em um

campo particular. Os clusters abrangem uma série de indústrias interligadas e outras

entidades importantes para a concorrência. Eles incluem, por exemplo, fornecedores

de insumos especializados, como componentes, máquinas e serviços, e fornecedores

de infraestrutura especializada. Os clusters também costumam estender-se para os

canais e clientes e, lateralmente, para os fabricantes de produtos complementares e

para as empresas de setores relacionados por habilidades, tecnologias ou insumos

comuns. Finalmente, muitos clusters incluem instituições governamentais e outras -

como universidades, agências de definição de padrões, think tanks, provedores de

treinamento vocacional e associações comerciais - que fornecem treinamento

especializado, educação, informação, pesquisa e suporte técnico (PORTER, 1998, p.

80, tradução nossa).

Segundo Amaral Filho et al. (2002), os clusters apresentam uma ideia central de

organizar uma indústria-chave ou indústrias-chave numa determinada região, transformá-las

em líderes de mercado, se possível internacionalmente, e torná-las a principal conexão com o

desenvolvimento dessa região, objetivos esses conseguidos por meio de uma mobilização

integrada e total entre os atores deste sistema.

Uma característica importante que difere os clusters dos distritos industriais é que

nos clusters há o possível incremento no aglomerado de empresas de grande porte e mais

desenvolvidas, sem deixar de haver a participação das empresas de micro e pequeno porte. Esta

interação de empresas com portes diferenciados torna-se importante para o desenvolvimento,

devido ao potencial de fornecimento de recursos complementares e aprendizagem coletiva

(AMARAL FILHO et al., 2002; QUEIROZ; SOUZA, 2017).

Turri (2017) menciona algumas críticas ao conceito de clusters, primeiro porque se

percebe uma maior ênfase no aspecto da concorrência do que na cooperação como fator de

dinamismo, além de que nesta teoria da competitividade os clusters são voltados à exportação.

Uma segunda crítica é que a abordagem voltada para a inovação é muito simplista, por exemplo,

apresentada pela aquisição de equipamentos.

Apesar de existirem algumas definições estáticas sobre clusters, elas podem

apresentar diferentes graus de desenvolvimento. Mytelka e Farinelli (2000) apresentam uma

classificação com três tipos: informais, organizados e inovativos. Esta tipologia é formada de

acordo com algumas variáveis de desempenho conforme apresentado no Quadro 1. A

classificação apresentada pelos autores é baseada apenas em clusters espontâneos, ou seja,

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aglomerados que surgem de forma natural, sem uma indução externa, como ocorre em Zonas

de Processamento de Exportação (ZPE), por exemplo.

Quadro 1 – Graus de desenvolvimento de clusters

Tipos Clusters espontâneos

Clusters informais Clusters organizados Clusters inovativos

Existência de liderança Baixa Baixa para média Alta

Porte das empresas Micro e pequena PMEs PMEs e Grandes

Capacidade inovativa Pouca Alguma Contínua

Confiança interna Pequena Alta Alta

Habilidade Laboral Baixa Média Alta

Nível tecnológico Baixa Média Média

Linkages Algum Algum Extensiva

Cooperação Pouca Alguma, não mantida Alta

Competição Alta Alta Média a alta

Novos produtos Pouco ou nenhum Algum Contínuo

Exportação Pouca ou nenhuma Média – alta Alta

Fonte: Adaptado de Mytelka e Farinelli (2000)

Mytelka e Farinelli (2000) esclarecem sobre estas classificações de clusters

relatando que os informais e organizados são as formas predominantes em países em

desenvolvimento, geralmente são formados por micro e pequenas empresas cujo nível de

tecnologia é baixo e tanto proprietários como trabalhadores possuem baixos níveis de

habilidades, tanto gerencial como operacional. Os trabalhadores são geralmente pouco

qualificados e pouco ou nenhum aprendizado contínuo ocorre para o aprimoramento das

habilidades.

Embora as baixas barreiras à entrada possam levar ao crescimento do número de

empresas e instituições de apoio, isso não reflete necessariamente em uma dinâmica positiva,

medida pela melhoria das habilidades gerenciais, pelo investimento em novas tecnologias de

processo, em máquinas e equipamentos, na melhoria na qualidade do produto, na diversificação

de produtos ou no desenvolvimento das exportações.

A natureza da coordenação e do trabalho no aglomerado de empresas localizadas

em clusters informais tende a ser baixa e é caracterizada por uma perspectiva de crescimento

limitada, com frequente concorrência acirrada, pouca confiança e troca de informações. Sua

infraestrutura é deficiente, com ausência de serviços básicos e de estruturas de apoio como

serviços bancários e financeiros, centros de capacitação e programa de treinamento. A falta de

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informações sobre os mercados estrangeiros tende a reforçar essa dinâmica de baixo

crescimento.

Os clusters organizados caracterizam-se por um processo de atividades coletivas,

orientados principalmente para o fornecimento de infraestrutura de serviços e o

desenvolvimento de estruturas organizacionais destinadas a analisar e fornecer os canais para

enfrentar problemas comuns. Embora a maioria das empresas nesses grupos seja pequena,

algumas cresceram até o tamanho médio e seu nível de competência melhora por meio de

treinamento e aprendizado. Em termos de capacidade tecnológica, eles também melhoraram. O

que distingue o cluster organizado é a cooperação e o networking que surge entre as firmas-

membro.

Embora os clusters organizados tenham o potencial de ser inovadores, a simples

proximidade entre empresas não é garantia de que isso ocorrerá ou de que será sustentado. As

empresas desses clusters também exibem a capacidade de realizar adaptações tecnológicas,

projetar novos produtos e processos e levá-los rapidamente ao mercado.

Os clusters inovadores podem surgir mesmo em setores tradicionais, como a

indústria de confecção do vestuário, por exemplo, que não estão ligadas diretamente a setores

com altos níveis tecnológicos. Nos países desenvolvidos, clusters instalados em indústrias

tradicionais vêm demonstrando um novo dinamismo. No passado, estas indústrias que não são

nem baseadas em ciência, nem intensivas em conhecimento, eram pensadas para não exigir o

tipo de aprendizado e inovação que impulsionavam o crescimento das exportações, assim como

ocorre em indústrias de "alta tecnologia". O baixo nível de investimentos em P&D (Pesquisa e

Desenvolvimento) deu mais apoio a essa crença.

A capacidade de inovar das empresas de tais indústrias pode ser facilmente

determinada pelas respostas na introdução de novos produtos, porém, essa questão muitas vezes

falha em capturar mudanças no design ou nos materiais que modificam significativamente os

produtos.

O crescimento sustentado das exportações, no entanto, só é possível se as firmas

desses grupos participarem de um processo contínuo de inovação. Sob essas condições, a

trajetória das exportações de um cluster se torna uma aproximação útil para a inovação.

c) Arranjos Produtivos Locais -APLs

O termo Arranjo Produtivo Local foi cunhado no Brasil e não é encontrado na

literatura estrangeira, criado por um grupo de pesquisadores reunidos na Rede de Pesquisa em

Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais (RedeSist) do Instituto de Economia da

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Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ), a partir de pesquisas nos anos 1990 sobre

meios inovadores e sistemas nacionais e locais de inovação. Segundo esta instituição, a

definição de APL é considerada como sendo:

[...] aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco

em um conjunto específico de atividades econômicas – que apresentam vínculos

mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e a interação de

empresas – que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras

de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras,

clientes, entre outros – e suas variadas formas de representação e associação. Incluem

também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para: formação e

capacitação de recursos humanos (como escolas técnicas e universidades); pesquisa,

desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento (LASTRES;

CASSIOLATO, 2003, p. 3).

Alguns autores consideram a definição proposta pela RedeSist apenas como uma

simples tradução portuguesa do conceito de clusters (FILARDI; FREITAS; DUTRA, 2013;

NORONHA; TURCHI, 2005). Porém, para Amaral Filho (2011), associar APL como uma

“tropicalização” ou “brasileirização” de nomenclaturas internacionais como cluster ou distritos

industriais é um erro. Para o autor essas associações reduzem o conceito de APL a uma

“abordagem provinciana”, voltada apenas às observações de realidades geradoras de micro e

pequenas empresas, não raro, informais, envolvidas em ambientes com baixo nível de

governança e atrasadas.

Zambrana e Teixeira (2013) levantaram na literatura algumas características

intrínsicas do termo brasileiro APL, que o diferencia dos termos internacionais já apresentados,

sendo elas: i) possui um caráter mais social, não se limitando à análise econômica utilizada nos

clusters, possuindo pecularidades ligadas à confiança, cultura, solidariedade, desenvolvimento

social e evolução local; ii) maior ênfase nos agentes não necessariamente empresariais,

destacando o papel das instituições, enquanto nos clusters o destaque são as empresas; iii)

diferentemente dos clusters que possuem maior foco na competitividade, sendo mais adequado

para países desenvolvidos, no APL existem associações locais de organizações que além da

competitividade buscam a geração de capital social proveniente das relações

interorganizacionais; iv) enquanto os APLs envolvem mais micro e pequenas empresas, os

clusters almejam aglomerados predominantemente de grandes empresas e uma região com

sucesso extraordinário em determinado setor da atividade.

Uma característica apontada por Figueiredo e Di Serio (2007, apud MASCENA;

FIGUEIREDO; BOAVENTURA, 2013) que promove uma diferenciação entre clusters e APLs

é que nos clusters há uma maior intensidade nos relacionamentos entre as empresas e maior

participação das empresas privadas que estão aglomeradas para o desenvolvimento do

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agrupamento, com menor envolvimento do governo, enquanto no APL há maior atuação do

poder público e de agências de fomento.

Assim como nos clusters, os APLs também possuem uma classificação quanto ao

seu desenvolvimento, e neste caso os arranjos são classificados em três níveis: arranjos

incipientes, arranjos em desenvolvimento e arranjos desenvolvidos (Sistemas Produtivos e

Inovativos Locais –SPILs). Cardoso, Carneiro e Rodrigues (2014) apresentam as características

de cada um destes tipos:

Arranjos incipientes, são os arranjos desestruturados, deficientes de lideranças

efetivas. Falta relacionamento entre as empresas, o poder público e a iniciativa privada. Não há

centros de pesquisa que contribuem para elaborar/implementar novos processos produtivos. São

determinados por:

• baixo desempenho empresarial;

• foco individual;

• isolamento entre empresas;

• ausência de interação do poder público;

• ausência de apoio/presença de entidade de classe;

• mercado local (mercado de atuação restrito);

• base produtiva mais simples.

Estes APLs são importantes em questões locais pela relevância positiva na

arrecadação do município e no número de vínculos empregatícios, mas os resultados obtidos

estão abaixo da sua potencialidade. São também carentes de recursos financeiros, não sendo

satisfatoriamente contemplados com linhas de crédito pelos bancos tradicionais, por inúmeros

motivos. Seu mercado ainda é o local ou microrregional, não apresentando competitividade

para tentativas mais arrojadas (CARDOSO; CARNEIRO; RODRIGUES, 2014).

Arranjos em desenvolvimento são importantes para o desenvolvimento local, já

que atraem novas empresas e incentivam os empreendedores a investirem em competitividade,

como condição para sua sobrevivência. Promovem um impacto nos demais elos da cadeia

produtiva, fortalecendo a qualidade de seus produtos. As lideranças são mais capacitadas e

legitimadas, organizando-se em entidades de classe, defendendo interesses regionais em vez de

particulares. Apresentam uma incipiente integração entre o poder público e o empresarial. São

determinados por:

• foco setorial;

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• possíveis estrangulamentos nos elos da cadeia produtiva;

• dificuldade no acesso a serviços especializados (tecnologia /design /logística

/crédito);

• interação com entidade de classe;

• mercado local/estadual/nacional.

Começa-se uma cooperação entre as empresas, seus fornecedores e suas entidades.

O arranjo passa a interessar aos agentes financeiros que, por conhecer melhor o setor e seus

empresários, aumentam as operações financeiras. Há centros de educação profissional e de

aperfeiçoamento técnico e disposição, pelas empresas, de investir em novas tecnologias e novos

produtos. Verifica-se uma participação regular das empresas como visitantes e expositores em

feiras do setor.

O produto já começa a ser identificado com alguma característica sociocultural

local (posicionamento de produto). Realizam-se de forma mais constante pesquisas relativas a

inovações técnicas e questões mercadológicas e as empresas apresentam-se mais competitivas,

iniciando a participação em novos mercados (CARDOSO; CARNEIRO; RODRIGUES, 2014).

Arranjos desenvolvidos (Sistemas Produtivos e Inovativos Locais – SPILs) são

arranjos produtivos cuja interdependência, articulação e vínculos consistentes resultam em

interação, cooperação e aprendizagem, possibilitando inovações de produtos, processos e

formatos organizacionais e gerando maior competitividade empresarial e capacitação social. Há

uma integração formando objetivos e estratégias comuns, com forte impacto sobre o território

em geral e sendo por este influenciado. São determinados por:

• foco territorial;

• estrangulamento nas demandas comerciais coletivas;

• interação com a comunidade;

• mercado estadual/nacional/internacional;

• finanças de proximidade (relacionamento comercial estreito entre bancos e

empresas) mais avançadas;

• base institucional local diversificada e abrangente;

• estrutura produtiva ampla e complexa.

É um nível mais bem articulado de superior importância para o desenvolvimento

local, pela capacidade de atrair novas empresas, fornecedores, prestadores de serviços, bancos,

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dentre outros. Suas lideranças atuam, principalmente, em entidades de classe, com

relacionamentos formais. Há uma maior disponibilidade de recursos financeiros oferecidos

pelos bancos e entidades financeiras. As empresas, melhor estruturadas, investem mais no

desenvolvimento do arranjo, com recursos próprios e de terceiros (CARDOSO; CARNEIRO;

RODRIGUES, 2014).

d) Redes de empresas

O termo “rede” também é utilizado quando se trata sobre o assunto agrupamentos

empresariais, podendo receber os nomes de “redes interfirmas” (FLECHA et al., 2012), “redes

interorganizacionais” (WEGNER; PADULA, 2012) “redes empresariais”, “organizações em

rede” (SILVA; FEITOSA; AGUIAR, 2012), além de outras. Segundo alguns autores

(MENDONÇA et al., 2012; TAVARES, 2013), este assunto possui um conceito bastante

abrangente e complexo, apresentando abordagens e objetivos distintos, ou seja, não há uma

concordância na literatura quanto à definição do termo.

Mendonça et al. (2012) mencionam que um consenso abordado por diversos autores

é que as redes empresariais se caracterizam como grupo de organizações que colaboram entre

si, para atingir objetivos comuns, por meio de relações horizontais e/ou verticais. Nakano

(2005) acrescenta a esta definição, que as relações podem ser baseadas ou não em contratos

formais. Da mesma forma que em outros tipos de arranjos, nas redes, ao cooperar com outras

empresas, cada organização mantém sua individualidade, participando das decisões da rede e

dividindo os benefícios e os resultados que são alcançados por meio das atividades comuns

(WEGNER; PADULA, 2012).

Uma visão exposta por Oliveira, Andrade e Cândido (2007) que apresenta qual a

motivação das empresas em participar de redes interorganizacionais, a define como uma

estrutura organizacional, em que podem participar empresas, que devido a limitações de ordem

dimensional, estrutural e financeira não podem assegurar as devidas condições de sobrevivência

e desenvolvimento quando operadas de forma isolada. O objetivo almejado por estas empresas

é reduzir incertezas e riscos, organizando atividades econômicas a partir da coordenação e

cooperação (TAVARES, 2013).

Neste sentido, há também uma visão de alguns autores (CARNEIRO et al., 2013;

FLECHA et al., 2012; SILVA; FEITOSA; AGUIAR, 2012; TURRI, 2017) de que os APLs, os

clusters, os distritos industriais, entre outros, podem ser consideradas redes organizacionais.

A diferença mais importante verificada especificamente quando se trata de redes de

empresas, e que a distingue como um modo particular de arranjo, é que as empresas que a

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compõem não necessariamente precisam estar próximas geograficamente (TAVARES, 2013;

TURRI, 2017), característica esta que é fundamental nos arranjos apresentados anteriormente

(distritos industriais, clusters e APLs). Outras características das redes de negócios são a não

hierarquia, o compromisso de aliança a longo prazo, a flexibilidade e a colaboração, ressaltando

que a rede pode variar quanto ao tamanho, objetivo e estrutura (formal e informal) (FLECHA

et al., 2012).

Os autores Grandori e Soda (1995) desenvolveram uma classificação de modelos

de redes empresariais de modo que os vários tipos existentes podem ser abrangidos por esta

classificação. Na visão dos autores, as redes podem ser de três tipos, segundo seus graus de

formalização, centralização e mecanismos de cooperação, então sendo denominadas como:

redes sociais, redes burocráticas e redes proprietárias. A Figura 1 apresenta uma visão de como

podem ser estruturadas as redes empresariais.

Figura 1- Estruturas de redes

Fonte: Adaptado de Grandori e Soda, (1995, apud SILVA; FEITOSA; AGUIAR, 2012, p. 212).

Redes sociais: tais relações não precisam ser dedicadas apenas à troca de "bens

sociais", tais como prestígio, status, amizade, senso de pertencimento e poder. A influência

social pode ser recíproca, no sentido de incluir elementos de liderança e autoridade nas relações

interempresariais e interpessoais. O relacionamento dos integrantes não é regido por nenhum

tipo de contrato formal. Destacam-se dois tipos de redes sociais: as simétricas e as assimétricas.

Na social simétrica não existe um polo detentor de poder diferenciado. A social assimétrica tem

a presença de um agente central (GRANDORI; SODA, 1995).

Redes burocráticas: são aquelas modalidades de coordenação interempresariais

que são formalizadas em acordos contratuais de intercâmbio ou de associação, caracterizadas

pela existência de um contrato formal que se destina a regular não somente as especificações

de fornecimento como também a própria organização da rede e as condições de relacionamento

entre seus membros. Destacam-se dois tipos de redes burocráticas: simétricas e assimétricas. A

burocrática simétrica auxilia no desenvolvimento de acordos formais de relacionamento entre

Redes Sociais Redes Burocráticas Redes Proprietárias

Simétricas Assimétricas Simétricas Assimétricas Simétricas Assimétricas

Redes de Empresas

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diversas firmas dos mesmos setores, formadas por associações comerciais regulando as firmas

sem que prevaleçam interesses particulares. Na burocrática assimétrica, os contratos para as

redes de agências especifica cláusulas, inspeções, controle dos direitos e transferência de know-

how para alinhar o interesse dos agentes, e são formadas por redes de agências, licenciamento

e franquias, com forte regulação (GRANDORI; SODA, 1995).

Redes proprietárias: são aquelas que também dispõem de um contrato formal,

porém com acordos de propriedade, são necessárias onde a incerteza e o oportunismo são

particularmente prevalentes. Destacam-se duas formas de coordenação interfirmas que utilizam

acordos sobre os direitos de propriedade: joint ventures (simétricas) e capital ventures

(assimétrica). As joint ventures são definidas como o resultado da junção de duas ou mais firmas

que conduzem atividades e criação conjuntas e são proprietárias e gestoras de uma terceira

empresa, que necessita de diversos mecanismos de coordenação, comunicação, decisões

compartilhadas e processos de negociação para balancear os acordos de capitais. A capital

venture é um tipo de rede proprietária assimétrica em que um investidor financia outro

participante da rede, que está com dificuldade em obter crédito pelas formas tradicionais, para

desenvolver atividades inovadoras e arriscadas (GRANDORI; SODA, 1995).

Para Silva, Feitosa e Aguiar (2012), estes tipos e características das redes

empresariais não podem ser entendidas como nomenclaturas e paradigmas excludentes, uma

vez que as redes são dinâmicas e, dependendo do foco de investigação, podem apresentar ao

mesmo tempo vários comportamentos organizacionais. No entanto, percebe-se uma evolução

desencadeando uma ampliação do paradigma econômico para uma visão mais social,

considerando aspectos culturais, relações de parceria, confiança e poder que naturalmente

existem nas redes.

Encerrando o assunto dos tipos de arranjos empresariais, Amaral Filho et al. (2002,

p.2), ao dizer que “não importa qual seja sua nomenclatura (distrito industrial, entorno inovador

ou cluster), tem ganho uma revelada preferência pelas políticas públicas de desenvolvimento

regional e local, com mais ênfase nos países desenvolvidos e com mais acanhamento nos países

em desenvolvimento”, expressa bem qual deve ser a postura ao lidar com o estudo deste

assunto, ou seja, as nomenclaturas, como foram apresentadas nesta seção, não possuem tantas

diferenças a ponto de causar algum impacto em trabalhos acadêmicos ou até mesmo em

políticas públicas. Tais nomenclaturas mais servem para possibilitar a elaboração de estratégias

mais assertivas para as propostas de impulsão aos aglomerados empresariais. Portanto, nesta

tese, a nomenclatura utilizada será variada, podendo ser utilizado indistintamente os termos

arranjos produtivos, aglomerados empresarias ou clusters.

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2.2 Fatores associados a aglomerados

Existem inúmeros fatores que influenciam no desenvolvimento de um cluster,

portanto, em muitos casos, qualquer alteração que ocorra pode resultar em mudanças no sistema

como um todo, envolvendo empresas, instituições e demais atores. Neste sentido, Zaccarelli

(2003) retrata que os fatores envolvidos nos clusters possuem condições de correlação entre si,

reforçando-se mutuamente. Vale salientar que tais fatores não agem de forma isolada, mas há

um inter-relacionamento entre eles e isso tem sido comprovado em alguns estudos

(HOFFMANN; LOPES; MEDEIROS, 2014; SCHMITZ, 1999; TELLER; ALEXANDER;

FLOH, 2016; ZAMBRANA; TEIXEIRA, 2013).

Um levantamento dos fatores mais comentados na literatura foi realizado por meio

de uma revisão bibliográfica sistemática em três bases de dados (Science direct, Scopus e

Periódicos Capes). Um maior detalhamento desta rervisão encontra-se nos procedimentos

metodológicos (seção 3.2.1).

Foram encontrados inúmeros fatores, sendo que para esta pesquisa foram elencados

apenas os que foram citados por, pelo menos, dois autores, e assim foram relacionados 18 deles.

No Quadro 2 encontram-se os fatores com alguns dos autores que os mencionam.

Quadro 2 – Fatores que impactam no desempenho de clusters

Nº FATORES 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 SOMA

1 Cooperação x x x x x x x x x x 10

2 Fornecedores x x x x x x x x x x 10

3

Governança/Coordenação e

Instituições de Apoio x x x x x x x x x 9

4 Competitividade x x x x x x x x x 9

5 Conhecimento x x x x x x 6

6 Recursos Humanos x x x x x x 6

7 Inovação x x x x x 5

8 Proximidade x x x x x 5

9 Infraestrutura x x x x 4

10 Cultura x x x x 4

11 Especialização x x x x 4

12 Energia empreendedora x x x 3

13 Estratégia x x 2

14 Uniformidade tecnológica x x 2

15

Reaproveitamento de

produtos x x 2

16 Políticas públicas x x 2

17 Disponibilidade de Capital x x 2

18 Gestão organizacional x x 2

Fonte: Elaborado pelo autor (2019), extraído de: 1 (GUSSONI; WEISE; MEDEIROS, 2015), 2 (SILVA;

FEITOSA; AGUIAR, 2012), 3 (ZACCARELLI, 2003), 4 (ZACCARELLI et al., 2008) 5 (ZANCAN; SANTOS;

CRUZ, 2013) 6 (BORIN, 2006) 7 (LAI et al., 2014) 8 (HUANG; LUO, 2011) 9 (SOSNOVSKIKH, 2017) 10

(AMARAL FILHO, 2008) 11 (SEBRAE, 2003) 12 (HERLIANA, 2015) 13 (VICARI, 2009).

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É importante frisar que foi definida uma nomenclatura para os fatores, porque se

percebeu que, em alguns casos, os autores descrevem de forma diferente o mesmo fator ou até

mesmo agrupam mais de um fator em uma única definição. Os subitens a seguir irão detalhar

cada um destes fatores.

2.2.1 Fator cooperação

A cooperação é um dos fatores mais utilizados quando se trata do assunto sobre

aglomerados de empresas. Este termo é aplicado de diferentes formas e muitas vezes como

sinônimo de colaboração, parceria, aliança e cooperativismo (ZAMBRANA; TEIXEIRA,

2013). SEBRAE (2003) relata que cooperação é o ato de trabalhar em comum, envolvendo

relações de confiança mútua e coordenação, em níveis diferenciados, havendo atividades e

projetos realizados em conjunto entre as empresas, entre empresas e suas associações, entre

empresas e instituições técnicas e financeiras, entre empresas e poder público, e outras possíveis

combinações entre os atores presentes no arranjo. O órgão também enfatiza que a construção

dessas redes, especialmente as empresariais, deve ser vista como um processo evolutivo, em

que a identificação de objetivos comuns e o seu alcance deverá evoluir dos mais simples aos

mais complexos, como uma espécie de escada que deverá ser subida degrau por degrau.

Um fator importante para a cooperação, conforme destacado na definição anterior,

é a confiança mútua entre os membros, Reis (2003) reforça essa importância dizendo que:

[...] a existência de laços de confiança mútua reforça os mecanismos de cooperação

entre os habitantes e favorece o desempenho das instituições políticas; esse mesmo

desempenho institucional eficiente atua positivamente sobre o contexto, reduzindo a

incerteza e reforçando ainda mais o nível de confiança e cooperação no interior da

população (REIS, 2003, p.38).

Sobre o processo da confiança nas relações de cooperação, Zambrana e Teixeira

(2013) descrevem que mesmo que haja uma boa confiança entre os membros, é importante uma

formalização nas relações, ou seja, confiança e formalização não são excludentes, mas sim

complementares, e com a utilização destes dois fatores na cooperação diminui-se o risco de

oportunismo.

Amato Neto (2000) também destaca a importância da confiança para o sucesso no

mundo dos negócios, de modo que as relações conflituosas devem dar espaço para as relações

baseadas na confiança, como por exemplo, os modelos de negócios alemães, japoneses e

italianos.

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Um comportamento interessante sobre a cooperação entre empresas, é que ela é

raramente organizada pelos empresários, é algo que surge naturalmente diante das condições

do ambiente, se a cooperação for organizada, poderá ser mais eficaz (ZACCARELLI, 2003).

Sobre este assunto, Zambrana e Teixeira (2013) complementam dizendo que as instituições

representadas pelo governo e associações interfirmas possuem um papel fundamental nas

organizações das cooperações empresariais e é função delas a formação de uma identidade

coletiva.

De um modo geral, há bastante cooperação entre empresas nos clusters

competitivos, provavelmente elas decorrem devido à concentração geográfica, que dificulta a

existência de segredos empresariais, não havendo como manter segredo, não há alternativa a

não ser cooperar (ZACCARELLI, 2003). Entretanto, Florian e Lorenzo (2008) mencionam que

em casos de clusters que possuem um uso intensivo de mão de obra, com baixa qualificação,

baixo índice de inovação e baixas barreiras a entradas de novas empresas, as dificuldades para

cooperação tendem a ser maiores, um setor que exemplifica essas características é o de

confecção do vestuário.

Sobre a utilização da cooperação em clusters no contexto brasileiro, Hoffmann,

Lopes e Medeiros (2014) realizaram um estudo no cluster moveleiro localizado em São Bento

do Sul, estado de Santa Catarina, no sul do Brasil, e identificaram um relacionamento dentro da

cadeia de fornecimento e dentro do cluster como essencialmente econômico, revelando uma

postura individualista e não percebendo a cooperação como forma de melhorar a

competitividade.

Os autores também relataram que essa postura não é restrita ao aglomerado

estudado e citaram o trabalho de Silva (2005) sobre o cluster de produção de calçados no Vale

do Rio dos Sinos, também no sul do Brasil, no qual se observou que o medo de perder

competitividade torna os empresários preocupados com o compartilhamento e a transferência

de conhecimento.

No entanto, há também práticas bem sucedidas em clusters brasileiros, como o

apresentado no trabalho de Negrini, Wittmann e Battistella (2007), no qual se analisou os

fatores influentes em ambientes de cooperação empresarial do setor moveleiro na cidade de

Pelotas, região sul do Brasil. Foram identificadas cooperações em diversas áreas, incluindo

transferências tecnológicas e organizacionais. Apesar das dificuldades, as ações conjuntas

proporcionaram vantagens competitivas que seriam dificilmente obtidas de forma isolada.

Algumas das finalidades da cooperação em clusters, segundo o SEBRAE (2003)

são:

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• cooperação produtiva visando a obtenção de economias de escala e de escopo, bem

como a melhoria dos índices de qualidade e produtividade;

• cooperação inovativa, que resulta na diminuição de riscos, custos, tempo e,

principalmente, no aprendizado interativo, dinamizando o potencial inovativo do

arranjo produtivo local.

Diante destas finalidades, alguns benefícios são esperados das relações de

cooperação, como: capacitação e aprendizado por meio da transferência de conhecimento;

disseminação, absorção e uso da inovação gerada; redução dos riscos em novos projetos;

eficiência e flexibilidade provocados pela otimização dos processos e redução dos custos na

interação entre as unidades produtivas; maiores possibilidades de adentrar no mercado global;

participação em feiras e/ou eventos nacionais e internacionais; compras conjuntas de materiais

e equipamentos proporcionando preços mais baixos e melhores condições de pagamentos;

economias de escala e escopo igualando a custos de empresas de grande porte; dentre outros

(GANCARCZYK; GANCARCZYK, 2015; GUIMARÃES et al., 2016; HOFFMANN;

LOPES; MEDEIROS, 2014; SARACH, 2015; ZAMBRANA; TEIXEIRA, 2013).

Na busca de entendimento sobre o papel que a cooperação pode ter nos clusters,

Santos, Diniz e Barbosa (2004) sugerem que pelo menos dois tipos de cooperação sejam

considerados:

a) Cooperação multilateral, que ocorre quando um grupo de empresas se reúne em

um sindicato ou associação de produtores com autonomia decisória. Nesse tipo de

cooperação, um alto nível de confiança, a proximidade local e um elevado senso de

comunidade podem ser necessários para seu adequado funcionamento;

b) Cooperação bilateral, que ocorre entre empresas individuais e é caracterizada pela

colaboração para solucionar objetivos específicos, limitados, e por não ter autonomia

decisória. Pode ser exemplificada com as relações formais ou informais de troca de

conhecimento, compra de tecnologia, joint ventures, desenvolvimento conjunto e

relações de longo prazo cliente/fornecedor.

Schmitz (1999), em uma pesquisa realizada com empresas de calçados, no Vale dos

Sinos (sul do Brasil), descreve ainda outros dois tipos de cooperação empresarial, quanto a sua

direção, podendo ser horizontal, quando esta é realizada entre empresas concorrentes, ou

vertical quando é entre produtor e fornecedor de insumos ou entre produtor e distribuidor. O

resultado desta pesquisa apontou uma melhor performance nas cooperações bilaterais verticais,

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contribuindo para o avanço na elevação da qualidade e velocidade de resposta, e por outro lado,

as ações de cooperação multilateral e horizontal não tiveram bons resultados.

De acordo com o SEBRAE (2003), a cooperação pode ocorrer por meio de:

• intercâmbio sistemático de informações produtivas, tecnológicas e mercadológicas

(com clientes, fornecedores, concorrentes e outros);

• interação de vários tipos, envolvendo empresas e outras instituições, por meio de

programas comuns de treinamento, realização de eventos/feiras, cursos e seminários,

entre outros;

• integração de competências, por meio da realização de projetos conjuntos, incluindo

desde melhoria de produtos e processos até pesquisa e desenvolvimento

propriamente dita, entre empresas e destas com outras instituições.

Uma conclusão apresentada por Teller, Alexander e Floh (2016) é que a cooperação

empresarial influencia positivamente a performance do aglomerado, independentemente do

tamanho e tipo de empresa.

2.2.2 Fator fornecedores

A presença de fornecedores especializados de forma maciça é um dos principais

pré-requisitos para a formação de um cluster (SOUZA FILHO et al., 2013; VICARI, 2009).

Para Zaccarelli (2003), a presença de fornecedores é tão importante que um cluster só pode ser

considerado completo quando há a existência de uma cadeia produtiva e de fornecimento

completa dentro de uma mesma área geográfica, desde a extração de matéria-prima até a

fabricação e comercialização final de um mesmo produto.

Os autores Pezoa-Fuentes e Vidal-Suñé (2017) mencionam que a densidade e

estabilidade na interdependência entre empresas, tanto nas relações comerciais como nas

organizacionais são a base para as externalidades. Deste modo reforça-se que um cluster que

possua uma abrangência de empresas complementares possui uma forte vantagem competitiva.

Vicari (2009) afirma que:

[...] a complementaridade na cadeia é um fator importante para o desenvolvimento de

um cluster. A existência de bons compradores e fornecedores e em quantidade

suficiente favorece a maior integração e networking e, com isto, a redução dos custos

de transação (VICARI, 2009, p. 130).

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No entanto, o autor considera que só a presença maciça de fornecedores não é

suficiente para a geração de vantagens competitivas, é fundamental que haja vantagens em

custos, qualidade e, essencialmente, oferecimento de competências que proporcionem

adaptações às necessidades específicas das empresas, tais como as gerações de inovações. Silva,

Feitosa e Aguiar (2012) reforçam este pensamento dizendo que não basta estar inserido em um

cluster para obter efetividade, é necessária uma relação com o contexto, incluindo a

complementação de competências.

Um trabalho realizado por Aguiar et al. (2017), a fim de se analisar a completa

formação de um cluster varejista de moda no Bom Retiro, região de São Paulo, apontou que

71,6 % das empresas fornecem produtos para outras na mesma região. Como resultado,

observou-se uma velocidade na reposição dos estoques, ou seja, quanto maior a proximidade

de atores que complementem as necessidades das empresas, melhor será para o cluster.

Outro trabalho realizado por Souza Filho et al. (2013) investigou as relações entre

empresas e fornecedores no Arranjo Produtivo Local (APL) moveleiro de Ubá -MG e regiões.

O estudo identificou uma intensa disputa e deficiências sérias entre tais atores, decorrentes

principalmente da desigual acumulação de capitais simbólicos, dos diferentes interesses e

motivações, bem como dos diferentes princípios que orientam as práticas dos agentes,

colocando em risco tal APL.

Deste modo, percebe-se que a quantidade, a abrangência e os relacionamentos dos

fornecedores para com as empresas produtoras, são de vital importância para a geração de

vantagens competitivas em clusters.

2.2.3 Fator governança/coordenação e instituições de apoio

O termo “governança” surgiu da teoria das firmas e da denominada “governança

corporativa”, sendo inicialmente utilizado para descrever novos mecanismos de coordenação e

controle de redes internas e externas às empresas, proporcionando um entendimento dos níveis

de hierarquização nos sistemas (LASTRES; CASSIOLATO, 2003). Uma definição mais

voltada para os aglomerados empresariais apresenta que:

[...] governança diz respeito aos diferentes modos de coordenação, intervenção e

participação, nos processos de decisão locais, dos diferentes agentes — Estado, em

seus vários níveis, empresas, cidadãos e trabalhadores, organizações não-

governamentais etc. — ; e das diversas atividades que envolvem a organização dos

fluxos de produção, assim como o processo de geração, disseminação e uso de

conhecimentos (LASTRES; CASSIOLATO, 2003, p. 14).

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Para o SEBRAE (2003) é de extrema relevância a criação de um comitê de

governança (independentemente do nome que tenha - comitês gestores, fóruns, pactos,

agências, consórcios, dentre outros) e o estabelecimento de um modelo de gestão para a

condução das atividades. Esse comitê tem a função executiva de coordenar e alinhar as

iniciativas, observando prazos, atividades, atribuições e responsabilidades, motivação,

comprometimento, entre outros.

O comitê poderá ser formado por empresários e representantes de instituições

presentes no arranjo, como por exemplo: representantes de sindicatos, parceiros tecnológicos,

instituições de ensino e pesquisa, órgãos governamentais (municipais e estaduais) e órgãos de

fomento ao empreendedorismo e desenvolvimento local (SEBRAE, 2003). Apesar de haver um

comitê com vários membros, o SEBRAE (2003) recomenda que seja escolhido um coordenador

para representar e tomar a frente em algumas de suas responsabilidades que são:

a) apoiar a mobilização dos meios necessários à implantação do programa;

b) representar o arranjo junto a lideranças, órgãos e entidades públicas, privadas e do

terceiro setor;

c) articular-se, localmente, com lideranças, órgãos e entidades públicas, privadas e do

terceiro setor, com vistas à execução e ao êxito do arranjo;

d) animar os integrantes do arranjo;

e) apoiar na identificação de demandas e novas oportunidades de promoção do arranjo.

O princípio de uma boa governança na coordenação de clusters está baseado no

aparecimento de tomadores de decisões estratégicas e na correlação de suas decisões com os

objetivos e metas dos atores que fazem parte do aglomerado, sendo que as melhores decisões

sobre o modelo de governança são baseadas na análise do cluster em um contexto muito bem

definido e na coleta de informações específicas para cada caso (PĂUNA, 2015).

Outro fator importante para uma boa coordenação, conforme recomendado por

autores como Amaral Filho (2008) e Păuna (2015), é que a governança seja entendida pelos

atores envolvidos sob o foco da corresponsabilização, de modo que haja cooperação e

participação ativa nas tomadas de decisão e no fluxo de comunicação e de conhecimentos. O

envolvimento dos membros tem um forte impacto na estratégia e devem haver mecanismos por

meio dos quais todos se sintam seguros ou incitados a se relacionar, ou interagir e o excessivo

poder detido dentro do sistema por algum agente, ou por um número reduzido de agentes, pode

colocar o arranjo em risco de sobrevivência.

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Lastres e Cassiolato (2003) apresentam dois tipos de governança em sistemas

produtivos locais: i) as hierárquicas, que são as formadas por uma autoridade destacada no

grupo, geralmente constituída por uma grande empresa, com competência para coordenar as

relações econômicas e tecnológicas, esses aglomerados geralmente surgem de situações em que

a própria liderança provoca tal fenômeno; ii) e as em formas de “redes” que são caracterizadas

pela formação de aglomerações de micro, pequenas e médias empresas e sem a presença de

grandes empresas, é formada por uma forte intensidade de relações entre um extenso número

de atores, sendo que nenhum destes se sobrepõe. O primeiro tipo possui uma forma de poder

centralizada e o segundo descentralizada.

As governanças em redes, que possuem como atores econômicos as micro,

pequenas e médias empresas, necessitam de interações com instituições locais, pois elas

fornecem às empresas uma série de serviços avançados, apoiam o cluster e estão conectadas a

redes externas e, assim, facilitam o acesso das empresas dentro do cluster a todos os tipos de

informações e conhecimentos externos (PEZOA-FUENTES; VIDAL-SUÑÉ, 2017).

As instituições locais são entendidas como organizações de base (públicas e

privadas) que oferecem apoio coletivo às empresas do agrupamento, como universidades,

escolas vocacionais, faculdades e instituições de pesquisa, agências de política industrial,

organizações de assistência técnica e associações empresariais e profissionais (PEZOA-

FUENTES; VIDAL-SUÑÉ, 2017). As relações entre empresas e instituições em um cluster

formam um sistema de governança que afeta as perspectivas não apenas de trocar informações,

mas também de gerar e transferir conhecimento (GANCARCZYK; GANCARCZYK, 2015).

Outra classificação de governança, que apresenta uma estrutura mais detalhada foi

apresentada pelos autores Storper e Harrison (1991). Nesta classificação são usadas as imagens

de core (centro – que são as firmas) e ring (anel – que são os fornecedores), ela foi desenvolvida

para lidar com a ascensão e poder evidente das grandes empresas sobre seus fornecedores

(geralmente menores). O core significa uma situação em que o poder é assimétrico, ou onde

algumas firmas centrais têm a capacidade de determinar a existência de outras. O ring significa

o oposto, onde o poder é simétrico ou onde a existência de um conjunto de firmas ou unidades

não é determinada por decisões tomadas em outra firma ou unidade específica. No primeiro

caso, há mais hierarquia, no segundo caso, menos. Os autores, porém, estabeleceram ainda

algumas situações intermediárias entre estes extremos, os quais estão apresentados no Quadro

3.

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Quadro 3 – Tipos de governança Tipo de estrutura Definição

1 - All Ring, No Core Não há a liderança sistemática de uma firma, ou mesmo uma liderança

rotativa. Não há hierarquia.

2 - Core-Ring, with

Coordinating Firm

Há certa influência sistemática de algumas firmas sobre outras, porém,

não é determinante para a sobrevivência das outras empresas. Ocorre certo

grau de hierarquia.

3 - Core-Ring, with Lead

Firm

Há uma liderança dominante, em que os participantes dependem da

estratégia do líder, de modo que a empresa líder tem substancial

independência dos fornecedores e capacidade de reconfigurar parte do

anel de subcontratados. O poder é assimétrico e há considerável

hierarquia.

4 - All Core, No Ring Verticalmente integrados. Todas as tarefas de produção e distribuição de

mercadorias são assumidas por uma grande empresa verticalizada.

Fonte: Storper e Harrison (1991)

Percebe-se que as estruturas 1 e 4 são situações extremas de falta de hierarquia e

hierarquia total, respectivamente, e as estruturas 2 e 3 são as situações intermediárias.

Sacomano Neto e Paulillo (2012) apresentam outras dimensões, que vão além da simples

relação de empresa-fornecedor, abrangendo outros atores que podem fazer parte de um processo

de governança: i) governança pública (envolvendo atores públicos como prefeituras

municipais, secretarias estaduais e municipais, ministérios federais etc.); ii) governança

privada (envolvendo grandes empresas detentoras de poder de influência no arranjo); iii)

governança de ator coletivo (com entidades de representação coletiva como sindicatos,

associações de interesses, SEBRAE, SENAI, dentre outros); iv) governança a montante

(envolvendo fornecedores das empresas do arranjo com influência no processo de coordenação

local); e v) governança a jusante (com distribuidores e clientes possuidores de poder de

barganha nas negociações com as empresas do arranjo local).

Sobre o envolvimento dos atores no processo de coordenação, Păuna (2015) relata

que para uma governança eficiente é necessário entender as relações entre os atores instalados

na região do cluster, mas também é importante interações com atores parceiros de outras

localidades, porque o objetivo da boa governança é engajar tomadores de decisões estratégicas,

e eles podem estar na localidade ou fora da localidade em que o cluster está instalado, dentro

ou fora das fronteiras da nação. Assim, a abordagem é diferente da tradicional, limitada

geograficamente ou do ponto de vista de pertencer a um ramo industrial, evitando as limitações

impostas pelas metodologias usuais de análise de cluster relacionadas ao crescimento

econômico interno.

Uma pesquisa realizada por Sacomano Neto e Paulillo (2012), buscando investigar

as características e modos de participação de atores em um processo de governança, pesquisou

os seguintes APLs brasileiros: Arranjo Produtivo Local de Birigui (APLB), produtores de

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calçados e vestuário; Arranjo Produtivo Local de Jaú (APLJ), produtores de calçados; e Arranjo

Produtivo Local do Álcool de Piracicaba (APLA), produtores de álcool. Dentre os vários

resultados, alguns chamaram bastante atenção, entre os quais se destacam:

• a governança em todos os APLs foi o mecanismo fundamental para o estímulo da

troca de recursos e cooperação produtiva e inovativa, isso mostra o quão importante

é um mecanismo de coordenação. Sacomano Neto e Paulillo (2012) reforçam a ideia

deste resultado dizendo que cada vez mais, a governança influencia em um APL, de

modo que as mudanças na produção de uma região surgem de uma forma específica

de governança, podendo envolver tecnologia, política pública e uma nova

organização. Assim, o desenvolvimento de um APL depende fortemente dos atores

e suas relações de poder;

• no APLA houve maior interferência do poder público (Secretaria Municipal de

Indústria e Comércio de Piracicaba) para juntar os atores em torno do projeto, até sua

formalização;

• no APLJ e APLB, os atores de elevada representação destacam-se nos sindicatos

patronais, sendo que o poder público apresentou menor interferência;

• as políticas públicas no nível estadual e federal representam um importante papel

para o estímulo dos arranjos e fornecem diretrizes para as instituições locais. Segundo

Hoffmann, Lopes e Medeiros (2014), estudos anteriores apontaram também que

políticas públicas que promovam relações de cooperação entre as empresas em uma

aglomeração territorial podem ter um efeito positivo no desenvolvimento de tais

relações;

• no APLB e APLA há maior participação das grandes empresas. Entendida como

governança privada, tais empresas possuem representação política, participação nas

decisões e dominam parte significativa da divisão do trabalho entre as pequenas

empresas;

• na governança a jusante há maior dependência das empresas dos APLJ e APLB com

os distribuidores de calçados, tais atores têm grande interferência no que, como e

quando produzir.

Os resultados desta pesquisa mostram a heterogeneidade nas governanças dos

APLs, mostrando que não há um padrão, pois, cada aglomerado possui inúmeras variáveis que

os divergem, além da importância no histórico de surgimento e desenvolvimento de cada um.

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No entanto, ficou bastante claro e comum, em todos os APLs, a importância de uma

coordenação para o sucesso na obtenção dos resultados coletivos.

2.2.4 Fator competitividade

Muitos podem ser os benefícios para as empresas de um mesmo ramo inseridas em

clusters. No entanto, segundo Zaccarelli (2003), tais benefícios não significam poder trabalhar

menos do que as empresas não inseridas; pelo contrário, as diversas diferenças de tecnologias,

de produtos e de práticas gerenciais são facilmente imitadas por quem incorpora um cluster,

dificultando a aquisição de vantagens competitivas, portanto, tais empresas precisam trabalhar

mais e errar menos, de modo que esse ambiente competitivo proporciona um alto grau de

desenvolvimento interno.

O mesmo autor também relata que outro fator que contribui para um elevado nível

de competição interna, e que é positivo ao cluster, são substituições provocadas pelas eventuais

falências e o surgimento de novas empresas em um ritmo aproximadamente igual. Isto se

assemelha a uma “seleção natural”, de modo que os mais fortes resistem enquanto os fracos

abandonam as atividades.

Vicari (2009) considera que o sucesso de um cluster depende da forma como se

desenvolve a rivalidade entre as empresas no mercado doméstico. Pode também ser prejudicial

quando há uma forte concorrência por preços e quando há uma imitação sem regulamentação,

desestimulando investimentos em P&D. Nestes casos, a rivalidade exagerada destrói empresas

e cria obstáculos à cooperação. Percebe-se então que a competitividade tanto pode ser benéfica

como maléfica, isto vai depender da intensidade da rivalidade.

Uma pesquisa realizada por Teller, Alexander e Floh (2016) para analisar o impacto

da concorrência e da cooperação no desempenho de um cluster comercial de lojas de varejo na

Europa, por meio de uma survey com 277 gestores, obteve resultados importantes, os quais

estão divididos em três tópicos:

a) efeitos dos spillovers e da cooperação: i) todas as lojas, independentemente do

tamanho ou do tipo, são beneficiadas em um mesmo grau pelos efeitos dos spillovers

(difusão de conhecimentos técnicos e gerenciais). Isto serve como incentivo para

ações conjuntas entre os membros do cluster, tais como ações em marketing; ii) a

cooperação não afeta diretamente o desempenho das lojas, mas indiretamente por

meio do desempenho da aglomeração, que por sua vez repercute no desempenho da

loja;

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b) a concorrência pode ser benéfica: i) por um lado, e como esperado, a concorrência

tem um impacto direto negativo no desempenho das lojas, por outro lado, a

concorrência mostra um efeito positivo ainda mais forte sobre o desempenho do

aglomerado. De um modo geral, o efeito negativo da concorrência é neutralizado

pelo resultado positivo no aglomerado; ii) resultados sugerem que os efeitos do

desempenho da aglomeração no desempenho das lojas são positivos, porém, o fato

de as lojas estarem tão estreitamente próximas poderia deixá-las vulneráveis à

fraquezas;

c) coopetição em aglomerações: i) uma implicação mais ampla dos spillovers das

aglomerações sobre o desempenho das lojas é que há uma complexa interação entre

cooperação e competição (que forma o termo “coopetição”), proporcionando

contribuições semelhantes e positivas para a aglomeração e para o desempenho das

lojas.

Os resultados desta pesquisa sugerem um maior investimento em cooperação entre

as empresas, também aponta para um positivo impacto da competição sobre os aglomerados,

beneficiando indiretamente as empresas envolvidas, e, por último, que a coopetição é uma nova

ideia para o desenvolvimento dos aglomerados. Os gestores precisam entender que todas as

empresas precisam cooperar e competir, portanto, precisam agir de acordo com ambas as

lógicas de interação, para o bem maior da aglomeração. A capacidade de gerenciar

coopetitivamente pode resultar em uma vantagem competitiva sustentável para uma

aglomeração.

Hoffmann, Lopes e Medeiros (2014) consideram o equilíbrio entre competição e

cooperação dentro de uma aglomeração industrial, e o que influencia esse equilíbrio parece ser

uma preocupação teórica relevante.

2.2.5 Fator difusão de conhecimento

De acordo com Nakano (2005, p.56), o conhecimento organizacional pode ser

definido como “um estado ou propriedade de uma organização, oriundo de um processo de

aprendizagem resultante de experiências passadas e da adaptação ao ambiente”.

O autor acrescenta que para uma empresa possuir capacidade administrativa, a fim

de operar em um aglomerado empresarial, é necessário aprimorar a gestão do conhecimento

interno, porque trabalhar em parceria envolve a aquisição de conhecimento por meio da

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experiência, armazenando-o de forma a protegê-lo e disseminá-lo para as demais organizações.

Neste processo também é importante que haja confiança mútua entre os parceiros para evitar

comportamentos oportunistas que podem prejudicar os fluxos de conhecimentos.

Em um aglomerado de empresas a transferência de conhecimentos é um dos

principais objetivos na busca de relações de cooperação e coordenação entre as organizações,

no entanto, este não é um processo simples, automático e fácil (NAKANO, 2005). Lai et al.

(2014) consideram que em uma economia marcada pela gestão do conhecimento, as trocas de

informação que ocorrem dentro do cluster reforçam a capacidade das empresas à criação de

conhecimento e ao desempenho da inovação.

Sobre a importância da gestão do conhecimento em clusters Lai et al. (2014)

destacam que uma condição para que um cluster seja bem-sucedido é que haja

compartilhamento de conhecimento e da troca de informações. Vicari (2009, p.139) também

ressalta este pensamento ao afirmar que “o conhecimento tácito, a qualificação dos recursos

humanos locais e a difusão de conhecimentos são fatores fundamentais para o surgimento e

desenvolvimento de um cluster”.

Pezoa-Fuentes e Vidal-Suñé (2017) e Geldes et al. (2015) relatam que estudos

recentes sobre clusters industriais enfatizam o papel dos spillovers de conhecimento na geração

de inovações e na sua contribuição para o aumento da competitividade, sendo que a melhor

forma de se adquirir conhecimento é estar localizado em áreas que ocorrem o processo de

aprendizado, portanto, a proximidade geográfica desempenha um papel significativo na difusão

do conhecimento. Em geral, as pesquisas sobre o processo de transferência de conhecimento

dentro do cluster sugerem que ele envolve quatro dimensões: relações cooperativas entre as

empresas aglomeradas; relações com instituições de apoio locais; mobilidade da força de

trabalho e relações externas ao cluster (HOFFMANN; LOPES; MEDEIROS, 2014).

Wang e Wu (2016) relatam que o conhecimento é frequentemente dividido em duas

formas: conhecimento tácito e conhecimento codificado (também chamado de explícito). Ao

contrário do conhecimento explícito, que pode ser facilmente entendido e amplamente

divulgado, o conhecimento tácito envolve um conjunto de conhecimentos práticos, conhecidos

como know-how, e exige que um determinado contexto seja colocado em plena utilização, em

que a proximidade geográfica facilita seu processo de transmissão e absorção.

De acordo com Mendes Filho (2009), o conhecimento tácito oferece uma vantagem

competitiva para os arranjos, porque surge de características locais de determinadas regiões,

gerando saberes gerais e comportamentais, consoantes à capacidade para resolução de

problemas e na geração de relacionamentos dentro de um grupo. Ressalta-se que o

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conhecimento explícito é formalizado e organizado, podendo ser repassado pela comunicação

formal, entretanto, a decodificação desse conhecimento depende dos conhecimentos tácitos

prévios.

2.2.6 Fator recursos humanos

Uma grande vantagem para as empresas que se instalam em aglomerados

empresariais é devido à tendência de que nestes locais haja uma grande oferta de mão de obra

especializada e qualificada, essa atratividade de mão de obra pode ser explicada pela grande

demanda de oportunidades de emprego e pela participação de instituições locais de ensino,

como universidades e centros tecnológicos (BASANT, 2002).

Lai et al. (2014) também comentam que numerosos governos usam clusters

industriais como uma importante ferramenta política para o desenvolvimento econômico

regional, devido a sua capacidade de atrair talentos humanos, deste modo conseguem facilmente

adquirir uma força de trabalho capaz de melhorar o desempenho da inovação, o que resulta em

uma variedade de formas na troca de informação e conhecimento.

Um levantamento realizado por Vicari (2009), com o objetivo de diagnosticar o

cluster metal mecânico de Sertãozinho, entrevistando gestores em 28 empresas, levantou

algumas características para a avaliação dos recursos humanos e do conhecimento. Os pontos

analisados foram: i) grau em que o mercado de trabalho supre a empresa de acordo com suas

necessidades específicas, ou seja, quanto mais provida de mão de obra a empresa esteja, mais

bem sucedida será no objetivo de captar bons profissionais; ii) escolaridade média dos

funcionários; iii) contribuição oferecida pelo sistema educacional local; iv) circulação de

conhecimento tácito local; v) disseminação de melhores práticas; vi) investimento em

treinamento dos funcionários. Como resultado, esta pesquisa verificou que o cluster possui uma

baixa oferta de mão de obra, apenas 11,5% das empresas mencionaram estar totalmente suprida

deste recurso e 34,6% deram a pior classificação dizendo que são pouco supridas do recurso.

Concernente à educação, de um modo geral, o mesmo estudo apontou que nas

empresas de maior porte encontra-se um maior nível de escolaridade, comparado às empresas

menores. O maior contraste se encontra principalmente nos maiores níveis de administração,

como alta cúpula e média gerência. O autor relata que não se pode afirmar com toda convicção

que maior escolaridade resulta necessariamente em um melhor desempenho, porém, relata que

pesquisas mostram que as empresas que possuem uma mão de obra mais preparada

educacionalmente obtêm melhores resultados.

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Sobre a contribuição oferecida pelo sistema educacional local, Vicari (2009)

comenta que quando este parâmetro é bem desenvolvido, há uma oferta de profissionais

qualificados e jovens talentos com perfil questionador, inovador e empreendedor. No cluster

analisado, 23,08% das empresas entrevistadas consideram o sistema educacional regular ou

ruim e isto é marcado pela carência de mão de obra técnica qualificada.

Com relação à circulação de conhecimento tácito local, o estudo de Vicari (2009)

apontou um alto grau de circulação de conhecimento tácito, sendo que 80,77% dos

entrevistados consideram entre bom e ótimo; uma explicação para este resultado é que a região

possui uma densa rede de subcontratações e serviços complementares, onde ocorre grande

intercâmbio de informações entre as empresas e os profissionais.

Relacionado à disseminação de melhores práticas, a pesquisa buscou identificar

como as empresas avaliam o cluster em relação à capacidade de compartilhar conhecimento e

melhores práticas. Os resultados da pesquisa são considerados regulares, obtendo um valor de

42,31% das empresas que consideram a prática regular ou ruim.

A última verificação da pesquisa de Vicari (2009) foi referente ao investimento em

treinamento dos funcionários e os resultados foram considerados insatisfatórios, mostrando que

em 61,54% das empresas, o investimento em treinamento e desenvolvimento é ruim ou regular.

Por meio deste levantamento teórico, percebe-se que há uma tendência de que as

empresas inseridas em aglomerados possam ter uma maior vantagem competitiva na aquisição

de uma mão de obra, porém, como visto no exemplo apresentado, isto nem sempre é uma

constante, porque os aglomerados são muito diferentes entre si, dependendo de diversos fatores,

como culturais, históricos, de idade, dentre outros.

2.2.7 Fator inovação

Fazendo um breve recorte histórico sobre a inovação, até o final dos anos 1960, ela

era vista como ocorrendo em estágios sucessivos e independentes de pesquisa básica, pesquisa

aplicada, desenvolvimento, produção e difusão (visão linear da inovação), sendo considerada

apenas como um ato isolado. A partir da década de 1970, ampliou-se o entendimento da

inovação, que passou a ser vista não mais como um ato isolado, mas como um processo,

derivando de complexas interações entre o ambiente socioeconômico e as mudanças

tecnológicas. Desde então, inovação é definida como processo não linear, composto de

diferentes inter-relações entre as diversas fases, desde a pesquisa básica até a comercialização

e difusão e entre as diferentes organizações (LASTRES; CASSIOLATO, 2003).

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No cenário atual, o mundo vive um momento em que o ciclo de vida dos produtos

se torna cada vez mais curto, impulsionando o consumo e consequentemente a produção, isto

leva a uma busca constante por vantagens competitivas mediante à capacidade das empresas

em adquirir conhecimentos a fim de gerar inovações. Para Petrescu, Rus e Negruşa (2014), a

inovação sustenta o progresso e ajuda as empresas a alcançar um lugar melhor no mercado, de

modo que o desenvolvimento da inovação e o interesse por ela aumentam as chances de a

empresa sobreviver, crescer e ter uma contribuição positiva na sociedade.

Borin (2006) destaca que, nesse contexto, as empresas passam a estar inseridas em

um ambiente social, em que o poder público ou as políticas públicas, juntamente com os demais

atores, se tornam relevantes como suporte ao processo de inovação e modernização produtiva.

Sobre a importância do ambiente para um melhor processo de inovação, surge o papel dos

clusters como motivador desta abordagem. Fundeanu e Badele (2014) apresentam uma

definição de cluster bastante voltada à inovação e cooperação, segundo a qual:

Clusters são grupos de empresas independentes (start-ups, pequenas, médias e

grandes empresas e organizações de pesquisa) atuando em uma área específica, a fim

de estimular atividades inovadoras, promovendo interações intensivas, o uso de

instalações comuns, trocas de experiências e conhecimentos e contribuindo para a

transferência de tecnologia, networking e disseminação de informação entre as

empresas do cluster (FUNDEANU; BADELE, 2014, p. 405).

Percebe-se na definição dos autores que o principal foco de um cluster é

proporcionar a inovação por meio da interação entre os atores. Apesar de a empresa ainda ser

considerada o ponto mais importante neste processo, para Lastres e Cassiolato (2003), uma

empresa não inova sozinha, o processo de inovação é interativo e de natureza social, contando

com a contribuição de vários agentes econômicos e sociais, detentores de diferentes tipos de

informações e conhecimentos, dentro e fora da empresa.

Fundeanu e Badele (2014) complementam que para fazer-se a transferência de

tecnologia e inovação entre os participantes, a estrutura associativa requer a participação de um

conjunto de três tipos de atores, os quais ele denomina de Triple Helix, estes são:

• Acadêmica - universidades, institutos de pesquisa e centros de formação

profissional, oferecendo produtos, processos, treinamentos e serviços inovadores;

• Negócios - empresas (incluindo start-ups e spin-offs), que se destinam a empregar

a inovação e que idealmente devem liderar e absorver a proposta de inovação;

• Governo - poderes centrais, regionais ou locais para facilitar os processos de

inovação.

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O Triple Helix enfatiza a importância de criar sinergias entre os três polos:

intelectuais, negócios e governo. Destas sinergias pretende-se a circulação do conhecimento,

levando a inovação a obter potencial econômico (HERLIANA, 2015). Fundeanu e Badele

(2014) sugerem ainda a adição de um quarto participante ao Triple Helix, que seriam os agentes

catalisadores, formado por entidades de coordenação e consultoria nacional e internacional.

Percebe-se, portanto, que a inovação é uma condição importante para a

sustentabilidade econômica das organizações diante da situação competitiva em que o mundo

se insere. Piątkowski (2015) confirma este pensamento ao citar que um dos fatores mais

importantes e favoráveis, resultantes do desenvolvimento de clusters, é o aumento da inovação

nos negócios.

Além de que, segundo Lastres e Cassiolato (2003), não há mais o pensamento de que

a inovação deve ser algo absolutamente novo, agora ela é identificada como um processo pelo qual

as empresas dominam e implementam o desenvolvimento e a produção de bens e serviços, que

sejam novos para elas, independentemente do fato de serem novos para seus concorrentes

(domésticos ou internacionais).

Segundo Borin (2006), é importante frisar a relevância dos sistemas de inovação

como uma estratégia ou instrumento de desenvolvimento regional e/ou local, sendo que a

aglomeração de empresas, juntamente com os demais atores, como instituições, universidades,

dentre outros, ao reduzir distâncias, facilita a acessibilidade, permitindo o contato direto e a

presença de externalidades, facilitando o fluxo de conhecimentos, o aprendizado e a inovação.

Com base neste mesmo destaque da inovação para os aglomerados, Lastres e Cassiolato (2003)

consideram que nos Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (ASPILs):

[...] o aprendizado interativo constitui fonte fundamental para a transmissão de

conhecimentos e a ampliação da capacitação produtiva e inovativa das empresas e

outras organizações. A capacitação inovativa possibilita a introdução de novos

produtos, processos, métodos e formatos organizacionais, sendo essencial para

garantir a competitividade sustentada dos diferentes atores locais, tanto individual

como coletivamente (LASTRES; CASSIOLATO, 2003, p.5).

2.2.8 Fator proximidade

Pesquisas sobre o papel da proximidade geográfica entre as empresas têm crescido

exponencialmente nas últimas décadas. Inúmeros estudos analisam as externalidades geradas,

temas como a intensidade do fluxo de negócios, inovações tecnológicas e competitividade são

recorrentes. Uma das principais razões para este interesse é que a proximidade geográfica

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facilita spillovers de conhecimento, isto ocorre quando empregados de diferentes empresas de

um setor trocam ideias sobre novos produtos e novas formas de produção (GELDES et al.,

2015).

Outro resultado positivo da proximidade entre as empresas em um cluster é o

potencial para sustentar uma vantagem competitiva através da exploração do "efeito de

origem". Empresas se beneficiam de um efeito positivo de origem para os seus produtos através

do mecanismo das denominações de origem controladas. O comportamento do consumidor no

setor de alimentos e bebidas é particularmente sensível às sugestões de origem (especialmente

no que diz respeito a avaliações de produtos e qualidade, vontade de pagamento e intenção de

compra) (GELDES et al., 2015).

A proximidade geográfica entre empresas é a condição mais importante para a

existência de um cluster e quanto maior a concentração melhor é a condição de operação do

aglomerado (ZACCARELLI, 2003). Amaral Filho (2008) acrescenta que o território ganha uma

importância relevante, por ser não apenas uma referência de localização industrial, ou um

simples local de concentração de atividades econômicas, mas também como reservatório de

valores, de instituições, e portador de culturas.

Dependendo da complexidade do produto, o cluster pode envolver várias cidades,

como é o caso da produção de um automóvel, ou quando uma cidade é muito grande há casos

do cluster se concentrar em um bairro ou até mesmo em uma única rua, como é o caso de

clusters de lojas comerciais (ZACCARELLI, 2003).

Apesar da globalização e dos grandes avanços tecnológicos, principalmente os

ligados aos sistemas de informação ou à internet, ainda há um grande interesse das empresas

em se instalarem em locais com forte concentração empresarial, da mesma forma, empresas

que já se encontram localizadas em clusters encontram algumas barreiras ou fatores que inibem

a sua saída, ou deslocalização para atuarem de forma mais isolada (GELDES et al., 2015;

MOLINA-MORALES; ARES VÁZQUEZ, 2007; PEZOA-FUENTES; VIDAL-SUÑÉ, 2017).

A pesquisa realizada por Molina-Morales e Ares Vázquez (2007) em um cluster

cerâmico avaliou quatro fatores que podem atuar como barreiras à deslocalização da atividade,

resultando em geração e manutenção de vantagens competitivas do cluster e, assim, melhorando

sua competitividade, os fatores são: i) o sentido de pertença ao cluster, que se refere à

proximidade cognitiva, ii) a densidade da rede de relações estabelecidas, relacionada à

proximidade organizacional, iii) a existência de normas e valores compartilhados, que atende à

proximidade social, iv) o quadro institucional do cluster, que está obviamente relacionado à

proximidade institucional.

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Diante dos pontos de vista apresentados a proximidade geográfica é considerada

muito importante, entretanto ela não pode ser analisada isoladamente e pode até proporcionar

considerações negativas. Neste aspecto, Boschma (2005) apresenta outros tipos se proximidade,

sendo eles:

Proximidade cognitiva: a dimensão cognitiva descreve a habilidade dos atores

para se comunicarem de forma significativa a fim de gerar conhecimento, o que implica

compartilhar habilidades e conhecimentos comuns e complementares (MOLINA-MORALES

et al., 2015). Esta proximidade caracteriza-se por uma homogeneidade de elementos dentro do

cluster, como, por exemplo, mesmo idioma, mesmas normas, valores e comportamentos

(PEZOA-FUENTES; VIDAL-SUÑÉ, 2017).

Proximidade organizacional: refere-se a um maior controle e possibilidades para

regular as interações, geralmente aparece através de experiências de colaboração anteriores,

entre empresas do mesmo grupo, ou em relacionamentos de subcontratação de longo prazo

(MOLINA-MORALES et al., 2015). Esta proximidade melhora a capacidade de coordenar a

troca de conhecimentos especializados, sendo mais fácil reduzir a incerteza e, assim, reduzir os

custos de colaboração para a transferência de conhecimentos e tecnologias entre empresas de

cluster (BALLAND, 2012).

Proximidade social: refere-se ao grau de interconexão através das redes sociais ou

ao grau de comportamento humano que ocorre dentro de uma rede social. Tais comportamentos

incluem amizade, parentesco e experiências. Esta proximidade é crucial para explicar os

resultados econômicos, porque os laços com base na confiança promovem transferências de

conhecimento e práticas de aprendizado comuns, além de moderar os riscos de oportunismo

(MOLINA-MORALES et al., 2015).

Proximidade institucional: as instituições compreendem conjuntos de hábitos

comuns, rotinas, práticas reconhecidas, regras e leis que regulam as interações humanas e

interorganizacionais. Fatores institucionais rígidos (leis e regras) são tão importantes quanto os

suaves (normas, valores e rotinas). A proximidade institucional é uma combinação complexa

de fatores de nível macro rígidos e suaves que fornecem uma estrutura de estabilidade e formas

de comportamentos cooperativos.

Proximidade geográfica: está mais ligada a uma perspectiva de co-localização das

organizações, que, além de razões materiais, como a redução do custo de transporte ou a

utilização das mesmas plataformas tecnológicas, existem fortes relações entre a proximidade

geográfica e a difusão do conhecimento e inovação (GELDES et al., 2015). O principal

mecanismo subjacente é que o conhecimento tácito, um dos principais fatores dos processos de

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inovação, é menos provável que seja transferido dentro de colaborações distantes (BALLAND,

2012).

Além dos efeitos positivos da proximidade geográfica no aprendizado, esta

fortalece as demais formas de proximidade. De fato, a proximidade geográfica promove, entre

outras coisas, a formação/evolução de instituições, integração e confiança e/ou proximidade

cognitiva (MOLINA-MORALES et al., 2015).

2.2.9 Fator infraestrutura

A infraestrutura é considerada por vários autores como um dos requisitos básicos

mais importantes para bom desempenho de um cluster. Segundo Vicari (2009), as atividades

de infraestrutura geralmente envolvem a atuação do poder público local fornecendo suporte à

atividade privada, alguns exemplos deste apoio são:

• infraestrutura física: centros de convenções, centros comerciais, aeroportos, estradas,

telecomunicações, energia, água, dentre outros;

• divulgação e marketing: órgãos do governo, associações turísticas, empresas de

propaganda e marketing;

• qualidade de vida: meio ambiente, segurança, lazer, atividades culturais;

• regulamentações: órgãos do governo, associações;

• financeiro: bancos públicos e privados, bancos de investimento, financiamentos do

governo;

• ciência e tecnologia: órgãos de pesquisa e desenvolvimento, incubadoras de

empresas;

• educação e treinamento: universidades, colégios técnicos, SEBRAE, SENAC.

Conclui-se que a infraestrutura é um pré-requisito para o desenvolvimento

econômico, tendo uma grande influência no desenvolvimento do cluster (HUANG; LUO,

2011).

2.2.10 Fator Cultura

A cultura de uma sociedade que compartilha o ambiente geográfico com um cluster

possui a tendência em absolver certos valores da cultura das empresas, então acaba havendo

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certo reconhecimento pelo desenvolvimento e dependência econômica que o cluster

proporciona, trazendo orgulho profissional por parte da mão de obra e consequentemente uma

elevada produtividade (ZACCARELLI, 2003).

Um estudo realizado por Asheim e Isaksen (2002), em clusters da indústria naval

na Noruega, identificou o reflexo no sucesso da inovação, derivado de uma responsabilidade

comum na comunidade local, disposta a desenvolver a indústria e, consequentemente, a

comunidade. Estas são atitudes enraizadas na forma como a indústria de construção naval foi

estabelecida e desenvolvida na área.

Autores como Vicari (2009), Pezoa-Fuentes e Vidal-Suñé (2017) reforçam este

pensamento ao declararem que a cultura comunitária e o relacionamento social são de extrema

importância para o desenvolvimento do cluster, contribuindo para o desenvolvimento de um

ambiente favorável à cooperação, à troca de experiência e difusão do conhecimento.

Para se avaliar a cultura comunitária em um cluster, Vicari (2009) utilizou quatro

parâmetros, sendo eles:

1) existência na região de uma atmosfera favorável à cooperação, ou seja, a existência

de um clima e cultura geral propícios para a cooperação;

2) intercâmbio de informações entre fornecedores e clientes, nas várias fases do

processo de produção. Este hábito dentro de um cluster favorece a integração e

desperta para a necessidade de parcerias e ações conjuntas;

3) intensidade de relacionamento social entre empresários. Entende-se que quanto

maior o relacionamento entre os gestores, maiores são as possibilidades na geração

de negócios, além de ampliar a confiança mútua;

4) análise do tipo de cultura dos empresários para verificar se há um individualismo ou

coletivismo. Quanto maior o pensamento da coletividade, mais favorecida se torna a

cultura comunitária.

Pezoa-Fuentes e Vidal-Suñé (2017) dizem que as economias externas podem não

ser aproveitadas sem um censo de comunidade, porque o grupo de empresas que formam um

cluster não apenas respondem a um fenômeno econômico, produtivo e organizacional, mas

também é afetado por fatores sociais, históricos e culturais, baseados em modelos cognitivos

compartilhados, portanto, as trocas dentro do cluster não têm apenas uma dimensão econômica,

mas também dimensões de conhecimento e valores.

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2.2.11 Fator especialização

O conceito de especialização de empresas, segundo Haedo e Mouchart (2015),

refere-se à homogeneidade dentro da aglomeração. Ou seja, constitui-se uma região com forte

vocação para um determinado tipo de produto ou serviço, porém, com uma grande diversidade

de empresas focadas ou especializadas em poucas etapas do processo produtivo. De acordo com

o European Cluster Memorandum (2007), clusters são concentrações regionais de empresas

especializadas e instituições ligadas através de múltiplas conexões e spillovers, os quais

proporcionam um ambiente propício à inovação (KULAKOVA, 2014). Percebe-se, nesta

definição, que a existência de empresas especializadas é uma condição para a formação de um

cluster.

Neste sentido, Zaccarelli (2003) destaca que clusters completos, do ponto de vista

competitivo, não são constituídos por empresas verticalizadas, que produzem desde a matéria-

prima até o produto final, mas sim de empresas especializadas, dedicadas a poucas operações,

assim resulta-se em muitos tipos de empresas dentro de um mesmo cluster.

Marshall (1920) já destacava a importância da especialização ao mencionar os

distritos industriais com conhecimentos especializados que integravam a habilidade da mão de

obra, a intensa relação de negócio entre as empresas, disponibilidade de materiais

intermediários especializados e acesso ao conhecimento comercial.

Em outro ponto de vista, Schmidt (2015) menciona a importância de certa

diversidade de conhecimentos nos aglomerados, ou seja, é interessante que as empresas não

sejam tão similares em suas atividades, isso porque novas ideias podem surgir de

conhecimentos de fora do próprio setor industrial, as ligações intersetoriais; portanto, suportam

o acesso e a difusão de diferentes conhecimentos, porque as empresas e organizações não

competitivas estão mais dispostas a compartilhar experiências e ideias.

2.2.12 Fator energia empreendedora

Uma região em que se desenvolve e se aperfeiçoa o intelecto das pessoas para a

prática do empreendedorismo favorece a cultura da criatividade em vários aspectos como

geração de negócios, conquista de mercados, desenvolvimento de produtos, dentre outros. Com

isso se obtém uma maior sustentabilidade e competitividade das empresas criadas. Nesse

aspecto, para Schmidt e Dreher (2008), uma empresa, comunidade ou região que possua uma

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cultura empreendedora é muito fortalecida, já que consegue visualizar e aproveitar novas

oportunidades dentro de um ambiente inovador, tendo a possibilidade de trabalhar baseando-se

em estratégias e planejamentos, que são os alicerces da cultura empreendedora, diminuindo as

incertezas nas oportunidades de negócios e gerando uma forte vantagem competitiva para os

grupos que a possuem.

Vicari (2009) retrata essa temática do empreendedorismo para o desenvolvimento

econômico ao descrever que:

A formação de empreendedores através do estabelecimento de uma cultura voltada

para o empreendedorismo – com a sensibilização e a preparação de indivíduos, o

planejamento, a criação de empresas e empreendimentos – representa uma importante

contribuição para a criação de um capital intelectual e empreendedor, de fundamental

importância nas economias modernas realmente competitivas (VICARI, 2009, p.

149).

Reconhecendo a significância do empreendedorismo, surge uma dúvida sobre o que

realmente pode ser considerado como uma ação empreendedora. Monteiro, Palma e Lopes

(2012) esclarecem que pode haver duas abordagens válidas: a primeira considera que o

empreendedorismo é visto por meio de resultados efetivos na criação de novos negócios e novas

empresas; já uma segunda visão, mais abrangente e atual, considera que as renovações

estratégicas também podem ser consideradas como ações empreendedoras, já que tanto os

novos negócios como as renovações buscam oportunidades e vantagens competitivas. Os

mesmos autores consideram que a capacidade das organizações em elaborar estratégias, criar

negócios, entrar em novos mercados e desenvolver os mercados existentes é um recurso

denominado Capital Empreendedor (CE), o qual pode ser tão importante quanto a outros

recursos, como capital humano, financeiro e social.

O empreendedorismo também é visto por alguns autores (SCHMIDT; DREHER,

2008; SEBRAE, 2003; VICARI, 2009) como uma característica de suma importância para o

sucesso dos clusters, porque, conforme relata Schmidt e Dreher (2008), quando um conjunto

de empreendedores atua de maneira unida, como em iniciativas de empreendedorismo coletivo,

eles conseguem fortalecer as empresas e a comunidade de um modo geral, em razão da

cooperação, da inovação e da integração existentes entre eles.

Deste modo, percebe-se que o empreendedorismo pode ser considerado tanto do

ponto de vista individual, focando-se no empreendedor, como também por um

empreendedorismo coletivo, gerado, por exemplo, por ações de empresas de uma mesma

região, como é o caso dos clusters.

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Schmidt e Dreher (2008) consideram que a forma coletiva pode ser representada

pelo associativismo que vai desde a criação de entidades de representação política e sindical até

ações como compra em comum, serviços pós-venda, prospecção e venda nos mercados

externos, controle de qualidade e aval solidário.

Uma pesquisa realizada por Schmidt e Dreher (2008), a fim de investigar a cultura

empreendedora, tanto no aspecto individual como coletivo, em um APL de turismo sustentável

na região de Nova Rússia, sul do município de Blumenau - SC, utilizou uma abordagem

qualitativa-quantitativa, sendo que a análise do comportamento coletivo foi realizada por um

processo de observação e participação e a análise do comportamento individual foi realizada

por meio de uma entrevista estruturada. Os resultados apontaram que existe uma cultura

empreendedora na região, porém, de forma muito fragilizada, o que compromete o sucesso do

cluster. Apesar de existirem ações de empreendedorismo coletivo bastante relevantes na região,

o perfil empreendedor dos proprietários-dirigentes apresentou uma média relativamente baixa.

As características investigadas nesta pesquisa foram retiradas da teoria de

McClleland, a qual é fundamentada na motivação psicológica e é considerada um dos poucos

instrumentos que mensura as características comportamentais dos empreendedores. Esta teoria

é dividida em dez características dentro de três conjuntos:

Conjunto de realização: 1) busca de oportunidades e iniciativa: aproveitam

oportunidades fora do comum para iniciar um negócio e realizam atividades antes do solicitado;

2) persistência: enfrentam desafios e não desistem perante obstáculos; 3) correr riscos

calculados: analisam e calculam os riscos de maneira cuidadosa e sempre avaliam as chances

de sucesso e fracasso; 4) exigência de qualidade e eficiência: buscam exceder os padrões de

excelência e têm energia para trabalhar muito; 5) comprometimento: empenham-se

pessoalmente na conclusão de uma tarefa e zelam pela satisfação dos clientes.

Conjunto de planejamento: 6) busca de informações: recorrem à ajuda de

especialistas para elaborar estratégias e buscam informações sobre clientes, fornecedores e

concorrentes; 7) estabelecimento de metas: fixam objetivos claros e específicos e estão sempre

orientados para resultados; 8) planejamento e monitoramento sistemático: estabelecem prazos

para o cumprimento das tarefas, além de acompanhá-las de perto, e buscam feedback.

Conjunto de poder: 9) independência e autoconfiança: buscam autonomia,

mostram-se confiantes ao enfrentar desafios e buscam situações para eliminar problemas; 10)

persuasão e rede de contatos: influenciam e persuadem pessoas, agem de forma a desenvolver

e manter relações comerciais, negociam e fazem as pessoas acreditarem em determinada ideia.

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Conclui-se na análise deste fator de empreendedorismo, com o pensamento de

Schmidt e Dreher (2008) de que sempre há uma diferença no comportamento empreendedor

das pessoas, de acordo com a cultura e costumes da região, porque as pessoas não nascem

empreendedoras, elas desenvolvem essa característica pelo meio em que vivem.

2.2.13 Fator estratégia

Segundo Zaccarelli et al. (2008), para a formação de um cluster organizado de

forma completa deve-se existir uma estratégia de resultados orientada diretamente para o

aglomerado como um todo. Isto significa a presença efetiva e deliberada de orientação para

ação e decisão das empresas participantes. Para os referidos autores, o fator estratégia é um

artifício que tende a proporcionar ao aglomerado uma vantagem competitiva sustentável ao

longo do tempo, isso porque há uma tendência de que os clusters declinem sua competitividade

ao longo do tempo.

Segundo Huang e Luo (2011), nas estratégias orientadas para o cluster devem estar

combinadas os interesses de todas as empresas agregadas, onde se planejam todo o sistema de

desenvolvimento e proteção do setor industrial e se regulam o comportamento dos negócios

para obter o máximo de benefícios para o setor.

Segundo Wegner e Padula (2012), o planejamento estratégico faz parte do processo

de criação de uma rede de empresas, porque atua como guia de ações e fortalecimento da

cooperação, além de que os relacionamentos de coopetição bem-sucedidos são parcerias que

atendem a certos critérios, e um deles é o ajuste estratégico.

2.2.14 Fator uniformidade tecnológica

Para Zaccarelli (2003), este fator sugere que não deve existir em um mesmo cluster

uma alta disparidade entre os níveis tecnológicos das empresas, ou seja, enquanto algumas

empresas utilizam tecnologias modernas outras utilizam tecnologias obsoletas; isso porque as

empresas mais modernas teriam muitas vantagens sobre as mais atrasadas tecnologicamente. O

autor sugere que um cluster deve ser avaliado pela tecnologia mais atrasada em uso, porque

para que haja uma real melhoria, deve-se substituir a tecnologia mais atrasada.

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2.2.15 Fator reaproveitamento de produtos

A forte concorrência empresarial faz com que os gestores se tornem proativos na

busca da redução de custos em suas operações e um dos custos que impactam fortemente na

eficiência é o desperdício de materiais provenientes de refugos ou retalhos, logo, torna-se

necessário que haja um reaproveitamento dos produtos de forma sustentável, a fim de gerar

rendas e também para reduzir impactos ambientais. Neste contexto, surge a importância de que

em aglomerados empresariais haja meios hábeis para reaproveitar os produtos.

Segundo Zaccarelli (2003), a reciclagem de materiais e o aproveitamento de

subprodutos pode não ser economicamente viável para empresas isoladas, porém, em conjunto

com as empresas do cluster isso pode ser viabilizado, até mesmo proporcionando a geração de

empresas voltadas para essa função. O autor apresenta um exemplo do cluster de frangos no

estado de São Paulo, que geravam um lixo indesejável composto pelas penas dos animais

abatidos, e surgiu então um empreendedor que desenvolveu a tecnologia para transformar as

penas em farinha, que passaram a ser usadas nas próprias fábricas como rações para as aves.

Outro exemplo identificado na pesquisa de Aguiar et al. (2017) apresenta o projeto

denominado “retalho fashion”, realizado no cluster têxtil do Bom Retiro, município de São

Paulo, onde houve a formalização do trabalho dos catadores, os quais enviam os resíduos

coletados, tanto por eles como pelas empresas responsáveis pela coleta dos resíduos dos grandes

geradores, para uma cooperativa específica. Tal projeto é responsável por gerenciar os

catadores, separar os resíduos e preparar a matéria-prima para ser vendida às empresas

recicladoras.

No município de Juazeiro do Norte – CE há inúmeros casos de empresas que

surgiram para fabricar solados de PVC, utilizando sobras de materiais das próprias empresas da

região, e isto também estimulou a confecção de calçados mais populares, voltados

principalmente para o público feminino, por parte de micro e pequenas empresas locais

(COSTA, 2007).

2.2.16 Fator políticas públicas

O poder público, em suas três esferas (federal, estadual e municipal), é um ator

sempre presente na atuação dos clusters, independentemente do tamanho e do grau de

complexidade do sistema, e as políticas públicas estarão sempre sujeitas a riscos e fracassos na

atuação destes, portanto sua atuação nos clusters não é tarefa fácil, principalmente por causa

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dos impasses envolvendo interesses públicos e privados (AMARAL FILHO, 2011). Para

autores como Huang e Luo (2011) e Sosnovskikh (2017), as políticas públicas voltadas para

aglomerados industriais é fundamental e a maioria dos governos se esforça para atrair

investidores a fim de desenvolver suas regiões de forma organizada e sustentável.

Segundo Amaral Filho (2011), no Brasil, as políticas públicas atuam nos clusters

por meio das ações básicas (cobrança de tributos, regulamentações, fiscalizações ambientais e

trabalhistas, dentre outros) e pela oferta de serviços e equipamentos básicos nas áreas de

educação, saúde, infraestrutura, dentre outros. Porém, para o autor, o mais comum são as

políticas voltadas às empresas isoladas, ao invés de aglomerados empresariais, principalmente

nos casos associados às médias e grandes empresas, atraídas ao território com o apoio de

incentivos fiscais, terrenos e infraestrutura.

O mesmo autor relata que devido à complexidade dos clusters é de extrema

importância que os programas públicos de apoio sejam precedidos por estudos minuciosos e

por análises capazes de revelar as reais necessidades e os focos dos problemas. As políticas

precisam de conhecimento histórico, empírico e específico do cluster e somente a partir desse

conhecimento, compreendem-se as deficiências do sistema e podem-se gerar as tomadas de

decisões.

2.2.17 Fator disponibilidade de capital

A disponibilidade de capital é um fator que afeta diretamente no desenvolvimento

das empresas que compõem o cluster. Para Vicari (2009, p.132), “quanto maior a

disponibilidade de capital, maior a ‘oxigenação’ das empresas, maior o incentivo à abertura de

novos negócios, e maiores os investimentos em inovação”. Neste aspecto, torna-se muito

importante a ação dos agentes financeiros, como por exemplo, o Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), tais agentes possuem o papel de oferecer

linhas de créditos atrativas, proporcionando um elevado reinvestimento dos lucros obtidos

gerando um aumento da disponibilidade de capital circulante no cluster.

Herliana (2015) também destaca a disponibilidade de capital como um dos

principais fatores que contribuem para o crescimento do cluster. A autora destaca que para as

empresas melhorarem a qualidade do produto e expandir a rede de negócios, é necessário um

aporte adicional de recursos financeiros, porém, algumas empresas estagnam neste aspecto

devido à falta de garantia do crédito bancário ou pela exploração abusiva de juros por parte de

alguns agentes financeiros.

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2.2.18 Fator gestão organizacional

A existência de empresas organizadas e bem geridas individualmente proporciona

um elevado grau de competitividade do cluster, isso porque quando há empresas com alto grau

organizacional faz com que os parceiros que queiram se inserir no cluster também tenham uma

gestão organizacional capaz de complementar as das empresas existentes e assim gerar relações

sustentáveis (VICARI, 2009). Herliana (2015) comenta que as empresas que compõem os

clusters são em sua maioria de micro e pequeno porte, as quais tendem a usar parentes próximos

na gestão dos negócios, independentemente de suas habilidades e competências, isto, em muitos

casos, ocasiona uma visão menos favorável à competitividade, à disciplina e à responsabilidade.

Vicari (2009) relata que avaliar a qualidade na gestão não é uma tarefa fácil,

entretanto, existem alguns métodos que podem ser utilizados de forma relativizada, estes

métodos são:

a) um método corresponde em avaliar a empresa individualmente, verificando

ferramentas de gestão como planejamento estratégico, gestão da qualidade, produção

enxuta, entre outros. Esta forma de medição acaba não sendo tão eficiente com

empresas muito pequenas, que por muitas vezes precisam aplicar técnicas mais

simples de gestão;

b) outro método de avaliação é por meio da verificação dos resultados. Neste caso são

usados indicadores como retorno sobre capital investido, aumento de receita,

aumento das exportações, entre outros. É importante frisar que nem sempre a

existência de bons ou maus resultados é decorrente da gestão, pode haver fatores

externos que influenciam fortemente nos resultados, como, por exemplo, uma grave

crise no setor;

c) um último método apresentado pelo autor é a autoavaliação das empresas, de modo

que o próprio empreendedor avalia sua atuação identificando forças e fraquezas da

empresa. No entanto, esta análise nem sempre é precisa e isto decorre por alguns

motivos: i) receio de um gestor em apontar as fraquezas da empresa (pois temem que

essas informações sejam divulgadas), ii) incapacidade de autoconhecimento, iii) falta

de visão sobre o atual patamar dos competidores, iv) tendência do entrevistado em

ressaltar os bons resultados.

Percebe-se nestes métodos que todos possuem suas vantagens e desvantagens, logo

fica a critério do pesquisador escolher o mais apropriado para cada situação ou até mesmo

utilizá-los de forma conjunta.

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2.3 Métodos quantitativos para a identificação de clusters

As pesquisas relacionadas aos clusters, em sua maioria, têm sido realizadas de

forma qualitativa-descritiva, na maior parte delas valendo-se da estratégia de estudos de caso.

Por outro lado, Britto e Albuquerque (2002) argumentam que, com pesquisas quantitativas,

torna-se possível uma melhor visualização dos aglomerados, permitindo o estabelecimento de

critérios específicos para sua identificação, caracterização e comparação com outros arranjos.

Amaral Filho et al. (2006) acrescentam ainda que a utilização de técnicas para a

identificação de aglomerados empresariais é um passo importante na formulação de estratégias

de desenvolvimento nas economias locais.

Suzigan, Garcia e Furtado (2002) corroboram com o autor ao destacarem que o

levantamento quantitativo é fundamental para selecionar, com critérios metodológicos

adequados, os casos que serão alvo de estudo e, para cada caso, avaliar a extensão da cadeia

produtiva presente no cluster. Os autores também salientam que o estudo quantitativo, baseado

em dados secundários, é uma metodologia prévia e não substitui a realização de estudos de

casos, já que diversas das especificidades da organização produtiva local, assim como suas

características históricas, institucionais, sociais e culturais só poderão ser identificadas com a

execução da pesquisa de campo.

Existem vários métodos quantitativos empregados para a identificação de clusters,

Rivera, Sheffi e Welsch (2014) mencionam que os mais utilizados são os seguintes métodos:

Quociente Locacional (QL), Quociente de Localização Clustering Horizontal (QLCH), o

Coeficiente Gini Locacional (CGL), o Índice Herfindahl-Hirschman (IHH) e o Índice Ellison-

Glaeser (IEG). A seguir está uma explanação destes indicadores, porém, um maior

aprofundamento foi realizado sobre o QL, o qual foi o índice utilizado nesta pesquisa.

2.3.1 Quociente Locacional (QL)

Dentre os métodos mencionados, um dos mais utilizados é o Quociente Locacional

(QL) (PUGA, 2003), que toma por base dados secundários (como, por exemplo, o Relatório

Anual de Informações Sociais – RAIS, do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE).

Geralmente, este indicador é acompanhado de algumas variáveis de controle (por exemplo,

número absoluto de empregos e de estabelecimentos, participação no emprego total da classe

no país ou região), permitindo identificar e delimitar aglomerações de empresas,

adicionalmente, esse índice ainda permite apontar algumas das principais características da

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estrutura local (AMARAL FILHO et al., 2006; BRITTO; ALBUQUERQUE, 2002;

OLIVARES; DALCOL, 2014; SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2002).

Segundo Suzigan, Garcia e Furtado (2002) Quociente Locacional (QL) teve sua

contribuição original no ano de 1960, apresentado por Isard na obra Methods of Regional

Analisys, desde então tem sido amplamente utilizado em estudos de economia e

desenvolvimento regional. A Equação 1 apresenta o QL.

𝑄𝐿𝑖𝑗 =

𝐸𝑖𝑗𝐸𝑖

𝐸𝑗𝐸

⁄ = Quociente Locacional do setor i na região j; (1)

𝐸𝑖𝑗 = Emprego no setor i da região j;

𝐸𝑗 = Emprego em todos os setores da região j;

𝐸𝑖 = Emprego no setor i de todas as regiões;

𝐸= Emprego em todos os setores de todas as regiões.

O QL apresenta a concentração relativa de empresas de um determinado segmento

numa região ou município comparativamente à participação dessas mesmas empresas no espaço

definido como base (uma cidade, estado ou país, por exemplo). Deste modo, a verificação de

um valor elevado para o QL numa região indica aglomeração e especialização de atividade

(SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2002).

A partir do resultado do cálculo do QL, três situações podem ser apresentadas: i)

QL é menor do que um (<1), considera-se que a região tem um grau de especialização menor

do que o conjunto, podendo ser o estado ou o país, por exemplo; ii) quando o QL é igual a um

(=1), considera-se que o grau de especialização da região é igual ao do conjunto; iii) quando o

QL é maior que um (>1), considera-se que a região tem um grau de especialização maior que o

conjunto (AMARAL FILHO et al., 2006).

Na utilização do QL para identificação de clusters não há um consenso sobre qual

seria um valor mínimo para se classificar uma região como um aglomerado especializado. O

importante é que quanto maior o QL, mais relevante é o setor para a região (ALMEIDA;

BASTOS, 2008; SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2002).

Autores como Suzigan et al. (2003), Suzigan, Garcia e Furtado (2002) e Britto e

Albuquerque (2002) relacionam rankings em seus trabalhos com as regiões com maiores

valores de QL, mas não determinam um valor de corte, contanto que seja maior que um (>1).

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Porém, autores como Olivares e Dalcol (2014) e Puga (2003) consideram que para uma

especialização elevada o QL deve ser a partir de cinco (>=5).

É importante destacar que o índice de QL geralmente é utilizado com outro

indicador e/ou com variáveis de controle. Apesar do QL ser um instrumento extremamente útil

para a localização de aglomerados, autores como Amaral Filho et al. (2006), Olivares e Dalcol

(2014) e Suzigan, Garcia e Furtado (2002) advertem que este indicador pode apresentar algumas

distorções, dependendo da situação. Os principais problemas na interpretação deste indicador

são:

• a presença de uma grande empresa, com um grande volume de vínculos

empregatícios, em uma determinada região, pode produzir uma falsa imagem, tanto

no aspecto de aglomeração como na identificação de especialização (AMARAL

FILHO et al., 2006; OLIVARES; DALCOL, 2014; SUZIGAN; GARCIA;

FURTADO, 2002);

• municípios grandes, com intensa diversificação de setores podem apresentar QL

baixos quando comparado com municípios menores. Por exemplo, a capital cearense,

Fortaleza, devido a uma concentração elevada de diversas atividades econômicas,

como alimentos, bebidas, confecção, têxtil, dentre outras, não é um município

expressivo em QL, sendo que municípios pequenos, com reduzida densidade

econômica, aparecem com grande destaque para este indicador (AMARAL FILHO

et al., 2006; OLIVARES; DALCOL, 2014; SUZIGAN; GARCIA; FURTADO,

2002);

• a metodologia não identifica diferenças nos padrões tecnológicos das escalas de

produção (AMARAL FILHO et al., 2006).

Para amenizar estas falhas do QL, são utilizadas algumas variáveis de controle, que

servem de “filtros” para melhorar a utilização e interpretação das informações resultantes dos

cálculos desse indicador, algumas destas variáveis são: participação no total do emprego no

estado e número de estabelecimentos (OLIVARES; DALCOL, 2014; SUZIGAN; GARCIA;

FURTADO, 2002).

O QL será utilizado nesta tese como instrumento para a identificação de

aglomerados apenas da indústria de transformação, sendo que foi definido como região o

município de Fortaleza e espaço base o estado do Ceará. Posteriormente, após a identificação

do aglomerado mais significativo, foi realizada uma nova identificação tendo agora como

região os bairros do município de Fortaleza e espaço base o próprio município. A fim de se

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elaborar o QL são necessárias fontes de informações confiáveis e atualizadas. As fontes de

informações a serem utilizadas para o cálculo do QL nesta tese estão apresentadas na seção 2.5.

2.3.2 Quociente de Localização Clustering Horizontal (QLCH)

Ao contrário do QL, o QLCH mede a importância local de um setor dada a

importância geral de uma área, este indicador foi desenvolvido em decorrência da falta de

sensibilidade à escala do QL. O QLCH corresponde a uma aglomeração espacial de empresas,

em uma determinada indústria e número de empregos na indústria que excede seu número

esperado. O número esperado é o número de empregos em uma indústria que corresponderia à

área com a participação nacional desse setor (JUUSE; ENDRESEN; KATTEL, 2015).

Portanto, o QLCH mede a diferença entre o número real e o esperado de uma

determinada indústria. Enquanto os valores positivos do QLCH indiquem indústrias

espacialmente concentradas, os valores negativos indicam que o emprego de uma determinada

indústria em uma cidade é menor que o emprego esperado e, portanto, há menos concentração

dessa indústria (JUUSE; ENDRESEN; KATTEL, 2015). A equação 2 representa o QLCH

(RIVERA; SHEFFI; WELSCH, 2014):

𝑄𝐿𝐶𝐻 = 𝐸𝑖𝑔 − Ê𝑖𝑔 = Quociente de Localização Clustering Horizontal; (2)

𝐸𝑖𝑔 = Emprego do setor i na região g;

Ê𝑖𝑔 = Estimativa de empregos do setor i na região g quando QL=1.

2.3.3 Coeficiente Gini Locacional (CGL)

Segundo Suzigan, Garcia e Furtado (2002), este é um índice de concentração,

diferente do QL que é um índice de especialização, é utilizado em dados de empregos ou

estabelecimentos industriais permitindo identificar as classes de indústrias que são mais

concentradas no país, ou em alguma região. A equação 3 representa uma forma de obtenção do

CGL (RIVERA; SHEFFI; WELSCH, 2014):

CGL = ∑ ∑ |𝑥𝑖−𝑥𝑗|𝑛

𝑗−1𝑛𝑖−1

2𝑛(𝑛−1)𝜇 = Coeficiente Gini Locacional ; (3)

𝑥𝑖 − 𝑥𝑗= são QLs em cada região i e j respectivamente;

𝜇 = é a média do QL da área de referência, geralmente o país;

𝑛 = é o número de regiões.

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Almeida e Bastos (2008) e Puga (2003) apresentam um passo a passo para outra

forma de obtenção deste índice, que consiste: i) na ordenação, em ordem decrescente, dos

valores do QL, a partir da definição de uma variável base (emprego, produção, valor agregado);

ii) posteriormente constrói-se a curva de localização (curva de Lorenz) para cada um dos setores

pesquisados (a Figura 2 apresenta um exemplo deste gráfico), sua construção realiza-se com as

participações acumuladas do emprego das localidades no total de empregos no país distribuídas

ao longo do eixo horizontal do gráfico. No eixo vertical são acumulados os valores dos

percentuais do emprego em determinado setor da localidade em relação ao emprego total do

setor na economia; iii) em seguida, é calculado o valor da área compreendida entre a curva de

Lorenz e a diagonal do gráfico, valor α.

Por definição, o coeficiente de Gini Locacional é a relação entre a área de

concentração indicada por α (Figura 2) e a área do triângulo formado pela reta de perfeita

igualdade com os eixos das abscissas e das ordenadas (SUZIGAN; GARCIA; FURTADO,

2002). A equação 4 representa esta razão:

𝐶𝐺𝐿 = ∝

0,5= 2 ∝ (4)

O resultado encontrado pode estar entre 0 e 1, quanto mais próximo de 1, mais

concentrada espacialmente é a variável base. Valores próximos de 0 indicam maior igualdade

de distribuição.

Figura 2 - Curva de localização e área de concentração - cálculo Gini Locacional

Fonte: Puga (2003, p.12).

Par

tici

paç

ão d

o e

mp

rego

no

set

or

I da

mic

rorr

egiã

o (

% a

cum

ula

do

)

Emp

rego

to

tal d

o s

eto

r I n

o B

rasi

l

Participação do emprego da microrregião no emprego total (% acumulado)

1

α

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No estudo realizado por Puga (2003) adotou-se um valor mínimo do CGL igual a

0,5. Foram analisados em todo o território nacional os setores de agropecuária, indústria e,

dentro dos setores de serviços, as atividades de informática e conexas e de pesquisa e

desenvolvimento. Como resultado, o mapeamento identificou 193 APLs em 152 microrregiões.

Suzigan, Garcia e Furtado (2002) alertam que o CGL não identifica aglomerações

de empresas, somente indica se determinada classe de indústria é geograficamente concentrada.

Os autores sugerem que para identificar a existência de aglomerações de empresas se utilize o

QL.

2.3.4 Índice Herfindahl-Hirshman (IHH)

Ferreira e Cirino (2013) destacam que este indicador considera todas as empresas

do mercado (geralmente só é possível dados das empresas formalizadas), assim, a saída ou

entrada de novas empresas no mercado afetam o resultado do índice. O valor do resultado varia

entre 1 e 1/k, de modo que IHH=1 denota presença de monopólio e IHH=1/k, representa

situações que variam de oligopólio à concorrência perfeita. A presença de muitas empresas no

mercado (k elevado) fará com que o índice tenda a zero, ou seja, concorrência perfeita. A

Equação 5 representa o IHH (FERREIRA; CIRINO, 2013):

IHH = ∑ (𝑞𝑖

∑ 𝑞𝑗𝐾𝑗=1

)2𝑘𝑖=1 = Índice Herfindahl-Hirshman; (5)

𝑞𝑖 = venda total (ou outra variável) da empresa i;

𝑞𝑗 = venda total (ou outra variável) da empresa j;

K = número de empresas no mercado.

2.3.5 Índice Ellison-Glaeser (IEG)

Segundo Rivera, Sheffi e Welsch (2014), este é um índice sofisticado para medir o

grau de concentração espacial das empresas, pois elimina o efeito da distribuição aleatória dos

estabelecimentos nos locais das empresas, que ocorre no IHH. No entanto, a aplicação desta

medida é limitada devido aos extensos requisitos de dados e a sua sensibilidade às unidades

geográficas utilizadas. Limitações adicionais estão enraizadas na dificuldade de comparar o

valor do índice a nível internacional, devido aos diferentes tamanhos entre regiões e países. A

Equação 6 representa tal indicador (RIVERA; SHEFFI; WELSCH, 2014):

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IEG = ∑ (𝑠𝑖−𝑥𝑖)2−(1−∑ 𝑥𝑖

2) ∑ 𝑧𝑗2𝑛

𝑗−1𝑛𝑖−1

𝑛𝑖−1

(1−∑ 𝑥𝑖2)(1− ∑ 𝑧𝑗

2𝑛𝑗−1

𝑛𝑖−1 )

= Índice Ellison Glaeser; (6)

𝑠𝑖 = quota de emprego industrial na região i;

𝑥𝑖 = participação total de empregos na região i;

𝑧𝑗 = quota de mercado de cada empresa individual na região j.

Finalizando a apresentação dos métodos quantitativos para a identificação de

clusters, justifica-se a utilização de apenas uma das ferramentas nesta tese, o Quociente

Locacional (QL)

Os motivos desta escolha são: primeiro porque a identificação do aglomerado não

é o foco principal desta pesquisa, é apenas uma metodologia prévia e o QL atende perfeitamente

este objetivo, o aprofundamento sobre o aglomerado será dado por meio do estudo de caso,

logo não foi intenção se aprofundar demasiadamente nesta análise quantitativa, assim,

considerou-se que apenas uma ferramenta seria suficiente para a identificação do cluster;

segundo porque o QL é uma ferramenta bastante prática, concernente a obtenção de dados

secundários, como a RAIS, por exemplo, diferentemente do IEG que é limitada devido aos

extensos requisitos de dados; terceiro porque algumas outras ferramentas são apenas variantes

do QL, como é o caso do QLCH que com base no QL mede a diferença entre o número real e

o esperado de uma determinada indústria, e do CGL que tem um foco no rankeamento dos

setores identificados pelo QL; por último, descartou-se o IHH por ter um foco mais na estrutura

de concorrência do mercado.

2.4 Pesquisas aplicadas para a identificação de clusters

Os trabalhos que foram descritos são os de Britto e Albuquerque (2002), Suzigan

et al (2003) e Olivares e Dalcol (2014). A seleção destes para um breve detalhamento se deve

a três principais razões. Primeiramente, os trabalhos de Suzigan et al (2003) e de Britto e

Albuquerque (2002) são pioneiros no Brasil, portanto, são amplamente citados em pesquisas

mais recentes. A segunda motivação deve-se ao fato de que o trabalho de Olivares e Dalcol

(2014), além de ser mais recente, utilizou como base os dois trabalhos citados anteriormente e

aplicou um maior detalhamento na identificação dos aglomerados. Por último, a pesquisa

desenvolvida nesta tese utilizou a base metodológica destes três trabalhos para a identificação

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de aglomerados, porém, com um maior aprofundamento tanto na dimensão territorial como na

setorial.

2.4.1 Trabalho de Britto e Albuquerque (2002)

Este trabalho objetivou suprir uma lacuna decorrente da ausência de fontes de

informações sistematizadas sobre a estrutura de clusters industriais na economia brasileira. Para

atingir tal objetivo foi desenvolvida uma metodologia complexa nos aspectos territoriais e

setoriais, discutindo assim suas estruturas.

A fonte de dados foi estritamente secundária, gerando uma análise quantitativa, sua

extração foi realizada da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), ano base 1997.

Como referência espacial utilizou-se o nível de municípios nos quais se encontram

localizadas as atividades industriais e como referência setorial utilizou-se o nível de divisão

(Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE 1.0). O objetivo da metodologia

desenvolvida foi mensurar quatro elementos: i) a aglomeração de atividades no espaço; ii) a

divisão de trabalhos entre firmas aglomeradas espacialmente; iii) a interação entre essas firmas;

iv) a trajetória evolutiva do cluster.

Na identificação da aglomeração especializada foi utilizado o cálculo do Quociente

Locacional (QL), adotando-se como base o total de empregados registrados em cada município

informados pela RAIS. Nesta análise foram levantados todos os 4.987 municípios brasileiros e

para as 61 divisões da classificação CNAE 1.0. Vale destacar que dentre as 61 divisões

identificadas, o trabalho realizou um aprofundamento em apenas duas atividades, a de têxtil e

vestuário e a de eletrônica-telecomunicações.

O valor de corte para este índice foi QL>1, entretanto, foram inseridas algumas

variáveis de controle. A primeira foi de uma participação mínima do município no total do

emprego do setor, sendo considerado um pré-requisito para a caracterização do cluster, neste

parâmetro foi utilizado um valor de corte > 0,1% (percebe-se um percentual extremamente

baixo tendo em vista que é uma análise de nível nacional). Outra variável de corte utilizada foi

o número de estabelecimentos presentes em seu interior, para a atividade têxtil e vestuário foi

definido um valor de corte de mais de 10 (dez) estabelecimentos nas divisões e mais de 10 (dez)

estabelecimentos em atividades associadas; para a atividade eletrônica e telecomunicações foi

definido um valor de corte de mais de 2 (dois) estabelecimentos na divisão. A Tabela 1

apresenta os resultados obtidos desta análise:

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Tabela 1 - Critérios considerados na identificação de aglomerações industriais. Atividade Critério 1

(Especializ.)

Nº de

Aglom.

Critério 2

(Relevância)

Nº de

Aglom.

Critério 3

(Densidade)

Nº de

Aglom.

1) Têxtil e

Vestuário

QL>1 869 QL>1 e

Part.>0,1%

228 Mais de 10

estabelecimentos

nas divisões e

mais de 10

estabelecimentos

em atividades

associadas.

105

2) Eletrônica-

Telecomunicações

QL>1 81 QL>1 e

Part.>0,1%

47 Mais de 2

estabelecimentos

na divisão

35

Fonte: Britto e Albuquerque (2002), dados RAIS ano base 1997.

Foram identificadas 140 aglomerações, sendo 105 da atividade de têxtil e vestuário

e 35 da atividade eletrônica-telecomunicações. Mediante o levantamento destes aglomerados,

a pesquisa apresentou algumas análises sobre geração de postos de trabalho, tamanho dos

estabelecimentos, distribuição dos empregos por porte de empresa e por nível de qualificação,

os números desta análise não serão apresentados nesta tese.

O trabalho seguiu com um procedimento interessante, que os autores chamaram de

“identificação efetiva de clusters industriais”, para o avanço nesta etapa se levou em

consideração o critério de “superposição” de atividades para fins de caracterização de clusters.

O processo de superposição busca diferenciar uma aglomeração simples de um

cluster. Isto se dá mediante a busca de interações interempresariais tanto no sentido horizontal,

entre empresas que produzem produtos similares de um determinado setor, sendo

complementares em suas atividades, como no sentido vertical, entre empresas que se

relacionam em relações mercadológicas de fornecedor e comprador. Assim, com os mesmos

dados levantados na etapa de identificação de especialização com o uso do QL, foi realizado

uma verificação de superposição dos aglomerados, conforme apresentado na Tabela 2.

Tabela 2 - Critérios de superposição considerados para identificação de clusters. Atividade Nº de

aglom.

Conceitualização

proposta

Critério de superposição

adicional considerado

Nº de clusters

identificados

Têxtil e vestuário 105 Clusters verticais Mais de 50 estabelecimentos na

divisão têxtil e vestuário e pelo

menos 1 produtor de máquinas

para a indústria têxtil

20

Eletrônica-

telecomunicações

35 Clusters

horizontais

Mais de 10 estabelecimentos na

divisão eletrônica-

telecomunicações e empresas em

pelo menos três classes da

divisão.

11

Fonte: Britto e Albuquerque (2002), dados RAIS ano base 1997.

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Este refinamento na pesquisa reduziu o número de 105 aglomerados do setor têxtil

e vestuário para apenas 20 clusters, e o número de 35 aglomerados do setor eletrônica-

telecomunicações para apenas 11 clusters. O trabalho preferiu utilizar como exemplo apenas

duas atividades, deduzindo que a atividade de têxtil e vestuário possuiria uma relação mais

vertical, enquanto a atividade eletrônica-telecomunicações uma relação mais horizontal, o que

acabou sendo comprovado nos resultados. Assim identificam-se aglomerados com um maior

perfil de cluster no sentido de inter-relação entre empresas.

2.4.2 Trabalho de Suzigan et al. (2003)

O trabalho de Suzigan et al. (2003) surgiu a partir de um problema identificado no

estado de São Paulo, concernente à perda de participação no valor adicionado e no emprego da

indústria de transformação do país desde o ano de 1985, aproximadamente. Os pesquisadores

também identificaram que, no período entre 1986 e 1997, a região metropolitana foi a mais

afetada, com uma redução de 8,1 pontos percentuais na participação do emprego, porém, no

interior do estado não houve queda, e sim um acréscimo de 0,6 ponto percentual do mesmo

indicador.

Diante do problema identificado, foi elaborada a relação de que aglomerações

industriais bem-sucedidas representariam uma parte substancial da explicação do melhor

desempenho no interior. Portanto, o estudo buscou identificar aglomerações importantes no

interior do estado de São Paulo, por meio da elaboração de um índice de especialização das

microrregiões que compõem o estado.

Após a identificação dos aglomerados mais relevantes, foram realizados

comentários à luz de enfoques teóricos relacionados à organização de clusters. Finalizando o

trabalho com uma breve discussão sobre as implicações de políticas públicas e possibilidades

de ações conjuntas dos agentes econômicos e instituições locais.

A base de dados utilizada no trabalho foi a RAIS para o ano de 1997, o índice de

especialização foi o Quociente Locacional (QL), e somente a indústria de transformação foi

considerada, deixando-se de se incluir setores como os das indústrias processadoras de produtos

minerais ou agrícolas. Utilizaram-se os dados por Microrregiões do estado de São Paulo,

excluindo a microrregião da capital e grande São Paulo, além de outras duas que possuem

problemas de tabulação, Mogi Mirim e Mogi das Cruzes.

Como resultado da identificação de aglomerados, apresentou-se que nas 63

microrregiões do estado, com 597 municípios e com 1.124 possibilidades de especialização

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(classificação por divisão pelo CNAE), foram selecionados apenas 14 aglomerados situados em

5 microrregiões, importante salientar que não foi estabelecido nenhum valor de corte para o

QL, tendo os valores variando entre 5,16 a 53,99, conforme apresentado na Tabela 3.

Tabela 3 - Índices de especialização nas microrregiões do estado de São Paulo, 1997. Microrregiões Homogêneas

Índice de Especialização

Classe CNAE 1.0 (5 dígitos)

São José dos Campos

24,22 29726 Equipamento bélico

24,21 35319 Construção e montagem de aeronaves

Franca

53,99 19313 Calçados de couro

21,18 19100 Curtimento e preparação em couro

13,18 19321 Tênis de qualquer material

9,24 19399 Calçados de outros materiais

30,93 29645 Máq. e equip. para vest., couro e calçados

5,94 24910 Fabricação de adesivos e selantes

5,41 25194 Fabricação de artefatos diversos de borracha

5,16 18210 Fabricação de acessório do vestuário

Limeira 11,54 36919 Lapidação de pedras preciosas e fab. de joias

Catanduva 13,45 29246 Máquinas de refrigeração e ventilação

Votuporanga 21,75 36110 Móveis de madeira

15,18 36129 Móveis de material metálico

Fonte: Suzigan et al. (2003).

Os autores optaram em selecionar um pequeno número que representasse a

marcante diversidade de casos, com distintas características históricas, institucionais,

organizacionais, dentre outras. Um comentário sintético sobre cada microrregião foi realizado

através de informações disponíveis, tais como: artigos, relatórios de pesquisa, estudos de

entidades locais, e em dois casos (Limeira e Catanduva) algumas informações primárias foram

coletadas em visitas às empresas e instituições locais. Um resumo dos comentários levantados

por Suzigan et al. (2003) é apresentado a seguir, destaca-se que nos cinco casos a aglomeração

situa-se na cidade principal que dá nome à microrregião:

São José dos Campos: esta região pode ser considerada um cluster apenas no

sentido amplo da palavra, porque possui uma aglomeração com empresas de alta tecnologia,

como por exemplo, a Empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER), além de centros de

tecnologia como o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), porém, dificilmente podem ser

encontrados ganhos de eficiência coletiva, ou seja, há um baixo índice de cooperação.

Franca: dentre as regiões analisadas, esta é mais interessante do ponto de vista de

organização de cluster, é uma local com forte tradição e especialização na indústria de artefatos

de couro, sendo a segunda maior concentração de fabricantes de calçados de couro do país.

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Nela há uma grande quantidade de empresas, algumas de grande porte, de modo que, há uma

interação intensiva, tanto nas relações produtivas e comerciais, como no intercâmbio de

informações, a montante e a jusante. Os autores destacam que as empresas conseguem

compatibilizar razoavelmente a cooperação e a competição.

Limeira: é uma região com uma forte diversificação de empresas, mas o setor

identificado com maior especialização é o de lapidação de pedras preciosas e fabricação de

joias, com um total de 350 empresas e 1216 empregos formais, segundo dados da RAIS, 1997.

Este é considerado um cluster bem organizado, pois possui ações voltadas à cooperação, além

de um forte apoio de instituições locais.

Catanduva: região com forte economia no setor de usinas de açúcar e destilarias

de álcool, porém, mais conhecida pela indústria de ventiladores de teto, produto este que foi

inicialmente desenvolvido no Brasil por um morador desta região, o qual havia visto este

produto na Europa, tornando-se o pioneiro em sua fabricação. Outro fator de sucesso para o

desenvolvimento e comercialização do produto foi o clima predominantemente quente desta

região, favorecendo o mercado interno.

Algum tempo depois outros empresários e ex-funcionários criaram empresas

copiando o produto, criando um aglomerado de empresas especializadas. No entanto, não pode

ser considerado um cluster bem estruturado, principalmente pela falta de cooperação entre as

empresas, havendo uma competição feroz e baixíssima confiança para ações conjuntas.

Também se observou a falta de instituições de apoio no local

Votuporanga: possui a segunda maior concentração de empresas de móveis do

Brasil, após Bento Gonçalves (RS). O principal sucesso deste setor na região, segundo os

empresários locais, é devido à ação conjunta dos fabricantes, os quais passaram por um forte

período de recessão e conseguiram vencer a crise mediante esforços conjuntos. Também há um

forte apoio de instituições locais como o SEBRAE, SENAI, dentre outros.

2.4.3 Trabalho de Olivares e Dalcol (2014)

Este trabalho teve como premissa analisar como concentrações geográficas de

empresas, operando em atividades econômicas específicas, geram diferentes graus de

contribuição ao número de empregos e, consequentemente, incremento na renda e aumento na

qualidade de vida da população. A aplicação desta pesquisa quantitativa abrangeu todo o estado

do Rio de Janeiro, o qual possuía no ano de 2010, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de

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Britto e Albuquerque (2002)

Geografia e Estatística), uma população de 15.989.929 habitantes e 92 municípios distribuídos

em 18 microrregiões.

Para a formulação da abordagem metodológica foram utilizados como base os

trabalhos citados anteriormente, de Britto e Albuquerque (2002) e Suzigan et al. (2003),

também com dados secundários extraídos da RAIS, porém, buscou uma maior desagregação,

sendo mais detalhista que o trabalho de Britto e Albuquerque (2002) no parâmetro setorial,

pesquisando a nível de grupos das 24 atividades econômicas da indústria de transformação, de

acordo com o CNAE 2.0, e mais detalhista que o trabalho de Suzigan et al. (2003) no parâmetro

territorial, pesquisando a nível de municípios, conforme apresentado na Figura 3.

Figura 3 - Origem da abordagem proposta.

Fonte: Adaptado de Olivares e Dalcol (2014).

Uma observação apresentada na Figura 3 é que a abordagem desta tese buscou uma

desagregação maior ainda, chegando na dimensão territorial como bairro e na dimensão setorial

como classe. Entretanto não foi possível a desagregação conjunta de bairro e classe, primeiro

chegou-se ao nível de município e classe, com a utilização de dados da RAIS e posteriormente

ao nível de bairro e grupo com os dados do Guia Industrial do Ceará. O detalhamento do

procedimento utilizado nesta tese será apresentado nos procedimentos metodológicos.

Olivares e Dalcol (2014) definiram alguns valores de corte para a identificação dos

aglomerados de modo que eles foram divididos em três classes: classe de importância elevada,

classe de importância reduzida e classe não significativa (NS). Os valores que definiram essas

classes estão apresentados no Quadro 4.

Mesorregião

Microrregião

Município

Bairro

Dimensão Territorial Dimensão Setorial

Divisão

Grupo Suzigan et al (2003)

Olivares e Dalcol (2014)

Abordagem proposta desta tese

Des

agre

gaçã

o

Des

agre

gaçã

o

Classe

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Quadro 4 - Classificação da importância dos aglomerados.

QL % EMPREGOS Nº

ESTABELECIMENTOS Importância

QL ≥ 5 % EMP. ≥ 1 Nº EST. ≥ 5 Elevada

1 ≤ QL < 5 % EMP. ≥ 1 Nº EST. ≥ 5 Reduzida

Valores fora das especificações anteriormente definidas Não Significativa - NS

Fonte: O autor (2019). Extraído de Olivares e Dalcol (2014)

Mediante a classificação apresentada no Quadro 4, foi possível selecionar os

aglomerados com maior potencial de desenvolvimento regional, além de acompanhar o seu

Desenvolvimento Local (DL) em um intervalo de 10 anos (1999 - 2009). Para poder ser

apresentado no formato do artigo, os autores exemplificaram apenas o caso de três municípios

de microrregiões diferentes, o Quadro 5 exemplifica as aglomerações que apresentaram

significativa importância em pelo menos um dos anos-base.

Quadro 5 - Aglomerações com importância em pelo menos um dos anos-base. Município: Angra dos Reis Importância para o DL

Divisão

1.0

Divisão

2.0 Descrição da atividade econômica 1999 2004 2009

35 30 Fabricação de outros equip. de transporte, exceto

veículos aut. NS Elevada Elevada

Município: Campos dos Goytacazes Importância para o DL

Divisão

1.0

Divisão

2.0 Descrição da atividade econômica 1999 2004 2009

15 10 Fabricação de produtos alimentícios Reduzida Reduzida Reduzida

19 15 Preparação de couros e fabricação de artefatos de

couro Reduzida NS NS

26 23 Fabricação de produtos minerais não metálicos Elevada Reduzida Elevada

36 31 Fabricação de móveis Reduzida NS Reduzida

Município: Petrópolis Importância para o DL

Divisão

1.0

Divisão

2.0 Descrição da atividade econômica 1999 2004 2009

17 13 Fabricação de produtos têxteis Reduzida Reduzida Elevada

18 14 Confecção de artigos do vestuário e acessórios Reduzida Reduzida Reduzida

20 16 Fabricação de produtos de madeira NS NS Reduzida

21 17 Fabricação de celulose, papel e produtos de papel Reduzida Reduzida NS

30 26 Fabricação de equipamentos de informática, produtos

eletrônicos e ópticos NS NS Reduzida

36 31 Fabricação de móveis Reduzida Reduzida Reduzida

33 33 Manutenção, reparação e instalação de máquinas e

equipamentos NS NS Reduzida

Fonte: O autor (2019). Extraído de Olivares e Dalcol (2014)

Após a classificação e identificação dos aglomerados o trabalho teceu alguns

comentários sobre os diversos casos de alteração das classes nos três períodos levantados (1999,

2004 e 2009). Posteriormente, foi também realizado um exemplo de desagregação para o nível

de grupos, com o intuito de analisar uma possível integração entre os setores.

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2.5 Fontes de informação secundárias para identificação de clusters

Outro fator que contribui expressivamente para a acuracidade na localização de

aglomerados é a fonte dos dados secundários que serão utilizados. Nesta tese serão utilizados

dados da RAIS e do Guia Industrial do Ceará.

a) Relatório Anual de Informações Sociais (RAIS)

No Brasil, a fonte mais utilizada por diversos autores na elaboração de QL é a RAIS,

do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE (AMARAL FILHO et al., 2006; BRITTO;

ALBUQUERQUE, 2002; OLIVARES; DALCOL, 2014; SUZIGAN et al., 2003; SUZIGAN;

GARCIA; FURTADO, 2002). Segundo Suzigan, Garcia e Furtado (2002), a RAIS é coletada e

tabulada anualmente pelo Ministério do Trabalho e do Emprego, constituindo uma base de

dados bem detalhada sobre volume de emprego, número de estabelecimentos por atividades

econômicas e por municípios, remunerações, dentre outros. Os autores ainda mencionam que a

principal vantagem da RAIS é justamente a elevada desagregação setorial e geográfica dos

dados, tornando possível obter e processar diretamente os dados desagregados. Além disso, a

RAIS apresenta um grau relativamente elevado de uniformidade que permite comparar a

distribuição dos setores da atividade econômica ao longo do tempo.

Apesar do leque de informações geradas pela RAIS, os mesmos autores apontam

as seguintes deficiências: i) apesar de cobertura nacional, inclui apenas relações contratuais

formalizadas por meio de “carteira assinada”; ii) a RAIS utiliza o método da autoclassificação

na coleta das informações primárias, sem qualquer verificação de consistência, a empresa

declarante pode optar por respostas únicas em nível de empresa, distanciando o resultado da

realidade em dois aspectos: em primeiro lugar, classificando o conjunto das unidades produtivas

de uma empresa diversificada coexistentes num mesmo endereço, num único setor CNAE –

Classificação Nacional da Atividade Econômica; em segundo lugar, que pode somar-se ao

anterior, a empresa pode reunir todas as unidades produtivas dispersas numa mesma declaração;

iii) como essa base de dados utiliza o emprego como a variável-base, ela deixa de captar

diferenças inter-regionais de tecnologia e produtividade, o que vai se refletir em, por exemplo,

diferentes regiões com volume de emprego semelhantes, que possuem na verdade produção

física ou em valor distintas; iv) o fato de ser declaratória pode provocar distorções na análise de

pequenas empresas ou de regiões menos desenvolvidas, em virtude da mais elevada ocorrência

de empresas não declarantes.

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b) Guia Industrial do Ceará (GIC)

Outra fonte de informações utilizada nesta tese é o Guia Industrial do Ceará - GIC,

o qual é elaborado anualmente pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará - FIEC, órgão

este vinculado à Confederação Nacional da Indústria – CNI. O referido guia, dentre outras

informações, apresenta uma relação de empresas localizadas no estado do Ceará. O

cadastramento das empresas neste guia não é obrigatório, possuindo mais um caráter de

divulgação dos estabelecimentos por meio da exposição de produtos para a geração de novos

negócios. Mesmo assim, no ano de 2017 o guia apresentou perto de 5.000 empresas cadastradas.

Para ter acesso ao GIC é necessário adquiri-lo pela compra física em material

impresso ou por meio eletrônico através do site da FIEC. O anuário apresenta uma relação

ampla de segmentos industriais e comerciais, englobando empresas de todos os portes. Alguns

dos dados das empresas disponibilizados são: CNPJ, razão social, nome fantasia, endereço,

telefone, e-mail, porte, faixa de faturamento, CNAE e produtos. Uma grande vantagem desta

fonte de informação sobre a RAIS é que possui uma maior desagregação geográfica, chegando

a detalhes de rua, bairro e CEP.

Assim como a RAIS, o GIC também apresenta algumas deficiências, que são: i)

apresenta apenas as informações de empresas formalizadas; ii) por não ser um cadastramento

obrigatório para as empresas, muitas delas, mesmo formalizadas, não possuem cadastro, mas

ainda assim o guia possui uma boa amostragem, sendo útil para levantamentos estatísticos; iii)

não houve uma padronização no lançamento das informações, portanto há muitas

incompatibilidades que dificultam a análise estatística, por exemplo, um mesmo bairro pode ter

sido escrito de diversas formas.

2.6 Proximidade geográfica de empresas de confecção em Fortaleza-CE

Esta seção apresenta unicamente um levantamento realizado por Santos (2014), em

sua dissertação de mestrado, cuja pesquisa teve como objetivo dissertar sobre as relações dos

circuitos superior e inferior da economia urbana na produção de confecções do município de

Fortaleza.

Esta pesquisa, apesar de ser da área de Geografia, serviu como base para esta tese

porque utilizou uma mesma base de dados - Guia Industrial do Ceará – GIC, da Federação das

Indústrias do Estado do Ceará - FIEC (ano base 2013), quando identificou 924 empresas do

setor de confecção, em todos os portes (micro, pequena, média e grande). O autor plotou as

empresas em seus respectivos endereços, sendo que uma ferramenta denominada “mapa de

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calor” auxiliou na visualização da densidade empresarial, identificando os aglomerados da

atividade. Nos locais que apresentam uma coloração mais avermelhada é onde estão as maiores

concentrações empresariais.

A Figura 4 apresenta o mapa de localização da indústria de confecção em Fortaleza,

desenvolvido por Santos (2014).

Figura 4 - Mapa de localização da indústria de confecção em Fortaleza.

Fonte: Santos (2014).

Pela visualização do mapa percebem-se algumas regiões com densa quantidade de

empresas, enquanto há regiões com baixa ou praticamente nula densidade empresarial. As

Regionais (termo utilizado no município para subdividir em regiões) que apresentaram maior

quantidade de empresas, respectivamente do maior para o menor, são: I, IV, III e V (SANTOS,

2014).

Com a visualização deste mapa, há uma forte indicação de que há alguns

aglomerados de empresas de confecção em determinadas regiões, que dão indícios da formação

de clusters industriais e que serviram como hipótese para investigar estas concentrações nesta

tese.

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Apesar de Santos (2014) ter identificado estas concentrações, não foi intuito do

autor aprofundar sobre como era a interação entre estas empresas, ou destas com demais atores

da região. Uma relação apontada pelo autor para justificar estas concentrações de empresas foi

a existência de alguns centros comerciais que absorvem sua produção. A Figura 5 apresenta um

mapa de localização da indústria e centros comerciais.

Figura 5 - Mapa de localização da indústria e centros comerciais de Fortaleza.

Fonte: Santos (2014).

Neste mapa são registrados apenas seis centros comerciais. A escolha do autor por

apenas estes deve-se ao fato de serem quase que exclusivos no comércio de confecção do

vestuário e por possuírem um alto volume de transações comerciais, além de que possuem tanto

foco no varejo como no atacado.

Constata-se, também, que apesar das empresas de confecção estarem espalhadas

por todo o território, há, geralmente, uma forte concentração nas proximidades dos centros

comerciais. O Shopping Maraponga Mart Moda está próximo à zona de concentração dos

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bairros Maraponga, Vila Peri e Parangaba. O Ceará Moda Fashion e o Shopping Fortaleza Sul

estão localizados próximos aos bairros do Montese, Jardim América, Bom Futuro, Parreão e

Damas. O Beco da Poeira e a Feira da Sé se localizam no Centro. A Avenida Monsenhor Tabosa

abrange os bairros da Praia de Iracema e Centro (SANTOS, 2014).

Para Santos (2014) este conjunto de centros comerciais se divide em dois circuitos,

superior e inferior, sendo que o circuito inferior da economia urbana é formado por centros que

comercializam predominantemente artigos mais populares, com baixo valor agregado; neste

contexto estão o Beco da Poeira e a Feira da Sé. Tais locais possuem precárias estruturas, com

vendas até mesmo no chão das ruas. No circuito superior da economia urbana, estão os centros

que comercializam, predominantemente, artigos de luxo, voltados para um público mais

exigente e com maior valor agregado; neste contexto estão o shopping Maraponga Mart Moda,

o Ceará Moda Fashion, o Shopping Fortaleza Sul e a Avenida Monsenhor Tabosa, instalados

em locais bem estruturados e com intensivos investimentos em capital.

Uma constatação importante nesta pesquisa de Santos (2014) foi que mesmo que as

empresas de confecção estejam próximas aos centros comerciais (superior ou inferior) e que

tenham o foco da produção para atender centros mais próximos, elas não produzem

exclusivamente para tais centros comerciais. Para o autor:

As unidades produtivas confeccionistas confecção e facção produzem tanto para o

Beco da Poeira e para a Feira da Sé como também para outros locais de venda de

confecções ligados ao circuito superior como shoppings e ruas voltadas para o

comércio de vestuário de luxo. O entrelaçamento entre Feira, Beco, Shoppings se faz

pela produção e pelo comércio. Muitas vezes o mesmo cliente que vai comprar na

Feira da Sé e no Beco da Poeira vai também para os shoppings Ceará Moda Shopping,

Fortaleza Sul e Maraponga Mart Moda […] (SANTOS, 2014, p. 132).

Finalizando o relato sobre esta pesquisa, ela apresentou muitas características do

setor de fabricação de confecções do vestuário como perfil dos empresários, perfil da mão de

obra, além de outros fatores. Entretanto, como já mencionado, não houve análises envolvendo

aspectos mais ligados a clusters, como cooperação, competição, difusão do conhecimento,

dentre outros.

2.7 Cadeia produtiva da indústria têxtil e de confecção

Um setor de bastante destaque no cenário nacional é a cadeia têxtil e de confecção,

a qual se inicia na agropecuária (fibras naturais) ou na indústria química (fibras manufaturadas),

passando pela produção dos fios (fiação), tecelagem e produção de aviamentos, pelo

beneficiamento e confecção de artigos do lar, do vestuário e produtos técnicos, passando por

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diversas formas de comercialização e terminando no consumidor final. O estudo da presente

tese concentra-se no subsegmento de confecção de vestuário conforme apresentado na Figura

6.

Figura 6 - Estrutura da cadeia têxtil e de confecções.

Fonte: ABIT (2016)

Observa-se, na Figura 6, que transversalmente operam, ao mesmo tempo, os

serviços de suporte como o de máquinas e equipamentos, centros de pesquisa e

desenvolvimento, além de serviços intermediários como os fornecedores de softwares, editoras

especializadas, feiras de moda, agências de publicidade e comunicação, estúdios de criação em

design de moda e funções corporativas (marketing, finanças, marcas, entre outras) (ABIT,

2016).

Essa cadeia, também chamada indústria da moda, gera um grande volume de

vínculos, abrangendo profissionais de todos os níveis de qualificação: desde trabalhadores não

especializados até profissionais de nível superior, envolvendo costureiros(as), supervisores,

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especialistas em passadoria e acabamento, operadores de Computer Aid Design / Computer Aid

Manufacturing, especialistas em corte e modelagem, engenheiros de produção, estilistas e

designers, entre outros (ABIT, 2018).

A confecção do vestuário envolve um conjunto de empresas que transformam o

tecido, fabricado a partir de fibras naturais, artificiais ou sintéticas, em peças do vestuário, e tal

setor possui várias subdivisões, conforme apresentado na Figura 7.

Figura 7 – Divisão do setor de vestuário segundo CNAE 2.0

Fonte: INDI (2013)

Há ainda uma divisão mais detalhada referente aos produtos relacionados aos

artigos do vestuário, tal divisão é expressa pela Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM),

que é a referência adotada pelo Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC).

A estrutura setorial completa do vestuário está apresentada na Figura 8.

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Figura 8 – Divisão do setor de vestuário segundo NCM

Fonte: INDI (2013)

Percebe-se, portanto, que é um setor bastante segmentado e com uma quantidade

diversa de produtos, possibilitando a existência de empresas dos mais variados tipos, desde

empresas que confeccionam diversos tipos de produtos até empresas com segmentos

específicos como moda íntima ou moda praia, por exemplo.

A produção dos confeccionados pode seguir fluxogramas diversos, dependendo do

tipo de produto a ser fabricado, entretanto, é possível construir um fluxo genérico para

apresentar as etapas de fabricação de um vestuário, sendo: i) criação de moda / design; ii)

modelagem; iii) corte; iv) costura; v) acabamento; vi) mercado consumidor. Destaca-se que a

etapa da costura concentra aproximadamente 80% da atividade produtiva, e nela existem vários

empecilhos tecnológicos, marcada por uma forma quase artesanal da montagem das peças, que

exige um processo difícil de ser automatizado (RECH, 2006).

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2.7.1 Panorama Global do setor de confecção

O mercado têxtil e de confecção mundial é um dos mais dinâmicos, realizando

lançamentos constantes de produtos e serviços. O seu mapa da produção mundial começou a

mudar na década de 1980, saindo dos EUA, Europa e Japão para países emergentes da Ásia e,

mais recentemente, Leste Europeu, Norte da África e Caribe. Dados de 2012 já apontavam a

Ásia como responsável por 73% dos volumes totais produzidos no mundo, com destaque, por

ordem, para: China, Índia, Paquistão, Coreia do Sul, Taiwan, Indonésia, Malásia, Tailândia e

Bangladesh (ABIT, 2018). Neste mesmo período, o Brasil ocupava a quarta posição entre os

maiores produtores mundiais de artigos de vestuário e a quinta posição entre os maiores

produtores de manufaturas têxteis (ABIT, 2018).

Dados mais recentes apontam que o Brasil vem perdendo posições, de modo que

em 2016 ocupava a sexta posição no ranking de produtor do vestuário. A Tabela 4 apresenta

esta classificação, segundo um relatório do Banco do Nordeste, elaborado por Mendes Júnior

(2018), do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (ETENE).

Tabela 4 - Maiores produtores mundiais de vestuário Ranking País US$ Bilhões

1 China 400,80 2 Itália 31,68 3 Turquia 22,84 4 Índia 17,00 5 Coreia do Sul 14,90 6 Brasil 12,58

Fonte: Mendes Júnior (2018, p.1), dados da UNIDO (2016)

Nota: Não estavam disponíveis informações de importantes países produtores,

tais como Vietnã e Bangladesh.

Apesar de o Brasil estar entre os maiores produtores do vestuário, ainda precisa

melhorar muito sua competitividade. Esta constatação pode ser entendida pela balança

comercial nos dados de 2017, quando ele ocupa a 79ª posição em exportações, que somaram

US$ 139 milhões, e já nas importações ocupa a 39ª posição, com soma de US$ 1,53 bilhão.

Esses valores apontam um grande déficit comercial, de quase US$ 1,4 bilhão (MENDES

JÚNIOR, 2018).

2.7.2 Panorama Brasileiro

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O setor têxtil e de confecção é uma atividade com aproximadamente 200 anos no

Brasil, sendo responsável pelo surgimento de muitas outras indústrias e motor da revolução

industrial (DUARTE, 2017).

Dados de 2017, obtidos pela empresa IEMI, que trabalha na produção de

informações de inteligência de mercado, expressam o poder da moda no Brasil. Na Figura 9

estão alguns dos principais números deste setor.

Figura 9- Perfil do setor têxtil e de confecções

Fonte: O autor (2020), extraído de Mariano (2018), dados de 2017.

Ocorrem diferentes concentrações têxteis e de confecção no Brasil, principalmente,

nas regiões Sudeste, Sul e Nordeste. A região Sudeste é o maior centro de produção têxtil do

país, com grande diversidade de artigos e destaque para o estado do Rio de Janeiro, com seu

polo têxtil na região serrana, principalmente em Nova Friburgo e Petrópolis, na produção de

lingerie, linha praia e esportiva. Já Minas Gerais apresenta grandes malharias e pequenos

distritos industriais de fiação e confecção de artigos de algodão. No estado de São Paulo

concentram-se as maiores confecções e os grandes centros de comércio de atacado e varejo do

país. A região Sul, que envolve os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul,

concentra a produção de malha e artigos cama/mesa/banho e, em termos de tecnologia, é um

dos polos mais avançados do país, sendo o segundo maior polo têxtil do Brasil. A região

Nordeste tem como pontos fortes a produção de denim (jeans), tecidos de algodão e fios de

52 bilhõesFaturamento

(US$)

27.000Empresas

formais 5 + empregados

1,5 milhão

Empregos diretos

2 milhõesProdução em

toneladas

6 bilhões

Peças/ano (confecção)

398 milhõesInvestimentos em tecnologia

e produção (US$)

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poliéster, principalmente nos estados do Ceará e Pernambuco, representando a região com o

terceiro maior polo têxtil (DUARTE, 2017).

O setor têxtil e de confecção de vestuário brasileiro vem sofrendo perdas

consecutivas de market share frente aos produtos importados, sobretudo da Ásia, em especial,

da China (ABIT, 2018). Desde 2003, a fatia de mercado de varejo da confecção importada vem

crescendo progressivamente, isso pode ser percebido pela Figura 10, a qual apresenta um

histórico de 2003 a 2019, envolvendo tanto o setor têxtil, como o de confecção.

Figura 10- Balança comercial brasileira – setor têxtil e de confecções.

Fonte: ABIT (2020).

É visto que houve uma grande mudança no cenário econômico desta cadeia,

aumentando muito o déficit nos últimos anos. O último saldo positivo foi em 2005, e desde

então, o déficit aumentou progressivamente, percebendo-se uma leve melhora a partir de 2015

(ABIT, 2020). Segundo Mendes Júnior (2018), a justificativa para os déficits menores nos anos

de 2015 e 2016 foi a recessão econômica que diminui a propensão a importar devido à queda

da renda.

Esta situação na balança comercial não é exclusiva destes setores, toda a indústria

brasileira tem sido afetada por problemas estruturais e conjunturais da economia, entre os quais

se destacam o longo período de depreciação da moeda nacional; os custos anormalmente

elevados de energia; o estado precário de portos e rodovias, que acarreta ineficiências e altos

custos, e a burocracia complicada que tem que ser enfrentada pelas empresas. Estes fatores

somados prejudicam a competitividade do setor e dificultam a capacidade de enfrentar a

concorrência de importações, sobretudo da Ásia, cujos países se beneficiam de mão de obra

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barata, da inexistência de legislações trabalhistas sofisticadas, como a brasileira, da virtual

ausência de custos decorrentes dos cuidados de preservação ambiental e dos inúmeros e

substanciais subsídios concedidos aos seus exportadores, em especial, na China (ABIT, 2018).

Há também outras formas de concorrência desleal no setor, como: importações

legais (que entram pelos portos e aeroportos, com perfil de dumping social e cambial),

importações ilegais (descaminho pelas fronteiras), importações ilegais de “turistas” (sacoleiros

via Paraguai e sacoleiros via Miami) e compras em sites internacionais de produtos que só

pagam impostos via amostragem (ABIT, 2018).

2.7.3 Panorama no Ceará

Trazendo um breve histórico da indústria têxtil no Ceará, por meio de um

levantamento realizado pela Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (ADECE),

observa-se que essa cadeia produtiva teve um primeiro avanço no período pós-revolução

industrial, com o ciclo do algodão, quando a cotonicultura tornou-se uma importante fonte de

renda para o estado, de modo que ao final da década de 1860, o valor da exportação algodoeira

em relação ao total vendido pelo Ceará chegou a atingir 72,6% (ADECE, 2018).

Impulsionada pela grande disponibilidade do algodão, a primeira indústria têxtil

surgiu no ano de 1884 e em 1907 o Ceará tinha 18 fábricas e 1200 operários, mas o grande salto

para o setor veio com a chegada da energia elétrica, a partir do ano de 1950. Desde então o

progresso continuou, proporcionando medidas federais como a transformação do Departamento

Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) em autarquia, a criação da Universidade Federal

do Ceará (UFC), do Banco do Nordeste (BNB), dentre outros (ADECE, 2018).

No período de 1975 a 1986, devido a diversos fatores, o Ceará vivenciou um

grandioso momento econômico na indústria de confecções, chegando à posição de segundo

polo de confecções do país, entretanto, após este período o estado enfrentou alguns desafios

que induziram ao declínio do setor, dentre estes fatores destacam-se: a morte de grandes

lideranças no acidente da VASP em 1982, a estagnação nos anos 1980 e 1990, fracassos dos

planos econômicos, atenuação dos incentivos, arrocho fiscal e a entrada da china como

concorrente mundial. Buscando se reestruturar, o setor iniciou um processo de modernização,

houve a criação do curso de estilismo da UFC em 1994, a formação e qualificação por meio do

SENAI, apoios do SEBRAE, dentre outras ações (ADECE, 2018).

Um ranking mais recente aponta o Ceará na sexta posição entre os estados com

maior representatividade na indústria do vestuário. A Tabela 5 apresenta esta classificação

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segundo o relatório do Banco do Nordeste, elaborado por Mendes Júnior (2018) do Escritório

Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (ETENE).

Tabela 5 - Vínculos e remuneração de trabalhadores da indústria do vestuário - 27 Estados.

Ranking Estados Vínculos Remuneração

(R$) Vínculos

(%) Remuneração

(%)

1 São Paulo 142.910 242.646.496,61 24,67 27,53

2 Santa Catarina 105.664 196.305.482,55 18,24 22,27

3 Paraná 55.341 81.553.919,36 9,55 9,25

4 Minas Gerais 65.669 81.118.649,08 11,34 9,20

5 Rio de Janeiro 42.109 66.929.362,67 7,27 7,59

6 Ceará 43.345 55.013.701,38 7,48 6,24

7 Rio Grande do Sul 21.657 33.815.716,01 3,74 3,84

8 Goiás 23.057 28.578.692,43 3,98 3,24

9 Rio Grande do Norte 16.384 22.752.365,91 2,83 2,58

10 Pernambuco 18.953 20.898.240,39 3,27 2,37

11 Bahia 11.420 13.623.203,88 1,97 1,55

12 Espírito Santo 10.950 13.654.097,08 1,89 1,55

13 Mato Grosso do Sul 4.034 4.980.398,63 0,70 0,56

14 Paraíba 4.143 4.374.792,96 0,72 0,50

15 Piauí 3.369 3.557.025,69 0,58 0,40

16 Mato Grosso 1.657 2.226.913,05 0,29 0,25

17 Sergipe 2.001 2.097.995,22 0,35 0,24

18 Pará 1.141 1.231.408,67 0,20 0,14

19 Distrito Federal 945 1.269.414,33 0,16 0,14

20 Rondônia 1.054 1.146.297,85 0,18 0,13

21 Maranhão 1.108 1.174.896,76 0,19 0,13

22 Amazonas 816 875.213,25 0,14 0,10

23 Alagoas 870 861.937,15 0,15 0,10

24 Tocantins 362 421.980,90 0,06 0,05

25 Acre 195 201.418,30 0,03 0,02

26 Amapá 99 113.800,52 0,02 0,01

27 Roraima 68 74.553,05 0,01 0,01

Total 579.321 881.497.973,68 100 100

Fonte: Adaptado de Mendes Júnior (2018, p.1), dados de 2016 do IBGE e MTE.

A Tabela 5 apresenta o Ceará em um bom posicionamento nacional, mostrando que

ainda é um importante polo de confecção do vestuário. Esta classificação está baseada na

remuneração e não nos vínculos empregatícios. Mendes Júnior (2018) explica que o valor da

produção tende a ter correlação positiva maior com as remunerações do que com vínculos,

devido ao maior investimento em máquinas e equipamentos da indústria do vestuário estar

vinculado às remunerações pagas à mão de obra relativamente mais especializada.

Dentre os municípios do estado, destaca-se sua capital, Fortaleza, como principal

centro da cadeia produtiva, é uma cidade com uma população de 2.452.185 habitantes, passando

dos 3 milhões na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), segundo dados do IBGE de 2010

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(SANTOS, 2014). Esta cidade possuía, em 2006, 72% de todas as empresas de confecção do

Ceará, ou seja, das 2894 empresas do estado, 2081 estavam em Fortaleza (RAIS, 2017).

Esse quantitativo de empresas, com dados da RAIS, envolve apenas empresas

formais. Santos, (2014) destaca que em pesquisa realizada em 2003, pelo PRODIC (Programa

de Desenvolvimento da Indústria de Confecção), cerca de 71,9% das indústrias de confecção

do Ceará estavam em condições de informalidade, caracterizada pela falta de registro em

federações de indústrias ou em alguma instituição pública como a Secretaria da Fazenda, além

de a informalidade estar ligada a condições de trabalho não regulamentadas por leis trabalhistas.

Diante deste cenário de elevada quantidade de empresas de confecção em Fortaleza,

ela classifica-se em terceiro lugar em um ranking de microrregiões brasileiras. A Tabela 6

apresenta esta classificação.

Tabela 6 - Ranking da indústria do vestuário por microrregião geográfica.

Ranking Microrregião

geográfica UF Remuneração

(R$)

1 São Paulo SP 126.617.704,80

2 Blumenau SC 82.879.306,88

3 Fortaleza CE 47.318.912,18

4 Rio de Janeiro RJ 42.176.195,39

5 Joinville SC 38.195.695,10

6 Rio do Sul SC 17.542.573,13

7 Natal RN 17.188.404,43

8 Criciúma SC 16.207.979,46

9 Goiânia GO 14.865.753,65

10 Araraquara SP 12.969.627,49

11 Nova Friburgo RJ 12.499.409,93

12 Belo Horizonte MG 11.208.284,24

13 Campinas SP 11.073.175,98

14 Juiz de Fora MG 10.663.137,67

15 Cianorte PR 9.648.442,34

16 Maringá PR 9.554.849,20

17 Apucarana PR 9.113.635,43

18 Caxias do Sul RS 8.848.133,29

19 Itajaí SC 8.446.064,59

20 Londrina PR 7.842.056,34

21 Alto Capibaribe PE 7.447.584,94

22 Sorocaba SP 7.298.450,84

23 Tubarão SC 7.144.884,98

24 Divinópolis MG 6.922.076,47

25 Vale do Ipojuca PE 6.685.742,08

26 Poços de Caldas MG 6.558.478,86

27 Porto Alegre RS 6.490.750,50

28 Guarulhos SP 6.330.236,19

29 Ourinhos SP 6.286.673,01

30 São José do Rio Preto SP 5.975.411,77

Fonte: Mendes Júnior (2018, p.6), dados de 2016 do IBGE e MTE

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Outra característica de Fortaleza, quanto ao setor de confecção, é que sua produção

é bastante diversificada, mas os principais tipos de vestuário são a moda íntima, a roupa de

dormir, a roupa esporte, a moda praia, o jeans, a moda infantil e a chamada “modinha”, que são

roupas femininas ou infantis confeccionadas em malhas (SANTOS, 2014).

O estudo realizado por Santos (2014) também identificou que o setor, muitas vezes,

apresenta três subsistemas dentro do sistema de confeccionados, o primeiro formado pelas

empresas de confecção, o segundo formado por empresas de facção e um terceiro formado por

subcontratação de costureiras no regime domiciliar, sendo que cada um desses subsistemas

realiza etapas distintas do processo de fabricação. A Figura 11 demonstra como se dividem tais

subsistemas, este fluxo exemplifica o processo de produção da “modinha”.

Figura 11 – Processo de produção da “modinha” e seus subsistemas

Fonte: Santos (2014).

Neste fluxograma produtivo verificam-se os três subsistemas, conforme já relatado.

No subsistema 1 (Confecção) estão quatro etapas do processo, este é o primeiro elo que adentra

a produção do vestuário. A criação, geralmente, está centrada no próprio empresário, que faz

esse processo pessoalmente, algumas vezes com um profissional de moda. O subsistema 2

(Regime de Facção) recebe o tecido pronto para a montagem, sendo que algumas confecções,

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por meio do atravessador, vão deixar o material na facção e algumas facções se dirigem (por

meio do proprietário) até a confecção para pegar peças e montar. O subsistema 3

(Subcontratação de costureiras) é uma relação que se estabelece quando há períodos de pico

na produção, quando a demanda produtiva está alta e as facções chegam a seus limites

produtivos, esse tipo de produção é também usado pelas pequenas confecções, quando seu

aporte de capital não tem condições ainda de contratar uma facção (SANTOS, 2014).

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este capítulo apresenta o caminho percorrido pelo pesquisador a fim de construir

um método científico para a investigação do aglomerado de empresas do setor de confecção do

vestuário em Fortaleza. Para Matias-Pereira (2016), os procedimentos metodológicos envolvem

a utilização do conjunto de métodos, procedimentos e técnicas que a ciência põe em ação para

alcançar os seus objetivos, portanto, para o avanço da ciência é fundamental a utilização de

métodos rigorosos, para assim atingir um conhecimento sistemático, preciso e objetivo.

3.1 Classificação da pesquisa

Uma pesquisa pode ser classificada utilizando-se de diferentes abordagens e

métodos. Segundo Ganga (2012), ela pode ser classificada quanto aos propósitos, quanto à

natureza dos resultados, quanto à abordagem do problema e quanto aos procedimentos técnicos.

Silva (2017) acrescenta as classificações quanto ao método científico de abordagem e quanto à

técnica de pesquisa utilizada.

A Figura 12 apresenta destacadas as classificações utilizadas nesta pesquisa.

Figura 12 – Classificação da pesquisa

Fonte: O autor (2019)

Propósitos

exploratória

descritiva

preditiva

explicativa

ação

avaliação

Natureza dos resultados

básica

aplicada

Abordagem do problema

quantitativa

qualitativa

mista

•sequential explanatory

•sequential exploratory

•sequential transformative

Procedimentos técnicos

pesquisa bibliográfica

teórico conceitual

experimental

survey

modelagem e simulação

estudo de caso

pesquisa ação

Método científico

indutivo

dedutivo

hipotético dedutivo

dialético

Técnica de pesquisa

entrevista

• estruturada

• semiestruturada

• livre

documental

questionário

•aberto

•fechado

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Todas essas classificações estão apresentadas a seguir:

Quanto aos propósitos – neste enfoque, segundo Ganga (2012), uma pesquisa

pode ser caracterizada das seguintes maneiras: exploratória, descritiva, preditiva, explicativa,

ação ou avaliação.

Nesta tese serão abordadas as formas exploratórias e descritivas. A exploratória tem

o “objetivo de proporcionar a compreensão inicial de um problema, pouco explorado, amplo e

desconhecido, e quando se torna difícil formular hipóteses precisas e operacionalizáveis sobre

tal fenômeno” (GANGA, 2012, p. 203). Portanto, a etapa exploratória consiste na fase

bibliográfica e qualitativa desta pesquisa, quando se buscou identificar as principais

características fundamentais do aglomerado de empresas. Já o enfoque descritivo, segundo o

referido autor, tem o objetivo de descrever as características de uma dada população, ou

fenômeno, ou formação de relações entre as variáveis. Para Gil (1991), a pesquisa descritiva

vale-se de um procedimento sistemático para coletar e processar os dados, esta é uma das

caraterísticas mais significativas de estudos descritivos. Assim, foi utilizado um enfoque

descritivo na fase quantitativa, quando se buscou identificar os principais aglomerados de

empresas do setor de confecção do vestuário e na pesquisa com os representantes das empresas.

Quanto à natureza dos resultados – neste enfoque as pesquisas são classificadas

como básicas ou aplicadas. Para Lakatos e Marconi (2017), a básica pura consiste na aplicação

do conhecimento sem preocupação prática e a pesquisa aplicada é mais voltada para a resolução

de um problema específico. Seguindo esse raciocínio dos autores, esta pesquisa se encaixa

como aplicada, visto que procura utilizar conhecimentos sobre aglomerados empresariais para

identificar obstáculos e potencialidades a fim de se gerar informações para a construção de

políticas de fortalecimento do setor.

Quanto à abordagem do problema – neste enfoque as pesquisas são classificadas

como quantitativas ou qualitativas, podendo também ser mista quando envolvem os dois

enfoques. Segundo Ganga (2012), a análise quantitativa é considerada capaz de quantificar e

confirmar estatisticamente as relações de causa e efeito que procedem entre as variáveis de

pesquisa, assim, torna-se possível aceitar ou rejeitar hipóteses, apesar de que nem toda pesquisa

quantitativa obrigatoriamente confirmará hipóteses, isto não é uma condição da pesquisa

quantitativa.

Para o autor, já a análise qualitativa possui uma vertente mais subjetiva, entretanto,

isso não significa que procedimentos científicos não possam ser estabelecidos. Geralmente este

tipo de pesquisa não utiliza métodos quantitativos, entretanto, o uso do método qualitativo não

exclui a possibilidade de análises quantitativas dos dados qualitativos. Na visão de Yin (2016)

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e Ganga (2012), uma pesquisa qualitativa se diferencia por sua capacidade de representar as

visões e perspectivas dos participantes de um estudo, de modo que o aspecto distintivo está na

ênfase do indivíduo a ser pesquisado.

Lakatos e Marconi (2017), comparando os dois enfoques, destacam que o enfoque

quantitativo observa a descrição, previsão e explicação, tanto para dados mensuráveis ou

observáveis, já o enfoque qualitativo se volta para a exploração, descrição e entendimento do

problema.

Concernente à abordagem mista, Yin (2016) destaca que esta oferece uma opção

para tirar vantagem das semelhanças e diferenças nos dois métodos. Flick (2009) acrescenta

que as pesquisas qualitativas e quantitativas não são opostas incompatíveis que não devam ser

combinadas. Paranhos et al.(2016) relatam que enfoque misto pode ter três tipos de métodos

analíticos: i) sequential explanatory strategy – quantitativo precede o qualitativo, a análise

qualitativa é feita a partir dos dados preliminares originados de uma análise quantitativa, um

exemplo típico seria a utilização de entrevistas (quali) para aprofundar uma survey (quanti); ii)

sequential exploratory strategy qualitativo precede o quantitativo, um exemplo típico seria a

utilização de entrevistas (quali) para informar o processo de elaboração do questionário

(quanti); iii) sequential transformative strategy nessa abordagem é possível desenvolver um

método de coleta de dados sequencial ou concomitante, também denominado em paralelo.

Nesta tese, o enfoque pode ser considerado misto, seguindo sequential explanatory

strategy, tendo em vista que primeiro foi realizada uma análise quantitativa para a identificação

dos aglomerados e posteriormente uma análise qualitativa com as entrevistas com especialistas,

mas também é sequential explanatory strategy porque das entrevistas originou-se uma survey

com os empresários do setor.

Quanto aos procedimentos técnicos – existem diversas classificações na literatura

sobre os procedimentos técnicos. Ganga (2012) elenca uma compilação destes como sendo:

pesquisa bibliográfica, desenvolvimento teórico conceitual, pesquisas experimentais, survey,

modelagem e simulação, estudo de caso e pesquisa-ação.

Nesta tese foram utilizados dois procedimentos técnicos em momentos distintos,

iniciou-se com uma pesquisa bibliográfica, cujo foco, segundo Ganga (2012) é explicar um

problema a partir de referências teóricas, logo, a pesquisa bibliográfica foi utilizada para

compreender os aspectos que interferem no desempenho de um cluster.

Posteriormente, utilizou-se o estudo de caso. Este enfoque busca obter informações

de um fenômeno segundo a visão de indivíduos, assim como observar e coletar evidências que

possibilitem interpretar o ambiente (GANGA, 2012). Gil (2009) destaca que uma das

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características do estudo de caso é a preservação do caráter unitário do fenômeno pesquisado,

este podendo ser um indivíduo, um grupo, um evento, um programa, um processo, uma

comunidade, uma organização, uma instituição social ou mesmo por toda uma cultura. Diante

destas definições, esta pesquisa buscou compreender, em um segundo momento, por meio da

percepção de indivíduos (especialistas e empresários), o ambiente do setor de confecção do

vestuário em uma determinada região do município de Fortaleza, encaixando-se nas

características do estudo de caso.

Quanto ao método científico de abordagem – dentre as várias definições sobre o

método científico, está o apresentado por Lakatos e Marconi (2017, p. 32) que destacam que

método de pesquisa “é o conjunto das atividades sistemáticas e racionais que, com maior

segurança e economia, permite alcançar o objetivo, conhecimentos válidos e verdadeiros,

traçando o caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista”. Os

autores listam como métodos de abordagem utilizados nas ciências sociais: método indutivo,

método dedutivo, método hipotético-dedutivo e método dialético.

Nesta pesquisa foram utilizados o método indutivo e o método dedutivo, assim,

somente estas duas abordagens são comentadas.

O método indutivo, segundo Lakatos e Marconi (2017), conduz-se para uma forma

mais abrangente, indo das constatações mais particulares às leis e teorias (conexão ascendente).

Para Yin (2016), os métodos indutivos tendem a permitir que as informações captadas levem

ao surgimento de conceitos. Portanto, esta pesquisa tem um caráter indutivo porque buscou, por

meio de uma análise qualitativa, conhecer mais profundamente as características do cluster de

confecção, que não apresentava nenhuma investigação voltada para o associativismo e interação

interempresarial. Neste aspecto, Yin (2016) considera que a maior parte das pesquisas

qualitativas possui uma abordagem indutiva.

O método dedutivo, segundo Lakatos e Marconi (2017), segue um caminho inverso

ao indutivo, partindo de teorias e leis, na maioria das vezes prediz a ocorrência de fenômenos

particulares (conexão descendente). Yin (2016) comenta que este tipo de abordagem permite

que os conceitos levem à definição de dados relevantes que precisam ser coletados. Nesta

pesquisa, após a análise qualitativa, onde foram gerados alguns conceitos sobre o ambiente

estudado, foi realizado um estudo quantitativo, o qual pode ser considerado dedutivo, conforme

os conceitos apresentados.

Quanto às técnicas de pesquisa – segundo Silva (2017), durante a coleta de dados

é possível utilizar em uma mesma pesquisa várias técnicas, como por exemplo, entrevistas,

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questionários/formulários, análise documental, observação (direta ou observação participante)

e/ou simulação.

Nesta pesquisa, para a etapa de identificação de aglomerado, utilizou-se a análise

documental, que segundo Gil (2009) pode abranger diversos tipos de documentos e, como não

exige o contato direto com as pessoas, favorece na redução do tempo despendido na pesquisa.

Os documentos analisados nesta etapa foram de fontes secundárias.

Em um segundo momento, na etapa qualitativa desta pesquisa, utilizou-se de

entrevista semiestruturada, que para Gil (2009) é a técnica mais flexível de coleta de dados,

possibilitando diferentes modalidades de entrevistas. No caso da entrevista semiestruturada,

Rosa e Arnoldi (2014) destacam que as questões devem ser abertas e elaboradas a fim de

permitir que o entrevistado discorra e expresse seus pensamentos, tendências e reflexões sobre

os temas apresentados. Deve haver um roteiro de tópicos selecionados com questões que sigam

uma formulação flexível de forma que a dinâmica da entrevista siga naturalmente.

Por fim, foi realizada uma survey aplicando um questionário fechado para obtenção

de dados para uma análise quantitativa junto aos empresários/gestores do setor.

3.2 Delineamento da pesquisa

A classificação da pesquisa apresenta seus conceitos metodológicos, entretanto é

necessário esboçar de forma lógica e sequencial as etapas que são desenvolvidas em todo o seu

conteúdo. A apresentação das etapas de uma pesquisa, segundo Gil (1991), pode ser

denominada como design (utilizado no idioma inglês), que pode ser traduzido como desenho,

designo ou delineamento, sendo esta última a mais comumente utilizada. Para o autor, o

delineamento corresponde ao planejamento da pesquisa, envolvendo tanto a diagramação

quanto a previsão de análise e interpretação de coleta de dados. A Figura 13 apresenta o

caminho percorrido na realização desta pesquisa.

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Figura 13 – Delineamento da pesquisa

*CEP – Comitê de Ética em Pesquisa.

Fonte: O autor (2019)

3.2.1 Revisão da literatura sobre aglomerados empresariais

Nesta pesquisa, inicialmente, foi realizada uma busca sistemática, almejando

compreender os principais conceitos, tipos, aplicações e características de aglomerados

empresariais. Foram então utilizadas três bases de dados, sendo elas: Science direct, Scopus e

Periódicos Capes. As principais palavras-chaves utilizadas foram “local production

arrangements”, “business networks”, “industry cluster”, "industrial district", "redes de

empresas" e "Arranjo produtivo local". As buscas foram realizadas em janeiro de 2018 e o

período pesquisado foi de 2012 a 2017. As buscas foram realizadas principalmente no título, e

nas palavras-chaves, entretanto, em alguns momentos também foram verificados nos resumos

das publicações científicas. A Tabela 7 apresenta o número de publicações encontradas nestas

buscas.

Revisão da literatura

Aglomerados organizacionais

Fatores associados a aglomerados

Métodos de identificação de

aglomerados

Identificação de aglomerados

Coletar dados (RAIS e GIC)

Identificar aglomerados por município-divisão

Identificar aglomerados por município-classe

Identificar aglomerados por bairro-divisão

Comparar com aglomerado geográfico (SANTOS, 2014)

Percepção de Especialistas

Coletar dados:

- definir amostra;

- elaborar instrumento de pesquisa;

- submeter ao *CEP;

- realizar entrevistas.

Análise de conteúdo:

- Compilar dados;

- Decompor dados;

- Recompor dados;

- Interpretar dados;

- conclusões.

Percepção de empresários

Coletar dados:

- definir amostra;

- elaborar questionário;

- refinar questionário;

- submeter ao *CEP;

- aplicar questionário

Analisar dados.

Conclusões gerais

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Tabela 7 – Publicações por base de dados

Bases de dados consultadas Número de publicações

encontradas

Science direct 294 Periódicos Capes 114 Scopus 111

Total 519 Fonte: O autor (2019)

Deste total de 519 artigos não se chegou a fazer uma verificação de duplicidade

entre as bases de dados de modo que esse quantitativo pode ter sido menor, mas houve dois

refinamentos mediante a leitura do título e quando necessário dos resumos, de modo que os

trabalhos que não se enquadravam com o tema da pesquisa foram descartados, e assim apenas

75 trabalhos foram validados e lidos para aproveitamento nesta pesquisa.

Além destes artigos validados, algumas outras buscas foram realizadas mediante as

necessidades encontradas no desenvolvimento do referencial teórico. Fora os artigos

científicos, foram consultadas várias outras fontes, como livros, capítulos de livros, relatórios

técnicos, teses e dissertações.

O foco foi buscar trabalhos recentes, entretanto, foram usadas algumas publicações

mais antigas que trouxessem conceitos iniciais e históricos do surgimento dos aglomerados,

além de materiais utilizados no desenvolvimento do procedimento metodológico.

A Figura 14 apresenta a relação entre a quantidade de trabalhos utilizados nesta

pesquisa e os anos de sua publicação.

Figura 14 – Relação de trabalhos pelo ano de publicação

Fonte: O autor (2020)

0

2

4

6

8

10

12

14

20

20

20

19

20

18

20

17

20

16

20

15

20

14

20

13

20

12

20

11

20

09

20

08

20

07

20

06

20

05

20

03

20

02

20

00

19

99

19

98

19

95

19

91

19

20

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Nota-se, pela figura 14, que o maior número de trabalhos está concentrado nos anos

mais recentes, os quais, em sua maioria foram obtidos por meio da revisão bibliográfica

sistemática, com busca no período de 2012 a 2017. A Figura 15 destaca a distribuição dos

trabalhos com mais e com menos de 10 anos de publicação.

Figura 15 – Trabalhos com menos e mais de 10 anos de publicação.

Fonte: O autor (2020)

Nesta distribuição dos 121 trabalhos utilizados nesta pesquisa, evidencia-se o

considerável percentual de 68% dos trabalhos com menos de 10 anos, contra 32% de trabalhos

com mais de 10 anos da data de publicação.

A Figura 16 apresenta a distribuição da quantidade de trabalhos utilizados nesta

pesquisa de acordo com o tipo de publicação.

Figura 16 – Quantidade e tipos de trabalhos utilizados

Fonte: O autor (2020)

Menos de 10 anos

68%

Mais de 10 anos32%

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A predominância é de artigos científicos, com 69 trabalhos (57%), seguido por 18

livros (15%) e 18 relatórios técnicos (15%), os demais trabalhos (dissertações, teses, páginas

da web e capítulos de livros) somam 16 publicações (13%).

3.2.2 Identificação de aglomerados vocacionados do setor de confecção do vestuário

A metodologia de localização de aglomerações utilizada neste trabalho é adaptada

do trabalho de Olivares e Dalcol (2014), o qual consiste em uma junção das abordagens

clássicas propostas por Suzigan et al. (2003) e por Britto e Albuquerque (2002). A alteração

realizada nesta tese foi inserir um nível de desagregação a mais, tanto na dimensão territorial

como na dimensão setorial. A escolha pela metodologia de Olivares e Dalcol (2014) nesta

pesquisa se deve ao fato de ser uma das mais recentes na literatura, bastante completa e com

características que favorecem a minimização de vieses de identificação.

O objetivo da realização de um nível a mais na desagregação geográfica é

identificar como se comportam as aglomerações dentro de um município com intensa

diversificação industrial, como é o caso das grandes metrópoles, em particular do município de

Fortaleza – CE. Vale salientar que, conforme já apresentado, o QL não é tão eficiente na

identificação de aglomerados em grandes municípios, mesmo que haja arranjos com fortes

potenciais. Portanto, nesta pesquisa a desagregação chegou ao nível de bairros (geográfica) e

de Classe (setorial).

Os passos para a elaboração do levantamento de localização de aglomerados estão

apresentados na Figura 17.

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Figura 17 – Passos para identificação de aglomerados

Fonte: O autor (2019)

Passo 1 : Coletar dados, por meio da RAIS (2017) (dados de 2016), sobre o número

de vínculos e de estabelecimentos dos 184 municípios do estado do Ceará para as 23 divisões

da CNAE (da Divisão 10 até a Divisão 32), estas divisões são as pertencentes à seção “c”,

referente às indústrias de transformação, logo, este trabalho não contempla as demais seções,

como por exemplo a seção “a” (agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura),

ou a seção “b” (indústrias extrativas). O objetivo deste levantamento é comparar a posição do

setor de confecção do vestuário de Fortaleza com os demais municípios e setores do estado.

Passo 2: Com os dados obtidos no passo anterior, calcular o Quociente Locacional

(QL) por município-divisão dos 184 municípios do estado do Ceará para as 23 divisões da

CNAE, utilizando o estado como região padrão ou de referência. Adicionalmente ao QL, foram

aplicadas duas variáveis de controle, que servem de “filtros” para a melhor utilização e

interpretação das informações oriundas dos cálculos desse indicador especializado. As duas

variáveis foram percentuais de emprego e número de estabelecimentos.

PASSO 1 - coletar dados por município-divisão: nº vínculos e nº de estabelecimentos (Fonte RAIS)

PASSO 2– calcular o QL

PASSO 3– calcular o percentual de emprego

PASSO 4– classificar o aglomerado quanto a sua importância (Elevada, Reduzida e Não) Significativa -NS)

PASSO 5– Desagregar para o nível de classe apenas a divisão 14 (confecção de artigos do vestuário e acessórios) no município de Fortaleza

PASSO 6– refazer os passos de 1 a 4 com nível de desagregação bairro-divisão e utilizando dados do GIC.

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A utilização dessas variáveis de controle justifica-se por dois motivos principais.

Primeiro, porque em alguns casos o elevado índice de especialização é uma decorrência da

baixa densidade da estrutura industrial local, o que pode levar a uma superestimação da

importância do sistema local; a atenuação desta situação foi por intermédio de um indicador de

participação do município no emprego total do seu estado naquela determinada divisão

industrial, indicando sua importância econômica. Essa variável de controle deu origem ao Passo

3. A segunda razão é que essas variáveis de controle permitem verificar se o elevado QL de

uma determinada região não é mera decorrência da presença local de uma grande empresa, o

que não caracterizaria uma aglomeração produtiva. Para isso, foi utilizada a informação sobre

o número de estabelecimentos, o que permite verificar se trata-se efetivamente de uma

aglomeração de um número significativo de empresas. O Passo 4 se encarrega de tabular essa

variável.

Passo 3: Também com os dados já obtidos no passo 1, calcular o percentual de

emprego para cada município-divisão do estado do Ceará, em relação ao total do setor da região

padrão (estado).

Passo 4: Aplicar a abordagem metodológica utilizada por Olivares e Dalcol (2014)

para classificar as aglomerações produtivas quanto à importância (elevada ou reduzida). Esta

classificação considera a região que apresentar um QL superior ou igual a 5 (cinco), tiver um

percentual de emprego (% Emp.) igual ou maior que 1,00 (um) e 5 (cinco) ou mais

estabelecimentos como tendo importância elevada para o local. A região cujo QL for maior ou

igual a 1 e menor que 5 (cinco), também com percentual de emprego (% Emp.) igual ou maior

que 1,00 (um) e tiver 5 (cinco) estabelecimentos, no mínimo, é classificada como de

importância reduzida para o local. As demais regiões que não se enquadrarem nos parâmetros

expostos serão consideradas não significativas (NS) quanto a um potencial de aglomerado de

empresas. O Quadro 4, apresentado no referencial teórico, resume a classificação utilizada neste

trabalho.

Passo 5: Desagregar as divisões até o nível de classe de atividades. Este passo foi

realizado somente em uma divisão (14. confecção de artigos do vestuário e acessórios) do

município de Fortaleza. A escolha desta divisão foi porque está entre os de maior classificação

quanto à especialização para o referido município, conforme parâmetros do passo 4. O Quadro

6 apresenta o CNAE 2.0 da RAIS e parte de sua desagregação.

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Quadro 6 - Estrutura detalhada CNAE 2.0

CÓDIGO CNAE 2.0 DENOMINAÇÃO

DIVISÃO GRUPO CLASSE

14. CONFECÇÃO DE ARTIGOS DO VESTUÁRIO E ACESSÓRIOS

14.1 Confecção de artigos do vestuário e acessórios

14.11-8 Confecção de roupas íntimas

14.12-6 Confecção de peças do vestuário, exceto roupas íntimas

14.13-4 Confecção de roupas profissionais

14.14-2 Fabricação de acessórios do vestuário, exceto para segurança e proteção

14.2 Fabricação de artigos de malharia e tricotagem

14.21-5 Fabricação de meias

14.22-3 Fabricação de artigos do vestuário, produzidos em malharias e tricotagens, exceto meias

Fonte: O autor (2019). Extraído de CNAE 2.

Passo 6: realizar novamente os passos de 1 a 4, agora utilizando os dados do Guia

Industrial do Ceará (dados de 2016), somente para o setor de confecção do vestuário no

município de Fortaleza, sendo que neste passo o nível de desagregação territorial foi por bairro

e o setorial por divisão. Salienta-se que não foi possível chegar ao nível de classe porque a fonte

de dados não possui esta subdivisão de forma consistente. O objetivo deste passo é analisar

como são formados os aglomerados dentro da capital, tendo em vista que, segundo dados da

RAIS, no ano de 2016 existiam 2081 empresas formais deste setor, correspondendo a 62% dos

vínculos do estado do Ceará, logo mostra-se importante identificar esses aglomerados, para que

se possa realizar posteriormente estudos de campo.

Neste passo foi alterada a nota de corte do QL de 5 para 3, assim os bairros com

QL superior ou igual a 3 foram classificados como elevados. Essa alteração objetivou alcançar

um maior número de bairros com classificação elevada, tendo em vista que com a nota de corte

5, apenas 1 bairro foi classificado como elevado. Outra alteração foi utilizar como ordem de

conjunto o município de Fortaleza ao invés do estado do Ceará.

Salienta-se que a mudança da nota de corte do QL de 5 para 3, no caso desta

pesquisa, não afeta significativamente na identificação dos aglomerados entre os bairros do

município de Fortaleza, isso pode ser justificado por dois principais motivos: primeiro porque

o simples fato do QL estar acima de 1 já considera-se que a região tem um grau de

especialização maior que o conjunto (AMARAL FILHO et al., 2006), então um valor de 3 para

o QL ainda é bem representativo; e segundo, conforme já apresentado na revisão da literatura,

municípios grandes, com intensa diversificação de setores, podem apresentar QL baixos quando

comparado com municípios menores (AMARAL FILHO et al., 2006; OLIVARES; DALCOL,

2014; SUZIGAN; GARCIA; FURTADO, 2002), o que de fato foi verificado nesta pesquisa.

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Ao finalizar esta etapa de identificação dos aglomerados por bairros, utilizando a

abordagem metodológica utilizada por Olivares e Dalcol (2014), haverá uma comparação com

a simples localização geográfica realizada por Santos (2014).

3.2.3 Percepções de especialistas sobre o cluster

Após a identificação dos principais aglomerados de empresas existentes em

Fortaleza, ficou clara a relevância do setor de confecções como um dos principais setores,

entretanto, não foram identificados na pesquisa bibliográfica estudos apresentando o nível

organizacional destes.

Portanto, a segunda etapa desta pesquisa buscou identificar, por meio de um painel

de especialistas, os principais fatores que interferem no desempenho do aglomerado

selecionado. Segundo Pinheiro, Farias e Abe-Lima (2013) o painel de especialistas é uma

técnica de pesquisa empregada em pscicologia, administração e ciências sociais em geral, em

que o especialista representa uma percepção bem específica sobre o assunto, a ser integrada

com outras percepções, e não implicando em palavra final ou definitiva a respeito do tema.

Estes mesmos autores também comentam que o que importa é o caráter coletivo,

reunindo várias pessoas com legitimidade para o tratamento dos assuntos envolvidos, assim, é

a competência desses membros que caracteriza o painel de especialistas como técnica de

pesquisa.

Segundo Yin (2016), uma pesquisa qualitativa também necessita de um

delineamento, porém possui uma maior flexibilidade, podendo ser mais adaptativa, de modo

que o pesquisador possa personalizar o seu próprio estudo. Deste modo, esta etapa qualitativa

foi planejada seguindo um delineamento básico apresentado pelo autor, e os passos estão

apresentados na Figura 18.

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Figura 18 – Passos para o delineamento da análise qualitativa

*CEP – Comitê de Ética em Pesquisa.

Fonte: O autor (2019), adaptado de Yin (2016)

A fase qualitativa divide-se basicamente em duas etapas, coleta de dados e análise

de conteúdo, as quais estão detalhadas nas seções seguintes.

3.2.3.1 Coleta de dados (1ª Etapa)

Passo 1 - Definição da amostra

Segundo autores como Yin (2016) e Creswell (2014), na pesquisa qualitativa, as

amostras tendem a ser escolhidas de uma forma mais deliberada, conhecida como amostragem

intencional. Desta forma é possível selecionar as unidades de estudo que proporcionem dados

1ª ETAPA - Coleta de dados

2ª ETAPA - Análise de conteúdo

1.Definir

amostra

2.Elaborar

protocolo de entrevista

3.Obter

autorização do CEP*

4. Aplicar

entrevistas

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mais relevantes. Assim, também é possível introduzir participantes na pesquisa que possam ter

percepções diferentes sobre o tema abordado e, portanto, evitar a tendenciosidade.

Com relação ao tamanho da amostra, isso não foi considerado tão importante para

esta pesquisa, porque, conforme mencionam autores como Yin (2016) e Flick (2009), não há

uma fórmula para definir o tamanho da amostra em estudos qualitativos. Em geral, amostras

maiores possuem uma maior confiabilidade, porém, ter amostras grandes não é a única forma

de aumentar a confiança; uma consideração importante a ser levada em consideração é a

composição dos objetos de estudo.

Nesta etapa de análise qualitativa, foram investigadas instituições ligadas ao

Governo, à Indústria e à Academia, além de agentes catalisadores, que conforme descrito por

Fundeanu e Badele (2014), são entidades de coordenação e consultoria nacional e internacional.

Por ser apenas uma fase exploratória da pesquisa, não houve a intensão em focar um grande

volume de participantes, o foco foi na composição, procurando instituições que apresentassem

envolvimento elevado com o tema e setor investigado. Para tanto, foram selecionados oito

objetos de estudo (instituições), representados no Quadro 7.

Quadro 7 – Objetos de estudo para análise qualitativa ESFERA INSTITUIÇÃO

GOVERNO Secretaria das Cidades – SCIDADES (Governo do Estado)

Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico – SDE (Governo Municipal)

INDÚSTRIA

Sindicato das Indústrias de Confecção de Roupas de Homem e Vestuário no Estado do

Ceará - SINDROUPAS

Sindicato das Indústrias de Confecção de Roupas e Chapéus de Senhoras do Estado do

Ceará – SINDCONFECÇÕES

ACADEMIA

Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI

Rede de Pesquisa em Arranjos e Sistemas Produtivos e Inovativos Locais – RedeSist –

Tendo como representante no Ceará o Departamento de Economia da Universidade

Federal do Ceará - UFC

Universidade Federal do Ceará – UFC (Curso de Design e Moda)

CATALISADOR Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE

Fonte: O autor (2019)

Os representantes selecionados para serem entrevistados faziam parte da Câmara

Setorial da Cadeia Produtiva do Vestuário e/ou do Núcleo Estadual de Apoio a Arranjos

Produtivos Locais do Ceará. Somente a SDE não compõe nenhuma destas duas relações, porém,

esta instituição foi incorporada à amostra por indicação de outras instituições, devido a sua

importância no desenvolvimento regional do setor em análise.

Com a definição das instituições a participarem da pesquisa, houve o contato por e-

mail e posteriormente por telefone a fim de agendar a entrevista. No caso dos sindicatos houve

ainda visitas presenciais aos escritórios, na tentativa de agendar as entrevistas. Entretanto, das

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oito instituições, com apenas seis foi possível a aplicação da entrevista. O quadro 8 apresenta a

relação dos participantes das entrevistas

Quadro 8 – Relação de participantes da pesquisa

Instituição Área de atuação Função

entrevistado

Tempo

experiência

Formação

SCIDADES

Responsável pela coordenação do

Núcleo Estadual de Apoio a

Arranjos Produtivos Locais do

Ceará - NEA APL- CE.

Assessor

Técnico (proj.

APL)

8 anos na

função Administrador

SDE

Responsável pelo fortalecimento

do sistema produtivo do

Município.

Economista da

Coordenadoria

de Projetos da

SDE

3 anos na

função Economista

SINDCONF.

Representa as categorias

econômicas das Indústrias de

Confecções, com base territorial

em todo o estado do Ceará.

Executiva do

Sindconfecções

1 ano na função

e 8 anos no

setor de

confecção

Assistente social e

mestre em

Administração

SENAI

Centro de formação profissional

do setor de confecção do

vestuário.

Coordenador de

Tecnologia

4 anos na

função e 10

anos no setor de

confecção

Engenheiro Têxtil

UFC (Curso de

Design e Moda)

Instituição de Ensino Superior

ligado à Câmara Setorial da

Cadeia Produtiva do Vestuário.

Professora

adjunta da UFC,

Curso de Design

e Moda

20 anos na

função e 30

anos no setor de

confecção

Economista

doméstica, mestre

em Eng. de

Produção e doutora

em Educação

SEBRAE

Promotora do desenvolvimento

econômico e competitividade de

micro e pequenas empresas.

Especialista em

Pequenos

Negócios

29 anos na

função

Administrador e

mestre em

Desenvolvimento

Territorial

Fonte: O autor (2019)

Passo 2 – Estruturação do protocolo de pesquisa

Uma vez definida a amostra, estruturou-se o instrumento de pesquisa que seria

utilizado nas entrevistas (vide apêndice A). Ele foi composto por quatro partes, sendo: Parte I

– Perfil do especialista e da instituição; Parte II – Perspectivas na organização de clusters (11

perguntas); Parte III – Desempenho do setor de confecção do vestuário de Fortaleza (6

perguntas); Parte IV – Avaliação dos fatores relevantes no desempenho de cluster (18

perguntas).

O instrumento de pesquisa estruturado foi submetido a um teste piloto com dois

professores universitários que atuam com o tema de clusters, sendo possível assim um

refinamento antes de sua aplicação.

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Passo 3 - Submissão do projeto e do instrumento de pesquisa ao CEP para apreciação.

A realização de qualquer tipo de estudo que envolva a atuação de humanos como

participantes requer a aprovação prévia de um Comitê Institucional de Ética (CIE) (YIN, 2016),

conhecidos no Brasil como Comitês de Ética em Pesquisa (CEP). Esta é uma prática obrigatória,

principalmente em estudos qualitativos, que possuem predominantemente a atuação de

humanos em suas participações.

Segundo Flick (2009), os códigos de ética apresentados pelos comitês visam a

redução de danos causados pelos pesquisadores sobre os participantes envolvidos no processo,

por meio do respeito e da consideração. Portanto, a aprovação de pesquisas pode ser motivo de

frustação e requer mais energia e atenção por parte dos pesquisadores.

Pelo fato de a etapa desta pesquisa envolver seres humanos, foi submetido um

projeto de pesquisa ao CEP da UNICAMP contendo o instrumento de pesquisa em junho de

2018, o qual foi aprovado por meio de Parecer Consubstanciado de 07 de agosto de 2018, com

o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) de número

91224418.9.0000.5404. Portanto, a partir desta data foi possível iniciar a entrevista com os

especialistas.

Passo 4 - Realização de entrevistas junto aos especialistas.

Esta etapa foi caracterizada pela coleta de dados em campo, envolvendo um

conjunto de instituições definidas na amostra, de modo que o pesquisador se deslocou até o

ambiente de trabalho dos especialistas. As entrevistas foram agendadas por telefone, momento

em que foi apresentado o objetivo da pesquisa e marcada a data do encontro.

Cabe destacar que as entrevistas foram realizadas apenas com seis especialistas e

não com oito, como previsto inicialmente. Apesar de várias tentativas, tanto por telefone como

presencial, houve certa dificuldade em agendamento com o representante da RedeSist no Ceará

e a entrevista acabou não sendo realizada. O mesmo ocorreu com o representante do

SINDROUPAS.

As demais entrevistas ocorreram entre os meses de agosto e novembro de 2018.

Logo no início do encontro os entrevistados foram indagados sobre a aceitação, ou não, na

participação do estudo. Em caso afirmativo, tiveram que assinar o Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido (TCLE). Neste termo também constava um campo onde se autorizava, ou

não, a gravação em áudio das entrevistas. Todos concordaram em participar e autorizaram a

gravação pelo pesquisador. O tempo total das seis entrevistas foi de 408 minutos, dando uma

média de 68 minutos por entrevista.

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O pesquisador conduziu as entrevistas dando liberdade aos especialistas para

discorrerem sobre cada assunto abordado, de modo que algumas perguntas presentes no

questionário foram respondidas sem mesmo terem sido questionadas.

3.2.3.2 Análise de conteúdo das informações dos especialistas (2ª Etapa)

Existem algumas técnicas utilizadas na análise de dados, e a que mais se adéqua a

esta pesquisa é a análise de conteúdo, que é um dos procedimentos clássicos para analisar o

material textual, tendo como característica essencial a utilização de categorias, normalmente

obtidas a partir de modelos teóricos, e tendo como objetivo principal reduzir o material empírico

coletado (FLICK, 2009).

Uma ferramenta essencial em estudos qualitativos e que foi utilizada na análise de

conteúdo desta pesquisa foi um programa de computador conhecido genericamente como

software de “Análise de dados qualitativos assistida por computador” (ou CAQDAS, Computer

Assisted Qualitative Data Analysis) (YIN, 2016). Há vários modelos e marcas deste tipo de

software, porém, nesta pesquisa, por motivos de disponibilidade, foi utilizado o Atlas.ti, versão

6. Os passos seguintes apresentam a análise de conteúdo desenvolvida. Entretanto, conforme

esclarece Yin (2016), esses passos podem ser recursivos, ou seja, enquanto se está em um passo,

pode retornar ou avançar ao mesmo tempo, retornar para alterar algo, e avançar prevendo ou

trazendo à tona uma ideia para um passo que está por vir.

Passo 1 - Compilação do conjunto ordenado de dados:

Neste passo, o objetivo é apenas organizar os dados coletados de maneira ordenada

antes de iniciar a análise formal. Segundo Yin (2016), dados organizados conduzem a análises

mais robustas e rigorosas. Como a coleta de dados realizada em campo foi por meio de

gravações em áudio, foi necessária a transcrição para arquivo de texto digital, e nesta transcrição

optou-se por um formato detalhado, anotando-se cada palavra dita. Esse processo foi realizado

pelo próprio pesquisador, e, conforme menciona Gibbs (2009), é algo que demanda muito

tempo, esforço e interpretação por parte do pesquisador, entretanto, possibilita uma prévia

análise de dados e consequentemente a geração de ideias.

Outro ponto importante, apresentado por Yin (2016), e que foi buscado na

transcrição, se refere à padronização de alguns termos buscando uniformidade nas palavras e

expressões utilizadas.

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Após os dados transcritos em arquivos de texto, sendo um arquivo por entrevista,

eles foram importados ao software Atlas. Ti, e neste processo foi criada uma Unidade

Hermenêutica (UH), que é o local onde são reunidos todos os elementos de análise. Esses

elementos (arquivos transcritos neste caso, mas podem ser áudios, figuras, dentre outros) são

denominados Documentos Primários (PD).

Passo 2 - Decomposição dos dados

Este segundo passo da análise consiste basicamente em decompor os dados

compilados em fragmentos ou elementos menores, este procedimento geralmente é

acompanhado por atribuições de novos rótulos, ou “códigos”, aos fragmentos identificados.

Estas operações podem ser repetidas várias vezes, como parte de um processo de tentativa e

erro de testar códigos (YIN, 2016).

Nesta fase de decomposição, os códigos gerados são chamados de códigos abertos

ou códigos de Nível 1, que são códigos ligados diretamente aos fragmentos destacados,

podendo até utilizar-se de palavras do texto, formando os chamados códigos in vivo. À medida

que estes códigos vão se formando, o pesquisador já pode ir pensando em como estes códigos

iniciais podem se agrupar para gerar códigos de Nível 2, ou de categoria, formando um conjunto

de códigos ou famílias de códigos (YIN, 2016).

Gibbs (2009) simplifica o conceito de codificação, afirmando que este processo

envolve a identificação e o registro de uma ou mais passagens do texto, formando uma ideia,

ou seja, o código.

O autor também considera dois formatos de codificação, a codificação baseada em

conceitos e a codificação baseada em dados; na primeira os códigos que representam os

fragmentos podem vir da literatura de pesquisa, de estudos anteriores, de tópicos de roteiro de

entrevista, dentre outros, de modo que é possível construir uma lista de códigos

antecipadamente à análise, entretanto, o pesquisador precisará ir ajustando a lista de códigos no

decorrer da análise; no segundo formato, oposto ao primeiro, a ideia é começar a análise sem

uma lista de códigos, daí vem o nome de codificação aberta, talvez porque se tente fazê-la com

a mente aberta.

Nesta tese, os dois formatos apresentados foram utilizados, tendo em vista que eles

não são excludentes, assim, a análise iniciou com alguns códigos pré-estabelecidos, extraídos

da teoria e do protocolo de entrevista, e outros foram surgindo durante a análise.

A codificação desta pesquisa foi realizada com o auxílio do software, entretanto,

ele tem apenas a função importante de ajudar na organização e recuperação dos dados, ficando

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o papel de identificar os códigos por conta do pesquisador. Com os códigos (Codes) registrados

são então realizados os links com as citações (Quotes/quotation) que são os fragmentos de textos

relacionados com os códigos.

Passo 3 - Recomposição dos dados

A recomposição dos dados é um passo além da decomposição, que consiste,

inicialmente, em observar os padrões surgidos e que possam gerar algumas revelações

importantes, ou seja, é a elevação dos códigos de Nível 1 e 2, para Níveis 3 e 4, podendo gerar

planos conceituais mais altos, ou mesmo conceitos teóricos, evitando ao máximo

procedimentos mecanicistas (YIN, 2016).

Uma forma consistente e organizada de recompor os dados é por meio da formação

de arranjos, estes geralmente são representações gráficas com o objetivo de melhor representar

as interações entre os dados coletados e possibilitar a geração de possíveis interpretações.

Existem vários tipos de arranjos, alguns comumente utilizados em análises qualitativas são:

arranjos hierárquicos, delineamento de matrizes (YIN, 2016) e conexão em rede (GIBBS,

2009).

• arranjos hierárquicos–este formato de organização dos dados permite pensar sobre

o que está sendo codificado e quais perguntas estão sendo respondidas, sua estrutura

pode ser dividida em sub-ramos para indicar tipos de agrupamentos diferentes

(GIBBS, 2009).

• matrizes – estas são esquemas formados por linhas, colunas e células, onde as filas

representam uma dimensão e as colunas representam outra, já as células são onde os

dados da pesquisa são inseridos. Neste momento não deve haver opiniões ou

conclusões, os dados devem ser como uma citação direta ou abreviados (YIN, 2016).

• conexões em rede – neste formato gráfico, os códigos também podem ser

organizados hierarquicamente, ou de qualquer outra forma, com uma indicação de

como é formada a ligação, por exemplo: “é parte de” ou “contradiz”, no caso de

códigos, ou “critica” ou “justifica”, no caso de citações (GIBBS, 2009).

A organização de conexões em rede (Network Views) está presente no software

Atlas.Ti V.6, de modo que, após a codificação, esta função permite a introdução de relações,

formadas por conectores, representados por símbolos, conforme apresentado no Quadro 9.

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Quadro 9 - Símbolos utilizados no software Símbolo Significado

== É associado com

[] É parte de

=> É a causa de

<> Contradiz

Isa É uma

*} É propriedade de

Fonte: Manual Atlas TI v.6

Estes símbolos são então representados entre os elos, que são os códigos no caso

desta pesquisa, e assim oferece uma melhor condição para a interpretação dos relacionamentos

existentes. Assim como na criação dos códigos, a criação das conexões em rede é realizada de

forma manual pelo pesquisador, através das percepções encontradas durante a análise, ou seja,

o software não possui nenhum comando automático para gerar as relações. A Figura 19

apresenta um exemplo de conexão de rede proporcionada pelo Atlas.Ti V.6.

Figura 19 - Exemplo de conexões de rede proporcionada pelo Atlas.Ti V.6

Fonte: Manual Atlas TI v.6

Na Figura 19 os retângulos representam os códigos, os quais também apresentam

alguns números no formato {x-y}, em que “x” representa a quantidade de citações, ou

fragmentos de textos vinculados ao código, e “y” é a quantidade de códigos ao qual está

vinculado (MEDEIROS, 2016). Por exemplo, o código “cooperação” com a identificação {12-

5} possui associação com 12 citações e está conectado com 5 outros códigos. O software

também proporciona uma opção de coloração automática (auto-color mode), o qual acrescenta

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uma diferenciação na cor dos retângulos onde estão os códigos, de acordo com o número de

citações (grounded) e número de conexões (density).

Nesta pesquisa, procurou-se usar algumas destas formas gráficas de recomposição

de dados formando a base para a interpretação e, posteriormente, compor a narrativa geral do

estudo.

Passo 4 - Interpretação dos dados

Este passo envolve conceder o significado aos dados e arranjos, articulando toda a

análise e exigindo o emprego de habilidades interpretativas (YIN, 2016). Para Creswell (2014),

a interpretação dos dados conduz a um envolvimento do pesquisador, promovendo um real

sentido aos dados, esta interpretação pode ser de três formas: i) baseada em impressões, insights

e intuição, ii) baseada em um constructo ou ideia da ciência social, ou ainda iii) combinação de

visões pessoais em contraste com um constructo ou ideia social. Deste modo, o pesquisador

vincula sua interpretação à literatura de pesquisa. Nesta tese a etapa de interpretação buscou

observar a organização dos dados e extrair conjecturas a partir das percepções pessoais

vinculadas à teoria científica.

Passo 5 - Conclusão da análise:

Este último passo da análise de dados é fundamental para pesquisas qualitativas.

Segundo Yin (2016), a lógica é que a conclusão esteja ligada tanto à fase interpretativa quanto

aos principais resultados, extraindo conclusões pertinentes ao tema proposto.

3.2.4 Percepções dos empresários/gestores sobre o cluster

Esta última etapa da pesquisa buscou obter informações acerca do cluster

diretamente com os empresários/gestores das empresas localizadas na região alvo.

3.2.4.1 Definição da amostra

A relação das empresas desta etapa da pesquisa foi obtida por meio do cadastro

existente no Guia Industrial da Federação das Indústrias do Ceará, do ano de 2016. Portanto, é

formado apenas por empresas formalizadas. O universo quantitativo é de 295 empresas, as quais

abrangem a região alvo (total de 16 bairros). Tal região foi selecionada após a análise

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quantitativa de identificação de aglomerado. Essas empresas estão distribuídas em vários

segmentos, conforme apresentado na Tabela 8.

Tabela 8 – Segmentação do setor de confecção do vestuário na Região do Montese

PRODUTO Nº ESTAB

Moda em geral 121

Moda feminina 76

Moda íntima 45

Moda praia 21

Moda infantil 15

Fardamentos em geral 9

Moda masculina 8

TOTAL 295 Fonte: O autor (2019). Dados de 2016, FIEC (2017)

Nota-se, nesta região, uma predominância de confecções que fabricam vários tipos

de roupas (moda em geral) e um grande volume de empresas de moda feminina e moda íntima.

Como o pesquisador possui o contato de todas as 295 empresas e a quantidade é

relativamente baixa, optou-se pela realização de um censo, que, segundo Vieira (2009), é o

resultado do levantamento de dados de toda uma população. Apesar do estudo ser chamado de

censo, vale salientar que a fonte de dados não possui todas as empresas da região, tendo em

vista que o cadastro nesta fonte não é obrigatório pelas empresas, por isso possui também uma

denominação de survey.

3.2.4.2 Elaboração do questionário

O questionário utilizado nesta etapa (Apêndice B) se subdivide em duas partes. Na

parte I foram inseridas nove questões sobre a identificação da empresa e então buscou-se

levantar aspectos demográficos tanto dos respondentes como das empresas, além de obter

algumas características dos processos e linhas de produtos.

A parte II focou em uma análise das características do aglomerado de empresas e

foi elaborada por meio de seis grupos de questões, as quais foram elaboradas a partir dos

resultados da pesquisa qualitativa com os especialistas, a fim de verificar se as principais

opiniões deles eram compatíveis com a percepção dos empresários/gestores.

Após elaborar o questionário e antes de aplicá-lo ele foi submetido a pessoas que

tinham diversos tipos de expertise como: aglomerados empresariais, setor de confecção,

metodologia de pesquisa e estatística.

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Desse modo o questionário foi submetido a sete pessoas, sendo quatro estatísticos,

uma empresária do setor de confecção e dois professores pesquisadores, assim houve um

extenso processo de aperfeiçoamento do documento.

Tais pessoas avaliaram se o instrumento estava elaborado de acordo com os

objetivos da investigação, se havia coerência e consistência, se uma pergunta não estava

influenciando a resposta de outra, se havia clareza na formulação, dentre outras observações.

Segundo Baptista e Campos (2018), esse procedimento de refinamento do questionário é

denominado validação de conteúdo com precisão de juízes.

Assim como no instrumento de pesquisa com os especialistas, o questionário

também foi submetido por meio de uma emenda ao projeto anterior e então apreciado e

aprovado pelo CEP.

3.2.4.3 Aplicação do questionário

O pesquisador possui o cadastro das 295 empresas do universo da pesquisa e neste

cadastro há informações como: razão social, nome fantasia, CNPJ, endereço, telefone, e-mail,

número de empregados e lista de produtos.

O questionário foi inicialmente encaminhado para todas as 295 empresas por e-

mail, explicando o objetivo da pesquisa, esclarecendo todos os procedimentos éticos e

solicitando que respondessem; para tanto foi utilizada a plataforma Google Forms. Após um

período de cinco dias, os questionários foram reenviados a todos os e-mails não respondidos.

Passando-se mais cinco dias, iniciou um novo modo de contato por meio de

chamadas telefônicas, a fim de obter um contato mais pessoal com o público-alvo, solicitando

que pudessem responder ao questionário enviado por e-mail. Caso não fosse possível falar com

algum responsável da empresa, a ligação seria refeita quantas vezes fosse necessária até se obter

o máximo de respostas durante o período dos meses de setembro e outubro de 2019.

As ligações foram realizadas por dois pesquisadores auxiliares, alunos do curso de

engenharia de produção, os quais receberam um treinamento sobre métodos de abordagem e

sobre os objetivos da pesquisa.

3.2.4.4 Análise dos dados quantitativos

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A parte I do questionário foi tratada por meio da estatística descritiva, objetivando

uma percepção global da variação destas características, organizando e descrevendo os dados

por meio de tabelas, gráficos e medidas de posição.

Na parte II foi novamente utilizada a estatística descritiva em algumas questões e,

na análise dos itens Likert, houve uma abordagem que buscou avaliar o grau de concordância

dos respondentes para com as variáveis propostas. Para tanto, foi utilizado um critério proposto

por Bernardo (2019), de tendência e convergência, onde se 50% das respostas ou mais estiverem

concentradas em uma das cinco alternativas dos itens Likert, há uma convergência para tal

alternativa, podendo ser desde discordo totalmente até concordo totalmente. Não sendo

identificada uma convergência, deve-se avaliar se 50% ou mais das respostas encontram-se

deslocadas no somatório das alternativas acima ou abaixo do ponto de neutralidade (indiferente),

sinalizando a existência de uma tendência para a concordância ou discordância da variável proposta.

Caso não haja convergência e nem tendência, a variável será considerada como indiferente, ou seja,

não há uma concordância concisa entre os respondentes.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capítulo são apresentados os principais resultados e discussões decorrentes

das etapas de identificação do aglomerado, da entrevista com os especialistas e da survey com

os gestores empresariais.

4.1 Identificação de aglomerados por meio do coeficiente QL

Foram levantados, através dos dados da RAIS 2016, os vínculos empregatícios e os

números de estabelecimentos dos 23 setores da indústria de transformação nos 184 municípios

do estado do Ceará, posteriormente foi calculado QL, tendo como comparativo básico o estado

do Ceará e por último foi realizada a classificação de acordo com grau de importância do

aglomerado. Apresenta-se nesse trabalho, como exemplo, os resultados de identificação de

aglomerados (Tabela 9). Em destaque o setor confecção do vestuário.

Tabela 9 – Identificação de aglomerados por divisão - município de Fortaleza - CE

DIVISÃO CNAE 2.0 VÍNCULOS QL(CE) % EMPR. Nº ESTAB. IMP.

10 13011 0,68 36 703 NS

11 1989 0,50 27 54 NS

12 121 1,58 85 1 NS

13 3133 0,45 24 156 NS

14 26880 1,16 62 2081 REDUZIDA

15 2971 0,10 5 109 NS

16 407 0,61 33 57 NS

17 644 0,43 23 48 NS

18 2358 1,34 72 334 REDUZIDA

19 316 1,46 78 4 NS

20 981 0,43 23 88 NS

21 73 0,05 3 7 NS

22 1235 0,48 26 97 NS

23 1929 0,28 15 144 NS

24 266 0,09 5 42 NS

25 2207 0,66 35 361 NS

26 309 1,02 54 32 REDUZIDA

27 3234 0,88 47 24 NS

28 1063 0,93 50 55 NS

29 470 0,48 26 59 NS

30 666 1,34 72 10 REDUZIDA

31 1294 0,40 21 226 NS

32 992 0,86 46 155 NS

Fonte: O autor (2019). Extraído de RAIS, dados de 2016.

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Verifica-se, na Tabela 9, que o município de Fortaleza não apresenta nenhum

aglomerado de empresas com classificação elevada, isto comprova o que já foi mencionado de

que este método de identificação se torna deficiente em grandes municípios com vasta

intensidade empresarial, corroborando o ponto de vista mencionado por Amaral Filho et al.

(2006), Olivares e Dalcol (2014) e Suzigan, Garcia e Furtado (2002).

Foram identificadas classificações reduzidas em 4 setores: 14 (confecção de artigos

do vestuário e acessórios), 18 (impressão e reprodução de gravações), 26 (fabricação de

equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos) e 30 (fabricação de outros

equipamentos de transporte, exceto veículos automotores). Nos demais setores, a classificação

ficou como NS (Não Significativa). Observa-se também na Tabela 9 que o setor 14, apesar de

não possuir o maior QL, supera em muito os demais setores tanto em número de vínculos como

em número de estabelecimentos, mostrando-se o setor da indústria de transformação mais

importante para o município de Fortaleza em tais aspectos.

A Tabela 10 apresenta a classificação quanto ao grau de importância de todos os

setores (indústria de transformação) e municípios do estado do Ceará (setores e municípios que

não tiveram pelo menos uma classificação como reduzida ou elevada foram excluídos da

tabela). Novamente percebe-se que o município de Fortaleza apresenta uma baixa

representatividade quanto à identificação de aglomerados, possuindo apenas 4 aglomerados

com classificação reduzida, enquanto municípios médios, tais como Caucaia, Juazeiro do Norte

e Maracanaú possuem respectivamente 12, 8 e 14 aglomerados com classificação reduzida ou

elevada. Também se percebe que municípios bastante pequenos possuem aglomerados com

classificação significativa, como é o caso de Frecheirinha com classificação elevada no setor

14 (confecção de artigos do vestuário e acessórios) e Marco com classificação elevada no setor

31 (fabricação de móveis). Nestes municípios, os setores classificados possuem uma intensa

representatividade, formando a base de suas economias.

Dentre os setores do estado do Ceará com maior quantidade de aglomerados

identificados estão: setor 10 (fabricação de produtos alimentícios) com 11 aglomerados; setor

14 (confecção de artigos do vestuário e acessórios) com 7 aglomerados; setor 15 (preparação

de couros e fabricação de artefatos de couro, artigos para viagem e calçados) com 8

aglomerados; setor 22 (fabricação de produtos de borracha e de material plástico) com 7

aglomerados; setor 23 (fabricação de produtos de minerais não-metálicos) com 17 aglomerados;

setor 25 (fabricação de produtos de metal, exceto máquinas e equipamentos) com 8

aglomerados e setor 31 (fabricação de móveis) com 8 aglomerados. Tais setores apresentam-

se, portanto, como principais especialidades do estado do Ceará.

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Tabela 10– Identificação de aglomerados por divisão – municípios do estado do Ceará

Fonte: O autor (2019). Extraído de RAIS, dados de 2016.

SETOR RAIS CNAE 2.0 10 11 13 14 15 16 17 18 20 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 TOT. ELEV.

TOT. RED. Nº Município-CE Imp. Imp. Imp. Imp. Imp. Imp. Imp. Imp. Imp. Imp. Imp. Imp. Imp. Imp. Imp. Imp. Imp. Imp. Imp. Imp.

1 AQUIRAZ RED. ELEV. NS NS NS NS NS NS NS RED. RED. NS NS NS NS NS NS NS NS NS 1 3

2 ARACATI RED. NS NS NS NS RED. NS NS NS NS ELEV. NS NS NS NS NS NS NS NS NS 1 2

3 BARBALHA NS NS NS NS RED. NS NS NS NS NS RED. NS NS NS NS NS NS NS NS NS 0 2

4 BELA CRUZ NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS ELEV. NS 1 0

5 CASCAVEL RED. NS NS NS NS NS NS NS NS NS RED. NS NS NS NS NS NS NS NS NS 0 2

6 CAUCAIA RED. NS NS RED. NS RED. NS NS RED. RED. RED. ELEV. RED. NS NS RED. ELEV. NS RED. RED. 2 10

7 CHOROZINHO NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS ELEV. NS NS NS NS NS NS NS NS NS 1 0

8 CRATO RED. NS NS NS RED. RED. NS NS NS NS RED. NS RED. NS NS NS NS NS NS NS 0 5

9 EUSEBIO ELEV. RED. RED. NS NS NS RED. RED. RED. RED. NS NS RED. NS NS NS NS NS RED. NS 1 8

10 FORTALEZA NS NS NS RED. NS NS NS RED. NS NS NS NS NS RED. NS NS NS RED. NS NS 0 4

11 FRECHEIRINHA NS NS NS ELEV. NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS 1 0

12 HORIZONTE NS NS ELEV. NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS 1 0

13 IGUATU NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS RED. NS RED. NS NS NS NS NS ELEV. RED. 1 3

14 IRAUCUBA NS NS NS NS ELEV. NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS 1 0

15 ITAITINGA NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS ELEV. NS NS NS NS NS NS NS NS NS 1 0

16 ITAPAJE NS NS NS NS ELEV. NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS 1 0

17 ITAPIPOCA RED. NS NS NS ELEV. NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS 1 1

18 JAGUARIBE NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS ELEV. NS 1 0

19 JAGUARUANA NS NS ELEV. NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS 1 0

20 JUAZ. DO NORTE NS RED. NS NS RED. RED. NS RED. RED. RED. NS NS RED. NS NS NS NS NS NS ELEV. 1 7

21 LIM. DO NORTE NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS ELEV. NS NS NS NS NS NS NS NS NS 1 0

22 MARACANAU RED. ELEV. ELEV. RED. NS RED. ELEV. NS ELEV. ELEV. RED. RED. RED. NS RED. ELEV. NS NS RED. NS 6 8

23 MARANGUAPE NS NS NS RED. NS NS NS NS NS NS NS NS RED. NS NS NS NS NS NS NS 0 2

24 MARCO NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS ELEV. NS 1 0

25 MORADA NOVA RED. NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS 0 1

26 NOVA OLINDA NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS ELEV. NS NS NS NS NS NS NS NS NS 1 0

27 PACAJUS NS NS NS RED. NS NS NS NS NS RED. NS NS ELEV. NS NS NS NS NS NS NS 1 2

28 PACATUBA NS NS NS ELEV. NS NS NS NS RED. RED. RED. NS NS NS NS NS NS NS NS NS 1 3

29 PARAIPABA ELEV. NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS 1 0

30 QUIXERE NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS ELEV. NS NS NS NS NS NS NS NS NS 1 0

31 RUSSAS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS ELEV. NS NS NS NS NS NS ELEV. NS NS 2 0

32 SANTA QUIT. NS NS NS NS ELEV. NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS 1 0

33 SAO GONCALO RED. NS NS NS NS NS NS NS NS NS RED. NS NS NS NS NS NS NS NS NS 0 2

34 SEN. POMPEU NS NS NS NS ELEV. NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS 1 0

35 SOBRAL NS NS NS NS NS RED. NS RED. NS NS RED. NS NS NS NS NS NS NS NS NS 0 3

36 VARZEA ALEGRE NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS NS ELEV. NS 1 0

TOTAL ELEVADAS 2 2 3 2 5 0 1 0 1 1 7 1 1 0 0 1 1 1 5 1 TOTAL REDUZIDAS 9 2 1 5 3 6 1 4 4 6 10 1 7 1 1 1 0 1 3 2

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O passo posterior da pesquisa se caracterizou pela desagregação da divisão 14 para

o nível de classes, com o objetivo de identificar os segmentos com maior representatividade

dentro desta divisão. A Tabela 11 apresenta as 6 classes que compõem a divisão, observa-se

que com a desagregação se diminuiu ainda mais o QL, de modo que nenhuma classe teve o QL

igual ou superior a 1, porém, percebe-se que a classe 14.12-6 (confecção de peças do vestuário,

exceto roupas íntimas) foi a que obteve maior destaque. Isto se deve, principalmente, pelo fato

de agregar uma grande variedade de produtos, tais como moda masculina, moda feminina, moda

praia, dentre outros. A segunda classe com uma representação também significativa foi a 14.11-

8 (confecção de roupas íntimas), esta classe por ser composta por um único tipo de produto

também se mostrou bastante importante com 336 estabelecimentos e 5.917 vínculos.

Tabela 11 – Desagregação em classes do setor 14 (confecção de artigos do vestuário e

acessórios), município de Fortaleza.

CLASSE VÍNCULOS QL (CE) % EMPR. Nº

ESTAB. IMP.

14.11-8 5.917 0,3 13,7 336 NS

14.12-6 20.006 0,9 46,2 1628 NS

14.13-4 292 0,0 0,7 59 NS

14.14-2 429 0,0 1,0 45 NS

14.21-5 0 0,0 0,0 0 NS

14.22-3 236 0,0 0,5 13 NS

TOTAL 26.880 62 2081 Fonte: O autor (2019). Extraído de RAIS, dados de 2016.

O último passo desta pesquisa foi a identificação de aglomerados empresariais

dentro do município de Fortaleza, com o objetivo de localizar os bairros com maiores vocações

para o setor de confecção do vestuário. O município de Fortaleza possui uma área de 313,8 km²,

com uma população estimada de 2.609.716 habitantes, dividido em 119 bairros, estes agrupados

em 6 regionais mais o Centro da cidade, conforme apresentado na Figura 20 (IPECE, 2017).

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Figura 20 - Mapa das regionais de Fortaleza.

Fonte: IPECE (2017).

Conforme a Figura 20, percebe-se que é um município bastante extenso com uma

grande quantidade de bairros, isso faz com que haja um baixo interesse por parte dos

pesquisadores em estudar os aglomerados empresariais, principalmente pela dificuldade em

organizar os arranjos, devido à pulverização das empresas em todo o território municipal.

Assim, tornam-se necessários estudos para poder levantar as regiões dentro do município com

maiores propensões à formação de arranjos produtivos.

Em seguida, buscou-se identificar os bairros com maior densidade empresarial do

setor de confecção do vestuário e então foi realizado o cálculo do QL. Foram utilizados os dados

referentes a 2016, do Guia Industrial do Ceará, e um cuidado que foi tomado na análise foi

retirar 2 empresas de grande porte, uma com 8000 funcionários no bairro Antônio Bezerra e

outra com 1200 funcionários no bairro Itaoca. Portanto, a análise envolveu apenas empresas de

micro, pequeno e médio porte (portes baseados na definição do Serviço Brasileiro de Apoio às

Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE, de acordo com o número de funcionários).

A Tabela 12 apresenta os 18 bairros que foram classificados como de importâncias

elevada e reduzida. Os demais bairros foram não significativos – NS, portanto não estão

identificados nesta tabela.

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Tabela 12 – Identificação de aglomerados setor confecção - bairros de Fortaleza - CE

Nº BAIRRO VÍNCULOS QL

(FOR) % EMPR. Nº

ESTAB. IMP.

1 JOQUEI CLUBE 289 5,8 1,64 16 ELEVADA

2 QUINTINO CUNHA 398 4,9 2,25 22 ELEVADA

3 VILA VELHA 312 4,4 1,77 12 ELEVADA

4 ITAPERI 366 4,3 2,07 10 ELEVADA

5 JARDIM GUANABARA 245 4,3 1,39 14 ELEVADA

6 DAMAS 665 3,9 3,77 13 ELEVADA

7 PARANGABA 1476 3,8 8,36 39 ELEVADA

8 VILA UNIÃO 1031 3,4 5,84 40 ELEVADA

9 BOM SUCESSO 211 3,4 1,20 22 ELEVADA

10 MARAPONGA 484 3,3 2,74 22 ELEVADA

11 BELA VISTA 184 3,3 1,04 8 ELEVADA

12 MONTESE 1083 3,2 6,14 53 ELEVADA

13 SÃO JOÃO DO TAUAPE 620 2,9 3,51 8 REDUZIDA

14 SERRINHA 377 2,8 2,14 23 REDUZIDA

15 PARQUELÂNDIA 208 2,8 1,18 12 REDUZIDA

16 HENRIQUE JORGE 464 2,5 2,63 35 REDUZIDA

17 PRAIA DE IRACEMA 234 2,4 1,33 13 REDUZIDA

18 PAPICU 445 2,2 2,52 6 REDUZIDA

Fonte: O autor (2019). Dados de 2016, FIEC (2017).

Observa-se na Tabela 12 que doze bairros foram identificados com classificação

elevada e seis bairros com classificação reduzida. Com esta análise, é possível reduzir ainda

mais uma amostra com as regiões de Fortaleza mais vocacionadas à atividade de confecção do

vestuário. É interessante observar que alguns bairros que apareciam na Figura 4 com alto

volume de empresas de confecção acabaram tendo classificação não significativa. Pode-se citar,

por exemplo, os bairros do Centro e Barra do Ceará. O principal motivo destes bairros não

terem alta classificação é porque apesar de possuírem grande quantidade de empresas de

confecção e consequentemente muitos vínculos neste setor, acabam tendo um QL baixo porque

também existem outras atividades importantes na mesma região, não tendo o setor de confecção

como um destaque.

A localização dos bairros que foram classificados como de importância elevada e

reduzida está representada na Figura 21.

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Figura 21 – Classificação dos bairros por importância de aglomeração

Fontes: O autor (2019). Dados de 2016, FIEC (2017); mapa IPECE (2017).

Observa-se na Figura 21, conforme destacado com contorno em negrito, que há uma

forte concentração de empresas com classificação elevada e reduzida na Regional IV (lado

oeste) e na Regional III (lado sul). Esta região se destaca claramente dentre os demais bairros

do município, mostrando-se um aglomerado de empresas com especialização na indústria de

confecção do vestuário. Os bairros que compõem a região destacada e algumas de suas

características estão apresentadas na Tabela 13.

REDUZIDA

ELEVADA

Grau de Importância

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Tabela 13 – Aglomerado de empresas no setor de confecção de Fortaleza – CE

Nº BAIRRO VÍNCULOS Nº ESTAB. IMP.

1 JOQUEI CLUBE 289 16 ELEVADA

2 DAMAS 665 13 ELEVADA

3 PARANGABA 1476 39 ELEVADA

4 VILA UNIÃO 1031 40 ELEVADA

5 BOM SUCESSO 211 22 ELEVADA

6 MARAPONGA 484 22 ELEVADA

7 BELA VISTA 184 8 ELEVADA

8 MONTESE 1083 53 ELEVADA

9 ITAPERI 366 10 ELEVADA

10 SERRINHA 377 23 REDUZIDA

11 HENRIQUE JORGE 464 35 REDUZIDA

12 ITAOCA 106 1 NS

13 DEMÓCRITO ROCHA 15 3 NS

14 COUTO FERNANDES 0 0 NS

15 PAN AMERICANO 60 4 NS

16 BOM FUTURO 144 6 NS

TOTAL 6.955 295 Fonte: O autor (2019). Dados de 2016, FIEC (2017)

Verifica-se na Tabela 13 que foram incluídos cinco bairros que possuem a

classificação não significativa, tais bairros foram inseridos devido ao somatório dos seguintes

motivos: i) a retirada de alguns bairros causaria falhas na demarcação geográfica do

aglomerado, como por exemplo os bairros Demócrito Rocha, Pan Americano e Bom Futuro; ii)

possivelmente alguns destes bairros não tenham tido uma classificação significativa porque

possuem área reduzida, e consequentemente pequena quantidade de empresas, como por

exemplo os bairros Itaoca e Couto Fernandes; iii) há o caso do bairro Itaoca que possui uma

empresa de grande porte, a qual não entrou no levantamento desta pesquisa.

Também se observa que a região selecionada possui um elevado número de

vínculos (6.955) e de estabelecimentos (295), representando respectivamente 39% e 34% do

total do município. Salienta-se que os 16 bairros desta região representam apenas 13% dos 118

bairros existentes.

Como forma de poder visualizar melhor os aglomerados de empresas identificados

no município de Fortaleza, apresenta-se, lado a lado (Figuras 22 e 23), o posicionamento

geográfico das empresas de confecção do vestuário identificado por Santos (2014) e a

identificação proposta nesta tese, utilizando a abordagem metodológica de Olivares e Dalcol

(2014).

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Figura 22 - Mapa de localização da indústria

de confecção em Fortaleza.

Figura 23 - Aglomerados de empresas de

confecção em Fortaleza.

Fonte: Santos (2014).

Fontes: Dados de 2016, FIEC (2017); mapa IPECE (2017).

Na observação destas Figuras (22 e 23), algumas considerações podem ser

expostas: a primeira é que em ambas as identificações percebe-se uma maior concentração de

empresas no lado oeste do município, lado este que é composto por bairros,

predominantemente, com poder aquisitivo mais reduzido; uma segunda consideração é que a

identificação de aglomerados da Figura 23, proposta nesta tese, consegue ser mais direcionada,

apontando apenas dois fortes aglomerados com pontos de importância elevada, sendo um entre

as regionais III e IV, e outro, menos expressivo, na regional I, enquanto que na Figura 22, do

trabalho de Santos (2014), observa-se que o mapa de calor identifica seis concentrações

avermelhadas, regionais I, II, III, IV, V e Centro, indicando grande concentração de empresas.

Conclui-se, na observação destes mapas, que o formato de identificação desta tese se mostra

mais efetivo, pelo fato de verificar as concentrações mais vocacionadas, frente outros setores

da economia.

Ambos os estudos foram realizados com a mesma base de dados, Guia Industrial

do Ceará, sendo que no trabalho de Santos (2014) o ano base foi 2013, onde se identificou 924

empresas do setor de confecção, em todos os portes (micro, pequena, média e grande), já na

identificação desta tese o ano base foi 2016, com a identificação de 864 empresas nos portes

micro, pequena e média (apenas duas grandes foram excluídas). Logo, as proximidades das

informações tanto em volume quanto em período permitem comparações confiáveis.

REDUZIDA

ELEVADA

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4.2 Percepção dos especialistas em relação ao cluster

Esta ação consistiu em obter a opinião de pessoas conhecedoras do tema,

pertencentes a instituições relacionadas ao setor de confecção do vestuário e/ou

desenvolvimento regional. Vale salientar que as entrevistas não foram focadas na região

identificada na etapa anterior desta pesquisa, mas sim no âmbito geral do município de

Fortaleza.

4.2.1 Coleta de dados

Os dados foram coletados com os especialistas no local de trabalho destes, onde o

pesquisador pôde gravar as entrevistas, sendo que todos foram muito dispostos em cooperar

com a pesquisa. Entretanto, em todos os casos, notou-se a falta de tempo deles, devido a um

alto volume de compromissos, principalmente por ocuparem cargos elevados nas instituições.

Outro ponto a ser destacado é que o pesquisador, no decorrer da entrevista, foi

conduzindo com as questões de modo que nem todas elas foram respondidas por todos os

entrevistados, isso porque algumas vezes elas já eram respondidas em questões anteriores, tendo

em vista a liberdade do entrevistado em discorrer sobre o assunto.

Importante destacar que as informações cedidas pelos entrevistados representam a

opinião pessoal e não podem ser consideradas uma definição formal da instituição na qual

trabalham.

4.2.2 Análise de conteúdo

4.2.2.1 Compilação do conjunto ordenado de dados:

As entrevistas geraram um volume de gravações totalizando 408 minutos, estes

foram transcritos na íntegra em arquivos de texto, somente com a narrativa dos entrevistados,

ou seja, não foram inseridas as perguntas do protocolo, totalizando 44 páginas. O Quadro 10

apresenta a relação dos tempos e números de páginas geradas para cada instituição.

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Quadro 10 – Tempos e números de páginas transcritas

Instituição Tempo de

entrevista (min)

Quant. de páginas

transcritas

Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico - SDE 60 8

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAE 62 6

Secretaria das Cidades - SCIDADES 55 6

Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI 76 7

Sindicato das Indústrias de Confecção de Roupas e Chapéus de

Senhoras do Estado do Ceará – SINDCONFECÇÕES 79 8

Universidade Federal do Ceará –UFC (Curso de Design e Moda) 76 9

TOTAL 408 44

Fonte: O autor (2019)

Após a transcrição dos dados, houve uma organização na sequência dos assuntos a

fim de facilitar no processo de análise e houve, também, uma padronização de alguns termos

utilizados. Em seguida os arquivos gerados foram importados para o software Atlas Ti como

documentos primários.

4.2.2.2 Decomposição dos dados

Para a decomposição dos dados foi criado um total de 28 códigos, os quais serviram

para a identificação dos fragmentos de texto. A priori, 27 destes códigos foram extraídos das

perguntas do roteiro da entrevista, que, segundo Gibbs (2009), é uma metodologia denominada

codificação baseada em conceitos. A relação destes códigos e as perguntas correspondentes do

protocolo estão apresentadas no Quadro 11.

Houve, também, a criação de um código que não fazia parte dos conceitos pré-

definidos no protocolo, mas que surgiu mediante a análise das entrevistas. Gibbs (2009)

denomina este tipo de codificação como codificação baseada em dados ou codificação aberta.

Este código também se encontra no Quadro 11 com a classificação “código identificado”.

Dos vinte e oito códigos foram criadas três famílias, sendo que estas foram geradas

buscando dividir os códigos de forma parecida com as divisões no protocolo de pesquisa.

Entretanto, houve uma situação onde uma questão (II – 11) ficou em uma família diferente. O

Quadro 11 apresenta a decomposição com as famílias na primeira coluna, os códigos na

segunda coluna e as questões correspondentes do protocolo de entrevista na terceira coluna.

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Quadro 11 – Decomposição dos códigos por família e questões do protocolo de pesquisa Família Código Questão do protocolo

Perspectivas de cluster

Aglomerado mais apropriado II – 8

Existência de cluster II – 1; 2; 9

Instituições para governança II – 5; 6; 7

Oportunidades com cluster II – 10

Viabilidade de formalização de cluster II – 3; 4

Desempenho cluster

Obstáculos do setor II – 11; III – 2; 5

Características do setor Código identificado

Expectativas setor III –1

Principais competidores III – 3

Potencialidades do setor III – 4

Fatores cluster

Competição IV – 4

Cooperação IV – 1

Cultura IV – 10

Difusão do conhecimento IV – 5

Disponibilidade de capital IV – 17

Energia empreendedora IV – 12

Especialização IV – 11

Estratégia IV – 13

Fornecedores IV – 2

Gestão organizacional IV – 18

Governança/Coordenação IV – 3

Infraestrutura IV – 9

Inovação IV – 7

Políticas públicas IV – 16

Proximidade geográfica IV –8

Reaproveitamento de resíduos industriais IV – 15

Recursos humanos IV – 6

Uniformidade tecnológica IV – 14

Fonte: O autor (2019)

Durante a leitura dos documentos foram marcados os fragmentos de textos que

correspondiam com cada código gerado, vale salientar que, em muitos casos, foram encontrados

fragmentos diferentes com as questões do protocolo de pesquisa em questão, isso se deu porque

os entrevistados tinham liberdade para explanar suas experiências e conhecimentos de forma

aberta. Por exemplo, quando se estava falando sobre Recursos humanos relacionava o assunto

com Políticas públicas ou Inovação.

Após a leitura dos seis documentos primários, se chegou a um total de 396

fragmentos de textos, de acordo com os códigos apresentados. Duas observações são

importantes nesta classificação: a primeira é que em alguns casos, um mesmo fragmento pode

se referir a mais de um código - por exemplo, a falta de mão de obra no setor corresponde ao

código “Recursos humanos” e ao mesmo tempo é um “Obstáculo do setor”; a segunda

observação é que um mesmo entrevistado pode ter apresentado fragmentos de texto em mais de

um momento com contextos semelhantes e consequentemente registrando-se o mesmo código

- por exemplo, pode ter relatado mais de uma vez sobre o excesso de informalidade no setor.

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O Quadro 12 apresenta a quantidade de fragmentos de texto por instituição e por

código, eles estão em ordem alfabética.

Quadro 12 - Fragmentos de texto por instituição e por código

CÓDIGO SDE SEBRAE SEC_CID SENAI SINDC UFC TOTAL

Aglomerado mais apropriado 0 2 2 2 1 2 9

Obstáculos do setor 7 15 7 7 21 25 82

Características do setor 1 0 0 2 2 9 14

Competição 1 2 1 1 2 2 9

Cooperação 0 3 3 0 2 4 12

Cultura 1 2 0 1 1 3 8

Difusão do conhecimento 1 3 0 2 1 1 8

Disponibilidade de capital 1 5 0 1 0 1 8

Energia empreendedora 2 2 2 1 1 1 9

Especialização 1 4 0 1 2 1 9

Estratégia 1 1 0 1 2 0 5

Existência de cluster 1 4 2 2 1 3 13

Expectativas setor 1 0 1 3 1 4 10

Fornecedores 3 1 0 1 2 2 9

Gestão organizacional 1 1 0 2 3 0 7

Governança/Coordenação 1 4 2 2 1 2 12

Infraestrutura 1 4 0 1 1 1 8

Inovação 1 2 3 1 3 4 14

Instituições para governança 1 3 5 5 5 1 20

Oportunidades com cluster 0 1 0 2 3 0 6

Políticas públicas 5 3 2 0 3 7 20

Principais competidores 0 0 0 0 2 0 2

Proximidade geográfica 1 4 2 1 1 1 10

Reap. de resíduos industriais 0 1 0 1 2 1 5

Recursos humanos 4 4 1 4 5 11 29

Uniformidade tecnológica 1 2 1 1 1 0 6

Potencialidades do setor 13 13 0 10 2 7 45

Viabilidade de formalização de

cluster 1 0 1 3 2 0 7

TOTAL 51 86 35 58 73 93 396

Fonte: O autor (2019)

Percebe-se no Quadro 12 que houve uma considerável variação no número de

fragmentos por entrevistado, essa diferença se deu, principalmente, por três motivos: primeiro

porque há certa relação com o tempo da entrevista, algumas pessoas estavam com mais tempo

e mais dispostas a apresentar seus argumentos; segundo, porque alguns especialistas tinham um

foco bastante centrado ao tema, enquanto outros acabaram fugindo, com relatos não atrelados

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ao conteúdo da pesquisa e, por último, observou-se diferenças no grau de conhecimento sobre

o assunto.

4.2.2.3 Recomposição e interpretação dos dados

Estas duas etapas da análise foram agrupadas com o objetivo de apresentar a

recomposição por meio de algum tipo de representação (quadros, tabelas ou figuras) e logo em

seguida realizar sua interpretação. O método utilizado na interpretação foi por meio da

comparação dos comentários dos entrevistados em cada família de códigos. Desta forma, não

foi realizado um comentário individualizado por unidade de estudo, ou seja, por instituição.

a) Família: Perspectivas de cluster

Os cinco códigos que compõem esta família têm o objetivo de descobrir se já há a

formação de algum cluster formalizado (uma governança estruturada e voltada para ações de

interação dos agentes da região) no setor e, caso não exista, identificar se há viabilidade na

opinião dos especialistas, quais seriam as instituições mais adequadas para a coordenação e as

oportunidades que poderiam ser geradas. O Quadro 13 apresenta de forma sintética os principais

resultados encontrados e posteriormente realiza-se um maior detalhamento deste.

Quadro 13 - Principais resultados encontrados família perspectivas de clusters. (continua)

Família Código Principais descobertas Especialista

Perspectivas de cluster

Existência de cluster

formalizado

Não há nenhuma associação organizada para este fim no setor de confecção.

SEBRAE, SDE, UFC, SCIDADES,

SINDCONFECÇÕES e SENAI

Uma associação existiu na região do Montese, mas acabou.

SEBRAE

APL de confecção de Frecheirinha, referência no Ceará.

SENAI, UFC e SEBRAE

Já houve trabalhos pontuais realizados com aglomerados em Fortaleza.

SEBRAE e SCIDADES

Aglomerado mais apropriado

Os aglomerados apontados como mais viáveis para organização de cluster foram os

localizados na região dos bairros do Montese, Barra do Ceará e José Walter.

SEBRAE, SENAI e SCIDADES

Há uma maior viabilidade em organizar os aglomerados por segmento de confecção.

SEBRAE, SINDCONFECÇÕES e UFC

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Quadro 13 - Principais resultados encontrados família perspectivas de clusters. (conclusão)

Família Código Principais descobertas Especialista

Perspectivas de cluster

Instituições para

governança

O sindicato foi apontado como instituição mais adequada para a coordenação.

SEBRAE, SENAI e SINDCONFECÇÕES

SDE também foi apontada para a coordenação.

SCIDADES

SEBRAE já atuou bastante com APLs, porém, hoje o foco é mais em redes com trabalhos

pontuais. SEBRAE

Oportunidades com cluster

Central de compras, organização de feiras, contratação de consultorias, adequação

tecnológica, central de vendas e acesso à negociações com o governo.

SINDCONFECÇÕES, SENAI e SEBRAE

Viabilidade de formalização de

cluster

Consideram muito difícil a formação de um cluster organizado no setor.

SINDCONFECÇÕES, SENAI e UFC

Consideram viável. SDE e SCIDADES

Fonte: O autor (2019)

a1) Existência de cluster

A primeira discussão desta família foi para saber dos especialistas se possuem

conhecimento da existência de um cluster formalizado no setor de confecção em Fortaleza.

A resposta foi unânime entre os entrevistados de que não há atualmente nenhuma

formalização de cluster no setor. O representante do SEBRAE relatou que já houve uma

associação na região do bairro Montese, mas que se desfez. Algo que também foi destacado por

três dos especialistas, concerne à existência de um cluster formalizado do setor de confecção

somente no município de Frecheirinha - CE, 285 km de Fortaleza. Outros comentários apontam

que o que há são algumas concentrações de empresas espalhadas pelo município, mas nada

estruturado. O SEBRAE chegou até a fazer alguns trabalhos pontuais com um aglomerado de

empresas de confecção no bairro da Barra do Ceará, mas que também não possui nenhuma

forma estruturada de associação. Da mesma forma, a SCIDADES também relatou um trabalho

pontual no bairro José Walter.

a2) Aglomerado mais apropriado

Fortaleza possui uma grande concentração de empresas de confecção do vestuário,

e para o especialista da Secretaria das Cidades isto é algo bem antigo na cultura local, vindo

desde o tempo em que o Ceará era um grande produtor de algodão, com seu auge na década de

1970. Desde então, Fortaleza, já com uma grande população, possuía uma cultura de costura

entre muitas donas de casa que tinham suas máquinas para pequenos reparos e fabricações

próprias, e que devido às necessidades começaram a empreender para obter o sustento. Esta

forma de sobrevivência acabou atraindo ainda mais pessoas para a capital, tornando-se um

grande polo confeccionista.

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O especialista do SENAI complementa esclarecendo sobre a formação dos

aglomerados ao mencionar que Fortaleza se destaca também com um grande potencial

comercial de confecções, então muitas empresas começaram nas vendas e posteriormente

iniciaram a produção de seus próprios produtos. Algumas empresas se encontram em locais

pequenos e inapropriados, sem condições de se mudar por falta de recursos ou por falta de mão

de obra em regiões mais afastadas, como por exemplo, o município de Maracanaú e Eusébio.

Diante da vasta dimensão territorial de Fortaleza e da conhecida tradição

confeccionista, buscou-se saber como seria mais apropriado estruturar um cluster de confecção,

olhando tanto para região como para segmento de produção.

Representantes do SEBRAE e da UFC citaram a região do bairro Barra do Ceará,

o do SENAI mencionou a região do bairro Montese e o da SCIDADES mencionou a região do

bairro José Walter. A indicação das regiões dos bairros Barra do Ceará e Montese como mais

aptos à organização de um cluster reforça a análise na etapa anterior desta pesquisa, que apontou

essas duas regiões como mais vocacionadas ao setor de confecção. Já a região do bairro José

Walter, não foi identificada como vocacionada para a confecção, até porque possui apenas 11

empresas em uma área bastante extensa, enquanto bairros como Barra do Ceará e Montese

possuem 53 e 51 empresas, respectivamente.

Na análise realizada por Santos (2014), estas duas regiões mais significativas

apresentam algumas características próprias. A região da Barra do Ceará possui três bairros

apontados como de importância elevada na identificação de aglomerados, entretanto, é uma

região que, diferentemente de outras aglomerações dentro do município, não possui um grande

centro comercial próprio, logo, possui uma predominância de empresas que distribuem seus

produtos para diversos centros comerciais do município e que o autor referido considera como

circuito inferior da economia. Já a região do Bairro Montese possui nove bairros apontados

como de importância elevada na identificação de aglomerados, e possui em seu entorno dois

grandes centros comerciais, o Ceará Moda Fashion e o Shopping Fortaleza Sul, ambos

considerados pelo mesmo autor como pertencentes ao circuito superior da economia.

Representantes do SEBRAE, Sindicato e UFC relataram que uma forma mais

apropriada de organizar um cluster seria por segmentos, como por exemplo, moda íntima.

a3) Instituições para governança

A verificação sobre quem seria mais propenso a conduzir a coordenação do cluster

apontou o Sindicato como instituição mais adequada; isto pôde ser notado na percepção do

especialista do SENAI, por exemplo, quando comenta sobre a coordenação do setor na região:

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Hoje isso é feito pelos sindicatos, por meio da Federação, lá se tem o SINDROUPAS,

o SINDCONFECÇÕES e o SINDTÊXTIL, onde normalmente quando vamos

apresentar uma nova solução, sempre procuramos os sindicatos como porta de

entrada, e aí o sindicato também consolida algumas demandas e traz pra gente

(Coordenador de Tecnologia do SENAI).

A visão do representante do SEBRAE é bem parecida, ao considerar que:

[…] eu sou muito da linha de que quem tem que assumir a liderança é a iniciativa

privada, contanto que ela tenha uma conexão com as instituições que possam apoiá-

las. No caso da confecção deveria ser governada pelo sindicato ou por alguma

associação do setor […] sou favorável de quem tem que ser o ator principal são os

empresários, porque são eles que sentem na pele o que passa no dia a dia (Especialista

em Pequenos Negócios do SEBRAE).

O próprio sindicato pesquisado apontou como sendo uma instituição apropriada

para conduzir uma coordenação. Estes indícios são verificados quando relatado que: “[…] para

implantar algo desse tipo (APL) pode contar conosco […] o sindicato é a grande força legal

para articular várias coisas […]” (Executiva SINDCONFECÇÕES).

Com relação às demais instituições, foi observado que o próprio SEBRAE, que já

atuou bastante com clusters, hoje não tem mais um foco neste tipo de trabalho. Segundo o

especialista, hoje eles trabalham mais com o foco em redes de negócios, sendo um trabalho

mais pontual e com prazo limitado.

O especialista da SCIDADES relata sobre a importância do Estado no processo de

organização do clusters ao declarar que: “[...] eles não conseguem se entender ou se auto

identificar como um arranjo produtivo, então a atuação do Estado induzindo isso e tentando

instituir uma governança, eu acho que daria um salto qualitativo […]”. Tal especialista

complementa que uma instituição apropriada para conduzir esta organização é a SDE.

a4) Oportunidades com cluster

Este quesito verificou quais principais oportunidades poderiam existir com um

cluster mais bem estruturado no setor, então foram apontadas as seguintes: central de compras,

organização de feiras, contratação de consultorias, adequação tecnológica, central de vendas e

acesso às negociações com o governo. Atualmente, nenhumas destas ações são realizadas de

forma conjunta, portanto, são apenas conjecturas, inclusive há uma opinião rival por parte do

especialista do SENAI de que a central de compras é algo impraticável devido à existência do

compartilhamento de informações sobre tendências de moda.

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a5) Viabilidade de formalização do cluster

Sobre a viabilidade de um cluster formalizado, houve discordância entre os

entrevistados. Especialistas do SINDCONFECÇÕES, SENAI e UFC disseram que seria

bastante difícil a concretização. Nas palavras da executiva do SINDCONFECÇÕES:

[…] quando parte para a questão de dedicação de tempo por parte dos empresários,

para poder assumir compromissos, a gente sabe que não é todo mundo que se doa para

o coletivo, […] a grande maioria dos empresários não tem essa dedicação, cada um

só quer olhar para o seu negócio. Então, eu não vejo essa ambiência para essa

cooperação por meio de associações da confecção (Executiva SINDCONFECÇÕES).

Os especialistas do SENAI e da UFC argumentam que a viabilidade se daria mais

em cidades do interior do Estado, na capital acreditam que seja mais difícil. Os entrevistados

da SCIDADES e SDE acreditam na viabilidade.

b) Família: Desempenho cluster

Esta família também apresenta cinco códigos, e o objetivo foi identificar a situação

do setor, com seus obstáculos, características, expectativas, principais competidores e

potencialidades. O Quadro 14 apresenta os principais resultados.

Quadro 14 - Principais resultados encontrados família desempenho cluster Família Código Principais descobertas Especialista

Desempenho Cluster

Características do setor

Divisão da indústria em segmentos com predominância à moda feminina, mais

especificadamente à “modinha”. UFC

Intenso processo de terceirização por meio de facções.

UFC, SENAI e SINDCONFECÇÕES

Indicação como cidade criativa do design. SDE

Expectativas setor

Houve uma redução no número de empresas devido à crise econômica.

UFC, SINDCONFECÇÕES e

SCIDADES

As empresas que estão sobrevivendo à crise econômica criam resistência e se tornam

mais fortes.

UFC e SINDCONFECÇÕES

O setor de confecções foi um dos que menos sofreu com a entrada de produtos

asiáticos no mercado, devido à necessidade de agilidade entre o processo de criação e

produção.

SENAI e SDE

Principais competidores

Pernambuco, principal concorrente. UFC e

SINDCONFECÇÕES

Potencialidades do setor

Por ser extensa, a relação de potencialidades está apresentada no

Quadro 15, com maior detalhamento deste código.

Obstáculos do setor

Por ser extensa, a relação de obstáculos, está apresentado no Quadro 16, com maior

detalhamento deste código.

Fonte: O autor (2019)

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b1) Características do setor

Este código aberto foi o único que surgiu na análise de conteúdo (conforme

apresentado na etapa de decomposição de dados) e o motivo de sua criação foi apresentar

algumas características importantes do setor que não se encaixaram nos demais códigos.

Destacam-se como características do setor, a sua segmentação em diversos tipos de

confecção e, segundo a especialista em design e moda da UFC, a moda feminina representa a

maior parcela da confecção. Segue o comentário sobre este assunto: “Quem sustenta o vestuário

no Brasil não é a masculina, é a feminina, e o dispositivo da roupa feminina muda a cada

coleção, e ele é completamente dependente da mão de obra” (Especialista UFC).

Complementou, ainda, que dentro da moda feminina, Fortaleza destaca-se com um

segmento denominado “modinha”, que é um produto com alta rotação e passageiro, criado por

conceitos extraídos principalmente da mídia e que não necessita de investimentos elevados na

etapa de desenvolvimento do produto. Outro ponto destacado pela especialista foi sobre o

elevado número de terceirização, as denominadas facções; esta opção de terceirização busca

reduzir custos com a contratação destas empresas, que, em muitos casos, trabalha na

informalidade.

Outra característica importante, segundo a visão das especialistas do

SINDCONFECÇÕES e da UFC, é que se constitui um setor que trabalha em sua predominância

com produção “empurrada”, gerando um alto estoque de produtos e que chegou a provocar o

fechamento de várias empresas devido à falta de controle, inclusive o excesso de estoque

“encalhado” em algumas empresas tem proporcionado uma oportunidade de negócios para os

compradores “predadores” que buscam peças obsoletas, chegando a ser adquiridas abaixo do

preço de custo.

Outra característica recente vista no setor é uma diminuição na demanda por

produtos de alto valor agregado e um aumento na demanda por produtos populares, de baixo

valor agregado. Segundo a especialista da UFC, isto se deve à crise econômica que o país vem

enfrentando nos últimos anos. Esta migração no conceito do consumidor fez com que algumas

empresas também migrassem para a fabricação de produtos populares e até saíram da

formalidade para a informalidade, buscando uma vantagem competitiva.

Um acontecimento importante relatado na entrevista com o especialista da SDE é

que Fortaleza estava se preparando para construir o seu dossiê de candidatura à Cidade Criativa

do Design, que envolve artesanato e moda; isto promove um conjunto de políticas públicas para

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um desenvolvimento que se fundamenta na diversidade cultural, inovação, inclusão produtiva

e sustentabilidade.

A Rede de Cidades Criativas da UNESCO (UNESCO Creative Cities Network –

UCCN) surgiu em 2004 para promover a cooperação entre as cidades que identificam a

criatividade como um fator estratégico para o desenvolvimento sustentável. Ela chegou ao final

de 2019 com 246 cidades selecionadas, de diversas partes do mundo, e trabalha para alcançar

um objetivo comum: colocar a criatividade e as indústrias culturais no centro de seus planos

locais de desenvolvimento, além de cooperar ativamente com os planos de âmbito internacional

(UNESCO, 2019).

Em outubro de 2019, um ano após a entrevista com o especialista da SDE, a cidade

de Fortaleza (categoria design), juntamente com a cidade de Belo Horizonte (categoria

gastronomia), foram eleitas para compor a rede de cidades criativas da UNESCO. Ao todo, o

Brasil possui 10 cidades eleitas (UNESCO, 2019).

b2) Expectativas do setor

Durante a entrevista, alguns especialistas comentaram o que acham sobre os rumos

que o setor de confecção em Fortaleza está tomando. Para os especialistas da UFC, do

SINDCONFECÇÕES e da SCIDADES, nos últimos anos, devido à crise, muitas empresas

fecharam, reduzindo o número de empresas no município, porém, as que sobreviveram se

tornaram mais resistentes. Especialistas da SDE e do SENAI discordam sobre esta redução, um

comentário que exemplifica esta opinião é:

Com relação ao número de empresas, não acho que houve reduções, houve uma troca

de empresas, algumas fecharam e outras empresas abriram. Tem também um cenário

de crescimento das feiras que foi muito grande; se tinha uma feira e hoje se tem muitos

polos, pessoas de muitos estados vêm comprar aqui (Especialista SENAI).

Uma justificativa interessante deste especialista é que o setor de confecção foi um

dos que sofreu menos com a entrada de produtos asiáticos, como ocorreu no setor têxtil, isso

porque a moda exige uma maior velocidade na produção e as demandas vão se diferenciando à

medida do consumo, exigindo que as empresas tenham um acompanhamento quase que

instantâneo das saídas dos produtos. Portanto, esta agilidade reduz um relacionamento com

fabricantes distantes do mercado local.

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b3) Principais competidores

O estado de Pernambuco foi apontado como o principal concorrente da confecção

produzida em Fortaleza. A especialista da UFC chegou a comentar que Pernambuco possui uma

vantagem competitiva devido às Políticas Públicas mais favoráveis ao setor, entretanto, a

confecção de Fortaleza possui uma vantagem mediante uma melhor qualidade dos produtos.

b4) Potencialidades do setor

As potencialidades identificadas nos dados coletados somaram 44 fragmentos de

texto com este código, os quais surgiram em vários momentos durante as entrevistas,

primeiramente quando houve uma pergunta do protocolo de entrevista sobre o assunto (questão

III – 4), além de outros momentos, principalmente durante a abordagem dos fatores

influenciadores do cluster. O Quadro 15 apresenta um rankeamento, pelo número de fragmentos

de texto, das principais potencialidades identificadas, de acordo com cada um dos dezoito

fatores que influenciam em um cluster; na terceira coluna estão ordinalmente as principais

potencialidades de cada fator.

Quadro 15 – Rankeamento pelo número de fragmentos das principais potencialidades. (continua)

Fator Qtd.

Fragmentos Potencialidades

Recursos Humanos 9

Criatividade no design e moda, devido existência de muitos cursos.

Mão de obra suficiente. Mão de obra treinada e capacitada.

Cultura 5 Boa aceitação do setor pela comunidade.

Cultura de produção com qualidade. Cultura de busca por melhorias de gestão.

Disponibilidade de Capital 4 Disponibilidade de capital a juros justos para negócios

estruturados.

Políticas públicas 4

Existência de alguns projetos pontuais de apoio ao setor pela prefeitura.

Investimentos em parcerias públicas privadas para locais de comércio (feiras populares).

Fornecedores 4 Fornecedores em grande volume na região.

Setor têxtil próximo.

Infraestrutura 3 Boa mobilidade urbana.

Bons locais para comercialização.

Uniformidade Tecnológica 3 Baixa diferenciação tecnológica.

Energia empreendedora 2 Empresários criativos.

Cultura empreendedora de confecção.

Especialização 2 Setor bem segmentado por região. Grande disponibilidade de facções.

Governança/Coordenação 2 Presença de consultorias especializadas.

Coordenação bem feita pelo sindicato com os associados.

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Quadro 15 - Rankeamento pelo número de fragmentos das principais potencialidades. (conclusão)

Fator Qtd.

Fragmentos Potencialidades

Proximidade geográfica 2 Produção e mercado próximos.

Difusão do conhecimento 1 Difusão de conhecimento referente a produtos.

Gestão organizacional 1 Boa gestão das empresas.

Inovação 1 Empresas se capacitam para inovar.

Reaproveitamento de resíduos 1 Existência de projeto de recolhimento e destinação dos

resíduos.

Cooperação 0

Competição 0

Estratégia 0

TOTAL 44

Fonte: O autor (2019)

Neste Quadro 15 percebe-se que o fator recursos humanos se destaca, tendo como

potencialidades mais mencionada a existência de vários centros de qualificação em design e

moda, provendo profissionais capacitados para a criação dos produtos. Também foi relatada a

presença de mão de obra treinada e capacitada de forma abundante. Todos os fatores serão

comentados individualmente nas seções seguintes.

Vale salientar que não há um consenso de que as potencialidades apresentadas são

de fato existentes, foram identificadas opiniões rivais entre os especialistas, de modo que elas

serão comentadas após a análise dos obstáculos do setor.

Segundo Yin (2016), para a validação de estudos qualitativos é preciso ter uma

atenção especial sobre informações discrepantes e casos negativos, duas práticas utilizadas

neste tipo de validação são denominadas explicações rivais e triangulação. As explicações rivais

são análises de opiniões divergentes buscando a mais plausível e rejeitando a que estiver menos

embasada; complementar a isso, a triangulação busca ao menos três modos de verificar ou

corroborar um determinado evento, descrição, ou fato, esses três modos são observação direta,

um relato verbal e um documento escrito por uma terceira pessoa.

b5) Obstáculos do setor

Este código foi o que apresentou um maior número de fragmentos de texto (80

fragmentos), sendo que neste total está um somatório das perguntas específicas sobre os

principais obstáculos e desvantagens do setor (questões II – 11 e III – 2; 5) do protocolo de

entrevista e nos obstáculos identificados nos dezoito fatores que influenciam um cluster.

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O Quadro 16 apresenta um rankeamento, pelo número de fragmentos de texto, dos

principais obstáculos identificados, de acordo com cada um dos dezoito fatores que influenciam

em um cluster, na terceira coluna estão ordinalmente os principais obstáculos de cada fator.

Quadro 16 - Rankeamento pelo número de fragmentos dos principais obstáculos.

Fator Qtd.

Fragmentos Obstáculos

Recursos Humanos 17

Baixos salários dos trabalhadores. Mão de obra desqualificada. Falta de mão de obra. Baixa produtividade da mão de obra. Setor muito dependente da mão de obra (difícil automatizar). Altos encargos com mão de obra.

Cooperação 12 Setor desunido, cultura do individualismo.

Políticas públicas 10 Alta taxa de informalidade. Impostos elevados. Falta de atenção com ações específicas para o setor.

Fornecedores 6 Grande distância geográfica dos produtores de matéria-prima. Falta de conexão com o setor têxtil local.

Difusão do conhecimento 6 Baixa troca de informação no setor. Dispersão geográfica dificultando a comunicação.

Infraestrutura 5 Dificuldades logísticas. Falta de segurança. Falta de saneamento básico.

Gestão organizacional 5 Gestores desqualificados.

Competição 3 Concorrência desleal (formal x informal).

Inovação 3 Setor atrasado em tecnologias. Elevada pirataria.

Energia empreendedora 3 Empreendedorismo por necessidade.

Reaproveitamento de resíduos 3 Alto nível de desperdício na produção. Falta de destino apropriado para resíduos.

Especialização 2 Terceirizados com baixa qualidade e confiabilidade.

Governança/Coordenação 1 Ausência de governança/coordenação do setor.

Cultura 1 Perca da cultura da confecção.

Estratégia 1 Apenas estratégias individuais, nada para o coletivo.

Uniformidade Tecnológica 1 Bem equilibrada, porém, com baixa tecnologia.

Disponibilidade de Capital 1 Crédito apenas para empresas mais estruturadas.

Proximidade geográfica 0

TOTAL 80

Fonte: O autor (2019).

De acordo com o Quadro 16, é possível identificar que, assim como nas

potencialidades, o fator recursos humanos é também evidenciado como o principal obstáculo

para o setor de confecção de Fortaleza. Os obstáculos mais mencionados para ele foram: baixos

salários, mão de obra desqualificada, falta de mão de obra, baixa produtividade, forte

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dependência da mão de obra e elevados encargos sociais. Todos os fatores serão comentados

individualmente nas seções seguintes.

Fazendo um comparativo entre as potencialidades e obstáculos do setor,

perceberam-se alguns pontos contraditórios, apresentados no Quadro 17. Para estes casos, o

pesquisador realizou uma análise de validação e foi possível tirar algumas conclusões,

conforme apresentado na coluna conclusão, onde uma das considerações pôde ser refutada, ou

seja, uma das opções foi considerada inválida. Em outros casos, as considerações foram

consideradas complementares e houve um caso que não foi possível tirar conclusões, sendo

classificada como indefinida.

Quadro 17 – Pontos contraditórios entre potencialidades e obstáculos identificados

Potencialidades Obstáculos Conclusão

Mão de obra suficiente. Falta de mão de obra. Refuta a potencialidade

Mão de obra treinada e capacitada. Mão de obra desqualificada. Refuta o obstáculo

Fornecedores em grande volume na região.

Grande distância geográfica dos produtores de matéria-prima.

Informações complementares

Setor têxtil próximo. Falta de conexão com o setor têxtil local.

Informações complementares

Coordenação bem feita pelo sindicato com os associados.

Ausência de governança/ coordenação do setor.

Informações complementares

Boa gestão das empresas. Gestores desqualificados. Refuta potencialidade

Existência de projeto de recolhimento e destinação dos resíduos.

Falta de destino apropriado para resíduos.

Indefinida

Fonte: O autor (2019)

Observam-se neste Quadro 17, sete divergências nas opiniões dos entrevistados,

sendo que algumas considerações podem esclarecer tais resultados.

Mão de obra suficiente x Falta de mão de obra – nesta contradição de opiniões é

valido destacar o embasamento apresentado por cada um dos entrevistados. Sobre a existência

de mão de obra suficiente para atender o setor, dois dos especialistas (SDE e SEBRAE)

apresentaram esta potencialidade, já o argumento contraditório, de que há carência de mão de

obra, foi a opinião de um único especialista (UFC), mas apesar de ser uma única pessoa com

esta opinião, pela percepção do pesquisador, esta especialista é a que mais tem contato direto

com o setor, chegando a trabalhar dentro de empresas durante as férias escolares, um argumento

bastante consistente dito por este especialista foi:

[…] a mão de obra está ficando escassa, por quê? Como não há uma valorização da

principal mão de obra do setor que é a costura, todo o processo produtivo acaba

desovando na costura, e as costureiras estão ficando velhas, sem motivação para

incentivar as filhas. Eu fiz uma pesquisa e descobri que as filhas das costureiras estão

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indo fazer cursos de beleza ou estética, aprendendo cortar cabelo, aprendendo ser

manicure, aprendendo ser agente administrativo, fazendo cursos de computação,

menos costureira (especialista design e moda UFC).

Em um momento da entrevista, outro argumento também foi destacado:

Eu ajudei a estruturar uma empresa nas férias passadas, coloquei um anúncio no jornal

para contratar funcionários, mas não conseguimos preencher as vagas, não tem. E sabe

quem apareceu? Senhoras de 52, 54 anos, ou de 48 anos, que as empresas ficaram

com elas e agora na crise precisaram liberar. Teve muita empresa que fechou e liberou

mão de obra (especialista design e moda UFC).

Pela observação do pesquisador, com relação aos argumentos desta especialista,

pode-se ter uma ideia de que realmente há carência de mão de obra, tendo em vista que os

especialistas divergentes a esta opinião (SDE e SEBRAE) não apresentaram argumentos

consistentes e são profissionais mais genéricos, ou seja, que não são específicos no atendimento

ao setor de confecção.

Para ajudar na validação de que a mão de obra realmente está escassa, foi analisada

uma pesquisa realizada pela Federação das Microempresas e Empresas de Pequeno Porte do

Ceará (FEMICRO) no ano de 2017, com 1438 empresas do setor de confecção no município de

Fortaleza, sendo 50,9% do comércio e 49,1% da indústria. O estudo apontou realmente a falta

de mão de obra como um dos principais obstáculos do setor (MOTA, 2017). Portanto, a hipótese

mais confiável é que realmente há uma escassez de mão de obra nas indústrias de confecção do

município de Fortaleza.

Mão de obra treinada e capacitada x Mão de obra desqualificada – o argumento

de que a mão de obra é treinada e capacitada foi apresentado pelos representantes do SENAI e

da UFC - como já foi frisado, a especialista da UFC é a que possui um contato mais direto e

específico com o setor e o representante do SENAI possui bastante conhecimento sobre

qualificação porque trabalha no órgão responsável por esta função, apesar de haver um risco de

buscar elevar o conceito de tal organização. Os argumentos apresentados por tais especialistas

apontam que: “A mão de obra existente é boa, mas está se acabando” (especialista design e

moda UFC).

Mão de obra treinada e capacitada, assim como o pessoal de gestão, além da própria

capacitação que o SENAI faz, tem também a disseminação de mão de obra

proporcionada pelas grandes empresas, tanto custeando o aprendizado no SENAI,

como os desenvolvendo dentro da própria empresa, e aí isso permite que essas

empresas acessem de forma mais fácil, tanto cargos de chão de fábrica como na parte

da gestão (especialista SENAI).

Há fortes indícios de que realmente o setor possui mão de obra treinada e

capacitada, apesar de estar diminuindo devido à desvalorização da profissão, principalmente da

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costureira, que é a existente em maior volume. Os argumentos contrários, ressaltando que há

uma desqualificação, são apresentados pela executiva do SINDCONFECÇÕES, quando

menciona que:

Existe uma oferta de mão de obra, mas é desqualificada apesar do SENAI ser um bom

formador. Acontece que devido o setor apresentar baixos salários, acaba não sendo

atrativo. Quem é que quer ver sua filha como costureira para ganhar mil reais,

trabalhar em um regime de 8 horas, sentada, com temperatura alta. Hoje uma babá ou

doméstica ganha muito mais que muitas profissões, porque tem casa, comida e todas

as despesas da casa por conta do patrão, e as domésticas são tratadas muito bem para

não perdê-las (executiva SINDCONFECÇÕES).

Percebe-se que o argumento está mais direcionado à decadência que vem ocorrendo

com a profissão de costureira, porque as novas gerações estão sendo desestimuladas a dar

continuidade na profissão das mães, e ainda é reforçada a menção de que o SENAI é um bom

formador de mão de obra. Na percepção do analista do SEBRAE, a qualificação é um grave

problema, porém, mais uma vez ele tem uma visão generalizada da indústria, e não com certa

especificidade para o setor de confecção do vestuário, quando diz:

A mão de obra é a maior grita do segmento, qualificação de mão de obra é um

problema, porque o nível de produtividade da nossa indústria ainda é muito baixo, o

nível de qualificação dos nossos profissionais ainda é baixo, às vezes, não tem a

formação no tempo certo, a pessoa entra na empresa pra aprender lá dentro, e isso não

é só neste segmento, mas é uma lacuna a se considerar continuamente (especialista

SEBRAE).

Portanto, a conclusão inicial deste impasse é que a mão de obra realmente é

qualificada, porém, está se perdendo devido ao desinteresse das novas gerações.

Fornecedores em grande volume na região x Grande distância geográfica dos

produtores de matéria-prima – esta não chega a ser uma contradição, mas sim uma

complementação, isso porque se entende que realmente há um grande volume de fornecedores

na região, entretanto, muitos são apenas representantes de fornecedores localizados fora do

estado, conforme apresentado neste relato: “acredito que tem uma boa quantidade de

fornecedores em Fortaleza, mas alguns insumos chaves, ainda estão fora do estado,

principalmente no eixo Rio/São Paulo, e isso de certa forma prejudica por conta do frete que

encarece o produto” (especialista SEBRAE).

Setor têxtil próximo x Falta de conexão com o setor têxtil local – foi apresentada

como potencialidade a existência de um forte setor têxtil, contribuindo para o fornecimento do

tecido, principal insumo da confecção; porém, também foi apontado como uma desvantagem o

não atendimento ao mercado local pela indústria têxtil.

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O que pôde ser observado foi que os especialistas da SDE e do SENAI

mencionaram a potencialidade da proximidade do setor têxtil, no entanto, pela SDE houve

apenas uma menção ao fato, enquanto que pelo SENAI foi apresentado um exemplo pontual de

uma única empresa que estava se beneficiando com a aquisição dos produtos têxteis de um

fornecedor local. Já os que argumentaram a falta de conexão dos fornecedores têxteis locais

foram os especialistas do SINDCONFECÇÕES e da UFC. Vale salientar que o escritório do

SINDCONFECÇÕES fica situado no mesmo endereço do SINDTÊXTIL (Sindicato da

Indústria de Fiação e Tecelagem em Geral no Estado do Ceará) e, portanto, possuem

conhecimento dos relacionamentos entre os setores. Tais especialistas argumentaram que os

fornecedores não possuem foco no mercado local e as matérias-primas acabam vindo de outros

estados.

A conclusão mais evidente neste impasse é que realmente há um entrave no

fornecimento pela indústria têxtil local, entretanto, há a possibilidade de estreitar esse

relacionamento, conforme exemplo apresentado pelo consultor do SENAI.

Coordenação bem feita pelo sindicato com os associados x Ausência de

governança/coordenação do setor – neste caso, também se percebe que não há uma

contradição, mas um ponto de vista diferente. Para o especialista do SENAI, o sindicato (não

foi especificado qual) realiza um bom trabalho de coordenação das ações de associativismo,

todavia, são muito poucos os afiliados de modo que o impacto no setor acaba sendo

minimizado. Na visita realizada ao SINDCONFECÇÕES, o pesquisador pôde perceber que

realmente há um interesse intenso na busca de melhorias para o setor. Porém, a visão do

especialista do SEBRAE, de que “tem algumas entidades do setor (referindo-se ao sindicato),

mas governança eu creio que não exista”, dá a entender que embora haja representação de classe

do setor, ela não chega a realizar um trabalho de governança, que seria mais complexo que a

simples representação.

Boa gestão das empresas x Gestores desqualificados – torna-se bastante

contraditório que haja boa gestão das empresas com gestores desqualificados. A primeira

afirmação de que há boa gestão das empresas foi apresentada pelo especialista do SEBRAE, ao

dizer que: “é fundamental, uma empresa não vai para canto nenhum se não fizer uma boa gestão,

ou o cara faz uma boa gestão ou o risco é grande. O nível de gestão do setor de confecção, de

um modo geral, tem um nível bom” (especialista SEBRAE).

Acredita-se que esta menção tenha sido direcionada às empresas do setor que

conseguem se estruturar de forma consistente, porque, de acordo com declarações de outros

especialistas como do SENAI, da SDE, do SINDCONFECÇÕES e da UFC, a gestão das

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empresas sofre com o baixíssimo nível de qualificação de seus gestores. Isto pode ser

exemplificado nas palavras da executiva do SINDCONFECÇÕES, ao dizer que “muitos deles

não sabem o que é fluxo de caixa, uma DRE, calcular o preço de um produto. Só sabem querer

que o imposto seja menor, que o operário trabalhe mais”.

O estudo realizado pela FEMICRO no ano de 2017, com 1438 entrevistados ligados

à gestão das empresas no setor de confecção (indústria e comércio) de Fortaleza, apontou que

94% não possuíam o ensino superior completo; 31,3% possuíam, no máximo, o ensino

fundamental completo (MOTA, 2017). Estes dados evidenciam realmente a falta de

qualificação de gestão das empresas do setor.

Existência de projeto de recolhimento e destinação dos resíduos x Falta de

destino apropriado para resíduos – neste ponto, notou-se uma forte falha de comunicação

entre os atores ligados ao setor de confecção e órgãos públicos promotores do desenvolvimento

regional entrevistados nesta pesquisa, isto porque somente a professora da UFC possuía o

conhecimento de um projeto que envolve uma destinação para os resíduos do setor de

confecção, informação que pode ser observada na seguinte declaração:

Em Fortaleza não está ruim porque existe um projeto de coleta dos resíduos e

destinação às cooperativas Este projeto é bem estruturado, onde as empresas devem

se organizar com a destinação e acomodação dos resíduos, para que a coleta seja

realizada de forma organizada. Este projeto é pela prefeitura (especialista design e

moda da UFC).

Nenhuma outra instituição tinha conhecimento deste projeto, tendo em vista que o

pesquisador chegou a mencioná-lo durante as entrevistas, já que a entrevista com a especialista

da UFC foi uma das primeiras a ser realizada. Há também a hipótese de que este projeto não

esteja mais em andamento.

c) Família: Fatores cluster

Na análise desta família, serão observados individualmente os dezoito fatores que

influenciam na formação do cluster de confecção do vestuário em Fortaleza, conforme

principais citações dos especialistas. Em seguida será apresentado um diagrama de redes que

identifica os links entre os fatores.

Cooperação – a principal evidência na análise deste fator é que se caracteriza como

um setor desunido e com atitudes individualistas por parte de parcela considerável dos

empresários. Das 12 citações referentes à cooperação, 10 mencionam sobre este obstáculo.

Alguns dos relatos encontrados são: “a principal barreira é o individualismo dos empresários,

apenas olham para o negócio deles e veem o concorrente como um inimigo, nunca como um

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parceiro” (especialista SEBRAE); “digo a você que o setor de confecção de Fortaleza é um

setor desunido, ele é desagregado ele não é um setor que se fortalece por si” (especialista UFC);

“a área urbana, principalmente como Fortaleza, tende a trazer o individualismo, sabe, a empresa

atuar sozinha, a facção atuar sozinha, uma tendência à concorrência, não há cooperação”

(especialista SCIDADES);

[...] eles são muito individualizados, nós temos aqui as convenções coletivas, e a gente

marca as assembleias, onde os empresários precisam discutir, porque são as bases das

relações contratuais, mas eles não vêm, se você convocar uma reunião do sindicato

eles não vêm, eles não priorizam, não conseguem enxergar que isso é importante para

o setor, tudo que a gente propõe chamando o empresário é às “duras penas”, eles são

muito imediatistas, e não contribuem nem criticando, porque não dedicam tempo para

o associativismo (especialista SINDCONFECÇÕES).

As declarações apontam a ineficiência concernente à cooperação, que pode ser

considerada um dos principais obstáculos para a estruturação do cluster.

Fornecedores – algumas das principais evidências percebidas neste fator são que

há um bom volume de fornecedores na região, entretanto, ainda há uma dependência de insumos

vindos de regiões distantes, como Rio de Janeiro e São Paulo, o que acaba aumentando o custo

dos produtos. Outra constatação é que há grandes produtores têxteis na região, mas que não

atendem o mercado local.

Algumas das citações que apresentam estas observações são: "[...] 85% dos

produtos e suprimentos que a empresa precisa para transformar vem de fora, é dependente de

São Paulo" (Especialista UFC); "[...] nossos insumos são muito caros, porque estamos distantes

aproximadamente 3000 km de nossos principais fornecedores [...] (Esp. SINDCONFECÇÕES);

“aqui tem indústria têxtil, mas não se conecta com a confecção, não há esta conexão”

(Especialista UFC).

Governança/coordenação – uma coordenação bem feita é uma condição

necessária para a organização do cluster investigado, conforme apresentado nas seguintes

citações: “Essa questão de que tenha uma governança e que esta governança tenha uma base

para fazer acontecer é fundamental, sem liderança não funciona” (Especialista

SINDCONFEFCÇÕES); “para mim a governança é o ponto chave para se dar certo ou não um

APL” (Especialista SEBRAE).

Apesar da importância em se ter uma governança, foi verificado que atualmente

não existe uma coordenação estruturada, conforme a seguinte declaração: “tem algumas

entidades do setor, mas governança eu creio que não exista” (Especialista SEBRAE). Para o

especialista do SENAI, até há uma coordenação do setor pelos sindicatos, a questão é falta de

associativismo por parte dos empresários.

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Competição – de acordo com o que já foi apresentado pela literatura, há uma

concordância entre os entrevistados de que a competição é algo saudável para o setor e que

proporciona avanços na qualidade e no desenvolvimento, contanto que seja de forma leal.

Entretanto, a competição neste setor apresenta-se de forma cruel, conforme pode ser observado

na declaração da especialista do SINDCONFECÇÕES: “hoje nossa concorrência está muito

cruel, uma das queixas do setor de confecção é isso, tem os shoppings normais e tem esses

galpões em que não se tem fiscalizações […]”. Esta também foi a opinião de outros

especialistas, como do SEBRAE e da SCIDADES.

Verifica-se no município uma divisão clara entre as empresas formais e as

informais. Este tipo de competição prejudica as empresas formais, que são muito cobradas pelo

Estado, com encargos demasiados e não recebendo a contrapartida devida. Enquanto as

informais acabam tendo uma reduzida cobrança em suas operações e ainda são favorecidas com

alguns investimentos pelo Estado, como foi o caso da construção do Centro Fashion, com

capacidade para 8400 boxes.

Difusão do conhecimento – este fator também foi considerado relevante. A citação

do especialista do SEBRAE relata bem isso, ao dizer:

Eu acho extraordinário, por isso trabalhamos a questão das redes neste sentido, porque

a experiência de um que está no mercado com um que está há menos tempo ajuda

aquele cara a crescer também. Então a ideia da rede é você estar sempre

compartilhando conhecimento, não é que eu vou dizer como é que eu faço o meu

negócio para ser mais vantajoso, mas eles sempre compartilham ideias e até abrem

um a empresa para o outro, não tem assim esse problema de compartilhar. Acho que

é essencial, porque você engrandece a colaboração empresarial entre eles e muitas

vezes despertam novas formas de trabalhar, um gera experiência para o outro e levam

aquela coisa que fez diferente. Como o setor é muito disperso em Fortaleza, acredito

que se pratica muito pouco (Especialista SEBRAE).

Observa-se em sua conclusão, que a difusão do conhecimento é muito pouco

praticada em Fortaleza pelo fato do setor de confecção ser muito disperso e, também, pela falta

de cooperação e pelo individualismo, como já foi comentado.

Recursos humanos – este foi o fator que mais gerou citações entre os entrevistados

(total de 29), tanto apresentando obstáculos como potencialidades para o cluster. Como ponto

negativo, a principal profissão deste setor, a costureira, é uma função em decadência e escassa,

causando o desinteresse para que novas gerações se insiram nesta carreira, devido ao salário

reduzido e ambiente de trabalho penoso, comparado a demais profissões.

Estas observações podem ser verificadas nos seguintes relatos:

[...] acontece que devido o setor apresentar baixos salários, acaba não sendo atrativo.

Quem é que quer ver sua filha como costureira para ganhar mil reais, trabalhar em um

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regime de 8 horas, sentada, com temperatura alta. Hoje uma babá ou doméstica ganha

muito mais que muitas profissões, porque tem casa, comida e todas as despesas da

casa por conta do patrão, e as domésticas são tratadas muito bem para não perdê-las

(Especialista SINDCONFECÇÕES).

[...] não há uma valorização da principal mão de obra do setor que é a costura, todo o

processo produtivo acaba desovando na costura, e as costureiras estão ficando velhas,

sem motivação para incentivar as filhas. Eu fiz uma pesquisa e descobri que as filhas

das costureiras estão indo fazer cursos de beleza ou estética, aprendendo cortar cabelo,

aprendendo ser manicure, aprendendo ser agente administrativo, fazendo cursos de

computação, menos costureira. Isso porque o salário é baixo (Especialista UFC).

Estes dois relatos mostram uma uniformidade nas opiniões, validando a percepção

da desvalorização da profissão de costureira. Alguns dos motivos apontados como causa dos

baixos salários foram excesso de impostos e encargos sociais e existência de dois sindicatos

com datas bases diferentes e que causavam defasagem no reajuste dos salários.

Para o especialista do SENAI, apesar da crescente carência de mão de obra, ainda

há algumas regiões que possuem uma boa quantidade de trabalhadores, oriundos da constante

rotatividade das grandes empresas e da própria concentração de micro, pequenas e médias

empresas, como por exemplo, a região do bairro Montese e distrito industrial de Maracanaú

(município da região metropolitana de Fortaleza).

Outro problema concernente à mão de obra é a baixa produtividade. Esta

consideração veio do especialista do SEBRAE ao dizer que:

[…] o nível de produtividade da nossa indústria ainda é muito baixo, o nível de

qualificação dos nossos profissionais ainda é baixo, às vezes, não tem a formação no

tempo certo, a pessoa entra na empresa pra aprender lá dentro, e isso não é só neste

segmento, mas é uma lacuna a se considerar continuamente (Especialista SEBRAE).

A especialista do SINDCONFECÇÕES ratifica dizendo:

Então tem a questão da nossa mão de obra que possui uma produtividade muito baixa,

ela rende muito pouco, ela trabalha aqui, ela pensa na sogra, ela pensa no marido, ela

pensa em mil coisas, quer o celular, quer ir ao banheiro, ainda há esta coisa da cultura,

motivacional, nosso salário aqui no Ceará é muito baixo (Especialista

SINDCONFECÇÕES).

Segundo a especialista da UFC, as empresas que possuem uma melhor gestão

conseguem amenizar tanto o problema da baixa produtividade como o problema de pagamento

de baixos salários, com a implantação de bônus por produtividade, ela relata que:

[...] nós temos dois tipos de empresas, as que pagam de acordo com o salário da

convenção e a empresa que por sorte recebeu uma luz, como a de um engenheiro como

nós dois, e diz assim, essa menina aqui ela trabalha e tem uma produtividade muito

boa, vamos atrás de uma bonificação, vamos criar um prêmio de incentivo [...]

(Especialista UFC).

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Como fatores positivos neste fator, destacam-se a boa qualidade da mão de obra

operacional, principalmente as costureiras, conforme destacado nesta citação:

Mão de obra treinada e capacitada, assim como o pessoal de gestão, além da própria

capacitação que o SENAI faz, tem também a disseminação de mão de obra

proporcionada pelas grandes empresas, tanto custeando o aprendizado no SENAI,

como desenvolvendo-os dentro da própria empresa (Especialista SENAI).

Assim como também do pessoal de criação em design e moda, apresentado na visão

da especialista do SINDICONFECÇÕES: “Eu vejo a criatividade aqui, nosso povo é muito

criativo, nossos estilistas são muito considerados”.

Inovação – este fator foi considerado necessário e importante por quase todos os

entrevistados, contudo, percebeu-se na análise dos dados que há evidências de um baixo aporte

de inovação no setor. Para a especialista do SINDCONFECÇÕES, “o setor está muito aquém

na questão da inovação […] há uma falta de visão que tem que ter mais tecnologia, produzir

em série, etc.”. O especialista do SDE reforça ao considerar que “em Fortaleza a gente não tem

inovação, a camisa que é produzida hoje é a mesma produzida há 20 anos”. Complementando,

o especialista da SCIDADES menciona que “nosso setor de confecção é tão ou mais atrasado

que a indústria têxtil no país”.

Apesar da pouca inovação no setor, o especialista do SEBRAE chega a relatar que

a inovação está nas empresas mais estabelecidas, até porque esta indústria não é caracterizada

por possuir muita tecnologia. Para as especialistas do SINDCONFECÇÕES e da UFC, um dos

equipamentos mais modernos e de difícil acesso para algumas empresas é o sistema de

modelagem automatizado, o qual auxilia no desenvolvimento do molde. A inovação pode estar

também nos processos, como relata a especialista da UFC: “[...] a inovação envolve também

ter um setor de Planejamento e Controle da Produção (PCP) mais capaz, envolve um setor de

corte com um gerenciamento mais forte, porque o volume de produção vai ser muito maior

[…]”.

Uma demanda de inovação em processos recentes, apontada pelos especialistas do

SENAI e da UFC, é a certificação de fornecedores, lançada pela Associação Brasileira do

Varejo Têxtil (ABVTEX). É um método que permite às grandes empresas varejistas

controlarem fornecedores e subcontratados acerca do cumprimento de aspectos relacionados à

responsabilidade social, relações de trabalho e sustentabilidade dos negócios. Para adquirir tal

certificação, as empresas de confecção necessitam realizar altos investimentos para adequar sua

estrutura e seus processos nos padrões estabelecidos, algo que gera vantagem competitiva, mas

que exige altos investimentos, assim, poucas empresas conseguem obtê-lo.

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Proximidade geográfica – há certa controvérsia sobre a necessidade das empresas

e demais elos da cadeia de um cluster estarem próximos geograficamente. Para os especialistas

do SINDICONFECÇÕES, da UFC e da SCIDADES, não há tanta necessidade de aproximação,

conforme demonstram seus argumentos: “Não vejo tanta importância. Aqui nós temos as

empresas muito próximas umas das outras, mas isto não está afetando em nada com relação à

APL, continua havendo desunião, o próprio sindicato está em uma localização estratégica e as

pessoas não vêm aqui” (Especialista SINDCONFECÇÕES); “Eu acho que um APL pode

funcionar sem tanta proximidade, o que fortalece um APL é a política e o acompanhamento que

você dá para ele. Em Fortaleza as empresas são organizadas em polos e estão muito próximas

umas das outras” (Especialista UFC); "Eu não acho tão importante (proximidade geográfica),

nós vivemos hoje na revolução digital, que infelizmente a nossa confecção não alcançou a sua

plenitude, nós podemos trocar informações, nós podemos comercializar produtos, os contatos

se estreitaram [...]" (Especialista SCIDADES).

Por outro lado, há alguns que consideram a proximidade geográfica importante para

o desempenho do cluster, isto pode ser observado nas considerações dos especialistas da SDE

e do SEBRAE, quando relatam que: “é muito importante que os parceiros e players estejam

próximos, até por uma questão de redução de custos, a produção aumenta só pelo fato da

proximidade” (Especialista SDE); “eu considero pelos elos, as indústrias em si, que são daquele

território, se elas puderem estar mais próximas é melhor, porque elas têm condições de atrair

outros elos para próximo deles, então esse fator é importante” (Especialista SEBRAE).

Diante deste impasse nas opiniões, algo constatado foi que a proximidade

geográfica influencia positivamente nos demais fatores de desempenho, contribuindo para

cooperação, na difusão do conhecimento, no acesso a fornecedores e mão de obra, dentre outros

fatores.

Infraestrutura – na análise dos dados, constatou-se que as maiores dificuldades do

setor são: logística de transporte, a qual é predominante no modal rodoviário (apontado pelos

especialistas do SENAI, SINDCONFECÇÕES e UFC); há também a questão da insegurança e

falta de saneamento básico (apontados pelo especialista do SEBRAE).

Também foi destacada a boa infraestrutura em Fortaleza na mobilidade urbana, que

melhorou nos últimos anos com a inserção de novos meios de transporte, como por exemplo, o

veículo leve sobre trilhos, e forte incentivo à utilização de bicicletas por meio de postos de

compartilhamento e crescimento de ciclovias e ciclofaixas, além de destaque em porto,

aeroporto, centro de convenções e vários galpões e shoppings para comercialização de produtos,

sendo uma das maiores referências no comércio de confecção do Nordeste.

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Cultura – neste aspecto é apresentada a forma como a comunidade percebe a

importância do setor, assim como os valores e costumes culturais dos atores envolvidos na

cadeia produtiva do setor de confecção.

Especialistas do SINDCONFECÇÕES, do SEBRAE e da SDE comentam que há

um bom convívio da comunidade com a produção da confecção, tanto pelo fato de não ser um

tipo de manufatura degradante ao meio ambiente, ou à sociedade, e que, principalmente, é um

grande gerador de emprego e renda. Estas observações podem ser encontradas nos seguintes

relatos: “Sim, é importante uma cultura de valorização do setor, até porque é o segundo setor

com mais geração de emprego, na área de transformação, só perde para a construção civil”

(Especialista SINDCONFECÇÕES); “importante uma valorização do APL pela região local,

em Fortaleza a gente sempre teve uma cultura da confecção, inclusive com uma forte

propaganda da qualidade” (Especialista SDE);

Eu vejo que todo e qualquer negócio ele precisa se relacionar bem com a comunidade

em que ele está instalado, porque senão a própria comunidade o tira de lá. Então ela

tem que ter consciência de que o negócio dele vai valorizar o ambiente em que está,

para não atrapalhar. Para mim a questão da relação com o ambiente, com o entorno, a

questão dos costumes que acontecem no ambiente, o empresário tem que ter essa

sacada, porque senão ele corre um risco muito grande de boicote, de as pessoas

fazerem um movimento pra tirar ele de lá. Então pra mim é fundamental,

principalmente em um APL onde o conjunto de empresas tem que ter um bom

relacionamento de convivência com a comunidade e sociedade local para que

enxerguem como uma oportunidade, porque a empresa pode ser uma geradora de

emprego, então tem essa relação de valorização entre as partes. No Ceará, pela

tradição que há, já existe esta relação muito positiva, esse ambiente é muito bem aceito

e trabalhado, até porque gera muito emprego (Especialista SEBRAE).

Apesar da importância da relação da comunidade com o setor, há indícios de que

esta valorização vem se perdendo, conforme apresentado pela especialista da UFC: “A cultura

da costura daqui é muito forte, mas está se perdendo”, e para ela há uma série de causas para

isso, mas a mais destacada foi a desvalorização e decadência da mão de obra operacional.

Outros aspectos apontados pelos especialistas, mais associados aos valores e

costumes culturais dos demais atores, principalmente relacionados aos empresários foram: a

cultura do individualismo (“é cultural, nossa cultura é muito individualista. Por conta desse

obstáculo, a relação de confiança que é o ponto chave da rede, fica um pouco trabalhosa de se

fazer, mas a gente tem revertido isso em muitos casos” - Especialista SEBRAE); a cultura da

capacitação profissional que está sendo implantada pelo SENAI (“agora que estamos

conseguindo levar essa cultura da importância dos empresários em capacitarem suas empresas

e isso não é fácil”); e a cultura de um produto de qualidade nesta região (“a gente sempre teve

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uma cultura da confecção, inclusive com uma forte propaganda da qualidade” - Especialista

SDE).

Estas declarações mostram que há alguns aspectos culturais que estão sendo

modificados, de modo que é essencial a atuação das instituições ligadas ao setor, como

SEBRAE, SENAI, universidades, dentre outros. Isto não é uma tarefa fácil, mas possível,

conforme relato da especialista da UFC:

Existe uma premissa de que o empresário de Fortaleza é resistente à mudança, não

digo que é resistente, eu digo que ele tem medo. Por que ele tem medo? Porque ele

começou daquilo como empreendimento, ali está a vida dele, está o capital, mas

quando ele encontra uma pessoa que mostra credibilidade e confiança, ele permite,

não existe cultura que não possa ser mudada (Especialista UFC).

Especialização – na análise deste ponto foram percebidas duas vertentes sobre a

especialização, uma se refere à segmentação do setor, havendo concentrações de empresas com

predominância na produção de um determinado tipo de produto, a segunda se refere à

especialização em determinadas etapas do processo produtivo, como cortar, costurar, modelar,

lavar, dentre outros.

Na parte da segmentação do setor, há indicações de que ocorre uma boa definição

das regiões com seus produtos característicos. Esta observação pode ser vista nos seguintes

relatos: “há certa pulverização dos centros produtivos e de comércio do setor de confecção,

como por exemplo, a região do centro da cidade, a região do Montese na parte de vestidos de

noivas ou de moda feminina, a região da Barra do Ceará, etc.” (Especialista SDE);

A especialização é a essência de um APL. Fortaleza é muito fácil de montar um APL,

porque é fácil localizar e lhe dou um mapa aqui dentro de quem faz camisa masculina,

quem faz a moda íntima, quem faz a moda infantil, quem faz o tecido plano, aqui no

Jóquei Club tem fabricantes só de gola polo masculina, vem gente de Manaus atrás,

isso é uma formação como se fosse de APL, a pessoa sabe que lá tem. Porque é assim,

se uma pessoa quer abrir uma empresa de jeans, ela vai procurar ficar perto de outra

na proximidade, e por quê? Porque a mão de obra vai ser mais fácil, assim como se

organiza o centro de uma cidade (Especialista UFC).

Um comentário bem relevante sobre este tipo de segmentação, realizado pelo

especialista do SENAI, foi que não considera importante a segmentação, pois de acordo com

suas palavras:

Não considero importante, isso porque os fornecedores são semelhantes, por exemplo,

o APL de Frecheirinha só daria certo se fossem todas as empresas de lingerie? Não,

as máquinas podem ser diferentes, mas os fornecedores são semelhantes, as técnicas

são semelhantes, então existe muito isso aí de só pode ser se for todo mundo do jeans,

ou todo mundo do lingerie, na minha concepção não. Obviamente se tem que ter

somente empresas do vestuário, mas hoje meu consultor faz consultoria em lingerie,

em jeans, e realmente tem as especificidades de cada área, mas dizer que isso

impediria a formação do APL, não concordo (Especialista SENAI).

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Estas últimas citações apresentam a importância da concentração em uma

determinada região, a primeira valoriza a segmentação, mas a segunda não considera tão

importante. Entretanto, conforme relatou a especialista da UFC, uma questão de destaque é a

mão de obra, que possui suas especificidades de acordo com o produto e é essencial para este

tipo de produção que é muito dependente de serviços manuais.

Na parte da especialização, com a divisão das etapas do processo produtivo, foi

identificado que é uma prática bastante utilizada, mais fortemente com as chamadas “facções”,

que são as empresas encarregadas de montar os produtos já desenvolvidos. Estas, em muitos

casos, são empresas informais e que acabam contribuindo com a redução de custos das

empresas formalizadas, ao contratá-las.

Alguns dos especialistas relataram dificuldades neste formato, devido à falta de

confiabilidade nos terceirizados. Esta evidência pode ser constatada nos seguintes relatos:

“acho importante a especialização, mas não acredito que em nível de Brasil haja tanta

segurança, algumas etapas eu creio que sim, mas outras não, principalmente no ramo de

confecção” (Especialista SEBRAE);

Hoje existe uma especialização no setor, mas o que deixa a desejar é a qualidade, o

cumprimento de prazos, por exemplo. As próprias facções falham muito nisso, na

qualidade, no cumprimento de prazos, no compromisso da conformidade com o que

foi acordado com o cliente, às vezes, quer mudar o valor, ou seja, mais uma vez entra

a questão da cultura na falta de profissionalização hoje que faça com que essa

especialidade aconteça de maneira bacana (Especialista SINDCONFECÇÕES).

A conclusão obtida foi que a especialização é fundamental para a formação de um

APL, tanto na segmentação por produtos, como na separação de etapas do processo produtivo,

porém, ambas precisam ser aperfeiçoadas.

Energia empreendedora – o empreendedorismo na confecção do vestuário é uma

evidência no município de Fortaleza, isto pode ser verificado no volume de empresas existentes.

De acordo com a RAIS (2017), são mais de 2.000 empresas, com quase 30.000 vínculos

empregatícios, isto inclui só as formalizadas, que são em menor quantidade, comparadas com

as informais.

Apesar do acentuado empreendedorismo, algumas características podem ser

levantadas. A primeira é que o empreendedorismo predominante se dá por necessidade, que

segundo Silva (2017), é o decorrente do desemprego e não por oportunidade de novos negócios,

destaca-se por uma situação de disfunção de um sistema econômico que não cresce a taxas

adequadas e não propicia o desenvolvimento econômico. Para o especialista da SCIDADES,

“nós temos muito empreendedorismo pela necessidade, onde o empreendedorismo deveria ser

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pela oportunidade. Tipo, fico desempregado, junto minha esposa, meus filhos e monto uma

confecção, aí passa a ter a facção da facção”.

A segunda característica, já como consequência do empreendedorismo por

necessidade, é a falta de competência gerencial dos tais empreendedores, conforme destaca a

especialista do SINDCONFECÇÕES:

O nosso povo é até empreendedor, mas desorganizado, sem informação, sem

conhecimento, então isso chega a ser um risco, porque, por exemplo, na confecção,

ele está como predador, ele faz e não sabe nem se está tendo lucro, mas ele faz e acaba

matando os outros (Especialista SCIDADES).

Quando é usado o termo “predador”, entende-se como alguém que monta uma

empresa sem ter conhecimento de custos e outras funções gerenciais e acaba vendendo produtos

ou prestando serviços a valores que não cobrem as despesas, atingindo a empresa que procura

trabalhar dentro da legalidade.

E uma terceira característica é a existência de muitas empresas familiares, conforme

relatado pela especialista da UFC, ao dizer que:

Em Fortaleza o maior número de empresas é pequena empresa. As grandes empresas

têm uma estrutura diferente, porque já começam estruturadas diferentes. As empresas

de Fortaleza são familiares, começaram de uma produção doméstica, a mãe mais a

filha, e vai crescendo, crescendo (Especialista UFC).

Tais características do empreendedorismo no setor demonstram a necessidade de

um maior apoio ao profissionalismo gerencial e até a geração de novas oportunidades em outras

áreas.

Estratégia – tal fator não foi muito citado pelos entrevistados, alguns chegaram a

destacá-lo como importante na formação do APL e até responsável pela não existência de um

aglomerado organizado, conforme citação do especialista do SENAI: “esse pode ser o fator que

provoca a não formação de um APL, ou que provoca a baixa adesão ao sindicato, por exemplo”.

Outra citação que traz uma explicação à reduzida prática da gestão estratégica em

nível coletivo, foi a apresentada pelo especialista da SDE ao dizer: “na cidade de Fortaleza, as

grandes mudanças sempre foram iniciadas por empresários ou pelo sindicato, que visavam a

melhoria da sua empresa e não do aglomerado, nunca era algo coletivo, apenas iniciativas

isoladas”.

Uniformidade tecnológica – este é o fator em que o setor de confecção analisado

apresenta os melhores resultados, isso porque a própria estrutura produtiva do setor não

apresenta grandes diferenças tecnológicas entre os principais equipamentos utilizados, como

por exemplo, as máquinas de costura. Portanto, vários especialistas destacaram que não há

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disparidades tecnológicas entre as empresas, evidentemente quando comparadas de acordo com

o porte. Um relato que confirma bem isso é o do especialista do SEBRAE, ao dizer:

Em um APL precisa ser todo mundo igual, quanto mais próximo eles estiverem, eles

podem criar mais corpo e se tornarem mais competitivos, mas, às vezes, depende do

segmento. Claro que não tem que ser todo mundo igual, as empresas são diferentes,

os donos são diferentes, às vezes, um é mais ousado, o outro menos. Acredito que haja

diferença no nível tecnológico das empresas de confecção, até porque muda o porte

das empresas, algumas são pequenas outras médias. Em termos de equipamentos, a

diferença é praticamente inexistente, a não ser aquelas empresas mais robustas

(Especialista SEBRAE).

Reaproveitamento de resíduos – também foi algo pouco comentado, tendo que

todos consideram um fator importante para o desempenho e sustento do APL, e que é algo

pouco praticado no setor, o qual possui um alto nível de desperdício de materiais, conforme

relatado pela especialista do SINDCONFECÇÕES: “para você ter uma ideia, entre 15 e 18%

do tecido é jogado no lixo, além de papelão dos rolos, etc. São milhões, isso porque a tecnologia

para realizar o encaixe gera ainda um grande desperdício”.

Somente a especialista da UFC comentou sobre a existência de uma prática na

destinação correta dos resíduos, onde diz:

Em Fortaleza não está ruim porque existe um projeto de coleta dos resíduos e

destinação às cooperativas, este projeto é bem estruturado onde as empresas devem

se organizar com a destinação e acomodação dos resíduos para que a coleta seja

realizada de forma organizada. Este projeto é pela prefeitura (Especialista UFC).

Por somente esta especialista conhecer o projeto, fica evidente a carência de

comunicação entre os elos da cadeia produtiva, tendo em vista que nem mesmo a executiva do

SINDCONFECÇÕES ou o especialista da SDE tinham conhecimento deste projeto voltado

para o setor de confecção.

Políticas públicas – o envolvimento do poder público no desenvolvimento regional

é uma condicionante fundamental para que um cluster possa se desenvolver, podendo atuar no

estabelecimento das taxações, na infraestrutura, na capacitação profissional, no subsídio de

capital, na promoção de produtos e mercados, no comércio, dentre outros.

Nas entrevistas pode-se notar que os especialistas também consideram fundamental

a atuação do Estado para que um cluster possa se desenvolver. Um exemplo desta consciência

pode ser visto no relato do especialista da SCIDADES:

É de suma importância e não apenas pelo fato de estar no Estado e ter uma visão

estadista do mundo, mas eu acredito que para o desenvolvimento inicial de toda e

qualquer atividade de longo prazo, isso necessita de um ente chamado Estado ou de

algo parecido (Especialista SCIDADES).

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Apesar da relevante necessidade do apoio público para o progresso e manutenção

de setores industriais, foi constatado, pela opinião dos entrevistados, que o setor de confecção

do vestuário não tem se beneficiado com políticas públicas consistentes, mesmo sendo um

grande gerador de emprego e renda para o município. As seguintes declarações expõem tal

afirmação:

Então, o que eu quero dizer é que não existe nada diretamente preocupado com o setor

de confecção, nem na infraestrutura, nem na inovação, em nada. Por exemplo, você,

pessoa física, quer mandar uma mercadoria lá para o Rio Grande do Sul, tudo bem,

mas eu sou uma empresa, que vou gerar renda, vou gerar emprego, por que devo pagar

o mesmo valor que você paga? É isso que digo, não há preocupação com o paralelo,

o empresário faz uma função para o governo, ele dá emprego, gera renda, então por

que não há uma política pensada nisso? De ser uma energia mais baixa, impostos

menores, eu digo que os empresários daqui vivem sem pai e sem mãe (Especialista

UFC).

[...] poderia se criar ambientes diferenciados, às vezes, com políticas públicas bem

simples, num território específico, com uma boa logística, às vezes, baixando um certo

tipo de tributo para poder incentivar estar naquele ambiente, às vezes, até mesmo na

arrecadação, criar alguns mecanismos de valorização dos talentos. Então eu acho que

a legislação poderia ser incentivadora nesses ambientes. No setor de confecção, o setor

público até recebeu algumas proposições, mas é incipiente, não há interesse do próprio

setor em se unir para buscar melhorias (Especialista SEBRAE).

Nesta última declaração, além de ser mencionado que o setor recebeu apenas

algumas proposições incipientes do poder público, tem também o problema de que não há uma

união para se buscar melhorias. Isto também foi comentado pela especialista do

SINDICONFECÇÕES ao dizer que “em nossa última reunião com a Secretaria da Fazenda,

fizemos de propósito e ligamos um por um, aí foram uns seis empresários, mas nós queríamos

ter levado pelo menos uns 20, que era para o secretário ver a nossa força”. Ou seja, um setor

com milhares de empresas, pouquíssimos se comprometem a lutar por melhores condições.

Além de demonstrarem insatisfação com a falta de apoio do poder público, há

também queixas de que algumas medidas tomadas chegam a prejudicar o setor. A seguinte

declaração expressa isso:

[…] hoje o governo, em nosso estado, tem atrapalhado bastante, porque há muita

fiscalização, muita e não é pouca não […] porque em outras regiões do país, por

entender que é a força empreendedora que gira o país, com a força de trabalho,

melhorando a economia, nos outros estados eles criaram incentivo para o setor de

confecção, no Pernambuco, por exemplo […] (Especialista SINDCONFECÇÕES).

A cobrança de impostos é necessária para a manutenção de qualquer nação, no

entanto, a principal queixa com relação a isso é que o estado do Ceará possui um forte rigor na

fiscalização para com as empresas formalizadas, sem que as devidas contrapartidas sejam

concedidas. Há ainda insatisfação porque ocorrem investimentos acentuados no fomento do

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comércio local, onde grande parte das empresas é informal e diz-se que não são fiscalizadas

com o mesmo rigor; isto chega a ser um problema tão acentuado ao ponto de empresas

formalizadas há muitos anos migrarem para a informalidade. O relato da especialista da UFC

demonstra esta situação.

[…] o governo criou um local chamado CENTRO FASHION, é um lugar que o

governo criou para ajudar as pessoas que fabricam sem imposto, entendeu? As pessoas

alugam o box e vão vender bem mais barato que aquela pessoa que pagou o design

para fazer a pesquisa, que investiu em viagem, que investiu em programas de pesquisa,

que investiu no desenvolvimento do produto fazendo pilotos, até acertar com o cliente.

Para esse fabricante aí não tem pena não, os encargos são muito grandes, e como a

concorrência é desleal, tem o outro que não tem encargo nenhum (Especialista UFC).

Outros especialistas também relataram a criação recente deste centro comercial que

permite a comercialização por empresas informais. Apesar de parecer estranho, o próprio

especialista da SDE relatou que este centro comercial é uma Parceria Público Privada (PPP),

onde os boxes são alugados somente para empresas formalizadas, entretanto, acontece que tais

empresas alugam vários boxes e repassam os pontos para empresas informais.

Disponibilidade de capital – para este fator os comentários foram bem diretos em

dois pontos, primeiro que há disponibilidade de capital com taxas justas, isto está evidente na

declaração do especialista do SEBRAE, ao dizer que “hoje disponibilidade de capital existe,

inclusive a juros bons, como é o caso do Banco do Nordeste, recurso subsidiado com juros

baixos”. O segundo ponto é que apesar de haver disponibilidade de recursos, há dificuldades

em se conseguir a liberação do capital, isso porque os agentes financeiros fazem exigências que

poucas empresas conseguem atender e, portanto, não conseguem acesso ao crédito, conforme

apresentado na declaração do especialista do SEBRAE: “existe o crédito, agora a facilidade de

acesso que é e sempre foi uma interrogação, já melhorou muito, mas ainda deixa muito a

desejar”.

Gestão organizacional – houve também um consenso entre os especialistas de que

o nível de capacitação dos empresários no setor de confecção, de um modo geral, é muito baixo,

apesar do esforço conduzido na implantação de uma cultura de aprendizado realizado por

instituições como SENAI, SEBRAE, SENAC dentre outros.

Apenas para exemplificar tais opiniões, algumas declarações são apresentadas:

“uma empresa mal gerida não pode ter muito desenvolvimento, pois pessoas com o mínimo de

capacidade de gestão estão no comando de empresas, até pessoas analfabetas. Pessoas que não

têm ideia de estoque, capital de giro nem de funções básicas” (Especialista SDE); “Muitos deles

não sabem o que é fluxo de caixa, uma DRE, calcular o preço de um produto. Só sabem querer

que o imposto seja menor, que o operário trabalhe mais” (Especialista SINDCONFECÇÕES).

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Um diagnóstico que aponta o nível de instrução dos gestores das empresas do setor

de confecção em Fortaleza, em 2017, incluindo indústria e comércio, mostra uma concentração

de 88,9% no intervalo entre ensino fundamental incompleto e nível médio completo e apenas

9,8% possuem nível superior completo/incompleto (MOTA, 2017).

Com estas informações, detecta-se que é um setor com baixa capacidade

organizacional, prejudicando o desempenho do cluster em vários outros aspectos,

principalmente na visão da necessidade de um trabalho mais conjunto e cooperativo.

Após a interpretação dos 18 fatores que impactam no desempenho de um cluster,

constatou-se que há uma relação entre eles. Então, com a ajuda da função networks do software

Atlas. Ti, foi construída a conexão de redes para poder visualizar como são estas relações. A

função do software é apenas organizar a parte gráfica e os tipos de ligações entre os elos, ficando

o pesquisador com a função de identificar de forma “manual” quais e como são formadas as

ligações.

A Figura 24 apresenta a conexão de redes para os 18 fatores. Em cada elo (caixa

retangular) se encontra o código cadastrado no software e em seguida é apresentado, entre

chaves, dois números; o primeiro representa o número de citações do código/fator e o segundo

número, o número de vínculos/links. Por exemplo, o fator Inovação é seguido por {14-4},

representando 14 citações e 4 vínculos. Todos os vínculos foram considerados como “é

associado com”, representado pelo símbolo “= =”.

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Figura 24 - Conexão de redes para os 18 fatores

Fonte: O autor (2019) – Extraído do ATLAS T.I v.6

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As cores dos códigos foram criadas automaticamente pelo software, levando em

consideração o número de citações e o número de vínculos, as citações aumentam a parte

amarela da cor do nó e os vínculos aumentam a parte azul (não há uma tabela com códigos de

cores, é algo subjetivo do software considerando citações e vínculos). Deste modo, são

identificadas aproximadamente 4 cores para os dezoito fatores, conforme representado no

Quadro 18.

Quadro 18 – Agrupamento automático por cores considerando citações e vínculos Cor Fator Citação-vínculo

1 Cooperação {12-11}

2

Proximidade geográfica {10-7}

Políticas públicas. {20-6}

Inovação {14-6}

Recursos humanos {29-5}

Governança {11-5}

3

Competição {9-4}

Cultura {8-4}

Difusão do conhecimento {8-4}

Gestão organizacional {7-4}

Especialização {9-3}

4

Fornecedores {9-2}

Energia empreendedora {9-2}

Infraestrutura {8-2}

Estratégia {5-2}

Reaproveitamento de resíduos {5-2}

Disponibilidade de capital {8-1}

Uniformidade tecnológica {6-0} Fonte: O autor (2019) – Extraído do ATLAS T.I v.6

Pode-se considerar, com a análise do Quadro 18, que alguns fatores possuem um

maior destaque dentro do sistema de formação do cluster, tanto porque possuem influência

sobre outros fatores, a exemplo de cooperação e proximidade geográfica, que impactam em 11

e 7 outros fatores, respectivamente; como outros que foram bastante citados pelos entrevistados,

mostrando-se importantes para o aglomerado, como os recursos humanos, com 29 citações.

Para esclarecer como o pesquisador considerou a opinião dos entrevistados a fim

de construir os links entre os fatores, foi elaborado o Quadro 19 onde se encontram, na primeira

e segunda colunas, os pares de fatores que se relacionam, na terceira coluna estão apresentadas

as principais citações que fomentaram a formação do link e na quarta e última coluna foram

determinadas algumas relações sobre os fatores.

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Quadro 19 – Apresentação dos links entre os fatores. (continua)

Fator Fator Principais Citações Relação

Competição Cooperação "O nosso povo é até empreendedor, mas desorganizado, sem informação, sem conhecimento, então isso chega a ser um risco, porque, por exemplo, na confecção, ele está como predador, ele faz e não sabe nem se está tendo lucro, mas ele faz e acaba matando os outros. Hoje estamos com um empreendedorismo alto" (Esp. SINDCONFECÇÕES)

Falta de cooperação interempresarial com práticas

antiéticas.

Competição Difusão do conhecimento

"Mas a rivalidade, vista por um outro lado, onde eles têm medo da troca de informações, da cópia mesmo dos produtos, de uma certa vantagem competitiva desenvolvida dentro da empresa deles ir para o concorrente, dificulta a geração do APL" (Esp. SENAI).

A rivalidade na competição inibe a difusão do conhecimento.

Competição Políticas públicas

"Hoje nossa concorrência está muito cruel, uma das queixas do setor de confecção é isso, tem os shoppings normais e tem esses galpões em que não se tem fiscalizações, a informalidade está cruel" (Esp. SINDCONFECÇÕES). “[...] a concorrência do setor de confecção em Fortaleza está assim bastante evidente, das empresas cada uma querendo buscar seu espaço [...] A informalidade é muito grande no varejo, mas na indústria também, porque as facções nas casas muitas vezes são informais. Por exemplo, a pessoa faz a pecinha dele aqui e coloca no varejo que também é informal, e concorre, existe muito isso" (Esp. SEBRAE). "[...] agora em Fortaleza, não sei se você visitou, nós temos um grande número de produtores de confecção popular, o governo criou um local chamado CENTRO FASHION, é um lugar que o governo criou para ajudar as pessoas que fabricam sem imposto, entendeu?" (Esp. UFC).

Concorrência desleal com arrocho para formais e flexibilidade para a

informalidade.

Cultura Cooperação “O primeiro desafio e a questão do individualismo. É cultural, nossa cultura é muito individualista” (Esp. SEBRAE). Há uma cultura do individualismo.

Cultura Governança/ Coordenação

"Agora que estamos conseguindo levar essa cultura da importância dos empresários em capacitarem suas empresas e isso não é fácil" (Esp. SENAI).

A governança pode introduzir a cultura da capacitação

organizacional.

Cultura Recursos Humanos

"Sim, é importante uma cultura de valorização do setor, até porque é o segundo setor com mais geração de emprego. Na área de transformação, só perde para a construção civil" (Esp. SINDCONFECÇÕES). "No Ceará, pela tradição que há, já existe esta relação muito positiva, esse ambiente é muito bem aceito e trabalhado, até porque gera muito emprego" (Esp. SEBRAE).

O setor é valorizado pela comunidade, principalmente pela

geração de emprego.

Difusão do conhecimento

Cooperação

"Mas a rivalidade, vista por um outro lado, onde eles têm medo da troca de informações, da cópia mesmo dos produtos, de uma certa vantagem competitiva desenvolvida dentro da empresa deles ir para o concorrente, dificulta a geração do APL, pela segunda ótica acho que atrapalha" (Esp. SENAI). "[...] a ideia da rede é você estar sempre compartilhando conhecimento, não é que eu vou dizer como é que eu faço o meu negócio pra ser mais vantajoso, mas eles sempre compartilham ideias e até abrem um a empresa para o outro, não tem assim esse problema de compartilhar, acho que é essencial, porque você engrandece a colaboração empresarial [...]" (Esp. SEBRAE).

Compartilhar conhecimento faz parte de um processo de

cooperação interempresarial.

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Quadro 19 - Apresentação dos links entre os fatores.

(continuação)

Fator Fator Principais Citações Relação

Difusão do conhecimento

Proximidade geográfica

"Como o setor é muito disperso em Fortaleza, acredito que se pratica muito pouco (difusão do conhecimento), tem alguns fazendo? Tem! Mas se pratica muito pouco, talvez com alguns grupos de WhatsApp" (Esp. SEBRAE).

A dispersão territorial das empresas inibe a difusão do conhecimento.

Energia empreendedora

Cultura "Fortaleza, a maior vantagem é a cultura empreendedora que já existe no ramo de confecção do Ceará [...]" (Esp. SEBRAE)

Forte cultura empreendedora na confecção do vestuário.

Energia empreendedora

Gestão organizacional

"O nosso povo é até empreendedor, mas desorganizado, sem informação, sem conhecimento, então isso chega a ser um risco, porque, por exemplo, na confecção, ele está como predador, ele faz e não sabe nem se está tendo lucro, mas ele faz e acaba matando os outros" (Esp. SINDCONFECÇÕES). "Os empresários têm até a energia, mas não têm o conhecimento" (Esp. SENAI).

Forte empreendedorismo com deficiência na capacidade de gestão

organizacional.

Especialização Cooperação "Então o Montese possui esse tipo de empresa, mas a produção não se concentra só nestas, há um processo de terceirização que se distribui nas periferias de Fortaleza" (Esp. UFC).

Há constante prática de terceirização de etapas do processo

produtivo entre empresas do aglomerado.

Estratégia Cooperação “[...] tem que ter uma visão estratégica, mais sistêmica, da cooperação, mas eles são muito individualizados [...]” (Esp. SCIDADES).

Falta de gestão estratégica voltada para a cooperação.

Fornecedores Cooperação “Aqui tem indústria têxtil, mas não se conecta com a confecção, não há esta conexão” (Esp UFC). Fornecedor têxtil local possui baixo

envolvimento com o setor de confecção.

Gestão organizacional

Competição "O nosso povo é até empreendedor, mas desorganizado, sem informação, sem conhecimento, então isso chega a ser um risco, porque, por exemplo, na confecção, ele está como predador, ele faz e não sabe nem se está tendo lucro, mas ele faz e acaba matando os outros" (Esp. SINDCONFECÇÕES).

A falta de conhecimento de gestão induz a uma concorrência

predatória.

Gestão organizacional

Disponibilidade de Capital

"Acho que hoje isso não é um empecilho, se fizer as coisas bem feitas consegue o capital. Não tem para quem faz as coisas meio na 'tora', mas pra quem consegue estruturar o negócio, consegue o capital de forma tranquila" (Esp. SENAI). "Aqui não tem crédito para as empresas. Quem tem seu crédito, fez seu crédito sozinho [...]" (Esp. UFC).

Há dificuldade na concessão de crédito para empresas iniciantes

e/ou desestruturadas.

Gestão organizacional

Especialização "[...] eu acho importante a especialização, mas não acredito que em nível de Brasil haja tanta segurança, algumas etapas eu creio que sim, mas outras não, principalmente no ramo de confecção" (Esp. SEBRAE).

A especialização do setor é dificultada pela falta de

confiabilidade.

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Quadro 19 - Apresentação dos links entre os fatores.

(continuação)

Fator Fator Principais Citações Relação

Governança/ Coordenação

Cooperação

"Na verdade, digo que a palavra correta não seja realmente a desunião das empresas, o que há é uma falta de comunicação, falta de encontro, eu não sei se teria que partir deles mesmos, ou se o governo teria que partir com a iniciativa, eu acho que o governo deveria tomar ou alguém como a FIEC, o SEBRAE ou qualquer órgão qualquer" (Esp. UFC).

A falta de cooperação entre as empresas pode ser devido à falta de

uma governança para conduzir o processo.

Governança/ Coordenação

Estratégia

"Um APL tem que ser estruturado, planejado e acompanhado, porque senão não funciona" (Esp. UFC). "[…] quando você está neste mercado, tem que ter uma visão estratégica, mais sistêmica, da cooperação, mas eles são muito individualizados. Nós temos aqui as convenções coletivas, e a gente marca as assembleias, onde os empresários precisam discutir, porque são as bases das relações contratuais, mas eles não vêm, se você convocar uma reunião do sindicato eles não vêm" (Esp. SINDCONFECÇÕES)

Um APL necessita ser estruturado estrategicamente pela sua

governança.

Infraestrutura Políticas públicas

"Um problema nacional é o transporte. Nós temos boas instituições de ensino, temos porto e aeroporto desenvolvido, centro de convenções, a maior dificuldade é o transporte mesmo, e isso impacta, tanto na aquisição de maquinário como na distribuição do produto acabado" (Esp. SENAI). "A maior dificuldade aqui é a falta de segurança, um caso sério, já mudou muito, mas ainda pesa muito, para qualquer negócio você tem que ver qual o comportamento da comunidade" (Esp. SEBRAE).

Alguns dos principais problemas de infraestrutura são transporte e

segurança.

Inovação Cooperação

"[...] a experiência de um que está no mercado com um que está a menos tempo ajuda aquele cara a crescer também, então a ideia da rede é você estar sempre compartilhando conhecimento, não é que eu vou dizer como é que eu faço o meu negócio pra ser mais vantajoso, mas eles sempre compartilham ideias e até abrem um a empresa para o outro, não tem assim esse problema de compartilhar, acho que é essencial, porque você engrandece a colaboração empresarial entre eles e muitas vezes despertam novas formas de trabalhar, um gera experiência para o outro e levam aquela coisa que fez diferente" (Esp. SEBRAE).

A cooperação interempresarial proporciona a inovação de

processos.

Inovação Difusão do conhecimento

"[...] a experiência de um que está no mercado com um que está a menos tempo ajuda aquele cara a crescer também, então a ideia da rede é você estar sempre compartilhando conhecimento, não é que eu vou dizer como é que eu faço o meu negócio pra ser mais vantajoso, mas eles sempre compartilham ideias e até abrem um a empresa para o outro, não tem assim esse problema de compartilhar, acho que é essencial, porque você engrandece a colaboração empresarial entre eles e muitas vezes despertam novas formas de trabalhar, um gera experiência para o outro e levam aquela coisa que fez diferente" (Esp. SEBRAE).

O compartilhamento de informação proporciona a inovação de

processos.

Inovação Governança/ Coordenação

"O SENAI tem um projeto que foi apresentado aos nossos filiados, para verificar por meio de um checklist se as empresas estão atendendo às normas legais" (Esp. SINDCONFECÇÕES). "Eu acredito que hoje as empresas têm procurado muito se capacitar sabe, até porque o mercado está cada vez mais exigente, e o mercado da moda que é mais exigente ainda. Então há inovação em boa parte dessas empresas, pelo menos as mais estabelecidas, eu acredito que estejam, mas as pequeninas nem tanto" (Esp. SEBRAE).

As instituições locais atuam no fomento da inovação do setor.

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Quadro 19 - Apresentação dos links entre os fatores.

(continuação)

Fator Fator Principais Citações Relação

Inovação Políticas públicas

"[...] a falsificação, quando olhei sua camisa eu identifiquei a marca, mas você sabia que tem na feira, já foi identificado aqui uma empresa denominada rei das réplicas, o qual copia tudo, então nossa concorrência está péssima neste sentido [...]" (Esp. SINDCONFECÇÕES).

Facilidade na comercialização de produtos falsificados.

Inovação Recursos Humanos

"Eu vejo a criatividade aqui, nosso povo é muito criativo, nossos estilistas são muito considerados, então se essa inteligência se bem canalizada e bem aproveitada aquilo que nós já fomos, como o segundo maior polo do Brasil de confecção, poderia ser recuperado [...]" (Esp. SINDCONFECÇÕES). "[...] então é uma grande indústria da cópia da televisão, com a tendência da moda e revista, mas que as pessoas não desenvolvem a sua própria marca [...]" (Esp. SCIDADES). "[...] o nível de produtividade da nossa indústria ainda é muito baixo [...]” (Esp. SEBRAE). "Então tem a questão da nossa mão de obra que possui uma produtividade muito baixa, ela rende muito pouco [...]" (Esp. SINDCONFECÇÕES)

A criatividade no design e moda deve ser mais bem aproveitada.

A mão de obra possui baixa produtividade.

Políticas públicas

Cooperação

“No setor de confecção o poder público até recebeu algumas proposições, mas é incipiente, não há interesse do próprio setor em se unir para buscar melhorias” (Esp. SEBRAE). "Os projetos da prefeitura na concessão de crédito têm privilegiado bastante as empresas de confecção, mesmo as facções" (Esp. SDE). "O Centro Fashion é um projeto da prefeitura que foi assumido por um parceiro privado, a concessão dos locais foi toda avaliada pelo parceiro privado, a gente criou o espaço, fez incentivos para chegar naquele centro [...]" (Esp. SDE).

Baixo interesse do poder público em se unir para fomentar o setor.

Proximidade geográfica

Cooperação “[...] a proximidade não é tão importante não, a não ser que seja pra cooperar entre elas, cooperar sim [...]” (Esp. SEBRAE).

A proximidade geográfica influencia positivamente na cooperação.

Proximidade geográfica

Especialização "A especialização é a essência de um APL. Fortaleza é muito fácil de montar um APL, porque é fácil localizar e lhe dou um mapa aqui dentro quem faz camisa masculina, quem faz a moda íntima [...]" (Esp. UFC).

Há proximidade geográfica por segmento do setor, proporcionando

a especialização.

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Quadro 19 - Apresentação dos links entre os fatores.

(continuação)

Fator Fator Principais Citações Relação

Proximidade geográfica

Fornecedores

"[...] 85% dos produtos e suprimentos que a empresa precisa para transformar vem de fora, é dependente de São Paulo" (Esp. UFC). "[...] nossos insumos são muito caros, porque estamos distantes aproximadamente 3000 km de nossos principais fornecedores [...]” (Esp. SINDCONFECÇÕES). "Acredito que tem uma boa quantidade de fornecedores em Fortaleza, mas alguns insumos chaves, ainda estão fora do estado, principalmente no eixo Rio/São Paulo" (Esp. SEBRAE).“Aqui tem indústria têxtil, mas não se conecta com a confecção, não há esta conexão” (Esp UFC)."Eu considero, pelos elos, as indústrias em si, que são daquele território, se elas puderem estar mais próximas é melhor, porque elas têm condições de atrair outros elos para próximo deles, então esse fator é importante. Fortaleza é complicado, porque é uma cidade que cresceu muito e você não pode ter qualquer tipo de negócio em qualquer lugar, mas naqueles territórios onde você consegue ter 10, 20 empresas próximas, eu acho vantajoso, que pode atrair tanto fornecedor, como uma academia [...]” (Esp. SEBRAE).

Fortaleza possui quantidade consistente de fornecedores,

entretanto, muitos com as fábricas distantes e onerando o produto.

Presença da indústria têxtil, mas que não atende o mercado local.

A aglomeração de empresas em uma região atrai fornecedores.

Proximidade geográfica

Infraestrutura "Hoje as distâncias são muito pequenas, demora mais por causa do trânsito" (Esp. SENAI). As distâncias são pequenas,

entretanto, com dificuldade de mobilidade.

Proximidade geográfica

Inovação "Eu não acho tão importante (proximidade geográfica), nós vivemos hoje na revolução digital, que infelizmente a nossa confecção não alcançou a sua plenitude, nós podemos trocar informações, nós podemos comercializar produtos, os contatos se estreitaram [...]" (Esp. SCIDADES).

A revolução digital diminui a necessidade de proximidade

geográfica.

Reaproveitamento de resíduos

Cooperação "Para o nosso setor, a gente não enxergou como reaproveitar e isso é um grande problema" (Esp. SINDCONFECÇÕES). O aglomerado carece de uma forma de reaproveitamento dos resíduos

industriais.

Reaproveitamento de resíduos

Políticas públicas

"Em Fortaleza não está ruim porque existe um projeto de coleta dos resíduos e destinação às cooperativas, este projeto é bem estruturado [...]" (Esp. UFC). "[...] uma obrigação das empresas em realizar uma destinação correta [...]" (Esp. SINDCONFECÇÕES).

A destinação correta dos resíduos é uma obrigação legal e há um projeto municipal de atendimento do setor.

Recursos Humanos

Governança/ Coordenação

"Eu vejo a criatividade aqui, nosso povo é muito criativo, nossos estilistas são muito considerados" (Esp. SINDCONFECÇÕES). "Mão de obra treinada e capacitada, assim como o pessoal de gestão" (Esp. SENAI). "A vantagem é que tem muitos cursos de moda, Fortaleza tem um estudo muito grande de tendência" (Esp. UFC).

As instituições de apoio e governança proporcionam capacitação profissional.

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Quadro 19 - Apresentação dos links entre os fatores.

(conclusão) Fator Fator Principais Citações Relação

Recursos Humanos

Políticas públicas

"Porque os encargos sociais nas empresas estão muito grandes, e os empresários estão levando a carga, então eles estão reduzindo o pessoal do operacional pra reduzir os custos fixos, jogando isso para os terceirizados, porque estes não pagam imposto" (Esp. UFC). "[...] porque o salário é baixo, os empresários querem colocar bônus para adicionar ao salário, mas os encargos sociais não permitem, porque o custo é muito caro" (Esp. UFC). "[...] nosso salário aqui no Ceará é muito baixo" (Esp. SINDCONFECÇÕES").

O salário no setor é muito baixo e com altos encargos sociais.

Recursos Humanos

Proximidade geográfica

"[...] você tem uma concentração, e tem grandes empresas de vestuário, e isso acaba disponibilizando mão de obra devido à rotatividade de funcionários, e empresas de médio e pequeno porte acabam se formando por essa facilidade de captação [...]" (Esp. SENAI). "No Montese, Damas, etc, se tem essa situação, onde se criou essa mesma cultura, onde se tem muita mão de obra disponível, aí nasce uma loja do lado da outra, e aí se tem as lojas de fábrica e a confecção fica por trás [...]" (Esp. SENAI).

A concentração de empresas favorece a disponibilidade de mão

de obra.

Fonte: O autor (2019)

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4.2.2.4 Síntese dos resultados com painel de especialistas

Esta etapa levou em consideração como os entrevistados visualizam o setor de

confecção do vestuário tanto em aspectos gerais, como também em aspectos mais relacionados

ao desempenho de um aglomerado. Nesta análise foram considerados três grupos ou famílias

de assuntos relacionados: perspectivas de cluster, desempenho do cluster e fatores do cluster.

Sobre a família perspectivas de cluster, se obteve como principais resultados as

informações de que em Fortaleza não há atualmente nenhuma formalização de associativismo

empresarial, além do que é formado pelos sindicatos, com poucas empresas associadas. O que

há de mais estruturado encontra-se em um município chamado Frecheirinha, bem distante de

Fortaleza.

Como locais mais indicados para a estruturação de um cluster, foram citadas as

regiões onde estão localizados os bairros Montese e Barra do Ceará, sendo estes os locais

também identificados na primeira etapa desta pesquisa, usando uma análise quantitativa. Neste

mesmo ponto, foi também sugerido que as organizações sejam realizadas por segmentos do

setor.

A instituição mais indicada para conduzir a coordenação de um cluster seria o

sindicato, tanto por ser uma percepção dos especialistas, como também por ser de interesse do

próprio sindicato. Apesar de haver um consenso de que um cluster seria benéfico para a região

e que proporcionaria oportunidades e vantagem competitiva, acredita-se que, na visão da

maioria dos especialistas, um cluster formalizado não seja viável, principalmente pela falta de

interesse e individualismo dos empresários.

Sobre a família desempenho do cluster, foram destacadas algumas características

intrínsecas deste setor, que é a existência de uma segmentação clara, com predominância de

roupas femininas e um acentuado trabalho de terceirização por meio de facções. Sobre as

expectativas, acredita-se que houve uma redução de empresas devido à crise econômica que o

país enfrenta, entretanto, há a percepção de que as empresas que estão passando por este

processo estão se fortalecendo. Em Fortaleza há um mercado local consistente e o principal

concorrente é o cluster de Pernambuco.

Algumas potencialidades e obstáculos foram identificados no setor de confecção do

vestuário, sendo que as potencialidades mais citadas estão relacionadas com o fator Recursos

humanos, considerando-se a capacidade técnica e a experiência da mão de obra operacional,

assim como o alto nível do pessoal de criação e desenvolvimento do produto. O fator Cultura

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também é expressivo, devido à tradição na indústria de confecção na região, gerando emprego

e renda há muito tempo.

Concernente aos obstáculos, os mais citados estão relacionados também com o fator

Recursos humanos, mais especificamente com relação ao declínio da profissão de costureira,

estimulado pelos baixos salários e condições ruins de trabalho; o fator Cooperação,

caracterizado pelo individualismo presente na cultura dos empresários, e o fator Políticas

públicas, marcado pela falta de combate ao trabalho informal e arrocho às empresas

formalizadas, entre outros obstáculos.

Na análise da última família, sobre os fatores que influenciam o cluster, há várias

particularidades em cada um dos 18 fatores, entretanto, dois fatores merecem um destaque

especial. O primeiro é fator Recursos humanos, o mais apontado em toda esta etapa da pesquisa

(29 citações), sendo destacado como o principal obstáculo do setor de confecção do vestuário

de Fortaleza, apesar de também possuir potencialidades relevantes. O segundo fator é

Cooperação, que também foi citado como um importante obstáculo para a estruturação do

cluster, com uma forte cultura de individualismo e oportunismo, este fator também se destaca

por ser o que possui mais vínculos (11 links) com os demais fatores.

Diante de todas estas interpretações, e levando em consideração os pontos mais

importantes para a condução de mecanismos que possam promover o enriquecimento do setor

de confecções, cabe à etapa seguinte desta pesquisa uma averiguação junto às empresas para

obter maiores informações sobre o cluster e verificar se as percepções dos especialistas se

ajustam com a percepção dos empresários.

4.3 Percepção empresarial sobre o cluster

Com o intuito de obter maiores informações sobre o cluster identificado, a pesquisa

se direcionou às empresas presentes na região, através de um senso com as 295 empresas

identificadas e presentes no banco de dados do Guia Industrial do Ceará. Nesta etapa, foi

utilizado o questionário apresentado no Apêndice B, o qual se divide em duas partes, a primeira

explora a identificação da empresa, com nove questões, e a segunda explora as características

da organização do aglomerado, com seis questões.

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4.3.1 Coleta e purificação de dados

A coleta de dados foi realizada nos meses de setembro e outubro de 2019.

Inicialmente foram enviados e-mails a todas as empresas explicando o objetivo da pesquisa,

esclarecendo todos os procedimentos éticos e solicitando que respondessem o formulário. Neste

primeiro contato não foi obtida nenhuma resposta, então após cinco dias foram novamente

enviados e-mails a todas as empresas e do mesmo modo não houve nenhuma resposta.

Assim, a partir da terceira semana se iniciou um contato por telefone e diante de

uma relação mais pessoal, alguns representantes de empresas começaram a enviar alguns

formulários respondidos. Esse trabalho de ligações telefônicas se estendeu até o final do mês

de outubro, tendo em vista a dificuldade em se conseguir falar com os representantes

empresariais.

A Tabela 14 apresenta os resultados nesta etapa de coleta de dados, mostrando tanto

a taxa de retorno como a taxa de questionários válidos.

Tabela 14 - Taxa de retorno e de questionários válidos.

COLETA DE DADOS EMPRESAS TAXA

Universo da Pesquisa 295 100%

Contatos não mais existentes 80 27%

Empresas que não atuam mais no setor 6 2%

Informaram não querer responder 20 7%

Foram contatados, mas não responderam 101 34%

Participantes da pesquisa (Taxa de retorno) 88 30%

Respondentes fora da região da pesquisa 5 6%

Respondentes não habilitados 5 6%

Empresários individuais 4 4%

Taxa de Questionários Válidos 74 84%

Fonte: O autor (2019).

Percebe-se na Tabela 14 que houve um retorno de 30% de todo o universo da

pesquisa, totalizando 88 respondentes, uma grande quantidade de não respondentes (27%) foi

devido a empresas que não foram localizadas por meio do banco de dados utilizado. A

justificativa encontrada para este ocorrido foi que apesar das informações serem da última

versão do Guia Industrial do Ceará (2017 com ano base 2016), apenas três anos para a coleta

de dados, percebeu-se que os dados são bem anteriores a 2016, logo, muitas empresas foram

desativadas, mudaram de endereço ou estavam com seus contatos alterados.

A baixa taxa de retorno em questionários é uma característica em pesquisas

brasileiras, como foi ratificado nesta pesquisa e mencionado por Baptista e Campos (2018).

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Concernente à taxa de questionários válidos, 84% dos questionários foram

validados. Alguns respondentes, apesar de pelo banco de dados constarem dentro da região

alvo, ao responderem informaram que haviam mudado da região, outros foram descartados por

terem sido respondidos por pessoas que não faziam parte da gestão e ainda outros foram

descartados porque eram empresas individuais, que relataram não possuir nenhum funcionário.

4.3.2 Identificação da empresa

Alguns pontos foram analisados em relação à identificação das empresas alvo da

pesquisa, para isso foram aplicadas nove questões, sendo: 1) bairro, 2) número de funcionários,

3) função do respondente, 4) sexo, 5) idade, 6) escolaridade, 7) linha de produtos, 8) etapas de

produção e 9) terceirização de processos. Tais conjuntos de análises estão descritos a seguir.

1) Na etapa da definição da região a ser pesquisada foram determinados os bairros

que fariam parte da pesquisa, conforme apresentado na Tabela 13. Entretanto, durante a coleta

de dados se observou que o bairro Vila Pery foi mencionado por algumas empresas que pelas

informações do banco de dados estavam situados em bairros próximos, deste modo este bairro

foi incluído nos resultados, totalizando 17 bairros.

A Figura 25 apresenta os bairros onde se encontram as empresas respondentes, e

como não foram obtidos os endereços exatos das empresas, apenas os bairros, as indicações

apontam apenas a quantidade obtida em cada bairro.

Figura 25 – Localização dos respondentes da pesquisa.

Fonte: O autor (2019); mapa IPECE (2017).

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Foi possível obter respondentes em todos os bairros alvos da pesquisa, com

destaque em bairros como Vila União, Montese e Bom Sucesso, nos quais houve maior número

de respondentes. A região da Vila União e Montese possui dois shoppings direcionados ao setor

de confecção do vestuário, já na região do Bom Sucesso não há nenhum centro comercial

expressivo.

2) Na segunda pergunta, em relação ao número de funcionários, as empresas

puderam informar o número destes, sem uma prévia divisão de classes, assim, apresenta-se na

Tabela 15 a distribuição de frequência encontrada.

Tabela 15 - Distribuição de frequência para número de funcionários.

Número de funcionários Frequência

absoluta Frequência relativa (%)

1 Ͱ 55 59 79,7

55 Ͱ 108 6 8,1

108 Ͱ 162 2 2,7

162 Ͱ 215 4 5,4

215 Ͱ 269 1 1,4

269 Ͱ 322 1 1,4

322 Ͱ 376 0 0,0

376 Ͱ 429 1 1,4

Fonte: O autor (2019).

Observa-se na Tabela 15 que as empresas que possuem entre 1 e 55 funcionários

são mais representativas, com quase 80% do total. De acordo com os dados do Guia Industrial

(FIEC, 2017), ano base 2016, Fortaleza só possuía 2 grandes empresas cadastradas (500 ou

mais funcionários) destas, apenas uma está localizada nesta região alvo da pesquisa, portanto

verifica-se que Fortaleza possui grande predominância de micro e pequenas empresas, que é

uma característica de Arranjos Produtivos Locais.

3) Em relação ao cargo ocupado pelos respondentes a Figura 26 apresenta a

distribuição dos resultados.

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Figura 26 - Cargos ocupados pelos respondentes.

Fonte: O autor (2019).

Conforme apresentado na Figura 26, os cargos ocupados pelos respondentes estão

agrupados em 4 tipos, sendo que gerentes e diretores são a maioria, com 66%, houve também

uma grande quantidade de sócios/proprietários (24%) e por último estão os coordenadores de

setor (9%), vale salientar que esta foi uma questão aberto, então o pesquisador agrupou as

respostas nestas 4 categorias.

4) Sobre o sexo dos respondentes a Figura 27 apresenta os resultados obtidos.

Figura 27 - Sexo dos respondentes.

Fonte: O autor (2019).

Os resultados apresentam que houve uma distribuição equilibrada entre os sexos

dos respondentes, não havendo predominância em nenhum dos lados; isso mostra uma forte

presença do sexo feminino, tendo em vista que no Brasil o sexo masculino é mais representativo

em cargos de liderança (HRYNIEWICZ; VIANNA, 2018). Entretanto, segundo Santos (2014),

a maioria dos proprietários das empresas de confecção são mulheres, as quais possuem

24%

9%

35%

31%

Sócio/Proprietário Diretor Gerente Coordenador de setor

49%

51%

Masculino Feminino

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conhecimento dos processos ao trabalharem por longos períodos antes de montar a própria

empresa; as facções são, geralmente, montadas por costureiras que desistem de serem

empregadas para montar o negócio próprio.

Na pesquisa realizada pela FEMICRO, em 2017, foi levantado que 77% dos

proprietários das empresas de confecção em Fortaleza eram do sexo feminino (MOTA, 2017).

5) Concernente à idade dos respondentes, a Figura 28 apresenta como ficou a

distribuição.

Figura 28 - Idade dos respondentes.

Fonte: O autor (2019).

A Figura 28 mostra que o maior percentual (38%) de respondentes possui de 31 a

40 anos, e que os que possuem acima de 41 anos também possuem uma boa representação,

(38%), ou seja, é uma liderança com pessoas predominantemente maduras e com poucos jovens

com idade inferior a 30 anos (25%).

6) Na observação sobre o nível de escolaridade, pela Figura 29 apresenta-se a

distribuição dos respondentes.

3%

22%

38%

19%

19%

Menos de 21 anos De 21 a 30 anos De 31 a 40 anos

De 41 a 50 anos Mais de 50 anos

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Figura 29 - Nível de escolaridade dos respondentes.

Fonte: O autor (2019).

A Figura 29 evidencia que 48% dos respondentes possuem, pelo menos, o ensino

superior completo, mostrando um alto nível de instrução dos gestores nesta região, sendo que

apenas 16% possuem menos do que o ensino médio completo. Esses valores divergem bastante

da média geral do setor, conforme apresentado no estudo da FEMICRO, segundo o qual apenas

6% dos gestores possuíam, pelo menos, o ensino superior completo (MOTA, 2017).

Esta discrepância de valores demonstra que a região observada nesta pesquisa

apresenta um grande diferencial educacional em relação à média do município, isto reforça,

também, a dedução de Santos (2014) que relata uma divisão em dois circuitos econômicos

dentro de Fortaleza, um circuito inferior composto por centros de vendas mais populares e um

circuito superior com centros de vendas mais sofisticados, sendo este último o local onde foi

realizado este estudo.

7) Na identificação das linhas de produtos fabricadas na região, os respondentes

poderiam assinalar mais de uma opção, até mesmo todas. Apresenta-se a Figura 30 com a

distribuição encontrada.

7%4%

5%

22%

14%

36%

4%8%

Ensino fundamental incompleto Ensino fundamental completo

Ensino médio incompleto Ensino médio completo

Ensino superior incompleto Ensino superior completo

Pós-graduação incompleto Pós-graduação completo

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Figura 30 - Linhas de produtos do aglomerado.

Fonte: O autor (2019).

Os 74 respondentes marcaram 143 tipos de produtos, o que dá uma média de

aproximadamente 2 linhas de produtos por fábrica, mas a variação foi de 1 a 7 linhas de

produtos. O produto disparado com maior participação foi o de moda feminina, com 27% das

linhas produzidas pelas empresas, outra com um bom destaque foi o jeans com 18%. Os bairros

que mais mencionaram a produção da moda feminina foram o Jóquei Clube (6 dos 7

respondentes), Vila União (6 dos 9 respondentes) e Montese (5 dos 8 respondentes); em relação

ao jeans, os bairros mais representativos foram Bom Sucesso (7 dos 8 respondentes) e Jóquei

Clube (4 dos 7 respondentes). Esses dados comprovam o que foi dito pela especialista da UFC

ao mencionar que além de haver fortes aglomerados em algumas regiões, há, também,

agrupamentos de empresas que produzem linhas de produtos similares.

Um fato bastante interessante é que, segundo Santos (2014), a produção de

confeccionados em Fortaleza, apesar de ser diversificada, está mais concentrada na fabricação

do jeans e da “modinha”. Entretanto, na região desta pesquisa, a “modinha”, que é um produto

de baixo valor agregado, não obteve bastante destaque (apenas 7%), mostrando que as linhas

de produtos possuem um maior nível de desenvolvimento, comparadas com o restante do

município.

8) Na verificação das etapas dos processos produtivos que são realizadas nas

empresas, os respondentes também puderam assinalar tantas alternativas quantas fossem

necessárias. A Figura 31 apresenta os resultados encontrados.

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Emp

resa

s

Quantidade Percentual

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Figura 31 - Etapas do processo produtivo realizadas.

Fonte: O autor (2019).

A Figura 31 apresenta uma uniformidade na quantidade de empresas por etapa do

processo produtivo. As únicas etapas que aparecem com pouca representatividade são lavagem

industrial e outros. A primeira porque a lavagem industrial é uma etapa específica dos

produtores de jeans, sendo uma etapa geralmente terceirizada por empresas especializadas nesta

atividade. Já na etapa outros, aparecem atividades bem peculiares como serigrafias e bordados.

Este cenário apresenta uma característica importante e peculiar desta região da pesquisa, onde

não há evidência da etapa de costura, mostrando que não há um número elevado de facções,

que são empresas mais voltadas para a montagem, utilizando apenas etapas como costura e

acabamento.

9) Sobre o volume de empresas que terceirizam, a Figura 32 expressa a divisão

encontrada.

Figura 32 - Empresas que terceirizam etapas do processo produtivo.

Fonte: O autor (2019).

0%

5%

10%

15%

20%

25%

010203040506070

Emp

resa

s

Quantidade Percentual

51%

27%

22%

Sim Não Às vezes

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180

Pela Figura 32 percebe-se que 73% das empresas terceirizam sempre ou às vezes

alguma etapa do processo produtivo e apenas 27% não realizam esta ação. Observando os

resultados da questão anterior, representados pela Figura 31, nota-se que como a grande maioria

das empresas realizam todas as etapas do processo internamente, o que é terceirizado representa

apenas um percentual da produção, entretanto esta pesquisa não buscou investigar o volume do

que é terceirizado.

Em uma questão complementar (9.1) sobre as etapas que são terceirizadas, de

acordo com o número de empresas e o percentual, estão apresentados na Figura 33.

Figura 33 - Etapas terceirizadas pelas empresas.

Fonte: O autor (2019).

Os resultados demonstram que poucas empresas chegam a terceirizar as atividades

iniciais de fabricação (criação de moda / design, modelagem e corte) e a etapa mais terceirizada

é a costura, com 37 das 74 empresas realizando esta prática. Pode-se identificar que a região

investigada possui em sua maioria empresas que desenvolvem e modelam seus próprios

produtos, além de possuírem estrutura para montarem uma parcela da demanda.

4.3.3 Análise do aglomerado

A análise das características voltadas para a organização do aglomerado de

empresas se fez por meio de uma divisão de seis conjuntos de perguntas, sendo: 1) principais

potencialidades do aglomerado; 2) interesse em ações conjuntas; 3) tipos de ações conjuntas

sugeridas; 4) ações conjuntas já em prática; 5) se foi convidado para participar de associações;

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Criação demoda / design

Modelagem Corte Costura Lavagemindustrial

Acabamento outros

Emp

resa

s

Quantidade Percentual

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181

6) se atualmente está afiliado a alguma associação. Tais conjuntos de análises estão descritos a

seguir.

1) Principais potencialidades do aglomerado – nesta análise buscou-se identificar

os benefícios que a empresa obtém por estar localizada na região com alta concentração de

empresas do mesmo setor. A Tabela 16 apresenta o resultado quantitativo para as variáveis que

foram analisadas.

Tabela 16 - Principais potencialidades do aglomerado.

Fonte: O autor (2019).

Principais vantagens do aglomerado1

- D

isco

rdo

tota

lme

nte

2 -

Dis

cord

o

par

cial

me

nte

3 -

Ind

ife

ren

te

4 -

Co

nco

rdo

par

cial

me

nte

5 -

Co

nco

rdo

tota

lme

nte

Status

a) Há abundante disponibilidade de

mão de obra nesta região.8% 14% 26% 34% 19%

Tendência à

concordância

b) A mão de obra é altamente

qualificada.9% 19% 34% 28% 9% Indiferente

c) A mão de obra é altamente

produtiva (rápida e eficiente).4% 19% 27% 36% 14%

Tendência à

concordância

d) Os jovens são altamente

interessados em ingressar neste setor.22% 28% 30% 15% 5%

Tendência à

discordância

e) Há disponibilidade de

designers/estilistas de alto nível.11% 28% 31% 20% 9% Indiferente

f) A mão de obra é muito bem

remunerada.11% 16% 31% 34% 8% Indiferente

g) Há muitos fornecedores de insumos

e matérias primas nesta região.11% 15% 16% 35% 23%

Tendência à

concordância

h) Há muitos fabricantes de máquinas

e equipamentos nesta região.26% 23% 19% 22% 11% Indiferente

i) Há fácil acesso aos grandes

fabricantes locais de tecidos.19% 23% 16% 32% 9% Indiferente

j) Há alta proximidade de

universidades e escolas técnicas.22% 19% 23% 31% 5% Indiferente

k) Há muitos clientes/consumidores

nesta região.7% 9% 30% 34% 20%

Tendência à

concordância

l) Há excelente infraestrutura na região

(energia, transporte, segurança, etc).3% 18% 24% 42% 14%

Tendência à

concordância

m) Há fácil acesso ao crédito junto às

instituições financeiras.7% 15% 32% 34% 12% Indiferente

n) Não há casos de falsificação das

marcas de roupas.28% 19% 26% 14% 14% Indiferente

o) Há reduzido número de

concorrentes informais.47% 20% 16% 9% 7%

Tendência à

discordância

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182

Os resultados vistos na Tabela 16 indicam que cinco variáveis (“a”, “c”, “g”, “k” e

“l”) possuem uma tendência à concordância, duas variáveis (“d” e “o”) possuem uma tendência

à discordância, oito variáveis (“b”, “e”, “f”, “h”, “i”, “j”, “m” e “n”) mostraram-se indiferentes

e nenhuma variável seguiu a convergência para alguma das alternativas.

2) Interesse em ações conjuntas com outras empresas ou agentes da região – nesta

análise buscou-se saber o nível de importância que as empresas dão às ações cooperativas. A

Tabela 17 apresenta o resultado quantitativo para as variáveis que foram analisadas.

Tabela 17 - Interesses em ações conjuntas.

Fonte: O autor (2019).

Os resultados vistos na Tabela 17 indicam que duas variáveis (“a” e “c”) possuem

uma tendência à concordância, uma variável (“b”) convergiu para a alternativa concordo

totalmente, três variáveis (“d”, “e” e “f”) mostraram-se indiferentes e nenhuma variável seguiu

a tendência à discordância.

Neste conjunto de perguntas foi inserido um resultado geral com a média de cada

categoria de resposta. Pode-se observar que 59% das respostas estão em concordo parcialmente

Interesse em ações conjuntas

1 -

Dis

cord

o

tota

lmen

te

2 -

Dis

cord

o

par

cial

men

te

3 -

Ind

ifer

ente

4 -

Co

nco

rdo

par

cial

men

te

5 -

Co

nco

rdo

tota

lmen

te

Status

a) É muito importante trocar

informações sobre os negócios com os

demais empresários.

1% 1% 18% 36% 43%Tendência à

concordância

b) É muito importante a cooperação

envolvendo confiança mútua entre as

empresas.

1% 1% 12% 31% 54% Convergência

c) Estou muito disposta(o) a investir o

meu tempo em ações conjuntas com

outras empresas.

1% 5% 30% 34% 30%Tendência à

concordância

d) Estou muito disposto(a) a investir

recursos materiais em ações conjuntas

com outras empresas.

4% 19% 30% 28% 19% Indiferente

e) Estou muito disposto(a) a investir

recursos financeiros em ações conjuntas

com outras empresas.

9% 14% 45% 23% 9% Indiferente

f) Estou muito disposto(a) a me afiliar a

associações ou outros meios de unir as

empresas e demais agentes locais.

8% 4% 41% 34% 14% Indiferente

MÉDIA 4% 7% 29% 31% 28% Tendência à

concordância

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183

ou concordo totalmente, que dá um resultado geral de tendência à concordância, isso mostra

que os empresários/gestores possuem um grande interesse em ações cooperativas.

3) Tipos de ações conjuntas sugeridas – nesta análise buscou-se conhecer quais

ações são mais aceitas para que possam ser realizadas de forma cooperativa entre as empresas

do setor. A Tabela 18 apresenta o resultado quantitativo para as variáveis que foram analisadas.

Tabela 18 - Tipos de ações conjuntas.

Fonte: O autor (2019).

Os resultados vistos na Tabela 18 indicam que sete variáveis (“a”, “b”, “c”, “e”,

“g”, “i” e “j”) possuem uma tendência à concordância, uma variável (“h”) convergiu para a

alternativa concordo totalmente, duas variáveis (“d” e “f”) mostraram-se indiferentes e

nenhuma variável seguiu a tendência à discordância.

Quando interrogados sobre a existência de outras ações que pudessem ser realizadas

em conjunto com outras empresas ou agentes da região, foram apresentadas apenas as sugestões

de exportação e processos de tinturaria e acabamento de tecidos.

Tipos de ações conjuntas

1 -

Dis

cord

o

tota

lmen

te

2 -

Dis

cord

o

par

cial

men

te

3 -

Ind

ifer

ente

4 -

Co

nco

rdo

par

cial

men

te

5 -

Co

nco

rdo

tota

lmen

te

Status

a) Compra conjunta de matérias primas. 5% 15% 19% 32% 28%Tendência à

concordância

b) Compra conjunta de máquinas e

equipamentos.4% 15% 20% 32% 28%

Tendência à

concordância

c) Venda conjunta de produtos. 5% 20% 24% 35% 15%Tendência à

concordância

d) Desenvolvimento conjunto de

produtos (contratação de designers/

estilistas, pesquisa de materiais, etc).

11% 19% 28% 28% 14% Indiferente

e) Capacitação conjunta de recursos

humanos.3% 7% 26% 39% 26%

Tendência à

concordância

f) Obtenção conjunta de financiamentos. 9% 18% 32% 24% 16% Indiferente

g) Reivindicações conjuntas ao governo

ou outras instituições.1% 9% 14% 26% 50%

Tendência à

concordância

h) Participação conjunta em feiras, etc. 4% 8% 12% 23% 53% Convergência

i) Obtenção conjunta de apoio à gestão

e consultoria técnica.3% 5% 22% 26% 45%

Tendência à

concordância

j) Contratação conjunta de assessoria

jurídica.4% 11% 26% 27% 32%

Tendência à

concordância

MÉDIA 5% 13% 22% 29% 31% Tendência à

concordância

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184

4) Na verificação para saber se as empresas já realizavam algum tipo de ação em

cooperação com outra empresa ou agente local, obteve-se o resultado apresentado na Figura 34.

Figura 34 - Empresas com ações cooperativas

Fonte: O autor (2019).

Verifica-se que apenas 18% das empresas realizam ações conjuntas, mesmo que

esporadicamente, e 81% não realizam nenhum tipo de ação cooperativa. Isso mostra um

baixíssimo nível de interação empresarial, que é o principal objetivo de um cluster por meio de

ações deliberadas e potencializando o ganho de eficiência.

Na questão complementar (4.1), foi questionado sobre quais ações conjuntas

estavam sendo realizadas pelas empresas e as respostas foram:

• Central de compras (3 empresas);

• Vendas conjuntas (4 empresas);

• Divulgação conjunta (2 empresas);

• Troca de informações diversas (2 empresas);

• Ações beneficentes (2 empresas).

As respostas mostram que é possível realizar algumas ações conjuntas, até mesmo

compras e vendas conjuntas, que alguns especialistas apresentaram não ser muito possível.

5) Sobre o questionamento para saber se as empresas já haviam sido convidadas

para participar de algum tipo de associação, os resultados podem ser vistos na Figura 35.

9%

81%

9%

Sim Não Às vezes

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185

Figura 35 - Convidados para realização de ações conjuntas

Fonte: O autor (2019).

A Figura 35 mostra que a grande maioria das empresas (61%) não recebeu qualquer

tipo de convite para participar de associações empresariais. Isso mostra poucas ações

desenvolvidas por instituições públicas ou privadas no sentido de organizar e unir o setor. Uma

pergunta complementar (5.1) buscou identificar quais instituições chegaram a realizar o convite

de associativismo, a Figura 36 apresenta os resultados obtidos.

Figura 36 - Instituições promotoras de associações empresariais.

Fonte: O autor (2019).

A Figura 36 mostra que os principais interessados em aproximar as empresas do

setor são os próprios empresários locais e os sindicatos da categoria, há também uma parcela

de convites por parte do SEBRAE e outros (FIEC e shoppings). Identifica-se, também, que não

há manifestações por parte do setor público e por empresas de grande porte, isso mostra a falta

de apoio governamental e que a governança por grandes empresas não é uma característica

desta região, neste caso os processos de inovação são oriundos das pequenas empresas não

havendo apoio e transbordamentos das grandes empresas.

39%

61%

Sim Não

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

0

2

4

6

8

10

12

14

Empresárioslocais

SEBRAE Setor público Sindicatos Grandeempresa

Outros:

Emp

resa

s

Quantidade Percentual

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186

6) A pesquisa buscou saber se as empresas estavam efetivamente associadas a

algum tipo de instituição que promovesse o associativismo. A Figura 37 apresenta os resultados

obtidos.

Figura 37 - Percentual de empresas afiliadas a algum tipo de associação.

Fonte: O autor (2019).

As Figuras 35 e 37 mostram, respectivamente, percentuais bem parecidos entre

empresas que foram convidadas para participar de associações e as que estavam efetivamente

afiliadas. Pode-se entender, portanto, que está faltando uma maior atuação para convidar e

captar empresas para atuações conjuntas. A questão complementar (6.1) buscou identificar

quais são as instituições em que as empresas estão afiliadas e as 15 empresas que responderam

à pergunta informaram estar afiliadas a algum tipo de sindicato, apenas uma empresa informou

que estava associada a um grupo de WhatsApp.

4.3.4 Síntese da percepção empresarial sobre o cluster

Uma percepção bastante evidente desta pesquisa, primeiramente concernente à

identificação das empresas, é que a região escolhida possui algumas características que a

diferenciam dos padrões normalmente encontrados nas empresas de confecção do município de

Fortaleza. Tais características são:

• o sexo dos proprietários e gestores não tem grande predominância feminina, isto

provavelmente evidencia que as empresas não são, em sua maioria, geridas por ex-

costureiras que decidiram montar o seu próprio negócio;

• o nível de escolaridade dos proprietários e gestores é bem superior ao contexto geral

do setor;

36%

64%

Sim Não

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187

• poucas empresas apontaram ter a “modinha” em suas linhas de produção, isso

demonstra que a região prefere produtos com maior valor agregado;

• baixa presença de empresas especializadas nas montagens de peças (facções), isto

pôde ser observado devido muitas empresas fazerem várias etapas do processo

produtivo, desde o desenvolvimento do produto até o acabamento;

• há concentrações de empresas em determinadas regiões, de acordo com as linhas de

produtos.

As características apresentadas mostram que a região analisada possui um maior

nível de desenvolvimento, comparado aos padrões do setor no mesmo município.

Com relação à análise das características organizacionais do aglomerado de

empresas desta pesquisa, as principais considerações são:

• a região apresenta algumas potencialidades, conhecidas como economias externas,

que são peculiares de clusters, e que favorecem o seu fortalecimento, como: a

existência de mão de obra em abundância e considerada produtiva; a presença

massiva de fornecedores de insumos e matérias-primas e a existência de bons

mercados consumidores. Estas variáveis apresentaram uma tendência à concordância

por parte dos entrevistados;

• alguns obstáculos foram comprovados. Primeiro, os jovens não estão interessados

em ingressar no setor de confecção, podendo ocorrer uma queda na oferta de mão de

obra; segundo, há um elevado número de empresas informais, as quais podem causar

uma série de problemas para o setor, como uma concorrência desleal com as

empresas formalizadas. Estas variáveis apresentaram uma tendência à discordância

por parte dos entrevistados quando apresentadas de forma positiva;

• os empresários/gestores apresentaram uma certa disposição na realização de ações

conjuntas, mostrando-se dispostos a trocar informações, à cooperação envolvendo

confiança mútua e até mesmo dispostos a investir tempo nestas ações. Entretanto,

não possuem a mesma convicção quando é necessário o aporte de recursos materiais

e financeiros ou a afiliação em associações a fim de unir as empresas e demais

agentes locais;

• dos 10 tipos de ações conjuntas propostas em avaliação, em apenas duas não houve

convicção e os respondentes mostraram-se indiferentes, nas demais houve tendência

à concordância ou convergência em concordo totalmente. Isto mostra que as

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188

empresas podem se unir em várias formas de ações para fortalecer o cluster.

Entretanto, 81% delas responderam não realizar nenhum tipo de ação conjunta no

momento;

• poucos mecanismos de associativismo foram apresentados às empresas, de modo que

apenas 39% mencioram ter recebido algum tipo de convite para este fim, sendo que

as instituições mais mencionadas foram o sindicato e a própria organização

empresarial e nenhuma empresa mencionou ter recebido algum convite do setor

público para o fomento do associativismo no setor;

• atualmente apenas 36% das empresas pesquisadas estão afiliadas ao sindicato, única

instituição mencionada.

Estas são as principais considerações nesta etapa de verificação junto às empresas

do setor da região alvo da pesquisa. Na próxima seção será apresentada uma comparação desta

análise com a percepção dos especialistas, conforme apresentado na etapa qualitativa.

4.3.5 Comparação percepção especialistas x percepção empresarial

Estas duas últimas etapas da tese, a qualitativa, com a percepção dos especialistas,

e a quantitativa, com a percepção empresarial, geraram importantes informações

complementares, específicas de cada grupo de entrevistados.

Foram úteis, também, para esclarecer alguns aspectos dúbios entre elas, assim, esta

seção busca apresentar os pontos de vista dos dois grupos em alguns dos principais aspectos do

cluster. Tais aspectos abordados são: i) potencialidades da região do cluster; ii) interesse

cooperativo dos empresários/gestores; iii) tipos de ações conjuntas.

Potencialidades da região do cluster – na etapa de investigação com os

especialistas surgiram muitas citações de fatores que poderiam impulsionar o cluster, sendo que

algumas geraram dúvidas porque alguns especialistas tinham opiniões divergentes. O Quadro

20 apresenta as potencialidades investigadas e os resultados de ambas as etapas da pesquisa

(percepção de especialistas e de empresários/gestores). Na última coluna apresenta-se um

parecer baseado nas percepções.

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189

Quadro 20 - Comparação sobre potencialidades do cluster. Potencialidades da

região do cluster

Percepção

especialistas

Percepção

empresários/gestores Parecer

a) Abundante

disponibilidade de mão

de obra.

Não houve

consenso entre

especialistas.

Tendência à concordância

(53% concordam parcialmente ou

totalmente).

Empresários confirmam

potencialidade.

b) Mão de obra

altamente qualificada. Não houve

consenso entre

especialistas.

Mostraram-se indiferentes (o

somatório não ultrapassou 50%

em concordância ou

discordância).

Sem consenso.

c) Mão de obra

altamente produtiva

(rápida e eficiente).

Discordaram,

apontando como

obstáculo.

Tendência à concordância

(50% concordam parcialmente ou

totalmente).

Sem consenso, possível

potencialidade da região

específica.

d) Jovens altamente

interessados em

ingressar no setor.

Discordaram,

apontando como

obstáculo.

Tendência à discordância

(50% discordam parcialmente ou

totalmente).

Obstáculo confirmado

por ambos.

e) Alta disponibilidade

de designers / estilistas.

Concordaram,

apontando como

potencialidade.

Mostraram-se indiferentes (o

somatório não ultrapassou 50%

em concordância ou

discordância).

Especialistas

confirmam potencialidade.

f) Mão de obra muito

bem remunerada. Discordaram,

apontando como

obstáculo.

Mostraram-se indiferentes (o

somatório não ultrapassou 50%

em concordância ou

discordância).

Especialistas

confirmam obstáculo.

g) Muitos fornecedores

de insumos e matérias-

primas.

Não houve

consenso entre

especialistas.

Tendência à concordância

(58% concordam parcialmente ou

totalmente).

Empresários confirmam

potencialidade.

h) Muitos fabricantes de

máquinas e

equipamentos.

Não houve

consenso entre

especialistas.

Mostraram-se indiferentes (o

somatório não ultrapassou 50%

em concordância ou

discordância).

Sem consenso.

i) Fácil acesso a grandes

fabricantes locais de

tecidos.

Não houve

consenso entre

especialistas.

Mostraram-se indiferentes (o

somatório não ultrapassou 50%

em concordância ou

discordância).

Sem consenso.

j) Alta proximidade de

universidades e escolas

técnicas.

Concordaram,

apontando como

potencialidade.

Mostraram-se indiferentes (o

somatório não ultrapassou 50%

em concordância ou

discordância).

Especialistas

confirmam potencialidade.

k) Alta proximidade de

clientes / consumidores

Concordaram,

apontando como

potencialidade.

Tendência à concordância

(54% concordam parcialmente ou

totalmente).

Potencialidade

confirmada por ambos.

l) Excelente

disponibilidade de

infraestrutura

Não houve

consenso entre

especialistas.

Tendência à concordância

(55% concordam parcialmente ou

totalmente).

Empresários confirmam

potencialidade.

m) Fácil acesso ao

crédito financeiro Não houve

consenso entre

especialistas.

Mostraram-se indiferentes (o

somatório não ultrapassou 50%

em concordância ou

discordância).

Sem consenso.

n) Ausência de casos de

falsificação de produtos Discordaram,

apontando como

obstáculo.

Mostraram-se indiferentes (o

somatório não ultrapassou 50%

em concordância ou

discordância).

Especialistas

confirmam obstáculo.

o) Reduzido número de

concorrentes informais Discordaram,

apontando como

obstáculo.

Tendência à discordância

(67% discordam parcialmente ou

totalmente).

Obstáculo confirmado

por ambos.

Fonte: O autor (2020).

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Os pareceres representados no Quadro 20 foram formados da seguinte maneira:

quando um dos grupos se apresenta indiferente ou sem consenso e o outro grupo tem uma

posição definida (positiva ou negativa), mantêm-se a que está definida; quando ambos os grupos

possuem a mesma posição (positiva, negativa ou indiferente), esta será usada no parecer; e

quando os grupos possuem posições definidas (positivas ou negativas), mas contrárias, o

parecer é apresentado sem consenso.

Interesse cooperativo dos gestores – um ponto bastante apontado na etapa com os

especialistas foi o obstáculo da falta de cooperação do setor de confecção de Fortaleza, tendo

12 fragmentos de texto indicando que é um setor desunido e individualista.

Diante desta análise, a etapa de investigação junto aos empresários/gestores avaliou

o interesse deles em ações conjuntas (Questão II – 2 de “a” a “f” do Apêndice B), o resultado

geral diverge da opinião dos especialistas, porque 59% concordaram parcialmente ou

totalmente com as variáveis da questão, conforme apresentado na Tabela 17. As variáveis em

que se mostraram indiferentes foram concernentes ao interesse em investir recursos materiais e

financeiros e na afiliação a algum tipo de associação.

Outra questão que buscou dirimir a dúvida se, realmente, os empresários/gestores

eram individualistas e desunidos, foi a pergunta se já haviam sido convidados por alguma

instituição para realizar ações conjuntas e 61% disseram que não. Este cruzamento de

informações confirma o que foi dito pela especialista da UFC quando ressaltou que:

Na verdade, digo que a palavra correta não seja realmente a desunião das empresas, o

que há é uma falta de comunicação, falta de encontro. Eu não sei se teria que partir

deles mesmos, ou se o governo teria que partir com a iniciativa, eu acho que o governo

deveria tomar ou alguém como a FIEC, o SEBRAE ou qualquer órgão qualquer (Esp.

UFC).

Ou seja, é possível que o problema não seja a falta de interesse em ações

cooperativas por parte dos empresários e gestores, mas a falta de uma governança para

direcionar projetos com esse foco.

Outro aspecto que pode ser destacado nestes resultados é a de que as empresas

investigadas são formalizadas e talvez percebam a importância de que, mesmo competindo

entre si, necessitam se unir para poderem se tornar mais fortes para competir com outros nichos,

até mesmo com as empresas informais. Ou seja, criar a chamada “coopetição”, conforme

abordado no referêncial teórico.

Tipos de ações conjuntas – este conjunto de perguntas (Questão II – 3 de “a” a “j”

do Apêndice B) junto aos empresários e gestores foi bastante importante para verificar o que

alguns especialistas disseram sobre a inviabilidade de algumas ações devido à competitividade.

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191

Um exemplo é o que disse o especialista do SENAI ao mencionar que por causa do

desenvolvimento de produtos que envolvem moda, isso impede ações conjuntas, como uma

central de compras, por exemplo.

De um modo geral, houve uma tendência à concordância sobre os tipos de ações

conjuntas avaliadas (60%), inclusive sobre a proposta de compras conjuntas se obteve uma

adesão de 61% concordando parcialmente ou totalmente.

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192

5 CONCLUSÕES

Esta pesquisa teve o propósito de analisar o ambiente organizacional de um cluster

de empresas de confecção do vestuário a fim de proporcionar subsídios para potencialização

desta localidade. Considera-se que os resultados atenderam ao objetivo geral desvendando os

principais obstáculos e potencialidades deste sistema, além de fornecer outras informações úteis

para o desenvolvimento de estratégias para a sua potencialização.

Para atender este desígnio foi estabelecido um conjunto de quatro objetivos

específicos, os quais são apresentados a seguir com os resultados alcançados.

O primeiro objetivo de identificar os principais fatores associados ao desempenho

de um cluster foi alcançado por meio de uma extensa revisão bibliográfica, a partir da qual

foram destacados 18 fatores, os quais serviram como base para a investigação do ambiente

organizacional da unidade alvo desta pesquisa.

O segundo objetivo foi mapear de forma quantitativa os aglomerados industriais

do setor de confecção do vestuário no município de Fortaleza. Para tanto, inicialmente se

buscou os principais métodos empregados para a identificação de aglomerados e dentre os cinco

encontrados foi selecionado o método de Quociente Locacional (QL), o qual foi utilizado

seguindo a base metodológica desenvolvida por Olivares e Dalcol (2014), que possui uma

sequência de passos que possibilitam, com o auxílio de algumas variáveis de controle, uma

classificação quanto à importância do aglomerado.

Seguindo a metodologia, e utilizando dados da RAIS, foi identificado que o setor

de confecção do vestuário está entre as quatro principais aglomerações de indústrias

manufatureiras de Fortaleza e em primeiro lugar no número de empresas e vínculos

empregatícios. Foi, então, realizado um desmembramento por bairros e utilizados dados do

Guia Industrial do Ceará, quando foi identificada uma região, composta por 16 bairros dentre

os 118 existentes, a qual foi selecionada como objeto de estudo desta pesquisa. Tal região possui

um elevado número de vínculos (6.955) e de estabelecimentos (295), representando

respectivamente 39% e 34% do total do município.

O terceiro objetivo foi analisar a percepção de especialistas de algumas

instituições ligadas ao setor de confecção e/ou ao desenvolvimento regional, sobre o ambiente

organizacional das empresas de confecções de Fortaleza no contexto da viabilidade de

estruturação de um cluster. Uma análise de conteúdo foi realizada a partir das entrevistas e os

resultados foram divididos em três grupos ou famílias de assuntos relacionados: perspectivas

de cluster, desempenho do cluster e fatores do cluster.

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Os principais resultados sobre as perspectivas do cluster foi que atualmente o setor

objeto de estudo não possui nenhuma formalização de associativismo empresarial voltados

especificamente para ações conjuntas entre as empresas; foram indicadas como regiões

propícias para estruturação de clusters as regiões próximas aos bairros Montese e Barra do

Ceará, sendo esta primeira a identificada na análise quantitativa de identificação. O sindicato

da categoria foi apontado como instituição mais adequada para conduzir as ações do cluster e

seria conveniente algum apoio governamental, sendo citada a Secretaria de Desenvolvimento

Econômico (SDE), do governo municipal. Os especialistas avaliaram que um cluster

formalizado não seria viável, principalmente pela falta de interesse e individualismo dos

empresários.

Sobre a família desempenho do cluster, as conclusões foram que houve uma

redução de empresas devido à crise econômica que o país enfrenta, entretanto, há a percepção

de que as empresas que estão passando por este processo estão se fortalecendo.

Algumas potencialidades e obstáculos foram identificados, sendo que as

potencialidades mais citadas estão relacionadas com os fatores Recursos humanos,

considerando-se a capacidade técnica e experiência da mão de obra operacional e também o

alto nível do pessoal de criação e desenvolvimento do produto. Entre os obstáculos, os mais

citados estão relacionados também com o fator Recursos humanos, mais especificamente com

relação ao declínio da profissão de costureira, estimulado pelos baixos salários e condições

ruins de trabalho; o fator Cooperação, caracterizado pelo individualismo presente na cultura

dos empresários, e o fator Políticas públicas, marcado pela falta de combate ao trabalho

informal e arrocho às empresas formalizadas, além de outros obstáculos.

Na análise da última família, sobre os fatores que influenciam o cluster, houve

várias particularidades em cada um dos 18 fatores, entretanto, dois fatores se sobressaíram,

Recursos humanos e Cooperação.

O quarto objetivo averiguou se as principais percepções dos especialistas se

ajustavam com a opinião dos empresários e gestores do cluster identificado, além de

proporcionar algumas informações complementares. As principais conclusões foram que a

região objeto de estudo possui características diferenciadas comparada com os padrões comuns

de empresas de confecção do município, que possuem uma gestão desqualificada e produtos de

baixo valor agregado.

As potencialidades identificadas foram a presença de abundante mão de obra,

também considerada produtiva, e a presença massiva de fornecedores de insumos e matérias-

primas, além de bons mercados consumidores. Como principais obstáculos foram mencionados

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que os jovens não estão interessados em ingressar no setor de confecção e que há um elevado

número de empresas informais, as quais podem causar uma série de problemas para o setor.

Os empresários e gestores se mostraram dispostos à realização de ações conjuntas,

entretanto não possuem a mesma convicção quando é necessário o aporte de recursos materiais

e financeiros ou a afiliação em associações a fim de unir as empresas e demais agentes locais.

Foi verificado, também, que há bastante interesse em alguns tipos de ações conjuntas, entretanto

81% responderam não realizar qualquer tipo de ação neste sentido.

Apesar do aparente interesse em ações cooperativas, apenas 36% estão afiliadas ao

sindicato da categoria e 61% informaram nunca ter recebido algum tipo de convite para o

fomento ao associativismo no setor.

5.1 Limitações do estudo

Uma das limitações deste estudo se deu pela perceptível desatualização das

informações obtidas pelo Guia Industrial do Ceará e que foram utilizadas para acesso às

empresas objeto desta tese. Devido às limitações do Guia, apesar de fornecer dados

relativamente recentes (2016), não foram localizadas 27% das empresas cadastradas.

Outra limitação foi a dificuldade de acesso a alguns especialistas de instituições

importantes e que não conseguiram tempo em suas agendas para poder participar desta

pesquisa. Da mesma forma, houve uma baixa adesão do número de respondentes na pesquisa

com os empresários.

Devido apenas 30% do universo, na pesquisa com as empresas, terem respondido o

questionário, e muitos terem declarado não querer participar (7%) ou foram contatados e não

retornaram o documento respondido (31%), isso pode ter provocado resultados tendenciosos.

A pesquisa abrangeu apenas as empresas formalizadas de modo que não há uma

precisão da quantidade de empresas informais existentes e de qual seria o impacto caso elas

fossem inseridas nesta análise. Salienta-se que houve uma grande representativadade das

empresas formalizadas, dando um suficiente embasamento para possíveis políticas públicas

e/ou ações estratégicas da iniciativa privada.

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5.2 Sugestões para trabalhos futuros

Como proposta para trabalhos futuros, sugere-se comparar se as características do

aglomerado analisado realmente são diferentes das características padrões do setor, conforme

verificado em pesquisas anteriores.

Outra sugestão seria a pesquisa de quais seriam as melhores estratégias públicas

e/ou privadas para a potencialização do cluster, com base na análise desta tese.

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APÊNDICE A

PROTOCOLO DE ENTREVISTA PARA ESPECIALISTAS DO SETOR DE

CONFECÇÃO DO VESTUÁRIO DO MUNICÍPIO DE FORTALEZA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Mecânica

I) PERFIL DO ESPECIALISTA E DA INSTITUIÇÃO

1) Instituição: _______________________________________________________________

2) Nome do Entrevistado:_____________________________________________________

3) E-mail: __________________________________________________________________

4) Função exercida na instituição:______________________________________________

5) Tempo de atuação na função:__________ anos

6) Tempo de atuação no setor têxtil (podendo ser com experiências anteriores ao cargo

exercido atualmente):__________ anos

7) Tempo de atuação em atividades relacionadas à clusters empresariais de qualquer setor

(academia ou diretamente na prática):__________ anos

8) Escolaridade:

Inferior à graduação (1) graduação (2) pós lato-sensu (3) mestrado (4) doutorado

9) Área de formação: ______________________________________________________

10) Número de empresas filiadas (sindicato):___________

11) Percentual aproximado de empresas filiadas para cada porte (sindicato):

micro (até 19 empregados) ________ %;

pequena (de 20 a 99 empregados) ________%;

média (de 100 a 499 empregados) ________ %;

grande (500 ou mais empregados) ________ %.

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II) PERSPECTIVAS NA ORGANIZAÇÃO DE CLUSTER

1) Possui conhecimento de alguma articulação para a organização de um cluster, com uma

coordenação estruturada, do setor de confecção em Fortaleza? Se sim, poderia descrever como

procedeu.

2) Caso a resposta anterior tenha sido afirmativa, relate como foi o papel desta instituição no

processo?

3) Acredita que a existência de um cluster organizado e com uma coordenação/governança ativa

possa contribuir para um melhor desempenho das empresas e consequentemente da Região?

4) Diante da atual estruturação do setor de confecções de Fortaleza, considera que seja viável

essa organização?

5) Esta instituição possui interesse no fomento da criação de um cluster organizado e estaria

disposta em assumir um papel na coordenação deste?

6) Quais os serviços que esta instituição presta a este aglomerado?

7) Quais outros atores podem atuar na organização do cluster nessa região e qual seria o mais

adequado para coordenar um cluster?

8) Existe algum aglomerado específico do setor de confecção, dentro do município de Fortaleza,

que consideraria estar mais apto para a estruturação organizada de um cluster? Se sim, qual(is)

o(s) principais tipos de produtos fabricados por este nicho?

9) A quais motivos se atribui esta concentração tão grande do setor de confecção do vestuário

nesta cidade? (2.081 empresas formalizadas, segundo dados do RAIS -2017)

10) Quais as principais oportunidades que poderiam ser exploradas com uma organização

estruturada de um cluster no setor de confecção do vestuário em Fortaleza?

11) Quais os principais obstáculos para a gestão de um cluster neste setor?

A relação de perguntas desta etapa do questionário se refere à organização de cluster, o qual pode ser definido como “concentrações geográficas de empresas inter-relacionadas, fornecedores especializados, prestadores de serviços, empresas em setores correlatos e outras instituições específicas (universidades, órgãos de normatização e associações), que competem, mas também cooperam entre si” (PORTER, 1993, p. 209).

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III) DESEMPENHO DO SETOR DE CONFECÇÃO DO VESTUÁRIO DE

FORTALEZA

1) De uma forma geral, como considera o desempenho do setor de confecção de vestuário de

Fortaleza dos últimos 10 anos até a atualidade e quais as expectativas para o futuro?

2) Quais os principais obstáculos que podem dificultar o desempenho das empresas deste setor

nesta região?

3)Quais as principais regiões brasileiras produtoras que competem diretamente com a região de

Fortaleza no setor de confecção?

4)Quais as principais vantagens do setor de confecção de Fortaleza frente a seus principais

concorrentes de outras regiões? (qualidade, preço, distribuição, dentre outras)

5)Quais as principais desvantagens do setor de confecção de Fortaleza frente a seus principais

concorrentes de outras? (qualidade, preço, distribuição, dentre outras)

6)Este setor possui indicadores de desempenho para avaliação contínua da eficiência? Se sim,

quais seriam estes indicadores? Poderia apresentar alguns dos resultados de tais indicadores?

IV) AVALIAÇÃO DOS FATORES RELEVANTES NA FORMAÇÃO DE UM

CLUSTER

1 - Cooperação - ato de trabalhar em comum, envolvendo relações de confiança mútua,

havendo atividades e projetos realizados em conjunto entre as empresas, entre empresas e suas

associações, entre empresas e instituições técnicas e financeiras, entre empresas e poder

público, e outras possíveis combinações entre os atores presentes no arranjo (SEBRAE, 2003).

2 - Fornecedores - presença de fornecedores especializados de forma maciça.

3 - Governança/Coordenação e Instituições de Apoio - diferentes modos de coordenação,

intervenção e participação, nos processos de decisão locais, dos diferentes agentes do

aglomerado (LASTRES; CASSIOLATO, 2003, p. 14). A governança poderá ser formada por

empresários e representantes de instituições presentes no arranjo (SEBRAE, 2003).

4 - Competição – nível de rivalidade de acordo com o volume de competição entre as empresas

pertencentes ao aglomerado.

Foram identificados na literatura 18 (dezoito) principais fatores que influenciam diretamente no desempenho de um cluster, avalie de forma quantitativa primeiramente a importância do fator para o sucesso do cluster específico desta pesquisa e em seguida avalie o grau de desempenho neste fator comparado a outros clusters concorrentes. Posteriormente, para cada fator, apresente, de forma subjetiva, sua opinião.

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5 – Difusão de Conhecimento – para operar em um aglomerado, é necessário aprimorar a

gestão do conhecimento interno, porque trabalhar em parceria envolve a aquisição de

conhecimento por meio da experiência, armazenando-o de forma a protegê-lo e disseminá-lo

para as demais organizações (NAKANO, 2005).

6 - Recursos Humanos – oferta de mão de obra especializada e qualificada, essa atratividade

de mão de obra pode ser explicada pela grande demanda de oportunidades de emprego e pela

participação de instituições locais de ensino, como universidades e centros tecnológicos

(BASANT, 2002).

7 - Inovação – processo pelo qual as empresas dominam e implementam o desenvolvimento de

processos e a produção de bens e serviços, que sejam novos para elas, independentemente do fato

de serem novos para seus concorrentes (domésticos ou internacionais) (LASTRES; CASSIOLATO,

2003).

8 - Proximidade – nível de proximidade geográfica entre as empresas e demais atores do

aglomerado.

9 - Infraestrutura – as atividades de infraestrutura geralmente envolvem a atuação do poder

público local fornecendo suporte à atividade privada, como por exemplo, centros de

convenções, aeroportos, estradas, segurança, lazer, dentre outros.

10 - Cultura – cultura comunitária e relacionamento social que contribuem para o

desenvolvimento de um ambiente favorável à cooperação, à troca de experiência e difusão do

conhecimento (PEZOA-FUENTES; VIDAL-SUÑÉ, 2017; VICARI, 2009).

11 - Especialização - refere-se à homogeneidade dentro da aglomeração, ou seja, constitui-se

uma região com forte vocação para um determinado tipo de produto ou serviço, porém, com

uma grande diversidade de empresas focadas ou especializadas em poucas etapas do processo

produtivo (HAEDO; MOUCHART, 2015).

12 - Energia empreendedora - empresa, comunidade ou região que possua uma cultura

empreendedora a fim de visualizar e aproveitar novas oportunidades (SCHMIDT; DREHER,

2008).

13 - Estratégia - estratégia orientada diretamente para o aglomerado, proporcionando a

presença efetiva e deliberada de orientação para ação e decisão das empresas participantes

(ZACCARELLI et al., 2008).

14 - Uniformidade tecnológica - este fator sugere que não devem existir em um mesmo cluster

uma alta disparidade entre os níveis tecnológicos das empresas, ou seja, enquanto algumas

empresas utilizam tecnologias modernas outras utilizam tecnologias obsoletas (ZACCARELLI,

2003).

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15 - Reaproveitamento de resíduos industriais - reciclagem de materiais e o

reaproveitamento de subprodutos gerados pelo cluster.

16 - Políticas públicas - o poder público é um ator sempre presente na atuação dos clusters,

independentemente do tamanho e do grau de complexidade do sistema, de modo que as políticas

públicas atuam nos clusters por meio das ações básicas (cobrança de tributos, regulamentações,

fiscalizações ambientais e trabalhistas, dentre outros) e pela oferta de serviços e equipamentos

básicos nas áreas de educação, saúde, infraestrutura, dentre outros (AMARAL FILHO, 2011).

17 - Disponibilidade de capital - papel de oferecer linhas de créditos atrativas, proporcionando

um elevado reinvestimento dos lucros obtidos gerando um aumento da disponibilidade de

capital circulante no cluster (VICARI, 2009).

18 - Gestão organizacional - existência de empresas organizadas e bem geridas

individualmente.

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APÊNDICE B

QUESTIONÁRIO PARA EMPRESAS DO SETOR DE CONFECÇÃO DO VESTUÁRIO DO MUNICÍPIO DE FORTALEZA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Mecânica

I - IDENTIFICAÇÃO DA EMPRESA - Região alvo da pesquisa (16 bairros).

1. Selecione o bairro da cidade de Fortaleza no qual esta empresa está localizada:

( ) 1 BELA VISTA

( ) 2 BOM FUTURO

( ) 3 BOM SUCESSO

( ) 4 COUTO FERNANDES

( ) 5 DAMAS

( ) 6 DEMÓCRITO ROCHA

( ) 7 HENRIQUE JORGE

( ) 8 ITAOCA

( ) 9 ITAPERI

( ) 10 JOQUEI CLUBE

( ) 11 MARAPONGA

( ) 12 MONTESE

( ) 13 PAN AMERICANO

( ) 14 PARANGABA

( ) 15 SERRINHA

( ) 16 VILA UNIÃO

( ) Outro: ________________

2. Qual o número de funcionários da empresa?

_______

3. Sua função na empresa:

___________________________________________________________

4. Sexo:

( ) Feminino

( ) Masculino

5. Idade:

( ) Menos de 21 anos

( ) De 21 a 30 anos

( ) De 31 a 40 anos

( ) De 41 a 50 anos

( ) Mais de 50 anos

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6. Escolaridade:

( ) Ensino fundamental incompleto

( ) Ensino fundamental completo

( ) Ensino médio incompleto

( ) Ensino médio completo

( ) Ensino superior incompleto

( ) Ensino superior completo

( ) Pós-graduação incompleto

( ) Pós-graduação completo

7. Assinale a(s) linha(s) de produtos fabricados nesta empresa:

( ) Fardamentos em geral

( ) Jeans

( ) Moda feminina

( ) Moda infantil

( ) Moda íntima

( ) Moda masculina

( ) Moda praia

( ) Modinha - confeccionados em malha

( ) Roupa de dormir

( ) Outro: ____________

8. Etapa(s) do processo produtivo realizada(s) nesta empresa:

( ) Criação de moda / design

( ) Modelagem

( ) Corte

( ) Costura

( ) Lavagem industrial

( ) Acabamento

( ) Outro: _____________

9. A empresa terceiriza alguma etapa do processo produtivo?

( ) Sim

( ) Não

( ) Às vezes

9.1. Especifique a(s) etapa(s) que é(são) terceirizada(s):

( ) Criação de moda / design

( ) Modelagem

( ) Corte

( ) Costura

( ) Lavagem industrial

( ) Acabamento

( ) Outro: ____________

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II - ANÁLISE DO AGLOMERADO DE EMPRESAS

1. Considerando as PRINCIPAIS VANTAGENS que a empresa tem por estar localizada

nesta região, indique o seu grau de concordância com cada um dos itens abaixo: Representação da escala: 1 - Discordo totalmente; 2 - Discordo parcialmente; 3 - Indiferente; 4 - Concordo

parcialmente; 5 - Concordo totalmente.

a) Há abundante disponibilidade de mão de obra nesta região.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

b) A mão de obra é altamente qualificada.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

c) A mão de obra é altamente produtiva (rápida e eficiente).

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

d) Os jovens são altamente interessados em ingressar neste setor.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

e) Há disponibilidade de designers/estilistas de alto nível.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

f) A mão de obra é muito bem remunerada.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

g) Há muitos fornecedores de insumos e matérias-primas nesta região.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

h) Há muitos fabricantes de máquinas e equipamentos nesta região.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

i) Há fácil acesso aos grandes fabricantes locais de tecidos.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

j) Há alta proximidade de universidades e escolas técnicas.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

k) Há muitos clientes/consumidores nesta região.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

l) Há excelente infraestrutura na região (energia, transporte, segurança, etc.).

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

m) Há fácil acesso ao crédito junto às instituições financeiras.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

n) Não há casos de falsificação das marcas de roupas.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

o) Há reduzido número de concorrentes informais.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

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2. Considerando o seu interesse em AÇÕES CONJUNTAS com outras empresas ou

agentes dessa região, indique o seu grau de concordância com cada um dos itens abaixo:

a) É muito importante trocar informações sobre os negócios com os demais empresários.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

b) É muito importante a cooperação envolvendo confiança mútua entre as empresas.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

c) Estou muito disposta(o) a investir o meu tempo em ações conjuntas com outras

empresas.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

d) Estou muito disposto(a) a investir recursos materiais em ações conjuntas com outras

empresas.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

e) Estou muito disposto(a) a investir recursos financeiros em ações conjuntas com outras

empresas.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

f) Estou muito disposto(a) a me afiliar a associações ou outros meios de unir as empresas

e demais agentes locais.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

3. Indique o seu grau de concordância com os TIPOS DE AÇÕES que podem ajudar a

fortalecer as empresas da região, conforme itens abaixo:

a) Compra conjunta de matérias-primas.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

b) Compra conjunta de máquinas e equipamentos.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

c) Venda conjunta de produtos.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

d) Desenvolvimento conjunto de produtos (contratação de designers/estilistas, pesquisa de

materiais, etc.).

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

e) Capacitação conjunta de recursos humanos.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

f) Obtenção conjunta de financiamentos.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

g) Reivindicações conjuntas ao governo ou outras instituições.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

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h) Participação conjunta em feiras, etc.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

i) Obtenção conjunta de apoio à gestão e consultoria técnica.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

j) Contratação conjunta de assessoria jurídica.

Discordo totalmente 1 2 3 4 5 Concordo totalmente

Há alguma outra importante ação que possa ser realizada em conjunto com outras

empresas ou agentes desta região? Se sim, qual(is)?

______________________________________________________________________

4. Realiza atualmente alguma ação em cooperação com outra empresa ou agente desta

região?

( ) Sim

( ) Não

( ) Às vezes

4.1. Qual(is) ação(ões) é(são) realizada(s) em cooperação com outras empresas ou agentes

dessa região?

_____________________________________________________________________

5. Já foi CONVIDADO PARA PARTICIPAR DE ALGUM TIPO DE ASSOCIAÇÃO a

fim de realizar ações conjuntas com outras empresas?

( ) Sim

( ) Não

5.1. Informe quem convidou a participar de uma associação?

( ) Empresários locais

( ) SEBRAE

( ) Setor público

( ) Sindicatos

( ) Uma grande empresa da região

( ) Outro:____________________

6. Atualmente está AFILIADO a algum tipo de associação, sindicato ou cooperativa?

( ) Sim

( ) Não

6.1. Em qual instituição está afiliado?

___________________________________________