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1 ANÁLISE DA MAGNITUDE DAS CHEIAS DO MÉDIO RIO DOCE: CLASSIFICAÇÃO E ESTUDO DE CASO DE CHEIA PRONUNCIADA Renata Lisboa Ferreira. Aluna do 5º período de Tecnologia em Gestão Ambiental, IFMG, campus Governador Valadares. [email protected] Fábio Monteiro Cruz. Professor Mestre do IFMG, campus Governador Valadares. [email protected] RESUMO: Cheias ou enchentes são eventos frequentes na bacia do rio Doce, com destaque para o médio rio Doce, onde está situada Governador Valadares. Neste sentido, este trabalho buscou avaliar o padrão das ondas de cheias, classificação de cheias ordinárias e extraordinárias, a análise da magnitude das cheias extraordinárias com estudo de caso do ano com cheia mais expressiva na série histórica analisada. Foram utilizadas séries históricas de vazão máxima anual e vazão média diária, para consolidar um banco de dados que representasse a dinâmica hidrológica temporal do rio Doce, no município de Governador Valadares, fornecendo assim, subsídio à compreensão do comportamento hidrológico do rio Doce e orientar as ações de gestão hídrica na bacia, voltadas para os impactos das cheias anuais. Palavras chave: Cheias; rio Doce; Governador Valadares; Comportamento hidrológico; Impactos socioambientais. ABSTRACT: Floods are frequent events in Doce river basin, with emphasis on the Middle Doce river, which is situated Governador Valadares. Thus, this study aimed to evaluate the pattern of flood waves, classification of ordinary and extraordinary floods, the analysis of the magnitude of the extraordinary filled with case study with more expressive full year in the time series analyzed. Historical series of maximum annual flow and average daily flow were used to build a database to represent the temporal dynamics of hydrological Doce river in the city of Governador Valadares. Thereby providing subsidy to the understanding of the hydrological behavior of the river Doce and guide the actions of water management in the basin, facing the impacts of annual floods. Keywords: Floods; Doce river; Governador Valadares; hydrological behavior socio-environmental impacts. 1. INTRODUÇÃO Observações e evidências têm mostrado que no Estado de Minas Gerais o meio natural apresenta-se degradado em função da expansão histórica das atividades agropecuárias, do extrativismo vegetal, da atividade mineradora, assim como pela expansão urbana e em alguns lugares, de forma mais expressiva, pelo crescimento industrial. A expansão dessas atividades tem ocorrido em diversos graus, com base na

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ANÁLISE DA MAGNITUDE DAS CHEIAS DO MÉDIO RIO DOCE:

CLASSIFICAÇÃO E ESTUDO DE CASO DE CHEIA

PRONUNCIADA

Renata Lisboa Ferreira. Aluna do 5º período de Tecnologia em Gestão Ambiental,

IFMG, campus Governador Valadares. [email protected]

Fábio Monteiro Cruz. Professor Mestre do IFMG, campus Governador Valadares.

[email protected]

RESUMO: Cheias ou enchentes são eventos frequentes na bacia do rio Doce, com destaque para o médio rio Doce, onde está situada Governador Valadares. Neste sentido, este trabalho buscou avaliar o padrão das ondas de cheias, classificação de cheias ordinárias e extraordinárias, a análise da magnitude das cheias extraordinárias com estudo de caso do ano com cheia mais expressiva na série histórica analisada. Foram utilizadas séries históricas de vazão máxima anual e vazão média diária, para consolidar um banco de dados que representasse a dinâmica hidrológica temporal do rio Doce, no município de Governador Valadares, fornecendo assim, subsídio à compreensão do comportamento hidrológico do rio Doce e orientar as ações de gestão hídrica na bacia, voltadas para os impactos das cheias anuais. Palavras chave: Cheias; rio Doce; Governador Valadares; Comportamento hidrológico; Impactos socioambientais. ABSTRACT: Floods are frequent events in Doce river basin, with emphasis on the Middle Doce river, which is situated Governador Valadares. Thus, this study aimed to evaluate the pattern of flood waves, classification of ordinary and extraordinary floods, the analysis of the magnitude of the extraordinary filled with case study with more expressive full year in the time series analyzed. Historical series of maximum annual flow and average daily flow were used to build a database to represent the temporal dynamics of hydrological Doce river in the city of Governador Valadares. Thereby providing subsidy to the understanding of the hydrological behavior of the river Doce and guide the actions of water management in the basin, facing the impacts of annual floods.

Keywords: Floods; Doce river; Governador Valadares; hydrological behavior

socio-environmental impacts.

1. INTRODUÇÃO

Observações e evidências têm mostrado que no Estado de Minas Gerais o

meio natural apresenta-se degradado em função da expansão histórica das atividades

agropecuárias, do extrativismo vegetal, da atividade mineradora, assim como pela

expansão urbana e em alguns lugares, de forma mais expressiva, pelo crescimento

industrial. A expansão dessas atividades tem ocorrido em diversos graus, com base na

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apropriação do ecossistema natural, com suas implicações e impactos no ambiente

natural e na própria sociedade (ARAÚJO et al., 2010).

Desta forma, diante dos inúmeros problemas ambientais decorrentes da era

desenvolvimentista, ou seja, do processo de expansão do capitalismo e a consequente

degradação do meio ambiente, a má utilização dos recursos hídricos tem tornado uma

temática de alcance internacional. E, em consequência deste fato, pensar em água

pressupõe-se pensar em pesquisas nas mais variadas escalas.

A água é um elemento natural essencial para a existência e a manutenção da

vida no planeta, ao abastecimento humano e ao desenvolvimento de suas atividades

industriais e agrícolas; além de ser de importância vital aos ecossistemas, tanto

vegetal quanto animal, das terras emersas (REBOUÇAS; BRAGA; TUNDISI, 2006).

Toda água do planeta está em contínuo movimento cíclico entre as fases

sólida, líquida e gasosa, o que se convencionou chamar de ciclo hidrológico. O ciclo

hidrológico é o princípio unificador fundamental de tudo o que se refere à água no

planeta. Os componentes do ciclo hidrológico são precipitação, evaporação,

transpiração, infiltração, percolação e drenagem. Evidentemente, a fase de maior

interesse é a líquida, o que é fundamental para o uso e para satisfazer as

necessidades do homem e de todos os outros organismos, animais e vegetais.

(TUNDISI, 2005).

Todavia, este ciclo é totalmente influenciável e sofre alterações devido às

modificações que o homem realiza no ambiente, tais como o desmatamento, os

elevados índices de queimadas, práticas agrícolas e pecuárias inadequadas, a

devastação de matas ciliares, a destruição de nascentes dentre outros. Por

conseguinte, as alterações que o homem ocasiona direta e indiretamente no ciclo

hidrológico irá provocar também significativas transformações na espacialização

temporal e nos níveis de água das bacias hidrográficas (RIBEIRO, 1998).

Neste contexto, bacia hidrográfica pode ser compreendida como uma unidade

territorial de planejamento e gerenciamento das águas. Ela, ainda, constitui um

conjunto de terras delimitadas pelos divisores de água e drenadas por um rio principal,

seus afluentes e subafluentes (GUERRA; CUNHA, 2005). Toda bacia faz convergir os

escoamentos, que por sua vez provém da precipitação, para um único ponto de saída,

seu exutório. Tucci (2013) ressalta que a bacia hidrográfica compõe-se basicamente

de um conjunto de superfícies vertentes e de uma rede de drenagem formada por

cursos de água que confluem até resultar um leito único no exutório.

Segundo Barroso e Marchioro (1999), o estudo de bacias hidrográficas é uma

importante ferramenta na elaboração de propostas de planejamento das atividades

humanas, tendo em vista que, em sua abordagem ecossistêmica, constituem sistemas

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abertos de fluxos, controlados tanto por fatores internos (topografia, geologia,

cobertura vegetal e uso do solo) como externos (ex.: pluviosidade e vento), cuja

magnitude pode ser alterada pela intensidade da ocupação humana, causando

problemas de eutrofização, assoreamento e disponibilidade hídrica.

Portanto, a bacia hidrográfica passa a admitir duas posições importantíssimas:

uma preservacionista, a qual irá manter a continuidade dos recursos hídricos e

consequentemente a preservação ambiental e, outra, geoeconômica. A posição

geoeconômica da bacia influencia a qualidade de vida de grupamentos populacionais,

rurais e urbanos, que a habitam ou a circundam (ALBUQUERQUE; CUNHA, 2007).

Por outro lado o processo de ocupação dos solos rurais e urbanos pelas mais

variadas atividades antrópicas, promovem intensas alterações nas bacias

hidrográficas, os quais por sua vez, podem não apenas comprometer a manutenção

desta como sua posição preservacionista e geoeconômica. Dentre as alterações

podem-se citar as que alteram o ciclo hidrológico (elencadas anteriormente), bem

como o desenvolvimento de incisões erosivas (ravinas e voçorocas), rios assoreados,

contaminação de água e solos com produtos químicos, dejetos humanos e lixos,

enchentes (ALBUQUERQUE; CUNHA, 2007).

Os eventos de origem meteorológica, hidrológica e geológica responsáveis

pelas calamidades naturais demonstram a vulnerabilidade da ocupação antrópica

diante da natureza.

No Brasil, os de maior repercussão nas atividades humanas são de natureza

climática: fenômenos relacionados às variações bruscas de temperatura, como as

geadas que ocorrem nas regiões Sul e Sudeste trazem efeitos altamente negativos

para a economia agrícola, enquanto que aqueles ligados às oscilações hídricas, ou

seja, a episódios pluviais extremos negativos e positivos (secas e enchentes) são os

mais significativos e constituem insumos, por excelência, de calamidades que causam

verdadeiro impacto no meio ambiente bem como na vida social e econômica do país

(GONÇALVES, 2003).

De acordo com sua intensidade, a chuva irá assumir uma condição de impacto

na medida em que afeta uma área onde tenha ocorrido intervenção antrópica, como

enchentes, cheias ou inundações.

Para Giudice e Mendes (2013), enchente ou cheia é a situação natural de

transbordamento de água do seu leito natural, sendo provocada geralmente por

chuvas intensas e continuas. A ocorrência de enchentes é, então, um fato natural, uma

etapa do ciclo hidrológico comum em regiões com ou sem ocupação humana.

Para um maior entendimento das definições de cheia e enchente, pode-se

também correlacionar tais terminologias aos conceitos atribuídos por Guerra e Cunha

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(2005) aos tipos de leito fluviais. Para estes autores, o leito maior, também

denominado leito maior periódico ou sazonal, é ocupado pelas águas do rio

regularmente e, pelo menos uma vez ao ano, durante as cheias. E, o leito maior

excepcional é ocupado durante as grandes cheias no decorrer das enchentes. Ou

seja, para estes, também há uma correlação entre cheias e enchentes, uma vez que

são as grandes cheias ocorridas em enchentes que promovem o transbordamento do

canal fluvial.

Por outro lado, Telles (2013) não correlaciona cheia e enchente, contudo,

apresenta um conceito de enchentes com aspectos comuns aos dos autores citados

anteriormente. Para ele, enchentes são grandes vazões dos cursos de água, cujos

volumes provocam o extravasamento das águas que vão ocupar os seus leitos

maiores. Elas podem ser consideradas normais, quando atingem valores de

ocorrência anual ou algumas vezes no ano. Não são normais aquelas que alcançam

valores maiores e que só acontecem esporadicamente. Quando as águas das

enchentes invadem áreas ocupadas pelo homem ou por suas atividades, causando

mortes e danos materiais, são consideradas inundações.

Assim, no que diz respeito às inundações, Giudice e Mendes (2013), também

as relacionam com as atuações antrópicas. Pois para eles, em áreas urbanizadas, o

desrespeito às condições de escoamento, no que se refere ao ciclo hidrológico, pode

vir a causar as inundações – eventos com danos materiais e risco à integridade física

da população. Estes eventos tornam-se críticos quando os sistemas de drenagem de

áreas urbanizadas passam a ter menor eficiência.

Os impactos das enchentes sobre uma população podem acarretar vários

danos, perdas materiais e imateriais. A enchente ocorre quando o rio recebe,

repentinamente, um grande volume d'água, ocasionado pelas chuvas na sua

cabeceira ou nas dos seus afluentes. Devido a essa grande quantidade de chuva, há

muitos prejuízos. Econômicos, ambientais e sociais decorrentes das enchentes.

(TUCCI, 2013)

O número de afetados relacionados aos processos de inundações, enchentes e

alagamentos geralmente é elevado, pois envolve efeitos diretos e indiretos. Dentre os

efeitos diretos destacam-se as mortes por afogamento, destruição de moradias e

danos materiais. Entre os efeitos indiretos destacam-se as doenças transmitidas por

água contaminada, como a leptospirose, a febre tifóide, a hepatite e cólera (Min.

Cidades/IPT apud TOMINAGA; SANTORO; AMARAL, 2009).

As regiões Sudeste e Sul do Brasil historicamente sofrem os efeitos da

ocorrência de cheias e enchentes em muitas das suas principais bacias hidrográficas,

com destaque para a bacia do rio Doce (MG/ES).

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As inundações, que constituem um grande problema para a bacia do rio Doce,

são registradas no período chuvoso (outubro a março), principalmente nos meses de

dezembro a fevereiro. Aliado a isto a ocupação desordenada da planície de inundação

dos cursos d’água, em especial nas áreas urbanas, têm agravado os danos causados

pelas enchentes. Para minimizar estes danos um sistema de alerta contra enchentes

encontra-se em operação na bacia há 12 anos, desde o período chuvoso de

1997/1998 . (IGAM, 2008)

Segundo IGAM op cit. ao longo do tempo, grandes cheias foram verificadas na

bacia do Rio Doce, com impactos que passam pelas cidades ao longo de seu leito.

Como o caso de algumas enchentes mais pronunciadas, como a de 1979. As cidades

mais atingidas ao longo do rio Doce foram: Linhares, Colatina no Espírito Santo;

Aimorés, Conselheiro Pena e Governador Valadares em Minas Gerais. A cheia de

1997, as cidades mais atingidas por esta cheia encontram-se na calha do rio Doce a

jusante da cidade de Governador Valadares. Em janeiro de 2003 houve uma

intensificação das chuvas na região, em vários municípios foram registradas

precipitações intensas, de curta duração, que provocaram grandes inundações em

pequenas bacias. As principais cidades atingidas foram: Caratinga, Manhuaçu, Ponte

Nova e Resplendor e outras localizadas nas bacias dos rios Caratinga, Manhuaçu e

Guandu.

Pensando-se em Governador Valadares, assim como na grande maioria das

cidades brasileiras, são inúmeros os impactos advindos das enchentes no município

sob análise dos quais se destacam as enormes perdas materiais; a interrupção da

atividade econômica do local; a contaminação por doenças de veiculação hídrica, tais

como a leptospirose; a contaminação da água pela inundação de depósito de

materiais tóxicos; entupimento de bueiros; assoreamento do leito do rio; dentre outros

(CUNHA, 2007).

Soma-se ainda aos aspectos de ordem natural que modulam em parte as

enchentes do rio Doce, em Governador Valadares, aqueles de ordem antropogênica.

Sobretudo, o intenso processo de urbanização ocasionado pelo êxodo rural, pela

migração urbano-urbano, e ainda o uso/ocupação do solo sem nenhum planejamento.

Neste último, merece destaque a ocupação de áreas de risco como leito de rios e

encostas íngremes, que acentuam ainda mais os prejuízos e os riscos associados às

cheias anuais (CUNHA et al., 2009).

Desta forma, o presente trabalhou objetivou realizar uma análise estatística da

magnitude das cheias, no médio rio Doce, considerando os registros hidrológicos do

município de Governador Valadares; bem como avaliar o padrão das ondas de cheia e

a área territorial do município que sofreu diretamente os efeitos destes eventos,

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considerando um ano hidrológico extremo em particular (estudo de caso). Buscando

assim fornecer subsídio à compreensão do comportamento hidrológico do rio Doce e

orientar as ações de gestão hídrica na bacia, voltadas para os impactos das cheias

anuais.

2. MATERIAL E MÉTODOS

A área de estudo é compreendida pelo município de Governador Valadares,

localizado no médio curso da bacia hidrográfica do rio Doce (MG) (figura 01).

Figura 01: Bacia hidrográfica do rio Doce Fonte: Adaptado de Cabral (2012)

A bacia do rio Doce situa-se na região Sudeste do Brasil, integrando a região

hidrográfica do Atlântico Sudeste. Ela apresenta uma área de drenagem de

aproximadamente 86.715 km², dos quais 86% pertencem ao Estado de Minas Gerais e

o restante ao Espírito Santo, abrangendo um total de 230 municípios, 202 em Minas

Gerais e 28 no Espírito Santo (ECOPLAN-LUME, 2007).

Ainda segundo ECOPLAN-LUME (2007) os principais afluentes do rio Doce

pela margem esquerda são os rios do Carmo, Piracicaba, Santo Antônio, Corrente

Grande e Suaçuí Grande, em Minas Gerais; São José e Pancas no Espírito Santo. Já

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pela margem direita são os rios Casca, Matipó, Caratinga/Cuieté e Manhuaçu em

Minas Gerais; Guandu, Santa Joana e Santa Maria do Rio Doce no Espírito Santo.

A cidade de Governador Valadares é uma das maiores da região do médio rio

Doce com, aproximadamente, 260.000 habitantes. A cidade está localizada, em

grande parte, na planície de inundação do rio Doce, sofrendo, em função disto, sérios

e frequentes problemas (CAMPOS; BAPTISTA, 2009).

O rio Doce em Governador Valadares possui área de drenagem da ordem de

40.000km², destes, cerca de 25% pertencem à bacia do rio Santo Antônio e 15% à

bacia do rio Piracicaba, constituindo os dois afluentes do rio Doce pela margem

esquerda. Ambos os afluentes são os principais responsáveis pelas enchentes

ocorridas na cidade de Governador Valadares. Considerando ainda as cheias na

região, alguns dos maiores registros ocorreram em fevereiro de 1979 e em janeiro de

1997, com períodos de retorno associados da ordem de 170 e 100 anos,

respectivamente (CASTILHO; PINTO; OLIVEIRA, 2014).

Segundo Castilho, Pinto e Oliveira op cit os bairros mais atingidos pelas

enchentes do rio Doce são: Santa Rita, JK I e II, Jardim Alice, Ilha dos Araújos, São

Paulo, Santa Terezinha, São Tarcísio, São Pedro e Universitário, todos localizados na

margem esquerda do rio Doce, que é também a margem mais urbanizada e povoada.

(CASTILHO; PINTO; OLIVEIRA, 2014).

Considerando especificamente o trecho em que o rio Doce drena o município

de Governador Valadares, ele apresente uma calha principal com largura de 550

metros em média, com a presença de Ilhas formadas pela deposição de sedimentos

em locais onde a velocidade é baixa. Além disso, notoriamente há afloramentos

rochosos em várias partes do leito do rio, que formam uma corredeira a jusante da Ilha

dos Araújos. Note-se também que a declividade média do rio é de 0,08% (CAMPOS;

BAPTISTA, 2009).

Os procedimentos metodológicos abrangeram a classificação de todas as

cheias do rio Doce em Governador Valadares quanto à magnitude, a determinação

dos tipos de ondas de cheias ocorrentes em um ano específico de cheia pronunciada

e análise dos possíveis efeitos modulados pelos padrões das cheias no estudo de

caso.

Inicialmente foi necessário consolidar um banco de dados que representasse a

dinâmica hidrológica temporal do rio Doce, no município de Governador Valadares.

Dado que a Agência Nacional de Águas, responsável pelo monitoramento do

manancial em questão, opera uma estação fluviométrica na sede do município. Com

ela foi possível obter as séries históricas dos parâmetros vazão e cota da estação

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GOVERNADOR VALADARES (código 56850000), diretamente do portal Hidroweb

(ANA, 2013).

Quanto ao parâmetro vazão foram utilizadas as séries históricas de vazão

máxima anual e vazão média diária, enquanto que as análises balizadas nos dados de

cota foi utilizada a série histórica de cota média diária.

As séries de vazão máxima anual, que são elaboradas baseadas nos registros

de vazão máxima mensal, apresentaram ausência de dados em alguns meses de

alguns anos ao longo do monitoramento. Logo, foi necessário realizar inventário de

outras estações igualmente alocadas ao longo do curso do rio Doce, a fim de avaliar a

viabilidade de utilização destas em procedimento de preenchimento de falhas.

Contudo, por haver na maioria das estações inventariadas, falhas de registros nos

mesmos meses da estação GOVERNADOR VALADARES o preenchimento mostrou-

se inviável.

Neste sentido, optou-se por eliminar da análise todos os anos que

apresentaram ausência de dados. Logo, o horizonte temporal da pesquisa se

estendeu de 1970 a 2006; a exceção dos anos de 1979, 1988, 1994, 2004 e 2005; o

que totalizou 32 anos de monitoramento.

A classificação das cheias anuais baseou-se nos critérios propostos por

Destefani (2005). Para o autor as cheias podem ser classificadas em cheias ordinárias

e cheias extraordinárias. As cheias ordinárias compreendem aquelas cuja vazão

máxima é menor ou igual à vazão média das cheias anuais. As extraordinárias por sua

vez são consideradas aquelas de magnitude superior à vazão média das cheias

anuais. Logo, a partir da série de vazões máximas anuais pôde-se fazer a média das

vazões máximas anuais e então classificar cada ano da série histórica analisada,

assim como foi possível observar se há predominância ou recorrência frequente de

uma das classes.

A determinação dos tipos de onda de cheia demanda uma análise minuciosa

do padrão da vazão baseada em registros diários, logo, optou-se por realizar esta

análise em apenas um ano de cheia extraordinária no médio rio Doce, constituindo

assim um estudo de cheia anual. Desta forma, a princípio os dados diários de vazão

foram organizados cronologicamente em Documento Microsoft ExcelTM, e

apresentados de forma de gráfico, fluviograma, sendo então determinados os tipos de

onda de cheia que ocorreram no ano que compôs o estudo de caso.

Os critérios para a determinação das ondas de cheias também foram baseadas

nos critérios de Destefani (2005). Para o autor as ondas de cheia compreendem as

formas com que os registros de vazão se distribuem nos fluviogramas. Desta forma é

possível identificar três diferentes padrões de ondas de cheias, a saber:

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Cheias tipo A: Apresentam graficamente um pico principal mais

importante, precedido e sucedido por vários outros que aumentam e

diminuem de magnitude sucessivamente caracterizando um efeito de

cascata. Esse tipo de cheia é formada em média por sete picos e pode

ocorrer até duas vezes ao ano.

Cheias tipo B: São representadas tanto por cheias ordinárias quanto

extraordinárias. Apresentam três picos sucessivos de subida rápida, no

qual geralmente dois são de magnitude mais importante.

Cheia tipo C: São as ondas de cheias mais típicas e frequentes. São

caracterizadas apenas por um pico principal de subida relativamente

rápida, que pode vir ou não acompanhado de vários picos sem

significado importante. Estas cheias podem ocorrer em um mesmo ano

acompanhadas por cheias tipo A e B.

Por fim, a análise dos possíveis efeitos da cheia em estudo, demandou a

elaboração de gráfico de cotas médias diárias, organizados cronologicamente em

Documento Microsoft Excel 2007TM, associado à representação dos níveis de alerta e

inundação estabelecidos para o médio rio Doce, baseado na estação fluviométrica

GOVERNADOR VALADARES. Desta forma, as ondas de cheia puderam gerar

estimativas dos bairros atingidos pela mancha de inundação, bem como a área total

inundada, conforme Quadro 01 (CPRM, 2004).

Quadro 01: áreas inundáveis de Governador Valadares

Fonte: Adaptado de CPRM (2004)

COTA - ESTAÇÃO (cm)

56850000

ÁREA INUNDADA POR REGIÃO (m2)

Região I Região II Região III Região IV Região V

300 – 350 149.123 71.878 63.592 22.959 32.192

350 – 400 245.740 115.923 88.656 43.876 64.489

400 – 450 423.458 344.370 133.122 540.524 158.050

450 – 500 657.521 606.430 646.224 969.842 579.092

500 – 550 995.650 782.820 849.575 1.162.327 779.292

550 – 600 1.434.887 933.599 997.120 1.312.831 896.042

600 – 650 2.150.375 1.044.676 1.061.142 1.470.760 1.000.598

650 – 700 2.534.821 1.112.277 1.091.798 1.567.271 1.050.369

700 – 750 2.834.374 1.167.522 1.111.982 1.655.401 1.090.807

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Para efeito de análise das manchas de inundação a CPRM (2014) zoneou a cidade de

Governador Valadares em regiões, que nada mais são do que conglomerados de

bairros, conforme apresentado abaixo:

Região I – Bairro São Pedro e Universítário;

Região II – Bairros São Paulo, Santa Teresinha e São Tarcísio;

Região III – Ilha dos Araújos;

Região IV – Bairros JK I, II, III e Jardim Alice até a ponte do São Raimundo;

Região IV Bairro Santa Rita até o córrego do Onça

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

As cheias mais expressivas, extraordinárias, ocorrem em menor proporção no

médio rio Doce comparativamente as cheias ordinárias ou típicas. Considerando os

registros históricos de cheias máximas anuais pode-se evidenciar que nos 32 anos de

análise em 12 foram observados níveis de vazão acima das cheias médias anuais, o

que confere a elas maior potencial para impactos de natureza socioeconômica ou

ambiental.

É possível ainda notar, que em geral anos com cheias máximas notadamente

mais pronunciadas que as cheias ordinárias são precedidos de anos com um típico

padrão de aumento progressivo das cheias máximas anuais que após atingir seu ápice

(cheias extraordinárias), no ciclo de subida, decresce para nos anos posteriores serem

observados níveis de cheias ordinárias. A exceção a tal constatação coube ao ano de

1986, em que foi registrada uma cheia extraordinária que se seguiu a outra de maior

magnitude (1985).

A magnitude das cheias extraordinárias identificadas, bem como a vazão

máxima observada estão dispostas no quadro 02.

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Quadro 02: Cheias extraordinárias do médio rio Doce

ANO CHEIA ANUAL (m3/s) CLASSIFICAÇÃO

1973 2768 Cheia Extraordinária

1977 2919 Cheia Extraordinária

1981 2891 Cheia Extraordinária

1982 3406 Cheia Extraordinária

1985 4899 Cheia Extraordinária

1991 2782 Cheia Extraordinária

1992 3526 Cheia Extraordinária

1995 2809 Cheia Extraordinária

1996 2974 Cheia Extraordinária

1997 7529 Cheia Extraordinária

2002 3030 Cheia Extraordinária

2003 3897 Cheia Extraordinária

A vazão média das cheias anuais, que foi determinante na diferenciação de

cheias ordinárias e extraordinárias compreendeu a vazão de 2743,7 m3/s. Desta

forma, percebe-se que muitas cheias consideradas extraordinárias ultrapassaram em

pouca expressão o que foi considerado cheia ordinária, sendo este o cenário

predominante na maioria das cheias extraordinárias evidenciadas. Desta forma, é de

se pensar que os impactos e efeitos negativos de cheias extraordinárias tenham tido

uma menor expressão nestes anos, por ter um potencial de alagar áreas de risco

igualmente em menor expressão, dada a vazão pouco maior que o padrão

considerado normal para a região de médio rio Doce.

Exceção a esse cenário coube, sobretudo, as cheias de 1985 e 1997, em que

foram observadas vazões máximas consideravelmente acima das cheias médias

anuais.

Disto ocorre ainda que por ter sido o ano de cheia mais expressiva na série

histórica analisada 1997 foi o ano escolhido para a análise das ondas de cheia e dos

potenciais impactos gerados.

O hidrograma de vazões diárias de 1997 encontra-se ilustrado na figura 02.

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Figura 02: Hidrograma de vazões diárias - ano civil 1997

O ano civil de 1997 apresentou três ondas de cheia facilmente identificáveis.

Um delas ainda no primeiro mês do ano, uma entre os meses de fevereiro e março e a

derradeira no período de novembro-dezembro.

Baseado nos critérios de Destefani (2005) a primeira onde de cheia pode ser

considerada do tipo C, e a segunda do tipo B. A terceira por sua vez não apresentou

um evidente padrão que permitisse classificá-la.

A onda de cheia do tipo C começou a se delinear ainda nos primeiros dias de

1997. Ela caracterizou-se por rápido e crescente aumento de vazão que em seu ápice

contabilizou 7529 m3/s, tal onda chegou a seu nível máximo em um período de apenas

cinco dias e merece destaque no rol das cheias extraordinárias do médio rio Doce.

Dado o padrão de aumento acelerado da magnitude das vazões o sistema de

alerta de enchentes do rio Doce pode ter tido inúmeros problemas no apoio as

populações residentes nas áreas de risco, sobretudo, devido a mesma área que em

cheias típicas encontram-se fora das manchas de cheia possivelmente terem sido

atingidas por esta onda demasiadamente pronunciada. Logo os efeitos negativos

desta onda de cheia foram produto da sinergia entre a magnitude pronunciada ao

extremo das vazões e da velocidade com que ela aconteceu.

CHEIA TIPO C

CHEIA TIPO B

INDEFINIDA

(m3/s) x ano civil

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Corrobora para esta afirmativa ECOPLAN-LUME (2007) ao informar que neste

evento foram registrados 57.705 desabrigados, 2 vítimas fatais e 7.225 residências

atingidas nas áreas inundadas pelo rio Doce, em Governador Valadares.

A onda de cheia tipo B por sua vez possivelmente não gerou grandes prejuízos

a população valadarense uma vez que teve uma evolução até seu nível máximo em

um período de tempo mais lento e gradual que a cheia ocorrida no início do ano. Além

disso, a magnitude da cheia máxima não atingiu o nível que a colocaria no rol das

cheias extraordinárias. Disto ocorre, que é possível que tal evento tenha trazido

apenas inconvenientes as populações alocadas em áreas de risco diretamente as

margens do rio Doce, em Governador Valadares.

A última onda de cheia ocorrida em 1997, no médio rio Doce, não pôde ser

classificada em função do fato que na região as enchentes são registradas mais

frequentemente de dezembro a fevereiro, segundo a CPRM (CAMPOS; BAPTISTA,

2009). Logo, para que se pudesse classificar esta onda de cheia seria necessária uma

análise do ano hidrológico que se iniciou em 1997 e terminou em 1998, o que não

ocorreu nesta pesquisa, tendo este fator limitado a análise da magnitude e do padrão

da onda de cheia que se inicio no final de 1997.

A evolução diária das cotas do rio Doce no ano de 1997, em Governador

Valadares, apresentou os padrões mostrados na figura 03.

Figura 03: Cotas diárias do rio Doce em Governador Valadares – 1997

As cotas de alerta e inundação do rio Doce na região, representadas

graficamente na figura, correspondem respectivamente às amplitudes 320 e 360 cm,

com relação à estação fluviométrica GOVERNADOR VALADARES.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

COTA (cm) COTA ALERTA COTA INUNDAÇÃO

COTA (cm) x ano civil

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A cota máxima atingida na onde de cheia tipo C atingiu o valor de 676 cm. Na

onda de cheia tipo B o valor máximo de cota observada foi da ordem de 355 cm. Já a

onda final de 1997 atingiu sua amplitude máxima na cota 361 cm.

A CPRM a partir da definição das planícies de inundação do rio Doce em

Governador Valadares dividiu o município em regiões que compõe as manchas de

inundação, em que se agrupam conjuntos de bairros, baseado nas cotas máximas

atingidas em cada onda de cheia. Tais regiões vão hierarquicamente de I a V (CPRM,

2004).

Considerando a cota máxima observada na cheia tipo C, todas as cinco regiões

de risco foram atingidas, tendo, portanto a mancha de inundação se estendido pelos

bairros São Pedro, Universitário, São Paulo, Santa Teresinha, São Tarcísio, Ilha dos

Araújos, JK I, JK II, JK III, Jardim Alice, Santa Rita e Córrego da Onça. Se considerar-

se ainda a relação entre as cotas e as áreas inundadas em cada região (CPRM, 2004)

é possível inferir que uma área total de 7.356.536 m2 foi inundada por este evento,

gerando os inúmeros prejuízos de ordem socioeconômica e ambiental decorrentes

deste processo, já mencionados.

As cheias tipo B e indefinida, por sua vez, por estarem no intervalo de risco que

vai da cota 350 a 400, possivelmente levaram a impactos muito semelhantes. Ambas

as ondas de cheia, em seus níveis máximo, geraram em tese manchas de inundação

que se estenderam por todos os bairros das regiões I a V (CPRM, 2004). Contudo, os

impactos devem ter sido tamponados e muito menos pronunciados que a cheia tipo C,

uma vez que a cota máxima atingida pôde levar a inundação de uma área total de

558.684 m2, notadamente menos expressiva que a área inundada pela cheia tipo C

registrada no início de 1997.

4. CONCLUSÃO

As cheias no médio rio Doce caracterizam-se por serem predominantemente

típicas, ou ordinárias. As cheias extraordinárias do rio Doce, de maneira geral

possuem magnitude pouco mais expressiva que as tradicionais cheias ordinárias,

porém ocorrem com relativa frequência. Contudo, eventualmente há ocorrência de

anos hidrológicos incomuns que podem modular cheias extremas que podem conduzir

a prejuízos de ordem ambiental ou socioeconômicos bastante significativos.

Cheias pronunciadas no médio rio Doce, como as representadas pelas ondas

de cheias que ocorreram no ano civil de 1997, podem produzir manchas de inundação

que se estendem por inúmeros bairros de Governador Valadares, levando assim a

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inundar grandes áreas, deixando milhares de habitantes desabrigados; além de trazer

riscos de morte aqueles alocados nas áreas mais próximas as margens do rio Doce.

Desta forma, considerando que grande parte dos impactos socioeconômicos

derivados das cheias, sobretudo, das de maior magnitude deve-se ao fato destas

áreas serem densamente ocupadas de maneira irregular e precária por populações

carentes é necessário que as ações de prevenção aos impactos das cheias e atenção

aos atingidos por elas sejam paralelamente acompanhadas por ações de

planejamento urbano e ordenamento territorial; onde se destaca o remanejamento das

comunidades que se encontram nas áreas de maior risco de inundação.

Também é importante, como maneira a complementar a investigação do

padrão de ocorrência das cheias extremas no médio rio Doce, que trabalhos

posteriores busquem associar esses eventos as condições do clima e ao

uso/ocupação da terra nos anos hidrológicos em que se evidenciam cheias

extraordinárias.

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